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Universidade Presbiteriana Mackenzie

“Comentários acerca da Decisão de Primeira Instância


envolvendo Crime de Trabalho Escravo.”

Maria da Graça Piffer Rodrigues Costa

Disciplina: Direitos Fundamentais no Trabalho – Aspectos Constitucionais/Inter. Do Trabalho

Orientador: Prof. Dr. Marcelo Freire Sampaio

São Paulo
2019
Comentários acerca da Decisão de Primeira Instância
envolvendo Crime de Trabalho Escravo

A 54ª Vara do Trabalho de São Paulo decidiu condenar a empresa M5 Indústria e


Comércio, dona da marca M. Officer, em um caso de submissão de trabalhadores a condições
análogas à escravidão.

Com efeito, a decisão de primeira instância condenou empresa proprietária da marca


M. Officer ao pagamento de uma indenização de R$ 4 milhões a título de danos morais e outros
R$ 2 milhões em decorrência da desobservância de direitos trabalhistas para reduzir custos,
revertidos em favor do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), além da obrigação de corrigir
os problemas identificados na produção. A ação foi proposta pelo Ministério Público do
Trabalho, que alegou que a referida empresa mantinha trabalhadores em situação análoga a de
escravo. A jurídica ré, em resposta, alegou não se responsabilizar pelas acusações, ao passo em
que o trabalho desenvolvido era terceirizado. Contudo, a terceirização não foi reconhecida. A
decisão foi confirmada em segunda instância, pelo Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo.

A Lei 14.946/2013 de Combate à Escravidão (14.946/2013) prevê que as empresas


condenadas por trabalho escravo em segunda instância, nas esferas trabalhista ou criminal, terão
o registro do ICMS suspenso por dez anos, de maneira que, sem esse registro, não poderão atuar
e vender produtos no Estado. Os donos da empresa também ficam impedidos de abrir uma nova
empresa para continuar com o desempenho empresarial.

Com destaque, as regras compreendidas na reforma trabalhista que ampliam as


possibilidades de terceirização não são capazes de alterar o teor da decisão.

Notadamente, a decisão proferida em primeiro grau de julgamento demonstra o viés


humanitário e garantista do direito do trabalho, que visa coibir a exploração dos trabalhadores
pelas longas jornadas, pagamento ínfimo e pelo fornecimento de condições precárias de
trabalho. Pretende-se preservar a integridade física e mental do trabalhador, bem como sua
dignidade, porquanto esta figura como fundamento do Estado democrático.

Entende-se que a fixação de indenização e multa em valores expressivos objetiva, além


de sancionar, também educar as empresas em atuação no mercado de que o tratamento
degradante do trabalhador não será mais tolerado pelo Estado. Tem em vista uma cultura de
abuso historicamente propagada na sociedade brasileira, mas que não mais encontra espaço no
cenário democrático atual. Visa, sobretudo, prevenir retrocessos em relação aos direitos dos
trabalhadores e, em consequência, aos direitos humanos e fundamentais.

Referências
Disponível em http://www.justificando.com/2017/11/09/tribunal-regional-do-trabalho-
condena-m-officer-por-escravidao/, acesso em 30 de setembro de 2019.

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