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Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

Faculdade de Direito

Direito do Trabalho II
Prof. Arnaldo Leonel Ramos Junior

Seminário - 1º bimestre/2024

Alunos (as):
Fabio Prandini Azzar Filho RA00276633
Jonanthan de Sousa Costa RA00283041

A reclamação trabalhista trata-se de um processo judicial em que um empregado


apresentará uma reclamação/demanda contra seu empregador, geralmente por questões como
salários atrasados, demissões injustas ou más condições de trabalho, de modo a buscar uma
solução justa perante a Justiça do Trabalho.

A base legislativa para reclamações trabalhistas no Brasil é principalmente a


Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Além da CLT, há também a Constituição Federal
de 1988, que garante diversos direitos trabalhistas, como jornada de trabalho de 8 horas,
salário mínimo, FGTS, férias, entre outros direitos trabalhistas.

Outras leis e regulamentos complementares também podem ser aplicáveis, como a Lei
do Trabalho Temporário, a Lei do Estágio, a Lei da Terceirização, entre outras. Tais
legislações formam o arcabouço legal que rege as relações de trabalho no país e serve de base
para as reclamações trabalhistas.

Assim, o processo judicial trabalhista tem início com a apresentação da petição


inicial, na qual são narrados os fatos que teriam resultado na violação dos direitos do
trabalhador, além da formulação dos pedidos e da comprovação do vínculo de trabalho. A
ação pode ser iniciada pessoalmente pelo interessado, por meio do direito conhecido como
"jus postulandi", ou por intermédio de advogado.
O prazo para ingressar com a ação varia de acordo com a situação: se o vínculo de
trabalho ainda estiver em vigor, a ação pode ser proposta a qualquer momento; por outro
lado, se a relação de trabalho já estiver encerrada, o prazo é de 2 anos a partir do rompimento.
Estas são etapas cruciais do processo trabalhista, visando garantir a proteção dos direitos dos
trabalhadores e a efetividade da prestação jurisdicional.

Ademais, antes da reforma, a petição inicial trabalhista era regida pelo art. 840 da
CLT, que ao longo dos anos passou por pequenos ajustes. No entanto, com a entrada em vigor
da Lei 13.467/2017, os requisitos para a elaboração das petições iniciais no processo do
trabalho foram ampliados. Atualmente, a petição inicial trabalhista deve seguir a linha
evolutiva de refinamento técnico, exigindo que os pedidos sejam certos, determinados e com
a indicação dos respectivos valores.

Essa nova exigência trazida pela reforma trabalhista aproxima os requisitos da petição
inicial trabalhista dos existentes no processo civil, abandonando a simplicidade e
informalidade especializada que caracterizavam a petição inicial trabalhista anteriormente.
Agora, é necessário que o pedido seja claro, coerente e com a indicação do seu valor,
permitindo assim um exercício mais efetivo do contraditório pela defesa.

Além disso, a petição inicial trabalhista deve englobar tanto o pedido mediato (bem da
vida pretendido) quanto o pedido imediato (provocação jurisdicional), delimitando os limites
da demanda e possibilitando uma atuação mais precisa do juiz. A certeza do pleito é
essencial, devendo ser expressa de forma clara e objetiva, evitando pedidos genéricos ou
imprecisos.

No mais, a comprovação do vínculo de trabalho é essencial para a reclmação


trabalhista. Existente o vínculo trabalhista, são diversas as causas que podem dar origem a
uma reclamação trabalhista, de modo a garantir segurança ao trabalhador e efetividade de seu
direito.

Sobre o assunto, a doutrinadora Carlas Martins Romar disserta:

"Os arts. 5º e 6º da Convenção da OIT esclarecem que não serão


consideradas causas justificadas para a dispensa do trabalhador a filiação
sindical, a participação em atividades sindicais fora do horário de trabalho
ou, em horário de trabalho, com o consentimento do empregador, a
candidatura do empregado a cargo de representação sindical, ajuizamento
de reclamação trabalhista ou apresentação de reclamações perante órgãos
administrativos competentes em matéria de trabalho, a raça, a cor, o sexo, o
estado civil, as responsabilidades familiares, a gravidez, a religião, as
opiniões políticas, a origem nacional ou social do trabalhador e a ausência
ao serviço durante o período de licença-maternidade ou em razão de
enfermidade do trabalhador."1

No mais, a própria recusa do empregador a assinar a Carteira de Trabalho e da Previdência


Social poderá dar fulcro a uma reclamação trabalhista, conforme ensina Carla Romar.

"Recusando-se a empresa a assinar a CTPS, o empregado que se sentir


lesado pode, antes de ajuizar uma reclamação trabalhista, dirigir-se,
pessoalmente ou por intermédio do sindicato, a uma GRTE e fazer uma
reclamação, verbal ou escrita, para que sua CTPS seja assinada (art. 36,
CLT). "2

Além disso, a emenda à inicial e o princípio da congruência ganham ainda mais


relevância no processo do trabalho. A emenda à inicial se torna um direito fundamental,
permitindo correções e ajustes na petição inicial para atender aos novos requisitos exigidos.
Já o princípio da congruência, que determina que a decisão judicial deve estar em
conformidade com os pedidos formulados, passa a ter uma nova configuração diante da
especificação dos pedidos na petição inicial.

Outrossim, a evolução legislativa do processo civil e do trabalho no Brasil reflete a


constante busca por aprimoramento e adequação das normas processuais às demandas da
sociedade e do mercado de trabalho. Isto pois, ao longo dos anos, as legislações processuais
têm passado por transformações significativas, influenciando diretamente a forma como as
petições iniciais são elaboradas e apresentadas nas esferas cível e trabalhista.

No contexto do processo civil, o primeiro diploma processual de abrangência nacional


foi o Código de Processo Civil de 1939. Ele estabeleceu requisitos claros para a petição
inicial, como a necessidade de ser escrita de forma clara e precisa, com a correta qualificação
das partes, exposição dos fatos e fundamentos jurídicos do pedido, especificações do pedido e
valor da causa. Essas exigências de formalidade e clareza na petição inicial refletiam a
preocupação em garantir a efetividade do processo e a segurança jurídica das partes
envolvidas.
1
Romar, Carla Teresa Martins Direito do trabalho / Carla Teresa Martins Romar; coordenador Pedro
Lenza. – 5. ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2018.
2
Ibidem. P. 807.
Por outro lado, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada em 1943,
adotou um caminho diferente em relação aos requisitos da petição inicial trabalhista. O art.
840 da CLT, em sua redação original, permitia que a petição inicial fosse apresentada de
forma verbal ou escrita, sem a necessidade de especificação dos fundamentos jurídicos do
pedido ou atribuição de valor à causa. Essa abordagem mais flexível refletia a preocupação
em facilitar o acesso à justiça trabalhista, considerando a realidade dos trabalhadores e a
informalidade que muitas vezes permeia as relações de trabalho.

Entretanto, com o passar dos anos, observou-se uma convergência entre os requisitos
da petição inicial no processo civil e no processo do trabalho. A exigência de maior rigor
técnico e formalização no âmbito trabalhista, aliada às reformas legislativas, tem aproximado
as práticas processuais das duas áreas.

Ademais, a reforma trabalhista de 2017, por exemplo, trouxe mudanças significativas


nos procedimentos trabalhistas, exigindo pedidos mais específicos e delimitados nas petições
iniciais, em consonância com as práticas do processo civil. Essa evolução legislativa
evidencia a importância de acompanhar as transformações no campo do direito processual,
adaptando as práticas e procedimentos às novas demandas da sociedade e do mercado de
trabalho. A busca por maior eficiência, celeridade e segurança jurídica nos processos judiciais
tem levado a uma maior aproximação entre o processo civil e o processo do trabalho,
refletindo a constante evolução do sistema jurídico brasileiro.

A reclamação trabalhista nada configura que uma ação trabalhista proposta pelo
cidadão empregado perante uma das varas da Justiça do Trabalho, com o fim de proteger ou
reclamar por determinado direito decorrente da relação de trabalho que possui ou possuía
junto ao seu empregador.

Ademais, a reclamação trabalhista possui o prazo prescricional de 02 (dois) anos, a


partir da extinção do contrato de trabalho, para a propositura. Este é o entendimento
jurisprudencial brasileiro, senão vejamos:

RECURSO DO RECLAMANTE. PRESCRIÇÃO BIENAL. PANDEMIA. Consoante


disposto no artigo 7º, inciso XXIX, da Constituição Federal e no artigo 11º da CLT, as ações
trabalhistas devem ser ajuizadas dentro do prazo prescricional de dois anos após a
extinção do contrato de trabalho, e, nos termos do § 3º deste dispositivo, a prescrição
somente será interrompida pelo ajuizamento de reclamação trabalhista. No caso, a ação
foi ajuizada mais de dois anos depois do término do contrato de trabalho, incidindo a
prescrição total do direito de ação. Não houve interrupção da prescrição nem se aplica a
suspensão dos prazos prescricionais em razão da pandemia do coronavírus. A Lei nº
14.010/2020, introduzida em um contexto de pandemia, não autoriza, de pronto, a mudança
constitucional da prescrição trabalhista. Igualmente, as próprias Resoluções Administrativas
do TRT4 fazem menção à suspensão do prazo dos processos em curso, e não a sua
interrupção. Além disso, com o advento do processo eletrônico, havia a possibilidade de
peticionamento 24 horas por dia, sete dias na semana. Recurso negado nesse aspecto. (TRT-4
- ROT: 00203917320205040022, Data de Julgamento: 14/07/2021, 2ª Turma)

Após ajuizamento da ação trabalhista, cumpre ressaltar que é obrigatória a presença


do reclamante na audiência de conciliação a ser designada pelo Douto Juízo da demanda. Tal
audiência é de suma importância, uma vez que visa a transação entre as partes, sem a
necessidade do prosseguimento da demanda. Havendo, portanto, ausência injustificada, o
feito será arquivado.

Portanto, a reclamação trabalhista representa um instrumento fundamental para


proteger os direitos dos trabalhadores no Brasil, proporcionando um meio eficaz para resolver
conflitos decorrentes das relações de trabalho. Com base na CLT e na Constituição de 1988, o
processo trabalhista evoluiu ao longo dos anos, aproximando-se cada vez mais das práticas do
processo civil.

Bibliografia:

Garcia, Gustavo Filipe Barbosa Curso de direito processual do trabalho / Gustavo Filipe
Barbosa Garcia. – 6a ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2017.

Santos, Enoque Ribeiro dos Curso de direito processual do trabalho / Enoque Ribeiro dos
Santos, Ricardo Antonio Bittar Hajel Filho. – 4. ed. – São Paulo: Atlas, 2020.
Romar, Carla Teresa Martins Direito do trabalho / Carla Teresa Martins Romar ; coordenador
Pedro Lenza. – 5. ed. – São Paulo : Saraiva Educação, 2018.

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