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Art.

840 da CLT: como deve ser a petição


trabalhista

Na Justiça do Trabalho, é utilizado o termo reclamação para se referir à petição inicial


trabalhista. É o mesmo termo que consta na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Por isso,
reclamação e petição trabalhista são usados praticamente como sinônimos. Isso pode ser
observado no próprio Art. 840 da CLT que informar como deve ser essa peça jurídica específica:

Art. 840 – A reclamação poderá ser escrita ou verbal.

§ 1º – Sendo escrita, a reclamação deverá conter a designação do juízo, a qualificação das


partes, a breve exposição dos fatos de que resulte o dissídio, o pedido, que deverá ser certo,
determinado e com indicação de seu valor, a data e a assinatura do reclamante ou de seu
representante.

§ 2º – Se verbal, a reclamação será reduzida a termo, em 2 (duas) vias datadas e assinadas pelo
escrivão ou secretário, observado, no que couber, o disposto no parágrafo anterior.

§ 3º Os pedidos que não atendam ao disposto no § 1º deste artigo serão julgados extintos sem
resolução do mérito.

Com isso, já é possível perceber que há e quais são as diferenças nos requisitos da petição
inicial que consta no Código de Processo Civil (CPC) para a petição trabalhista.

Muitas dessas diferenças podem relacionar-se ao fato de que no processo do trabalho, há duas
formas de elaborar a reclamação: escrita ou verbal. Talvez por isso, também, a CLT cunhou o
termo reclamação para se referir à petição. Já que, na forma verbal, o trabalhador ou o
contratante estará, de fato, reclamando de algo. Logicamente, isso precisa ser registrado de
alguma forma. Por esse motivo, cada reclamação recebida pela Justiça do Trabalho é transcrita
tal qual a descrição.

Mas, embora essa possibilidade exista, o mais comum é o processo trabalhista ser iniciado por
uma petição inicial escrita. Geralmente, a peça é redigida por um advogado e precisa atender às
determinações do Art. 840 da CLT.

Requisitos do Art. 840 da CLT para reclamação


1. Endereçamento
O endereçamento é a primeira informação que deve constar na petição trabalhista. Pouco se
diferencia da petição inicial regida pelo novo CPC, pois, ambas têm de indicar o juízo, e não a
pessoa física do juiz, que analisará a demanda proposta.

É mais fácil compreender essa parte com um exemplo:

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DO TRABALHO DA [x]ª VARA DO TRABALHO DA


COMARCA DE [cidade/estado].

Uma outra forma de indicar o juízo seria essa:


AO JUÍZO DA [x]ª VARA DO TRABALHO DA COMARCA DE [cidade/estado].

2. Qualificação do reclamante
A qualificação do reclamante nada mais é do que incluir na petição trabalhista as informações
pessoais do autor da ação. Também, segue a mesma linha de exigências para a petição inicial do
novo CPC. Ou seja, é necessário que informe:

 nome completo;
 nacionalidade;
 profissão;
 estado civil;
 endereço completo, com CEP, preferencialmente;
 documento de identificação (cédula de identidade, CPF ou número da CTPS do
trabalhador).

O novo CPC solicita que na petição ainda conste a existência de união estável e o e-mail do autor
da ação. Apesar de essa não ser uma exigência na reclamação, essa inovação pode ser incluída
na petição do trabalho, como forma de mostrar a intenção de fazer fluir a comunicação.

Algo a salientar é que em ações coletivas, essa qualificação precisa ser feita para cada pessoa
considerada autora da ação. Portanto, é preciso ter muito cuidado para que nenhuma falte ou
seja trocada.

Na prática, a qualificação é feita da seguinte maneira:

João da Silva, brasileiro, casado, vendedor, filho de Maria da Silva, portador da carteira de
identidade de nº 1234.567, com o CPF/MF nº 123.456.789-10, CTPS nº 1234567, série 123-4,
PIS nº 123.45678.91-0, residente e domiciliado à Rua das Flores, nº 01, bairro Jardim, CEP nº
12345-678, Floresta/MG, por meio dos seus advogados que esta subscreve, nos termos da
procuração (anexa), com escritório à Rua das Árvores, nº 2345, Floresta/MG, em nome de quem
e para onde quer que sejam remetidas as notificações, vem, perante a Vossa Excelência propor a
presente:

RECLAMAÇÃO TRABALHISTA

3. Qualificação do réu
Assim como a qualificação do reclamante, a qualificação do réu também deve ser a mais
completa possível. Não podem faltar, por exemplo:

 nome completo;
 endereço completo, com CEP, preferencialmente;
 CNPJ da empresa, caso exista.

No caso de o réu ser uma pessoa física, deve ser indicada também a sua profissão.

Para ter certeza de que a qualificação do réu está correto, basta seguir o exemplo:

Pelo rito sumaríssimo, contra a Empresa Anjo, CNPJ nº012345678000910, situada na Rua das
Orquídeas, nº 2325, bairro das Pétalas, CEP: 12345-678 o que faz de acordo com os
fundamentos fáticos e jurídicos a seguir expostos:

4. Exposição dos fatos


Os fatos a serem expostos na reclamação devem ser os oriundos da relação material. Eles
devem fazer a ligação com os fundamentos jurídicos do pedido e ser expostos de forma concisa e
clara.

Alguns advogados narram os fatos a partir da elaboração de uma síntese sobre o contrato de
trabalho vigente, conforme se observa:

O Reclamante foi admitido pelo reclamado no dia 02 de abril de 2018, para exercer o cargo de
VENDEDOR, recebendo o salário mensal de R$ 1.900,00, acrescidos de comissão no valor de
2,5% (dois e meio por cento) por venda.

Em média, o autor procedia uma média de 100 vendas por mês, o que totalizava um montante
aproximado de R$ 3.000,00 (trÊs mil reais) pago ao trabalhador a título de comissão, se, contudo,
tal pagamento ser integrado em seu salário, nem mesmo ter seus reflexos remuneratórios.

O reclamante cumpria uma jornada de 48 (quarenta e oito) horas semanais, sendo 4 (quatro)
horas extras todos os sábados, no período entre 02 de abril de 2018 até 11 de julho de 2019,
totalizando 54 (cinquenta e quatro) sábados.

Tendo em vista os argumentos jurídicos a seguir apresentados, interpõe-se a seguinte


Reclamação Trabalhista no intuito de serem satisfeitos todos os direitos do Reclamante.

5. Exposição do Direito
A exposição do Direito é a parte da petição trabalhista em que é feita a fundamentação jurídica do
pedido, especialmente quando a matéria é de direito.

De uma forma muito prática, pode ser elaborada da seguinte maneira:

O Reclamante trabalhou até 11 de julho de 2019 , mês que lhe informaram sua demissão, nada
recebendo a título de saldo de salários.

De acordo com o art. 4º da CLT, considera-se como tempo de serviço o tempo efetivamente
trabalhado pelo empregado, integrando-se os dias trabalhados antes de sua dispensa injusta a
seu patrimônio jurídico, consubstanciando-se direito adquirido de acordo com o inciso IV do art. 7º
e inciso XXXVI do art. 5º, ambos da CF/88, de modo que faz a Reclamante jus ao saldo salarial.

Como pode ser percebido no exemplo, a exposição do Direito também requer uma apresentação
sucinta e direta. Inclusive, não há necessidade de transcrever os artigos citados, pois, é consenso
que o Juiz que atenderá o caso já detém conhecimento sobre as leis. Assim, a petição também
fica enxuta, por assim dizer, facilitando a leitura para o magistrado.

6. Pedidos
O pedido é o principal ponto do Art. 840 da CLT que teve uma alteração considerável. Antes, o
dispositivo dizia que a reclamação deveria conter o pedido e mais nada. Agora, na nova CLT, não
apenas o pedido deve constar na petição trabalhista como deve ser “certo, determinado e com
indicação de seu valor”. Caso contrário, conforme exposto no § 3º, corre-se o risco de o
julgamento ser “extinto sem resolução do mérito”.

Basicamente, significa que o pedido deve constar na petição inicial conforme demonstra o
exemplo:
Diante das considerações expostas, pleiteia a Reclamante a condenação da Reclamada nos
seguintes pedidos, resumidamente:

Julgar ao final TOTALMENTE PROCEDENTE a presente Reclamação, declarando o vínculo


empregatício existente entre as partes, condenando o Reclamado a:

Pagar o aviso prévio indenizado, saldo de salário, 13º salário proporcional, terço constitucional de
férias, horas extras, proporcionais + 1/3, os depósitos de FGTS de todo o período acrescido de
multa de 40% a título de indenização.

7. Data e assinatura
A data e a assinatura encerram a petição trabalhista. Ela deve ser assinada pelo reclamante ou
pelo representante legal. A escrita, normalmente, é assinada pelo advogado.

A disposição das informações é mais ou menos esta:

Flores, 5 de agosto de 2019.

josé de Souza
AADVOGADO – OAB/MG Nº…

Possivelmente, ao seguir os passos e as orientações do Art. 840 da CLT para a formulação da


petição inicial, o processo não enfrentará qualquer tipo de impugnação. O importante é cuidar
para não haver erros. Uma forma de garantir isso é usar o Checklist para eliminar erros das
peças jurídicas.

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