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RELATÓRIO DE FUNDAMENTAÇÃO

1) NOTA DE INTRODUÇÃO

A Proposta de Código do Processo de Trabalho que ora se apresenta revela-


se fundamental, atendendo às dificuldades com que se depara o quadro
legislativo laboral nacional desde a independência do nosso país.

Como é sabido, a inexistência de um instrumento legal aglutinador das


normas de natureza adjectiva num único diploma, ao serviço dos direitos
subjectivos reconhecidos pela legislação substantiva aos cidadãos, aos
trabalhadores e às empresas, deu lugar, ao longo dos tempos, a uma
dispersão legislativa, o que tem constituído um obstáculo ao
desenvolvimento do nosso sistema de justiça laboral e, consequentemente,
ao desenvolvimento económico e social de Angola.

Em termos gerais, a Proposta procede, com inegável mérito, à unificação e


sistematização dos diplomas avulsos que contêm a regulação actual das
matérias atinentes ao Direito Processual do Trabalho, o que vai permitir uma
melhor aplicação prática do direito, facilidade no seu manuseamento e
justeza das decisões, garantindo, assim, certeza e segurança jurídica aos
sujeitos processuais.

Com efeito, actualmente, a regulação do processo do trabalho encontra-se


pulverizada em diplomas distintos, nomeadamente:

 A Lei n.º 9/81, de 2 de Novembro – Lei da Justiça Laboral, que criou e


atribuiu às Comissões Laborais competência para conhecer e julgar os
conflitos de trabalho e revogou parte do Decreto-Lei n.º 45 497, de 30
de Dezembro de 1963, que aprovara o Código de Processo do Trabalho
vigente no tempo colonial;

 O Decreto Executivo Conjunto n.º 3/82, de 11 de Janeiro, que veio


regulamentar a Lei n.º 9/81, de 02 de Novembro – Lei da Justiça
Laboral;

 A Lei n.º 22-B/92, de 9 de Setembro, que extinguiu os Órgãos de


Justiça Laboral, devolveu a competência de julgar os conflitos de
trabalho aos Tribunais e manteve em vigor parte do Código de
Processo do Trabalho de 1963, na parte referente aos acidentes de
trabalho e doenças profissionais;

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 A Lei n.º 7/15, de 15 de Junho - Lei Geral do Trabalho, que estruturou o
processo de trabalho em duas fases distintas, designadamente, a fase
pré-judicial (cuja observância é obrigatória) e a fase judicial. Instituiu
os mecanismos extrajudiciais de resolução de conflitos de trabalho,
nomeadamente a Conciliação (presidida pelo Magistrado do Ministério
Público junto dos órgãos judiciais), a Mediação (da competência da
Inspecção-Geral do Trabalho) e a Arbitragem Voluntária. Na fase
judicial limitou-se a regular o processo desde a propositura da acção
até à contestação, tendo remetido para a lei do processo (entenda-se,
processo do trabalho regulado pela legislação supramencionada) a
disciplina dos termos subsequentes e, finalmente, remetido a disciplina
dos recursos ao regime previsto no Código de Processo Civil;

 O Código de Processo do Trabalho, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 45


497, de 30 de Dezembro de 1963, na parte que diz respeito às questões
emergentes de acidentes de trabalho e de doenças profissionais.

Esta dispersão e desestruturação do processo do trabalho angolano, tem


consequências práticas e imediatas, que se prendem com a grande hesitação
e enorme dificuldade por parte dos operadores e utentes da Justiça Laboral,
na medida em que a tramitação processual tem variado consoante o
entendimento de cada um, pois é difícil saber quais as normas ainda em
vigor, com graves prejuízos para a certeza e segurança jurídica, valores
supremos do direito, pelo que se impõe a elaboração de um Código de
Processo do Trabalho.

1.1. GENERALIDADES

A Subcomissão entendeu não ser boa técnica agregar no mesmo diploma


matéria substantiva e adjectiva, pois são de natureza distinta e autónoma e
prosseguem finalidades diferentes.

Para além disso, atendendo à especificidade e complexidade de cada matéria,


a condensação num único diploma pode implicar pouco aprofundamento, na
ânsia de se evitar um enorme volume. Por isso, propõe-se a retirada de toda
a matéria processual constantes na Lei Geral do Trabalho em vigor, com
excepção das normas procedimentais sobre a Mediação e Arbitragem
Laboral.

A par do que acaba de ser referido, não se podia também perder de vista que,
por um lado, parte significativa da citada legislação foi aprovada e entrou em
vigor num contexto de uma economia centralizada e planificada, que via o
Estado como o único grande empresário e que, por outro lado, fruto das
várias alterações constitucionais iniciadas em 1988, tendo a mais recente

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ocorrido em 2010, o país se abriu para a economia de mercado, privilegiando
a propriedade privada e a livre iniciativa económica.

Como resultado desta abertura, e após um período de crescimento


económico e desenvolvimento social, seguido de uma profunda crise
económica que, inevitavelmente, abalou o mercado de trabalho, tem-se
assistido não só ao aumento exponencial dos conflitos laborais, como,
também, à complexidade dos mesmos, a tal ponto que a legislação adjectiva
em vigor não se mostra apta a dar a devida resposta e, em tempo útil à
demanda, porque desactualizada pelo tempo.

Assim, com os fundamentos supra referidos, julgamos que se justifica


plenamente a elaboração do Código de Processo do Trabalho, angolano, com
o objectivo de sistematizar, harmonizar e congregar todas as normas
processuais laborais em vigor num mesmo diploma, de forma a adaptá-las à
realidade constitucional actual e ao novo contexto das relações jurídico-
laborais e dos conflitos laborais, bem como facilitar o seu manuseio,
promover a eficácia diária do Código e garantir a certeza e segurança
jurídicas, pois, à partida, todos terão a possibilidade de conhecer as regras do
jogo.

1.2. SOBRE AS DISPOSIÇÕES GERAIS

A presente Proposta começa por abordar o seu objecto, âmbito de aplicação,


princípios específicos, regras sobre integração de lacunas e as espécies de
acção.

Salienta-se que, por respeito ao princípio da unidade do sistema jurídico, o


tratamento destas matérias e das demais obedeceu ao critério da
especialidade, de modo a se evitar repetições de matérias expressamente
reguladas noutros códigos, fundamentalmente no Código de Processo Civil.

1.3. SOBRE OS PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS

No que diz respeito à capacidade judiciária e de forma a se estabelecer


correspondência com a “maioridade laboral” prevista na legislação
substantiva, reconhece-se a todos os menores que tenham completado 14
anos de idade capacidade para estarem por si em juízo como autores,
competindo ao Ministério Público a representação daqueles que ainda não
tenham atingido essa idade, quando os respectivos representantes legais não
o façam.

Em matéria de legitimidade, destaca-se, por um lado, a possibilidade do


exercício do direito de acção, em representação e substituição dos
respectivos associados, por parte das associações sindicais e associações
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representativas de empregadores, desde que prévia e expressamente
autorizadas para o efeito e, por outro, a legitimidade reconhecida ao
Ministério Público nas acções atinentes ao controlo da legalidade da
constituição e dos estatutos de associações sindicais, associações de
empregadores e comissões de trabalhadores, bem como nas acções de
anulação e interpretação de cláusulas de convenções colectivas de trabalho,
nos termos da Lei sobre o Direito de Negociação Colectiva.

Assiste ainda ao Ministério Público a representação do Estado e as demais


pessoas designadas por lei.

Quanto ao patrocínio judiciário, propõe-se a alteração do regime da não


obrigatoriedade de constituição de advogado pelas partes actualmente em
vigor (artigo 9.º n.º 1 da Lei n.º 22-B/92, de 9 de Setembro), na medida em
que, embora seja consequência de um princípio próprio do Direito
Processual do Trabalho, oiuspostulandi tem sido causa do insucesso de
muitas acções, pois a maior parte dos trabalhadores não domina aspectos
técnico-jurídicos de natureza processual, não conseguindo, assim, defender
convenientemente os seus direitos.

Nesta linha de pensamento, e com vista a assegurar a igualdade real entre as


partes e o favor laboratoris, coloca-se à disposição do trabalhador um leque
de opções para a concretização do direito à defesa em juízo, podendo este
socorrer-se do patrocínio por advogado, da sua livre escolha ou no âmbito do
regime geral da assistência judiciária, se reunir os requisitos legais para o
efeito, ou ainda do patrocínio oficioso do Ministério Público.

Contudo, o Ministério Público, enquanto defensor da legalidade, deve ter a


possibilidade de recusar o patrocínio, nos casos em que claramente verifique
que as pretensões do trabalhador são injustas, infundadas ou ilegais ou ainda
quando verifique a possibilidade de o mesmo recorrer aos serviços do
contencioso da associação sindical que o represente.

Para além da constituição e da possibilidade de recusa, e de modo a tornar


completo o regime legal proposto, criou-se uma disposição que contempla as
circunstâncias de cessação do patrocínio oficioso a cargo do Ministério
Público, designadamente quando o trabalhador constitua mandatário
judicial, passando aquele a ter uma intervenção acessória, tendo em atenção
os valores de interesse e ordem pública envolvidos no domínio juslaboral.

Ainda em relação aos pressupostos processuais, achou-se por bem retirar à


Jurisdição do Trabalho a competência para julgar o crime de desobediência
em sede do processo laboral, previsto pelo artigo 33.º da Lei n.º 9/81, de 2 de
Novembro e 4.º, alínea f), da Lei n.º 22-B/92, de 9 de Setembro, bem como o
crime de abuso de confiança, previsto no n.º 1 do artigo 57.º da Lei n.º 7/04,
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de 15 de Outubro, aliás, disposições legais (as duas primeiras)
expressamente revogadas, respectivamente, pelo artigo 6.º, n.º 2, al. e) da Lei
n.º 38/20, de 11 de Novembro, que aprovou o recém publicado Código Penal
Angolano, e pelo artigo 55.º da Lei n.º 2/15, de 2 de Fevereiro – Lei da
Organização e Funcionamento dos Tribunais da Jurisdição Comum.

Assim sendo, propõe-se que as infracções de natureza criminal e fiscais


constatadas em qualquer fase do processo do trabalho sejam comunicadas,
mediante certidão de teor, ao Magistrado do Ministério Público que
intervém no processo, que, por sua vez, as remete, conforme o caso, à
jurisdição criminal ou ao órgão de investigação e instrução competente.

1.4. DOS PRAZOS DE CADUCIDADE DO DIREITO DE ACÇÃO

Nesta matéria (artigos 47.º a 50.º), a Propostaprevê quatro situações,


nomeadamente a caducidade do direito de acção no caso de despedimento,
individual ou colectivo (180 dias a contar do dia seguinte ao da verificação
do despedimento), no caso de medidas disciplinares diversas do
despedimento (45 dias contados da notificação da respectiva medida), no
caso de direitos pecuniários (2 anos, contados da data em que o respectivo
direito se tornou exigível, mas nunca depois de decorrido 1 ano contado do
dia seguinte ao da cessação do contrato) e no caso de direitos não
pecuniários (1 ano, contado do momento em que se tornam exigíveis),
visando em última instância, diminuir os prazos para a resolução de
conflitos de trabalho, privilegiando a paz social.

1.5. SOBRE O VALOR DA ACÇÃO

No que respeita ao valor da acção e aos respectivos critérios de fixação


(artigos 30.º e 31.º), a Proposta segue de perto a orientação do Código de
Processo Civil, por não se vislumbrarem razões que justifiquem tratamento
específico da matéria.

1.6. SOBRE AS PROVIDÊNCIAS CAUTELARES

Mereceu também uma especial atenção a matéria relativa aos procedimentos


cautelares, que, mesmo não estando previstos pela legislação laboral em
vigor, têm sido frequentes nas salas de trabalho, principalmente do Tribunal
Provincial de Luanda.

Justifica-se a consagração das providências cautelares no Código (artigos


32.º e ss), atendendo à celeridade e à finalidade de impedir a violação de um
direito ou de pôr fim a uma violação em curso, tendo em atenção que a
demora normal de uma acção pode tornar inútil o efeito pretendido e sem
qualquer utilidade prática a decisão judicial.
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Este aspecto tem uma importância colossal no âmbito das relações jurídico-
laborais, atendendo as suas especificidades, essencialmente ligadas à
dependência jurídica e económica do trabalhador e dos seus familiares em
relação ao posto de trabalho, não sendo certo que fique desempregado e sem
salário durante muito tempo, tendo em conta a demora normal dos
processos em Tribunal e, fundamentalmente, quando existem indícios de que
o seu despedimento é ilícito.

Para além disso, as providências cautelares têm ainda especial relevância no


direito do trabalho nos casos de higiene, segurança e saúde no trabalho e nos
casos de greve.

De forma a se evitarem danos irreversíveis à vida, saúde e integridade física


dos trabalhadores e também graves prejuízos às próprias empresas, que
podem pôr em causa a sobrevivência das mesmas, devido à paralisação das
suas actividades, justifica-se plenamente a existência de mecanismos mais
céleres e rápidos do que as acções normais.

Assim, para além das providências cautelares não especificadas e da


referência às providências previstas no Código de Processo Civil, nos casos
em que sejam aplicáveis, são propostas, no presente Código e devidamente
reguladas as seguintes providências: suspensão de despedimento disciplinar,
suspensão do despedimento por causas objectivas, suspensão das
deliberações de assembleias-gerais ou órgão equivalentes de sindicatos e
protecção da segurança, higiene e saúde no trabalho.

1.7. SOBRE AS ESPÉCIES E FORMAS DE PROCESSO

Destaque particular é dado a questão da definição da forma de processo e da


tipificação das acções ou tipos de processos (artigos 8.º a 11.º), já que a
legislação actual nada diz quanto à primeira questão e, em relação à segunda,
prevê apenas, embora de forma pouco desenvolvida, a acção de recurso em
matéria disciplinar e a acção de conflito de trabalho - acção residual ou regra
- que abarca tudo o que não é recurso em matéria disciplinar, para além das
acções emergentes de acidentes de trabalho e doenças profissionais, que
continuam a reger-se pelas normas do Código de Processo do Trabalho do
tempo colonial, por força do disposto no artigo 10.º da Lei n.º 22-B/92, de 9
de Setembro, já referido.

Quanto à forma de processo, atendendo os interesses em jogo nas relações


jurídico-laborais, que andam ligados à subsistência do trabalhador e seus
familiares, à integridade física, saúde e vida dos mesmos, à sobrevivência e
manutenção das empresas e, consequentemente, de numerosos empregos,
optamos pela forma sumária, pois, parece-nos ser a forma que melhor
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concilia a necessidade de celeridade processual, por um lado e, por outro, a
necessidade de garantia dos direitos substantivos e adjectivos das partes.

Sendo assim, os diferentes prazos previstos são mais curtos do que os do


processo ordinário; a fase dos articulados é constituída por dois articulados
obrigatórios, requerimento inicial e contestação, e um articulado eventual,
havendo lugar à resposta à contestação, no caso de serem levantadas
excepções ou formulado pedido reconvencional, sem prejuízo da admissão
de articulados supervenientes.

Quanto aos processos especiais, a Proposta prevê os seguintes:

 Processos emergentes de acidente de trabalho e dedoença profissional


(artigos 103.º a 157.º);

 Processos de impugnação de despedimento disciplinares e de outras


medidas disciplinares (artigos 158.º a 163.º);

 Processo de impugnação de despedimento colectivo (artigos 164.º a


167.º);

 Processo de impugnação de deliberações de greve (artigos 168.º a


175.º), e;

 Processo de protecção da segurança, higiene e saúde no trabalho


(176.º a 182.º).

Justifica-se a introdução da acção de impugnação de despedimento colectivo,


pelo facto de, subjacente a alegação de razões económicas, tecnológicas ou
estruturais, que podem motivar a reorganização interna, a redução ou
encerramento de actividades e a extinção ou transformação de postos de
trabalho e, consequentemente, levar ao despedimento, podem estar razões
subjectivas que se prendem com caprichos do empregador. Para além de que
pode exigir produção de prova especializada, para se comprovar os motivos
do despedimento.

Justifica-se, igualmente, a introdução da acção de impugnação de


deliberações de greve, com uma tramitação própria, porque a paralisação,
parcial ou total, da actividade da empresa pode acarretar grandes prejuízos
patrimoniais, que, ao extremo, podem levar ao encerramento da mesma,
pondo em causa a única fonte de sustento de muitos trabalhadores (alguns
dos quais não aderentes à greve) e a arrecadação de receitas pelo Estado,
mediante a cobrança de impostos.

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Por último, justifica-se a introdução da acção de protecção da segurança,
higiene e saúde no trabalho, pela simples razão de que podem estar em jogo
a saúde, a integridade física ou até mesmo a própria vida dos trabalhadores,
que, enquanto direitos fundamentais e com óbvia dignidade constitucional
(artigos 30.º, 31.º, 39.º, 76.º n.º 2 e 77.º da Constituição da República de
Angola) devem merecer absoluta protecção por parte do Estado.

Neste sentido, o processo declarativo comum, que hoje chamamos de conflito


de trabalho, no presente Código vem definir as regras da tramitação de todas
as acções resultantes dos conflitos laborais não especialmente previstos e o
processo declarativo especial fica apenas constituído pelas acções
supramencionadas.

Quanto à estrutura, optou-se pela manutenção da divisão do processo em


duas fases, a conciliatória e a judicial propriamente dita, passando a primeira
a ter, no entanto, carácter facultativo, contrariamente ao estabelecido na
legislação em vigor (artigo 274.º da LGT), que consagra o princípio da
precedência obrigatória. Com o regime proposto (tentativa de conciliação
facultativa) procurou-se superar as sucessivas controvérsias geradas por
uma jurisprudência nem sempre uniforme a propósito da
constitucionalidade da regra da precedência obrigatória prevista na norma
acabada de citar face ao princípio da tutela jurisdicional efectiva.

1.8. SOBRE OS ARTICULADOS

Como acima se referiu, adoptada a forma sumária, o processo laboral terá em


regra dois articulados obrigatórios e um eventual.

Por força do princípio da prevalência da verdade material sobre a verdade


formal, a falta de contestação(artigo 69.º), não resulta na condenação,
automática e necessária, da requerida nos termos do pedido formulado.
Isto é, embora se possam considerar confessados os factos, o juiz deverá
julgar a causa conforme for de direito, tal como estabelecido no CPC.

Por outro lado, em homenagem ao princípio da protecção, a falta de resposta


à contestação não pode ter como consequência a admissão por acordo dos
factos constantes na contestação, devendo o processo prosseguir a sua
tramitação normal e o Tribunal produzir prova sobre os mesmos.

1.9. SOBRE O DESPACHO SANEADOR

Uma vez que a legislação actual não prevê o despacho saneador no processo
laboral e tendo em conta a sua função imprescindível, consubstanciada na
expurgação do processo de tudo o que for desnecessário para o
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conhecimento do mérito da causa e do alcance da verdade material, por um
lado e, por outro, na definição do que é essencial, delimitando-se o objecto do
julgamento, a presente Proposta consagra o despacho saneador (artigo 74.º),
tendente a facilitar a tarefa do Juiz no julgamento da causa.

Isto não vem ao acaso, mas é sim, fruto dos vários acórdãos do Tribunal
Supremo, destacando-se os proferidos nos seguintes processos: 623/99,
626/99, 631/99, 1138/2007 e 1178/07.

1.10. SOBRE A INDICAÇÃO DAS PROVAS

O presente Código define, de forma clara e objectiva, os meios de prova


admissíveis no processo laboral, a sua forma de produção e,
fundamentalmente, as regras do ónus da prova, na medida em que a
aplicação directa do Código de Processo Civil pode conduzir a injustiças e
chocar com realidades próprias do direito do trabalho.

Por exemplo: cabe a quem alegar um facto fazer prova do mesmo. No caso de
despedimento, disciplinar ou por causas objectivas, embora o mesmo seja
alegado pelo requerente ou recorrente, parece-nos que a obrigação de fazer
prova do mesmo devia recair ao empregador, por ser um acto por si
praticado e por estar numa posição privilegiada para fornecer documentação
a respeito, já que se encontram ou deviam encontrar-se em seu poder.

1.11. SOBRE OS RECURSOS

Relativamente aos recursos nos processos laborais, vários têm sido os


problemas causados, em grande medida, pela própria legislação, levando ao
surgimento de diversas opiniões entre os operadores e utentes da justiça
laboral.

Inicialmente, a Lei n.º 9/81, de 2 de Novembro, admitia a possibilidade de


recurso em todos os processos laborais, sempre com subida imediata e efeito
meramente devolutivo, se tivermos em conta o disposto no artigo 34.º n.º 1,
36.º, 38.º, 40.º e 42.º.

Porém, posteriormente, a Lei n.º 22-B/92, de 9 de Setembro, manteve em


vigor os referidos artigos, com algumas alterações, designadamente a
admissibilidade de recurso apenas das decisões proferidas em questões cujo
valor esteja acima da alçada do Tribunal Provincial.

Finalmente, surge a Lei Geral do Trabalho que, no seu artigo 292.º, parece
remeter todo o regime dos recursos para o Código de Processo Civil, quando
refere que “da decisão final do juiz pode ser interposto recurso por qualquer

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uma das partes litigantes para Tribunal superior nos termos da lei geral do
processo”

Atendendo que o processo do trabalho é um processo civil especial, conclui-


se que, independentemente do valor da causa, são sempre admissíveis
recursosnos processos emergentes de acidentes de trabalho e de doenças
profissionais, salvaguardando-se o disposto no artigo 129.º; os processos de
declaração de ilicitude de greve e nos processos de protecção da segurança,
higiene e saúde no trabalho, aplicando-se aos demais casos o regime geral
constante no CPC.

Quanto ao efeito do recurso, se reafirma noefeito meramente devolutivo, em


consonância com o previsto na legislação laboral vigente e na Proposta do
novo CPC.

1.12. DOS PROCESSOS EMERGENTES DE ACIDENTES DE


TRABALHO E DE DOENÇAS PROFISSIONAIS

Quanto aos processos emergentes de acidente de trabalho e de doença


profissional (artigos 103.º e ss), a Proposta apresenta uma divisão que os
separa em duas fases: a fase conciliatória, dirigida pelo Ministério Público, e
a fase contenciosa, justificada pelo facto de, na maior parte dos casos, essas
acções não consistirem num conflito em sentido próprio, pretendendo as
partes nada mais do que a definição dos direitos de uma e os deveres de
outra, indispensável à realização do acordo.

Assumindo a entidade responsável as obrigações legais relativas ao


sinistrado ou ao doente, é celebrado o acordo, que será depois remetido à
homologação do Juiz. Se não houver acordo na fase conciliatória, ou se
nenhuma entidade assumir a responsabilidade pelo acidente ou doença,
segue-se então a fase contenciosa.

Na fase contenciosa, o processo pode subdividir-se em vários processos ou


apensos, que correm simultânea e/ou separadamente.

Prevê ainda a atribuição ao sinistrado ou ao doente de uma pensão


provisória, sempre que, não existindo dúvidas sobre o direito à pensão e, não
obstante isso, o sinistrado ou o doente continuar a aguardar durante muito
tempo pela definição exacta do montante da pensão ou que se determine a
entidade responsável pelo seu pagamento.

1.13. CONCLUSÃO

A Proposta em apreço procurou consagrar soluções que se mostram


alinhadas com o enquadramento constitucional e internacional vigente,
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designadamente no que se refere aos princípios e valores fundamentais da
legislação processual do trabalho.

Além disso, a Proposta apresenta-se como instrumento necessário e


adequado ao reforço das garantias dos cidadãos em geral e, em particular,
dos trabalhadores e das empresas, tendo em atenção a agilização de
procedimentos e a configuração de soluções especialmente delineadas para a
realização dos interesses individuais e colectivos nela previstas.

Assim, com a presente Proposta, será possível não apenas colmatar-se o


vazio que há muito se faz sentir no nosso sistema jurídico angolano, como
também dar resposta às várias preocupações dos operadores do direito na
sua tarefa de administração da justiça dotrabalho.

2) SUMÁRIO A PUBLICAR NO DIÁRIO DA REPÚBLICA

Eis o sumário que deverá constar da I Série do Diário da República (DR):

“Lei n.º ______/17, de _____ de ____________________;

– Aprova o Código de Processo do Trabalho.

3) NECESSIDADE DA FORMA PROPOSTA PARA O DIPLOMA

A presente iniciativa legislativa é apresentada ao abrigo do n.º 1 e 4 do artigo


167.º sob a forma de Proposta de Lei. A matéria em causa está sujeita à
reserva absoluta de competência legislativa da Assembleia Nacional, nos
termos da al. a) do n.º 1, do nº 2 do artigo 165.º, e deve adoptar a forma de
Lei, conforme o disposto na al. d) do n.º 2 do artigo 166.º todos da
Constituição da República de Angola (CRA),

4) ACTUAL ENQUADRAMENTO JURÍDICO DA MATÉRIA OBJECTO


DO DIPLOMA

i. Constituição da República de Angola

A consagração expressa, no artigo 29º da Constituição da República de


Angola, do princípio da plenitude e efectividade da tutela dos direitos
fundamentais dos administrados e a necessidade de afirmação de um direito
processual administrativo na sua dupla função subjectivista (de tutela de
direitos e interesses subjectivos dos particulares) e objectivista (de controlo
da legalidade administrativa) determinam o afastamento do modelo
marcadamente objectivista e de um processo feito ao acto que caracteriza o
regime em vigor e sua substituição por um novo regime.

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ii. Legislação ordinária

O repertório central do enquadramento jurídico da matéria objecto da


proposta encontra-se previsto nos seguintes diplomas:

 Lei n.º 9/81, de 2 de Novembro - Lei da Justiça Laboral;

 Lei n.º 23/91, de 15 de Junho - Lei da Greve, na parte que contrarie o


presente Código;

 Lei n.º 22-B/92, de 9 de Setembro - Lei que Extingue os Órgãos de


Justiça Laboral;

 Lei n.º 7/15, de 15 de Junho - Lei Geral de Trabalho;

 Decreto - Lei n.º 45 497, de 30 de Dezembro de 1963- Código de


Processo de Trabalho;

 Decreto Executivo Conjunto n.º 3/82, de 11 de Janeiro - Regulamento


da Lei da Justiça Laboral;

 Resolução n.º 12/81, de 7 de Novembro - Sobre Segurança Social e


Acidentes de Trabalho.

5) LEGISLAÇÃO A REVOGAR

Pelo seu objecto – aprovação do Código de Processo do Contencioso


Administrativo, visa revogar os seguintes diplomas:

 Lei n.º 9/81, de 2 de Novembro - Lei da Justiça Laboral;

 Lei n.º 23/91, de 15 de Junho - Lei da Greve, na parte que contrarie o


presente Código;

 Lei n.º 22-B/92, de 9 de Setembro - Lei que Extingue os Órgãos de


Justiça Laboral;

 Lei n.º 7/15, de 15 de Junho - Lei Geral de Trabalho, na parte que


contrarie o presente Código;

 Decreto - Lei n.º 45 497, de 30 de Dezembro de 1963- Código de


Processo de Trabalho;

 Decreto Executivo Conjunto n.º 3/82, de 11 de Janeiro - Regulamento


da Lei da Justiça Laboral;
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 Resolução n.º 12/81, de 7 de Novembro - Sobre Segurança Social e
Acidentes de Trabalho.

6) AVALIAÇÃO SUMÁRIA DOS MEIOS FINANCEIROS E HUMANOS


ENVOLVIDOS NA RESPECTIVA EXECUÇÃO A CURTO E MÉDIO
PRAZOS.

A aprovação da presente Lei implicará para o Estado a disponibilidade de


recursos materiais, técnicos, financeiros e humanos com vista a:

a) Publicação e divulgação alargada da lei aos distintos sectores do


funcionalismo público, desde operadores e aplicadores do direito
no geral;

b) Formação específica dos recursos humanos em especial da


Magistratura e funcionários afectos.

7) NOTA PARA A COMUNICAÇÃO SOCIAL

Eis a nota que se aconselha para os órgãos de comunicação social:

“O Conselho de Ministros apreciou hoje a Proposta de Lei que aprova o Código


do Processo do Trabalho;

Está iniciativa legislativa, enquadra-se no âmbito do Programa de Comissão da


Reforma da Justiça e do Direito, criada por Despacho do Titular do Poder
Executivo. A proposta apresentada revela-se fundamental, atendendo às
dificuldades com que se depara o quadro legislativo laboral nacional desde a
independência do nosso país, considerando a inexistência de um instrumento
legal aglutinador das normas de natureza adjectiva num único diploma, ao
serviço dos direitos subjectivos reconhecidos pela legislação substantiva aos
cidadãos, aos trabalhadores e às empresas, deu lugar, ao longo dos tempos, a
uma dispersão legislativa, o que tem constituído um obstáculo ao
desenvolvimento do nosso sistema de justiça laboral e, consequentemente, ao
desenvolvimento económico e social de Angola.

8) INSERÇÃO NO PROGRAMA DE GOVERNAÇÃO DO EXECUTIVO

A presente proposta de lei visa adequar as normas processuais sobre o


contencioso administrativo à realidade jurídico-constitucional e efectivação
dos direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos consagrados na
Constituição, e constitui um passo fundamental na materialização do
compromisso do Executivo angolano assumido em sede do Plano de
Desenvolvimento Nacional 2017-2022, mormente o aprofundamento da
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Reforma da Administração Pública, conforme previsto no Programa 4.2.1, e
insere-se igualmente no Programa de Reforma da Justiça e do Direito.

9) REFERÊNCIA À PARTICIPAÇÃO OU AUDIÇÃO DE OUTRAS


ENTIDADES

Tratando-se de uma matéria de interesse de várias entidades, em obediência


ao estatuído na alínea d) do artigo 8.º do Decreto Presidencial n.º 251/12, de
27 de Dezembro – Sobre os Procedimentos para a Materialização das
Deliberações do Executivo – conjugado com a alínea d) do n.º 1 do artigo 16.º
do Decreto Presidencial n.º 357/17, de 15 de Outubro – Aprova o Regimento
do Conselho de Ministros -, conforme cópia dos ofícios em anexo foi
solicitado parecer das seguintes entidades:

1. Conselho Superior da Magistratura Judicial.

2. Conselho Superior da Magistratura do Ministério Público.

3. Ordem dos Advogados de Angola.

4. Ministério da Administração Pública, Trabalho e Segurança Social.

5. Faculdade de Direito da Universidade Agostinho Neto.

6. Faculdade de Direito da Universidade Católica de Angola.

7. Associação de Empresas de Comércio e Distribuição Moderna de


Angola – ECODIMA.

8. A Central Geral de Sindicatos Independentes e Livres de Angola –


CGSILA.

9. Associação dos Industriais de Angola – AIA.

Das instituições acima mencionadas, até a presente data nenhuma delas se


pronunciou.

14
PROPOSTA DE LEI N.º ________/2021

DE________________DE_____________

A Constituição da República de Angola, de 2010, desenvolveu premissas para


o fortalecimento do Estado Democrático de Direito, tendo ampliado os
direitos, liberdades e garantias dos particulares quer a título individual quer
como pessoa colectiva;

Tendo em conta que a actual desestruturação do processo do trabalho tem


consequências práticas e imediatas na certeza e segurança jurídica dos
sujeitos processuais;

Considerando o facto de não constituir técnica legislativa recomendável


agregar, num mesmo diploma, matéria substantiva e adjectiva, como tem
sido seguido até a presente data, pois são de natureza distinta e
prosseguem finalidades diferentes;

Evidenciando assim a necessidade de consagrar toda a tramitação


processual do trabalho num único diploma à luz dos princípios da unidade
da ordem jurídica e da especificidade dos seus diversos ramos;

A Assembleia Nacional aprova, por mandato do povo, nos termos da alínea b)


do artigo 161.º e alínea b) do artigo 164.º, ambos da Constituição da
República de Angola, a seguinte:

LEI QUE APROVA O CÓDIGO DE PROCESSO DO TRABALHO

Artigo 1.º
(Aprovação)

É aprovado o Código de Processo do Trabalho em anexo, que é parte


integrante da presente Lei.

Artigo 2.º
(Revogação)

É revogada toda legislação que contraria as disposições da presente lei,


nomeadamente:

a) Lei n.º 9/81, de 2 de Novembro- Lei da Justiça Laboral;

15
b) Lei n.º 23/91, de 15 de Junho- Lei da Greve, na parte que contrarie o
presente Código;

c) Lei n.º 22-B/92, de 9 de Setembro- Lei que Extingue os Órgãos de


Justiça Laboral;

d) Artigos 274.º, 283.º a 307.ºda Lei n.º 7/15, de 15 de Junho - Lei Geral
de Trabalho;

e) Decreto- Lei n.º 45 497, de 30 de Dezembro de 1963- Código de


Processo de Trabalho;

f) Decreto Executivo Conjunto n.º 3/82, de 11 de Janeiro- Regulamento


da Lei da Justiça Laboral;

g) Resolução n.º 12/81, de 7 de Novembro- Sobre Segurança Social e


Acidentes de Trabalho.

Artigo 3.º
(Dúvidas e omissões)

As dúvidas e omissões suscitadas da interpretação e aplicação da presente


Lei são resolvidas pela Assembleia Nacional.

Artigo 4.º
(Entrada em vigor)

A presente Lei entra em vigor 60 dias após a data da sua publicação.

Vista e aprovada pela Assembleia Nacional, em Luanda, aos


______de__________________2021.

O PRESIDENTE DA ASSEMBLEIA NACIONAL

FERNANDO DA PIEDADE DIAS DOS SANTOS

Promulgada, aos

Publique-se.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA

JOÃO MANUEL GONÇALVES LOURENÇO


16
CÓDIGO DE PROCESSO DO TRABALHO

LIVRO I
DISPOSIÇÕES GERAIS

TÍTULO I
OBJECTO, PRIÍPIOS, ÂMBITO, INTEGRAÇÃO E ESPÉCIES DE ACÇÕES

CAPÍTULO I
OBJECTO, PRINCÍPIOS E ÂMBITO

Artigo 1.º
(Objecto)

O presente Código regula o processo do trabalho.

Artigo 2.º
(Princípios do Processo do Trabalho)

O processo do trabalho rege-se pelos seguintes princípios:

a) Hipervalorização do acto conciliatório;


b) Obrigatoriedade de patrocínio judiciário;
c) Prevalência da justiça material sobre a justiça formal;
d) Simplicidade da tramitação;
e) Condenação extra vel ultra petita;
f) Iniciativa oficiosa em matéria probatória;
g)Gratuitidade das acções laborais para os trabalhadores e seus
familiares.

Artigo 3.º
(Âmbito de Aplicação)

1. O processo regulado no presente Código aplica-se a todos os conflitos


individuais de trabalho que resultem da constituição, manutenção,
modificação, suspensão ou extinção da relação jurídico-laboral, bem
como aos recursos em matéria disciplinar, e às questões emergentes de
acidentes de trabalho e doenças profissionais.

2. O presente Código aplica-se ainda aos conflitos colectivos de trabalho,


designadamente os que surjam no âmbito do direito à greve e das
convenções ou acordos colectivos de trabalho, bem como às
transgressões resultantes da violação das normas laborais sobre
17
segurança social, aos recursos das decisões da Inspecção Geral do
Trabalho e às execuções de multas por ela aplicadas.

Artigo 4.º
(Exclusão)

O processo regulado no presente Código não se aplica aos conflitos em que


estejam envolvidos:

a) Funcionários públicos e Agentes que exerçam a sua actividade


profissional na Administração Pública Central ou Local, institutos
públicos ou outros organismos estatais, salvo as excepções previstas
em lei especial;

b) Trabalhadores estrangeiros com vínculos permanentes ao serviço de


representações diplomáticas ou consulares de outros países ou de
organizações internacionais, nos termos das Convenções de Viena
sobre Relações Diplomáticas e Consulares;

c) Associados de cooperativas ou de organizações não-governamentais,


regendo-se o respectivo trabalho por disposições estatutárias ou
pelas disposições da lei comercial, salvo se forem sujeitos da relação
jurídico-laboral;

d) Trabalho familiar;

e) Trabalho ocasional;

f) Actividades de pessoas que intervêm em operações comerciais,


quando assumam, na totalidade, o risco resultante dessas operações;

g) Consultores e Membros dos Órgãos de Administração ou de direcção


de empresas ou organizações sociais, desde que apenas realizem
tarefas inerentes a tais cargos sem vínculo de subordinação titulado
por contrato de trabalho.

Artigo5.º
(Remissão)

O que não estiver especialmente regulado no presente capítulo, aplica-se o


disposto no Código de Processo Civil.

18
CAPÍTULO II
INTEGRAÇÃO E ESPÉCIES DE ACÇÕES

Artigo 6.º
(Integração)

Nos casos omissos, recorre-se sucessivamente:

a) À legislação processual comum que directamente os regula;

b) À regulamentação dos casos análogos previstos no presente Código;

c) Aos Princípios Gerais do Direito Processual do Trabalho;

d) Aos Princípios Gerais do Direito Processual Comum.

Artigo 7.º
(Espécies de Acções)

As acções laborais são declarativas ou executivas.

TÍTULO II
PROCESSO DO TRABALHO

CAPÍTULO I
ESPÉCIES E FORMAS DE PROCESSO

Artigo 8.º
(Espécies de Processo Declarativo)

1. O processo declarativo pode ser comum ou especial.

2. O processo declarativo comum é o processo regra cujas disposições se


aplicam directamente à todas as acções de conflito de trabalho que não
tenham forma própria.

3. O processo declarativo especial é regulado por disposições próprias e pelas


disposições gerais e comuns e compreende os seguintes tipos de processos:

a) Processos emergentes de acidente de trabalho e doença profissional;

b) Processo de impugnação de despedimento disciplinar e de outras


medidas disciplinares;

19
c) Processo de impugnação de despedimento colectivo;

d) Processo de impugnação de deliberações de greve;

e) Processo de protecção da segurança, higiene e saúde no trabalho.

Artigo 9.º
(Espécie de Processo Executivo)

O processo executivo pode ser:

a) Para pagamento de quantia certa;


b) Para entrega de coisa certa;
c) Para prestação de facto.

Artigo 10.º
(Forma Sumária)

O processo do trabalho, quer declarativo, quer executivo, segue sempre a


forma sumária.

Artigo 11.º
(Remissão)

O que não estiver especialmente regulado no presente capítulo, aplica-se o


disposto no Código de Processo Civil.

CAPÍTULO II
PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS

SECÇÃO I
PRESSUPOSTOS RELATIVOS ÀS PARTES

Artigo 12.º
(Capacidade Judiciária dos Menores)

1. O menor com 14 anos de idade, a quem tenha sido reconhecida capacidade


para celebração de contrato de trabalho, tem capacidade judiciária activa.

2. O menor que ainda não tenha completado 14 anos de idade é representado


pelo Ministério Público, desde que o seu representante legal não o faça.

20
Artigo 13.º
(Legitimidade)

Têm legitimidade para intentar acções de Trabalho:

a) Os trabalhadores e seus familiares na defesa dos seus direitos;

b) As direcções das empresas com interesse directo no conflito;

c) As associações sindicais e representativas das entidades


empregadoras, desde que devidamente autorizadas pelos
trabalhadores e empregadores, respectivamente, de modo explícito e
por escrito.

Artigo 14.º
(Legitimidade do Ministério Público)

O Ministério Público tem legitimidade activa nas seguintes acções:

a) Acções relativas ao controlo da legalidade da constituição e dos


estatutos de associações sindicais, associações de empregadores e
comissões de trabalhadores;

b) Acções de anulação e interpretação de cláusulas de convenções


colectivas de trabalho, nos termos da Lei Sobre o Direito de
Negociação Colectiva.

Artigo 15.º
(Legitimidade em Caso de Pluralidade de Partes)

1. Quando o trabalho for prestado por um grupo de pessoas ou o conflito


respeite a vários trabalhadores, pode qualquer deles fazer valer a sua
quota-parte do interesse, embora este tenha sido colectivamente fixado.

2. Para o efeito do número anterior, o requerente da acção deve identificar os


demais interessados, que são notificados, antes da citação do réu, para, no
prazo de 10 dias, intervirem no processo.

3. Sendo a acção intentada por um ou alguns dos trabalhadores, compete ao


Ministério Público a defesa dos interesses daqueles que não intervierem
por si.

21
Artigo 16.º
(Legitimidade das Associações Sindicais e Patronais)

1. As associações sindicais e patronais são partes legítimas como requerentes


nas acções respeitantes aos interesses colectivos que representam.

2. As associações sindicais podem exercer o direito de acção em representação


e substituição de trabalhadores que os autorizem, designadamente:

a) Nas acções respeitantes a medidas tomadas pela entidade patronal


contra trabalhadores pertencentes aos corpos gerentes das
associações sindicais ou que nela exerçam qualquer cargo;

b) Nas acções respeitantes a medidas tomadas pela entidade patronal


contra os seus associados.

3. Para efeito do número anterior, presume-se autorizada pelo trabalhador a


associação sindical que lhe tenha comunicado por escrito a intenção de
exercer o direito de acção em sua representação e substituição, com a
indicação do respectivoobjecto, se o trabalhador nada declarar em contrário,
por escrito, no prazo de 10 dias, a contar da comunicação.

4. Quando se verificar o exercício do direito de acção nos termos do nº 2, o


trabalhador só pode intervir no processo como assistente.

5. Nas acções em que estejam em causa interesses individuais dos


trabalhadores ou das entidades patronais, as respectivas associações podem
intervir como assistentes dos seus associados, desde que exista da parte dos
interessados declaração escrita de aceitação da intervenção.

Artigo 17.º
(Representação pelo Ministério Público)

O Estado e as demais pessoas designadas por lei são representados pelo


Ministério Público.

Artigo 18.º
(Patrocínio Judiciário)

Sem prejuízo do regime da assistência judiciária ou da defensória pública,


quando a lei o determine ou as partes o solicitem, o patrocínio judiciário dos
trabalhadores e seus familiares pode ser exercido pelo Ministério Público,
por Defensor Público ou por Advogado.
22
Artigo 19.º
(Recusa de Patrocínio)

1. O Ministério Público recusa o patrocínio a pretensões que repute


infundadas ou manifestamente injustas e pode recusá-lo quando
verifique a possibilidade do requerente recorrer à defensória pública
ouaos serviços do contencioso da associação sindical que o represente.

2. Quando o Ministério Público recuse o patrocínio nos termos do número


anterior, notifica imediatamente o interessado de que pode reclamar, no
prazo de cinco dias.

3. Os prazos de propositada da acção e de prescrição suspendem-se a partir


do pedido de patrocínio ao Ministério Público ou àdefensória pública, até
a notificação da decisão.

Artigo 20.º
(Cessação da Representação e do Patrocínio Oficioso)

Constituído mandatário judicial ou defensor público, cessa a representação


ou o patrocínio oficioso que estiver a ser exercido, sem prejuízo da
intervenção acessória do Ministério Público.

SECÇÃO II
PRESSUPOSTOS RELATIVOS AO TRIBUNAL

Artigo21.º
(Competência Internacional)

1. Na competência internacional da Sala do Trabalho do Tribunal da


Comarca estão incluídos os casos em que a acção pode ser intentada em
Angola, segundo as regras de competência territorial estabelecidas no
presente Código, ou de terem sido praticados em território angolano, no
todo ou em parte, os factos que integram a causa de pedir na acção.

2. É competente a Sala de Trabalho do Tribunal da Comarca do domicílio do


trabalhador de nacionalidade angolana quando residente em território
nacional para conhecer de questões emergentes de trabalho prestado no
estrangeiro.

23
Artigo 22.º
(Competência em Razão da Hierarquia)

1. O tribunal de Comarca é o competente para conhecer os conflitos de


trabalho em 1.ª instância.

2. O Tribunal da Relação funciona como instância de recurso nos casos


previstos no presente Código.

Artigo 23.º
(Competência em Razão do Território)

1. Para conhecer das questões emergentes das relações jurídico-laborais é,


em princípio, competente o tribunal do domicílio do requerido,
considerando-se a entidade empregadora, seguradora e as instituições de
previdência domiciliadas no lugar onde tenham sucursal, agência, filial,
delegação ou qualquer outra forma de representação.

2. Os trabalhadores podem, porém, submeter o conhecimento das questões


de trabalho que queiram intentar contra o empregador, quer ao tribunal
do lugar onde prestaram o trabalho, quer ao da sua residência.

3. Tendo o trabalho sido prestado em mais de um lugar, é competente o


tribunal de qualquer dos lugares.

Artigo 24.º
(Competência Territorial nas Acções Emergentes de Acidentes de
Trabalho ou de Doenças Profissionais)

1. Para conhecer das questões emergentes de acidentes de trabalho e de


doenças profissionais é territorialmente competente a Sala do Trabalho
do Tribunal da Comarca do lugar:

a) Onde ocorreu o acidente;

b) Onde o trabalhador presumivelmente contraiu a doença;

c) Da residência do sinistrado, doente ou beneficiários legais, no caso


de ali ter sido feita a participação.

2. Se o acidente ocorrer ou a doença se manifestar em viagem terrestre,


aérea, fluvial ou marítima, é também competente o Tribunal da
localidade do território onde sejam prestados os primeiros socorros ao
24
sinistrado ou doente, ou da primeira localidade do território nacional a
que chegar o veículo, barco ou aeronave, ou o da sua matrícula.

Artigo 25.º
(Competência Territorial nas Acções Emergentes de Despedimento
Colectivo)

1. Em caso de despedimento colectivo, as acções de impugnação e os


procedimentos cautelares de suspensão devem ser propostos no
tribunal do lugar onde se situa o estabelecimento de prestação de
trabalho.

2. No caso de o despedimento abranger trabalhadores de diversos


estabelecimentos, é competente o tribunal do lugar onde se situa o
estabelecimento com maior número de trabalhadores despedidos.

Artigo 26.º
(Competência em Razão da Matéria)

1. Compete à Jurisdição do Trabalho preparar e julgar:

a) Todas as questões ou acções e providências emergentes, em geral, do


estabelecimento, execução ou extinção das relações de trabalho, bem
como de relações estabelecidas com vista à celebração de contratos de
trabalho;

b) As questões emergentes de acidentes de trabalho e doenças


profissionais;

c) As questões relativas à anulação e interpretação dos instrumentos de


regulamentação colectiva do trabalho que não revistam natureza
administrativa;

d) Os recursos interpostos pelos trabalhadores relativos a medidas


disciplinares que lhes forem aplicadas;

e) As infracções previstas às Leis Laborais, nomeadamente à Lei da Greve


e à Lei Sindical, quando não haja disposição legal em contrário;

f) As questões entre sujeitos de uma relação jurídica de trabalho ou entre


um desses sujeitos e terceiros, quando emergentes de relações conexas
com a relação de trabalho, por aleatoriedade, complementaridade ou
dependência, e o pedido se cumule com outro para o qual o tribunal
seja directamente competente;

25
g) As questões reconvencionais que, com a acção, tenham as relações de
conexão referidas na alínea anterior;

h) As transgressões ou contravenções às normas legais ou reguladoras,


em geral, das relações laborais;

i) As transgressões ou contravenções às normas legais ou


regulamentares sobre o horário, higiene, salubridade e segurança no
trabalho;

j) As transgressões ou contravenções às normas que instituem e regulam


o sistema de segurança social;

k) As demais questões que a lei determinar.

2. Compete ainda à jurisdição do trabalho executar as decisões transitadas


em julgado.

SECÇÃO III
PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS DA ACÇÃO EXECUTIVA

Artigo27.º
(Legitimidade)

1. Tem legitimidade activa para promover a acção executiva a pessoa que


consta no título como credor e tem legitimidade passiva a pessoa que
nele consta como devedor.

2. O Ministério Público, no interesse do exequente que não tenha


constituído mandatário, tem legitimidade para promover a execução
nos casos em que o título executivo seja uma sentença ou um acordo
homologado ou confirmado.

3. O Ministério Público tem ainda legitimidade para promover a execução


das multas aplicadas pela Inspecção Geral do Trabalho.

SUBSECÇÃO I
TÍTULOS EXECUTIVOS
Artigo 28.º
(Espécies)
São títulos executivos:
a) As sentenças condenatórias;

b) As decisões homologatórias de acordos;

26
c) Os autos de mediação e de conciliação de que constem acordos
confirmados;

d) Os acordos extrajudiciais;

e) As certidões de despachos de multas aplicadas pela Inspecção Geral


do Trabalho;

f) Outros documentos a que a lei atribua força executiva.

Artigo 29.º
(Remissão)

O que não estiver especialmente regulado no presente capítulo, aplica-se o


disposto no Código de Processo Civil.

CAPÍTULO IV
VALOR DA ACÇÃO

Artigo 30.º
(Atribuição de Valor à Acção)

1. À toda a acção é atribuída um valor certo, expresso em moeda com curso


legal, o qual representa a utilidade económica do pedido.

2. O valor da acção é atendido apenas para efeito de custas e demais


encargos legais.

Artigo 31.º
(Critérios de Fixação do Valor da Acção)

O valor da acção é fixado com base nos critérios estabelecidos no Código


de Processo Civil.

LIVRO II
PROCESSO

TÍTULO I
PROVIDÊNCIAS CAUTELARES

CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES GERAIS E PROCEDIMENTO

Artigo32.º
(Generalidades)

São disposições gerais do processo de trabalho:


27
a) Inadmissibilidade de repetição da providência cautelar na pendência
da mesma causa, quando tenha sido indeferida ou em caso de
caducidade;

b) Possibilidade de apresentação de três testemunhas por cada facto,


não devendo ultrapassar 10, no total.

Artigo 33.º
(Procedimento)

1. Às providências cautelares aplica-se o regime estabelecido no Código de


Processo Civil com as seguintes especificidades:

a) As providências cautelares não especificadas não dependem de


distribuição, devendo dar entrada directamente na secretaria
judicial;

b) O Juiz profere despacho liminar no mesmo dia, salvo


impossibilidade justificada;

c) O despacho liminar pode consistir na designação do dia para a


audiência final, devendo esta ter lugar nos 10 dias seguintes;

d) Sempre que seja admissível oposição do requerido, a citação é feita


juntamente com o despacho que designar a audiência final,
podendo a oposição ser deduzida até ao início da audiência;

e) Apresentada a oposição, o requerente é notificado da mesma na


audiência final e o Juiz efectua preliminarmente tentativa de
conciliação;

f) Quando houver oposição e, consequentemente, tentativa de


conciliação, as partes são advertidas para comparecerem na
audiência final pessoalmente ou representadas por advogado com
poderes para transigir, desistir ou confessar, sob pena de multa;

g) A falta de qualquer das partes ou dos seus mandatários na


audiência final, quando forem obrigadas a comparecer, não é causa
do seu adiamento;

h) Quando a falta do requerente for injustificada e não estiver


representado por advogado com os poderes especiais referidos na
alínea f), é indeferida;

28
i) Quando a falta injustificada for da requerida e a mesma não estiver
representada por advogado, decreta-se imediatamente a
providência;

j) A justificação da falta deve ser feita no próprio acto.

2. No que se refere à produção da prova, aplica-se o seguinte procedimento:

a) Quando forem requeridas diligências de prova que não possam ser


realizadas na audiência final, há lugar a tentativa de conciliação e
produção de prova;

b) Quanto às demais diligências de prova, são as mesmas realizadas no


prazo de cinco dias, findos os quais o Juiz decide.

3. Relativamente à decisão, são atendíveis as seguintes especificidades:

a) A decisão, proferida na audiência final, é sucintamente fundamentada e


ditada logo para a acta, sempre que possível;

b) Quando não seja possível decidir na própria audiência, atendendo à


complexidade do caso ou outro motivo ponderoso, a decisão é
proferida no prazo máximo de cinco dias.

CAPÍTULO II
PROVIDÊNCIAS CAUTELARES ESPECIFICADAS

SECÇÃO I
Suspensão de Despedimento Disciplinar

Artigo 34.º
(Pressupostos)

O trabalhador sancionado pode, no prazo de 10 dias, requerer a suspensão


do seu despedimento, quando o considere nulo ou improcedente.

Artigo 35.º
(Procedimento e Decisão)

1. O requerimento inicial é instruído com a convocatória para a entrevista e a


comunicação do despedimento.

4. No despacho de citação, ordena-se a junção do procedimento disciplinar.

29
5. Se, no prazo para contestar e sem qualquer justificação, a requerida não
juntar aos autos o procedimento disciplinar, pode dispensar-se a
realização da audiência e a providência é imediatamente decretada.

6. Quando houver justificação da falta de junção e esta for atendida, realiza-


se a audiência e a decisão é proferida com base na prova produzida.

7. O empregador tem a obrigação de juntar aos autos o comprovativo do


pagamento de todas as remunerações devidas, quando decretada a
providência.

8. Quando não proceder de acordo com o número anterior, o empregador


sujeita-se à uma sanção pecuniária compulsória nos termos do disposto no
art.º 89.º, sem prejuízo da execução a que houver lugar.

Artigo36.º
(Representantes Sindicais)

Quando o trabalhador for representante sindical ou membro do órgão de


representação dos trabalhadores, a providência é imediatamente decretada,
salvo se o Juiz constatar a existência de probabilidade séria de justa causa
disciplinar para o despedimento e aobservância do procedimento disciplinar.

SECÇÃO II
SUSPENSÃO DE DESPEDIMENTO POR CAUSAS OBJECTIVAS

Artigo 37.º
(Requisitos)

1. Se houver razões para impugnar o despedimento por causas objectivas,


pode o interessado, no prazo de 10 dias, a contar da recepção do aviso
prévio, requerer que o tribunal proíba a entidade empregadora de
consumar o despedimento.

2. Consumado o despedimento, caso o trabalhador entenda que o mesmo é


ilícito, pode, no prazo referido no número anterior, requerer a respectiva
suspensão.

Artigo 38.º
(Procedimento e Decisão)

O presente procedimento cautelar segue a tramitação da providência de


suspensão de despedimento disciplinar, previsto nos artigos 34º a 36º, com
as seguintes alterações:
30
a) O requerimento inicial é instruído com o aviso prévio, sempre que
possível;

b) No despacho de citação, ordena-se a junção de toda a documentação


que comprove as causas objectivas da comunicação enviada à
Inspecção Geral do Trabalho, bem como o quadro de pessoal do
centro de trabalho discriminado por sectores ou serviços;

c) No despacho referido na alínea anterior ordena-se ainda a junção da


resposta da Inspecção Geral do Trabalho, se tiver sido dada e de
qualquer outra documentação com interesse;

d) Quando, oferecida a oposição e sem qualquer justificação, a


requerida não juntar a documentação referida na alínea anterior,
dispensa-se a realização da audiência e decreta-se imediatamente a
providência.

SECÇÃO III
SUSPENSÃO DAS DELIBERAÇÕES DE ASSEMBLEIAS GERAIS DE
TRABALHADORES OU ÓRGÃOS EQUIVALENTES A SINDICATOS

Artigo39.º
(Pressupostos e Requerimento)

1. Qualquer empregador pode, no prazo de 48 horas, depois da decisão da


deliberação geral dos trabalhadores ou de órgão equivalente a sindicatos
requerer a suspensão da execução da deliberação em causa, desde que a
mesma seja decidida com violação à lei e o seu cumprimento possa
causar prejuízos consideráveis.

2. O requerimento é instruído com a cópia da acta da reunião, que é


fornecida ao empregador, tão logo a solicite.

Artigo40.º
(Oposição e Decisão)

1. Quando a cópia não é entregue ao empregador nos termos do artigo


anterior, a providência é imediatamente decretada.

2. Quando, da análise da documentação junta com o requerimento inicial,


resultar, de forma clara, que há violação da lei e os prejuízos decorrentes
da execução da deliberação são evidentes, também é decretada a
providência, sem qualquer oposição.

31
SECÇÃO IV
PROTECÇÃO DA SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO

Artigo41.º
(Pressupostos)

Qualquer trabalhador, individualmente, em conjunto ou por intermédio dos


seus representantes sindicais, pode requerer ao tribunal todas as
providências necessárias para prevenir ou eliminar o perigo, quando a
instalação, locais ou processos de trabalho coloquem em perigo, de forma
iminente, a vida, a saúde e a integridade física dos trabalhadores, bem como
a segurança, higiene e saúde no trabalho.

Artigo42.º
(Exame)

1. Recebido o requerimento inicial, o Juiz determina que a Inspecção Geral


do Trabalho efectue exame sumário às instalações, para se comprovar
as alegações dos trabalhadores.

2. O relatório do exame é apresentado ao Juiz no prazo não superior a 10


dias.

3. Quando o Juiz o considere conveniente, pode realizar inspecção judicial,


no prazo referido no número anterior.

Artigo43.º
(Decisão)
1. Realizadas as diligências de prova necessárias, o Juiz decreta ou indefere
a providência.

3. Conforme as circunstâncias do caso concreto e o seu prudente arbítrio,


dentre outras medidas, o Juiz pode decretar:

a) A suspensão da actividade;

b) O encerramento total das instalações.

Artigo 44.º
(Caducidade)

A providência não caduca enquanto permanecerem as razões do seu


decretamento.

32
Artigo45.º
(Levantamento da Providência)

A requerida pode requerer novo exame e o levantamento da medida


decretada, quando entender estarem ultrapassadas as causas que levaram
ao decretamento da providência.

Artigo 46.º
(Remissão)

O que não estiver especialmente regulado no presente capítulo, aplica-se o


disposto no Código de Processo Civil.

TÍTULO II
PROCESSO DO TRABALHO

CAPÍTULO I
PRAZOS DE CADUCIDADE DO DIREITO DE ACÇÃO

Artigo 47.º
(Caducidade do Direito de Acção em Caso de Despedimento)

1. O direito de impugnar judicialmente o despedimento individual ou


colectivo caduca no prazo de 180 dias, contados do dia seguinte àquele em
que o facto se verificou;

2. O prazo fixado no número anterior é aplicável às demais formas de


extinção do contrato de trabalho.

Artigo48.º
(Caducidade do Direito de Acção de Medidas Disciplinares Diversas do
Despedimento)

O recurso contra medidas disciplinares que não seja o despedimento caduca


no prazo de 45 dias a contar da notificação da respectiva medida.

Artigo 49.º
(Caducidade do Direito de Acção no Caso de Direitos Pecuniários)

A acção judicial destinada a exigir os créditos salariais, outras prestações,


complementos salariais ou indemnizações vencidas no decurso da
execução do contrato, caduca no prazo de dois anos, contados da data em
que o respectivo direito se tornou exigível, mas nunca depois de decorrido
um ano contado do dia seguinte ao da cessação do contrato.
33
Artigo50.º
(Caducidade do Direito de Acção no Caso de Direitos não Pecuniário)

O direito de exigir o cumprimento de obrigações não pecuniárias ou de


prestações de facto que não possam ser satisfeitas após a cessação do
contrato caduca no prazo de um ano, contado do momento em que se
tornam exigíveis.

Artigo51.º
(Remissão)

O que não estiver especialmente regulado no presente capítulo, aplica-se o


disposto no Código de Processo Civil.

CAPÍTULO II
GARANTIAS DOS DIREITOS EMERGENTES DA RELAÇÃO JURÍDICO-
LABORAL

SECÇÃO I
FASE DE CONCILIAÇÃO

Artigo 52.º
(Conciliação)
Antes da propositura da acção, o interessado, pode requerer a conciliação ao
Ministério Público.

Artigo 53.º
(Competência)

Compete ao Magistrado do Ministério Público junto da Jurisdição do


Trabalho presidir a reunião de conciliação.

Artigo54.º
(Pedido de Conciliação)

1. O pedido de conciliação é apresentado em triplicado pelo interessado, seja


este o trabalhador ou o empregador, contendo:

a) A identificação das partes e indicação completa dos respectivos


endereços;

b) As reclamações apresentadas e os respectivos fundamentos descritos


de forma sumária mas suficiente;

34
c) A indicação dos montantes reclamados quando os pedidos forem de
natureza pecuniária, sempre que possível.

2. O pedido de conciliação pode ser apresentado oralmente, sendo reduzido a


escrito, em triplicado, pela secretaria do Ministério Público.

3. No pedido de conciliação deve o requerente incluir todas as reclamações


que tenha contra a requerida até a data da sua apresentação.

Artigo55.º
(Rejeição do Pedido de Conciliação)

O Magistrado do Ministério Público, no prazo de cinco dias e mediante


despacho fundamentado, rejeita o pedido de conciliação quando:

a) For territorialmente incompetente;


b) For evidente que é inviável;
c) For desprovido de fundamento legal.

Artigo56.º
(Convocatória)

1. Quando não houver despacho de rejeição dentro do prazo estabelecido


no artigo 55.º, o Magistrado do Ministério Público competente marca a
data e a hora para a reunião de conciliação, a realizar-se entre o 10.º e o
15.º dia posteriores.

2. A secretaria do Ministério Público notifica as partes, no prazo de 48


horas, seguindo, para o efeito, o regime previsto no Código de Processo
Civil sobre as citações e notificações.

3. O aviso de notificação indica o dia, a hora, o local e o objecto da reunião e


é entregue à requerida com o duplicado do requerimento de conciliação.

Artigo57.º
(Local da Reunião)

A reunião realiza-se no local onde funciona o Magistrado do Ministério


Público competente, podendo ser realizada, excepcionalmente, fora
daquele, tendo em atenção os interesses das partes ou qualquer outro
interesse especialmente atendível.

35
Artigo 58.º
(Comparência)

1. À conciliação comparecem pessoalmente as partes, salvo justo impedimento,


caso em que o trabalhador pode fazer-se representar por advogado munido
de procuração com poderes especiais ou por membro do Sindicato a que
pertença devidamente credenciado pela respectivadirecção.

2. O trabalhador menor pode fazer-se acompanhar pelo seu representante


legal, em conformidade com o disposto no artigo 12.º.

3. O trabalhador pode ainda fazer-se acompanhar de um representante do


sindicato ou de qualquer pessoa de sua confiança.

4. O empregador pode fazer-se representar por um director ou trabalhador


hierarquicamente superior ao requerente, munido de declaração escrita, que
contenha poderes expressos de representação e o compromisso de que fica
vinculado pelo que o representante confessar ou aceitar.

5. As partes podem ainda fazer-se acompanhar por advogado com procuração


nos autos, que é eficaz para a fase judicial, no caso de não haver acordo ou
este for parcial.

6. Havendo condições, a reunião pode ser realizada com recurso às tecnologias


de informação e telemáticas disponíveis.

Artigo59.º
(Composição)

Para além do Magistrado do Ministério Público competente só podem estar


presentes na reunião de conciliação as partes, seus representantes ou
acompanhantes e um funcionário.

Artigo60.º
(Falta de Comparência)

1. Quando falte alguma das partes, no dia e hora designado para a reunião de
conciliação, observa-se o seguinte procedimento:

a) Designa-se nova data nos 10 dias seguintes, no caso de a falta ser


justificada no prazo de cinco dias;

b) O pedido é imediatamente arquivado, quando a falta não for


justificada e o faltoso for o requerente da conciliação;
36
c) Entrega-se ao requerente declaração de impossibilidade de
realização da conciliação, quando a falta não for justificada e o
faltoso for a requerida,

2. Quando a falta é cometida na segunda reunião, observa-se o seguinte


procedimento:

a) Se for cometida por qualquer das partes e não for justificada, é a


faltosa condenada em multa e o pedido é arquivado;

b) Se for justificada e cometida pelo requerente, o processo é arquivado,


entregando-se-lhe declaração de impossibilidade;

c) Quando a falta for cometida pela requerida e for justificada, arquiva-


se o processo, entregando-se ao requerente declaração de
impossibilidade.

Artigo61.º
(Declaração de Impossibilidade)

A declaração de impossibilidade referida na alínea c) do n.º 2 do artigo 60.º


é entregue ao requerente no dia designado para a reunião de conciliação
contendo:

a) A identificação completa das partes;

b) A declaração de que não foi possível realizar-se a reunião de


conciliação;

c) A declaração expressa de que o requerente pode propor a acção


judicial, no prazo de 30 dias a contar da data da sua recepção;

d) A data em que a mesma lhe foi efectivamente entregue;

e) A assinatura do Magistrado do Ministério Público.

Artigo 62.º
(Suspensão da Reunião)

1. Iniciada a reunião de conciliação, pode o Magistrado do Ministério


Público suspendê-la, se qualquer das partes o solicitar ou se o
Magistrado competente assim o entender, retomando-a no prazo
máximo de 15 dias.

37
2. No caso de o pedido de suspensão da reunião ter sido feito pelas partes e,
decorrido o prazo fixado no número anterior, não tiverem chegado a
acordo, emite-se a favor do requerente, no primeiro dia útil seguinte, a
declaração de impossibilidade referida no artigo 61.º, arquivando-se o
processo.

Artigo 63.º
(Acto Conciliatório)

1. Na reunião de conciliação, estando presentes as partes, se existirem, o


Magistrado do Ministério Público ouve-as, fazendo de seguida, resumo
dos fundamentos do pedido e da defesa, após o que verifica se estão
dispostas a conciliar.

2. Quando não haja conciliação, o Magistrado do Ministério Público, tendo


em conta os elementos existentes nos autos e a lei aplicável aos
respectivos factos, dá a conhecer os termos de um acordo baseado na
equidade, oportunidade, necessidade ou conveniência, bem como as
vantagens e desvantagens do prosseguimento dos autos e, de seguida,
verifica novamente se as partes estão dispostas a conciliar.

3. Obtido o acordo, o Magistrado do Ministério Público, faz constar da acta


o seguinte:

a) Identificação dos presentes e suas qualidades;

b) O enunciado dos diferentes pedidos com a indicação do valor de cada;

c) O prazo para o cumprimento voluntário do acordo;

d) Os pedidos de que houve desistência.

4. Em caso de conciliação parcial, deve constar da acta os pedidos sobre os


quais não houve acordo e a declaração expressa do requerente de que
deles não desiste, bem como os respectivos motivos.

5. Se não houver acordo, para além da indicação dos presentes e suas


qualidades e do enunciado dos diferentes pedidos e a indicação do valor
de cada, deve constar da acta os motivos da falta de acordo e a
declaração do requerente de que deles não prescinde.

38
6. Lavrada e assinada a acta por todos os presentes, é entregue o duplicado
à parte que o requerer.

Artigo64.º
(Confirmação e Homologação do Acordo)

1. Caso haja acordo, total ou parcial, o Magistrado Ministério do Público


profere despacho de confirmação, conferindo-lhe natureza de título
executivo.

2. Se o Magistrado competente considerar que o acordo lesa os princípios


da boa-fé e da equidade, nomeadamente por afectar, de forma grave,
direitos do trabalhador, em situação que estes podem ser satisfeitos,
declara-o na acta de forma fundamentada e rejeita a sua confirmação.

3. Verificando-se a falta de despacho de confirmação pelas razões referidas


no número anterior, qualquer das partes pode requerer, em termo que
lhe é tomado de imediato, a remessa do processo ao tribunal para a
homologação do acordo pelo Juiz.

4. A secretaria do Ministério Público remete o processo à secretaria


judicial, no prazo de cinco dias.

5. A secretaria judicial faz os autos conclusos no prazo de 48 horas para ser


proferida decisão pelo Juiz.

6. O acordo homologado pelo Juiz constitui título executivo.

Artigo 65.º
(Propositura da Acção)

Com a declaração de impossibilidade ou com o duplicado da acta da


reunião de conciliação em que não houve acordo ou houve acordo parcial
pode o requerente, no prazo de 30 dias, intentar a respectivaacção judicial.

SECÇÃO II
FASE CONTENCIOSA

SUBSECÇÃO I
ARTICULADOS

Artigo66.º
(Requisitos do Requerimento Inicial)

1. No requerimento com que se propõe a acção, deve o requerente:


39
a) Designar o tribunal em que a acção é proposta;
b).Identificar as partes, indicando os seus nomes ou denominações,
estado civil, domicílio ou sede e, sempre que possível, o número do
bilhete de identidade, o número de identificação fiscal, profissão e
local de trabalho, bem como quaisquer outras referências que possam
ajudar na localização das partes;

c) Indicar o domicílio profissional do seu mandatário, o número de


telefone, correio electrónico, caso o tenha constituído;

d) Indicar a forma do processo;

e) Expor os factos e as razões de direito que servem de fundamento à


acção;

f) Formular o pedido;

g) Declarar o valor da causa;

h).Assinar.

2.Com o requerimento, deve ainda o requerente:

a).Apresentar o rol de testemunhas;

b).Juntar os documentos de que disponha;

c).Requerer outros meios de prova;

d).Juntar os recibos dos salários auferidos, se os tiver.

Artigo 67.º
(Despacho Liminar)

1. Quando não ocorra nenhum motivo para a sua recusa pela secretaria,
recebido o requerimento inicial o Juiz profere despacho liminar.

2. A secretaria recusa o recebimento do requerimento inicial quando este


não contenha os elementos essenciais exigidos no n.º 1 do artigo 66.º.

3. Do acto de recusa de recebimento pela secretaria cabe reclamação para o


Juiz, e do despacho de confirmação do não recebimento cabe sempre
recurso até à Relação.

40
Artigo 68.º
(Contestação)

1. O Juiz profere despacho a ordenar a citação da requerida, para contestar,


no prazo de oito dias, quando a acção esteja em condições de prosseguir.

2. Ao Ministério Público é concedida prorrogação do prazo quando careça de


informações que não possa obter dentro dele ou quando tenha de
aguardar resposta a consulta feita a instância superior. O pedido é
fundamentado e a prorrogação não pode, em caso algum, ultrapassar o
limite de 20 dias.

3. Quando o Ministério Público não apresente contestação nos prazos


estabelecidos nos termos dos números 1 e 2, por causa exclusivamente
imputável ao titular do órgão da Administração pública ou de outra pessoa
colectiva pública regularmente citada, é este responsabilizado nos termos
da Constituição e da Lei.

4. No que respeita aos requisitos da contestação observa-se, com as devidas


adaptações, o previsto no artigo 66.º.

Artigo 69.º
(Falta de Contestação)

Quando a requerida não conteste, tendo sido ou devendo considerar-se


regularmente citada na sua própria pessoa ou tendo juntado procuração no
prazo da contestação, consideram-se confessados os factos articulados pelo
requerente, julgando-se a causa conforme for de direito.

Artigo 70.º
(Notificação da Contestação)

Apresentada a contestação, é notificada à parte contrária.

Artigo71.º
(Resposta à Contestação)

O requerente pode responder à contestação quando for suscitada alguma


excepção ou deduzido pedido reconvencional, assistindo-lhe, para o efeito,
o prazo de oito dias.

41
Artigo 72.º
(Articulados Supervenientes)

1. As partes podem apresentar articulado superveniente, nos termos


regulados no Código de Processo Civil.

2. O articulado superveniente deve ser oferecido no prazo de cinco dias, a


contar da data em que os factos ocorreram ou em que a parte teve
conhecimento.

SUBSECÇÃO II
AUDIÊNCIA PREPARATÓRIA E DESPACHO SANEADOR

Artigo 73.º
(Audiência Preparatória)

1. O Juiz pode designar data para audiência preparatória com vista a


conciliação das partes e, caso seja obtido acordo, homologa-o, por
despacho, que passa a ter força de sentença.

2. Quando se pretenda a discussão das excepções que tenham sido


levantadas ou dos pedidos formulados, a audiência é obrigatória e é
realizada no prazo de 10 dias.

3. Aberta a audiência, o Juiz concede a palavra às partes pela ordem em que


as excepções foram suscitadas e os pedidos formulados.

Artigo 74.º
(Despacho Saneador)

1. Realizada a audiência preparatória, não havendo acordo, o Juiz profere


despacho saneador no prazo de 10 dias.

2. O Juiz pode julgar logo as excepções que tenham sido levantadas ou


decidir do mérito da causa, se o processo já contiver os elementos
necessários.

3. Se o processo tiver que prosseguir, por não haver elementos necessários


para decidir, no despacho referido no n.º 1, o Juiz elabora a especificação e
o questionário, observando-se, o disposto no Código de Processo Civil.

42
4. Do despacho saneador com especificação e questionário, cabe agravo com
subida diferida.

SECÇÃO III
INSTRUÇÃO

Artigo75.º
(Indicação das Provas)

Proferido despacho saneador com especificação e questionário, a secretaria


judicial notifica as partes para, no prazo de 10 dias, requererem outras
diligências de prova.

Artigo 76.º
(Alteração do Rol de Testemunhas)

1. O rol de testemunhas só pode ser alterado ou aditado até cinco dias antes
da data da realização da audiência de discussão e julgamento.

2. O Tribunal notifica a parte contrária da alteração ou aditamento do rol de


testemunhas para se pronunciar no prazo de três dias.

Artigo 77.º
(Limite do Número de Testemunhas)

1. As partes só podem apresentar até cinco testemunhas por cada facto, não
excedendo 15 total.

2. Havendo pedido reconvencional, as partes podem oferecer mais cinco


testemunhas.

Artigo 78.º
(Notificação das Testemunhas)

As testemunhas são notificadas pessoalmente ou por intermédio da parte


que as arrolou para comparecerem na audiência de discussão e julgamento.

Artigo 79.º
(Inquirição das Testemunhas)

As testemunhas são inquiridas nos termos do Código de Processo


Civil.
43
SECÇÃO IV
DISCUSSÃO E JULGAMENTO DA CAUSA

Artigo 80.º
(Designação da Audiência)

1. Realizadas as diligências prévias de prova ou não tendo havido lugar a


elas, e decorrido o prazo referido no artigo 75.º, o Juiz designa dia para a
audiência de discussão e julgamento, que tem lugar nos 10 dias
seguintes.

2. O despacho que designa data para audiência de julgamento é notificado


às partes.

Artigo 81.º
(Intervenção e Competência do Tribunal)

A discussão e julgamento da causa são feitos com intervenção de Juiz


singular, salvo nas causas cujo valor seja superior ao dobro da alçada do
Tribunal da Relação em que intervém o tribunal colectivo.

Artigo82.º
(Causas de Adiamento da Audiência)

1. Feita a chamada das pessoas que tenham sido notificadas, a audiência é


aberta e só pode ser adiada nas seguintes situações:

a) Se houver acordo das partes;

b) Se faltar alguma pessoa notificada cuja presença se mostre


indispensável ao prosseguimento da audiência;

c) Se tiver sido oferecido documento que a parte contrária não possa


examinar no próprio acto, mesmo com a suspensão temporária
dos trabalhos e o Tribunal entenda haver grave inconveniente ao
prosseguimento da audiência sem resposta sobre o documento
oferecido;

44
d) Se, por motivo ponderoso e inesperado, faltar algum dos
advogados, quando as partes se tenham feito representar por este.

2. A audiência não pode ser adiada por mais de uma vez.

Artigo 83.º
(Consequências da não Comparência)

1. Quando alguma das partes não compareça na audiência de discussão e


julgamento, por si ou por intermédio de advogado e não justifique a
falta, no prazo de cinco dias, é condenada em multa.

2. O Juiz ordena a produção das provas que tenham sido requeridas e que
se mostrem possíveis, bem como as que considere indispensáveis,
decidindo a causa conforme for de direito.

Artigo 84.º
(Audiência de Discussão e Julgamento)

1. A audiência segue o regime previsto no Código de Processo Civil, com as


seguintes alterações:

a) Em regra, a decisão da matéria de facto é feita por despacho;

b) Impossibilidade de reclamação contra a deficiência, obscuridade ou


contradição das respostas aos quesitos ou contra a falta de
fundamentação;

2. Quando surjam factos novos e determinantes para a boa e justa decisão da


causa, mesmo não alegados, o Juiz amplia a base instrutória.

3. Ampliada a base instrutória, o Juiz concede prazo de cinco dias para as


partes requererem provas.

4. Terminada a produção da prova no dia designado ou nos cinco dias


seguintes, no caso de ampliação da base instrutória, concede-se a palavra
a cada uma das partes para apresentarem as suas alegações sobre a
matéria de facto e de direito de uma só vez e por um período não
superior a 30 minutos.

5. O Juiz decide a matéria de facto, após as alegações.

45
Artigo 85.º
(Fiscalização Exercida pelo Ministério Público)

1. Quando não seja parte, finda a discussão da matéria de facto e de direito,


vai o processo com vista Ministério Público, para, no prazo de 10 dias se
pronunciar sobre:

a) As diligências instrutórias;

b) A conduta das partes, incluindo a litigância de má-fé;

c) O comportamento dos funcionários;

d) O mérito da causa, em defesa de direitos fundamentais dos


cidadãos, do interesse público ou de interesses colectivos e difusos;

e) Quaisquer causas de invalidade jurídica de actos processuais;

f) A existência de qualquer infracção à lei.

2. Caso o Ministério Público pratique qualquer acto em representação de


uma das partes, a fiscalização tem apenas por objecto os actos descritos
nas alíneas c), d), e f) edo número 1.

SUBSECÇÃO I
SENTENÇA

Artigo 86.º
(Decisão)

1. Exercida a fiscalização pelo Ministério Público nos termos do artigo 85.º,


é proferida sentença, no prazo de 10 dias.

2. Decidida a matéria de facto, se o Ministério Público se pronunciar


imediatamente e a simplicidade da causa o permitir, o Juiz profere
sentença, ditando-a para a acta.

Artigo 87.º
(Condenação Extra Vel Ultra Petita)

Quando resulte claramente da aplicação da lei aos factos provados, o Juiz


condena em quantidade superior ao pedido formulado ou em objecto
diverso, desde que estejam em causa:

46
a) Direitos indisponíveis;

b) Normas legais imperativas;

c) Instrumentos de regulamentação colectiva de trabalho.

Artigo 88.º
(Prazo para o Cumprimento da Sentença)

A sentença é cumprida no prazo de 30 dias, sob pena de execução e de


aplicação de sanção pecuniária compulsória.

SUBSECÇÃO II
RECURSOS

Artigo 89.º
(Sanção Pecuniária compulsória)

1. A imposição de sanção pecuniária compulsória consiste na condenação


da parte faltosa no pagamento de uma quantia em dinheiro por cada dia
de atraso em que incorra para além do prazo limite estabelecido para o
efeito.

2. A decisão de imposição de sanção pecuniária compulsória fixa o


respectivo montante diário em 50 UCF e indica a data a partir da qual
produz efeitos.

3. A sanção pecuniária compulsória cessa quando se mostre ter sido


integralmente cumprida a decisão, quando o interessado desista do
pedido ou quando o cumprimento já não possa ser realizado.

4. A liquidação global das importâncias devidas em consequência da


imposição de sanções pecuniárias compulsórias é efectuada pelo
tribunal.

5. As importâncias obtidas em resultado da aplicação de sanção pecuniária


compulsória constituem receita do Cofre Geral de Justiça.

Aartigo 90.º
(Decisões que Admitem Recurso)

47
Sem prejuízo do disposto no Código de Processo Civil, independentemente
do valor da acção, é sempre admissível recurso nas seguintes situações:

a) Nos processos emergentes de acidentes de trabalho e doenças


profissionais, salvaguardando-se o disposto no artigo 129.º;

b) Nos processos de declaração de ilicitude de greve;

c) Nos processos de protecção da segurança, higiene e saúde no trabalho.

Artigo 91.º
(Prazo de Interposição, Modo de Subida, Efeitos, Fiscalização pelo
Ministério Público e Julgamento do Recurso)

O Prazo de interposição, modo de subida, efeitos, fiscalização pelo


Ministério Público e julgamento do recurso, seguem o regime estabelecido
no Código de Processo Civil.

CAPÍTULO III
PROCESSO EXECUTIVO

SECÇÃO I
EXECUÇÃO PARA PAGAMENTO DE QUANTIA CERTA

Artigo 92.º
(Execução Baseada em Sentença ou Acordo)

1. Quando a execução tenha por base sentença de condenação em quantia


certa ou acordo, decorrido o prazo legal ou convencional para o seu
cumprimento, o exequente é notificado para, no prazo de oito dias,
nomear bens do executado à penhora necessários para o pagamento da
dívida exequenda e das custas judiciais.

2. No caso de o exequente não constituir advogado, a secretaria do Tribunal


remete a certidão da decisão ou do acordo ao Magistrado do Ministério
Público junto do Tribunal competente, que promove, oficiosamente, a
execução com prioridade sobre qualquer outro serviço.

Artigo 93.º
(Nomeação de Bens à Penhora)

O exequente tem a faculdade de indicar os bens sobre os quais a penhora há-


de recair, fornecendo, se possível, todos os elementos que definam a situação
jurídica dos bens, identificando, designadamente, os ónus e encargos que
48
sobre eles incidam e serem penhoráveis e suficientes para o pagamento do
crédito e das custas.

Artigo 94.º
(Impossibilidade de Nomeação dos Bens à Penhora)

1. O exequente, quando não consiga identificar os bens do executado que


sejam suficientes para o pagamento da dívida exequenda e das custas
judiciais, pode requerer que o Tribunal proceda às averiguações que se
mostrem necessárias.

2. O Tribunal procede, oficiosamente, às averiguações a que se refere o


número anterior, ordenando-se o arquivamento dos autos, se nenhum
bem for encontrado.

3. Os autos seguem os seus termos normais, tão logo sejam localizados


bens.

Artigo 95.º
(Oposição à Execução)

1. Ordenada a penhora, é o executado notificado, simultaneamente, do


requerimento de nomeação dos bens e do despacho que a ordena, para,
no prazo de cinco dias, se opor à execução.

2. O executado pode alegar quaisquer circunstâncias que impeçam a


realização da penhora ou qualquer um dos fundamentos da oposição à
execução baseada em sentença previstos no Código de Processo Civil,
que se harmonize com a natureza e a forma do Processo de Trabalho.

3. A oposição não suspende a execução, salvo se for prestada caução no


valor igual à dívida exequenda e às custas prováveis.

Artigo 96.º
(Tramitação dos Embargos)

1. Quando o executado se oponha por meio de embargos, é a oposição


autuada por apenso e o exequente notificado para, no prazo de cinco
dias, responder.

2. Com a oposição e a resposta, são oferecidos os meios de prova e o


Tribunal pode proceder oficiosamente às diligências necessárias,
seguindo-se os demais termos dos embargos previstos no Código de
Processo Civil.

49
Artigo 97.º
(Reclamação de Créditos)

A reclamação de créditos só é admitida quando:

a) Ao credor assista o direito de retenção sobre os bens penhorados,


desde que o titular o invoque no acto da penhora ou nos cinco dias
subsequentes;

b) Se trate de créditos que sobre os bens penhorados gozem de garantia


real registada.

Artigo 98.º
(Diversas Penhoras Sobre os Mesmos Bens)

1. Os bens penhorados numa execução podem ser objecto de penhora


noutra, quando o exequente não conheça outros bens de valor
suficiente para o pagamento da dívida exequenda e das custas judiciais.

2. Quando as penhoras concorrentes forem ordenadas em processos


distintos, o Juiz que ordenar a última comunica o facto ao outro e
suspende a execução em relação aos bens penhorados.

3. O Juiz que receber a comunicação, após proceder à venda dos bens


penhorados e, uma vez paga a dívida exequenda, comunica ao Juiz do
processo cuja execução está suspensa, dando a conhecer a extinção da
execução e a existência de valor remanescente.

4. O valor remanescente é colocado à ordem do Juiz da execução suspensa.

5. Quando as penhoras concorrentes forem ordenadas em processos de


natureza diversa, o credor da última reclama os seus créditos no
processo da mais antiga, nos termos do Código de Processo Civil.

Artigo 99.º
(Penhora de Depósitos Bancários)

1. Quando são indicados à penhora valores depositados numa conta


bancária, o Tribunal ordena o respectivo banco a fornecer o saldo e
cativar o valor suficiente para o pagamento da dívida exequenda e as
custas judiciais prováveis, sob pena de multa, nos termos do Código de
Processo Civil e da Lei das Instituições Financeiras, sem prejuízo da
responsabilidade criminal.

50
2. Após o cumprimento da ordem do Tribunal, o banco comunica o facto no
prazo fixado.

Artigo 100.º
(Fiel Depositário)

1. Quando o banco confirmar a existência de saldo suficiente para o


pagamento da dívida exequenda, das custas judiciais prováveis e uma
vez cativado o respectivo valor, é o mesmo constituído fiel depositário
com todos os direitos e deveres inerentes.

2. Porém, se o banco permitir a movimentação do saldo penhorado, são-lhe


imediatamente penhorados bens próprios para garantir o pagamento da
dívida exequenda.

3. Sem prejuízo do disposto no número anterior, é dada vista ao Ministério


Público para requerer certidão das peças processuais que entenda
necessárias para a instauração de procedimento criminal contra o
responsável pela violação da penhora, por crime de desobediência ou de
abuso de confiança, nos termos da legislação penal.

Artigo 101.º
(Pagamento)

1. Se não houver oposição, é o banco ordenado a efectuar o pagamento pelo


meio que se mostre mais ajustado à situação, deduzindo-se os possíveis
encargos da conta penhorada.

2. Quando houver oposição, o Tribunal decide pelos meios mais céleres


possíveis.

3. Decididas as reclamações, cumpre-se com o disposto no número 1.

Artigo 102.º
(Remissão)

O que não estiver especialmente regulado no presente capítulo, aplica-se o


disposto no Código de Processo Civil.

TÍTULO III
PROCESSOS ESPECIAIS

CAPÍTULO I
PROCESSOS EMERGENTES DE ACIDENTES DE TRABALHO E DE DOENÇAS
PROFISSIONAIS
51
SECÇÃO I
FASECONCILIATÓRIA

Artigo 103.º
(Início do Processo)

1. O processo inicia-se por uma fase conciliatória dirigida pelo Ministério


Público e tem por base a participação do acidente ou da doença, que dá
entrada na secretaria judicial.

2. Da participação devem constar os seguintes elementos:

a) Identificação do sinistrado ou doente e das entidades responsáveis


pela reparação;

b) A naturezado acidente ou da doença e do agente causador, as lesões, o


local, o dia e a hora em que ocorreu o acidente ou o local de trabalho
onde presumivelmente se tenha originado ou agravado a doença.

3. Quando a participação seja feita por uma entidade seguradora, é


acompanhada de toda a documentação clínica e nosológica disponível,
designadamente:

a) Cópia da apólice e seus adicionais em vigor;

b) Folha de salários dos 12 meses anteriores ao do acidente ou ao do


diagnóstico presuntivo ou inequívoco da doença;

c) Nota discriminativa das incapacidades e internamentos;

d) Cópia dos documentos comprovativos das indemnizações ou pensões


pagas ao sinistrado ou doente.

Artigo 104.º
(Processamento no Caso de Morte)

1. No caso de morte, o Ministério Público, depois de receber a participação,


ordena, conforme as circunstâncias:

a) A realização da autópsia ou a junção aos autos do respectivo


relatório, salvo se for desnecessária;

b) As diligências indispensáveis ao conhecimento dos beneficiários


legais da vítima ou doente e à obtenção das provas de parentesco.
52
2. Instruído o processo com a certidão de óbito, o relatório da autópsia, se
esta tiver sido realizada, e certidões comprovativas do parentesco dos
beneficiários, o Ministério Público designa data para conciliação, se não
tiver sidojunto o acordo extrajudicial em relação às prestações legais.

3. O Ministério Público, quando os interessados tenham junto o acordo


extrajudicial, designa data para declarações dos beneficiários e, se estes
confirmarem as bases do acordo, submete-o à homologação do Juiz, sem
prejuízo do disposto no artigo 118.º.

4. Caso não se determine quaisquer titulares de direitos, procede-se à citação


edital e, se nenhum comparecer, o processo é arquivado.

5 O arquivamento é provisório pelo período de um ano, sendo o processo


reaberto, se comparecer algum titular.

6. Findo o prazo estabelecido no número anterior e não tendo comparecido


qualquer titular, realizam-se as diligências necessárias ao apuramento das
prestações, que revertem a favor do Fundo de Actualização de Pensões de
Acidentes de Trabalho e de Doenças Profissionais, nos termos da lei.

Artigo 105.º
(Processamento no Caso de Incapacidade Permanente)

1. O Ministério Público designa data para exame médico, seguido de


conciliação, quando do acidente ou da doença resulte incapacidade
permanente.

2. Se a participação for acompanhada de acordo extrajudicial ou sendo este


apresentado até à data designada para a conciliação, o Ministério Público
dispensa-a, salvo se o exame, as declarações do sinistrado, que nesta
ocasião deve tomar, bem como as diligências a que proceder não
confirmarem as bases do acordo.

Artigo 106.º
(Processamento Noutros Casos)

1. Se, à data do recebimento da participação, o sinistrado ou doente ainda


não estiver curado e carecer de tratamento adequado ou não estiver a
receber a indemnização devida por incapacidade temporária, o
Ministério Público ordena imediatamente o exame médico, seguido de
conciliação, tendo em vista o acordo, ainda que provisório, nos termos do
artigo 114.º.

53
2. O disposto no número anterior é aplicável se o sinistrado ou doente não se
conforme com a alta, a natureza da incapacidade ou o grau de
desvalorização por incapacidade temporária que lhe tenha sido atribuído,
ou ainda se esta se prolongar por mais de 12 meses.

3. Quando o sinistrado ou doente vier a juízo, se declarar curado sem


desvalorização e apenas reclamar as prestações indemnizatórias
devidas por incapacidade temporária ou qualquer outra quantia a que
acessoriamente tiver direito, é dispensado o exame médico,
designando-se logo data para a conciliação.

Artigo 107.º
(Entrega de Cópia da Participação aos Não Participantes)

Com a notificação para a conciliação, é entregue cópia da participação às


entidades convocadas que não sejam participantes.

ARTIGO 108.º
(Instrução do Processo)

1. O Ministério Público certifica-se da veracidade dos elementos constantes


do processo e das declarações das partes, com vista à efectivação do
disposto nos artigos 113.º e 114.º.

2. O Ministério Público pode requisitar aos serviços da Inspecção Geral do


Trabalho, sem prejuízo da competência legalmente atribuída a outras
entidades, a realização de inquérito urgente e sumário sobre as
circunstâncias em que ocorreu o acidente ou foi contraída a doença,
quando:

a) Do acidente ou doença tenha resultado morte ou incapacidade


grave;

b) O sinistrado ou doente não esteja a ser tratado;

c) Presumir que o acidente, a doença ou suas consequências


resultaram da falta de observância das condições de segurança,
higiene e saúde no trabalho;

d) Presumir que o acidente foi dolosamente ocasionado.

SUBSECÇÃO I
EXAME MÉDICO

54
Artigo 109.º
(Exame Médico)

1. O exame médico, quando efectuado no Tribunal, é presidido pelo


Magistrado do Ministério Público e realizado pela Comissão Nacional de
Avaliação das Incapacidades Laborais, nos termos definidos em
legislação própria.

2. O exame que, por razões técnicas, tenha de ser realizado em instalações


apropriadas, é requisitado directamente à entidade referida no número
anterior, dispensando-se a presença do Magistrado do Ministério
Público.

3. Quando o exame exigir elementos auxiliares de diagnóstico ou


conhecimento de alguma especialidade clínica não acessível a quem
deva realizá-lo, são os mesmos requisitados a estabelecimentos ou
serviços adequados ou a médicos especialistas.

4. O Magistrado Ministério Público pode solicitar a outro Tribunal a


obtenção dos elementos referidos no número anterior, quando na área
do Tribunal da causa não houver condições para o efeito.

5. O exame é secreto, podendo o Magistrado Ministério Público, em


qualquer caso, formular quesitos sempre que o seu resultado lhe ofereça
dúvidas.

6. O resultado do exame é imediatamente notificado ao sinistrado ou


doente e às pessoas convocadas para a tentativa de conciliação.

Artigo 110.º
(Formalismo do Exame Médico)

1. No auto de exame médico, o perito indica o resultado da sua observação


e do interrogatório do sinistrado ou doente e, em face destes elementos e
dos constantes do processo, descreve a lesão ou doença, a natureza da
incapacidade e o grau de desvalorização correspondente, ainda que sob
reserva de confirmação ou alteração do seu parecer e diagnóstico após
obtenção de outros elementos clínicos, laboratoriais ou radiológicos.

2. Quando o perito não se considere habilitado a completar o exame com


laudo concludente, fixa provisoriamente o grau de incapacidade do
sinistrado ou doente.

55
3. O Magistrado do Ministério Público tenta, com base no laudo referido no
número anterior, a conciliação para efeitos de homologação do acordo,
quando o exame não se efectue dentro de 30 dias.

4. O Magistrado do Ministério Público ouve em declarações o sinistrado ou


doente sobre as circunstâncias em que ocorreu o acidente ou foi
contraída a doença e mais elementos necessários à realização daquela
tentativa ou à confirmação do acordo extrajudicial que tiver sido
apresentado, quando o exame não for imediatamente seguido de
conciliação.

Artigo 111.º
(Exame aos Beneficiários Legais)

O disposto nos artigos anteriores é aplicável, com as necessárias


adaptações, à apreciação da existência de doença física ou mental dos
beneficiários legais susceptíveis de afectar substancialmente a sua
capacidade de trabalho.

SUBSECÇÃO II
AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO

Artigo 112.º
(Intervenientes)

1. À audiência de conciliação são chamadas, além do sinistrado, doente ou


beneficiários legais, a entidade patronal ou seguradora, conforme os
elementos constantes da participação.

2. O Magistrado do Ministério Público designa data para nova audiência


conciliatória, a realizar-se nos 15 dias seguintes quando, das declarações
prestadas, resulte a necessidade de convocação de outras entidades.

3. A presença do sinistrado, doente ou beneficiário pode ser dispensada em


casos justificados de manifesta dificuldade de comparência ou de
ausência em parte incerta.

4. No caso referido no número anterior, o sinistrado, doente ou beneficiário


é representado pelo substituto legal de quem, no exercício de funções do
Ministério Público, presidir à audiência.
56
5. Quando a entidade responsável não compareça, tomam-se declarações
ao sinistrado, doente ou beneficiário sobre as circunstâncias em que
ocorreu o acidente ou foi contraída a doença e mais elementos
necessários à determinação do seu direito.

6. Se a falta for justificada no prazo de cinco dias, designa-se nova data.

7. A audiência de conciliação é dispensada, quando a entidade responsável


não justifique a falta, presumindo-se verdadeiros, até prova em
contrário, os factos declarados nos termos do número 5.

8. O disposto no número anterior é aplicável quando a entidade


responsável não compareça à segunda audiência ou tendo sido notificada
para a primeira, mudar o domicílio e não comunicar o Tribunal.

Artigo 113.º
(Acordo de Harmonia com as Disposições Legais)

O Ministério Público promove, na tentativa de conciliação, o acordo de


harmonia com os direitos consignados na lei, tomando por base os
elementos fornecidos pelo processo, designadamente o resultado do exame
médico e as circunstâncias que possam influir na capacidade geral de ganho
do sinistrado ou doente.

Artigo 114.º
(Acordo Provisório ou Temporário)

1. Quando o grau de incapacidade fixado tenha carácter provisório ou


temporário, o acordo tem validade provisória ou temporária, na parte
que se lhe refere, competindo ao Magistrado do Ministério Público
rectificar as indemnizações ou pensões segundo o resultado dos exames
ulteriores.

2. As rectificaçõesefectuadas nos termos do número anterior consideram-


se parte integrante do acordo, devendo-se notificar as entidades
responsáveis.

3. Quando no último exame vier a ser atribuída à incapacidade natureza


permanente e fixado um grau definitivo ou se o sinistrado ou doente for
dado como curado sem desvalorização, realiza-se nova audiência de
conciliação, seguindo-se os demais termos do processo.

Artigo 115.º
57
(Conteúdo do Auto de Acordo)

1. Com vista a habilitar o Juiz a apreciar o acordo, do auto consta:

a) A identificação completa dos intervenientes e suas qualidades;

b) A detalhada do acidente ou da doença;

c) A existência e caracterização do acidente ou da doença;

d) O nexo causal entre as lesões e o acidente ou a doença;

e) A remuneração do sinistrado ou doente;

f) A entidade responsável pelo pagamento das prestações;

g) A natureza e o grau de incapacidade;

h) Demais direitos reconhecidos;

i) Assinatura dos intervenientes.

2. Tratando-se de doença profissional, do auto consta ainda:

a) A data aproximada do primeiro diagnóstico clínico da doença;

b) A indicação dos serviços em que o doente trabalhou durante o


período de imputabilidade previsto na lei;

c) O tempo de trabalho ao serviço de cada entidade.

Artigo 116.º
(Conteúdo do Auto na Falta de Acordo e Fixação dos Elementos de
Facto)

1. Frustrada a conciliação, faz-se constar do auto, além das indicações do


artigo anterior, os motivos da falta de acordo.

2. Sem prejuízo do disposto no número anterior, de modo a evitar nova


discussão na fase contenciosa, do auto consta ainda:

a) Os factos definitivamente assentes acerca da existência e


caracterização do acidente ou da doença;

b) O nexo de causalidade;
58
c) O salário do sinistrado ou do doente;

d) A entidade responsável pelo pagamento das prestações;

e) O grau de incapacidade.

3. O interessado que se recuse a tomar posição sobre cada um destes factos,


estando já habilitado a fazê-lo, é, a final, condenado como litigante de
má- fé.

Artigo 117.º
(Recolha de Elementos para Elaboração da Petição Inicial)

Quando não se obtenha o acordo, o Magistrado do Ministério Público


recolhe os elementos necessários à apresentação do requerimento inicial,
salvo se o sinistrado, o doente ou os beneficiários legais tiverem
constituído advogado.

SUBSECÇÃO III
ACORDO ACERCA DAS PRESTAÇÕES

Artigo 118.º
(Homologação do Acordo)

1. Celebrado o acordo, é este submetido ao Juiz, que o homologa por


simples despacho, se verificar a sua conformidade com os elementos
fornecidos pelo processo e com as normas legais ou convencionais.

2. Quando tiver sido junto acordo extrajudicial e o Magistrado do


Ministério Público o considere em conformidade com o resultado dos
exames, os restantes elementos fornecidos pelo processo e as
informações complementares que repute necessárias, promove a sua
homologação pelo Juiz.

Artigo 119.º
(Não Homologação do Acordo)

1. Quando o acordo não for homologado e o Magistrado do Ministério


Público considere possível a remoção dos obstáculos, tenta a celebração
de novo acordo para substituir aquele cuja homologação foi recusada.

2. A falta de homologação do acordo é notificada aos interessados, mas


aquele continua a produzir efeitos até à homologação do que o vier a
substituir ou, na falta deste, até à decisão final.
59
Artigo 120.º
(Eficácia Retroactiva do Acordo)

O acordo produz efeitos desde a data da sua celebração.

Artigo 121.º
(Julgamento após a Conciliação)

Se as entidades responsáveis reconhecerem as obrigações legais


correspondentes aos elementos de facto verificados através do processo e o
sinistrado, doente ou os respectivos beneficiários legais se limitarem à
recusa do que lhes é devido, o Magistrado do Ministério Público promove
que o juiz, fixado o valor da causa, profira sentença que pode limitar-se a
parte decisória.

SECÇÃO II
FASE CONTENCIOSA

SUBSECÇÃO I
DISPOSIÇÕES GERAIS

Artigo 122.º
(Início da Fase Contenciosa)

1. A fase contenciosa tem por base o requerimento inicial, em que o


sinistrado, doente ou beneficiários legais expõem os fundamentos e
formulam o pedido.

2. Quando o interessado não se conforme com o resultado do exame médico


realizado na fase conciliatória, o requerimento contém ainda os
fundamentos e os quesitos necessários para efeitos de fixação de
incapacidade para o trabalho.

3. A fase contenciosa corre nos autos em que se processou a fase


conciliatória.

Artigo 123.º
(Desdobramento do Processo)

Na fase contenciosa o processo desdobra-se, se for caso disso, em:


60
a) Processo principal;

b) Apenso para fixação da incapacidade para o trabalho.

Artigo 124.º
(Apresentação do Requerimento Inicial)

1. Quando não se obtenha acordo ou não seja homologado, nem se verifique


a hipótese prevista no artigo 121.º, o Magistrado do Ministério Público,
sem prejuízo do disposto nos artigos 19.º e 20.º, assume o patrocínio do
sinistrado, do doente ou dos beneficiários legais, apresentando, no prazo
de 15 dias, requerimento inicial nos termos do disposto no artigo 122.º.

2. O Magistrado do Ministério Público, quando careça de elementos de facto


necessários à elaboração do requerimento inicial, pode requerer a
prorrogação do prazo previsto no número anterior, por igual período de
tempo, e diligencia a sua obtenção.

3. Quando o sinistrado, o doente ou os beneficiários legais se recusem a


fornecer esses elementos e em diligências posteriores se verifique que a
recusa derivou do facto de ter havido acordo particular sobre a
reparação do acidente ou doença, o Magistrado do Ministério Público
promove que seja condenada como litigante de má fé a entidade com
quem tenha sido feito o acordo.

4. Findo o prazo referido no número 1 ou a sua prorrogação nos termos do


número 2, o processo é concluso ao Juiz, que declara suspensa a
instância, sem prejuízo de o Magistrado do Ministério Público apresentar
o requerimento logo que tenha reunido os elementos necessários.

Artigo 125.º
(Valor da Causa)

1. Nos processos de acidentes de trabalho ou de doenças profissionais,


tratando-se de pensões, o valor da causa é igual ao da soma das reservas
matemáticas correspondentes a cada uma delas, acrescido das demais
prestações.

2. Quando se trate de indemnizações por incapacidade temporária, o valor é


igual a cinco vezes o valor anual da indemnização.

61
3. O Juiz pode alterar o valor fixado em conformidade com os elementos que
o processo fornecer, em qualquer altura.

SUBSECÇÃO II
FIXAÇÃO DA PENSÃO OU INDEMNIZAÇÃO PROVISÓRIA

Artigo 126.º
(Pensão ou Indemnização em Caso de Acordo)

1. Quando houver acordo acerca da existência e caracterização da


ocorrência como acidente de trabalho ou da doença como profissional, o
Juiz, se o autor o requerer ou se assim resultar directamente da lei
aplicável, fixa provisoriamente a pensão ou indemnização que for devida
pela morte ou pela incapacidade atribuída pelo exame médico, com base
na última remuneração auferida pelo sinistrado ou doente, se outra não
tiver sido reconhecida na conciliação.

2. Caso o grau de incapacidade fixado tenha carácter provisório ou


temporário, o Juiz arbitra a pensão ou indemnização logo que seja
conhecido o resultado final do exame médico.

3. Na falta de desacordo sobre a transferência da responsabilidade, a


pensão ou indemnização fica a cargo da seguradora cuja apólice abranja
a data do acidente ou do diagnóstico clínico da doença.

4. A pensão ou indemnização é paga pela entidade patronal, quando não se


junte a apólice, salvo se esta ainda não estiver determinada, aplicando-se
o disposto nos números 2 e 3 do artigo seguinte.

5. O Juiz toma por base uma remuneração que não ultrapasse o mínimo que
presumivelmente deva ser reconhecido como base para o cálculo da
pensão ou indemnização, quando não seja possível determinar a última
remuneração auferida pelo sinistrado ou doente.

6. O Juiz determina queotratamento seja custeado pela entidade a cargo de


quem ficar a pensão ou indemnização provisória, no caso de o sinistrado
ou doente ainda o necessitar.

Artigo 127.º
(Pensão ou Indemnização Provisória na Falta de Acordo)

1. Na falta de acordo sobre a existência ou caracterização do acidente como


de trabalho ou da doença como profissional, o Juiz, a requerimento da
parte interessada ou se assim resultar directamente da lei aplicável, fixa,
62
com base nos elementos fornecidos pelo processo, pensão ou
indemnização provisória nos termos do artigo anterior, se:

a) Considerar que as prestações são necessárias para o sinistrado,


doente ou beneficiários legais;

b) Do acidente ou doença resultar morte ou uma incapacidade grave;

c) Verificar a situação prevista na primeira parte do número 1 do


artigo 106.º.

2. A pensão ou indemnização provisória e os encargos com o tratamento do


sinistrado ou doente são adiantados e garantidos pelo Fundo de
Actualização de Pensões, nos termos da legislação aplicável, se não forem
suportados por outra entidade.

3. O Juiz pode condenar imediatamente na pensão ou indemnização


provisória a entidade que considere responsável, se os autos
fornecerem elementos bastantes para se convencer de que a falta de
acordo na conciliação teve por fim eximir-se da condenação provisória.

4. O Juiz condena o réu como litigante de má- fé, quando, no julgamento, se


confirmar essa convicção.

5. Na sentença final, se for condenatória, o Juiz transfere para a entidade


responsável a obrigação de pagamento da pensão ou indemnização e
demais encargos, ordenando o reembolso de todas as importâncias
adiantadas.

Artigo 128.º
(Fixação da Pensão ou Indemnização Provisória Depois de Apurada a
Entidade Responsável)

1. Julgadas as questões suscitadas no processo principal, se ainda não for


possível a condenação definitiva da entidade responsável, o Juiz fixa
apensão ou indemnização provisória a pagar por aquela.

2. Se a pensão ou indemnização já fixada estiver a cargo de outra entidade,


o Juiz determina que a entidade responsável indemnize aquela que até aí
suportou as pensões, indemnizações e demais encargos, com juros de
mora.

Artigo 129.º

63
(Irrecorribilidade e Imediata Exequibilidade da Decisão que Fixar a
Pensão ou Indemnização Provisória)

1. Da decisão que fixar pensão ou indemnização provisória não há recurso,


mas o responsável pode reclamar com o fundamento de não se
verificarem as condições da sua atribuição.

2. Da pensão ou indemnização fixada nos termos do artigo 127.º pode,


igualmente, o Fundo de Actualização de Pensões reclamar, invocando
que o sinistrado, o doente ou os beneficiários legais dela não têm
necessidade.

3. A decisão que fixe a pensão ou indemnização provisória é imediatamente


exequível, dispensando-se a prestação de caução.

Artigo 130.º
(Encargos Com o Tratamento)

1. O Juiz pode determinar, em qualquer altura do processo, que a entidade


que anteriormente tenha custeado o tratamento do sinistrado ou doente
continue a suportar o encargo, quando solicitado e entenda que o pedido é
fundado, sem prejuízo do disposto no número 6 do artigo 126.º.

2. A Decisão referida no número anterior não prejudica as demais questões


por apreciar.

SUBSECÇÃO III
PROCESSO PRINCIPAL

Artigo 131.º
(Questões a Decidir no Processo Principal)

No processo principal decidem-se todas as questões, salvo a da fixação de


incapacidade para o trabalho, quando esta deva correr por apenso.

Artigo 132.º
(Pluralidade de EntidadesResponsáveis)

1. Até ao encerramento da audiência, o Juiz pode mandar intervir na acção


qualquer entidade que julgue ser responsável, para o que é citada, sendo-
lhe entregue cópia dos articulados.

64
2. Os actos processuais praticados por uma das entidades requeridas
aproveitam às outras na medida em que derem origem a quaisquer
obrigações ou as reconhecerem.

3. Os acordos pelos quais a entidade patronal e a entidade seguradora


atribuam a uma delas a intervenção no processo a partir da citação da
última são lícitos, sem prejuízo da questão da transferência da
responsabilidade.

4. O acordo é eficaz tanto no que beneficie como no que prejudique as


partes.

5. As sentenças e despachos proferidos constituem caso julgado contra


todos os requeridos, independentemente da falta de intervenção de
algum deles.

Artigo 133.º
(Citação)

1. A requerida é citada para contestar no prazo de 15 dias.

2. Quando haja várias requeridas, o prazo referido no número anterior


conta-se a partir da última citação.

Artigo 134.º
(Contestação)

1. Na contestação, além de invocar os fundamentos da sua defesa, pode a


requerida:

a) Requerer a fixação de incapacidade nos mesmos termos que o


requerente;

b) Indicar outra entidade como responsável, que é citada para


contestar.

2. A contestação de uma das requeridas aproveita a todas.

3. Se estiver em discussão a determinação da entidade responsável, ao


requerente e a cada uma das requeridas é entregue cópia da contestação

65
das demais, podendo cada uma responder no prazo de cinco dias, mas
apenas sobre aquela questão.

Artigo 135.º
(Falta de Contestação)

A falta de contestação de todos os requeridos tem como consequência a sua


condenação solidária no pedido, sem prejuízo do estabelecido no artigo
87.º.

Artigo 136.º
(Despacho Saneador)

1. Findos os articulados, o Juiz profere despacho saneador no prazo de 10


dias.

2. No despacho referido no número anterior, para além dos objectivos


estabelecidos no Código de Processo Civil, o Juiz considera assentes os
factos sobre que tenha havido acordo na conciliação e ordenar o
desdobramento do processo, se for caso disso.

3. Seguidamente observam-se os termos do processo comum, salvo o


disposto nos artigos subsequentes.

Artigo 137.º
(Objecto do Processo Principal e Apenso)

1. A fixação da incapacidade para o trabalho corre por apenso, se houver


outras questões a decidir no processo principal.

2. O Juiz pode ordenar que corra em separado, se o entender conveniente,


qualquer incidente, mas, se o não fizer, este corre nos autos a que
respeitar.

3. O Juiz pode determinar a desapensação, quando a simultaneidade na


movimentação do processo principal e seu apenso seja incompatível.

Artigo 138.º
(Indicação das Testemunhas)

O rol de testemunhas pode ser apresentado no prazo de 10 dias a contar da


notificação do despacho saneador.

66
Artigo 139.º
(Comparência dos Peritos na Audiência de Discussão e Julgamento)

Os peritos médicos comparecem na audiência de discussão e julgamento,


quando o Juiz o determinar.

Artigo 140.º
(Sentença Final)

Na sentença final, o Juiz:

a) Considera definitivamente assentes as questões que não tenham


sido discutidas na fase contenciosa;

b) Integra as decisões proferidas no processo principal e no apenso,


cuja parte decisória reproduz;

c) Fixa, se forem devidos, juros de mora pelas prestações pecuniárias


em atraso.

Artigo 141.º
(Falta de Comparência e Incumprimento)

A não comparência de qualquer pessoa à diligência para que tenha sido


convocada e a falta de cumprimento de qualquer determinação do Tribunal
são punidas com multa, salvo se à infracção corresponder outra sanção.

SUBSECÇÃO IV
PENSO PARA A FIXAÇÃO DE INCAPACIDADE PARA O TRABALHO

Artigo 142.º
(Requerimento de Junta Médica)

A parte que não se conforme com o resultado do exame realizado na fase


conciliatória pode pedir, no requerimento inicial ou na contestação, exame
por junta médica.

Artigo 143.º
(Exame por Junta Médica)

67
1. O exame por junta médica, constituída por três peritos, tem carácter
urgente e secreto, sendo presidido pelo Juiz.

2. Se, na fase conciliatória, o exame exigir pareceres especializados, intervêm


na junta médica, pelo menos, dois médicos da mesma especialidade.

3. O exame é deprecado ao Tribunal com competência em matéria de


trabalho, onde a junta possa constituir-se, quando na área do Tribunal da
causa não seja possível constituí-la nos termos dos números anteriores.

4. Os peritos das partes são apresentados até ao início da diligência, mas, se


não o fizerem, o Juiz nomeia oficiosamente.

5. É facultativa a formulação de quesitos para o exame médico, mas, sempre


que a dificuldade ou complexidade o justificar, o Juiz formula-os, ainda que
as partes o não tenham requerido.

6. O Juiz, se o considerar necessário, pode determinar a realização de exames


complementares ou requisitar pareceres técnicos.

Artigo 144.º
(Decisão)

1. Realizado o exame referido no artigo anterior, o Juiz profere decisão sobre


o mérito, fixando a natureza e o grau de incapacidade, bem como o valor
da acção, quando a fixação da incapacidade tiver lugar no processo
principal.

2. O Juiz profere decisão nos termos do número anterior, quando a fixação da


incapacidade tiver lugar no apenso.

3. A decisão a que se refere o número anterior só pode ser impugnada no


recurso que se interpuser da decisão final.

4. A fixação da incapacidade não obsta à sua modificação, nos termos do que


se dispõe para o incidente de revisão.

SUBSECÇÃO V
SUSPENSÃO DA INSTÂNCIA E REFORMA DO PEDIDO EM CASO DE
FALECIMENTO DO REQUERENTE

Artigo 145.º
(Suspensão da Instância e Habilitação)

68
Em caso de falecimento do sinistrado ou do doente, o incidente de
habilitação de herdeiros segue os termos previstos no Código de Processo
Civil.

Artigo 146.º
(Investigação das Causas da Morte e Audiência de Conciliação)

1. O Magistrado do Ministério Público averigua se a morte resultou directa


ou indirectamente do acidente ou da doença.

2. O Magistrado do Ministério Público organiza o processo regulado no


artigo 104.º, por apenso ao processo principal, quando houver elementos
para presumir a relação de causalidade referida no número anterior.

3. O Magistrado do Ministério Público deduz, nos termos do número 1 do


artigo 124.º e sem necessidade de habilitação, o pedido que
corresponder aos direitos dos beneficiários legais do sinistrado ou do
doente.

4. A requerida é notificada para responder no prazo de 10 dias, seguindo-se


os demais termos do processo, se não houver conciliação ou o acordo
não for homologado.

5. Os beneficiários legais do sinistrado ou do doente têm de aceitar os


articulados da parte que substituem, mantendo-se os actos e termos já
processados, salvo se em manifesta oposição com as novas
circunstâncias.

Artigo 147.º
(Interrupção da Instância)

Quando a suspensão durar mais de um ano, interrompe-se a instância.

Artigo 148.º
(Renovação da Instância)

Se o falecimento do sinistrado ou do doente ocorrer depois do julgamento da


causa ou da sua extinção por outro motivo, esta renova-se nos mesmos autos
para os efeitos dos artigos anteriores.

SECÇÃO III
REVISÃO DA INCAPACIDADE OU DA PENSÃO

69
Artigo 149.º
(Revisão da Incapacidade)

1. Quando for requerida a revisão da incapacidade, o Juiz manda submeter o


sinistrado ou doente a exame médico.

2. O pedido de revisão é deduzido em simples requerimento fundamentado


e, se necessário, formulam-se quesitos.

3. Terminado o exame, o seu resultado é notificado ao sinistrado ou o doente


e à entidade responsável pela reparação dos danos resultantes do acidente
ou da doença.

4. Quando alguma das partes não se conforme com o resultado do exame,


pode requerer, no prazo de cinco dias, exame por junta médica nos termos
previstos no número 2.

5. Se o Juiz considerar o exame indispensável para a boa decisão do


incidente, ordena-o oficiosamente.

6. Quando não for realizado exame por junta médica, ou tendo este sido feito,
e efectuadas quaisquer diligências que se mostrem necessárias, o Juiz
decide por despacho, mantendo, aumentando ou reduzindo a pensão ou
declarando extinta a obrigação de a pagar.

7. O incidente corre no apenso previsto na alínea b) do artigo 123.º, sobre o


desdobramento do processo, quando o houver.

8. O disposto nos números anteriores é aplicável, com as necessárias


adaptações, aos casos em que, sendo responsável uma seguradora, o
acidente ou doença não tenha sido participado ao tribunal por o sinistrado
ou doente ter sido considerado curado sem incapacidade.

Artigo 150.º
(Responsabilidade Pelo Agravamento)

1. Quando a entidade responsável pretenda discutir a responsabilidade


total ou parcial pelo agravamento da incapacidade e a questão só puder
ser decidida com a produção de outros meios de prova, requere-o no
prazo fixado para exame por junta médica.

2. O prazo referido no número anterior conta-se a partir do conhecimento


do resultado do exame, se este for requerido.

70
3. O sinistrado ou o doente pode responder, no prazo de cinco dias, a contar
da data da notificação do requerimento da entidade responsável.

4. Posteriormente, seguem-se, com as necessárias adaptações, os termos do


processo sumário, com ressalva ao disposto no artigo 139.º sobre a
comparência dos peritos na audiência de discussão e julgamento.

Artigo 151.º
(Revisão da Pensão dos Beneficiários Legais)

1. Quando o beneficiário legal requeira a revisão da respectiva pensão com


fundamento em agravamento ou superveniência da doença física ou
mental que afecte a sua capacidade de ganho, o incidente corre por
apenso ao processo a que disser respeito, observando-se o disposto no
artigo 149.º.

2. Se o aumento da pensão depender de facto que só possa ser provado


documentalmente, o Juiz ouve a parte contrária.

3. O processo é remetido ao Magistrado do Ministério Público, para no


prazo de 5 dias exercer a fiscalização.

4. Seguidamente, o Juiz decide sem mais formalidades.

SECÇÃO IV
REMIÇÃO DE PENSÕES

Artigo 152.º
(Remição Facultativa)

1. Requerida a remição, o Juiz, ouvida a entidade responsável, efectua


diligências sumárias, se necessário, e decide, por despacho
fundamentado, admitindo-a ou recusando-a.

2. A Remição, se recusada, só pode ser pedida de novo passado um ano.

3. Quando a remição é admitida, a secretaria procede ao cálculo do valor


devido.

4. Em seguida, o processo é remetido ao Magistrado do Ministério Público


que, após verificar o cálculo, ordena, por termo lavrado nos próprios
autos, a entrega do valor ao pensionista ou beneficiários legais.

71
Artigo 153.º
(Remição Obrigatória)

Fixada a pensão, se esta for obrigatoriamente remível, observa-se o disposto


nos números 3 e 4 do artigo anterior.

SECÇÃO V
PROCESSO PARA DECLARAÇÃO DE EXTINÇÃO DE DIREITOS
RESULTANTES DE ACIDENTES DE TRABALHO OU DE DOENÇA
PROFISSIONAL

Artigo 154.º
(Processo Aplicável)

1. As acções para declaração de prescrição ou de suspensão de direito a


pensões e para declaração de perda de direito a indemnizações
concedidas em processos findos seguem, com as necessárias adaptações,
os termos do processo sumário.

2. O Juiz, porém, pode, oficiosamente, ordenar exames ou outras


diligências que considere necessárias.

3. As acções referidas no número 1 correm por apenso ao processo


principal.

Artigo 155.º
(Caducidade do Direito a Pensão)

1. Quando o direito a pensão caducar nos termos estabelecidos no Regime


Jurídico dos Acidentes de Trabalho e Doenças Profissionais, a entidade
responsável requer que seja declarada a caducidade, apresentando os
respectivos meios de prova.

2. Em caso de morte, o processo vai com vista ao Magistrado do Ministério


Público para efeitos do disposto nos artigos 146.º e 148.º.

3. Nos demais casos, o Juiz ouve a parte contrária e remete o processo à


fiscalização do Magistrado do Ministério Público.

4. Produzida a prova, se se verificar que não há pensões, indemnizações ou


quaisquer outras prestações a satisfazer, o Juiz decide o incidente sem
mais formalidades.

5. O incidente corre por apenso ao processo a que disser respeito.


72
SECÇÃO VI
PROCESSO PARA EFECTIVAÇÃO DE DIREITOS DE TERCEIROS CONEXOS
COM ACIDENTE DETRABALHO E DOENÇA PROFISSIONAL

Artigo 156.º
(Processo)

1. O processo destinado à efectivação de direitos conexos com acidente de


trabalho ou doença profissional segue os termos do processo comum,
correndo por apenso ao respectivo processo.

2. As decisões transitadas em julgado que tenham por objecto a


qualificação do sinistro como acidente de trabalho ou da doença como
profissional, bem como a determinação da entidade responsável têm
valor de caso julgado para estes processos.

Artigo 157.º
(Remissão)

O que não estiver especialmente regulado no presente capítulo, aplica-se o


disposto no Código de Processo Civil.

CAPÍTULO II
PROCESSO DE IMPUGNAÇÃO DE DESPEDIMENTO E DE OUTRAS
MEDIDAS DISCIPLINARES

SECÇÃO I
IMPUGNAÇÃO DE DESPEDIMENTO

Artigo 158.º
(Requerimento)

1. O requerimento inicial dá entrada na secretaria do Tribunal e, para além


de outros elementos, contém:

a) A descrição dos vícios formais do procedimento disciplinar;

b) Os factos que fundamentam a falta ou insuficiência de justa causa


disciplinar;

c) O pedido de nulidade ou de improcedência do despedimento.

73
2. O requerimento inicial é instruído com a convocatória e a comunicação
do despedimento.

Artigo 159.º
(Citação e Contestação)

1. A recorrida é citada para contestar, no prazo de oito dias.

3. A remessa do processo disciplinar ao Tribunal é obrigatória e equivale à


contestação.

3. A falta de contestação implica decisão do mérito da causa nos termos do


Código de Processo Civil.

Artigo 160.º
(Diligências Proibidas)

1. As partes não podem requerer diligências de prova que deviam ser


realizadas no processo disciplinar, mas o Juiz pode sempre ordenar as
que achar necessárias ao apuramento da verdade e à realização da
justiça.

2. O Juiz pode suprir qualquer nulidade que não afecte a justa decisão da
causa, salvo as que decorrem da inexistência material do processo
disciplinar, da falta de audição do arguido e da caducidade do direito de
acção disciplinar.

Artigo 161.º
(Despacho Saneador)

1. Quando haja necessidade de se realizar alguma diligência de prova, o Juiz


da causa elabora despacho saneador com especificação e questionário.

2. Ao que não estiver previsto no presente artigo é aplicável o regime


estabelecido no Código de Processo Civil.

SECÇÃO II
IMPUGNAÇÃO DE OUTRAS MEDIDAS DISCIPLINARES

Artigo 162.º
(Regime aplicável)

À impugnação de outras medidas disciplinares, com as necessárias


adaptações, é aplicável o regime previsto na secção anterior.

74
Artigo 163.º
(Remissão)

O que não estiver especialmente regulado no presente capítulo, aplica-se o


disposto no Código de Processo Civil.

CAPÍTULO III
PROCESSO DE IMPUGNAÇÃO DE DESPEDIMENTO COLECTIVO

Artigo 164.º
(Requerimento Inicial)

1. A acção para impugnação do despedimento colectivo pode ser intentada


por qualquer trabalhador abrangido pelo despedimento.

2. Sempre que não intervenham todos os trabalhadores, no requerimento


inicial indica-se, sempre que possível, os nomes dos demais interessados.

Artigo 165.º
(Contestação)

1. A requerida é citada para contestar, no prazo de oito dias.

2. Com a contestação, juntam-se todos os documentos comprovativos do


cumprimento do procedimento para o despedimento.

3. No prazo fixado no número 1, a requerida deduz o chamamento dos


trabalhadores que, não sendo requerentes, tenham sido abrangidos pelo
despedimento.

Artigo 166.º
(Termos Subsequentes)

Findos os articulados, aplica-se o disposto no art.º 161.º.

Artigo 167.º
(Remissão)

O que não estiver especialmente regulado no presente capítulo, aplica-se o


disposto no Código de Processo Civil.

CAPÍTULO IV
PROCESSO DE IMPUGNAÇÃO DE DELIBERAÇÕES DE GREVE

75
Artigo 168.º
(Fundamentos)

As deliberações de assembleias de trabalhadores que convoquem greves


podem ser impugnadas com fundamento na violação da lei ou dos
estatutos.

Artigo 169.º
(Prazo)

A acção é intentada no prazo de cinco dias, a contar da data que o


interessado tiver conhecimento da deliberação.

Artigo 170.º
(Requerimento Inicial)

1. O requerimento inicial é instruído com o documento comprovativo da


deliberação que se pretende impugnar, se o houver.

2. No caso contrário, o Tribunal notifica imediatamente os trabalhadores


para remeterem o comprovativo da deliberação.

Artigo 171.º
(Despacho Liminar)

Recebido o requerimento inicial, o Juiz pode:

a) Indeferir liminarmente;
b) Declarar a ilicitude da deliberação;
c) Ordenar a citação.

Artigo 172.º
(Citação e Contestação)

1. A requerida é citada para contestar, no prazo de cinco dias.

2. A falta de contestação implica decisão do mérito da causa nos termos do


Código de Processo Civil.

Artigo 173.º
(Produção da Prova)

1. Com os articulados são requeridas quaisquer diligências de prova.

76
2. Findos os articulados, seguem-se os termos do processo declarativo
comum, mas não há lugar à realização da audiência preparatória.

Artigo 174.º
(Recurso)

Independentemente do valor da causa, da sentença é sempre admissível


recurso com efeito meramente devolutivo.

Artigo 175.º
(Remissão)

O que não estiver especialmente regulado no presente capítulo, aplica-se o


disposto no Código de Processo Civil.

CAPÍTULO V
PROCESSO DE PROTECÇÃO DA SEGURANÇA, HIGIENE E SAÚDE NO
TRABALHO

Artigo 176.º
(Propositura da Acção)

1. Qualquer trabalhador, órgão de inspecção ou o Ministério Público pode


requerer ao Tribunal a suspensão das actividades da empresa ou o
encerramento total das suas instalações, quando se verifique risco para a
segurança e saúde no trabalho.

2. A acção pode ser intentada a todo o tempo, enquanto se mantiverem as


causas referidas no número anterior.

Artigo 177.º
(Recusa de Prestação de Trabalho)

1. Após a propositura da acção, permanecendo o risco referido no número


1 do artigo anterior, os requerentes podem recusar-se a prestar a sua
actividade.

2. À requerida é proibida a aplicação de qualquer medida sancionatória aos


trabalhadores, sob pena de multa e suspensão da licença.

Artigo 178.º
(Requerimento Inicial)

O requerimento inicial é instruído com qualquer elemento de prova que


atesta o perigo.
77
Artigo 179.º
(Suspensão Imediata das Actividades)

O Juiz pode ordenar a suspensão imediata das actividades da requerida,


quando, do requerimento inicial, resultarem indícios bastantes do perigo
iminente e grave para a segurança, higiene e saúde no trabalho.

Artigo 180.º
(Citação e Exame)

1. A requerida é citada para contestar, no prazo de cinco dias.

2. Com a citação para contestar, o Juiz ordena a realização dos exames que
se mostrem necessários.

3. O Juiz pode suspender as actividades da requerida ou ordenar o seu


encerramento provisório, quando o exame determinar perigo iminente e
grave à segurança, higiene e saúde no trabalho.

Artigo 181.º
(Produção de Prova)

1. No requerimento inicial e na contestação são requeridas todas as


diligências de prova.

2. Terminada a fase dos articulados, aplica-se o disposto no n.º 2 do artigo


173.º.

Artigo 182.º
(Recurso)

Independentemente do valor da acção, é sempre admissível recurso com


efeito meramente devolutivo.

LIVRO III
ARBITRAGEM

Artigo 183º
(Arbitragem Voluntária)

1. Para efeitos do presente Diploma, a arbitragem voluntária constitui o


mecanismo extrajudicial de resolução de conflitos laborais, na qual as
partes escolhem livremente os árbitros.

78
2. Os conflitos colectivos de trabalho são preferencialmente resolvidos
através do mecanismo da arbitragem voluntaria, nos termos do presente
Código.

Artigo 184.º
(Submissão à arbitragem)

As partes podem, por acordo, submeter à arbitragem voluntária as matérias


em conflito.

Artigo 185.º
(Composição do Tribunal Arbitral)

1. A arbitragem é realizada por três árbitros, um nomeado por cada uma das
partes e o terceiro, que a preside, escolhido pelos árbitros das partes.

2. Não podem ser escolhidos para árbitros presidentes os gerentes,


administradores, directores, consultores e trabalhadores da empresa ou
empresas envolvidas na arbitragem, bem como todos aqueles que tenham
algum interesse directo ou relacionado com qualquer das partes e ainda
os cônjuges, parentes em linha recta ou até ao terceiro grau da linha
colateral, os afins, adoptantes e adoptados das entidades nelas referidas.

Artigo 186.º
(Apoio Técnico)

Os árbitros podem solicitar às partes e aos organismos públicos competentes


os dados e as informações que julguem necessárias para a tomada de decisão
e ser assistidos por peritos.

Artigo 187.º
(Encargos do Processo de Arbitragem)

1. Os encargos do processo de arbitragem são suportados pela entidade


empregadora.

2. O disposto no número anterior não é aplicável quando,


comprovadamente, o trabalhador ou trabalhadores disponham de
recursos para comparticipar nos encargos.

Artigo 188.º
(Decisão Arbitral)

79
1. A decisão arbitral é tomada por maioria e deve respeitar a legislação
laboral em vigor e demais normas aplicáveis e os princípios da
imparcialidade e da equidade.

2. Os árbitros devem enviar a decisão arbitral e a respectiva fundamentação


a cada uma das partes, e à Inspecção-Geral do Trabalho, para efeitos de
depósito e registo, nos 15 dias seguintes à tomada de decisão.

3. A decisão arbitral produz os mesmos efeitos de uma sentença judicial e


constitui título executivo.

4. Os árbitros decidem com força obrigatória sobre a resolução do conflito.

5. Os árbitros e os peritos que os assistirem estão obrigados a guardar sigilo


das informações recebidas sob reserva de confidencialidade.

6. Da decisão arbitral é admitido recurso de anulação.

Artigo 189.º
(Anulação da Decisão)

A decisão arbitral pode ser anulada pelo tribunal competente a pedido do


Ministério Público por algum dos seguintes fundamentos:

a) Ter sido proferida a decisão por órgão arbitral irregularmente


constituído;

b) Falta de fundamentação;

c) Ter havido violação do princípio da igualdade das partes, do contraditório


em todas as fases do processo e da audiência das partes, oral, escrita,
antes da tomada da decisão final;

d) Ter o tribunal conhecido de questões de que não podia conhecer ou ter


deixado de se pronunciar sobre questões que devia apreciar;

e) Não ter o tribunal, sempre que julgue segundo a equidade e os usos e


costumes, respeitado os princípios do ordenamento jurídico angolano.

Artigo 190.º
(Requisitos da Decisão Arbitral)

A decisão arbitral é reduzida a escrito e dela consta:

a) A identificação das partes;


80
b) A identificação dos árbitros;

c) O objecto do litígio;

d) O lugar da arbitragem, o local e a data em que a sentença foi


proferida;

e) A decisão e a respectiva fundamentação;

f) A assinatura dos árbitros.

Artigo 191.º
(Direito Supletivo)

Em tudo o que pelo presente Código não estiver especialmente regulado,


aplicam-se, com as necessárias adaptações, a legislação sobre a arbitragem
voluntária.

CAPÍTULO VI
DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS

Artigo 192º
(Remissões)

A partir da entrada em vigor deste Código, as remissões que, em lei especial,


são feitas para o regime da jurisdição do trabalho consideram-se feitas para
o regime descrito nas normas do presente Código.

Artigo 193º
(Processos Pendentes)

Com a entrada em vigor do presente Código os processos pendentes passam


a reger-se por ele, cabendo ao Juiz ou Relator, conforme os casos, proceder às
adaptações processuais que se mostrarem necessárias para o efeito.

Artigo 194.º
(Infracções Penais e Fiscais)

1. Asinfracções de natureza criminal e fiscal constatadas em qualquer fase


do processo são remetidas, conforme o caso, à jurisdição criminal ou ao
órgão de investigação e instrução competente, mediante certidão de teor.

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2. A certidão de teor é remetida ao Magistrado do Ministério Público que
intervém no processo que, por sua vez, a remete ao órgão competente
para a abertura dos trâmites processuais.

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