Você está na página 1de 11

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Faculdade de Direito de Ribeirão Preto

João Pedro de Freitas Novato


Nº USP 11201078

PROCESSO DO TRABALHO E O CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL:


ANÁLISE RELACIONADA AO AGRAVO DE INSTRUMENTO

Ribeirão
Preto 2022
I. INTRODUÇÃO

O direito processual do trabalho surge como meio de formalização de conflitos ante


um terceiro distinto,o juiz do trabalho, das partes, sendo este especificamente instituído pelo
Estado determinado para dirimir conflitos. Tal juiz é especificamente instituído para conhecer
e dirimir os conflitos decorrentes das relações de trabalho1.

O processo do trabalho é um mecanismo utilizado para solucionar conflitos sobre


bens de direito material. Contudo, ele é mais do que isso: trata-se de garantia às partes de que
o conflito em questão será considerado com os mecanismos e formas de implementação da
justiça previamente definidos pela lei. A justiça do trabalho visa a solução dos conflitos
pacificamente.2

O processo do trabalho tem as suas particularidades, tendo em vista os conflitos que


soluciona. Trata-se de conflitos de uma relação distinta e duradoura entre empregado e
empregador. Ao longo da duração da relação entre as partes, pode existir diversos conflitos e
potenciais perdas de direito pelo trabalhador. Tendo em vista a especificidade desta relação e
a hipossuficiência do empregado, há a necessidade da instauração de uma justiça
especializada nesses conflitos que compreenda as especificidades desta relação. Não se pode
confundir a relação trabalhista com quaisquer outras relações encontradas no direito, trata-se
de uma relação com diversas especificações, as quais devem ser observadas atentamente pela
justiça.

A Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) não conseguiu prever todas as situações
possíveis que seriam abrangidas pelo processo do trabalho, sendo que os próprios
legisladores já haviam previsto tal situação. O artigo 796 da CLT determina que o direito
processual comum é fonte do direito do trabalho:

Art. 769 - Nos casos omissos, o direito processual comum será


fonte subsidiária do direito processual do trabalho, exceto naquilo
em que for incompatível com as normas deste Título.

1
PAMPLONA FILHO, Rodolfo; SOUZA, Tercio Roberto Peixoto. Curso de Direito Processual do Trabalho. 2ª
ed. São Paulo: Saraiva Educação. 2020, p. 36.
2
Ibidem, p. 36.
Assim como foi previsto pela CLT, o próprio Código de Processo Civil (CPC)
determina que ele será a fonte supletiva e subsidiária de processos trabalhistas. O artigo 15 do
CPC é o responsável por tal fundamentação:

Art. 15. Na ausência de normas que regulem processos


eleitorais, trabalhistas ou administrativos, as disposições deste
Código lhes serão aplicadas supletiva e subsidiariamente

É importante destacar que as regras aplicadas do CPC devem ser compatíveis com os
princípios e as disposições previstas especificamente para o processo do trabalho, conforme
determinado pelo art. 769 da CLT. O objetivo do presente artigo é analisar a aplicabilidade de
determinadas disposições encontradas no CPC dentro do processo do trabalho.

II. PEDIDO GENÉRICO NO PROCESSO DO TRABALHO

Como apresentado anteriormente, a CLT determinou a utilização do direito


processual civil como fonte subsidiária para o direito do trabalho. Do mesmo modo, tal uso
do CPC também é previsto pelo próprio código.

A doutrina apresenta como seu entendimento majoritário que a CLT se permanece


como o principal diploma normativo usado nas relações trabalhistas, tanto no âmbito material
como processual. Contudo é importante a observação adequada dos dispositivos do CPC para
que ele auxilie no processo trabalhista. Assim, o CPC só pode ser utilizado para sanar as
omissões da CLT, e é importante que a instrução seja compatível com os princípios e
dispositivos das leis trabalhistas, caso contrário, o uso dele não merece prosperar.3

A doutrina determina que a aplicação subsidiária do CPC em relação ao processo


trabalhista deve observar determinados requisitos, sendo eles: (i) omissão do direito
processual do trabalho e (ii) compatibilidade com os princípios do processo do trabalho.
Nota-se, portanto, de que não é qualquer caso em que acontecerá a aplicação subsidiária deste
código, mas sim em casos determinados tendo em vista os requisitos apresentados 4. Nesse
sentido, Carlos Henrique argumenta que:

3
Ibidem, p. 67.
4
GOMES, Arthur Marcel Batista. Direito Processo do Trabalho. 2017. Disponível em:
<http://www.conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/48602/a-utilizacao-do-direito-processual-civil-no-direito
-processual-do-trabalho-atraves-da-interpretacao-do-artigo-769-da-clt-em-relacao-ao-novo-codigo-de-processo-
civil>, acessado em 30 de out. 2020.
Dai a necessidade de uma cláusula de contenção das normas
do processo civil, o qual somente seria aplicado subsidiariamente em
duas situações: existência de lacuna no sistema processual
trabalhista e compatibilidade da norma a ser transplantada com os
seus princípios peculiares (CLT, art. 769). Afinal, quando o art. 769
da CLT foi editado (1943), o ‘direito processual comum’, que poderia
ser utilizado como ‘fonte subsidiária’ do processo do trabalho, era o
Código de Processo Civil de 1939.5

Com a chegada do CPC de 2015, observou-se diversas inovações e mudanças


relacionadas ao processo civil. Tendo em vista a sua aplicação subsidiária no processo do
trabalho, tais inovações e mudanças apresentam o potencial de alterar determinadas coisas
dentro desta relação. Diversos juristas do campo do direito trabalhista apreciaram as
mudanças no CPC, uma vez que ele visa a garantir menor complexidade e maior celeridade
no processo. Dentre eles, encontra-se Schiavi, o qual afirma que a utilização do novo CPC é
uma maneira de transformar o direito trabalhista em alho mais célere, justo e efetivo.6

Uma das possibilidades trazidas pelo CPC de 2015 foi exatamente a possibilidade de
pedido genérico. O pedido, segundo o CPC deve ser determinado, sendo aceito, em
determinadas ocasiões, o pedido genérico. Os requisitos para tais pedidos encontram-se
determinados no art. 324, §1º, do CPC:

Art. 324. O pedido deve ser determinado.


§ 1º É lícito, porém, formular pedido genérico:
I - nas ações universais, se o autor não puder individuar os
bens demandados;
II - quando não for possível determinar, desde logo, as
consequências do ato ou do fato;
III - quando a determinação do objeto ou do valor da
condenação depender de ato que deva ser praticado pelo réu.

Contudo, a própria CLT determina os requisitos necessários para a propositura da


reclamação trabalhista, sendo que na ausência de qualquer um deles, o pedido feito pelo
reclamante será julgado extinto sem resolução do mérito. Os requisitos são determinados a
partir do art. 840 da CLT, o qual dispõe:

Art. 840 - A reclamação poderá ser escrita ou verbal.


§ 1o Sendo escrita, a reclamação deverá conter a designação
do juízo, a qualificação das partes, a breve exposição dos fatos de
5
LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. 8ª Ed. São Paulo: LTr, 2010.
6
SCHIAVI, Mauro. Manual de Direito Processual do Trabalho. 10ª Ed. São Paulo: LTr, 2016, p. 159
que resulte o dissídio, o pedido, que deverá ser certo, determinado e
com indicação de seu valor, a data e a assinatura do reclamante ou
de seu representante.
§ 2o Se verbal, a reclamação será reduzida a termo, em duas
vias datadas e assinadas pelo escrivão ou secretário, observado, no
que couber, o disposto no § 1o deste artigo.
§ 3o Os pedidos que não atendam ao disposto no § 1o deste
artigo serão julgados extintos sem resolução do mérito.

Observa-se, então, de que o pedido no processo do trabalho deve ser determinado,


líquido e certo, sendo que a não observação destas características acarreta na extinção do
processo trabalhista em questão sem a resolução de mérito. Contudo, há a possibilidade de
compreensão da interpretação subsidiária diante da impossibilidade da indicação de valor
exato a ser pleiteado na petição inicial.7

No processo do trabalho, há a questão relacionada a sucumbência, a qual o instituto


poderá acarretar em prejuízos financeiros a parte sucumbente. O valor da sucumbência é
determinado pela liquidação da sentença e deverá ser pleiteada pela parte vencedora, nos
casos em que o reclamante for o vencedor. Nos casos em que o reclamado ganha o caso, o
cálculo inicial será remetido a sucumbência. O cálculo apenas será possível no momento em
que o pedido for certo e determinado. 8

Contudo, há situações em que a indicação de valores é apenas usada para cumprir os


requisitos do rito, de modo que não ocorre consequência caso o tal cálculo seja imprevisto.
Assim, tem-se que o valor da causa não será, necessariamente, o valor do objeto imediato
imaterial ou material. Ao decorrer do processo, o valor pleiteado pode ser discutido e se
apresentar completamente diferente nas sentenças de liquidação. 9 A definição do valor é
importante, mas não deveria ser considerada intrínseca ao processo trabalhista, tendo em vista
a possibilidade de mudanças ao decorrer da fase de conhecimento. Ademais, há casos em que
se observa que a definição do valor exato é quase impossível, tendo em vista a apuração dos
valores daquilo que pede. Nesse sentido, a jurisprudência aceita a comprovação de valores na
fase de liquidação:

7
CÂNDIDO, Sheila Dias de Araujo. O pedido genérico na Justiça do Trabalho. 2018. Disponível em:
<https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-171/o-pedido-generico-na-justica-do-trabalho/>, acessado em 01
nov. 2020.
8
Ibidem.
9
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. Vol. I. 57ª ed. Rio de Janeiro: Forense,
2016, p. 604.
RECURSO DE REVISTA. ACÓRDÃO PUBLICADO NA
VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.015/2014. DIFERENÇAS DE FGTS.
COMPROVAÇÃO EM LIQUIDAÇÃO. POSSIBILIDADE. Cinge-se a
controvérsia acerca da possibilidade de juntada de documentos na
fase de liquidação. Registre-se que não há decisão fora dos limites da
lide, já que a juntada dos documentos na fase de liquidação apenas
servem para viabilizar tal procedimento, possibilitando o correto
cálculos das diferenças de FGTS devidas. Ademais, a juntada dos
documentos não causará prejuízo à reclamante, tendo em vista que a
obreira poderá manifestar-se a seu respeito. Precedentes. Recurso de
revista conhecido e provido. fls. PROCESSO Nº TST-RR-20738-
79.2014.5.04.0002 Firmado por assinatura digital em 04/10/2018
pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP 2.200-
2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas
Brasileira.
(TST - RR: 207387920145040002, Relator: Breno Medeiros,
Data de Julgamento: 03/10/2018, 5ª Turma, Data de Publicação:
DEJT 05/10/2018)

Nota-se, então, que a justiça trabalhista sofre grandes dificuldades para estruturar uma
tese plausível e com embasamento que, diante dos pedidos da fase de conhecimento e que
não conseguem indicar como certo e com indicação de valor possam ser protegidos por meio
da tutela jurisdicional sem o risco de que o processo seja julgado extinto ou que seja feita a
indicação aleatória e imprecisamente. Assim, a questão do pedido genérico continua omissa
quanto ao processo trabalhista, tendo em vista a pluralidade de situações que este abarca.10

Assim, nota-se que em determinados casos, deveria ocorrer a aplicação subsidiária do


CPC em relação aos processos trabalhistas em situações em que não for possível prever a
extensão do dano sofrido pelo reclamante, assim como casos em que não é possível apurar,
de início, o dano causado, tendo em vista a necessidade de documentos e de atos que
dependem da parte contrária, sendo o pedido genético na inicial admitido. Nesses casos, a
falta da possibilidade de aceitação desses pedidos podem acarretar na violação no princípio
do acesso à justiça, garantido na constituição. 11 Portanto, deve ser observado as
especificidades do pedido para determinar sua inépcia, e nos casos em que há aceitação, a
observação do que encontra disposto no CPC, como previsto.

10
CÂNDIDO, Sheila Dias de Araujo. O pedido genérico na Justiça do Trabalho. 2018. Disponível em:
<https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-171/o-pedido-generico-na-justica-do-trabalho/>, acessado em 01
nov. 2020.
11
Ibidem.
III. AGRAVO DE INSTRUMENTO NO PROCESSO DO TRABALHO

Os recursos apresentam como objetivo a demanda de que a decisão judicial em um


processo seja revista dentro da mesma relação processual em órgão superior. A possibilidade
de que as decisões tomadas por juiz de primeira instância seja revisto pelo juiz de segunda
instância baseia-se no princípio processual do duplo grau de jurisdição, sendo que ele é o
responsável pela possibilidade da interposição de recurso. 12 O recurso é o meio utilizado
pelas partes de expressar sua indignação perante a decisão proferida pelo juiz.

O Agravo de Instrumento (AI) é um desses recursos e é previsto tanto pelo CPC,


como pela CLT. Tal recurso é previsto pelo 897 da CLT, in verbis:

Art. 897 - Cabe agravo, no prazo de 8 (oito) dias:


b) de instrumento, dos despachos que denegarem a
interposição de recursos.
§ 2º - O agravo de instrumento interposto contra o despacho
que não receber agravo de petição não suspende a execução da
sentença.
§ 4º - Na hipótese da alínea b deste artigo, o agravo será
julgado pelo Tribunal que seria competente para conhecer o recurso
cuja interposição foi denegada.
§ 5o Sob pena de não conhecimento, as partes promoverão a
formação do instrumento do agravo de modo a possibilitar, caso
provido, o imediato julgamento do recurso denegado, instruindo a
petição de interposição:
I - obrigatoriamente, com cópias da decisão agravada, da
certidão da respectiva intimação, das procurações outorgadas aos
advogados do agravante e do agravado, da petição inicial, da
contestação, da decisão originária, do depósito recursal referente ao
recurso que se pretende destrancar, da comprovação do recolhimento
das custas e do depósito recursal a que se refere o § 7o do art. 899
desta Consolidação;
II - facultativamente, com outras peças que o agravante
reputar úteis ao deslinde da matéria de mérito controvertida
§ 6o O agravado será intimado para oferecer resposta ao
agravo e ao recurso principal, instruindo-a com as peças que
considerar necessárias ao julgamento de ambos os recursos.

12
OLIVEIRA, Fernando José Vianna. Direito processo do trabalho. 2011.Disponível:
<http://www.conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/24853/os-recursos-na-justica-do-trabalho>, acesso em
30 de out. 2020.
§ 7o Provido o agravo, a Turma deliberará sobre o julgamento
do recurso principal, observando-se, se for o caso, daí em diante, o
procedimento relativo a esse recurso.

O agravo de instrumento, no processo do trabalho, apresenta o prazo de 8 dias úteis


para a sua interposição. O agravo de instrumento determinado no CPC pelo art. 1.015 e
seguintes é completamente distinto do agravo de instrumento no processo trabalhista,
conforme observado pela leitura da lei seca. Assim, trata-se trata de recursos completamente
distintos entre si.

O agravo de instrumento no processo trabalhista cabe apenas contra as decisões


interlocutórias que negam o seguimento de recurso ou que venham a determinar o um fim ao
feito na Justiça do Trabalho, como as deicsões em que a Justiça do Trabalho se julga
incompetente em função da matéria pleiteada e determina a remessa do processo à justiça
estadual13. O próprio portal do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª região produziu um
documento em que explicou a aplicação do agravo de instrumento no processo trabalhista:
“se qualquer recurso não for recebido, seu ingresso pode ser reivindicado por meio de agravo
de instrumento, no prazo de oito dias úteis, a ser julgado pelo Tribunal responsável por
tramitar esse recurso não recebido”.14

O AI, no processo trabalhista, será apresentado perante o juízo que negou o


seguimento ao recurso principal e vem acompanhado das razões, assim como do instrumento
negado, de modo que sempre será instruído com as peças, conforme observado no inciso I, do
§5º do artigo supracitado. É importante notar a necessidade da juntada das peças para que o
tribunal, ao aceitar o agravo, possam julgar o recurso trancado de imediato. 15 A interpretação
de leis relacionadas ao Agravo de Instrumento é devidamente regulamentada pela instrução
normativa nº 16 do Tribunal Superior do Trabalho (TST).

Assim como a maioria dos recursos do processo, o AI possui efeito devolutivo e


regressivo. O efeito devolutivo consiste na devolução do recurso ao órgão julgador da
matéria julgada e impugnada pelas partes recorrentes em situações que o recorrente acredita
ter sido

13
FRANCO, Wanildo José Nobre. Dos agravos e do recurso adesivo no processo trabalhista: doutrina e
jurisprudência. 2004. Disponíveis em:
<https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-19/dos-agravos-e-do-recurso-adesivo-no-processo-trabalhista-do
utrina-e-jurisprudencia/:>, acessado 31 de out. 2020.
14
Disponível em: < https://www.trt4.jus.br/portais/trt4/como-tramita>
15
PAMPLONA FILHO, Rodolfo; SOUZA, Tercio Roberto Peixoto. Curso de Direito Processual do Trabalho. 2ª
ed. São Paulo: Saraiva Educação. 2020, p. 1071.
prejudicado pela decisão do juiz singular. Por meio deste efeito, ocorre a devolução da
matéria recorrida ao tribunal, o qual será responsável por julgar o recurso. Ademais, ele faz
restringe os limites do recurso interposto, sendo que a decisão recursal deve observar e basear
sua decisão apenas com base naquilo que foi suscitado pelo recurso.16

O efeito regressivo, por sua vez, permite que a simples interposição do recurso
permite ao juiz reapreciar o seu pronunciamento. Assim Renato Saraiva discorre que: “ se um
recurso não foi reconhecido por ausência de pressuposto recursal (...) a parte, em eventual
agravo de instrumento demonstrar a presença de todos os requisitos, pode o juízo a quo
reconsiderar a decisão e conhecer do recurso principal”17.

Diante do exposto, nota-se que o AI no processo trabalhista configura um recurso


completamente diferente daquele observado no processo civil. No processo civil, o AI
corresponde como um recurso referente a decisões interlocutórias e apresenta o prazo de 15
dias úteis a partir da publicação da decisão. O processo do trabalho, por sua vez, determina
que tal recurso deverá ser interposto nos casos em que há decisão interlocutória que nega o
recurso dentro desse processo e apresenta um prazo menor que no processo civil, de oito dias
úteis. É de suma importância a observação de que no caso do AI, há a prevalência da lei
especial, mesmo que mais antiga a lei geral, tendo em vista as especificações das relações
trabalhistas e dos conflitos decorrentes dela. Assim, quanto ao AI cabe a aplicação direta do
art. 897, da CLT, na medida em que o procedimento previsto no CPC acarreta em clara
incompatibilidade com a CLT..

IV. CONCLUSÃO

Como visto anteriormente, observamos a aplicação supletiva e subsidiária do CPC nos


casos em que há omissões ou lacunas não previstas pela própria CLT. É possível observar que
o CPC prevê a sua aplicação subsidiária, sendo entendida como a possibilidade da utilização
nos casos apresentados. A aplicação supletiva, por sua vez, se dá de uma forma um pouco
mais completa, de modo que determina o aprimoramento e supressão das falhas encontradas
na CLT.

16
Ibidem, p. 1071- 1073.
17
SARAIVA, Renato. Processo do trabalho – série concursos públicos. Ed. 7. São Paulo: Editora Método, 2010,
p; 254.
Em determinados casos, como vistos anteriormente, é necessário a aplicação supletiva
prevista pelo CPC e não prevista pela CLT, na medida em que tal aplicação evita potenciais
violações ao direito constitucional do reclamante. Este seria o caso de petições iniciais com
pedido genérico em casos em que não há como o reclamante fazer o cálculo exato e correto
sobre o pedido, tendo em vista suas limitações em relação a documentos que devem ser
fornecidos pelo reclamado ou não conseguir prever a totalidade da extensão dos danos logo
na inicial.

Em demais casos, como apresentado no Agravo de Instrumento, deve ocorrer a


interpretação integral da CLT, a qual prevê os requisitos e momentos do AI, os quais são
completamente diferentes do recurso previsto pela CLT. Assim, no recurso em questão, deve
ser observada a aplicação da própria lei trabalhista, uma vez que ela prevê e reconhece as
especificidades da relação processual e material entre as partes.

Observa-se, então, que há subsidiariedade e supletividade do CPC é essencial ao


processo trabalhista desde que se atente aos princípios trabalhistas. As leis trabalhistas,
conforme analisado ao decorrer do trabalho, devem ser observada em primeiro lugar, na
medida em que ela abarca as particularidades do conflito e da relação em o processo se
funda. Contudo, não se pode esquecer que o CPC possui papel fundamental nesse processo e
deve ser aplicado conforme os princípios constitucionais e trabalhistas, visando a garantir a
totalidade do direito das partes, sendo sua aplicação complementar à CTL.

V. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CÂNDIDO, Sheila Dias de Araujo. O pedido genérico na Justiça do Trabalho. 2018.


Disponível em:
<https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-171/o-pedido-generico-na-justica-do-trabalho/
>, acessado em 01 nov. 2020.

FRANCO, Wanildo José Nobre. Dos agravos e do recurso adesivo no processo trabalhista:
doutrina e jurisprudência. 2004. Disponíveis em:
<https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-19/dos-agravos-e-do-recurso-adesivo-no-proc
esso-trabalhista-doutrina-e-jurisprudencia/:>, acessado 31 de out. 2020.

GOMES, Arthur Marcel Batista. Direito Processo do Trabalho. 2017. Disponível em:
<http://www.conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/48602/a-utilizacao-do-direito-process
ual-civil-no-direito-processual-do-trabalho-atraves-da-interpretacao-do-artigo-769-da-clt-em-
relacao-ao-novo-codigo-de-processo-civil>, acessado em 30 de out. 2020.
LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. 8ª Ed. São Paulo:
LTr, 2010.

OLIVEIRA, Fernando José Vianna. Direito processo do trabalho. 2011.Disponível:


<http://www.conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/24853/os-recursos-na-justica-do-traba
lho>, acesso em 30 de out. 2020.

PAMPLONA FILHO, Rodolfo; SOUZA, Tercio Roberto Peixoto. Curso de Direito


Processual do Trabalho. 2ª ed. São Paulo: Saraiva Educação. 2020.

SCHIAVI, Mauro. Manual de Direito Processual do Trabalho. 10ª Ed. São Paulo: LTr, 2016,
p. 159.

THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. Vol. I. 57ª ed. Rio de Janeiro: Forense,
2016

Você também pode gostar