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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA

FACULDADE DE DIREITO

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO -

Segunda resenha

Trabalho apresentado ao Prof. Flávio Bellini de


Oliveira Salles por Rosana Magna Vieira
Santos, discente do 9º período do curso de
Direito da Universidade Federal de Juiz de Fora,
sob o número de matrícula 201604130, como
parte dos requisitos necessários à aprovação na
disciplina Direito Processual do Trabalho.

Juiz de Fora
24 de novembro de 2023
Resenha sobre a obra: A INDICAÇÃO DE VALORES NA INICIAL
TRABALHISTA E SEU REFLEXO NO ACESSO À JUSTIÇA

A obra ora trabalhada “ A indicação de valores na inicial trabalhista e seu


reflexo no acesso à justiça”, de Luiz Ronan Neves Koury e Neiva Schuvartz, inicia
citando que a reforma trabalhista alterou substancialmente aspectos estruturantes
do procedimento trabalhista trazendo “grave retrocesso nos avanços e na posição
de vanguarda ocupada historicamente pelo procedimento”.

Os autores citam diversas alterações que limitam ou dificultam o acesso à


justiça, citando especificamente a alteração trazida ao art. 8º da CLT que limita o
livre exercício da jurisdição que, buscou “esvaziar o direito construído pela
jurisprudência trabalhista”. A simplificação e a facilitação do jus postulandi, que leva
em consideração a diferença de capacidade postulatória das partes, é outro ponto
atacado pela reforma que, segundo os autores, exige formalidade tal, que pode
inviabilizar a justiça até daqueles que possuem capacidade em cálculos e planilhas.

Ora, criar requisitos de difícil cumprimento para a peça inicial serve como um
subterfúgio para não permitir o acesso à justiça, garantido pela Constituição, e,
neste ponto, os autores adentram o foco do trabalho quais sejam, os § 1º e 3º do
art. 840 da CLT.

A alteração feita no §1º do art. 840 que passou a exigir um pedido certo,
determinado e com a indicação de valores para todas as petições iniciais, e não só
aquelas sujeitas ao rito sumaríssimo, aliada a imposição de sucumbência, é citado
pelos autores como uma afronta ao jus postulandi, pois o trabalhador, em grandes
partes das demandas da justiça trabalhista, não está de posse dos documentos
para a correta apuração do valor do pedido, de forma que o coloca numa situação
tal que, caso peça menos do que tem direto, não haverá por conseguir o que lhe é
justo devido, e caso peça a mais, estará sujeito a arcar com a sucumbência da
diferença.

Além disso, mesmo que disponha dos documentos, é necessário dar a


correta interpretação a estes o que pode demandar a contratação de especialista o
que pode ser demasiado penoso ao trabalhador, haja vista que na grande maioria
das vezes este encontra-se desempregado ao ingressar na justiça trabalhista.

Os autores então passam a fazer um paralelo entre a normal legal trabalhista


e a civil para demonstrar que apesar de na área civil não se poder afirmar a
disparidade de força entre as partes, como existe em quase a totalidade das
demandas individuais trabalhistas, a exigência da valoração da causa é mitigada.

Inicialmente citam que apesar do art. 319 do CPC exigir o valor da causa
como requisito da inicial a melhor doutrina afirma que a importância dada ao valor
da causa é principalmente a determinação do procedimento e base de cálculo para
o recolhimento de custas, honorários de sucumbência, dentre outros, e que o
simples fato de o valor ser citado da inicial, mesmo “ainda que não tenha conteúdo
econômico imediatamente aferível”, demonstra não tratar-se de uma antecipação
da liquidação, que poderá ocorrer em momento futuro. Citam também que mesmo
que a parte autora não consiga qualificar de forma exaustiva a parte ré a petição
inicial não será indeferida caso isso torne “excessivamente oneroso o acesso à
justiça”. Ora, tal previsão está de acordo com o preceito constitucional de acesso à
justiça e, portanto, deve ser observado de forma analógica para legislação
trabalhista, haja vista ainda constar nesta o jus postulandi.
Além disso, afirmam que, devido a omissão do legislador trabalhista em
prever a possibilidade de demandas de caráter genérico, especialmente quando
não possível ao autor determinar o valor da causa por depender de documentos
que estejam de posse do réu, permite a aplicação da legislação civil de forma
subsidiária, especialmente as dispostas nos incisos II e III do §1º do art 324 do
CPC e que, na seara civil, o STJ vem se posicionando sobre a não exigência da
liquidação na inicial quando requeiram cálculos complexos. Ora se assim o faz na
seara civil o mesmo entendimento deve ser feito para esfera trabalhista.

A jurisprudência trabalhista já vem se posicionando favoravelmente à


aplicação do §1º do art. 324 quando o autor não tiver acesso aos documentos de
posse da parte ré, devendo a parte autora indicar um valor que não será usado
para limite da execução, mas sim para o recolhimento de custas, assim como este
entendimento também deve ser utilizado no caso do rito sumaríssimo.

Outro ponto levantado pelos autores é de que a extinção do processo sem


resolução de mérito, fere o acesso à justiça e que o código civil permite ao autor
emendar a inicial no prazo de 15 dias, nos termos do art 321 do CPC e, novamente,
sendo omissa a legislação trabalhista, ou civil deve ser usada de forma subsidiária
como já citado na Súmula 263 do TST.

Concluem que a limitação ao acesso à justiça feito pela reforma com a


inclusão dos §1º e §3º do art. 840 fere normas constitucionais e que os tribunais já
vêm se posicionando sobre a relativização destes parágrafos.

Por fim, o texto recorre a uma comparação entre a legislação civil, onde a
disparidade de poder entre os postulantes é quase nula, e a trabalhista, pós
reforma, e cita que esta disparidade de forças na justiça trabalhista aliada a
manutenção do jus postulandi, torna tal legislação alterada verdadeira limitação ao
acesso à justiça e, portanto, inconstitucional. Tal entendimento foi reforçado pelo
recente julgamento da ADI 5766 que julgou inconstitucionais os arts. 790B caput e
§4º e o art 791-a §4º.

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