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475-J
DO CPC À EXECUÇÃO
TRABALHISTA
Lucas de Brandão e Mattos
Aluno do curso de Direito da FA7, orientado pelo prof. Ms. Paulo
Rogério Marques de Carvalho (FA7)
lucasbmattos@hotmail.com
Resumo: O estudo tem por finalidade discutir a aplicação subsidiária do art. 475-J
do Código de Processo Civil ao Processo do Trabalho. Desenvolve-se uma análise
dos problemas da efetividade da execução trabalhista e dos instrumentos jurídicos
da recente reforma do CPC, mais especificamente do artigo em comento e seus
benefícios, como também das vozes dos tribunais e dos juristas sobre o tema. Busca-
se construir uma nova concepção de aplicação do processo comum ao trabalhista,
sob a luz do direito fundamental à tutela jurisdicional adequada e efetiva.
Palavras-chave: Execução trabalhista. Multa do art. 475-J do CPC. Reforma do
processo civil. Cumprimento da sentença.
INTRODUÇÃO
O direito processual existe como instrumento para assegurar a tutela dos
direitos, que para incumbir-se de tal tarefa vai tomando diferentes feições de acordo
com as exigências determinadas pelo direito material. Em um ramo jurídico como
o direito do trabalho, de inegável feição ideológica, esta afirmação torna-se ainda
mais importante para garantir ao trabalhador o real acesso à justiça e, em via oblíqua,
a melhoria da sua condição social, mandamento da própria Constituição Federal.
Porém, no plano prático, podemos observar que o processo trabalhista virou
um negócio lucrativo para os maus empregadores, que confiam nas conciliações
fraudulentas e na morosidade da justiça.
Um dos principais entraves na efetivação dos direitos trabalhistas está,
com certeza, na fase de execução, demorada e inefetiva, pela qual o obreiro deve
passar logo após o calvário da fase cognitiva. Assim o processo trabalhista carece
de instrumentos para efetivação dos direitos sociais.
APLICAÇÃO DO ART. 475-J DO CPC À EXECUÇÃO TRABALHISTA
Das duas condições fixadas no art. 769, da CLT, extrai-se um princípio, que deve
servir de base para tal análise: a aplicação de normas do Código de Processo
Civil no procedimento trabalhista só se justifica quando for necessária e eficaz
para melhorar a efetividade da prestação jurisdicional trabalhista. (2006, p. 920)
Saliente-se que a reforma também acabou com a impugnação por meio dos
embargos, instituindo agora a simples impugnação sem efeito suspensivo do art.
475-L, como também o procedimento de liquidação restou bastante simplificado,
pois quando depender apenas de cálculos ficará a cargo do credor, cabendo
questionamento pelo juiz ou réu, art. 475-B, do CPC. (ASSIS, 2009)
Importante lembrar que esta forma de execução, o cumprimento de sentença,
é cabível apenas nas hipóteses de título executivo judicial, previstas no art. 475-
N, CPC, ressalvadas a execução de sentenças estrangeiras, de alimentos e contra
a fazenda pública, que seguem rito próprio.
O art. 880, caput, da Consolidação das Leis do Trabalho, não se refere, porém,
a nenhum acréscimo para a hipótese de não satisfação voluntária do crédito
exeqüendo, o que leva a afastar-se a aplicação subsidiária da regra do art. 475-J,
do Código de Processo Civil. Solução diversa, ainda que desejável, do ponto de
vista teórico, depende de reforma legislativa. (2006, p. 670)
Porém, a questão está longe de ser pacífica no egrégio tribunal até porque
os tribunais regionais, em sua grande maioria, têm considerado válida a aplicação
do art. 475-J à execução trabalhista. Os juízes singulares, é fato notório, também
têm aplicado as disposições da norma no sentido de tornar mais efetiva, célere e
simplificada a entrega da prestação jurisdicional aos trabalhadores. Citamos um
acórdão para melhor ilustrar nosso posicionamento:
Vale salientar que o juiz do trabalho passa então por esta atividade
construtiva e integradora, sem que as normas do Código de Processo Civil lhe
vinculem automaticamente, visto que, passarão pelo filtro axiológico trabalhista
(MAIOR, 2006, p. 920).
[....] o Juiz do Trabalho, aplicando o CPC, não está criando regras, está apenas
aplicando uma regra processual legislada mais efetiva que a CLT e é sabido que
a lei é de conhecimento geral (art. 3º, LICC). Se há regras expressas processuais
no CPC que são compatíveis com os princípios do processo do trabalho,
pensamos não haver violação do devido processo legal. Além disso, as regras
do CPC observam o devido processo legal e também os princípios do Direito
Processual do Trabalho. (2008, p. 274)
É nesta linha que se encaixa a aplicação do art. 475-J, pois ele institui um
procedimento extremamente eficaz, que dispensa citação ao executado, aplica a
multa coercitiva de 10% e põe fim à nomeação de bens pelo executado, medida
que só gera demora e inefetividade, substituindo-a pela imediata penhora e
avaliação (CHAVES, 2006, p. 59). Tal providência executiva é muito mais efetiva
e perfeitamente compatível com o processo do trabalho, cujo procedimento
executivo, do art. 880 e ss. da CLT, encontra-se em disparidade com as
necessidades de efetivação dos direitos sociais. A utilização do art. 475-J, aliada
ao depósito recursal e a irrecorribilidade das decisões interlocutórias, formam uma
forte medida de distribuição do ônus da demora do processo, que anteriormente
ficava apenas com o jurisdicionado. Dá-se força, assim, às decisões dos juízes
singulares, visto que, o empregador pensará duas vezes antes de propor recursos
meramente protelatórios, dados os custos da medida.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
São muitos os problemas que a jurisdição trabalhista enfrenta para buscar
a entrega do bem da vida àqueles que batem às suas portas em busca de justiça.
O excesso de formalismo na aplicação dos institutos processuais, longe de
uma visão principiológica, transforma o direito processual em um instrumento
de manipulação nas mãos dos maus empregadores e não um instrumento para
assegurar direitos fundamentais.
No Estado Democrático de Direito é papel do Judiciário a garantia dos
direitos, pois é o poder para onde o cidadão recorrerá para garantir seus direitos,
que não podem ser efetivados de mão própria. Assim, ao direito processual
incumbe, como instrumento de efetivação, fazer-se coerente com o direito material.
O processo trabalhista deve ser, nesta ótica, o garantidor dos princípios do direito
do trabalho, principalmente o da proteção e da irrenunciabilidade de direitos.
O juiz do trabalho é um juiz politizado, não num sentido partidário, mas
num sentido de posicionamento assumido diante da questão social (AROUCA,
2007). Investido da ideologia constitucional de concretização dos direitos sociais,
ao magistrado compete a tarefa de garantidor dos mesmos e o dever de utilizar-se
do instrumental jurídico, da melhor forma possível, de modo a garantir o espírito
protetor que emana da seara trabalhista. Como disse Cézar Britto: “para ter
efetividade é necessário afetividade” (Informação verbal)1. Portanto, é necessário
que o jurista assuma compromisso pessoal com os direitos fundamentais, atento
aos reclames da nação e à ideologia constitucional, para conseguir realmente levar
ao jurisdicionado aquilo a que ele tem direito e o Estado se propôs a garantir-lhe.
É com essa visão que defendemos a aplicação do art. 475-J no processo
do trabalho, com a exaustiva argumentação jurídica já exposta, como também
de outros dispositivos que, garantindo o núcleo intangível do direito material e
processual trabalhista, tragam progressos na materialização dos direitos subjetivos
trabalhistas. Pois, o jurista que tem amor pelo direito e pela justiça não aceita
as respostas simples e sim busca as mais efetivas na garantia das finalidades do
Estado Democrático. Empresto as palavras de Mahatma Gandhi: “Dai-me um povo
que acredita no amor e vereis a felicidade sobre a terra”. Portanto, como agentes
da mudança social, cabe-nos atuar com garra e coragem na defesa dos direitos
daqueles que levam a nação nas costas com seu trabalho e não desistem jamais.
1
Palestra do prof. Raimundo Cézar Britto Aragão intitulada: “O poder judiciário na ótica da constituição
cidadã”, no 3º Congresso Latino-Americano de Estudos Constitucionais, em 14 maio. 2009.
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