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PROCESSUAL DO TRABALHO
INTRODUÇÃO
Até agora, com menos um mês de vigência da nova lei, as decisões proferidas pela 1ª
Instância foram para todos os lados possíveis: há juízes que já extinguiram ações por não
trazerem pedidos líquidos e ainda condenaram reclamantes ao pagamento das custas
processuais (mesmo as distribuídas antes da vigência da Lei da Reforma Trabalhista –
11.11.2017); há juízes que aplicaram as novas regras relativas à sucumbência, mas não
as observaram com relação à gratuidade da justiça; há juízes que declararam que as novas
regras somente são aplicáveis aos processos iniciados a partir de 11.11.2017. Infelizmente
não é possível afirmar qual será a linha que prevalecerá.
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No dia 24.11.2017 foi publicado o novo Regimento Interno do Tribunal Superior do Trabalho, com a
alteração e criação de dispositivos em conformidade com o CPC e a nova redação da CLT. O novo
Regimento Interno contempla, por exemplo, a expressa menção à contagem de prazos em dias úteis e
disciplina (art. 246) que a indicação da transcendência somente será exigida para os Recursos de Revista
interpostos em face de acórdãos dos Tribunais Regionais do Trabalho publicados a partir de 11.11.2017.
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uniformizar o entendimento a ser seguido pela Justiça do Trabalho, continuaremos com
dúvidas, e pior, com insegurança jurídica.
CPC – “Art. 1.046. Ao entrar em vigor este Código, suas disposições se aplicarão desde
logo aos processos pendentes, ficando revogada a Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973.”
CPP – “Art. 2o. A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos
atos realizados sob a vigência da lei anterior.”
Na parte do direito material, há previsão expressa. A CLT, na redação do artigo 912 (ainda
na redação original desde a sua publicação, em 1.943), o artigo 6º da Lei nº 13.467/2017
e o artigo 2º da Medida Provisória nº 808, de 14.11.2017, tratam da aplicação imediata
das suas regras, mas sempre mencionando expressamente que tais novas normas se
aplicariam às “relações iniciadas” e “contratos de trabalho vigentes”.
CLT – “Art. 912 - Os dispositivos de caráter imperativo terão aplicação imediata às relações
iniciadas, mas não consumadas, antes da vigência desta Consolidação.”
Lei 13.467 – “Art. 6° Esta Lei entra em vigor após decorridos cento e vinte dias de sua
publicação oficial.”
A questão processual, como se vê, não foi expressamente tratada pela Lei nº 13.467/17.
Talvez por falta de necessidade, no entender do legislador, e, por isso acabou por suscitar
tantas dúvidas para o dia a dia processual. Para analisar a questão, mister se buscar as
regras gerais da vigência das Leis.
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Trilhando o mesmo caminho, o artigo 14 do CPC determina que “a norma processual
não retroagirá e será aplicável imediatamente aos processos em curso, respeitados os
atos processuais praticados e as situações jurídicas consolidadas sob a vigência da
norma revogada”.
Assim, se na audiência inicial a parte reclamada é declarada revel por ter sido
representada por preposto que não era seu empregado (aplicação da Súmula 377 do TST),
em nova audiência posterior a 11.11.2017, a revelia não poderá ser revertida por conta da
aplicação da nova redação do §3º, do artigo 8432 da CLT, que expressamente reconhece
a não necessidade do preposto ser empregado da empresa reclamada. A nova lei não
retroage para atingir esse ato jurídico-processual perfeito e acabado.
A mesma lógica foi aplicada pelo TST quando da alteração dos requisitos processuais
para a interposição de Recurso de Embargos. Para aqueles recursos interpostos antes da
vigência da Lei nº 11.497/07, eram analisados os requisitos previstos na legislação
anterior; para os interpostos a partir da vigência dessa lei, os novos requisitos. Veja-se
decisão proferida pela Exa. Ministra Rosa Weber, quando ainda estava no Tribunal
Superior do Trabalho:
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“Art. 843. (omissis)
§ 3° O preposto a que se refere o § 1° deste artigo não precisa ser empregado da parte reclamada.”
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É a perfeita aplicação do princípio tempus regit actum espelhado pelo artigo 14 do CPC
explicado pelo Ministro Luiz Fux3 da seguinte forma: “a lei processual — e nisso não
difere de nenhuma outra — dispõe para o futuro, respeitando os atos e os ‘efeitos’ dos
atos praticados sob a égide da lei revogada. É a consagração do princípio tempus regit
actum que não impede que os atos processuais futuros e os fatos com repercussão no
processo se subsumam aos novos ditames da lei revogadora.”.
Assim, parece mais defensável a tese de aplicação integral da nova lei na sua parte
processual, inclusive aos processos em tramitação quando da vigência da Lei nº
13.467/17, respeitados os atos processuais já ocorridos.
Com relação à maior parte das alterações de cunho processual da Reforma Trabalhista, o
entendimento da aplicação imediata, inclusive para os processos em andamento, não
encontra barreiras ou oposições. Para algumas poucas matérias, entretanto, a discussão
permanece.
A maior parte das alterações de cunho processual não encontra óbices e grandes
questionamentos quanto à sua aplicação também aos processos judiciais já em curso, a
partir do dia 11.11.2017.
3
Luiz Fux, artigo “O novo Código de Processo Civil e a segurança jurídica normativa” – in
https://www.conjur.com.br/2016-mar-22/ministro-luiz-fux-cpc-seguranca-juridica-normativa
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recolhimento dos depósitos recursais (art. 899, §§ 4º, 9º, 10º e 11º); (ix) o prazo para a
inscrição do devedor no BNDT (Banco Nacional de Devedores Trabalhistas – art. 883-
A); (x) da obrigatoriedade de indicação da transcendência como pressuposto de
admissibilidade do Recurso de Revista (art. 896-A, § 1º); etc.
Há quem defenda, entretanto, que a aplicação imediata dos aspectos processuais da nova
lei deve ser relativizada, especialmente em função das alterações legais de ordem
processual que possam trazer prejuízos ao hipossuficiente, em virtude da aplicação da
vedação à decisão surpresa (artigo 10 do CPC) e em respeito à segurança jurídica.
“De outro lado, argumenta-se existirem modificações muito substancias produzidas pela Lei
da Reforma Trabalhista no Direito Processual do Trabalho, as quais alteram, fortemente, o
cenário jurídico entre as partes, especialmente por conduzirem o reclamante a um elevado
e desproporcional risco processual, em decorrência das novas regras – risco que era
desconhecido no momento da propositura da ação.
Tratar-se-ia, pois, de uma situação fática e jurídica peculiar no ordenamento jurídico
brasileiro, a qual recomenda, em vista da aplicação dos princípios constitucionais da
segurança e da igualdade em sentido formal e material, além do próprio conceito
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fundamental de justiça, que se garanta a incidência dos efeitos processuais do diploma
normativo novo somente para a ações protocoladas a partir de 13 de novembro de 2017.”4
Tal entendimento, porém, não é o único, nem o melhor, concessa venia, que se pode ter
dessa questão. Quando alguém distribui um processo judicial não tem em mente que será
sucumbente naquela pretensão, ao contrário, a parte somente deveria buscar a proteção
do Poder Judiciário quando tem convicção de que um direito foi violado. Do contrário,
seria o mesmo que admitir a plausibilidade da aventura jurídica, da lide temerária.
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Maurício Godinho Delgado e Gabriela Neves Delgado, A Reforma Trabalhista no Brasil com os
comentarios à Lei n. 13.467/2017. LTr, p. 372.
5
Homero Batista Mateus da Silva, Comentários à Reforma Trabalhista, RT, 2017, p. 201 a 203
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Como observado, por enquanto, as decisões são bastante díspares, especialmente sobre
esses temas mais “sensíveis” (liquidação dos pedidos na inicial, gratuidade da justiça,
honorários sucumbenciais e periciais).
Há juízes que, com relação aos processos distribuídos antes de 11.11.2017, não aplicam
as normas processuais relativas a esses temas, sob argumento principal da irretroatividade
e da segurança jurídica6. Confira-se:
“Dessa forma, as inovações quanto à imposição de novos requisitos para concessão dos
benefícios da Justiça Gratuita (art. 790, §§3º e 4º), as regras de sucumbência, incluindo a
sucumbência recíproca (art. 791-A), e da responsabilidade pelo pagamento dos honorários
periciais em caso de sucumbência do trabalhador (art. 790-B), não deverão ser aplicadas
aos processos já em curso, inclusive para aqueles feitos cuja audiência inicial seja designada
para data posterior a vigência da nova norma, em consonância ao Princípio Tempus Regit
Actum, e evitando, assim, a retroatividade da lei.
De outro modo, caso as novas regras fossem aplicadas de imediato, haveria flagrante
violação ao Princípio da Vedação às Decisões-Surpresa (art. 10, CPC), e aos princípios
constitucionais da Segurança Jurídica e do Devido Processo Legal.” (trecho extraído da
sentença proferida nos autos do processo nº 1000762-34.2017.5.02.0709)
Outros, por outro lado, aplicam integralmente as novas regras, inclusive para processos
distribuídos anteriormente à vigência da Lei nº 13.467/17, em especial no que se refere
aos honorários sucumbenciais e à gratuidade da justiça, como por exemplo na sentença
proferida no processo nº 1000935-16.2017.5.02.0044 e 1001016-96.2017.5.02.0044.
Por fim, há casos em que juízes estão extinguindo o processo, pela ausência de liquidação
dos pedidos, mesmo antes do encerramento da instrução. Isso ocorreu, por exemplo, nos
seguintes processos: 1002050-26.2017.5.02.0318 e 1001999-18.2017.5.02.0705.
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No mesmo sentido as sentenças proferidas nos processos: 1000445-92.2016.5.02.0443; 1000775-
73.2017.5.02.0049; 1001134-21.2017.5.02.0373; 1001511-88.2017.5.02.0341; 1001050-
86.2017.5.02.0060 e 1004076-75.2016.5.02.0077.
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Tais decisões absolutamente díspares entre si comprovam que haverá necessidade dos
Tribunais Regionais do Trabalho e do próprio Tribunal Superior do Trabalho orientarem
qual será o Norte a ser seguido.
Nas palavras do Exmo. Juiz do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, Dr. Fábio
R. Gomes7, estamos diante de um “Novo Direito do Trabalho”, onde os pilares que
sustentavam o “Velho Direito do Trabalho” (inflexibilidade das normas, presença maciça
do Estado e o princípio da proteção) estão dando lugar a novos paradigmas: a
flexibilidade, a intervenção mínima do Estado e a mitigação do princípio da proteção.
Os empregados continuarão a buscar a Justiça do Trabalho para receber direitos que lhes
foram sonegados, mas deverão fazê-lo com maior responsabilidade e assim, as decisões
fatalmente serão mais justas.
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Em palestra proferida no dia 17.11.2017, no Seminário “Reforma Trabalhista” promovido pelo IASP,
em São Paulo.