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II – Fontes do direito
III – Relação jurídica
IV – Ramos do direito
V – Interpretação e aplicação das leis
Conceito de Direito: Castro Mendes define-o como: “o sistema de normas de conduta social,
assistido de proteção coativa”.
Jean-Jacques Rousseau
1712-1778
• Para este autor, todos os Homens nasciam livres e iguais, vivendo em contacto com a natureza e segundo os ditames desta.
• O progresso material trouxe a civilização e com ela a corrupção. O desenvolvimento das atividades económicas gera
sentimentos de conflitualidade e comportamentos agressivos como resposta aos problemas de uma sociedade marcada pela
desigualdade no que respeita à posse da terra e à propriedade de outros bens.
• No status naturalis, os Homens tornam-se egoístas e a insegurança insuportável.
• Para restabelecer a felicidade perdida, havia que imaginar um contrato social que oferecia um mínimo de segurança e bem-
estar. Para este autor, no contrato social, “os Homens obrigaram-se a submeterem-se à volonté générale que, traduzindo as
suas vontades, implica a sujeição de cada indivíduo à sua própria vontade”.
Thomas Hobbes
1588-1679
Leviathan (1651)
• Para este autor, o Homem, profundamente egoísta, procura obter vantagens só para si à custa dos outros, lançando
todos em guerra contra todos, sedento do poder individual.
• No status naturalis, os Homens viviam em guerra contínua, portando-se como lobos de si próprios.
• Para por fim a este status, “os Homens constituíram, através de um pactum de sujeição, o Estado, ao qual cederam
os seus direitos para obterem a segurança e o fim da luta”. Com a celebração do contrato social, cada Homem
renuncia à sua liberdade e submete-se à autoridade absoluta do Estado em troca de proteção. A vontade do Estado
é o único critério de justiça.
John Locke
1636-1704
• Para este autor, em cada indivíduo há aspetos bons e maus, tendências para a prática do bem e do mal, o que pode
ser determinado pelo temperamento, pela educação ou pelas circunstâncias da vida.
• No status naturalis, a maioria respeita as leis da natureza, mas há sempre uma minoria de indivíduos que são
delinquentes. No estado de natureza, todo o indivíduo tem dois direitos fundamentais: o direito de preservar tudo o
que lhe pertence e o direito de julgar os outros e de puni-los.
• Por isso, os homens compreendem que não lhes é útil continuar a viver em estado de natureza, apesar das suas
vantagens, e decidem passar ao estado de sociedade, mediante a celebração de um contrato social e a consequente
criação de uma autoridade social com poder de governar a comunidade. No entanto, este contrato limita a
intervenção da sociedade política à garantia da liberdade individual e da propriedade privada e impõe-lhe o respeito
pela vida privada, económica ou familiar.
Estado (Estado-sociedade)
Povo (conjunto de pessoas submetidas à ordem jurídica estatal)
Território (elemento material, espacial ou físico do Estado, marcado por fronteiras, que
Elementos podem ser naturais ou artificiais, e que compreende a superfície do solo que o Estado
ocupa, o espaço fluvial, marítimo, lacustre e aéreo)
Poder político (organização necessária ao exercício do poder político)
Função política – definição e prossecução pelos órgãos do poder político dos interesses
essenciais da coletividade
Função legislativa – prática de atos legislativos pelos órgãos constitucionalmente competentes
Funções Função jurisdicional – julgamento de litígios suscitados por conflitos entre interesses privados
e públicos e privados
Função administrativa – satisfação das necessidades coletivas que, por virtude de prévia opção
política ou legislativa, se entende que incumbe ao Estado prosseguir
O Direito Positivo é o ius civitate positum, isto é, o direito "posto na sociedade", nela inserido com
algo tangível. Assim, o conjunto de normas jurídicas reguladoras da convivência humana que neste
momento estão em vigor em Portugal ou que alguma vez vigoraram numa comunidade, expressas
nos códigos e em leis avulsas, formam o Direito Positivo. O Direito Positivo é obra humana e é
contingente, é tangível e varia de época para época e de país para país.
O Direito Natural é definido como o direito que devia vigorar, porque assenta na dignidade da pessoa
humana e representa o reflexo imediato da Justiça. Trata-se, portanto, de regras fundadas na
essência humana e, por conseguinte, não localizadas nem no tempo, nem no espaço; não estão
vertidas em nenhum código, nem foram gizadas pela mão humana.
Fins do Direito
Justiça
• Primeiro e principal fim do Direito
• Deve ser, “para o Direito, uma bússola e um farol”
• Iustitia est constans et perpetua voluntas ius suum cuique tribuere
• Noção: a justiça é um conjunto de valores que se impõem quer ao Estado, quer aos cidadãos, no
sentido de dar a cada um o que lhe é devido, e o critério geral acerca do que, em nome da justiça, é
ou não devido a cada um, deve ser definido em função da dignidade da pessoa humana
▪ Comutativa – visa corrigir os desequilíbrios que se verifiquem nas relações
contratuais e nos atos involuntários ilícitos interpessoais
▪ Distributiva – rege a repartição dos bens comuns pelos membros da sociedade,
• Modalidades: segundo o critério de igualdade proporcional que atende à finalidade da
distribuição.
▪ Geral ou legal – rege a participação dos membros da sociedade nos encargos
comuns, segundo critérios de igualdade proporcional
A B Estado
Justiça Geral
(ou legal) A B
Segurança
▪ A segurança internacional, sem a qual não haverá paz entre os povos;
▪ A segurança pública interna, sem a qual ficam perturbadas a ordem e tranquilidade públicas;
▪ A segurança individual, que as autoridades e a polícia devem garantir para prevenir a prática de
crimes contra a vida, a liberdade ou a propriedade das pessoas;
▪ A segurança sócio-económica, que se consegue através do estímulo à poupança individual e do
recurso às companhias de seguros, etc.;
▪ A segurança jurídica, que impõe a criação de mecanismos capazes de contribuir para a certeza do
Direito.
Exemplos de segurança jurídica:
• Princípio ignorantia iuris non excusat (art. 6º CC);
• Efeito de caso julgado (art. 628º Código Processo Civil);
• Princípio da irretroatividade da lei (art. 12º, n.º 1 CC; art. 29º, n.º 1 CRP);
• Usucapião (art. 1287º CC);
• Prescrição (art. 309º CC; art. 115º Código Penal);
• Caducidade (art. 329º CC).
Considerando a definição de Direito (Castro Mendes) como sistema de normas de conduta social,
assistido de proteção coativa, podemos concluir que tal noção assenta em três ideias fundamentais:
1. Sistema;
2. Norma;
3. Proteção coativa.
Porque:
1. o conjunto de regras ou normas se encontra articulado em termos de coerência, em torno de uma
ideia central – a ideia de Direito;
2. as suas regras objetivas têm de ser interpretadas de acordo com certos critérios lógicos e técnicos,
em harmonia com a sua função num dado conjunto;
3. os casos omissos têm de ser resolvidos de harmonia com determinados métodos integradores,
que em última análise se reconduzam à descoberta e aplicação do “espírito do sistema” (art. 10.º,
n.º 3, do CC);
4. o conjunto das normas que o compõem está organizado, enquadrado e enformado por princípios
gerais;
5. preocupa-se em assegurar, tanto quanto possível, “uma interpretação e aplicação uniformes do
direito” (art. 8.º, n.º3, do CC), estando previstos diversos modos de garantir a uniformização da
jurisprudência; 6. nele vigora o princípio da plenitude da ordem jurídica (arts. 10.º e 8.º, n.º 1, do CC
e 20.º da CRP).
Estrutura:
a) Previsão – tal como refere Eduardo Norte Santos Silva, a previsão é "o desenho abstrato de uma
situação futura e incerta, à qual, se, e quando, vier a concretizar-se (a passar do campo da hipótese
possível, para o campo do realmente acontecido) há de ser aplicado um comando determinando
uma conduta, um comportamento, ou um resultado jurídico“, ou seja, é a representação da vida
social que se pretende regular;
b) Estatuição – segundo o mesmo autor, corresponde "quer à conduta que há-de obrigatoriamente
ser prosseguida quando, e se, a hipótese apresentada na previsão se concretizar, quer aos efeitos
jurídicos que são imputados a um evento, efeitos que se vão traduzir na atribuição de poderes ou
faculdades ou na imposição de deveres";
c) Sanção – nas palavras do mesmo autor, "é o resultado onerativo para o agente destinatário da
norma que lhe advém de ter tido um comportamento diverso daquele que se contém na estatuição,
daquele que é imposto pelo comando normativo“, ou seja, é a consequência da violação da
estatuição (no sentido mais corrente).
Norma em sentido lato ou lato sensu: corresponde ao elemento autónomo da forma por que
nos aparece a ordem jurídica, designadamente os textos legais.
Classificações da norma jurídica lato sensu:
Normas permissivas
Normas imperativas
Permitem ou autorizam certos comportamentos.
Impõem um dever, uma conduta. Subclassificam-se em:
Subclassificam-se em:
• Normas facultativas – permitem ou facultam certos
Normas precetivas Normas proibitivas
comportamentos, reconhecendo determinados poderes ou
Quando a conduta que Quando a conduta que
faculdades e deixando ao arbítrio do indivíduo praticar ou
impõem é uma ação, um impõem é uma omissão,
não esses atos.
facere. um non facere.
– Permissão pura (ex. art.: 1036º CC)
Ex.: art. 1347º CC. – Concessão de autonomia da vontade (ex.: art. 223º CC)
Ex.: art. 1320º, n.º 2 CC.
• Normas supletivas – só se aplicam aos negócios jurídicos
se as partes não tiverem excluído a sua aplicação ou não
Normas diretas Normas indiretas tiverem previsto o regime a aplicar (ex.: art. 772º CC)
• Normas interpretativas – esclarecem o sentido do trecho
São aquelas cujos destinatários São aquelas cujos destinatários
com valor jurídico
são intervenientes na vida são aqueles que pretendem
– Normas interp. da lei (ex.: art. 349º CC)
social. (Ex.: art. 406º CC) aplicar normas jurídicas e
– Normas interp. de negócios jurídicos (ex.: art. 2227º)
resolver problemas de direito.
(Ex.: art. 939º CC)
3- Proteção coativa
• A coercibilidade consiste na possibilidade ou suscetibilidade de aplicar sanções, pela força se
necessário for, assegurada pelo aparelho estadual
• A proteção coativa, isto é, os meios adotados em defesa da ordem jurídica podem ser,
fundamentalmente, de duas espécies:
– Tais meios podem atuar antes de ocorrer a conduta que viola a estatuição da norma jurídica,
com o escopo de evitar essa violação Proteção preventiva
– Como podem igualmente esses meios atuar após a violação da norma, tendo então por principal
fim repor a situação como existia antes da violação e reprimir o agente violador (que, porque é
livre, é responsável) Proteção repressiva
Espécies:
a) sanções materiais – o aspeto mais relevante é a alteração da situação da vida social
b) sanções jurídicas – o aspeto mais relevante é a consequência imposta pela ordem jurídica;
projeta-se sempre primariamente no plano jurídico.
Sanções materiais
a) Sanções compulsórias
– Sanção pecuniária compulsória (art. 829.º-A)
– Direito de retenção (arts. 754.º e ss.)
– Cumprimento coativo (art. 828.º)
b) Reintegração ou sanções reconstitutivas
– Sanção material reintegradora por reconstituição natural
– Execução específica
– Sanção material reintegradora por equivalente ou sucedâneo pecuniário
c) Reparação ou sanções compensatórias
– Compensação por danos morais também designados por danos não patrimoniais (cfr. art.
496º do CC)
d) Sanções punitivas
– Criminais
– Civis
– Disciplinares
– Contraordenacionais
Sanções jurídicas
a) Inexistência jurídica: ocorre quando nem sequer aparentemente se verifica qualquer
materialidade de certo ato jurídico e neste caso nem sequer produz quaisquer efeitos, não havendo
sequer necessidade de um reconhecimento da sua invalidade.
b) Invalidade: o ato existe materialmente, mas sofre de um vício que conduz a que não produza os
efeitos jurídicos a que tende.
a) Nulidade
b) Anulabilidade
c) Ineficácia em sentido estrito: supõe que o ato não possui, segundo a lei, qualquer vício intrínseco,
mas não obedece a um requisito extrínseco, a algo exterior ao ato em si, tal como a lei o configura,
mas de que depende a sua eficácia. Nesse caso, o ato pode não produzir quaisquer efeitos ou apenas
parte dos seus efeitos jurídicos.
Proteção preventiva:
a) Medidas de segurança (arts. 91.º e ss. e 104.º e ss. do Código Penal)
b) Procedimentos cautelares (arts. 362.º e ss. do Código de Processo Civil)
c) Medidas de coação (arts. 196.º e ss. do Código de Processo Penal)
d) Inabilitação de autor de um determinado delito para o exercício de certa atividade ou profissão
Justiça Privada, Autotutela ou Tutela Privada do Direito (cfr. art. 1º, 2ª parte, do CPC)
a) Ação direta (art. 336.º do CC)
b) Legítima defesa (art. 337.º do CC)
c) Erro acerca dos respetivos pressupostos (art. 338.º do CC)
d) Estado de necessidade (art. 339.º do CC)
II - Fontes de Direito
Capitulo 1- Enunciação
• Sentido instrumental – significa a sede material, o texto ou diploma legislativo que contem normas
jurídicas.
– Lei – Jurisprudência
– Costume – Doutrina
Capitulo 2 – Lei
▪ Por vezes, a expressão lei é entendida como o conjunto dos princípios que regem todos os seres
humanos;
▪ Em sentido latíssimo, a expressão lei identifica-se com o Direito, ou seja, é toda e qualquer regra
jurídica;
▪ Em sentido lato, a expressão lei é entendida como norma jurídica criada de certa forma,
nomeadamente por decisão e imposição de uma autoridade com poder para o efeito, por oposição
ao costume;
▪ Em sentido intermédio, a expressão lei é entendida enquanto oposta a regulamentos;
▪ Em sentido estrito, reconduz-se apenas às leis emanadas da Assembleia da República por
oposição aos decretos-leis emanados do Governo.
1. Origem: a lei deriva direta e unilateralmente – é um ato jurídico unilateral – do Estado, é a sua
criação, emanação dos órgãos estatais / poder legislativo
2. Fim: destina-se a produzir Direito; é uma fonte voluntária, consciente, refletida; é um ato
intencionalmente dirigido a esse objetivo
3. Forma escrita
4. Forma solene
Lei material é aquela que possui um conteúdo normativo (isto é, que contém uma ou mais
normas gerais e abstratas), seja qual for a sua forma externa.
Lei formal é a que se reveste das formas destinadas por excelência ao exercício da função
legislativa do Estado, ou seja, a atividade exercida pelos órgãos aos quais a Constituição atribui
o poder legislativo, que são três:
1. Assembleia da República Leis
2. Governo Decretos-Leis
3. Assembleias Legislativas Regionais Decretos Legislativos Regionais
Regulamentos – são normas jurídicas emanadas de uma autoridade administrativa sobre matéria
própria da sua competência, estatuindo dentro dos limites determinados pela lei ou para execução
desta (art. 112.º, n.º 7, CPR). Correspondem ao exercício do poder regulamentar que é legislativo só
em sentido amplo.
Revogação tácita
b) Revogação: traduz-se no afastamento da lei Não há revogação expressa, mas as normas da lei
por outra lei posterior, de valor hierárquico posterior são incompatíveis com as da anterior
igual ou superior (art. 7.º, n.º 1, 2.ª p., CC) (art. 7.º, n.º 2, 2.ª p., CC)
A ordem de prioridade
Revogação de sistema
não se define pela Tem lugar quando o legislador pretende que um
entrada em vigor, mas determinado diploma legal seja o único diploma
sim pela publicação. V. legal incidente sobre determinada matéria (art.
art. 7.º, n. os 3 e 4, CC 7.º, n.º 2, 3.ª p., CC)
Noção de costume: é a observância geral, constante e uniforme de uma regra de conduta social,
acompanhada da convicção da sua obrigatoriedade por parte da opinião comum.
Classificações do costume:
Freitas do Amaral considera que, em certos casos, jurisprudência pode ser considerada fonte iuris
essendi:
a) Nas decisões judiciais com força obrigatória geral que declarem a inconstitucionalidade ou a
ilegalidade de uma norma em vigor - fonte iuris essendi. V. art. 282.º, n.º1, da CRP.
b) Nas decisões judiciais com força obrigatória geral que uniformizem o modo de interpretação de
uma norma vigente, optando entre duas ou mais interpretações possíveis - fonte iuris cognoscendi.
c) Nas decisões judiciais com força obrigatória geral que uniformizem o modo de integração de
uma lacuna do ordenamento - fonte iuris essendi.
d) O mesmo se deve dizer das correntes jurisprudenciais uniformes: se forem meramente
interpretativas, serão fontes iuris cognoscendi; se forem integradoras, serão fontes iuris essendi.
Noção de doutrina:
“Conjunto das noções, teorias e opiniões, formuladas por escrito pelos teóricos da Ciência do
Direito (“jusperitos”, que são os professores de Direito, que ensinam, os escritores de Direito, que
investigam e publicam os resultados do seu estudo, e os jurisconsultos, que em pareceres técnicos
se pronunciam sobre a aplicação do Direito aos casos concretos da vida real), que dão a conhecer
aos juristas práticos (designadamente, os técnicos jurídicos da Administração Pública, os
profissionais do foro, os notários, conservadores, juristas de empresas, solicitadores, etc.), aos
estudantes e aos cidadãos comuns o conteúdo e significado de um certo ordenamento jurídico
(neste caso, a doutrina “transmite e informa” sobre o Direito vigente), e influenciam os Poderes
legislativo (a doutrina é ouvida na maior parte das reformas legislativas) e judicial (a doutrina
pronuncia-se sobre a melhor forma de aplicar o Direito aos casos concretos) no exercício das
respectivas funções.”
- Freitas do Amaral
No nosso ordenamento jurídico atual, a doutrina é tendencialmente considerada uma fonte iuris
cognoscendi. No entanto, Freitas do Amaral aponta três situações em que a doutrina funciona
como fonte iuris essendi:
a) A elaboração de “princípios gerais de Direito”;
b) A decisão legislativa ou judicial-normativa tomada por uma mera remissão para um texto
doutrinal;
c) A doutrina, ou Ciência do Direito, como fonte integradora de conceitos utilizados pela lei, mas
não definidos por ela (integração de conceitos jurídicos puros).
IV – Ramos do Direito
Direito Internacional: é o direito que regula as relações interestaduais,
Direito objetivo isto é, entre Estados e/ou outras entidades equiparadas a Estados.
Direito interno: é o direito que regula as relações intraestaduais, isto é,
dentro de um Estado. Direito Constitucional
Direito Administrativo
Direito Financeiro
Público Direito das Obrigações Direito Fiscal
Direito interno Direito das Coisas Direito Penal
Comum - Direito Civil Direito da Família Direito Processual
Privado Direito das Sucessões
Direito Comercial
Especial
Direito do Trabalho
Direito Publico Direito Privado
Respeita às relações estabelecidas entre os Respeita às relações entre particulares,
particulares e o Estado ou outros entes fundadas na igualdade jurídica, na liberdade
públicos, sendo igualmente o direito interno ou autonomia.
do Estado, da sua orgânica, em que são
dominantes os interesses públicos, e que se
fundam em relações de autoridade, de
disparidade e de heteronomia.
Noção: é a investigação intelectual para determinação ou fixação do exato sentido e alcance da lei,
com vista à sua aplicação (art. 9.º CC).
Esta atividade interpretativa deve obedecer a um conjunto de regras que se denomina técnica ou
método de interpretação ou ainda hermenêutica, por forma a evitar o casuísmo ou arbítrio do
julgador.
Esta atividade passa, em primeira linha, pela análise da construção literária das palavras que
compõem a norma; mas também pela procura da vontade e pensamento do seu órgão criador; e não
se pode olvidar que a norma se integra num conjunto de normas e perde a individualidade.
Classificações da interpretação
I - Classificação quanto ao agente ou quanto à sua fonte e valor
1. Interpretação legal: feita pelo legislador, mediante a chamada “lei interpretativa”. V. art. 13.º CC.
▪ Interpretação autêntica: realizada por uma lei interpretativa de valor hierárquico igual ou superior
à lei interpretada; tem força obrigatória geral.
▪ Interpretação oficial: realizada por lei interpretativa de inferior valor hierárquico; tem valor
vinculativo restrito à cadeia hierárquica subordinada ao órgão criador da lei interpretativa.
2. Interpretação judicial, prática ou jurisprudencial: realizada por entidade com funções judiciais, que
aplica a lei aos casos concretos para tal efeito submetidos à sua apreciação; a sua força vinculativa
circunscreve-se ao caso concreto a que a lei se aplicou.
3. Interpretação doutrinal, teórica ou particular: aquela cujo agente não é legislador nem atua no
decurso de função judicial; tem mero valor persuasivo, em função do prestígio do intérprete seu
autor, da sua lógica argumentativa, da exatidão dos princípios em que se baseie ou da razão que
demonstre ter.
IV - Outras classificações
1. Interpretação subjetivista: visa perceber o sentido e alcance da lei que se interpreta pela
reconstituição do pensamento concreto do legislador; busca descortinar a mens legislatoris. Logo, a
lei deve valer com o sentido que foi querido pelo legislador.
2. Interpretação objetivista: visa fixar o sentido e alcance da lei desligando-a do seu agente criador,
ou seja, procura a mens legis. Assim, abdica-se da vontade real do legislador, devendo a lei valer com
o sentido mais razoável que o seu texto inculque no espírito do intérprete.
3. lnterpretação histórica: procura reconstituir o sentido e o alcance que a lei coerentemente teria
no momento histórico da sua elaboração e entrada em vigor, face aos circunstancialismos então
existentes, valorizando a occasio legis.
4. Interpretação atualista: pretende captar o sentido e alcance que a lei tem no momento da sua
aplicação a cada caso concreto.
a) Analogia: “há analogia sempre que no caso omisso procedam as razões justificativas da
regulamentação do caso previsto na lei” (art. 10º, n.º3, CC), ou seja, sempre que a razão de decidir
no caso omisso e no caso previsto seja a mesma.
b) Criação de um preceito conforme ao sistema: se o método analógico não for possível, “a situação
é resolvida segundo a norma que o próprio intérprete criaria, se houvesse de legislar dentro do
espírito do sistema” (art. 10.º, n.º3).
É possível suceder que duas ou mais leis concorram na sua aplicabilidade a um caso concreto (por
exemplo, uma lei encontrava-se em vigor no momento em que o caso acontece, no tempo em que
o facto foi praticado, e foi entretanto revogada ou caducou; outra lei está em vigor no instante em
que o julgador decide), pelo que se coloca a questão de saber qual das leis deverá ser aplicada.
a) Por vezes, o legislador prescreve expressamente as regras que vão regular a aplicação temporal
da nova lei (direito ou disposições transitórias).
b) Podem igualmente aplicar-se regras gerais que constituem critérios próprios de certos ramos do
direito (v.g. Direito Processual, Direito Penal e Direito Fiscal)
c) Art. 12.º, n.º 1, CC – a “lei nova só dispõe para o futuro; ainda que lhe seja atribuída eficácia
retroactiva, presume-se que ficam ressalvados os efeitos já produzidos pelos factos que a lei se
destine regular” - Princípio da não retroatividade da lei
d) Art. 12.º, n.º 2, CC • A lei que se destina a regular as condições de validade substancial ou formal
de quaisquer factos ou sobre os seus efeitos só se aplica aos novos factos, ou seja, aos factos que
venham a ocorrer após a sua entrada em vigor. • A lei que se refere diretamente ao conteúdo de
certas relações jurídicas, isto é, reguladora de direitos e deveres de que são titulares os respetivos
sujeitos aplica-se não só às relações jurídicas que depois se constituam, mas também às relações já
constituídas.
e) Art. 13.º CC
II. Aplicação da lei no espaço
(Normas de conflitos – arts. 25.º ss. CC; Convenções Internacionais; Regulamentos UE)
1. Personalidade e capacidade: é aplicável a lei da nacionalidade dos indivíduos (arts. 25.º a 34.º)
2. Negócios jurídicos: em relação à forma, é aplicável a lei do lugar; em relação à substância, depende
da sua natureza (arts. 35.º a 40.º)
3. Obrigações: é aplicável a lei que os sujeitos tenham designado, se resultarem de negócios jurídicos
(arts. 41.º a 45.º)
4. Coisas: o regime da posse, da propriedade e dos outros direitos reais é definido pela lei do Estado
em cujo território as coisas se encontram situadas (arts. 46.º a 48.º)
5. Família: as relações conjugais são reguladas, sucessivamente, pelas leis da nacionalidade comum,
da residência habitual comum ou do país a que a vida familiar se ache mais estreitamente ligada,
respetivamente se os cônjuges tiverem a mesma nacionalidade, residência habitual comum ou nem
aquela nem esta. Às relações entre pais e filhos aplicar-se-ão, sucessivamente, a lei nacional comum
dos pais, a lei da sua residência a habitual comum ou residirem habitualmente em Estados diferentes
(arts. 52.º a 57.º)
6. Sucessões: aplica-se a lei pessoal do de cujus ao tempo do seu falecimento (arts. 62.º a 65.º)