Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Ideia de que o Laissez-faire é um mito – Estado liberal: ideia de uma economia que se
desenvolveu sem a participação do Estado.
Direito comercial: regulação garantiu as condições para que o comércio se
desenvolvesse, por exemplo.
No âmbito individual também: importância de uma regulação jurídica para que
se possa garantir esses desenvolvimento.
Necessidade de se estruturar uma regulação após essas revoluções (códigos como
instrumentos perfeitos de regulação social) – 1804 = Código Civil de Napoleão,
código comercial, etc.
Código de Napoleão seria tão perfeito que não precisaria ser mudado, não
precisaria ser interpretado, só aplicado.
A falha está em achar que o processo se acaba nessa estruturação da
regulamentação – França, por exemplo, considerava essa codificação como a última
etapa do projeto jusnaturalista, conteria todas as soluções.
Pretensão, do ponto de vista da racionalidade, de ser universal.
Excesso de racionalismo – jusnaturalismo do séc. XVII e XVIII
Direito privado individualista e formalista, influenciado pelo racionalismo (razão
é libertadora e através dela se constroem sistemas perfeitos de leis que garantem a
harmonia social).
Obs.: mero silogismo lógico x interpretação – dificilmente as próprias regras vão advir
de um mero silogismo lógico, precisam também da interpretação.
ALEMANHA:
Vai tentar primeiramente entender o direito a partir da história (Escola Histórica
Alemã) – reação ao racionalismo.
Grande problema da escola histórica alemã: método histórico sempre foi
extremamente formalista; alemães queriam recompor a história pra compreender o
que é o direito – através das fontes romanas (pandectas romanas), para então definir
o que é propriedade, por exemplo, e aí resolver os problemas jurídicos.
Isso traçou um caminho para a Escola das Pandectas – onde os professores iriam
procurar nas pandectas romanas todas as soluções para os problemas jurídicos.
Jhering: em sua primeira fase era formalista; jurista como um químico, pois
um químico trabalha reunindo elementos – conceitos menores se unem a conceitos
maiores, se desdobram, aglutinamento de conceitos... o que formaria uma grande
pirâmide conceitual.
Ir às fontes romanas e depurar conceitos através da razão e refinamento
conceitual, formalização.
Ao longo do século XIX, apesar de eles começarem sendo contrários a um código
(embates famosos entre juristas franceses, que defendiam a necessidade de um código,
e juristas alemães, sustentando o contrário), acabou levando a Alemanha à construção
de um pensamento jurídico tão formalista que, no final das contas, a existência de um
código civil acabou sendo um passo bem natural diante daquele contexto.
Peculiaridade do código alemão: código alemão inovou e passou a ter uma parte geral
(o que não havia no código francês nem nos outros códigos europeus, influenciados
pelo código francês) (isso passou pro Brasil também) – essa parte geral era a
positivação da teoria geral do direito privado = alemães trouxeram aquele arcabouço
conceitual com o qual eles já trabalhavam para dentro da própria lei.
nosso primeiro código civil também trouxe essa parte geral, o que demonstra
uma preocupação conceitual, mais analítica, preocupação essa que os franceses não
tiveram.
Preciosismo, preocupação com os conceitos era tão grande que o formalismo foi pouco
a pouco cedendo.
Por caminhos distintos Alemanha e França chegaram a resultados muitos próximos
(direito privado individualista, formalista, patrimonialista; individualismo e
formalismo andam juntos no século XIX).
Ideia de direito subjetivo como zona de imunidade que o legislador atribui a
aquele titular -> Abuso de direito como uma contradição em termos, pois se alguém
está no exercício de um direito, ele pode usá-lo em toda a sua extensão, pode exercer o
direito inclusive com o objetivo de causar mal a uma outra pessoa, e mesmoassim esse
tipo de conduta é considera admissível.
Um dos principais legados das revoluções liberais é o direito subjetivo que era
direito vinculado ao sujeito, que tinha como razão de ser o próprio valor da pessoa
humana – aspecto moral que vem do jusnaturalismo.
Direito subjetivo como poder da vontade Savigny (primeira metade do
séc. XIX): direitos subjetivos procuram propiciar aos seus titulares um certo domínio
da sua vontade Direito subjetivo alicerçado à vontade – trabalha-se com esse
potencial moral do direito; falar em vontade é, de certa forma, valorizar o indivíduo.
Ao longo do século XIX, outras visões de direito subjetivo vão sendo propostas até que,
no final do século XIX, chega-se a visão da Pandectística.
Pandectística (final do século XIX): visão de direito subjetivo, proposta por
Windscheid direito subjetivo como o poder jurídico do querer = soldar o direito
subjetivo a lei – a partir dessa definição o direito subjetivo passa a ter sua razão de ser,
seu fundamento de legitimidade não mais no valor do homem, não mais no poder da
vontade, mas sim no fato de ter sido autorizado pelo legislador; direito subjetivo como
poderes conferidos pela ordem jurídica; como se o direito subjetivo tivesse sido soldado
ao direito objetivo; retira-se desses direitos qualquer reflexão mais profunda acerca de
quais são seus fundamentos, suas finalidades, em que medida aquele direito precisa
atender a alguma exigência social ou de intersubjetivade; concepção extremamente
formalista; se o direito subjetivo é uma mera forma dada pelo legislador, é tão somente
uma mera zona de autonomia dada ao cidadão pelo legislador, então o cidadão poderia
fazer o que ele bem entendesse com essa zona de autonomia, sem que haja qualquer
tipo de limite (exemplo das galinhas nas propriedades onde os aviões cruzavam,
proprietários vieram exigir seu direito de propriedade – como que esses direitos
subjetivos no século XIX eram vistos de forma extremamente individualista e absoluta
– direito subjetivos como poderes absolutos dados ao titular por meio de um direito
objetivo, naquilo que a lei lhe dá uma zona de autonomia ele é soberano e pode fazer o
que ele quiser sem que alguém possaquestioná-lo ou limitá-lo).
Noção incompatível com a convivência social!!!! Direito de vizinhança é uma
prova concreta disso (se cada proprietário for exercer seus direitos como bem entender,
então ele acaba limitando o seu vizinho de exercer seu respectivo direito).
DIREITO EXTREMAMENTE INDIVIDUALISTA E FORMALISTA!!!!
A regra geral desse direito privado é ser extremamente individualista e formalista
Por diferentes caminhos, estabeleceu-se um direito privado muito semelhante no
ocidente (Dunkan Kennedy – primeira fase da globalização do direito).
BRASIL
Quando acontecem essas revoluções liberais, o Brasil ainda era colônia de Portugal;
Portugal já tinha tradição de trabalhar com leis escritas, com ordenações = leis
escritas, mas sem nenhuma pretensão de sistematicidade ou de ser um sistema perfeito
e acabado de leis, como era na França, mas elas já davam uma primeira configuração
ao direito português e que depois passou a ser incorporado na colônia.
1822: Brasil conquista sua independência – há que se manter a legislação vigente, para
não cair no caos social ou em vácuo legislativo, que basicamente eram asordenações
Filipinas (do começo do século 17, já estavam defasadas).
A partir do momento que França e outros países começam a ter seus códigos (civil,
comercial), era natural que os juristas daqui tivessem essas legislações como uma
referência.
Esforços desde a independência para que se tenha um código no Brasil.
Uma primeira dificuldade: separar o direito civil do comercial.
Deu certo na França, mas no Brasil havia um grande debate. Muitos juristas
diziam que não havia uma autonomia do direito comercial que justificasse essa
separação, achavam que os comerciantes queriam uma legislação de privilégio e que,
portanto, não deveria se admitir essa separação.
Se havia uma necessidade de uma legislação civil para regular as relações entre os
cidadãos, no âmbito comercial essa necessidade era ainda maior.
Isso que explica a união dos comerciantes para que, já que o código civil estava
demorando a sair, pelo menos houvesse um código comercial.
1850 – Código Comercial do Brasil (saiu bem antes do código civil, de 1916),
que, assim como os códigos europeus, permitiam uma série de situações aos
comerciantes que não eram estendidas aos cidadãos comuns (jurisdição e processo
especiais para comerciantes) reflete as tendências de até então: patrimonialismo,
individualismo e formalismo; retira o Estado de qualquer tipo de controle sobre a
atividade privada e é estruturado para que os comerciantes tenham a maior liberdade
possível.
Na ausência de um código civil (só veio em 1916), então, o próprio código comercial
acabou ocupando um grande protagonismo nas relações civis a referência legislativa
que havia no Brasil, então, para regular as relações civis era o código comercial, que
era marcado pelo espírito de lucro, pelo profissionalismo, por características específicas
das relações comerciais = mercantilização das relações privadas no Brasil (mesmo
as relações civis eram tratadas como se fossem relações comerciais).
Isso só muda, de certa forma, a partir do Código Civil (1916, vigor em 1917) além
dos livros específicos, há uma parte geral que é positivação da teoria geral (influência
alemã); Clóvis Bevilaqua – responsável pela produção do projeto desse código; jurista
a frente do seu tempo; formação alemã; proposta semelhante à alemã =além dos livros
específicos, há uma parte geral (quem pode ocupar os polos de uma relação, quais são
os bens...) para positivar uma teoria geral do direito privado, base conceitual
principiológica.
Conceito principal da parte geral: relação jurídica (visto como a
relação intersubjetiva que une uma ou mais pessoas em dois polos, atribuindo a cada
um direitos, deveres, ou ambos); assim, buscou disciplinar a parte geral as pessoas
que poderiam figurar como sujeitos ativos e passivos nessa relação; objeto da relação
jurídica, vínculo jurídico que une as pessoas ao objeto; causa do vínculo.
Código Brasileiro, apesar de se distanciar do código francês em mais de um
século, e embora tenha herdado dos alemães a forma, estrutura, preocupação analítica
e conceitual, do ponto de vista do conteúdo, dos princípios, ele é muito próximo do
código francês (acolhe o mesmo individualismo e formalismo do código napoleônico).
ROTEIRO 2
Relação jurídica tal como ela era no século XIX
Relação jurídica
RELAÇÃO SOCIAL? SIM! – nesse primeiro momento, até por uma grande influência
kantiana (só faz sentido pensar em direitos se pensarmos em homens) = relação
jurídica era, antes de tudo, uma relação entre homens; a partir daí, desdobra-seesse
conceito, mas é sempre uma relação interpessoal (sujeitos dotados de vontade, capazes
de exercer direitos e cumprir deveres; normalmente há uma correspondência entre
direitos e deveres); é sempre uma relação intersubjetiva.
Visão excessivamente antropocêntrica: mas por que não pensarmos que outras
realidades, como animais e meio ambiente, não podem fazer parte dessas relações
jurídicas?
O que é ser sujeito de uma relação jurídica? Ser sujeito traz uma série de
consequências.
SIMULAÇÃO 1:
Saber se uma relação jurídica pode ser composta sem ser por humanos.
Fins socialmente justificáveis
- Direito dos animais hoje: animais são considerados bens, não pessoas. Isso quer
dizer que bem não é considerado passível de tutela jurídica? NÃO!
Se eles são bens, o raciocínio utilizado para defender esses testes são para
defender os humanos. Se considera como pessoas, há uma situação de uma colisão de
direito.
Tratamento homogêneo: animais tem direitos compatíveis com sua escala evolutiva. Se
esses animais passarem a ser considerados titulares de direitos, qual tratamento de dará?
Há alguma gradação entre os animais?
Representação: animais não conseguem se expressar, isso não quer dizer que eles não
possam ser sujeitos de direitos (crianças, por exemplo, apresentam limitações muito
parecidas com as de um animal).
Defesa: não há outros métodos alternativos que substituam eficazmente os testes em
animais; discussão bioética em utilizar seres humanos como cobaias ou disponibilizar
medicamentos sem esses testes padrão; impossibilidade da continuidade da atividade
comercial da empresa; declaração universal dos animais não faz parte do ordenamento
brasileiro (não há crime sem lei anterior que o defina, nem há pena sem prévia
cominação legal – princípio da legalidade); laboratório se usa de anestesias sempre que
o procedimento possa causar sofrimento nos animais.
SIMULAÇÃO 2
Como que relações de fato se tornam relações jurídicas?
Definição de relação jurídica = relação social da qual decorrem consequências
jurídicas; se torna jurídica em razão da sua relevância e da sua possibilidade de
integração social no âmbito do direito; relevante para o direito.
Formal
De fato
O fato de não ser um relação jurídica formal não significa que não sejam
relações jurídicas (união estável é uma relação jurídica disciplinada no código civil da
qual decorrem consequências jurídicas)
União estável normalmente é considerada união de fato porque ela não foi formalizada,
as pessoas não foram no cartório, não necessariamente se utilizaram de um contrato
escrito. Mas o fato de você não formalizar e essa situação ficar tão somente no mundo
fáctico nao quer dizer que ela não seja jurídica, porque desde que estejam presentes
aqueles requisitos que a lei prevê para a configuração, ela vai ser considerada união
estável e ter aplicadas todas aquelas consequências jurídicas.
As relações de fato são relações jurídicas? Depende, se o direito atribuir
consequências jurídicas a essas relações de fato, ela certamente será relação jurídica.
Muitos autores consideram relação de fato como aquela que não foi formalizada, mas
que nem por isso deixa de ser jurídica, dependendo das características dela.
Qualquer relação da qual decorram consequências jurídicas é uma relação jurídica.
Constituição federal.
Eventuais “choques” – se há várias relações jurídicas, algumas formalizadas e outras
não.
Relações jurídicas simples: apenas uma das partes tem direito e a outra o dever
(propriedade).
Relações jurídicas complexas: ambos os polos teriam direitos e deveres (contrato –
vendedor e comprador ter reciprocamente direito e deveres; ao direito de um
corresponde um dever por parte do outro).
Hoje, praticamente não há mais as relações jurídicas simples – a partir da ideia
de função social dos direitos, há a ideia de que o titular de um direito sempre também
terá deveres positivos diante da sociedade ou do polo passivo (de forma que mesmo a
propriedade pode ser analisada como sendo uma relação jurídica complexa).
A diferença é que esses deveres serão de uma natureza distinta daqueles
das relações pessoais ou obrigacionais.
Verificar e analisar o fenômeno jurídico tentando abstrair os sujeitos que ocupam os
polos dessa relação jurídica (ter acesso a uma realidade mais ampla que a realidade dos
sujeitos me possibilita analisar isso podendo, em alguns casos, até mesmo abstrairos
sujeitos) – daí falarmos de uma relação jurídica de propriedade independente dos polos
que ocupem essa relação jurídica de propriedade.
Essa abstração nos ajuda a entender também a evolução do fenômeno jurídico
(relação jurídica, fato jurídico e aquisição de direitos).
Embora haja muitas controvérsias em torno na relação jurídica, a relação jurídica é uma
forma de entender o fenômeno jurídico a partir da sua totalidade.
analisa-se os polos da relação, o objetos dessa relação (bem) e os vínculos que
unem os dois polos em torno desse objeto.
Como as relações jurídicas são criadas, extintas e modificadas pelos fatos jurídicos.
Modos originário e derivado de aquisição de direitos.
Dentre os vínculos que surgem entre partes da relação jurídica, o direito subjetivo é
provavelmente o mais importante, aquele sobre o qual se dá uma maior atenção por
parte dos juristas
Não confundir relação jurídica com direito subjetivo!!!!!!!! Existem outros
vínculos na relação jurídica além do direito subjetivo, mas certamente o direito
subjetivo tem uma importância fundamental para o direito como um todo.
Direitos subjetivos
Teoria do Savigny: o poder da vontade
Conceito importante, que reflete muito do direito subjetivo mas que, sozinho,
não consegue dar conta de toda a complexidade das relações jurídicas por uma sériede
motivos: essa vontade, ainda que pudesse ser vista como algo soberano e absoluto
durante o século XIX, hoje já se sabe que essa compreensão é incompatível com o
convívio social.
Por outro lado, há pessoas (bebês, por exemplo) que terão direitos que não
necessariamente são fruto da vontade (discussão que envolve o conceito de capacidade;
nem sempre a autonomia está presente nas relações que envolvem direitos subjetivos).
Jhering: tentativa de romper com o formalismo de caracterizava o direito privado no
século XIX; direito subjetivo como interesse juridicamente protegido
Conceito amplo e que dá margem a controvérsias, mas há a preocupação dele
de trazer o direito subjetivo para os conflitos no mundo real (ideia de que direitos
subjetivo não podia ser visto apenas como uma forma legal, como uma zona de
autonomia absoluta que seria concedida ao indivíduo, mas que deveria ser pensada sob
a perspectiva dos reais interesses que estão em jogo, partindo da premissa que existem
conflitos e o direito subjetivo é exatamente aquele interesse, dentro dosinteresses
que estão em conflito, que foi escolhido para prevalecer em determinados casos.
Conceito que avança um pouco mais, introduzindo a questão da
intersubjetividade (não posso pensar em direito subjetivo olhando só pro titular, tem
que olhar pro titular dentro do contexto social onde ele se encontra).
Teorias mistas: direitos subjetivos como direitos que necessariamente são associados
a um poder da vontade mas também a um interesse juridicamente protegido; vontade
e interesse juridicamente protegidos como um norte para essa primeira reflexão sobre
esses direitos.
A todo direito subjetivo corresponde um dever!!!!!
Na distinção entre relações obrigacionais/pessoais e relacionais reais: ambas
estão diante de deveres, o que diferenciava uma da outra era o tipo de dever.
Se se fala de direito subjetivo como uma propriedade (direito real, erga
omnes), a ele corresponde um dever geral de abstenção no polo passivo.
Se se fala de direitos obrigacionais, como aqueles que decorrem de um
contrato (uma relação jurídica entre pessoas determinadas ou determináveis), a ele
corresponde um dever por parte do polo passivo que são as chamadas prestações
(deveres específicos traduzidos em comportamentos específicos como os de dar, o de
fazer e o de nao fazer).
SIMULAÇÃO 3
Acusação: responsabilidade civil (quando eles resolvem namorar, ambos são
responsáveis por essa decisão; quando eles resolver noivar também); quando ele
decidir romper, não é de ambos, mas só dele. Não há produção de provas de que ele o
traiu, pode-se considerar abandono, não só rompimento. Vergonha social por qual ela
passou, tanto pelo rompimento quanto pelo boato da traição.
Defesa (réu): na traição, quem pode alegar humilhação é o réu. Quanto ao rompimento,
ele avisou previamente, não houve constrangimentos. Liberdadeindividual
Se a mera ruptura geraria essa indenização, se reconheceria que ela tem um direito
violado. Mas qual direito? O direito de casar? Então assim que noiva tem a obrigação
da casar? Não. A questão é o modo como se cobra. Não há direito a casar, então quem
rompe não está violando dever jurídico de alguém (não tem dever de casar nem tem
que indenizar quem rompe). Se não há direito de casar, então a ruptura é legitima
(mesmo que, por exemplo, com a ruptura ela entre em depressão, não se pode alegar
danos morais/materiais, porque é um risco da vida – aqui não considerando a questão
da humilhação).
O problema não é a ruptura, mas como se rompe, quando a ruptura é desproporcional,
se expõe muito o outro. Violar a honra, a imagem, a reputação da pessoa – não é o
direito de casar, é o direito a honra, a reputação, a imagem (direitos de personalidade
que também geram um dever geral de abstenção no polo passivo).
O ponto delicado desse caso é a questão do, quando houve rompimento, o acusado
comentou a traição com amigos próximos. Liberdade de expressão dele x direito à
honra, à privacidade, à imagem dela.
Tanto poderia ter uma reação favorável (noivo agiu sem nenhuma ilicitude, riscos da
vida, dentro da liberdade dele), como desfavorável (ele reagiu de forma abusiva, violou
a honra, a imagem dela).
Contraposição entre direito e dever: não há um dever de casar, mas talvez a forma como
isso se dá é que viole um direito de respeito, imagem, reputação.
Normalmente, tem se decidido pelo: se o noivo que rompe não tiver concorrido pelas
despesas do casamento, ele tem que ressarcir pelo menos metade das despesas. Já em
relação ao dano moral é que os tribunais tem entendido que simplesmente romper um
noivado não gera nenhum
SIMULAÇÃO 4
Acusação (autor): Importância do núcleo familiar no desenvolvimento do ser humano
(aquisição de valores, formação de caráter, obrigação não só para com a criança, mas
para com toda a sociedade para que aquela criança se desenvolva bem). Pai omisso que
se apoiou no suporte material. Amor não pode ser uma obrigação jurídica –
descumprimento da obrigação legal de cuidar (amar é uma faculdade, mas cuidar é
um dever). Arts. 227 e 229. Deveres compartilhados da mãe E do pai no cuidado com
a criança.
Defesa (réu): diferença entre obrigação moral e obrigação civil (moral não tem sanção
civil já no ordenamento, enquanto a civil tem). Art. 186 do CC – situação de ilícito civil
para poder ter indenização pecuniária em caso de danos morais. A negativa do pai de
conviver com o filho não leva uma consequência no âmbito jurídico porque não existe
obrigação de amar e dar afeto. A única conduta reprovável seria no âmbito moral,
porque ele proveu auxilio material e pagamento de pensão alimentícia, como pede a lei.
Savigny: algumas relações sociais ficam fora do direito porque o direito não fornece
um código para regular (ex.: amizade)
Traz uma conduta pro âmbito do direito quando se entende que o direito tem o
instrumental para resolver.
Durante muito tempo disse que era uma questão moral, sentimental.
Dever de amor – em situações como esse não se exige o amor, mas o dever de cuidar
(que se pode identificar e até mensurar de modo mais objetivo que o amor).
A dificuldade é que, mesmo o dever de cuidado, nem sempre é fácil.
Quais os instrumentos que o direito tem para lidar com essas situações: via de
compensação (indenização por danos morais).
Se o pai de fato não cuidou do filho, porque indenização? Poderia até piorar,
afastar os dois.
Questão do amparo paterno – contexto de expansão de direitos
Se o amor não pode ser comprado pelo auxílio material, ele também não pode ser
indenizado.
Poder/Potestas
Poder familiar: poder que os pais exercem em relação aos filhos: muitos
consideram essa uma categoria própria, pois não se propicia ao titular nenhuma zona
de autonomia/vantagem, mas sim de propiciar melhor atendimento ao interesse da
criança; embora se chama poder, a natureza jurídica desse poder é de um dever; algo
que envolve um comprometimento com interesses outros que não o do próprio titular;
competência.
Por mais que hoje a gente possa imaginar esses direitos subjetivos sujeitos a limites,
sempre a gente vai ter que preservar alguma zona de vantagem individual para o
titular, alguma zona de autonomia privada pra ele. E isso já não acontece em relação
aos potestas: aqui é como se o titular estivesse exercendo uma competência, i.e., um
poder que é estabelecido nao para satisfação do seu próprio interesse, mas para a
satisfação de interesses de outros (no caso do poder familiar, o interesse da criança)
SIMULAÇÃO 4: Compromisso que os pais estabelecem com os filhos tem uma
natureza mais de dever que de direito subjetivo.
Às vezes, também, há situações em que já se entende que o titular tem algum tipo de
tutela jurídica, mas essa tutela não chega ao ponto de constituir um direito.
No caso de direito intertemporal, há expectativas de direito (por exemplo,
pessoa começa a trabalhar na expectativa de, findo aquele prazo e cumprindo todos os
pré-requisitos, ele possa se aposentar) – efetivamente nao há direito subjetivo (ele
ainda não foi adquirido), mas já há uma posição jurídica considerada digna de tutela.
Essas expectativas de direito recebem algum tipo de proteção, ainda que uma
proteção mais fraca que aquela proteção dada aos direitos são interesses legítimos.
ROTEIRO 3
Transição do Estado Liberal para o Estado Social e a discussão do próprio abuso de
direito
Habermas: transição do Estado Liberal pro Social se inicia muito antes das primeiras
constituição sociais, que só acontecem no século XX (México – 1917; Weimar – 1919)
– muitos antes, no bojo das relações privadas, pouco a pouco já vai acontecer uma
transformação gradativa nas relações jurídicas de direito privado, a fim de que essas
relações pudessem contemplar vários aspectos que eram ausentes ou negligenciados ao
longo do Estado Liberal.
Individualismo, excesso liberal já começa a ser questionado ao longo de todo o século
XIX (movimento operário da década de 30 do século XIX, marxismo, sociologia,
teorias socialistas, movimentos que queriam mostrar que aquela compreensão de
sociedade era incompatível com a coexistência social).
Jhering: começa sua trajetória usando todos aqueles pressupostos da Pandectística
(direito como sistema perfeito de conceitos, abstração, pretensão racionalista) mas, a
partir de certo momento, percebe que não era suficiente para resolver os conflitos
sociais; ele começa a dizer que o jurista não pode mais ficar enclausurado, tem que
responder às necessidades daqueles que precisam; ele, então, muda sua teoria,
propondo um novo conceito de direito subjetivo:
Direito subjetivo como interesse juridicamente protegido: tentativa de trazer
essa discussão pro mundo real; pensar no direito de acordo com as consequências reais
que ele projeta da sociedade, de acordo com os conflitos que existem em torno desse
direito; muitos reclamam que essa expressão era muito genérica e que o Jhering não
propôs uma solução, mas na verdade o papel dele foi muito mais o de criticar que o de
propor uma resposta clara. Ainda sim, ele já dava diretrizes para uma nova compreensão
do direito e das relações privadas
A luta contra o individualismo foi uma luta também contra o formalismo – pois
era o formalismo que dava base para as compreensões individualistas (era uma
compreensão formalista de direito subjetivo que possibilitava aquela ideia de direito
absoluto, de poderes que iam do céu ao inferno quando se falava em propriedade, por
exemplo).
Preocupação constante do Jhering e de diversos autores contra o formalismo.
Final do século XIX e início do século XX: surgem várias teorias antiformalistas –
teorias diversas, mas que tinham um pressuposto comum: direito não podia ser
considerado somente uma lei fria ou somente um conceito; existe um algo mais, direito
pode até ser forma, mas não apenas forma; precisa de um conteúdo, definalidades,
contextualizar esse direito no mundo real; trazer novos aspectos, “sujar” ofenômeno
jurídico.
Formalismo tinha a ideia de um direito higiênico, limpo; direito era a forma
legal/conceitual. Já essas teorias antiformalistas falavam que não, que o direito era a
prática social, tem a ver com valores, com interesses, com a luta de poder, que o direito
estava sujeito a metodologias que não aquelas tão rígidas do formalismo.
Elemento comum de todos: abrir a reflexão jurídica, introduzir uma série de
outros aspectos; não se pode mais pensar o direito como mero conjunto de
leis/conceitos (o arcabouço conceitual construído no século XIX tinha esse
compromisso com a segurança jurídica).
Abrir o direito envolve um processo arriscado, no que tange à segurança
jurídica; aqui começa a deparar com aquela tensão justiça x segurança.
ROTEIRO 4
Com abuso de direito basicamente estamos discutindo limites: quando que os
particulares vão poder exercer os seus direitos para buscar vantagens, mas respeitando
minimante os interesses dos outros cidadãos.
Mas a FUNÇÃO SOCIAL sempre teve uma pretensão maior do que esta. O termo foi
supostamente cunhado por Comte, que procurava na verdade fazer uma crítica à
sociedade liberal, mas em nenhum momento chegava a ser contra a propriedade
privada, por exemplo.
A própria etimologia da palavra função: competência que é dada a uma pessoa para a
ser exercida no interesse de outrem.
A ideia de função social sempre foi dar um passo além em relação à compreensão dos
direito subjetivos: não basta só impor limites a esses direitos, há casos em que há de
se impor deveres positivos ao titular desse direito em favor de outrem.
No caso de abuso de direito, se o titular não exerce o seu direito, em tese ele não tem
como abusar desse direito. Mas, como a função social impõe deveres, não
necessariamente ele se satisfará apenas com a ? do titular. Poderão, claro, exercer os
seus direitos, mas terão também que cumprir alguns deveres em função da sociedade.
Não é uma faculdade do proprietário rural não usar sua propriedade (Art. 186
da CF/88) – ele tem que usar e tem que usar de forma produtiva, sob pena de
desapropriação para fins de reforma agrária.
A partir da função social da propriedade surgem inúmeras discussões, como a de que
não deveria se pensar somente em um direito de propriedade, mas também em um
direito à propriedade.
Compatibilizar o direito daqueles que têm com o direito daqueles que não têm.
Direito de propriedade x direito à propriedade acesso a propriedade passa a
ser também colocado em discussão.
A grande dificuldade da função social da propriedade é encontrar um equilíbrio entre
o aspecto funcional (de dever) e o não funcional (de vantagem, de autonomiapara
o titular), pois não se pode em nenhum momento transformar o particular em um
funcionário público, que somente tenha deveres e compromissos com o interesse
público introduz-se deveres, em prol da coletividade, mas precisa-se encontrar
algum balanço para que prevaleça também para o titular uma zona de autonomia
privada.
Daí dizer que têm uma função social, mas não são apenas uma função social,
pois eles sempre precisam contemplar essa zona de vantagem, de benefício, de
autonomia privada do particular.
Função social e o conteúdo mínimo da propriedade que teria que ser
estabelecido para assegurar a autonomia privada do titular passam a ser componentes
e indissociáveis da propriedade, e componentes que precisam ser equilibrados, a fim de
evitar que o proprietário se transforme em um funcionário público, mas a fim também
de evitar também que ele seja aquele proprietário do século XIX, somente preocupado
com os seus próprios interesses.
Como não é fácil encontrar esse equilíbrio, normalmente essas obrigações positivas são
previamente previstas pela lei ou pela constituição.
Uma coisa é certa: a função social, até do ponto de vista etimológico, tem essa ideia
de compromisso com deveres positivos.
Constituição de Weimar: “a propriedade obriga”; propriedade gera também
obrigações, não é só uma fonte de faculdades ou benefícios para o particular.
Essa discussão começa com a propriedade, depois se extende para os contratos, e depois
se extende gradativamente para todos os direitos e posições jurídicas privadas: ideia de
que de alguma maneira as posições jurídicas de direito privado têm que estar abertas
também à existência de alguns deveres, em prol da coletividade, mas sempre com o
cuidado para se haver esse equilíbrio.
Para muitos, a função social alterou até mesmo a natureza jurídica da propriedade, não
mais sendo um direito subjetivo, mas sim uma situação jurídica complexa, pois junto
com faculdades, o titular teria também deveres positivos para com a coletividade.
Duguit (1912) sustenta isso: propõe, mesmo antes das primeiras constituições
sociais, o fim dos direitos subjetivos pois, em razão da função social, só se poderia
cogitar a partir dali de situações jurídicas. Assim como Comte, ele também não era
contra a propriedade privada mas, mesmo assim, ele entendia que aquela zona de
autonomia do particular precisava ser minimamente contrabalançada com deveres
positivos em prol da sociedade.
Hoje: situação jurídica possibilita a ideia de uma pessoa que titulariza ao mesmo
tempo faculdades e também deveres.
Após a função social, é possível pensar em direitos subjetivos que em seu bojo admitam
também deveres. Por isso, não precisa abandonar a expressão direito subjetivo para
acomodar a função social mesmo que eu use a expressão direito subjetivo, eu já
estou usando-a de uma maneira muito distinta da utilizada no séc. XIX.
Seja com abuso de direito, seja com a função social, não se está mais diante
daquele conceito formalista, individualista e absoluto de direito subjetivo.
Para muitos, a vedação ao abuso de direito é a chamada dimensão negativa (passiva)
da função social – função social tem esse compromisso de evitar excessos, de impor
limites.
Mas ao lado dessa dimensão negativa, existe também a dimensão ativa (impulsiva) –
dimensão relativa aos deveres positivos.
Função social, embora tenha um elemento em comum com a vedação ao abuso
de direito (as duas se preocupam com a vedação aos excessos, com imposição de limites
ao exercício do direito), a função social tem uma preocupação adicional – além da
vedação ao excesso, há a preocupação de se impor deveres positivos ao titular, de impor
esses deveres em um contexto que traz essa discussão da intersubjetividade.
Daí surgir a discussão que não há somente um direito de propriedade, mas
também um direito à propriedade.
24/08 (quarta-feira)
SIMULAÇÃO 5
Liberdade de expressão
É muito sutil os limites da liberdade de expressão; é uma solução que tem de ser feita
caso a caso, olhando para as peculiaridades de cada caso.
Mais conciliar os dois princípios/direito fundamental, e menos sopesamentos, onde
um se sobrepõe ao outro.
Acusação: Dados de mortes de LGBTI, perigo social, violência verbal, física,
psicológica; discussão sobre criminalização da homofobia e união civil igualitária são
pequenos avanços; combater não a diferença de opinião, mas o discurso de ódio; esse
discurso cria um senso comum de que a orientação sexual é uma simples faculdade,
escolha da pessoa, como a gula, a inveja e outros pecados; trechos da bíblia desconexo
sem senso de responsabilidade não pode ser feito, como os que incitam violência contra
a mulher e homossexuais, e a escravidão. Descumprimento da
igualdade entre os indivíduos e violação do direito à honra e à imagem de LGBTI.
Violação de direitos fundamentais, arts. 1, 3 e 5 da CF.
Defesa: Pastor não teve a intenção de ser preconceituosa ou de estimular o preconceito
entre os ouvintes, estava só dizendo o que está na bíblia. “Homossexualidade é pecado”
é só uma norma de conduta para aqueles que seguem aquele estilo de vida. Essa frase
não incita ódio porque a bíblia também diz que todos são pecadores. O que pode ter
acontecido é o pastor ter sido mal interpretado. O réu não pode ser considerado culpado
por agravantes externos a ele; pecado é um código desse grupo, que se reúne em torno
de uma concepção do que é uma vida boa.
Se se proíbe um pastor de dizer que determinada conduta do texto sagrado dele é
pecado/errado, talvez você esteja tolhindo toda a liberdade dele.
Haveria outras possibilidades de aquele direito ser exercido de forma que não esta que
está sendo considerada abusiva/excessiva?
Pergunta sobre como o homem médio agiria/como outros pastores na sociedade estão
agindo sobre esse assunto.
SIMULAÇÃO 6
Acusação: Ferir a imagem e a honra do deputado; art. 5˚ inciso X; direito de
personalidade do deputado foi violado; abuso de direito da liberdade de expressão,
porque foi usado tão somente pra prejudicar o deputado; não houve retratação por parte
do acusado; presunção de inocência - o deputado não pode ser acusado culpado até que
se declare trânsito em julgado da sentença.
Defesa: Foram outras pessoas dentro do restaurante que causaria dano moral; direito a
manifestação política e liberdade de expressão; deputado é uma pessoa pública –
liberdade de expressão prevalece à privacidade; exceção da verdade; pra haver dano
moral tem que ter distorção da verdade e o cara não distorceu a verdade, só reproduziu
o que está sendo afirmado pela mídia.
Cuidado com a forma como se expressa. Liberdade de expressão pode ser expressada
em qualquer lugar/momento?
O problema nesse caso é o ambiente. O deputado estava ali fora de horário de
trabalho, estava num ambiente no âmbito pessoal dele, viola a privacidade.
Estamos falando de pessoas públicas que, em princípio, estão sob maior escrutínio
que pessoas privadas.
Fato relacionado à conduta pública daquela pessoa, mencionou algo que diz respeito à
conduta dele como parlamentar.
Jurisprudência: quando aquele que está prestando sua opinião se prende à fatos e não
à característica da pessoa (animus narrandi) tem maior chance de não se considerar
como abusivo (dizer que praticou corrupção x dizer que é corrupto).
O tipo de espaço que a situação ocorreu: apesar de ser um espaço público, ele não estava
no exercício da profissão dele, estava na sua intimidade.
O exercício regular da manifestação de pensamento.
SIMULAÇÃO 7
Acusação: professora se manifestou em sala de casa com assuntos inadequados para
esse ambiente; são crianças que internalizam e aceitam, não tem capacidade de
argumentar caso sejam contrários; politização da função – violência simbólica; dentro
da sala de aula o professor não exerce liberdade de expressão, mas um ofício; esse
espaço de manifestação valeria pra todos então?; professor precisa ser neutro em suas
posições política.
Defesa: A neutralidade em sala de aula é inviável, precisa ser aberto ao debatesempre;
art. 205 da CF/88 (menciona pluralismo de ideias na educação); a criança nãoabsorve
tudo acriticamente, ela tem um senso crítico, que deve ser estimulado e aprimorado.
Em que medida o Estado pode/deve proteger os indivíduos de si mesmos?
ROTEIRO 5
Ideia de ciência: Direito muito tempo tentou se afirmar como ciência.
Mas o que é ciência? Não é aquela ideia de ciência como algo relacionado a
verdades absolutas, método como capaz de chegar a essas verdades. Mas sim, a ideia
de que a ciência serve a um momento, é datada e contextualizada. Assuntos humanos
raramente vão ter uma resposta única e objetiva.
Ideia de método também é revista: jurista do século XIX tinha uma grande
preocupação com método. Hoje já se sabe que o método não assegura a verdade, já se
tem a ideia de Gadamer que método assegura no máximo a repetição.
Jurista do séc. XIX: quais os melhores métodos de interpretação –
método literal, sistemático, finalístico, histórico. Hoje: sociedade muito fragmentada e
complexa, legislador não consegue acompanhar o ritmo e a velocidade dos
acontecimentos; juiz parceiro do legislador criando a regra para o caso concreto.
Modificações abruptas da técnica legislativa: a necessidade de se usar de
normas abertas, como princípios e cláusulas gerais, para que o juiz crie a regra
para o caso concreto.
Equilíbrio entre o juiz boca da lei da exegese com o juiz que faz o que bem quer
porque ele não está restrito pelas leis.
Constituição democrática como a nossa – o que ela se diferencia de uma constituição
social? CIDADANIA, não quer mais clientes, nem dependentes do Estado, mas
cidadãos autônomos.
Tensão entre liberdade e igualdade: no Estado Liberal, em favor da liberdade (direitos
formais, zonas de imunidade diante do Estado). No Estado Social, da igualdade (na
ânsia de uma igualdade material, muitas vezes o Estado Social se agiganta e passa a
intervir excessivamente na esfera privada de seus cidadãos). EDD quer readequar isso,
liberdade e igualdade são conceitos, princípios que se interpenetram; não se pensa em
igualdade sem liberdade e vice-versa; tensão produtiva.
Ideia kantiana: direito como coexistência de liberdades entre iguais; exercer
meu projeto de vida enquanto esse direito é compatível com o igual direito dos outros
membros da sociedade.
Dignidade da pessoas humana: reforça a importância do homem; homemcomo
fim em si mesmo; uma resposta às coisas que aconteceram no século XX,
principalmente as duas guerras mundiais e regimes totalitárias, valorizando o homem
e mostrando que liberdade e igualdade necessariamente precisam estar juntas.
São indisponíveis: não está no juízo de autonomia da vontade do sujeito.
Ex.: caso do arremeço de anão, regulamentação da prostituição, cirurgia para crescer,
automutilação, cinto de segurança, vacinação obrigatória – até onde o Estado pode
proteger a pessoa do que ela quer?
Constitucionalização do direito privado: ideia de que hoje é impossível tratarmos
qualquer questão de direito privado sem uma referência direta ou indireta à
Constituição.
Questões ligadas à dignidade da pessoa humana permeiam as relações privadas;
constituição trata diretamente de várias questões de direito privado; expansão
qualitativa e quantitativa dos textos constitucionais.
Constituição do século XIX era mais enxuta (se restringia a organizar o
Estado e disciplinar os direitos fundamentais de primeira geração).
Além de questões principiológicas mais gerais, mas da incidência imediata de
diversas normas constitucionais ao direito privado. O que exige daquele que atua
com direito privado um conhecimento de direito constitucional.
Importância dos princípios e das cláusulas gerais são normas abertas (alguns
entendem que os dois são sinônimos; outros entendem que os princípios seriamnormas
abertas ainda mais abertas que as cláusulas.
Ex.: Princípio da solidariedade, cláusula geral da boa fé objetiva.
São normas que não indicam ao intérprete a solução do caso concreto;
juiz/intérprete quem cria a regra para o caso concreto; são normas que dão parâmetros
para a decisão, dão diretrizes para orientar o intérprete e o aplicador da lei, mas essas
diretrizes são sempre gerais e terão que ser densificadas no caso concreto.
Usa-se, pois não há outra alternativa – em uma sociedade plural, complexa e que
muda muito rápido, o legislador não consegue dar conta da complexidade dos fatos;
se ele for tentar regular tudo, ele não vai conseguir reger nada.
Casos difíceis: simplesmente não há regras, no sentido de normas com soluções
definidas; há normas abertas que dão algumas diretrizes ao aplicador.
Isso aumenta e muito os riscos de arbitrariedade do juiz/intérprete.
O jurista, principalmente o jurista do direito privado, era ensinado que não tinha
nenhuma responsabilidade pela a desigualdade social, quase como se o direito civil
fosse uma área meramente técnica, e não propriamente uma área transformadora.
Hoje já não se acredita nisso. O jurista de direito civil tem sim uma
responsabilidade.
SIMULAÇÃO 8
Acusação (autor): Todos tem direito à propriedade; nao existem direitos absolutos,
certamente a propriedade não o é, mas também não é a função social; a propriedade
sofreu esbulho; a função social não pode ser usada para violar o procedimento;nenhum
dos procedimentos legítimos foi usado; ocupação foi clandestina, ilegal e recente; não
foram respeitados os dispositivos constitucionais;
Defesa: Função social da propriedade – se o exercício da propriedade não percebe o
fim da utilidade coletiva então esse direito está contra a constituição; art. 5˚, XII e XIII
– garante o direito à propriedade dos cidadãos; essa propriedade ociosa não responde a
interesses coletivos; pode proporcionar moradia e a possibilidade de vida digna a esses
sem teto; a terra era ociosa; prática comum do acusado de manter terras ociosas;
Lei de terras legitimou grandes posses de terras;
Locke: “direito de acumular terras encontraria limites no direito de outras pessoas”.
Propriedade desocupada x direito de moradia: a partir da perspectiva existencial,
coloca-se do lado dos trabalhadores; mas tem que respeitar o processo;
Esse compromisso maior é do Estado (não que o particular vai se furtar disso), mas essa
responsabilidade nunca poderá ser exigida do cidadão na mesma proporção que é
exigida do Estado
SIMULAÇÃO 9:
Acusação: comercial se usa de mulheres seminuas em situações indignas, o que viola
o direito de personalidade, mesmo que as modelos tenham concordado e gostado; a
frase de o homem sabe quando o não quer dizer sim não é humorística, promove a
cultura do estupro – apologia ao crime; o próprio nome da marca é ofensivo; viola a
honra coletiva das mulheres em geral; esse não é o único jeito de se fazer propaganda
de cerveja; a empresa não está buscando exaltar a beleza feminina, pois colocamulheres
em posições humilhantes e degradantes; sobre o nu feminino fazer parte do cotidiano –
o nu só é permitido quando está degradando as mulheres e agradando aos homens, já
que a prática de topless é proibida e andar sem camisa também, diferentemente do que
é pra homens.
Defesa: característica dos direitos de personalidade é a indisponibilidade, mas não é
absoluta; porque impedir essas mulheres de ir atrás dos seus projetos de vida como bem
entendessem?; sobre violar a honra coletiva das mulheres, é um argumento muito
amplo; sobre a frase do “homem sabe quando o não quer dizer sim” não pode ser
deslocada do seu contexto.
Não haveria outra forma de se fazer isso? Dificuldade de usar esse critério para se referir
à manifestação artística
SIMULAÇÃO 10:
Defesa: eficácia vertical – nao se questiona que os direitos fundamentais possam ser
aplicados a essas relações, mas deve ser mediada (as relações extraestatais estariam fora
da aplicação do Estado); não há que se falar em violação dos direitos fundamentais,
pois a autonomia privada pressupõe que os particulares abram mão de alguns de seus
direitos; não há se falar em desproporção de direito fundamental, a relação é de
coordenação, pois é um clube de recreação; clube Vip é uma instituição privada que
pode gozar de sua autonomia privada; é dotada de capacidade de direito que permite
que ela adquira direitos e deveres, assim o clube pode impedir ou restringir a entrada
de novos associados; razoabilidade e proporcionalidade – os direitos podem sofrer
restrições para a convivência humana; associação recreativa: é direito de os associados
querer se associar somente com algumas pessoas.
Antes se entendiam que as associações tinham completa autonomia para redigir seus
estatutos.
Direito do Trabalho: O empregador pode até demitir sem ter justa causa, mas ele não
pode demitir se maneira discriminatória. Mas como se comprova? Proximidade
temporal...
Os critérios em tese são lícitos se há proporcionalidade e razoabilidade
ROTEIRO 6
Séc. XIX: direito privado patrimonialista e individualista espaço para se falar em
direitos de personalidade era muito pequeno.
França: equiparar atributos da personalidade à propriedade para se dar a
esses atributos a mesma proteção que se dava à propriedade (homem seria proprietário
do seu corpo, da sua imagem, da sua honra..., para que ele pudesseexercer poderes
semelhantes àqueles que ele exercia sobre sua posse).
Alemães: nunca entenderem propriedade sobre os bens incorpóreos, como
seriam os aspectos da personalidade.
Por que o direito privado não tratava desses direitos de personalidade? Diante do
reconhecimento da importância desses direito, o direito privado não teria instrumental
suficiente para tutelar esses direitos e por isso eram tutelados pelo direito penal.
Proteção à vida, integridade física, integridade psíquica, integridade sexual
imagem, são aspectos da personalidade que ensejariam uma proteção punitiva e
preventiva por parte do Estado e, por isso, estaria protegidos pelo âmbito penal.
Como trazer esses direitos para o âmbito do direito privado? Direito privado trabalha
sob uma ótica de compensações/indenizações.
Dano moral: indenização por violação aos direitos de personalidade, que se
coloca de maneira extrapatrimonial. Mas qual esse tipo de indenização? Em
dinheiro? (caso do abandono afetivo).
Discussão sobre direitos de personalidade no direito privado sempre trouxe esse tipo de
impasse: se a lógica do direito privado é uma lógica compensatória, como que eu vou
trazer esses direitos para serem tutelados pelo direito privado? Não teria o direito penal,
com seu caráter punitivo/preventivo, um instrumental mais adequado para lidarcom
esses direitos?
Caráter patrimonialista do direito privado nessa época – ainda que elementos de
personalidade sejam importantes, não é na seara do direito privado que eles deverão
ser tutelados; direito penal se coloca em princípio como um instrumento maisadequado
para esse tipo de tutela.
Na França, logo começaram a surgir discussões sobre os direitos de personalidade e
os juristas tiveram que encontrar alguns recursos para lidar com essas discussões, e o
principal foi o de se utilizar da analogia com a propriedade – o homem é proprietário
das dimensões da sua personalidade. Em relação aos alemães, como eles sempre foram
refratários a essa ideia, havia a formação de uma teoria consistente com esses direitos.
Gierke (1895): já propõe uma teorização consistente sobre o direito de personalidade
– há um direito geral de personalidade que confere ao titular domínio sobre uma parte
de sua própria esfera de personalidade, não é patrimonial, ainda que possa ser
desdobrado em conteúdos patrimoniais, é personalíssimo, é inalienável, embora possa
haver sua transmissão parcial ou total em alguns casos.
Reconhecimento da insuficiência do direito penal para proteger direitos de
personalidade – direito penal tem seus limites, e é importante que o direito civil assuma
também seu papel na proteção desses direitos.
12/09 (segunda-feira)
SIMULAÇÃO 11
SIMULAÇÃO 12
SIMULAÇÃO 13.
14/09 (quarta-feira) – CONTINUAÇÃO ROTEIRO 6
Art. 12, CC: “Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade,
e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas emlei”.
Cláusula geral de proteção ampla aos direitos de personalidade.
Objetivo desse artigo é dizer que, quando estamos falando em direitos de
personalidade, a primeira preocupação é se evitar a lesão (cessar a ameaça); todas as
providências devem ser tomadas para se evitar lesão, pois se parte da premissa de que
são direitos irreparáveis ou de difícil reparação.
uma vez havendo a lesão, o juiz deve adotar uma série de medidas que não
apenas a chamada indenização por danos morais ou materiais.
tutela in natura: proteção que procura ser dada a um direito de
personalidade e que lhe assegura uma efetividade, o que não acontece com a mera
compensação.
daí porque em violações contra a honra, tem se visto a utilização de
alguns recursos como pedidos de desculpas, retratação, direito de respostas, publicação
de sentenças possibilidade de se assegurar efetiva tutela desses direitos
próprio código não tipifica que formas de tutela seriam essas, ele
simplesmente diz ao juiz que ele deve encontrar a forma mais adequada para tutelar
aquele direito de personalidade.
tutela in natura jamais afasta a indenização por danos morais (ou
materiais, se for o caso – não necessariamente haverá danos materiais na violação de
direitos de personalidade, mas danos morais sempre há) – comprovado a violação de
personalidade, já se tem esse dano moral como certo.
Cabe ao juiz, diante da violação dos direitos de personalidade,
verificar os danos morais, pois já parte-se da premissa de que eles sempre existirão;
verificar se há também danos materiais (porque eles não necessariamente ocorrerão)
e verificar se cabe algum tipo de tutela específica, para assegurar a efetividade
daquele direito, já que é um instrumento mais adequado que a indenização.
Exemplo da honra: às vezes, faz muito mais diferença uma
retratação que uma simples indenização (satisfação moral + repercussão social).
Violação de direito personalidade, questão de sofrimento, ou violação à cláusula geral
de proteção à personalidade?
Como é difícil lidar com a questão do dano moral como uma questão de dor e
sofrimento (Ex.: Caso Maitê Proença – contrato com a playboy e um determinado jornal
pegou essas fotos e publicou sem a autorização dela – além da discussão sobre danos
materiais (publicação das fotos sem remunerá-la), discussão sobre dano moral (a
imagem dela foi publicada sem a sua autorização); juiz disse que mulheres bonitas não
sofrem ao ver sua imagem publicada, logo ela não poderia levar nada) – se se trabalha
a partir da perspectiva de violação de direito de personalidade, não há dúvida de que
veicular imagem nua de mulher sem sua autorização é violação de direito de imagem,
pouco importando o sentimento pessoal da pessoa diante dessa publicação.
Acórdão da lata de leite condensado – pessoa abriu um pouco da lata e viu uma
barata – será que cabe dano moral (partindo da premissa que tem que ter violaçãode um
direito de personalidade ou de uma situação existencial relevante).
Aborrecimentos acontecem a todo momento, a questão é comprometer um
direito de personalidade. Se não a gente volta pra aquele momento inicial da discussão
de danos morais onde tudo era dano moral. Se todos os nossos aborrecimentos forem
considerados danos morais, acaba não tendo um diferencial sobre quais situações
específicas merecem a tutela.
Situação existencial: no roteiro 2, discussão sobre situação jurídica, que muitos usam
como sinônimo de direitos subjetivos; outros entendem que é uma situação híbrida
porque envolvem direitos, prerrogativas, mas também deveres, como os decorrentes
da situação social; e outros entendem como circunstâncias que justificam a proteção
jurídica, ainda que não se encaixem propriamente na categoria de um direito de
personalidade.
Se utilizar de uma categoria genérica essa situação é uma situação que, do
ponto de vista existencial, é relevante, e houve a violação dessa situação. Com esse
termo, entende-se que houve violação da cláusula geral de proteção à personalidade.
Além dos direitos de personalidade previamente identificados, a gente possa imaginar
outras situações que também possam receber proteção.
SIMULAÇÃO 14:
Autor: diferenciação entre sexo biológico (genitália e cromossomos); orientação sexual
(atração sexual a outros indivíduos); identidade de gênero (vivencias, experiências e
performances de gênero que o individuo vivencia no seu cotidiano) – conceito
explorado pela teoria queer: identidade de gênero a partir de relações de poder; a
depender da situação em que o individuo se encontra ele é capaz de encontrar uma
identidade de gênero diferente daquela que lhe foi designada no nascimento; não são
categorias estanques, herméticas, binárias, é um espectro; direito ao nome como um
instituto legal dos direitos de personalidade (código civil); legislação e jurisprudência
reconhece que o individuo, ao sofrer situação vexatória por causa do seu nome, ele
pode sim usar um nome social reconhecido; utilização tanto pelobanheiro feminino,
quanto masculino, pois liberdade, dignidade da pessoa humana através da autonomia
moral para os indivíduos viverem suas vidas como bem entenderem, desde que não
prejudiquem terceiros; dignidade da pessoa humana como princípio intrínseco a todas
as pessoas; todas as pessoas são um fim em si mesmo.
Réu: não se desconsidera o principio da dignidade, o que se questiona é a subjetividade
e arbitrariedade exacerbada no uso dos princípios; afronta ao direitos das alunas que
teriam desconforto ao dividir um momento íntimo; mulheres se sentiriam
desconfortáveis, ameaçadas; violaria os direitos dos demais alunos.
Nome: um dos direitos que mais tem destaque no CC (arts. 16 a 19 do CC, mas não
fala especificamente desse assunto.
Nome tem uma dimensão social também, não só interna; é o nome que te
identifica na esfera pública, é ele que permite que você seja chamado a responder pelos
seus atos;
Leis de registros públicos já previa casos de mudança de nome (lei 6.015) –
faz distinção entre mudança de prenome/nome próprio e sobrenome/nome de família.
Em relação aos nomes de família, há um flexibilidade maior: tirar
sobrenome de pai ausente, acrescentar sobrenome do padrasto... desde que
haja relação familiar (afetividade) pode.
Em relação ao prenome, há preocupação maior do legislador com
questões de identidade social que está por trás do nome: “todo aquele que
completa maioridade, tem um ano para mudar o prenome”. – jurisprudência
construiu, mesmo sem base legislativa clara (através de interpretação
constitucional): dizer que não faz sentido restringir a mudança de prenome
só nesse período de 1 ano; lei admite a incorporação de apelidos notórios;
problema dos incapazes (crianças que recebem nomes vexatórios – mesmo
incapazes possam e devam exercer direitos de personalidade, possam vivenciar
situações existenciais desde que compatíveis com seu grau de capacidade).
JUSTA CAUSA = não pode ser mero capricho do interessado, tem que ter razão
(grafia muito difícil, nomes que não identificam o sexo, homem que tem nome
de mulher e vice-versa; Raimunda)
Diante da dimensão social do nome, importância para identificação, não
pode ser mera autonomia, mas havendo justa causa, é possível.
Caso do Zen: nem havia passado ainda pelo processo de mudança de sexo.
Peculiaridade deste caso: envolve uma ruptura daquela dicotomia gênero masculino-
feminino, gênero aqui é indefinido. Em razão disso, a mudança de nome não tem nada
a ver com a mudança de sexo (durante muito tempo no direito brasileiro essas duas
coisas estavam ligadas).
SMULAÇÃO 15:
Autor: dano moral em causa próprio; tanto Jaqueline quanto seus pais sofreram danos
irreparáveis, que o namorado e o site foram responsáveis; art. 5˚, CF: inviolabilidade
da vida privada, honra e imagem das pessoas foi desrespeitada; art. 20, CC: imagens
quando violam a honra devem ser retiradas; viola dignidade da pessoa humana.
Defesa do namorado: não é negar o direito decorrente do sofrimento moral sofrido pelos
pais, mas delimitar a responsabilidade diante dessa agressão; ultima ratio, não pode se
chegar a uma causalidade ad infinitum; whatsapp foi apenas um meio utilizado; o
provedor não pode ser responsabilidade pelo conteúdo veiculado por seus usuários,
desde que consiga rastrear.
Defesa do namorado: o cliente também teve a intimidade exposta quando teve o vídeo
divulgado; só se o acesso de qualquer pessoa, em qualquer lugar, hora do conteúdo
fosse permitido é que seria divulgação, ele só enviou para pessoas específicas; houve
confiança entre o cliente e os amigos; nao havia consentimento ou aprovação do cliente
no fato de os amigos terem divulgado; a imagem do cliente também foi exposta; ele
não tinha a intenção de divulgar o vídeo a todos; os amigos é que deram causa quando
descumpriram o acordo firmado; se o Facebook tivesse acatado opedido de tirar o
vídeo do ar, ela não teria se matado.
Quem é responsável nesse caso? O argumento do namorado é que ele compartilhou só
com dois amigos e esses amigos que compartilharam na rede.
Em situações como essa muitos entendem que todos que compartilham material
ilícito são responsabilidade. Só que muitas vezes isso é um colégio inteiro, uma cidade
inteira. Por isso a responsabilidade do provedor.
Problemas relacionados à responsabilização do provedor: eles não tem condição
de fazer esse controle.
Ninguém duvida que os pais da menina tiveram situação existencial violados
(parentes de pessoas que foram mortas podem pedir ação por danos morais, pois ali eles
foram violados em uma situação existencial). A grande questão é se teve nexo causal
entre o ilícito divulgação e o resultado morte.
No que diz respeito aos danos morais que a filha sofreu, foi transmitido aos pais
por sucessão. Se se entende que não há sucessão, na prática, os pais estariam
representando a filha morta, o direito de personalidade continua sendo da filha, os pais
só agem em nome dela.
Dano reflexo: Esse dano ocorre quando a ofensa é dirigida a uma pessoa, mas quem
sente os efeitos dessa ofensa, dessa lesão é outra.
Ex: ofensa dirigida a um morto, que apesar de não ser ofendido em sua personalidade, pois os
direitos da personalidade surgem com a concepção e se extinguem com a morte, portanto, não são
transmitidos aos herdeiros, que só poderão entrar com ação de indenização em razão de sofrerem o dano
reflexo da ofensa.
Ressalte-se que, se o de cujus foi ofendido enquanto ainda era vivo, houve uma lesão aos seus
direitos da personalidade, e o direito a reparação por esse dano moral é transmitido dentro da herança
(CC, Art. 943. O direito de exigir reparação e a obrigação de prestá-la transmitem-se com a herança).
Lembrar que dano moral não é dor, tristeza, angústia, vergonha, humilhação etc., essas são suas
consequências. Assim, dano moral é a lesão aos direitos da personalidade, por isso conforme a doutrina
e jurisprudência atual não há mais a necessidade de prová-lo, pois agora a prova é in re ipsa , ou seja,
incita na própria coisa. Assim, para constituir o dano moral basta a violação de um direito,
independentemente do sentimento negativo consequente, o qual terá relevância apenas para a
quantificação do dano.
Em que medida os danos sofridos por um parente podem ser também
considerados danos e de alguma forma foram também sentidos pelo parente, ainda que
de forma reflexa? É indenizável?
Quando ocorre uma grande violação de direito de personalidade, após
a morte de uma pessoa, quais os parentes que podem invocar esse dano? Normalmente,
tende-se a pensar que são os parentes mais próximos (cônjuge e filhos que entram com
a ação de danos morais/materiais. Mas e os pais, irmãos, primos, amigos próximos?
Não há respostas prontas (ex.: fãs do Michael Jackson pedindo indenização pelo dano
que ele sofreu). Há uma necessidade de se delimitar quem de fato sofre o dano.
Pode se admitir que há dano reflexo, mas também tem que haver a preocupação
do que é esse dano reflexo e quem pode ser considerado “sofredor” desse dano reflexo.
Os legitimados à propositura de ação por danos morais, diante de determinadas
situações.
SIMULAÇÃO 13:
Discussão sobre biografia não autorizada (limites pra isso), mas também a questão da
sucessão: pelo direito brasileiro, o que vem prevalecendo é o código não deu orientação
definitiva código só diz que os parentes podem entrar com ação em nome do
morto, mas não se sabe se os parentes sucedem o morto naquele direito (como
acontece com a herança), ou se o direito continua sendo do morto e os parentes
estão apenas representando aquele morto (agindo em nome dele). .
No caso, o filho não queria só a indenização. Queria também resguardar os
direitos do pai de não ver sua biografia sendo publicada após a sua morte.
Quando o filho pede a indenização por danos morais, em tese ele estava pedindo
um direito próprio. Em relação a defesa da honra e imagem do pai, não tem
desdobramento patrimonial (chega a pedir uma forma extrema de tutela in natura, que
é a busca e apreensão dos livros). Ali, de acordo com alguns precedentes do STJ, ele
não estaria exercendo direito próprio, porque não há sucessão nesses casos. Morto
continua com seu direito de personalidade, filho está somente representando o pai.
Supremo já decidiu que não precisa de autorização para biografia.
Especialistas dizem que não é possível sujeitar previamente uma biografia à
opinião do biografado por uma série de circunstâncias. Não podemos engessar a
história, a vida privada de uma pessoa pode ter muitos desdobramentos na vida
pública.
Art. 20. “Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à
manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou
a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser
proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe
atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins
comerciais. (Vide ADIN 4815)
Parágrafo único. Em se tratando de morto ou de ausente, são partes legítimas para
requerer essa proteção o cônjuge, os ascendentes ou os descendente”.
Se o próprio Supremo entende que não precisa de autorização do biografado,
então pode haver essa publicação. Até porque uma coisa é a vida do biografado, outra
coisa é a biografia. Entretanto, há um controle a posteriori. Se há fatos injuriosos, cabe
então as providências por parte do ofendido. Se se comprova que a biografia excede os
limites da liberdade de expressão, houve sim violação dos direitos de personalidade e
ate justificaria a busca e apreensão daqueles livros.
SIMULAÇÃO 16:
Autor: situação em que o contrato foi celebrado era diferente (eles estavam casados e
felizes, foi mera formalidade colocar o nome dela como responsável; não previram que
iam se separar ou que ele ia se tornar infértil); existe sim proteção a esses embriões, ela
não poderia só descartar até porque metade do material pertence ao homem.
Réu: marido procurou a clínica pra conseguir os embriões depois que descobriu que
estava infértil; embriões são copropriedade.
Direito ao corpo, a questão do material genético é muito importante.
Peculiaridade desse caso: aqui já se fala em embriões, será que é propriamentematerial
genético? O raciocínio de que cada um detém metade é meio bizarro.
Conflito triangular: envolve o pai, a mãe e o embrião. O pai alega o direito à vida do
embrião. Embrião já é sujeito de direito? Obrigando a mãe a ter um filho que ela não
quer.
- Diferença entre multa e indenização. Uma é do campo penal e outra do campo cível?
Quais as funções da indenização? É reparar o dano? Ressarcir?
Multa: penal, administrativa, pode ser até civil. Multa é medida aflitiva, não tem
nenhuma característica de compensação, quer só punir a pessoa. Já no campo
ressarcitório, lida-se, de alguma maneira, com uma reparação.
- Compensar? Prevenir? Ressarcimento? Compensação no dano material eu entendo,
mas no dano moral não.
Quando se fala de direitos patrimoniais, a ideia é de que há como
ressarcir/compensar. Problema é que nos danos morais, direitos de personalidade são
insuscetíveis de qualquer tipo de compensação. Por isso que a indenização por danos
morais é super complexa, muitos entender que há um viés punitivo e preventivo.
- Dano moral é uma resposta do ordenamento para violação de direitos de
personalidade OU é uma violação da cláusula geral de personalidade essas duas
visões do que é dano moral são excludentes?
São duas vertentes que acabam sendo utilizadas com muita largueza. O queimporta
é que hoje há uma postura refratária a que via dano moral como resposta à mera tristeza.
A regra geral é violação de direito de personalidade ou violação de uma situação
existencial. Rol em expansão desses direitos.
SIMULAÇÃO 17
Autor: mãe não sabia que a filha tinha feito a matrícula, achava que estava só
acompanhando; a escola sabia que a mãe não ficaria satisfeita ao saber; a escola
forçou, tentou colocar a menina como se ela fosse maior de idade, usou o argumento
de ela fazer estágio pra tentar convencer de que ela tinha condições de pagar o curso;
a responsabilidade contratual deve ser no sentido de considerar Tarsila uma menor
incapaz;
Réu: capacidade em razão do vínculo laboral à época da celebração do contrato;
omissão da mãe de questionar durante dois meses o vínculo da filha com a instituição;
instituição não pode ser responsabilizada pela omissão dos pais; adolescente ter
liberdade para escolher;
Relativamente incapaz (entre 16-18 anos) não pode se furtar se no ato ele se dizer maior.
Questão da boa fé sempre observada nesses casos.
Duas formas de invalidação de um contrato: nulidade ou anulação
Absolutamente incapaz contrato é nulo e relativamente incapaz é anulável.
INÍCIO DA PERSONALIDADE
Art. 2˚. “A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a
lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro”.
Personalidade só começa com o nascimento com vida, mas, ao mesmo tempo,
a lei resguarda os direitos do nascituro – em princípio, esse artigo encerra uma
contradição em si mesmo, contradição essa que vem desde o CC passado.
Se o nascituro tem direitos, mas não é pessoa, então o que ele é? Pode
ser que a lei esteja usando da palavra direitos de uma forma técnica: pode ser que o
nascituro não titulariza propriamente direitos, mas direitos potenciais, expectativas,
outras formas de situações jurídicas que não propriamente diretos subjetivos.
Discussões doutrinárias sobre o nascituro
Francisco Amaral: única forma de superar essa contradição é entendendo que
a personalidade começa da concepção e por isso nascituro é pessoa e consequentemente
pode ser sujeito de direitos e deveres na vida civil (essa não é a opinião que prevalece
no direito brasileiro).
Direito brasileiro: entende que a personalidade só começa com nascimento
com vida (por nascimento com vida entende-se entrada ar nos pulmões – teste para
ver se a criança nasce natimorta, i.e., nem adquire personalidade, ou se ela nasceu
com vida, adquiriu personalidade e veio a falecer logo depois).
Na prática, o problema não é tão grande, pois se reconhece ao nascituro a chamada
capacidade processual o que quer que o nascituro seja (seja pessoa, seja uma
situação intermediária de aquisição de personalidade), o que quer que o nascituro
titularize (seja direito, seja expectativa, seja outro tipo de situação jurídica que a gente
teria que criar para ajustar-se a essa situação específica do nascituro) o nascituro
pode ser autor e réu de ações.
Direito acaba dando uma solução semelhante à do morto: a lei não explicou se
quando a pessoa morre os direitos de personalidade dela são transferidos aos herdeiros,
ou se ela permanece com aqueles direitos e os herdeiros portanto só representam (nesse
segundo caso, entenderia-se que a personalidade resiste após a morte e aqueles
legitimados (pelos §s únicos dos arts. 12 e 20) agem em nome do morto) lei diz que
os parentes são legitimados a proteger aqueles desdobramentos do morto; na prática,
existe uma forma eficaz de tutela, ainda que, do ponto de vista teórica se discute
bastante (a que título aqueles parentes agem, se eles são sucessores ou representantes;
o que eles estão pleiteando, se são direitos próprios que elesherdaram ou se são direitos
do morto que eles estão representando); doutrinariamente a discussão é grande, mas do
ponto de vista pragmático se resolve.
O mesmo acontece com o nascituro: nascituro pode ser autor e réu de
ações, mesmo que não se concorde sobre qual é a natureza jurídica do nascituro, sobre
o que ele defende (direitos ou expectativas); o que quer que ele seja e o que quer que
ele tenha, ele está lá defendendo ações.
Difícil imaginar que algo ou alguém que não tenha personalidade tenha
capacidade processual, mas isso acontece com uma certa frequência:
Ex.: condomínios edilícios – condomínio não é pessoa jurídica, mas
mesmo assim tem a possibilidade de demandar e ser demandado (se o condomínio
não tivesse capacidade processual, todas as vezes em que ele precisasse defender algo,
todos os condôminos é que seriam as partes).
Capacidade processual do nascituro já é algo reconhecido e aceito no direito brasileiro
há muito tempo. Mas inicialmente essa capacidade estava relacionada a questões mais
patrimoniais, era muito comum nascituro ser autor/réu de ações sucessórias, por
exemplo (pai morre, a mãe tá grávida e quer assegurar que aquela sucessão vá
contemplar o seu filho que está por nascer; casos de investigação de paternidade – pai
morre e os pais não são casados, pois se há casamento há presunção de paternidade dos
filhos havidos na constância do casamento; nascituro entrando com a ação,representado
pela sua mãe, que quer o reconhecimento da paternidade, inclusive para efeitos
patrimoniais consequentes, como pensão e herança).
Na hipótese específica de nascer natimorto, ele não adquire personalidade.
Por meio da capacidade processual, nascituro acaba recebendo uma tutela;
na prática, proteção eficiente do nascituro, mesmo com as divergências doutrinarias.
Hoje, já há entendimento do STJ sobre a capacidade do nascituro, de alguma forma,
de titularizar situações existenciais, situações essas que, se violadas, justificariam sim
uma ação de indenização, independentemente de ele ter nascido ou não. Isso é mais
uma comprovação de que dano moral não é uma resposta à dor e sofrimento, mas é
ideia de que já há alguns aspectos daquela personalidade que já podem ser
comprometidos, mesmo na vida intrauterina (honra, direito à saúde, direito de nascer,
direito de não nascer).
Ex.: caso Wanessa Camargo e Rafinha Bastos.
Estatuto do nascituro que tramita no Congresso pretende levar esses direitos do
nascituro às últimas consequências, i.e., criando um direito de nascer tão amplopor
parte do nascituro que afastaria até mesmo as hipóteses hoje já existentes de aborto
legal (direitos do nascituro não se pode dar sem a discussão sobre direitos da mãe –
delicadeza desse problema: por mais que o nascituro possa ser considerado um sujeito
de direito, tenha situações existenciais a tutelas, a mãe também precisa ser levada em
consideração).
Quando se fala em nascituro, há ainda outra dificuldade: estamos considerando uma
realidade que pra alguns vai desde a concepção até o nascimento e pra outros vai da
implantação do óvulo fecundado no útero até o nascimento. Por essa segunda visão,
exclui-se os embriões da qualidade de nascituro – direito à vida até seria mitigado pois
não estaríamos falando de pessoas, pois embrião enquanto não está no útero não tem
condições de se tornar vida, porém a partir do momento que ele é implantado no útero
já se tem o nascituro, e essa situação perdura até o nascimento.
É claro que não se pode analisar esse nove meses de gestação de forma linear.
Há a discussão sobre a partir de que momento se tem vida inteligente ou uma
consciência. Isso é fundamental para se saber até quando a mulher pode abortar.
Todo aquele que nasce com vida é pessoa – essa é a solução do direito brasileiro.
Direito romano: se associava a aquisição da personalidade a um tempo mínimo
de vida (14 dias, criança vingou ou não vingou); forma humana. Hoje sesabe:
nasceu com vida, entrou ar nos pulmões, é pessoa; e mesmo aquele que não nasceu
pode até não ser propriamente pessoa, pode até não titularizar propriamente direitos
(embora muitos entendam que sejam e que titularizem), mas serão protegidos dentro
das suas especificidades, pois têm capacidade processual.
EXTINÇÃO DA PERSONALIDADE
Morte, assim como a vida, dá margem a várias discussões, que envolvem argumentos
científicos, filosóficos, éticos, morais, religiosos, jurídicos. Mas, em relação à morte,
há menos controvérsia que a vida pois, do ponto de vista médico, já há um consenso
em torno da ideia de que a morte acontece quando o cérebro perde a sua atividade, pois
a partir desse momento essa situação é irreversível (morte cerebral).
Morte, quando constatada por uma evidência concreta (exame que comprove
fim da atividade cerebral do morto), não dá margem a tantas discussões.
Claro que o morto continua a ter alguns dos desdobramentos da
personalidade (§s únicos dos arts. 12 e 20): não é porque morreu que não vai ter
alguns direitos ou algumas situações que vão ser tuteladas, inclusive pelos seusparentes,
porém o fato é que não há mais personalidade (o que se está discutindo são
desdobramentos de personalidade de alguém que não mais tem essa personalidade no
seu título).
Arts. 6˚ e 7˚: casos onde não há o corpo morto, a partir do qual se constante o fim da
personalidade e então, querendo ou não, trabalha-se com presunção de morte.
Art. 6o. “A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta, quanto
aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva”.
(FATOR TEMPO).
Ausência = desaparecimento.
Art. 22. “Desaparecendo uma pessoa do seu domicílio sem dela haver notícia,
se não houver deixado representante ou procurador a quem caiba administrar-lhe os
bens, o juiz, a requerimento de qualquer interessado ou do Ministério Público, declarará
a ausência, e nomear-lhe-á curador” – desapareceu, já pode haver umcurador (alguém
que vai cuidar das relações patrimoniais daquela pessoa), porque como não há um
tempo maior, ainda há a expectativa que a pessoa retorne.
Art. 26. “Decorrido um ano da arrecadação dos bens do ausente, ou, se ele
deixou representante ou procurador, em se passando três anos, poderão osinteressados
requerer que se declare a ausência e se abra provisoriamente a sucessão”
– sucessão provisória; já foi constatada a ausência, foi nomeado um curador e já se
passou um ano desde a nomeação desse curador ou três se o ausente deixou
representante; aqui já se começa a trabalhar com a ideia de que aquela pessoa morreu;
desapareceu, não voltou, então os herdeiros entrarão no patrimônio; sucessão
provisória, pois ela precisa ser reversível; o ordenamento ainda parte da premissa de
que aquela pessoa pode voltar, por isso que os herdeiros precisam oferecer garantias de
que, caso o morto volte, haja condições de devolução daquele patrimônio.
Art. 37. “Dez anos depois de passada em julgado a sentença que concede a
abertura da sucessão provisória, poderão os interessados requerer a sucessão definitiva
e o levantamento das cauções (garantias) prestadas” – Sucessão definitiva; passados
dez anos, aí sim há a declaração da morte.
Art. 7o. “Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de ausência:
I - se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida;
II - se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até
dois anos após o término da guerra.
Parágrafo único. A declaração da morte presumida, nesses casos, somente poderá ser
requerida depois de esgotadas as buscas e averiguações, devendo a sentença fixar a data
provável do falecimento” (FATOR RISCO)
Diferença entre as hipóteses do art. 6˚ e do art. 7˚: no 6˚, há só o fator tempo, no 7˚
tem uma situação de risco; é isso que possibilita a flexibilização temporal no art. 7˚
(desastre de avião, por exemplo, muitas vezes não se acha nem o corpo, então é o juiz
que vai fixar essa morte, por presunção).
Mas, tanto nas hipóteses do art. 6˚ quanto na do art. 7˚, há a possibilidade de a
pessoa voltar. Se a pessoa voltar, tem que ressuscitar a pessoa civilmente. Difícil, pois
a partir do momento que tem a sucessão definitiva, herdeiros não precisam mais dar a
garantia de devolução, houve boa-fé.
Art. 8o Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se podendo
averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outros, presumir-se-ão
simultaneamente mortos (IMPORTANTE PRO DIREITO DAS SUCESSÕES):
Comoriência; Hipótese importante em casos em que pessoas da mesma família
morrem no mesmo acidente. Eles se presumem simultaneamente mortos; tem que
apurar, se houver exames médicos que consigam atestar quem morreu primeiro,
obviamente que será mantida essa precedência; mas nas hipóteses em que não tiver
como apurar, cria-se presunção de que eles morreram no mesmo momento, e isso vai
alterar toda a ordem sucessória entre essas pessoas.
CAPACIDADE
A personalidade é a aptidão para ser sujeito de direitos na vida civil. Todos aqueles
que nascem com vida têm personalidade.
A capacidade é um plus à personalidade. Ela é a capacidade de exercer
pessoalmente esses direitos. Eu não apenas titularizo esses direitos, como eu posso
exercê-los por mim mesmo, eu não preciso de ninguém para me representar ou ajudar.
Direito se preocupa com incapacidade essencialmente para proteger o incapaz
(finalidade).
Agente capaz é aquele que, para efeitos civis, está no mundo.
Foco da capacidade aqui é o direito civil: as nossas noções não necessariamente serão
compatíveis com as regulações penais, eleitorais, administrativas (como código de
trânsito). É possível e admissível que o ordenamento trabalhe com diferentes faixas
etárias para diferentes projeções.
No direito civil, só se torna capaz aquela pessoa que, em princípio, tem 18
anos, pode expressar a sua vontade e ter “discernimento”.
Discernimento entre aspas pois, em razão do estatuo das pessoas com
deficiência, esse tratamento foi modificado e hoje a lei criou algumas dificuldades que
precisam.
Capacidade é um plus à personalidade e diz respeito a um poder de agir. Quando
se faz 18 anos, todos podem fazer o que bem intenderem no plano civil, sem precisar
de pai para representar ou de algum tipo de ajuda.
Não confundir capacidade de direito com capacidade de fato.
Capacidade de direito = personalidade; capacidade de fato = dimensão de
plus, possibilidade de agir.
Capacidade pensada, em primeiro lugar, para proteger o incapaz e se proteger o incapaz
principalmente em alguns planos da vida civil que requerem uma responsabilidade
extra.
Daí porque o foco das incapacidades serem os negócios jurídicos – contratos.
Contratos são fonte de direito; as partes criam regras que irão reger as
suas vidas; o contrato faz com que as partem sejam, de alguma maneira, legisladores
de suas próprias vidas; as partes podem criar relações jurídicas, o que demonstra um
âmbito de autonomia privada muito grande, apesar de haverem limites.
Repercussões importantes:
Teoria das incapacidade não se aplica a ferro e à fogo nas situações
existenciais/aos direitos de personalidade. Direitos de personalidade exercidos
diretamente por menores, por incapazes.
Plano extracontratual, a responsabilidade por ato ilícito não necessariamente um
menor não terá responsabilidade pelos resultados dos seus atos ilícitos. Paisrespondem
objetivamente pelos atos dos seus filhos menores, mas se os pais não tiverem
patrimônio e esse menor tiver, é o patrimônio do menor que irá responder (claro que
com algumas medidas protetivas, mas ele não é considerado inimputável, no que diz
respeito a esse ato ilícito).
Quando o legislador pensa em capacidade, ele organizou a partir de três critérios
fundamentais. Para se entender os impactos do Estatuto da pessoa com deficiência, que
é recente (final do ano passado, entrou em vigor no começo desse ano) é importante
entende como esse sistema foi arquitetado primeiramente pelo CC:
Inicialmente (CC/2002), haviam três critérios: idade + discernimento +
capacidade de manifestação da vontade.
O próprio legislador havia noção de que poderia haver gradação em
relação a esses requisitos e por isso pensou nos casos de INCAPACIDADE
ABSOLUTA e nos casos de INCAPACIDADE RELATIVA.
- Pela idade, menores de 16 anos ficam com capacidade absoluta e 16-18 anos
ficam com capacidade relativa.
- Em relação ao discernimento, se a pessoa tem zero discernimento ela é
considerada absolutamente incapaz (isso já foi modificado pelo estatuto). Se
ela tem algum discernimento, ela é considerada relativamente incapaz (já é
um avanço pois o CC/1916 considerava absolutamente incapaz os chamados
loucos de todo gênero, que é uma expressão considerada preconceituosa,
inadequada e insuficiente).
- Em relação à capacidade de manifestação da vontade, o CC/1916 também
faziam uma referência aos surdos/mudos, o que também mostra um
preconceito. No CC atual, também partiu da premissa de que é
absolutamente incapaz se a capacidade de manifestação é zero (ex.: coma),
porém se ela tem capacidade de manifestação da vontade, mas que é
reduzida, é relativamente incapaz (ex.: viciados em drogas).
Em nenhuma dessas hipóteses, o incapaz pode agir sozinho, a questão é o grau de
ajuda que ele terá, conforme seu tipo de incapacidade. Nos casos de incapacidade
absoluta, há a ideia de que a autonomia da pessoa é tão comprometida que ele não pode
nem mesmo manifestar sua vontade, ele precisa de um representante que fale por ele
(pais, tutores, curadores). Já nos casos de capacidade relativa, a lei já valoriza a
manifestação do incapaz, ela apenas pede que essa manifestação venha acompanhada
da manifestação de vontade de um representante específico, o assistente(pessoa age,
mas precisa de alguém para auxiliar).
Normalmente, representante é expressão ampla que abrange o representante
stricto sensu (aquele que age em nome de absolutamente incapazes) e o assistente
(aquele que auxilia os relativamente incapazes).
A pessoa, até seus 16 anos, é representada; depois, é assistida até os 18 anos; depois
dos 18, ela não é mais representada e já tem capacidade, isso partindo da premissa de
que essa pessoa chegou aos 18 anos com discernimento e capacidade de manifestação
da vontade. Para aquelas pessoas que têm problemas, tanto no discernimento quanto na
manifestação, o critério etário não necessariamente lhes assegurará a capacidade.
Muitas vezes a pessoa está em coma, faz 18 anos, e imediatamente os pais têm
de entrar com uma ação de interdição para pedir a curatela daquela pessoa. É também
comum a pessoa completar 18 anos, se torna capaz, mas lá na frente sofre umdistúrbio,
uma doença que compromete qualquer desses fatores e ela tem que ser interditada
posteriormente (ela se tornou capaz, agiu na vida civil para todos os efeitos, mas sofreu
um acidente, entrou em coma e, a partir daquele momento, ela deixa de ser capaz e se
torna incapaz) alguns dizem que uma pessoa que era capaz perder essa capacidade
é quase como uma sentença de morte civil (a pessoa não pode mais agir sozinha na vida
civil), então decidir quem fala por ela, em quais circunstâncias, quais são os poderes é
algo tão sério que só pode ser feito por decisão judicial (sentença de interdição).
Esses estados de capacidade e incapacidade são estados permanente, mas não
necessariamente eternos.
Incapacidade: algo que tem certa consistência no tempo. (pessoa sob porre,
hipnose, sonambulismo faz um contrato – isso não é incapacidade, se questiona a
validade daquele contrato, alegando que não houve livre manifestação da vontade
naquele momento). A incapacidade sempre se prolonga no tempo – claro que ela pode
deixar de existir (pessoa acorda do coma e retoma sua capacidade).
Após os 18 anos, só o que importava era o discernimento e a capacidade de
manifestação da vontade. Senilidade (idade avançada) nunca foi fator de incapacidade
no direito brasileiro, mas sim de eventuais consequências que podem decorrer disso.
Sentença de interdição: ex.: alguém perde o discernimento em 2011, a famíliademora
um certo tempo para perceber e entrar com a ação e só há sentença de interdição em
2013 (dois anos agindo civilmente, contratando, vendendo bens, doando patrimônio)
quais os efeitos da sentença de interdição?
casos de incapacidade absoluta – efeitos nulos sentença teria efeitos
declaratórios e portanto ex tunc; atos nulos.
casos de incapacidade relativa – efeitos anuláveis (mais suave, pode ser
convalidado) sentença teria efeitos constitutivos e portanto ex nunc.
Terceiro de boa fé (direito brasileiro protege): aquele não sabe e nem seria exigível que
ele soubesse. Age de boa fé aquele que não sabe do problema, quando não seria exigível
que ele soubesse.
ABSOLUTAMENTE RELATIVAMENTE
INCAPAZ (não age, INCAPAZ (age, mas ele
representante fala por ele); ex precisa ser acompanhado do
tunc. assistente); ex nunc
IDADE Menores de 16 anos 16 a 18 anos
DISCERNIMENTO Zero (pelo CC) Algum discernimento
CAPACIDADE DE Zero (pelo CC) Alguma restrição +
MANIFESTACAO DE Ex.: Coma Ébrios, viciados em
VONTADE tóxicos e pródigos.
Esse era o quadro até o estatuto da pessoa com deficiência: esse estatuto foi pensado
para aumentar as possibilidades dessas pessoas, na tentativa de evitar o problema que
era muito comum nas ações de interdição: embora as capacidades tivessem como foco
essencialmente os negócios jurídicos, normalmente o incapaz acaba tendo uma vida
muito restrita, já que seus representantes acabavam interferindo em vários aspectos da
sua vida existencial.
Procurou reiterar uma série de ideias que já podiam ser extraídas do CC –
reiterar que a incapacidade jamais se projeta sobre situações existências; pessoas
com deficiência jamais poderiam ser tolhidas de suas situações existenciais (situações
existências vistos de forma ampla; vida amorosa, casamento, etc.).
Estatuto da pessoa com deficiência veio essencialmente para assegurar que
essas pessoas com deficiência possam ser vistas de maneira mais protetiva, em favor
do deficiente e, dentro do possível, possibilite a ele ter a maior liberdade possível, não
apenas nas situações existenciais, mas também nas situações patrimoniais.
Na ânsia de se querer proteger o deficiente, talvez se tenha criado um sistema
que não o protege tanto assim.
Esse estatuto acaba com todas as hipóteses de incapacidade
absoluta que não sejam por IDADE. Hoje, só é absolutamente incapaz, no
direito brasileiro, o menor de 16 anos.
Hoje, qualquer restrição quanto à capacidade de manifestação de
vontade, seja parcial seja absoluta, é considerada tão somente causa de
incapacidade relativa (ainda sim, alguém que está em coma, por exemplo,
precisa que alguém o represente, pois ele não consegue falar por si mesmo, um
mero assistente não é suficiente).
Discernimento deixa de ser hipótese de incapacidade, seja total, seja
relativa. Hoje, uma pessoa que não tem discernimento, ou tem restrições de
discernimento não é considerada nem mesmo relativamente incapaz, ela é
considerada capaz (ausência ou limitação de discernimento deixou de ser
considerada hipótese para incapacidade, seja absoluta seja relativa ).
Teoria das incapacidade veio para proteger o incapaz. Veio
também para o negócio jurídico.
Art. 3o São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os
menores de 16 (dezesseis) anos.
Art. 4o São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer:
I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; (MANTEVE)
II - os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental,
tenham o discernimento reduzido;
III - os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo;
II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico; (MANTEVE)
III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua
vontade;
IV - os pródigos. (TIROU O DISCERNIMENTO)
Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será regulada por legislação especial.
Hipótese do inciso III: aqueles que não podem exprimir sua vontade (zero
capacidade de manifestação da vontade), que antes eram considerados absolutamente
incapazes, foram transferidos para os relativamente incapazes. Hoje, quem tem
restrições para manifestar sua vontade ou que não pode expressar sua vontade são
igualados e considerados relativamente incapazes.
Discernimento deixa de ser incapacidade, seja absoluta seja relativa. Cortou-se
o critério do discernimento. Hoje, a pessoa que não tem discernimento ou tem
discernimento reduzido é capaz, ela pode agir na vida civil como bem entender.
Considerando que a incapacidade tem essa função protetiva, essa mudança que o
estatuto da pessoa com deficiência trouxe pode acabar não protegendo.
Lei, na ânsia de proteger essas pessoas, talvez tenha acabado por desproteger
essas pessoas. É claro que nas situações existenciais essas pessoas devem tem sua
autonomia assegurada, mas isso influenciou também nas relações negociais.
Lei prevê um procedimento chamado tomada de decisão apoiada: procedimento pelo
qual a pessoa com deficiência pode escolher 2 ou mais pessoas que a ajudarão a tomar
atitudes na vida civil.
A curatela para pessoas com restrição/ falta de discernimento, em principio, não
é obrigatória, e a pessoa não é considerada aprioristicamente incapaz. A pessoa,
querendo isso, pode optar por essa tomada de decisão apoiada e a própria lei diz que a
curatela (que era a forma tradicional de se lidar com situações como essa) é sempre
excepcional.
Pessoas absolutamente incapazes e pessoa relativamente incapazes vão ser
curateladas, o que depende é o grau.
Nao há mais a diferenciação entre incapacidade relativa e incapacidade absoluta
pelo critério de representante e de assistência, pois o único critério de incapacidade
absoluta é a idade (tutor). Não há mais a diferente em relação aos efeitos(ex tunc pra
absoluta e ex nunc pra relativa ), pois então a única forma de contrato nulo seria o feito
por menor de 16 anos, para todos os outros critérios os efeitosseriam somente
anuláveis (ex nunc).
Estatuto da pessoa com deficiente revoga diretamente alguns incisos dos arts.
3˚ e 4˚.
A sentença de interdição só se coloca para as pessoas maiores de 18 anos.
Pela idade, ele é naturalmente incapaz e vai ter que ser representado sempre.
Curatela é forma de representação para qualquer outra causa que nao seja a
idade (a idade é o tutor; tutor é forma de representação exclusiva por idade). Curador
é palavra ampla, designa tanto o representante no caso da incapacidade absoluta quando
o assistente da incapacidade relativa.
Cada curatela teria que ser feita sob medida; curatela teria que ser
mínima, por exemplo, caso restrição de capacidade de manifestação da vontade fosse
pequena.
Art. 4, incisos II, III e IV ainda podem ter curatela.
Curatela excepcional nos casos de falta de discernimento, por mais que a
pessoa não seja mais considerada incapaz (tomada de decisão apoiada)
Art. 4˚, inciso II: ébrios habituais e viciados em tóxicos (incapacidade relativa) – não
é simplesmente beber e ser viciado em tóxicos, é ter redução da capacidade em
virtude desses hábitos. O que causa a incapacidade são os efeitos permanentes daqueles
hábitos na vida da pessoa, não o simples fato de a pessoa beber.
Art. 4˚, inciso IV: pródigos – prodigalidade não é só gastar muito, é o gasto irracional,
sem contrapartida e que possa comprometer a sua subsistência.
Surge na época do direito romano, onde há uma ideia de clã e de coletividade
muito grande; é a sobrevivência de toda a família que está em jogo se o pater começa
a gastar todo seu patrimônio. Mas será que isso se verifica hoje? Há a ideia de que não,
pois hoje há a autonomia patrimonial da pessoa. Manteve-se pela proteção do pródigo,
não da família.
Mas, o direito protege a pessoa das suas próprias vontades. Se entende
que essa é uma capacidade tão leve que justificaria uma interdição proporcional, só
pra evitar que ele disponha do seu patrimônio.
CESSAÇÃO DA MINORIDADE
Art. 5o . “A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica
habilitada à prática de todos os atos da vida civil.
Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade:
I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento
público, independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido
o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos; (EMANCIPAÇÃO)
Completados 16 anos, os pais podem ir ao cartório e emancipar os filhos;
irretratável (não pode se arrepender depois); não há controle de se isso está sendo feito
para o bem estar do menor, mas em tese, deveria ter; é um meio de facilitar avida
da pessoa; ela é civilmente capaz com 16 anos, mas continua não sendo obrigadaa votar,
não podendo dirigir, inimputável penalmente.
II - pelo casamento;
O casamento envolve tantas responsabilidades (possíveis maternidade,
paternidade, etc.) que não seria lógico que alguém casasse e continuasse sob assistência
do pai/mãe.
Art. 1.517. “O homem e a mulher com dezesseis anos podem casar, exigindo-
se autorização de ambos os pais, ou de seus representantes legais, enquanto não atingida
a maioridade civil”.
Art. 1.520. “Excepcionalmente, será permitido o casamento de quem ainda não
alcançou a idade núbil (art. 1517), para evitar imposição ou cumprimento de pena
criminal ou em caso de gravidez.”
Essa primeira hipótese não tem mais aplicação (antes, havia uma série
de crimes sexuais que previam como extinção de punibilidade o casamento do agressor
com a vítima). Mas a segunda hipótese continua, pois entende-se que é muito
complicado que a mulher (o homem também) seja mãe/pai sem ter capacidade; o que
faz cessar a capacidade não é a gravidez, é o casamento em virtude da gravidez.
Se o casamento leva à capacidade, porque não a união estável também?
Casamento, por ser ato formal e solene, eu tenho um carco certo da aquisição da
capacidade; no caso da união estável, dificilmente existe esse registro. Mas ainda sim,
hoje há quem sustente que esse inciso contemple a união estável.
III - pelo exercício de emprego público efetivo;
IV - pela colação de grau em curso de ensino superior;
Essas duas hipóteses, dos incisos III e IV, faziam mais sentido quando a
maioridade era atingida só aos 21, pois hoje é absolutamente excepcional alguém
exercer emprego público ou colar grau em ensino superior antes dos 18 anos.
V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego,
desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia
própria.”
Como se fosse emancipação de fato; desde que a pessoa tenha 16 anos, tenha
um trabalho ou um empreendimento, entende-se que ela está emancipada. Mas é
problemática porque é difícil de avaliar, então muitas vezes os pais pedem a
emancipação pelo inciso I.
Direito subjetivo: Zona de autonomia privada (direitos são instrumentos pra que a
gente possa exercer nossa autonomia), mas também juízo de intersubjetividade, e
aspecto funcional, que vai ser mais ou menos forte a depender do direito.
Visão de Jhering: interesse juridicamente protegido
SIMULAÇÃO 18
Autor: ajuizou ação de danos morais contra três colegas por causa da bullying que a
menor sofreu; tentou suicídio e desenvolveu anorexia; estabelecimento de ensino tinha
o dever de garantir a integridade da menina, tanto física quanto psicológica;
responsabilidade objetiva por causa que foi causado por danos relacionados às relações
de consumo (art. 14 do código de defesa consumidor).
Réu: responsabilização sobre os pais dos praticantes do bullying; arts. 932 e 933 do
CC.
Violação de situação existencial da menor, que titulariza essa situação existencial. Em
tese, o bullying foi feito por três menores (os pais respondem objetivamente pelos atos
ilícitos dos filhos menores – pouco importa se os pais agiram com ou sem culpa).
Independente dos pais responderem objetivamente, esses menores, quando os pais não
têm patrimônio, vai poder responder pelo seu ilícito – Foco principal da teoria das
incapacidades é o negócio jurídico, não no âmbito de relações existenciais.
Desde que se comprove que há um nexo causal entre a omissão do colégio e o dano,
pode-se responsabilizá-lo objetivamente, não importando a culpa.
Campo da ilicitude – menores vão poder sim responder pelos seus atos ilícitos, não é
porque são incapazes que vão poder fazer o que quiserem, causar danos a terceiros e
não ter nenhum tipo de responsabilização.
No campo do ilícito, essas noções de incapacidade não se aplicarão da mesma maneira
como no campo dos negócios jurídico
TEORIA GERAL DO DIREITO PRIVADO
(2/2016)PROFESSORA ANA FRAZÃO
CADERNO CECÍLIA ROSAL (2 ̊ BIMESTRE)
ROTEIRO 8
Por trás das pessoas jurídicas, existe uma ideia muito comum de que a união faz a força:
pessoas jurídicas envolvem uma série de atividades segundo as quais uma pessoa natural,
em razão das suas limitações naturais (de patrimônio, de esforço), não pode fazer sozinha
e, quando essas pessoas se unem, elas são capazes de unir esforços, unir patrimônio, ampliar
seu centro de imputação (cuja existência transcende a de seus fundadores).
A pessoa natural tem uma personalidade que acaba com a morte. A pessoa jurídica não
necessariamente. A pessoa jurídica pode durar 100, 200.. anos. Ela pode ser criada para
ter uma existência por tempo indeterminado, desde que sua estrutura organizacional
possibilite essa manutenção.
Teorias das pessoas jurídicas: a adoção de uma ou outra teoria gera implicações práticas:
países que adotam teorias mais rigorosas, tendem normalmente a prever mais requisitos para
acriação das pessoas jurídicas; os países que tendem a adotar teorias menos rígidas, tendem
a ter uma legislação mais flexível (esse último é o caso do Brasil – temos uma legislação
relativamente flexível na criação de pessoas jurídicas e é por essa razão que temos tantos
problemas em torno das pessoas jurídicas aqui).
Requisitos necessários para a criação das pessoas jurídicas: Há basicamente três sistemas,
dois extremos e uma alternativa intermediária (adotada pelo Brasil):
- Teoria extrema da livre constituição: cunho liberal; valoriza a autonomiaprivada – sustenta que
as pessoas jurídicas devem ser livremente criadas. Crítica: Isso é viável do ponto de vista prático?
A pessoa jurídica envolve a criação de um novo centro de imputação, ela é criada para agir com
terceiros, então qual segurança esses terceiros poderiam ter se a criação de pessoas jurídicas fosse
totalmente livre e sem nenhum tipo de respaldo estatal? Seria totalmente inexequível, pois na
criação de uma pessoa jurídica cria-se um novo centro de imputação, com patrimônio próprio, que
vai assumir obrigações e que, portanto, precisa ter alguns cuidados.
Obs1.: Cuidado inclusive na sua constituição (CF, por exemplo, é uma forma de se
entender o que é a União federal como pessoa jurídica de direito público; é um ato constitutivo,
apesar de ter outras funções, como garantia de direitos). Constituição reflete como se organiza
essa pessoa jurídica –quem fala por ela, quem são a boca e as mãos dela, como se organiza,
quais são seus objetivos– já que isso não é uma realidade autoevidente e precisa ser
exteriorizado para poder se entender que tipo de ser é aquele. É por isso que todas as pessoas
jurídicas têm seus atos constitutivos (associações e fundações têm seus estatutos – é o que diz
o que é aquela pessoa jurídica, qual o nome dela, porque ela foi criada, quais são suas
finalidades, como ela é organizada, quem pode e que não pode falar por ela) Assim, a livre
criação não daria a mínima condição de os terceiros entenderem que pessoa jurídica é
aquela, já quea pessoa jurídica necessariamente precisa de um ato constitutivo, que possa
ser de conhecimento de terceiros. As pessoas jurídicas jamais são um fim em si mesmas,
elas são criadas para atender a um fim, que consta nos seus atos constitutivos.
No caso de pessoas físicas, não há necessidade de ter uma constituição, pois elas são um fim
em si mesmas. Minha boca fala por mim, minhas mãos manifestam a minha vontade, eu não
preciso determinar qual o objeto ou a atividade que justifica a minha existência.
Obs2.: pode-se criar associações a todo momento, porquanto nem toda associação é
personificada, i.e., a exigência da personificação não tem a ver propriamente com a questão da
associação. A questão é em que momento e observando quais requisitos é que essas novas
associações podem ser um novo centro de imputação.
- Teoria extrema da restrição excessiva: só poderia haver criação de pessoas
jurídicas com autorização do Estado. Crítica: dizer que o Estado precisa autorizar pode
restringir consideravelmente a autonomia privada.
-
- REGIME DAS DISPOSIÇÕES NORMATIVAS: a lei tem disposições
normativasmínimas para cada tipo de pessoa jurídica, a partir dessas disposições as
partes criam seus respectivos atos constitutivos (contrato social para as sociedades,
estatuto para associações e fundações) e submetem esse ato constitutivo ao registro
público. É a partir desse registro que se tem a aquisição da personalidade jurídica
(autoridade responsável pelo registro vai verificar se aquele ato constitutivo de fato
corresponde às disposições normativas, i.e., se atende aos requisitos legais mínimos para a
constituição daquela pessoa jurídica).
Obs.: Existe um certo controle de legalidade formal, mas sempre se trata de um ato vinculado. Se
o ato constitutivo preenche os requisitos legais, o registro não tem outra opção senão deferir a
concessão de personalidade jurídicas, ele não tem nenhuma discricionariedade para avaliar mais
a fundo a conveniência ou a pertinência daquela pessoa jurídica.
Brasil: por meio do regime das disposições normativas, acabou adotando uma orientação
intermediária entre essas duas posturas extremas: não é só a autonomia privada, pois se tem
que submeter o ato constitutivo a registro, mas ao mesmo tempo não é propriamente uma
autorização estatal, porque no regime das disposições normativas o controle que o Estado
temé muito reduzido (ato constitutivo, atendendo aos requisitos legais mínimos (pequenos,
diga- se de passagem) já autoriza o registro e a consequente concessão de personalidade
jurídica). Pessoas jurídicas, em princípio, 1) não são fins em si mesmas, 2) personalidade
mais restrita, sempre têm capacidade, 3) registro é constitutivo, 4) regra geral do sistema
brasileiro é oregime das disposições normativas, porém há algumas exceções.
Efeitos do registro: Registro, para a pessoa jurídica, tem efeito muito distinto que o efeito
para a pessoa natural.
Pessoa natural (registro = certidão de nascimento) – efeito declaratório:
personalidadeda pessoa natural começa com o nascimento com vida (há quem suporte que
mesmo desde a concepção – art. 2o). Pessoas que não têm registro ainda são pessoas, só não
têm registro.
Pessoa jurídica – efeito constitutivo – não há pessoa jurídica sem registro dos
seusatos constitutivos.
Pessoa jurídica, pelo simples fato de não ser um fim em si mesma, tem
personalidadejurídica mais restrita que a pessoa natural, o que faz com que ela
sempre tenha capacidade.
Em termos de personalidade, a pessoa jurídica é muito mais limitada que a pessoa
natural (ainda que ela possa ter direitos de personalidade, esses direitos são muito mais
restritos que os direitos de personalidade das pessoas naturais).
Em relação às pessoas jurídicas, não há aquela discussão sobre incapacidade, pois
não faz sentido que o ordenamento crie pessoas jurídicas sem que elas possam exercer
diretamente seus deveres e obrigações. Claro que elas precisarão de pessoas naturais para
agirpor elas, mas aqui não é propriamente um caso de representação.
Embora a regra do sistema brasileiro seja o regime das disposições normativas, há
algumas EXCEÇÕES, em que aí sim se exige a autorização do Estado. Quando se fala em
autorização, é um ato que vai muito além do mero controle formal de atos constitutivos, como
ocorre no registro (há interesses sociais muito importantes w, por isso justifica-se).
Ex.: Fundações – para que haja uma fundação, o MP tem que aprovar o estatuto dessa
fundação. É uma pessoa jurídica que, em razão do seu grau de abstração envolver tantas
delicadezas do ponto de vista do seu gerenciamento, que o próprio MP tem que velar e
supervisionar o andamento dessas conduções.
Ex2.: Sociedades por ações abertas – companhias que negociam suas ações no
mercado de capitais, como a bolsa de valores. Como aqui há o problema de captação da
poupança popular, para que haja criação de uma companhia aberta, a comissão de valores
mobiliários (CVM) precisa autorizar essa pessoa jurídica e, para essa autorização, analisa-
se não apenas questões jurídicas, mas também questões econômicas (saber se aquele
empreendimento é viável, do ponto de vista econômico, a ponto de justificar a captação da
poupança popular).
Empresário individual e MEI (microempresário individual (≠ empresário social)): têm
CNPJ,são equiparados a pessoas jurídicas, mas não são pessoas jurídicas!
Empresários individuais adotam CNPJ mas não são PJ (nada impede que o
legisladorequipare a pessoa natural a PJ para fins específicos). MEI, em tese, não é PJ (é
pessoa física,visa a benefícios tributários). Eireli necessariamente é PJ. Finalidade da Eireli
é criar separação patrimonial perfeita para o empresário individual. Apesar de ser essa a
intenção, édifícil de operacionalizar isso na prática.
Do ponto de vista empresarial, uma das grande importâncias é assegurar a chamada
separação patrimonial perfeita: uma vez formada a pessoa jurídica, só o patrimônio
delaresponde pelas dívidas das suas atividades, não mais o patrimônio dos sócios.
Responsabilidade limitada: surge na Idade Média como forma de estimular o
investimento – ninguém vai investir em atividades de risco se souber que seu patrimônio
individual está sujeito ao risco do empreendimento.
Ex.: sociedade de responsabilidade limitada – não somente os sócios tem blindagem
patrimonial, mas também a sociedade. Se um sócio tiver devendo como pessoa física,
asociedade não pode responder pelas dívidas do sócio.
Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição do ato
constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder
Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por que passar o ato constitutivo.
Art. 46. O registro declarará:
Essas disposições dos incisos devem constar no ato constitutivo. Nada disso é
evidente, cada pessoa jurídica tem que esclarecer esses aspectos no seu ato constitutivo
(finalidade lucrativa ou não lucrativa? Qual o objetivo específico? Como essa pessoa vai se
organizar? Quem fala por ela? Quem são seus órgão? Qual seu nome? Onde é seu domicílio)
Uma série de informações que não são necessárias para os seres humanos e que são
necessárias para a pessoa jurídica (no nosso registro de pessoa natural consta basicamente
nome, data de nascimento, local, filiação, sexo e cor – porque nós somos fins).
Artigo que trata da constituição das pessoas jurídicas, das informações fundamentais que
definirão esse centro de imputação e darão para os terceiros as informações necessáriassem as
quais eles não teriam como agir em nome da pessoa jurídica.
TEORIA DOS ÓRGÃOS: Pessoa natural manifesta sua vontade se utilizando do seu próprio
corpo (eu escrevo, eu assino, eu manifesto verbalmente minha vontade, eu tenho recursos
quefazem parte do meu próprio corpo que me possibilitam fazer isso e, caso eu seja incapaz,
há um representante ou um assistente). As pessoas jurídicas também precisarão de órgãos
para agir o problema é que esses órgãos não são evidentes como são nas pessoas naturais –
por isso a lei vai determinar alguns órgãos obrigatórios e, naquilo que a lei não dispuser de
formaobrigatória, as pessoas jurídicas terão ampla autonomia para criarem órgãos.
Ex.: associação: lei prevê um órgão obrigatório para as associações, que é a
assembleia geral (encontro de todos os associados) – lei diz que, em algumas matérias, só a
assembleia delibera (reforma de estatuto é competência privativa da assembleia, por
exemplo.
Assim como nós, pessoas naturais, precisamos de órgãos para exercermos nossa
vontade, também é para as pessoas jurídicas. Apenas que esses órgãos das pessoas jurídicas
são formados por pessoas naturais e a pessoa jurídica tem que atender a alguns requisitos
legais obrigatórios, mas também tem uma margem muito grande para constituir outros
órgãose estabelecer uma forma própria de funcionamento. São as pessoas que constituem a
pessoa jurídica, na sua autonomia privada, que podem dizer como as PJ poderá agir ou não.
Essa ação é chamada por Pontes de Miranda de:
PRESENTAÇÃO:
Pontes de Miranda: quando se fala em representação, há uma dualidade muito clara – há duas
pessoas com suas vontade, mas como uma não pode manifestar ou exercer validamente sua
vontade, a outra vai manifestar por ela.
Na presentação não há essa dualidade. A pessoa jurídica não tem outra vontade que não
aquela que é manifestada pelos seus órgãos.
Pessoa jurídica, exatamente por não ser um fim em si mesma é constituída para atender a
umafinalidade específica e, para isso, terá órgãos que poderão manifestar a sua vontade, i.e.,
que presentem a sua vontade. Esses órgãos passam a manifestar não seus interesses próprios,
mas os interesses da pessoa jurídica.
Claro que às vezes há convergência entre a vontade da pessoa jurídica e o interesse
dos sócios, mas convergência não é coincidência e, a partir do momento em que se tem
umnovo centro de imputação, todas as pessoas naturais que fazem parte desse novo centro
vão ter que submeter seus interesses pessoais ao interesse da pessoa jurídica.
FINAL ROTEIRO 8
SIMULAÇÃO 18 E 19
Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão
patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no
processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos
administradores ou sócios da pessoa jurídica. TEORIA MAIOR DA DESCONSIDERAÇÃO
Hipótese do art. 50 é chamada Teoria maior da desconsideração, porque ela tem mais
requisitos. Do ponto de vista da incidência ela é restrita, pois tem que se comprovar a
ilicitude. Maior por causa dos requisitos, não por causa da sua amplitude (quanto mais
requisitos, mais restrita é a amplitude).
Art. 47, CC: Obrigam a pessoa jurídica os atos dos administradores, exercidos nos limites de seus poderes
definidos no ato constitutivo.
Finalidade: tem fins econômicos que normalmente são fins lucrativos, mas não
necessariamente (cooperativa, por exemplo, tem fim econômico mas não lucrativo, pois ali
ossócios cooperados não tem por objetivo o lucro, mas sim obter benefícios).
Embora associações e fundações tenham em comum finalidades não
econômicas, as finalidades das fundações são muito mais restritivas (uma associação pode
exercer todas asfinalidades das fundações, pois pode ser qualquer fim não econômico.
Mas uma fundação não pode exercer todas as finalidades de uma associação). O
campo das associações emtermo de finalidades é muito maior. Ex.: fim não econômico
muito comum que justifica a criação de uma associação –representação de classes ou
categorias: interesses coletivos mas sem nenhuma conotação altruísta.
Art. 44 prossegue tratando de pessoas jurídicas que não são propriamente pessoas jurídicas
tipicamente privadas e, por isso, serão regidas por outras legislações ou não estarão sujeitas
anenhum tipo de requisito.
Art. 44, IV. As organizações religiosas. §1 ̊. São livres a criação, a organização, a
estruturação interna e o funcionamento das organizações religiosas, sendo vedado ao
poderpúblico negar-lhes reconhecimento ou registro dos atos constitutivos e necessários
ao seu funcionamento.
Diante das organizações religiosas, tem-se uma pessoa jurídica cuja criação é
totalmente livre, aqui o legislador não impõe nenhum requisito, como ele o fez em relações
a outras pessoas jurídicas (precisa do registro, sem registro não tem pessoa jurídica). Por isso
que muitas vezes há abusos na criação dessas pessoas jurídicas, são verdadeiras empresas
quese aproveitam da condição religiosa para ter uma liberdade que nenhum outro agente
econômico teria.
Art. 44, V. Os partidos políticos. Não deixam de ser associações, mas associações tão
específicas que vão ser regidas por uma legislação específica, o direito eleitoral. Sindicatos.
Não consta nessa enumeração, mas são também associações, só que representativas de
empregadores ou empregados, de categorias profissionais. Associaçõesmas que, em razão
das suas peculiaridades, vão ser regidas pelo direito do trabalho e não propriamente pelo
Código Civil.
Art. 44, VI. Empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI). Inovação, pessoa
jurídica criada em 2011. Alguns entendem que é uma sociedade unipessoal, sociedade de um; outros
entendem que é um patrimônio de afetação (forma de possibilitar ao empresário individual que ele tenha,
de alguma maneira, a separação patrimonial perfeita, o que antes dessa alteração só se admitia em
relação às sociedades); e outros entendem que é uma pessoa jurídica sui generis (não é nem
sociedade unipessoal, nem patrimônio de afetação). Por enquanto: entender que é uma pessoa
jurídica composta por apenas uma pessoa, em que oempresário individual vai, por meio
daquela pessoa jurídica, criar um novo centro de imputação e um patrimônio separado.
ASSOCIAÇÕES: Art. 53. Constituem-se as associações pela união de pessoas que
seorganizem para fins não econômicos.
Código Civil procurou acabar com uma confusão que sempre existiu no direito brasileiro
entre associações e sociedades. Antes do CC, havia várias sociedades com fins não
econômicos (Sociedade Brasileira de Cirurgiões, por exemplo), assim como havia
associaçõescom fins econômicos. Veio CC e separou: sociedades têm fins econômicos e
associações têm fins não econômicos.
Problema: associações como a Abrace, que vendem canecas, camisetas, isso não é
atividade econômica? Doutrina e jurisprudência sempre fizeram um recorte: essas
finalidades não econômicas do art. 53 são as atividades fim. Nada impede que uma
associação desempenhe atividade econômica como atividade meio, desde que com a
finalidade exclusivade reempregar os benefícios daquela atividade meio na sua atividade
fim. Entretanto, alguns autores hoje já sustentam que associações podem sim ter fins
econômicos e que o correto do recorte é o recorte da lucratividade e não da atividade
econômica. Então, associações poderiam sim ter fins econômicos, desde que não distribuam
lucros, tudo aquilo que obtiverem na atividade econômica tem que se reinvestido na sua
própria finalidade institucional. Leem, no art. 53, finalidades não econômicas como
finalidades não lucrativas.
O importante é que, na prática, existem muitas associações com finalidades
econômicas. Embora isso seja muito discutível, há muitos que defendam que isso é sim
possível. Mas isso não é um consenso (não pode finalidade não econômico qualquer que
seja x não pode finalidade não lucrativa).
Art. 53, § único: Não há, entre os associados, direitos e obrigações recíprocas.
Só existe uma relação jurídica: aquela entre o associado e a pessoa jurídica associação.
Importante pois, nas sociedades, além da relação que existe entre cada um dos sócios e a
pessoa jurídica sociedade, há relações recíprocas entre os sócios. É por isso que a sociedade
é
uma pessoa jurídica mais complexa que a associação, dá margem a mais
conflitos de interesses que as associações (sócios estabelecem relações entre si, com a
pessoa jurídica, e com terceiros, dependendo do caso).
Art. 54. Sob pena de nulidade, o estatuto das associações conterá: I. a denominação, os fins e a sede da
associação; II. os requisitos para a admissão, demissão e exclusão dos associados; III. os direitos e deveres dos
associados; IV. as fontes de recursos para sua manutenção; V. o modo de constituição e de funcionamento dos
órgãos deliberativos; VI. as condições para a alteração das disposições estatutárias e para a dissolução. VII. a
forma de gestão administrativa e de aprovação das respectivas contas.
Requisitos do lado constitutivo de uma associação. Tem que ser interpretado em comum com o art.
46 (artigo que fala de todas as coisas que têm que constar nos atos constitutivos de uma pessoa jurídica.
É uma regra geral, que se aplica a todas as pessoasjurídicas. O art. 54 é o que trata especificamente das
associações).
Art. 55. Os associados devem ter iguais direitos, mas o estatuto poderá instituir categorias com vantagens especiais.
Dentro do possível, assegurar isonomia e democracia nas associações. Tem se interpretado
esse artigo como: naquilo que for essencial à condição de associado (ex.: direito de voto), esses
direitos têm que ser iguais. Embora isso seja controverso – alguns autores defendem a
possibilidade de pesos diferenciados em algumas associações, desde que com alguns critérios de
razoabilidade. No mínimo, a discussão se divide entre direitos essenciais (como o voto) e
vantagens (como associados fundadores terem direito a desconto no aluguel da sede para fazer
uma festa). Nessas situações, que não dispõem do núcleo duro da vida associativa, a
jurisprudência entende que pode haver diferença. Mas, nos direitos essenciais, entende-se que
precisa haver isonomia.
Art. 57. A exclusão do associado só é admissível havendo justa causa, assim reconhecida em procedimento que
assegure direito de defesa e de recurso, nos termos previstos no estatuto.
Artigo que não constava da redação original do código, já é uma alteração legislativa
que decorre do acórdão do supremo que reconheceu a eficácia horizontal do direito
fundamental relacionado ao contraditório e à ampla defesa nas relações associativas.
Exclusão de associado deixa de ser questão de mera vontade dos associados, de mera
deliberação da maioria, passa a estar sujeito a requisito material (justa causa – estatuto prevê
as condições) e requisito procedimental (direito de defesa e de recurso).
Art. 59. Compete privativamente à assembleia geral: I – destituir os administradores; II – alterar o estatuto.
Competência privativa da assembleia geral, principal órgão da pessoa jurídica (porque
é o único que reúne todos os membros da pessoa jurídica). Em relação a essas matérias,
consideradas muito relevantes (destituição de administradores e reforma de estatuto),
somente todos os associados vão poder decidir na assembleia. Tirando essas matérias,
associação vai ter ampla liberdade para, por meio do seu estatuto, criar outros órgãos colegiados ou
dizer que, fora das hipóteses do art. 59, o diretor ou presidente, como órgão individual, pode fazer
tudo. O estatuto pode também aumentar as matérias de competência da assembleia, só não pode é
reduzir o art. 59. Isso assegura democratização.
Art. 60. Assegura a 1/5 dos associados o direito de convocar assembleia. Não basta dizer
quea assembleia é competente, tem que dar a uma minoria qualificada a chance de convocar
a assembleia (normalmente a assembleia é convocada pelo administrador).
Art. 61. Dissolvida a associação, o remanescente do seu patrimônio líquido, depois de deduzidas, se for o caso,
as quotas ou frações ideais referidas no parágrafo único do art. 56, será destinado à entidade de fins não
econômicos designada no estatuto, ou, omisso este, por deliberação dos associados, à instituição municipal,
estadual ou federal, de fins idênticos ou semelhantes.
Destino do patrimônio da associação em caso de extinção da pessoa jurídica. O
legislador dá uma relativa autonomia para o estatuto mas, sendo ele omisso, havendo
patrimônio remanescente, esse patrimônio seja dirigido a uma associação de fins
semelhantes.Acontece coisa similar nas fundações.
FUNDAÇÕES
Pessoa jurídica com maior grau de abstração. Não há base associativa, a fundação é patrimônio
afetado a um fim.
Como as fundações não têm base associativa, que ajude a exercer as suas finalidades,
que controle e supervisione a ação dos gestores, tudo isso é substituído pela ação do
Ministério Público. MP exerce controle direto sobre as fundações, fiscalizando-as,
verificando se de fato os administradores estão agindo adequadamente, se estão empregando
os bens nas finalidades propostas.
Art. 67. Para que se possa alterar o estatuto da fundação é mister que a reforma:
I. seja deliberada por dois terços dos competentes para gerir e representar a fundação; II. não contrarie ou
desvirtue o fim desta; III. seja aprovada pelo órgão do Ministério Público no prazo máximo de 45 dias, findo o
qual ou no caso de o Ministério Público a denegar, poderá o juiz supri-la, a requerimento do interessado.
Quando se fala na alteração do estatuto das fundações, além de deliberação por
2/3 dos componentes dessa fundação (administradores), MP precisa aprovar essas
alterações estatutárias.
Como associações podem exercer todas as finalidades de uma fundação (mas o contrário não
é verdadeiro), muitas vezes se é sugerido fazer uma associação para alguém que quer criar
uma pessoa jurídica de direito privado para alguma das finalidades previstas no §único do
art.62, pois, do ponto de vista da gestão é muito mais fácil; fundação recebe interferência e
monitoramento constante do MP.
Art. 69. Tornando-se ilícita, impossível ou inútil a finalidade a que visa a fundação, ou vencido o prazo de
suaexistência, o órgão do Ministério Público, ou qualquer interessado, lhe promoverá a extinção, incorporando-
se o seu patrimônio, salvo disposição em contrário no ato constitutivo, ou no estatuto, em outra fundação,
designadapelo juiz, que se proponha a fim igual ou semelhante.
Regra semelhante à das associações. Se a fundação for extinta, em tese, a solução usual é
que seu patrimônio seja transferido para uma instituição semelhante.
Única possibilidade de desconsideração da personalidade jurídica de uma fundação seria
para trazer a responsabilidade dos administradores, porque ela não tem sócio nem associados.
Teria que se comprovar que os administradores estão praticando desvio de finalidade e isso
justificaria, então, a desconsideração.
DOMÍCILIO
Lugar onde as pessoas podem ser oficialmente encontradas, para responder por
obrigações, cumprimento dos deveres legais e exercício de direitos.
Domicílio é onde você é encontrado com fins de cobrar o cumprimento de obrigações
e possibilitar o exercício de direitos. É no domicílio que um credor, por exemplo, tem que
demandar o devedor.
Regras de domicílio importantes para estabelecer a lei aplicável a diversas relações
jurídicas.Consequências em diversas áreas do direito (processual, tributário, internacional
privado).
Parte geral do CC: LINDB (Decreto-lei n ̊ 4.657/42):
O domicílio sempre implica uma residência, só que há um plus, que é o ânimo definitivo. TIPOS
DE DOMICÍLIO: voluntário, necessário ou legal; por eleição ou contratual (ou
especial):
Domicílio voluntário: é o que se falou acima – residência com ânimo definitivo.
Domicílio necessário: ainda que na realidade os fatos mostrem que aquele não
é odomicílio da pessoa, a lei diz que sim. É para algumas pessoas físicas especiais. Ex.:
incapaz – seu domicílio é o mesmo do seu representante legal, do seu assistente. Por mais
que ele viva com a tia, se a representante legal dele é a avó, o domicílio daquela pessoa é a
casa da avó.
Servidor público: lugar em que exerce permanentemente suas funções.
Militar: onde servir ou, no caso de marinha/aeronáutica, sede do comando a que se encontrar
imediatamente subordinado.
Marítimo: onde o navio estiver
matriculadoPreso: lugar onde cumprir a
sentença
Agente diplomático do brasil: que, citado no estrangeiro, alegar extraterritorialmente sem
designar onde tem, no país, o seu domicílio, poderá ser demandado no DF ou no último ponto
do território brasileiro onde o teve.
CC, art. 76. Têm domicílio necessário o incapaz, o servidor público, o militar, o marítimo e o preso.
Parágrafo único. O domicílio do incapaz é o do seu representante ou assistente; o do servidor público, o lugar em
que exercer permanentemente suas funções; o do militar, onde servir, e, sendo da Marinha ou da Aeronáutica, a
sede do comando a que se encontrar imediatamente subordinado; o do marítimo, onde o navio estiver
matriculado; e o do preso, o lugar em que cumprir a sentença.
CC, art. 77. O agente diplomático do Brasil, que, citado no estrangeiro, alegar extraterritorialidade sem designar
onde tem, no país, o seu domicílio, poderá ser demandado no Distrito Federal ou no último ponto do território
brasileiro onde o teve.
Domicílio por eleição: contratos escritos – contratantes especificam domicílio onde
seexercitem e cumpram os direitos e obrigações resultantes do contrato. Não se derrogam
normas de ordem pública, com as relativas à competência em razão da matéria, direitos do
consumidor etc.
CC, art. 78. Nos contratos escritos, poderão os contratantes especificar domicílio onde se exercitem e cumpram os
direitos e obrigações deles resultantes.
União – DF
IV - das demais pessoas jurídicas, o lugar onde funcionarem as respectivas diretorias e administrações, ou
ondeelegerem domicílio especial no seu estatuto ou atos constitutivos
- Pessoa jurídica com estabelecimentos em lugares diferentes – cada um deles será considerado
domicílio para os atos nele praticados
CC, art. 75, § 1o Tendo a pessoa jurídica diversos estabelecimentos em lugares diferentes, cada um deles será
considerado domicílio para os atos nele praticados.
CC, art. 75, § 2o Se a administração, ou diretoria, tiver a sede no estrangeiro, haver-se-á por domicílio da pessoa
jurídica, no tocante às obrigações contraídas por cada uma das suas agências, o lugar do estabelecimento, sito no
Brasil, a que ela corresponder.
BENS
Os bens são o objeto das relações jurídicas. Toda e qualquer relação jurídica abrangida
pelodireito tem um objeto, que é um bem.
Representam valores materiais e imateriais (crédito, honra, direitos autorais).
Bens econômicos são sempre jurídicos.
Tecnologia altera o conceito de bens de produção, das relações de trabalho, econômicas,
empresariais e direitos envolvidos.
Conceito de bem é um conceito histórico e relativo. O que é bem em um momento pode não
ser em outro, e vice-versa. Relativo porque pode ser um bem
principal/inalienável/indivisível/ imóvel em uma relação, e não em outra. Cada vez mais
relacionado a discussões sobre acesso e inclusão social.
Elementos estruturantes da relação jurídica: sujeito (proprietário, favorecido por uma
garantia) + objeto (bem imóvel; ex: terreno) + conteúdo/vínculo (propriedade, prestação
degarantia hipotecária, direito subjetivo etc.).
Por que saber as classificações/ regras? Porque sua classificação tem implicações em
diversasáreas do direito: processual, tributário, do consumidor, etc.
Bens materiais: bens corpóreos, coisas, objeto dos direitos reais (tratam das relações
entreindivíduos e as coisas). Ex.: propriedade, superfície.
Bens imateriais: bens incorpóreos, valores/prestações, objeto dos direitos pessoais. Ex.:
direito da família, propriedade intelectual, dados pessoais, clientela, direitos de
personalidade,direito à informação, conhecimento técnico, meio ambiente.
Divisão do Código Civil:
1. BENS CONSIDERADOS EM SI MESMO:
Imóveis por natureza: não podem ser transportados sem sua destruição (ex.: solo, sua
superfície, sobsolo e espaço aéreo). Obs.: Art. 1229, CC – na medida da utilidade ao exercício
do direito de propriedade.
Art. 1.229. A propriedade do solo abrange a do espaço aéreo e subsolo correspondentes, em altura e
profundidade úteis ao seu exercício, não podendo o proprietário opor-se a atividades que sejam realizadas, por
terceiros, a uma altura ou profundidade tais, que não tenha ele interesse legítimo em impedi-las.
Imóvel por acessão: tudo quanto se incorporar/ aderir ao solo natural ou
artificialmente (ex.: árvores, plantações, construções que não podem ser retiradas sem danos
ou modificação.
Imóvel por determinação legal: opção do legislador. Os direitos reais sobre imóveis
(servidão,hipoteca, etc.); as ações que asseguram esses direitos reais (ação de rescisão de
compra e venda, etc.); o direito à sucessão aberta (direito à herança); as edificações que,
separadas do solo, mas conservando a sua unidade, forem removidas para outro locais (ex.:
casa pré- fabricada); os materiais provisoriamente separados de um prédio, para nele se
reempregarem.
B) Bens fungíveis: a priori, sempre bens móveis (parte da doutrina entende que bens
imóveis podem ser fungíveis, mas a maior parte não). São móveis que podem ser
substituídos por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade, sem prejuízo. A ver com
a substitutibilidade. Genéricos e não-individualizáveis. Ex.: dinheiro, roupa que não seja
peça única, mesa.
Para parte da doutrina, há imóveis fungíveis. Ex.: lotes de um loteamento. Mas o CC refere-
seapenas aos móveis.
Podem ser transformados em infungíveis por vontade das partes (o contrário não pode).
Ex.:se duas pessoas são coproprietárias de um determinado bem, elas podem entender que
o bem é tão insubstituível que elas podem, por comum acordo, transformarem-no em
infungível.
C) Bens consumíveis:
D) Bens divisíveis:
Podem ser fracionados sem alteração na sua substância, sem prejuízo do uso a que se
destinam, e sem diminuição considerável de valor. Novo CC: critério da utilidade –
divisibilidade jurídica
Ex.: divisão de um diamante grande em duas partes diminui consideravelmente
seuvalor. Juiz determina a venda e divisão do dinheiro, em vez de a divisão do diamante.
Podem tornar-se indivisíveis por determinação da lei (ex.: módulo rural) ou por vontade
das partes (testamento com condição de não divisão do imóvel por até 5 anos).
Indivisibilidade jurídica é quando a lei ou a vontade das partes transformam em indivisível
algo que, por sua natureza, seria divisível.
Critério de divisibilidade/indivisibilidade física (vários bens que não têm como serem
divisíveis sob pena de se desconfigurarem por completo), econômico (diamante, que
materialmente é divisível mas, se eu pegar um diamante grande e dividir em 10 pedacinhos,
adoma do preço dos 10 é muito menor que o preço total do diamante inteiro) e funcional.
E3) Bens coletivos: formados pela reunião de bens singulares, que podem ser
individualizados, mas que são considerados em conjunto, formando um todo unitário
emrazão de uma mesma destinação. Aqui, a união é ideal.
Universalidade de fato: os bens singulares pertencem a uma mesma pessoa e foram por ela
agrupados, com destinação unitária. Os bens singulares podem ser objeto de relações
jurídicaspróprias. Ex.: rebanho, estabelecimento comercial.
Universalidade de direito: complexo de relações jurídicas, dotadas de valor econômico,
aoqual a lei atribui caráter unitário. Ex.: massa falida, herança.
Ex.: Bem singular = uma matéria prima, um pedaço de mármore.
Bem singular composto = um carro, porque é feito de várias matérias primas, várias partes
componentes (união material que não tem mais como separar) e várias partes integrantes
(pode separar, desmembrar e depois reagrupar, a roda por exemplo), mas todas elas estão
materialmente ligadas para formar um bem.
Universalidade de fato/ Bem coletivo = união de bens que não é material, é finalística
(rebanho, pinacoteca, biblioteca).
Existem sobre si, abstrata ou concretamente. Distinguem-se dos acessórios por sua extensão,
seu valor econômico, qualidade, funções. Ex.: solo em relação ao prédio, a arte emrelação ao
material que a recepciona, juros em relação ao contrato.
A2) Bens acessórios:
Sua existência supõe a do principal. Essa dependência é estabelecida a) pela
natureza do bem, b) pela vontade humana ou c) pela lei. Diferentemente das partes
integrantes e componentes das coisas compostas, não se unem ao bem principal como uma
só coisa.
Obs.: princípio geral de que o acessório segue o principal, de que o direito sobre o principal
seextende para o acessório (exceto pertenças).
a) Frutos: produzidos naturalmente pelo bem sem desfalque de sua substância e
podem ser dele separados. Mesmo quando ainda não separados do bem principal, podem
serobjeto de negócio jurídico.
- Naturais (frutas, crias de animais); - Industriais (gerados com trabalho humano, pão); -
Civis(direitos, juros de mora).
Conforme relação com a coisa principal, os frutos são: - pendentes (unidos à coisa
queos produziu); - percebidos (já destacados da coisa principal); - percipiendos (deviam ter
sido colhidos, mas não foram); - consumidos (já utilizados).
b) Produtos: diferem dos frutos quanto à periodicidade e o desfalque da substância
dacoisa. Ex.: minas e jazidas.
Obs.: Art. 1232, CC. Os frutos e mais produtos da coisa pertencem, ainda quando separados, ao seu proprietário,
salvo se, por preceito jurídico especial, couberem a outrem.
c) Benfeitorias: são obras realizadas pelo homem na estrutura da coisa principal, com
o propósito de conservá-la, melhorá-la ou embelezá-la.
Voluptuária: não aumentam o uso habitual do bem, ainda que o tornem mais agradável
ousejam de elevado valor (embelezam o bem). Ex.: obras de jardinagem.
Úteis: aumentam ou facilitam o uso do bem (melhoram o bem). Ex.: instalação de grandes
protetoras nas janelas.
Necessárias: têm por fim conservar o bem ou evitar que se deteriore. Ex.: obras de reparação de
vazamentos.
d) Pertenças: incluídas entre os acessórios pelo novo CC.
FINAL ROTEIRO 10
Simulação 21 – CC não entra em algumas discussões mais recentes, pensar sobre as novas
funcionalidades dos bens. É importante saber qual a função social-econômica daquele bem.
Aideia da impenhorabilidade do bem de família é incidir sobre bens destinados à moradia,
sendo que a economia de compartilhamento vem misturando e bagunçando esses conceitos.
Um bem pode ser, ao mesmo tempo, de uso próprio e também destinado à exploração
econômica (exemplo das pessoas que disponibilizam cômodos da sua casa, ou o carro quando
está de folga). Assim, cada vez mais a tecnologia possibilita que esses conceitos, que antes
eram bem separados, se misturem, trazendo novos desafios. Nessa situação, havia até a
discussão de saber se aquela pessoa que oferece os quartos de sua residência, de maneira
reiterada, é ou não empresário? A sazonalidade afeta mas o mais importante é a frequência.
Nesse caso, poderia se justificar dizendo que o imóvel não está totalmente protegido pela
impenhorabilidade porque ele está destinado à moradia, mas também exerce uma função
econômica que pode até ser considerada função empresarial.
Simulação 22: verificar aquela premissa de que os bens estão em constante expansão, então
por mais que a gente possa tentar delimitá-los, jamais conseguiremos capturar a riqueza da
realidade. Muitos sustentam que sites são quase que estabelecimentos virtuais onde as
pessoas realizam negócios. Então, se uma empresa se utiliza de um site para realizar
transações, ela sai prejudicada.
Simulação 23: será que o meu direito de propriedade envolve também uma dimensão que
transcende a parte física? Discussão que envolve “pacotes de direitos” (estamos discutindo
algo que não envolve só propriedade, direito de ir e vir, privacidade, tranquilidade). Para
efeito de responsabilidade civil, a conduta não precisa estar tipificado, basta que há violação
da cláusula geral, ou seja, basta que haja dano. É razoável que a empresa crie esses ginásios
diante de todos os transtornos que ela está causando ao proprietário? Estamos lidando com
novas realidades, novos bens, em que medida aquilo invade um espaço considerado
inerente ao proprietário. Estamos lidando com um caso de abuso de direito. Tecnologia
reformata um próprio bem físico já existente, no caso, a propriedade.
BENS: conceitos que não têm uma aplicabilidade prática nesse atual momento, mas terão em
outras áreas, como a das obrigações (prestações que são inerentes aos direitos pessoais)
– essas prestações estão sujeitas a várias das classificações que vimos nos bens
(obrigaçõesdivisíveis e indivisíveis, obrigações fungíveis e infungíveis).
Ao longo do desenvolver das relações, as partes vão, muitas vezes, poder alterar
várias dessas classificações. Quando um objeto tem valor sentimental ele, que a
prioristicamente era fungível por ser substituível, se torna infungível.
Essas classificações não são estanques, vão precisar ser contextualizadas no
âmbitodos negócios.
Pertença: se, por exemplo, eu compro um carro. No contrato, se identifica o carro pelo
chassi, modelo, ano e placa (não precisa colocar que ele tem quatro rodas, um volante). Isso
porque o carro é um bem individual composto, ele é formado por uma série de partes
integrantes, que se reúnem finalística e materialmente para compor o objeto final. Eu nao
preciso especificar no meu contrato que o carro precisa vir com o motor, porque todas as
partes integrantes, assim como as componentes, fazem parte necessariamente daquele bem.
Jáa pertença é um bem acessório. E, exatamente por ser um bem acessório que, nos termos
do art. 94 (“os negócios jurídicos que dizem respeito ao bem principal não abrangem as
pertenças, salvo se o contrário resultar da lei, da manifestação de vontade, ou das
circunstâncias do caso”) não necessariamente acompanha a sorte do principal, é que a
pertença precisa estar expressa, no sentido de que ela acompanha o destino do bem principal.
Ex.: compra-se um carro e, na hora da compra, o vendedor retirou o som de fábrica.
Está ou não cumprindo o contrato? A discussão é saber se o som é ou não pertença. Se o som
for parte integrante, ele faz parte do carro e, portanto, não precisa especificar no contrato.
Mas, se o som for pertença, há margem para discutir: como o som seria bem acessório e não
está especificado no contrato que ele acompanharia o carro, então eu estaria cumprindo o
contrato ao vender o carro sem som.
A ideia de parte integrante é importante até para a facilitação dos contratos. É por isso
que, ao comprar um carro, não precisa estar especificado no contrato que o carro vem com
umvolante, um motor, 5 retrovisores, um banco. Se não vier com algum desses bens, já está
claroque o carro não está completo e o vendedor descumpriu o contrato. A discussão para
saber se o vendedor está cumprindo com suas obrigações envolve a noção de parte integrante.
Parte integrante compõe o bem, não precisa especificar. Pertença é bem
acessório e, pela regra do art. 94, não acompanha, via de regra, o bem principal. Então se
o comprador não toma essa providência de incluir no contrato aquele bem, ele corre o risco
demuitas vezes receber o bem sem o acessório.
Benfeitoria x Pertença: benfeitoria são consideradas obras que são necessárias, úteis ou
destinadas ao aformoseamento do bem. Normalmente, benfeitorias são vistas como uma
obra,acréscimo feito ao bem imóvel. Pertenças são acessórios de bens móveis.
Grande questão sobre pertença é saber se ela acompanha ou não a sorte do bem principal.
Bem acessório segue a sorte do principal, como regra. Pertença é exceção a essa regra
(pertença não necessariamente segue a sorte do principal). Pertença é um acessório, mas
umacessório específico (benfeitorias – muitas entendem como pertenças).
Parte integrante x parte componente.
Parte componente: existe uma união material tal entre as partes que não há como separá-las.Ex.:
muro (é feito de uma série de partes mas, uma vez que uniu-se todas essas partes em um todo, não
há como desmembrar essas partes).
Parte integrante: consegue separar sem prejuízo do bem composto, no sentido de que se
consegue reagrupar depois. Ex.: carro (pode tirar banco, rodas, volante e depois reagrupá-
las posteriormente).
Essa noção é importante para possibilitar que possamos adquirir bens compostos,
como um carro, sem ter que especificar todas as partes integrantes dele.
Bens singulares compostos x universalidades de fato: bens como biblioteca, rebanho, pinacoteca
– não há união material entre esses bens, como existe entre as partes integrantes de um carro;
esses entes estão unidos unicamente por uma questão de finalidade, não há que se falar em partes
componentes ou partes integrantes. O que une aquela coletividade é a destinação (amplia as
possibilidades de negócios jurídicos).
Universalidade de Direito: conjunto de relações jurídicas. Não se refere propriamente a
bens.Pode inclusive tem uma soma negativa. Patrimônio (é o conjunto de relações jurídicas
patrimoniais que ela tem) é um exemplo de universalidade de direito – quando alguém tem
patrimônio negativo é porque as dívidas dele superam os créditos que ele tem.
Estabelecimento comercial também é considerado universalidade de fato. Por isso
sefala que há venda de ponto, por exemplo.
Próprio código trata dos bens públicos.
Bens dominicais: eles não estão afetados a nenhuma finalidade de interesse público e por isso vão
poder ser exercido pelo poder público em um regime muito semelhante a um regime privado
(semelhante porque sempre há parcial derrogação do regime de direito privado por normas
imperativas do direito público, entretanto, o poder público pode disporcom uma relativa margem
de autonomia).
Bens sempre vão precisar ser contextualizados, de acordo com o tipo de negócio jurídico,
aintenção das partes, entre outras circunstâncias.
Ex.: uma lareira como benfeitoria em uma cidade do RS é útil. Uma lareira como
benfeitoria aqui em Brasília é voluptuária.
Diante de disputas possessórias, é fundamental saber qual o tipo de benfeitoria,
unindotambém a saber se o consumidor estava ou não de boa-fé para saber qual os direitos
que ele tem ao desocupar a terra que ele estava possuindo.
Coisas x bens:
Coisa pode ser menos ou mais restritivo que bem, a depender do conceito que se adota. Se
eu entendo coisa como tudo o que existe no universo e bem como aquilo que pode ser objeto de
uma relação jurídica, então o conceito de bem vai ser muito mais restritivo que ode coisa. Porém,
há autores que entendem bem como a expressão geral para designar qualquertipo de objeto de
relações jurídicas (nesse caso, até a personalidade, comportamentos humanos, bens imateriais
como o meio ambiente, podem ser bens), e coisa como aqueles benscorpóreos que, entre aqueles
bens, são objetos dos direitos reais. Na terminologia do código, coisa é expressão mais restritiva
(as coisas são os objetos corpóreos que, entre aqueles bens, podem ser objeto dos direitos reais).
Objetivo desse roteiro é distinguir o negócio jurídico dos outros fatos jurídicos (fato jurídico
étodo fato que tenha consequências jurídicas, capaz de criar, modificar ou extinguir uma
relação jurídica).
Fatos jurídicos são classificados de várias maneiras:
1) Nem todos os fatos jurídicos são fatos que decorrem da ação humana: fatos
jurídicos naturais/fatos jurídicos stricto senso/fatos involuntários (decorrem de
acontecimentos da natureza, ou fatos relacionados ao homem mas que não decorrem
propriamente de uma vontade, como nascimento e morte) e fatos jurídicos
humanos/atos jurídicos em sentido amplo/fatos voluntários nos fatos humanos, é
essencial avaliar qual opapel da vontade, não apenas para formação desses fatos, mas
também para atribuição de consequência jurídica a esse fato.
2) Dentro desses fatos jurídicos humanos, quatro categorias de atos jurídicos em
sentido amplo (as três primeiras classificações – ato fato, ato jurídico stricto sensu e negócio
jurídico – são condutas humanas em conformidade ao direito, que se diferenciam conforme a
importância da vontade para essas condutas; já a terceira se diferencia exatamente por ser
contrário ao direito):
a) Ato fato jurídico: ato jurídico extremamente simplificado, a vontade não importa nem
para constituição do fato nem para atribuição de consequência jurídica a esse fato.
Trata-se conduta humana como se fosse um fato, quase que equiparando-a aos fatos naturais.
Ex.: quando um absolutamente incapaz (menor de 16 anos) esculpe uma escultura
em um bloco de mármore que não pertence a ele. Em uma situação como essa, o escultor se
tornaproprietário da escultura (escultura mais importante que a matéria prima), mas tem que
ressarcir o dono da matéria prima. Aqui, pouco importa qual foi a vontade desse
absolutamente incapaz, o que importa é daquela conduta dele decorrerão consequências
jurídicas que já estão pré-determinadas na própria lei.
b) Ato jurídico stricto sensu: categoria em que a vontade importa muito para a constituição
do fato jurídico, mas não para a atribuição de consequência jurídica a ele.
Ex.: ocupação como fato aquisitivo originário de propriedade (todo aquele que se apropria
de coisa móvel sem dono ou abandonado se torna proprietário). A vontade humana é
extremamente importante para constituição do fato (parte-se da premissa de que só se
apropria algo quando a gente quer), porém, uma vez que aquele ato está constituído, as
consequências dele estão pré-determinadas na lei (é a lei que diz que daquele fato surge uma
relação jurídica de propriedade, não sou eu que vou estipular as consequências jurídicas
daquele fato).
Obs.: Parte geral não trata dessas duas categorias, há uma regra geral (art. 185, CC:
Aos atosjurídicos lícitos, que não sejam negócios jurídicos, aplicam-se, no que couber, as
disposiçõesdo Título anterior), sendo que aplica-se aos atos jurídicos stricto sensu as regras
do negócio jurídico quando forem aplicáveis, mas aqui o legislador não tem a preocupação
de dar um tratamento sistemático exatamente porque as consequências jurídicas dos ato
jurídicos strictosensu e atos fatos já estão pré-determinadas pela lei.
c) Negócio Jurídico: aqui a vontade importa, não apenas para a constituição do fato
jurídico, como também para atribuição das consequência jurídicas que surgirão daquele
vínculo. Autonomia privada tem importância máxima. Contratantes em um contrato criam
as regras que irão reger a sua própria relação, por isso que contrato é visto como fonte de
direito (pois aqui as partes estão criando regras para suas próprias vidas, não serão regras
abstratas gerais como o legislador cria, mas serão regras específicas para aquela relação).
Teoria das incapacidades tem por foco os negócios jurídicos porque aqui precisa-se
da capacidade. As responsabilidades inerentes à prática de atos como esse são muito maiores
que nesses outros níveis, pois nos outros fatos as consequências jurídicas já estão
estabelecidas pelo legislador, então parte-se da premissa que o prejuízo das partes será muito
menos em razão da interferência do legislador. Diferentemente ocorre no negócio jurídico
pois, a partir do momento em que as partes estão criando regras e responsabilidades, é de se
supor que elas precisem gozar da CAPACIDADE para poderem gozar de tal
responsabilidade.
É por essa razão que os negócios jurídicos recebem tratamento específico, já na
parte geral. Ao contrário dos outros atos, que são tratados de forma pontual na parte
específica. A peculiaridade do negócio jurídico é exatamente de que os efeitos não são
pré-determinados pelo legislador, ou pelo menos não todos os efeitos (alguns efeitos até
podem estar pré- determinados, mas não todos). Por isso aqui exige-se que as partes
tenham total capacidade.
Obs.: incapacidade não se projetará no ato ilícito (incapaz pode responder pelos seus
atos ilícitos; não se projeta nas situações existenciais (como no caso dos direitos de
personalidade; mas ela se projeta essencialmente aqui, no negócio jurídico. É em razão da
importância do negócio jurídico que a parte geral dispensa a ele um tratamento próprio,
explicando quais seus pressupostos fundamentais e os princípios a que estão sujeitos esses
negócios jurídicos.
d) Ato ilícito: ato contrário ao direito (exatamente por isso se diferentes dos outros atos,
que são conforme o direito), mas é considerado fato jurídico porque nossa definição de fato
é aquele fato do qual pode surgir uma relação jurídica. Ex.: quando alguém viola o direito
de outrem causando dano, surge para a vítima o direito ao ressarcimento, surge uma relação
obrigacional entre ofensor e vítima. Então, pelo nosso critério de fato jurídico, o ato ilícito,
ainda que contrário a direito, é considerado fato jurídico. Uma série de relações jurídicas
que surgem diante da violação de direitos alheios, portanto, em decorrência de atos ilícitos.
NEGÓCIO JURÍDICO: visto como aquele ato jurídico em que a vontade importa tanto
paraa sua constituição, como também para atribuição das consequências jurídicas a esse ato.
Essencialmente é o contrato (por isso que estudaremos os princípios gerais e a estrutura
básica dos contratos) – tema retomado em obrigações – que decorrem tanto de negócios
jurídicos, quanto de atos ilícitos e também da lei; e em direito dos contratos.
Essa expressão negócio jurídico é considerada hoje uma expressão superada por muitos
autores. É uma expressão que vem da Pandectística e decorre daquela preocupação conceitualque
caracterizava essa escola – a ideia do jurista alemão do séc. XIX era que, partindo do pressuposto
que é sempre bom ter conceitos amplos que englobam categorias menores, negócio jurídico seria
uma categoria ampla que envolveria: negócios jurídicos bilaterais (como contratos, no qual há
dois polos, acordo de vontades), negócios jurídicos unilaterais(como testamentos) e algumas
outras situações como o próprio casamento, que, no contextodo séc. XIX, era visto como negócio
jurídico.
Entretanto hoje, nosso olhar é mais pragmático. Mesmo situações como casamento,que
antes eram vistas como negócios jurídicos, hoje não são mais. Do ponto de vista existencial, se
fôssemos classificar o casamento em alguma dessas categorias, seria o ato jurídico stricto sensu
(pois a vontade das partes é muito importante para constituição do vínculo conjugal, porém, a
partir daí, todas as consequências do vínculo conjugal são pré- determinadas pela lei, como o
dever de fidelidade, não são as partes que irão discutir que consequências decorrerão no plano
existencial daquele vínculo). No que tange ao regime patrimonial, já é diferente (nesse caso, o
casamento se assemelha a um negócio jurídico, comoum contrato, porque aí as partes vão poder
decidir o seu regime patrimonial, vão poder adotar qualquer modelo previsto pela lei, como
inclusive criar um modelo próprio – por meio do princípio da atipicidade dos contratos, no qual
as partes não estão vinculadas aos modelos oferecidos pelo legislador, mas elas podem criar novos
contratos).
Diversas situações que antes eram vistas como meros contratos, meros negócios
jurídicos, a exemplo do casamento, hoje não são mais. O próprio testamento, ainda que
possamos entendê-lo como um negócio jurídico unilateral, o fato de ele ser unilateral e estar
vinculado a questões sucessórias traz tantas peculiaridade que faz com que ele seja regido
demodo muito pormenorizado pela lei e dificilmente possamos compará-lo a um contrato
comooutro qualquer. É por isso que, o que acaba sobrando, sendo o núcleo do negócio
jurídico é contrato, como negócio jurídico bilateral, porque viria de uma acordo de vontades.
Hoje, já se cogita de contrato de um só (sociedade unipessoal, por exemplo) ou
contrato plurilateral (como o contrato de uma sociedade; é como se 10 sócios tivessem
umarelação entre si, no qual 2 podem sair e da sociedade e 3 podem entrar, mantendo-se o
vínculo; há uma plurilateralidade de partes – é um contrato diferente pois, ao contrato do
contrato bilateral em que, normalmente, os interesses das partes são contrapostos, aqui todas
as partes querem a mesma coisa, não há contraposição, mas alinhamento de interesses).
Esse era o argumento dos grandes industriais quando contratavam pessoas por meio
desalários de fome, obrigando-as a trabalhar 16 horas, a um regime de trabalho subumano
(ela táaqui porque ela quer, se ela não quiser há uma fila de pessoas querendo). Havia a ideia
ingênua de que a liberdade de contrato era absoluta, como se as pessoas não agissem por
necessidades, como se houvesse liberdade de contratar quando uma parte era muito mais forte
que a outra. Esse era o arcabouço fundamental do contrato no séc. XIX.
Por isso que hoje alguns autores não gostam de falar em autonomia da vontade, mas
em autonomia privada, por entenderem que a autonomia privada reforça também o aspecto
de responsabilidade, de aspectos funcionais daquela liberdade, como a função social do
contrato, que não mais possibilitam a compreensão da liberdade como algo absoluto,
ilimitado. No entanto, esse era o argumento predominante na época, mesmo que nunca tenha
sido possível direitos absolutos (mesmo no séc. XIX, por mais que houvesse toda aquela
ideologia que reforçava a importância de um direito absoluto, na prática, já havia vários
exemplos que mostravam que direitos precisavam ser limitados, como as regras de
vizinhança. Ou seja, mesmo em relação à propriedade já havia a ideia de limitação desse
direito, o mesmo vale para os contratos).
Apesar de se defender e ser a ideia predominante que o contrato está sujeito à
liberdade absoluta, mas os ordenamentos jurídicos, a começar pelo código napoleônico, já
impunham algumas limitações, como ordem pública, moral, bons costumes, algumas
vedações específicas (ex.: contrato de prostituição não era possível no séc. XIX pois se
entendia que ele violava a ordem pública, era considerado um contrato nulo, pois seu objeto
era juridicamente impossível – se houvesse uma liberdade de contratar tão ampla, não haveria
porquê se negar validade a um contrato desse). Só para ficar claro que esse grau absoluto de
liberdade de contratar nunca aconteceu, mas certamente a margem de liberdade era muito
maior que a que existe hoje.
Envolve também a atipicidade dos contratos = possibilidade que as partes têm
decriar novos contratos e novos arranjos, de acordo com sua criatividade. Desde que elas
respeitem as normas imperativas de ordem pública, elas não estão restritas aos modelos
legais.
Há os contratos tipificados (compra e vida, mandato), pois diante da sua importância
e reiterada utilização, o próprio legislador já entende que é melhor dar uma moldura para
aquele contrato, dizendo regras que são obrigatórias (as partes não podem abrirmão) e, em
muitos casos, prevendo regras dispositivas, que apenas prevalecerão se as partes se omitirem
ou não adotarem nenhuma solução (sobre as regras dispositivas, o legislador estápresente,
vai dizer algo como “salvo disposição em contrário, o contrato não/vai poder isso e aquilo”.
Se o contrato for omisso, não mencionar, então aplica-se essas regras dispositivas).
As partes não são vinculadas ao modelos oferecidos pelo legislador, elas podem criar os
contratos atípicos, podem misturar modelos contratuais. Muitas vezesprimeiro o contrato é criado
na prática e só depois o legislador corre atrás para tentar disciplinar. Atipicidade dos contratos dá
um grande dinamismo na vida social.
2) Princípio do consensualismo: basta o consenso para a formação do contrato. O contrato
ésim um ato de vontade, um acordo entre as partes, mas qualquer forma de manifestação
doconsenso é válida para formação do contrato. Diferença entre manifestação de vontade
(piscada, levantar o dedo, silêncio) e declaração de vontade (espécie da manifestação; é
verbalizada, por meio de palavras escritas ou orais).
Exceção são os contratos aos quais a lei exige uma forma específica (alguns tipos
de transações imobiliárias, por exemplo). Em todos os demais contratos, qualquer
manifestaçãode vontade é suficiente e, portanto, somente quando a lei exigir uma forma
especial como requisito de validade do ato, é que não vale o princípio do consensualismo.
Hoje, já se vê que as coisas não são bem assim. Já se pode perceber uma grande alteração
no princípio da relatividade.
5) Justiça comutativa: há vários doutrinadores do séc. XIX que dizem que se é contratual
éjusto. Se as próprias partes entenderam que aquele acordo de vontades é vantajoso para
elas, e elas não teriam celebrado aquele contrato se não fosse por meio da sua concordância,
não cabe a nenhum terceiro interferir nesse conteúdo contratual. Até porque a ideia que
predominava era igualdade formal. As partes, vistas pelo prisma da isonomia formal, a partir
do momento em que consentem com algum conteúdo contratual, estão vinculadas
obrigatoriamente a esse conteúdo. Não se questionava se o objeto da contratação dizia
respeito a um bem essencial, se havia assimetria entre as partes. O contrato era visto como
justo por si só. Não se admitia nenhuma forma de controle: se é contratual é justo. Se as
duaspartes concordaram, não se discute que aquilo é o melhor pra elas.
Hoje já se admite que há uma margem de intervenção judicial nos contratos mas, por
trás dela, vai uma discussão muito complexa de saber se somente as partes sabem o que é
bompara elas.
CONTRATOS NO SÉC. XX
Cenário em que direito subjetivos e liberdades eram vistos como direitos absolutos e
passam asofrer limites. Teoria do abuso é fruto da busca de se ver o fenômeno jurídico a
partir de uma perspectiva finalista (tentar entender qual a finalidade do direito, introduzindo
um juízo de proporção, de solidariedade entre direitos). E tudo isso também aconteceu em
relação ao contrato assim como falamos em função social da propriedade, também falamos
em função social do contrato; assim como falamos de abuso do direito de propriedade,
também falamos em abuso do direito de contratar e das faculdades contratuais.
O que é realmente uma novidade é que o contrato, do ponto de vista econômico, passa
também por modificações muito importantes a partir do séc. XX.
Primeiro, o contrato deixa de ser visto apenas como instrumento de circulação de
riquezas (que era a função econômica básica do contrato no séc. XIX) – ele passa também
a ser visto como instrumento de criação de riquezas (ex.: serviço que, no contrato, gera
riqueza para o contratante). Isso está relacionado ao crescimento cada vez maior do setor
de serviços (no séc. XIX, predominava o comércio, então fazia todo o sentido pensar no
contrato como instrumento de circulação de propriedade; a partir do momento que se
complexificar asatividades econômicas, com crescimento da indústria e setor de serviços,
o papel do contrato também se amplia e vai deixando de estar restrito à circulação de bens).
Segundo, a ideia de que o contrato passa cada vez mais a ser um contrato
massificado, como consequência de uma sociedade cada vez mais massificada. Exemplo
deum contrato de massa é um contrato de adesão (consumidores quando querem comprar
produtos ou serviços não sentam e negociam cláusulas daquele contrato, mas normalmente
são apresentados a um formulário e a única opção é assinar – contrato em que somente uma
das partes negocia e impõe as cláusulas ao outro). É um contrato que, do ponto de vista
econômico, facilita e agiliza as transações. Contratos de massa são contratos padronizados,
normalmente de adesão, e daí vem o grande problema (quando, além de tudo, são utilizados
entre partes muito desiguais, nas relações assimétrica).
Contrato de massa vem cercado de uma série de vantagens, sendo que o grande
problema se dá quando esses contratos existem entre partes com posições de poder muito
diferentes (relações assimétricas). Uma coisa é uma contrato de adesão entre dois grandes
empresários, no qual ambos tem grande poder de barganha, então é vantajoso que haja um
modelo contratual pronto, economizando tempo. Outra coisa é quando há uma parte
vulnerável, como o consumidor, que muitas vezes não tem outra opção senão aceitar aquelas
cláusulas.
Por essas questões, muitos chegam em falar em morte dos contratos. Sabe-se que os
contratosnão morreram, eles se complexificaram, o que morreu foi aquela compreensão
liberal do contrato, baseada em uma ingenuidade que não mais prevalece.
4) Contratos normativos: contrato que não tem outra finalidade senão estabelecer regras
para elaboração de contratos futuros. Ele não tem nenhum efeito concreto, não tem
obrigaçõesconcretas (diz respeito a partes que, normalmente, terão intensos relacionamentos
futuros e, então, cria-se normas para elaboração desses contratos).
5) Contratos conexos: conexão funcional que contratos iguais ou diferentes podem ter.
Ex.:contrato de seguro – muitos dizem que diante de uma seguradora todos os contratos
dos segurados são conexos porque o risco da seguradora é calculado em conjunto, então a
notificação de um contrato altera os outros contratos daquela mesma cadeia.
Contratos que estão em uma mesma cadeia de prestação. Ex.: compra-se um
automóvel e há vários contratos envolvidos, o contrato entre a montadora e a concessionária,
entre esta e o comprador, contratos intermediários. Muitos dizem ser contratos conexos pois
estão unidos por uma finalidade comum. A própria empresa, muitas vezes, é definida como
um conjunto de contratos conexos, pois há vários contratos (contrato que a sociedade tem
com os sócios, com os fornecedores, com os funcionários, com os consumidores) e todos
elesestão conectados funcionalmente a uma só realidade, que é a empresa.
Importa para a necessidade de, muitas vezes, fazermos uma análise macro dos
contratos, contextualizá-los em uma perspectiva maior. Muitas vezes não se pode entender
umcontrato analisando apenas a individualidade dele, mas como ele se insere na atividade
econômica, qual a relação que ele tem com outros contratos.
O problema dos contratos de longo prazo: uma coisa é um contrato de execução
imediata (contrato de compra e venda, você chega, paga o produto e leva pra casa). Há
problemas, mas são diferentes daqueles problemas de contratos que serão executados daqui
5, 10, 30 anos. Ou de contratos por tempo indeterminado (contrato de previdência privada,
de plano de saúde). Muitos economistas procuram dar a esses contratos uma abordagem
diferenciada, como a dos contratos incompletos (estratégia utilizada nas negociações
contratuais de longo prazo em que as partes, sabendo que não têm como congelar ou prever
ofuturo, muitas vezes propositalmente deixam o contrato incompleto para que elas tenham
flexibilidade de ajustar esse contrato no futuro diante de novos cenários que surgem). Nesse
sentido, o contrato deixa de ter como função econômica apenas segurança e previsibilidade,
mas passa também a adotar a adaptabilidade e flexibilidade como função econômica.
6) Contratos cativos: contratos de adesão que se referem a obrigações de longo
prazo(previdência privada, plano de saúde). Em muitos casos são também coativos.
7) Contratos coativos: há obrigação de renovação (ex.: locação).
8) Contratos relacionais: contratos de longo prazo, normalmente incompletos, que
apresentam elemento de troca mas também elemento de cooperação muito intensos, e
exatamente porque as partes precisam adaptar diante de um futuro incerto elas vão
precisar,antes de tudo, ter estruturas de governança (estruturas que ajudem as partes a
modificar o contrato sempre que for necessário).
Aqui, a teoria contratual se depara com problemas muito semelhantes ao do
legislador. Hoje, o legislador se utiliza cláusulas gerais porque ele não tem como prever
antecipadamentetodo um cenário de possibilidades da realidade. O contrato incompleto é
uma resposta para problemas semelhantes: como as partes não têm condições de prever o
futuro, elas não podemapenas utilizar regras fechadas em seus contratos.
Essas categorias não são excludentes!!!
Autonomia da vontade: alguns autores hoje nem gostam mais de se utilizar dessa expressão,
preferem autonomia privada para ressaltar que não há liberdade absoluta, mas sim uma
liberdade que vem acompanhada de responsabilidade e dos deveres e limites da função
social.
Desdobramento: possibilidade de criar contratos atípicos – o CC e leis extravagantes
apresentam modelos contratuais (compra e venda, doação), o que normalmente acontece
quando um contrato é muito importante, seja pelo atual momento econômico seja por uma
experiência histórica, e o legislador acaba regulando esse contrato de maneira mais intensa,
seja para impor algumas regras obrigatórias (autonomia privada jamais será absoluta), seja
para prever o que chamamos de regras dispositivas (regras que podem ser afastadas pela
vontade das partes, mas que prevalecem na omissão – às vezes as partes fazem maus contratos
se esquecendo de algo fundamental, então, se há uma lacuna, ela será completada pelo
modelo contratual)
Princípio da atipicidade dos contratos (art. 425, CC. É lícito às partes estipular contratos atípicos,
observadas as normas gerais fixadas neste Código): as partes não estão restritas aos modelos
contratuais, elas podem criar novos contratos, novos arranjos contratuais que fogem dos
modelos previstos pela lei. Desde que esses contratos não sejam utilizados para burlar a
legislação obrigatória (regras fundamentais para proteção dos interesses do Estado, interesses
difusos mais relevantes, interesses dos mais vulneráveis), desde que esses limites sejam
respeitados, as partes têm toda autonomia para criar novos arranjados e novos modelos
contratuais.
Consensualismo: autonomia privada é tão prestigiada que, em princípio, desde que a lei
nãocontenha regra em sentido contrário, as partes podem se utilizar de qualquer forma
para manifestar a sua vontade. Qualquer forma de manifestação do consenso é válida
(balançar a cabeça, apertar um botão). As partes normalmente se utilizam da forma escrita
por questões de segurança e prova. (obs.: diferença entre manifestação e declaração da
vontade: manifestação é mais ampla, declaração é sempre manifestação verbalizada,
enquanto a manifestação pode ocorrer de várias formas, inclusive pelo silêncio).
CC, Art. 107. A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão quando a lei
expressamente a exigir.
CC, Art. 111. O silêncio importa anuência, quando as circunstâncias ou os usos o autorizarem, e não for
necessária a declaração de vontade expressa.
Desde que a lei não diga que há necessidade de declaração da vontade expressa, o
silêncio é considerado sim manifestação de vontade. Tudo vai depender da situação de
confiança que pode decorrer daquele silêncio. Tudo depende da eficácia daquele silêncio,
dentro do contexto em que ele acontece, dentro dos usos e costumes, tudo depende da
possibilidade daquela situação de silêncio gerar uma situação de confiança. Se for possível a
geração dessa situação de confiança, o silêncio é sim considerado uma manifestação válida
devontade, válida inclusive para estabelecimento de contratos mesmo diante do silêncio de
uma das partes.
Art. 108. Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade dos negócios jurídicos que
visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a
trinta vezes o maior salário-mínimo vigente no País.
Exceção expressa ao princípio do consensualismo: negócios que tenham por objeto
direitos reais e que tenham por valor uma soma superior a 30x o SM do país só podem ser
celebrados pela via da escritura pública. Aqui a forma é da substância do ato. Exatamente
porque a lei prevê como exceção, é que ela afasta a hipótese do consensualismo. Nesse caso,
vê-se que o legislador foi claro e que a escolha pela escritura pública não é uma mera questão
de prova, é uma questão de validade do negócio jurídico.
Proteção da confiança: Irrelevância da reserva mental.
Art. 110. A manifestação de vontade subsisteainda que o seu autor haja feito a reserva mental de não querer o
que manifestou, salvo se dela o destinatário tinha conhecimento.
Importância da intenção: Art. 112. Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas
consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem.
Artigo que deve ser interpretado de acordo com aboa-fé (art. 113). Por boa-fé, no que diz respeito
ao seu efeito interpretativo, entende-se teoria da confiança – boa-fé é,essencialmente, proteger a
confiança.
Aqui não houve uma mera reprodução do que havia no código anterior. Antes,
se falava que na declaração da vontade deve-se ater mais à intenção que ao sentido literal
dalinguagem. Mesmo no contexto do código anterior, a doutrina e a jurisprudência nunca
entenderam que daquele dispositivo havia o acolhimento da teoria da vontade dos
franceses. Direito brasileiro sempre privilegiou a teoria da declaração, afastando a
interpretação literal, sem colocar a vontade de maneira absoluta e prioritária em relação
à declaração Mas era fatoque o dispositivo dava margem a muitas interpretações, o que
foi solucionado pelo art. 112.
Art. 112 não fala mais somente em intenção, mas fala em intenção consubstanciada
na declaração. Rompe-se com essa dicotomia entre declaração e vontade. Declaração é
vontade em movimento, vontade em ação. Entende-se a declaração pela intenção e a intenção
pela declaração. Por isso não é qualquer intenção, é intenção consubstanciada na declaração.
Aqui,o código procura trabalhar com uma perspectiva em que intenção e declaração são
vistas de maneira dinâmica, elas se interpenetram.
O que vale é intenção consubstanciada na declaração (interpenetração entre
essesdois vetores) e interpreta-se essa intenção consubstanciada na declaração a partir
das situações de confiança que dela decorrem. Teoria da confiança dá um fecho a todos
esses dispositivos que tratam de interpretação contratual.
Analisa-se a situação de confiança sempre a partir do destinatário. Quando se diz
“intenção consubstanciada na declaração” se quer dizer que a declaração deve, dentro do
possível, refletir a intenção – declaração é intenção é movimento. Agora, nem sempre é o
destinatário concreto, analisa-se a partir da ideia do destinatário como homem médio (numa
situação como essa, um homem de prudência média acreditaria e se sentiria numa situação
de confiança?).
Equidade: equidade não é bem uma cláusula geral, só pra mostrar que, em alguns momentos,
o código tem essa preocupação em introduzir elementos de justiça substantiva, mas que são
pontuais, em alguns casos somente.
Art. 114. Os negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpretam-se estritamente.
Art. 423. Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação
mais favorável ao aderente.
Art. 424. Nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do aderente a direito
resultante da natureza do negócio.
CLÁUSULAS GERAIS: tem a peculiaridade de serem, antes de tudo, normas abertas. Não
dizem como os juízes deverão julgar, mas dão diretrizes para que os juízes, com base nelas,crie a norma
para o caso concreto. Essas cláusulas sempre se interpenetram. Muitas vezes nem mesmo a jurisprudência
faz essas diferenciações entre as cláusulas, daí porque boa-fé objetiva e função social normalmente são
tratadas em conjunto.
Simulação 25: terceiro ter um direito em relação a um contrato do qual ele não faz parte. Para
alguns, não se poderia ter admitido que a vítima entrasse com ação direto contra a seguradora,
ao invés de primeiro para o ofensor e só depois que entrasse a seguradora. É possível na fase
de execução, mas no processo de conhecimento se mantém o esquema (cabe a vítima ajuizar
contra o ofensor, o ofensor faz a denunciação à lide contra a seguradora). A peculiaridade é
a pessoa jurídica (ofensora) ter se dissolvido. Havia outras soluções ao invés de processar
diretoa seguradora, como a desconsideração da personalidade jurídica.
Simulação 26: quais os limites da utilização da boa-fé objetiva na proteção da confiança? Proteção
à palavra dada, confiança e situação existencial relacionada à impenhorabilidade do bem de
família. Se o devedor não falasse nada não haveria discussão, pois a impenhorabilidade do bem
de família incidiria. Agora, há renúncia expressa, o que contrapõe à má fé é a boa-fé subjetiva. A
boa-fé objetiva envolve cuidados que independem da intenção.Daí porque, ainda que o devedor
ao renunciar não estivesse de má fé, há bons fundamentos para se dizer que ele não cumpriu a
boa-fé objetiva. Vedação venire, as pessoas não podem se voltar contra seus próprios fatos,
lealdade envolve coerência, não posso falar A depois fazer B, não posso uma hora fazer uma
renúncia e depois querer dizer que a renúncia não fale.
2) BOA-FÉ OBJETIVA
1) Princípio do tu quoque: expressão latina que significa algo como “até tu”. O que está
portrás é a ideia da surpresa, alguém se ver totalmente traído pela conduta da outra pessoa.
Nenhum contratante pode exigir do outro aquilo que ele mesmo não faz. Princípio de
integridade, de coerência (se eu atraso a minha prestação, não há como eu exigir que a
contraparte cumpra a dela absolutamente de forma pontual, pouco importando o que diz
o contrato formalmente – o comportamento das partes vai ser fundamental para
determinar aexata extensão do contrato).
2) Venire contra factum proprium: se voltar contra um fato próprio da sua mesma
autoria. Proibir a contradição. Ex.: contrato diz que deve pagar até dia 5. Dia 1 o devedor
contata o credor dizendo que não vai poder pagar, perguntando se ele está ok e ele diz
que sim e aí no dia 6, credor vai lá e cobra multas desconhecendo esse fato anterior. Na
atual dinâmica das relações contratuais, condutas contraditórias não são mais toleradas.
Exige-se que as partes tenham obrigação de coerência e integridade. Impossibilita que
um fato superveniente de umadas partes seja contraditório a um fato anterior dela mesma.
Ele tem sido utilizado mesmo contra partes vulneráveis em contratos assimétricos.
Mesmo nesses contratos, em que uma das partes é presumivelmente vulnerável, não se
pode admitir que a parte mais fraca se utilize desse sistema protetivo para agir de maneira
desleal, contrária à boa-fé objetiva (ex.: tribunais trabalhistas, trabalhador recebia licença
remuneradapara estudar no exterior ao revés de, quando voltar, ficar 2 anos na empresa.
Trabalhador não quer voltar e diz que não está vinculado ao que ele disse, sob fundamento
da proteção da partemais fraca. Tribunais trabalhistas já entendem que ele está vinculado
sim, partes vulneráveis não estão livres para agir de forma desleal).
c) Supressio: perda da eficácia de um direito, em razão da omissão qualificada de uma das
partes em exercer esse direito. No exemplo do contrato de locação em que, apesar da previsão
de pagamento no dia 5, todo mês o locatário atrasa 2 dias e o credor nada fala – será que
depois de 3 anos omisso, o credor não gera uma situação de confiança no devedor de que ele
pode atrasar? Sim! Aqueles direitos que o credor teria diante do inadimplemento (multa)
deixam de ser exercidos. Credor não pode chegar depois de 3 anos querendo cobrar multa e
juros, pois houve omissão qualificada dele. Supressio tem muitos pontos em comum com
o venire contra factum proprium (alguns entendem que supressio é uma espécie do gênero
venire). Entretanto, pro venire, precisa de duas condutas do contratante, normalmente
comissivas, pouco importando o lapso temporal entre essas duas condutas, sendo que não
pode haver contradição entre a segunda conduta e a primeira. Na supressio, há uma
omissão,uma das partes nada faz. Omissão e lapso temporal – é o lapso temporal que faz
com que a primeira omissão seja qualificada a gerar situação de confiança.
A grande dificuldade é analisar como o lapso temporal, de acordo com as
circunstâncias específicas daquele contrato, pôde levar ou não a uma situação de confiança.
Se se chega à conclusão de que sim, houve a geração de situação de confiança, é essa situação
de confiança que será preservada.
Uma das principais discussões sobre a supressio é saber se a sua consequências é
a perda da eficácia sobre o passado ou se pode chegar a ponto de levar à perda do próprio
direito, i.e., perder a eficácia também para o futuro. No direito estrangeiro, há uma tendência
de ser refratário aos efeitos da supressio pro futuro pois eles entendem que a renúncia a
umdireito tem que ser sempre explícita, e a supressio advém de uma omissão. Então a real
consequência da supressio seria a perda da eficácia passada do direito.
Alguns dizem que a supressio acaba levando a uma antecipação indesejada da
prescrição (perda da pretensão). Regra geral de, enquanto eu tenho prescrição eu posso agir.
Ex.: 2 anos que o credor está omisso quanto aos pequenos atrasos do devedor. Chega o
devedor e diz, houve supressio e você não pode mais me cobrar. Aí chega o credor e diz
que não houve supressio, eu ainda tenho pretensão e eu posso exercer meu direito.
Prescrição é exatamente um prazo para eu agir, posso exercer até o último dia. Supressio
só entra em discussão quando não há prescrição, se trabalha-se com prescrição a ação da
parte que envolve o direito seria lícita. Apesar disso, se haver tido situação de confiança na
outra parte,mesmo ela tendo pretensão ela não vai poder exercê-la, pois aquele direito dela
perdeu eficácia diante de uma situação de confiança gerada. Por isso há problemas para a
aceitação da supressio, por isso devemos compreender a supressio com muito cuidado.
Apesar de ser controversa, já temos uma base doutrinária e jurisprudencial
consistenteaqui no Brasil no sentido de que a supressio é sim admitida no nosso direito, pelo
menos paraefeito de chancelar a perda da eficácia passada de faculdades contratuais, sempre
que se gerarna parte contrária a situação de confiança, a legítima expectativa. Grande questão
é verificar, a partir do envolvimento das partes e do lapso temporal, se realmente essa
situação de confiança existiu ou não.
Diferentemente da função social dos contratos e da boa-fé, esta não está expressa no código.
Doutrina e jurisprudência se dividem sobre a existência ou não dela como cláusula geral.
Baseia-se na ideia de que temos que pensar se não há necessidade de um juízo mínimo de
justiça nos contratos. A ideia que é colocada em cheque agora é aquela ideia do séc. XIX de
“se é contratual é justo”. Não é porque é contratual que é justo.
Questão é saber quais os limites e os parâmetros para que o judiciário possa intervir em
contratos injustos.
Para uma parte minoritária da doutrina, essa cláusula existe e, em princípio,
justificaria um controle da justiça dos contratos de maneira ampla. Para a parte majoritária,
a questão principal é saber se há desequilíbrios objetivos evidentes (desequilíbrio do
contrato que pode ser aferido só olhando as cláusulas daquela contrato) e se esses
desequilíbrios objetivosevidentes decorrem de um desequilíbrio subjetivo (desequilíbrio
entre as partes, são as relações assimétricas, são partes de exercício de poder/barganha muito
diferentes).
Para muitos, o problema do desequilíbrio objetivo não é um mal por si só (todos
teriam direito a fazer um mau contrato e teriam que se responsabilizar por isso; autonomia
davontade). Problema é um desequilíbrio objetivo que decorre de um desequilíbrio subjetivo
– aqui, não se pode imputar o desequilíbrio do contrato a uma falta de atenção do contratante
e sim uma vulnerabilidade desse contratante. Aqui faz sentido imaginar que possa haver um
espectro maior de intervenção no controle dos contratos.
Nas situações de assimetria da relação e essencialidade do bem contratado
esseprincípio deve ser aplicado com um controle maior.
CC tem várias soluções pontuais para lidar com problemas de desequilíbrios contratuais
queele considera inaceitáveis (lesão por exemplo – parte, se aproveitando do estado de
necessidade da outra, obriga essa outra a assumir uma obrigação manifestamente
desproporcional). A questão é, fora dessas hipóteses específicas, pode também haver
interferência judicial em contratos tão somente em questões de equilíbrio? A melhor
interpretação é de que essa cláusula existe sim, porém seu foco diz respeito a desequilíbrios
objetivos evidentes que decorram de desequilíbrios subjetivos. Mas, saber se um contrato
é equilibrado é muito difícil.
Caso de lesão = anulação do contrato.
Simulação 27: contrato cativo, essencial e assimétrico de longo prazo. Nos contratos
relacionais é importante que as partes tenham mecanismos para repactuar o contrato, pois
algumas coisas previstas há 35 anos talvez não funcionem mais para hoje. De um lado, não
pode haver aumento em relação à idade porque isso viola o estatuto do idoso por ser
discriminatório. De outro, o fator econômico relevante. Alguém tem que pagar essa conta:
oua seguradora vai quebrar ou ela vai repassar sobre os mais jovens. Com base nisso que o
STJ reviu o primeiro entendimento e entendeu que um aumento compatível é válido,
aumento só não pode ser abusivo. Questão é saber qual percentual de aumento é razoável e
a questão do esclarecimento/informação.
ROTEIRO 11 PARTE 3
Como a temática dos negócios jurídicos é tratada na lei e como ela é tratada classicamente na
doutrina a partir de três planos (art. 106, CC): da existência, da validade e da eficácia.
transações precisam ser feitas por meio da escritura pública, i.e., exceção ao princípio do
consensualismo e, portanto, a escritura pública é da substância do contrato, sendo requisito
de validade. Em todos os demais casos, a forma normalmente, em razão do princípio do
consensualismo, tem uma finalidade meramente probatória (pessoas se utilizam de uma
forma escrita tão somente para provar com maior segurança o que elas acordaram).
3) Eficácia: às vezes, o fato de um contrato existir e ser válido não quer dizer que ele é eficaz
desde já. Isso acontece pois o legislador trabalha com elementos acidentais, elementos como
acondição e o termo, que possibilitam que as partes possam “brincar” com a eficácia daquele
contrato.
Ex.: vou fazer uma doação de um carro popular para todos aqueles que concluírem o curso
deDireito na FD com SS em todas as disciplinas. Às vezes, as partes se utilizam disso para
não ter que aguardar um tempo, para estimular a cumprir determinadas condutas. Essa é a
ideia das condições e dos termos.
Condição é evento futuro e incerto. Condições e termos existem para ampliar as
alternativas da autonomia da vontade, i.e., é o fato de eu poder me utilizar de elementos
que possam modular a eficácia de um contrato, seja a eficácia inicial seja a final. No
plano da eficácia, já tendo passado do plano da validade, quero saber se aquele contrato
nãoestá sujeito a elementos que, como o termo e a condição, vão poder modular a eficácia
daquele contrato, tanto a eficácia inicial como a final.
CC trata especificamente da representação (relacionada à capacidade): aquele
que é incapaz não pode exercer diretamente seus direitos e deveres, mas pode fazê-lo por
meio deseus representantes.
Existem dois tipos de representantes (falam em nome do representado, exercendo-a
sempre em nome do representado – por isso código impede conflito de interesses, por
exemplo): representantes legais (imposição que decorre da incapacidade – pais em relação
aos filhos, tutores e curadores em relação aos incapazes; obrigatória ) e representantes
contratuais (não tem a ver com a capacidade, mas com questões de praticidade – procuração;
facultativa). Regras gerais que tratam desses dois casos de representação. Por meio desses
dois tipos de representação, contratos são feitos a todo momento.
ROTEIRO 11 PARTE 4
Condição resolutiva: o contrato começa plenamente eficaz, mas se ela acontecer o contrato
deixa de ter eficácia imediatamente. Condição que resolve o contrato, põe fim à eficácia do
contrato. Na condição suspensiva, contrato não tem eficácia e pode nunca ter. Na condição
resolutiva, contrato já é eficaz desde o início, apenas se sabe que, acontecendo aquele evento
futuro e incerto, o contrato deixa de ter eficácia.
Arts. 122 e 123 são requisitos de validade das condições. Se não cumpridos,
invalidam não só a condição, como invalidam o próprio negócio jurídico. Somente nas
hipóteses desses 2 artigos é que não pode salvar o negócio e ele é anulado. Mas isso não
éuma regra em todas as condições.
Art. 124. Têm-se por inexistentes as condições impossíveis, quando resolutivas, e as de não fazer
coisa impossível nessas hipóteses, desconsidera a condição e a entende como
inexistente. São condições que não comprometem tanto a autonomia da vontade, então
só se retiram essas condições e aproveita-se o resto do contrato. Importante pois: “as
condições não admitidas noordenamento jurídico levam necessariamente à invalidade do
negócio?” Não! Pela hipótese do art. 124 a condição é tida como inexistente e salva-se o
negócio jurídico. Somente nas hipóteses dos arts. 122 e 123 é que não há como salvar o
negócio jurídico.
Nesse art. 124 aplica-se o princípio da conservação dos negócios jurídicos: tentar
aproveitar, dentro do possível, o negócio jurídico. Para efeito de nulidades, se um contrato
tem uma parte que anula, mas que eu possa destacá-la para salvar o resto do contrato, é
issoque se deve ser feito.
Quando as partes se utilizam de uma condição elas estão sujeitando o seu contrato
a um elemento de incerteza. Exatamente por isso elas não podem interferir indevidamente
nesse elemento de incerteza ex.: vou doar um carro se você ganhar uma maratona, aí
quando vejoque você está quase ganhando vou e pulo em cima de você. Essa incerteza que
caracteriza a condição impede a malícia, impede que as partes dolosamente impeçam a
ocorrência de uma condição.
Art. 129. Reputa-se verificada, quanto aos efeitos jurídicos, a condição cujo implemento for
maliciosamente obstado pela parte a quem desfavorecer, considerando-se, ao contrário, não verificada a
condição maliciosamente levada a efeito por aquele a quem aproveita o seu implemento.
Ex.: termo inicial – te dou um carro no dia 20 de fevereiro de 2017. Termo final – você pode
usar o meu carro até o dia 20 de fevereiro de 2017.
ENCARGO: É o ônus imposto a uma liberalidade com o fim de limitá-la. Nos chamados
atos de liberalidade (atos em que apenas uma das partes têm vantagens e a outra não –
doação e legados, por exemplo, que são ≠ de um contrato de compra e venda, onde ambos
têm vantagens e desvantagens; quem tem vantagem é o donatário ou quem se beneficia do
testamento, donatário economicamente tem a desvantagem). Questão é que nem sempre as
pessoas fazem essas liberalidades imbuídas de um total desprendimento, às vezes elas querem
vincular a liberalidade a uma pequena contraprestação por parte de quem está
recebendo. Pequena pois, se não houver desproporção entre o benefício e a
contraprestação não é liberalidade e nem encargo, é compra e venda.
Ex.: doar uma fortuna em troca de cuidar do cachorro.
O encargo não impede nem a aquisição nem um exercício do direito – ao contrário
da condição suspensiva, em que não adquire-se nada além da expectativa, e ao contrário do
termo inicial, em que já se adquire direito mas não pode exercê-lo, no encargo já se adquire
direito e já se pode exercê-lo, mas tem que cumprir o encargo. Caso haja descumprimento
doencargo, pode haver a revogação da liberdade, que é uma forma de se colocar fim à doação
diante desse descumprimento, mas não tem nada a ver com a validade nem com a eficácia
(a doação foi válida, foi eficaz de imediato, apenas o descumprimento do encargo faz com
que apartir daquele momento aquela doação seja revogada).
Erro e dolo têm em comum serem ambos uma falsa representação da realidade, o que
vai determinar a diferença de tratamento é saber se é espontâneo ou se foi provocado por
terceiro. Ex.: pessoa que compra um castiçal de latão achando que era de prata; pessoa que
compra um cachorro achando que é pedigree mas na verdade é vira-lata; há falsa
representação da realidade, pessoa quer na verdade algo que não corresponde aquilo que ela
efetivamente está contratando.
Séc. XIX, o grande debate sobre a interpretação dos contratos era saber o que iria
prevalecer diante de uma eventual divergência entre vontade e declaração (para a teoria
francesa prevaleceria a vontade, para a alemã, a declaração). Mas na situação de falsa
representação darealidade não teria como ser resolvida do ponto de vista interpretativo, pela
escolha entre umateoria ou outra, pois não há propriamente divórcio entre a vontade e a
declaração. Aqui há o aspecto essencial desse vício: a pessoa declara o que ela quer, só que
o problema é anterior à declaração, o problema diz respeito à própria formação da vontade
(formação da vontade ocorre de maneira viciada pois decorre de uma falsa representação da
realidade). Esse é o problema do erro e do dolo: não há propriamente divergência entre
declaração e manifestação de vontade. Na verdade, a manifestação corresponde
exatamente à vontade, o problema é exatamente essa vontade, que foi formada a partir
de premissas equivocadas.
Mas, não é qualquer falsa representação que justifica esse vício que leva até
mesmo à possibilidade de anulação do negócio jurídico. Somente o erro essencial ou dolo
essencial. É aquela falsa representação que, se não tivesse ocorrido, não teria havido
contrato.Se houve erro ou dolo, mas o contrato teria ocorrido da mesma maneira, ainda que
por meios diversos então não há dolo/erro essencial (ex.: gostei do castiçal/cachorro e levaria
ele mesmo que fosse de latão/vira-lata, só não pagaria o mesmo preço). Erro e dolo, para
levarem aanulação do negócio jurídico, precisam ser essenciais (dizer respeito a um aspecto
fundamental ao negócio jurídico). Art. 139 elenca as hipóteses em que o erro pode ser
considerado substancial/essencial.
Art. 139. O erro é substancial quando: I - interessa à natureza do negócio, ao objeto principal da
declaração, ou a alguma das qualidades a ele essenciais; II - concerne à identidade ou à qualidade essencial da
pessoa a quem se refira a declaração de vontade, desde que tenha influído nesta de modo relevante; III - sendo
de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo único ou principal do negócio jurídico.
percebido por uma pessoa de diligência normal em face das circunstâncias do negócio,
i.e., se exige da parte contrária uma posição de mais absoluta boa-fé objetiva (não basta
apenas que ela não saiba do erro, já que se ela souber e ficar calada é dolo por omissão; se a
parte contrária não sabia que a outra parte estava errando, mas deveria saber, porque uma
pessoa de diligência normal saberia, então ela não está de boa-fé objetiva e por isso o negócio
por ser anulado) com isso o legislador trouxe a boa-fé objetiva para o erro – se a parte a quem
o erro aproveita (não é a parte que está errando, é a contraparte) está em uma posição de boa-
fé objetiva (nem sabia nem deveria saber do erro, porque uma pessoa de diligência normal
também não teria como saber), então o negócio jurídico é mantido. Somente na hipótese em
que o erro pudesse ser percebido por uma pessoa de diligência normal é que há a anulação
(OBS.: para anulação em caso de erro: erro essencial + escusabilidade do erro + teria que
poder ser percebido por uma pessoa de diligência normal).
Ex tradicional: contraparte sabe que o castiçal é de latão, ela só não sabe e nem teria
como saber que a parte que compra acha que é de prata.
No século XIX, a ideia do erro era fundamental porque ainda não tinha a boa-fé objetiva e
oseu desdobramento do dever de informação. Antes, não se entendia que as partes tinham
toda essa obrigação de informar uma a outra sobre as características do objeto. Hoje, esse
dever da boa-fé e de informação é muito forte, o que tende a restringir as possibilidades de
erro, porque as partes têm muito mais informações.
Ex.: dever de informação pelos fornecedores é fundamental em relação aos
consumidores, até porque as ofertas públicas vinculam os agentes (dever de contratar). Cabe
ao fornecedor dar todas as informações precisas ao consumidor, até para que não possa errar.
O próprio dever de informar e uma série de outros deveres (dever de contratar, relações
assimétricas) já é suficiente para ensejar a proteção do consumidor, sem a gente precisar de
socorrer do erro. Erro importa mais nas relações paritárias, entre iguais.
Obs.: Dolus bônus: exagero por parte do vendedor acerca do bem (“esse cavalo é
maravilhoso, é o melhor cavalo, corre demais”). Hoje, diante da boa-fé objetiva e do dever
de informação, avaliações subjetivas por parte do vendedor são toleradas mas, quando é
avaliação subjetiva (“cavalo é campeão, descendente do cavalo x”), aí já não há mais margem
para esses exageros. Pequenos exageros sim, mas jamais a ponto de levar a uma falsa
representação da realidade.
RESUMINDO: Erro é falsa representação espontânea! Exatamente por ser espontânea é que gera
tantos problemas para saber se, quando e em que circunstâncias ele leva à anulação donegócio
jurídico (em algumas circunstâncias, não levará à anulação). Diferentemente acontece com o
dolo. Se o dolo existir, o único juízo é se o dolo é acidental ou essencial. Seo dolo for essencial
(o negócio não teria como ocorrer se não tivesse havido o dolo) a soluçãoé a anulação do negócio
jurídico. Se o dolo for acidental, mantém-se o negócio jurídico mas éfacultado à parte que foi
vítima do dolo a devida indenização por perdas e danos (eu comprei o castiçal de latão achando
que era prata então é razoável que eu seja indenizado pela diferença de preço). Peculiaridade do
dolo: estamos falando de má-fé, então é razoável que oordenamento jurídico tenha uma postura
muito mais rigorosa que em relação às outras hipóteses.
Art. 145. São os negócios jurídicos anuláveis por dolo, quando este for a sua causa.
Art. 146. O dolo acidental só obriga à satisfação das perdas e danos, e é acidental quando, a seu despeito, o
negócio seria realizado, embora por outro modo consequência do dolo acidental é perdas e danos,
não anulação!!!!!!!
Art. 147. Nos negócios jurídicos bilaterais, o silêncio intencional de uma das partes a respeito de fato ou
qualidade que a outra parte haja ignorado, constitui omissão dolosa, provando-se que sem ela o negócio não
se teria celebrado dolo por omissão (a contraparte sabe que a outra está errando e não fala nada).
Art. 148. Pode também ser anulado o negócio jurídico por dolo de terceiro, se a parte a quem aproveite dele
tivesse ou devesse ter conhecimento; em caso contrário, ainda que subsista o negócio jurídico, o terceiro
responderá por todas as perdas e danos da parte a quem ludibriou dolo não necessariamente precisa vir
Ex.: terceiro que me falou que esse castiçal era de prataou que o cavalo ela de raça, não foi
o contratante. Tudo depende da boa-fé do contratante. Seo contratante não está de boa-fé
(porque ele sabia ou deveria saber do dolo do terceiro), a consequência é a mesma: anulação
do negócio jurídico. Se o contratante estava agindo de acordo com a boa-fé objetiva (nem
sabia nem teria porque saber do dolo do terceiro), o negócio é mantido, protegendo-se a
boa-fé do contratante, mas a vítima do dolo tem ação de perdas e danos contra o terceiro.
Art. 150. Se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma pode alegá-lo para anular o negócio, ou reclamar
indenização as duas estão agindo de maneira desleal, então o negócio fica do jeito que está e
RESUMINDO: Há no dolo e no erro hipóteses em que a vontade da pessoa que erra ou que
é vítima do dolo e sua manifestação se coincidem. O problema é, portanto, anterior à
formaçãoda vontade – a formação da vontade que é viciada, e exatamente por isso teria que
levar à anulação do negócio jurídico no caso de dolo e, dependendo da ausência de boa-fé
objetiva, no caso do erro.
COAÇÃO:
Art. 151. A coação, para viciar a declaração da vontade, há de ser tal que incuta ao paciente fundado temor de
dano iminente e considerável à sua pessoa, à sua família, ou aos seus bens.
Parágrafo único. Se disser respeito a pessoa não pertencente à família do paciente, o juiz, com base nas
circunstâncias, decidirá se houve coação.
Na coação há um problema muito diverso do erro e do dolo (em que vontade e manifestação
coincidem). Aqui, há um total divórcio entre vontade e manifestação: a pessoa manifesta aquilo
que ela não quer, mas ela o faz em virtude do fundado temor que a outra parte ouum terceiro
incute nessa.
Em uma hipótese como essa, em tese, até poderia se resolver pela teoria da intenção, do pontode
vista interpretativo. Mas esses casos são tão sérios que há um tratamento específico.
Embora a doutrina não seja pacífica, alguns autores fazem a diferença entre a coação como
violência indireta e como violência direta (alguém colocar uma arma na minha cabeça e dizer
assina essa escritura de doação da sua casa) alguns autores dizem que, nessas hipóteses de violência
direta, não seria propriamente coação, mas inexistência da vontade e o negócio nem mesmo
existiria (lembrar que existência é o primeiro plano de análise dos negócios - contrato é acordo de
vontades, precisa-se de partes, que acordam em torno de um objeto e quevão se utilizar de uma
determinada forma; precisa de um mínimo de voluntariedade das partes). Assim, para esses autores,
a coação corresponderia aos casos de violência indireta (pessoa tem, em tese, uma certa escolha,
por mais que seja difícil).
Art. 152. No apreciar a coação, ter-se-ão em conta o sexo, a idade, a condição, a saúde, o temperamento do paciente
e todas as demais circunstâncias que possam influir na gravidade dela
Aqui a ideia é saber quais são os desdobramentos de uma ameaça diante da pessoa x.
Coação requer um exame atentodo caso concreto. Ameaças podem gerar impactos diferentes a
depender do destinatário.
Art. 153. Não se considera coação a ameaça do exercício normal de um direito, nem o simples temor reverencial
Diferenciação dos casos de “pressão” legítima e os casos de coação. Quando um credor diz
para o devedor “ou você paga a dívida ou eu vou te processar”, por mais que se possa ver issocomo
uma ameaça, decorre na verdade do exercício regular de um direito, não é coação (lembrar que
coação é dano iminente e considerável (entendendo dano como prejuízo injusto;credor exercer sua
pretensão não causa prejuízo injusto, mas justo porque é legitimado).
Temor reverencial é atitude de respeito diante de autoridades, religiosas ou parentes (é o
fatode pessoas agirem na vida civil porque o pai disse “ou você faz isso ou eu paro de falar com
você”). Situações em que as pessoas fazem algo em razão de um temor ou respeito normalmente
são afastadas da ideia de coação.
Normalmente, a coação é considerada no momento da celebração do contrato, não ao
exercício de posições contratuais quando o contrato já existe.
Assim como o dolo, pode ser que a coação também venha de um terceiro, e não
necessariamente da parte contrária. A resposta é idêntica a resposta para o dolo: tudo depende
da boa-fé objetiva do outro contratante: se a outra parte estava agindo com boa-fé objetiva (nem
sabia e nem teria como saber da coação do terceiro), o negócio é mantido e a vítima da coação vai
ter perdas e danos contra o seu coator. Se a parte que se aproveita da coação não está agindo
conforme a boa-fé objetiva (sabia ou deveria saber), há anulação, semprejuízo de perdas e danos.
Art. 178. É de quatro anos o prazo de decadência para pleitear-se a anulação do negócio jurídico, contado: I - no caso
de coação, do dia em que ela cessar
Começa do dia em que a coação cessar, não da data da realização do negócio, pois não
seria exigível que ela pudesse agir antes da coação começar. Esses três vícios são chamados de
vícios de vontade e fica claro que eles têm esse nome pois, nos dois primeiros casos (erro e dolo),
há uma vontade equivocadamente formada por causa de uma falsa representação da realidade; no
terceiro caso (coação) há um divórcio total entre vontade e manifestação – manifesta-se aquilo
que eu não se quer diante de um temor do coator. Em todas essas hipóteses, entende-se que não
se está diante de manifestações válidas de vontade, então há possibilidade de anularmos
esses negócios jurídicos.
Além desses três vícios, o CC/2002 introduz outros dois defeitos/vícios que estão
relacionados a outros fatores que não têm a ver propriamente com uma equivocada
manifestação de vontade, mas sim a uma hipossuficiência de uma das partes, de uma
vulnerabilidade acentuada de uma das partes, que faz com que ela assume uma obrigação
excessivamente onerosa ou desproporcional = ESTADO DE PERIGO.
naufrágio, para eu te salvar faça esse contrato. Alguém que está num estado de perigo está
numa posição de manifesta vulnerabilidade, daí porque há um desequilíbrio. Só que não
é um mero desequilíbrio, é uma obrigação excessivamente onerosa, é um desequilíbrio
evidente que decorre da situação de absoluta vulnerabilidade na qual ela se encontra (não
de um descuido). Nessas circunstâncias estamos diante de uma situação que pode
comprometer sim a validade
do negócio jurídico.
Lesão segue a mesma ideia. Os parágrafos do artigo que trata da lesão são aplicáveis
também ao estado de perigo. Aliás, até se pode ver a lesão como um gênero maior do qual
oestado de perigo é uma espécie, porque um dos requisitos da lesão também é a premente
necessidade (premente necessidade é mais amplo que se salvar, mas envolve essa).
Art. 157. Ocorre a LESÃO quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por
inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da
prestação oposta a mesma lógica do estado de perigo: não é qualquer desequilíbrio, é um
desequilíbrio excessivo, evidente, objetivo, que decorre de um desequilíbrio subjetivo (uma
das partes está em situação de manifesta vulnerabilidade e exatamente por isso ela se obriga
aessa prestação).
Desde os romanos já se preocupavam com a ideia de que uma parte mais forte pudesse
submeter outra a prestações excessivas ou desarrazoadas. O problema é que esse instituto da
lesão, que foi aplicado pelos romanos e permaneceu na idade média, é algo incompatível com
a ideia de pacta sunt servanda que permeia os contratos a partir do séc. XIX (contrato é
umalei obrigatória entre as partes, se é contratual é justo, as partes são vistas a partir de
isonomia formal – se as partes consentiram, problema delas). Daí porque toda a ideia de lesão,
construída há tanto tempo, acabou sendo desconsiderada no séc. XIX.
Gradativamente, no Código brasileiro, é que algumas hipóteses específicas de lesão
foram sendo reconhecidas pelo ordenamento (juros sobre juros – anatocismo, usura). Direito
do consumidor, diante da vulnerabilidade do consumidor e do equilíbrio contratual,
introduz-se mais ainda a lesão. E, com o CC/2002, há a extensão da lesão até mesmo a
contratos paritários, mas com essas duas observações de que tem que ser um desequilíbrio
evidente e que decorre de uma situação específica de assimetria entre as partes.
§ 1o Aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores vigentes ao tempo em que foi celebrado o
negócio jurídico saber se houve a desproporção no momento da contratação.
§ 2o Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecida
concordar com a redução do proveito
FRAUDE CONTRA CREDORES é o único vicio social que subsistiu no CC, já que o outro
vício social presente no CC/16 virou hipótese de nulidade.
O patrimônio do devedor é a garantia dos credores, motivo pelo qual ele não pode
abusivamente se desfazer dele.
A fraude contra credores é o negócio gratuito que é prejudicial aos credores por
tornar o devedor insolvente, agravar a insolvência ou tornar insuficiente garantia já
concedida. Por que é vício social? É um vício que tem a finalidade de proteger terceiros/
credores já existentes (não os contratantes)! Ela tem uma razão de ser – há a ideia de que
somente pessoas que têm um patrimônio possam fazer atos de disposição patrimonial
(doação, perdão de dívidas) os credores poderão pleitear a anulação dos negócios do
devedor por meio daação pauliana, a ser ajuizada contra o devedor, a pessoa que com ele
celebrou negócio jurídico fraudulento e terceiros adquirentes que hajam procedido de má-fé.
Ex.: tenho uma dívida com X e, antes da minha dívida vencer, resolvo doar todo o
meupatrimônio (que é a garantia do credor) para Y.
Remissão de dívidas não deixa de ser um ato de liberalidades – se eu estou perdoando meus
devedores, estou deixando de ter um acréscimo patrimonial legítimo, que poderia ser
utilizado para eu honrar os meus credores. É semelhante ao caso em que se doa patrimônio.
Em ambosos casos, pratica-se liberalidades que comprometem o patrimônio do devedor e,
consequentemente, prejudica a capacidade de honrar compromissos anteriores.
Art. 158. Os negócios de transmissão gratuita de bens ou remissão de dívida, se os praticar o devedor já
insolvente, ou por eles reduzido à insolvência, ainda quando o ignore, poderão ser anulados pelos credores
quirografários, como lesivos dos seus direitos.
O ordenamento não está preocupação com a doação de bens em si, é com a
doação de bens ou prática de liberalidades estando insolvente (não tendo patrimônio
parahonrar as dívidas já feitas) ou se tornando insolvente em razão disso. “Ainda quando
o ignore” – durante muito tempo, se entendeu que havia a necessidade de um elemento de
dolona fraude contra credores, i.e., a pessoa já sabia o que ela estava fazendo. Hoje, aquele
que faz a liberalidade pode até não saber que eles estão insolvente ou serão reduzidos
à insolvência, mas mesmo assim, se esta for a situação objetiva, é caso de fraude contra
credores. Legislador impõe uma espécie de dever geral de cuidado contra o patrimônio.
Considerando que hoje em dia as pessoas só respondem por suas dívidas com seu patrimônio
(não há mais castigos corporais, prisão por dívida), é fundamental que as pessoas ajam
legalmente – devedores, antes de fazer atos de disposição patrimonial, confiram se eles têm
realmente patrimônio para tanto. “Poderão ser anulados pelo credores quirografários, como
lesivos dos seus direitos” – credores ser garantia. Quando há garantias, os credores terão
outros recursos que não apenas o patrimônio do devedor. Por isso que a regra é da fraude
contra credores para apenas credores quirografários (apesar de haver exceções, uma delas
já está no §1 ̊).
Art. 158, § 1o Igual direito assiste aos credores cuja garantia se tornar insuficiente
Ex.: eu tenho uma dívida com X e hipotequei minha casa. No entanto, houve um
incêndio e a casa foi destruída. Antes,a casa tinha valor suficiente pra pagar a dívida, depois
houve fato superveniente e a casa perdeu valor. O credor originário, para parte da dívida, se
equipara a um credor quirografário,pois, mesmo que ele execute aquele bem, o valor da
execução, em razão da perda de valor pelo incêndio, vai ser insuficiente para o pagamento
da dívida e, portanto, ele vai ter que contar com o patrimônio do devedor para pagar o resto
da dívida. Fraude contra credores que,em princípio, só protegeria o credor quirografário, na
hipótese desse § protege também o credor com garantias, mas garantias que se
tornaram insuficientes.
Art. 158, § 2o Só os credores que já o eram ao tempo daqueles atos podem pleitear a anulação deles
A ideia da fraude contra credores é proteger credores que já o eram antes da
liberalidade (não faz sentido proteger o credor depois da liberalidade, porque aí já é ônus do
credor apurar qual é o patrimônio do seu devedor.
Ex.: João me empresta dinheiro porque ele sabe que eu tenho uma casa x (ele me
emprestou porque sabe que eu tenho patrimônio pra pagar). Se eu transfiro esse patrimônio
para Maria, estou frustrando as expectativas de um credor cuidadoso. Agora, imagina-se o
exemplo contrário. Antes de adquirir o empréstimo eu doei a casa para Maria e mesmo assim
João me emprestou. Não faz sentido proteger o credor em uma situação como essa, porque
quando o credor fez o empréstimo ele já sabia que eu não tinha mais patrimônio, não houve
fator surpresa.
Art. 159. Serão igualmente anuláveis os contratos onerosos do devedor insolvente, quando a insolvência for
notória, ou houver motivo para ser conhecida do outro contratante.
Alarga a possibilidade de fraude contra credores, admitindo que ela possa ocorrer
mesmo no caso de contratos onerosos (uma compra e venda, por exemplo, não precisa ser
mais liberalidade). Muitas vezes, em situação de insolvência, a pessoa quer queimar bens
concretos para ficar com o dinheiro (dinheiro é mais fácil de ocultar). É exatamente esse tipo
de situação que o legislador quer evitar. O foco da fraude contra os credores são as
liberalidades, pois aquele que está recebendo doação, casoo contrato seja anulado, em tese
ele não será prejudicado (só vai deixar de ter um acréscimo material). Agora, nos casos dos
contratos de compra e venda, há um dever de cuidado que o legislador impõe para aqueles
que estão fazendo negócio jurídico com devedor insolvente, porque certamente ele já tem
débitos pendentes e aquele patrimônio dele (?).
Art. 160. Se o adquirente dos bens do devedor insolvente ainda não tiver pago o preço e este for,
aproximadamente, o corrente, desobrigar-se-á depositando-o em juízo, com a citação de todos os interessados.
Parágrafo único. Se inferior, o adquirente, para conservar os bens, poderá depositar o preço que lhes corresponda
ao valor real.
Assegurar que o valor daquela transação não vá para as mãos do devedor e os credores fiquem
a ver navios. Se ele deposita em juízo, aquele próprio depósito é uma garantia contra os
credores. A fraude contra credores continua sendo um importante instituto que mostra que
terceiros temde ficar atentos a contratos que possam prejudicar outros credores. O foco se dá
em liberalidades, porque ali há a ideia de que ninguém pode se aproveitar de uma situação
em que já existe um credor anterior. Art. 158 nao exige o dolo, nem por parte de quem está
praticando a liberalidade, nem por parte de quem está recebendo. Criar um parâmetro de
cuidado do patrimônio.
Invalidade, no termo geral, abrange pelo menos duas espécies: nulidades e anulabilidades.
Antes do CC/2002, alguns ainda trabalhavam com uma terceira hipótese – negócios
inexistentes. Seria para aqueles casos de vícios absurdos (exemplo da violência direta,
víciotão grave que leva à inexistência do contrato).
Hoje, no entanto, do ponto de vista pragmático, não há mais a necessidade de se
utilizar dessa categoria da inexistência, pois: a diferença essencial entre atos nulos e anuláveis
de acordo com o CC/1916 era o prazo para desfazer esses negócios (que era um prazo curto
para as anulabilidades e um prazo maior para a nulidades). No caso da inexistência, recorria-
se a ela para dizer que havia vícios tão graves que o tempo jamais poderia convalidá-los (não
importava quantos anos se passassem, aquele negócio sempre poderia ser rediscutido para
efeito de se declarar a inexistência daquele negócio. Hoje, essa discussão deixou de ter
utilidade prática pois o critério que o CC/2002 adotou para distinguir nulidade de
anulabilidade é que: em se tratando de nulidade não é possível a convalidação (nem mesmo
pelo tempo), e a anulabilidade pode ser convalidada (de diferentes maneiras, inclusive pelo
tempo). Ou seja, aquilo que se buscava pela inexistência, hoje já se resolve pelos atos nulos.
Claro que nulidades, como vícios mais graves, precisam de uma resposta mais dura do
ordenamento, mas será que faz sentido dizer que algo não pode ser convalidado jamais pelo
tempo?
Ex.: Meu pai faz um contrato de herança hoje, daqui a 60 anos alguém questiona a
nulidade desse contrato. Há uma dificuldade com atos que não se convalidam com o tempo,
desconsiderar o passado pode ser muito complicado. Porém, não foi assim que o legislador
pensou, embora não tenhamos tido tempo suficiente para questionamentos, já que o CC é
recente.
As NULIDADES dizem respeito a interesses sociais, por isso que quando são violados, a
gravidade do vício é maior. Por isso que várias pessoas vão poder alegar a nulidade que
não apenas as partes (como o MP), por isso que o juiz vai poder reconhecer de ofício esse
problema, por isso que não há possibilidade de convalidação. Já nas ANULABILIDADES
o que está em jogo são interesses privados, por isso que, em princípio, somente as partes
vão poder alegar o vício, por isso que o juiz não vai poder reconhecer de ofício aquele
problema (ele tem que ser provocado para tal), por isso que o ordenamento admite a
convalidação de diversas formas (pelo menos três formas de convalidação de um negócio
jurídico anulável, o que não acontece diante de um negócio jurídico nulo).
Basicamente, os casos de NULIDADE são aqueles de violação dos requisitos de validade
obrigatória do negócio jurídico:
Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando:
I - celebrado por pessoa absolutamente incapaz menores de 16 anos.
II - for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto viola os requisitos de validade do objeto
III - o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito;
IV - não revestir a forma prescrita em lei nas hipóteses de exceção ao princípio do consensualismo, a forma é
da substância do ato (é requisito de validade).
V - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua
validade; VI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa;
VII - a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção.
Todas essas hipóteses dizem respeito a vícios tão graves que o ordenamento
entende que a consequência é a nulidade, e a regra da nulidade é não apenas o
desfazimento do negócio, como a ausência de preservação de qualquer efeito daquele
negócio.
As hipóteses de ANULABILIDADES:
Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, éanulável o negócio jurídico:
I - por incapacidade relativa do agente;
II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores.
Esses vícios são causas de anulabilidade. Por mais que eles possam levar à anulação
do negócio jurídico, eles não necessariamente levarão à anulação. Eles poderão ser
convalidados.
I - aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se conferem,
ou transmitem (caso do laranja. Há alguém que aparentemente é a parte, é o titular da situação
patrimonial mas que, na verdade, não corresponde à realidade.)
II - contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira (abrange qualquer tipo
Preserva-se o negócio jurídico diante da boa-fé, mas em relação aos contraentes a ideia é de que
negócio jurídico simulado é sempre nulo. No caso da simulação absoluta (lavagem de dinheiro),
declara-se a nulidade do negócio e não sobra nada. No caso de simulação relativa, declara-se a
nulidade do negócio simulado e mantém-se o negócio dissimulado, que é verdadeiro e
aconteceu (exemplo da transação imobiliária: o que é nulo éa escritura com valor aquém do valor
efetivo, mantém-se o valor real e todos os tributos recaem sobre esse valor real).
Art. 168. As nulidades dos artigos antecedentes podem ser alegadas por qualquer interessado, ou pelo Ministério
Público, quando lhe couber intervir. § único. As nulidades devem ser pronunciadas pelo juiz, quando conhecer do
negócio jurídico ou dos seus efeitos e as encontrar provadas, não lhe sendo permitido supri-las, ainda que a
requerimento das partes
A nulidade é um vício tão grave que vai poder ser alegado não apenas pelos contratantes, pode ser
reconhecido por iniciativa própria do juiz (ao contrário dasanulabilidades).
Art. 169. O negócio jurídico nulo não é suscetível de confirmação, nem convalesce pelo decurso do tempo
A regra seria restituição das partes, mas é difícil voltar as partes ao estado anterior, por isso
muitas vezes a única solução é indenização.
Art. 172. O negócio anulável pode ser confirmado pelas partes, salvo direito de terceiro.
Art. 173. O ato de confirmação deve conter a substância do negócio celebrado e a vontade expressa de mantê-lo.
Art. 174. É escusada a confirmação expressa, quando o negócio já foi cumprido em parte pelo devedor, ciente do vício
que o inquinava.
Art. 175. A confirmação expressa, ou a execução voluntária de negócio anulável, nos termos dos arts. 172 a
174, importa a extinção de todas as ações, ou exceções, de que contra ele dispusesse o devedor.
Art. 184. Respeitada a intenção das partes, a invalidade parcial de um negócio jurídico não o prejudicará na parte
válida, se esta for separável; a invalidade da obrigação principal implica a das obrigações acessórias, mas a destas não
induz a da obrigação principal.
Há situação em que o problema não é no contrato como um todo, é em uma determinada
cláusula. Nessas situações, anula-se a cláusula e mantém-se o contrato. Artigo que procura
operacionalizar o princípio da conservação do negócio jurídico. Se pode se separar o que é válido do que
não é válido, então declara-se a invalidade do que está viciado e mantém-se o que não tem vício. Mas
nem sempre isso é possível!!!
Art. 170. Se, porém, o negócio jurídico nulo contiver os requisitos de outro, subsistirá este quando o fim a quevisavam
as partes permitir supor que o teriam querido, se houvessem previsto a nulidade
Aqui não é confirmação, é conversão. Na conversão é outro negócio jurídico, normalmente
com uma dimensão muito inferior ao do anterior (ex.: comprou uma Ferrari e vai converter para
um carro popular usado). Na confirmação há um mesmo contrato, na conversação não – é como
se dissesse “o contrato que vocês fizeram é nulo, mas há como reconfigurar e reenquadrar esse
contrato em um outro tipo contratual, que é diferente e que, desde que fosse imaginável que as
partes gostariam de ter esse contrato se soubessem que aquele primeiro era nulo, então a conversão
é possível”. O negócio jurídico nulo jamais vai subsistir pela dinâmica do código. Mesmo na
conversão – subsiste não o negócio jurídico nulo, mas um outro negócio (diferente e de
menor extensão e somente se for possível). Na confirmação há o mesmo negócio, pois se aplica
nas anulabilidades. Conversão é no nulo (há outro negócio).
Art. 174. É escusada a confirmação expressa, quando o negócio já foi cumprido em parte pelo devedor, ciente do vício
que o inquinava.
Confirmação tácita. A confirmação é algo que envolve nova manifestação de vontade, ainda
que ratificando a anterior. Mas isso não precisa acontecer necessariamente(exemplo da compra do cachorro
vira-lata achando que era de raça em prestações; ciente do vício, continua pagando as prestações).
Confirmação tanto pode ser expressa, quanto tácita.
Art. 178. É de quatro anos o prazo de decadência para pleitear-se a anulação do negócio jurídico, contado: I – no caso
de coação, do dia em que ela cessar; II - no de erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo ou lesão, do dia em
que se realizou o negócio jurídico; III - no de atos de incapazes, do dia em que cessar a incapacidade
Ainda há um terceira forma de convalidação de anulação, que é pelo tempo. Há um prazo
decadencial de 4 anos para anulação, se a parte nada fizer nesses 4 anos e a consequência éa perda do
próprio direito.
Art. 177. A anulabilidade não tem efeito antes de julgada por sentença, nem se pronuncia de ofício; só os interessados
a podem alegar, e aproveita exclusivamente aos que a alegarem, salvo o caso de solidariedade ou indivisibilidade
Anulabilidades não podem ser reconhecidas de ofício e só podem ser invocadas pelas
partes. Ao contrários das nulidades que são reconhecidas de ofício,podem ser invocadas pelo
MP, pois aqui há interesses sociais importantes.
Art. 179. Quando a lei dispuser que determinado ato é anulável, sem estabelecer prazo para pleitear-se a anulação,
será este de dois anos, a contar da data da conclusão do ato.
Regra geral de prazo geral deanulabilidade de 2 anos, se não houver um prazo específico.
Art. 180. O menor, entre dezesseis e dezoito anos, não pode, para eximir-se de uma obrigação, invocar a sua idade se
dolosamente a ocultou quando inquirido pela outra parte, ou se, no ato de obrigar-se, declarou-se maior
3) Dolo/Culpa (culpa lato senso) – dolo é vontade deliberada de causar evento danoso/
culpastricto sensu é negligência, imprudência e imperícia = falta de cuidado.
4) Dano – prejuízo injusto.
Dois tipos de ato ilícito:
1) Ato ilícito puro: ato ilícito padrão. Traz a regra geral da responsabilidade civil por ato
ilícito (art. 186, CC) – responsabilidade subjetiva = responsabilidade que pressupõe a
existência de culpa lato senso (a pessoal só pode ser responsabilizada se a ela for imputado
culpa lato senso)
Violação de direito (princípios, práticas costumeiras, leis)
Ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência: voluntária pois a pessoa fez
pensando no resultado ilícito.
Resultado = dano.
Ex.: ultrapassa o sinal vermelho e atropela pessoa.
2) Ato ilícito equiparado: É o abuso de direito. É como se ele não fosse um ilícito
puro,existe polêmica sobre se ele preenche aqueles 4 requisitos ou não.
Exercício de um direito que excede manifestamente os limites impostos: pelo seu
fimeconômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.
Críticas: é difícil se falar em bons costumes hoje.
Ex.: uma pessoa ajuíza ação que já sabe conter pedidos improcedentes, apenas
paraimportunar o réu.
Polêmica: abuso de direito pressupõe culpa? Prof. Frazão entende que sim.
Teorias do nexo causal (NC liga a conduta causadora do ato ilícito ao resultado final dano)
utilizados no direito brasileiro – não é pacificado qual teoria é adotada:
Da causalidade adequada: causa mais adequada ao dano. Foca-se na causa mais
adequadano sentido de ser ela a que mais se harmoniza com o resultado dano, de parecer
que é ela a mais responsável o resultado dano. É uma teoria extremamente subjetiva.
Ex.: acidente de carro que uma pessoa se machuca e, na cirurgia, houve erro médico que
piorou a situação. Por essa teoria, responsabiliza-se o outro motorista, porque sem ele
nãohaveria o acidente, logo não haveria o erro médico.
Da causalidade imediata: importa a causa que aparece em último em uma série. Reconhece
que há uma série de causas que cominam num evento danoso, mas escolhe-se a última. Essa
tem reflexo no CC (art. 403), mas não pode se afirmar que é essa a teoria do código.
Situações que afastam o nexo causal (quebram um dos requisitos gerais do ato ilícito,
afastando a imputação de ato ilícito e impedindo qualquer responsabilização):
- culpa exclusiva da vítima: pedestre que atravessa fora da faixa e é atropelado. obs.:
quando a culpa é concorrente apenas diminui o valor da indenização.
- força maior ou caso fortuito, salvo se o devedor estiver em mora (art. 393): caso
fortuito ou força maior é fato necessário, cujos efeitos não eram possíveis evitar ou impedir.
Ex.:explosão de máquina por defeito de fabricação com resultado morte para o convidado
em umafesta.
Situações que afastam a ilicitude (mesma consequência, afastam a responsabilização):
- legítima defesa: uso de recursos que há em mãos no estrito limite para repelir uma violação
de um direito seu. Ressalva da moderação: precisa ser no exato limite para afasta violação
injusta.
- exercício regular de um direito: não pode ser considerado violação a algum dever
jurídico.
- dano para remover perigo iminente: mas, necessidade e nos limites indisponíveispara
tanto. Obs.: pessoa lesada tem direito a indenização, desde que não seja culpada pelo perigo
- consentimento do ofendido: hipótese acrescida por Francisco Amaral – se direitos
disponível.
a) RESPONSABILIDADE CONTRATUAL
- violação de um dever contratual, direito relativo; ônus da prova é do devedor.
Art. 389, CC: perdas e danos + juros + correção + honorários
b) RESPONSABILIDADE EXTRACONTRATUAL
- violação de dever legal, direito absoluto; surge com o dano; ônus da prova é da vítima
MAS: distinção entre os dois tipos de responsabilidade é questionada. Ambas têm como
pressuposto a obrigação de indenizar decorrente da violação culposa de um dever jurídico.
Reaproximação entre os dois tipos de responsabilidade => enriquecimento sem causa e
boa-fé objetiva
Art. 927, parágrafo único, CC: obrigação de reparação nos casos especificados em lei, ou
quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua
natureza,risco para os direitos de outrem.
Teoria do risco: aquele que, por sua atividade, cria um risco de dano para terceiros,
deve ser obrigado a repará-lo, mesmo sem culpa.
Ex: art. 938, CC: morador responde pelo dano proveniente das coisas que forem lançadas
desua janela em lugar indevido.
CONTINUAÇÃO ROTEIRO 12
Lembrar: roteiro sobre FATOS JURÍDICOS - ato fato, ato jurídico stricto senso,
negóciojurídico e ato ilícito.
Sobre o ATO ILÍCITO: embora seja algo contrário ao direito, dele decorrem
consequências jurídicas. Ato ilícito é uma importante fonte de relações jurídicas. Do
atoilícito, surge entre ofensor e vítima uma série de relações obrigacionais, e daí porque
ele é considerado fato jurídico.
Por que ato ilícito normalmente se identifica com a responsabilidade civil subjetiva?
Embora o direito alemão até procure fazer uma distinção entre antijuridicidade/ilicitude e
culpabilidade (primeiro analisa-se se há uma ofensa formal ao ordenamento; depois, passa-se para
o juízo subjetivo de culpabilidade), o direito francês nunca trabalhou com essa distinção
– eles agregaram esses dois conceitos na fault (falta – falar em ato ilícito é falar em ilicitude e
culpabilidade).
O Código brasileiro vê essas duas questões como interpenetráveis – falar em ilicitude,
reprovabilidade e culpabilidade, na prática, equivale a falar em situações praticamente
sinônimas, ainda que conceitualmente hajam algumas diferenças. Para nós, ato ilícito é
reprovável, antijurídico e culpável, pois se age com dolo e culpa.
Outro aspecto fundamental para entendermos o sistema de responsabilidade civil que se formano
séc. XIX é que, na França, se adotou um modelo muito diferente do modelo penal.
No direito penal, os ilícitos são tipificados (em razão das inúmeras garantias que ele
fornece). Os franceses positivaram um cláusula geral extremamente ampla, segundo a qual todo
aquele que cause danos a outrem é obrigado a ressarcir. É uma cláusula ampla, mas suficiente
para abarcar toda a responsabilidade civil. Por isso a responsabilidade civil cresce tanto (a
responsabilidade civil não precisa de leis, basta se pensar: o agente agiu ilicitamente, com abuso
de direito, causou um prejuízo injusto? Se responder tais questões afirmativamente, isso é
suficiente para entender que se configura responsabilidade).
Por isso que, quando se lida com responsabilidade civil, diante de uma cláusula tão
abrangente, há que se deter nos elementos essenciais dessa cláusula: o que é ato ilícito, culpa,
dano e nexo causal (une ato ilícito ao dano). Mas, não são questões simples. Daí porquecoube a
doutrina e à jurisprudência traçar os filtros dessa responsabilidade civil.
Mas esse não é o único modelo existente. No direito anglo-saxão: torks, esses ilícitos
são previamente tipificados (claro que são tipos mais flexíveis que os do direito penal, mas o
legislador optou por tipificar os ilícitos civis).
Todas as discussões do séc. XIX sobre responsabilidade civil passam necessariamente
sobre adiscussão do que é culpa. Mas, ao longo do séc. XIX, começam a acontecer uma série
acidentes de trabalho nas fábricas, que demonstram a insuficiência da responsabilização
fundada na culpa somente.
As primeiras discussões no séc. XIX são acerca da responsabilidade subjetiva, vem
Josserande Saleilles e estruturaram uma nova ideia de responsabilidade: responsabilidade por
risco (alguns tem a ideia de que responsabilidade objetiva afasta qualquer comportamento de
aspecto volitivo da análise, quando na verdade é uma análise muito mais sofisticada e
complexa).
Para a responsabilidade por risco, se a atividade que eu exerço gera um risco para
terceiros, é razoável que eu responda por ela, mesmo que não haja culpa. Os fundamentos
são solidariedade social, equidade, prevenção do perigo e até critérios econômicos.
A ideia de responsabilidade objetiva introduz questões que, em última análise, se
referem a noções de equidade e solidariedade social por um lado, e a noções de riscoeconômico
por outro (se há um risco que eu possa minimante calcular e prever, é razoável queeu responda
por esse risco e também pelos danos possíveis causado por esse risco).
Ex.: na atividade empresarial, se o empresário sabe que sua atividade gera risco e tem
condições de minimamente prever esses riscos, além de controlá-los, é razoável que ele se
responsabilizar por eles, mesmo sem haver culpa.
Assim, a discussão não é mais saber se ele agiu ou não com culpa (ex.: do acidente de
trabalho – antes, dizia-se que não agiu com culpa, então não é responsável), mas sim pela
ideia da responsabilidade por risco, não importando a culpa: se esse dano é inerente a sua
atividade, você criou o risco ou tem proveito dele, então você responderá por ele. Não deixa
de ser um responsabilidade por ato lícito (não há ilicitude a ser imputada a quem vai
responder). Na responsabilidade objetiva, retira-se ilicitude e dolo/culpa, basta que haja
dano e nexo causal – exclui-se o ato ilícito e a culpa.
Responsabilidade extracontratual subjetiva – fundada no ato ilícito e na culpa.
Toda a discussão é saber se houve ato ilícito doloso ou culposo, do qual decorreu um dano
(visto como prejuízo injusto) e se há um nexo causal entre o ato ilícito e o dano (NC não apenas
une o ato ilícito ao dano, como delimita o próprio dano).
A partir do final do século XIX, ganha espaço, juntamente com a responsabilidade
pelo ato lícito, a responsabilidade objetiva, que no CC/02 é adotada como cláusula geral,
quando não houver cláusula específica ou quando a atividade de alguém gerar risco para outra
pessoa. Na responsabilidade objetiva não se preocupa com a ilicitude da conduta.
Mesmo com o avanço da responsabilidade objetiva, continua tendo uma ampla importância
daresponsabilidade subjetiva no CC.
Ganha, no final do séc. XIX, importância a culpa objetiva ou normativa, que
preocupa-se com a ilicitude da conduta, mas coloca outros parâmetros para verificar a
culpa, além daqueles psicológicos (cognoscibilidade, previsibilidade e evitabilidade do
dano). Continua sendo responsabilidade subjetiva, é um ato ilícito baseado na culpa,
porém quer-se comprovar a culpa por um parâmetro objetivo.
Discussões sobre o critério de desvio de finalidade (que era o critério objetivo para se
comprovar o abuso de direito): Saleilles: sempre que há uma conduta anormal (fora dos
parâmetros de um homem de prudência média), já é suficiente para entender que o autor age de
forma reprovável.
Resumindo: Situações de culpa objetiva ou normativa se restringem a situação de ilicitude e
culpabilidade. Apenas se procurou romper com aquela ideia de culpa vinculada a critérios
psicológicos, pois isso sempre foi muito difícil de comprovar. O que se agravava ainda mais ao
considerar que o ônus da prova na responsabilidade objetiva era da vítima (vítima tinhaque
provar que aquele risco era do conhecimento do ofensor, podia ser previsto e evitado por ele).
Enquanto, com o desvio de finalidade, basta a vítima comprovar que houve desvio, que houve
comportamento anormal.
Resumindo: Responsabilidade por ato ilícito (subjetiva) – ato ilícito, dano, culpa e nexo
causal. Discussão de culpa normativa ou objetiva muito diferente da discussão de
responsabilidade objetiva (culpa normativa ou objetiva continua sendo culpa, continua
trabalhando com esse cenário de ilicitude, reprovabilidade e culpabilidade; a única diferença éo
critério que se usa para comprovar a ilicitude, reprovabilidade e culpabilidade, que não é um
critério psicológico, mas um critério objetivo, como o desvio de finalidade).
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a
outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito (cláusula geral de reponsabilidade civil
objetiva).
É uma conduta humana, que tanto pode ser comissiva como omissiva, mas será culposa
(negligência e imprudência = culpa).
Pressuposto do ato ilícito é a violação de um direito (= prejuízo injusto). Precisa
violardireito e causar dano - somente violando um direito ou uma situação jurídica relevante
digna de tutela é que se causa danos. “Causar dano” introduz o NC.
Durante muito tempo, se entendeu que o pressuposto dessa responsabilidadeera a
violação de direitos absolutos do ponto de vista da eficácia subjetiva (direitos reais ou direitos
de personalidade). Hoje, a responsabilidade civil está se alargando para buscar também
compreender na definição de direito algumas outras categorias (situações jurídicas que não se
enquadrem na categoria de direitos absolutos poderiam justificam também aexistência de
uma ilicitude e consequentemente sua responsabilidade).
Pode ser dano a outrem, ainda que exclusivamente moral – essa ressalva não existia no
CC/16. Deixa claro que é qualquer tipo de dano.
Resumindo: ATO ILÍCITO é essencialmente uma conduta comissiva ou omissiva culposa lato
senso (dolo + culpa ss), que causa dano (visto como prejuízo injusto, e injusto porque decorre
da violação de um direito ou de uma situação jurídica suscetível de tutela por parte davítima). Se
esses fatores estão presente, então há a aplicação do art. 186.
Sobre a culpa: Perspectiva mais clássica = parâmetros subjetivos (cognoscibilidade,
previsibilidade e evitabilidade do dano) vs. Perspectiva mais recente = parâmetros objetivos,
como o desvio de finalidade. Pergunta: aquela conduta é reprovável? Se sim, ela é ilícita e
culpável. Mas, não basta que a conduta seja reprovável, precisa que haja dano.
Sobre o dano: Basta que a conduta seja reprovável? Não. É preciso o dano. Para a
responsabilidade civil, o dano é fundamental. Mas, a necessidade de dano não é pacífica. Há
uma discussão hoje sobre responsabilidade civil sem dano, i.e., utilização da responsabilidade
civil com funções preventivas e punitivas para punir condutas consideradas intoleráveis,
mesmo que daquelas condutas não decorra nenhum dano. Além disso, danos existem de diversas
maneiras: danos concretos já verificados; danos emergentes (que ainda não ocorreram, mas
ocorrerão); lucros cessantes (o que a pessoa deixou de lucrar); danos morais –dificuldade sobre
o que é o dano e como quantificá-lo.
Daí a importância do nexo causal: é ele que, no mínimo, 1) une o ofensor ao dano e 2)
delimita o próprio dano. Quando se fala em causalidade, não se fala em uma causalidade
naturalística, mas em um juízo de imputação. Vale a teoria do dano direto imediato = somenteo
dano que decorre direta e imediatamente daquela ação ou omissão é que será indenizado.NC
será fundamental também para se delimitar o próprio dano (ex.: se alguém esbarra em alguém,
mas esse alguém tem uma doença que só de triscar já quebra o osso. Será que se imputa o dano
maior àquela conduta? Dá pra se dizer que decorre direta e imediatamente da conduta?). Essa
teoria vincula o ofensor a determina conduta e a uma determina extensão de danos.
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os
limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes (prevê uma outra
espécie de ato ilícito, que é o abuso de direito, acolhendo a ideia de desvio de finalidade.)
Desvio de finalidade, boa-fé e bons costumes como parâmetros para a avaliar se o
exercício de um direito pode ser considerado ato ilícito
Desvio de direito x ato ilícito comum: o abuso tem um falso acento em direito, aquela
conduta a prioristicamente poderia ser vista como o exercício de um direito (muitas vezes é uma
questão de intensidade, de finalidade que transforma em abuso).
Art. 188. Não constituem atos ilícitos: I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um
direito reconhecido; II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover
perigo iminente. § único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as circunstâncias o tornarem
absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável para a remoção do perigo excludentes de
ilicitude.
Não constituem atos ilícitos: legítima defesa ou exercício regular e proporcional de um direito; perigo
eminente (alguns entendem que também o consentimento da vítima é uma excludente de ilicitude).
Além das excludentes de ilicitude, poderão ser aplicadas aos atos ilícitos também as excludentes
de responsabilidade, que já existem mesmo em se tratando de responsabilidade objetiva. Caso
fortuito ou força maior, culpa exclusiva de terceiro ou culpa exclusiva da vítima. Caso de
culpa concorrente da vítima não exclui a responsabilidade, só atenua o quantum da
responsabilização.
ROTEIRO 13
Art. 189. Violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a qual se extingue, pela prescrição, nos prazos a que
aludem os arts. 205 e 206.
Art. 191. A renúncia da prescrição pode ser expressa ou tácita, e só valerá, sendo feita, sem prejuízo de terceiro,
depois que a prescrição se consumar; tácita é a renúncia quando se presume de fatos do interessado, incompatíveis
com a prescrição.
Não admite a renúncia à prescrição – se fosse possível as partes renunciarem a
prescrição elas sempre o fariam, então ela perderia esse papel de estabilização das relações no
tempo. Renúncia depois que a pretensão já esta consumada. Agora, se o direito está prescrito,
nada impede que o devedor possa renunciar a pretensão e cumprir aquele dever. Direito prescrito
continua a justificar o cumprimento espontâneo por parte daquele que é titular do dever (assim
como ele pode cumprir espontaneamente mesmo estando prescrita – renúncia tácita, ele também
pode renunciar à prescrição). Titular não pode mais exigir, pois está prescrito, mas o devedor está
livre para cumprir ou não.
Art. 192. Os prazos de prescrição não podem ser alterados por acordo das partes.
Exatamente por isso o art. 194 (Art. 194. O juiz não pode suprir, de ofício, a alegação de
prescrição, salvo se favorecer a absolutamente incapaz) foi revogado – prescrição é matéria que
pode ser reconhecida de ofício pelo juiz (assim como as nulidades, porque há conexão com o
interesse público).
Seções II e III. Das Causas que Impedem ou Suspendem a Prescrição e Das Causas que
Interrompem a Prescrição:
Quando o titular do direito não exerce pretensão dentro do prazo, considera-se que há
concordância do titular do direito com a própria violação daquele direito. Ha situações em que
não é exigível que uma pessoa exerça pretensão:
Art. 197. Não corre a prescrição:
I - entre os cônjuges, na constância da sociedade conjugal enquanto perdurar a sociedade conjugal, a prescrição
não corre.
III - entre tutelados ou curatelados e seus tutores ou curadores, durante a tutela ou curatela.
Aqui há relações de afeto, assim não poderia ocorrer a pretensão; uma vez que
extingue a sociedade conjugal, por exemplo, aí sim pode (divórcio).
Art. 198. Também não corre a prescrição:
I - contra os incapazes de que trata o art. 3o;
II - contra os ausentes do País em serviço público da União, dos Estados ou dos Municípios;
III - contra os que se acharem servindo nas Forças Armadas, em tempo de guerra.
Também pessoas que estão em uma situação na qual não é razoável que exerçam
pretensão. Essas pessoas, ao nao exerceram pretensão é porque estão em situação que
impossibilita ou dificulta sobremaneira o exercício dessa pretensão.
Pretensão: Continua sendo um direito, só que enfraquecido, não pode exercer pretensão,
maso devedor é respaldado pelo direito caso ele queira cumprir.
Causas de suspensão da prescrição: podem ocorrer reiteradas vezes, o que acaba muitas vezes
estendendo muito o prazo prescricional. Causas podem ser cumulativas. Prazos prescricionais
estão sujeitos a fatores de suspensão ou interrupção.
A peculiaridade da suspensão: podem existir várias suspensões e sempre se aproveita o
prazo já escoado. (ex.: há um prazo prescricional de 3 anos – acidente ocorreu em março/13, as
duas pessoas se casam em março/14, suspende tendo corrido 1 ano; divórcio em março/15
= volta a correr o prazo prescricional, faltando os 2 anos; se um dos ex-cônjuges vai morar no
exterior, suspende o prazo prescricional de novo).
§ único. A prescrição interrompida recomeça a correr da data do ato que a interrompeu, ou do último ato do processo
para a interromper.
Ao contrário da suspensão, só pode ocorrer uma vez e ela desconsidera o prazo que já foi
escoado (suspensão sempre leva em consideração esse prazo que já foi escoado).
Suspensão pode ocorrer várias vezes e sempre se aproveita o prazo, situações em que érazoável
a passividade do sujeito.
Interrupção: Condutas do titular do direito ou do dever que são consideradas relevantes paraefeitos de
interromper o prazo – quando o prazo volta a correr ele volta integralmente.
Decadência convencional: prazos para que uma e outra possa exercer direitos potestativos docontrato;
decorrem da vontade das partes. Lei autoriza a renúncia nesses casos.
Art. 210. Deve o juiz, de ofício, conhecer da decadência, quando estabelecida por lei tambémé considera da
matéria de ordem pública e por isso pode ser reconhecida de ofício.
Decadência/Dos Prazos da Prescrição: Arts. 205 a 210