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DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

Prof. Fernando Gajardoni

Aula 01 30/01/2009

TEORIA GERAL DO PROCESSO COLETIVO

Bibliografia:
1) Luiz Manoel Gomes Junior – Manual do Processo Coletivo
2) Ricardo Barros Leonel – Manual do Processo Coletivo
3) Hugo Nigro Mazzili – Defesa dos Interesses Difusos em Juízo

EVOLUÇÃO HISTÓRICO-METODOLÓGICA:
Deve ser dividida em duas granes classificações:
a) gerações de direitos fundamentais:
1) Direitos Civis e Políticos:
É muito mais ligada ao direito constitucional. A primeira geração dos direitos fundamentais
foram os direitos civis e políticos. Tiveram início no século XVIII e duraram até o século XIX.
Ficou conhecida como a geração das liberdades negativas. Isso porque havia nessa
época uma transição na Europa, com revoluções burguesas aflorando. A única maneira da
burguesia controlar o poder dos reis era justamente garantir ao individuo direitos a respeito
dos quais não é dado ao Estado o poder de interferir.
A partir dessa 1.ª geração afloraram os seguintes direitos: liberdade, propriedade e direitos
políticos.
Foi nessa época que surgiu o movimento econômico-político denominado liberalismo.
Passado o tempo, percebeu-se que o livre atuar desses direitos causava um movimento de
perplexidade. Isso porque o Estado passou a ser tornado como algo selvagem. Isso porque
o capital passou a gerir as relações.

2) Direitos econômicos e sociais:


são uma contrapartida à primeira geração. Isso porque o Estado passou a se omitir nas
relações e a partir da segunda geração o Estado passou a intervir. para garantir o mínimo
de dignidade contra o capital. Na primeira geração, como a liberdade era absurda, havia
muita exploração, pois não havia qualquer proteção por parte do Estado contra o capital.
É dessa geração que surgem os direitos trabalhistas, como carga horária mínima, limite de
idade etc. Surgiu nessa geração os direitos previdenciários.
Ficaram conhecidos como liberdades positivas. Isso porque aqui a regra era que o Estado
atuasse na relação entre capital e trabalho, protegendo o indivíduo.

3) direitos da coletividade:
Tiveram início no século XX e vigem até os dias atuais.
Tanto os direitos da primeira como da segunda geração eram relacionados ao indivíduo
como pessoa. Existem, no entanto, certos direitos que não são do indivíduo, mas da
coletividade em que ele vive. Tais direitos não podem deixar de ser protegidos, pois sem
eles não se consegue viver em sociedade.
Aqui iniciou-se a proteção a direitos comezinhos, que não são individuais, como por
exemplo, meio ambiente, urbanismo, moralidade administrativa, dentre outros.
Isso porque sem a proteção desses direitos não há a menor possibilidade de haver convívio
em uma coletividade.

Cada uma dessas gerações, respectivamente, pode ser assim definida: liberdade (1.ª
geração), igualdade (2.º geração) e fraternidade (3.ª geração).

4) direitos da globalização:
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há constitucionalistas que falam em uma quarta geração de direitos, que são aqueles
relativos à globalização, como por exemplo, direito a paz, desenvolvimento econômico
sustentável e meio ambiente internaicional.

FASES METODOLÓGICAS DO DIREITO PROCESSUAL CIVIL:


Os processualistas analisam o nascimento dos direito coletivos por outro ângulo.

1) Fase Sincretista ou civilista:


A origem do estudo do processo civil se deu na fase sincretista ou civilista. Essa fase durou
da origem do direito romano até mais ou menos 1868.
O que caracteriza essa fase é a confusão metodológica entre direito material e processo.
Não havia nessa época autonomia do processo. Este era um apêndice do direito material.
Os romanos falavam que o processo civil era o direito armado para a guerra, tanto para se
defender como para atacar.

2) Fase Autonomista:
Teve origem por meio de livro do alemão Rudolph Von Bullow. Escreveu uma obra em 1868.
Essa fase durou até mais ou menos 1950.
Bullow percebeu a relação jurídica material. Ex: casamento, compra e venda, doação.
Afirmou que se todos cumprissem o que estava disposto nas relações nunca haveria
problema. Este surgiria quando um dos componentes da relação material rompesse com o
que fora avençado. Nesse momento surgiria uma nova relação jurídica, que não mais seria
bilateral, porque seria o Estado que resolveria o problema gerado pelo descumprimento do
que fora avençado.
Surgia, aqui, uma relação jurídica autônoma, chamada de relação jurídica processual. A
partir daqui o processo civil passou a ser estudado de forma autônoma, de forma
independente do direito material, sendo trilateral, porque tem em um dos seus pólos o
Estado-Juiz.

3) Fase Instrumentalista:
Foi de 1950 e perdura até os dias atuais.
A finalidade prática do processo é tutelar o direito material. Na terceira fase os
processualistas passaram a perceber que o processo nada mais é senão um instrumento de
acesso à justiça. Sendo o processo um instrumento, só se pode analisá-lo à luz de um
objetivo maior, que é justamente prestar a jurisdição. Aqui não se nega a autonomia do
processo, apenas reconhece o vínculo que existe entre o processo e o direito material.
O instrumentalismo foi dividido em ondas renovatórias. Há dois autores, um italiano e um
americano que melhor estudaram essa matéria, que foram Brian Garf e Mauro Capelleti. Em
1950 apresentaram ao mundo uma obra denominada “Acesso à Justiça”.
Afirmaram que havia três ondas renovatórias:
a) assistência judiciária:
Não adianta dizer que o processo é um instrumento de acesso à justiça se não se permite a
quem não tem dinheiro ter acesso ao processo. Apenas para exemplificar, a Lei Brasileira de
Assistência Judiciária é de 1950.

b) coletivização do processo:
Aqueles autores perceberam que o processo civil clássico era inadequado para proteção
de interesses massificados. Isso ocorria por duas ordens de razão:
- o bem jurídico era de titularidade indeterminada.
Existem certos direitos que não se sabe quem é o titular. Ex: meio ambiente.
É preciso que os sistemas prevejam quem defenderá os bens de titularidade indeterminada.
- existência de danos que individualmente considerados não suportam proteção individual.
Existem certos bens e direitos que não são defendidos individualmente. Ex: caixa de leite
com 950ml onde a embalagem afirma que há um litro. Individualmente, as pessoas não

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defendem esses direitos, porque não suportam proteção se se considerar apenas o
indivíduo. Mas essa relação atinge a coletividade.
A idéia de Graf e Capelleti era de que esses direitos dos consumidores deveria ser tutelado.

c) efetividade jurisdicional:
são ondas renovatórias que primam pela efetividade, ou seja, não adiante dizer que o
devedor tem que pagar se o Estado não pode compeli-lo a pagar.

Onde surgiram os direitos coletivos? Na terceira geração de direitos fundamentais. Resposta


para a área de direito constitucional. Se a pergunta for em prova de processo, surgiu na
terceira fase metodológica (instrumentalismo), e dentro dela na segunda onda renovatória.

ESTÁGIO ATUAL DO PROCESSO COLETIVO NO BRASIL:


A primeira vez que se falou no Brasil em processo coletivo foi quando do advento da ação
popular.
É importante notar que depois da ação popular, em 1985 surgiu no Brasil a Lei mais
importante acerca do tema, que foi a Lei da Ação Civil Pública (7.347/85).
Depois da LACP veio para o sistema o CDC, que trata de diversos assuntos acerca dos
direitos coletivos.
O processo coletivo hoje no Brasil sofre de um mal, que é a falta de legislação unificada
acerca do processo coletivo.
Por conta dessa idéia de se TRE uma legislação unificada, houve uma tentativa frustrada de
se elaborar um Código de Processo Coletivo. Esse projeto foi capitaneado pela Profa. Ada
Pelegrini Grinover.
Hoje, existe uma comissão do Ministério da Justiça que sugere a alteração da Lei de Ação
Civil Pública. Deixará de ser a Lei da Ação Civil Pública e passará a ser uma Lei geral de
processo coletivo.

NATUREZA DOS DIREITOS COLETIVOS:


Existe uma discussão acerca dos ramos do direito, que vem ficando superada em face da
obediência ao sistema jurídico constitucional.
O direito público regulamenta as relações do Estado e entre o Estado e o indivíduo.
Já o direito privado regulamenta as relações entre o indivíduo e o indivíduo.
Os direitos coletivos são públicos ou provados? Depois de muita discussão chegou à
conclusão que o direito coletivo faz parte de uma terceira categoria, sendo interesses não
necessariamente afetos à Administração, mas que, como um todo, representam o interesse
público tendo uma conotação público-social.
A doutrina faz uma diferenciação do interesse público, dividindo-o da seguinte forma:
- primário: é o bem geral
- secundário: é o que a Administração Pública acredita ser o bem geral. Muita vez isso não
ocorre, acabando por ser um mal geral.
O processo coletivo protege o interesse público primário. Isso porque na grande maioria das
ações coletivas o réu é o próprio Estado.

CLASSIFICAÇÃO DO PROCESSO COLETIVO:


São várias classificações, mas duas são as mais importantes, as quais serão estudadas a
seguir:

1) quanto aos sujeitos:


o processo coletivo pode ser:
a) ativo:
A coletividade é a autora.
b) passivo:
A coletividade é ré. Há duas posições na doutrina acerca dessa matéria.

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A primeira diz que não existe ação coletiva passiva. O fundamento é o de que não existe
porque não tem previsão legal.
A segunda posição, que é a do Prof., é a de que existe ação coletiva passiva apesar da
falta de previsão legal. A experiência prática tem demonstrada em que a coletividade vem
sendo ré.
Ex: greve da Policia Federal. Houve uma aço coletiva contra o Sindicato de Policias
Federais para que fossem obrigados a manter um certo numero de policiais trabalhando. É
o caso de uma ação coletiva passiva.

O grande problema da ação coletiva passiva é saber quem representa a coletividade, ou


seja, quem responde em nome de toda a coletividade. Tem preponderado que só podem
responder pela coletividade o sindicato ou a associação de classe. Isso porque
representam o interesse dessa coletividade.
No projeto de alteração da LACP será previsto expressamente a Ação Coletiva Passiva.

2) quanto ao objeto do processo coletivo:


O processo coletivo pode ser:
a) especial:
São as ações de controle de constitucionalidade. ADIN, ADC e ADPF.
É processo coletivo porque atinge toda a coletividade.

b) comum:
São todas as ações para a tutela dos interesses transindividuais que não se relacionam ao
controle concentrado de constitucionalidade.
É o estudo da ACP, Ação Coletiva, Ação de Improbidade Administrativa, Ação Popular,
Mandado de Segurança Coletiva e Mandado de Injunção Coletivo.

Há alguns autores que não separam Ação Coletiva de Ação Civil Pública. Já o Professor
entende que são a mesma coisa. Isso porque a Ação Coletiva serviria para tutelar os
interesse Individuais Homogêneos. De fato, assim o é, mas segue o mesmo rito da ACP, logo
o Professor não faz qualquer diferenciação.

PRINCÍPIOS DE DIREITO PROCESSUAL COLETIVO COMUM:


São onze princípios que serão estudados.
A existência desses princípios não afasta a necessidade de observância dos princípios
constitucionais.
Ainda, esses princípios ou decorrem da própria Lei ou da interpretação que faz do sistema.
Assim, nem todos possuem previsão legal expressa.
1) Princípio da Indisponibilidade mitigada da Ação Coletiva:
possui previsão legal no art. 9.º da Lei da Ação Popular e art. 5.º, § 3.º da Lei de Ação Civil
Pública.
A desistência não implica extinção, mas sim sucessão no processo.
É mitigada porque a existência poderá ser fundada e nesse caso haverá extinção do
processo, com a homologação da desistência.
§ 3º Em caso de desistência infundada ou abandono da ação por associação legitimada,
o Ministério Público ou outro legitimado assumirá a titularidade ativa.

2) Princípio do Interesse Jurisdicional no Conhecimento do Mérito:


Explica o primeiro princípio. O bem interessa a um grupo bem maior de pessoas do que no
processo individual. Graças a esse princípio, admite-se a sucessão do autor popular morto.
Ocorre quando um autor de uma ação popular morre e os seus herdeiros não tem interesse
na continuação do feitp. Assim, qualquer outro cidadão pode assumir a titualridade da
ação.

3) Princípio da Indisponibilidade da Execução Coletiva:


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Possui previsão legal no artigo 16 da Lei de Ação Popular e artigo 15 da LACP.
Art. 15. Decorridos 60 (sessenta) dias do trânsito em julgado da sentença condenatória,
sem que a associação autora lhe promova a execução, deverá fazê-lo o Ministério Público,
facultada igual iniciativa aos demais legitimados.

Uma vez ganho o processo coletivo, o autor pode ser subornado a não executar a decisão.
Para evitar que isso aconteça, passados sessenta dias do transito em julgado sem que haja
a execução, qualquer legitimado pode e o MP deve fazer a execução da sentença.
Nesse caso, não há mitigação, logo a sentença deve ser executada.

4) Princípio da Prioridade na Tramitação:


A ação coletiva, por atender a um numero indeterminado de pessoas, deve ter
preferência.
Ordem de preferência das ações: HC, MS, habeas data, idoso e ações coletivas.
Esse princípio é doutrinária e não possui previsão legal.
Na nova LACP esse princípio terá previsão legal.

5) Princípio do Máximo Benefício da Tutela Jurisdicional Coletiva:


Tem previsão nos §§ 3.º e 4º do CDC:
Autoriza o aproveitamento da coisa julgada coletiva benéfica para favorecer o indivíduo.
Significa que uma vez proferida uma sentença coletiva, por esse princípio, o indivíduo pode
executar essa sentença individualmente. É o transporte in utilibus da coisa julgada coletiva.
Pode ser transportado o que for útil na sentença.
A regra aqui é que a coisa julgada só pode favorecer e nunca prejudicar, ou seja, mesmo
que a sentença coletiva seja julgada improcedente não prejudica a ação individual.

§ 3° Os efeitos da coisa julgada de que cuida o art. 16, combinado com o art. 13 da Lei n°
7.347, de 24 de julho de 1985, não prejudicarão as ações de indenização por danos
pessoalmente sofridos, propostas individualmente ou na forma prevista neste código, mas,
se procedente o pedido, beneficiarão as vítimas e seus sucessores, que poderão proceder
à liquidação e à execução, nos termos dos arts. 96 a 99.
§ 4º Aplica-se o disposto no parágrafo anterior à sentença penal condenatória.

6) Princípio da Máxima Efetividade do Processo Coletivo ou do Ativismo Judicial:


Pode-se dividir a idéia desse princípio em dois grupos:
- no processo coletivo, como o interesse público que está por detrás é o primário, os
poderes instrutórios do juiz são ainda mais acentuados.
Nos termos do art. 130 do CPC, o juiz tem poderes instrutórios. No caso do processo coletivo
essa idéia é maximizada. A idéia é que o juiz se torne um investigador. Está superado o
entendimento de que o juiz que manda produzir provas perde a imparcialidade. Isso
porque o juiz não sabe o resultado da prova que será produzida.

- possibilidade de alteração do pedido ou causa de pedir até a prolação da sentença.


No processo coletivo, tanto o pedido como a causa de pedir, podem sofrer alterações
mesmo apos a fase de saneamento. Mas deve-se, aqui, respeitar o contraditório.
ACP onde se alegava que houve superfaturamente em compra pelo Poder Público. A ACP
tramitava e houve a realização de Pericia contábil. Esta constatou que não houve
superfaturamento no mês qeu estava descrito no pedido, mas que havia sueprfaturamento
em outro mês. Se processo individual, o juiz extinguiria o processo. No processo coletivo,
houve alteração do pedido e da causa de pedir.
Esse princípio é doutrinário, não tendo previsão legal. Na nova LACP essa possibilidade será
expressa.

7) Máxima Amplitude, da atipicidade ou da não-taxatividade do processo coletivo:


art. 83 do CDC:
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Art. 83. Para a defesa dos direitos e interesses protegidos por este código são admissíveis
todas as espécies de ações capazes de propiciar sua adequada e efetiva tutela.
Qualquer ação pode ser coletivizada. É Possível, por exemplo, uma ação monitória coletiva;
uma reintegratória de posse coletiva para que se proceda o meio ambiente;

8) Princípio da participação:
Como as partes participam do processo decisório individual? Por meio do contraditório.
A participação popular nas decisões judiciais também se dá por meio do contraditório. A
única maneira de legitimar o processo decisório do Estado-Juiz é a participação do
processo de formação dessa decisão.
No processo coletivo, a faceta democrática se mostra por meio não só do contraditório,
mas principalmente, pelo próprio ajuizamento da ação, tendo em vista que os co-
legitimados representam a sociedade.
Enquanto no processo individual a participação se dá através do contraditório (no
processo), no processo coletivo a participação se dá pelo próprio ajuizamento da ação
pelos representantes adequados (pelo processo).

9) Princípio da Ampla Divulgação da Demanda:


Possui previsão expressa no art. 94 do CDC:

Art. 94. Proposta a ação, será publicado edital no órgão oficial, a fim de que os interessados
possam intervir no processo como litisconsortes, sem prejuízo de ampla divulgação pelos
meios de comunicação social por parte dos órgãos de defesa do consumidor.

Toda proteção coletiva dos direitos individuais homogêneos deve ser divulgada. É o fair
notes do direito norte-americano.
Na alteração da LACP está sendo criado um bando de dados de ações coletivas gerido
pelo CNJ.

10) Princípio da integratividade do microsistema processual coletivo:


Em matéria de processo coletivo, trabalha-se com a técnica dos sistemas legislativos
abertos.
Há duas normas centrais acerca desse tema: arts. 21 da LACP e art. 90 da CDC.
Esses dois artigos são chamados de normas de reenvio.

Art. 21. Aplicam-se à defesa dos direitos e interesses difusos, coletivos e individuais, no que
for cabível, os dispositivos do Título III da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, que instituiu
o Código de Defesa do Consumidor.

Art. 90. Aplicam-se às ações previstas neste título as normas do Código de Processo Civil e
da Lei n° 7.347, de 24 de julho de 1985, inclusive no que respeita ao inquérito civil, naquilo
que não contrariar suas disposições.

Em qualquer tema do CDC pode-se aplicar a LACP, bem como a recíproca. Ex: aplica-se
para urbanismo as normas do CDC. Assim, essas duas normas sempre se comunicam. Sem
prejuízo do núcleo, tem-se gravitando ao lado do núcleo central as ações particulares de
cada uma das ações coletivas. Ex: Estatuto do Idoso, Lei da Ação Popular, Estatuto das
Cidades, Estatuto do Deficiente etc.
O sistema é aberto, ou seja, o CDC e a LACP pode ser aplicada a todos os outros diplomas
acima citados. Ex: se faltar uma norma de regência da matéria no ECA, busca-se a solução
no CDC, na LACP ou nas outras leis que tratam do processo coletivo. Isso porque o sistema
que rege o processo coletivo é integrativo e não subsidiário.
Ex: no art. 210 do ECA não há a previsão da pessoa jurídica de direito para figurar no pólo
ativo da ação. Mas em outras Leis que tratam do processo coletivo há, então é
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perfeitamente admissível que o poder público figure no pólo ativo das ações coletivas nos
casos do ECA.
O CPC, por conta do art. 19 da LACP, tem a sua aplicação integrativa.

Art. 19. Aplica-se à ação civil pública, prevista nesta Lei, o Código de Processo Civil,
aprovado pela Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973, naquilo em que não contrarie suas
disposições.tituiu o Código de Defesa do Consumidor.

A aplicação do CPC é subsidiária e não integrativa.

Pela nova LACP, o núcleo será apenas a LACP, acabando, pois, as normas de reenvio, pois
a LACP funcioná como parte geral aplicando-se às disposições cobre o processo coletivo

11) Princípio da adequada representação ou do controle judicial da legitimação:


No Brasil, quem pode proporá a ação coletiva é um rol restrito de legitimados. Nos E.E.U.U.,
qualquer pessoa pode propor ação coletiva. Mas para tanto, essa pessoa tem que provar
em primeiro lugar, que representa a maior parte do grupo prejudicado. Ainda, deve provar
que tem condição financeira de custear o processo coletivo. Deve provar que tem um
histórico de defesa do sistema coletivo. Por fim, deve provar que o advogado é especialista
no tema. Vaso prove todas essas coisas, o juiz considera que essa pessoa representa
adequadamente os interesses da categoria.

OBS: Esse sistema tentou ser copiado pelo Brasil, mas não deu certo. Nos E.E.U.U, há a
exigência da representação adequada. No Brasil, os legitimados são fixos (MP, Defensoria,
Administração Pública direta e indireta, associações etc.). No Brasil, há uma presunção
legal de representação adequada.
A representação no Brasil é presumida, mas o juiz pode afastá-la no caso concreto?
Há duas corrente acerca desse tema:
- a primeira corrente, capitaneada pelos Profs. Nelson Nery e Arruda Alvim, sustentam que
não há controle judicial da representação. Consequentemente, se estiver no rol dos
legitimados, a ação poderá ser interposta.
Ambos admitem o controle no caso das associações. Isso porque o juiz pode fazer esse
controle da representação das associações com base na pertinência temática. Ex:
Greenpeace representando o consumidor.
A representação, para essa corrente, é ope legis, ou seja, decorre da Lei.

- a segunda corrente, capitaneada por Ada Grinover, admite-se o controle judicial da


representação de todos os legitimados. A representação passa a ser ope iudicis. O juiz
poderia, no caso de todos os legitimados, fazer esse controle. Tal seria feito com base na
pertinência temática, ou seja, com base nas finalidades institucionais do autor..
ex: MP.

CF, art. 127:


Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do
Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses
sociais e individuais indisponíveis.

Assim, para essa corrente, o MP poderia propor todas as ações coletivas, desde que
relacionadas aos interesses sociais e individuais indisponíveis.
Ex: ação para discutir moradia. O MP pode interpor a ação.
Ex: ação coletiva para discutir preço do condomínio Alphavile. Não há pertinência
temática para o MP.
Ex: Defensoria Pública. Para Nery, poderia interpor todas as ações. Para a segunda
corrente, só poderia interpor ações coletivas em que tenham o interesse dos pobres.

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OBJETO DO PROCESSO COLETIVO:

O objeto são os interesses ou direitos metaindividuais/transindividuais (art. 81, CDC):

- Naturalmente coletivos: caracterizam-se pela indivisibilidade (lato sensu)

Direitos ou interesses Difusos Direitos ou interesses Coletivos


(mais abstratos) (coletivo stricto sensu)

- sujeitos são indeterminados e - sujeitos são indeterminados e


indetermináveis; determináveis por grupo;

- entre os sujeitos não há relação - entre os sujeitos há uma relação


jurídica; são ligados por circunstâncias jurídica base entre si ou com réu.
de fato extremamente mutáveis

Ex. meio ambiente, patrimônio público, Ex. Sindicalizados, mensalidades


moralidade administrativa. escolares, consórcios

- Acidentalmente coletivos: são caracterizados pela divisibilidade, são os direitos ou


interesses individuais homogêneo

Conceito: são interesses individuais, cada um dos titulares poderiam entrar com ação,
entretanto, existem tantas pessoas que possui esses direitos, que ele está homogeneizado
na sociedade, portanto, possuem um tratamento coletivo (política legislativa).

Razões que inspiraram o legislador para dar tratamento coletivo:

- redução dos custos;


- diminuição da demanda judicial;
- evitar decisões contraditórias;

- os sujeitos são indetermináveis, mas eles são determináveis na fase de execução;

- os sujeitos são ligados entre si por evento de origem comum;

Exemplos: microvilar, cada mulher poderia entrar com uma ação; vítimas de acidente
aéreo.

Observações:

- há autores que não vêem com clareza essa distinção (Dinamarco);

- é extremamente tênue a diferença entre os coletivos e os individuais homogêneos, a


ponto de ocorrerem casos em que não é possível a identificação.

Ex. mensalidade escolar para considerar ilegal um aumento abusivo. Tem como diminuir
para um, sem diminuir para todos? Não. Mas um aluno pode entrar com ação individual,
portanto, pode ser tanto coletivo, como individual homogêneo.

- um mesmo fato pode ocasionar lesão aos três interesses: Ex. Batomuch – Ação para que
todas as embarcações tenham colete salva-vida (difuso); ação para que todas as

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embarcações de Angra dos reis tenham colete salva vida (coletivo) e as ações das vítimas
para buscar indenização (individuais homogêneos).

Barbosa Moreira propõe uma explicação Didática do processo coletivo. O objeto seriam os
direitos ou interesses meta ou transindividuais.
Prevalece para fins doutrinários que direitos e interesses, meta ou transindividuais não tem
diferença.

Art. 81 do CDC:
Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser
exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo.

Barbosa Moreira diz que esses direitos e interesses podem ser divididos em dois grandes
grupos:
1) direitos e interesses naturalmente coletivos:
O traço característico é a indivisibilidade do objeto. Não há como dividir a titularidade do
bem jurídico. Ou todos ganham ou todos perdem. Não há como parcela do grupo ganhar
e outra perder, tendo em vista que o bem é indivisível. Ex: meio-ambiente, moralidade
administrativa.
Se fosse um litisconsórcio seria unitário.

Os direitos naturalmente coletivos podem ser divididos em dois grupos:


a) interesses difusos:
Os sujeitos são indeterminados e indetermináveis. Nunca se sabe quem são e quem eram os
sujeitos.
O que faz esses sujeitos terem algo entre si é simplesmente o fato de serem ligados por
circunstâncias de fato extremamente mutáveis. Ex: morar na mesma cidade; fazer parte da
mesma Administração Pública etc.
Esses sujeitos não têm entre si qualquer relação jurídica.
Os direitos difusos são aqueles com maior grau de abstração do ponto de vista coletivo.
Exs: meio-ambiente, moralidade administrativa, patrimônio público, propaganda etc.

b) interesses coletivos (strictu sensu):


Os sujeitos são indeterminados, mas são determináveis por grupo, da categoria a qual ele
pertence. Isso porque há entre esses sujeitos uma relação jurídica base entre si ou com o
réu. Sai-se do nível de abstração extremo, mas se consegue identificar a categoria a qual
pertencem os titulares,
Exs: súmula 643 do STF (mensalidade escolar):
O Ministério Público tem legitimidade para promover ação civil pública cujo fundamento
seja a ilegalidade de reajuste de mensalidades escolares.

Exs: integrantes do mesmo consórcio, pretensões de sindicatos, associações de classe.

2) direitos e interesses acidentalmente coletivos:


Há divisibilidade do objeto. Pode-se partilhar. Ex: anticoncepcional de farinha. Algumas
mulheres tem direito à indenização ( as que ficaram grávidas) e outras não.
Se fosse um litisconsórcio seria simples.

São chamados de acidentalmente porque os titulares podem ter as suas pretensões


cindidas. Barbosa Moreira chama de acidentalmente coletivos porque esses direitos são
individuais, o que significa dizer que cada pessoa pode interpor a sua própria ação.
Esse direito está homogeneizado na sociedade, de modo que se pode dizer que é um
interesse individual.
Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 9
Logo, são chamados de direitos individuais homogêneos. São tratados como coletivos
porque têm um grupo de titulares indeterminados.

Aula 02 18/02/2009

Por que o sistema fez a opção de dar tratamento coletivo a pretensões que, na realidade,
são individuais?
A doutrina aponta a existência de cinco fundamentos para explicar tal questão:
a) molecularização do conflito:
Kazuo Watanabe afirmou que deveríamos parar de pensar o processo de maneira
atomizada, ou seja, os processos devem ser tratados de maneira coletivizada. Ora, se se
tem mil ações sobre o mesmo tema, por que não manejar uma ação só para resolver o
problema das mil pessoas?

b) economia processual:
Não se está pensando aqui em custas processuais, mas em economia processual para o
Poder Judiciário. Assim, é melhor para a máquina administrativa julgar uma ação para se
resolver mil conflitos do que o inverso.

c) redução de custos processuais:


Aqui, pensa-se na pessoa dos autores. Ao invés de se ter mil custas, haverá custas de uma
só ação e não de mil.

d) evitar decisões contraditórias:


Apesar de o sistema prever a possibilidade de questões contraditórias, seria interessante que
não houvesse decisões contraditórias acerca do mesmo tema. Com isso, se evita a
chamada loteria judicial, onde há várias decisões acerca do mesmo tempo.

e) aumentar o acesso à justiça, principalmente para situações em que tutela individual for
antieconômica. Aqui, aplica-se o exemplo do leite, onde na caixa diz que há um litro mas,
na verdade, há 950ml. Não se compensa interpor uma ação individual por 50ml de leite,
mas uma coletiva defende o interesse de todos os consumidores.

Características das pretensões individuais homogêneas:


Nos direitos individuais homogêneos os sujeitos são indeterminados, em primeiro momento.
Mas, em segundo momento, esses sujeitos passam a ser determináveis. Passam a ser
determináveis no momento da execução da decisão.
Todos os sujeitos tem a pretensão derivada de evento de origem comum. Todos devem ter
vivido a mesma situação de fato para que possam ser enquadrados dentro dos direitos
individuais homogêneos.
Exs: Pílula do anticoncepcional Microvilar, onde um lote continha farinha. Em primeiro
momento, não se pode saber quem tomou o anticoncepcional. Mas, se a empresa for
condenado, na hora da execução aparecerão as vítimas e os sujeitos passam a ser
determinados. Há aqui um evento de origem comum, que é o fato de terem as mulheres
tomado as pílulas. Ressalte-se que nesse caso cada mulher poderia ter interposto uma ação
individualmente.
Expurgos inflacionários de caderneta de poupança: em primeiro momento, não se pode
dizer quem são os poupadores, mas caso os bancos sejam condenados, aparecerão os
poupadores. O evento comum ;e o fato de se ter dinheiro em poupança em determinado
mês e ano. Ressalte-se que cada um pode interpor a ação individualmente.
Casos de acidente aéreo: cada passageiro pode interpor a ação. O evento aqui é estarem
o passageiro no mesmo vôo que sofreu o acidente.

Observações finais:

Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 10


- Nelson Nery afirma que não se pode definir qual é o interesse metaindividual em abstrato,
vez que o mesmo fato pode dar ensejo a três ações coletivas, uma para os difusos, uma
para os coletivos e outra para os individuais.
Ex: dano ambiental. Empresa que polui determinado rio. Alem de poluir o meio-ambiente, os
pescadores ficaram sem pescar e quem bebeu a água teve infecção intestinal.
Cabe as seguintes ações: ACP movida pelo MP para tutelar o meio ambiente (direitos
difusos); ação para a associação dos pescadores para serem economicamente reparados
pelo fim da pesca em decorrência da poluição (direitos coletivos); ação movida pela
Defensoria Pública para indenizar todos os doentes que beberam a água contaminada e
que tiveram infecção intestinal (direitos individuais homogêneos).
Assim, o mesmo evento deu origem a três ações distintas.

- Não se pode negar a existência de zonas de penumbra entre os três direitos


metaindividuais, principalmente entre os coletivos e individuais homogêneos, a ponto de
alguns autores simplesmente negarem a existência dos direitos coletivos.
Na realidade prática, há certas situações em que não se pode distinguir se os interesses são
individuais homogêneos ou difusos.
Ex: súmula 643 do STF:
Súmula nº 643 
O ministério público tem legitimidade para promover ação civil pública cujo
fundamento seja a ilegalidade de reajuste de mensalidades escolares.

O Professor entende que se trata de direitos individuais homogêneos, porque se trata de


uma questão entre os alunos e as escolas particulares. Mas não se pode baixar a
mensalidade de um aluno e não dos demais. Ainda, cada aluno pode interpor uma ação
individual. Logo, não se pode afirmar que esse interesse é coletivo ou individual coletivo. É
justamente por isso que alguns autores não admitem a existência dos direitos coletivos.

- Dentro da idéia de controle judicial da representação adequada, tem-se dito que o MP


sempre tem legitimidade para a tutela dos direitos difusos, mas nem sempre para os demais
(finalidades institucionais).
Há autores inclusive que só admitem esse controle judicial para os interesses individuais
homogêneos.

COISA JULGADA NO PROCESSO COLETIVO


Regem o tema os seguintes dispositivos legais: arts. 103 e 104 do CDC; art. 16 da LACP; art.
18 da Lei de Ação Popular.
Essas regras da coisa julgada coletiva não se referem ao Mandado de Segurança Coletiva,
tendo em vista que tem regramento próprio e diferente na legislação.

Quadro da coisa julgada coletiva

Efeitos Erga omnes Ultra partes Sem coisa julgada


(toda a (só o grupo, material
Objetos universalidade) categoria)

Difusos Procedente ou Improcedência


improcedente faz por falta de
coisa julgada erga provas*
omnes
Nunca prejudica a
pretensão
individual. **

Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 11


Coletivos Procedente ou Improcedência
improcedente faz por falta de
coisa julgada ultra provas*
partes. A decisão
só vai atingir o Nunca prejudica a
grupo e a pretensão
categoria. individual. **

Ind. Homogêneos - somente na - Improcedente


procedência (a por qualquer
coisa julgada fundamento não
coletiva só faz coisa julgada.
beneficia) ***
Nunca prejudica a
pretensão
individual

* O sistema permite que outro legitimado entre com a ação no caso de improcedência por
falta de prova. A improcedência por qualquer fundamento faz coisa julgada, exceto por
falta de prova. Ex. ficou comprovado que o Prefeito não desviou as verbas, faz coisa
julgada. Se no ficou comprovado por falta de prova, não faz coisa julgada.

** A ação coletiva só atrapalha outra coletiva, nunca a individual, ainda que tenha sido
julgada improcedente a ação coletiva. A ação coletiva só impede o ajuizamento de outra
coletiva, NUNCA impede ação individual.

*** Se associação entrou com uma ação coletiva e perdeu, pode entrar com outra ação
coletiva. Por qualquer fundamento que prejudica, não faz coisa julgada,

Art. 103. Nas ações coletivas de que trata este código, a sentença fará coisa julgada:
I - erga omnes, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas,
hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação, com idêntico
fundamento valendo-se de nova prova, na hipótese do inciso I do parágrafo único do art.
81;
II - ultra partes, mas limitadamente ao grupo, categoria ou classe, salvo improcedência por
insuficiência de provas, nos termos do inciso anterior, quando se tratar da hipótese prevista
no inciso II do parágrafo único do art. 81;
III - erga omnes, apenas no caso de procedência do pedido, para beneficiar todas as
vítimas e seus sucessores, na hipótese do inciso III do parágrafo único do art. 81.
§ 1° Os efeitos da coisa julgada previstos nos incisos I e II não prejudicarão interesses e
direitos individuais dos integrantes da coletividade, do grupo, categoria ou classe.
§ 2° Na hipótese prevista no inciso III, em caso de improcedência do pedido, os interessados
que não tiverem intervindo no processo como litisconsortes poderão propor ação de
indenização a título individual.
§ 3° Os efeitos da coisa julgada de que cuida o art. 16, combinado com o art. 13 da Lei n°
7.347, de 24 de julho de 1985, não prejudicarão as ações de indenização por danos
pessoalmente sofridos, propostas individualmente ou na forma prevista neste código, mas,
se procedente o pedido, beneficiarão as vítimas e seus sucessores, que poderão proceder
à liquidação e à execução, nos termos dos arts. 96 a 99.
§ 4º Aplica-se o disposto no parágrafo anterior à sentença penal condenatória.
Art. 104. As ações coletivas, previstas nos incisos I e II e do parágrafo único do art. 81, não
induzem litispendência para as ações individuais, mas os efeitos da coisa julgada erga
omnes ou ultra partes a que aludem os incisos II e III do artigo anterior não beneficiarão os

Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 12


autores das ações individuais, se não for requerida sua suspensão no prazo de trinta dias, a
contar da ciência nos autos do ajuizamento da ação coletiva.

Quando se trabalha o tema coisa julgada no processo individual, Liebman afirmou que é
uma qualidade dos efeitos da sentença. Essa qualidade é justamente a imutabilidade.
Liebman afirmou que a sentença tem efeitos e, depois que o juiz profere a sentença, não
cabendo mais recursos, esses efeitos passam a ter uma qualidade que antes não tinham, ou
seja, passam a ser imutáveis.
No processo individual, se estuda a coisa julgada analisando os seus limites, no caso os
limites subjetivos (art. 472 do CPC) e objetivos (art. 468 do CPC).
Pelos limites subjetivos, a coisa julgada só se refere às partes, não podendo atingir terceiros,
já que na fizeram parte do contraditório. Já os limites objetivos dizem que a coisa julgada se
dá nos limites em que decidida a lide. A coisa julgada só abrange o pedido e a causa de
pedir que constam na parte dispositiva da sentença.
No processo individual, a coisa julgada é pro et contra. Significa que a coisa julgada existe
tanto quando se ganha quando se perde a ação.
Não se pode aplicar a coisa julgada do CPC no processo coletivo, justamente porque
atinge muitas pessoas que não foram parte no processo. Ora, a idéia de processo coletivo
é justamente o fato de que a decisão possa atingir um número grande de pessoas.

Assim, a seguir passa-se a explanação da coisa julgada no processo coletivo:

Pelo regime secundum eventum legis, uma ação julgada procedente ou improcedente nos
interesses difusos, a coisa julgada é erga omnes.
Para que a coletividade não seja prejudica, quando a improcedência for por falta de
provas, não haverá sa julgada. Ora, se não faz coisa julgada, pode-se interpor outra ação
coletiva.
À coisa julgada que ocorre por improcedência por falta de provas dá-se o nome de coisa
julgada secundum eventum probationis. Significa que a coisa julgada depende do
resultado da prova.

Nos interesses coletivos, quando se tiver uma sentença de procedência ou improcedência,


o regime da coisa julgada não mais será erga omnes, mas sim ultra partes. A diferença
consiste no fato de que na coisa julgada ultra partes, os efeitos alcançam apenas os
membros do grupo ou da categoria. Ora, se se manda despoluir um rio, o interesse diz
respeito a todos, mas se se manda colocar capacete em todos os metalúrgicos, a esse
grupo apenas interessará a decisão.
Nesse caso, a improcedência da ação por falta de provas gera a coisa julgada secundum
eventum probationis, ou seja, não haverá coisa julgada, justamente para proteger a
coletividade. Logo, pode ser reproposta a ação. Mas se improcedência se deu por outro
fundamento, não mais poderá ser interposta outra ação coletiva.

Nos interesses e direitos individuais homogêneos, seja na procedência ou na improcedência


da ação, o efeito será erga omnes. O sistema aqui, no entanto, não prevê coisa julgada
secundum eventum probationis. Significa que qualquer fundamento de improcedência
impede a repropositura da ação. As ações individuais podem ser interpostas, mas a ação
coletiva não mais.

Notas explicativas acerca da coisa julgada no processo coletivo:


a) a coisa julgada coletiva, em qualquer interesse metaindividual nunca prejudicará as
pretensões individuais, só beneficiará.
Arts, 103, §§ 1.º, 2.º e 3.º do CDC.
§ 1° Os efeitos da coisa julgada previstos nos incisos I e II não prejudicarão interesses e
direitos individuais dos integrantes da coletividade, do grupo, categoria ou classe.
Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 13
§ 2° Na hipótese prevista no inciso III, em caso de improcedência do pedido, os interessados
que não tiverem intervindo no processo como litisconsortes poderão propor ação de
indenização a título individual.
§ 3° Os efeitos da coisa julgada de que cuida o art. 16, combinado com o art. 13 da Lei n°
7.347, de 24 de julho de 1985, não prejudicarão as ações de indenização por danos
pessoalmente sofridos, propostas individualmente ou na forma prevista neste código, mas,
se procedente o pedido, beneficiarão as vítimas e seus sucessores, que poderão proceder
à liquidação e à execução, nos termos dos arts. 96 a 99.

Assim, no sistema coletivo a coisa julgada não é pro et contra. Logo, a coisa julgada só se
aplicará quando beneficiar. O regime aqui é da coisa julgada in utillibus.

Essa regra possui uma exceção:


Trata-se de uma hipótese em que a coisa julgada coletiva poderá prejudicar o indivíduo. É
a hipótese do art. 94 do CDC:
Art. 94. Proposta a ação, será publicado edital no órgão oficial, a fim de que os interessados
possam intervir no processo como litisconsortes, sem prejuízo de ampla divulgação pelos
meios de comunicação social por parte dos órgãos de defesa do consumidor.

Ora, se o interessa como litisconsorte, a coisa julgada será pro et contra. Assim, melhor que
não haja essa assistência litisconsorcial, pois se houver e em caso de sucumbência, não
poderá mais interpor a ação individual.
A regra do artigo 94 só se aplica aos interesses individuais homogêneos e coletivos. É a
posição de Hugo Nigro Mazzili. Logo, não se pode utilizar essa regra aos interesses difusos.

b) entretanto, caso o indivíduo já tenha ajuizado a ação individual, para se beneficiar da


coletiva proposta (in utillibus), deverá requerer, nos termos do art. 104 do CDC, a suspensão
da ação individual nos trinta dias que se seguirem à comunicação pelo réu da existência
da ação coletiva de mesmo objeto. Caso não haja requerimento da suspensão, a
sentença coletiva não valerá para o autor da ação individual.

Art. 104. As ações coletivas, previstas nos incisos I e II e do parágrafo único do art. 81, não
induzem litispendência para as ações individuais, mas os efeitos da coisa julgada erga
omnes ou ultra partes a que aludem os incisos II e III do artigo anterior não beneficiarão os
autores das ações individuais, se não for requerida sua suspensão no prazo de trinta dias, a
contar da ciência nos autos do ajuizamento da ação coletiva.

Se o réu não informar que existe ação coletiva? Nesse caso, o autor da ação que não foi
suspensa pode se valer da ação coletiva, ainda que improcedente a ação individual.

c) suspensa a ação individual, na hipótese do item anterior, podem ocorrer duas situações:
- improcedente a ação coletiva, prossegue a ação individual, que tem seu curso retomado.
- procedente a ação coletiva, converte-se a ação individual, de ofício ou a requerimento,
em liquidação/execução de sentença.

d) se a individual já foi julgada improcedente de modo definitivo, e só depois foi ajuizada a


ação coletiva, oportunamente acolhida, o indivíduo pode se beneficiar?
Há duas posições na doutrina:
- Hugo Nigro Mazzili entende que é possível a parte se beneficiar. Afirma que não se pode
ser prejudicado sem que se tivesse tido a oportunidade de suspender a ação. Ora, como
poderia ter se pedido a suspensão da ação individual se, à época, não havia a ação
coletiva?

- Ada Grinover entende que não pode a parte se beneficiar. Isso porque na ação coletiva
a questão é analisada genericamente, o que não ocorre na individual. Logo, afirma que a
Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 14
coisa julgada individual sempre prevalece sobre a coletiva. Isso porque o caso foi analisado
à luz do problema concreto daquela parte específica.

e) nos casos de coisa julgada secundum eventum probationis (difusos e coletivos), a


repropositura da ação coletiva, inclusive pelo próprio autor da ação primitiva, fica
condicionada à indicação preliminar da nova prova na petição inicial da nova ação.
Se não for indicada a nova prova na repropositura, o juiz deve indeferir a petição inicial.

f) não há coisa julgada secundum eventum probationis nos interesses individuais


homogêneos.
Isso foi uma opção legislativa. Nesse caso, só resta a via individual.

g) diferença entre coisa julgada secundum eventum litis e secundum eventum probationis:
há autores que tratam ambas como sinônimas. Mas para o Professor são totalmente
diferentes.
A coisa julgada secundum eventum litis tem relação com os efeitos da coisa julgada. Se o
evento da lide for interesses difusos, a coisa julgada será erga omnes, se for coletiva, será
ultra partes e direitos individuais homogêneos erga omnes. É a coisa julgada que se verifica
de acordo com o objeto do processo.
Já a coisa julgada secundum eventum probationis não haverá coisa julgada quando não
houver provas.

h) possibilidade de transporte in utillibus da sentença penal condenatória (art. 103, § 4.º do


CDC).
§ 4º Aplica-se o disposto no parágrafo anterior à sentença penal condenatória.

Há determinadas condutas, principalmente em matéria ambiental, que é considerada


crime. Assim, se eventualmente ocorrer de uma empresa ser condenada por crime
ambiental, por exemplo, nada impede que as vítimas façam a liquidação da pretensão
individual no cível.
Deve-se tomar a cautela que o transporte só pode ser feito contra o réu da ação penal.
Assim, se a pessoa jurídica é quem foi condena, apenas ela poderá ser executada.

RELAÇÃO ENTRE DEMANDAS:

Coletiva x Individual:
Ao se relacionem, dois processos diferentes podem ter identidade total ou parcial dos
elementos da ação (partes, pedido e causa de pedir).
Se houver, no processo individual, identidade total dos elementos, há a ocorrência da coisa
julgada e da litispendência (art. 301, §§ 1.º, 2.º e 3.º).
No processo individual, caso haja ou litispendência ou coisa julgada, deve-se extinguir o
processo sem julgamento de mérito.
Mas, se houver uma ação coletiva e uma ação individual, pode haver identidade total dos
elementos da ação? Não. Isso porque as partes não podem ser as mesmas; ainda, não
pode haver identidade quanto ao pedido. O artigo 95 do CDC trata do tema. Ora, na
ação coletiva o pedido não pode ser individualizado, é genérico.
Art. 95. Em caso de procedência do pedido, a condenação será genérica, fixando a
responsabilidade do réu pelos danos causados.

Assim, nunca haverá coisa julgada e litispendência entre uma ação coletiva e uma
individual porque impossível a identidade de partes ou de pedido.
O artigo 104 do CDC é claro quando afirma que não pode haver litispendência.

Mas e identidade parcial dos elementos de uma ação coletiva e de uma individual, pode
haver? É plenamente possível a identidade pela causa de pedir.
Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 15
Se fosse no processo individual, poderia haver conexão ou continência.
Para que duas ações sejam conexas, devem se idênticos o pedido ou a causa de pedir. Já
a continência ocorre quando há identidade de partes, causa de pedir e quando o pedido
de uma, por ser mais amplo, abrange o da outra.
Pelo art. 105 do CPC, sendo possível, deverão ser reunidas as ações, de ofício ou a
requerimento.

No processo coletivo, se idêntica a causa de pedir, pode haver identidade parcial. Ex: ACP
por conta da pílula com farinha e na outra uma ação individual com o mesmo pedido. As
duas ações discutem o consumo da pílula de farinha. Logo, só é possível haver a conexão e
não a continência. Esta não h;a porque diferentes as partes e os pedidos; em uma o pedido
é genérico, na outra específico.
Qual o efeito da conexão na rela,cão de uma demanda coletiva e uma individual? É
justamente a possibilidade de suspensão do processo individual a requerimento da parte.
Art. 104 do CDC. Essa faculdade, por óbvio, é do autor da ação individual, logo não pode o
juiz suspender o processo de ofício.
No Projeto da LACP será criado a obrigatoriedade da suspensão da ação individual.

Coletiva x Coletiva:
Haverá relação independentemente da espécie de ação coletiva. Podem ser duas ações
populares, duas ACP, um MS coletivo e uma ACP etc.
Pode haver identidade total de ações coletivas? Sim! Essa questão muito ocorreu na
privatização do BANESPA, onde houve 25 acões populares.
Pode haver duas ACP, uma ajuizada pelo MP de SP e outra pelo MP de MG.
O efeito para o processo não é a extinção de um dos processos. No caso de identidade
total de elementos de duas ações coletivas, há duas posições:
- a primeira, minoritária, defendida por Antônio Gidi, defende que havendo identidade total
entre duas ações coletivas, o caso será de extinção das ações coletivas repetidas,
possibilitando ao autor das extintas, ingressar como assistente litisconsorcial na ação que
sobejar.
- a segunda corrente (Ada Grinover) entende que não haverá extinção das ações
repetidas, mas sim reunião das ações para julgamento conjunto, isso se for possível.
Argumenta que pode ocorrer que as ações extintas podem ser melhor elaboradas do que
a que sobrou. Logo, pode haver uma maior tutela dos direitos coletivo.
Às vezes, não é possível a unificação dos processos para julgamento conjunto. Isso porque
os processos podem estar em fases distintas. Ex: processo em primeira instância e outro no
Tribunal. Nesses casos, Ada Grinover afirma que se não for possível a reunião dos processos
porque um deles já está em fase distinta, é recomendável que haja suspensão das ações
coletivas prematuras para aguardar o julgamento da ação em estágio mais avançado.
Essa suspensão se dá por prejudicialidade.

Identidade parcial dos elementos entre duas ações coletivas, é possível? Sim!
Aqui, a solução é igual ao do processo individual. Se se tiver identidade parcial, a solução é
a reunião dos processos para julgamento conjunto, se possível.
Ex: rio que foi poluído por empresa. Pode haver três ações. Uma para tutelar os interesses
difusos, coletivos e individuais homogêneos. Apesar das partes e do pedido serem
diferentes, a causa de pedir será igual. Nesse caso, devem ser os processos reunidos para
julgamento conjunto. Mas se tiverem os processos em fase distintas, deverá haver a
suspensão de uma das ações coletivas.

Critério para reunião das ações coletivas relacionadas:


Há três regras, as quais estão previstas nos artigos 106, 219 do CPC e 2.º, parágrafo único da
LACP, que é igual ao art. 5.º da LAP.
Art. 106. Correndo em separado ações conexas perante juízes que têm a mesma
competência territorial, considera-se prevento aquele que despachou em primeiro lugar.
Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 16
Art. 219. A citação válida torna prevento o juízo, induz litispendência e faz litigiosa a coisa;
e, ainda quando ordenada por juiz incompetente, constitui em mora o devedor e
interrompe a prescrição. (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1973)

Pelo art. 106, há a regra do despacho positivo, ou seja, o juiz que proferiu o primeiro
despacho.
Já o art. 219 diz que prevento é o juízo em que primeiro houve a citação válida.
Já no artigo 2.º da LAC há a previsão de que o juiz prevento é aquele em que primeira foi
interposta a ação.

Dessas três regras, deve-se utilizar a regra do microsistema, ou seja, a norma específica que
trata dos processos coletivos. Logo, prevento será o juiz em que a primeira demanda sobre
o tema foi proposta.

Art. 2º As ações previstas nesta Lei serão propostas no foro do local onde ocorrer o dano,
cujo juízo terácompetência funcional para processar e julgar a causa.
Parágrafo único. A propositura da ação preveniráa jurisdição do juízo para todas as ações
posteriormente intentadas que possuam a mesma causa de pedir ou o mesmo objeto.

COMPETÊNCIA

Essa matéria não se aplica ao MS Coletivo e ao MI Coletivo.


Para se estudar competência, deve-se fazer a divisão da competência em quatro critérios:
a) critério funcional hierárquico:
É o critério que define as hipóteses de foro por prerrogativa de função.
b) critério material:
Impropriamente, é chamado de critério do assunto. Deve-se verificar se o processo é da JE,
JT, JF, ou Justiça Estadual.
c) critério valorativo:
É o critério do valor da causa.
d) critério territorial:
É o critério que define onde deve ser interposta a ação.

Os dois primeiros critérios de competência (funcional e material), foram estabelecidos para


proteger o interesse público. Exatamente por isso esses critérios foram chamados de
competência absoluta, com regência pelo artigo 113 do CPC. Quer dizer que quando esses
dois critérios forem violados, a decisão é nula.
Quando se tratar de critério valorativo ou territorial, regra geral, o interesse protegido é o
particular. Por isso, seguem o regime da competência relativa, com regência pelos artigos
112 e 114 do CPC.

- critério funcional:
à exceção do MS Coletivo e do MI coletivo, nunca haverá ação coletiva nos Tribunais,
independentemente de quem for a autoridade ré. Assim, não há foro por prerrogativa de
função nas ações coletivas.
Mesmo para aqueles que admitem ação de improbidade administrativa contra agentes
políticos, essa ação será processada sempre em primeiro grau. Houve uma tentativa de se
criar foro privilegiado na improbidade administrativa igual a do crime. Essa tentativa se deu
por meio da Lei 10.628/02, que alterou o art. 84 do CPP. O objetivo era fazer que o foro
crime valesse para a ação de improbidade. Ocorre que o STF, na ADIN 2.797, declarou
inconstitucional esse dispositivo. O argumento foi o de que as regras de foro por
prerrogativa de função estão previstas nas Constituições Estaduais ou na CF. Logo, Lei
infraconstitucional não poderia criar regra que só caberia à Constituição.

Aula 03 19/02/2009
Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 17
critério material:

É o critério do assunto.
Competência da JE:
Art. 121. Lei complementar disporá sobre a organização e competência dos tribunais, dos
juízes de direito e das juntas eleitorais.

Essa Lei Complementar não existe, então é usado o CE, que foi recepcionado como Lei
Complementar. À JE cabe julgar dois tipos de causa de pedir: sufrágio e questões político-
partidárias.
Se a ação coletiva tiver como causa de pedir ou o sufrágio ou questões político-partidárias,
a competência será da JE. Assim, não se pode afastar o cabimento da ação coletiva da
JE. Mas até hoje não se encontrou ações coletivas movidas na JE. Em tese, a questão do
fundo partidário poderia ser discutida, em caso de desvio do dinheiro do fundo partidário.

O segundo órgão especial, depois da JE, é a Justiça do Trabalho, cuja competência está
prevista no art. 114 da CF. A JT pode julgar as causas cuja causa de pedir seja relação de
trabalho. A exceção é o caso dos servidores públicos estatutários.
Na Justiça do Trabalho pode haver ações coletivas. A maior prova disso são os casos
relacionados ao meio ambiente de trabalho.
Vide súmula 736 do STF:
Súmula nº 736 - Compete à Justiça do Trabalho julgar as ações que tenham como causa de
pedir o descumprimento de normas trabalhistas relativas à segurança, higiene e saúde dos
trabalhadores – proteção do meio ambiente do trbalho.

Se não for competência da JE, da JT, poderá ser da JF. Em regra, a competência da JF será
definida pela parte. É o que reza o art. 109, I da CF:
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:

I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem


interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de
falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do
Trabalho;

O principal critério para se definir a competência da Justiça Federal é a parte, e só


secundariamente, a causa de pedir. Quer-se dizer que pouco importa para definição da
competência da justiça federal a natureza do bem a ser protegido, que pode ser da União
(art. 20 da CF; art. 225, p. 4) mas sim, o efetivo interesse do órgão federal em participar do
feito, assim não interessa para o processo se o bem público discutido é ou não da União.
Por exemplo, se o IBAMA afirma que não houve repercussão para o bem público como um
todo e que o dano foi apenas local, a competência será da Justiça Estadual. Mas se disser
que tem interesse na causa, a competência será da Justiça Federal. Intervindo no processo
que corre na Justiça Estadual um ente federal o juiz o encaminhará a JF para definição
sobre a existência do interesse do órgão. Caso entenda inexistente, devolve a ação
coletiva à justiça estadual.

Vide súmula 150 do STJ:


Súmula: 150 - Compete à justiça federal decidir sobre a existência de interesse jurídico que
justifique a presença, no processo, da união, suas autarquias ou empresas publicas.

De acordo com a súmula 42 do STJ, causas que envolvam Sociedade de Economia Mista
são da competência da Justiça Estadual. É o caso da Petrobrás e do BB.

Já a competência da Justiça Estadual é residual.


Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 18
critério valorativo:

É o critério onde o valor da causa estabelece a competência. Em âmbito nacional, esse


critério é inútil para se definir competência.
O inciso I do § 1.º do art. 3.º da Lei 10.259/01, afirma que não cabe ação coletiva nos
juizados federais. Esse artigo nem precisa existir, porque as ações coletivas não são causas
de menor complexidade e ainda, existe vedação expressa nos art. 3, I da Lei N. 10.559/2001
e Tb no art. 2, §1, I, da Lei N. 12.153/2009.

critério territorial:

É o critério que define o local em que será ajuizada e julgada a ação. Há várias posições
doutrinárias acerca do tema.
 A doutrina majoritária (Ada Pelegrine) é que interpreta o art. 2.º da LACP com o art.
93 do CDC. Essa interpretação diz que para qualquer interesse metaindividual, a
regra de regência é o art. 93 do CDC: se o dano real ou suposto for local a ação será
ajuizada na comarca ou subseção que abranger o local do dano. Se o dano for
regional a ação será ajuizada na Capital do Estado. Se o dano for nacional a ação
será ajuizada no DF ou na Capital de qualquer dos Estados atingidos.

Obs.: A súmula 183 do STJ foi cancelada, em função de precedente do STF. Na


verdade sempre vai haver justiça federal competente mesmo que não haja justiça
federal no local do dano.

A legislação dá a entender que só existe ação coletiva reparativa do dano. Assim, se o


dano for local a ação será movida no local do dano ou onde ele ocorrerá. Isso porque
pode haver uma ação coletiva que vise tão-somente uma tutela preventiva.

Art. 93 do CDC. Ressalvada a competência da Justiça Federal, é competente para a causa


a justiça local: De acordo com Ada essa regra foi feita para proteger o interesse público,
por isso regra de competência territorial absoluta ou territorial funcional.
I - no foro do lugar onde ocorreu ou deva ocorrer o dano, quando de âmbito local;
II - no foro da Capital do Estado ou no do Distrito Federal, para os danos de âmbito nacional
ou regional, aplicando-se as regras do Código de Processo Civil aos casos de competência
concorrente.

Art. 2º As ações previstas nesta Lei serão propostas no foro do local onde ocorrer o dano,
cujo juízo terá competência funcional para processar e julgar a causa.
Parágrafo único. A propositura da ação prevenirá a jurisdição do juízo para todas as ações
posteriormente intentadas que possuam a mesma causa de pedir ou o mesmo objeto.
Se o dano for regional, o sistema estabelece que a competência é da capital de um dos
Estados atingidos.

Mas em que consiste um dano regional?


A jurisprudência, assim como a Lei, não enfrentam esse problema, ou seja, não há
definição do que seja um dano regional. Doutrinariamente, Ada Grinover propõe a seguinte
solução: dano regional é só aquele que atinge mais de três Comarcas ou Subseções
Judiciárias. Mas se o dano atingir apenas três Comarcas, a competência será dada por
prevenção, já que é regulada pelo local do dano e com este se deu nas três Comarcas
haverá a fixação da competência por prevenção.

Se o dano for nacional, a regra é que a ação poderá ser ajuizada na capital de um
dos Estados da Federação atingidos ou no DF (STJ que deu a interpretação quanto ao DF).
Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 19
Aqui, se enfrenta o mesmo problema do dano regional, ou seja, em que consiste o dano
nacional? Assim, não há critério legal ou jurisprudencial do que seja dano nacional.
Ada Grinover sugere o mesmo critério do dano regional, ou seja, mais de três Estados
o dano é nacional.
Exatamente por conta disso a doutrina tem proposto que a definição da natureza do dano
se dê casuisticamente, a fim de não ser fixada a competência de um juízo que fica muito
distante do local dos fatos(capital do Estado e DF). Para tanto, tem-se preferido definir a
competência por prevenção, ainda que várias regiões sejam atingidas pelo dano.

OBS: diante da falta de critério seguro para definir a extensão do dano, tem-se dito e
julgado que a competência se definirá à luz da narrativa do autor, ainda que
posteriormente reste comprovado que o dano não tem a extensão narrada.

OBS: de acordo com doutrina e jurisprudência pacíficas, apesar do art. 93 do CDC e 2.º da
LACP serem regras de natureza territorial, a competência será absoluta e não relativa. Isso
significa que seguem as regras da competência absoluta.
Notas sobre o Art. 16 da LACP e 2.º-A e parágrafo único da Lei 9.494/97:
Art. 16. A sentença civil fará coisa julgada "erga omnes", nos limites da competência
territorial do órgão prolator, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência
de provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação com idêntico
fundamento, valendo-se de nova prova.

O que o legislador quis fazer foi acabar com o processo coletivo. Isso porque a coisa
julgada nos interesses difusos e individuais homogêneos é erga omnes e nos coletivos é ultra
partes. Mas geralmente quem é réu no processo coletivo é o Estado e legislou em causa
própria afirmando que a competência não é erg omnes, porque faz coisa julgada apenas
nos limites da competência territorial do órgão prolator. Assim, para cada Comarca teria
que haver uma ação distinta.
É uniforme na doutrina o entendimento de que o art. 16 da LACP é inconstitucional e
inócuo. Inconstitucional porque ofende a razoabilidade e a lógica do sistema. É inócuo
porque não houve alteração do art. 103 do CDC.
Art. 103. Nas ações coletivas de que trata este código, a sentença fará coisa julgada:
I - erga omnes, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas,
hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação, com idêntico
fundamento valendo-se de nova prova, na hipótese do inciso I do parágrafo único do art.
81;
II - ultra partes, mas limitadamente ao grupo, categoria ou classe, salvo improcedência por
insuficiência de provas, nos termos do inciso anterior, quando se tratar da hipótese prevista
no inciso II do parágrafo único do art. 81;
III - erga omnes, apenas no caso de procedência do pedido, para beneficiar todas as
vítimas e seus sucessores, na hipótese do inciso III do parágrafo único do art. 81.

Já a jurisprudência mais antiga do STJ (RESP 665.947, 624.996), entendia válida a regra do
art. 16 da LACP. Todavia, mais recentemente a terceira Turma do STJ entendeu inócuo esse
dispositivo (RESP 411.529/SP, Rel Fátima Nancy Andrghi, de junho de 2008).

Nelson Nery afirmou o seguinte: se se adotar o entendimento do art. 16 da LACP, é o


mesmo que se separar em Fortaleza e o casamento continuar válido em Caucaia.

Art. 2º-A. A sentença civil prolatada em ação de caráter coletivo proposta por entidade
associativa, na defesa dos interesses e direitos dos seus associados, abrangerá apenas os
substituídos que tenham, na data da propositura da ação, domicílio no âmbito da
competência territorial do órgão prolator.
Parágrafo único. Nas ações coletivas propostas contra a União, os Estados, o Distrito
Federal, os Municípios e suas autarquias e fundações, a petição inicial deverá
Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 20
obrigatoriamente estar instruída com a ata da assembléia da entidade associativa que a
autorizou, acompanhada da relação nominal dos seus associados e indicação dos
respectivos endereços.

Esse artigo 2.º-A foi criado apenas para as ações de associações contra o Poder Público e
exclusivamente para os interesses individuais homogêneos. A finalidade foi que não
funcionassem ações coletivas movidas por associações contra o Poder Público. Assim, pelas
mesmas razoes expendidas quando da explanação do art. 16 da LACP esse dispositivo vem
sendo considerado inconstitucional e inócuo.
O STJ tem julgado recente (RESP 805.277/RS) no sentido de realmente ser desnecessário a
obediência ao art. 2.-A da Lei 9.494/97.

9. LIQUIDAÇAO E EXECUÇÃO DA SENTENÇA COLETIVA

Execução da sentença dos interesses difusos e coletivos ou direitos naturalmente


coletivos:

Existem aqui dois tipos distintos de execução:


a) liquidação e execução da pretensão coletiva:
Tem previsão no art. 15 da Lei de Ação Civil Pública, onde são legitimados para propor a
execução o autor, qualquer outro legitimado ou o MP. Aqui vigora o princípio da
indisponibilidade da execução da ação coletiva.
Art. 15. Decorridos 60 (sessenta) dias do trânsito em julgado da sentença condenatória,
sem que a associação autora lhe promova a execução, deverá fazê-lo o Ministério Público,
facultada igual iniciativa aos demais legitimados.

Essa execução tramitará perante o juízo da condenação. Art. 475-P do CPC.


O dinheiro na execução dos interesses difusos e coletivos, se a cão coletiva for para tutela
do patrimônio público a destinação do dinheiro vai para o próprio ente público lesado(art.
14 da LACP) Se, entretanto, não for ofensa ao patrimônio público a irá para o Fundo de
Reparação de Bens Lesados, cuja previsão consta do art. 13 da LACP.

Art. 13. Havendo condenação em dinheiro, a indenização pelo dano causado reverterá a
um fundo gerido por um Conselho Federal ou por Conselhos Estaduais de que participarão
necessariamente o Ministério Público e Representantes da Comunidade, sendo seus
recursos destinados à reconstituição dos bens lesados.

A Lei 9.008/95 regulamenta esse fundo de reparação, o qual é gerido pela


sociedade. O dinheiro é usado pelo fundo com a finalidade de reparar o bem público,
fazer campanhas educativas etc. Na verdade não se trata de um único fundo, um para as
ações que correm perante a justiça federal e as ações estaduais também tem os seus.
Cada um desses fundos é dividido em subfundos, conforme o tipo do processo. Esse fundo é
gerido por uma comunidade, por um Conselho, composto por membros do MP e da
sociedade civil. O dinheiro do fundo além de utilizado para reparação dos bens lesados
também é utilizado para campanhas educativas.
Na prática, esse fundo não funciona, por que cada vez que o dinheiro cai na conta
ele vira dinheiro público e para utilizá-lo deve existir lei. Pela nova LACP, o juiz é quem
decidirá o que se fazer com o dinheiro da condenação.

b) execução da pretensão individual:


Arts. 103, § 3.º e 104 do CDC:
§ 3° Os efeitos da coisa julgada de que cuida o art. 16, combinado com o art. 13 da Lei n°
7.347, de 24 de julho de 1985, não prejudicarão as ações de indenização por danos
Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 21
pessoalmente sofridos, propostas individualmente ou na forma prevista neste código, mas,
se procedente o pedido, beneficiarão as vítimas e seus sucessores, que poderão proceder
à liquidação e à execução, nos termos dos arts. 96 a 99.
Art. 104. As ações coletivas, previstas nos incisos I e II e do parágrafo único do art. 81, não
induzem litispendência para as ações individuais, mas os efeitos da coisa julgada erga
omnes ou ultra partes a que aludem os incisos II e III do artigo anterior não beneficiarão os
autores das ações individuais, se não for requerida sua suspensão no prazo de trinta dias, a
contar da ciência nos autos do ajuizamento da ação coletiva.

Trata-se aqui do transporte in utillibus.


Os legitimados aqui são as vítimas ou os seus sucessores.
No que concerne à competência, tem-se duas opções: o juízo da condenação (art. 98, §
2.º, I do CDC) ou no domicílio do lesado (101, I do CDC).
§ 2° É competente para a execução o juízo:
II - da ação condenatória, quando coletiva a execução.
Art. 101. Na ação de responsabilidade civil do fornecedor de produtos e serviços, sem
prejuízo do disposto nos Capítulos I e II deste título, serão observadas as seguintes normas:
I - a ação pode ser proposta no domicílio do autor;

O destinatário da condenação não é o Fundo, mas as vítimas ou os seus sucessores. Mas


nos interesses difusos ou coletivos, não há a individualização dos indivíduos, sendo uma
sentença genérica. O destinatário do dinheiro, portanto, só consegue fazer a execução
mediante um prévio procedimento de liquidação de sentença.
A liquidação de sentença nos processos coletivos não é regida pelo CPC (Arts 475-A e
seguintes). No CPC, quer-se provar apenas o quantum. Já nos casos dos processos
coletivos, não se quer saber apenas o quantum, mas deve-se provar o nexo de causalidade
praticada pelo condenado e o dano que foi sofrido pela vítima do evento.
Cândido Dinamarco chama essa liquidação de imprópria. O Professor pensa que não é
caso de liquidação, mas sim de habilitação.

Execução dos interesses individuais homogêneos:


Diversamente da execução dos difusos e coletivos, haverá três formas de se fazer a
execução:
- execução da pretensão individual:
Tem previsão legal no art. 97 do CDC:
Art. 97. A liquidação e a execução de sentença poderão ser promovidas pela vítima e seus
sucessores, assim como pelos legitimados de que trata o art. 82.

Esse caso é exatamente igual à execução dos interesses difusos e coletivos.


A legitimidade é das vítimas ou dos sucessores; o juízo competente é o da condenação ou
do domicílio do lesado. O dinheiro vai para a vítima ou para os sucessores; deve ser feita a
liquidação imprópria.

- execução da pretensão individual coletiva:


É praticamente impossível de acontecer, mas há previsão legal no art. 98 do CDC:
Art. 98. A execução poderá ser coletiva, sendo promovida pelos legitimados de que trata o
art. 82, abrangendo as vítimas cujas indenizações já tiveram sido fixadas em sentença de
liquidação, sem prejuízo do ajuizamento de outras execuções. (Redação dada pela Lei nº
9.008, de 21.3.1995)
§ 1° A execução coletiva far-se-á com base em certidão das sentenças de liquidação, da
qual deverá constar a ocorrência ou não do trânsito em julgado.
§ 2° É competente para a execução o juízo:
I - da liquidação da sentença ou da ação condenatória, no caso de execução individual;
II - da ação condenatória, quando coletiva a execução.

Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 22


Os legitimados são os do art. 82 do CDC ou do art. 5.º da LACP:
Art. 82. Para os fins do art. 81, parágrafo único, são legitimados concorrentemente:
(Redação dada pela Lei nº 9.008, de 21.3.1995)
I - o Ministério Público,
II - a União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal;
III - as entidades e órgãos da Administração Pública, direta ou indireta, ainda que sem
personalidade jurídica, especificamente destinados à defesa dos interesses e direitos
protegidos por este código;
IV - as associações legalmente constituídas há pelo menos um ano e que incluam entre seus
fins institucionais a defesa dos interesses e direitos protegidos por este código, dispensada a
autorização assemblear.

Art. 5º Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar:


I - o Ministério Público;
II - a Defensoria Pública;
III - a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios;
IV - a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista;
V - a associação que, concomitantemente:
a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil;
b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao meio ambiente, ao
consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência ou ao patrimônio artístico, estético,
histórico, turístico e paisagístico.

A competência será a do juízo da condenação (art. 98, § 2.º, II do CDC).

O dinheiro, caso haja condenação para tanto, irá para as vítimas ou seus sucessores.

Na verdade a execução da pretensão individual coletiva é um caso de representação


processual.

- execução da pretensão coletiva residual (fluid recovery):


A previsão é a do art. 100 do CDC:
Art. 100. Decorrido o prazo de um ano sem habilitação de interessados em número
compatível com a gravidade do dano, poderão os legitimados do art. 82 promover a
liquidação e execução da indenização devida.
Parágrafo único. O produto da indenização devida reverterá para o fundo criado pela Lei
n.° 7.347, de 24 de julho de 1985.

Os legitimados são os do art. 82 do CDC e art 5.º da LACP.


A competência será a do juízo da condenação (art. 98, § 2.º, II do CDC).
O destinatário do dinheiro é o Fundo de Reparação de Bens Lesados.
A liquidação só pode ocorrer com mais de um ano depois do transito em julgado e não
haja vítimas habilitadas de modo suficiente.

OBS: como se faz a estimativa do valor do dano? há dois critérios em que se deve nortear o
juiz:
a) gravidade do dano;
b) número de vítimas habilitadas/indenizadas.

OBS: não há solução jurídica para a hipótese de as vítimas se habilitarem após a execução
residual. Não há jurisprudência e a doutrina aponta o problema, mas não traz a solução.

Concurso de Preferências no Âmbito da Execução Coletiva:


Art. 99, caput:

Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 23


Art. 99. Em caso de concurso de créditos decorrentes de condenação prevista na Lei n.°
7.347, de 24 de julho de 1985 e de indenizações pelos prejuízos individuais resultantes do
mesmo evento danoso, estas terão preferência no pagamento.

Quem recebe primeiro são as vítimas do evento danoso.

Deve-se atentar para o compasso de espera do processo executivo coletivo, previsto no


parágrafo único do art. 99:
Parágrafo único. Para efeito do disposto neste artigo, a destinação da importância
recolhida ao fundo criado pela Lei n°7.347 de 24 de julho de 1985, ficará sustada enquanto
pendentes de decisão de segundo grau as ações de indenização pelos danos individuais,
salvo na hipótese de o patrimônio do devedor ser manifestamente suficiente para
responder pela integralidade das dívidas.

Prescrição da execução individual e coletiva:


A súmula 150 do STF explica essa questão:
Súmula 150
Prescreve a execução no mesmo prazo de prescrição da ação.

O prazo é contado a partir do transito em julgado da ação.


A Ação Popular, de acordo com o art. 21 da LAP, prescreve em cinco anos. Assim, a
execução deverá ser feita em cinco anos a partir do trânsito em julgado.
Mas há duas exceções: há dois tipos de danos que são imprescritíveis. É o caso do dano ao
patrimônio público (art. 37, § 5.º da CF) e do dano ambiental (posição jurisprudencial).

AÇÃO CIVIL PÚBLICA

1. INTRODUÇÃO:
Origem da nomenclatura:
O termo ACP veio da famosa e previamente existente Ação Penal Pública. Isso porque a
finalidade era ter uma ação em que o MP poderia ajuizar no juízo cível. Quando surgiu a
ACP, apenas o MP era legitimado para interpô-la.

Conceito:
Há duas posições na doutrina acerca desse conceito:
a) conceito ampliativo:
Trata-se de qualquer ação não penal movida pelo MP ou equiparado. Nesse conceito
entrariam a ação civil ex dellicto ( art. 68 do CPP), ação rescisória movida pelo MP (conluio
para fraudar a Lei), ação de nulidade do casamento movida pelo MP etc. Essa posição é
minoritária.
b) conceito restritivo:
Estabelece que ACP é qualquer ação não penal movida pelo MP ou equiparado com base
na LACP ou no CDC.
Para alguns autores, as ações que são baseadas no CDC são chamadas de ações
coletivas.

Origem da ACP:
Nasceu por conta do art. 14, § 1.º da Lei 6.938/81. Essa Lei vige até os dias hodiernos.
Tal dispositivo não tinha regulamentação, logo passou a surgir a necessidade de
regulamentação.
De um lado Ginover, Watanabe e Dinamarco e de outro Milaré, Nery começaram a
trabalhar em um projeto para regulamentar a questão da proteção ao meio ambiente.
Esses dois projetos foram unificados e surgiu a LACP.
§ 1º Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado,
independentemente de existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao
Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 24
meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e
dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal por
danos causados ao meio ambiente.

Quando do advento da CF/88, o art. 129, III previu a ACP constitucionalmente.


129. São funções institucionais do Ministério Público:
III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público
e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos;

Previsão legal e sumular da ACP:


A previsão legal é a Lei 7.347/85 e art. 129, III da CF.
Alem de ter previsão nos dispositivos acima citados, o ECA, o Estatuto do Idoso, Estatuto das
Cidades, Estatuto do Deficiente (Lei 7.853/89), dentre outros preveem a ACP.

Há, também, duas súmuas vigendo acerca da ACP: súmula 643 do STF e 329 do STJ:
Súmula nº 643 
O ministério público tem legitimidade para promover ação civil pública cujo
fundamento seja a ilegalidade de reajuste de mensalidades escolares.
Súmula 329: 
O Ministério Público tem legitimidade para propor ação civil pública em
defesa do patrimônio público.

Existia a súmula 183 do STJ, a qual foi cancelada.


Súmula: 183
Compete ao juiz estadual, nas comarcas que não sejam sede de vara da
justiça federal, processar e julgar ação civil publica, ainda que a união figure no processo. -
Julgando os Embargos de Declaração no CC n. 27.676-BA, na sessão de 08/11/2000, a
Primeira Seção deliberou pelo CANCELAMENTO da Súmula n. 183 (DJ 24/11/00 - pág. 265).

O STJ fazia um interpretação equivocada do art. 109, § 3.º da CF:


§ 3º - Serão processadas e julgadas na justiça estadual, no foro do domicílio dos segurados
ou beneficiários, as causas em que forem parte instituição de previdência social e
segurado, sempre que a comarca não seja sede de vara do juízo federal, e, se verificada
essa condição, a lei poderá permitir que outras causas sejam também processadas e
julgadas pela justiça estadual.

Não há previsão para a ação coletiva, por isso o STJ interpretava erroneamente esse
dispositivo.

Objeto da ACP:
art. 1.º, 3.º e 11 da LACP.

Art. 1º Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de
responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados:
I - ao meio ambiente;
II - ao consumidor;
III - a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;
IV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivo;
V - por infração da ordem econômica e da economia popular;
VI - à ordem urbanística.
Parágrafo único. Não será cabível ação civil pública para veicular pretensões que
envolvam tributos, contribuições previdenciárias, o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço
- FGTS ou outros fundos de natureza institucional cujos beneficiários podem ser
individualmente determinados.
Art. 3º A ação civil poderá ter por objeto a condenação em dinheiro ou o cumprimento de
obrigação de fazer ou não fazer.
Art. 11. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer,
o juiz determinará o cumprimento da prestação da atividade devida ou a cessação da
Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 25
atividade nociva, sob pena de execução específica, ou de cominação de multa diária, se
esta for suficiente ou compatível, independentemente de requerimento do autor.

Tutela preventiva, inibitória ou de remoção do ilícito e/ou reparatória (material ou moral)


dos seguintes interesses metaindividuais:
a) meio ambiente;
b) consumidor;
c) patrimônio histórico-cultural;
d) outros direitos metaindividuais;
e) ordem econômica;
f) ordem urbanística;

Tutela preventiva:
Marinoni diz que tutela preventiva é aquela que não se preocupa com o dano. Na
verdade, a tutela preventiva quer evitar ou não perpetuar a ocorrência do dano.
Faz uma diferenciação entre duas técnicas dentro da tutela preventiva:
- tutela inibitória:
Aqui, o ilícito ainda não ocorreu. Pretende-se, pois, evitar que o ilícito ocorra.
- tutela de remoção do ilícito:
Aqui, o Ilícito já ocorreu. Pretende-se que o ilícito cesse.

A divisão da tutela preventiva ocorre sem prejuízo da concomitante reparação. Pode-se ter
na mesma ação coletiva tanto a tutela inibitória quanto a de remoção do ilícito.

Pode haver, ainda, o dano moral coletivo. Ocorreu no seguinte exemplo: a SABESP, que é
uma SEM, deixou de dar manutenção em uma adutora e fez com que toda uma cidade
ficasse sem água por uma semana. A coletividade como um todo sofreu dano moral
coletivo.

Meio Ambiente:
A ACP protege os três tipos de meio ambiente:
- MA natural:
É aquele que tem previsão no art. 3.º, I da Lei 6.938/81. É aquele MA que não teve a
interferência do homem. Fauna, flora, água, ar, terra, mar.
O art. 14, § 1.º da Lei 6.938/81 e art. 3.º da Lei 9.605/98 preveem que em matéria de meio
ambiente natural a responsabilidade civil segue a teoria do risco da atividade. Essa teoria é
uma hipótese de responsabilidade objetiva agravada. Isso porque na responsabilidade
objetiva comum a responsabilidade pode ser afastada com a prova de caso fortuito e
força maior. Em matéria ambiental, tal não é possível. Logo, o caso fortuito e a força maior
não excluem a responsabilidade.

- MA artificial:
É o MA urbano. Envolve poluição visual, sonora e tudo o mais que decorre da vida em
sociedade nas cidades.

- MA cultural:
É o MA histórico, artístico. Para alguns autores, na verdade, esse MA deveria estar dentro do
meio ambiente artificial, pois é obra do homem.

Aula 04

Consumidor:
A responsabilidade civil em matéria do consumidor segue dois grandes regime:
- responsabilidade por fato do produto ou serviço: arts. 12 e 14 do CDC:

Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 26


Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador
respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos
causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção,
montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos,
bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos.
§ 1° O produto é defeituoso quando não oferece a segurança que dele legitimamente se
espera, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:
I - sua apresentação;
II - o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
III - a época em que foi colocado em circulação.
§ 2º O produto não é considerado defeituoso pelo fato de outro de melhor qualidade ter
sido colocado no mercado.
§ 3° O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será responsabilizado
quando provar:
I - que não colocou o produto no mercado;
II - que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste;
III - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.
Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa,
pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação
dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e
riscos.
§ 1° O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode
esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:
I - o modo de seu fornecimento;
II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
III - a época em que foi fornecido.
§ 2º O serviço não é considerado defeituoso pela adoção de novas técnicas.
§ 3° O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar:
I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;
II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.
§ 4° A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a
verificação de culpa.

Também é conhecida como acidente de consumo. Ocorre toda vez que a pessoa sofre
dano que só foi salvado pelo mal funcionamento do produto, ou seja, o dano é extrínseco.
Ex: tampa de garrafa de refrigerante que estoura no olho do consumidor; toldo instalado
que cai na cabeça do consumidor.
Toda vez que a responsabilidade for por fato do produto ou do serviço a responsabilidade
do fornecedor é objetiva.
As ações de reparação de dano, nesse caso, têm prazo prescricional regulado pelo art. 27
do CDC:
Art. 27. Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos danos causados por fato
do produto ou do serviço prevista na Seção II deste Capítulo, iniciando-se a contagem do
prazo a partir do conhecimento do dano e de sua autoria.

- responsabilidade por vício do produto ou do serviço: arts. 18 e 20 do CDC:


é relacionado a defeitos intrínsecos ao produto. Os vícios do produto ou do serviço são os
relacionados à quantidade ou qualidade.
Ex: camisa que no primeiro uso rasga a manga. O vício aqui é na qualidade do produto;
refrigerante que está sem gás ou ao invés da garrafa de 300ml tem 250ml.
Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis respondem
solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou
inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por
aqueles decorrentes da disparidade, com a indicações constantes do recipiente, da

Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 27


embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as variações decorrentes
de sua natureza, podendo o consumidor exigir a substituição das partes viciadas.
§ 1° Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta dias, pode o consumidor exigir,
alternativamente e à sua escolha:
I - a substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso;
II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de
eventuais perdas e danos;
III - o abatimento proporcional do preço.
§ 2° Poderão as partes convencionar a redução ou ampliação do prazo previsto no
parágrafo anterior, não podendo ser inferior a sete nem superior a cento e oitenta dias. Nos
contratos de adesão, a cláusula de prazo deverá ser convencionada em separado, por
meio de manifestação expressa do consumidor.
§ 3° O consumidor poderá fazer uso imediato das alternativas do § 1° deste artigo sempre
que, em razão da extensão do vício, a substituição das partes viciadas puder comprometer
a qualidade ou características do produto, diminuir-lhe o valor ou se tratar de produto
essencial.
§ 4° Tendo o consumidor optado pela alternativa do inciso I do § 1° deste artigo, e não
sendo possível a substituição do bem, poderá haver substituição por outro de espécie,
marca ou modelo diversos, mediante complementação ou restituição de eventual
diferença de preço, sem prejuízo do disposto nos incisos II e III do § 1° deste artigo.
§ 5° No caso de fornecimento de produtos in natura, será responsável perante o
consumidor o fornecedor imediato, exceto quando identificado claramente seu produtor.
§ 6° São impróprios ao uso e consumo:
I - os produtos cujos prazos de validade estejam vencidos;
II - os produtos deteriorados, alterados, adulterados, avariados, falsificados, corrompidos,
fraudados, nocivos à vida ou à saúde, perigosos ou, ainda, aqueles em desacordo com as
normas regulamentares de fabricação, distribuição ou apresentação;
III - os produtos que, por qualquer motivo, se revelem inadequados ao fim a que se
destinam.
Art. 20. O fornecedor de serviços responde pelos vícios de qualidade que os tornem
impróprios ao consumo ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da
disparidade com as indicações constantes da oferta ou mensagem publicitária, podendo o
consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:
I - a reexecução dos serviços, sem custo adicional e quando cabível;
II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de
eventuais perdas e danos;
III - o abatimento proporcional do preço.
§ 1° A reexecução dos serviços poderá ser confiada a terceiros devidamente capacitados,
por conta e risco do fornecedor.
§ 2° São impróprios os serviços que se mostrem inadequados para os fins que razoavelmente
deles se esperam, bem como aqueles que não atendam as normas regulamentares de
prestabilidade.

A responsabilidade pelo vício do produto ou do serviço é solidária entre os fornecedores.


As reclamações por vício do produto ou do serviço são sujeitas ao prazo decadencial do
art. 26 do CDC:
Art. 26. O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil constatação caduca em:
I - trinta dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos não duráveis;
II - noventa dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos duráveis.
§ 1° Inicia-se a contagem do prazo decadencial a partir da entrega efetiva do produto ou
do término da execução dos serviços.
§ 2° Obstam a decadência:
I - a reclamação comprovadamente formulada pelo consumidor perante o fornecedor de
produtos e serviços até a resposta negativa correspondente, que deve ser transmitida de
forma inequívoca;
Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 28
II - (Vetado).
III - a instauração de inquérito civil, até seu encerramento.
§ 3° Tratando-se de vício oculto, o prazo decadencial inicia-se no momento em que ficar
evidenciado o defeito.
Quando o produto ou serviço for durável, o prazo decadencial é de 90 dias. No caso dos
bens ou serviços não duráveis, o prazo é de 30 dias.

Se o vício é oculto, o prazo decadencial só tem início quando do seu conhecimento. O que
fez o CDC foi justamente quase que tornar imprescritível esse prazo, porque sempre
começa do conhecimento, que é alegado pelo consumidor e difícil de ser provado em
sentido contrário.

Patrimônio Histórico-Cultural:
Ficou conhecido como meio ambiente cultural. Consiste em um bem imaterial, sem ter,
pois, valor econômico. São as crenças, as histórias, os contos, as representações simbólicas
de dada comunidade.
Ex: carnaval.

O bem não tombado por ser objeto de ACP?


A jurisprudência é pacífica no sentido de que pode. Mas exsite aqui a questão referente ao
ônus da prova. Se o bem já é tombado, o autor da ação não precisa provar o valor
histórico cultural, pois como o tobamento o Estado já vez essa prova. Mas se o bem não for
tombado, o autor tem que provar que o bem tem valor histórico-cultural.

O fundamento do patrimônio histórico-cultural é muito utilizado para se evitar a mudança


de nome de ruas e praças.

Outros direitos metaindividuais:


O legislador traz no CDC nesse caso uma regra de fechamento, ou seja, afirma que cabe
ação civil pública para proteger qualquer direito metaindividual.
Logo, cabe ACP para proteger os direitos da criança e do adolescente, do idoso, a
moralidade pública, o patrimônio público, do deficiente etc.

Hipóteses de não cabimento da ACP:


Art. 1.º, parágrafo único da LACP:
Parágrafo único. Não será cabível ação civil pública para veicular pretensões que
envolvam tributos, contribuições previdenciárias, o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço
- FGTS ou outros fundos de natureza institucional cujos beneficiários podem ser
individualmente determinados.

Os tribunais superiores entendem de forma pacífica que tal dispositivo é constitucional,


malgrado a doutrina tecer fortes criticas acerca dessas hipóteses de não cabimento.

Legitimidade na ACP:
Legitimidade ativa:
Art. 5.º da LACP e art. 82 do CDC:
Art. 5º Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar:
I - o Ministério Público;
II - a Defensoria Pública;
III - a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios;
IV - a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista;
V - a associação que, concomitantemente:
a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil;
b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao meio ambiente, ao
consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência ou ao patrimônio artístico, estético,
Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 29
histórico, turístico e paisagístico.
§ 1º O Ministério Público, se não intervier no processo como parte, atuará obrigatoriamente
como fiscal da lei.
§ 2º Fica facultado ao Poder Público e a outras associações legitimadas nos termos deste
artigo habilitar-se como litisconsortes de qualquer das partes.
§ 3º Em caso de desistência infundada ou abandono da ação por associação legitimada,
o Ministério Público ou outro legitimado assumirá a titularidade ativa.
§ 4º O requisito da pré-constituição poderá ser dispensado pelo juiz, quando haja manifesto
interesse social evidenciado pela dimensão ou característica do dano, ou pela relevância
do bem jurídico a ser protegido.
§ 5º Admitir-se-á o litisconsórcio facultativo entre os Ministérios Públicos da União, do Distrito
Federal e dos Estados na defesa dos interesses e direitos de que cuida esta Lei.
§ 6º Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos interessados compromisso de
ajustamento de sua conduta às exigências legais, mediante cominações, que terá eficácia
de título executivo extrajudicial.

Art. 82. Para os fins do art. 81, parágrafo único, são legitimados concorrentemente:
(Redação dada pela Lei nº 9.008, de 21.3.1995)
I - o Ministério Público,
II - a União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal;
III - as entidades e órgãos da Administração Pública, direta ou indireta, ainda que sem
personalidade jurídica, especificamente destinados à defesa dos interesses e direitos
protegidos por este código;
IV - as associações legalmente constituídas há pelo menos um ano e que incluam entre seus
fins institucionais a defesa dos interesses e direitos protegidos por este código, dispensada a
autorização assemblear.
§ 1° O requisito da pré-constituição pode ser dispensado pelo juiz, nas ações previstas nos
arts. 91 e seguintes, quando haja manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou
característica do dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido.

Deve-se lembrar do princípio da adequada representação. Existe na doutrina dois


entendimento opostos acerca desse tema. A primeira diz que o legislador presumiu que os
entes legitimados representam de maneira ope legis o grupo que representam. Assim, todos
os entes não estão sujeitos ao controle judicial da representação. É a posição de Nelson
Nery Jr.
A outra corrente entende que deve haver por parte do juiz o controle da legitimação. A
ferramenta que seria utilizada pelo juiz é a finalidade institucional do legitimado e a
pertinência temática do tema. Ex: Defensoria Pública, que não teria legitimidade para
interpor todas as ações, mas apenas aquelas relacionadas à tutela dos pobres.
Dependendo da posição que se adote, as conclusões serão opostos quanto à legitimidade.

Legitimidade do MP:
Tem-se entendido que um órgão pode ajuizar ACP na esfera do outro. Na prática,
representa que o MP é um órgão único, não importando, nesse caso, a divisão do MP em
Estadual ou Federal. Logo, o MPE pode interpor uma ação na JF. Tal pode ser visto
claramente no que concerne ao dano ao meio ambiente, que afeta a todos de uma forma
em geral.
Alguns autores entendem que se o MPF ajuizar uma ACP na Justiça Comum Estadual o
processo se deslocará para a JF.
Mas prevalece o entendimento que o MPF é autônomo, logo não está inserido no rol do art.
109 da CF.

Se adotada a posição que admite o controle judicial d representação, o MP só pode ajuizar


uma ação coletiva nos termos do art. 127 da CF:

Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 30


Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do
Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses
sociais e individuais indisponíveis.

Exemplo clássico é uma ACP onde o MP busca resguardar os interesses dos consumidores
contra o aumento da TV a cabo. Nesse caso, não teria o MP legitimidade. Mas se fosse com
relação à tarifa de água ou energia elétrica, teria o MP legitimidade.

Defensoria Pública:
A inserção da defensoria pública no art. 5.º da LACP seu por conta da Lei 11.448/2007.
Antes dessa lei, não havia disposição legal expressa, mas a jurisprudência já admitia o
ajuizamento de ACP pela Defensoria Pública. Essa Lei 11.448/07 apenas consolidou o
entendimento jurisprudencial.
O prof. entende que essa lei despertou a ira de uma parcela conservadora do MP.
Exatamente por isso, o CONAMP ajuizou a ADIN 3943 contra essa lei.
Afirma o MP nos termos do art. 134 da CF, a Defensoria só pode atuar em processos cujos
sujeitos sejam ao menos individualizáveis. Isso porque a Defensoria deve atuar na tutela dos
necessitados.
Art. 134. A Defensoria Pública é instituição essencial à função jurisdicional do Estado,
incumbindo-lhe a orientação jurídica e a defesa, em todos os graus, dos necessitados, na
forma do art. 5º, LXXIV.)

Ainda, o art. 5.º, LXXIV diz que o Estado prestará a assistência jurídica aos que comprovarem
a condição de necessitado. Logo, o CONAMP entende que os lesados não comparecem à
Defensoria para comprovar a sua necessidade e por isso, não teria a Defensoria
legitimidade.
Ora, se a Defensoria não pode propor ações coletivas, todos os outros legitimados também
não poderiam. A condição de necessitado por ser presumida em algumas situações. Ex:
ACP para discutir índice de reajuste das parcelas da moradia popular.

Ainda, tem-se entendimento que para a Defensoria Pública se legitime, não é necessário
que todo o grupo defendido seja necessitado, bastando uma parcela desse grupo.
Ex: uma tutela para beneficiar os pobres, eventualmente pode beneficiar os ricos. Isso
porque os efeitos das ações coletivas são erga omnes e ultra partes, não podendo os
mesmos serem restringidos.

Por derradeiro, ressalte-se que dentro da ideia do controle judicial da representação, a


Defensoria só teria legitimidade para ACP nas hipóteses do art. 134 da CF.

União, Estados DF, Autarquias, Empresas Públicas, Fundações e SEM:


Assim, os incisos III e IV do art. 5.º da LACP dizem que podem propor a ACP tanto
Administração Direta como a Indireta.

Pode causar espnto o fato de que as empresas públicas e as SEM, mesmo sendo entes que
regulados pelo direito privado, podem propor ação civil pública. Mas não há maiores
discussões acerca do tema.

O CDC ampliou um pouco o alcance desses incisos III e IV do art. 5.º da LACP.
Art. 82. Para os fins do art. 81, parágrafo único, são legitimados concorrentemente:
(Redação dada pela Lei nº 9.008, de 21.3.1995)
III - as entidades e órgãos da Administração Pública, direta ou indireta, ainda que sem
personalidade jurídica, especificamente destinados à defesa dos interesses e direitos
protegidos por este código;

Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 31


Portanto, entes despersonalizados da administração direta ou indireta podem propor ACP,
desde que tenha direitos ou prerrogativas próprias a assegurar.
Esse dispositivo foi criado para beneficiar o PROCON. Na maioria das cidades do País, o
PROCON é uma pasta dos Municípios. Assim, a lei dá legitimidade ao próprio PROCON, que
interpõe a ação em nome próprio e não em nome do município.
Pelas mesmas razões a secretaria municipal do meio ambiente pode propor uma ACP em
nome próprio e não em nome do município.

Associações:
É uma expressão genérica, incluindo-se os sindicatos, partidos políticos, entidades de classe.
Mas há duas condições para que as associações possam propor uma ACP:
- constituição ânua: o legislador quer que a representação seja exercida por uma entidade
séria, sem que seja constituída apenas para o fim de interpor uma ACP.
Art. 5º Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar:
V - a associação que, concomitantemente:
a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil;

O § 4.º do art. 5.º estabelece uma hipótese de dispensa da constituição ânua.


§ 4º O requisito da pré-constituição poderá ser dispensado pelo juiz, quando haja manifesto
interesse social evidenciado pela dimensão ou característica do dano, ou pela relevância
do bem jurídico a ser protegido.

O leading case do caso dessa dispensa foi o caso de uma associação chamada de ADESF
(Associação de Defesa dos Fumantes). Um mês depois de criada interpôs uma ação contra
a Souza Cruz para que pagasse uma indenização às famílias das vítimas dos fumantes. O
STJ entendeu pela dispensa por conta da dimensão dos danos causados. Mas essa ação foi
julgada improcedente e hoje encontra-se em grau de recurso.

- pertinência temática:
Art. 5º Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar:
V - a associação que, concomitantemente:
b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao meio ambiente, ao
consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência ou ao patrimônio artístico, estético,
histórico, turístico e paisagístico.

A pertinência temática existe porque não precisa ser a finalidade principal do ente
legitimado.

O art. 2.º-A e parágrafo único da Lei 9.494/97


Art. 2º-A A sentença civil prolatada em ação de caráter coletivo proposta por entidade
associativa, na defesa dos interesses e direitos dos seus associados, abrangerá apenas os
substituídos que tenham, na data da propositura da ação, domicílio no âmbito da
competência territorial do órgão prolator.
Parágrafo único. Nas ações coletivas propostas contra a União, os Estados, o Distrito
Federal, os Municípios e suas autarquias e fundações, a petição inicial deverá
obrigatoriamente estar instruída com a ata da assembléia da entidade associativa que a
autorizou, acompanhada da relação nominal dos seus associados e indicação dos
respectivos endereços.

O legislador quis dificultar o manejo das ACPs pelas associações. Por isso, o STJ, no RE
805.277/RS, entendeu que esse dispositivo é inconstitucional. Ora, se se associa a alguém, já
autoriza a associação para fazer a representação, ao menos dentro de suas finalidades.

Ordem dos advogados do Brasil:


A legitimidade está no inciso XIV do art. 54 da Lei 8.906/94:
Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 32
Art. 54. Compete ao Conselho Federal:
XIV - ajuizar ação direta de inconstitucionalidade de normas legais e atos normativos, ação
civil pública, mandado de segurança coletivo, mandado de injunção e demais ações cuja
legitimação lhe seja outorgada por lei;

Considerações finais sobre legitimidade ativa:


A legitimidade ativa na ACP é concorrente e disjuntiva.
É concorrente porque tem mais de um autorizado a interpor a ACP.
É disjuntiva porque não há ordem ou autorização de um ente para o outro. Significa que
quando se enumera todos os legitimados, não há ordem de preferência entre eles, bem
como há a necessidade de qualquer espécie de autorização de um para que o outro
órgão interponha a ação.
Exemplo de legitimidade concorrente e não disjuntiva: inventário. O art. 990 do CPC traz os
casos de ordem de quem o juiz nomeia como inventariante.

Natureza da legitimação ativa: na doutrina há duas posições acerca da natureza da


legitimação ativa:
- posição de Hugo Nigro Mazzili: a legitimidade para o ajuizamento é extraordinária, com
previsão no art. 6.º do CPC. Logo, em caráter excepcional admite-se a substituição
processual.
Art. 6o Ninguém poderá pleitear, em nome próprio, direito alheio, salvo quando autorizado
por lei.

Para Mazzili, a legitimação é extraordinária porque os entes agem em nome próprio em


defesa de direitos que são da coletividade.
É a posição minoritária, mas já foi a dominante.

- posição de Nelson Nery:


no caso de direitos difusos e coletivos, ou seja, se os direitos forem naturalmente coletivos, a
legitimidade dos entes é autônoma para condução do processo.
Ora, a própria finalidade institucional do MP é no sentido de que possa resguardar os
direitos metaindividuais. Logo, age em nome próprio para defender uma prerrogativa
institucional sua.
Nery chama de legitimidade autônoma para a condução do processo. É uma conjugação
da legitimidade ordinária com a legitimidade extraordinária.
A doutrina e a jurisprudência prevalecem nessa posição.

Quando se tratarem de direitos individuais homogêneos, o direito é de cada um dos


indivíduos. Nesse caso, Nery afirma que o autor da ação coletiva age em nome próprio em
defesa de direito alheio.

Art. 5.º, §§ 2.º e 5.º da LACP:


§ 2º Fica facultado ao Poder Público e a outras associações legitimadas nos termos deste
artigo habilitar-se como litisconsortes de qualquer das partes.
§ 5º Admitir-se-á o litisconsórcio facultativo entre os Ministérios Públicos da União, do Distrito
Federal e dos Estados na defesa dos interesses e direitos de que cuida esta Lei.

Trata da possibilidade de formação de um litisconsórcio ativo entre os legitimados.


Esse litisconsórcio é ativo, inicial, facultativo e unitário.

Legitimidade passiva na ACP:


Não há previsão na LAP no que concerne ao polo passivo. Há, pois, duas posições na
doutrina acerca do tema:
- a primeira corrente é minoritária determine que como não há previsão legal na LACP, o
CDC é quem se aplicaria ao caso. Como também não trata do tema as leis que circundam
Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 33
o processo coletivo é que regulariam o tema. Assim, o art. 6.º da LAP diz que há um
litisconsórcio necessário passivo entre pessoa jurídica, administradores e funcionários
envolvidos e beneficiários diretos do ato.
É a posição de Hugo Mazzili e do Prof.
Art. 6º A ação será proposta contra as pessoas públicas ou privadas e as entidades
referidas no art. 1º, contra as autoridades, funcionários ou administradores que houverem
autorizado, aprovado, ratificado ou praticado o ato impugnado, ou que, por omissão,
tiverem dado oportunidade à lesão, e contra os beneficiários diretos do mesmo.

- a posição majoritária diz que o litisconsórcio passivo é facultativo. A jurisprudência aplica o


art. 46 do CPC. Quem decide o polo passivo é o próprio autor da ação coletiva, conforme
lhe convier.
Em ambas as correntes, o litisconsórcio é simples e não unitário.

Para os que admitem a ação coletiva passiva, que é aquela em que a coletividade é ré, o
réu que representará a coletividade serão as associações de entidade de classe ou os
sindicatos. Isso porque representam suficientemente a categoria.

Intervenção de Terceiros na ACP:


Prima facie, apenas um tipo de intervenção de terceiros não se aplica a ACP, que é a
denunciação da lide.
Quando se tem a ação regressiva, na ação primitiva é inserida uma nova relação jurídica.
Por óbvio, isso vai de encontro à celeridade processual.
O CDC, por conta disso, estabeleceu nos arts. 88 e 101, II, que em matéria de
responsabilidade civil em matéria de defesa do consumidor, não cabe a denunciação da
lide. Mas cabe, no lugar dela, o chamamento ao processo.
É o exemplo típico do seguro.
O CDC substitui o cabimento da denunciação da lide pelo chamamento ao processo,
fazendo com que o segurador só possa ser integrado à lide como co-responsável, obstando
que se inaugure na ACP uma nova relação jurídica com fundamentos paralelos. Tal
disposição se aplica a todas as ACPs (não só ao CDC), em virtude do micro-sistema
processual.

Art. 88. Na hipótese do art. 13, parágrafo único deste código, a ação de regresso poderá
ser ajuizada em processo autônomo, facultada a possibilidade de prosseguir-se nos mesmos
autos, vedada a denunciação da lide.
Art. 101. Na ação de responsabilidade civil do fornecedor de produtos e serviços, sem
prejuízo do disposto nos Capítulos I e II deste título, serão observadas as seguintes normas:
I - a ação pode ser proposta no domicílio do autor;
II - o réu que houver contratado seguro de responsabilidade poderá chamar ao processo o
segurador, vedada a integração do contraditório pelo Instituto de Resseguros do Brasil.
Nesta hipótese, a sentença que julgar procedente o pedido condenará o réu nos termos do
art. 80 do Código de Processo Civil. Se o réu houver sido declarado falido, o síndico será
intimado a informar a existência de seguro de responsabilidade, facultando-se, em caso
afirmativo, o ajuizamento de ação de indenização diretamente contra o segurador,
vedada a denunciação da lide ao Instituto de Resseguros do Brasil e dispensado o
litisconsórcio obrigatório com este.

Ainda, no processo coletivo é quase que impossível a existência do instituto da oposição,


embora tal não possa ser negado.
Nas ACPs ocorre muito frequentemente o instituto da assistência litisconsorcial.
Ocorre nos casos do art. 5.º, §§ 2.º e 5.º da LACP.
Se depois do ajuizamento da ação, outro legitimado quiser fazer parte do processo, como
litisconsórcio é inicial, o ente ingressa como assistente litisconsorcial e não como parte.

Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 34


Trata-se aqui da hipótese dos co-legitimados que ingressam no processo após o seu
ajuizamento.
Ainda, ocorre assistência litisconsorcial nos casos do art. 94 do CDC:
Art. 94. Proposta a ação, será publicado edital no órgão oficial, a fim de que os interessados
possam intervir no processo como litisconsortes, sem prejuízo de ampla divulgação pelos
meios de comunicação social por parte dos órgãos de defesa do consumidor.

A doutrina nesse caso entende que são aplicados aos direitos individuais homogêneos e
coletivos.

Hugo Mazzili aponta uma terceira hipótese de assistência litisconsorcial, mas é a uma
posição extremamente minoritária. Afirma que o cidadão pode ingressar na ACP como
assistente se puder tutelar o mesmo objeto pela via da ação popular.

MP (art. 5.º, § 1.º da LACP):


§ 1º O Ministério Público, se não intervier no processo como parte, atuará obrigatoriamente
como fiscal da lei.

De acordo com o art. 84 do CPC, se o MP não atuar como custos legis, o processo será
nulo.

Inquérito Civil:
Generalidades:
A previsão legal do inquérito civil é a do art. 129, III da CF; art. 8, § 1.º e art. 9.º da LACP;
Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:
III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público
e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos;

§ 1º O Ministério Público poderá instaurar, sob sua presidência, inquérito civil, ou requisitar,
de qualquer organismo público ou particular, certidões, informações, exames ou perícias,
no prazo que assinalar, o qual não poderá ser inferior a 10 (dez) dias úteis.

Art. 9º Se o órgão do Ministério Público, esgotadas todas as diligências, se convencer da


inexistência de fundamento para a propositura da ação civil, promoverá o arquivamento
dos autos do inquérito civil ou das peças informativas, fazendo-o fundamentadamente.

Ainda, em cada Estado os MPEs e o MPF possuem legislação própria disciplinando o


inquérito civil.
O CNMP editou a resolução n.º 23, de 17 de setembro de 2007, que dá uniformidade
nacional para o inquérito civil.

Conceito de inquérito civil:


É o procedimento investigatório tendente a colher elementos para a formação do
convencimento para a propositura da ACP.

Espécies de inquéritos civis:


a) inquérito civil stricto sensu:
O MP instaura o inquérito civil quando depende de provas mais complexas. Exs:
determinação de diligencias, perícias etc.
Compara-se com o inquérito policial.

b) peças de informação:
Normalmente, cabe em casos de provas menos complexas. Para a formação da
convicção do MP basta a requisição de documentos.
Compara-se com os termos circunstanciados.
Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 35
Essa diferença entre os tipos dos inquéritos civis é apenas doutrinária, não havendo
qualquer distinção na prática.

Características do Inquérito Civil:


- procedimento administrativo:
- facultativo: significa que se o MP já dispõe de elementos, pode interpor a ACP,
prescindindo do inquérito civil.
- público: qualquer pessoa pode consultar os autos do inquérito civil.
- é privativo do MP: portanto, não pode a Defensoria Pública instaurar um inquérito civil. Na
nova LACP existe essa discussão acerca da possibilidade de a Defensoria interpor ou não
um inquérito civil.

Fases do inquérito civil:


a) instauração do inquérito civil:
Sempre é iniciado por portaria, baixada pelo próprio membro do MP. O Promotor elenca na
portaria o fato a ser investigado, com as suas características. Na própria portaria, o MP já
determina as primeiras providencias instrutórias.

Em alguns Estados, há previsão para a instauração de um procedimento preparatório de


inquérito civil. Seria um expediente para formar o pre-convencimento do MP.

A presidência do inquérito civil não obsta a propositura. A jurisprudência é pacífica nesse


sentido. Se o promotor investiga os fatos no inquérito civil, nada impede que ele mesmo
proponha a ACP. Assim, a mesma pessoa que investiga é a mesma que propõe ação. Os
críticos dizem que tal fere a imparcialidade do membro do MP.

Impedimento e suspeição do promotor:


A regra aqui é a do art. 138 do CPC:
Art. 138. Aplicam-se também os motivos de impedimento e de suspeição:
I - ao órgão do Ministério Público, quando não for parte, e, sendo parte, nos casos previstos
nos ns. I a IV do art. 135;
II - ao serventuário de justiça;
III - ao perito; (Redação dada pela Lei nº 8.455, de 1992)
IV - ao intérprete.
§ 1o A parte interessada deverá argüir o impedimento ou a suspeição, em petição
fundamentada e devidamente instruída, na primeira oportunidade em que Ihe couber falar
nos autos; o juiz mandará processar o incidente em separado e sem suspensão da causa,
ouvindo o argüido no prazo de 5 (cinco) dias, facultando a prova quando necessária e
julgando o pedido.
§ 2o Nos tribunais caberá ao relator processar e julgar o incidente.

Instauração abusiva:
Para se coibir a instauração abusiva de um inquérito civil, cabe Mandado de Segurança. A
autoridade coatora será o próprio promotor de justiça que instaurou o inquérito civil.
Mas quem julga esse MS?
Se não houver foro por prerrogativa de função na Constituição Estadual ou na CF, o órgão
judiciário de primeira instância.
Assim, no caso do MPF não há foro por prerrogativa na CF. Logo, quando a autoridade
impetrada é um Procurador da República, a competência é da JF. Vide conflito de
competência 14.396/DF.
À segunda instância cabe julgar o MS se houver foro por prerrogativa na CE. Vide Resp
333.857/SP.

Efeitos do inquérito civil:


Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 36
Art. 26, § 2.º, III do CDC:
§ 2° Obstam a decadência:
III - a instauração de inquérito civil, até seu encerramento.

Para qualquer ação coletiva, instaurado o inquérito civil não correm os prazos de
decadência ou de prescrição. O curso desses prazos só volta a correr quando do
encerramento do inquérito civil.

Art. 339 do CP:


Denunciação caluniosa
Art. 339. Dar causa à instauração de investigação policial, de processo judicial, instauração
de investigação administrativa, inquérito civil ou ação de improbidade administrativa contra
alguém, imputando-lhe crime de que o sabe inocente: (Redação dada pela Lei nº 10.028,
de 2000)
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.
§ 1º - A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se serve de anonimato ou de nome
suposto.
§ 2º - A pena é diminuída de metade, se a imputação é de prática de contravenção.

b) instrução do inquérito civil:


Para investigar, por óbvio, o promotor tem poderes instrutórios, os quais, em síntese, são três,
que estão previstos no art. 26 da lei 8.625/93:
- vistorias e inspeções:
Permite que o promotor tenha acesso a repartições públicas livremente para que possa
realizar as suas investigações. O promotor só precisa de mandado nas hipóteses em que a
polícia também precisar. Ex: busca familiar.
- intimação para depoimento, sob pena de condução coercitiva.

Se a testemunha mentir no inquérito civil, tal acarreta o cometimento do crime de falso


testemunho? Existem duas posições na doutrina acerca do tema:
 A primeira corrente entende que sim. Isso porque o art. 342 d CP fala em processo
administrativo.
 A segunda corrente entende que o legislador, ao alterar o artigo que trata da
denunciação caluniosa, colocou expressamente o inquérito civil, não tendo feito tal
com relação ao crime de falso testemunho. Outro argumento diz respeito à
tipicidade, já que não se pode ampliar os tipos penais.

- requisitar de qualquer entidade pública (administração direta e indireta) ou privada,


física ou jurídica, qualquer documento, salvo aqueles que gozam de proteção
constitucional. São protegidos constitucionalmente com a pecha de sigilo os seguintes
documentos: registros telefônicos, registros de correspondência (inclui-se o email) e
relativos à inviolabilidade domiciliar.

A grande discussão que se trata acerca desse tema diz respeito ao sigilo bancário. Pode
o MP requerer da instituição bancária o extrato das contas do réu do inquérito policial?
O sigilo bancário tem previsão nos arts. 3.º e 4.º da LC 105/01. Exatamente porque o sigilo
bancário não está previsto na CF, há na doutrina duas posições acerca desse tema:
 A primeira corrente que o MP pode ter acesso direto aos sigilos bancários dos
réus é a posição de Nery e Mazzili. Entendem, pois, que não há sigilo bancário
para o MP. Como o sigilo não é constitucional, prevalece a LOMP sobre a Lei
Complementar 105/01.
 A segunda corrente entende que há sigilo bancário para o MP porque decorre
do direito à intimidade e à vida privada, os quais têm previsão constitucional.
Assim, para ter acesso aos extratos bancários precisaria de autorização judicial.
O STF possui julgado nos dois sentidos.
Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 37
Os promotores costumam requerer autorização judicial, tendo em vista que posteriormente
pode ser alegado que a prova é ilícita.

O art. 10 da LACP estabelece uma sanção para quem não obedece à requisição feita pelo
MP:
Art. 10. Constitui crime, punido com pena de reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos, mais multa
de 10 (dez) a 1.000 (mil) Obrigações do Tesouro Nacional - OTN, a recusa, o retardamento
ou a omissão de dados técnicos indispensáveis à propositura da ação civil, quando
requisitados pelo Ministério Público.

Contraditório:
Prevalece na doutrina e na jurisprudência que o inquérito civil é um procedimento
inquisitivo, tanto quanto o inquérito policial. Logo, não há contraditório no âmbito do
inquérito civil.
Mas essa posição não resiste a uma critica mais aguçada. Ada Grinover sustenta que a
partir do momento em que o objeto da investigação do inquérito civil se torna
determinado, deixa de ser um mero investigado e passa a ser um acusado. Se vira um
acusado, vê ser aplicado o inciso LV do art. 5.º da CF.
LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são
assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;

Publicidade:
Deve-se fazer um paralelo com o inquérito policial. Assim, regra geral, o inquérito civil é
público, logo o MP deve dar vista dos autos ao investigado.
Excepcionalmente, o inquérito civil pode correr sob segredo de justiça. À falta de previsão
legal específica, utiliza-se, por analogia, o art. 20 do CPP:
Art. 20. A autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou
exigido pelo interesse da sociedade.
Parágrafo único. Nos atestados de antecedentes que Ihe forem solicitados, a autoridade
policial não poderá mencionar quaisquer anotações referentes a instauração de inquérito
contra os requerentes, salvo no caso de existir condenação anterior. (Incluído pela Lei nº
6.900, de 14.4.1981)

c) conclusão do inquérito civil:


Findo o inquérito civil, o promotor tem duas opções:
- pode ajuizar a ACP ou ação coletiva:
- pode promover o arquivamento.
De acordo com a LACP, o arquivamento só pode ser promovido se houver argumentos
idôneos para tanto. Apresentado o arquivamento fundamentado, o promotor tem o prazo
de três dias para encaminhar os autos do inquérito civil ao seu órgão superior, no caso a
Câmara de Coordenação e Revisão sendo o MPF e Conselho Superior sendo o MPE.
O órgão superior marca uma sessão de julgamento. É interessante estabelecer que até a
realização da sessão, podem os interessados se manifestarem. Na sessão, os representantes
dos órgãos superiores podem dar três soluções para o inquérito civil:
- homologação do arquivamento. Quando o órgão superior homologa o arquivamento,
voltam a correr os prazos de decadência e prescrição que haviam sido obstados pelo
inquérito civil.
- converter o inquérito civil em diligências.
- rejeição do arquivamento. Essa hipótese automaticamente implica na nomeação de
outro representante do MP para propositura da ACP ou ação coletiva.

O arquivamento do inquérito civil não impede o próprio órgão que o arquivou, no caso de
nova prova, ou que qualquer outro legitimado, ajuíze a ação competente.

Compromisso/Termo de ajustamento de conduta (TAC):


Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 38
A previsão legal do TAC é a do art. 5.º, § 6.º da LACP e art. 14 da resolução 23/2007 do
CNMP.

Natureza Jurídica:
Na doutrina prevalece o entendimento de que o TAC tem natureza jurídica de transação
que recai preponderantemente nas obrigações de fazer e não fazer.
A ideia do TAC é a de fazer um acordo. A pessoa que comete a infração assume a
responsabilidade e se compromete a realizar os danos causados.
Mas há quem entenda que o TAC é reconhecimento jurídico do pedido e não transação.
Isso porque a transação pressupões concessões mútuas e recíprocas. Ora, aqui não há
concessões, mas sim um ajustamento da conduta à pretensão do interesse público. A
pessoa que aceita o TAC aceita as condições impostas pelo órgão do MP.
O promotor não pode fazer concessões quanto ao conteúdo, mas apenas quanto ao prazo
de cumprimento das obrigações. Por conta dessa possibilidade de negociação do prazo,
os autores entendem que é transação, mas tal não é capaz de mudar a natureza jurídica
do instituto.

Legitimidade:
Podem celebrar um TAC o MP e órgãos públicos legitimados, a saber: defensoria pública,
administração direta, autarquias e fundações públicas.
Não podem celebrar TAC as associações, as empresas públicas e as SEM. Esses dois últimos
são regidos pelo direito privado, logo não podem celebrar um TAC. Mas isso ocorre mesmo
em caso de ato da empresa pública ou SEM em atos de gestão pública. Não, nesses casos
as EP e SEM podem celebrar um TAC.

Fiscalização e responsabilidade:
Quem faz a fiscalização é o próprio órgão que celebrou o TAC. A partir do momento que se
diz que quem celebra fiscaliza, haverá improbidade administrativa daquele que celebrar
um TAC fora das especificações, sem prejuízo de outra ação coletiva para reparar o dano.

Eficácia:
A eficácia do TAC, nos termos da própria legislação, é de título executivo extrajudicial.
Assim, caso não cumprido, dá ensejo direito a uma execução por título executivo
extrajudicial.
Não há no TAC a necessidade de assinatura de testemunhas quando da celebração do
TAC.

Imposição de multa:
Tem-se entendido que é requisito essencial do TAC nas obrigações de fazer a fixação de
multa de caráter cominatório.
Para poder haver o TAC, o próprio central do tema estabelece que o órgão público deverá
estabelecer as cominações, que no caso é a multa, que tem caráter da astreinte. O
objetivo da multa no TAC é compelir o devedor a prestar a obrigação.
Se o celebrante não cumpre a obrigação, paga a multa, independente de ter que cumprir
a obrigação principal.

Celebração na pendência do inquérito civil:


Se o TAC é celebrado na pendência do inquérito civil, este deverá ser arquivado. É
indispensável, pois, a homologação do TAC pelo órgão superior do MP.
Para fugir dessa homologação pelo órgão superior do MP, o promotor interpõe a ACP e faz
a transação em juízo. Se o juiz homologar, não há a necessidade de homologação pelo
Conselho Superior, já que este não controla as decisões judiciais.

Compromisso preliminar:

Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 39


Consiste na celebração de um TAC parcial, isto é, ou para resolver apenas um dos fatos
investigados, ou para aceitação de acordo de apenas parcela dos responsáveis,
prosseguindo-se no inquérito civil ou na ACP para os demais fatos e pessoas.

Hipótese de não cabimento do TAC:


Nos casos de improbidade administrativa. Isso porque em matéria de improbidade, alem da
reparação do dano, há as sanções do art. 12 da LIA:
Art. 12. Independentemente das sanções penais, civis e administrativas, previstas na
legislação específica, está o responsável pelo ato de improbidade sujeito às seguintes
cominações:
I - na hipótese do art. 9°, perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio,
ressarcimento integral do dano, quando houver, perda da função pública, suspensão dos
direitos políticos de oito a dez anos, pagamento de multa civil de até três vezes o valor do
acréscimo patrimonial e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios
ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de
pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de dez anos;
II - na hipótese do art. 10, ressarcimento integral do dano, perda dos bens ou valores
acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se concorrer esta circunstância, perda da função
pública, suspensão dos direitos políticos de cinco a oito anos, pagamento de multa civil de
até duas vezes o valor do dano e proibição de contratar com o Poder Público ou receber
benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por
intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de cinco anos;
III - na hipótese do art. 11, ressarcimento integral do dano, se houver, perda da função
pública, suspensão dos direitos políticos de três a cinco anos, pagamento de multa civil de
até cem vezes o valor da remuneração percebida pelo agente e proibição de contratar
com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou
indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário,
pelo prazo de três anos.
Parágrafo único. Na fixação das penas previstas nesta lei o juiz levará em conta a extensão
do dano causado, assim como o proveito patrimonial obtido pelo agente.

Procedimento da Ação Civil Pública:


Petição inicial:
O art. 8.º da LACP estabelece que o autor da ACP pode juntar à inicial os documentos que
obteve por meio de um requerimento prévio.
Art. 8º Para instruir a inicial, o interessado poderá requerer às autoridades competentes as
certidões e informações que julgar necessárias, a serem fornecidas no prazo de 15 (quinze)
dias.
§ 1º O Ministério Público poderá instaurar, sob sua presidência, inquérito civil, ou requisitar,
de qualquer organismo público ou particular, certidões, informações, exames ou perícias,
no prazo que assinalar, o qual não poderá ser inferior a 10 (dez) dias úteis.
§ 2º Somente nos casos em que a lei impuser sigilo, poderá ser negada certidão ou
informação, hipótese em que a ação poderá ser proposta desacompanhada daqueles
documentos, cabendo ao juiz requisitá-los.

Análise do pedido liminar:


Art. 12 da LACP:
Art. 12. Poderá o juiz conceder mandado liminar, com ou sem justificação prévia, em
decisão sujeita a agravo.
§ 1º A requerimento de pessoa jurídica de direito público interessada, e para evitar grave
lesão à ordem, à saúde, à segurança e à economia pública, poderá o Presidente do
Tribunal a que competir o conhecimento do respectivo recurso suspender a execução da
liminar, em decisão fundamentada, da qual caberá agravo para uma das turmas
julgadoras, no prazo de 5 (cinco) dias a partir da publicação do ato.
§ 2º A multa cominada liminarmente só será exigível do réu após o trânsito em julgado da
Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 40
decisão favorável ao autor, mas será devida desde o dia em que se houver configurado o
descumprimento.

A liminar do art. 12 tanto pode ter natureza cautelar quanto antecipatória.


Quando se fala em liminar, está-se falando do gênero, que possui duas espécies:
- natureza cautelar: garantir eficácia da decisão final. Ex: bloqueio de bens e valores do
devedor para garantir eventual pagamento da indenização.
- natureza antecipatória de tutela: satisfaz antecipadamente a pretensão. Ex: impedimento
da atividade nociva. A ação é interposta, por exemplo, para garantir que uma empresa
pare de poluir um rio.

Na ACP tem-se uma das poucas hipóteses em que a concessão de medida cautelar
independe de ação cautelar autônoma. Aqui há o total sincretismo processual, onde, por
meio do processo principal, se pode requerer uma medida cautelar.

Art. 84, § 4.º do CDC:


§ 4° O juiz poderá, na hipótese do § 3° ou na sentença, impor multa diária ao réu,
independentemente de pedido do autor, se for suficiente ou compatível com a obrigação,
fixando prazo razoável para o cumprimento do preceito.

Trata da possibilidade da fixação de astreinte para dar efetividade à liminar. Tal é possível
nas obrigações de fazer, não fazer e entrega de coisa.
O § 2.º do art. 12 da LACP também trata do tema:
§ 2º A multa cominada liminarmente só será exigível do réu após o trânsito em julgado da
decisão favorável ao autor, mas será devida desde o dia em que se houver configurado o
descumprimento.

Muitos doutrinadores criticam com veemência esse artigo. Isso porque apesar de a multa
ser devida desde o dia do inadimplemento, só poderá ser executada após o trânsito em
julgado da decisão.
Esse artigo 12, § 2.º é um absurdo mormente nos casos em que o réu é o poder público. Ora,
o administrador atual não irá cumprir a decisão, mormente porque a execução da multa só
será feita após o término do seu mandato.
Por esse motivo, alguns juízes fixam a multa na pessoa do administrador.

Possibilidade de designação de audiência de justificação:


O art. 12 da LACP prevê a possibilidade da audiência de justificação prévia. Trata-se de
audiência cuja única finalidade é a de colher elementos para concessão ou não da
medida liminar.
Não havendo risco de ineficácia da medida liminar, o réu deve ser intimado para o ato.
A prova colhida na audiência de justificação prévia deverá ser repetida na audiência de
instrução. Isso prova que o escopo da audiência de justificação é justamente verificar os
requisitos que autorizam a concessão da medida liminar.

Cabimento de liminar contra a Fazenda Pública:


Existem duas restrições ao cabimento das medidas liminares contra a Fazenda Pública nas
ACPs:
- art. 1.º da Lei 9.494/97, cujas hipóteses são as seguintes:
 Para a concessão de aumentos e vantagens funcionais de servidores públicos;
 Compensação em matéria tributária;
Esse artigo foi declarado constitucional pelo STF, na ADC n.º 04.

- art. 2.º-B da Lei 9.494/07:


não cabe medida liminar para conceder aumento, extensão de vantagem ou inclusão em
folha de pagamento contra o poder público. O STF, entretanto, tem afirmado que o juiz no
Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 41
caso concreto pode afastar a incidência desse dispositivo legal, por questões de
proporcionalidade.

Existe uma condicionante além das duas hipóteses de não cabimento das liminares. Existe,
por óbvio, quando a liminar é cabível.
Essa condição está prevista no art. 2.º da Lei 8.437/92:
Art. 2º No mandado de segurança coletivo e na ação civil pública, a liminar será
concedida, quando cabível, após a audiência do representante judicial da pessoa jurídica
de direito público, que deverá se pronunciar no prazo de setenta e duas horas.

O representante judicial é quem deve ser intimado para se manifestar acerca da


possobilidade de concessão ou não da liminar. Difere da citação, que tem que ser feita ao
representante legal que, no caso do município, é o prefeito.

Meios de impugnação da medida liminar:


Agravo de instrumento e PSL.
A previsão do PSL é a do art. 12, § 1.º da LACP e art. 4.º, da Lei 8.437/92:

§ 1º A requerimento de pessoa jurídica de direito público interessada, e para evitar grave


lesão à ordem, à saúde, à segurança e à economia pública, poderá o Presidente do
Tribunal a que competir o conhecimento do respectivo recurso suspender a execução da
liminar, em decisão fundamentada, da qual caberá agravo para uma das turmas
julgadoras, no prazo de 5 (cinco) dias a partir da publicação do ato.

Art. 4º Compete ao presidente do tribunal, ao qual couber o conhecimento do respectivo


recurso, suspender, em despacho fundamentado, a execução da liminar nas ações
movidas contra o Poder Público ou seus agentes, a requerimento do Ministério Público ou
da pessoa jurídica de direito público interessada, em caso de manifesto interesse público ou
de flagrante ilegitimidade, e para evitar grave lesão à ordem, à saúde, à segurança e à
economia públicas.

Procedimento ordinário:
A ACP segue o mesmo rito do CPC.

Sentença na ACP:
Poderá ter qualquer natureza, ou seja, declaratória, executiva, mandamental,
condenatória e constitutiva.
O princípio da atipicidade da tutela coletiva tem previsão no art. 83 do CDC:
Art. 83. Para a defesa dos direitos e interesses protegidos por este código são admissíveis
todas as espécies de ações capazes de propiciar sua adequada e efetiva tutela.

Outra observação quanto à sentença diz respeito à sucumbência. A previsão é a dos arts.
17 e 18 da LACP:
Art. 17. Em caso de litigância de má-fé, a associação autora e os diretores responsáveis
pela propositura da ação serão solidariamente condenados em honorários advocatícios e
ao décuplo das custas, sem prejuízo da responsabilidade por perdas e danos.
Art. 18. Nas ações de que trata esta Lei, não haverá adiantamento de custas,
emolumentos, honorários periciais e quaisquer outras despesas, nem condenação da
associação autora, salvo comprovada má-fé, em honorários de advogado, custas e
despesas processuais.

Se o pólo ativo sair vencedor, os réus serão condenados nos termos do art. 20 e §§ do CPC,
ou seja, terão que pagar custas, despesas processuais e honorários advocatícios, salvo se o
autor for o MP.

Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 42


De acordo com o STJ (Resp 493.823/DF), se o MP for o autor da ação, não há que se pagar
custas e despesas, porque é isento. Não há condenação em honorários porque o MP não
recebe honorários.

Se a ação é julgada improcedente, ou seja, se o pólo passivo não sucumbe, se o autor for o
MP, a Defensoria ou uma associação, haverá isenção quanto aos honorários, salvo se
comprovada litigância de má-fé.
Se o autor for os demais legitimados (administração direta e indireta), aplica-se o art. 20, §§
do CPC, sendo, pois, devidos os honorários advocatícios.
Na nova LACP, terá a previsão de que o autor é isento do pagamento de honorários, custas
e despesas, independente de quem seja.
Recurso e reexame necessário:
O art. 14 da LACP trata do tema, cabendo apelação da sentença.
Ainda, afirma o artigo que a apelação terá efeito suspensivo quando o juiz entenda que a
parte poderá sofrer dano irreparável.
Art. 14. O juiz poderá conferir efeito suspensivo aos recursos, para evitar dano irreparável à
parte.

O prazo da apelação é de 15 dias, aplicando-se os arts. 188 e 191 do CPC.


Não se aplica o prazo do art. 198, II do ECA.
Diz esse dispositivo do ECA que o prazo para recurso é de dez dias. O STJ entende que esse
prazo do ECA não deve ser aplicado nas ações coletivas.

O § 1.º do art. 4.º da Lei 7.853/99 (Estatuto do Deficiente) trata do reexame necessário:
§ 1º A sentença que concluir pela carência ou pela improcedência da ação fica sujeita ao
duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão depois de confirmada pelo tribunal.

No Estatudo do Deficiente o reexame necessário é em favor dos interesses do deficiente. O


reexame necessário aqui é invertido. Se o Estado, por exemplo, sucumbir, não há reexame
necessário. Mas se o deficiente sucumbir, haverá obrigatoriamente o reexame necessário.

Últimas questões processuais da ACP:


- dever de informação: arts. 6.º e 7.º da LACP:
Art. 6º Qualquer pessoa poderá e o servidor público deverá provocar a iniciativa do
Ministério Público, ministrando-lhe informações sobre fatos que constituam objeto da ação
civil e indicando-lhe os elementos de convicção.
Art. 7º Se, no exercício de suas funções, os juízes e tribunais tiverem conhecimento de fatos
que possam ensejar a propositura da ação civil, remeterão peças ao Ministério Público para
as providências cabíveis.

Qualquer pessoa pode e a autoridade judiciária deve informar ao MP sobre eventuais fatos
que possibilitem o ajuizamento da ACP, sob pena de prevaricação.

- diferença entre ACP e ADIN:


A ACP tem efeito erga omnes. Assim, por via da ACP pode-se declarar uma lei
inconstitucional.
Nesse caso, a ACP não estaria suplantando uma ADIN, com usurpação da competência do
STF?
O STF entende que não há incompatibilidade na coexistência de ACP e ADIN, não
havendo qualquer usurpação de competência.
A causa de pedir de uma ADIN é justamente a inconstitucionalidade de uma lei. O pedido
também é a declaração de inconstitucionalidade.
Já a ACP não se presta para o exercício do controle concentrado de constitucionalidade.
Logo, a causa de pedir será a inconstitucionalidade da lei, mas de forma incidental. O

Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 43


pedido, por sua vez, também é a inconsitituciinalidade, mas que seja declarada naquele
caso concreto.
Ex: lei do DF concedendo aos condomínios a possibilidade de utilizar as praças públicas, ou
seja, dá aos particulares um patrimônio público. O PGR pode propor uma ADIN para que
STF declare essa lei inconstitucional.
Mas um promotor pode entrar com uma ACP pedindo a derrubada dos muros construídos
nas praças pelos condomínios, sob fundamento da lei ser inconstitucional.
Ex: lei estadual dizendo que não se podem ser dados medicamentos para quem tem AIDS.
Nesser caso, uma ACP e uma ADIN terão os mesmos efeitos práticos, embora os pedidos e
a causa de pedir são diferentes.
Possibilidade de ajuizamento de ACP em favor de uma única pessoa:
O grande equívoco que existe aqui é chamar de ACP essa ação. A confusão surge por ser
chamar de ACP uma demanda que, na realidade, tutela uma pretensão individual.
Tanto o ECA quanto o Estatuto do Idoso têm disposições específicas que autorizam o MP a
ajuizar essas ações individuais.
Mas fora das hipóteses do idoso e do adolescente pode o MP interpor a ação?
Há duas posições acerca do tema:
- a primeira corrente entende que ação deve ser interposta por meio da Defensoria
Pública. Vide RESPs 684.584/RS e 620.622/RS.
- já o Pleno do STJ, no RE 819.010/SP, entende que o MP pode interpor a ação em favor de
uma única pessoa. É a corrente que prevalece.

AÇÃO POPULAR
Generalidades:
Previsão Legal:
A CF, no inciso LXXIII do art. 5.º da CF, traz a previsão da ação popular:
LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato
lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade
administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo
comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência;

A lei 4.717/65 é o dispositivo legal que trata da Ação Popular. A ação popular é a mais
antiga de todas as ações coletivas e, mesmo assim, só existem duas súmulas acerca do
tema no STF: 101 e 365.
Súmula 101
O mandado de segurança não substitui a ação popular.
Súmula 365 
Pessoa jurídica não tem legitimidade para propor ação popular.
Há doutrinadores que sustentam que pessoa jurídica, em matéria ambiental, possa interpor
uma ação popular.

Natureza da Ação Popular:


Existem três posições acerca da natureza jurídica da Ação Popular:
- os constitucionalistas entendem que a Ação Popular é um writ constitucional. Está ao lado
do MS, habeas corpus, habeas data e mandado de injunção.
- os processualistas entendem que a ação popular é um procedimento especial de
legislação extravagante, tanto quanto a ação civil pública, ação de alimentos, dentre
outras.
- já os administrativistas entendem que a ação popular é um mecanismo constitucional de
controle popular da legalidade/lesividade dos atos do poder público em geral. É a
definição de Hely Lopes Meirelles e é a posição que a doutrina e a jurisprudência mais
aceitam.
Hely Lopes Meirelles ainda afirmava que a ação popular é uma ação de caráter cívico-
administrativo. É um instituto de direito administrativo, mas que fica vinculado à cidadania.
Graças à ação popular que o cidadão exerce o direito subjetivo a ter um governo honesto.

Objeto da Ação Popular:


Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 44
Art. 5.º, LXXIII da CF e art. 1.º, §§ 1.º e 2.º da LAP.
Art. 1º Qualquer cidadão será parte legítima para pleitear a anulação ou a declaração de
nulidade de atos lesivos ao patrimônio da União, do Distrito Federal, dos Estados e dos
Municípios, de entidades autárquicas, de sociedades de economia mista (Constituição, art.
141, § 38), de sociedades mútuas de seguro nas quais a União represente os segurados
ausentes, de empresas públicas, de serviços sociais autônomos, de instituições ou
fundações para cuja criação ou custeio o tesouro público haja concorrido ou concorra
com mais de 50% (cinqüenta por cento) do patrimônio ou da receita ânua de empresas
incorporadas ao patrimônio da União, do Distrito Federal, dos Estados e dos Municípios e de
quaisquer pessoas jurídicas ou entidades subvencionadas pelos cofres públicos.
§ 1º Consideram-se patrimônio público para os fins referidos neste artigo, os bens e direitos
de valor econômico, artístico, estético, histórico ou turístico.
§ 1º com redação dada pelo art. 33 da Lei nº 6.513, de 20 de dezembro de 1977.
§ 2º Em se tratando de instituições ou fundações, para cuja criação ou custeio o tesouro
público concorra com menos de 50% (cinqüenta por cento) do patrimônio ou da receita
ânua, bem como de pessoas jurídicas ou entidades subvencionadas, as conseqüências
patrimoniais da invalidez dos atos lesivos terão por limite a repercussão deles sobre a
contribuição dos cofres públicos.
§ 3º A prova da cidadania, para ingresso em juízo, será feita com o título eleitoral, ou com
documento que a ele corresponda.
§ 4º Para instruir a inicial, o cidadão poderá requerer às entidades a que se refere este
artigo, as certidões e informações que julgar necessárias, bastando para isso indicar a
finalidade das mesmas.
Vide peça processual civil.
§ 5º As certidões e informações, a que se refere o parágrafo anterior, deverão ser
fornecidas dentro de 15 (quinze) dias da entrega, sob recibo, dos respectivos
requerimentos, e só poderão ser utilizadas para a instrução de ação popular.
§ 6º Somente nos casos em que o interesse público, devidamente justificado, impuser sigilo,
poderá ser negada certidão ou informação.
§ 7º Ocorrendo a hipótese do parágrafo anterior, a ação poderá ser proposta
desacompanhada das certidões ou informações negadas, cabendo ao juiz, após apreciar
os motivos do indeferimento e salvo em se tratando de razão de segurança nacional,
requisitar umas e outras; feita a requisição, o processo correrá em segredo de justiça, que
cessará com o trânsito em julgado de sentença condenatória.

A ação popular se presta para a tutela preventiva inibitória ou de remoção do ilícito e/ou
para a tutela reparatória dos seguintes direitos difusos:
a) patrimônio público:
b) moralidade administrativa:
c) meio ambiente:
d) patrimônio histórico cultural:
Quando na aula se falava no objeto da ação civil pública, tratávamos dos direitos
metaindividuais. Enquanto a ACP se presta para a tutela de qualquer interesse
metaindividual, a ação popular só se presta a defender direitos difusos.

Patrimônio público:
O conceito de patrimônio público, para fins de ação popular, é extremamente amplo e
que abarca não só o patrimônio da Administração Direta ou Indireta, como também o de
qualquer entidade de que o Estado participe (Sociedade de Economia Mista) ou
subvencione (entidades particulares que recebem dinheiro público para funcionar).
Art. 1.º da LAP:
Art. 1º Qualquer cidadão será parte legítima para pleitear a anulação ou a declaração de
nulidade de atos lesivos ao patrimônio da União, do Distrito Federal, dos Estados e dos
Municípios, de entidades autárquicas, de sociedades de economia mista (Constituição, art.
141, § 38), de sociedades mútuas de seguro nas quais a União represente os segurados
Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 45
ausentes, de empresas públicas, de serviços sociais autônomos, de instituições ou
fundações para cuja criação ou custeio o tesouro público haja concorrido ou concorra
com mais de 50% (cinqüenta por cento) do patrimônio ou da receita ânua de empresas
incorporadas ao patrimônio da União, do Distrito Federal, dos Estados e dos Municípios e de
quaisquer pessoas jurídicas ou entidades subvencionadas pelos cofres públicos.

Mesmo no caso das entidades que recebem dinheiro público mas que tem capital
provado, cabe ação popular?
O § 2.º do art. 1.º da LAP trata tema:
§ 2º Em se tratando de instituições ou fundações, para cuja criação ou custeio o tesouro
público concorra com menos de 50% (cinqüenta por cento) do patrimônio ou da receita
ânua, bem como de pessoas jurídicas ou entidades subvencionadas, as conseqüências
patrimoniais da invalidez dos atos lesivos terão por limite a repercussão deles sobre a
contribuição dos cofres públicos.

Assim, só cabe ação popular para tratar da parcela que se refira à contribuição dos cofres
públicas, não se prestando o instituo para o desperdício do dinheiro particular.

Particular pode ser réu na ação popular? Sim, desde que receba subvenção pública como
informado acima.

Moralidade administrativa:
É aquilo que chamamos de um conceito jurídico indeterminado. É o conceito que depende
o intérprete para complementar o seu significado.
A boa doutrina entende que moralidade administrativa é o padrão ético e de boa-fé no
trato com a coisa pública.

Comportamentos que violam a moralidade administrativa segunda a jurisprudência:


a) nepotismo:
a súmula vinculante n.º 13 do STJ já tratou acerca do tema:
A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por
afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma
pessoa jurídica investido em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício
de cargo em comissão ou de confiança ou, ainda, de função gratificada na administração
pública direta e indireta em qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal
e dos Municípios, compreendido o ajuste mediante designações recíprocas, viola a
Constituição Federal.

b) propaganda institucional:
O § 1.º do art. 37 da CF trata do tema:
§ 1º - A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos
deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo
constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades
ou servidores públicos.

Se eventualmente o servidor fizer propaganda institucional vedada cabe ação popular por
ofensa à moralidade administrativa.

Meio ambiente:
O cidadão pode tutelar o meio ambiente pela via da ação popular. Toda a matéria já foi
vista quando tratou-se da ação pública, aplicando-se à ação popular, inclusive, a teoria do
risco integral.
Não cabe ação popular na tutela do meio ambiente se o dano não tiver sido provocado
pelo poder público. Assim, se uma empresa polui um rio não cabe ação popular, porque

Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 46


ela só se presta para atacar atos do poder público. Apesar de criticas da doutrina, a
jurisprudência corrobora com esse entendimento.
Patrimônio histórico cultural:
Aplicam-se as disposições estudadas quando da análise da ACP.

O rol de tutela da ação popular visto acima é taxativo, numerus clausus, diferentemente da
ação civil pública. Tal é a posição do STJ, manifestada no RESP 818.725/SP Rel. Min. Luiz Fux,
julgado em 13/05/2008. Essa ação tentava tutelar direitos dos consumidores e foi extinta sem
julgamento de mérito justamente pela inadequação da via da ação popular.

Cabimento da Ação Popular:


Cabe contra atos ilegais e lesivos.
a) ato:
- atos administrativos:
A regra geral é a de que a ação popular caiba contra atos administrativos, que são toda
manifestação de vontade tendente a adquirir, resguardar, transferir, modificar, extinguir ou
declarar direitos em favor da Administração Pública.
Exemplos de atos administrativos que podem ser atacados por via de ação popular:
contratos, portarias, decretos etc.
Não se deve deixar de mencionar que tanto os atos administrativos comissivos quanto os
omissivos podem ser atacados pela via da ação popular.
Mas há uma hipótese de ato que se entende administrativo que não cabe ação popular.
Assim, não cabe ação popular contra atos de natureza política. Ex: ato que declara guerra,
paz, nomeação de ministro etc.

- atos legislativos:
Não cabe ação popular, regra geral, contra atos legislativos. Até porque o ato legislativo é
um comando abstrato, que atinge a todos indiscriminadamente.
Mas há uma exceção. Entende-se que cabe ação popular se se tratar de Lei de efeitos
concretos.
A Lei de efeito concreto nada mais é senão um ato administrativo com roupagem de lei. É
um ato administrativo no conteúdo e uma lei na forma. Por isso, quando se está diante de
uma lei de efeito concreto, tem-se que ela está plenamente em operação. Gera efeitos a
qualquer pessoa independentemente de um ato administrativo complementar. Ex: Lei que
cria um Município; lei que desapropria área de proteção ambiental. Nesses dois casos,
admite-se a interposição de uma ação popular.

- atos jurisdicionais:
Não cabe, regra geral, ação popular contra atos jurisdicionais. Isso porque decisões judiciais
são controláveis pelas vias do recurso e não se pode admitir que a ação popular seja um
sucedâneo recursal.
Mas há uma hipótese que cabe ação popular contra ato jurisdicional. O STJ entende que
cabe ação popular contra sentença homologatória de acordo judicial (RESP 906.400/SP,
Rel. Min. Castro Meira). A prefeitura de uma cidade estava desapropriando uma área e na
metade do processo fez uma proposta ao expropriando de um valor excessivamente alto,
lesivo, pois, ao patrimônio público. Mas o juiz homologou o acordo, tendo havido o transito
em julgado. O STJ entendeu que nesse caso, mesmo em se tratando de sentença judicial,
cabe ação popular.

- atos particulares:
Não cabe, regra geral. Isso porque a ação popular se presta para a defesa do patrimônio
público e dos atos praticados pelo Estado.
Mas há uma exceção. Cabe ação popular contra ato praticado com dinheiro público por
pessoa subvencionada.

Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 47


b) ilegal:
Quando se fala em ilegal, está abrangido o ato nulo, anulável, inexistente, não importando
a extensão da anulabilidade.
Atos ilegais são aqueles que violam os elementos do ato administrativo, que são a
competência (capacidade), forma, objeto lícito, motivo e finalidade.
Toda vez que se tiver uma ofensa a qualquer desses atos, poderá ser atacado pela via da
ação popular.
A LAP, no art. 2.º trata do tema:
Art. 2º São nulos os atos lesivos ao patrimônio das entidades mencionadas no artigo
anterior, nos casos de:
a) incompetência;
b) vício de forma;
c) ilegalidade do objeto;
d) inexistência dos motivos;
e) desvio de finalidade.
Parágrafo único. Para a conceituação dos casos de nulidade observar- se-ão as seguintes
normas:
a) a incompetência fica caracterizada quando o ato não se incluir nas atribuições legais do
agente que o praticou;
b) o vício de forma consiste na omissão ou na observância incompleta ou irregular de
formalidades indispensáveis à existência ou seriedade do ato;
c) a ilegalidade do objeto ocorre quando o resultado do ato importa em violação de lei,
regulamento ou outro ato normativo;
d) a inexistência dos motivos se verifica quando a matéria de fato ou de direito, em que se
fundamenta o ato, é materialmente inexistente ou juridicamente inadequada ao resultado
obtido;
e) o desvio da finalidade se verifica quando o agente pratica o ato visando a fim diverso
daquele previsto, explícita ou implicitamente, na regra de competência.

O rol do art. 2.º da LAP é meramente exemplificativo. O art. 3.º explica o porquê:
Art. 3º Os atos lesivos ao patrimônio das pessoas de direito público ou privado, ou das
entidades mencionadas no art. 1º, cujos vícios não se compreendam nas especificações
do artigo anterior, serão anuláveis, segundo as prescrições legais, enquanto compatíveis
com a natureza deles.

Exemplos: concurso público ou licitação com pouca publicidade.

c) lesivo:

A jurisprudência dominante ainda insiste que a ação popular só é cabível se observado o


binômio ilegalidade e lesividade. Deverá haver ambos para que possa ser manejada a
ação popular.
Pode-se ter um ato tido por ilegal, mas que não causa qualquer prejuízo ao erário. Ex:
nomeação feita pelo procurador do município. Não podia ter nomeado, mas se não fosse
ele, o prefeito teria feito essa nomeação.
O STJ manteve esse posicionamento no RESP 952.899/DF, Rel. Min. José Delgado, julgado
em 03 de junho de 2008.

Em doutrina e jurisprudência se encontram, entretanto, entendimentos no sentido de que


há lesividade presumida nas hipóteses de ofensa à moralidade administrativa. Esse
entendimento é respeitável.
Essa presunção de lesividade não encontra previsão legal.

Mas há hipóteses previsão legal de presunção absoluta de lesividade. O art. 4.º da LAP trata
do tema:
Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 48
Art. 4º São também nulos os seguintes atos ou contratos, praticados ou celebrados por
quaisquer das pessoas ou entidades referidas no art. 1º:
I - a admissão ao serviço público remunerado, com desobediência, quanto às condições
de habilitação das normas legais, regulamentares ou constantes de instruções gerais;
II - a operação bancária ou de crédito real, quando:
a) for realizada com desobediência a normas legais, regulamentares, estatutárias,
regimentais ou internas;
b) o valor real do bem dado em hipoteca ou penhor for inferior ao constante de escritura,
contrato ou avaliação;
III - a empreitada, a tarefa e a concessão do serviço público, quando:
a) o respectivo contrato houver sido celebrado sem prévia concorrência pública ou
administrativa, sem que essa condição seja estabelecida em lei, regulamento ou norma
geral;
b) no edital de concorrência forem incluídas cláusulas ou condições, que comprometam o
seu caráter competitivo;
c) a concorrência administrativa for processada em condições que impliquem na limitação
das possibilidades normais de competição;
IV - as modificações ou vantagens, inclusive prorrogações que forem admitidas, em favor
do adjudicatário, durante a execução dos contratos de empreitada, tarefa e concessão
de serviço público, sem que estejam previstas em lei ou nos respectivos instrumentos;
V - a compra e venda de bens móveis ou imóveis, nos casos em que não for cabível
concorrência pública ou administrativa, quando:
a) for realizada com desobediência a normas legais regulamentares, ou constantes de
instruções gerais;
b) o preço de compra dos bens for superior ao corrente no mercado, na época da
operação;
c) o preço de venda dos bens for inferior ao corrente no mercado, na época da operação;
Vide peça processual civil.
VI - a concessão de licença de exportação ou importação, qualquer que seja a sua
modalidade, quando:
a) houver sido praticada com violação das normas legais e regulamentares ou de
instruções e ordens de serviço;
b) resulta em exceção ou privilégio, em favor de exportador ou importador;
VII - a operação de redesconto quando, sob qualquer aspecto, inclusive o limite de valor,
desobedecer a normas legais, regulamentares ou constantes de instruções gerais;
VIII - o empréstimo concedido pelo Banco Central da República, quando:
a) concedido com desobediência de quaisquer normas legais, regulamentares, regimentais
ou constantes de instruções gerais;
b) o valor dos bens dados em garantia, na época da operação, for inferior ao da
avaliação;
IX - a omissão quando efetuada sem observância das normas constitucionais, legais e
regulamentadoras que regem a espécie.
Nos casos acima, a previsão de lesividade é legal, ou seja, a sua presunção é absoluta.
Diferentemente da presunção relativa, a absoluta não admite prova em contrário.
Assim, se se contrata, mesmo que sem ônus para o erário, um expert em determinado
assunto sem a realização de concurso público, mesmo assim, tal ato é atacável via ação
popular, justamente porque a presunção é absoluta.

Legitimidade na ação popular:

Cidadão titular de direitos civis e políticos.

Quem pode Quem não pode

Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 49


16 anos em diante + título de eleitor* - é aquele com título cancelado (art.
7º, § 3º, CE);

Brasileiro nato ou naturalizado - conscrito (art. 14, §2º, da CF) –


período de serviço militar obrigatório

Português (art. 12, §1º, da CF) ** - perda da nacionalidade (art. 12, §4º)

Daquele que não votou na última - perda ou suspensão dos direitos


eleição. O art. 7º, § 3º, CE estabelece políticos (art. 15, CF)
que pode ficar 03 eleições sem votar,
justificar ou pagar multa. ****

* O STJ estabeleceu que o menor de 16 anos em diante tem legitimidade para a ação
popular, pois não tem lógica a idéia de que o menor só adquire maturidade aos 18 anos.

** em tese é possível, pois em Portugal não existe essa possibilidade, ou seja, em Portugal o
brasileiro não pode propor a ação popular.

**** alguns apontam que tem que votar na última eleição, precisa provar que votou na
última eleição mediante a juntada do comprovante.

Legitimidade ativa:
É do cidadão nato ou naturalizado. Mas qual o conceito de cidadão para o ordenamento
jurídico pátrio?
Em doutrina, há três posições acerca do tema:
- a primeira corrente é da Profa. Teresa Arruda Alvim Wambier. Ela afirma que cidadão é
qualquer integrante da população brasileira. É uma posição largamente minoritária.
- a segunda corrente entende que cidadão é quem vota e pode ser votado. Por essa
posição, apenas os maiores de 18 anos é que podem propor ação popular. Precisa, pois,
ter inscrição na justiça eleitoral.
- a terceira corrente, dominante e com precedente no RESP 889.766/SP. Cidadão é aquele
que pode votar, ou seja, os maiores de 16 que tenham inscrição eleitoral.

Para a propositura da Ação Popular, há a necessidade de quitação com a justiça eleitoral?


Há duas correntes acerca do tema:
- a primeira corrente diz que deve estar o cidadão quite com a justiça eleitoral.
- a segunda corrente entende que o conceito de quitação eleitoral é o do art. 7.º, § 3.º do
Código Eleitoral, que afirma que o cidadão terá o título cancelado se não votar por três
vezes consecutivas.
§ 3º Realizado o alistamento eleitoral pelo processo eletrônico de dados, será cancelada a
inscrição do eleitor que não votar em 3 (três) eleições consecutivas, não pagar a multa ou
não se justificar no prazo de 6 (seis) meses, a contar da data da última eleição a que
deveria ter comparecido. (Incluído pela Lei nº 7.663, de 27.5.1988)

Perda da legitimidade no curso da ação popular:


o Art. 15 da CF estabelece hipóteses em que a pessoa vai ter destituído ou suspensos os
seus direitos políticos.
Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos
casos de:
I - cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado;
II - incapacidade civil absoluta;
III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos;
Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 50
IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do
art. 5º, VIII;
V - improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º.

Se perde os direitos políticos no curso da ação, no processo individual, o processo seria


extinto sem julgamento de mérito. Mas no processo coletivo, a doutrina indica que o juiz
deve mandar publicar editais, nos termos do art. 9.º da LAP. Se ninguém assumir a
titularidade do processo, pode fazê-lo o MP.
Art. 9º Se o autor desistir da ação ou der motivo à absolvição da instância, serão
publicados editais nos prazos e condições previstos no art. 7º, II, ficando assegurado a
qualquer cidadão bem como ao representante do Ministério Público, dentro do prazo de 90
(noventa) dias da última publicação feita, promover o prosseguimento da ação.

Possibilidade de formação de litisconsórcio ativo facultativo entre cidadãos:


Art. 6.º, § 5.º da LAP:
§ 5º É facultado a qualquer cidadão habilitar-se como litisconsorte ou assistente do autor
da ação popular.

Esse litisconsórcio ativo é unitário.

Impossibilidade de ajuizamento de ação popular por pessoa jurídica:


Súmula 365 do STF:
Súmula 365 
Pessoa jurídica não tem legitimidade para propor ação popular.

Na doutrina, havia quem sustentasse que a ação popular ambiental poderia ser ajuizada
por qualquer pessoa, física ou jurídica.

Natureza da legitimação ativa do autor da ação popular:


Tem-se entendimento majoritariamente que a legitimada do autor da ação popular é
extraordinária. É a posição de Hely Lopes Meirelles, José Afonso da Silva, Arruda Alvim e STF,
no julgamento da Reclamação 424/RJ.
O autor age aqui em nome próprio na defesa de interesse alheio.

Legitimidade passiva:
Na ação popular, a legitimidade passiva tem previsão no art. 6.º da LAP:
Art. 6º A ação será proposta contra as pessoas públicas ou privadas e as entidades
referidas no art. 1º, contra as autoridades, funcionários ou administradores que houverem
autorizado, aprovado, ratificado ou praticado o ato impugnado, ou que, por omissão,
tiverem dado oportunidade à lesão, e contra os beneficiários diretos do mesmo.

Haverá um litisconsórcio necessário entre três grupos de pessoas: pessoa jurídica (direito
público ou privado subvencionada); todos os que participaram da formação do ato
atacado; beneficiários diretos dos atos.

Qual é a natureza desse litisconsórcio passivo necessário? É simples, não sendo unitário
porque pode ser provado que algum ou alguns dos legitimados passivos não tenham tido
qualquer participação no ato atacado.

Art. 7.º, III da LAP:


Prevê uma hipótese de litisconsórcio passivo ulterior.
Art. 7º A ação obedecerá o procedimento ordinário, previsto no Código de Processo Civil,
observadas as seguintes normas modificativas:
III - Qualquer pessoa, beneficiada ou responsável pelo ato impugnado, cuja existência ou
identidade se torne conhecida no curso do processo e antes de proferida a sentença final
de primeira instância, deverá ser citada para a integração do contraditório, sendo-lhe
Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 51
restituído o prazo para contestação e produção de provas. Salvo quanto a beneficiário, se
a citação se houver feito na forma do inciso anterior.

Especial posição da pessoa jurídica lesada:


Art. 6.º, § 3.º da LAP:
§ 3º A pessoa jurídica de direito público ou de direito privado, cujo ato seja objeto de
impugnação, poderá abster-se de contestar o pedido, ou poderá atuar ao lado do autor,
desde que isso se afigure útil ao interesse público, a juízo do respectivo representante legal
ou dirigente.

A pessoa jurídica pode escolher atuar no pólo ativo, no pólo passivo ou simplesmente se
omitir. A pessoa jurídica começa como réu. Se achar que é improcedente, defenderá o ato
atacado.

Ministério público:
Art. 6.º, § 4.º da LAP:
§ 4º O Ministério Público acompanhará a ação, cabendo-lhe apressar a produção da
prova e promover a responsabilidade, civil ou criminal, dos que nela indicarem, sendo-lhe
vedado, em qualquer hipótese, assumir a defesa do ato impugnado ou dos seus autores.

A parte final negritada não foi recepcionada pela CF/88, porque fere a autonomia do MP.

Particularidades procedimentais:
Art. 7.º da LAP:
Art. 7º A ação obedecerá o procedimento ordinário, previsto no Código de Processo Civil,
observadas as seguintes normas modificativas:
I - Ao despachar a inicial o juiz ordenará:
a) além da citação dos réus, a intimação do representante do Ministério Público;
b) a requisição às entidades indicadas na petição inicial, dos documentos que tiverem sido
referidos pelo autor (art. 1º, § 6º), bem como a de outros que se lhe afigurem necessários ao
esclarecimento dos fatos, fixando o prazo de 15 (quinze) a 30 (trinta) dias para o
atendimento.

O autor da ação popular, nos termos do art 1.º, §§ 4.º a 7.º, e 7.º, I, “a”, pode, antes de
interpor a ação popular, requisitar documentos.

Art. 7.º, IV da LAP:


Art. 7º A ação obedecerá o procedimento ordinário, previsto no Código de Processo Civil,
observadas as seguintes normas modificativas:
IV - O prazo de contestação é de 20 (vinte) dias prorrogáveis por mais 20 (vinte), a
requerimento do interessado, se particularmente difícil a produção de prova documental, e
será comum a todos os interessados, correndo da entrega em cartório do mandado
cumprido, ou, quando for o caso, do decurso do prazo assinado em edital.

O prazo de contestação é de 20 dias, prorrogáveis por mais 20 dias a requerimento do


interessado.
Não se aplica, por isso, o art. 188 e 191 do Código de Processo Civil. O STJ afirma que para
todos os demais prazos da LAP, aplicam-se os arts. 188 e 191 do CPC.

Diversamente da ACP, na Ação Popular a sentença só pode ser desconstitutiva ou


condenatória. É o que reza o art. 11 da LAP:
Art. 11. A sentença que julgando procedente a ação popular decretar a invalidade do ato
impugnado, condenará ao pagamento de perdas e danos os responsáveis pela sua prática
e os beneficiários dele, ressalvada a ação regressiva contra os funcionários causadores de
dano, quando incorrerem em culpa.
Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 52
Nos termos do art. 15 da LAP, não há sanções político-administrativas ou criminais na Ação
Popular.
Art. 15. Se, no curso da ação, ficar provada a infringência da lei penal ou a prática de falta
disciplinar a que a lei comine a pena de demissão, ou a de rescisão de contrato de
trabalho, o juiz, ex officio, determinará a remessa de cópia autenticada das peças
necessárias às autoridades ou aos administradores a quem competir aplicar a sanção.

Assim, a ação popular não tem o condão que tem a LIA de punir o responsável. RESP
879.360/SP, julgado em 17 de junho de 2008.

Nos termos do art. 19 da LAP, a apelação tem duplo efeito, suspensivo e devolutivo.
Art. 19. A sentença que concluir pela carência ou pela improcedência da ação está
sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão depois de confirmada pelo
tribunal; da que julgar a ação procedente, caberá apelação, com efeito suspensivo.

Ainda, na Ação Popular o reexame necessário é invertido, ou seja, em favor da


coletividade. Se o autor da ação popular sucumbir, a sentença terá obrigatoriamente que
ser submetida ao duplo grau de jurisdição.

Tenho inscrição eleitoral em Fortaleza. Possuo legitimidade e interesse de agir para defender
ato que fere a moralidade administrativa do município de Quiterianópolis?

Aula 05 27/03/2009

Aspectos processuais da LIA:

1) Previsão legal:
O regime da improbidade é tratado no art. 37, § 4.º da CF, que afirma que os agentes
públicos poderão ser processados por improbidade administrativa na forma da lei. Esta é a
8.429/92.

2) Natureza Jurídica:
Tem prevalecido na doutrina que a probidade administrativa é uma espécie do gênero
moralidade administrativa. O princípio da moralidade açambarca várias coisas, dentre elas
a probidade administrativa.
Mas qual a natureza da ação de improbidade administrativa?
Existem duas posições na doutrina acerca da natureza jurídica dessa ação:
- a primeira corrente entende que é uma ACP: não há pois necessidade de classificar a
improbidade como espécie autônoma de ação. Assim, seria correto a terminologia Ação
Civil Pública de Improbidade Administrativa. Diferiria da ACP apenas na causa de pedir,
que na ação de improbidade seria a probidade administrativa.
- a segunda corrente, que é a do professor, entende que a ação de improbidade tem
natureza de ação de improbidade administrativa, sendo, portanto, diferente da ACP. Paulo
Sirvinskas, tratando de matéria ambiental, afirmou que difere da ACP porque não podem
correr ao mesmo tempo.

De qualquer modo, adotando qualquer das posições, deve-se entender que na inexistência
de norma específica na LIA, aplica-se o regime da ACP.

3) Constitucionalidade da Lei 8.429/92:


Essa discussão tem andamento no julgamento da ADIN 2.182. quando a LIA foi
encaminhada ao CN, a casa que o iniciou foi a Câmara. Quando chegou ao Senado, este
apresentou um substitutivo ao PL da Câmara. Quando voltou À Câmara, esta rejeitou o

Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 53


substitutivo, reiterou o projeto primitivo, colocando apenas alguns pontos do substitutivo. Foi
interposta uma ADIN, cujo fundamento foi a não obediência ao processo legislativo.
A cautelar dessa ADIn, por dez votos a um, entendeu que não há vício no processo
legislativo. Afirmou o STF que quando a Câmara vota pela segunda vez, ainda que altera o
projeto de lei encaminhado, isso não significa que toda vez que altera o projeto, não deve
voltar ao Senado, pois se assim fosse o processo legislativo nunca acabaria.

4) Legitimidade:
4.1. Legitimidade ativa: art. 17 da LIA:
Art. 17. A ação principal, que terá o rito ordinário, será proposta pelo Ministério Público ou
pela pessoa jurídica interessada, dentro de trinta dias da efetivação da medida cautelar.

A pessoa jurídica interessada é a pessoa jurídica de direito público, vítima da improbidade


administrativa.
A Defensoria Pública não tem legitimidade para propor a ação de improbidade
administrativa.

4.2. Legitimidade passiva: arts 2.º e 3.º da LIA:


Art. 2° Reputa-se agente público, para os efeitos desta lei, todo aquele que exerce, ainda
que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação,
contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego
ou função nas entidades mencionadas no artigo anterior.
Art. 3° As disposições desta lei são aplicáveis, no que couber, àquele que, mesmo não
sendo agente público, induza ou concorra para a prática do ato de improbidade ou dele se
beneficie sob qualquer forma direta ou indireta.

Ação de improbidade contra os agentes políticos:


Agente político nada mais é senão aquele que exerce parcela de poder do Estado. Exs:
senadores, deputados, vereadores, presidente, governadores, prefeitos, ministros de estado
(exercem parcela de poder cuja previsão é da CF), membros do judiciário (juízes,
desembargadores, ministros), embaixadores, cônsules.
A discussão que se trava com mais veemência diz respeito ao fato se é ou não o MP
agente político. Para o professor, é agente político, mas essa questão não é pacífica.

O STF enfrentou essa questão na Reclamação 2.138. Entendeu a Corte que para o agente
público o regime de responsabilidade político-administrativo pode se dá de duas maneiras:
- art. 37, § 4.º da CF e LIA, que é o regime da improbidade administrativa:

- Lei 1.079/50, no caso dos agentes públicos federais e Decreto-Lei 201/67, no caso de
prefeitos e vereadores.
EMENTA: RECLAMAÇÃO. USURPAÇÃO DA COMPETÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. CRIME DE RESPONSABILIDADE. AGENTES POLÍTICOS. I.
PRELIMINARES. QUESTÕES DE ORDEM. I.1. Questão de ordem quanto à manutenção da
competência da Corte que justificou, no primeiro momento do julgamento, o
conhecimento da reclamação, diante do fato novo da cessação do exercício da função
pública pelo interessado. Ministro de Estado que posteriormente assumiu cargo de Chefe de
Missão Diplomática Permanente do Brasil perante a Organização das Nações Unidas.
Manutenção da prerrogativa de foro perante o STF, conforme o art. 102, I, "c", da
Constituição. Questão de ordem rejeitada. I.2. Questão de ordem quanto ao
sobrestamento do julgamento até que seja possível realizá-lo em conjunto com outros
processos sobre o mesmo tema, com participação de todos os Ministros que integram o
Tribunal, tendo em vista a possibilidade de que o pronunciamento da Corte não reflita o
entendimento de seus atuais membros, dentre os quais quatro não têm direito a voto, pois
seus antecessores já se pronunciaram. Julgamento que já se estende por cinco anos.
Celeridade processual. Existência de outro processo com matéria idêntica na seqüência da
Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 54
pauta de julgamentos do dia. Inutilidade do sobrestamento. Questão de ordem rejeitada. II.
MÉRITO. II.1. Improbidade administrativa. Crimes de responsabilidade. Os atos de
improbidade administrativa são tipificados como crime de responsabilidade na Lei nº
1.079/1950, delito de caráter político-administrativo. II.2. Distinção entre os regimes de
responsabilização político-administrativa. O sistema constitucional brasileiro distingue o
regime de responsabilidade dos agentes políticos dos demais agentes públicos. A
Constituição não admite a concorrência entre dois regimes de responsabilidade político-
administrativa para os agentes políticos: o previsto no art. 37, § 4º (regulado pela Lei nº
8.429/1992) e o regime fixado no art. 102, I, "c", (disciplinado pela Lei nº 1.079/1950). Se a
competência para processar e julgar a ação de improbidade (CF, art. 37, § 4º) pudesse
abranger também atos praticados pelos agentes políticos, submetidos a regime de
responsabilidade especial, ter-se-ia uma interpretação ab-rogante do disposto no art. 102, I,
"c", da Constituição. II.3. Regime especial. Ministros de Estado. Os Ministros de Estado, por
estarem regidos por normas especiais de responsabilidade (CF, art. 102, I, "c"; Lei nº
1.079/1950), não se submetem ao modelo de competência previsto no regime comum da
Lei de Improbidade Administrativa (Lei nº 8.429/1992). II.4. Crimes de responsabilidade.
Competência do Supremo Tribunal Federal. Compete exclusivamente ao Supremo Tribunal
Federal processar e julgar os delitos político-administrativos, na hipótese do art. 102, I, "c", da
Constituição. Somente o STF pode processar e julgar Ministro de Estado no caso de crime de
responsabilidade e, assim, eventualmente, determinar a perda do cargo ou a suspensão de
direitos políticos. II.5. Ação de improbidade administrativa. Ministro de Estado que teve
decretada a suspensão de seus direitos políticos pelo prazo de 8 anos e a perda da função
pública por sentença do Juízo da 14ª Vara da Justiça Federal - Seção Judiciária do Distrito
Federal. Incompetência dos juízos de primeira instância para processar e julgar ação civil de
improbidade administrativa ajuizada contra agente político que possui prerrogativa de foro
perante o Supremo Tribunal Federal, por crime de responsabilidade, conforme o art. 102, I,
"c", da Constituição. III. RECLAMAÇÃO JULGADA PROCEDENTE. (Grifamos)

O STF decidiu que tanto no primeiro quanto no segundo regime, uma das consequencias é
a suspensão dos direitos políticos e a perda do cargo.
As sanções previstas no segundo regime são considerados crimes de responsabilidade, cuja
competência pode ser do Senado, do STF ou do TJ/TRF.
Quando incide o primeiro regime, quem julga é a primeira instância, já que não há regra
própria.
Depois de observar essas particularidades, o STF entendeu que quando o sujeito for agente
político e as suas condutas estiverem sujeitas a crime de responsabilidade, só respondem
por crime de responsabilidade e jamais por responsabilidade administrativa.

Esse julgamento do STF deixou, no entanto, três lacunas:


Esse julgamento se deu em reclamação, logo não tem efeito vinculante, pois o julgamento
se deu por 6x5. Mas todos os agentes que estão sendo processados por improbidade
interpõe reclamação, mas o STF afirma justamente que o caso da Reclamação 2.138 não
tem efeito vinculante.

O segundo problema diz respeito ao fato de que há condutas ilícitas que estão na LIA, mas
não estão na lei 1.079/50 e Decreto-Lei 201/67, que tratam do crime de responsabilidade.
Existem duas posições na doutrina acerca desse tema:
- a primeira corrente diz que nesse caso aplica-se a LIA, ou seja, se não houver previsão no
Decreto Lei 201 e Lei 1/079/50, aplica-se a LIA.
- a segunda posição, que é a de LFG, entende que mesmo nesse caso de lacuna não se
aplica a LIA.

A terceira questão sem solução deixada pelo STF é a seguinte: na lei 1.079/50 e no Decreto-
Lei 201/67, há alguns agentes políticos não regulamentados. Ex: deputado federal, juiz.

Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 55


Não tendo previsão na lei 1.079/50 e no Decreto Lei 201/67, aplica-se a improbidade? Não
há resposta unânime na doutrina.
Nesse caso, como não há previsão legal de conduta, o professor entende que o agente
responde pela LIA.

5) Competência:
A competência sempre é de primeira instância.
Isso ocorreu porque no julgamento das ADINS 2757 e 2860, o STF entendeu que o art. 84 do
CPP, acrescentado pela Lei 10.628/2002, é inconstitucional.

Essa regra, no entanto, sofre uma atenuante. Apesar de ser o julgamento em primeira
instância, se admitido o cabimento da improbidade administrativa contra os agentes
políticos, o juiz de primeira instância não poderá decretar a perda do cargo caso a forma
de investidura e desinvestidura constitucional seja diversa, prevista na CF. Ora, o Presidente
da República é eleito com milhões de votos, e não haveria sentido que um juiz de primeira
instância o afastasse do cargo.
Ex: deputado, que apenas perde o cargo por decisão dos próprios colegas.

6) Objeto e sanções:
Existem três espécies de improbidade administrativa:
a) art. 9.º da LIA: enriquecimento ilícito do agente.
Art. 9° Constitui ato de improbidade administrativa importando enriquecimento ilícito auferir
qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida em razão do exercício de cargo,
mandato, função, emprego ou atividade nas entidades mencionadas no art. 1° desta lei, e
notadamente:
I - receber, para si ou para outrem, dinheiro, bem móvel ou imóvel, ou qualquer outra
vantagem econômica, direta ou indireta, a título de comissão, percentagem, gratificação
ou presente de quem tenha interesse, direto ou indireto, que possa ser atingido ou
amparado por ação ou omissão decorrente das atribuições do agente público;
II - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para facilitar a aquisição, permuta
ou locação de bem móvel ou imóvel, ou a contratação de serviços pelas entidades
referidas no art. 1° por preço superior ao valor de mercado;
III - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para facilitar a alienação, permuta
ou locação de bem público ou o fornecimento de serviço por ente estatal por preço inferior
ao valor de mercado;
IV - utilizar, em obra ou serviço particular, veículos, máquinas, equipamentos ou material de
qualquer natureza, de propriedade ou à disposição de qualquer das entidades
mencionadas no art. 1° desta lei, bem como o trabalho de servidores públicos, empregados
ou terceiros contratados por essas entidades;
V - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou indireta, para tolerar a
exploração ou a prática de jogos de azar, de lenocínio, de narcotráfico, de contrabando,
de usura ou de qualquer outra atividade ilícita, ou aceitar promessa de tal vantagem;
VI - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou indireta, para fazer
declaração falsa sobre medição ou avaliação em obras públicas ou qualquer outro
serviço, ou sobre quantidade, peso, medida, qualidade ou característica de mercadorias
ou bens fornecidos a qualquer das entidades mencionadas no art. 1º desta lei;
VII - adquirir, para si ou para outrem, no exercício de mandato, cargo, emprego ou função
pública, bens de qualquer natureza cujo valor seja desproporcional à evolução do
patrimônio ou à renda do agente público;
VIII - aceitar emprego, comissão ou exercer atividade de consultoria ou assessoramento
para pessoa física ou jurídica que tenha interesse suscetível de ser atingido ou amparado
por ação ou omissão decorrente das atribuições do agente público, durante a atividade;
IX - perceber vantagem econômica para intermediar a liberação ou aplicação de verba
pública de qualquer natureza;

Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 56


X - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou indiretamente, para
omitir ato de ofício, providência ou declaração a que esteja obrigado;
XI - incorporar, por qualquer forma, ao seu patrimônio bens, rendas, verbas ou valores
integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1° desta lei;
XII - usar, em proveito próprio, bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo
patrimonial das entidades mencionadas no art. 1° desta lei.

De acordo coma doutrina majoritária, a conduta do art. 9.º da LIA só é apenada se o


agente agir com dolo.

b) art. 10 da Lia: qualquer conduta que cause lesão ao patrimônio publico.

Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualquer
ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação,
malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º
desta lei, e notadamente:
I - facilitar ou concorrer por qualquer forma para a incorporação ao patrimônio particular,
de pessoa física ou jurídica, de bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo
patrimonial das entidades mencionadas no art. 1º desta lei;
II - permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica privada utilize bens, rendas,
verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1º
desta lei, sem a observância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à
espécie;
III - doar à pessoa física ou jurídica bem como ao ente despersonalizado, ainda que de fins
educativos ou assistências, bens, rendas, verbas ou valores do patrimônio de qualquer das
entidades mencionadas no art. 1º desta lei, sem observância das formalidades legais e
regulamentares aplicáveis à espécie;
IV - permitir ou facilitar a alienação, permuta ou locação de bem integrante do patrimônio
de qualquer das entidades referidas no art. 1º desta lei, ou ainda a prestação de serviço por
parte delas, por preço inferior ao de mercado;
V - permitir ou facilitar a aquisição, permuta ou locação de bem ou serviço por preço
superior ao de mercado;
VI - realizar operação financeira sem observância das normas legais e regulamentares ou
aceitar garantia insuficiente ou inidônea;
VII - conceder benefício administrativo ou fiscal sem a observância das formalidades legais
ou regulamentares aplicáveis à espécie;
VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou dispensá-lo indevidamente;
IX - ordenar ou permitir a realização de despesas não autorizadas em lei ou regulamento;
X - agir negligentemente na arrecadação de tributo ou renda, bem como no que diz
respeito à conservação do patrimônio público;
XI - liberar verba pública sem a estrita observância das normas pertinentes ou influir de
qualquer forma para a sua aplicação irregular;
XII - permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro se enriqueça ilicitamente;
XIII - permitir que se utilize, em obra ou serviço particular, veículos, máquinas, equipamentos
ou material de qualquer natureza, de propriedade ou à disposição de qualquer das
entidades mencionadas no art. 1° desta lei, bem como o trabalho de servidor público,
empregados ou terceiros contratados por essas entidades.
XIV – celebrar contrato ou outro instrumento que tenha por objeto a prestação de serviços
públicos por meio da gestão associada sem observar as formalidades previstas na lei;
(Incluído pela Lei nº 11.107, de 2005)
XV – celebrar contrato de rateio de consórcio público sem suficiente e prévia dotação
orçamentária, ou sem observar as formalidades previstas na lei. (Incluído pela Lei nº 11.107,
de 2005)

Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 57


A doutrina entende que no caso do art. 10 a conduta será apenada se o agente agir com
dolo ou culpa.

c) art. 11 da LIA: violação dos princípios da administração pública.


Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da
administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade,
imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições, e notadamente:
I - praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou diverso daquele previsto, na
regra de competência;
II - retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício;
III - revelar fato ou circunstância de que tem ciência em razão das atribuições e que deva
permanecer em segredo;
IV - negar publicidade aos atos oficiais;
V - frustrar a licitude de concurso público;
VI - deixar de prestar contas quando esteja obrigado a fazê-lo;
VII - revelar ou permitir que chegue ao conhecimento de terceiro, antes da respectiva
divulgação oficial, teor de medida política ou econômica capaz de afetar o preço de
mercadoria, bem ou

O agente só pode ser apenado se agir com dolo.

A doutrina afirma que o art. 11 é um tipo subsidiário ou de reserva, ou seja, as condutas


previstas nos artigos 9.º e 10 podem ser incluídas dentro do artigo 11.
A LIA estabelece a sanção de acordo com a gravidade da conduta, da mais grave para a
menos grave. Exatamente por isso que na LIA há três tipos de sanção. Art. 12:
Art. 12. Independentemente das sanções penais, civis e administrativas, previstas na
legislação específica, está o responsável pelo ato de improbidade sujeito às seguintes
cominações:
I - na hipótese do art. 9°, perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio,
ressarcimento integral do dano, quando houver, perda da função pública, suspensão dos
direitos políticos de oito a dez anos, pagamento de multa civil de até três vezes o valor do
acréscimo patrimonial e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios
ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de
pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de dez anos;
II - na hipótese do art. 10, ressarcimento integral do dano, perda dos bens ou valores
acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se concorrer esta circunstância, perda da função
pública, suspensão dos direitos políticos de cinco a oito anos, pagamento de multa civil de
até duas vezes o valor do dano e proibição de contratar com o Poder Público ou receber
benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por
intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de cinco anos;
III - na hipótese do art. 11, ressarcimento integral do dano, se houver, perda da função
pública, suspensão dos direitos políticos de três a cinco anos, pagamento de multa civil de
até cem vezes o valor da remuneração percebida pelo agente e proibição de contratar
com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou
indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário,
pelo prazo de três anos.
Parágrafo único. Na fixação das penas previstas nesta lei o juiz levará em conta a extensão
do dano causado, assim como o proveito patrimonial obtido pelo agente.

De acordo com o STJ, as sanções previstas no art. 12 da LIA, não são obrigatoriamente
cumulativas.

De acordo com o art. 20 da LIA, as duas sanções mais graves, que são a suspensão dos
direitos políticos e a perda do cargo e da função pública, só tem efeito após o trânsito em
julgado.
Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 58
Art. 20. A perda da função pública e a suspensão dos direitos políticos só se efetivam com o
trânsito em julgado da sentença condenatória.
Parágrafo único. A autoridade judicial ou administrativa competente poderá determinar o
afastamento do agente público do exercício do cargo, emprego ou função, sem prejuízo
da remuneração, quando a medida se fizer necessária à instrução processual.

7) Prescrição:
Art. 23. As ações destinadas a levar a efeitos as sanções previstas nesta lei podem ser
propostas:
I - até cinco anos após o término do exercício de mandato, de cargo em comissão ou de
função de confiança;
II - dentro do prazo prescricional previsto em lei específica para faltas disciplinares puníveis
com demissão a bem do serviço público, nos casos de exercício de cargo efetivo ou
emprego.

O que prescreve é a ação de improbidade. Nunca deve ser esquecido que, nos termos do
art. 37, § 5.º da CF, a reparação do dano ao patrimônio público é imprescritível:
§ 5º - A lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos praticados por qualquer
agente, servidor ou não, que causem prejuízos ao erário, ressalvadas as respectivas ações
de ressarcimento.

8) Procedimento da improbidade administrativa:


Possui procedimento diferente da ACP. Tem previsão nos arts. 17, §§ 6.º a 11.
§ 6o (Vide Medida Provisória nº 2.225-45, de 2001) § 6o A ação será instruída com
documentos ou justificação que contenham indícios suficientes da existência do ato de
improbidade ou com razões fundamentadas da impossibilidade de apresentação de
qualquer dessas provas, observada a legislação vigente, inclusive as disposições inscritas
nos arts. 16 a 18 do Código de Processo Civil.
§ 7o (Vide Medida Provisória nº 2.225-45, de 2001) § 7o Estando a inicial em devida forma, o
juiz mandará autuá-la e ordenará a notificação do requerido, para oferecer manifestação
por escrito, que poderá ser instruída com documentos e justificações, dentro do prazo de
quinze dias.
§ 8o (Vide Medida Provisória nº 2.225-45, de 2001) § 8o Recebida a manifestação, o juiz, no
prazo de trinta dias, em decisão fundamentada, rejeitará a ação, se convencido da
inexistência do ato de improbidade, da improcedência da ação ou da inadequação da
via eleita.
§ 9o (Vide Medida Provisória nº 2.225-45, de 2001) (§ 9o Recebida a petição inicial, será o
réu citado para apresentar contestação).
§ 10. (Vide Medida Provisória nº 2.225-45, de 2001) § 10. Da decisão que receber a petição
inicial, caberá agravo de instrumento.
§ 11. (Vide Medida Provisória nº 2.225-45, de 2001) § 11. Em qualquer fase do processo,
reconhecida a inadequação da ação de improbidade, o juiz extinguirá o processo sem
julgamento do mérito.

O procedimento da LIA é o único cível que possui uma fase de defesa preliminar e
recebimento da ação antes da citação do réu.
Os réus serão notificados para apresentação de defesa escrita, no prazo de 15 dias.
Após a apresentação da defesa escrita, o juiz faz o juízo de admissibilidade da ação de
improbidade administrativa.
A primeira opção do juiz é rejeitar a ação de improbidade. Significa que pode o juiz
indeferir a inicial ou já julgar a ação improcedente de plano, apreciando o mérito,
alegando por exemplo, que os fatos narrados não constituem ato de improbidade.
Dessa decisão preliminar o juiz, ao MP cabe interpor apelação.

Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 59


A segunda opção do juiz é receber a ação, fazendo-o de forma fundamentada. O primeiro
ato do processo, pois, será a citação do demandado.
A partir da citação, segue a ação o procedimento ordinário do CPC.
Quando o juiz acolhe a ação quando do juízo de admissibilidade, cabe ao réu interpor
agravo de instrumento.

O legislador criou esse procedimento prévio na LIA para que o juiz possa controlar se é lícito
ser o réu processado por improbidade ou não.

O STJ tem entendido, majoritariamente, que a falta do procedimento prévio de


recebimento ou não das ações de improbidade, gera nulidade do processo.

Nos termos do art. 17, § 3.º da LIA, tanto quanto na ação popular, a pessoa jurídica lesada
pode escolher o pólo em que atuará.
§ 3o No caso de a ação principal ter sido proposta pelo Ministério Público, aplica-se, no que
couber, o disposto no § 3o do art. 6o da Lei no 4.717, de 29 de junho de 1965. (Redação
dada pela Lei nº 9.366, de 1996)

MANDADO DE SEGURANÇA

1) Previsão legal e sumular:


MS individual:
Art. 5.º, LXIX da CF:
LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não
amparado por "habeas-corpus" ou "habeas-data", quando o responsável pela ilegalidade
ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de
atribuições do Poder Público;

O mandado de segurança é uma ferramenta que protege o cidadão contra o Estado,


fazendo com que este se curve ao império da Lei.

Ainda, há três leis que regulam e outras duas que trazem dispositivos acerca do MS.
Lei 1.533/51, 4.348/64 e 5.021/66 e ainda as leis 8.437/92 (art. 2.º, que limita o cabimento de
liminares contra a fazenda pública) e 9.494/97 (art. 2.º, que limita o cabimento do MS contra
o poder público).

Súmulas:
MS individual:
STJ: 41, 105, 169, 177, 202, 206, 212, 213 e 333:

STF:
101, 266 a 272, 304, 392, 405, 429, 430, 433, 474, 506, 510 a 512, 597, 623 a 627, 631, 632 e 701.

1.2. Previsão legal do MS coletivo:


art. 5.º, LXX da CF:
LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por:
a) partido político com representação no Congresso Nacional;
b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em
funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou
associados;

O MS coletivo nada mais é senão o MS individual com variação na legitimidade e no


objeto. O MS coletiva tutela os interesses coletivos e individuais homogêneos. Há
controvérsia quanto aos interesses difusos.

Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 60


Mesmo após vinte anos de vigência da CF, o MS coletivo ainda não está regulamentado. A
doutrina e jurisprudência entendem o seguinte: quanto à legitimidade e competência, usa-
se a CF; o procedimento do MS coletivo é regido pela lei 1.533/51; quanto ao restante,
deve-se aplicar o micro-sistema processual coletivo.

Já existe PL no CN sobre o MS coletivo, já tendo sido aprovado na CCJ.

Súmulas do MS coletivo:
STF: 629 e 630.
Súmula nº 629 
A IMPETRAÇÃO DE MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO POR ENTIDADE DE
CLASSE EM FAVOR DOS ASSOCIADOS INDEPENDE DA AUTORIZAÇÃO DESTES.
Súmula nº 630 
A ENTIDADE DE CLASSE TEM LEGITIMAÇÃO PARA O MANDADO DE
SEGURANÇA AINDA QUANDO A PRETENSÃO VEICULADA INTERESSE APENAS A UMA PARTE DA
RESPECTIVA CATEGORIA.

1.3. Aplicabilidade do CPC:


art. 19 da LMS:
Art. 19 - Aplicam-se ao processo do mandado de segurança os artigos do Código de
Processo Civil que regulam o litisconsórcio. (Redação dada pela Lei nº 6.071, de 1974)

Durante muitos anos, se entendeu que a aplicação do CPC no MS era vedada. Isso por
conta do art. 19, que prevê tão somente a aplicação do CPC quanto ao litisconsórcio.
A consequencia prática foram duas:
- não cabia no MS agravo de instrumento:
Não há disposição na LMS que fale sobre o agravo de instrumento. Nessa época, usava-se
mandado de segurança contra a decisão do juiz que negasse a medida liminar.
- súmulas 169 do STJ e 597 do STF:
Súmula 597 
Não cabem embargos infringentes de acórdão que, em mandado de
segurança decidiu, por maioria de votos, a apelação.

Essa súmula foi editada por conta do entendimento de que não se aplicava o CPC ao MS.
A LMS não traz nenhuma previsão quanto aos embargos infringentes.

Todavia, recentemente, tem-se entendido que o CPC é subsidiário da LMS e,


consequentemente, cabe agravo de instrumento em MS.
Apesar de a jurisprudência entender que cabe agravo de instrumento, as súmulas 169 e 597
ainda não foram revogadas. Assim, em prova objetiva deve ser colocado que não cabem
embargos infringentes em apelação que julga MS.

2) Conceito de MS:
2.1 Garantia:
A melhor lição é a de Rui Barbosa. Fazia uma diferença entre direitos, deveres e garantias.
Direitos e deveres são dispositivos declaratórios, variando entre eles apenas a sujeição. se a
sujeição for ativa é direito; se passiva, dever.
Ex: o voto é obrigatório. Isso é um dever, porque somos o sujeito passivo da norma.
Mas quando a CF diz que é garantido o direito de propriedade, tal é um direito e não um
dever.

Já garantias são dispositivos assecuratórios, instrumentos que operacionalizam os direitos.


Ex: a liberdade é um direito. A garantia que o sistema dá ao cidadão para que ele seja
mantido em liberdade é o habeas corpus.
A CF protege a privacidade, sendo ela um direito. A garantia que se tem da privacidade é
a inviolabilidade de domicílio, comunicações etc.

Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 61


O Brasil é um Estado Democrático de Direito tem como principal característica o fato de o
Estado se submeter às leis feitas por ele. A garantia que dispomos para fazer o Estado se
curvar à Lei é o MS.
Assim, o MS só cabe contra o Estado ou contra quem o faça as vezes.

2.2 Direito individual ou coletivo:


O MS se presta tanto para pretensões individuais quanto coletivas.
O MS coletivo é um instrumento tipicamente brasileiro, não existindo qualquer outro
exemplo no direito comparado, sendo aplaudido pela doutrina internacional.

2.3 Líquido e certo:


A doutrina entende que direito líquido e certo é uma definição só. É aquele que se prova
documentalmente. Isso porque se trata de uma prova pré-constituída ao ajuizamento da
ação.
A consequencia prática dessa exigência da prova pré-constituída é que jamais haverá
dilação probatória em mandado de segurança.
Há uma única hipótese em que se pode interpor MS sem a prova pré-constituída. Art. 6.º,
parágrafo único da Lei 1.533/51:
Parágrafo único. No caso em que o documento necessário a prova do alegado se acha
em repartição ou estabelecimento publico, ou em poder de autoridade que recuse
fornecê-lo por certidão, o juiz ordenará, preliminarmente, por oficio, a exibição desse
documento em original ou em cópia autêntica e marcará para cumprimento da ordem o
prazo de dez dias. Se a autoridade que tiver procedido dessa maneira for a própria
coatora, a ordem far-se-á no próprio instrumento da notificação. O escrivão extrairá cópias
do documento para juntá-las à segunda via da petição. (Redação dada pela Lei nº 4.166,
de 1962)

O MS é muito semelhante à ação monitória. Ambos são considerados processos


documentais, na medida em que para o seu processamento exigem a existência de uma
prova escrita.

Tem prevalecido o entendimento que o direito líquido e certo é uma condição especial da
ação do MS, ligado ao interesse processual.
Se falta o direito líquido e certo, deve o juiz indeferir a inicial porque falta interesse
processual ao impetrante.
Discussão doutrinária sobre a possibilidade de documentalização de provas diversas para
fins de MS. Ex: declaração pública registrada em cartório pode ser aceita?
Prevalece o entendimento que isso não é possível, pois seria uma forma de burla a natureza
documental da ação, que exige prova pré-constituída.

A súmula 625 do STF diz o seguinte:


Súmula nº 625 
Controvérsia sobre matéria de direito não impede concessão de mandado
de segurança.

No MS a causa de pedir remota tem que ser incontroversa, ou seja, não pode haver
dúvidas quanto aos fatos alegados, o que é feito por meio da prova documental.
Já no que concerne à causa de pedir próxima, quanto aos fundamentos jurídicos, não há
necessidade que esses fundamentos jurídicos sejam incontroversos.

2.4 Não amparado por habeas corpus ou habeas data:


A lei de regência do habeas data é a 9.507/97. Já o habeas corpus é regulado pelo CPP.
O legislador disse que quando se tratar de matéria de liberdade, cabe HC; informação,
cabe HD e o resto é passível de MS.
Quando não havia a previsão de MS, era admitido HC para outros direitos além da
liberdade.
Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 62
2.5 Ato:
O ato que o legislador diz que pode ser atacado via MS pode ser um ato comissivo ou
omissivo.
Além disso, também cabe MS contra ato atual ou iminente.
É contra esse ato iminente que surge a figura do MS preventivo:
Ex: sujeito que importava produtos da China. Na metade do caminho, mudou a alíquota do
tributo. Interpôs MS preventivo para conseguir a liberação da mercadoria com base na
alíquota anterior.

Regra geral, há os seguintes tipos de atos:


- administrativos:
Em regra, cabe MS. Inclusive, é a grande maioria dos casos de MS.
Mas há duas exceções:
Art. 5.º, I e III da LMS:
Art. 5º - Não se dará mandado de segurança quando se tratar:
I - de ato de que caiba recurso administrativo com efeito suspensivo, independente de
caução.
III - de ato disciplinar, salvo quando praticado por autoridade incompetente ou com
inobservância de formalidade essencial.

Sobre a hipótese do inciso I deve ser analisada a súmula 429 do STF:


Súmula 429 
A existência de recurso administrativo com efeito suspensivo não impede o uso
do mandado de segurança contra omissão da autoridade.

Essa súmula, assim é a exceção à primeira exceção.

O inciso III diz que não cabe MS contra ato disciplinar, salvo quando praticado por
autoridade incompetente ou quando faltar formalidade essencial. Ex: respeitar o
contraditório do acusado, que consiste em falta de formalidade essencial.
Há quem sustente que essa hipótese do art. 5.º, III é inconstitucional. Isso porque não é
compatível com o regime civil vigente, já que essa hipótese foi prevista para a vigência
durante o regime militar. Mas há forte discussão nesse sentido.

- legislativos:
Em princípio, não cabe MS contra lei, porque é um comando genérico e abstrato.
A maior prova é a súmula 266 do STF:
Súmula 266
Não cabe mandado de segurança contra lei em tese.

Mas há duas exceções:


A primeira diz respeito às leis de efeitos concretos. Nada mais é senão uma lei que não mais
precisa de comando posterior para ser executada. Ela, por si só, já causa o gravame.
Ex: toda lei proibitiva é de efeito concreto; toda lei que fixa tarifa é de efeito concreto; lei
que estabelece o rodízio de carros; lei que proíbe o fumo em locais públicos.

A outra exceção diz respeito ao fato de que cabe MS contra lei editada com violação do
processo legislativo. Nesse caso, só tem legitimidade o parlamentar. O STF tem afirmado
que os parlamentares podem impetrar MS para obstar que se operem os efeitos de uma lei
que feriu o processo legislativo.

Aula 06 20/04/2009

- judiciais:
A regra geral é a mesma do ato legislativo, ou seja, em princípio, não cabe mandado de
segurança contra ato judicial. Mas há duas exceções.
Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 63
A primeira exceção diz respeito ao art. 5.º, II da LMS:
Art. 5º - Não se dará mandado de segurança quando se tratar:
I - de ato de que caiba recurso administrativo com efeito suspensivo, independente de
caução.
II - de despacho ou decisão judicial, quando haja recurso previsto nas leis processuais ou
possa ser modificado por via de correção.

Cabe, pois mandado de segurança não passível de recurso.


As súmulas 267 e 268 do STF tratam do assunto.
Súmula 267
Não cabe mandado de segurança contra ato judicial passível de recurso ou
correição.
Súmula 268
Não cabe mandado de segurança contra decisão judicial com trânsito em
julgado.

O primeiro exemplo é o do sistema do Juizado Especial Cível. A Lei 9.099/95, adota como
princípio informador dos juizados a oralidade. Se esse princípio é adotado, por óbvio, não
cabe agravo contra as decisões interlocutórias.
Como não cabe agravo, a parte pode se valer de um MS contra a decisão interlocutória.

Outro exemplo é o da JT, onde não cabe recurso das interlocutórias. Cabe, pois, MS contra
uma interlocutória na JT.

A última observação diz respeito ao parágrafo único do art. 527 do CPC:


Parágrafo único. A decisão liminar, proferida nos casos dos incisos II e III do caput deste
artigo, somente é passível de reforma no momento do julgamento do agravo, salvo se o
próprio relator a reconsiderar. (Redação dada pela Lei nº 11.187, de 2005)

Até 2005, antes da reforma do CPC, dessa decisão do relator, cabia agravo interno do
próprio tribunal. O legislador reformou esse dispositivo, dando ao próprio relator a opção de
reconsiderar a decisão. Mas como não cabe recurso, o STJ entendeu que a parte pode
impetrar um MS contra essa decisão do relator.
Alguns autores afirmam que nessa hipótese o MS é sucedâneo recursal.

A segunda exceção diz respeito às decisões teratológicas, que são aquelas absurdas, fora
da razão. A doutrina e a jurisprudência firmaram posicionamento no sentido de que nesses
casos pode ser interposto MS, mas sem a aplicação da súmula 268 do STF, ou seja, não se
pode manejar MS depois do trânsito em julgado da decisão.
Ex: petição que é juntada em processo errado e no processo em que ela deveria ter sido
juntada, foi decretada a revelia do réu. Nesse caso, pode ser interposto MS contra a
decisão, tendo em vista que não havia que ter sido decretada a revelia do réu. É o caso de
contestação em ação de despejo onde o réu junta os recibos de pagamento na
contestação e esta é juntada em processo errado.

2.6 Ilegal ou abusivo de poder:


no que tange à motivação existem dois atos administrativos: vinculados e discricionários. O
ato vinculado é aquele em que a escolha é feita pela lei. Já no ato discricionário a escolha
é do administrador público, de acordo com a sua conveniência e a oportunidade.
No caso dos atos vinculados, cabe MS contra atos ilegais. Já no caso dos atos
discricionários, cabe MS em razão da escolha do administrador.
Exs: se o servidor público praticar um ilícito funcional, não pode ser demitido sem processo
administrativo. Assim, instaurar o PAD não é opção do legislador. Logo, cabe MS contra
decisão de demissão de servidor sem a instauração do devido PAD.
Outro exemplo é o pedido de autorização para construir. Caso não seja concedida, mesmo
sendo o ato discricionário, cabe MS.
Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 64
2.7 Autoridade pública ou afim:
Este tópico será trabalhado quando da legitimidade passiva no MS.

3) Legitimidade:
3.1 Legitimidade ativa no MS individual:
Qualquer pessoa pode impetrar MS. Mas algumas pessoas merecem destaque:
- podem impetrar MS estrangeiros não domiciliados no Brasil. O caput do art. 5.º estabelece
que os direitos previstos nesse artigo são para os brasileiros e estrangeiros residentes no País.
Isso pode dar ensejo à falsa impressão de que o estrangeiro não residente no País não pode
impetrar MS. O STJ já pacificou esse entendimento no sentido de que pode o estrangeiro
não residente impetrar MS.
- entes despersonalizados:
Podem impetrar MS massa falida, espólio, condomínio etc. Esses entes possuem
capacidade judiciária, formal.
- é admitido MS impetrados pelos Poderes Legislativo e Judiciário, para assegurar
prerrogativas próprias.
Ex: não repasse do duodécimo ao poder legislativo. Caso o Executivo não faça o repasse, a
mesa da Câmara pode impetrar MS para que o chefe do executivo seja obrigado a fazer o
repasse.
O Judiciário, por exemplo, pode impetrar MS caso o Governador do Estado faça corte no
repasse de verbas a esse poder.
- o poder público contra o poder público.
O próprio poder público pode se valer do MS contra si próprio. O MS é uma garantia para o
que Estado obedeça ao direito. Assim, as esferas municipais, estaduais e federais têm que
se curvar à esfera da lei. Assim, os Estados e Municípios podem impetrar MS contra a união,
por exemplo.
Ex: o governo federal recebe os tributos federais e faz o repasse aos Estados. Caso tal não
seja feito, cabe MS a ser impetrado pelo Estado.

3.2 Legitimidade ativa no MS coletivo:


A legitimidade vem prevista no art. 5.º, LXX da CF/88:
LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por:
a) partido político com representação no Congresso Nacional;
b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em
funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou
associados;

- partido político:
O partido deve ter pelo menos um representante no Congresso, seja na Câmara ou no
Senado, sendo este originário ou não.
O objeto de defesa possui três posições na doutrina:
A primeira corrente, capitaneada por Ada Grinover diz que os partidos podem impetrar MS
coletivo para todos os assuntos de interesse nacional, ou seja, o partido político não precisa
ter pertinência temática.

A segunda corrente afirma que MS coletivo impetrado por partido político só pode versar
sobre sistema representativo.

A terceira corrente, que é a predominante, inclusive sendo a posição do STJ, afirma que o
objeto de impetração está no art. 1.º da Lei 9.096/95., que é a Lei Orgânica dos Partidos
Políticos. Assim, os partidos políticos podem impetrar MS coletivo sobre os seguintes temas:
autenticidade do sistema representativo e defender os direitos fundamentais previstos na CF
e também para defender o regime democrático.

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Ex: não cabe MS coletivo impetrado por partido político para discutir questão tributária.
RESP 196.184/MA.
Ex: partido político pode impetrar MS em razão de penitenciária ser totalmente fechada,
não permitindo os presos tomar banho de sol.

Natureza da legitimação do partido político:


Há duas posições:
A Primeira, de Ada Grinover, afirma que no caso de assuntos políticos a legitimação é
ordinária. Já para os demais assuntos, a legitimação é extraordinária
A segunda corrente, que é a que prevalece, afirma que a legitimação é sempre ordinária.
A finalidade institucional do partido político é a prevista no art. 1.º da Lei 9.096/95. Assim,
quando o partido político impetra um MS coletivo, independente do assunto, assim o faz
para defender interesse próprio, já que esses interesses são ínsitos à sua existência.

- sindicato, entidade de classe ou associação:


Nesse caso, essas entidades devem ter constituição ânua. O legislador quer vedar a
criação dessas entidades apenas para a impetração do MS coletivo.
Aplica-se o art. 5.º, § 4.º da LACP ao MS coletivo? Esse dispositivo diz que o juiz poderá, nas
hipóteses em que a questão discutida tiver relevância social ou econômica, ele pode
dispensar a constituição ânua das associações.
Não pode uma lei inferior à CF dispor em sentido contrário a ela. Logo, não se pode aplicar
o art. 5.º, § 4.º da LACP.

O STF entende que o sindicato não precisa ter constituição ânua, porque o texto legal isolou
os sindicatos desse requisitos. RE 198.919.

Objeto de defesa:
Vem previsto na própria CF. O MS coletivo deve ser impetrado em defesa de seus membros
ou associados. O STF entendeu, no RE 181.438/SP, que o objeto é o direito dos associados,
não se exigindo que o direito guarde vínculo com os fins da entidade, que seja próprio da
classe. Assim, o STF entendeu que não há necessidade de pertinência temática.
Ex: nada impede que a OAB impetra MS coletivo em favor dos advogados para discutir
questão tributária, como alíquota de dado tributo.

O direito tutelado pode ser de apenas parcela da categoria?


A súmula 630 trata do assunto:
Súmula nº 630 
 A entidade de classe tem legitimação para o mandado de segurança
ainda quando a pretensão veiculada interesse apenas a uma parte da respectiva
categoria.

Desnecessidade de autorização dos associados:


A súmula 629 trata do assunto:
Súmula nº 630 
 A entidade de classe tem legitimação para o mandado de segurança
ainda quando a pretensão veiculada interesse apenas a uma parte da respectiva
categoria.

Natureza da legitimação:
A legitimação é extraordinária. Isso porque objetiva a defesa dos interesses e direitos dos
associados.

 não confundir a hipótese de legitimação extraordinária do MS coletivo (art. 5º, inciso LXX)
com a hipótese de representação do art. 5º, inciso XXI, da Constituição Federal. Essa
representação não é para o MS coletivo.

Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 66


Para o MS coletivo (art. 5º, LXX) não precisa de autorização dos filiados, pois a autorização
está na Constituição. É hipótese de substituição processual (legitimação extraordinária –
nome próprio, direito alheio).
Para qualquer outra ação, a hipótese é do art. 5º, XXI, ou seja, é caso de representação
(nome alheio, na proteção do direito alheio).
Nessas hipóteses, é necessária autorização. Esse entendimento serve para a ação civil
pública dos interesses individuais homogêneos contra o Poder Público (art. 2º, § único, da
Lei 9494/97).
S. 629, a impetração do MS coletivo independe de autorização.

3.3 Legitimidade passiva:


Previsão legal:
Art. 1.º, § 1.º e art. 2.º na LMS:
§ 1º - Consideram-se autoridades, para os efeitos desta lei, os representantes ou
administradores das entidades autárquicas e das pessoas naturais ou jurídicas com funções
delegadas do Poder Público, somente no que entender com essas funções. (Redação
dada pela Lei nº 9.259, de 1996)
Art. 2º - Considerar-se-á federal a autoridade coatora se as conseqüências de ordem
patrimonial do ato contra o qual se requer o mandado houverem de ser suportadas pela
união federal ou pelas entidades autárquicas federais.

Podem ser réu no MS:


- membros da administração direta:
- autarquias e fundações:

Cabe MS contra sociedade de economia mista e empresa pública?


A súmula 333 trata do assunto, mas não o esgota.
Súmula 333: 
Cabe mandado de segurança contra ato praticado em licitação promovida
por sociedade de economia mista ou empresa pública.

Logo, em regra, não cabe MS contra SEM e empresas públicas. Mas quando praticam ato
de direito público, mas precisamente em casos de concurso público e licitação, cabe
perfeitamente MS.

- particulares delegados de atividade pública:


Súmula 510 do STF:
Súmula 510 
Praticado o ato por autoridade, no exercício de competência delegada,
contra ela cabe o mandado de segurança ou a medida judicial.

A regra é que cabe MS contra esses particulares, mas apenas para os atos relacionados à
delegação.
Ex: energia elétrica, telefonia e educação superior.

Não cabe MS contra atos praticados por particulares que exercem atividade autorizada.
Ex: serviços bancário e de saúde.
Nesse caso, excepcionalmente, o banco se torna gestor no SFH. O fomento à moradia
popular deve ser feito pelo poder público e o banco, ao assumir essa função, se torna
passível de impetração de MS.

Litisconsórcio necessário e unitário entre o legitimado passivo e o beneficiário do ato


atacado:
Súmula 631 do STF:
Súmula nº 631 
Extingue-se o processo de mandado de segurança se o impetrante não
promove, no prazo assinado, a citação do litisconsorte passivo necessário.
Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 67
Toda vez que o ato atacado beneficia alguém, deve ser réu juntamente com aquele que
realmente pratica o ato. Isso muito ocorre no caso dos concursos. Caso haja preterimento,
deve-se interpor MS contra a autoridade coatora e o candidato que foi beneficiário do ato.

A súmula 701 também trata do assunto:


No mandado de segurança impetrado pelo ministério público contra decisão proferida em
processo penal, é obrigatória a citação do réu como litisconsorte passivo.

O réu no MS é a pessoa jurídica a que pertence aquele que praticou o ato ou é a


autoridade, pessoa física?
Essa questão é divergente na jurisprudência. Há acórdãos nos dois sentidos, ou seja, ora a
autoridade é a pessoa jurídica, ora a pessoa física.
Há uma tendência, porém, no sentido de se indicar a pessoa jurídica como ré. Se se adota
a teoria da pessoa jurídica como ré, que é a posição de Leonardo Carneiro da Cunha,
muitos problemas práticos são resolvidos.
Se formos seguir os termos da lei do MS, que era a de Hely Meireles, deve ser impetrado o
MS contra a pessoa física. A LMS dá a entender que o réu deve ser a autoridade.

Comentários acerca da autoridade coatora (adota-se a posição de Hely Meireles):


- a impetração não deve se dar contra o executor do ato, mas sim contra a autoridade que
puder desfazer o ato.
- a legitimidade da autoridade só dura até a sentença de primeiro grau; após, só a pessoa
jurídica tem legitimidade recursal.
- ato coator praticado em áreas distintas:
Às vezes, o ato é praticado em várias áreas e cada uma delas possui uma autoridade
diferente. Isso muito ocorre em matéria tributária, quando várias autoridades aplicam multa
pelo mesmo fato. Pode-se interpor um único MS contra quem manda em todas as
autoridades distintas que praticaram o ato. Assim, a impetração deve ser contra o superior
daqueles que praticaram o ato, ainda que ele não tenha praticado ato algum.

- ato complexo:
É aquele que depende da vontade de mais de um órgão para ser formado. O melhor
exemplo ocorre no júri, onde os jurados decidem se o acusado é inocente ou culpado e o
juiz aplica a pena.
A impetração deve ser contra a autoridade que profere a última decisão.
A súmula 627 traz um exemplo de ato complexo:
Súmula nº 627 
No mandado de segurança contra a nomeação de magistrado da
competência do presidente da república, este é considerado autoridade coatora, ainda
que o fundamento da impetração seja nulidade ocorrida em fase anterior do
procedimento.

- ato composto:
É aquele para cuja formação exige-se a homologação de uma autoridade final. Ex:
demissão do serviço público, onde o chefe imediato (chefe da repartição) demite e o
chefe mediato (Governador) homologa.
A impetração deve ser contra a autoridade que homologa o ato.

- ato colegiado:
É um único órgão, com diversas vontade. No ato complexo, há mais de um órgão.
Exemplo de ato colegiado são as comissões de licitação e de concurso, bem como as
Câmaras de Julgamento dos Tribunais.s
Se o ato for colegiado, a impetração deve ser feita em face do Presidente do órgão.

3.4 Intervenção de terceiros:

Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 68


De acordo com a doutrina e jurisprudência, em se tratando de MS, admite-se
exclusivamente a assistência litisconsorcial da pessoa jurídica a cuja autoridade pertence.
Essa posição só pode ser adotada quando o réu é a autoridade coatora e não a pessoa
jurídica.
Ex: se o prefeito é a autoridade coatora, o município pode ser o assistente litisconsorcial.
A pessoa jurídica suporta os efeitos da eventual concessão da ordem, daí a razão pela qual
pode figurar como assistente litisconsorcial.

4) Competência:
serão analisados os quatro critérios de competência:
a) funcional hierárquica:
É um critério de competência absoluta, como regra, pois segue o regime do art. 113 do
CPC.
O que define a existência do critério funcional no MS é o status hierárquico da autoridade
coatora, ou seja, se ela tem ou não foro por prerrogativa de função.
Na CF, há várias regras sobre o assunto, a saber: arts. 102, I, d; 105, I, b; 108, I, c;
Além da CF, pelo princípio da simetria, deve-se atentar para o teor das Constituições dos
Estados Membros.
Deve-se atentar para as seguintes súmulas:
41 do STJ; 330, 433 e 624 do STF:
Súmula: 41
O superior tribunal de justiça não tem competência para processar e julgar,
originariamente, mandado de segurança contra ato de outros tribunais ou dos respectivos
órgãos.
Súmula 330 
O Supremo Tribunal Federal não é competente para conhecer de mandado
de segurança contra atos dos tribunais de justiça dos estados.
Súmula 433 
É competente o Tribunal Regional do Trabalho para julgar mandado de
segurança contra ato de seu presidente em execução de sentença trabalhista.
Súmula nº 624 
Não compete ao supremo tribunal federal conhecer originariamente de
mandado de segurança contra atos de outros tribunais.

Deve-se atentar o MS contra juiz de direito, onde a competência é o TJ.

b) material:
É um critério de competência absoluta, como regra, pois segue o regime do art. 113 do
CPC.
É o critério por meio do qual se define a justiça competente para julgar o processo, se
trabalhista, eleitoral etc.
O que define é a matéria (trabalhista ou eleitoral, v.g) ou a categoria funcional da
autoridade (federal ou local).
No caso da categoria funcional, deve-se verificar a categoria da autoridade. Se for federal,
por óbvio, a competência é da JF. Mas se não for, é da Justiça Comum Estadual.

Nas hipóteses de delegação de função pública, deve atentar para o art. 2.º da LMS:
Art. 2º - Considerar-se-á federal a autoridade coatora se as conseqüências de ordem
patrimonial do ato contra o qual se requer o mandado houverem de ser suportadas pela
união federal ou pelas entidades autárquicas federais.

A natureza da delegação alcança o status do particular para fins de competência no MS.


Se a delegação for federal, ainda que seja a pessoa delegada um particular, faz as vezes
de autoridade federal para fins de competência.
Ex: energia e telefonia:
Essa delegação é feita pela união, pois a ela compete explorar energia e telefonia. Uma
ação ordinária contra essas empresas deve ser interposta na justiça comum estadual. Mas

Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 69


se a parte quiser impetrar um MS, por conta do art. 2.º, deve-se atentar para o status da
delegação. Como a delegação é federal, a competência é da JF.
Ex: ensino superior:
Podem explorar o ensino superior a União, os Estados e os Municípios e os particulares. Mas
estes devem ter delegação (há quem entende ser autorização) da união.
Assim, no caso das universidades federais, o MS deve ser impetrado na JF; contra as
universidades estaduais, a impetração deve ser na justiça estadual; nas universidades
municipais, a competência também é da justiça comum estadual; no caso das
universidades particulares, deve-se atentar para o fato de que só podem ser impetrados MS
em face de assuntos referentes à delegação, sendo a competência para processar e julgar
o MS da JF e das demais ações da justiça estadual.
Vide Conflitos de Competência 50.689/GO e 48.182/RJ do STJ.

c) valorativo:
Em regra, segue o regime da competência relativa, seguindo as regras dos arts. 112 e 114
do CPC:
É aquele que se estabelece em face do valor da causa. No âmbito nacional, a importância
se refere exclusivamente à competência dos juizados.

Deve-se atentar para o fato de que não cabe MS nos juizados de primeiro grau. Art. 3.º, §
1.º da Lei 10.259/2002.
Mas cabe MS em segundo grau. Isso porque não cabe agravo das decisões interlocutórias
nos juizados especiais.

d) territorial:
Essa regra de competência foi criada à luz do interesse público. A consequencia prática é
que segue o regime da competência absoluta. Logo, o juiz pode reconhece de ofício essas
questões.
No MS, vale o domicílio funcional, a sede da autoridade coatora, pouco importando onde
o ato tenha sido praticado. A autoridade coatora tem direito de ter o MS impetrado no seu
domicílio funcional, ainda que tenha sido o ato praticado em outro local que não o da
sede da repartição.

5) Procedimento do MS:
É considerado pela doutrina como sendo especial, sumário e cível, ainda que seja
imperado contra juiz criminal. Assim, na omissão da LMS, deve-se aplicar o CPP para surpri-
la.

5.1 petição inicial:


Art. 6.º da LMS:
Art. 6º - A petição inicial, que deverá preencher os requisitos dos artigos 158 e 159 do
Código do Processo Civil, será apresentada em duas vias e os documentos, que instruírem a
primeira, deverão ser reproduzidos, por cópia, na segunda.
Parágrafo único. No caso em que o documento necessário a prova do alegado se acha
em repartição ou estabelecimento publico, ou em poder de autoridade que recuse
fornece-lo por certidão, o juiz ordenará, preliminarmente, por oficio, a exibição desse
documento em original ou em cópia autêntica e marcará para cumprimento da ordem o
prazo de dez dias. Se a autoridade que tiver procedido dessa maneira for a própria
coatora, a ordem far-se-á no próprio instrumento da notificação. O escrivão extrairá cópias
do documento para juntá-las à segunda via da petição. (Redação dada pela Lei nº 4.166,
de 1962)

É indispensável a apresentação de prova pré-constituída para que possa ser o MS ser


impetrado.

Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 70


Ainda, o art. 4.º da LMS permite a impetração por fax:
Art. 4º - Em caso de urgência, é permitido, observados os requisitos desta lei, impetrar o
mandado de segurança por telegrama ou radiograma ao juiz competente, que poderá
determinar seja feita pela mesma forma a notificação a autoridade coatora.

5.2 Despacho Inicial:


O juiz, se perceber que o caso é de indeferimento da inicial, há três situações:
- vício processuais: o juiz aplica o art. 295 do CPC. Nesse caso, a extinção se dá sem
resolução de mérito.
- carência da impetração:
A previsão está nos arts. 8.º e 16 da LMS:
Art. 8º - A inicial será desde logo indeferida quando não for caso de mandado de
segurança ou lhe faltar algum dos requisitos desta lei.
Parágrafo único. De despacho de indeferimento caberá o recurso previsto no art. 12.
Art. 16 - O pedido de mandado de segurança poderá ser renovado se a decisão
denegatória não lhe houver apreciado o mérito.

Essa carência ocorre quando não há prova pré-constituída do direito líquido e certo do
impetrante. Nesse caso, a extinção se dá sem resolução de mérito.

Ainda, pode o juiz indeferir a inicial no caso de decadência, onde é o processo extinto com
resolução de mérito. É a hipótese decadencial prevista no art. 18 da LMS:
Art. 18 - O direito de requerer mandado de segurança extinguir-se-á decorridos cento e
vinte dias contados da ciência, pela interessado, do ato impugnado.

De acordo com a súmula 632 do STF, esse prazo de 120 dias é constitucional.
Súmula nº 632 
É constitucional lei que fixa o prazo de decadência para a impetração de
mandado de segurança.

No caso do MS, a decadência não é do direito, mas sim da via do próprio MS. Assim, após
120 só não se pode interpor MS, mas pode o autor interpor qualquer outra ação que não o
MS.

Medida Liminar:
Está prevista no art. 7.º, II:
Art. 7º - Ao despachar a inicial, o juiz ordenará:
I - que se notifique o coator do conteúdo da petição, entregando-se-lhe a segunda via
apresentada pelo requerente com as cópias dos documentos a fim de que, no prazo de
cinco dias, preste as informações que achar necessárias;
I - que se notifique o coator do conteúdo da petição entregando-lhe a segunda via
apresentada pelo requerente com as cópias dos documentos a fim de que no prazo de
quinze dias preste as informações que achar necessárias. (Redação dada pela Lei nº 4.166,
de 1962) (Prazo: vide Lei nº 4.348, de 1964)
II - que se suspenda o ato que deu motivo ao pedido quando for relevante o fundamento e
do ato impugnado puder resultar a ineficácia da medida, caso seja deferida.

A lei limita o cabimento da medida liminar em algumas hipóteses. São estas as limitações:
- art. 5.º da lei 4.348/64;
- art. 1.º e § 4.º da lei 5.021/66;
- art. 1.º, § 5.º da lei 8.437/92;
- Decreto 2.770/56;
- súmula 212 do STJ:
Súmula: 212
A compensação de créditos tributários não pode ser deferida por medida
liminar.

Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 71


Em suma, são três os assuntos tratados pelos dispositivos acima, a saber:
- vantagem para servidor público;
- compensação em matéria tributária;
- desembaraço aduaneiro.

5.3 Notificações:
Podem ser de duas naturezas:
- em primeiro lugar, deve ser notificada a autoridade ou a pessoa jurídica, dependendo da
posição que se adota quando a quem deve ser o impetrado.
Essa notificação tem natureza muito semelhante a de uma citação.
- deve-se notificar o beneficiário do ato (súmula 631 do STF), bem como o representante
judicial da pessoa jurídica de direito público (art. 3.º da Lei 4.348/64).
Súmula nº 631 
Extingue-se o processo de mandado de segurança se o impetrante não
promove, no prazo assinado, a citação do litisconsorte passivo necessário.

5.4 Informações/contestação:
A autoridade apresenta as informações e o beneficiário contesta a ação, tudo no prazo de
dez dias.
Prevalece o entendimento de que a natureza jurídica das informações é de resposta.
Nas informações, não se aplicam os arts. 188 e 191 do CPC, ou seja, o prazo é de dez dias
sem qualquer acréscimo.
Ressalte-se que o art. 188 é aplicado no que concerne aos recursos.

5.5 Sem fase instrutória:


Não há constituição de prova em MS. É justamente por isso, ou seja, pela impossibilidade de
dilação probatória, que se exige prova pré-constituída.

5.6 Ministério Público:


O art. 10 exige a participação do MP como fiscal da lei.
Se o promotor disser que não tem interesse, não há qualquer prejuízo. O que deve ser feito é
o envio dos autos ao MP, não sendo obrigado o mesmo a proferir parecer.

5.7 Sentença:
A previsão legal é a do art. 11 da LMS:
Art. 11 - Julgado procedente o pedido, o juiz transmitirá em ofício, por mão do oficial do
juízo ou pelo correio, mediante registro com recibo de volta, ou por telegrama, radiograma
ou telefonema, conforme o requerer o peticionário, o inteiro teor da sentença a autoridade
coatora.
Parágrafo único. Os originais, no caso de transmissão telegráfica, radiofônica ou telefônica,
deverão ser apresentados a agência expedidora com a firma do juiz devidamente
reconhecida.

Assim, o cumprimento da sentença proferida em sede de MS é de ofício, não havendo


necessidade de requerimento da parte.

Deve-se atentar para o teor da súmula 512 do STF, que é duramente criticada pela
doutrina:
Súmula 512 
Não cabe condenação em honorários de advogado na ação de mandado
de segurança.

A ideia do julgador foi a de facilitação de acesso à justiça por aqueles que querem
impetrar MS. A doutrina critica dizendo que não deveria haver a não condenação em
honorários, mas sim a isenção de custas.

5.8 Reexame necessário:


Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 72
A previsão legal é a do parágrafo único do art. 12:
Parágrafo único. A sentença, que conceder o mandado, fica sujeita ao duplo grau de
jurisdição, podendo, entretanto, ser executada provisoriamente. (Redação dada pela Lei nº
6.071, de 1974)

O reexame é uma condição de eficácia da sentença, só havendo no caso de


procedência do MS, ou seja, caso sucumba o poder público.

Aplica-se o art. 475, §§ 2.º e 3.º do CPC ao MS?


§ 2o Não se aplica o disposto neste artigo sempre que a condenação, ou o direito
controvertido, for de valor certo não excedente a 60 (sessenta) salários mínimos, bem como
no caso de procedência dos embargos do devedor na execução de dívida ativa do
mesmo valor. (Incluído pela Lei nº 10.352, de 2001)
§ 3o Também não se aplica o disposto neste artigo quando a sentença estiver fundada em
jurisprudência do plenário do Supremo Tribunal Federal ou em súmula deste Tribunal ou do
tribunal superior competente. (Incluído pela Lei nº 10.352, de 2001)

o STJ, recentemente, entendeu no RESP 575.649/SP que não se aplicam esses dispositivos ao
mandado de segurança.
5.9 Apelação:
A previsão é do art. 12, caput da LMS:
Art. 12 - Da sentença, negando ou concedendo o mandado cabe apelação. (Redação
dada pela Lei nº 6.014, de 1973)

Regra geral, essa apelação no MS não é dotada de efeito suspensivo, ou seja, já cabe
execução provisória.
Mas há uma exceção. A apelação será dotada de efeito suspensivo no caso do art. 7.º da
lei 4.348/64. Reza que se o juiz proferir sentença a favor do servidor, a apelação terá efeito
suspensivo.

5.10 Meios de impugnação

No 1º Grau:

a) Apelação (art. 12, da Lei 1533/51):

- o prazo é o do CPC, de 15 dias, aplicando o artigo 188, ou seja, o prazo é em dobro para
o Poder Público;
- legitimidade: autor, pessoa jurídica que sofre os efeitos da impetração, mesmo que a
autoridade coatora seja a ré
- sem efeito suspensivo. Exceção: hipótese do art. 7º, da Lei 4348/64, quando se tratar de
aumento, vantagem para servidor público;

b) Reexame necessário (art. 12, LMS)

De acordo com o STJ, o art. 475 do CPC não se aplica ao MS, pois há regra própria. Todo
MS que o Poder Público perdeu, ainda que seja de valor irrisório tem reexame necessário.

c) Cabe pedido de suspensão de segurança (art. 4º, da Lei 4348/64). Nos demais casos de
pedido de suspensão tem previsão do art. 4º, da Lei 8437/92, no entanto, o MS tem
disciplina própria. O que muda é o prazo do agravo interno.

d) cabe agravo, de acordo com o STJ

e) embargos de declaração
Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 73
No 2º grau:

a) embargos de declaração;

*** não cabem embargos infringentes (S. 597, do STF e S. 69, do STJ), pois não há previsão na
Lei do Mandado de Segurança, o que vai contra a Súmula do próprio STJ de que cabe
agravo.

b) RESP ou RE

No âmbito do MS originário (foro privilegiado):

a) embargos de declaração;
b) agravo regimental:

- da decisão do relator que aprecia a liminar não cabe agravo regimental (S. 622, do STF);
- da decisão que indeferir a inicial por falta de prova pré-constituída ou que decaiu o
direito a jurisprudência tem aceitado o manejo do agravo regimental;

c) Recurso Ordinário Constitucional (ROC): toda vez que houver denegação ou carência
da ação. É semelhante com a apelação.

Se o MS originário está no TJ ou no TRF, o ROC vai para o STJ (art. 105, II, “b” da CF). Se o MS
originário está no STJ, o ROC vai para o STF (art. 102, II, “a”, CF)

d) Cabe RESP ou RE da decisão concessiva.

5.10 Execução:
A sentença no MS é mandamental, com a execução ocorrendo por ordem, ou seja, a
autoridade ou o particular que não cumpre a decisão da sentença, pode cometer crime
de desobediência ou prevaricação.

Deve-se ainda atentar para as súmulas 269 e 271 do STF:


Súmula 269
O mandado de segurança não é substitutivo de ação de cobrança.
Súmula 271
Concessão de mandado de segurança não produz efeitos patrimoniais, em
relação a período pretérito, os quais devem ser reclamados administrativamente ou pela
via judicial própria.

Ex: demissão em 01/01/2008; impetração em 01/03/2008; trânsito em julgado da sentença


que julgou procedente o MS em 01/03/2009. De acordo com essas duas súmulas, quando a
sentença for ser executada, deve-se executar os salários a partir da data da impetração
até o trânsito em julgado, ou seja, no exemplo acima, o impetrante terá direito a 12 meses
de salários, os quais poderão ser executados no próprio MS.
Os dois meses que o impetrante ficou sem salário só podem ser cobrados por ação
autônoma, já que o MS não possui efeitos pretéritos.

6. Questões processuais

 S. 101, do STF: MS não substitui ação popular;

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 desistência do MS: no processo comum, para o autor desistir tem que ser observado o art.
267, §4º, no entanto, no MS não se aplica esse artigo. A autoridade coatora não tem o
direito de se manifestar sobre a desistência.

 MS é ação personalíssima, portanto, o falecimento do impetrante implica em extinção


do processo; Resp 6594/DF

 decadência: art. 18, da Lei 1533/51, depois do prazo de 120 dias a parte decai do direito
de impetrar MS; existia uma discussão se esse dispositivo era inconstitucional (Nelson Nery),
pois o MS está previsto na CF e lá não tem prazo, portanto, uma lei ordinária não poderia
limitar uma garantia constitucional. S. 632, do STF: acabou com a discussão, dizendo que o
prazo de 120 dias é constitucional.

 S. 430, do STF: pedido de reconsideração não interrompe o prazo decadencial. Existe um


ato ilegal abusivo, a parte resolve pedir reconsideração na via administrativa. Isso não
interrompe a decadência. Prazo decadencial não se interrompe.

 termo inicial da decadência: quando o ato é comissivo (agir) o prazo para impetração
conta da intimação (ciência da ilegalidade ou do abuso); quando se tratar de ato
comissivo continuado (trato sucessivo), o ato ilegal se renova a cada ato,
conseqüentemente, o prazo se renova a cada ato; quando o ato é omissivo, existem duas
posições: o prazo corre do fim do prazo legal (prazo concedido para as autoridades
falarem), todavia o STJ diz que o ato omisso é sempre continuado, portanto, não corre o
prazo; quando o ato for iminente (está para ser praticado) não corre o prazo, porque a
ilegalidade não foi perpetrada.

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