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Noberto Bobbio ­ A era dos direitos

Resumo, anotações e fichamentos:


Primeiro Capítulo:
Sobre os fundamentos dos direitos dos homens

Neste sentido, Noberto Bobbio discute três temas:


o sentido do problema acerca do fundamento absoluto dos direitos dos homens, se um
fundamento absoluto é possível e se caso seja possível se ele é desejável.
Bobbio, enquanto filosofo, discute o problema dos fundamentos do direito, não em uma escala
de direitos positivados, e sim de um direito racional ou critico (direito natural no sentido restrito).

Analisando o problema dos fundamentos absolutos, Bobbio cita a busca infundada de


fundamentos absolutos e irresistiveis para com algumas leis. Encontrar tais fundamentos
absolutos é negar a possibilidade de se questionar sobre algumas leis, e fazer com que todos
se curvem para determinada lei.

No sentido da busca por fundamentos absolutos (faz parte do segundo tema de seu livro) são
levantadas quatro dificuldades: A primeira dificuldade vem da expressão “direitos dos homens”
que é uma expressão muito vaga, e que na maioria das vezes é interpretada de acordo com a
ideologia do interprete. Então se chega a primeira dificuldade: como chegar a encontrar o
problema dos fundamentos, absolutos ou não, dos direitos os quais é impossível ter uma noção
nítida?
A segunda dificuldade é em torno das mudanças que as leis são submetidas de acordo com a
sua época e as modificações históricas. O que pode parecer um direito fundamental hoje em
alguma cultura, anos mais tarde pode não ser mais.
A terceira dificuldade vem da heterogeneidade dos direitos do homem, que muito das vezes se
divergem entre si, dificultando e até tornando impossível encontrar um fundamento para os
direitos dos homens, e sim vários fundamentos.
É importante ressaltar que para o autor, os direitos fundamentais que constantemente entram
em conflito com outros direitos fundamentais, não são considerados direitos fundamentais, pois
em tais casos concretos a escolha é delicada.
As declarações modernas dos direitos do homem trazem os chamados direitos sociais, além
das liberdades tradicionais. Estes exigem obrigações negativas, ou seja, um não fazer. Já os
sociais só se consolidam mediante a realização de obrigações positivas. São antinômicos entre
si, uma vez que não podem coexistir integralmente.

PRESENTE E FUTURO DOS DIREITOS DO HOMEM


Bobbio cita, bem no começo deste capitulo que o maior problema com relação aos direitos do
homem não é mais fundamenta­lo e sim protege­lo. Ele afirma isso no sentido de buscar o
modo mais seguro de garantir os direitos e impedir que sejam continuamente violados, sendo
não um problema filosófico e sim de âmbito jurídico e político.
Ao dizer que o problema dos fundamentos dos direitos do homem não é mais o principal foco
da problematica ele diz no sentido de ter sido resolvido quando foi aprovada a Declaração
Universal Dos Direitos do Homem. A Declaração Universal Dos Direitos do Homem representa
a única manifestação na qual se pode afirmar que há uma declaração de valores humanamente
fundados e reconhecidos.
No sentido de como fundar os valores, Bobbio cita que há três maneiras:
O primeiro modo, considerando que exista de fato a natureza humana, admitindo­se que exista
como dado imutável e tendo a possibilidade de conhecê­la poderíamos chegar a destrinchar
qual é de fato o direito natural do homem segundo a sua natureza. Entretanto o que se observa
pela historia do jusnaturalismo é que houve várias interpretações do direito natural, com
sistemas de valores diversos entre si.
O segundo modo, o “apelo à evidência” tem o defeito de não aceitar qualquer tipo de
argumentação racional contraria, ou ir além de qualquer prova. De fato, ao fundar valores e
proclama­los evidentes temos que ter em conta o momento histórico, pois por exemplo hoje
quem não pensa que é evidente que não se deve usar da tortura? Porém antigamente era
evidente que deveria se usar da tortura.
O terceiro modo de se justificar os valores vem através do consenso, caso no qual o valor é
mais fundado quanto mais for aceito. O fundamento histórico do consenso é o único que pode
ser factualmente comprovado: o grande exemplo é a Declaração Universal Dos Direitos Do
Homem que foi aprovado por 48 Estados, fato histórico tal que marca a primeira vez que um
sistema de princípios fundamentais foi livre e expressamente aceito. Somente depois da
Declaração Universal Dos Direitos Do Homem que podemos afirmar que de fato a humanidade
partilha de alguns valores em comum.

O autor explica que o universalismo de valores foi passando por pequenas conquistas em torno
de sua historia e que houve três fases: a fase de uma teoria filosófica, a fase de entendimento e
acolhimento do legislador e a terceira fase que é a de afirmação dos direitos no qual se tornou
universal e positiva. A ultima fase se deu com a Declaração Universal dos Direitos do Homem.
Noberto Bobbio adverte que a Declaração Universal representa apenas o começo desse
universalismo das normas e que sendo ele produto de fatos históricos é sucetivel a absorver
novos valores com o passar do tempo. Conclui­se neste capitulo que os direitos do homem
nasce natural universal, vai se transformando em positivos particulares até se tornar em direitos
positivos universais.

A ERA DOS DIREITOS

Bobbio enfatiza o problema do reconhecimento dos direitos do homem, citando que após a
segunda guerra mundial que o problema se internacionalizou.
O autor toma a filosofia da historia para embasar seus estudos, o que deixa exposto que diante
de um evento a que colocar o problema do ‘sentido’ segundo uma concepção finalística da
historia, considerando todo o curso histórico, sendo algo orientado para um fim. Nesta parte
Bobbio cita Kant, explicando que nesse ‘sentido’ Kant julga que o ser humano estaria em
constante progresso para algo melhor e ainda considera uma “Constituição Civil” que esteja em
par com os direitos naturais, tendo o homem uma liberdade plena, e autonomia para poder
legislar para si mesmo.
Por fim Bobbio afirma que, desde o aparecimento dos direitos políticos, houve grande evolução
na consideração dos direitos do homem, embora o ideal seja a reprodução do estado natural de
liberdade e igualdade. Cita também que a generalização, internacionalização e a positivação de
novos valores faz parte de um grande processo para os sujeitos de direito. Mas é importante
ressaltar que enquanto as pretensões aumentam se torna mais difícil as efetivações.

DIREITOS DO HOMEM E SOCIEDADE

Como foi visto, foi com o final da Segunda guerra que se deu o desenvolvimento dos direitos do
homem. Neste capítulo de detém na análise do processo de multiplicação desses direitos
enquanto fenômeno social.
O autor mostra que essa tal multiplicação se deu por três razões: A primeira é devido ao
aumento da quantidade de bens a serem tutelados. Houve uma intervenção do Estado, de
forma a garantir a passagem dos direitos de liberdade para os direitos políticos e sociais. A
segunda razão é sobre o fato de que alguns direitos foram ampliados. Houve a consideração de
uma pluralidade de sujeitos como por exemplo as minorias étnicas, as famílias. A terceira razão
das multiplicações dos direitos é sobre a especificação de categorias de tratamento do homem,
neste sentido o homem foi deixado de ser considerado um homem genérico para ser
diferenciado com outros critérios, levando em conta o contexto social no qual ele está inserido.
Esses processos de multiplicação ocorreu principalmente nos direitos sociais, mais do que nos
direitos de liberdade.

A doutrina dos direitos do homem nasceu no jusnaturalismo que, com o fim de justificar os
direitos do homem independentemente do Estado, parte de poucos direitos, porém essenciais:
o direito à vida, à liberdade e à propriedade, como formas de sobrevivência. Os direitos de
liberdade tem o objetivo de limitar o poder do Estado, enquanto os direitos sociais ampliam os
poderes do Estado, já que necessitam de intervenção do estatal para sua concretização.

SEGUNDA PARTE
A REVOLUÇÃO FRANCESA E OS DIREITOS DO HOMEM
O autos neste capítulo cita que a primeira defesa que se conhece da Declaração está na obra
de Thomas Paine, Os direitos do homem, de 1791. Paine justifica os direitos do homem através
da religião, ou seja, seria preciso transcender a história e chegar no momento da origem do
homem pelas mãos do criador. Desta forma antes de ter direitos civis, o homem teria direitos
naturais, e estes seriam fundados daqueles. Paine participou da revolução norte­americana e
acreditava ser ela o início do desenvolvimento da francesa. Neste ponto Bobbio faz
comparações entre as duas revoluções: Ambas as declarações consideram o homem de
forma singular, sendo cada qual com o seu direito. Mas a declaração francesa invoca a
“utilidade comum” para justificar “diferenças sociais”, afirmando exclusivamente o direito dos
indivíduos; enquanto a norte­americana ressalta a finalidade da associação política, que é
alcançar o bem comum. Bobbio afirma que a Declaração Francesa foi a que constituiu um
ponto de referência em defesa, ou não, da liberdade. Neste sentido a base da doutrina da
Declaração francesa está nos três artigos inaugurais:
­ Condição natural dos indivíduos precede a sociedade civil, idéia esta que foi mantida no
primeiro artigo da Declaração Universal dos Direitos do Homem.
­ A finalidade da sociedade política vem depois do estado de natureza. O objetivo das
associações políticas seria o de garantir os direitos naturais: liberdade, propriedade, segurança,
dentre outros.
­ O principio da legitimidade do poder cabe à nação.

A HERANÇA DA GRANDE REVOLUÇÃO

Historicamente a Revolução Francesa serve como um marco, pois representou o fim do regime
feudal e a aprovação da Declaração dos Direitos do Homem. Bobbio cita que muitos autores
fazem comparações, de fato e valor entre as duas declarações ( norte­americana e francesa).
Somente se pode afirmar que os norte­americanos desempenharam papel importante na
elaboração da declaração francesa.
Neste sentido existe uma diferenciação entre a idéia da declaração e o conteúdo. Quanto a
idéia, a influência da declaração americana é inquestionável. Já com relação ao conteúdo, não
se pode deixar de frisar que ambos derivam do direito natural.
Bobbio afirma que houve uma inversão de perspectiva, no qual antes os indivíduos eram
considerados como membros de um grupo social onde não nasciam livres e nem iguais.
Depois, quando foi utilizado o conceito de estado originário ( no qual os homens se submetem
apenas às leis universais) é que se pode afirmar e efetivar o seguinte conteúdo do primeiro
artigo da Declaração Universal dos Direitos do Homem: “ Todos os homens nascem livres e
iguais em dignidade e direitos”. Como se pode observar, houve de fato uma inversão de
perspectiva.
Conclui­se que as Constituições consideradas democráticas devem conter direitos individuais e
, ainda, considerar que a liberdade dos cidadãos singulares está acima do poder do governo.

KANT E A REVOLUÇÃO FRANCESA


Neste capítulo, Bobbio refere­se à ambiguidade da história, dizendo que essa ambiguidade é
maior do que nunca. Ele enfatiza a idéia de um sujeito universal, ou seja, a atribuição de
poderes próprios a um sujeito, diferentes do homem singular.
Kant difere a história conjetural da história profética, sendo esta a única capaz de evitar a
guerra, em harmonia com os direitos naturais do homem singular, de modo que aqueles que
obedecem às leis, poderão sobre elas legislar. Foca, ainda, que se faz necessário uma
autodisciplina do conflito para se alcançar a Constituição de um ordenamento civil universal, ou
seja, que cada homem seja cidadão do mundo e não de somente um Estado particular com
suas leis particulares.
Diz Kant que o ordenamento universal seria necessário para o surgimento da paz perpétua e a
criação de um direito público geral.

TERCEIRA PARTE
A RESISTÊNCIA À OPRESSÃO, HOJE
Segundo Bobbio, o problema da resistência à opressão torna­se novamente atual em razão da
contestação. Tanto a contestação quanto a resistência são formas de oposição extralegal e
deslegitimadora. Ele enfatiza que a resistência é o oposto da obediência, esta como atitude
passiva e, ainda que a contestação é o oposto da aceitação.
O autor salienta algumas diferenças entre o modo como se via ontem e como se vê hoje o
problema da resistência: hoje a resistência é vista como fenômeno coletivo e não individual. O
que se pretende destruir é uma determinada forma de sociedade e não uma forma de Estado. E
hoje se discute a resistência em termos essencialmente políticos, enquanto antigamente as
teorias discutiam a licitude ou ilicitude da resistência.
No fim deste capítulo ele expõe várias formas de desobediência civil, sendo que todas levam a
paralisar ou por em dificuldade o adversário e não destrui­lo.

CONTRA A PENA DE MORTE

Neste capítulo o autor define alguns pontos de vista e vários filósofos e pensadores de
antigamente sobre a questão da pena de morte. Ele cita o primeiro pensador que enfrentou o
problema da pena de morte e tentou dar algumas soluções que foi Beccaria. O ponto de partida
utilizado por Beccaria é a função intimadora da pena. Ele parte de dois argumentos que
contestam a utilidade da pena: primeiro que as penas não precisam ser cruéis, mas sim
certeiras, e o segundo é que a intimidação nasce de sua extensão e não de sua intensidade.
Entretanto Bobbio entende que a perda total da liberdade tem mais força intimidatória do que a
pena de morte.
Kant e Hegel defenderam a teoria retributivista da pena dizendo que a pena de morte chegava a
ser um dever e que este cabe ao Estado como um imperativo categórico. Mas Hegel diz que o
criminoso tem o direito de ser punido com a morte para assim ser resgatado e reconhecido
como ser racional.
O debate sobre a pena de morte não tratou somente de sua abolição, mas também da limitação
dessa pena para alguns crimes graves, da eliminação de suplícios e da supressão de sua
execução pública.
A única razão, segundo o autor, para a repugnância ante a pena de morte é o mandamento de
não matar e que quando a abolição da pena de morte ocorrer, será um progresso moral.

DEBATE ATUAL SOBRE A PENA DE MORTE


O autor inicia este capítulo dizendo que, judicialmente, o maior debate sobre a pena de morte na
atualidade refere­se em saber se é moral ou licito, por parte do Estado, matar e punir, ainda que
respeitadas todas as garantias processuais próprias do Estado de Direito.
O Estado justifica a pena de morte dizendo que a vida de um indivíduo deve ser sacrificada à
vida do todo, quando ele põe em risco a vida de todos.
O debate atual não depende somente da solução legislativa, mas também do direito à vida, o
qual compreende: o direito à vida em sentido estrito, o direito de nascer, o direito de não ser
deixado morrer e o de ser mantido em vida (sobrevivência).
Ao trazer o problema da pena de morte para o campo penal, as teorias que se contrapõem são
duas: a retributiva, segundo a qual a pena tem como função essencial intercambiar o malum
actions com o malum passionis; e a preventiva, cuja função essencial da pena é desencorajar
as ações que o ordenamento considera como nocivas, sendo portanto, intimidatória. A distinção
entre as duas teorias é nítida. O problema que a retributiva coloca é a licitude moral da pena de
morte, já a preventiva coloca o problema da oportunidade política da pena de morte.

AS RAZÕES DA TOLERÂNCIA

O inicio deste capítulo se da pelo autor salientando que hoje, o conceito de tolerância é
generalizado para o problema da convivência das minorias étnicas, raciais, para aqueles que
são chamados de “diferentes”.
Para o intolerante, o tolerante é um ser cético, sem convicções fortes, sem possuir nenhuma
verdade pela qual valha a pena lutar. No entanto o autor cita três boas razões para ser tolerante
no ponto de vista da razão prática. A primeira delas é a tolerância como um mal necessário,
que implica no conceito de que a verdade tem tudo a ganhar quando se suporta o erro alheio. A
segunda é que por trás da tolerância há uma atitude ativa de confiança na razão alheia, capaz
de levar em conta o próprio interesse à luz do interesse dos outros. Por fim, existe uma razão
moral em favor da tolerância: o respeito à outra pessoa. Trata­se de um conflito entre razão
prática e razão teórica, entre aquilo que se deve fazer e aquilo que se deve crer.

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