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RELAÇÃO ESCOLA/FAMÍLIA/COMUNIDADE
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Secretaria Municipal de Educação
Prefeitura de Belo Horizonte/2002
II Congresso Político-Pedagógico
da Rede Municipal de Ensino/Escola Plural
A década de 90 - que do ponto de vista histórico se liga aos nossos dias - caracterizou-se pela
intensificação ou pela tentativa de qualificação da participação popular em todos os setores. A
implementação de um novo modelo de administração pública de caráter democrático e popular, a
partir de 1993, fez multiplicar as associações representativas populares e os conselhos municipais
(Educação, Saúde, Assistência Social etc). Ao mesmo tempo, reuniões, conferências, seminários e
encontros marcaram a vida das pessoas, criando condições para o fortalecimento da participação
efetiva da população. No setor da educação experimentamos a implantação do Programa Escola Plural,
a realização da Constituinte Escolar e de duas Conferências Municipais de Educação, deliberativas, nas
quais foram eleitos os membros do Conselho Municipal de Educação, sendo a última em 2002. No
interior de algumas escolas as comunidades participaram com entusiasmo e com consciência. No
entanto, em sua maioria, o que se viu foi uma participação reduzida e marcada pelo fato da dificuldade
de participação, comprovada pela repetida presença das mesmas pessoas em todos os eventos.
Em continuidade ao movimento da década de 90, o que presenciamos hoje nas escolas é um
afastamento cada vez maior das comunidades e das famílias dos processos e espaços de participação
da escola. Também no dia-a-dia da escola, nos Colegiados, em Assembléias Escolares e Conselhos de
Classe a participação quantitativa é bem pequena, bem como o envolvimento e a constância da
comunidade, deixam muito a desejar. Em processos como as eleições para diretores de escola, não se
vê participação efetiva dos pais, tampouco não estão presentes quando o assunto é a discussão da
proposta pedagógica ou as regras e normas que regem o interior dos estabelecimentos de ensino.
Aspectos complexos podem ser explorados para explicar essas dificuldades, tais como:
• a transformação do perfil socioeconômico da família brasileira, que mudou
radicalmente nos últimos 30 ou 40 anos. A intensificação da participação da mulher no mercado
de trabalho, por opção ou por necessidade, provocada pelo aprofundamento da crise econômica, e
a transformação radical da organização familiar influenciam diretamente na qualidade da
participação da família na escola;
• a falta de uma convivência realmente democrática entre os trabalhadores em educação
e as comunidades escolares. Apesar da existência dos instrumentos, processos e espaços de
decisão, esses ainda não foram devidamente apropriados por professores, alunos e pais,
principalmente por esses dois últimos. Há uma distância entre o chamar a comunidade para
participação e o convívio cotidiano e regular entre esses vários segmentos para elaborar e
encaminhar projetos comuns;
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pela autonomia de seus alunos, criar as condições para a organização independente de seus alunos em
grêmios estudantis, por exemplo.
É necessário revigorar e/ou criar as instâncias de participação da escola para que possamos
falar de verdadeira participação. As reuniões dos Colegiados e Assembléias Escolares têm que se
transformar em espaços reais de manifestação da comunidade. Pautas previamente conhecidas,
horários de reuniões acessíveis aos pais, linguagem de domínio comum, convocações feitas com
antecedência são importantes fatores para favorecer essa participação de qualidade. As associações de
pais e alunos precisam estar presentes em cada escola como o fim de organizar o segmento de forma
autônoma. Se essas instâncias tiverem vida, ou seja, se todas elas existirem com intensidade e força, os
espaços maiores, como as conferências, ganharão em quantidade e em qualidade de participação.
GESTÃO DEMOCRÁTICA
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com que esses processos e espaços democráticos se tornem de fato democráticos, combatendo, no
fazer diário, os desvios dessa construção.
Se não podemos dizer que há uma escola democrática em sua totalidade, podemos sim afirmar
que processos declaradamente autoritários e antidemocráticos estão fortemente pressionados a não
fazer parte do atual cenário. Não há mais lugar, por mais difícil que possa parecer aprimorar a
democracia na escola, para práticas que anulam a participação comunitária, que encerram as
possibilidades de diálogo e que avalizem posturas exclusivamente centralizadoras.
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são obrigações da família que alimentam a relação dialógica da comunidade escolar. Assumir as
instâncias de participação como espaços legítimos do exercício da cidadania contribuirá muito para a
qualidade de escola que se quer construir.
De alunos, professores e pais espera-se a organização e o intercâmbio entre suas
representações formais como os grêmios, sindicato e associações de pais. A existência dessas
representações e a atividade permanente e de qualidade são fatores essenciais da construção
democrática, assim como é de igual importância a responsabilização desses segmentos pelos destinos
da escola. Cabe ressaltar que, no caso da organização dos alunos, deve fazer parte das intenções
pedagógicas do professor a busca da autonomia destes, desenvolvendo sua capacidade crítica e na
formação de sua identidade. Basicamente, a participação efetiva, consciente e sobretudo ética de todos
deve balizar as relações entre os segmentos que convivem no interior da escola.
Autonomia tem sido importante e difícil tema de discussão em nossa Rede de Ensino. Seus
significados são elaborados a partir dos inúmeros entendimentos de mundo, de projetos políticos e de
formação histórica de cada pessoa ou de cada grupo organizado. Portanto, é compreensível a
dificuldade de simplificar esse conceito e responder em meia dúzia de palavras a questão que se coloca.
Como a nossa formação humana, quer dizer a nossa educação ao longo da vida, a autonomia
também é um processo que não se acaba nunca. Dessa maneira não podemos tê-la pronta para ser
usada, nem se pode oferecê-la a qualquer que seja a pessoa ou conjunto de pessoas. Reivindicar a
autonomia para que o outro a conceda ou autorize é uma contradição com a própria natureza da
autonomia.
A sensação, ou sentimento, ou ainda a necessidade da autonomia só existe nas pessoas ou nos
grupos que, através da ação política consciente, constroem um conjunto de razões, de argumentos e de
motivos para sustentar a direção determinada para alcançar seus objetivos maiores. É no diálogo com
as dificuldades impostas pela vida, percebendo a importância de superá-las, que vamos formando a
consciência autônoma. A autonomia é assim fruto do exercício político, da ação dirigida, que se
alimenta da necessidade de ampliar o campo da ação. Não existe autonomia como fonte da
energização da luta por liberdade se os sujeitos não caminham no sentido da conquista da liberdade.
Para essa busca interminável da autonomia, interminável porque jamais bastará àqueles que
lutam por um mundo melhor, haverá também de se enfrentar outro desafio: equilibrar o valor da
liberdade e da responsabilidade.
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Não há autonomia sem esse equilíbrio, assim como não existe liberdade sem ética, sem
respeito ao outro. A liberdade (sem rodeios) está condicionada por limites. Limites historicamente
produzidos nos conflitos de classe, de gênero, de teorias e práticas, na convivência de mulheres e
homens que atuam no mundo, na universalização de conceitos fundamentais das relações humanas. A
liberdade sem limites é um instrumento que serve ao interesse particular, que se autoriza a invadir o
espaço vizinho sem qualquer consideração, sem a necessária ética. A liberdade, nessa forma, se torna
autoritária e distante da autonomia, pois se torna uma ferramenta oportunista e vulgar. A liberdade que
serve à autonomia é concebida como produto social, como aprendizagem dialógica, sem a qual não é
possível falar em liberdade verdadeira.
A responsabilidade é uma referência para a amplitude e a intensidade da liberdade. Ela nos
leva ao espelho, donde podemos fazer autocrítica, nos vendo no lugar do outro. A responsabilidade é o
produto da ponderação dos possíveis, o termômetro da autocapacidade. Deixar de ser responsável é
também deixar de ser ético, é negar o papel histórico da transformação possível do mundo. Daí a sua
função equilibradora na luta pela autonomia ou na formação da autonomia dentro das pessoas. É uma
medição crítica e consciente das situações, nas quais consideramos nossas forças, nossos medos,
dúvidas, doses de coragem, convicções, desejos e sonhos. Não haverá autonomia sem esse
condimento, pois sem responsabilidade a autonomia é uma senha para a aventura destrutiva das
possibilidades, arrasando com os sonhos e as utopias, tão necessárias à luta pela liberdade.
É dessa forma que podemos construir a nossa autonomia, que será fundamentalmente uma luta
contra o autoritarismo que insiste em sobreviver em nossa cultura. Como sugere Paulo Freire, uma luta
contra a licenciosidade, ou seja, a idéia de que se pode tudo, não importando o outro, confundindo
propositadamente autoridade e autoritarismo, com o que se nega os papéis de cada sujeito histórico no
ambiente escolar. Como se, ao exercer autoridade, o professor ou o pai necessariamente estivessem
sendo autoritários. Como se, ao colocar limites na liberdade, o sujeito responsável pela ação fosse
inexoravelmente autoritário. Isso seria a ruptura do equilíbrio entre liberdade e responsabilidade, entre
autoridade e respeito ofendendo a ética construída socialmente, a verdadeira ética.
5 - Que instâncias, mecanismos e práticas levam à construção da autonomia? O que existe hoje e o
que deve existir para tal?
Talvez a dificuldade na construção da autonomia esteja mais na compreensão do que seja ela e
menos na imperfeição das instâncias e dos mecanismos da gestão do espaço escolar.
Nossa cidade é uma das mais privilegiadas no país no sentido de ter dado passos importantes
no aprimoramento da gestão democrática da cidade e da educação. Existe toda uma estrutura de
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funcionamento da escola que permite que pais, alunos e professores discutam o seu dia-a-dia, que
planejem juntos e tomem decisões importantes em conjunto. Os Colegiados, as Assembléias Escolares e
os Conselhos de Classe são espaços importantes e necessários para o exercício da cidadania, portanto,
da autonomia das pessoas e das unidades escolares.
Como uma das primeiras cidades a instituir a eleição para diretores de escola, devemos investir
na participação desse processo na construção da autonomia dos sujeitos que convivem no espaço
escolar. Várias são as dificuldades vividas nesses processos eleitorais, o que tem aberto espaço para
críticas e até insinuações e propostas para acabar com as eleições diretas para esse cargo. Recheado de
práticas autoritárias e concepções tradicionalistas da política brasileira, esse processo revela antes,
durante e depois das eleições o quanto é difícil construir a democracia. Nesse momento também se fala
da autonomia que muito serve às promessas vazias, infundadas, impossíveis de realização. É preciso,
então, na prática do exercício da participação, buscar a autonomia que constrói, que une e que de
forma honesta não ilude as pessoas; educa-as, fortalecendo os presentes e os futuros laços entre
aqueles que lutam por uma escola progressista.
A participação em todas as instâncias de discussão e decisão é educativa, formadora e
contribuidora para a autonomia que proporcionará em última análise seres emancipados e engajados
no movimento social. O Conselho Municipal de Educação, por exemplo, como um conselho que
privilegia a participação popular, tem de ser ocupado pelas comunidades escolares. Nesse espaço se
discute os problemas locais e restritos à relação ensino e aprendizagem, como também as políticas
públicas da cidade. É lá que se dão as discussões que levam a decisões importantes. Nesse exercício do
entendimento, da pesquisa de novas informações, na elaboração de propostas e solução de problemas
é que os indivíduos atuantes tornam-se sujeitos sócio-históricos, somando a cada luta um componente à
sua autonomia.
Enfim, urge problematizar as relações no ambiente escolar, as relações de segmentos, de
classes, de culturas. É necessário discutir os interesses particulares dos grupos e o interesse público, a
conciliação e a opção entre esses. Discutir os papéis e os compromissos de cada segmento escolar para
a necessária elaboração do projeto comum e dos acordos que darão apoio à essa construção. Nessa
relação, nessa lida, nessa problematização irá se constituindo uma autonomia segura, livre dos
oportunismos, dos paternalismos, das deformidades do autoritarismo presentes em nossa cultura.
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