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INTRODUÇÃO

O assunto das Autarquias Locais não é um dado novo para os angolanos. Trata-se
de uma notícia trazida há cerca de treze anos, isto é, com a entrada em vigor da
Constituição da República de Angola em 2010, conforme o seu artigo 217º.
Misteriosamente, apesar das intenções constitucionais, as Autarquias nunca
abandonaram o plano abstracto para o concreto, deixando o povo num advento
abastado de incertezas. Por este motivo, o presente trabalho trata sobre as
Autarquias Locais, uma visão à realidade Angolana. Tem como objectivo geral
compreender a inexistência das Autarquias em Angola, para posteriormente
identificar as causas da sua não implementação.

Está organizado em partes, títulos e capítulos encadeadas que, sequencialmente,


abordam o assunto de maneira entendida e lógica. Com vista a compreender o
conceito de Autarquias entendeu-se, pela via dedutiva, tratar na primeira parte sobre
a génese do Estado Administrativo enquanto ente geral responsável pelo
movimento do aparelho administrativo do Estado, do qual posteriormente poderão
surgir outras formas de Administração, entre as tais, as Autarquias. Mais ainda,
falou-se sobre a Administração Pública, seu conceito e sentidos; seus princípios à
luz da Constituição Angolana e do Código de Procedimento Administrativo; espécies
de Administração; sobre a tutela Administrativa e as modalidades. A segunda parte
trata da Autonomia Local em Angola; sua perspectiva histórica desde o período pré-
colonial ao colonial e a revisão constitucional. A terceira parte trata da Autonomia e
poder local, suas figuras afins; as características dos sistemas centralizados e
descentralizados da organização administrativa, vantagens e inconvenientes; o
poder local na Constituição de Angola bem como as formas organizatórias em
Angola. Feita a situação dos aspectos gerais da Administração Publica, com vista a
penetrar o imo do tema, entendeu-se tratar na quarta parte, sobre as Autarquias
Locais, isto é, do enquadramento constitucional à perspectiva da sua concretização;
sobre a Administração Local Autárquica, princípios constitucionais das autarquias
locais; órgãos das Autarquias Locais; figuras afins; categorias das Autarquias;
regime jurídico; eleições Autárquicas e as atribuições das autarquias locais. Por
último, fruto da investigação levada a cabo, entendeu-se dedicar a quinta parte
deste trabalho às nossas opiniões em relação ao problema que nos foi proposto a
estudar, sem descurar a visão doutrinária.
Para a concretização deste trabalho realizou-se a pesquisa bibliográfica e
documental, por se tratar de um tema cujo conteúdo inexiste no sentido concreto
em Angola, servindo-se dos métodos analítico, dedutivo, comparativo e
hermenêutico.
PARTE I

TÍTULO:

ESTADO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

CAPÍTULO: NOÇÃO

1.1. CONCEITO DE ESTADO

A palavra Estado tem várias acepções na Ciência do Direito, das quais, as mais
importantes são: a acepção internacional, a acepcāo constitucional e a acepção
administrativa.

a). Na primeira, a acepcāo internacional, trata-se do Estado soberano, titular de direitos


e obrigações na esfera internacional;

b). Na segunda, a acepção constitucional, surge-nos o Estado como comunidade de


cidadãos que, nos termos do poder constituinte que a si própria se arroga, assume uma
determinada forma política para prosseguir os fins colectivos. É o chamado Estado-
Nação;

c). Na terceira, a acepção administrativa, o Estado é a pessoa colectiva pública que, no


seio da comunidade nacional, desempenha, sob a direcção do Presidente da
República, e dos membros do Executivo por delegação do primeiro, a actividade
administrativa. É o chamado Estado-administração, ou aparelho de Estado.1

Não vamos aqui discutir se o Estado-administração forma uma pessoa


colectiva pública distinta do Estado-comunidade nacional e do Estado-entidade
internacional.

Para efeitos de Direito Administrativo, basta acentuar aqui que o Estado-


administração, é uma pessoa colectiva pública autónoma, não confundível com os
governantes que a dirigem, nem com os funcionários que a servem, nem com as outras
entidades que integram a Administração, nem com os cidadãos que com ela entram em
relação.2,3

1
AMARAL, Diogo Freitas do, e Carlos Feijó, ob, cit, p-234.
2
AMARAL, Diogo Freitas do, e Carlos Feijó, ob, cit, pp: 235-236.
3
Não se confundem Estado e governantes: o Estado é uma organização permanente; os
governantes são os indivíduos que transitoriamente desempenham as funções dirigentes dessa
organização. Não se pode confundir Estado e funcionários como os advertem Diogo Freitas e Carlos
Feijó porquanto o Estado é uma pessoa colectiva, com património próprio; os funcionários são
indivíduos que actuam ao serviço do Estado, mas que mantêm a sua individualidade humana e
jurídica. Cf: ob, cit, p-236.

11
2. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Como acima referido, o Estado tem a sua razão de ser na prossecução dos seus fins
para satisfação das necessidades colectivas. Para a realização das suas tarefas
fundamentais o Estado cria um conjunto de serviços vocacionados a este fim que, se
chama Administração Pública. O conceito de Administração pública não é unívoco, isto
é, o seu significado varia de acordo o sentido que se quer apresentar. Para efeitos de
compreensão, Diogo Freitas do Amaral e Carlos Feijó 4 apresentam-nos os seguintes:

1- Sentido orgânico ou subjectivo: entende-se como sendo o sistema de órgãos,


serviços, e agentes do Estado, bem como das demais pessoas colectivas públicas,
que asseguram em nome da colectividade a satisfação regular e contínua das
necessidades colectivas de segurança, cultura, e bem-estar económico e social. É
a Administração como Organização.

2- Sentido Material ou objectivo: Entende-se como sendo a actividade típica dos


serviços públicos e agentes administrativos, desenvolvida no interesse geral da
comunidade, com vista a satisfação regular e contínua das necessidades colectivas
de segurança, cultura, e bem-estar económico e social, obtendo para o efeito os
recursos mais adequados e utilizando as formas mais convenientes 5. É a
Administração como actividade.

Para além destes dois sentidos, os autores referem-se à um terceiro sentido proposto
por Marcello Caetano, que é o sentido formal6. A Administração Pública é regida pelo
Direito Administrativo, que é na perspectiva de Diogo Freitas e Carlos Feijó “ramo do
direito público constituído pelo sistema de normas jurídicas que regulam a organização
e funcionamento da Administração Pública, bem como as relações por ela
estabelecidas com outros sujeitos de direito no exercício da actividade administrativa
de gestão pública e, ainda, os termos e os limites das suas actividades de gestão
privada”7.

2.1. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA


3. No exercício das suas actividades a Administração Pública é regida pelos seguintes
princípios:
4. Princípio da Constitucionalidade: os actos da Administração Pública devem estar
conforme a Constituição, sob pena de nulidade (Cfr. Art. 6º CRA, e 12º CPA)
5. Princípio da Proporcionalidade: as decisões da Administração Pública que
colidam com direitos subjectivos ou interesses legalmente protegidos dos
particulares só podem afectar essas posições com base na lei, em termos
adequados e através de meios proporcionais aos objectivos a realizar (Cfr.Art.198º
CRA, e 18º CPA).
6. Princípio da prossecução do interesse público e do respeito pelos direitos e
interesses legalmente protegidos dos particulares: os Órgãos Administrativos

4
Amaral, Diogo Freitas do. Feijó Carlos. Direito Administrativo Angolano. Almedina, S.A.Coimbra.2016.pp-15-17
5
Idem.18
6
Segundo Marcello Caetano, a Administração Pública não se mostra hoje, somente como uma
actividade do Estado, mas como uma das várias formas de manifestação da sua autoridade. Por isso,
trata o terceiro sentido como sentido do poder da Administração Pública.
7
Ibidem.p-50

12
em todos os seus domínios de actuação devem prosseguir o interesse público no
respeito pelos interesses legalmente protegidos (Cfr. Art. 198º CRA, e 16º CPA)
7. Princípio da legalidade: os órgãos da Administração Pública devem agir em
obediência à lei dentro dos limites dos poderes que lhes forem conferidos e em
conformidade com os respectivos fins (Cfr. Art. 198 CRA, e 14º do CPA)
8. Princípio da igualdade: nas suas relações com os particulares, a Administração
Pública deve reger-se pelo princípio da igualdade
9. Princípio Justiça: a Administração Pública está vinculada ao princípio da Justiça
que deve ser aferido nos casos concretos (Cfr. Art. 198º CRA, e 37º CPA)
10. Princípio Imparcialidade: no exercício das suas funções, a Administração Pública
deve tratar de forma imparcial todos os que com ela entrem em contacto
(Cfr.Art.198º, e 19º CPA)
11. Princípio da Aproximação dos serviços às populações: para melhor servir o
interesse público, a Administração Pública deve estar estruturada de maneira que
os seus serviços estejam os mais próximos possíveis das populações.
12. Princípio da Desconcentração: visa assegurar a nível local, a realização das
distribuições e dos interesses específicos da Administração do Estado na respectiva
circunscrição territorial, mediante a delegação de poderes. (Cfr.Art.201º CRA).
13. Princípio da Descentralização Administrativa: garante que os fins do Estado não
sejam perseguidos somente pela Administração Central do Estado, mas por outros
entes, como são as Autarquias Locais.
13.1. ESPÉCIES DE ADMINISTRAÇÃO DO ESTADO

A administração do Estado é multiforme e comporta, por isso, variadas espécies.

a) Primeiro, temos de saber distinguir entre administração central do Estado e


administração local do Estado.

Nem todos os órgãos e serviços do Estado exercem competência extensiva ao


conjunto do território nacional; nem todos são, pois, órgãos e serviços centrais. Há
também órgãos e serviços locais, instalados em diversos pontos do território e com
competência limitada a certas áreas (circunscrições). Num caso, fala-se de
administração central do Estado; no outro, de administração local do Estado.8

A doutrina perfilhada chama-nos à razão no seguinte aspecto: é imperioso não deixar


de dizer Administração Local do Estado, porque há outras formas de Administração
Local que não pertencem ao Estado como será o caso da administração autárquica,
quando existir.

Assim, por exemplo, os governadores provinciais e os administradores municipais


são órgãos locais do Estado: representam o Governo na circunscrição provincial e

8
AMARAL, Diogo Freitas do, e Carlos Feijó, ob, cit, p-238.

13
municipal. Já os futuros presidentes das autarquias municipais, quando eleitos, não
serão órgãos do Estado: serão órgãos locais, sim, mas dos municípios; representarão
as populações da respectiva área.

b) A segunda distinção que precisamos de conhecer é a que separa a


Administração Directa do Estado, da Administração Indirecta do Estado.
Trata-se de uma classificação que vem referida no artigo 120. °, alínea d), da
CRA, para a qual a doutrina indica como diferença o seguinte: a
Administração Directa do Estado é a actividade exercida por serviços
integrados na própria pessoa colectiva Estado, ao passo que a Administração
Indirecta do Estado é uma actividade que, embora desenvolvida para a
realização dos fins do Estado, é exercida por pessoas colectivas públicas
distintas do Estado.9

ESPECIES DE ADMINISTRAÇÃO
 Administração Estadual Indirecta
 Administração Estadual Directa
 Administração Autónoma
 Administração Independente / periférica.

13.1.1. NOCÃO DE ADMINISTRAÇÃO ESTADUAL INDIRECTA

O conceito de administração estadual indirecta é vista em duas


perspetivas: objectiva e subjectiva.
a) Na perspectiva objectiva ou material, a administração estadual indirecta é
uma actividade administrativa do Estado, realizada, para a prossecução dos
fins deste, por entidades públicas dotadas de personalidade jurídica própria
e de autonomia administrativa e financeira, sob a superintendência do Poder
Executivo;
b) Na perspectiva subjectiva ou orgânica, a Administração estadual indirecta
define-se como o conjunto das entidades públicas que desenvolvem, com
personalidade jurídica própria e autonomia administrativa e financeira, uma
actividade administrativa destinada à realização de fins do Estado, sob a
superintendência do Poder Executivo.10 A administração estadual indirecta
existe em resultado do constante alargamento e da crescente
complexificação das funções do Estado no desempenho da actividade
administrativa.

9
AMARAL, Diogo Freitas do, e Carlos Feijó, ob, cit, p-239.
10
AMARAL, Diogo Freitas do, e Carlos Feijó, ob. Cit. p-271.

14
13.1.2. NOCÃO DE ADMINISTRAÇÃO ESTADUAL DIRECTA

O Estado prossegue uma grande multiplicidade de fins: tem uma grande variedade de
atribuições a seu cargo. E esses fins ou atribuições têm tido tendência a tornar-se cada
vez mais numerosos, cada vez mais diversificados e cada vez mais complexos. Ora, a
maior parte dos fins ou atribuições do Estado são prosseguidos de forma directa e
imediata. Isto é: directa, quando prosseguida pela própria pessoa colectiva a que
chamamos Estado, e, imediata, quando, sob a direcção do Governo na sua
dependência hierárquica, e, portanto, sem autonomia, ou com uma autonomia muito
limitada. Por exemplo, a função tributária do Estado, que consiste em lançar e cobrar
impostos aos contribuintes.

13.1.3. NOÇÃO DE ADMINISTRAÇÃO AUTÓNOMA

No entender de Diogo Freitas e Carlos Feijó a administração autónoma é aquela


prossegue interesses públicos próprios das pessoas colectiva que a constituem e por
isso se orienta e dirige a si mesma, sem sujeição a hierarquia ou superintender do
executivo, mas apenas sob a tutela deste.11 Para Angola, nos termos da al. d) do
art.120.ª da CRA, compete ao Presidente da República, enquanto titular do poder
executivo, dirigir os serviços e actividade da administração directa do Estado, civil e
militar, superintender a administração indirecta e exercer a tutela sobre a administração
autónoma.

13.1.4. NOCÃO DE ADMINISTRAÇÃO PERIFÉRICA

Os professores Diogo Freitas e Carlos Feijó entendem a Administração Periférica como


o conjunto de órgãos e serviços do Estado, ou de outras pessoas públicas, que
disponham de competência limitada a uma área territorial restrita, e que funcionem sob
a direcção dos correspondentes órgãos centrais.12

A Administração Periférica caracteriza-se, pois, pelos seguintes aspectos

principais:

 É constituída por um conjunto de órgãos e serviços, quer locais quer externos;

 Esses órgãos e serviços pertencem ao Estado, ou a pessoas colectivas públicas

de tipo institucional ou associativo;

11
AMARA, Diogo Freitas do, e Carlos Feijó, ob.cit. p-301.
12
AMARA, Diogo Freitas do, e Carlos Feijó, ob.cit p-258.

15
 A competência de tais órgãos é limitada em função do território, não abrange

nunca a totalidade do território nacional;


 Os órgãos e serviços da administração periférica funcionam sempre na
dependência hierárquica dos órgãos centrais da pessoa colectiva pública a que
pertencem Estado, Instituto Público, Associação Pública, etc.

13.1.4.1. ÓRGÃOS DA ADMINISTRAÇÃO PERIFÉRICA

Conforme resulta dos exemplos dados no número anterior, a administração periférica

compreende as seguintes espécies:

a. Órgãos e serviços locais do Estado;

b. Órgãos e serviços locais de institutos públicos e de associações públicas;

c. Órgãos e serviços externos do Estado;

d. Órgãos e serviços externos de institutos públicos ou de associações


públicas.

Todos estes tipos de órgãos e serviços cabem no conceito de administração periférica:

aos mencionados na alínea a), chama-se Administração Local do Estado; ao conjunto

formado pelas alíneas a) e b), dá-se a designação de administração periférica interna,

ao conjunto das alíneas c) e d), a designação de administração periférica externa;

finalmente, ao conjunto das alíneas a) atribui-se a denominação de administração


periférica do Estado.13

A ALE assenta, basicamente, sobre três ordens de elementos:

 Divisão do território;
 Órgãos locais do Estado;
 Serviços locais do Estado.

Quanto à divisão do território, é ela que leva à demarcação de áreas, zonas, ou


circunscrições, que servem para definir a competência dos órgãos e serviços locais do
Estado, a qual fica assim delimitada em razão do território.14

13
Idem.
14
Idem.

16
Quanto aos órgãos locais do Estado, trata-se dos centros de decisão dispersos pelo
território nacional, mas habilitados por lei a resolver assuntos administrativos em nome
do Estado, nomeadamente face a outras entidades públicas e frente aos particulares
em geral.

Os serviços locais do Estado são, por seu turno, os serviços públicos dependentes
dos diferentes órgãos locais do Estado, e encarregados de preparar e executar as
respectivas decisões.15

A TUTELA ADMINISTRATIVA
É o poder que um órgão administrativo público tem de intervir no funcionamento de
outro órgão administrativo a fim de garantir a legalidade ou mérito da sua actuação.

Na doutrina geral e no direito comparado, a tutela é vista como um poder de controlo


da legalidade e excepcionalmente de mérito.

A tutela administrativa ocorre no âmbito da administração autónoma. Ao permitir a


persistência de entidade autónomas, o estado reserva para si o poder de controlo sobre
esta entidade de formas a evitar excessos, não só do ponto de vista da legalidade, mas
também para fiscalizar.

Este mecanismo constitui o barômetro para se aferir o grau de autonomia que a


entidade de poder local possui. Se a tutela for intensa a autonomia é reduzida, e se ela
for branda a entidade gozará de maior autonomia. Assim a intensidade da tutela é
inversamente proporcional a autonomia administrativa. É hoje consensual na doutrina
e na maior parte dos ordenamentos jurídicos congênere ao nosso, o abandono da tutela
de mérito, entende-se que essa viola o princípio da autonomia local pois que acaba por
decidir sobre a gestão do órgão tutelado e o órgão que exerce a tutela. Daí que nos
últimos anos a maior parte dos ordenamentos tenha adoptado a tutela de mera
legalidade.16

13.1.5. MODALIDADES DE TUTELAS

Existem diferentes tutelas, cuja distinção das principais espécies faz-se quanto ao fim
e quanto ao conteúdo.

 Quanto ao fim, a tutela administrativa desdobra-se em tutela de legalidade e


tutela de mérito.

15
Idem.
16
Entre nós a tutela administrativa vem prevista na CRA no artigo 221º onde nos diz n.º 1, que as
autarquias locais estão sujeitas a tutela administrativa do Executivo, e que a mesma consiste na
verificação do cumprimento da lei por parte dos órgãos autárquicos e exercida nos termos da lei
(nº 2). No nº 3 do mesmo artigo a dissolução de órgãos autárquicos, ainda que resultante de
eleições, só pode ser por causa de acções ou omissões ilegais graves, e por fim, no seu nº 4 as
autarquias podem impugnar contenciosamente as ilegalidades cometidas pela entidade tutelar no
exercício de tutela.

17
A tutela de legalidade é a que visa controlar a conformidade das decisões da entidade
tutelada com as leis em vigor; a tutela de mérito é aquela que visa controlar a
conveniência e a oportunidade das decisões administrativas da entidade tutelada 17.

Existe distinção entre tutela de legalidade e tutela de mérito. Esta é mais ampla do que
a aquela: a tutela da legalidade é meramente jurídica, ao passo que a tutela de mérito
é político-administrativa, ou de natureza técnica.

 Quanto ao conteúdo, a tutela administrativa desdobra-se em cinco modalidades.


Tradicionalmente só se distinguiam três, mas julgamos que é necessário
distinguir cinco: tutela integrativa; inspectiva; sancionatória; revogatória e
substitutiva.18
 Tutela integrativa é aquela que consiste no poder de a entidade tutelar
autorizar ou aprovar alguns actos da entidade tutelada.

Distingue-se em tutela integrativa a priori, que é aquela que consiste em poder autorizar
(ou não) a prática de actos, e tutela integrativa a posteriori, que é a que consiste no
poder de aprovar (ou não) certos actos já praticados pela entidade tutelada.

 Tutela inspectiva consiste no poder de a entidade tutelar fiscalizar


os órgãos, serviços, documentos ou contas da entidade tutelada ou,
se quisermos utilizar uma fórmula mais sintética, consiste no poder
de fiscalização da organização e funcionamento da entidade
tutelada. Por vezes existem, na Administração pública, serviços
especialmente encarregados de exercer esta função: são os
«serviços inspectivos».
 Tutela sancionatória consiste no poder de a entidade tutelar aplicar
sanções por irregularidades que tenham sido detectadas na
entidade tutelada. No exercício da tutela inspectiva, fiscaliza-se a
actuação da entidade tutelada, e eventualmente descobrem-se
irregularidades; uma vez apurada a existência dessas
irregularidades, é necessário aplicar as respectivas sanções; ora, o
poder de aplicar essas sanções, quer à pessoa colectiva tutelada,
quer aos seus órgãos ou agentes, é que é a tutela sancionatória.

 Tutela revogatória, por seu turno, é o poder de a entidade tutelar


revogar actos administrativos praticados pela entidade tutelada.
Este poder só excepcionalmente existe na tutela administrativa.

17
AMARAL, Diogo Freitas do, e Carlos Feijó, ob, cit, p-2 12.
18
AMARAL, Diogo Freitas do, e Carlos Feijó, ob, cit, p-212 a 214.

18
 Tutela substitutiva, enfim, é o poder da entidade tutelar de suprir as
omissões da entidade tutelada, praticando, em vez dela e por conta
dela, os actos que forem legalmente devidos. A hipótese é, portanto,
a de os órgãos competentes da pessoa colectiva tutelada não
praticarem actos que sejam para eles juridicamente obrigatórios: se
houver tutela substitutiva, o órgão tutelar pode substituir-se ao órgão
da entidade tutelada e praticar, em vez dele e por conta dele, os
actos legalmente devidos.

13.1.6. PERDA DE MANDATO E DISSOLUÇÃO DE ÓRGÃOS


No âmbito da tutela de legalidade constitucionalmente consagrado, a dissolução dos
órgãos, e consequentemente a perda de mandato dos seus titulares pode ocorrer em
caso de “acções ou omissões ilegais graves”. Esta formulação do legislador
constitucional deixa a tarefa de seu congênere ordinário de densificar o sentido e
alcance da expressão utilizada. Na verdade, caberá ao legislador ordinário elencar as
acções e omissões que conduzirão a dissolução dos órgãos autárquicos. Não parece
ser fácil essa tarefa; outra questão que a CRA não resolve é a de saber que entidade
poderá determinar a dissolução dos órgãos autárquicos e o procedimento a seguir em
alguns ordenamentos dá-se essa tarefa ao ministério público.

As acções para perda de mandatos ou dissolução dos órgãos autárquicos tem carácter
urgente.

13.1.7. TUTELA JURISDICIONAL


As autarquias locais gozam de protecção jurisdicional. Como qualquer ente jurídico, as
autarquias locais poderão recorrer a tribunais para fazer valer os seus direitos quer
impugnando quer defendendo-se das demandas a que forem submetidas. Poderão
recorrer contra o executivo no âmbito da tutela e contra qualquer acção que ponha em
causa os seus direitos, nos termos do artigo 221º nº4 da CRA.

19
PARTE II
TÍTULO
A AUTONOMIA LOCAL EM ANGOLA, PERSPECTIVA HISTÓRICA DESDE O
PERÍODO PRÉ-COLONIAL

CAPÍTULO I
AS BASES DA ACTUAL ORGANIZAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO LOCAL
UMA PERSPECTIVA GLOBAL

1. PERÍODO PRÉ-COLONIAL

Em Angola existe vários reinos, esta forma de organização política fortemente


centralizada na pessoa do Rei era bastante solida, nesta altura o rei era auxiliado por
entidades locais desconcentradas, só para se ter uma ideia, os manis de forma
desconcentradas e descentralizadas desenvolviam importantes funções
administrativas de uma das maiores e mais emblemáticos reinos pré-coloniais, nesse
período as estruturas dos reinos ofereciam um poder local fortemente marcado pela
presença de feudos, reinos pequenos e fracos ou sobados legitimado pelas tradições
que exerciam poderes administrativo e culturas nas respectivas localidades. 19

2. PERÍODO COLONIAL

Nesse período distinguiu-se duas fases importantes de acordo com o regime jurídico:

a) PRIMEIRA FASE: PERÍODO ABSOLUTISTA

Nessa fase há duas correntes de opiniões para caracterização do poder local neste
período (1482-1822):

I) Corrente publicista do português Marcello Caetano, que considera que as


instituições municipalizadas criadas neste período em algumas localidades do
actual território de Angola, era uma réplica ou decalque do modelo de poder de
caracter municipalizado, em vigor nesse período em Portugal;

II) Corrente juspublicista do angolano Carlos Feijó que refuta os argumentos da


primeira corrente, considerando que as municipalidades criadas nesse período
tinham um caracter diverso dos existentes na metrópole.20

b) SEGUNDA FASE: COLONIZAÇÃO-PERÍODO LIBERAL


O autor em destaque divide essa fase olhando pelos regimes jurídicos coloniais:

I) Período de implementação dos códigos Administrativo colonial de 1820 a


1910, nesse período situa-se a jurisdição da colonização portuguesa em
Angola. A metrópole fez aprovar diversos códigos; uns centralizados e outros

19
POULSON, Lazarino, Autarquias Locais no Direito Angolano, Talatóna, Editora: Novos Cérebros,
2018. Pp-17-18.
20
Idem.

20
descentralizados, uns uniformes, outros especializados. Definiam
juridicamente o modo de estar e a conduta das populações nas colonias
ultramar.

II) Período de consolidação dos códigos administrativos colonial de 1911 a


1930, com a instauração da república em 1910 e a consequente conformação
constitucional de 21 de agosto de 1911. O modelo de especialização
consagrado nos códigos administrativos passou a vigorar de facto nas
colonias ultramarinas. O regime de especialização é aquele que atende à
particularidade de cada província ultramarina, ou seja a administração
portuguesa achava-se descentralizada e possuía leis que atendiam à
especialidade dar colonização de cada província.

III) Período de desenvolvimento dos códigos administrativos 1930 a 1972, nesse


período assistiu-se à aprovação de vários códigos colonial que acentuaram
a tendência de especialização da colonização portuguesa em Angola. Desde
logo, em 1930 aprovou-se acto colonial pelo Decreto nº 18570 de 8 de julho
a Carta Orgânica do Império Colonial Português pelo Decreto nº 23118 de 15
de novembro de 1933, a RAU foi aprovada pelo Decreto-lei nº 23229. Para
Carlos Feijó na RAU é de destacar o enquadramento das chamadas
autoridades gentílicas e respectivas populações na administração colonial,
segundo os usos e costumes locais. O enquadramento do poder tradicional
acentuam-se com a publicação em 1954, do Estatuto Indígenas, que permitiu
a regulação pelos usos e costumes locais, das relações (mesmos políticos e
administração) entre os indígenas.21

3. PERÍODO PÓS-INDEPENDÊNCIA

Período Monolítico,22Esse período tem o seu início com a independência de Angola em


11 de Novembro de 1975 e terminou em 1992 com a população da Lei Constitucional
de 16 de Setembro.

Analisando o poder local nesse período da história recente do nosso país vale observar
a seguinte distinção: o poder local na constituição e o poder local na lei.

O PODER LOCAL NA CONSTITUIÇÃO DE 1975

A constituição de 1975 consagrava a criação de um Estado Democrático de Direito que


assentava entre outras no princípio da descentralização administrativa o princípio da
iniciativa local e na criação das autarquias locais. Este desiderato constitucional ficou

21
FEIJÓ, Carlos, Problemas Actuais de Direito Público Angolano- Contributo para a sua Compreensão,
Cascais: Princípio, 2001, p-139.
22
A designação período monolítico surge pelo facto de neste período ter existido um único partido-
Estado.

21
prejudicado pela opção marxismo-leninismo adoptado pela revisão constitucional
ocorrida em 7 de fevereiro de 1978.23
Como confere Carlos Feijó: a teoria marxista-leninista sobre o Estado muito menos
territórios ou autarquias locais24 contudo de acordo com os princípios hermenêuticos
constitucionais, as autarquias locais poderiam ser criadas com o referido quadro
constitucional, por outro lado, o princípio da iniciativa local permitiu o reconhecimento
do poder tradicional25 e as outras formas de participação das cidades, portanto, a
constituição de 1975 mesmo com a revisão constitucional de 1978 não impediu a
criação e o reconhecimento de um poder local em Angola.

O PODER LOCAL NA REVISÃO CONSTITUCIONAL DE 1978

De modo infeliz fruto do contexto marxista-leninista e da disciplina partidária buscada


num sistema de partido único, o legislador ordinário ignorava o poder local, Poulson
discrepa de Carlos Feijó quando afirma que no período monolítico ou revolucionário, se
reduzia o poder local às comissões populares, ou, quando afirmava que: esta nova
concepção de poder local assentava num sistema unitário centralizado aparentemente
binário, isto é, poder igual para assembleias populares26 e comissariados27.

4. PERÍODO DEMOCRÁTICO
Diversas foram os factos históricos que influenciaram as permutas constitucionais
verificadas em 1991 e em 1992, dentre as quais podemos trazer à tona os abaixos
escritos:

I. A alteração do sistema de direcção centralizada da economia em Angola, isto é,


no espaço temporal do ano de 1985.
II. O fim do sistema socialista em Angola, isto é, na decorrência do ano de 1987.
III. Os acordos tripartidos de Nova Iorque, que pusera término à invasão do território
angolano num tempo marcado pelo ano de 1988.
IV. A queda do muro de Berlim e a despedida da guerra fria no ano de 1989.
V. Os acordos de Bicesse, isto é, na vigência do ano de 1991.

Com aprovação de uma nova constituição em 2010’ que vigora até aos nossos dias,
alterou o quadro, só para se ter uma ideia: o artigo 218º.n.º 1., da CRA indica as
circunstâncias administrativa para efeito das autarquias locais, o município como
categoria padrão e excepcionalmente podem ser criadas por lei autárquicas uma
categoria supra-minicipal se tivermos em conta o artigo já citado no seu ponto n.º 2. Ou
autarquias infra-municipais nos termos do n.º 3., do artigo supracitado.

Nos tempos hodiernos o nosso país encontra-se numa fase de fecundação no tangente
a implementação das autarquias locais estando o executivo a organizar as condições
logísticas e orçamental, recursos humanos e financeira, etc.

23
POULSON, Lazarino, ob. cit. pp:19-20.
24
FEIJÓ, Carlos.p.140.
25
Autoridades tradicionais; Órgãos deliberativos; Órgão executivos.

22
PARTE III

TÍTULO

AUTONOMIA E PODER LOCAL

CAPÍTULO I: DA DOGMATICA A AUTONOMIA LOCAL

1. NOÇÃO E CONCEITO

Se tivermos de ter em conta no sentido lato da palavra, nos aperceberemos que


o vocábulo autonomia tem sentidos que vão muito além do saber jurídico. Na
linha perceptiva comum, autonomia está ligada a ideia de independência,
liberdade, faculdade, e não só.

Porém Carlos Feijó apresenta-nos uma ideia mais nítida e clara quando diz que
etimologicamente o vocábulo autonomia divide-se em duas partes: autos, que
se significa próprio e nomos que significa normas. Portanto, é fácil entender que
autonomia acarreta na sua bagagem, a ideia de uma entidade que goza de
poderes para criar normas jurídicas para si mesma. Numa primeira apreciação
podemos afirmar que a autonomia significa criação de normas para si próprio, já
na dimensão jurídica o significado etimológico aproxima-nos da dimensão de
autonomia normativa, isto é, da faculdade normativa de cada ente jurídico na
perspectiva de autonomia como liberdade de conduta de um ente jurídico diante
de outro.28

Em sede do Direito Administrativo, a autonomia é a faculdade atribuída a uma


entidade administrativa para produzir preceitos jurídicos para a auto-normação
ou orientação da sua actividade. Assim consideramos como entidade autónoma
o individuo que é detentor do poder regulador das suas próprias actividades.

Para Casalta Nabais a autonomia local é o poder ou faculdade de auto-normação


próprios das pessoas colectivas territoriais para prosseguirem os fins da
colectividade que lhe serve de substrato subjectivo29. Carlos Feijó na tendência
de aprofundar o expresso por Casalta Nabais, traz aos nossos ouvidos que a
autonomia local significa capacidade de as pessoas colectivas territoriais de fins
múltiplos perseguirem livremente a realização das mais ambiciosas intenções da
sua população por meio de órgãos próprios.30

28
FEIJÓ, Carlos, Autonomia Local e Organização do Poder Tradicional em Angola, Luanda:
Casa das Ideias, 2013, pp:27-29.
29
NABAIS, José Casalta, Autonomia Local, in Estudos sobre Autonomias Territoriais,
Institucionais e Cívicas, Coimbra: Almedina, 2010, p-53.
30
FEIJÓ, Carlos, ob.cit. p-32.
Após uma curta abordagem sobre pequenas noções sobre a autonomia local
achamos peculiar não avançar sobre outro corpo do conteúdo que fale sobre a
autonomia sem antes tecermos algumas distinções tangentes à autonomia local
e a autonomia autárquica local. Sendo assim:

 A autonomia local diferencia-se da autonomia autárquica local porquanto


a primeira elucida a ideia de existência de três elementos que são:
autonomia local, instituições do poder tradicional, e outras modalidades
específica de participação dos cidadãos, portanto parcialmente a
autonomia local conhecida com autonomia das autarquias locais, fica
desde já afastada a ideia de que estas duas expressões sejam
equivalentes ou sinónimas. Conforme adverte Carlos Feijó que em
sentido estrito são expressões equivalentes entendo que autonomia local
é por um lado a capacidade de as autarquias locais exercerem sob
responsabilidade própria e por outro lado é um conjunto amplo de
significativo de atribuições e competência a delimitar da massa de
funções da administração pública e associada a participação nas
decisões tomadas superiormente que lhes digam respeito,
nomeadamente naqueles que se vão repercutir nos territórios respectivos
através de representantes por eles escolhidos ou reconhecidos de acordo
com as regras consequentemente aceitar.31

Ainda sobre essa questão, Lazerino Poulson assevera que a autonomia se


desemboca na descentralização territorial que nos encaminha para a ideia das
autarquias locais como sendo pessoa colectiva territorial por excelência para
receber as atribuições e competências a nível local.32 Todavia no Direito
angolano a autonomia local é um conceito mais amplo e como exemplo Carlos
Feijó: a autonomia das pessoas colectivas territoriais locais, é esta que aqui
interessa, ultrapassa a fase do conceito clássico de autonomia local, situação
pela qual não pode ser encarada coo um meio de direito de participação das
autarquias locais no processo de decisão nem como uma forma de colaboração
e solidariedade entre o Estado e autarquias locais, ainda como uma forma de
compreensão do que as autarquias locais perdem com a crescente
invencionismo central ou como uma divisão de trabalho.33

31
FEIJÓ, Carlos, ob.cit. p-35.
32
LAZERINO, Poulson, ob.cit. p-27.
33
FEIJÓ, Carlos, ob.cit. pp:34-35.
1.2. FIGURAS AFINS DE AUTONOMIA LOCAL

 DESCENTRALIZAÇÃO ADMINISTRATIVA
 PODER LOCAL

1.2.1. DESCENTRALIZAÇÃO ADMINISTRATIVA


Nos estudos feitos encontramos uma relação exuberante entre descentralização
administração e autonomia local, porquanto ambas dão lugar a surgimento das
pessoas colectivas do tipo territorial designadamente as autarquias locais,
contudo estas duas expressões não são equivalentes. Desde logo a autonomia
local traduz-se num conceito que operacionaliza o surgimento de três elementos
do poder local (autarquias locais, instituições do poder tradicional e outras
modalidades específicas de a participação dos cidadãos) e a descentralização
administrativa como assegura Caros de Feijó,34pois não descentralização
administrativa sem que os órgãos das autarquias locais sejam livre e
efectivamente escolhidas. A descentralização administrativa pressupõe a
existência de autonomia das autarquias locais cujos órgãos são
democraticamente eleitos.

Não houve uma verdadeira descentralização no período colonial (1482-1975),


nem no período democrático (1991-2012), como afirma Carlos Feijó35, segundo
Poulson diz que o facto da constituição consagrar o princípio da descentralização
administrativa e enunciar as linhas gerais do estatuto das autarquias locais não
é razão suficiente para considerar que existem autarquias locais, e nós
concordamos se formos analisar no sentido prático e não no sentido formal. No
período democrático que vigora até ao tempo presente não é visível ainda a
almejada descentralização administrativa, concomitantemente a sua
concretização no plano legislativo, por fim a realização das eleições autárquica
e consequentemente a operacionalização na prática da realidade autárquica.

A descentralização é o princípio segundo o qual determinadas atribuições são


transferidas do Estado para as pessoas colectivas territoriais com escopos
múltiplos. Ainda na perspectiva de Diogo Freitas do Amaral e Carlos Feijó: é um
o sistema em que a função administrativa esteja confiada não apenas ao
Estado, mas também a outras pessoas colectivas públicas, autónomas em
relação ao Estado. Basta, pois, que haja entidades públicas que sejam

34
FEIJÓ, Carlos, ob.cit. p.36.
35
Idem.
pessoas colectivas distintas do Estado e autónomas, para que exista
juridicamente descentralização. 36
É mediante esse princípio da autonomia local que surgem as autarquias locais
e se analisarmos minuciosamente perceberemos que não faz por isso, qualquer
sentido trazer à colação as outras manifestações da administração autónoma
(associativa) ou inderecta (instituições) pois nada têm a ver com a
descentralização administrativa,37 por causa desse princípio da autonomia local
se diferencia do princípio da descentralização administrativa em dois aspectos:
 Em primeiro aspecto, o princípio da autonomia local é mais amplo 38, ao
passo que o princípio da descentralização administrativa faz nascer
apenas as autarquias locais;
 Em segundo, a autonomia local significa existência de entidades com
poderes de autono-normação em certas determinadas localidades do
território, independentemente dos seus órgãos serem eleitos
democraticamente, já a descentralização administrativa implica o
surgimento de pessoas colectivas territoriais com órgãos eleitos
democraticamente.

1.2.1.1. CONCEITO JURÍDICO-ADMINISTRATIVO DE


DESCENTRALIZAÇÃO

A dimensão política da descentralização é vista na transferência de poderes


legislativos, aliás, como adverte Freitas do Amaral, quando refere que a
“atribuição de poderes legislativos próprios. Aqui já estamos a sair da
descentralização administrativa para entrarmos na descentralização política” 39,40
que como sabemos, dá lugar ao surgimento das regiões autônomas.

Para distinguirmos centralização e descentralização, temos de saber se estamos


a falar nestes conceitos no plano jurídico, ou no plano político-administrativo,

36
AMARAL, Diogo Freitas do e Carlos Feijó, Direito Administrativo, Ed: Almedina, Coimbra,
2016, p-206.
37
LAZERINO, Poulson, ob.cit. p-29.
38
Pressupõem a existência de certas entidades do poder local (autarquias locais, instituições
do poder tradicional e outras modalidades específicas de participação dos cidadãos).g
39
AMARAL…ob. cit., p.698.
40
No plano político-administrativo, os mesmos conceitos assumem uma feição diferente. Ainda
que nos encontremos no quadro de um sistema juridicamente descentralizado, dir-se-á que, sob
o ponto de vista político-administrativo, há centralização quando os órgãos das entidades
públicas diferentes do Estado sejam livremente nomeados e demitidos pelos órgãos do Estado,
quando devam obediência ao Presidente da República, ou quando se encontrem sujeitos a
formas particularmente intensas de tutela administrativa, designadamente a uma ampla tutela de
mérito.
porque as definições são diferentes. No plano jurídico, diz-se 《centralizado》 o
sistema em que todas as atribuições administrativas de um dado país são por lei
conferidas ao Estado, não existindo quaisquer outras pessoas colectivas
públicas-sejam elas territoriais (regiões, províncias, municípios) ou associativas
(ordens profissionais, Universidades públicas), incumbidas do exercício da
função administrativa41. No plano político-administrativo, os mesmos conceitos
assumem uma feição diferente. Ainda que nos encontremos no quadro de um
sistema juridicamente descentralizado, dir-se-á que, sob o ponto de vista
político-administrativo, há centralização quando os órgãos das entidades
públicas diferentes do Estado sejam livremente nomeados e demitidos pelos
órgãos do Estado, quando devam obediência ao Presidente da República, ou
quando se encontrem sujeitos a formas particularmente intensas de tutela
administrativa, designadamente a uma ampla tutela de mérito.42

Dito isto, é necessário sublinhar que os conceitos de centralização e


descentralização em sentido jurídico são conceitos puros, conceitos absolutos,
ou existe um, ou existe o outro; ao passo que, em sentido político-administrativo,
os conceitos de centralização e descentralização são conceitos relativos: poderá
haver mais ou menos centralização, e poderá haver mais ou menos
descentralização; é tudo uma questão de grau. Dificilmente haverá, neste
sentido, um sistema totalmente centralizado ou totalmente descentralizado:
todos terão parcelas maiores ou menores de centralização e de
descentralização.

A dimensão política da descentralização não é vista pela eleição dos órgãos


autárquicos, com a devida vênia, erradamente faz Freitas do Amaral, quando
afirma que em Portugal, durante o regime da constituição de 1933, havia
autarquias locais, que em pessoas colectivas distintas do Estado, mas não havia
descentralização em sentido político, porque elas eram dirigidas por presidentes
da Câmara nomeados e demitidos pelo governo, e não por magistrados eleitos
pelos pelas populações43. Portanto, podemos distinguir três tipos de
descentralização administrativa:

14. Descentralização administrativa em sentido jurídico- significa que as tarefas


da administração pública não são desempenhadas por uma só pessoa
coletiva – o Estado44, mas por pessoas coletivas públicas de população
território (as autarquias locais);

15. Descentralização administrativa no sentido democrático e não em sentido


político, como erroneamente sugere Freitas do Amaral) – significa que as

41
AMARAL, Diogo Freitas do e Carlos Feijó, ob, cit, p-206.
42
Idem.
43
AMARAL, Diogo Freitas do, ob.cit., p.423.
44
AMARAL…ob.cit., p.423.
autarquias locais estarão dotadas de órgãos representativos das respectivas
populações, eleitos em eleições autárquicas livres periódicas e universais.

16. Descentralização administrativa em sentido financeiro- significa que as


autarquias locais terão orçamento próprio, isto é, receitas próprias
fundamentalmente constituídas por impostos e taxas locais e outras
contribuições bem como de dotações do OGE. Por conseguinte, as
autarquias locais também possuirão património próprio, que poderá constituir
uma fonte de receitas locais.

1.2.1.1. CARACTERÍSTICAS DOS SISTEMAS CENTRALIZADOS E


DESCENTRALIZADOS DA ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA.

A opção por um sistema administrativo centralizado ou descentralizado, não


pode deixar de ter consequência no que tange ao modo de compreender o
Estado e o seu modo de funcionamento. Com efeito, a razão pela qual convém
distinguir os conceitos de centralização e descentralização no plano jurídico e no
plano politico administrativo é simples de entender: é que a descentralização
jurídica pode, na prática, construir um véu enganador que cobre a realidade de
uma forte centralização político-administrativo.

1.2.1.2. FUNÇÃO DOS SISTEMAS: CENTRALIZADO E A


DESCENTRALIZAÇÃO
 Um sistema administrativo centralizado tem como forma a garantia da
legalidade e a prossecução do interesse publico. Isto implica a
omnipresença do Estado na administração local. o sistema centralizado
não serve para a prossecução dos problemas locais, mas é uma forma de
administração do Estado «no local», com a qual as populações locais são
chamadas a colaborar, a função principal de um sistema
administrativo centralizado não é a realização dos entenreces
específicos das populações locais, mas a mais completa realização
do interesse publico.
 Num sistema administrativo descentralizado o objetivo principal da
administração local é a prossecução dos interesses específicos
(próprios) das populações locais. Não significa isso que não haja
realização do interesse colectivo geral da nação, só que ela não constitui
a razão de ser da administração descentralizada a nível local.
1.2.1.3. ENTIDADES INTERVENIENTES
 Um sistema centralizado possui apenas uma entidade administrativa: O
Estado. Este, com uma estrutura hierarquizada, vai impor as populações
locais os seus interesses e o seu poder. Por isso importa dizer com, Vital
Moreira, que “a revolução liberal, continuando uma herança do estado
absoluto, prosseguiu a tarefa de centralização, unificação e
estadualização administrativa em prejuízo dos poderes locais e
profissionais públicos «artigo regime». A administração pública do Estado
liberal era por definição, a única e estadual administração publica, queria
dizer administração do Estado e esta era a única e hierarquizada, sem
lugar para organismos administrativos autónomos.

 Num sistema administrativo descentralizado, para alem do Estado, as


funções administrativas estão, por lei, confinadas a outras pessoas
colectivas territoriais, nomeadamente as autarquias locais “ a
descentralização territorial nas autarquias locais foi tudo menos linear
nestes dois seculos, seguindo as variações mais ou menos
descentralizastes ou centralistas dos regimes políticos, mas ela constitui
hoje um do traços essenciais do regime democráticos, e nas ultimas
décadas tem se verificado um nítido aprofundamento da descentralização
territorial traduzindo-se na criação de novas instancias as regiões
autónomas “no aumento das tradições na diminuição do controlo
estadual”.

1.2.1.4. INTERESSES DAS POPULAÇAOE LOCAIS

a) Num sistema administrativo centralizado, os interesses


específicos das populações são relegados para segundo plano,
a administração local do Estado vai privilegiar o interesse
publico geral em detrimento dos interesses específicos das
populações locais. Assim, em caso de conflito de interesses
entre os interesses gerais da nação e locais prevalecem o
primeiro.45
b) Os interesses principais a prosseguir pela administração num
sistema administrativo descentralizado são os interesses
específicos das populações locais. Isso implica que os
interesses específicos das populações sejam considerados
pelas administrações locais autónomas, nomeadamente a
administração autárquica.

A administração estadual local em regra com reduzidas atribuições não cerceia


os poderes, nem limita os interesses específicos locais intervindo
casuisticamente na gestão nos termos da tutela administrativa (Autarquias
locais) prosseguem os fins específicos das populações que a constituem. Em
caso de conflitos de interesses locais entre o Estado e as entidades autónomas
territoriais (autarquias locais) prevalecem, em regra os interesses locais, isto é,
privilegiam-se os interesses específicos das populações locais.

Por outro lado, o artigo 199º. da CRA consagra também o princípio da


desconcentração administrativa, que tem como uma das suas manifestações
mais significativas a possibilidade de criação de órgãos locais desconcentrados
do poder central, nos termos do artigo 201.º da CRA. Com efeito, o artigo 201º,
n.°4, remete para o legislador ordinário a tarefa de estabelecer órgãos
administrativos locais, a sua organização, atribuições e funcionamento.

45
Os interesses específicos locais podem estar por coincidência refletido nos projectos e
programas do governo co incidência local, mas estes programas nunca traduzem completamente
as necessidades e os interesses específicos das populações locais, nem , mesmo o argumento
segundo o qual as populações podem participar na concepção dos programas do governa
através da participação nos programas das administrações locais, é suficiente para considerar
que estes programas comtemplam os interesses locais, este tipo de participação é sempre
limitado a formas e censurado: Muitas das contribuições feitas pelos munícipes cai em letra
morta, quando não são, pura e simplesmente, “engavetadas” pela administração estadual. É
este, infelizmente o sistema administrativo que vigora em Angola.
1.2.1.5. POSIÇÃO DO ESTADO

a) A posição do Estado (administração), num sistema de


administração centralizada, não é de tutela, mas sim de hierarquia
administrativa. A administração local do Estado como única entidade que
exerce poder a nível local, esta integrada numa estrutura hierarquizada,
isto é, a um vinculo jurídico entre os órgãos administrativos locais este
vinculo criado mediante um processo de desconcentração confere aos
superiores hierárquico o poder de direcção e aos subalternos o dever de
obediência. Toda visa quando as entidades desconcentradas possuem
por lei competências exclusivas.

a) Num modelo administrativo descentralizado, o Estado exerce a tutela


administrativa, sobre os órgãos das entidades autónomas (autarquias
locais). As estruturas do Estado a nível local têm funções reduzidas
(geralmente circunscritas a segurança e ao controlo dos órgãos
autónomos). Assim, quem efectivamente realiza o interesse público local
(fins colectivo específicos) são as autarquias locais. Sendo entidades que
gozam de autonomia administrativa financeira e patrimonial, as autarquias
locais não estão integradas numa estrutura hierarquizada estadual.
Apesar de, no plano internacional fazerem parte de um determinado
estado soberano, no plano interno são pessoas colectivas jurídico-
administrativamente do Estado.
1.2.1.6. PROVIMENTO DOS ÓRGÃOS DE DIRECÇÃO
Num sistema administrativo centralizado, os órgãos de direcção da
administração local são nomeados. Apanágio de regimes não
democráticos, os órgãos dos "municípios dependentes” são indicados por
conveniência política do poder central. Os titulares destes órgãos, como
já se dissemos, são colocados nestas localidades não tanto para
realizarem o interesse público local, mas para garantirem e assegurarem
o domínio do poder instituído. 46

46
Os critérios para o exercício destes cargos, para além dos aspectos técnicos, incluem, em
larga medida, a formação política, ou seja, a filiação no partido no poder. Por outro lado, o titular
dos órgãos de direcção da administração local do Estado nem sempre se identifica com os
problemas locais, pois, na maior parte das vezes, nem é residente da "municipalidade" que dirige.
1.2.1.7. CONTROLO DOS ÓRGÃOS LOCAIS

Os órgãos administrativos (do Estado), num sistema administrativo centralizado,


estão sujeitos a dois tipos de controlo: o controlo administrativo, feito pelos
órgãos administrativos centrais, no âmbito dos poderes de direcção e
supervisão; e o controlo jurisdicional, exercido pelos tribunais. Quanto ao
controlo administrativo, este é exercido, em termos gerais, pelo Governo Central,
que mantém mecanismos apertados de direcção e acompanhamento da
actividade dos seus órgãos desconcentrados. Por outro lado, há ainda a
assinalar as inspeções a ser feitas pelo órgão do Estado encarregado de tal
tarefa (Inspeção Geral do Estado em Angola). Já o controlo jurisdicional é feito
em duas ocasiões: por ocasião do controlo das despesas feitas pelos órgãos
locais do Estado, na execução do OGE, exercido pelo Tribunal de Contas, e o
controlo jurisdicional feito pelos demais tribunais, no âmbito dos processos que
lhes sejam submetidos (processo criminal, civil, fiscal, etc.).

1.2.1.8. VANTAGENS
O sistema administrativo centralizado possui, contudo, algumas vantagens. As
vantagens que a doutrina geral aponta para este modo de estruturação da
Administração Publica são o facto de: “garantir a homogeneidade da acção
politica e administrativa desenvolvida no país; e permite uma melhor
coordenação do exercício da função administrativa". Independentemente dos
métodos e meios utilizados, o sistema centralizado é o que, teoricamente,
assegura melhor a independência, integridade territorial e unidade nacional.
Contudo, importa alertar para o facto de que, na prática, um sistema centralizado
representa um regime não democrático ou, se quisermos, totalitário.

1.2.1.9. INCONVENIENTES
Num sistema administrativo centralizado existem alguns inconvenientes que
interessa recensear: "gera a hipertrofia do Estado, provocando o gigantismo do
poder central; é fonte de ineficácia da acção administrativa, porque quer confiar
tudo ao Estado; é causa de elevados custos financeiros relativamente ao
exercício da acção administrativa; abafa a vida local autónoma, eliminando ou

"Encaixa-se como uma luva”ao modo de provimento dos titulares dos órgãos administrativos

locais do Estado. A CRA prescreve a nomeação como modo de provimento do cargo de

Governador Provincial (artigo 201.°, n.° 3).O OGP, no Decreto Presidencial n.°208/17,de 22 de

Setembro, estabelece a nomeação como o modo de provimento dos restantes órgãos locais do
Estado.
reduzindo a muito pouco a actividade própria das comunidades tradicionais; não
respeita as liberdades locais; e faz depender todo o sistema administrativo da
insensibilidade do poder central, ou dos seus delegados, à maioria dos
problemas locais"). Podemos ainda juntar a este elenco os seguintes
inconvenientes: a burocracia excessiva e a lentidão na tomada de decisões,
gerando a corrupção e o tráfico de influências.

1.2.2. PODER LOCAL


Segundo Carlos Feijó, a expressão comporta dois vocábulos: poder e
local47A palavra poder é igualmente polissémica na ciência jurídico e público.
Todavia, para o presente trabalho a expressão “poder” deve significar a
faculdade atribuída pela lei constitucional à determinada entidade, criado e
reconhecido por lei, de definir e Impor aos outros o respeito da própria
conduta ou traços a conduta alheia Já o vocabulário local vai aqui ser tomada
no sentido de delimitação territorial ou espacial, onde as entidades
autônomas vão desenvolver as suas atividades, de acordo com a divisão
administrativa em vigor no nosso país. Portanto, o poder local deve ser
analisado no contexto histórico, político e jurídico como sugere Carlos Feijó 48.
No plano histórico, o poder local é explicado pela necessidade que têm os
habitantes de uma determinada parcela do território de se organizarem em
função das relações de vizinhanças e dos interesses comuns e próprios. No
plano político, o poder local quer significar a necessidade que têm as
populações de um determinado território de se auto administrar e de gerirem
autonomamente os seus interesses próprios e comuns. No plano jurídico,
o poder local funda-se nos princípios da autonomia local e da
descentralização administrativa. 49.
Carlos Feijó, na esteira de Virgílio Pontes Pereira, entende o poder local
como aquele poder político, originário ou derivado, exercido nos termos da
lei ao nível das comunidades locais através de órgãos descentralizados de
instituições organizatórias tradicionais e de outras formas de participação
democrática das populações visando a satisfação dos seus interesses
próprios.
Lazarino afirma que os elementos do poder local nomeadamente as
autarquias locais, as instituições do poder tradicional e outras modalidades
de participação dos cidadãos não são e nem podem ser, equiparados aos
referidos órgãos constitucionais de soberania.50
Com relação aos órgãos constitucionais, na perspectiva de Gomes Canotilho,
são aquelas:

47
FEIJÓ, Carlos, ob.cit. p-132.
48
Feijó Carlos. ob.cit. p.133.
49
FEIJÓ, Carlos, ob.cit., p.133-134.
50 50
LAZERINO, Poulson, ob.cit. p-32.
1. Cujos estatutos e competências são imediatos e fundamentalmente
constituídos pela Constituição;
2. Que dispõem de um poder de auto-organizações internas;
3. Que não estão subordinados a quaisquer outros;
4. Que estabelecem relações de interdependência e de controlo em
relação a outros órgãos igualmente ordenados na e pela
constituição.51
CAPÍTULO II: O PODER LOCAL NA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DE
ANGOLA

2.1. O PODER LOCAL NA CONTITUIÇÃO

A Constituição da República de Angola de 2010 consagra no título VI, o poder


local. No capítulo I, sob a epígrafe “princípios gerais”, no artigo 213 divisões.
A organização democrática do Estado ao nível local estrutura-se com base
ao princípio da descentralização político-administrativa, que compreende a
incumbência de fórum organizativo do poder local, nos termos da presente
Constituição.
As formas organizativas do poder local compreendem:
 As autarquias locais,
 As instituições do poder tradicional e
 Outras modalidades específicas de participação dos cidadãos nos
termos da lei.
Este enunciado constitucional levanta várias questões que com a ajuda de
Lazarino passamos a enumerar:
 A organização democrática do Estado ao nível local inclui o poder
local?
 Qual o sentido e alcance da expressão princípios da descentralização
político-jurídico?
Influenciados por Lazarino, quanto a primeira questão, julgamos que o
legislador constitucional confunde as duas realidades.
O Estado não faz parte do poder local e nem a sua organização a nível local
tem base democrática. Como sabemos, os órgãos locais do Estado52são
órgãos concentrados do poder local. Houve um lapso por parte do legislador
constitucional que o confundiu com o poder local que deriva, como vimos
noutro lugar do princípio de descentralização administrativa e da autonomia
local. Esta formulação foi infeliz pois leva a confusão e não resolve a que
questão da delimitação entre os órgãos do Estado e as entidades que
compõem o poder local.

51
CANOTILHO, Gomes, Relações juristas poligonais, ponderações ecológicas de leis e
controlo judicial preventiva, em Revista jurídica do Urbanismo e Ambiente, n-1, Coimbra:
Almedina, 1994. Direito Constitucional e a Teoria da Constituição, 7ª edição, Coimbra
Almedina, 2003, (2004
52
Governos provinciais, administrações municipais e Comunais.
2.2. AS FORMAS ORGANIZATÓRIAS DO PODER LOCAL EM ANGOLA
Nos termos do art. 213 da CRA, há três formas de organização do poder
local, designadamente:
 As autarquias locais,
 As instituições do poder tradicional e
 Outras modalidades especificas da participação dos cidadãos.
Estes todos elementos do poder local resultam do princípio da
descentralização administrativa e da autonomia local. Por um lado, as
autarquias locais e as modalidades específicas de participação dos cidadãos
resultam da lei, ou seja, são entes criados ou novos, ao passo que as
instituições do poder tradicional são entidades pré-estaduais e resultam do
reconhecimento que o Estado faz nos termos da Constituição e da Lei. 53
2.3. O SENTIDO E O ALCANCE DO PRINCÍPIO DA AUTONOMIA LOCAL
O artigo 214 da CRA consagra o sentido e alcance do princípio da autonomia
local no nosso ordenamento jurídico. Nos termos do n 1 do artigo 214: A
autonomia local compreende o direito e a capacidade efectiva das
autarquias locais gerirem e regulamentarem nos termos da constituição
e da lei, sob sua responsabilidade e no interesse das respectivas
populações, os assuntos públicos locais.
Rui Ferreira e Carlos Feijó, defendem, no âmbito da lei constitucional de
1992, que o princípio da autonomia local deve ser visto nuns seguintes
sentidos:
1. Por um lado, como instituto de um poder local autárquico integrado na
administração autônoma, constituído por coletivos públicos territoriais,
ganha relevo, com poderes e órgãos de direcção, gestão e
administração própria (autarquia autônoma), democraticamente eleita
pela própria coletividade local (art.146)
2. Ainda, como fundamento permissivo (não obrigatório) da existência de
outras formas verticais de descentralização política (não apenas
administrativa) de base territorial, desde que não ponham em causa a
natureza unitária do Estado.54
Para Freitas do Amaral, administração autônoma é aquela que prossegue
interesses públicos das pessoas que a constituem e por isso se dirigem a si
mesmas definido com independência a orientação das suas entidades sem
sujeição hierárquica ou superintendência do governo.55

53
LAZERINO, Poulson, ob.cit. p-37.
54
FERREIRA, Rui e Carlos Feijó, Estudo geral sobre a questão da organização territorial do
Estado em Angola e a descentralização político-administrativo, Luanda, julho de 1994.
55
AMARAL, Diogo Freitas do, Curso de Direito Administrativo, vol. 1,2 edição Coimbra:
Almedina, 2005. 1- A função presidencial nas pessoas coletivas de Direito público em Estudo de
Direito Público em honra do Professor Marcelo Caetano, Lisboa: edições. Aleixa, 1973.
O princípio da autonomia local não deve ser analisado, como adverte Carlos
Feijó, somente na dimensão da Administração Pública (perspectiva da divisão
territorial e vertical), mas também na sua dimensão democrática ou, dito de outro
modo, como órgão do poder político (na perspectiva da divisão horizontal de
poder).
CAPÍTULO III: CIRCUNSCRIÇÕES ADMINISTRATIVAS PARA EFEITO DE
ADMINISTRAÇÃO LOCAL DO ESTADO E DA ADMINISTRAÇÃO
AUTÁRQUICA

3.1 CIRCUNSCRIÇÕES ADMINISTRATIVAS AUTARQUIAS LOCAIS

Chamam-se circunscrições administrativas as zonas existentes no país para


efeitos de administração local. Mas é essencial não confundir o conceito de
circunscrição administrativa com o de autarquia local. A destrinca baseia-se em
dois aspectos.56

Em primeiro lugar, a circunscrição é apenas uma porção do território que


resulta de uma certa divisão geográfica do conjunto, ao passo que a autarquia
local é uma pessoa colectiva, é uma entidade pública administrativa -que tem
por base uma certa área (ou circunscrição) territorial, é certo, mas que é
composta por outros elementos. Enquanto a circunscrição se define apenas por
um elemento territorial- é uma área, uma zona, uma parcela do território, a
autarquia local é mais do que isso: é uma comunidade de pessoas, vivendo
nama certa circunscrição, com uma determinada organização, para prosseguir
certos fins.57
Por outro lado, e este é o segundo aspecto a ter em conta, as circunscrições
administrativas são parcelas do território nas quais podem actuar órgãos locais
do Estado - caso em que estamos ainda dentro da pessoa colectiva Estado, ou
nas quais se baseiam e assentam as autarquias locais, quando existam, as quais
são pessoas colectivas per se (por si próprias), sempre distintas do Estado, como
é sabido. Por exemplo, as repartições de finanças são circunscrições
administrativas, mas não são autarquias locais; não têm personalidade jurídica
própria, integram a administração local do Estado.

56 56
AMARAL, Diogo Freitas do, e Carlos Feijó, ob. Cit. p-260.
57
Idem.
3.2. AS DIVISÕES ADMINISTRATIVAS BÁSICAS

É importante referir que existe outra divisão como é o caso: da divisão


administrativa para efeitos de administração especial.58

Divisão do território para efeitos de administração local do Estado, em Angola


divide--se, actualmente, em Províncias, Municípios e Comunas (além dos
distritos urbanos, equivalentes às últimas). Importa saber, no entanto, que uma
coisa é a divisão comum ou geral do território do Estado, outra coisa são as
várias divisões que existem para efeitos de administração especial.59

Divisão do território prevista para efeitos de administração local autárquica. Para


efeitos de administração local autárquica, prevista na CRA (art. 217. °e ss.), o
território dividir-se-á, quando a lei assim o determinar, em municípios (art.218. °,
n.°1) permitindo a CRA que, tendo em conta razões específicas, a lei possa criar,
além dos municípios, autarquias de Direito Administrativo
3.2.1. A PROVÍNCIA
3.2.1.1. RAZÃO DE ORDEM
Para efeitos da divisão político-administrativa no ordenamento jurídico angolano,
podemos compreender as seguintes circunscrições administrativas:
 Províncias,
 Municípios,
 Comunas,
 Distritos urbanos, nas áreas da cidade, de acordo com a Lei de Base da
Organização Administração do Território, Lei n. 13|16 de 12 de setembro.

58
Por sectores ou por ramos de administração. Por exemplo: para efeitos de administração
hidráulica, a base não é a do critério provincial ou municipal, que não se prestaria para isso, é a
das bacias hidrográficas dos rios: o país está, pois, dividido em divisões hidráulicas, que não
coincidem com Províncias nem com Municípios; para efeitos de administração florestal, também
o critério geral não faria sentido: o país, está, sim, dividido em zonas florestais; etc. Quer dizer:
para certos efeitos especiais, existem divisões do território que não coincidem com a divisão
básica.

59
AMARAL, Diogo Freitas do, e Carlos Feijó, ob. Cit. p-261.
3.2.1.2. CONCEITO

Cedência do antigo distrito colonial, a província surge no nosso ordenamento


jurídico como a principal circunscrição administrativa para efeitos da
administração local do Estado. Atendendo ao facto de que nem a CRA nem as
demais leis (nomeadamente a lei n. 13|16 de 12 de setembro) conterem qualquer
definição de província, sugerimos que a melhor definição face a nossa lei, será
a seguinte: província é a principal circunscrição administrativa, resultante da
divisão do Território da República de Angola para fins políticos administrativos.

3.2.1.3. IMPORTÂNCIA PRÁTICA

A província é entre nós, contrariamente ao que acontece noutros países, a mais


importante circunscrição administrativa, para efeito de administração local do
Estado. A referida relevância pode ser elevada em vários planos:

Interno: a província é a única circunscrição administração que representa a


unidade nacional. As dezoito províncias que compõem Angola desde a década
de 80 do século passado sempre se baterem para preservar a intangilidade das
suas fronteiras, nos períodos mais críticas da história recente de Angola.

 Economicamente: a província alberga o número mais significativo de


serviços públicos prestado à comunidade (a nível local). Os maiores
investimentos públicos têm sido efeitos a nível provincial. Com relação as
outras circunscrições administrativas e a província possuem a sua rede
de serviços públicos.

 Politicamente: é na província onde se tem observado a maior nível de


atividade político-administrativa dos órgãos locais do Estado. A província
surpreendentemente entre nós, é o alforje da governação e da gestão
administrativa.

 Administrativa. A província emprega mais de metade dos funcionários do


conjunto dos órgãos da administração local do Estado.

 Financeiramente. Apesar da recente desconcentração financeira, a


província ainda conserva o movimento financeiro local.

 Juridicamente: a província possui o maior tratamento legislativo.

3.2.1.4. NATUREZA JURÍDICA

A província é de acordo a CRA (art. 5, nº3), uma circunscrição administrativa.


Mas não é apenas uma circunscrição administrativa, é a maior e mais importante
circunscrição administrativa para efeitos da administração local do Estado.
Entretanto, esta supremacia da província não lhe dá primazia para efeitos da
administração autárquica. De acordo o art. 218, nº 1 da CRA, é o município a
circunscrição administrativa padrão para efeitos de administração autárquica.
Especialmente é por razões da especificidade cultural, histórica e o
desenvolvimento que podem ser constituídas autarquias de nível supra-
minicipal., cf.: o nº 2 e 3 do art. 218, CRA.
3.2.1.5. PRINCIPAIS ÓRGÃOS DA PROVÍNCIA

Existe, nos termos do artigo 7.º do Decreto Presidencial n.º 202/19 de 25 de


junho (órgão dos Governos Provinciais), duas categorias de órgãos provinciais:

I. Órgão colegial (deliberativo) – Governo provincial;


a. Conselho Provincial de Auscultação da Comunidade;
b. Conselho Provincial de Concertação Social;
c. Conselho Provincial de Vigilância Comunitária
II. Órgão singular (executivos) Governo Provincial:
a. Governador Provincial;
b. Governo Provincial;
c. Vice-Governadores Provinciais

3.2.1.5.1. GOVERNADOR PROVINCIAL

O Governador Provincial é o principal órgão singular (executivo) local do Estado,


representa o Governo representativo da província, assegura o normal
funcionamento dos órgãos administrativos locais, respondendo pela sua
atividade perante o executivo e o Presidente da República, nos termos do art. 8.º
n.º 1., do Decreto Presidencial n.º 202/19 de 25 de junho. Ainda no mesmo
artigo já no n.º 2., consta o seguinte: o Governador Provincial é coadjuvado, no
exercício das suas funções, por dois Vice-Governadores, que respondem pelas
seguintes áreas: política, social e económica; e serviços técnicos e infra-
estruturas.
Este órgão da administração local do Estado não tem legitimidade de
democrática, pois nos termos do (art. 119, alínea k) da CRA, é provido no cargo
por nomeação.

A eleição ou não do Governador Provincial, dentro do contexto do poder local


tem sido uma questão muito discutida em vários fóruns, destacando-se os
realizados no âmbito dos últimos processos constituintes. Uns dependem a
continuação do modo de provimento estabelecidos pela Lei Constitucionais, mas
despidos das atuais atribuições e competências- exercendo apenas a título
administrativo (as autarquias locais e preservando as funções atinentes a
segurança pública; outros partindo de uma visão distorcida da implementação
das autarquias locais, defendem a eleição do Governador sem mais “quês e
porquês”. Se as autarquias locais se elevarem ao nível da província (o que é
pouco provável), então não será apenas o governador a ser eleito, mas também
o órgão deliberativo (colegial) autárquico. Tudo passa por este enquadramento
da problemática do nível de implementação das autarquias locais e não da
simples eleição ou nomeação do Governador Provincial.

3.2.1.5.2. COMPETÊNCIA DO GOVERNADOR

O Governo Provincial nos termos do art. 11.º do Decreto Presidencial n.º


202/19 de 25 de junho, tem as seguintes competências:
a. garantir a observância da Constituição e demais leis;
b. dirigir o Governo Provincial;
c. Dirigir a preparação, execução e o controlo dos programas de
investimentos públicos e do orçamento do Governo Provincial e dos
orçamentos dos níveis inferiores da Administração Local do Estado;
d. Promover o bom desempenho e funcionamento das administrações dos
municípios, tendo em vista a sua capacidade para a transição para
autarquias locais;
e. Promover e acompanhar a execução das medidas tendentes ao alcance
dos objectivos de desenvolvimento sustentável até 2030, particularmente
a nível municipal e das comunidades;
f. Orientar, supervisionar e acompanhar a prestação dos serviços
municipalizados;
g. Coordenar os estudos, planeamento e estatística do Governo Provincial;
h. Nomear e exonerar e conferir posse aos directores provinciais, ouvido o
Ministério da especialidade.
i. Nomear e exonerar os directores provinciais do gabinete de estudos e
planeamento e estatística, dos gabinetes da educação e da saúde…
j. Nomear, exonerar e conferir posse aos Administradores Municipais,
Administradores Municipais-adjuntos, Administradores Comunais e aos
Administradores dos Distrito Urbano.
k. Nomear e exonerar os titulares de cargos de direcção das escolas do I e
do II ciclo do ensino secundário sedeadas no território sob sua jurisdição;
entre outras.

3.3. O MUNICÍPIO
3.3.1. CONCEITO

O conceito de município varia de acordo com o contexto político-administrativo


em que estiver a ser analisado. Para algumas realidades, o conceito de
município concorda com o de uma autarquia, noutras, é somente mais uma
circunscrição administrativa.

Para Freitas do Amaral, que procura retratar a realidade portuguesa, município


“é a autarquia local que visa a prossecução de interesses próprios da população
residente na circunscrição conselheira, mediante órgãos representativos por ele
eleitos60.
Já João Caupers assegura que o município “é a única autarquia local portuguesa
com uma existência histórica estável; é mesmo o único ponto de referência
organizatórias da administração local61. Nos termos da CRA e as demais
legislações aplicáveis, o município é uma circunscrição administrativa infra
provincial resultante da divisão político-administrativa para fins político-
administrativos. Assim, contrariamente ao que ocorre em outros países (Portugal
ou Inglaterra), e a presente CRA no art. 218 nº1, o município entre nós é, na
realidade, ainda uma mera circunscrição administrativa, não é infelizmente uma
autarquia local, isto é, não é uma pessoa jurídica com a tradição de
descentralização administrativa.

60
AMARAL, Diogo Freitas do, ob.cit. p.453
61
CAUPERS, João, Introdução ao Direito Administrativo, vol. 2, 8ª edição, Lisboa: âncora
Editora, 2005.p.115
3.3.2. IMPORTÂNCIA PRÁTICA

O município ainda não é como, entre nós, contrariamente ao que acontece


noutros países sobretudo na Europa e ao que prevê a Constituição, a mais
importante circunscrição administrativa. Portanto, a importância do município
pode ser observada nas seguintes relações:

a) Interna: o município é uma circunscrição intermédia entre a província e a


comuna e o distrito, tendo em conta que as povoações e bairros não têm
grande expressão a nível da administração local.

b) Politicamente: é no município, a seguir à província que se tem observado


o maior nível de atividade político-administrativa dos órgãos locais do
Estado.

c) Economicamente: alguns municípios já conservam um número


significativo de serviços públicos prestados à comunidade a nível local.
Há municípios cujos investimentos se aproximam aos realizados em
determinadas províncias.

d) Financeiramente: a recente desconcentração financeira coloca o


município numa posição privilegiada no circuito financeiro local.

e) Juridicamente: o município representa uma circunscrição administrativa


favorável a implementação das autarquias locais nos termos do art. 218
da CRA.

3.3.3. NATUREZA JURÍDICA

O município é, de acordo com a CRA (art. 5, n 3) uma circunscrição


administrativa. Aliás, não é apenas uma circunscrição administrativa, é nos
termos do art. 218, n 1 da CRA a circunscrição administrativa autárquica. Ainda
de acordo a Lei orgânica dos governos provinciais n.º 202/19 de 25 de junho, no
seu art.51.º, diz que Administração municipal é um órgão desconcentrado da
administração local que visa auxiliar o Administrador Municipal na gestão do
Município, com base em instrumento harmonioso e moderno do respectivo
território, da sociedade e da economia, cabendo-lhe garantir a prestação dos
serviços públicos necessários à segurança, bem-estar e progresso sustentado
do Município.

3.3.4. O MUNICÍPIO NO DIREITO COMPARADO

Por ser uma figura jurídico-histórica de extensão interna encontramos no Direito


comparado onde representa tipos de municípios. Segundo Freitas do Amaral
“existe duas formas externas de municípios no Direito comparado – a do
município independente e a do município dependente62 :

62
AMARAL, Diogo Freitas do, oc. cit., p-457.
a) O modelo de município independente é de origem anglo-saxónica (Grã-
Bretanha). O município resulta de um contrato societário natural, ou dito de outro
modo, surge da espontaneidade da comunidade que se une para fazer face às
necessidades locais. Nessa perspectiva, o município é uma realidade pré-
estadual e grande fora do Estado. Não pode o Estado, neste caso, atribuir ou
extinguir qualquer função ou competência dos órgãos municipais, limitando-se
apenas a reconhecer esses poderes naturais das municipalidades. Podemos
dizer que essas municipalidades: possuem liberdades dentro dos limites das leis
gerais do Estado; são de certo modo independentes; não estão sujeitas a
nenhum tipo de controlo administrativo, nem se entrega a nenhuma ordem de
hierarquia, os seus actos não estão sujeitos à autorização ou aprovação de
nenhum órgão, existe por vocação natural, obedece somente às leis e as
sentenças dos tribunais.

b) O modelo de município dependente é de origem francesa. O município nasce


por imposição legal. Neste caso, não nasce da espontaneidade dos munícipes,
do seu livre arbítrio, da sua vontade. Nesta perspectiva, os municípios não são
entidades autônomas, mas meras circunscrições administrativas transformadas
por lei em pessoas coletivas por meio expediente técnico-administrativo. O
município é desse modo, uma espécie de filial ou sucursal do Estado, nos goza
de determinados direitos e está dotado de alguns poderes selecionados pelo
poder central. A regulamentação, fiscalização, controlo e direção geral de todos
os municípios está confinada por lei ao Estado, que pode substituir, nomear e
demitir livremente os titulares dos órgãos municipais.

Os órgãos municipais estão sujeitos ao controlo de legalidade e de direito por


parte dos órgãos centrais do Estado. Estes órgãos municipalizados não são
eleitos (são nomeados) e devem obedecer às ordens e instruções do governo.
Nesta ordem de ideias, os municípios exercem funções previamente
desconcentradas do poder central, funcionando, na realidade como órgãos
locais do Estado.
Hoje, fruto da consolidação do Estado moderno (Estado Democrático de Direito),
não há municípios independentes.
Hoje, o problema não se esgota apenas na diferenciação dos modelos, mas
municípios, mas se pretende saber o tipo de regime, no caso se é democrático
ou não democrático.

3.3.4.1. REGIMES DEMOCRÁTICOS – MUNICÍPIOS


AUTÓNOMOS

I. Autônomo pleno: a lei estabelece o quadro jurídico municipal. O número,


os limites de cada município e as relações entre o Estado e os municípios.
Neste quando normativo, os municípios dispõem de autonomia, que se
reflete no seguinte: administra-se a si mesmos: dispõe de consideráveis
recursos humanos e financeiros (receitas próprias); não há magistrados
administrativos (órgãos locais do Estado) com poderes tutelares regulam
apenas controlos administrativos pontuais e controle geral exercido pelo
tribunal. Um modelo com estas características pode ser encontrado na
Grã-Bretanha, na Alemanha e na Suíça.
II. A autonomia semiplena: a lei estabelece um quadro jurídico municipal
semelhante ao modelo acima exposto. Para além de disporem de menos
recursos, os municípios neste modelo diferenciam-se do anterior pelas
várias formas de controlo administrativo, designadamente a tutela
administrativa (de legalidade), e por vezes de mérito de diversos
ministérios, a tutela financeira do Ministério da Finanças e a tutela
administrativa sistemática a nível distrital dos magistérios
administrativos63.

III. Autonomia restrito: a lei estabelece o quadro jurídico municipal. Freitas do


Amaral diz que “para além do controle e da tutela semelhantes aos da
modalidade anterior, nesta última espécie as atribuições e competências
próprias do município, dos seus órgãos são em número insuficiente e os
recursos financeiros ao seu dispor são escassos. A autonomia existe, mas
o seu âmbito de atuação é restrito, e restrita é a sua intensidade”. É o
modelo vigente em Portugal, em Espanha e na Grécia.

3.3.4.2. REGIME NÃO DEMOCRÁTICO- MUNICÍPIOS


DEPENDENTES

I. Dependência vertical: Neste modelo, também designado de “regime


hierárquico” a “dependência dos municípios em relação ao Estado e de
tipo vertical, quase hierárquico e se traduz-se sobretudo no poder de livre
nomeação e demissão dos principais órgãos municipais pelo governo
central bem como numa vasta série de controlos governamentais sobre
as decisões dos órgãos do município.64

II. Dependência horizontal: num segundo grupo estão os casos em que a


dependência dos municípios em relação ao Estado é de feição horizontal,
não hierárquico, e se traduz no momento da apresentação de
candidaturas aos órgãos municipais estabelecidos em benefício do
partido único, bem como na rígida disciplina a que os agentes investidos
em funções municipais se acham adstrito por via da sua filiação partidária.

3.3.5. CLASSIFCAÇÃO DOS MUNICÍPIOS

Existem muitos tipos de classificações de que os municípios são alvo.

 Classificações doutrinárias: município independente


Município comercial, agrícolas, florestais, mineiros, marítimos,
metropolitanos, suburbanos, pesqueiros, portuárias etc. Esta
classificação atende, como se vê nas características sociológicas mais
marcantes do seu território ou da atividade principal da respectiva
população.

63
AMARAL. Diogo Freitas do. ob, cit. p.461.
64
AMARAL, Diogo Freitas do.ob.cit. p.462.
 Classificações legais: são estabelecidas por lei, colocando os municípios
em diferentes categorias para efeitos jurídicos determinados. Não há em
Angola uma classificação legal sobre municípios.

3.3.6. ATRIBUIÇÕES DOS MUNICÍPIOS

Nos termos do art. 55.º, n.º1., da lei orgânica dos governos provinciais, do
Decreto Presidencial nº 202/19 de 25 de Junho: à Administração Municipal cabe,
em geral, promover o desenvolvimento económico e social do Município, a
qualidade de vida dos cidadãs, os serviços públicos básicos como a educação,
a saúde, a cultura, desporto, recreação e turismo, o abastecimento de água e
energia, o saneamento básico e a gestão dos resíduos, bem com a rede
rodoviária, a rede energética e a iluminação pública, a rede de água, a
manutenção dos edifícios e a gestão das águas residais, a educação cívica e
comunitária dos munícipes, os serviços de resistência social, o parqueamento, o
trafego e os transportes públicos.

3.3.7. ÓRGÃOS DO MUNICÍPIO

O município em Angola não é como acontece noutros ordenamentos jurídicos,


uma pessoa colectiva. Contudo, esta circunscrição administrativa tem os seus
órgãos que desempenham funções: toma decisões e estas representam a
manifestação da vontade da pessoa colectiva a que pertence. De acordo com o
nº1 do art. 201 da CRA: a Administração loca do Estado é exercida por órgãos
desconcentrados da Administração Central.

Neste aspecto, na ausência das autarquias locais, os órgãos da pessoa colectiva


Estado, no município são os únicos a prosseguir os fins públicos, sem prejuízos
de em algumas localidades coabitarem com a administração tradicional
(autoridade tradicional).

Assim sendo, os principais órgãos do município são: Administrador Municipal e


o Administrador Municipal Adjunto.

Administrador Municipal: de acordo com o artigo 60.º, n.º 1., do referido diploma,
é o órgão desconcentrado da Administração Local do Estado em cada município,
a quem incumbe dirigir a Administração Municipal, assegurar o normal
funcionamento dos órgãos da administração local respondendo pela sua
atividade perante o Governador Provincial.

O Administrador Municipal é apesar da concentração de poderes vigentes, um


órgão com algumas competências próprias ou exclusivas. O Art. 61.º, traz à
razão as seguintes competências do Administrador:

a. Garantir o cumprimento da Constituição e da lei;


b. Dirigir, orientar e controlar a actividade dos membros da
Administração Municipal, nomeadamente os administradores
comunais e ou dos distritos e directores municipais;
c. Informar, regularmente, o Governo Provincial sobre a realização
das tarefas e o funcionamento da Administração Municipal;
d. Articular permanentemente com o Governador Provincial os
assuntos transversais e de interesse comum, incluindo as questões
relacionadas com a transferência gradual de responsabilidade e
recursos devendo, para o efeito, rubricar memorandos;
e. Nomear, empossar e exonerar os titulares de cargos de chefia dos
diferentes serviços sob sua dependência e decidir sobre s demais
questões de recursos humanos da Administração Municipal;
f. Convocar as reuniões da Administração Municipal, do conselho de
Auscultação da Comunidade e do Conselho de Vigilância
Comunitária e propor a respectiva ordem de trabalho., etc.

PARTE IV
TÍTULO
AS AUTARQUIAS LOCAIS: DO ENQUADRAMENTO CONSTITUCIONAL À
PERSPECTIVA DA SUA CONCRETIZAÇÃO

CAPÍTULO I: AS AUTARQUIAS LOCAIS


GENERALIDADES

1.1. ADMINISTRAÇÃO LOCAL AUTÁRQUICA

A administração local autárquica, de que nos vamos ocupar nesta parte, pode ser
vista em dois sentidos:

a) Sentido subjetivo ou orgânico refere-se aos órgãos das autarquias locais;65


b) Sentido objetivo ou material é a actividade administrativa desenvolvida pelas
Autarquias Locais.66

E a CRA, no seu artigo 213 n.º 2, prevê a administração local autárquica num
conjunto das formas organizativas do poder local encarregadas de exercer funções
administrativas em Angola. Assim, as autarquias locais não devem ser confundidas
com a administração local do Estado. Todavia, para que possamos diferenciar a
administração local autárquica da administração local do Estado, torna-se
necessário procedermos à delimitação conceptual da primeira.

1.2. DELIMITAÇÃO CONCEITUAL DA AUTARQUIA LOCAL

O conceito de autarquia varia de acordo com a época e com o conteúdo político


de cada país. Vital Moreira dá-nos notícia que " inicialmente na definição clássica
de S. Romano, a autarquia consistia na capacidade que um ente público possuí,
face ao Estado, de administrar por si mesmo os seus próprios interesses. 67Mas
adiante, adverte-nos que " na doutrina italiana passou a ser designados por

65
AMARAL, Diogo Freitas, op.ci. p. 417.
66
Idem.
67
MOREIRA, Vital, Administração Autónoma e Associação Pública p.67.
autarquias os próprios entes públicos dotados de autarquia, assim se falando,
por exemplo, em autarquias territoriais ou em autarquias corporativas. 68

Os autores definem, por sua vez, autarquias institucionais como sendo pessoas
criadas pelo Estado para se incumbirem de tarefas para as quais a Lei as
destinou. Contrariamente àquelas outras, não correspondem as áreas
geográficas. Trata-se de meras pessoas administrativas sem delegação política
estatal, limitando-se por isso, a prosseguir os objetivos que lhes foram impostos.
Por isso, José dos Santos e Carvalho Filho propõe-nos o seguinte conceito de
autarquia:" pessoas jurídicas de Direitos Públicos, integrante da Administração
Indireta, criadas por Lei para desempenhar funções que, despidas de carácter
econômico, sejam próprias e típicas do Estado.

Em Portugal, João Caupers define autaquias locais como sendo as pessoas


colectivas públicas de bases territorial correspondentes aos agregados de
residentes em diversas circunscrições do território nacional que, asseguram a
prossecução de interesses comuns resultantes da a proximidade geográfica,
mediante a actividade de órgãos próprios representativos das populações .

Freitas do Amaral define autaquias locais como sendo as pessoas colectivas


públicas de populações e território, correspondentes aos agregados
populacionais de residentes em diversas circunscrições do território nacional, e
que asseguram a prossecução dos interesses comuns resultantes da vizinhança,
mediante órgãos próprios, representativos dos respectivos habitantes.69

O legislador constitucional, na senda de Freitas do Amaral, estabeleceu como


definição legal o que dispõe o n.º 1., do artigo 217, que passamos a citar. "As
autarquias locais são pessoas colectivas territoriais correspondentes ao conjunto
de residentes em certas circunscrições do território nacional e que asseguram a

68
Na doutrina brasileira faz-se claramente a distinção entre autarquias institucionais e autarquias
territoriais. José dos Santos e Carvalho Filho referem que" as chamadas autarquias territoriais
correspondem a desmembramento geográfico em certos países normalmente com regime
unitário (ou de centralização política), aos quais o poder local outorga algumas prerrogativas de
ordem política e administrativa, permitindo-lhes uma relativa liberdade de acção.

No Brasil, contrariamente aos outros países (nomeadamente Alemanha, Inglaterra, Portugal,


etc.), as autarquias territoriais não chegam a ter verdadeiras autonomias, mas têm a seu cargo
algumas funções privativas conferidas pelo Estado. No Brasil, integram as chamadas autarquias
territoriais, os territórios despidos de autonomia que, por delegação de poderes, exercem
algumas funções pertencentes ao Estado.

69
AMARAL, Diogo Freitas do p. 146, Feijó Carlos e Cremildo Paca, Direito Administrativo,
introdução e organização administrativa, p: 2\06- 282.
prossecução de interesses específicos resultantes da vizinhança, mediante
órgãos próprios representativos das respectivas populações".

1.3. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DAS AUTARQUIAS LOCAIS


 Princípio da autonomia local;
 Princípio da autonomia financeira;
 Princípio da garantia judicial da autonomia;
 Princípio da livre eleição dos órgãos autárquico;
 Princípio da sujeição das autarquias locais a tutela administrativa.

Princípio da autonomia local: é o que confere às autarquias locais o direito (e


a capacidade efectiva) de gerirem e regularem os assuntos públicos locais, nos
termos da Constituição e da lei, sob sua responsabilidade e no interesse das
respectivas populações. Nos termos art. 214.º.CRA.

Princípio da autonomia financeira: é o que, por um lado, confere às autaquias


locais o direito de obterem, por lei, recursos financeiros proporcionais às suas
atribuições, bem como, por outro, o direito de receber uma parte dos seus
recursos financeiros proveniente de rendimento e de imposto locais.

Princípio da garantia judicial da autonomia: é o que atribui às autarquias


locais, o direito de recorrer judicialmente, a fim de assegurar o livre exercício das
suas atribuições e o respeito pelos princípios de autonomia local, consagrado na
Constituição ou na lei, art. 216 CRA.

Princípio da livre eleição dos órgãos autárquicos: é o que assegura, apenas


que a assembleia de cada autarquia é composta por representantes eleitos por
sufrágio universal dos cidadãos eleitores na área da respectiva autarquia,
art.220.º, n.º 2 CRA.

Princípio da sujeição das autarquias locais a tutela administrativa: é o que,


para evitar que a autonomia local se transforme em instrumento de ilegalidade,
submete as decisões das autarquias locais de acordo com o modelo habitual dos
países com sistema administrativo de tipo francês a tutela administrativa do
executivo, art.221.º n. º1. Esta tutela é restrita à fiscalização das autarquias, id.,
n.º 2, porquanto isso as transferiria da administração autónoma para a
administração inderecta do Estado.

1.4. PESSOA COLECTIVA

As autarquias locais são pessoas colectivas públicas e não um órgão do Estado.


As autarquias locais são pessoas colectivas, pois possuem personalidade
jurídica, autonomia administrativa, financeira e patrimonial. São entidades
públicas, pois estão dotadas de três poderes e deveres públicos. Quando foram
criadas as autarquias locais gozarão de um estatuto próprio com os seguintes
traços característicos de um ente jurídico com autonomia administrativa, com
autonomia financeira,i.e., terão rendimentos e receitas próprias, que permitirão
satisfazer as necessidades locais; autonomia patrimonial, serão dotadas de
património mobiliário e imobiliário70. As autarquias locais, são de facto, pessoas
colectivas de populações e território.71,72

1.5. INTERESSES ESPECÍFICOS RESULTANTES DA VIZINHANÇA

O legislador constitucional operou com um conceito de interesses específicos,


resultantes da" vizinhança". O que isto quer dizer? Em boa verdade, as
autarquias locais prosseguem Interesses específicos das populações das
respectivas circunscrições administrativas. Esses interesses específicos das
populações alguns autores designam-no de "interesses comuns73 " , outros de
interesses próprios74 resultam segundo Freitas do Amaral, "do facto de elas
conviverem numa área restrita , unidas pelos traços da vizinhança".

Nós fomos mais longe, dizendo que esses interesses são coletivos, específicos
das populações das áreas onde as autarquias locais exercem suas atividades.
É verdade que os interesses são comuns e próprios, todavia a designação de
"interesses específicos" é mais completa e traduz, de facto, o que se passa nas
administrações autárquicas.75

70
O Estado deverá transferir terrenos e imóveis para as autarquias locais, e no decurso da sua
existência poderão obter outros imóveis e bens de valor mobiliário e imobiliário.
71
AMARAL, Diogo Freitas do, Carlos Feijó, Direito Administrativo, ed. Almedina, Coimbra,
2016, p-142.
72
Embora a CRA use apenas a designação " pessoas colectivas territoriais”, pois, está na base
delas o território, tal não prejudica a noção doutrinal de que as autarquias sejam pessoas
colectivas de pessoas e território. Dito de outro modo, o substrato real que está na constituição
dessa pessoa colectiva- autarquia local- é, pois, a população de um determinado espaço
territorial. Contrariamente a uma associação, por exemplo, cujo substrato real são, apenas, as
pessoas. Sem desprimor do conceito constitucional, achamos mais avisado colocar na definição
de autarquia local a designação de pessoas colectivas de pessoas e território, porque são esses
dois elementos indissociáveis do seu substrato real. Por fim, vale dizer que o seu estatuto de
pessoa colectiva permitirá que as autarquias locais demandem e sejam demandadas nos termos
do artigo 221 da CRA e demais normas aplicáveis.

73
Amaral Diogo Freitas do, p. 421.
74
FEIJÓ, Carlos, ob.cit. p-136.
75
É por isso que a existência de interesses locais diferentes dos interesses gerais da
colectividade nacional justificam que ao lado do Estado cuja organização e actuação sobre todo
o território- existem entidades especificamente locais criadas para tratar os interesses locais 75.
Por outro lado, não é fácil estabelecer a fronteira entre os interesses gerais do Estado, que
abrange a nação como um todo, e os interesses específicos das populações locais. Exemplos
paradigmáticos de interesses específicos locais são a iluminação das ruas dos interiores dos
bairros e a recolha de resíduos sólidos e líquidos das residências e dos pequenos
estabelecimentos comerciais. Já exemplos de interesses manifestamente nacional são a defesa
nacional ou as relações entre Estados, traduzida na actividade diplomática.
Há, contudo, zonas de confluência entre os interesses nacionais e os interesses
locais, nesses casos, aconselha Freitas do Amaral que em relação a eles tem
de intervir o legislador, tem de actuar a lei administrativa, para decidir se se deve
considerar que o interesse prevalecente é o da comunidade nacional, caso em
que deve ser posto a cargo do Estado, ou se o interesse prevalecente é o local-
devendo, portanto, ser entregue á respectiva autarquia local, ou ainda se há de
estabelecer formas de articulação e coordenação entre o Estado e as autarquias
locais, por certos interesses serem simultaneamente nacionais e locais76. E
mais, os interesses específicos resultantes da vizinhança estão enumerados na
constituição e podem ser alargados por uma lei ordinária.

Nos termos do artigo 219.º, da CRA, as autarquias locais poderão prosseguir fins
específicos das populações, tais como: nos domínios da educação, saúde,
energia, águas, equipamento rural e urbano, património, cultural, ciência,
transportes e comunicações, tempos livres e desportos, habitação, acção social,
proteção civil, ambiente e saneamento básico, defesa do consumidor, proteção
do desenvolvimento econômico e social, ordenamento do território, polícia
municipal, cooperação descentralizada e geminação.

1.6. ÓRGÃOS DAS AUTARQUIAS LOCAIS

Pês embora a CRA não indique a designação específica que virão a ter os
órgãos de cada espécie de autarquia, deixando isso para uma lei da Assembleia
Nacional, encontramos, contudo, no art. 220.º, n.º 1. da CRA as denominações
genéricas dos órgãos de todas as espécies de autarquias locais. A organização
das autarquias locais compreende uma assembleia dotada de poderes
deliberativos, um órgão executivo colegial, e um presidente da autarquia.

 A assembleia deliberativa é composta por representantes locais, eleitos


por sufrágio universal, igual, livre, directo, secreto e período dos cidadãos
eleitores na área da respectiva autarquia, segundo o sistema da
representação proporcional, id. n.º 2.77
 O órgão executivo colegial é constituído pelo seu presidente e por
secretários por si nomeados, todos responsáveis perante a assembleia
da autarquia, id. n.º 3.78
 Presidente do órgão executivo da autarquia é o cabeça de lista mais
votado para a assembleia, id. n.º 4. 79

76
AMARAL Diogo Freitas do, ob.cit. p. 422.
77
Trata-se de uma espécie de parlamento.
78
É o executivo autárquico.
79
O presidente é, assim, o chefe do executivo local.
CAPÍTULO II: FIGURAS AFINS

2.1. SELF-GOVERNAMENT

Há descentralização em sentido político-administrativo quando os órgãos


das pessoas colectivas públicas autónomas sejam livremente eleitas pelas
respectivas populações ou pelos seus associados, quando a lei os
considere independentes na órbita das suas atribuições e competências,
e quando estiverem sujeitos a formas atenuadas de tutela administrativa,
em regra restrita ao controlo da legalidade. É o que se chama auto-
administração («self-government»).80
Dito isto, é necessário sublinhar que os conceitos de centralização e
descentralização em sentido jurídico são conceitos puros, conceitos
absolutos, ou existe um, ou existe o outro -; ao passo que, em sentido
político-administrativo, os conceitos de centralização e descentralização
são conceitos relativos: poderá haver mais ou menos centralização, e
poderá haver mais ou menos descentralização; é tudo uma questão de
grau. Dificilmente haverá, neste sentido, um sistema totalmente
centralizado ou totalmente descentralizado: todos terão parcelas maiores
ou menores de centralização e de descentralização.
2.2. AUTO-GESTÃO

Muito próximo do conceito de autarquias locais anda o conceito francês de auto-


gestão, que equivale a auto-administração.

Bem vistas as coisas, essa noção tem um sentido conceitualmente bem


densificado, designando as situações de gestão de uma empresa ou serviço
pelos próprios trabalhadores ou funcionários1. Existe, no entanto, uma nítida
distinção entre autarquias locais e auto-gestão. Deste modo, se por um lado, a
auto-gestão empresarial significa que a gestão da empresa é feita pelos próprios
trabalhadores, a autarquia local significa que a gestão deste ente público é feita
pelos representantes dos próprios interessados.

2.3. CO-ADMINISTRAÇÃO

A co-administração (ou administração conjunta) é um modelo de gestão da coisa


pública de forma partilhada em que um órgão da administração e os particulares
interessados, ou ainda entre dois entes públicos distintos, mas com interesses
específicos convergentes.

80
AMARAL, Diogo Freitas do, e Carlos Feijó, ob. cit. p-207.
No primeiro caso diz-nos Vital Moreira, cabem os casos de participação
administrativas dos interessados na direcção dos serviços administrativos ou dos
institutos públicos quando ela assume intensidade suficiente para configurar uma
partilha de poder entre a administração e os interessados. Na segunda
modalidade cabem os casos de exercícios de actividade administrativas em
conjunto, nomeadamente através de associações ou consórcios interativos entre
o estado e as administrações autónomas, sejam as regiões autónomas ou os
municípios, sejam as ordens profissionais ou outras da auto- administração não
territorial2.

A co-administração deve distinguir-se das autarquias locais. Na co-


administração há uma partilha de tarefa de funções entre a administração e os
administrados, ao passo que nas autarquias locais há uma participação dos
administrados na gestão administrativa, através dos seus representantes, ou
casuisticamente, com a sua intervenção pessoal (nas audiências, na votação,
nas respostas as solicitações das administrações autárquicas).

CAPÍTULO III: CATEGORIAS DAS AUTARQUIAS

As autarquias locais poderão adoptar três categorias:

 Padrão/municipal;
 Supra-minicipal ou provincial;81
 Infra-municipal que pode ser a comuna ou o distrito;82

Mas a CRA declara que a principal autarquia local, em Angoa, será o município

- cujas origens, em toda Europa, remontam ao período do Direito Romano, que


em Portugal se chamou concelho, em Espanha (ayuntamento) em França
(commune) e em Inglaterra, tal como nos EUA, (contry). Porem, estando a
organização municipal destinada, quando assim for decidido por lei da
Assembleia Nacional, a tornar-se em autarquia-tipo, ou autarquia principal, a
autarquia que não poderá deixar de existir, a CRA prevê, realisticamente, que
por especificidades culturas, históricas e pelo seu grau de desenvolvimento
possam ser criadas por lei espécies de autarquias locais, 218.º, n.º 2 e 3.

III. REGIME JURÍDICO

As autarquias locais têm o seu estatuto jurídico aflorado na constituição. O


capítulo II do título VI referente ao poder local é todo dedicado as autarquias
locais, os seus seis artigos (217.º-222.º) apresentam as linhas mediante as quais
o legislador ordinário vai densificar as autarquias locais em Angola. Como
dissemos noutro lugar, o pacote legislativo referente as autarquias ainda não

81
Como exemplo temos as províncias.
82
Como exemplo temos as administrações autónomas como as comunas.
foram aprovadas, tendo a sua discussão agendada para breve. Mas será com
base nesses artigos e noutros pertinentes da constituição que se irá elaborar
toda legislação atinente as mesmas.

Um executivo que é colegial tendo um presidente eleito, e secretários por si


nomeados, e outro deliberativo que é assembleia composta por representantes
locais eleitos por sufrágio, cf. art. 220.º, da CRA. As autarquias locais estarão
sujeitas a tutela administrativa de mera legalidade nos termos do art. 221.º., da
CRA. Em caso de excessos gozam de tutela jurisdicional, podendo impugnar
contenciosamente as ilegalidades cometidas pela entidade titular no exercício
das suas funções, nos termos do art. 221.º, n.º 4.

IV. ELEIÇÕES AUTÁRQUICAS

As eleições autárquicas consistem na escolha democrática, livre, periódica,


mediante voto individual e secreto, dos órgãos de direcção das autarquias locais.
Em regra, são escolhidos através da votação democrática o presidente da
autarquia e assembleia municipal. Essa escolha obedecerá a vários princípios
constitucional, nomeadamente a liberdade de escolha, a periodicidade, a
universalidade, a candidatura independente. Contudo, a lei poderá consagrar
princípios próprios ao processo autárquico, designadamente o critério da
residência para os candidatos, a proibição de candidatura simultânea em duas
ou mais autarquias, entre outras. As eleições autárquicas vão permitir uma maior
aproximação entre governantes e governados.

Os mandatos dos órgãos autárquicos serão fiscalizados pelas assembleias


municipais, pelos cidadãos das respectivas circunscrições, o que vai permitir um
maior controlo político por parte da população local. Pensamos que é uma forma
democrática de escolha dos representantes e, não sendo a panaceia para todos
os males, é pelo menos, um modo de prover os cargos públicos de forma
imparcial onde a vontade dos governados é atendida.

Nos termos do n.º 5 do art.220.º da CRA, as candidaturas para a eleições dos


órgãos das autarquias podem ser apresentadas, nos termos a definir por lei, quer
partidos políticos83, quer por grupos de cidadãos eleitores, ditos independentes.

A admissibilidade de candidatura independente decorre do princípio da


participação de todos os cidadãos na vida pública local; e será um sinal positivo
de abertura da administração púbica à sociedade civil e o ao exercício da
cidadania activa.

83
Isoladamente ou em coligação.
V. TRAÇOS GERAIS DO REGIME CONSTITUCIONAL DAS
AUTARQUIAS LOCAIS

De acordo com a CRA de 2010, são os seguintes:

a. Reserva absoluta de lei da assembleia nacional, quanto a forma de


organização e funcionamento dos órgãos do poder local art. 164º
alínea f.
b. Reserva absoluta de lei da assembleia nacional quanto a eleição e
ao estatuto dos titulares dos órgãos do poder local art. 164º alínea
d.
c. As autarquias locais devem dispor de órgãos representativos
eleitos por sufrágio art. 220º nº 2.CRA
d. As autarquias exercem poder regulamentar próprio, art. 214º nº
4.CRA
e. O estado apenas exerce tutela de mera legalidade sobre as
autarquias art. 221º.CRA
f. Reserva absoluta de lei da assembleia quanto a criação
modificação e extinção das circunscrições administrativas para
efeitos da administração autárquicas e estadual, art. 164º al. f).
VI. ATRIBUIÇÕES DAS AUTARQUIAS LOCAIS

A CRA, nos termos do art. 219.º, determina desde já quais serão os princípios
dominantes das atribuições que a lei deverá cometer ás autarquias locais:

a. Educação, tempos livres e desportos;


b. Saúde, acção social e defesa do consumidor;
c. Energia, águas, e equipamento rural e urbano;
d. Património, cultura e ciência;
e. Desenvolvimento económico e social, transportes e comunicações,
habitação, ambiente e saneamento básico;
f. Ordenamento do território;
g. Polícia municipal e protecção;
h. Cooperação inter-autárquica.84

84
AMARA, Diogo Freitas do, e Carlos Feijó, ob cit, p-307.
CAPITULO IX
DISTINÇÃO ENTRE ADMINISTRAÇÃO LOCAL DO ESTADO E
ADMINISTRAÇÃO LOCAL AUTÁRQUICA

1.3. SURGIMENTO DO PROBLEMA: DA DISTINÇÃO DOS PRINCÍPIOS


À NATUREZA DOS ÓRGÃOS

Como vimos, apesar de não haver consenso na doutrina sobre a origem da


administração autárquica moderna (origem do município) 85, ninguém contesta o
berço principal-Roma Antiga. Em todo o caso, podemos ver que a administração
local (quer seja a estadual, quer seja a autárquica) não se apresenta da mesma
forma em todos os países e em todas as épocas, variando também de acordo
com o regime politico estadual vigente:

 Regimes democráticos correspondem a municípios


independentes (ou autónomos);
 Regimes não democráticos tornam os municípios dependentes
(municípios sem autonomia, administrado por órgãos locais do
Estado).

Com a evolução destes dois sistemas (o de tipo britânico e o de tipo francês)


deu-se a aproximação dos mesmos. Todavia, esta aproximação não significa
que eles tenham desaparecido ou que não se possa fazer uma clara distinção
entre os mesmos: a distinção entre os municípios dependentes e independentes
continua a existir só que o enfoque da abordagem se deslocou na verdade. Na
verdade, hoje, quando se coloca a questão da dependência ou independência
dos municípios, não se deve fazê-lo fora do contexto e do regime político vigente
nos países em análise.86,87

85
AMARAL, Diogo Freitas do, ob, cit. p-462.
86
Assim com a globalização dos regimes democráticos temos igualmente assistido a
independência gradual dos municípios alias, bem vistas as coisas, seria um contra-senso um
regime democrático, impor por via legislativa, aos seus cidadãos uma administração que não
correspondesse a vontade destes, o principio do Estado democrático pressupõe a existência de
autonomia local e de descentralização administrativa.

87
Eis, pois, um desafio para o nosso Estado, que emerge para de um longo período de guerras
fratricidas e que ensaia os primeiros processos democráticos (realização de eleições
democráticas): a realização de eleições autárquicas a médio prazo seria um sinal claro de
conformação do estado aos princípios democráticos, que, de resto estão consagrados
constitucionalmente.
PARTE: V
TÍTULO
AS AUTARQUIAS LOCAIS À REALIDADE DE ANGOLA
1.1. AS AUTARQUIAS LOCAIS EM ANGOLA
Entende-se por Realidade como sendo a qualidade ou estado do que é real. O
que existe realmente; o que tem existência objetiva, em contraste com o que é
imaginário ou fictício. É necessário entendermos que as autarquias são, acima
de tudo, uma questão urgente de descentralização do poder e da
materialização da autonomia local. Da sua entrega, ou melhor, devolução, a
quem realmente pertence (ubicumque sit res pro domino suo clamat).

No nosso país autarquias existem formalmente nos termos do art. 214.ºCRA,


todavia, na prática é inexistente desde 2010 que o legislador consagrou como
forma de organização do poder local no nosso território. O assunto atinente às
Autarquias em Angola, não alarmam a ninguém, porquanto tem sido um "panem
nostrum quotidianum da nobis hodie" na nossa praça política. Porém, vale
dizer que é uma matéria delicada de se tratar, sobre tudo no contexto Angolano,
por não terem saído do plano abstrato para o concreto. Começaremos por definir
Autarquias como sendo as autarquias locais como pessoas coletivas públicas de
população e território, correspondentes aos agregados de residentes em
diversas circunscrições do território nacional, e que asseguram a prossecução
dos interesses comuns resultantes da vizinhança mediante órgãos próprios,
representativos dos respetivos habitantes.

1.2. CAUSAS DA INEXISTÊNCIA DAS AUTARQUIAS LOCAIS EM


ANGOLA
As causas da não implementação das autarquia era apontada pelo governo na
falta de condições a nível de vários sectores das administração local, porquanto
a implementação das autarquias traduz uma independência dos serviços da
administração local, situação que tornaria a circunscrição municipal num
pequeno Estado, porque as necessidades colectivas são tradas nessa mesma
parcela territorial do país, e isto de alguma forma exige preparação de condições,
razão pela qua se cogitava em implementar as autarquia em observância do
princípio do gradualismo, que indicava as realização das autarquias em alguns
municípios das províncias de Angola com um nível de desenvolvimento
minimamente coadunável com os interesses que se pretendia.
1.2.1. PRINCÍPIO DO GRADUALISMO

Na CRA não revista esse princípio vinha consagrado no art. 242.º, que
passamos a citar:

1. A institucionalização efectiva das autarquias locais obedece ao princípio


do gradualismo.
2. Os órgãos competentes do Estado determinam por lei a oportunidade da
criação, o alargamento gradual das suas atribuições, o doseamento da
tutela de mérito e a transitoriedade entre a administração local do Estado
e as autarquias locais.

Desse modo, podemos definir o gradualismo como sendo o principio segundo o


qual as autoridades competentes do Estado podiam, nos termos da CRA,
institucionalizar as autarquias locais, de acordo com a oportunidade da sua
criação, o alargamento gradual das suas atribuições, o doseamento da tutela de
mérito e a transitoriedade entre a administração local do Estado e as autarquias
locais. Do enunciado, podemos extrair 5 critérios que passamos a citar e a
desenvolver:

 Critério da oportunidade segundo este critério, as autarquias locais


seriam institucionalizadas quando estivessem criadas as condições
politicas, jurídicas, materiais e humanas e territoriais. Dito de outro modo,
o legislador ordinário tinha a autonomia nos termos referidos na CRA, de
definir quando, como e onde implementar as autarquias;
 Razões de ordem politica, segundo essa razão o principio do
gradualismo é muito vulnerável a questões politicas, se, por um lado, a
necessidade de consolidação de instituições democráticas aconselhavam
a implementação simultânea e efectiva em todo território das autarquias
locais, por outro, a falta de condições da sua implementação em varias
áreas do país sugerem que a implementação seja feita onde há condições
para a sua efectivação.88

88
Em boa verdade, sob o ponto de vista politico, há condições de implementação das autarquias
locais em todo território, pois as grandes questões politicas que impedem a sua implementação
foram ultrapassadas, designadamente a ocupação militar do território, zonas de influencia
exclusiva de determinados partidos políticos, a intolerância politica. No fundo, o processo de
democratização do país encontra-se numa fase que, apesar de uma ou outra situação de
 Razões de ordem jurídica, de acordo essa razão o princípio do
gradualismo, constitucionalmente consagrado ancorava-se no principio
da racionalidade, da proporcionalidade e do respeito pela unidade e
unidade e integridade do Estado. A discussão sobre a
inconstitucionalidade da implementação gradual das autarquias locais
não tinha razão de ser, sob o ponto de vista estritamente jurídico, na
medida em que o elemento histórico e o espirito do legislador,
constitucional, ao consagrar a parte transitória da Constituição de 2010
quis e consagrou a implementação gradual das autarquias locais.

A vontade política da implementação gradual das autarquias locais esta refletida


de forma clara no artigo 242 da CRA ficando os órgãos do Estado com autonomia
de definir o modo de implementação gradual desse elemento fundamental do
poder local.

 Razão de ordem material, no que se refere essa razão, o princípio do


gradualismo atenderia as condições materiais e humanas existentes em
cada momento de criação e implementação das autarquias locais.

Desse modo, só seriam criadas as autarquias locais nas localidades onde


estivessem reunidas as mínimas condições materiais, técnicas e humanas, para
que aquelas pudessem funcionar. De resto, de nada serviria de interesse público
a criação de uma autarquia local que “falecesse à nascença” por falta de
condições de subsistência.

 Razões de ordem territorial, nas vestes dessa razão, o principio do


gradualismo levava em conta as condições que as circunscrições
administrativas previstas para a implementação das autarquias locais
apresentavam. São do conhecimento publico as assimetrias regionais
existentes no nosso país. A divisão político-administrativa de Angola, para
efeitos de administração, apresenta uma diferença de grau de

instabilidade politica, já não prejudica a implementação das autarquias locais. Nem mesmo a
divergência entre os principais partidos políticos angolanos no concernente a implementação
gradual ou não das autarquias locais, é a razão suficiente para, politicamente, não se poder
avançar já com as autarquias locais em todo território, bastando os órgãos competentes do
Estado decidirem a respeito.
desenvolvimento, económico e social muito acentuado. Regista-se maior
desenvolvimento económico e social nas regiões do litoral e do centro, em
detrimento das zonas de leste e o do sul.

Tendo em conta esse desnível de distribuição geográfica do desenvolvimento


socioeconómico de Angola, a quando da implementação das autarquias locais,
seguindo o principio do gradualismo, haveria primeiro autarquias locais nas
regiões que apresentavam maior grau de desenvolvimento socioeconómico.
Este critério do território tinha causado fortes debates na classe política e na
sociedade em geral, colocando em polos opostos aqueles que defendiam a
implementação simultâneo em todo território, por um lado, e por outro, os que
advogam a implementação gradual ou faseada das autarquias, em razão do grau
de desenvolvimento de cada região por mais que queiramos atender ao desejo
de todas as populações de Angola, não há condições de uniformizar os
critérios.89

O critério da suficiência económica é um critério económico, mas que se traduz


na analogia que só se dá autonomia a quem tem requisitos para tal. O
desfasamento das assimetrias regionais em Angola é da tal ordem, que o Estado
deve ter políticas e programas claros para que, a médio e longo prazo, possamos
aproximar as regiões, promovendo um forte desenvolvimento económico nas
mais desfavorecidas, para que, se não alcançarem o nível de desenvolvimento
das mais avançadas tenham um mínimo de desenvolvimento que justifique a
implementação das autarquias locais.

 Critério das atribuições ou funcional, segundo este critério, o Estado,


nos termos da lei aplicável, poderá transferir faseadamente as
atribuições que hoje estão assim confiadas para as autarquias locais.

89
A desigualdade territorial é uma realidade inegável, tangível, havendo, inclusive,
municípios com uma dimensão superior a países Europeus, como a Holanda, e que
apresentam, um grau de desenvolvimento socioeconómico, incapaz de sustentar uma
autarquia local. O mínimo de condições para a implementação de autarquias locais significa
que a região tem de produzir rendimentos suficientes para justificar a existência dos órgãos
autárquicos.
Desse modo, podemos destacar dois aspectos no critério das
atribuições:

 No primeiro, atribuições transferíveis o Estado vai transferir apenas


algumas das atribuições constantes no artigo 219 da CRA para as
autarquias locais;
 No segundo, intensidade das atribuições o Estado poderá repartir
funções com as autarquias locais por exemplo, no caso da
Educação ou da Saúde, o Estado poderá ficar com a
responsabilidade das universidades públicas e dos hospitais
provinciais, e as autarquias locais poder-se-ão ocupar das escolas
do nível anterior ao da universidade, e dos hospitais municipais, no
fundo, segundo este critério, o Estado fará uma transição, quanto
as atribuições transferíveis e a intensidade das mesmas, para as
autarquias locais. Nas províncias onde houvesse maior
implementação das autarquias locais, haveria um leque de funções
transferidas do Estado para as autarquias locais de grau de
intensidade superior.90

Deste enunciado constitucional, podemos depreender que o legislador


constitucional, utilizou um critério meramente indicativo, podendo o legislador
ordinário alargar as atribuições das autarquias locais. Segundo o principio do
gradualismo, esta nova entidade pública poderia não receber, num primeiro
momento todas atribuições locais do Estado, devendo, pelo menos repartir
algumas delas com o Estado.91

90
Assim, a CRA, no artigo 219, dispõe que: “as autarquias locais têm de e entre outras e nos
termos da lei. Atribuições nos domínios da educação, saúde, energia, águas, equipamento
rural e urbano, património, cultura, e ciência, transportes e comunicações, tempos livres e
desportos, habitação, acção social, protecção civil, ambiente e saneamento básico, defesa
do consumidor, promoção do desenvolvimento económico e social, ordenamento do
território, politica municipal, cooperação descentralizada, e geminação”.

91
Assim de acordo com uma determinação legal o Estado pode transferir parte das funções
(atribuições) que hoje exerce a nível local para as autarquias locais. De acordo com artigo
219 da CRA, serão funções ligadas a educação e ao ensino (sobretudo ao ensino básico e
médio), a saúde (o sistema de saúde pública ligado aos postos médicos e hospitais
Sem prejuízo, eventualmente, de outras funções administrativas de igual, maior
ou menor importância, o Estado reserva para si as funções administrativas
ligadas a segurança, policiamento e obviamente, de tutela administrativa.

 Critério do Doseamento da Tutela de Mérito, este critério, que vem


previsto no titulo VIII correspondente as disposições finais e transitórias
da CRA, sugere que a tutela de mérito é temporária. Estamos diante de
um contraditório entre a tutela de mera legalidade consagrada no artigo
221 nº2 da CRA e a tutela de mérito, consagrada no artigo 242 nº2 da
CRA. Pelo que dissemos noutro lugar a tutela da legalidade é hoje
acolhida na doutrina dominante e nos ordenamentos jurídicos congéneres
ao nosso, razão pela qual o legislador a consagrou no capítulo dedicado
a autarquias locais.92

É um poder excessivo, pois implica revogar, recusar a aprovação de projectos e


actos, configurando uma situação de falta de autonomia dessas entidades. Isto
significa um ataque frontal ao principio da autonomia local, que dá mote ao
surgimento das autarquias locais. Para suavizar este golpe das autarquias
locais, sugere-se que a tutela de mérito provisoria seja a mais casuística
possível, de modo a que o espectro da autonomia local prevaleça nas autarquias
locais. 93

 Critério da transitoriedade entre a Administração local do Estado e as


Autarquias Locai- segundo este critério, na fase inicial da implantação das

municipais) ao fornecimento de Água, energia eléctrica, saneamento básico, recolha e


tratamento de resíduos sólidos, planeamento urbano e questões fundamentais locais- as
funções que o Estado deixa ao cuidado das autarquias locais.

92
A consagração nas disposições finais e transitórias, embora a letra do artigo não diga, entende-
se ser provisoria. Deste modo, somos de opinião que, tão logo seja concluída a fase da
implementação das autarquias locais, isto é, quando elas estiverem a vigorar em todo o território
nacional, não haverá razões para que a tutela de mérito subsista. A tutela de mérito consiste na
intervenção do executivo na gestão da autarquia local, a fim de lhe assegurar a conveniência
dos seus actos.

93
Assim, algumas matérias ligadas ao urbanismo e ao ordenamento do território, contratação
pública, questões ambientais, defesa do consumidor, poderão estar submetidas a tutela de
mérito, mais com critérios bem definidos na lei própria. Pensamos que os órgãos competentes
do estado podem definir critérios claros e estabelecer uma programação para que as autarquias
locais possam ganhar paulatinamente a autonomia desejável
autarquias locais, haverá coexistência entre a administração local do Estado
e a administração local autárquica. Com critérios claros e bem definidos na
lei, devem delimitar-se atribuições e competências entre essas duas
administrações para evitar conflitos positivos e negativos de competências.
Desse modo, os actuais órgãos de administração local do Estado,
designadamente os governadores provinciais, as administrações municipais,
distritais, comunais e respectivos serviços administrativos terão as suas
funções reduzidas e num ambiente de transição, pois todos estes órgãos
serão extintos.94

 Critério da implementação das autarquias, segundo este critério, a


implementação das autarquias locais pode, para lá das autarquias municipais
(regime regra), dar lugar a autarquias supra-municipais e infra-municipais, tal
como está consagrado no artigo 218 da CRA. Desse modo, poderia existir
gradualismo na implementação das autarquias a nível dos distritos ou das
comunas e, ali onde se justificaria, a nível provincial.
O facto de a primeira fase de institucionalização das autarquias locais, prevista
para 2020, não abranger todo o território nacional não constituía violação de
nenhum preceito constitucional, pois tratava-se de uma medida provisória,
prevista pela própria Constituição.
Mas o legislador entendeu ser desnecessário implementar as autarquias nesses
moldes apontando uma evolução que permite implementar as autarquias de
forma simultânea ou seja aplicá-la em todos municípios, esperamos que não seja
necessário repristinar o princípio descartado, porque ao nosso entender a não
implementação indica a falta de condições a nível dos 164 municípios. Bonis
nocet qui malis perpecerit, a causa eficiente da não implementação
entendemos que são questões políticas, é só olhar pela perpetuitidade que
muitos órgãos enquanto administração orgânica se atribuíram nos
beneficium commune.

94
A administração local do Estado está em prazo. Uma vez implementadas as autarquias locais
em todo território nacional, a administração local do Estado deixará de existir, e dará lugar no
âmbito do principio da autonomia local e da descentralização administrativa, ao poder local. O
Estado, como sabemos, não faz parte do poder local. Como dissemos noutro lugar, as entidades
que fazem parte do poder local são as autarquias locais, as instituições do poder tradicional e
outras modalidades especificas de participação dos cidadãos. Para que isso aconteça, teremos
de alterar a constituição, nomeadamente o seu artigo 201.CRA.
2.2.2. CONSEQUÊNCIAS DA NÃO REALIZAÇÃO DAS AUTARQUIAS
PARA O POVO ANGOLANO
Nas nossas indagações a respeito do tema supra grafado podemos notar
localidades e comunidades muito vulneráveis tendo em conta a falta de
cumprimento das Administrações municipais nas suas atribuições no que diz
respeito: a educação, a saúde, ao desporto, a energia, alimentação, etc.,
situação que tem desembocado aflições no seio da comunidade que confiou seu
poder de soberania aos órgãos da administração orgânica e colocando em causa
o princípio da prossecução do interesse público no respeito pelos direitos e
interesse legalmente protegidos dos particulares. Nos termos do art.16.º, do
CPA.

Constata-se hoje, muita morosidade no tocante a resolução de problemas


básicos sobretudo nas aldeias, pois na exposição de um simples problema ao
administrador comunal, este por insuficiência de poder para resolver envia para
o administrador municipal que por sua vez envia para o governador e o
governador faz o mesmo. Acreditamos que o interesse dos cidadãos serão
sempre atropelados pelo simples factos desses órgãos da administração
orgânica não serem representativos, ou seja essa dependência fá-los ser
promotor do atraso desenvolvimento das respectivas circunscrições de que
foram indicados como gestores.

Evidentia est clara visibilitas veritatis objectivae, só para se ter uma ideia na
emissão de certos documentos como o Bilhete de Identidade e o Passaporte por
exemplo. Podem levar no mínimo cinco meses para a sua emissão devido a
dependência dos serviços centrais.

Nós enquanto parte deste país apregoamos ser necessário implementar as


autarquias em todo país para que haja descentralização do poder e maior fluidez
dos serviços. Porquanto esta descentralização trará consigo muitas melhorias
não só no tangente ao funcionamento dos serviços prestados pelas instituições
públicas, mas permitirá também a participação da população nas questões
económicas e políticas, concomitantemente haverá uma melhor distribuição dos
bens e serviços, melhor liberdade de expressão, entre outros.

1.3. PORQUÊ REALIZAR AS AUTARQUIAS EM ANGOLA


Como se sabe Angola é uma potência na região da África Austral, porém por
ironia é um dos poucos países, à semelhança dos Comunistas, que não tem
autarquias locais instituídas. No mundo inteiro, os países comunistas pouco
pautam pelas autarquias locais.
Nesta análise, apercebemo-nos, que fazemos parte de um grupo reduzido de
países africanos que são excepção à regra, no que toca à realização (regular)
de eleições locais. Dentro da SADC, por exemplo, para além do Reino de
ESwatini (antiga Swalizândia), que é um regime monárquico sem qualquer
abertura democrática, só Angola não tem algum tipo de eleições regionais ou
sub-regionais.

Para um país que desde 1992 se entende como Estado Democrático e de Direito,
infringi de forma insistente o regime ora adotado como ideal para o nosso povo,
e isso de alguma forma contribui nas mais altas dificuldades que nós enquanto
angolano passamos, precisamos admitir que estamos atrasados no processo de
realização das eleições autárquicas. Entendamos que as autarquias são, acima
de tudo, uma questão urgente de descentralização do poder e da materialização
da autonomia local. Pês embora não seja a o garante das soluções dos nossos
problemas de forma cabal, todavia, acaba de certa forma mitigar as
necessidades colectiva que o Estado enquanto principal gestor da administração
se comprometeu dissipá-las.

São notáveis os efeitos positivos da descentralização administrativa noutras


partes do mundo, com um número elevado de pessoas a melhorar
constantemente a sua qualidade de vida. O nosso legislador ao consagrar na
nossa Lei Fundamental, o poder autárquico quis naturalmente fazer com que
Angola evoluísse para um nível de descentralização administrativa que
permitisse a promoção do desenvolvimento econômico e social. E se formos a
analisar os problemas fundamentais da governação local em Angola continuam
a ser os mesmos (deficiente saneamento básico, deficiente distribuição da água,
energia eléctrica, falta de iluminação pública, melhoramento das vias de
comunicação e acesso, ordenamento do território, saúde, educação, cultura,
ambiente, desemprego e outros) e as autarquias podem ser o caminho para a
sua solução. Acredita-se na ideia de que os municípios do nosso país têm de
conhecer melhores condições de vida e que isso só é possível por via da
implementação das autarquias locais. Porquanto permite uma maior
aproximação entre governantes e governados, uma maior participação dos
cidadãos na direcção dos seus próprios interesses, um maior controlo político
dos dirigentes locais e uma maior proximidade dos serviços à população. Não
sendo um sistema perfeito, o modelo democrático ainda é o melhor que o homem
inventou.

1.3.1. BENEFÍCIOS DAS AUTARQUIAS PARA O POVO ANGOLANO


O poder local é capaz de superar uma série de problemas que afligem as
populações, libertando o poder central de múltiplas tarefas complexas. A
descentralização administrativa tem a vantagem de que com maior eficiência,
por via do poder local, na pessoa dos autarcas, resolver os muitos problemas
das populações.

Nas vestes da CRA, as atribuições das autarquias vão desde o domínio da


educação, saúde, energias, águas, equipamento rural e urbano, património,
cultura e ciência, transportes e comunicações, tempos livre e desporto,
habitação, acção social, protecção civil, ambiente e saneamento básico, defesa
do consumidor, promoção do desenvolvimento económico e social, ordenamento
do território, polícia municipal, cooperação descentralizada e geminação (artigo.
219º).

Nos termos do princípio da autonomia financeira que já foi abordado as


autarquias dispõem ainda de recursos financeiros proveniente do Orçamento
Geral do Estado (artigo. 104.º, n.º 2.), e de rendimentos e impostos locais e
gozam ainda de autonomia local na gerência e regulação dos assuntos públicos
locais (artigo. 214º). À luz do escrito constitucional supramencionado levava-nos
a entender que os benefícios das autarquias para o povo angolano vão desde a
independência da administração local até aos órgãos de soberania (órgão
judicial, legislativo e executivo), o que significa que os municípios terão os seus
próprios tribunais (no caso regional) e Assembleia. À luz do princípio da tutela
administrativa e sujeição das autarquias a tutela administrativa, consagrado nos
termos do art. 221.º, n.º 2.

Como corolário dos princípios ora mencionados teremos a nível da


administração local centros hospitalares regionais, escolas tanto do Ensino de
Base quanto do Ensino Superior, ou seja, alguns os serviços que estavam
destinados às províncias passam para os municípios. Bem, em palavras
laconizadas sãos esses benefícios que o povo poderá ter com a realização das
autarquias. Porquanto hoje por hoje, os serviços mais importantes são
concentrados na capital do país, situação que tem contribuído para a morosidade
de vários processos. Por estas razões nós na qualidade de estuante de direito
nos simpatizamos com a opinião pública a respeito da implementação das
autarquias quale id cumque est a modalidade que se que achar ideal. E que o
projecto de lei da divisão político-administrativo não seja um mecanismo ou via
para desviar o pão que o povo precisa para colmatar a fome no seu seio.
CONCLUSÃO

Analisado o tema, e cônscios da grande importância e magna valia de que se


reveste a implementação das autarquias, consumamos este labor, dizendo que
as autarquias são pessoas colectiva de populações e de território,
correspondentes aos agregados dos domiciliados de uma dada circunscrição
territorial nacional, que asseguram a prossecussão dos interesses comuns,
resultantes da aproximidade geográfica, mediante as actividades dos próprios
órgãos representativos das respectivas populações. Promover a satisfação
eficaz e eficiente das necessidades das populações locais pela aproximação dos
serviços aos cidadãos; permitir que os povos escolham os seus representantes,
e não só. As autarquias constituem um bem para o povo que a muito espera por
uma solução dos muitos problemas que os assola. Da pesquisa feita,
entendemos que em relação a outros países da África Angola é um dos poucos
que não implementou as Autarquias, por motivos que ainda permancem
misteriosos. Elas existem, mas só no plano abstracto.
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