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O assunto das Autarquias Locais não é um dado novo para os angolanos. Trata-se
de uma notícia trazida há cerca de treze anos, isto é, com a entrada em vigor da
Constituição da República de Angola em 2010, conforme o seu artigo 217º.
Misteriosamente, apesar das intenções constitucionais, as Autarquias nunca
abandonaram o plano abstracto para o concreto, deixando o povo num advento
abastado de incertezas. Por este motivo, o presente trabalho trata sobre as
Autarquias Locais, uma visão à realidade Angolana. Tem como objectivo geral
compreender a inexistência das Autarquias em Angola, para posteriormente
identificar as causas da sua não implementação.
TÍTULO:
CAPÍTULO: NOÇÃO
A palavra Estado tem várias acepções na Ciência do Direito, das quais, as mais
importantes são: a acepção internacional, a acepcāo constitucional e a acepção
administrativa.
1
AMARAL, Diogo Freitas do, e Carlos Feijó, ob, cit, p-234.
2
AMARAL, Diogo Freitas do, e Carlos Feijó, ob, cit, pp: 235-236.
3
Não se confundem Estado e governantes: o Estado é uma organização permanente; os
governantes são os indivíduos que transitoriamente desempenham as funções dirigentes dessa
organização. Não se pode confundir Estado e funcionários como os advertem Diogo Freitas e Carlos
Feijó porquanto o Estado é uma pessoa colectiva, com património próprio; os funcionários são
indivíduos que actuam ao serviço do Estado, mas que mantêm a sua individualidade humana e
jurídica. Cf: ob, cit, p-236.
11
2. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Como acima referido, o Estado tem a sua razão de ser na prossecução dos seus fins
para satisfação das necessidades colectivas. Para a realização das suas tarefas
fundamentais o Estado cria um conjunto de serviços vocacionados a este fim que, se
chama Administração Pública. O conceito de Administração pública não é unívoco, isto
é, o seu significado varia de acordo o sentido que se quer apresentar. Para efeitos de
compreensão, Diogo Freitas do Amaral e Carlos Feijó 4 apresentam-nos os seguintes:
Para além destes dois sentidos, os autores referem-se à um terceiro sentido proposto
por Marcello Caetano, que é o sentido formal6. A Administração Pública é regida pelo
Direito Administrativo, que é na perspectiva de Diogo Freitas e Carlos Feijó “ramo do
direito público constituído pelo sistema de normas jurídicas que regulam a organização
e funcionamento da Administração Pública, bem como as relações por ela
estabelecidas com outros sujeitos de direito no exercício da actividade administrativa
de gestão pública e, ainda, os termos e os limites das suas actividades de gestão
privada”7.
4
Amaral, Diogo Freitas do. Feijó Carlos. Direito Administrativo Angolano. Almedina, S.A.Coimbra.2016.pp-15-17
5
Idem.18
6
Segundo Marcello Caetano, a Administração Pública não se mostra hoje, somente como uma
actividade do Estado, mas como uma das várias formas de manifestação da sua autoridade. Por isso,
trata o terceiro sentido como sentido do poder da Administração Pública.
7
Ibidem.p-50
12
em todos os seus domínios de actuação devem prosseguir o interesse público no
respeito pelos interesses legalmente protegidos (Cfr. Art. 198º CRA, e 16º CPA)
7. Princípio da legalidade: os órgãos da Administração Pública devem agir em
obediência à lei dentro dos limites dos poderes que lhes forem conferidos e em
conformidade com os respectivos fins (Cfr. Art. 198 CRA, e 14º do CPA)
8. Princípio da igualdade: nas suas relações com os particulares, a Administração
Pública deve reger-se pelo princípio da igualdade
9. Princípio Justiça: a Administração Pública está vinculada ao princípio da Justiça
que deve ser aferido nos casos concretos (Cfr. Art. 198º CRA, e 37º CPA)
10. Princípio Imparcialidade: no exercício das suas funções, a Administração Pública
deve tratar de forma imparcial todos os que com ela entrem em contacto
(Cfr.Art.198º, e 19º CPA)
11. Princípio da Aproximação dos serviços às populações: para melhor servir o
interesse público, a Administração Pública deve estar estruturada de maneira que
os seus serviços estejam os mais próximos possíveis das populações.
12. Princípio da Desconcentração: visa assegurar a nível local, a realização das
distribuições e dos interesses específicos da Administração do Estado na respectiva
circunscrição territorial, mediante a delegação de poderes. (Cfr.Art.201º CRA).
13. Princípio da Descentralização Administrativa: garante que os fins do Estado não
sejam perseguidos somente pela Administração Central do Estado, mas por outros
entes, como são as Autarquias Locais.
13.1. ESPÉCIES DE ADMINISTRAÇÃO DO ESTADO
8
AMARAL, Diogo Freitas do, e Carlos Feijó, ob, cit, p-238.
13
municipal. Já os futuros presidentes das autarquias municipais, quando eleitos, não
serão órgãos do Estado: serão órgãos locais, sim, mas dos municípios; representarão
as populações da respectiva área.
ESPECIES DE ADMINISTRAÇÃO
Administração Estadual Indirecta
Administração Estadual Directa
Administração Autónoma
Administração Independente / periférica.
9
AMARAL, Diogo Freitas do, e Carlos Feijó, ob, cit, p-239.
10
AMARAL, Diogo Freitas do, e Carlos Feijó, ob. Cit. p-271.
14
13.1.2. NOCÃO DE ADMINISTRAÇÃO ESTADUAL DIRECTA
O Estado prossegue uma grande multiplicidade de fins: tem uma grande variedade de
atribuições a seu cargo. E esses fins ou atribuições têm tido tendência a tornar-se cada
vez mais numerosos, cada vez mais diversificados e cada vez mais complexos. Ora, a
maior parte dos fins ou atribuições do Estado são prosseguidos de forma directa e
imediata. Isto é: directa, quando prosseguida pela própria pessoa colectiva a que
chamamos Estado, e, imediata, quando, sob a direcção do Governo na sua
dependência hierárquica, e, portanto, sem autonomia, ou com uma autonomia muito
limitada. Por exemplo, a função tributária do Estado, que consiste em lançar e cobrar
impostos aos contribuintes.
principais:
11
AMARA, Diogo Freitas do, e Carlos Feijó, ob.cit. p-301.
12
AMARA, Diogo Freitas do, e Carlos Feijó, ob.cit p-258.
15
A competência de tais órgãos é limitada em função do território, não abrange
Divisão do território;
Órgãos locais do Estado;
Serviços locais do Estado.
13
Idem.
14
Idem.
16
Quanto aos órgãos locais do Estado, trata-se dos centros de decisão dispersos pelo
território nacional, mas habilitados por lei a resolver assuntos administrativos em nome
do Estado, nomeadamente face a outras entidades públicas e frente aos particulares
em geral.
Os serviços locais do Estado são, por seu turno, os serviços públicos dependentes
dos diferentes órgãos locais do Estado, e encarregados de preparar e executar as
respectivas decisões.15
A TUTELA ADMINISTRATIVA
É o poder que um órgão administrativo público tem de intervir no funcionamento de
outro órgão administrativo a fim de garantir a legalidade ou mérito da sua actuação.
Existem diferentes tutelas, cuja distinção das principais espécies faz-se quanto ao fim
e quanto ao conteúdo.
15
Idem.
16
Entre nós a tutela administrativa vem prevista na CRA no artigo 221º onde nos diz n.º 1, que as
autarquias locais estão sujeitas a tutela administrativa do Executivo, e que a mesma consiste na
verificação do cumprimento da lei por parte dos órgãos autárquicos e exercida nos termos da lei
(nº 2). No nº 3 do mesmo artigo a dissolução de órgãos autárquicos, ainda que resultante de
eleições, só pode ser por causa de acções ou omissões ilegais graves, e por fim, no seu nº 4 as
autarquias podem impugnar contenciosamente as ilegalidades cometidas pela entidade tutelar no
exercício de tutela.
17
A tutela de legalidade é a que visa controlar a conformidade das decisões da entidade
tutelada com as leis em vigor; a tutela de mérito é aquela que visa controlar a
conveniência e a oportunidade das decisões administrativas da entidade tutelada 17.
Existe distinção entre tutela de legalidade e tutela de mérito. Esta é mais ampla do que
a aquela: a tutela da legalidade é meramente jurídica, ao passo que a tutela de mérito
é político-administrativa, ou de natureza técnica.
Distingue-se em tutela integrativa a priori, que é aquela que consiste em poder autorizar
(ou não) a prática de actos, e tutela integrativa a posteriori, que é a que consiste no
poder de aprovar (ou não) certos actos já praticados pela entidade tutelada.
17
AMARAL, Diogo Freitas do, e Carlos Feijó, ob, cit, p-2 12.
18
AMARAL, Diogo Freitas do, e Carlos Feijó, ob, cit, p-212 a 214.
18
Tutela substitutiva, enfim, é o poder da entidade tutelar de suprir as
omissões da entidade tutelada, praticando, em vez dela e por conta
dela, os actos que forem legalmente devidos. A hipótese é, portanto,
a de os órgãos competentes da pessoa colectiva tutelada não
praticarem actos que sejam para eles juridicamente obrigatórios: se
houver tutela substitutiva, o órgão tutelar pode substituir-se ao órgão
da entidade tutelada e praticar, em vez dele e por conta dele, os
actos legalmente devidos.
As acções para perda de mandatos ou dissolução dos órgãos autárquicos tem carácter
urgente.
19
PARTE II
TÍTULO
A AUTONOMIA LOCAL EM ANGOLA, PERSPECTIVA HISTÓRICA DESDE O
PERÍODO PRÉ-COLONIAL
CAPÍTULO I
AS BASES DA ACTUAL ORGANIZAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO LOCAL
UMA PERSPECTIVA GLOBAL
1. PERÍODO PRÉ-COLONIAL
2. PERÍODO COLONIAL
Nesse período distinguiu-se duas fases importantes de acordo com o regime jurídico:
Nessa fase há duas correntes de opiniões para caracterização do poder local neste
período (1482-1822):
19
POULSON, Lazarino, Autarquias Locais no Direito Angolano, Talatóna, Editora: Novos Cérebros,
2018. Pp-17-18.
20
Idem.
20
descentralizados, uns uniformes, outros especializados. Definiam
juridicamente o modo de estar e a conduta das populações nas colonias
ultramar.
3. PERÍODO PÓS-INDEPENDÊNCIA
Analisando o poder local nesse período da história recente do nosso país vale observar
a seguinte distinção: o poder local na constituição e o poder local na lei.
21
FEIJÓ, Carlos, Problemas Actuais de Direito Público Angolano- Contributo para a sua Compreensão,
Cascais: Princípio, 2001, p-139.
22
A designação período monolítico surge pelo facto de neste período ter existido um único partido-
Estado.
21
prejudicado pela opção marxismo-leninismo adoptado pela revisão constitucional
ocorrida em 7 de fevereiro de 1978.23
Como confere Carlos Feijó: a teoria marxista-leninista sobre o Estado muito menos
territórios ou autarquias locais24 contudo de acordo com os princípios hermenêuticos
constitucionais, as autarquias locais poderiam ser criadas com o referido quadro
constitucional, por outro lado, o princípio da iniciativa local permitiu o reconhecimento
do poder tradicional25 e as outras formas de participação das cidades, portanto, a
constituição de 1975 mesmo com a revisão constitucional de 1978 não impediu a
criação e o reconhecimento de um poder local em Angola.
4. PERÍODO DEMOCRÁTICO
Diversas foram os factos históricos que influenciaram as permutas constitucionais
verificadas em 1991 e em 1992, dentre as quais podemos trazer à tona os abaixos
escritos:
Com aprovação de uma nova constituição em 2010’ que vigora até aos nossos dias,
alterou o quadro, só para se ter uma ideia: o artigo 218º.n.º 1., da CRA indica as
circunstâncias administrativa para efeito das autarquias locais, o município como
categoria padrão e excepcionalmente podem ser criadas por lei autárquicas uma
categoria supra-minicipal se tivermos em conta o artigo já citado no seu ponto n.º 2. Ou
autarquias infra-municipais nos termos do n.º 3., do artigo supracitado.
Nos tempos hodiernos o nosso país encontra-se numa fase de fecundação no tangente
a implementação das autarquias locais estando o executivo a organizar as condições
logísticas e orçamental, recursos humanos e financeira, etc.
23
POULSON, Lazarino, ob. cit. pp:19-20.
24
FEIJÓ, Carlos.p.140.
25
Autoridades tradicionais; Órgãos deliberativos; Órgão executivos.
22
PARTE III
TÍTULO
1. NOÇÃO E CONCEITO
Porém Carlos Feijó apresenta-nos uma ideia mais nítida e clara quando diz que
etimologicamente o vocábulo autonomia divide-se em duas partes: autos, que
se significa próprio e nomos que significa normas. Portanto, é fácil entender que
autonomia acarreta na sua bagagem, a ideia de uma entidade que goza de
poderes para criar normas jurídicas para si mesma. Numa primeira apreciação
podemos afirmar que a autonomia significa criação de normas para si próprio, já
na dimensão jurídica o significado etimológico aproxima-nos da dimensão de
autonomia normativa, isto é, da faculdade normativa de cada ente jurídico na
perspectiva de autonomia como liberdade de conduta de um ente jurídico diante
de outro.28
28
FEIJÓ, Carlos, Autonomia Local e Organização do Poder Tradicional em Angola, Luanda:
Casa das Ideias, 2013, pp:27-29.
29
NABAIS, José Casalta, Autonomia Local, in Estudos sobre Autonomias Territoriais,
Institucionais e Cívicas, Coimbra: Almedina, 2010, p-53.
30
FEIJÓ, Carlos, ob.cit. p-32.
Após uma curta abordagem sobre pequenas noções sobre a autonomia local
achamos peculiar não avançar sobre outro corpo do conteúdo que fale sobre a
autonomia sem antes tecermos algumas distinções tangentes à autonomia local
e a autonomia autárquica local. Sendo assim:
31
FEIJÓ, Carlos, ob.cit. p-35.
32
LAZERINO, Poulson, ob.cit. p-27.
33
FEIJÓ, Carlos, ob.cit. pp:34-35.
1.2. FIGURAS AFINS DE AUTONOMIA LOCAL
DESCENTRALIZAÇÃO ADMINISTRATIVA
PODER LOCAL
34
FEIJÓ, Carlos, ob.cit. p.36.
35
Idem.
pessoas colectivas distintas do Estado e autónomas, para que exista
juridicamente descentralização. 36
É mediante esse princípio da autonomia local que surgem as autarquias locais
e se analisarmos minuciosamente perceberemos que não faz por isso, qualquer
sentido trazer à colação as outras manifestações da administração autónoma
(associativa) ou inderecta (instituições) pois nada têm a ver com a
descentralização administrativa,37 por causa desse princípio da autonomia local
se diferencia do princípio da descentralização administrativa em dois aspectos:
Em primeiro aspecto, o princípio da autonomia local é mais amplo 38, ao
passo que o princípio da descentralização administrativa faz nascer
apenas as autarquias locais;
Em segundo, a autonomia local significa existência de entidades com
poderes de autono-normação em certas determinadas localidades do
território, independentemente dos seus órgãos serem eleitos
democraticamente, já a descentralização administrativa implica o
surgimento de pessoas colectivas territoriais com órgãos eleitos
democraticamente.
36
AMARAL, Diogo Freitas do e Carlos Feijó, Direito Administrativo, Ed: Almedina, Coimbra,
2016, p-206.
37
LAZERINO, Poulson, ob.cit. p-29.
38
Pressupõem a existência de certas entidades do poder local (autarquias locais, instituições
do poder tradicional e outras modalidades específicas de participação dos cidadãos).g
39
AMARAL…ob. cit., p.698.
40
No plano político-administrativo, os mesmos conceitos assumem uma feição diferente. Ainda
que nos encontremos no quadro de um sistema juridicamente descentralizado, dir-se-á que, sob
o ponto de vista político-administrativo, há centralização quando os órgãos das entidades
públicas diferentes do Estado sejam livremente nomeados e demitidos pelos órgãos do Estado,
quando devam obediência ao Presidente da República, ou quando se encontrem sujeitos a
formas particularmente intensas de tutela administrativa, designadamente a uma ampla tutela de
mérito.
porque as definições são diferentes. No plano jurídico, diz-se 《centralizado》 o
sistema em que todas as atribuições administrativas de um dado país são por lei
conferidas ao Estado, não existindo quaisquer outras pessoas colectivas
públicas-sejam elas territoriais (regiões, províncias, municípios) ou associativas
(ordens profissionais, Universidades públicas), incumbidas do exercício da
função administrativa41. No plano político-administrativo, os mesmos conceitos
assumem uma feição diferente. Ainda que nos encontremos no quadro de um
sistema juridicamente descentralizado, dir-se-á que, sob o ponto de vista
político-administrativo, há centralização quando os órgãos das entidades
públicas diferentes do Estado sejam livremente nomeados e demitidos pelos
órgãos do Estado, quando devam obediência ao Presidente da República, ou
quando se encontrem sujeitos a formas particularmente intensas de tutela
administrativa, designadamente a uma ampla tutela de mérito.42
41
AMARAL, Diogo Freitas do e Carlos Feijó, ob, cit, p-206.
42
Idem.
43
AMARAL, Diogo Freitas do, ob.cit., p.423.
44
AMARAL…ob.cit., p.423.
autarquias locais estarão dotadas de órgãos representativos das respectivas
populações, eleitos em eleições autárquicas livres periódicas e universais.
45
Os interesses específicos locais podem estar por coincidência refletido nos projectos e
programas do governo co incidência local, mas estes programas nunca traduzem completamente
as necessidades e os interesses específicos das populações locais, nem , mesmo o argumento
segundo o qual as populações podem participar na concepção dos programas do governa
através da participação nos programas das administrações locais, é suficiente para considerar
que estes programas comtemplam os interesses locais, este tipo de participação é sempre
limitado a formas e censurado: Muitas das contribuições feitas pelos munícipes cai em letra
morta, quando não são, pura e simplesmente, “engavetadas” pela administração estadual. É
este, infelizmente o sistema administrativo que vigora em Angola.
1.2.1.5. POSIÇÃO DO ESTADO
46
Os critérios para o exercício destes cargos, para além dos aspectos técnicos, incluem, em
larga medida, a formação política, ou seja, a filiação no partido no poder. Por outro lado, o titular
dos órgãos de direcção da administração local do Estado nem sempre se identifica com os
problemas locais, pois, na maior parte das vezes, nem é residente da "municipalidade" que dirige.
1.2.1.7. CONTROLO DOS ÓRGÃOS LOCAIS
1.2.1.8. VANTAGENS
O sistema administrativo centralizado possui, contudo, algumas vantagens. As
vantagens que a doutrina geral aponta para este modo de estruturação da
Administração Publica são o facto de: “garantir a homogeneidade da acção
politica e administrativa desenvolvida no país; e permite uma melhor
coordenação do exercício da função administrativa". Independentemente dos
métodos e meios utilizados, o sistema centralizado é o que, teoricamente,
assegura melhor a independência, integridade territorial e unidade nacional.
Contudo, importa alertar para o facto de que, na prática, um sistema centralizado
representa um regime não democrático ou, se quisermos, totalitário.
1.2.1.9. INCONVENIENTES
Num sistema administrativo centralizado existem alguns inconvenientes que
interessa recensear: "gera a hipertrofia do Estado, provocando o gigantismo do
poder central; é fonte de ineficácia da acção administrativa, porque quer confiar
tudo ao Estado; é causa de elevados custos financeiros relativamente ao
exercício da acção administrativa; abafa a vida local autónoma, eliminando ou
"Encaixa-se como uma luva”ao modo de provimento dos titulares dos órgãos administrativos
Governador Provincial (artigo 201.°, n.° 3).O OGP, no Decreto Presidencial n.°208/17,de 22 de
Setembro, estabelece a nomeação como o modo de provimento dos restantes órgãos locais do
Estado.
reduzindo a muito pouco a actividade própria das comunidades tradicionais; não
respeita as liberdades locais; e faz depender todo o sistema administrativo da
insensibilidade do poder central, ou dos seus delegados, à maioria dos
problemas locais"). Podemos ainda juntar a este elenco os seguintes
inconvenientes: a burocracia excessiva e a lentidão na tomada de decisões,
gerando a corrupção e o tráfico de influências.
47
FEIJÓ, Carlos, ob.cit. p-132.
48
Feijó Carlos. ob.cit. p.133.
49
FEIJÓ, Carlos, ob.cit., p.133-134.
50 50
LAZERINO, Poulson, ob.cit. p-32.
1. Cujos estatutos e competências são imediatos e fundamentalmente
constituídos pela Constituição;
2. Que dispõem de um poder de auto-organizações internas;
3. Que não estão subordinados a quaisquer outros;
4. Que estabelecem relações de interdependência e de controlo em
relação a outros órgãos igualmente ordenados na e pela
constituição.51
CAPÍTULO II: O PODER LOCAL NA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DE
ANGOLA
51
CANOTILHO, Gomes, Relações juristas poligonais, ponderações ecológicas de leis e
controlo judicial preventiva, em Revista jurídica do Urbanismo e Ambiente, n-1, Coimbra:
Almedina, 1994. Direito Constitucional e a Teoria da Constituição, 7ª edição, Coimbra
Almedina, 2003, (2004
52
Governos provinciais, administrações municipais e Comunais.
2.2. AS FORMAS ORGANIZATÓRIAS DO PODER LOCAL EM ANGOLA
Nos termos do art. 213 da CRA, há três formas de organização do poder
local, designadamente:
As autarquias locais,
As instituições do poder tradicional e
Outras modalidades especificas da participação dos cidadãos.
Estes todos elementos do poder local resultam do princípio da
descentralização administrativa e da autonomia local. Por um lado, as
autarquias locais e as modalidades específicas de participação dos cidadãos
resultam da lei, ou seja, são entes criados ou novos, ao passo que as
instituições do poder tradicional são entidades pré-estaduais e resultam do
reconhecimento que o Estado faz nos termos da Constituição e da Lei. 53
2.3. O SENTIDO E O ALCANCE DO PRINCÍPIO DA AUTONOMIA LOCAL
O artigo 214 da CRA consagra o sentido e alcance do princípio da autonomia
local no nosso ordenamento jurídico. Nos termos do n 1 do artigo 214: A
autonomia local compreende o direito e a capacidade efectiva das
autarquias locais gerirem e regulamentarem nos termos da constituição
e da lei, sob sua responsabilidade e no interesse das respectivas
populações, os assuntos públicos locais.
Rui Ferreira e Carlos Feijó, defendem, no âmbito da lei constitucional de
1992, que o princípio da autonomia local deve ser visto nuns seguintes
sentidos:
1. Por um lado, como instituto de um poder local autárquico integrado na
administração autônoma, constituído por coletivos públicos territoriais,
ganha relevo, com poderes e órgãos de direcção, gestão e
administração própria (autarquia autônoma), democraticamente eleita
pela própria coletividade local (art.146)
2. Ainda, como fundamento permissivo (não obrigatório) da existência de
outras formas verticais de descentralização política (não apenas
administrativa) de base territorial, desde que não ponham em causa a
natureza unitária do Estado.54
Para Freitas do Amaral, administração autônoma é aquela que prossegue
interesses públicos das pessoas que a constituem e por isso se dirigem a si
mesmas definido com independência a orientação das suas entidades sem
sujeição hierárquica ou superintendência do governo.55
53
LAZERINO, Poulson, ob.cit. p-37.
54
FERREIRA, Rui e Carlos Feijó, Estudo geral sobre a questão da organização territorial do
Estado em Angola e a descentralização político-administrativo, Luanda, julho de 1994.
55
AMARAL, Diogo Freitas do, Curso de Direito Administrativo, vol. 1,2 edição Coimbra:
Almedina, 2005. 1- A função presidencial nas pessoas coletivas de Direito público em Estudo de
Direito Público em honra do Professor Marcelo Caetano, Lisboa: edições. Aleixa, 1973.
O princípio da autonomia local não deve ser analisado, como adverte Carlos
Feijó, somente na dimensão da Administração Pública (perspectiva da divisão
territorial e vertical), mas também na sua dimensão democrática ou, dito de outro
modo, como órgão do poder político (na perspectiva da divisão horizontal de
poder).
CAPÍTULO III: CIRCUNSCRIÇÕES ADMINISTRATIVAS PARA EFEITO DE
ADMINISTRAÇÃO LOCAL DO ESTADO E DA ADMINISTRAÇÃO
AUTÁRQUICA
56 56
AMARAL, Diogo Freitas do, e Carlos Feijó, ob. Cit. p-260.
57
Idem.
3.2. AS DIVISÕES ADMINISTRATIVAS BÁSICAS
58
Por sectores ou por ramos de administração. Por exemplo: para efeitos de administração
hidráulica, a base não é a do critério provincial ou municipal, que não se prestaria para isso, é a
das bacias hidrográficas dos rios: o país está, pois, dividido em divisões hidráulicas, que não
coincidem com Províncias nem com Municípios; para efeitos de administração florestal, também
o critério geral não faria sentido: o país, está, sim, dividido em zonas florestais; etc. Quer dizer:
para certos efeitos especiais, existem divisões do território que não coincidem com a divisão
básica.
59
AMARAL, Diogo Freitas do, e Carlos Feijó, ob. Cit. p-261.
3.2.1.2. CONCEITO
3.3. O MUNICÍPIO
3.3.1. CONCEITO
60
AMARAL, Diogo Freitas do, ob.cit. p.453
61
CAUPERS, João, Introdução ao Direito Administrativo, vol. 2, 8ª edição, Lisboa: âncora
Editora, 2005.p.115
3.3.2. IMPORTÂNCIA PRÁTICA
62
AMARAL, Diogo Freitas do, oc. cit., p-457.
a) O modelo de município independente é de origem anglo-saxónica (Grã-
Bretanha). O município resulta de um contrato societário natural, ou dito de outro
modo, surge da espontaneidade da comunidade que se une para fazer face às
necessidades locais. Nessa perspectiva, o município é uma realidade pré-
estadual e grande fora do Estado. Não pode o Estado, neste caso, atribuir ou
extinguir qualquer função ou competência dos órgãos municipais, limitando-se
apenas a reconhecer esses poderes naturais das municipalidades. Podemos
dizer que essas municipalidades: possuem liberdades dentro dos limites das leis
gerais do Estado; são de certo modo independentes; não estão sujeitas a
nenhum tipo de controlo administrativo, nem se entrega a nenhuma ordem de
hierarquia, os seus actos não estão sujeitos à autorização ou aprovação de
nenhum órgão, existe por vocação natural, obedece somente às leis e as
sentenças dos tribunais.
63
AMARAL. Diogo Freitas do. ob, cit. p.461.
64
AMARAL, Diogo Freitas do.ob.cit. p.462.
Classificações legais: são estabelecidas por lei, colocando os municípios
em diferentes categorias para efeitos jurídicos determinados. Não há em
Angola uma classificação legal sobre municípios.
Nos termos do art. 55.º, n.º1., da lei orgânica dos governos provinciais, do
Decreto Presidencial nº 202/19 de 25 de Junho: à Administração Municipal cabe,
em geral, promover o desenvolvimento económico e social do Município, a
qualidade de vida dos cidadãs, os serviços públicos básicos como a educação,
a saúde, a cultura, desporto, recreação e turismo, o abastecimento de água e
energia, o saneamento básico e a gestão dos resíduos, bem com a rede
rodoviária, a rede energética e a iluminação pública, a rede de água, a
manutenção dos edifícios e a gestão das águas residais, a educação cívica e
comunitária dos munícipes, os serviços de resistência social, o parqueamento, o
trafego e os transportes públicos.
Administrador Municipal: de acordo com o artigo 60.º, n.º 1., do referido diploma,
é o órgão desconcentrado da Administração Local do Estado em cada município,
a quem incumbe dirigir a Administração Municipal, assegurar o normal
funcionamento dos órgãos da administração local respondendo pela sua
atividade perante o Governador Provincial.
PARTE IV
TÍTULO
AS AUTARQUIAS LOCAIS: DO ENQUADRAMENTO CONSTITUCIONAL À
PERSPECTIVA DA SUA CONCRETIZAÇÃO
A administração local autárquica, de que nos vamos ocupar nesta parte, pode ser
vista em dois sentidos:
E a CRA, no seu artigo 213 n.º 2, prevê a administração local autárquica num
conjunto das formas organizativas do poder local encarregadas de exercer funções
administrativas em Angola. Assim, as autarquias locais não devem ser confundidas
com a administração local do Estado. Todavia, para que possamos diferenciar a
administração local autárquica da administração local do Estado, torna-se
necessário procedermos à delimitação conceptual da primeira.
65
AMARAL, Diogo Freitas, op.ci. p. 417.
66
Idem.
67
MOREIRA, Vital, Administração Autónoma e Associação Pública p.67.
autarquias os próprios entes públicos dotados de autarquia, assim se falando,
por exemplo, em autarquias territoriais ou em autarquias corporativas. 68
Os autores definem, por sua vez, autarquias institucionais como sendo pessoas
criadas pelo Estado para se incumbirem de tarefas para as quais a Lei as
destinou. Contrariamente àquelas outras, não correspondem as áreas
geográficas. Trata-se de meras pessoas administrativas sem delegação política
estatal, limitando-se por isso, a prosseguir os objetivos que lhes foram impostos.
Por isso, José dos Santos e Carvalho Filho propõe-nos o seguinte conceito de
autarquia:" pessoas jurídicas de Direitos Públicos, integrante da Administração
Indireta, criadas por Lei para desempenhar funções que, despidas de carácter
econômico, sejam próprias e típicas do Estado.
68
Na doutrina brasileira faz-se claramente a distinção entre autarquias institucionais e autarquias
territoriais. José dos Santos e Carvalho Filho referem que" as chamadas autarquias territoriais
correspondem a desmembramento geográfico em certos países normalmente com regime
unitário (ou de centralização política), aos quais o poder local outorga algumas prerrogativas de
ordem política e administrativa, permitindo-lhes uma relativa liberdade de acção.
69
AMARAL, Diogo Freitas do p. 146, Feijó Carlos e Cremildo Paca, Direito Administrativo,
introdução e organização administrativa, p: 2\06- 282.
prossecução de interesses específicos resultantes da vizinhança, mediante
órgãos próprios representativos das respectivas populações".
Nós fomos mais longe, dizendo que esses interesses são coletivos, específicos
das populações das áreas onde as autarquias locais exercem suas atividades.
É verdade que os interesses são comuns e próprios, todavia a designação de
"interesses específicos" é mais completa e traduz, de facto, o que se passa nas
administrações autárquicas.75
70
O Estado deverá transferir terrenos e imóveis para as autarquias locais, e no decurso da sua
existência poderão obter outros imóveis e bens de valor mobiliário e imobiliário.
71
AMARAL, Diogo Freitas do, Carlos Feijó, Direito Administrativo, ed. Almedina, Coimbra,
2016, p-142.
72
Embora a CRA use apenas a designação " pessoas colectivas territoriais”, pois, está na base
delas o território, tal não prejudica a noção doutrinal de que as autarquias sejam pessoas
colectivas de pessoas e território. Dito de outro modo, o substrato real que está na constituição
dessa pessoa colectiva- autarquia local- é, pois, a população de um determinado espaço
territorial. Contrariamente a uma associação, por exemplo, cujo substrato real são, apenas, as
pessoas. Sem desprimor do conceito constitucional, achamos mais avisado colocar na definição
de autarquia local a designação de pessoas colectivas de pessoas e território, porque são esses
dois elementos indissociáveis do seu substrato real. Por fim, vale dizer que o seu estatuto de
pessoa colectiva permitirá que as autarquias locais demandem e sejam demandadas nos termos
do artigo 221 da CRA e demais normas aplicáveis.
73
Amaral Diogo Freitas do, p. 421.
74
FEIJÓ, Carlos, ob.cit. p-136.
75
É por isso que a existência de interesses locais diferentes dos interesses gerais da
colectividade nacional justificam que ao lado do Estado cuja organização e actuação sobre todo
o território- existem entidades especificamente locais criadas para tratar os interesses locais 75.
Por outro lado, não é fácil estabelecer a fronteira entre os interesses gerais do Estado, que
abrange a nação como um todo, e os interesses específicos das populações locais. Exemplos
paradigmáticos de interesses específicos locais são a iluminação das ruas dos interiores dos
bairros e a recolha de resíduos sólidos e líquidos das residências e dos pequenos
estabelecimentos comerciais. Já exemplos de interesses manifestamente nacional são a defesa
nacional ou as relações entre Estados, traduzida na actividade diplomática.
Há, contudo, zonas de confluência entre os interesses nacionais e os interesses
locais, nesses casos, aconselha Freitas do Amaral que em relação a eles tem
de intervir o legislador, tem de actuar a lei administrativa, para decidir se se deve
considerar que o interesse prevalecente é o da comunidade nacional, caso em
que deve ser posto a cargo do Estado, ou se o interesse prevalecente é o local-
devendo, portanto, ser entregue á respectiva autarquia local, ou ainda se há de
estabelecer formas de articulação e coordenação entre o Estado e as autarquias
locais, por certos interesses serem simultaneamente nacionais e locais76. E
mais, os interesses específicos resultantes da vizinhança estão enumerados na
constituição e podem ser alargados por uma lei ordinária.
Nos termos do artigo 219.º, da CRA, as autarquias locais poderão prosseguir fins
específicos das populações, tais como: nos domínios da educação, saúde,
energia, águas, equipamento rural e urbano, património, cultural, ciência,
transportes e comunicações, tempos livres e desportos, habitação, acção social,
proteção civil, ambiente e saneamento básico, defesa do consumidor, proteção
do desenvolvimento econômico e social, ordenamento do território, polícia
municipal, cooperação descentralizada e geminação.
Pês embora a CRA não indique a designação específica que virão a ter os
órgãos de cada espécie de autarquia, deixando isso para uma lei da Assembleia
Nacional, encontramos, contudo, no art. 220.º, n.º 1. da CRA as denominações
genéricas dos órgãos de todas as espécies de autarquias locais. A organização
das autarquias locais compreende uma assembleia dotada de poderes
deliberativos, um órgão executivo colegial, e um presidente da autarquia.
76
AMARAL Diogo Freitas do, ob.cit. p. 422.
77
Trata-se de uma espécie de parlamento.
78
É o executivo autárquico.
79
O presidente é, assim, o chefe do executivo local.
CAPÍTULO II: FIGURAS AFINS
2.1. SELF-GOVERNAMENT
2.3. CO-ADMINISTRAÇÃO
80
AMARAL, Diogo Freitas do, e Carlos Feijó, ob. cit. p-207.
No primeiro caso diz-nos Vital Moreira, cabem os casos de participação
administrativas dos interessados na direcção dos serviços administrativos ou dos
institutos públicos quando ela assume intensidade suficiente para configurar uma
partilha de poder entre a administração e os interessados. Na segunda
modalidade cabem os casos de exercícios de actividade administrativas em
conjunto, nomeadamente através de associações ou consórcios interativos entre
o estado e as administrações autónomas, sejam as regiões autónomas ou os
municípios, sejam as ordens profissionais ou outras da auto- administração não
territorial2.
Padrão/municipal;
Supra-minicipal ou provincial;81
Infra-municipal que pode ser a comuna ou o distrito;82
Mas a CRA declara que a principal autarquia local, em Angoa, será o município
81
Como exemplo temos as províncias.
82
Como exemplo temos as administrações autónomas como as comunas.
foram aprovadas, tendo a sua discussão agendada para breve. Mas será com
base nesses artigos e noutros pertinentes da constituição que se irá elaborar
toda legislação atinente as mesmas.
83
Isoladamente ou em coligação.
V. TRAÇOS GERAIS DO REGIME CONSTITUCIONAL DAS
AUTARQUIAS LOCAIS
A CRA, nos termos do art. 219.º, determina desde já quais serão os princípios
dominantes das atribuições que a lei deverá cometer ás autarquias locais:
84
AMARA, Diogo Freitas do, e Carlos Feijó, ob cit, p-307.
CAPITULO IX
DISTINÇÃO ENTRE ADMINISTRAÇÃO LOCAL DO ESTADO E
ADMINISTRAÇÃO LOCAL AUTÁRQUICA
85
AMARAL, Diogo Freitas do, ob, cit. p-462.
86
Assim com a globalização dos regimes democráticos temos igualmente assistido a
independência gradual dos municípios alias, bem vistas as coisas, seria um contra-senso um
regime democrático, impor por via legislativa, aos seus cidadãos uma administração que não
correspondesse a vontade destes, o principio do Estado democrático pressupõe a existência de
autonomia local e de descentralização administrativa.
87
Eis, pois, um desafio para o nosso Estado, que emerge para de um longo período de guerras
fratricidas e que ensaia os primeiros processos democráticos (realização de eleições
democráticas): a realização de eleições autárquicas a médio prazo seria um sinal claro de
conformação do estado aos princípios democráticos, que, de resto estão consagrados
constitucionalmente.
PARTE: V
TÍTULO
AS AUTARQUIAS LOCAIS À REALIDADE DE ANGOLA
1.1. AS AUTARQUIAS LOCAIS EM ANGOLA
Entende-se por Realidade como sendo a qualidade ou estado do que é real. O
que existe realmente; o que tem existência objetiva, em contraste com o que é
imaginário ou fictício. É necessário entendermos que as autarquias são, acima
de tudo, uma questão urgente de descentralização do poder e da
materialização da autonomia local. Da sua entrega, ou melhor, devolução, a
quem realmente pertence (ubicumque sit res pro domino suo clamat).
Na CRA não revista esse princípio vinha consagrado no art. 242.º, que
passamos a citar:
88
Em boa verdade, sob o ponto de vista politico, há condições de implementação das autarquias
locais em todo território, pois as grandes questões politicas que impedem a sua implementação
foram ultrapassadas, designadamente a ocupação militar do território, zonas de influencia
exclusiva de determinados partidos políticos, a intolerância politica. No fundo, o processo de
democratização do país encontra-se numa fase que, apesar de uma ou outra situação de
Razões de ordem jurídica, de acordo essa razão o princípio do
gradualismo, constitucionalmente consagrado ancorava-se no principio
da racionalidade, da proporcionalidade e do respeito pela unidade e
unidade e integridade do Estado. A discussão sobre a
inconstitucionalidade da implementação gradual das autarquias locais
não tinha razão de ser, sob o ponto de vista estritamente jurídico, na
medida em que o elemento histórico e o espirito do legislador,
constitucional, ao consagrar a parte transitória da Constituição de 2010
quis e consagrou a implementação gradual das autarquias locais.
instabilidade politica, já não prejudica a implementação das autarquias locais. Nem mesmo a
divergência entre os principais partidos políticos angolanos no concernente a implementação
gradual ou não das autarquias locais, é a razão suficiente para, politicamente, não se poder
avançar já com as autarquias locais em todo território, bastando os órgãos competentes do
Estado decidirem a respeito.
desenvolvimento, económico e social muito acentuado. Regista-se maior
desenvolvimento económico e social nas regiões do litoral e do centro, em
detrimento das zonas de leste e o do sul.
89
A desigualdade territorial é uma realidade inegável, tangível, havendo, inclusive,
municípios com uma dimensão superior a países Europeus, como a Holanda, e que
apresentam, um grau de desenvolvimento socioeconómico, incapaz de sustentar uma
autarquia local. O mínimo de condições para a implementação de autarquias locais significa
que a região tem de produzir rendimentos suficientes para justificar a existência dos órgãos
autárquicos.
Desse modo, podemos destacar dois aspectos no critério das
atribuições:
90
Assim, a CRA, no artigo 219, dispõe que: “as autarquias locais têm de e entre outras e nos
termos da lei. Atribuições nos domínios da educação, saúde, energia, águas, equipamento
rural e urbano, património, cultura, e ciência, transportes e comunicações, tempos livres e
desportos, habitação, acção social, protecção civil, ambiente e saneamento básico, defesa
do consumidor, promoção do desenvolvimento económico e social, ordenamento do
território, politica municipal, cooperação descentralizada, e geminação”.
91
Assim de acordo com uma determinação legal o Estado pode transferir parte das funções
(atribuições) que hoje exerce a nível local para as autarquias locais. De acordo com artigo
219 da CRA, serão funções ligadas a educação e ao ensino (sobretudo ao ensino básico e
médio), a saúde (o sistema de saúde pública ligado aos postos médicos e hospitais
Sem prejuízo, eventualmente, de outras funções administrativas de igual, maior
ou menor importância, o Estado reserva para si as funções administrativas
ligadas a segurança, policiamento e obviamente, de tutela administrativa.
92
A consagração nas disposições finais e transitórias, embora a letra do artigo não diga, entende-
se ser provisoria. Deste modo, somos de opinião que, tão logo seja concluída a fase da
implementação das autarquias locais, isto é, quando elas estiverem a vigorar em todo o território
nacional, não haverá razões para que a tutela de mérito subsista. A tutela de mérito consiste na
intervenção do executivo na gestão da autarquia local, a fim de lhe assegurar a conveniência
dos seus actos.
93
Assim, algumas matérias ligadas ao urbanismo e ao ordenamento do território, contratação
pública, questões ambientais, defesa do consumidor, poderão estar submetidas a tutela de
mérito, mais com critérios bem definidos na lei própria. Pensamos que os órgãos competentes
do estado podem definir critérios claros e estabelecer uma programação para que as autarquias
locais possam ganhar paulatinamente a autonomia desejável
autarquias locais, haverá coexistência entre a administração local do Estado
e a administração local autárquica. Com critérios claros e bem definidos na
lei, devem delimitar-se atribuições e competências entre essas duas
administrações para evitar conflitos positivos e negativos de competências.
Desse modo, os actuais órgãos de administração local do Estado,
designadamente os governadores provinciais, as administrações municipais,
distritais, comunais e respectivos serviços administrativos terão as suas
funções reduzidas e num ambiente de transição, pois todos estes órgãos
serão extintos.94
94
A administração local do Estado está em prazo. Uma vez implementadas as autarquias locais
em todo território nacional, a administração local do Estado deixará de existir, e dará lugar no
âmbito do principio da autonomia local e da descentralização administrativa, ao poder local. O
Estado, como sabemos, não faz parte do poder local. Como dissemos noutro lugar, as entidades
que fazem parte do poder local são as autarquias locais, as instituições do poder tradicional e
outras modalidades especificas de participação dos cidadãos. Para que isso aconteça, teremos
de alterar a constituição, nomeadamente o seu artigo 201.CRA.
2.2.2. CONSEQUÊNCIAS DA NÃO REALIZAÇÃO DAS AUTARQUIAS
PARA O POVO ANGOLANO
Nas nossas indagações a respeito do tema supra grafado podemos notar
localidades e comunidades muito vulneráveis tendo em conta a falta de
cumprimento das Administrações municipais nas suas atribuições no que diz
respeito: a educação, a saúde, ao desporto, a energia, alimentação, etc.,
situação que tem desembocado aflições no seio da comunidade que confiou seu
poder de soberania aos órgãos da administração orgânica e colocando em causa
o princípio da prossecução do interesse público no respeito pelos direitos e
interesse legalmente protegidos dos particulares. Nos termos do art.16.º, do
CPA.
Evidentia est clara visibilitas veritatis objectivae, só para se ter uma ideia na
emissão de certos documentos como o Bilhete de Identidade e o Passaporte por
exemplo. Podem levar no mínimo cinco meses para a sua emissão devido a
dependência dos serviços centrais.
Para um país que desde 1992 se entende como Estado Democrático e de Direito,
infringi de forma insistente o regime ora adotado como ideal para o nosso povo,
e isso de alguma forma contribui nas mais altas dificuldades que nós enquanto
angolano passamos, precisamos admitir que estamos atrasados no processo de
realização das eleições autárquicas. Entendamos que as autarquias são, acima
de tudo, uma questão urgente de descentralização do poder e da materialização
da autonomia local. Pês embora não seja a o garante das soluções dos nossos
problemas de forma cabal, todavia, acaba de certa forma mitigar as
necessidades colectiva que o Estado enquanto principal gestor da administração
se comprometeu dissipá-las.