Você está na página 1de 31

O que é Jurisprudência?

É o conjunto de decisões dos tribunais que servem como referência para solucionar questões
similares. É o entendimento resultante de um conjunto de decisões e interpretações feitas
pelos tribunais sobre um tema específico.

Noções gerais
Etimologia
• No Direito Romano: a palavra utilizada para expressar o que entendemos, hoje, como
Direito era jus ou juris.
• Origem da palavra Direito: encontra-se no latim directum, que significa literalmente
direito.

Conceito
• Conceituar Direito não é uma tarefa fácil! São inúmeras as visões ideológicas e as escolas
de pensamento. A expressão “direito” é plurissignificativa.
• 1º passo: reconhecer a sua característica essencialmente humana, instrumento necessário
para o convívio social.

Exemplo
Enquanto Robinson Crusoé vivia sozinho, não importava o surgimento do fenômeno jurídico. Com
o aparecimento do índio “Sexta-feira”, houve a necessidade social de se implantarem regras
de conduta, que viabilizaram a convivência pacífica entre ambos.

• 1ª conclusão: o direito, enquanto norma, não pode prescindir da interferência


intersubjetiva de indivíduos.
• 2ª conclusão: não há falar em direito sem alteridade, isto é, a relação com o outro
(brocardo latino: ubi homo, ibi jus – onde há homem há direito).

Direito
É um dado cultural, produzido pelo homem, visa a garantir a harmonia social, preservando a
paz e a boa-fé, mediante o estabelecimento de regras de conduta, com sanção
institucionalizada.

Outras acepções da palavra “direito”


• Direito objetivo: regra imposta ao proceder humano (jus est norma agendi). Trata-se da
norma de comportamento a que a pessoa deve se submeter, preceito esse que, caso
descumprido, deve impor, pelo sistema, a aplicação de uma sanção institucionalizada.

Exemplo: respeitar as normas de trânsito é um direito objetivo imposto ao indivíduo.


• Direito subjetivo: designa a possibilidade ou faculdade individual de agir de acordo com o
direito (jus est facultas agendi). Nela estão envolvidas as prerrogativas de que um indivíduo
é titular, obtendo certos efeitos jurídicos, em virtude da norma estabelecida.

Exemplo: o direito subjetivo de propriedade gera as prerrogativas de usar, gozar e dispor do


bem, o que se enquadra no conceito mencionado

• Direito positivo: conjunto de regras jurídicas em vigor em um Estado em determinada


época, opondo-se à concepção de um direito natural, correspondente a um ordenamento
ideal, na ideia abstrata do direito, simbolizando o sentimento de justiça da comunidade.

O direito positivo é mutável; o direito natural é um conjunto de princípios imutáveis e perenes,


é universal.

Direito público X Direito privado


• Critério de distinção: funda-se na natureza do sujeito da relação jurídica
• Direito público: o que rege as relações dos Estados soberanos entre si ou a do Estado
com os seus cidadãos
è Cuida dos atos jurídicos praticados pelo Estado
è Sub-ramos do Direito Público:
o Direito constitucional
o Direito administrativo
o Direito tributário
o Direito financeiro
o Direito previdenciário
o Direito penal e direito processual penal
o Direito processual civil
o Internacional, da infância e juventude, ambiental, etc.

• Direito privado: regula as relações dos indivíduos.


è Trata das relações jurídicas entre “particulares”, que são todos os sujeitos de direito,
exceto o Estado e as autarquias.
è Sub-ramos do direito privado:
o Direito civil
o Direito comercial ou empresarial
o Direito do consumidor
o Direito autoral, securitário, bancário, agrário

Questões
• As situações abaixo configuram interesses públicos ou privados? Por quê?
1) Falta de fundos do cheque com que o consumidor pagou o fornecedor. O emitente
do título (consumidor), nesse caso, vai ou não honrar sua dívida junto ao
fornecedor?
è É direito privado, pois não há interferência do Estado e se encaixa no direito do
consumidor, já que se trata de uma relação entre consumidor, emitente do título, e
fornecedor.
2) Um contribuinte sonega impostos.
è É direito público, pois os impostos são fiscalizados pela receita federal (Estado) e se
encaixa no direito tributário. Se trata de uma relação entre Estado e contribuinte.

Direito Civil
Conceito
• Etimologicamente: civil = cidadão
• Conceito: ramo direito que disciplina todas as relações jurídicas das pessoas, sejam uma
com as outras (físicas e jurídicas), envolvendo relações familiares e obrigacionais, seja com
as coisas (propriedade e posse)

Conteúdo do código civil


• Finalidade do Direito Civil: regular os direitos e obrigações de ordem privada concernentes
às pessoas, aos bens e às suas relações
• Parte Geral do CC: estabelece regras abstratas e genéricas sobre pessoas, bens e fatos
jurídicos em sentindo amplo

Parte especial do CC
• Contém os seguintes livros:
o Direito das Obrigações
o Direito de Empresa
o Direito das Coisas
o Direito de Família
o Direito das Sucessões

Princípios norteadores do CC
• Eticidade: Consiste na busca de compatibilização dos valores técnicos conquistados na
vigência do Código anterior, com a participação de valores éticos no ordenamento jurídico
o Valores técnicos + valores éticos
• Ex: Art. 133 e 422
o Agiu de boa fé/justamente

• Socialidade: Surge em contraposição à ideologia individualista e patrimonialista do sistema


de 1916. Por ele, busca-se preservar o sentido de coletividade, muitas vezes em
detrimento de interesses individuais
o Valores individuais + valores sociais ou coletivos
• Ex: Função social do contrato (Art. 421)
o Ex.: tem uma empresa bem grande e que estava jogando poluentes em um rio
e tinham casas que precisavam dessa água, mas estava sendo contaminada /
terreno abandonado que estava prejudicando as casas ao redor

• Operabilidade: Importa na concessão de maiores poderes hermenêuticos ao magistrado,


verificando, no caso concreto, as efetivas necessidades a exigir a tutela jurisdicional
o Ex: Responsabilidade civil (par. Único do art. 927) (maior poder ao juiz)
Espírito da Nova Lei Civil – Miguel Reale
1. Porque o código civil de 2002 entrou em vigor em 11 de janeiro de 2003? (pesquisa
da LINDB E CC)

è O art. 2.044 da Lei número 10.406, de 10 de janeiro de 2002, que determinou que o
novo Código Civil entraria em vigor um ano depois de sua publicação, que ocorreu em
11 de janeiro de 2002, no dia seguinte à promulgação. Salvo disposição contrária, a
lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias depois de oficialmente
publicada.

2. O parágrafo que se inicia “na mesma linha de pensamento”, qual o princípio


norteador aí presente e porque?

Na mesma linha de pensamento, o novo Código Civil prevê vários casos em que é
facultado ao juiz atuar como árbitro, fixando, por exemplo, o valor de uma
indenização segundo critérios de equidade, não acolhendo pretensões abusivas.

è Princípio da operabilidade, pois implica na concessão de poderes hermenêuticos ao juiz,


para que atue como árbitro.

3. Explique de acordo com o texto, em que consistem os princípios de Eticidade e


Socialidade?

è Eticidade --> Exigência de probidade e boa fé tanto na conclusão dos negócios jurídicos
como na sua execução (valores éticos presentes na lei!)

è Socialidade --> Reconhecer que este deve ser exercido em benefício da pessoa, mas
sempre respeitados os fins ético-sociais da comunidade a que o seu titular pertence.
Em suma, o propósito é preservar a coletividade

Pessoa
Conceito
• Pessoa: “é o sujeito de direito em plenitude, capaz de adquirir e transmitir direito e
deveres jurídicos” (Paulo Lobo)
• Todo ser humano nascido com vida é pessoa
• O ser humano nascido com vida é pessoas física ou natural
• O direito também atribui o conceito e a natureza jurídica de pessoa a entidades que
não tem existência física ou tangível, seja uma coletividade de pessoas que se associam
para alcançar fins comuns (associação ou sociedade), seja um patrimônio destinado a
um fim (fundação)

è São as pessoas jurídicas!!


Sujeito de direito
• Sujeitos de direito: “São todos os seres e entes dotados de capacidade para adquirir
ou exercer titularidades de direitos e responder por deveres jurídicos”
• O conceito de sujeito de direito é mais amplo que o de pessoa, que fica abrangido por
ele

è Há sujeitos de direito que são pessoas físicas ou jurídicas

Entes não personalizados


• Conceito: “São sujeitos de direito dotados de capacidade civil limitada à sua proteção
ou à consecução de seus fins” (Paulo Lobo)

o Ex: pessoa X nascituro

• Pessoa é o ser humano nascido com vida


• Nascituro é o ser humano não nascido e que ainda está no ventre materno (NÃO É
PESSOA JURÍDICA)

è Ambos são sujeitos de direito, a primeira personalizada e o segundo não


personalizado

• Os ainda não concebidos, entes humanos futuros ou prole eventual, destinatários de


sucessão testamentária (CC, art.1.799, I) ou de outros negócios jurídicos unilaterais,
ou de estipulações em favor do terceiro
• As futuras gerações humanas, como titulares de preservação do meio ambiente (CF,
art.225)

Nascituro (é sujeito de direito, mas não é pessoa)


• “É o ser humano que se desenvolve no ventre feminino”
• Sua existência tem início com a implantação uterina efetiva, por meios naturais ou
artificias
• Sua existência se encerra quando nasce com vida ou morte
• NÃO é pessoa, mas É sujeito de direito, pois o art. 2 do CC estabelece que a “lei põe
salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro”
o Art 2. “A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas
a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro”
o Nascimentos com vida = marco inicial da personalidade
o Quando ocorre o nascimento? Quando a criança é separada do ventre materno,
mesmo que não tenha sido cortado o cordão umbilical.
• Nascer com vida = respirar
o Como se faz essa prova se o feto morreu durante o parto?
o Respirou e viveu?
o Prova = exame clínico denominado docimasia hidrostática de GALENO
o Tendo o feto respirado, inflou de ar os pulmões. Se respirou, os pulmões,
imersos em água, sobrenadam. Se não respirou, afundam.

Nascituro – teorias
• Nascer com vida = respirar
• Natalista: a personalidade civil somente se inicia com o nascimento com vida
• Da personalidade condicional: o nascituro é pessoas condicional, pois a aquisição da
personalidade acha-se sob a dependência de condição suspensiva, o nascimento com
vida
• Concepcionista (direito francês): adquire-se a personalidade antes do nascimento,
desde a concepção

è Qual a teoria adotada pelo CC? Natalista


è Para Washington de Barros Monteiro ---> Da personalidade condicional
è Para Silmara Chinelato (USP) e Nelson Rosenvald --> Concepcionista
è STF --> natalista/concepcionista
è STJ --> concepcionista: reconheceu ao nascituro o direito à reparação de danos

Tempo de pessoa física: início e extinção


• Início: nascimento com vida
• Mero indício de vida, ainda que seguido de morte, é suficiente para ter início a
personalidade

Personalidade & Pessoa & Capacidade


• O conceito de personalidade está ligado ao de pessoa. Todo aquele que nasce com vida
torna-se uma pessoa, ou seja, adquire personalidade
• CC, Art. 1: “Toda pessoa” é capaz de direitos e deveres na ordem civil
• Afirmar que o homem tem personalidade é o mesmo que dizer que ele tem capacidade
para ser titular de direitos

Capacidade – medida da personalidade


a) Capacidade de direito ou de gozo: é a capacidade que todos tem e que adquirem ao
nascer com vida. Ex.: recém-nascidos

(é reconhecida a todo ser humano, sem qualquer distinção)

b) Capacidade de fato ou de exercício ou de ação: é a aptidão para exercer, por si só,


os atos da vida civil
• Quem possui ambas as capacidades, possui CAPACIDADE PLENA!!
• Quem só ostenta a capacidade de direito necessita de outra pessoa que substitua
ou complete a sua vontade --> são chamados de “incapazes”

Incapacidades
• As pessoas possuidoras de capacidade de direito, mas não possuidoras da capacidade
de fato são chamadas de incapazes
• Incapacidade: “é a restrição legal ao exercício dos atos da vida civil, imposta pela lei
somente aos que, excepcionalmente, necessitam de proteção, pois a capacidade é a
regra” (Carlos Roberto Gonçalves)
• Lei n. 13.146/15 do Estatuto da Pessoa com Deficiência alterou a lista das pessoas
consideradas incapazes pelo CC

Incapacidade absoluta/relativa
• Leva em conta
o Grau de imaturidade
o Deficiência física
o Deficiência mental da pessoa

*os critérios que levam em conta a deficiência não são mais utilizados como eram para
definir Incapacidades. Ex.: Estatuto da Pessoa com Deficiência (2015, entrou em vigor em
2016)

• Absolutamente incapazes (Art. 3): Devem ser representados, sob pena de nulidade
• Relativamente incapazes (Art. 4): Devem ser assistidos, sob pena de anulabilidade

http://www.cartaforense.com.br/conteudo/artigos/o-estatuto-da-pessoa-com-deficiencia-
protege-o-incapaz-sim/15732

http://www.cartaforense.com.br/conteudo/artigos/o-estatuto-da-pessoa-com-deficiencia-
protege-o-incapaz--nao/15733

Argumentos: O estatuto da pessoa com deficiência protege o incapaz? NÃO!


• Art. 6 --> pode se casar, unir estavelmente, exercer direito sexuais e reprodutivos,
decidir sobre o número de filho, etc.
• Nova lei --> retirou de algumas pessoas o conceito de incapacidade absoluta e retirou
dessas pessoas algumas proteções especiais
o Ou seja, somente o menor de dezesseis anos será considerado absolutamente
incapaz. O problema é que – ao deixar de receber o rótulo de “absolutamente
incapaz” – a pessoa perde também uma série de prerrogativas e proteções
legais
• O que Código Civil prevê e que deixará de ser aplicada é a previsão de
suspensão/impedimento de fluência de prazo prescricional contra o absolutamente
incapaz (CC, art. 198, I)
• O Código Civil vai além e abre uma excepcional exceção, prevendo que também não
correrá prazo de decadência contra o absolutamente incapaz (CC, art. 208)
• Não menos útil e interessante é a norma estabelecida no art. 1.244 do Código Civil,
que proíbe a fluência de prazo de usucapião contra o absolutamente incapaz.
• Conclusão: o menor de dezesseis anos continua protegido, mas o mesmo não se pode
dizer em relação aos maiores de dezesseis anos que não desfrutam da plena saúde
mental

Art. 3 (Antes da alteração de 2016) EM AMARELO --> DEPOIS 2016

São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil:


I. Os menores de 16 anos;
II. Os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiveram o necessário discernimento
para a prática desses atos; (foi revogado pelo Estatuto da Pessoa com Def.)
III. Os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade. (foi para o
Art. 4)

Art. 4 – Incapacidade Relativa


• A incapacidade relativa permite que o incapaz pratique atos da vida civil, desde que
assistido por seu representante legal, sob pena de anulabilidade
• Certos atos podem ser praticados sem assistência de seu representante legal: ser
testemunha, aceitar mandato, fazer testamento, exercer empregos públicos para os
quais não for exigida a maioridade, se casar, ser eleitor, celebrar contrato de trabalho,
etc

è ART.4 ANTES DE 2016


“São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer”
I. Os maiores de 16 anos e menores de 18 anos
II. Os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental,
tenham o discernimento reduzido; (foi revogada pelo Estatuto da Pessoa Def.)
III. Os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo; (foi revogada pelo
Estatuto)
IV. Os prodígos

Parágrafo único – a capacidade dos índios será regulada por legislação especial.

• IncisoI. (menores)
o Os menores figuram nas relações jurídicas
o Participam pessoalmente, assinando docs
o Não podem fazê-los sozinhos, mas acompanhados (assistidos pelo
representante legal: pai, mãe, tutor)
o Ambos assinam os docs
o Para propor ações judiciais: necessitam de assistência, devendo ser
citados (quando réus) junto com o assistente

Art. 180, cc
• “O menor, entre 16 e 18 anos, não pode, para eximir-se de uma obrigação, invocar a
sua idade se dolosamente a ocultou quando inquirido pela outra parte, ou se, no ato
de obrigar-se, declarou-se maior”
• Proteção do menor X repelir a má-fé do menor

A incapacidade só pode ser arguida pelo próprio incapaz ou representante


• Art. 105: “A incapacidade relativa de uma das partes não pode ser invocada pela
outra em benefício próprio, ...”
• Art. 928: “O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por eles
responsáveis não tiverem obrigação de o fazer ou não dispuserem de meios suficientes”
o Parágrafo único: “a indenização deverá ser equitativa, não terá lugar se privar
do necessário o incapaz ou as pessoas que dele dependem”

è princípio da responsabilidade subsidiária e mitigada dos incapazes

Pródigos
• É o indivíduo que dissipa o seu patrimônio desvairadamente
• O pródigo só passará à condição de relativamente incapaz depois de declarado tal, em
sentença de interdição
• Sua curatela pode ser promovida pelos pais ou tutores, pelo cônjuge ou companheiro,
por qualquer parente ou pelo MP
• Interdição só interfere em atos de disposição e oneração do seu patrimônio

Atividade
1. Interprete a seguinte frase de Fábio Konder Comparato “nem todo sujeito de direito
é uma pessoa”
è Segundo Carlos Roberto Gonçalves, sujeitos de direito englobam não só os entes
personalizados, pessoa física ou jurídica, mas também os não personalizados, os quais
são dotados de capacidade civil limitada à sua proteção ou à consecução de seus
fins. Os entes não personalizados não são considerados pessoas, pois segundo a lei, só
são consideradas pessoas aqueles que possuem vida. Assim, são exemplos destes: o
nascituro, os embriões excedentários, prole eventual e futuras geração humanas.

Pesquisa – Jurisprudência – Teorias do nascituro


Ao reconhecer a uma mulher o direito de receber o seguro DPVAT após sofrer aborto em
decorrência de acidente de carro, o relator do recurso no Superior Tribunal de Justiça (STJ),
ministro Luis Felipe Salomão, esclareceu que o ordenamento jurídico como um todo – e não
apenas o Código Civil de 2002 – alinhou-se mais à teoria concepcionista para a construção da
situação jurídica do nascituro.

Em seu voto no REsp 1.415.727, o ministro ressaltou que é garantida aos ainda não nascidos
a possibilidade de receber doação (artigo 542 do CC) e de ser curatelado (artigo 1.779), além
da especial proteção do atendimento pré-natal (artigo 8° do Estatuto da Criança e do
Adolescente). O relator ainda citou as disposições do Código Penal, no qual o crime de aborto
é alocado no título referente a "crimes contra a pessoa", no capítulo dos "crimes contra a
vida".
"Mesmo que se adote qualquer das outras duas teorias restritivas, há de se reconhecer a
titularidade de direitos da personalidade ao nascituro, dos quais o direito à vida é o mais
importante", afirmou.

Para ele, garantir ao nascituro expectativas de direitos – ou mesmo direitos condicionados ao


nascimento – "só faz sentido se lhe for garantido também o direito de nascer, o direito à vida,
que é direito pressuposto a todos os demais".

Seguro DPVAT

Salomão destacou que, mesmo em sua literalidade, o Código Civil não mistura os conceitos de
existência da pessoa e de aquisição da personalidade jurídica. De acordo com o ministro, ainda
que não se possa falar em personalidade jurídica, é possível falar em pessoa. "Caso contrário,
não se vislumbraria nenhum sentido lógico na fórmula 'a personalidade civil da pessoa começa'
se ambas – pessoa e personalidade civil – tivessem como começo o mesmo acontecimento."

Ao analisar o caso concreto, o relator avaliou que o artigo 3° da Lei 6.194/1974 garante
indenização por morte; assim, "o aborto causado pelo acidente subsume-se à perfeição ao
comando normativo, haja vista que outra coisa não ocorreu, senão a morte do nascituro, ou o
perecimento de uma vida intrauterina".

O ministro ressaltou que a solução apresentada está alinhada com a natureza jurídica do
seguro DPVAT, uma vez que a sua finalidade é garantir que os danos pessoais sofridos por
vítimas de acidentes com veículos sejam compensados, ao menos parcialmente.

Em 2010, o mesmo entendimento já havia sido aplicado pelo ministro Paulo de Tarso
Sanseverino. Ao proferir o voto vencedor no REsp 1.120.676, ele concluiu que "a
interpretação mais razoável desse enunciado normativo (Lei 6.194/1974), consentânea com a
nossa ordem jurídico-constitucional, centrada na proteção dos direitos fundamentais, é no
sentido de que o conceito de 'dano-morte', como modalidade de 'danos pessoais', não se restringe
ao óbito da pessoa natural, dotada de personalidade jurídica, mas alcança, igualmente, a
pessoa já formada, plenamente apta à vida extrauterina, embora ainda não nascida, que, por
uma fatalidade, acabara vendo a sua existência abreviada em acidente automobilístico".

Na ocasião, os ministros da Terceira Turma reconheceram que era devido o pagamento do


seguro DPVAT a um casal em virtude de aborto sofrido pela mulher quatro dias após acidente
de trânsito, quando ela estava com 35 semanas de gestação.

ANÁLISE DO MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO

• EMENTA:

3.As teorias mais restritivas dos direitos do nascituro – natalista e da personalidade


condicional - fincam raízes na ordem jurídica superada pela Constituição Federal de 1988 e
pelo Código Civil de 2002. O paradigma no qual foram edificadas transitava, essencialmente,
dentro da órbita dos direitos patrimoniais. Porém, atualmente isso não mais se sustenta.
Reconhecem-se, corriqueiramente, amplos catálogos de direitos não patrimoniais ou de bens
imateriais da pessoa - como a honra, o nome, imagem, integridade moral e psíquica, entre
outros.
4.Ademais, hoje, mesmo que se adote qualquer das outras duas teorias restritivas, há de se
reconhecer a titularidade de direitos da personalidade ao nascituro, dos quais o direito à vida
é o mais importante. Garantir ao nascituro expectativas de direitos, ou mesmo direitos
condicionados ao nascimento, só faz sentido se lhe for garantido também o direito de nascer,
o direito à vida, que é direito pressuposto a todos os demais. Portanto, é procedente o pedido
de indenização referente ao seguro DPVAT, com base no que dispõe o art. 3º da Lei
n.6.194/1974.
5.Se o preceito legal garante indenização por morte, o aborto causado pelo acidente subsume-
se à perfeição ao comando normativo, haja vista que outra coisa não ocorreu, senão a morte
do nascituro, ou aparecimento de uma vida intrauterina.
6.Recurso especial provido.

https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/Jurisprudencia-
reconhece-direitos-e-limites-a-protecao-juridica-do-nascituro.aspx

https://scon.stj.jus.br/SCON/pesquisar.jsp

Direito da Personalidade

Tendência do Direito civil


• Primazia do patrimônio --> primazia da pessoa

A CF/1988 é um marco importante da concepção repersonalizante do direito inclusive


por reconhecer expressamente a tutela jurídica dos direitos da personalidade e dos
danos morais.

Conceito
Direitos da personalidade: “Direito subjetivos que tem por objetivo os bens e valores essenciais
da pessoa, no seu aspecto físico, moral e intelectual” (Francisco Amaral)

No campo da Integridade física, situam-se os direitos:


• À vida (Art. 5, III, XLVII, A e E, da CF) --> eutanásia viola o direito a vida
• Ao próprio corpo, vivo ou morto, ao corpo alheio, vivo ou morto, e a suas partes
separadas (órgãos para transplante – Lei n. 9434/97)

O direito à integridade intelectual compreende:


• Liberdade de pensamento
• Liberdade de expressão
• Direitos morais ou imateriais do autor e do inventor

A integridade moral é garantida mediante o reconhecimento dos direitos:


• À liberdade
• À honra
• Ao segredo
• À imagem
• À identidade
• Entre outros...

Evolução
• Os direitos da personalidade constituem herança da Revolução Francesa, que pregava:
“liberdade, igualdade e fraternidade”
• A evolução dos direitos fundamentais costuma ser dividida em 3 gerações
o 1ª geração: tem relação com a liberdade
o 2ª geração: tem relação com a igualdade (direitos sociais)
o 3ª geração: com a fraternidade ou solidariedade (direitos ligados à pacificação
social) (consum., meio ambiente...)
o 4ª geração? (decorrente das inovações tecnológicas, patrimônio genético)
o 5ª geração? (realidade virtual)

Divergência doutrinária
• A doutrina não é pacífica quanto à fonte ou fundamento dos direitos da
personalidade, sendo dividida em duas correntes
o Positivista: entende que os direitos da personalidade encontram seu
fundamento no ordenamento jurídico, ou seja, são impostos por lei e não são
inatos ao ser humano (direitos instituídos por lei)
o Jusnaturalista: os direitos são inatos ao ser humano e encontram-se apenas
declarados no ordenamento jurídico

Características
Art. 11 do CC: “Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade são
intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária”

a) Intransmissibilidade e irrenunciabilidade: não podem os seus titulares deles dispor,


transmitindo-os a terceiros, renunciando ao seu uso ou abandonando-os, pois nascem e
se extinguem com eles, dos quais são inseparáveis.
Ex.: vida, honra e liberdade

• Alguns admitem cessão de seu uso: (exceção)

o Imagem pode ser explorada comercialmente, mediante a retribuição pecuniária


e permissão
o Órgãos do corpo humano, para fins altruísticos e terapêuticos

• O direito de exigir a sua reparação pecuniária transmite-se aos sucessores, nos


termos do art.943 do CC (exceção)

b) Absolutismo: os direitos da personalidade têm caráter absoluto (e não são absolutos)


Consequência: são oponíveis “erga omnes” (impõe a todos um dever de abstenção, de
respeito).
Tem caráter geral --> inerentes a toda pessoa humana
c) Não limitação: é ilimitado o número de direitos da personalidade, embora o CC tenha
se referido expressamente a eles nos artigos 11 a 21
Trata-se de um rol meramente exemplificativo.
Outros não previstos expressamente: direito a alimentos, ao planejamento familiar, ao
leite materno, ao meio ambiente ecológico, à velhice digna, ao culto religioso, à
liberdade de pensamento, ao segredo profissional, à identidade pessoal, etc.

Caso prático
1. Relatar o caso (fatos)
2. Raciocínio jurídico sobre o tema, respondendo à questão

“O arremesso de anões foi proibido na pequena cidade francesa de Morsang-sur-Orge em


1992, e o caso passou pelas cortes administrativas de apelação por iniciativa do dublê Manuel
Wackenheim – que ganhava a vida como arremessado – até chegar ao Conselho de Estado,
que em 1995 decidiu que uma autoridade municipal poderia proibir a prática sob a alegação
de que ela não respeitava direitos humanos; levando à sua proibição.”

“Mas a história não acabou. O anão recorreu em todas as instâncias e foi até a comissão de
direitos humanos dizendo que gostava de ser arremessado, que ele vivia desempregado e que
agora tinha um emprego. Ele se sentiu diminuído com tal decisão de exercer aquela atividade,
que vivia abandonado e invisível, e agora tinha emprego, salário, amigos e gorjetas.”

è A atividade representa uma violação dos direitos de personalidade no aspecto da


integridade física, pois fere o direito ao corpo da pessoa, e no aspecto da integridade
moral, pois fere o direito à honra que todas as pessoas têm. Tais direitos foram
violados, pois segundo o art. 11 do Código Civil, os direitos de personalidade são
intransmissíveis e irrenunciáveis, salvo exceções legais, que não estão presentes nesse
caso concreto.

Continuação - características
d) Imprescritibilidade: Os direitos da personalidade não se extinguem pelo uso e pelo
decurso do tempo, nem pela inércia na pretensão de defendê-los.

Exceção: A pretensão à reparação por dano moral (por ter caráter patrimonial) está
sujeita a prazos prescricionais estabelecidos em lei (3 anos)
STJ: o direito de ação por dano moral é de natureza patrimonial (portanto, está sujeita
a prazo prescricional) e transmite-se aos sucessores da vítima.

e) Impenhorabilidade: Os direitos da personalidade não podem ser penhorados, pois a


constrição é o ato inicial da venda forçada determinada pelo juiz para satisfazer o
crédito do exequente.

PODEM SER PENHORADOS OS REFLEXOS PATRIMONIAIS DE ALGUNS DIREITOS DA


PERSONALIDADE (EXCEÇÕES) --> Ex.: direito de crédito
f) Não sujeição à desapropriação: Não podem ser retirados da pessoa contra a sua
vontade, nem o seu exercício sofrer limitação voluntária.

Enunciados do CJF das Jornadas de Direito Civil –Direito da personalidade Art.11


(servem para interpretação da norma)
Tema: “não podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária”

Jornada
I Jornada de Direito Civil

Coordenador-Geral
Ministro Ruy Rosado de Aguiar

Comissão de Trabalho
Parte Geral

Coordenador da Comissão de Trabalho


Humberto Theodoro Jr.

Número 4

Enunciado
O exercício dos direitos da personalidade pode sofrer limitação voluntária, desde que
não seja permanente nem geral. (Ex.: participante do BBB pode limitar seu direito a
privacidade pelo tempo do programa)

Referência Legislativa
Norma: Código Civil 2002 - Lei n. 10.406/2002
ART: 11;

Palavras de Resgate
DIRIETOS INTRANSMISSÍVEIS, DIREITOS IRRENUNCIÁVEIS, IRRENUNCIABILIDADE

g) Vitaliciedade: Os direitos da personalidade inatos são adquiridos no instante da


concepção e acompanham a pessoa até a sua morte. Por isso são vitalícios.

Após a morte, alguns desses direitos são resguardados (ex. direitos post mortem:
respeito ao morto, à sua honra ou memória, ...)

Se é violado um direito de uma pessoas que já morrei? Quem defende esse direito?
Ver art. 12, do CC – legitimação: cônjuge, parente em linha reta (ascendente: pais,
avós, bisavós; descendente: filhos, netos, bisnetos) ou colateral até 4o grau (irmão,
sobrinho, tio, primo).

Ex.: Garrincha morreu e teve uma biografia escrita após a sua morte, na qual foram
expostos fatos íntimos que ele e sua família não autorizariam. A filha dele entrou com
uma ação para defender esse direito, dizendo que a família não autorizou o uso das
informações e que essa pessoa quer ferir a imagem e a intimidade dele. Ela entrou
com uma ação após a morte, pois isso ocorreu após a morte.
Art. 12 e parágrafo único
“Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar
perdas e danos (indenização/reparação), sem prejuízo de outras sanções previstas em lei. Em
se tratando de morto, terá legitimação para requerer a medida prevista neste artigo o
cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto
grau.”

• Parentesco na linha reta: acima do morto é a linha reta ascendente e abaixo dele é
a linha reta descendente
• Parentesco na linha colateral: irmão, primos, tios, sobrinhos (não há parentes de 1º
grau)

Art.13 e parágrafo único


“Salvo por exigência médica, é defeso (PROIBIDO) o ato de disposição do próprio corpo, quando
importar diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os bons costumes.”

Ex.: não pode tirar a costela ou cortar o dedinho se não for por exigência médica!!!

Parágrafo único: “O ato previsto neste artigo será admitido para fins de transplante, na forma
estabelecida em lei especial.”

Art.14 e parágrafo único


“É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição gratuita do próprio corpo, no
todo ou em parte, para depois da morte”

Parágrafo único: “O ato de disposição pode ser livremente revogado a qualquer tempo.”

• Para a permissão da doação:


o Pode-se ir ao cartório, em vida
o Pode ser em testamento (ele também pode cuidar de atos existenciais)

(princípio do consenso afirmativo)


Retirada do órgão do falecido
Depende de autorização de qualquer parente maior, da linha reta ou colateral até o 2o
grau, ou do cônjuge sobrevivente, firmada em documento subscrito por 2 testemunhas
presentes à verificação da morte (Lei no 9.434/97). (apenas na hipótese em que não foi
declarada a vontade do falecido)

Falecido incapaz
A remoção de seus órgãos apenas poderá ser levada a efeito se houver anuência expressa de
ambos os pais ou por seu representante legal

Pessoa não identificada


Proibida está a remoção post mortem de seus órgãos e tecidos

Observação
Se em vida a pessoa manifestou expressamente a vontade de não ser doadora de órgãos, a
retirada destes não se realizará nem mesmo com a autorização dos familiares

Tratamento médico de risco


Art. 15: “Ninguém pode ser constrangido (forçado/obrigado) a submeter-se, com risco de vida,
a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica.”

Consequências:
1. Médico deve pedir autorização do paciente
2. Proteção à inviolabilidade do corpo humano
3. Dever de informação detalhada ao paciente (princípio da transparência e do dever de
informar)
4. Se o doente não puder manifestar sua vontade: autorização escrita de qualquer
parente maior, da linha reta ou colateral até o 2o grau, ou do cônjuge
5. Na EMERGÊNCIA: terá o médico a obrigação de realizar o tratamento

è Ninguém pode ser compelido a submeter-se a uma narcoanálise ou sujeitar-se a uma


perícia hematológica

Resolução n.1021/80 do Conselhos Federal de Medicina


Arts. 46 e 56 do Código de Ética Médica: autorizam os médicos a realizar transfusão de
sangue, se em seus pacientes, independentemente de consentimento houver iminente perigo de
vida.

Convicção religiosa: só deve ser considerada se tal perigo não for iminente e houver outros
meios de salvar a vida do doente.

• O mesmo Conselho Federal de Medicina, na recente resolução 2232/19, abrandou a


norma da resolução 1021/80, e assim dispôs em seu artigo 3o: “Em situações de risco
relevante à saúde, o médico não deve aceitar a recusa terapêutica de paciente menor
de idade ou de adulto que não esteja no pleno uso de suas faculdades mentais,
independentemente de estarem representados ou assistidos por terceiros”. Quer dizer,
a contrario sensu, se o paciente for maior e capaz, em caso de risco relevante à saúde,
o médico deve aceitar a recusa terapêutica.
• O Tribunal de Justiça de São Paulo, em recente decisão, assim proclamou: “Em que
pesem as referidas convicções religiosas da apelante que, não obstante lhe são
asseguradas constitucionalmente, a verdade é que a vida deve prevalecer acima de
qualquer liberdade de crença religiosa

Direito ao nome
• Arts. 16 a 19, do CC
• Direito ao nome: pertence ao gênero direito à integridade moral (todos tem direito à
identidade pessoal)
• Tem efeito “erga omnes” (todos tem o dever de respeitá-lo)
• “Nome”: é elemento individualizador da pessoa natural

Nova função do nome


O direito ao nome é emanação da personalidade e concerne à esfera de autodeterminação da
pessoa e de suas escolhas existenciais. Por esse ângulo, o nome tenderá à mutabilidade, na
medida em que opções feitas ao longo da vida demandem a conformação do prenome ou do
sobrenome às novas realidades

Conceito
• Nome é a designação ou sinal exterior pelo qual a pessoa identifica-se no seio da
família e da sociedade.
• *aspecto “dever” ao nome = identificação pelo Estado (ver Nelson Rosenvald)
o O dever ao nome é uma exigência de nossa identificação pelo Estado e
sociedade. Justamente por isso, prevalece a sua imutabilidade – com poucas
exceções – na Lei 6.015/73
aspectos
• Aspecto público: o Estado tem interesse em que as pessoas sejam corretamente
identificadas na sociedade pelo nome, proibindo a alteração do prenome, salvo
exceções admitidas (art. 58 da Lei no 6015/73) e o registro de prenomes suscetíveis
de expor ao ridículo (art. 55, par. único).
• Aspecto individual: o direito ao nome, no poder reconhecido ao seu possuidor de por
ele designar-se e de reprimir abusos cometidos por terceiros.

Arts. 16 e 17 do CC
• Art. 16: “toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendido o prenome e o
sobrenome”
• Art. 17: “o nome da pessoa não pode ser empregado por outrem em publicações ou
representações que a exponham ao desprezo público, ainda quando não haja intenção
difamatória”
Arts. 18 e 19 do CC
• Art. 18: “sem autorização, não se pode usar o nome alheio em propaganda comercial”
• Art. 19: “o pseudônimo adotado para atividades lícitas goza da proteção que se dá ao
nome” (A TUTELA DO NOME ALCANÇA A DO PSEUDÔNIMO)
o Atividades lícitas (permitidas por lei): jornalísticas, literárias, artísticas...
(Nesse caso recebe a mesma proteção do nome)
o Ex.: Um traficante de drogas reclama na justiça que seu rival está usando seu
pseudônimo e que ele quer proteção --> AQUI NÃO CABE A PROTEÇÃO
PORQUE A ATIVIDADE NÃO LÍCITA

Elementos
• Prenome (nome de batismo)
• Sobrenome ou apelido familiar ou patronímico (nome de família)
• Agnome (sinal que distingue pessoas pertencentes a uma mesma família que tem o
mesmo nome: Júnior, Neto, Sobrinho)

Prenome
• É o nome próprio de cada pessoa e serve para distinguir membros de uma mesma
família
• Pode ser simples ou composto
• Não pode expor ao ridículo

Sobrenome (ou patronímico)


É sinal que identifica a procedência da pessoa, indicando a sua filiação

Regra = imutabilidade do nome


• Geral = nome não pode ser modificado
• Exceção = Retificação: quando há erro gráfico e quando expõe a ridículo --> violação
a direitos da personalidade

Questionário – Acordão – Leonardo Vasconcelos Araújo


1. Identificar qual a ação proposta, o autor, o que decidiu a sentença, qual o
recurso, quem é o apelante e qual o conteúdo do recurso.

è Ação proposta: Ação de retificação (ou retificação de assento de nascimento) do


registro civil com a adição do patronímico materno ao nome do requerente Leonardo
Vasconcelos Araújo (substituição do nome paterno “Vasconcelos” para o sobrenome
materno “Martins”)
è O Autor: Leonardo Vasconcelos Araújo
è O que decidiu a sentença: A sentença negou a alteração --> nome só pode ser
modificado em casos previstos pela lei ou em casos de interesse público
è Qual o recurso: Recurso de apelação
è Quem é o apelante: Leonardo Vasconcelos Araújo, representado pelo seu pai Fabiano
Vasconcelos Araújo
2. Qual a fundamentação do TJSP para dar provimento ao recurso?

è TJSP deu provimento ao recurso para excluir parte do patronímico do pai e incluir o
da mãe, com a fundamentação de que a conjunção dos sobrenomes tem o objetivo de
evitar constrangimentos de Leonardo Vasconcelos Araújo e não violam o direito da
personalidade do mesmo. Esse pedido não prejudicará nem a segurança, nem a
identificação pessoal do autor. Além disso, essa mudança permite situar o autor dentro
de seu núcleo familiar e no tronco ancestral paterno e materno.

3. Qual a nova função do nome, de acordo com o acórdão?

è A nova função do nome, de acordo com o acórdão, é não apenas designar a pessoa
humana e tornar possível o dever de identificação pessoal, mas é usado como um
elemento de personalidade individual, ou seja, ele emana personalidade. O nome
“integra-se de tal maneira à pessoa e à sua personalidade que com ela chega a
confundir-se, vindo a significar uma espécie de sustentáculo dos demais elementos, o
anteparo da identidade da pessoa, a sede de seu amor-próprio”

(Grupo: Barbara Francine, Laura Nigri, Marcelo Haddad, Lucca Negrão)

Quando podemos alterar um sobrenome? Para evitar constrangimento do autor, não


violar nenhum direito da personalidade e melhorar a situação social dele, para que ele
possa ser identificado de uma forma que corresponda a sua filiação.

Questionário – Acordão – Socorro Diandra Gomes de Caldo Pinheiro


1. Qual a alegação do apelante?

è A apelante Socorro Diandra Gomes de Calado Pinheiro afirmou que desde a pré-escola
até a universidade o seu nome é motivo de chacota e brincadeiras. Essa provocações
lhe causam problemas psicológicos e de saúde, como por exemplo perda da respiração,
catatonia e desmaio. Diante desses fatores, a autora exige a retificação de seu
registro civil.

2. O que decidiu o TJSP? Explique sua fundamentação

O TJSP deu provimento ao recurso!!

è Art. 56 – garante a possibilidade de, a todo aquele que quiser, alterar seu nome.
Deve fazê-lo no primeiro ano após atingir a maioridade, sem prejudicar os apelidos
de família. --> o pleito não prejudicará o patronímico, mas apenas o prenome, por
isso a lei permite modificá-lo, inclusive administrativamente
è Art. 57 - Se a simples vontade da autora já era motivo para lhe garantir o direito
de alterar seu nome, o motivo que ora apresenta, comprovado por laudo médico,
justifica a modificação com base no artigo 57 da Lei de Registros Públicos
è Não se escolhe o nome ao nascer, poder atribuído aos pais, ou até terceiros, se
forem estes os declarantes. Não se pode condenar alguém a suportar para sempre
um nome com o qual não se adapta, com o qual não se afina
è Pode haver retificação do nome quando há violações dos Direitos da personalidade
è Pouco importa, na hipótese, se o juiz prolator da sentença acredita ou não ser o nome
comum. O que interessa, na hipótese, é o incômodo suportado por toda uma vida e que
causou verdadeiro trauma à recorrente, que tem o direito de retirar o primeiro
prenome como forma de garantir, para si, uma vida sadia.
è Segundo a avaliação de fls. 15 e 16, desde a infância, todos utilizaram o nome da
autora como forma de chacota, o que lhe causou verdadeiro trauma, mostrando-se
melhor a retirada do prenome “Socorro” de seu nome do que exigir que a mesma se
submeta a tratamento psicológico para se livrar do sofrimento causado por espécie de
“bullying”
è É esse exatamente o caso dos autos. O nome, elemento formador de nossa identidade,
garantido e reconhecido como direito da personalidade e, por isso, com natureza de
direito constitucional, deve ser analisado concretamente, nunca desvinculado do sujeito
que o detém. Por isso é capaz de levar ao ridículo alguém e ser motivo de orgulho
para outro.

3. Qual a natureza do nome?

è “Um dos mais importantes atributos da pessoa natural, ao lado da capacidade civil e
do estado, é o nome. O homem recebe-o ao nascer e conserva-o até a morte. Um e
outro se encontram eterna e indissoluvelmente ligados. Em todos os acontecimentos da
vida individual, familiar e social, em todos os atos jurídicos, em todos os momentos, o
homem tem de apresentar-se com o nome que lhe foi atribuído e com que foi
registrado. Não pode entrar numa escola, fazer contrato, casar-se, exercer um
emprego ou votar, sem que decline o próprio nome. No sugestivo dizer de Josserand, o
nome é como uma etiqueta colocada sobre cada um de nós, ele dá a chave da pessoa
toda inteira.”
è O nome é um direito da personalidade com natureza de direito constitucional que
representa uma marca individual, além de mera identificação dentro da sociedade. Este
deve ser analisado concretamente, nunca desvinculado do sujeito que o detém.

Individualização da pessoa natural (Estado da


pessoa)
Estado
• Origem: a palavra “estado” vem de status (latim), empregada pelos romanos para
designar os vários predicados integrantes da personalidade.
• Conceito: é uma situação jurídica resultante de certas qualidades inerentes à pessoa.

Aspectos
1. Estado político ou nacionalidade
2. Estado familiar
3. Estado individual ou físico
(Para alguns doutrinadores, há um terceiro estado - o individual ou físico)

Estado individual
• É o modo de ser da pessoa quanto à idade, sexo, cor, altura, saúde (são ou insano e
incapaz)
• Diz respeito a aspectos de sua constituição orgânica que exercem influência sobre a
capacidade civil (homem, mulher, maioridade, menoridade, etc.)

Estado familiar
Indica a sua situação na família, em relação ao matrimônio (solteiro, casado, viúvo, divorciado)
e ao parentesco, por consaguinidade ou afinidade (pai, filho, irmão, sogro, cunhado, companheiro,
etc.).

Estado político ou nacionalidade


É a qualidade que advém da posição do indivíduo na sociedade política, podendo ser nacional
(nato ou naturalizado) e estrangeiro

Caracteres
O ESTADO LIGA-SE INTIMAMENTE À PESSOA, E, POR ISSO, CONSTITUI A SUA IMAGEM
JURÍDICA!

Principais características ou atributos


a) Indivisibilidade: não é possível possuir mais de um estado. O estado é uno e indivisível.
Ninguém pode ser casado e solteiro, maior e menor, brasileiro e estrangeiro
* A obtenção da dupla nacionalidade constitui exceção à regra
b) Indisponibilidade: o estado civil é um reflexo da nossa personalidade e constitui
relação fora de comércio. É inalienável e irrenunciável. Isso não impede a sua mutação
diante de determinados fatos. Não posso renunciar um Estado.
Ex.: o menor pode tornar-se maior, o solteiro pode tornar-se casado.
c) Imprescritibilidade: Não se perde nem se adquire o estado pela prescrição. O estado
é elemento integrante da personalidade e nasce com a pessoa e com ela desaparece.
* As ações de estado são imprescritíveis.

Ações de Estado
• O estado civil recebe proteção jurídica das ações de estado.
• Finalidade das ações de estado: criar, modificar ou extinguir um estado, constituindo
um novo, sendo, por isso, personalíssimas, intransmissíveis e imprescritíveis, requerendo,
sempre, a intervenção estatal.
• Exemplos
o Ação de interdição
o Ação de divórcio
o Anulação de casamento
o Etc.
Domicílio
• Sinônimo = foro
• Cabe ao Direito fixar um local onde as pessoas serão encontradas
• É a sede jurídica da pessoa
• Local onde se praticam atos da vida civil
• Art. 5º, XI, da CF: “a casa é asilo inviolável do indivíduo”

Domicílio X Residência X Habitação


• Habitação (ou moradia): é mera relação de fato, é o local em que se está
acidentalmente, sem ânimo de nela permanecer
Ex.: casa de praia
• Residência: lugar em que a pessoa habita, com a intenção de permanecer, mesmo que
se ausente eventualmente.
• Domicílio: centro habitual de negócios jurídicos da pessoa, a sua sede jurídica.

Definição legal (código civil)


• Art. 70: domicílio é o lugar onde a pessoa estabelece sua residência com ânimo
definitivo
• Dois elementos:
o Elemento de índole objetiva: fixação da residência
o Elemento de índole subjetiva: ânimo de permanecer naquele local e de ali
ter a sede de suas atividades
è Regra geral sobre domicílio

Domicílio múltiplo
Art. 71: “se, porém, a pessoa natural tiver diversas residências, onde, alternadamente, viva,
considerar-se-á domicílio seu qualquer delas.” (não sendo possível determinar onde tem
domicílio)

Pluralidade de domicílios
Art. 73: é domiciliada a pessoa natural, que não tenha residência habitual, no “lugar em que
for encontrada” (domicílio ocasional ou aparente).

Classificação
• Domicílio necessário ou legal: “advindo de determinação da lei, em face de situação
de certas pessoas” (art. 76, do CC).
Ex.:
recém-nascido: domicílio dos pais
incapaz: domicílio do seu representante
itinerante: onde for encontrado
militar em serviço: onde servir ou sede do comando (marinha ou aeronáutica)
servidor público: onde exercer permanentemente suas funções
preso: onde cumprir pena
• voluntário: pode ser geral ou especial
o Geral: aquele escolhido livremente pela pessoa
o Especial (ou de eleição): é a indicação contratual de um local para dirimir
eventuais conflitos oriundos daquele negócio jurídico (art. 78)
CDC
Art. 51: é nula de pleno direito a cláusula contratual de foro de eleição se vier a estabelecer
prejuízo ao vulnerável (consumidor)

Domicílio profissional
Art. 72, do CC: é também domicílio da pessoa natural, quanto às relações concernentes à
profissão, o lugar onde é exercida

Perda de domicílio
• Perde-se o domicílio:
o Mudança
o Transferência da residência
o Por determinação da lei
o Por contrato (foro de eleição)

Atividade – filme “Amor sem escalas”


Qual é o domicílio do protagonista? Art. 73, pois ele não tem uma residência habitual!

Extinção da personalidade (morte e comoriência)

Modos de extinção
• Morte real
• Morte simultânea ou comoriência
• Morte civil
• Morte presumida

Morte real
• Art. 6º, do CC: “A existência da pessoa natural termina com a morte (= morte
real); presume-se esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a
abertura da sucessão.” (= morte presumida)
• Portanto: a morte real é apontada no art. 6º como responsável pelo término da
existência da pessoa natural.
• Qdo.? Ocorre com o diagnóstico de paralisação da atividade encefálica (art. 3º da Lei
nº 9.434/97).

Prova da morte
• Faz-se pelo atestado de óbito (prova da morte real)
• Por ação declaratória da morte presumida, sem decretação de ausência (art. 7º)

Art. 7º: “Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de ausência:
I – se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida;
II – se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado
até 2 anos após o término da guerra.
Par. único: (...)

• Por justificação de óbito prevista no art. 88 da Lei de Registros Públicos, quando


houver certeza da morte em alguma catástrofe, não sendo encontrado o corpo do
falecido.

Sem declaração de ausência (Art. 7)


Parágrafo único: “a declaração da morte presumida, nesses casos, somente poderá ser
requerida depois de esgotadas as buscas e averiguações, devendo a sentença fixar a data
provável do falecimento.”

Morte simultânea ou comoriência


Art. 8º, do CC: “Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se podendo
averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outros, presumir-se-ão simultaneamente
mortos.”

Quando duas ou mais pessoas morrem na ocasião, mas essas pessoas têm uma relação, por
exemplo, uma é herdeira da outra ou uma é beneficiária da outra, o Direito tem interesse em
saber quem morreu primeiro para saber se a outra pessoa vai receber essa herança ou esse
benefício. Existem situações nas quais não é possível averiguar quem morreu primeiro, como
não dá para saber o direito civil presume que eles morreram simultaneamente e isso se chama
morte simultânea ou comoriência.

Qual o interesse em saber quem morreu primeiro? (comoriência)


1. Se uma pessoa for beneficiária da outra

Ex.: “Falecendo no mesmo acidente o segurado e o beneficiário e inexistindo prova de que


a morte não foi simultânea, não haverá transmissão de direitos entre os dois, sendo
inadmissível, portanto, o pagamento do valor do seguro aos sucessores do beneficiário. É
preciso que o beneficiário exista ao tempo do sinistro.”

Quando o segurado morrer a seguradora paga ao beneficiário a quantia

è Conclusão: a presunção de morte simultânea impede que haja transmissão de


benefícios de direito entre essas pessoas que morreram a mesmo tempo

Para quem vai a indenização nesses casos?? Pode ter sido indicado previamente ou
vai para os herdeiros do segurado.
2. Se uma pessoa for herdeira da outra

Ex.: se morrem em acidente casal sem descendentes e ascendentes (não tem filhos nem
pais vivos), sem se saber qual morreu primeiro (presume-se que morreram ao mesmo tempo),
um não herda do outro. Assim, os colaterais da mulher ficarão com a herança dela e os
colaterais do marido com a herança dele.

Consequência
• Não há transferência de bens e direitos entre comorientes

Morte civil
• Não existe no direito moderno!
• Existia na Idade Média para pessoas que eram privadas dos direitos civis e consideradas
mortas para o mundo.
• Há um resquício no CC – art. 1.816, ao tratar o herdeiro, afastado da herança, “como
se morto fosse antes da abertura da sucessão.”
(a pessoa está viva, mas será considerada morta --> serve para herdeiro indigno Ex.:
caso da Suzanne Richthofen)

Morte presumida
Pode ser:
• Com declaração de ausência --> simplesmente sumiu, pode querer desaparecer...
• Sem declaração de ausência (art. 7º) --> Por quê? Porque é extremamente
provável que ela tenha morrido, pois estava em perigo de vida ou porque foi feita
prisioneira de guerra e 2 anos depois que a guerra acabou a pessoa não retornou...

Declaração de ausência
A declaração de que o ausente desapareceu de seu domicílio sem dar notícia de seu paradeiro
e sem deixar um representante, produz efeitos patrimoniais, permitindo a abertura da sucessão
provisória e, depois, a definitiva e, constitui causa de dissolução da sociedade conjugal (quando
definitiva).

Caso prático de comoriência – questionário acórdão


1. Quais são os fatos?

è Ocorreu um acidente automobilístico, no qual morreram Maria do Carmo Fernandes e


seus 2 filhos, Leonardo e Leônidas, e sua irmã. O pai das crianças, Paulo Eugênio
Ramos, entrou com uma ação declaratório de inexistência de comoriência contra os
avós das mesmas (Benedito Lopes Fernandes e Cecília da Silva Pião) para receber a
herança de Maria do Carmo. Essa sentença foi julgada procedente. Os pais de Maria
do Carmo recorreram a essa sentença, para que fosse declarada a hipótese de
comoriência, para que assim eles recebessem a herança de sua filha. O tribunal negou
provimento ao recurso, alegando que não houve comoriência por provas testemunhais,
as quais alegaram que a mãe morreu antes de seus filhos.
2. Quem são as pessoas envolvidas?

è Apelado e Autor: Paulo Eugenio Ramos (ex-marido de Maria do Carmo)


è Apelantes e Réus: Benedito Lopes Fernandes e Cecilia da Silva Pião
è Mortos: Maria do Carmo, sua irmã e seus filhos (Leonardo e Leônidas)

3. Identificar a ação proposta.

è Ação declaratória de inexistência de comoriência (Ação proposta por Paulo)

4. Qual o motivo do Tribunal para negar provimento ao recurso?

è O motivo são as provas testemunhais, as quais alegaram que a mãe morreu antes de
seus filhos. Assim, conclui-se que não houve comoriência.

Pessoa jurídica

Qual a razão de ser da “pessoa jurídica”?


• Homem: ser eminentemente social
• Necessidade de se agrupar
• Conveniência de união de esforços para a realização de objetivos comuns
• Necessidade de personalizar o grupo

Conceito
Pessoa jurídica: “consiste num conjunto de pessoas e de bens, dotado de personalidade
jurídica própria e constituído na forma da lei, para a consecução de fins comuns”.
Características
Principal característica: atuam na vida jurídica com personalidade diversa da dos indivíduos
que as compõem (CC, art. 50).

Classificação
• Quanto à nacionalidade:
o Nacional: a sociedade organizada de conformidade com a lei brasileira e que
tenha no País a sede de sua administração
o Estrangeira: para funcionar no país precisa de autorização do Poder Executivo,
ressalvados os casos expressos em lei (acionista de S.A.).
• Quanto à estrutura interna:
o Corporação: conjunto de pessoas, reunidas para melhor consecução de seus
objetivos.
o Fundação: compõe-se de um patrimônio personalizado, destinado a um
determinado fim.
o Diferença entre ambas
§ corporação: visam à realização de fins internos, estabelecidos pelos
sócios.
§ Fundações: tem objetivos externos, estabelecidos pelo instituidor. O
patrimônio é elemento essencial.
• Quanto à função ou órbita de atuação:
o De direito público
§ De direito público interno: da administração Direta (U, E, DF, T, M) e
da administração indireta (autarquias, fundações públicas e entidades
de caráter público criadas por lei) (art. 41, CC).
§ De direito público externo: os Estados da comunidade internacional e
organismos internacionais (EX.: ONU) (art. 42, CC).
o De direito privado: são as corporações e as fundações.

Associações/sociedades
As corporações dividem-se em associações e sociedades (simples e empresárias).
• Associações: não tem fins lucrativos, mas religiosos, morais, culturais, assistenciais,
desportivos, recreativos.
• Sociedades simples: tem fim econômico e visam lucro (escritórios de advocacia,
engenharia, etc.)
• Sociedades empresárias: também visam lucro, mas tem por objeto o exercício de
atividade empresarial (atividade econômica organizada, com empregados, mão-de-obra,
tecnologia, habitualidade, capital, insumos).

Existência legal
Resulta da vontade humana, formalizada no ato constitutivo (estatuto ou contrato social).
• As fundações só podem ser criadas por escritura pública ou testamento (art. 62, CC).
• Certas pessoas jurídicas dependem de autorização governamental: estabelecimentos
de seguro, caixas econômicas, cooperativas, instituições financeiras, empresas
jornalísticas, etc.
Art.52 do CC
A proteção aos direitos da personalidade aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber
• Direito ao corpo --> não faz sentido, não cabe -> pessoa jurídica não tem integridade
física
• Direito ao nome --> cabe

Extinção
As pessoas jurídicas nascem, desenvolvem-se, modificam-se e extinguem-se.
• Ex.: modificação (das soc. Empresariais): transformação, incorporação e fusão.
o Modificação: estrutural --> sociedade limitada -> sociedade anônima
o Uma sociedade incorporou a outra ou duas sociedades se uniram

Término da pessoa jurídica


• Art. 54, VI, segunda parte
• Art. 69
• Art. 1.028, II
• Art. 1.033 e ss

Formas de dissolução
Podem assumir 4 formas:
a) Convencional: por deliberação de seus membros, conforme quórum previsto nos estatutos
ou na lei
• Por vontade dos membros, decidem levar a empresa (pessoa jurídica) ao fim. Se tem
um número muito grande de membros, essa deliberação precisa cumprir um quórum
que é pré-estabelecido no contrato, no estatuo ou na lei que trata desse tipo de
sociedade. Esse quórum vai dizer que só pode ser extinta por unanimidade, ou só se a
maioria absoluta concordar... FORMA MAIS SIMPLES
b) Legal: em razão de motivo determinante na lei
Ex.: decretação de falência
morte dos sócios
desaparecimento do capital, nas sociedades de fins lucrativos
c) Administrativa: quando as pessoas jurídicas dependem de autorização do Poder Público e
esta é cassada, seja por infração à disposição de ordem pública ou prática de atos contrários
aos fins declarados no seu estatuto, seja por se tornar ilícita.
d) Judicial: quando se configura algum dos casos de dissolução previstos em lei ou no estatuto,
mas aquela sociedade embora tivesse um motivo para ser extinta, ela continua a existir,
obrigando um dos sócios a ingressar em juízo.
Art. 1.035, do CC
Ex.: Fernando saiu mas não mexeram na parte burocrática o Fernando segue sendo responsável
socialmente pela sociedade à entrar em juízo pedindo a solução judicial

Processo de extinção da pessoa jurídica


• Dissolução
• Liquidação (pagamento das dívidas e partilha entre os sócios)
* O cancelamento da inscrição da pessoa jurídica no registro não se promove quando ela é
dissolvida, mas depois de encerrada sua liquidação. Se eu não cancelo o registro, ela continua
existindo pois não foi dissolvida (tem que pagar imposto, cuidar das questões dos funcionários...)

Desconsideração da personalidade jurídica


A pessoa jurídica tem personalidade distinta da de seus membros (princípio da autonomia
patrimonial)
• Sociedades empresárias podem ser utilizadas como instrumento para a prática de fraudes
e abusos de direito contra credores (prática irregular)
• Muitas tem utilizado a pessoa jurídica como “capa” ou “véu” para proteger os seus
negócios escusos (desvio de finalidade)
• Tudo isso deu origem à teoria da desconsideração da personalidade jurídica
• Origem: direito americano, francês, italiano e alemão

Permite ao Juiz, em casos de fraude e de má-fé, desconsiderar o princípio de que as pessoas


jurídicas têm existência distinta da dos seus membros e os efeitos dessa autonomia, para
atingir os bens particulares dos sócios à satisfação das dívidas da sociedade.

Legislação
• CTN, art. 135
• CDC, de 1990: art. 28
• Lei n. 9.605/98 (atividades lesivas ao meio-ambiente)
• NCC, art. 50

Duas teorias
• Teoria “maior”: a comprovação da fraude e do abuso por parte dos sócios constitui
requisito para que o juiz possa ignorar a autonomia patrimonial das pessoas jurídicas (art.
50, do CC)
• Teoria “menor”: considera o simples prejuízo do credor (consumidor) motivo suficiente
para a desconsideração (§ 5º do art. 28 do CDC e na legislação ambiental)

Bens
Lições de Paulo Lobo
• “No âmbito do direito civil, bens são todos os objetos materiais ou imateriais que podem
ser suscetíveis de apropriação ou utilização econômica pelas pessoas físicas ou jurídicas.”
(conceito estrito)
o Ex.: casa (bem material) e direitos patrimoniais de autor (bens imateriais)
• Não inclui, consequentemente, o que pode ser considerado “bem jurídico”, de modo amplo,
ou seja, tudo o que o direito considere relevante para sua tutela.
o Ex.: o direito da personalidade é um bem jurídico, mas não bem no sentido ora
empregado.
• Os direitos da personalidade ou as zonas ambientais protegidas são exemplos de bens que
não podem ser transmitidos de seu titular para outrem.

Classificação dos bens


• BENS CONSIDERADOS EM SI MESMOS
o Bens móveis e imóveis (bens de raiz)
§ Bens imóveis: bens que se não podem transportar, sem destruição,
de um para outro lugar
§ Bens móveis: são os passíveis de deslocamento, sem quebra ou
fratura.
*os bens suscetíveis de movimento próprio são chamados de semoventes
(animais).
o Bens fungíveis e infungíveis (art. 85)
§ Bens fungíveis: aqueles que podem ser substituídos por outros da
mesma espécie, qualidade e quantidade.
• Ex.: café, soja, dinheiro
§ Bens infungíveis: de natureza insubstituível
• Ex.: obra de arte
*Em geral, a fungibilidade decorre da natureza do bem. Nem sempre: a vontade
das partes pode tornar um bem fungível em infungível; bem como o valor
histórico (vaso da dinastia Ming)
o Bens consumíveis e inconsumíveis
§ Consumíveis: bens móveis cujo uso (com o primeiro uso) importa
destruição imediata a própria substância, bem como os destinados à
alienação.
• Ex.: alimentos
§ Inconsumíveis: suportam uso continuado, sem prejuízo do seu
perecimento progressivo e natural
• Ex.: carro, roupas
o Bens divisíveis e indivisíveis
§ Bens divisíveis – art. 87: são os bens que se podem fracionar sem
alteração na sua substância, diminuição considerável de valor, ou
prejuízo do uso a que se destinam
§ Bens indivisíveis:
• Por natureza: o que se não podem fracionar sem alteração
na sua substância, diminuição de valor ou prejuízo do uso. Ex:
relógio, quadro, brilhante
• Por determinação legal: quando a lei impede o seu
fracionamento
• Por vontade das partes: por prazo não maior que 5 anos,
suscetível de prorrogação ulterior. Ex: por vontade do doador,
do testador
o Bens singulares e coletivos
§ Bens singulares – art. 89: os bens que, embora reunidos, se consideram
de per si, independentemente dos demais
• Ex.: um cavalo, uma árvore, uma caneta, um papel, um crédito
§ Bens coletivos: universais ou universalidades (de fato ou de direito)
• Universalidade de fato – art. 90: a pluralidade de bens
singulares que, pertinentes à mesma pessoa, tenham
destinação unitária
o Ex.: uma biblioteca, um rebanho, uma galeria de
quadros
• Universalidade de direito – art. 91: o complexo de relações
jurídicas, de uma pessoa, dotadas de valor econômico.
o Ex.: herança, patrimônio, fundo de comércio, massa
falida.

Classificação dos bens imóveis


• Imóveis por sua própria natureza: o solo e tudo quanto se lhe incorporar natural
ou artificialmente (art. 79).
o Imóveis por acessão física, industrial ou artificial
§ Acessão = incorporação
§ é tudo quanto o homem incorporar permanentemente ao solo
§ Ex.: semente lançada à terra, edifícios e construções, de modo que se
não o possa retirar sem destruição ou dano
*não perdem a natureza de imóveis os materiais provisoriamente separados de um prédio
para nele mesmo se reempregarem
o Imóveis por acessão intelectual
§ São os bens que o proprietário intencionalmente destina a manter
no imóvel para exploração industrial, aformoseamento ou comodidade
Ex.: escadas de emergência, maquinário agrícola
o Imóveis por determinação legal
§ A lei considera alguns bens de natureza imobiliária

Classificação dos bens móveis


• Móveis por sua própria natureza
o Bens que podem ser transportados de um local para outro sem deterioração de
sua sustância
o Ex.: objetos pessoais em geral (livros, carteiras, bolsas, ...)
• Móveis por antecipação
o Bens que, embora incorporados ao solo, são destinados a serem destacados e
convertidos em móveis.
o Ex.: árvores destinadas ao corte.
• Móveis por determinação legal
o Ex.: energias que tenham valor econômico

Semoventes
São os bens que se movem de um lugar para outro, por movimento próprio.

Você também pode gostar