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Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões

Departamento de Ciências Sociais Aplicadas


Curso de Direito

Professora M.e Vera Maria Calegari Detoni

Direito Civil I

Módulo I – Conceito, História e Codificação


2021
Conteúdo Programático Direito Civil I

• . Conhecer o Plano de ensino do Curso

• . Apresentação do Conteúdo Programático

• . Conhecer a bibliografia adotada

• . Conhecer os métodos de avaliação

• . Direito Civil I – Parte Geral


PLANO DE ENSINO

• MÓDULO I – Noções Introdutórias de Direito Civil


• MÓDULO II – Lei, Relação Jurídica e LINDB
• MÓDULO III – Das Pessoas Naturais
• MÓDULO IV – Individualização da Pessoa Natural
• MÓDULO V – Pessoa Jurídica
• MÓDULO VI – Bens
Direito Civil

A conceituação de Direito é informação útil ao civilista, porque passa a


compreender o pressuposto elementar da própria existência do
Direito Civil, que é reger as relações familiares, patrimoniais e
obrigacionais que se formam entre os indivíduos, enquanto membros
da sociedade.

Para compreensão do Direito Civil, impõe-se o conhecimento prévio


do Direito em geral, positivo, natural privado, público, romano e
canônico.
Conjunto de normas que disciplinam a vida do homem em sociedade,
revestidas de coercibilidade física e material.

“Ubi homo, Ubi jus”: onde há homem, há direito

O objetivo do Direito é disciplinar e organizar a vida em sociedade,


resolver os conflitos de interesses e promover a justiça.
O homem é um ser social, e a convivência impõe uma certa ordem; essa
ordenação pressupõe a existência de restrições que limitam a atividade dos
indivíduos. O fim do Direito é determinar regras, aos quais todos indistintamente
devem se submeter, que permitam aos humanos a coexistência social.

Segundo Radbruch, Direito “é o conjunto das normas gerais e positivas, que


regulam a vida social”. Essas regras são de caráter genérico, concernente à
indistinta aplicação a todos os indivíduos, e jurídico, o que as diferencia das
demais regras de comportamento social e lhes confere eficácia garantida pelo
Estado. O Direito visa a realização da justiça, a "perpétua vontade de dar a cada
um o que é seu, segundo uma igualdade”(Aristóteles).
Classificação do Direito

Direito Natural – jusnaturalismo, é a ideia abstrata do direito, o


ordenamento ideal, correspondente à uma justiça superior e
suprema. É constituído por um conjunto de princípios, e não de
regras, de caráter universal, eterno e imutável (Paulo Nader).

Direito Positivo – juspositivismo, é o direito institucionalizado pelo


Estado, nas suas diversas formas, seja ela escrita ou costumeira, e
efetivamente observado em uma comunidade, abrangendo as leis
votadas pelo poder competente.
Direito Objetivo – (norma agendi) é a norma, a lei que vigora em
determinado Estado, de caráter geral, a cuja observância os indivíduos
podem ser compelidos mediante coação. Prescreve sanção em caso de
violação.

Direito Subjetivo – (facultas agendi) é o poder de ação contido na


norma, a faculdade de exercer em favor do indivíduo o comando
emanado do Estado.
Direito Público – disciplina os interesses gerais da coletividade (Direito
Constitucional, Tributário, Administrativo, Penal, Processual,
Financeiro, Internacional Público e Privado).

Direito Privado– disciplina as relações dos indivíduos entre si (Direito


Civil, Comercial).

Direito Misto – Direito Ambiental, Agrário, Transindividuais etc.


Direito e Moral

Além das normas jurídicas, as pessoas pautam sua conduta pela ética,
de conteúdo mais abrangente que o Direito, porque ela compreende
também as normas morais. Ambas constituem normas de
comportamento; distinguem-se pela sanção (que no Direito é imposta
pelo Estado para constranger os indivíduos à observância da norma, e
na moral somente pela consciência do homem, traduzida pelo
remorso, pelo arrependimento, porém sem coerção), e pelo campo de
ação, que na moral é mais amplo; o princípio moral envolve a norma
jurídica.
SISTEMA E DIREITO: SISTEMA JURÍDICO E ORDENAMENTO JURÍDICO

• O sistema é um complexo composto de uma estrutura e repertório.

• Repertório é conjunto de elementos(normativos e não normativos).

• A estrutura é o conjunto de regras que determinam as relações entre


os elementos. Ex. o princípio de que a lei hierarquicamente superior
prevalece sobre a lei inferior; o princípio de que a lei posterior
prevalece sobre a lei inferior; princípio de que a lei especial prevalece
sobre a lei geral.
• Integram o repertório do ordenamento jurídico, como sistema os
seguintes elementos: Fato, valor e norma.
O Direito como Sistema Jurídico

Sistema Jurídico é um modo científico jurídico de análise do Direito. É


o conjunto ordenado de princípios e regras decorrentes de seus
institutos que se sustentam e se aplicam reciprocamente.
• Sistema Externo: é a interpretação
• Sistema Interno: é o método
• Sistema Jurídico Fechado: codificações
• Sistema Jurídico Aberto: estudo dos casos

 A Constituição Federal estabelece a unidade de todo o sistema


jurídico.
Sistema Jurídico

• Sistema jurídico ou sistema de direito é um bloco unitário de normas


com características comuns.

• Resulta de fatores dominantes em dado momento da história dos


povos: fatores ambientais, étnicos, econômicos, religiosos, políticos,
sociais e filosóficos.

• Sistema jurídico é o conjunto coordenado, em todo lógico, das regras


contidas explicitamente ou implicitamente no direito positivo.
Sistema Jurídico

• A norma jurídica contém implícita ou explicitamente princípios


que norteiam todo o sistema, construindo uma ordem e unidade
interna de forma valorativamente adequada.

• Elementos do Sistema Jurídico: normas, princípios, conceitos,


valores, doutrina, jurisprudência e regras que formam uma
unidade. Ex: sistema civil, sistema penal etc.
Funções do Sistema Jurídico

• Regular as situações jurídicas de mesma natureza;

• Promover a adequação de valores;

• Promover a unidade interior da ordem jurídica.

 O Código Civil: eixo central do Sistema Jurídico privado.


Sistemas Jurídicos Contemporâneos

Commom Law:

• Construção jurídica formada pelas decisões dos juízes e tribunais.


• Precedente judicial para casos futuros.
• Vínculo das decisões.
• Importância da decisão judicial por si só
• Perpetuidade do precedente
• Equidade(equity): atenuar a rigidez da norma escrita ou costumeira.
Sistemas Jurídicos Contemporâneos

Civil Law:
• Sistema romano-germânico codificado e legislado.
• A atuação do operador do Direito é técnica.
• Predominância da lei como fonte do Direito.
• Presença da codificação
• Fontes subsidiárias: costume e a jurisprudência.
• As decisões do órgão superior não vinculam os juízes de raga
inferior, demonstrando a independência funcional do magistrado.
Sistemas Jurídicos Orientais

• Chinês: direito escrito dos costumes/religião


• Japonês: abandono aos costumes
• Hindu: direito costumeiro e escrito
• Muçulmano: fontes no Korão e em Maomé
• Hebraico: direito escrito sacro e não sacro
• Soviético: concepções Marxistas
• Canônico: Codex iuris canonici
Sistema Jurídico

RESUMINDO:

O Sistema jurídico é o conjunto harmônico de regras, compondo uma


estrutura escalonada de normas que formam uma unidade.
Entretanto, com o intuito didático surge a necessidade da divisão
setorizada do Direito em ramos ou disciplinas.
Sistemas Jurídicos Contemporâneos
Ordenamento Jurídico

• Conjunto organizado de normas jurídicas que regem uma determinada


sociedade. O ordenamento jurídico brasileiro compreende todas as normas que
vigem na República Federativa do Brasil.

• Para ser eficaz deve ser unitário (com as fontes e normas obedecendo uma
hierarquia) e completo (evitando lacunas).

• O Conceito de ordenamento jurídico visto como sistema torna possível a


integração das normas jurídicas num conjunto, “ dentro do qual é possível
identificá-las como normas jurídicas válidas.

• O “sistema” na realidade, é uma forma técnica de conceber os ordenamentos,


que são um dado social.
Ordenamento Jurídico
CONCEITO DE DIREITO CIVIL

Conjunto de princípios e normas que disciplinam as relações jurídicas


comuns de natureza privada. (Francisco Amaral)

• Etimologicamente, “civil” refere-se ao cidadão.


• Ramo do direito privado tendente a reger as relações jurídicas
entre as pessoas.

• O Direito Civil é o tronco de sustentação do Direito Privado.


CONCEITO DE DIREITO CIVIL

Atualmente, no Brasil, o Direito Civil é o direito comum, o que rege as


relações entre os particulares. Disciplina a vida das pessoas desde
antes de sua concepção até após a sua morte. Regulamenta toda a
vida social, suas relações pessoais e patrimoniais. Nele se situam
institutos comuns a todos os ramos do direito (normas gerais e
hermenêutica).
CARACTRÍSTICAS DO DIREITO CIVIL

• Direito de formação histórica: tradições e práticas costumeiras


romanas.
• Direito estável: mantém uma linha de continuidade com poucas
variações no tempo e no espaço.
• Direito altamente desenvolvido: técnica bastante aperfeiçoada, com
regras que se aplicam a todos os ramos jurídicos.
• Direito personalista: proteção da pessoa e seus interesses
de ordem familiar e patrimonial.
• Direito liberal: consagra a liberdade da pessoa humana.
IMPORTÂNCIA DO DIREITO CIVIL

• Regular as relações pessoais comuns, desde as relações familiares


até questões de posse e propriedade de bens.

• Defesa da personalidade humana e patrimônio, regulação das


pessoas físicas e jurídicas, responsabilidade civil, proteção
possesória, relações de parentesco.

• Exportar noções básicas para outros ramos do Direito.


PRINCÍPIOS DO DIREITO CIVIL

• Princípio da Personalidade Individual: separação pessoa física,


entidades morais (pessoa jurídica)e entidades coletivas.
• Princípio da Personalidade: todo o ser humano é sujeito de
direitos e obrigações.
• Princípio da Autonomia da Vontade: prática negocial de acordo
com a vontade do agente, a oportunidade e a conveniência.
• Princípio da Igualdade: igualdade formal e material.
• Princípio da Liberdade: autodeterminação pessoal.
PRINCÍPIOS DO DIREITO CIVIL

• Princípio da Liberdade Negocial: pode o indivíduo outorgar


direitos e assumir obrigações, sempre atento aos limites legais
(ninguém pode ofertar mais direitos do que efetivamente possui).
• Princípio da Propriedade: esforço próprio construir seu
patrimônio; o Estado o assegura.
• Princípio da Intangibilidade Familiar: cerne social. Todos devem
proteger. Buscar manter a família como verdadeira instituição
jurídica.
• Princípio da Solidariedade Social: interesse coletivo x interesse
individual.
HISTÓRIA DO DIREITO CIVIL

A noção de Direito Civil como direito privado remonta ao direito romano.


Desenvolveu-se lá até sua tripartição: jus civile (aplicável dentro das fronteiras do
Império), jus gentium (aplicável às nações estrangeiras) e jus naturale (o direito
natural). Na Idade Média, sofreu concorrência com o direito germânico (mais
social) e o direito canônico (mais idealista).

A Idade Moderna tem especial importância pelo surgimento do Estado Moderno e


pela racionalização do pensamento e da cultura, o que levou à construção da
ciência jurídica, sua abstração e sistematização. A partir do século XIX o Direito
Civil tomou um sentido mais estrito, passando a concernir às matérias
disciplinadas no Código Civil. Para atender as demandas dos comerciantes, criou-se
o Código Comercial, também integrante do direito privado.
HISTÓRIA DO DIREITO CIVIL

Direito Romano
• Jus civile: como direito privado comum, aplicável dentro das
fronteiras do Império Romano.

• Jus gentium: aplicável às nações estrangeiras.

• Jus naturale: o direito natural, espécie de ideal jurídico, para o qual


deveriam evoluir os demais.
HISTÓRIA DO DIREITO CIVIL

Direito Medieval
• Corpus Juris Civilis: identificou-se com o direito romano, contido no
Corpus Juris Civilis de Justiniano.

• Direito Germânico: estava mais voltado para o interesse social, não


dando tanta importância ao individualismo do direito romano.

• Direito Canônico: responsável pela espiritualização do Direito,


introduzindo-lhe preocupações éticas e idealistas.
HISTÓRIA DO DIREITO CIVIL

Direito na Idade Moderna

• Absolutismo: com a ascensão da burguesia e o culto a vontade


do rei como lei.

• Liberalismo: depois de superado o Absolutismo, o Estado


Moderno tornou-se liberal, em decorrência do liberalismo
econômico, tendo como causa a Revolução Francesa.
HISTÓRIA DO DIREITO CIVIL

Direito Contemporâneo
• Período das grandes codificações que iniciou com o Código Civil
Francês em, 1804.

O que fez: substituiu a variedade do antigo direito (principalmente


conseutedinário e romano) a um único código para toda a França.
Adotou várias medidas ideológicas inspiradas na Revolução de
1789.
HISTÓRIA DO DIREITO CIVIL

Direito Contemporâneo

• Savigny: Entendia não ser conveniente codificar o direito civil,


pois isso engessaria e dificultaria o regramento do direito.

• Thibaut: Defendia a codificação, para que houvesse mais


segurança nas relações jurídicas.
SISTEMAS DE CODIFICAÇÃO

O Código Civil (CC) é um conjunto de disposições que visa criar,


regular, modificar, reconhecer e extinguir relações jurídicas, direitos e
deveres na ordem civil – sobretudo, em aspectos que tratem das
pessoas físicas e jurídicas, das coisas e bens, dos fatos e negócios
jurídicos, das obrigações (inclusive das obrigações contratuais), dos
direitos de empresa, do direito de família e das sucessões.
SISTEMAS DE CODIFICAÇÃO

Os Códigos são importantes instrumentos de unificação do direito,


consolidando por esse meio a unidade política da nação. Constituem a
estrutura fundamental do ordenamento jurídico e um eficiente meio
de unificação dos usos e costumes da população.

A complexidade e o dinamismo das relações sociais determinaram a


criação, no país, de verdadeiros microssistemas jurídicos, decorrentes
da edição de leis especiais de elevado alcance social e alargada
abrangência.
SISTEMAS DE CODIFICAÇÃO

Século XIX – criado com a pretensão de ser capaz de prever todas as


situações pelas quais o indivíduo vai passar ao longo da vida. Sem
padrão lógico. Regulação completa, integral, totalidade bem
ordenada. Centro do sistema jurídico. Ex. Código de Napoleão.

Século XX – A complexidade faz surgir uma série de relações jurídicas


para a vida do indivíduo, gerando leis esparsas.
SISTEMAS DE CODIFICAÇÃO

Codificação Francesa

• Código de Napoleão( 1804 )

• Codificação essencialmente individualista com proeminência do


direito privado ao público.
• O reconhecimento científico desta codificação como base de
formação do pensamento jurídico dos séculos XIX e XX.

• Unificação do direito francês.


SISTEMAS DE CODIFICAÇÃO

Codificação Alemã
• Código Civil Alemão (1900).
• Influência do direito romano e das instituições jurídicas alemãs.
• Conteúdo lógico e formal.
• Abandono do casuísmos.
• Caráter técnico, dirigido a juristas, ocasionando grande
desenvolvimento doutrinário.
SISTEMAS DE CODIFICAÇÃO

Codificação Brasileira
• Código Civil de 1916.
• Formalismo herdado do Corpus Juris Civilis.
• Influência do Código Civil francês e alemão.
• Herança portuguesa (Ordenações).
• Completude e plenitude legislativa.
• Divisão: parte geral e parte especial.
CODIFICAÇÃO BRASILEIRA

No período colonial vigoravam no Brasil as Ordenações Filipinas. Com


a Independência, a legislação portuguesa seria aplicada até que se
elaborasse o Código Civil.

Houve o esboço feito por Teixeira de Freitas, o qual não foi acolhido
pela comissão revisora. Somente após a Proclamação da República,
com a indicação de Clóvis Beviláqua, foi o projeto de Código Civil por
ele elaborado, depois revisto, encaminhado ao Presidente da
República, que o remeteu ao Congresso Nacional, em 1900. Foi
aprovado em 1916, entrando em vigor no ano seguinte. Era um código
de acentuado rigor científico.
PROCESSO DE CODIFICAÇÃO BRASILEIRA

No Brasil, esta segunda tarefa era dispensável, pois a vigência secular


do direito português dera unidade ao país. Quanto ao primeiro ponto,
os brasileiros tiveram de substituir o Código por outros instrumentos,
inclusive o Código Comercial que tratava dos contratos e das garantias.

Com o novo clima econômico que parecia desenhar-se com o café, o


fim do tráfico negreiro e a liberação de capitais para investimento, já
convinha organizar a vida privada. Entretanto, sabemos que o Código
só viria em 1916. O que houve foi uma organização do direito civil
independentemente de uma lei civil geral.
Teixeira de Freitas
O esboço do do Código Civil elaborado
em 1824, não foi aprovado (por
divergências), entretanto, serviu de
base à elaboração da legislação civil
Argentina e influenciou o código
uruguaio e a legislação de outros
povos hispano-americanos. Um código
moderno, preocupado com o ser
humano.
Clóvis Beviláqua
Código Civil de 1916. Iniciou o projeto
em 1899. Influência jurídica e filosófica
de Freitas, Direito Germânico e do
positivismo de Comte. Sistema único,
total e abrangente. Adotou a sistemática
alemã e inspiração francesa. Foi fiel às
tradições brasileiras.
Pensamento individualista – direito de
propriedade e liberdade de contratar.
Miguel Reale

Elaborou Código Civil de 2002, Lei


10.406/02. Deixou de incorporar o objeto
de diversas leis, de conteúdo volátil,
suscetíveis de modificações.
Rompeu com a tradição patrimonialista do
direito civil, introduziu um capítulo sobre os
direitos da personalidade.
Valorizou o sistema de cláusulas gerais
e a função social.
CÓDIGO CIVIL DE 1916

• Reflexo sócio-cultural-econômico da época.


• Precedido de uma lei de introdução
• Refletiaos ideais predominantes (pensamento individualista:
direito de propriedade e liberdade de contratar).
• Valorização do patrimônio
• Patrimonialização
• Inspirado no liberalismo iluminista (século XIX).
CÓDIGO CIVIL DE 1916

O Código Civil de 1916 continha 1.807 artigos e era antecedido pela Lei
de Introdução ao Código Civil. Os Códigos francês de 1804 e alemão de
1896 exerceram influência em sua elaboração.

Continha uma Parte Geral, da qual constavam conceitos, categorias e


princípios básicos aplicáveis a todos os livros da Parte Especial. Tratava
das pessoas, dos bens e dos fatos jurídicos. A Parte Especial era
dividida em Direito de Família, das Coisas, das Obrigações e das
Sucessões.
CÓDIGO CIVIL DE 1916

Embora os doutrinadores atribuam aos padectistas alemães a ideia de


dotar o Código Civil de uma Parte Geral, Teixeira de Freitas, antes
mesmo do surgimento do BGB, preconizara essa estrutura em sua
“Consolidação das Leis Civis”, de 1858.

O Código de 1916 fora elogiado por sua clareza e precisão de


conceitos, bem como por sua brevidade e técnica jurídica, refletindo o
individualismo predominante de sua época, influenciado pelo Código
francês.
A CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIREITO CIVIL

A Constituição Federal tem um papel fundamental na interpretação do


Direito Civil, uma vez que busca o Estado Social. Assim os princípios e
dispositivos da Constituição irradiam-se sobre todo o Direito Privado,
inclusive o Direito Civil. É como se os preceitos do Código Civil
tivessem como fundamento os princípios da Constituição.

A constitucionalização do Direito privado objetiva proporcionar uma


releitura dos velhos institutos e conceitos do âmbito privado, visando
à concretização dos valores e preceitos constitucionais.
DIREITO CIVIL - CONSTITUCIONAL
Tanto o direito público quanto o privado devem obediência aos
princípios fundamentais constitucionais, que deixam de ser neutros,
visando ressaltar a prevalência do bem-estar da pessoa humana. Sob
essa perspectiva, tem-se anunciado o surgimento de uma nova
disciplina ou ramo metodológico denominado direito civil-
constitucional.

Este ramo está baseado em uma visão unitária do sistema. Ambos os


ramos não são interpretados isoladamente, mas dentro de um todo,
mediante uma interação simbiótica entre eles. A fonte primária de
todo o ordenamento jurídico é a Constituição, que, com seus princípios
e normas, confere uma nova feição à ciência civilista.
A CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIREITO CIVIL

Para Gustavo Tepedino, o Direito Civil Constitucional possui três


princípios básicos:
• Dignidade humana: a partir do modelo de Kant, constitui o
principal fundamento da personalização do Direito Civil e da
valorização da pessoa humana em detrimento do patrimônio.
• Solidariedade social: trata-se de objetivo fundamental da
República Federativa do Brasil, conforme o art. 3º, I, da CF/1988.
Ex. espécies de usucapião.

• Isonomia ou igualdade lato sensu: traduzido no art. 5º, caput, da


Constituição Federal.
CARACTERÍSTICAS DO CÓDIGO DE 2002

Após algumas tentativas frustradas de promover a revisão do Código


Civil, o Governo nomeou, em 1967, nova comissão de juristas sob
supervisão de Miguel Reale. Essa comissão apresentou em 1972 um
Anteprojeto, que buscava manter o possível da estrutura e disposições
do Código de 1916, mas reformulá-lo, no âmbito especial, com base
nos valores éticos e sociais revelados pela experiência legislativa e
jurisprudencial. Buscava atualizar a técnica jurídica, afastar o
individualismo sem se descuidar do valor fundamental da pessoa
humana. A demorada tramitação fez com que fosse atropelado por leis
especiais modernas e pela própria Constituição, sendo aprovado no
limiar do novo século.
PRINCÍPIOS DO CÓDIGO DE 2002

Princípios são regramentos básicos aplicáveis aos institutos jurídicos,


extraídos da lei, da doutrina, da jurisprudência e dos aspectos
políticos, econômicos e sociais.

O Código Civil de 2002 tem, como princípios básicos:


• Socialidade
• Eticidade
• Operabilidade.
PRINCÍPIO SOCIALIDADE

Prevalência dos valores coletivos sobre os individuais, sem perda,


porém, do valor fundamental da pessoa humana. Contrasta com o
individualismo de 1916, convergindo para a realidade
contemporânea, com a revisão dos direitos e deveres do proprietário,
do contratante, do empresário, do pai de família e do testador. Ocorre
a mudança do “pátrio poder” para o “poder familiar”.
• Exemplos: Art. 421 do CC(Função social do contrato) e Art. 1228
do CC (Função social da propriedade), cada um desses institutos
(contrato e propriedade) devem estar vocacionados a alcançar o
bem-comum.
PRINCÍPIO DA ETICIDADE

O princípio da eticidade funda-se no valor da pessoa humana como


fonte de todos os demais valores. Prioriza a equidade, a boa-fé, a justa
causa e promove a primazia dos valores éticos sobre a forma. Confere
maior poder ao juiz para encontrar a solução mais justa ou equitativa.
Pode ser identificado em diversos institutos do Código Civil, como a
boa-fé objetiva, presente nos arts. 113, 187 e 442.
PRINCÍPIO DA OPERABILIDADE

O princípio da operabilidade leva em consideração que o direito é feito


para ser efetivado, para ser executado. Evitou, assim, o bizantino, o
complicado, afastando as perplexidades e complexidades. Neste
princípio está implícito a concretude, a obrigação do legislador de não
legislar em abstrato, mas, tanto quanto possível, para o indivíduo
situado.

Possui o significado de simplicidade, uma vez que o Código Civil de


2002 segue a tendência de facilitar a interpretação e a aplicação dos
institutos nele previstos. Exemplo: facilitação da distinção entre
prescrição e decadência, tornando mais fácil operar tais institutos.
Divisões do Código de 2002

Num total de 2.046 artigos, manteve a estrutura dividida em Parte Geral e


Parte Especial. A Parte Geral cuida das Pessoas, dos Bens e dos Fatos
jurídicos. Com a unificação do Direito das Obrigações e a inclusão do
Direito de Empresa, a Parte Especial ficou dividida em cinco livros, nesta
ordem: Direito das Obrigações, de Empresa, das Coisas, de Família e de
Sucessões. Ao contrário do Código de 1916, já não mais em uma sociedade
tão agrária, após a Parte Geral – na qual se enunciam os direitos e deveres
gerais da pessoa humana como tal, e se estabelecem pressupostos gerais
da vida civil – começa, na Parte Especial, a disciplinar as obrigações que
emergem dos direitos pessoais. Enunciados os direitos e deveres dos
indivíduos, passa-se a tratar de sua projeção natural que são as obrigações
e os contratos.
Divisões do Código de 2002

PARTE GERAL

LIVRO I - Das Pessoas (art. 1º a 78 do CC)


. Naturais (art. 1º a 39 do CC)
. Jurídicas (art. 40 a 69 do CC)
. Domícilio (art. 70 a 78 do CC)

LIVRO II - Dos Bens (art. 79 a 103 do CC)


. Considerados em si mesmos(art. 79 a 91 do CC)

. Reciprocamente considerados(art. 92 a 97 do CC)

. Públicos e Particulares(art. 98 a 103 do CC)


Divisões do Código de 2002

LIVRO III - Fatos jurídicos (art. 104 a 237 CC)


. Do Negócio jurídico(art. 104 a 184 do CC)

. Atos Ilícitos (art. 186 a 188 do CC)

. Prescrição e Decadência(art. 189 a 211 do CC)

. Da prova( 212 a 232 do CC)


Divisões do Código de 2002

PARTE ESPECIAL:

LIVRO I - Direito das Obrigações (art.233 a 965 )

LIVRO II - Direito de Empresa (art. 966 a 1.195)

LIVRO III - Direito das Coisas (art. 1.196 a 1.510)

LIVRO IV - Direito de Família (art. 1.511 a 1.783)

LIVRO V - Direito das Sucessões (art. 1.784 a 2.027)


LIVRO COMPLEMENTAR - Disposições finais e transitórias(art. 2028
a 2046).
O CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO – Lei 10.406 de
10 de janeiro de 2002

O código é uma coleção metódica e ordenada de leis, regras ou


preceitos.

O código Civil não contém todos os dispositivos


que regulam a ordem social, mas sem dúvida,
abaixo da Constituição Federal, é o principal
conjunto normativo do Direito Privado.
CÓDIGO CIVIL

O Código Civil (CC) é um conjunto de disposições que visa criar,


regular, modificar, reconhecer e extinguir relações jurídicas, direitos e
deveres na ordem civil – sobretudo, em aspectos que tratem das
pessoas físicas e jurídicas, das coisas e bens, dos fatos e negócios
jurídicos, das obrigações(inclusive das obrigações contratuais), dos
direitos de empresa, do direito de família e das sucessões.
ESTRUTURA DA NORMA

Preâmbulo

Livro Título Capítulo Secção Artigo Caput

Parágrafo Inciso Alínea


BIBLIOGRAFIA

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