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Introdução ao Estudo do Direito

• Aproximação a uma ideia de Direito

A necessidade das instituiçõ es: O homem, por ser ontogeneticamente


incompleto, nã o toma decisõ es à base do instinto, regra geral. Por este
motivo, precisa de instituições ou padrõ es de cultura, para se definir
num contexto, e orientar a sua conduta.

As instituições:
• “servirã o de base a um consenso sobre o certo e o errado, sobre
o justo e o injusto, sobre o que vale e o que nã o vale, garantido
assim a segurança nas relaçõ es entre os homens, ao mesmo
tempo que permitem a cada homem encontrar-se e definir-se
num contexto ou universo significativo”.
• Sã o um conjunto de regras baseada num conjunto de princípios
que visa organizar um grupo de pessoas num determinado
sentido
• Geram previsibilidade.
• Têm uma grande variabilidade porque sã o baseadas nos
padrões culturais de cada povo.
• Sã o “regras que têm a sua fonte na sociedade e na histó ria”.
• Regem os comportamentos da sociedade.
• Ligam os indivíduos através duma consciência colectiva, que os
transcende.

Conjunto de princípios: jus-naturalismo, ou direito natural, é aquele


que é supralegal ou supra-positivo, que embora nã o esteja escrito
representa os valores fundamentais da natureza humana. Tem duas
funçõ es:
• “Serve para legitimar o direito positivo vigente”
• “Põ e (...) como factor de correçã o, o direito vigente à procura de
um direito ainda mais justo”.

Classificaçã o das instituiçõ es (em linguagem corrente):


• Familiares: o casamento, a filiaçã o o poder paternal, etc.
• Educativas: socializaçã o dos jovens, transformaçã o em membros
responsá veis, transmissã o da herança cultural de geraçã o a
geraçã o.

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• Econó micas: contratos, propriedade, associaçõ es profissionais,
sociedades, câ maras de comércio, associaçõ es industriais, etc.
• Políticas: Estado, assembleia legislativa, governo, tribunais,
prisõ es, exército, instituiçõ es administrativas em geral, partidos
políticos, etc.
• Culturais: museus, academias, universidade, centros de
investigaçã o, etc.

O Homem depende da sociabilidade para criar a sua identidade:


“Aprendemos a ser humanos interagindo uns com os outros.” Ela é um
produto da nossa “inserção numa ordem institucional”.

A ordem objectiva da sociedade

A realidade da vida quotidiana é ordenada, nela observamos muitas


normas de conduta que nã o sã o baseadas em normas jurídicas –
“ordem social já existente”. Estas normas inserem as pessoas num papel
específico, que desempenham toda a sua vida (pai, mã e, professor,
policia). Esta ordem faz com que ela se torne inteligível e objectiva.

Em alguns papéis, as pessoas que os ocupam sã o meramente


representantes de uma força ou uma ordem institucional. “Através das
pessoas que encarnam esses papéis, as instituições têm vigência efetiva.”
(Presidente, Rei, Juiz, etc.)
(....) elaborar sobre 1o capitulo JBM

O que é o Direito?

O Direito é, assim, um conjunto de normas e valores que visam resolver


conflitos, que aspiram a uma ideia de justiça. Nele estã o integradas
estas instituiçõ es ou direito natural.

Esta ideia de justiça engloba os conceitos de igualdade, dignidade,


liberdade, fraternidade. Visa também garantir paz social e segurança.

A criaçã o destas normas envolve a seleçã o das melhores soluçõ es para


os conflitos, interpretando os princípios fundamentais e tendo em
consideraçã o o contexto (político, cultural, social...).

Uma constante do Direito é, portanto, a sua constante renovaçã o. Tem

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que acompanhar a evoluçã o de maneira a ter leis que nã o sejam
ultrapassadas com o decorrer do tempo.

O direito só é direito se for justo, e se vigorar efetivamente.


Visa defender o mais fraco, que nã o se pode defender pela força, mas
sim apelando ao direito.

Relação entre o Direito, justiça e segurança

Ao Direito compete criar uma estrutura de ordem e estabilidade, e


acrescentar-lhe segurança. Como?
• Positivaçã o do Direito, legislaçã o por autoridades competentes
• Precisa formulaçã o de regras jurídicas
• Garantia conferida pelo funcionamento de um aparelho judicial e
pelo poder coativo do Estado

A segurança é uma das exigências feitas ao Direito. Existe uma tensã o


dialética entre a segurança e a justiça.

A justiça pura, ideal, sem segurança não tem eficácia


A segurança sem justiça pura situação de força, violência
Muitas vezes a praticabilidade do Direito pode exigir Segurança
> Justiça.
A segurança deve estar ao serviço da Justiça e legitimar-se
perante ela.

Funções de qualquer sistema jurídico:

• Função ordenadora: Tem como objectivo, criar ordem. Informa


os indivíduos sobre os seus direitos e deveres, e portanto, os dos
outros. Agindo perante as normas o risco de conflito é quase
inexistente. “(...) Ordenação da liberdade individual e da criação
de segurança ou certeza na convivência social”.
• Função estabilizadora: A criaçã o de segurança e certeza,
instalando um sentido de previsibilidade em relaçã o ao
comportamento humano.
• Função transformadora/conformadora: O direito nã o se limita
a acompanhar a evoluçã o, é dela parte ativa e propulsionador –

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“O Estado moderno procura moldar a realidade social e também
as concepçõ es de valor dos seus cidadã os”

Relação entre o Direito e o Poder Político:


• Na elaboraçã o das normas pelas figuras de poder do estado.
• O poder político interpreta os valores fundamentais da
comunidade na criaçã o de leis.
• Na força

Difusã o do poder político: >>>>>>>>>>>>>

Preocupaçõ es de um legislador ao elaborar uma norma (nã o há


normas absolutamente justas):
• Tem de ser exequível, senã o nã o será aplicada pelos tribunais e
nã o terá qualquer influência.
• Estabelece um compromisso entre a justiça e a segurança.
(justiça relativa e justiça absoluta)

A diferença entre regras jurídicas e morais:

Critérios:
• Heteronomia: A característica da norma jurídica que estabelece
que esta se impõe à vontade do destinatário. A lei é imposta
ao indivíduo.
Criticas: Há leis que um individuo cumpre porque vê nelas os
seus valores reflectidos. Nem todas as leis criam deveres,
algumas atribuem direito, e nessas nã o há imposiçã o nem
coaçã o.
• Coercibilidade: Serve para indicar que a força será utilizada,
apenas em caso de desobediência, como garantia do
cumprimento da norma e nã o como instrumento banal.
• Exterioridade: Para o Direito sã o relevantes as ações e nã o os
“pensamentos”. Nã o faz juízos de valor em relaçã o à atitude
interior das pessoas, salvo algumas exceçõ es. O que levou a fazer
alguma coisa? É punível? (ex. Homicídio: premeditado?
In/voluntá rio?)
• Mínimo ético: O Direito como parte da moral. Todas as normas
jurídicas sã o morais, nem todas as normas morais sã o jurídicas.

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O direito limita-se a impor as regras morais bá sicas cuja
observâ ncia é indispensá vel para que na vida social exista paz,
liberdade e justiça.
Criticas: existem muitas normas jurídicas que nã o se baseiam em
princípios éticos. Da mesma forma que há comportamentos
éticos, censurados ou proibidos pelo direito. (ex. Paciente deixar
a seu médico uma herança)

Pontos comuns:
Direito costumeiro – nã o está escrito mas é uma regra que rege em
algumas regiõ es, criada espontaneamente pelo povo. (aldeias por
exemplo)

Distinçã o entre direito e usos sociais: Usos sociais sã o


comportamentos considerados corretos pela sociedade mas que nã o
têm valor jurídico.
A raiz do direito consuetudinário está nos usos sociais.

O Direito e a força/coação:

Força institucional: Legitimada pela lei, aplicada pelas instituiçõ es


sociais e proporcional à s açõ es.
O direito regula o espaço de liberdade de cada um. Se houver
incumprimento das normas, este está a amplificar a sua liberdade, à
custa da dos outros. Neste caso o Direito recorre à força para retornar
ao estado inicial. A força visa anular o efeito deste incumprimento. –
repor o status quo

A força ou a coercibilidade, “nã o especifica o Direito no plano de ser,


nã o o determina no seu conteú do e, portanto, nã o faz parte da sua
essência”. “Nã o é da coercibilidade que resulta a juridicidade da norma,
mas que, inversamente, a coercibilidade ou a legitimidade da coaçã o
deriva da norma ser uma norma de Direito”. = O Direito nã o se define
pela coercibilidade, mas ela é resultante da natureza do Direito –
Vigência – sem coaçã o seria o Direito vigente?

O Direito legitima e impõ e limites à força.

Distinçã o entre direito e moral e pontos de ligaçã o entre eles: Existem


alguns artigos no có digo civil que ....
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• Macroestrutura – as grandes divisões do Direito
Direito objetivo e direito subjetivo
Direito objetivo: “um conjunto de regras gerais e abstratas que
organizam a vida em sociedade sob os mais diversos aspectos, (...)
definem o estatuto das pessoas e regulam as relações entre elas. “
Direito subjetivo: “posições de privilégio, faculdades ou poderes que,
por aplicação das regras de direito objectivo, são atribuídas a pessoas
determinadas, uma vez verificados certos eventos (factos jurídicos)
previstos naquelas mesmas regras”.

Direito Público vs. Direito Privado:

A divisã o suprema tradicional do universo jurídico é aquela que


distingue entre Direito Pú blico e Direito Privado.
Relevâ ncia prá tica “para efeitos da responsabilidade e para efeitos da
escolha da via judiciá ria”.

Direito privado: “regula as relaçõ es jurídicas dos privados entre si” ou


entre cidadãos e o Estado em questões individuais.
Visa e protege a preservaçã o da liberdade de atuaçã o do individuo,
ficando responsá vel pelas consequências das suas açõ es.

Direito público: “regula as relaçõ es das entidades pú blicas entre si”,


estabelece regras de funcionamento e “regula as relações entre elas e
os cidadãos (já não particulares)”
Visa e protege os interesses da comunidade em geral, superiores aos
articulares, o bem comum e o poder publico.

O Estado pode ser visto como “comunidade política pré ordenada ou


supra-ordenada em relação à sociedade”.
A justaposiçã o do Estado e da sociedade contribui para dificultar a
delimitaçã o entre o direito pú blico e o direito privado.
Muitas vezes as entidades pú blicas administrativas atuam como
particulares para alcançarem os resultados jurídicos desejados.
Conflitos entre uma entidade pú blica e uma privada: Tribunal
administrativo ou comum?

Formas de decisão entre direito público e privado

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- Teoria dos interesses: Alguma coisa é pedida ao tribunal
fundamentada numa norma. O advogado/jurista interpreta essa norma
para saber se visa predominantemente: a proteçã o ou persecuçã o de
interesses pú blicos (875 cc) ou a proteçã o ou persecuçã o de interesses
privados. (o dever de fundamentaçã o dos atos administrativos,
imposta à s entidades pú blicas para a proteçã o de entes privados.
Criticas:
- É difícil determinar o interesse predominante
- Há muitas normas consideradas de interesse privado, mas na praticas
visam a proteçã o de um ente publico
- Há muitas normas de direito fiscal publico que visam a proteçã o de
um ente privado
- Teoria da supra e infra-ordenação (teoria da posição relativa dos
sujeitos):
Se entre os 2 sujeitos da relaçã o jurídica, existir uma relaçã o de
paridade (ao mesmo nível) temos uma relaçã o de direito privado. Se
um dos sujeitos tiver uma posiçã o de supremacia em relaçã o ao outro
temos uma relaçã o de direito publico.
Supremacia - poder de criar deveres na esfera jurídica de outra pessoa
sem o seu consentimento.
Críticas:
- Há muitas relaçõ es de direito publico que estã o em relaçã o de
paridade
- Há muitas relaçõ es de direito privado em que existe poder de
supremacia
- Há relaçõ es em que existe supremacia do direito pú blico em relaçã o
ao privado, mas nã o deixa de ser direito privado.
- Teoria de sujeitos (Qualidade dos sujeitos)
Há que interpretar a norma proposta para perceber se esta é de
aplicaçã o geral (qualquer pessoa pode invocá -la) – direito
privado/comum,
Ou se só pode ser invocada por quem tenha características publicas
(dotado de autoridade publica), entã o é direito publico.

Jus imperii – autoridade pú blica, cujos dois maiores poderes sã o o


tributá rio e o penal

Críticas:
- É essencialmente formal

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Graus de Direito Público:
• Direito da Uniã o Europeia (entre os países – harmonizar direitos
de cada país)
• Direito Internacional Publico (relaçõ es entre os estados,
organizaçõ es internacionais (ex. ONU))
• Direito Constitucional – as relaçõ es entre os vá rios ó rgã os de
soberania e o processo de criaçã o de normas. Valores
fundamentais
• Direito Administrativo – o funcionamento do poder executivo do
estado, governo, régios autó nomas, e autarquias locais.
• Direito Penal – Tipifica os crimes e as penas associadas aos
mesmos. O que prejudica a paz social.
• Direito Financeiro – Complexo de normas que regulam a recolha,
gestã o e aplicaçã o dos meios financeiros pú blicos, provenientes
dos impostos e taxas, receitas patrimoniais e empréstimos
pú blicos.
• Direito tributá rio – Regula a obtençã o das receitas
coativas (impostos e taxas) de montante fixado
• Direito Fiscal – Normas que regulam a
incidência, o lançamento, e a cobrança de
impostos.
• Direito Contraordenacional – Pagamentos de coimas.
• Direito Processual Civil/ Penal/ Administrativo/ Tributá rio –
Regula a tramitaçã o do processo – dita o procedimento do
processo.
• Direito da concorrência/da regulaçã o: Concorrência - Normas de
funcionamento do mercado (entre empresas). Regulaçã o –
Estabelece quem regula e o que regula.

Graus de Direito Privado:


• Direito Civil – Regula os aspectos gerais da vida de um individuo
desde a nascença até à morte. LER em casa
efeitos da morte
constituiçã o da família
contractos entre particulares
termos da maioridade – direitos e obrigaçõ es, etc.
• Direito Comercial – distribuiçã o de bens, compra e venda.
Comercio industrial
• Direito das sociedades comerciais – regula a constituiçã o e
o funcionamento destas
• Direito Bancá rios – Regula a atividade bancá ria

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• Direito dos valores mobiliá rios – regula a emissã o e a
comercializaçã o de valores mobiliá rios (açõ es, obrigaçõ es,
etc.)
• Direito dos Seguros
• Direito do Trabalho – os direitos e obrigaçõ es emergentes do
contrato individual de trabalho, as relaçõ es colectivas de
trabalho, e certos contratos específicos.
- Direito do Consumo – Regula os direitos e deveres dos
consumidores. Consumidor = a pessoa singular que adquire
bens para seu consumo pessoal de um profissional
• Direito da Propriedade Intelectual – Relativo a ideias e as suas
traduçõ es físicas/materializaçã o. Poder de uso exclusivo de
determinadas ideias.
• Direito Internacional Privado – Regula a escolha da lei aplicada
quando há um conflito de interesses entre entidades privadas de
diferentes países – Dizem qual o ordenamento que deve
prevalecer na resoluçã o de conflitos de interesses

• Microestrutura do Direito

Norma Jurídica

2 grandes aspetos:
- Criaçã o das normas (por juristas)
• Explicar aos tribunais como estas vã o ser aplicadas

Norma legal: Estabelece um critério de qualificaçã o e de decisã o para


a resoluçã o de conflitos concretos.

Criaçã o de normas: Fixar com o má ximo de clareza uma ideia abstracta


ou geral que visa abranger o má ximo de casos com o mesmo
fundamento.

Normas ≠ factos: Na norma sã o descritas categorias de conflitos de


interesses, e nela emprega conceitos jurídicos=dados normativos.

Estrutura e noção da norma jurídica

(Estrutura típica da norma):

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• Hipótese legal/Previsão legal/Facti-species: descreve o
“modelo” de situaçã o de facto, o facto ou conjunto de factos, ou
dados normativos, a situaçã o típica da vida, cuja verificaçã o em
concreto desencadeia a consequência jurídica fixada na
estatuiçã o.
• Estatuição: Estatui/contém a soluçã o/consequência jurídica
para o caso.
• Atribuiçã o de Direito ou deveres
• Modificar Direitos ou deveres
• Extinguir Direitos ou deveres

Silogismo jurídico:
• Premissa maior: a norma
• Premissa menor: a situaçã o concreta aplicá vel à norma
• Conclusã o: consequência jurídica prescrita na estatuiçã o da
norma

A hipó tese legal, ou “facti species” é o que permite identificar,


especificar ou determinar a diferença especifica das situaçõ es de facto
do ponto de vista do Direito
“Todos os conceitos utilizados pela lei sã o conceitos integrados num
contexto ou sistema conceitual especifico. (...) Neste sentido, todos eles
sã o conceitos normativos.”

“A norma jurídica ou obriga, ou faculta ou confere um direito


subjetivo.”

Características da Norma Jurídica

Características comuns a todas as normas:


• Imperatividade NÃO é comum a todas – atribuiçã o de direitos

• Generalidade – Aplicam-se a um conjunto (mais ou menos


indeterminado) de destinatários/pessoas
• Abstração – Nã o descreve casos concretos ou particulares. Sã o
para uma categoria de factos ou situações.
• Hipotecidade: Que se baseia em pressuposiçã o

Um preceito pode ter pluralidade ≠ generalidade


O destinatá rio pode ser uma determinada pessoa e ser geral. Ex.

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Presidente da República

Comando individuais e concretos, embora representem imperativos


tutelados por medidas coercitivas, não criam direito objetivo, sã o
apenas uma aplicaçã o deste.

Factos jurídicos

Facto jurídico: Um acontecimento natural ou ato humano que produz


efeitos jurídicos, sendo estes a constituiçã o, modificaçã o ou extinçã o de
situaçõ es jurídicas (direitos e consequentes obrigaçõ es.

“Um facto jurídico conduz à produção de efeitos jurídicos”, ou conduz à


aquisiçã o dum “status” ou qualidade jurídica

De facto jurídico – que tem relevâ ncia para o Direito - quando está
descrito numa norma – na Hipó tese Legal e vem alterar situaçã o prévia
(constituiçã o, modificaçã o e extinçã o de relaçõ es jurídicas/direitos
subjetivos e as correspondentes obrigaçõ es.
“Atos humanos, ou acontecimentos naturais sem efeitos jurídicos” =
factos ajurídicos, que têm significado social ou real mas juridicamente
irrelevantes porque estã o no “espaço livre de direito”.

Classificação de factos jurídicos (em relação à vontade)

Critérios: (Hipó tese legal)


• Factos naturais/não voluntários/puros factos jurídicos –
produz-se independentemente da vontade humana. (ex. A morte,
o nascimento, decurso de tempo, atingir a maioridade, prazos,
etc.)
• Factos voluntários/atos jurídicos/humanos - resultantes da
vontade, ainda que deficiente, duma pessoa. Nã o é preciso que a
vontade abranja de modo igual os seus efeitos. Estes podem ser
lícitos (de acordo com a ordem jurídica) ou ilícitos (contrá rios à
ordem jurídica)
• Atos materiais/reais/simples atos jurídicos: Atos nã o
declarativos, apenas a prá tica dum ato material/real. As
normas legais ditam as consequências ligadas a este tipo
de factos.

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• Declaraçõ es quase negociais: Atos com conteú do
declarativo. Aproximam-se de negó cios jurídicos. É quase
negociá vel porque há um controlo sobre parte das
condiçõ es. Nã o pode influenciar as consequências da açã o.
Podem ser de vontade (querer que algo aconteça) ou de
ciência (pronuncia se sobre a veracidade dum facto, refere
se a um facto histó rico). (ex. De vontade – passar um
cheque. De ciência – declarações de impostos)
• Negó cio Jurídico: Atos com conteú do declarativo. É Sempre
uma declaração de vontade. Os efeitos produzem se de
acordo com a vontade declarada. Configura os efeitos
jurídicos do ato.
Influencia as consequências da açã o.
• Contratos – 2 declaraçõ es de vontade
• 1 declaraçã o de vontade (ex. Testamento)

• Positivos: Açõ es que resultam numa alteraçã o de um estado de


coisas
• Negativos: Manutençã o do estado de coisas anterior (omissõ es)
• Simples: Consistem num só elemento
• Complexos: Consistem numa pluralidade de elementos
• Formaçã o simultâ nea
• Formaçã o sucessiva
• “Pró prios”: Agir em nome pró prio
• “Alheios”: Agir em nome de outro, representar.

Situação e relação jurídica


Situação jurídica: é traduzida pelos direitos e deveres que um
individuo tem num determinado momento. = relaçã o jurídica
Esfera jurídica.

Modificaçã o de uma situaçã o jurídica resultará quase sempre na


modificação de uma relação jurídica.

Relação Jurídica: Uma relaçã o regulada pelo direito em que sã o


constituídos direitos e deveres. Relação jurídica é a relação que se estabelece entre
duas ou mais pessoas e que está subjugada e ordenada pelo Direito, através da atribuição de
direitos e deveres aos envolvidos. A cada direito corresponderá, naturalmente, um dever e vice-
versa.

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Dever Jurídico
Obrigatoriedade de tomar um determinado comportamento + dever de
indemnizar se esse dever nã o for realizado. Pode ser um
comportamento positivo (uma açã o) ou negativo (uma omissã o).
Ónus Jurídico: Indica um conceito de encargo, de interesse exclusivo,
mas nã o necessariamente um dever. Neste um individuo tem a
possibilidade de adotar um comportamento, embora nã o seja
necessariamente obrigado a fazê-lo. Ficará , no entanto, numa
desvantagem se nã o o fizer.
Estado de sujeição: Numa determinada relaçã o jurídica, por vezes
uma parte está sujeita a aceitar modificaçõ es da relaçã o pela outra,
sem ter que consentir. (Contraparte do titular dum direito subjetivo)

Direito subjetivo (propriamente ditos): É um poder de exigir a uma


determinada pessoa um determinado comportamento (positivo ou
negativo).
Conteú do:
• Direitos de personalidade (absoluto) – Conteú do pessoal -Tudo
o que tem a ver com o espaço de liberdade pessoal de cada um -
manifestaçõ es da personalidade (direito à vida, à privacidade, ao
nome, etc.)
Na prá tica, se todos sã o obrigados a respeitar, todos podem
violar.
• Direitos de domínio (absoluto) – Conteú do patrimonial - O
direito de uso exclusivo de um determinado bem (corpó reo ou
incorpó reo/intelectual) de que é titular.
Na prá tica, se todos sã o obrigados a respeitar, todos podem
violar. Podem ser avaliados em termos pecuniá rios.
• Direitos de crédito (relativo) – O dever de colaborar com o
cumprimento de determinados contratos, aplicado apenas a
quem está neles envolvido. Normalmente comportamento
positivo. Credor (aquele que cobra), devedor (aquele que deve) e
prestaçã o.

Obrigaçã o passiva universal – toda a gente tem a obrigaçã o de


respeitar determinados direitos
Direitos Potestativos: resultam de relaçõ es jurídicas pré-existentes.
Grande parte deles modificam ou extinguem relaçõ es jurídicas.
Decisõ es unilaterais - exercidos através duma declaraçã o ou negocio

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jurídico. Inviolá veis.
O destinatá rio do exercício de direito está num estado de sujeiçã o.

Personalidade Jurídica - a idoneidade de uma pessoa poder ser titular


de direitos e obrigaçõ es/deveres.

Pessoas colectivas: organizaçõ es a que a nossa lei atribui


personalidade jurídica. Age como uma só pessoa. Só as que sã o pré
definidas na lei. – “A lei personifica determinado substrato
organizacional”.

Capacidade delitual (488 cc): A capacidade de distinguir se algo é


certo ou errado. “A capacidade para responder por factos elícitos”.
Presume-se que as pessoas adquirem esta capacidade aos 7 anos,
podendo ser provado que foi adquirida antes ou depois.
Dupla capacidade: Intelectual (de entender) e volitiva (de querer)

Os menores de idade nã o têm os mesmos direitos que os maiores,


sendo que para algumas açõ es ou para a celebraçã o de devidos
contratos, necessitam que uma entidade aja em nome deles:
Representaçã o legal: agir em lugar de, mas também decidir em lugar
de, um menor.

Há três atos de natureza pessoal em que os tutores legais nã o podem


representar os filhos: casamento (+16 anos com autorizaçã o dos pais
ou +18), perfilhaçã o (+16, querer ser declarado pai duma criança) ou
testamento (+18)
Aos 18 anos um indivíduo adquire a capacidade de exercício de
direitos.

Classificações das normas:

1o Critério: Autonomia privada

Norma imperativa/injuntiva: uma norma que nã o pode ser afastada


pela vontade do destinatá rio:
• Precetivas: normas que impõ em um comportamento
• Proibitivas: normas que proíbem um comportamento
Norma dispositiva/permissiva (exerce se quiser): uma norma que
pode ser afastada pela vontade do destinatá rio:
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• Facultativas/concessivas/atributivas: normas que atribuem uma
faculdade/poder/direito.
• Interpretativas: Normas que interpretam (atribuem sentido) um
comportamento ou declaraçã o duma pessoa. (237 cc)
• Supletivas: normas que visam suprir a falta de manifestação da
vontade das partes. Complementam a regulaçã o de um
contrato, na ocasiã o de ausência de especificidade, que sã o
assumidas como implícitas no contrato.

Por vezes um silencio, ou ausência de norma, nã o significa que as


partes querem que sejam utilizadas as novas supletivas, pode ser
que seja um esquecimento, e nesse caso constitui uma lacuna no
contrato.

2o Critério: Â mbito da validade ou aplicaçã o espacial

Normais locais: aplicam se na circunscriçã o de uma autarquia local


Normais regionais: aplicam-se nas regiõ es autó nomas da Madeira e
dos Açores
Normas universais: aplicam-se no territó rio do Estado (no país todo).
3o Critério: Â mbito pessoal da validade

Normais gerais: normas que estabelecem o regime regra (“go to”),


comum, para a matéria em questã o
Normas especiais: estabelecem um regime diferente do regime regra
Normas excecionais: consagram um regime exatamente oposto ao
regime regra (219º875º)

4o Critério: Plenitude de sentido

Normas autónomas: têm hipó tese legal e estatuiçã o


Normas nã o autó nomas ou remissivas: só tem ou hipó tese legal ou
estatuiçã o, e portanto, remetem para outra norma, para as completar

• Codificação e Técnicas Legislativas

Codificação

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Um có digo é uma lei em sentido material. Tem a força pró pria da lei
que o aprova ou na qual está contido. Pode ser uma lei da AR, um DL do
Governo ou qualquer outro diploma.
Os primeiros có digos surgem do final do século XIX. O Direito romano,
misturado com os usos e costumes (direito consuetudiná rio) de cada
regiã o/cidade/país e com a religiã o cató lica, era o que baseava o
funcionamento da sociedade desde a Idade média até ao Iluminismo.
Falta de objectividade.
Surge a teoria positivista de que o ú nico conhecimento que se obtém
nã o é especulativo, mas sim através da experiência e da aprendizagem
– A “Idade de Ouro” do cientismo. Os juristas consideraram entã o que
havia uma ciência no seu trabalho, ciência jurídica, e, portanto,
introduziram um método no Direito. As normas eram tratadas como se
fossem factos, e estas eram a essência e o ú nico conteú do do Direito,
apó s serem criadas pelo legislador e pelo Poder. Nã o se considerava
que fossem ou tivessem que ser baseadas na Justiça, mas sim na
Segurança.

A ciência do Direito tornou-se numa coisa formal, sendo a preocupaçã o


principal a coerência das normas e se foram criadas por alguém com
autoridade para tal.
Os resultados e repercussõ es desta ciência, foram os có digos –
Tratamento codificador.

Características:
• Regula de forma científico-sistemática (ordenado de acordo
com determinado critério, estrutura formal). O ordenamento tem
em conta uma base científica e é elaborado pela ciência jurídica.
• Unitária (trata duma determinada matéria, ex. Código civil –
direito civil)
• Lei
• Contém disciplina fundamental de uma matéria ou ramo
relativamente importante ou vasto do Direito.

Quando a lei regula de maneira unitá ria e sistemá tica uma matéria ou
ramo que nã o tem a dignidade, amplitude, ou estabilidade suficiente
para justificar a criaçã o dum có digo estatuto.
Vantagens:
• Estabilidade
• Facilitar o trabalho dum jurista – a construçã o científica do
Direito
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• Põ e em evidencia os princípios comuns, “as grandes orientaçõ es
legislativas, os grandes nexos construtivos e funcionais, assim
como a articulaçã o precisa entre os diversos institutos e figuras”
Críticas à codificação
• Existe o risco dos có digos rigidificarem e formalizarem o direito
(por vezes inadequada para resolver os problemas duma
sociedade em mutaçã o constante e acelerada)
• Desligam o Direito da realidade – regulamentaçã o casuística
• As leis que tinham intençã o de vigorar muitos anos passavam a
estar desfasadas da realidade e das concepçõ es da sociedade

O legislador passa a introduzir na lei conceitos propositadamente


vagos (indeterminados) para permitir que a lei vá sendo insuflada com
as concepçõ es modernas na sociedade. A tendência moderna é para
uma cada vez maior liberalizaçã o de costumes.
As matérias reguladas nos có digos, que sã o sempre “monumentos
legislativos destinados a longa duração” acabam sempre por ser objeto
de leis que lhes introduzem alteraçõ es leis avulsas ou extravagantes
O có digo é uma “Forma formadora que postula implementaçã o e, por
isso mesmo, complementaçã o. (...) Uma instituiçã o de forma viva (...)
có digo generativo cujas virtualidades carecem de ser desenvolvidas,
designadamente no plano da sua implementaçã o ou realizaçã o.”
“Forma generativa ou com virtualidade formadora, o có digo postula
adensaçã o e completude, complementaçã o e acabamento” corrigir-se a
si pró prio permeabilidade à evoluçã o social
Principais có digos
• Civil
• Penal
• Trabalho
• Có digo processual
• Constituiçã o
• Estrada

Técnicas Legislativas
As técnicas legislativas sã o usadas para:
• Evitar redundâ ncias
• Fazer um aproveitamento econó mico das normas, em termos de
linguagem. (maior conteú do em menos palavras)

17
Técnicas:
• O recurso a partes gerais: Técnica legislativa de sistematizaçã o
dos diplomas, que põ e em evidência “As disposiçõ es que sã o
comuns à s vá rias matérias a regular”
• Fixar/por em evidência as regras e conceitos comuns,
princípios gerias aplicá veis a todas as matérias reguladas
no diploma
• Evitar ter que repetir aquilo que é comum
• Resposta antecipada, “pré decisões”

A igualdade dos casos, quando se considere uma concreta situaçã o da


vida, só poderá evidenciar-se deixando de lado uma quantidade de
circunstâ ncias particulares “juridicamente irrelevantes” e fazendo
ressaltar outras como “juridicamente relevantes” Igualdade entre
casos quando se refere a um determinado “sistema” de critérios.

• Remissões: Normas remissivas/indiretas/de devoluçã o sã o


aquelas “em que o legislador, em vez de regular diretamente a
questã o de direito em causa, lhe manda aplicar outras normas do
seu sistema jurídico (…)”

Visa evitar a repetiçã o de normas

Quando uma remissã o é feita para o mesmo ordenamento jurídico –


intra-sistemática. Quando é feita para outro ordenamento/sistema
jurídico – extra-sistemática

Pode ser feita para a hipó tese legal (art 974º) ou para a estatuiçã o (art
692º, 694º, a 699º, etc.)

Remissã o à segunda potencia: remissã o para um norma que remete


pra outra norma.
Em cadeia: 2 ou mais remissõ es
Remissã o ampla:
• Remete para todo um conjunto de normas
• Funçã o integradora subsidiá ria Integradora porque visa suprir
lacunas, e subsidiá ria porque só é utilizada se nã o estiver
presente no 1o recurso

18
Relativamente a casos nã o regulados na lei —> disposiçõ es legais
extensã o dum instituto a casos nã o previstos na lei (ex. Aplicar as
regras do contracto de mandato a determinados contratos nã o
regulados de prestaçã o de serviços).
Os casos em que o legislador utiliza normas remissivas nã o sã o iguais,
mas aná logos. Assim, frequentemente consta a expressã o “com as
necessá rias adaptaçõ es” ou algo equivalente.

• Ficções legal (algo que nã o é real mas é concebível): Assimilaçã o


de duas situaçõ es de facto diferentes, para efeito de as sujeitar ao
mesmo regime jurídico, tendo a noçã o de que esta é artificial, ou
ficcionada. Estas funcionam como remissõ es implícitas. Exemplo

• Definições/enunciados legais: definem conceitos a nível


jurídico.
Estes enunciados legais nã o sã o normas autó nomas ou completas,
contêm partes de normas (disposiçõ es jurídicas incompletas) que hã o
de integrar disposiçõ es legais.
Tem cará cter prescritivo, e “compreende sempre uma vontade ou
intenção normativo”.

• Presunção legal:

“As ilaçõ es que o legislador retira dum facto conhecido para firmar um
facto desconhecido “(art 349º cc). – Objetivo: facilitar a prova do facto
ónus da prova, porque o inverte: “Quem tem a seu favor a presunçã o
legal escusa de provar o facto a que ela conduz” (art 350º1 cc). Basta
provar o acontecimento do facto conhecido.
Presunçõ es legais (prevista numa norma) sã o as que estã o previstas na
lei. Podem ser relativas ou absolutas:
• Relativas (iuris tantum): admitem prova em contrá rio
• Absolutas (iuris et de iure): nã o admitem prova em contrá rio
(1260º3)
• A presunçã o é relativa a menos que o legislador tenha exprimido
explicitamente que nã o podem haver provas em contrá rio.
“Sempre” (350º2)

Presunçõ es Judiciais(naturais/simples/de facto/de experiencia):

19
Só sã o admitidas nos casos em que se admite prova testemunhal.
Admitem simples contraprova, ao passo que as presunçõ es legais só
admitem, nos casos em que isto é verdade, prova em contrário.
As presunçõ es judiciais inspiram-se nas regras da experiência, nos
juízos correntes de possibilidade, nos princípios da ló gica ou nos
pró prios dados da intuiçã o humana. Se existirem provas que ataquem
um dos fundamentos da presunçã o judicial, esta deixa de ser utilizada.
O legislador recorre pontualmente a conceitos indeterminados para
permitir ao tribunal (juiz) chegar à soluçã o mais justa, e para permitir
a permeabilidade do sistema jurídico à evoluçã o social, cultural,
mentalidades (alteração dos bons costumes), etc.

• Conceitos indeterminados:
• Conceitos que têm um cará cter vago , carecem de
preenchimento valorativo. O juiz tem que avaliar se aquele
conceito é ou nã o aplicá vel. Têm que ser concretizados em
cada caso concreto. Ex. Boa fé, bons costumes, interesse
pú blico, justa causa, etc. Dentro destes estã o incluídos os
conceitos gradativos: o julgador, ao aplica-los, tem que
proceder a uma graduaçã o. Ex. Culpa grave, leve, levíssima.
• Enunciados legais que remetem para dados e regras da
experiência com um conteú do flexível. Ex.“Preço de
mercado”
Vantagens:
• Adaptaçã o do Direito à realidade
• Adaptaçã o do Direito à s evoluçõ es sociais, morais, culturais,
econó micas, politicas, etc.
• “Individualizaçã o” da soluçã o
• Mais adequado para julgar situaçõ es ou temas mais complexos.

Desvantagens:
• Mais subjetividade/incerteza/insegurança/imprevisibilidade
• Sã o pouco pedagó gicas

• Cláusulas gerais: Normas (nã o conceitos, em relaçã o ao


anterior) que têm um conteú do muito vago, que normalmente se
exprimem através de conceitos indeterminados. Aplicaçã o
ampla, nã o regulam tipos de casos especialmente determinados.

20
Vantagens:
• Adaptaçã o do Direito à realidade
• Permitem ao tribunal (juiz) chegar à soluçã o mais justa
• Permitem a permeabilidade do sistema jurídico à evoluçã o
social, cultural, mentalidades (alteração dos bons costumes), etc.
Desvantagens:
• Mais subjetividade/incerteza/insegurança/imprevisibilidade
• Menos segurança
• Sã o pouco pedagó gicas

Beneficiam muitas vezes de enumeraçõ es para concretizar os casos em


que a norma por ventura se aplicaria, e assim ajudar o julgador a
comparar a açã o a ser julgada com as enumeraçõ es.

Enumeraçõ es exemplificativas

(exemplos de situaçõ es em que a norma se pode aplicar, usados em


clá usulas gerais)
• Determinar os casos em que nã o há qualquer dú vida que aquela
norma se aplica
• O legislador dá ao tribunal mais indicaçõ es sobre aquilo que ele
avalia como suficientemente grave para aplicar a norma.

Os conceitos indeterminados opõ em-se aos conceitos


determinados/tipificados/. As clá usulas gerais opõ em-se à s normas
tipificadas. Da mesmo forma, as enumeraçõ es exemplificativas opõ em-
se à s enumeraçõ es taxativas.

Regulamentação casuística ou tipificada: Limita-se a prever e


regular grupos de casos especificados, através da tipificaçã o dos
pressupostos (hipó tese) da consequência jurídica

Enumeraçõ es taxativas (regulamentaçã o casuística): restringe o


tribunal aos exatos acontecimentos que justificam a aplicaçã o
determinada jurídica. Nã o permite margem de apreciaçã o.

Desvantagens:
• Inadequada pela complexidade da matéria, das relaçõ es sociais,
da mutaçã o social, etc.
• Corre o risco de cometer omissõ es:

21
• 1) O legislador pode nã o compreender nas suas hipó teses
todas as situaçõ es da vida carecidas do mesmo tratamento
jurídico. Lacunas de regulamentaçã o
• 2) O legislador pode abranger nas suas hipó teses situaçõ es
ou casos que reclamariam por sua natureza um tratamento
especial ou excepcional. Lacunas de exceçã o.
Vantagens:
• Pedagó gica
• Traz segurança/certeza
• Tende ser lacunosa por força da imprevisibilidade de certos
casos e mutaçã o social e por força das omissõ es.

• A Tutela do Direito (e tutela dos direitos subjetivos)

A Tutela do Direito divide-se em dois grandes grupos:


• Tutela preventiva: visa evitar a violaçã o do Direito. Tem grande
relevo a intervençã o da autoridade pú blica no exercício da
atividade dos particulares com vista a evitar danos sociais.
Exemplos:
• Inibiçã o para a prá tica de determinada atividade ou o
exercício de certas profissõ es. Exemplo.
• Medidas de Segurança - aplicá veis a inimputá veis (que nã o
têm capacidade delitual) perigosos
• Providência Cautelares – visam acautelar o efeito ú til de
uma açã o já proposta ou a propor.

• Tutela reativa: Reagem perante uma violaçã o do Direito que já


ocorreu. Diferentes formas de reaçã o:
• Tutela compulsiva ou compulsória: Visa pressionar,
compelir, forçar o violador da norma a adotar o
comportamento devido (que até aí foi omitido)
Exemplo:
• Direito de retençã o (754º ss)
• exceçã o de nã o cumprimento de contrato (428º ss)
• sançã o pecuniá ria compulsó ria (829ºA)
• previsã o de pena de prisã o para o incumprimento de
obrigaçõ es de alimentos devidas por progenitores a
filhos menores
• Tutela reconstitutiva, reparadora ou ressarcitória: Visa
colocar a pessoa lesada com a violaçã o do Direito na

22
situaçã o em que estaria se a violaçã o nã o tivesse ocorrido.
(483º1 562º)
• Reconstituiçã o natural (em espécie) (566º1)
Prevalência da reconstituiçã o natural
Ex. Apreensã o do bem para entrega ao proprietá rio,
restituiçã o do bem ao estado anterior à violaçã o do
direito, reparaçã o do bem danificado

Quando esta: nã o é possível OU nã o repara


integralmente os danos OU é excessivamente
onerosa:
• Reconstituiçã o por equivalente – soma pecuniá ria
que cobre – danos emergentes (imediatos/diretos),
danos cessantes (indiretos-oportunidades possíveis
perdidas “o que razoavelmente deixou de ganhar”)
• Podem ser danos patrimoniais e danos nã o
patrimoniais/danos morais
• Tutela punitiva: tem como finalidade castigar; obrigar o
violador da ordem jurídica a suportar um mal. Fá -lo por
via de uma sançã o:
• Penal - Crime
• Civil – ex. 2034º cc – Causas de incapacidade
sucessó ria por indignidade
• Disciplinar – despedimento por justa causa
• Tutela traduzida em recusa de efeitos: Invalidade de
determinados negó cios jurídicos – Sã o frustrados os
efeitos visados pelo infrator com a violaçã o do Direito.
ex. 1601º - impedimento dirimente absoluto – casamento
invá lido
• Anulabilidade: violaçõ es menos graves
- 1 ano a contar do conhecimento
- Invocada apenas por um circulo limitado de
pessoas interessadas – pessoas legitimadas –
interesse estabelecido pela lei
Nulidade: (220º) – violaçõ es mais graves
- Invocá vel a todo o tempo
- Por qualquer interessado – De conhecimento
oficioso dos Tribunais
• Ineficá cia – normalmente parcial – dos efeitos
jurídicos

Divide-se também em:

23
• Heterotutela ou tutela pública: (202º CRP)
• Administrativa
• Judiciá ria, jurisdicional, judicial Tribunais – “administrar a
justiça em nome do povo”;
“defender atos e interesses legalmente reconhecidos”;
“reprimir a violaçã o da legalidade”; “Dirimir (resolver)
conflitos de interesses (pú blicos e privados)”
• Os tribunais sã o guiados por dois princípios
fundamentais, que sã o complementares: (203º)
• Principio da independência (216º1,2)
– Inamovibilidade dos juízes – Só podem ser
movidos, em abrigo da lei.
- Irresponsabilidade dos juízes
• Principio da imparcialidade “apenas estão
sujeitos à lei (e ao Direito)”
- Princípio de autogoverno (215º + 217º) – “formam um corpo
único, e regem-se de acordo com o seu próprio estatuto”
- Incompatibilidades (216º3,4): nã o podem desempenhar outras
funçõ es publicas ou privadas remuneradas, salvo as que estã o
contidas no artigo.
- Impedimentos: Juízes têm o dever de declarar-se impedido de
julgar uma açã o em que tem um conflito de interesses, e quando
nã o o faz, uma das partes pode pedi-lo.

• Autotutela ou tutela privada. Recurso (em principio vedado


pela entidades com autoridade) à força pró pria para prevenir a
violaçã o do Direito ou reagir a essa violaçã o. Esta é excecional
• Legitima defesa (337º)
• Estado de necessidade (339º)
• Açã o direta (336º)
 mbito contratual
• Direito de retençã o (754º)
• Exceçã o e nã o cumprimento de contrato (428º)
Pg 127 ultimo paragrafo BM – meio compulsivo interessante
sançã o pecuniá ria compulsó ria

Instancias Alçada Tribunais Tribunais

24
dos judiciais ou administrativos e
Tribunais comuns fiscais
1ª instâ ncia <5,000€ Tribunal 1º Instancia
Comarca
2ª Instâ ncia >5,000€ Tribunal da T. da Relaçã o
Relaçã o Tribunal Central
Administrativo
Supremo >30,000€ STJ - Justiça STA - Administrativo
Tribunal

Tribunal Constitucional – Competência pró pria


Administra a justiça:
• Controlo da constitucionalidade das leis
221ºCRP:
• Fiscalizaçã o por via abstrata Preventiva ou Sucessiva
• Fiscalizaçã o por via concreta

• As Fontes do Direito
Noção
As fontes do Direito referem-se aos modos de produçã o e
exteriorizaçã o de normas jurídicas = Modos de criaçã o e revelaçã o de
normas jurídicas
“a questão de saber o que constitui o direito como direito”.

Classificações

Fontes intencionais/voluntárias

Sã o fontes que pressupõem um ato explícito de criaçã o normativa

Fontes não intencionais/não voluntárias/espontâneas

Sã o fontes que não pressupõem um ato explícito de criaçã o


normativa
Ex. Princípios fundamentais; costumes; usos; equidade

Fontes imediatas

Valem por si pró prias (pelas suas características) como fontes de


Direito Têm força normativa própria
25
Ex. Lei, princípios fundamentais de Direito (primeiras manifestaçõ es
da força de Justiça, supra-positivos)

VER JBM

Normas imanentes Racio

Lei Normas Legais

Fontes mediatas

Nã o valem (nã o vinculam) por si pró prias Não têm força normativa
própria Necessitam de um mediador (em regra a Lei), que lhes
atribui força normativa
Só valem como fonte de Direito (só têm força vinculativa) se a lei lhes
reconhecer essa força

Enunciado geral (elenco tradicional)

• Lei
• Costume
• Jurisprudência
• Doutrina
• Princípios fundamentais de Direito
• Usos
• Equidade

Fontes de Direito

Doutrina:
• Estudos, pareceres, elaborados pelos jú ris consultus
(especialistas em Direito); interpretaçã o de normas e articulaçã o
de regimes jurídicos.
• Contributo importante e auxílio aos legisladores
• Nã o ditam normas jurídicas
Jurisprudência:

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• Conjunto das decisõ es do tribunal. Nã o vinculam aquele tribunal
em situaçõ es futuras, outros tribunais, as entidades pú blicas,
nem os particulares que nã o sejam parte no caso submetido a
julgamento.
• Têm força vinculativa apenas no â mbito do caso julgado – as
partes intervenientes no caso concreto
• No nosso sistema não vigora a regra do “Precedente Judiciá rio”

Usos: prá ticas sociais reiteradas e constantes (corpus) artº3 cc – valor


dos usos
• Fonte mediata

Equidade: um critério de resoluçã o de conflitos de interesses que faz


apelo à justiça do caso concreto.
Decisã o segundo a equidade: atenda à s circunstâ ncias de que
normalmente a lei quer abstrair.
Os tribunais, em geral, julgam segundo o direito estrito (lei, normas
gerais abstratas). Em casos concretos em que o legislador quer uma
adaptaçã o do Direito a uma situaçã o especifico, considerando os
aspetos todos. Exemplo
• Fonte mediata (artº4 cc)

Princípios fundamentais: concretizaçõ es da ideia de Direito ou da


ideia de Justiça:
• Têm cará cter supra u e supra constitucional: vinculam o pró prio
legislador constituinte
• Cará cter tendencialmente universal
• Fonte nã o intencional, imediata, nã o voluntá ria

Costume: Prá tica social constante, acompanhada do sentimento ou


convicçã o da obrigatoriedade da norma que lhe corresponde.
• Fonte de direito consuetudiná rio
• Fonte nã o intencional
• Fonte mediata
O có digo civil exclui o costume como fonte imediata de direito, apenas
admitindo que os usos tenham relevâ ncia jurídica quando a lei para
eles remeta.
“não nos parece em princípio admissível que a lei (...) positivada (pelo
menos a lei ordinária) tenha legitimidade para excluir a juridicidade de
normas consuetudinárias nascidas diretamente da comunidade social”

27
No Direito Internacional Publico, o costume internacional continua a
ser uma importante fonte do direito.

Lei: Fonte quantitivamente mais relevante


• Sentido formal: Diploma produzido pela Assembleia da
Repú blica
• Sentido material: Todas as disposiçõ es com cará ter geral e
abstrato emitidos por ó rgã os competentes: DL, Regulamento,
Decreto Regulamentar, Despacho normativo

Entrada em vigor/Inicio de vigência (IV) Publicaçã o Momento


relevante para o inicio de vigência das leis (artº5º cc)

Um diploma nunca entra em vigor na data da sua publicaçã o


IV imediato = IV no dia a seguir ao da publicaçã o
Vacatio Legis Intervalo temporal entra a publicaçã o e o inicio de
vigência
Pode ser fixada pela pró pria lei:
• Imediato
• 1 mês
• 1 ano
Quando a lei nã o fixa: 5 dias (artº2nº2 lei 74/98) Prazo conta-se a
partir do dia seguinte ao da publicaçã o

Cessação de vigência – 2 causas:

• Caducidade - a lei “cai” por si pró pria:


• A pró pria lei estabelece desde inicio o seu tempo de vigência
têm cará cter temporá rio
• O facto que a lei se destinava a regular deixa de
existir/desaparece

• Revogaçã o – a lei deixa de vigorar por força do IV de outra lei:


• Expressa: a lei nova determina explicitamente a cessaçã o de
vigência da lei antiga
• Tá cita:
- A lei nova (LN) vem regular toda a matéria regulada pela lei
antiga (LA), esta “vem ocupar” todo o espaço que pertencia à
lei antiga – substituiçã o global
- A lei nova vem estabelecer regras contrá rias à s da lei antiga

Conflitos entre normas: Critérios de resolução

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• Critério da Hierarquia lex superiori derogat legi inferiori

Se duas normas em conflito forem de valor hierá rquico diferente,


prevalece a norma de plano/valor hierá rquico; prevalece a norma
de plano superior. Exemplo

• Critério da Posterioridade (mesmo valor hierá rquico) lex posteriori


derogat legi priori

Se duas normas, no mesmo plano, estiverem em conflito; prevalece


a mais recente. Execeçã o:

• Critério da Especialidade lex specialis derogat legi general

Se duas normas, no mesmo plano, estiverem em conflito, se uma for


geral e outra especial; prevalece a norma especial, mesmo que a
norma geral seja mais recente

• PARTE V – Interpretação e integração de lacunas


Noção
“Interpretar consiste evidentemente em retirar do texto (disposiçã o
legal) um determinado sentido ou conteúdo de pensamento.”
O texto comporta mú ltiplos sentidos (polissemia) e contém com
frequência expressõ es ambíguas. O jurista visa fixar o sentido e o
alcance com que o texto deve valer. Devem ser fixados da maneira que
“garanta um mínimo de uniformidade de soluções”.

Interpretação autêntica:
• realizada pelo mesmo ó rgã o que emitiu a lei
• com força da lei através duma nova lei, sem conteú do inovador
lei interpretativa Serve apenas para fixar o sentido de uma lei
anterior.

Interpretação doutrinal:
• Elemento gramatical/literal (/ letra da lei/ texto da norma):
• Ponto de partida de interpretaçã o:
• Funçã o negativa: o texto permite excluir sentidos
que ele nã o comporta
• Funçã o positiva: o texto aponta para um sentido:
• O texto só comporta um sentido

29
• O texto comporta mú ltiplos sentidos
(polissemia), sendo que aponta para um
sentido como o mais frequente ou mais
comum
• Limite: Art.9º,nº2: Nã o pode ser considerado pelo
intérprete o pensamento legislativo que nã o tenha na letra
da lei um mínimo de correspondência verbal, ainda que
imperfeitamente expresso.

Teoria da alusã o: O intérprete nã o pode fixar um sentido a


que a norma nã o faça minimamente alusã o
O sentido fixado tem que ser um dos sentidos
literais/textuais

• Elemento lógico: Espírito da norma/lei (pensamento legislativo)


Procurar a norma imanente à norma positivada. Três sub-
categorias:

• Elemento racional ou teleológico a razã o de ser da norma:


• Que tipo de interesses estã o presentes na norma
• Como é que estã o ponderados e hierarquizados
• A que tipo de problema a norma pretende responder
• Teleologia = finalidade visada pela norma

“Occasio legis” As circunstâ ncias histó ricas, politicas,


econó micas, sociais que determinaram a feitura da norma

• Elemento sistemático Lugar ocupado pela norma no sistema


jurídico (coordenadas de localizaçã o da norma – nã o escrever
isto)
• Contexto da lei
As normas “vizinhas”; pertencem ao mesmo instituto
• Lugares paralelos
Outras normas do sistema, pertencentes a outros institutos
mas que regulam questõ es de direito (tipos de conflito de
interesse) semelhantes

• Elemento histórico todo o percurso feito pelo legislador


• Evoluçã o Histó rica da norma e do instituto (em que está
inserida)
• Fontes da lei: textos legais, doutriná rios e jurisprudenciais,
de outros sistemas jurídicos, que inspiraram o legislador

30
• Trabalhos preparató rios: Os elementos imediatamente
anteriores à feitura da norma:
• Estudos legislativos: Encomendado a um grupo de
especialistas
• Anteprojetos: Projeto inicial de diplomas
• Atas da discussã o no parlamento

A querela dos métodos (pg177-181) Discussã o metodoló gica


subjacente à questã o da interpretaçã o das normas

Duas correntes:

• Subjetivista (subjetivismo interpretativo):


Interpretar = Procurar determinar a “mens legislatoris” (o
pensamento do legislador) procurar o sentido que o legislador
lhe quis atribuir
• Respeita o principio da separaçã o de poderes
• Cria segurança
• Objetivista (objetivismo interpretativo)
Interpretar = Procurar determinar a “mens legis” (o pensamento
da pró pria lei Descobrir a racionalidade intrínseca à pró pria
norma – A norma tem uma vida pró pria autó noma da intençã o
do legislador.
• Atribui um papel “criador”/atualizador das normas aos
tribunais
• Cria Justiça

HISTORICISMO E O ATUALISMO

Resultados da interpretação (segundo a doutrina tradicional)

• Interpretação declarativa: O intérprete elege um sentido para a


norma que é muito próximo do seu sentido literal (textual) –
Conclui que a letra da lei e o espírito da lei estão em sintonia.
Corresponde ao seu sentido textual mais comum.

• Interpretação extensiva: O intérprete conclui que:


Há falta de sintonia entre a letra da lei e o espírito da lei Que
a letra da lei diz menos do que queria dizer
A letra da lei fica aquém do espírito da lei/abrange menos

31
situaçõ es do que devia

Entã o, o intérprete estende a letra da lei para a fazer coincidir


com o espírito. Alarga o âmbito de aplicação da letra da lei.
Uma prevalência do elemento ló gico sobre o elemento gramatical
(espírito > letra) “Sacrifício da letra da lei”

Argumentos:
• A pari = argumento de identidade de razão = onde a
razã o de decidir for a mesma, a mesma deve ser a decisã o
• A fortiori = argumento de maioria de razão = se uma
decisã o tem subjacente uma determinada razã o de decidir,
a mesma decisã o deve valer nas situaçõ es em que estejam
presentes razõ es mais fortes.

• Interpretação Restritiva: O intérprete conclui que:


Há falta de sintonia entre a letra da lei e o espírito da lei
Que a letra da lei diz mais do que queria dizer
A letra da lei foi para além do espírito da lei/abrange mais
situaçõ es do que devia

Entã o, o intérprete restringe, limita, a letra da lei para a fazer


coincidir com o espírito. Diminui o âmbito de aplicação da
letra da lei.
Ex. 494º Mera culpa, erro grosseiro – negligencia (?) Grave

Argumentos:
• Lá onde termina a razão de ser da lei, termina também a
sua aplicação

• Interpretação ab-rogante ou revogatória: “Corretiva”. O


intérprete conclui que:
Há total falta de sintonia entre a letra da lei e o espírito da
lei
Vai eliminar segmentos ou toda a norma

• Interpretação enunciativa: O intérprete retira de uma norma


um ou mais preceitos (subnormas) que nela estã o virtualmente
contidos – Explicitaçã o de normas
Através de inferências ló gico-dedutivas:
• A lei que permite o mais também permite o menos – “A
maiori ad minus” Normas dispositivas/permissivas

32
• A lei que proíbe o menos também proíbe o mais – “A minori
ad maius” Normas imperativas/dispositivas
• Argumento “a contrario (sensu)” – O intérprete parte de
uma norma excecional para retirar dela um preceito geral
(aplicá vel a todas as situaçõ es nã o previstas na norma
excecional) de sentido contrá rio.

288ºnº1 (...) E a nulidade também? NÃ O, exceçã o

Em toda a interpretaçã o, o interprete é sempre limitado pelo texto.


Limite: Art.9º,nº2: “Não pode ser considerado pelo intérprete o
pensamento legislativo que não tenha na letra da lei um mínimo de
correspondência verbal, ainda que imperfeitamente expresso.”
Teoria da alusã o: O intérprete nã o pode fixar um sentido a que a norma
nã o faça minimamente alusã o
O sentido fixado tem que ser um dos sentidos literais/textuais

Novos resultados da interpretação


(/Novos desenvolvimentos metodoló gicos/Desenvoluçã o do Direito
para lá da lei/Desenvolvimento para lá da lei)

A interpretaçã o é a descoberta (a indagaçã o) das normas imanentes à s


normas positivadas
O intérprete nã o está submetido ao limite do art.º9nº2, os novos
resultados nã o respeitam a teoria da alusã o

• Extensã o teleoló gica Há falta de sintonia entre a letra da lei e o


espírito da lei. A letra da lei nã o abrange casos/situaçõ es que o
espírito da lei quer abarcar
Extensã o: O intérprete aplica uma norma a casos/situaçõ es que o
texto dessa norma nã o prevê, que nã o se enquadram nos
sentidos literais possíveis mas que sã o abrangidos pelo sei
espírito. Ratio legis razã o de ser da norma
• Reduçã o teleoló gica Há falta de sintonia entre a letra da lei e o
espírito da lei. A letra da lei (mesmo depois de ter sido
interpretada restritivamente) abrange casos/situaçõ es que o
espírito da norma nã o aceita/nã o quer abranger

Integração/preenchimento/colmatação de lacunas

Proibiçã o de non-liquet (nã o está claro, nã o há lei aplicá vel) – Artº8,


33
nº1
Lacuna:
• Situaçõ es nã o reguladas pela lei (nem em texto nem em espírito)
• Situaçã o juridicamente relevante (merecedora de tutela pelo
Direito) As situaçõ es que interessam ao Direito ≠ Espaço a-
jurídico, este espaço, os assuntos irrelevantes para o Direito, sã o
determinados no tempo e no espaço, a consciência jurídica
evolui consoante a mudança social

Procedimentos metodoló gicos de integraçã o (Artº10cc):

• Recurso à analogia – 10º1/10º2


Aplicar ao caso omisso as normas previstas para um caso
aná logo (caso regulado pela lei que apresenta semelhança,
paralelismo, isomorfismo, em relaçã o ao caso omisso/lacuna)

• Criaçã o de norma “ad hoc” – 10º3


Na falta de caso aná logo, o intérprete formula uma norma:
- como se fosse legislador, em termos gerais e abstratos
- respeitando o princípio da unidade e coerência ló gica
A norma assim formulada é aplicada ao caso concreto
• nã o vincula decisõ es futuras
• esgota o seu poder vinculante na aplicaçã o de
aquele caso concreto

• Aplicação das leis no Tempo


Resolução de conflitos de leis no tempo

Para estarmos perante um conflito de leis no tempo, verificar-se-ã o os


seguintes pressupostos:
• Sucessã o temporal de leis
• A LA (Lei antiga) e a LN (Lei nova) regulam a mesma questã o
fundamental de Direito; dã o respostas diferentes.
• A situaçã o a regular, resolver, isto é, o concreto conflito de
interesses, tem que estar em contacto com as duas leis (LA e LN)

Princípios gerais – artigo 12º : este artigo, inspirado na doutrina do


facto passado, contem os princípios gerais sobre a aplicaçã o da lei no
tempo para todo o nosso ordenamento jurídico.

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LN resolve conflitos de leis no tempo
Quando estes conflitos se verificam, pode estar prevista na lei nova a
resoluçã o dos conflitos temporais suscitados pelo seu inicio de
vigência Disposição transitória: quando as normas da LN visam
resolver conflitos temporais. Dois tipos:
• Cará cter formal: a LN limita-se a indicar qual das leis é a lei
competente
• Cará cter material: a LN nã o escolhe entre uma das udas, mas cria
um regime novo (diferente da LN e da LA) para as situaçõ es de
conflito temporal

LN não resolve conflito de leis no tempo (Artigo nº12/2)

1a parte: “Quando a lei dispõe sobre as condições de validade substancial


ou formal de quaisquer factos ou sobre os seus efeitos, entende-se, em
caso de dúvida, que só visa os factos novos”
• Facto constitutivo: constitui, modifica, ou extingue uma relaçã o
jurídica
• LN só visa factos novos
• Está tico
• Regra (?!!?!)

2º parte: “quando dispuser diretamente sobre o conteúdo de certas


relações jurídicas (direitos e deveres das partes), abstraindo dos factos
que lhes deram origem, entender-se-á que a lei abrange as próprias
relações já constituídas, que subsistam à data da sua entrada em vigor.”
• A lei nova é de aplicaçã o imediata à s relaçõ es jurídicas
constituídas antes do seu início de vigência, nas que subsistam à
data desse inicio de vigência.
• Dinâ mico
• Quando se entende que as LN abstraem dos “factos que lhes
deram origem”, conclui-se que estas têm cará cter imperativo.
Nã o dá relevâ ncia à vontade das partes
• Exceçã o:
Leis sobre prazos e o artigo 297º

Quando a lei nova não abstrai dos factos que deram origem à relaçã o
jurídica, tem cará ter supletivo. Assim, a resoluçã o deste problema vai
de encontro com a 1ª Parte do artigo 12º/2, na qual a lei nova visa
apenas factos novos (regra). Desta forma, o conflito é resolvido à luz da
norma no tempo em que essa situaçã o ocorreu.
297º1:

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• A lei nova vem fixar um prazo mais curto.
• Esta é de aplicaçã o imediata aos prazos que começaram a contar-
se antes do seu inicio de vigência.
• Mas o novo prazo só se conta a partir do inicio de vigência da lei
nova.
297º2:
• A lei nova vem fixar um prazo mais longo
A lei nova é de aplicaçã o imediata aos prazos que começaram a
contar-se antes do seu inicio de vigência.

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