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Liriel Alves

1. Numa certa coletividade isolada e primitiva, os chefes são sempre substituídos


quando morre o ocupante do cargo, através de uma longa série de combates de
morte entre os pretendentes. Você acha que existe Estado nessa comunidade?

Estado constituído é quando dentro de determinada sociedade/comunidade, há a partir


de uma pessoa, ou algum grupo de pessoas, que trabalhe para que essa sociedade funcione.
Logo, mesmo em uma sociedade onde o governante quando morre, precisa ser substituído
através de lutas, nessa sociedade, há um Estado, mesmo que de forma 'primitiva', se levarmos
em conta o padrão moderno ocidental europeu.

2. Duas sociedades imperialistas, Takuc e Babuc, fazem frequentes guerras contra


vizinhos mais fracos. Takuc mata todos os seus inimigos vencidos, pois usa como
escravos certas camadas de sua própria sociedade. Babuc captura os vencidos e
os escraviza. Imagine uma “história” para cada uma dessas sociedades, inclusive
projetando seu futuro e descrevendo suas instituições.

Takuc é uma sociedade dividida em classes, onde os mais pobres são tratados como
servos/escravos. Nesta sociedade, o Estado se constitui de um Rei soberano, uma igreja que
legitima o poder do Rei com a nobreza, logo abaixo a igreja, e posteriormente o campesinato
e os servos. O reinado é governado sempre por um homem e seus sucessores, as rainhas
vivem sob sua tutela, podendo ser trocadas quando não conseguem obter o esperado herdeiro
masculino, quando não conseguem, viram servas do palácio, ou servas sexuais do rei. A
igreja legitima o trono de Takuc, dizendo que aquele que senta nesse trono é o mais próximo
da religião ao qual exercem nesta sociedade. O campesinato é aquela parte da população não
nobre, mas ou por proximidade com a nobreza foram a ela cedidos porções de terra para
cultivo e também para produção de artesanato, e dentro desse campesinato, quando mais
próximo da camada nobre, mais poder de influência se tem mais servos ao seu poder, para
que não sua família (dito aqui, pai, mãe e filhos) não precise trabalhar no campo, mas sim os
seus servos.
Entretanto, quando há alguma desavença entre famílias camponesas, a nobreza pode
vir a tomá-los como seus escravos, trabalhando em seus palácios. Dito assim, não há
necessidade de colocar dentro dessa sociedade um novo contingente de pessoas para a
escravidão, visto que essa pode vir a acontecer com determinada classe a baixo da nobreza
sendo sempre legitimada pela igreja, que diz que se voce nasceu servo, foi porque Deus (ou
qualquer outra divindade) assim quis.
Enquanto isso, na sociedade Babuc, ocorre uma sociedade militarizada, com um
imperador sob seu comando, com alto teor de expansão. Logo, quando esse imperador
domina seus vizinhos, além de tornar parte deles seus escravos, se nessa comunidade vencida
haver pessoas que queiram entrar para esse império (em casos de uma sociedade evoluída ao
ponto de haver certas camadas sociais com influência).
Nessa sociedade Babuc, ela é dividida na imagem do Imperador e a sua base militar e
o campesinato, as mulheres dentro dessa sociedade tampouco se diferenciam da anterior,
havia pois as mulheres de militares, que suas filhas poderiam vir a se casar com o Imperador,
enquanto as filhas do campesinato eram tidas como servas sexuais só imperador, e somente
dele, ninguém da sua base militar podia tocá-las.
E a partir das suas invasões, ele vai distribuindo as tarefas sobre as terras
conquistadas. Babuc invadiu uma comunidade de agricultores familiares chamada gagabek,
logo, além de virarem escravizados do Império Babuc, esses também passam a só produzir
para os militares, não mais somente para sua subsistência. Assim acontece em outras
invasões, além de tomar para si as pessoas, também tomavam suas tecnologias.

3. Você acha que as instituições religiosas, de modo geral, surgem antes ou depois
das instituições políticas?

Pode-se entender ao decorrer da história que a ordem nunca é a mesma, em alguns


casos elas nascem juntas, em outras o governante institui uma religião daquela sociedade,
outras o líder religioso é o chefe de Estado. Acredito pois, que as duas precisam de uma da
outra, no sentido de legitimação, sejam para manter privilégios, no caso de uma nobreza e um
Rei, seja para legitimar ações como se fossem a ‘vontade divina’, legitimando guerras,
epidemias etc.

4. Você acha que, se Ugh-Ugh não tivesse o menor contato com outros povos, hostis
ou não, a profissão militar ugh-ughiana terminaria por institucionalizar-se da
mesma forma?
A formação de uma base militar dentro de uma sociedade ela vem a partir de uma
perspectiva de que há de se defender de outras pessoas. Porém, mesmo se não houvesse
contato com outros povos, determinada classe Ugh-Ugh, em algum momento poderia vir a
sentir a necessidade de querer se sentir mais protegido de uma classe abaixo. Podemos dar o
exemplo da instituição policial-militar no Brasil, que foi criada para proteger uma minoria
populacional brasileira de elite, da classe mais pobre.
Logo, tendo a crer que essa base militar viria a ser constituída de qualquer forma,
assim que uma classe toma-se consciência de que precisa (não estou a concordar disso) ser
protegida de outra. Entretanto, entrando mais fundo nessa situação, também é importante
ressaltar junto ao exemplo do Brasil ao qual citei, que muitas vezes esse ‘medo’ ou essa
‘repulsa’ de determinada classe sobre outra, é mero fruto de uma desigualdade que quem veio
a criá-la é a mesma classe que agora quer ser protegida.

5. Você acredita que, sem absolutamente qualquer avanço tecnológico, a


propriedade privada surgiria em Ugh-Ugh de qualquer maneira?

Acredito, pois, que é uma pergunta relativa ao mundo em que vivemos hoje, mas
tendo a acreditar que não. Pois, se todos têm a mesma disposição de desfrutar daquele meio,
não viria a ser necessário a divisão de terras. Todos permaneceram em um ambiente
produzindo aquilo que lhes era necessário para o momento, em coletividade.

6. Invente uma Ugh-Ugh completa, em que os agricultores tivessem triunfado sobre


os pastores. Quanto mais detalhes, melhor.
Em um caso de vitória dos agricultores sobre os pastores, haveria mudanças
importantes dentro dessa sociedade. A primeira é a constituição da religião, como na história
anterior, essa instituição deriva dos pastores. Logo, com os agricultores vencendo, a religião
passa a ser apenas uma segunda classe, que foi sim constituída e criada pelos perdedores, e
aceita de maneira a manter sob os limites dos agricultores.
Nessa história, o que manda é a economia, é o poder de troca e de produção. A
religião passa a ser presente no Estado, mas não como objeto de legitimação, apenas de
crença particular. Em uma Ugh-ugh com o Estado laico, mas que monitora de perto as
expressões religiosas dos pastores.
A instituição militar que se forma nos agricultores vem a partir da divisão igualitária
de terras, todos os agricultores teriam suas terras divididas, e os militares estariam ali para
proteger. As leis seriam criadas a partir do conceito de propriedade privada mas que tenha
utilidade pública, sendo assim, aquilo que é produzido na terra precisa ser fornecido
igualmente para os demais. Um agricultor que planta tomates, precisa vender esses tomates a
quem quer comprá-los, em um mesmo preço. Logo, as leis permitem que em caso de não
comprimento de terra com produtividade social, deve ser remanejada para outros agricultores,
ou o pagamento de uma enorme multa.
Em relação aos pastores, eles trabalham junto aos agricultores, não sendo servos, mas
como uma profissão menos valorizada, quase terceirizada e sob tutela do Estado.
Continuariam pois a contribuir no pastoreio de gados… entretanto, não em pequenas
propriedades, mas em sindicatos organizados e monitorados pelo Estado.
O Estado Ugh-ugh constitui-se de um Ministro que foi votado pelos agricultores, e um
parlamento de 6 pessoas, 4 agricultores, 1 religioso e 1 pastor. Nesse Estado, mesmo que se
vise o bem comum, nota-se que a partir da guerra (não revolução) sempre haverá divisões não
proporcionais, uma classe sobre outra.

7. As nações indígenas de que você já ouviu falar são Estados?


Não. Entender um conceito de Estado é entender um conceito etnocêntrico e ‘atual’.
Houve pois os conhecidos 'Império Inca’, mas que não se tratavam de Estados como
conhecemos hoje ou que se entende na Grécia, Roma e até no Egito. Mesmo as grandes
comunidades indígenas das Américas, Maias, Incas, são erroneamente intituladas como
Império, não só fazendo anacronismo histórico, como também dando um nome que não pode
ser totalmente desenvolvido para aquela sociedade.
A exemplo de povos das américas que não tinham um líder político, mas sim dois.
Poderia-se dizer um rei e uma rainha, mas na contemporaneidade sabe-se que sempre um
detém mais poder que o outro, enquanto nessas sociedades os dois tinham o mesmo poder.

8. Na Ugh-Ugh em que os pastores ganharam, é considerada uma grande


humilhação, para uma pessoa bem situada, estar em contato direto com o chão, a
terra. Isto explica por que os túmulos das elites dominantes são sempre de pedra,
muito acima do chão?
É uma boa analogia, visando também em como os pastores a partir da instituição da
religião também se sentiam mais perto de Deus. Mas, em relação com a terra também faz
muito sentido, a exemplo de um Brasil colonial que sempre empregou os serviços braçais,
como serviços para não brancos, e em como seriam menos valorizados, a analogia de não
querer ter contato nem pós morte com aquilo que se vê como inferior faz sentido.
9. Isto explica por que os bichos que vivem em árvores são reverenciados? Isto
explica por que é um elogio chamar uma pessoa de “pássaro” e um insulto
chamá-la de “minhoca”? Isto
10. explica por que “morrer”, na língua ugh-ughiana, é a mesma palavra que cair?
Respondendo às duas questões, a partir da criação de uma sociedade, todas as crenças
mais cotidianas que possam parecer ter um fundamento histórico nela. Se um país foi marco
pela escravidão por raça, logicamente que ela sera banhada por preconceitos raciais, se uma
sociedade foi criada a partir do anseio de superiroridade do homem sob a mulher, logimanete
que a mulher sera inferiorzada. Logo, sim, essas poderiam sim ser comuns dentro da
sociedade Ugh-Ugh.

1 Num Estado qualquer, coexistem duas nações, com língua, religião predominante e
cultura diferentes. Você acha possível que este Estado seja viável, bem organizado e
próspero? Examine várias hipóteses e procure explicitar condições negativas e positivas.
O Estado Boliviano é a perfeita demonstração de que um Estado pode se manter
relativamente bem, com diversas culturas. Existe dentro da Bolívia mais de 30 povos
diferentes, sendo considerado um Estado Multicultural, entre eles indígenas e mestiços entre
os colonos espanhóis, existem no mínimo 36 línguas oficiais dentro da Bolívia além do
Espanhol.
De certo que, não podemos deixar de lado que há sempre pontos de tensão dentro de
países com tamanha diversidade étnica, mas levando em conta o tamanho da pluralidade, e,
além disso, serem oficialmente categorizados como uma Estado Multicultural, já é um grande
avanço.
O lado negativo que pode vir a ser encontrado, é a perda da unidade, isto é, a partir
das diversas diferenças, pouco se tem em comum, além do país/território, mas não vejo isso
como tão negativo, quando vivem de forma respeitosa entre si.

2 Você acha que a guerra contra os invasores holandeses, no século XVII, foi uma
guerra do Estado brasileiro contra o Estado holandês? Se não se lembrar de certos
pormenores, consulte um livro qualquer de história do Brasil.
Não. Nenhum dos dois tinha patente de Estado. A atual Holanda, na época, se
constituía de um Império Colonial Holandes com diversas províncias unidas, mas
dependendo da data, a atual Holanda também fez parte da União Ibérica sob os comandos da
Espanha. E o Estado Brasileiro só veio no século XIX, pois, antes disso, ele fazia parte da
União Ibérica, hoje, conhecidos como os Portugueses e Espanhóis.Logo, não foi uma guerra
BrasilXHolanda, mas poderia ser considera HolandaXPortugual, pois não existe um país
independente (no caso do Brasil).
3 O famoso rei Luís XIV disse certa feita: “O Estado sou eu.” Experimente explicar o
que ele quis dizer com isto.
Um rei se trata de um poder autoritário, que não permite, na suas piores expressões,
que o povo, ou qualquer outra classe abaixo dele, comandem. Logo, o Estado é ele, as leis
devem ser feitas por ele, a economia deve girar em torno dele, ele tem a primeira e a última
palavra.
4 Se as nações índias ficam no território do Estado brasileiro, pode-se alegar que os
brasileiros estão invadindo algum país, quando ocupam terras dos índios?
Desde a chegada dos portugueses ao território hoje conhecido como Brasil, vive-se
dentro de um território indigena, pois esses estavam aqui, e foram deslegitimados. Não que
eles tivessem tal consciência de território privado como os povos estrangeiros, mas estavam
ali, enquanto os invasores tratavam como se eles não estivessem. Logo, sim, ocupamos terra
indigena.

5 No Brasil, os imigrantes devem ter direito à manutenção de sua língua, costumes,


religião e cultura em geral, mesmo que isto possa resultar em nos tornarmos um Estado
multinacional?
Com certeza sim. Costumo brincar que o único ‘povo’ que tem orgulho em dizer que
fala apenas uma língua é o Norte Americano. O Brasil é diversidade, mas é diversidade
marcada por muita violência, e dentro de cada diversidade há um pouco de África, de povos
originários, e antes de qualquer nova introdução, são esses que devem ser primeiro
respeitados. No Brasil não se fala Portugues, mas como disse Lélia Gonzalez,
PRETUGUÊS1.

1 GONZALEZ,Lélia. Por um Feminismo Afro Latino Americano. 2020.

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