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Monarquia e Estado na Época Moderna

Prof. Maximiliano Menz


A origem divina do poder

• O poder possui uma origem divina. A esse aspecto estão associados diversos ritos e
cerimônias.
• Sendo o poder uma atribuição divina, seus desígnios são misteriosos para os mortais,
cabendo apenas aos reis e à Corte dominar a arte da arcana imperii.
• Ao caráter sagrado da monarquia corresponde a obrigação do rei em ser o defensor da
verdadeira fé (seja ela qual for), selando um pacto entre rei, Igreja e sociedade, baseado
no “lealismo total dos fíeis” (Ladurie, O Estado Monárquico, p. 10).
• Por sua vez, a sacralidade do rei está associada:
• 1) ao exercício da Justiça (justificação), a primeira tarefa do rei é arbitrar os conflitos
entre os diversos corpos do social (a cada um segundo a sua lei).
• 2) à soberania e a iniciativa de legislar (poder absoluto que não reconhece poder
superior terreno, mas não ilimitado).
O exercício do poder
• O rei então é a fonte única de soberania. É evocado em praticamente todos
os atos oficiais, mesmo quando exercidos sobre os poderes intermediários.
• Por outro lado, apesar de sua eleição divina, a ideia de um laço entre rei e
“povo” ou nação também é recorrente. Não de forma abstrata, mas de
maneira corporativa, ou então mediada por relações pessoais.
• A corte é uma imagem hiperbólica da sociedade. O rei deve ser o patriarca
generoso de uma família estendida, epicentro de uma “grande cadeia”. O
monarca e a sua nobreza. O rei, estados gerais ou provinciais, comunidades,
corporações, instituições representativas.
• Ao mesmo tempo, forma-se uma “rede piramidal” informal que une amigos,
vassalos, arrendatários, senhores e camponeses (Ladurie, O Estado
Monárquico, p. 15). Nessa cadeia de relações privadas o poder central tende
a perder-se, diluir-se.
O papel da nobreza
• Durante os séculos XVI e XVII, os grandes magnatas, proprietários de senhorios, sofrem com a erosão
das receitas rurais. Simultaneamente, as monarquias eliminam, ainda que de maneira assistemática e
incompleta, centros de poder concorrentes.
• Uma parte dos grandes é absorvida pela vida cortesã, ocupando postos de honra próximos ao rei
(mordomo, guarda-roupa), cargos administrativos relevantes (governadores) e na alta hierarquia do
exército. Também os postos mais importantes – e mais remuneradores – na Igreja são monopolizados
pelas famílias mais importantes.
• “Os notáveis retiravam vantagens das suas conexões com a monarquia ou com a Igreja. Eles herdaram,
compraram ou receberam posições que lhes garantiam uma parte na riqueza e no poder dessa
sociedade – não por causa de funções que ocupavam, mas por causa do status conectado com a
posição. Este é um outro modo de dizer que as personagens mais importantes possuíam uma parte do
poder público; que a sociedade era baseada num sistema de privilégios que representava diferentes
graus de possessão sobre as várias vantagens sociais e diferentes requisições sobre a riqueza produzida
pela massa dos camponeses – um eco em outro plano da coerção extra-econômica dos senhores sobre
seus servos”. (BEIK, W. Absolutism and Society in seventeenth-century France. p. 32).
• O rei é o único que pode fazer nova nobreza. No caso francês podia simplesmente criar novos títulos
por meio de carta régia. Ofícios e serviços à monarquia eram a via principal para o enobrecimento.
Também os cargos judiciais e municipais poderiam resultar em ascensão.
As principais instituições do centro
• Os conselhos exercem funções mais próximas do que entendemos
por “executivas”. Desenvolvimento da prática informal dos monarcas
em “tomarem conselho” dos nobres e letrados, as decisões são
tomadas em conjunto, cristalizando-se em torno de diversas esferas
governativas e de assuntos de Estado. (Conselho de Estado, Conselho
de Fazenda, Conselho Ultramarino). São cargos comissionados,
nomeados pelo rei.
• Os tribunais (ou parlamentos na França) que ouvem e julgam. Os
cargos são ocupados por um corpo de funcionários, hereditário,
perpétuo, patrimonial (venalidade). Esses funcionários acabam
constituindo-se num “corpo autônomo”, uma espécie de nobreza.
(nobreza de robe).
Guerra e Fazenda Real
• Com a formação de exércitos permanentes, em razão da profissionalização da carreira militar e da
concorrência entre os vários estados, ampliam-se constantemente os gastos.
• Para isso, os reis costumavam convocar, pelo menos até o final do século XVII, os corpos representativos da
sociedade (Parlamentos na Inglaterra, Estados Gerais na França, Cortes na Espanha) que votavam os
tributos.
• Ao mesmo tempo, a partir das regalias, foram se desenvolvendo novos tributos. Alguns deles criados de
modo autoritário pelo rei, mas a maior parte negociada com as elites, tanto em nível provincial, como
municipal.
• A arrecadação da monarquia também é favorecida pelo crescimento do comércio e, consequentemente,
pelos impostos indiretos. Também se desenvolve a dívida pública.
• Grupos mercantis, recrutados entre as oligarquias urbanas, algumas vezes ligados aos funcionários da
fazenda real, exploram e arrendam esses tributos. Na França, esses elementos vão formar uma elite de
financiers, especializada na administração dos impostos.
• O poder real e o poder municipal colaboram, reforçando mutuamente sua legitimidade e sua força.
• Na Europa, o peso dos impostos eram jogados nos ombros das aldeias sem representação política e nos
trabalhadores urbanos, enquanto que na colônia era sobre os homens livres pobres que pagavam o grosso
das rendas. “A monarquia absolutista era forte com os fracos e fraca com os fortes”. (Alberto Gallo,
Racionalidade Fiscal e Ordem Colonial, p. 6).
Bibliografia
• BEIK, W. Absolutism and Society in seventeenth-century France. CUP,
1985.
• GALLO, Alberto. Racionalidade Fiscal e ordem colonial. Colóquio
Internacional Economia e Colonização na Dimensão do Império
Português, historiografia e perspectiva de pesquisas. São Paulo, 2008.
• GOUBERT, P. El Antiguo Regimen. Buenos Aires: Siglo XXI, 1971.
• HESPANHA, A. M. As vésperas do Leviathan. Lisboa: Almedina, 1994.
• LADURIE, E. O Estado Monárquico. São Paulo: Cia das Letras, 1994.

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