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A Revolução Inglesa

Prof. Maximiliano Menz


Questões Prévias (I)

• Durante o século XVI a monarquia inglesa, sob os Tudors, havia sido relativamente bem
sucedida na imposição da uniformidade religiosa e na “domesticação” da grande
nobreza.
• Entretanto, o Rei inglês não possuía receitas permanentes, dependendo da convocação
do parlamento para a aprovação e cobrança dos impostos. De resto, levantava receitas
com a venda das terras da igreja e com a concessão de monopólios.
• A ascensão da dinastia Stuart ao poder (1603), unificou dinasticamente a Inglaterra à
Escócia e as questões religiosas do reino do norte passaram a contaminar a política
inglesa.
• A câmara baixa do parlamento (os comuns), assim como a justiça local e os poderes
municipais, eram dominados pela pequena nobreza (gentry) que controlava uma boa
parte das terras graças às alienações dos antigos domínios da igreja.
Questões prévias (II)
• Apesar da consolidação do protestantismo desde o governo de
Elizabeth I (1558-1603), existia uma disputa muito grande em torno da
organização da igreja:
• A Coroa pretendia manter a organização hierárquica, episcopal,
inspirada na Igreja Católica, com a esperança de controlar e manter
certa uniformidade na vida espiritual inglesa.
• Os calvinistas, com grande influência na Escócia, defendiam o regime
presbiteriano que permitia o controle da igreja pelas oligarquias locais.
• Também a política externa era fruto de controvérsias, pois a política
dinástica dos Stuart não atendia aos interesses das facções militantes
do protestantismo (puritanismo).
O Reinado de Jaime I (1603-1625)
• As relações entre o parlamento e o Rei, que já eram tensas durante o
governo de Elizabeth I, pioraram durante o Reinado de Jaime I,
especialmente por causa de sua aproximação dinástica com os Bourbon.
• O rei tentou governar sem parlamento (1614-1621), mas com o
crescimento das dívidas e com o envolvimento indireto na Guerra dos 30
anos, foi necessário reconvocá-lo em 1621.
• Os comuns aproveitaram-se da ocasião para questionar os monopólios, a
política externa e os privilégios das companhias mercantis.
• Nos debates, James afirmou que não cabia ao parlamento deliberar sobre
esses assuntos e que os privilégios dos parlamentares não eram inerentes,
mas uma graça permitida pelos reis da Inglaterra.
O Reinado de Carlos I (1625-1649)
• Os conflitos entre Rei e parlamento mantiveram-se.
• Carlos I solicitou empréstimos forçados aos mercadores de Londres e prendeu os
recalcitrantes.
• Na Petição de Direitos de 1628 o parlamento declarou que a fixação de impostos sem
autorização parlamentar e a prisão arbitrária eram ilegais.
• Essa nova rodada de conflitos levou ao fechamento do Parlamento e ao governo pessoal
de Carlos I entre 1629 e 1640.
• Durante o período, o rei utilizou tribunais especiais para perseguir a oposição; apoiou
uma reação teológica que procurou expurgar a Igreja da Inglaterra de certas doutrinas
calvinistas mais radicais. Também aumentou as multas arbitrárias e procurou levantar
novos impostos com justificativas de origem medieval.
• A oposição se organizou principalmente em torno da contestação dos tributos nos
tribunais consuetudinários e entre os pregadores independentes, que atacavam as
reformas na igreja.
A Revolução
A tentativa de Carlos I em estender as reformas religiosas à Escócia, instituindo o governo episcopal, produziu
um levante naquele reino. Isso obrigou uma reconvocação do parlamento (1640).
O parlamento passou a discutir todas as queixas que tinha dos onze anos de governo pessoal de Carlos I,
levando a um novo fechamento do parlamento (parlamento curto).
Novas derrotas militares obrigaram a uma reconvocação do parlamento poucos meses depois. O novo
parlamento radicalizou a oposição, proibiu o fechamento sem a sua autorização e obteve a prisão e execução
do conde de Strafford, um dos favoritos do rei, que estivera envolvido na perseguição da oposição.
A desorganização da igreja oficial e o afrouxamento da censura permitiram que emergissem as igrejas não-
conformistas, ampliando a agitação política e religiosa.
Em 1641 ocorre uma revolução no governo municipal de Londres com a tomada do poder pelos pequenos
comerciantes, lojistas e mercadores independentes.
Uma revolta na Irlanda em 1642, católica e “anti-colonial”, tornava necessária, do ponto de vista dos
parlamentares (muitos possuíam terras na Irlanda), uma intervenção imediata.
Quem iria controlar o exército? A disputa entre o parlamento e o Rei agravou-se. A tentativa de Carlos em
prender as principais lideranças da oposição provocou uma revolta popular em Londres e a fuga do rei.
A Guerra Civil (1642-1649)
• Carlos I procurou unir a grande nobreza para submeter a revolta.
• Havia divisão entre os revoltosos:
• “Um grupo conservador [presbiterianos], de posição mais alta, era a favor
de uma guerra defensiva e uma paz negociada, enquanto o partido do
“vamos ganhar a guerra” achava que seu principal apoio era proveniente
de grupos sociais mais baixos”. (HILL, O século das Revoluções, p. 137)
• “Os independentes eram aqueles que queriam guerra total, visando a uma
conclusão decisiva. Eles perceberam que isso significava abandonar a
unidade do condado e recrutar e pagar as forças armadas, bem como
livrar-se de oficiais que não demonstravam disposição para liderar suas
tropas fora das áreas em que suas propriedades se localizavam. Eles
queriam nomeação por mérito, independente de posição social (...)” (HILL,
O século das Revoluções, p. 138).
New Model Army e o Parlamento
• Organizou-se um exército de novo tipo: o “New Model Army” (1645).
Exército profissional em que a ascensão da carreira era por méritos
militares, comandado por um Conselho de caráter democrático e
financiado por um imposto nacional.
• Assegurada a vitória, com a prisão do rei (1647), a facção que ficou
conhecida como “presbiteriana” procurou um acordo político com o
Rei. Ao mesmo tempo, os radicais de Londres, aproximaram-se do
exército e formaram a facção que ficou conhecida como leveller.
• Abriu-se uma clivagem entre um parlamento moderado,
representante das classes proprietárias, e um exército radicalizado,
mais democrático e popular.
O governo revolucionário
•Nos debates de Putney (1647), com os realistas praticamente derrotados e o rei prisioneiro, consolida-se o
ideário leveller: ampliação do sufrágio, liberdade religiosa e defesa dos pequenos fazendeiros.
•Os levellers tentaram controlar o Conselho do Exército, mas foram derrotados e a democracia no exército
foi extinta.
• O rei, ainda prisioneiro, procurou jogar as diversas facções umas contra outras, aproximando-se dos
presbiterianos, principalmente da Escócia, tentando negociar um retorno. Surgem revoltas contra os
impostos e pela desmobilização do exército que tomam um caráter realista.
•A fuga do rei, o reinício dos combates e a insistência dos moderados em negociar produziu a “purga de
Pride”, quando o exército, mais radicalizado, marchou sobre Londres e prendeu os deputados mais
moderados. Formou-se o “Rump Parlament” que julgou e executou o rei (1649). Purgas ocorreram nos
governos municipais de diversas cidades.
•Oliver Cromwell é escolhido lorde protetor (1653-1659).
•Nos onze anos que se seguiram o governo revolucionário estabeleceu a República, aboliu a câmara dos
lordes, conquistou a Irlanda, anexou a Escócia, pôs fim a praticamente todos os “direitos feudais”
remanescentes e declarou os Atos de Navegação que imprimiram uma política comercial agressiva no
Ultramar.
A Restauração e depois...
• “o protetorado estava sentado sobre baionetas e praticamente em nada mais. O próprio exército não
era mais uma força revolucionária unida. Ele havia sido expurgado de radicais; assembleias
representativas das massas haviam sido esquecidas muito tempo atrás” . (Hill, O século das
Revoluções, p. 148)
• A morte de Cromwell em setembro de 1658 deixa um vazio de poder.
• Conflitos entre o parlamento e os antigos generais de Cromwell resultaram no levante do exército de
ocupação da Escócia. Comandados pelo general George Monck, os rebelados marcharan Inglaterra
adentro. Monck impôs a restituição ao Longo Parlamento dos representantes presbiterianos e, com
isso, foram superados os poucos republicanos que haviam restado.
• O Longo Parlamento reconstituído vota a sua dissolução e define uma nova eleição, onde os
monarquistas têm grande maioria.
• O retorno de Charles II é acertado (1660). Ele é coroado e o parlamento falha em impor-lhe condições.
• Os problemas fiscais e religiosos permaneceram até a Revolução Gloriosa (1688) quando Jaime II foi
destronado por um golpe do parlamento.
Bibliografia
• BRENNER, Robert, Merchants and Revolution. London: Verso, 2003.
• HILL, Christopher, A Revolução inglesa de 1640, Lisboa, editorial
Presença, 1985.
• HILL, Christopher, O mundo de ponta-cabeça, S. Paulo, Companhia
das Letras, 1987.
• HILL, Christopher, O século das Revoluções. São Paulo: Unesp, 2011.
• OSTRENSKY, Eunice, As Revoluções do Poder. São Paulo: Alameda,
2005.
• STONE, Lawrence, Causas da Revolução Inglesa, 1529-1642, Bauru,
Edusc, 2000.

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