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EEEFM EUNICE WEAVER

DISCIPLINA: HISTÓRIA PROFESSOR: MARCEL


TURNO: MANHÃ SÉRIE: 3º ANO TURMA:
ALUNA(O):

APOSTILA 1

REVOLUÇÕES POLÍTICAS NA INGLATERRA DA IDADE MODERNA


A REVOLUÇÃO PURITANA E A REVOLUÇÃO GLORIOSA

POLÍTICA, ECONOMIA E SOCIEDADE NA INGLATERRA MODERNA

O PARLAMENTO INGLÊS
A História moderna inglesa teve algumas marcas que a
distinguiram da experiência história de outras sociedades europeias do
Antigo Regime. Umas dessas marcas é a existência do Parlamento,
instituição que, desde muito cedo, impôs certa dificuldade ao pleno
estabelecimento do Absolutismo Monárquico na Inglaterra. As origens
do Parlamento Inglês remontam ao século XI, na Idade Média, quando
os reis ingleses passaram a convocar, anualmente, cavaleiros e bispos
da Igreja de todas as províncias do reino para aconselhá-lo sobre as
questões de seu governo. Essa reunião era conhecida como o Grande
Conselho. No século XIII, os Barões ingleses pressionaram o rei João A Magna Carta de 1215, considerada um dos
da Inglaterra a assinar a Magna Carta, documento que obrigava o rei documentos mais importantes da história do
direito na Inglaterra.
a consultar o Grande Conselho sempre que fosse criar novos impostos
e que criava o Habeas Corpus, que proibia o rei de prender alguém
sem causa justa e sem julgamento. Mais tarde, o Grande Conselho passou a ser conhecido como Parlamento, e se
dividiu em duas câmaras: a Câmara dos Lordes, que reunia a alta nobreza da Inglaterra e os Bispos da Igreja; e
a Câmara dos Comuns, que reunia elementos da Baixa Nobreza (conhecidos como Gentry ou Gentlemen,
nobres proprietários de terra, mas sem títulos, e que tinham práticas econômicas semelhantes às da Burguesia) e
Burgueses. Como a Inglaterra não possuía um exército profissional, o rei precisava contratar mercenários sempre
que entrava em guerra com outra nação. A única forma de conseguir os recursos para sustentar as tropas
mercenárias era através da criação de novas taxas, o que significava convocar o Parlamento. Essa situação dava
aos membros do Parlamento oportunidades de fazerem exigências ao rei e de tentarem limitar seu poder.

MUDANÇAS NO CAMPO: OS CERCAMENTOS


Durante a Idade Média, quando o Feudalismo era a forma dominante de organização social, econômica e
política, existia o costume de manter nos feudos uma área chamada de Terras Comunais. Tradicionalmente, as
Terras Comunais eram abertas a todos os moradores da região, que usavam os recursos nela presentes de diversas
formas: levavam suas ovelhas para se alimentarem nos pastos; caçavam e coletavam lenha e frutas nos bosques;
alguns camponeses até estabeleciam moradias nas terras comunais, para escaparem do controle dos Senhores
Feudais. Era das Terras Comunais que muitos camponeses ingleses tiravam seu sustento. Entretanto, ainda no
final da Idade Média, o Parlamento inglês começou a aprovar, com o apoio do rei, uma série de Atos de
Cercamento, documentos que autorizavam os Senhores Feudais a colocarem cercas nas Terras Comunais de seus
feudos, e de usufruir de seus recursos com exclusividade. As terras assim cercadas foram destinadas, em sua
maioria, à criação de ovelhas. Os Senhores alugavam ou vendiam os pastos para Burgueses e membros da Gentry,
interessados na produção de lã, ou faziam eles mesmos a exploração dessa atividade. Uma menor parcela dessas

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terras foi utilizada na agricultura. Os Cercamentos também aceleraram um processo que vinha ocorrendo desde
a Idade Média – a da transformação das terras cultiváveis em mercadoria.
A prática dos Cercamentos teve grande impacto na vida das comunidades camponesas. Por um lado, retirava
o acesso aos recursos das terras comunais, que davam renda complementar ou, em alguns casos, eram a única
fonte de renda dos camponeses. Por outro lado, a prioridade dada à criação de ovelhas reduzia a oferta de
empregos que antes eram oferecidos pela agricultura. Mesmo nos campos em que o cultivo de vegetais ainda era
praticado, o uso de nova tecnologias aumentou a produtividade das lavouras, modernizando os campos e
reduzindo a necessidade de mão-de-obra. O resultado dos Cercamentos para os camponeses mais pobres foi,
portanto, o êxodo rural, ou seja, a migração de grandes populações camponesas para as cidades, onde os
trabalhadores se empregaram nas oficinas e manufaturas. Alguns poucos camponeses com mais recursos e
proprietários de suas próprias terras também cercaram suas propriedades e mantiveram lavouras que abasteciam
os mercados locais. Esses pequenos proprietários se tornaram uma nova categoria da elite inglesa abaixo da
Gentry, conhecida como Yeomenry (no singular, Yeoman).

O ABSOLUTISMO MONÁRQUICO NA INGLATERRA


Apesar da ação do Parlamento no sentido de impor freios às
aspirações absolutistas de diversos monarcas, o Absolutismo se
estabeleceu, de fato, na Inglaterra. Mais especificamente, foi durante os
reinados de duas dinastias, os Tudor e os Stuart, que os monarcas
exerceram o que podemos chamar de Absolutismo Monárquico. O
primeiro rei a alcançar esse patamar foi Henrique VIII, da Dinastia dos
Tudor. Vejamos, a seguir, os monarcas dessa linhagem:
• Henrique VIII: em 1534, Henrique VIII conseguiu a aprovação
pelo Parlamento do Ato de Supremacia, que reconhecia o rei como
supremo chefe da Igreja no país, criando, assim, a Igreja Anglicana
ou Igreja da Inglaterra, que agora cortava oficialmente todos os
vínculos com a Igreja Católica Romana, controlada pelo Papa. O Ato
de Supremacia ainda deu a Henrique VIII acesso ao enorme
patrimônio da Igreja Católica em solo inglês. O rei usou essas
riquezas para financiar guerras e aumentar seu próprio poder.
• Eduardo VI: único filho homem de Henrique VIII. Reformou o Retrato de Henrique VIII. Pintado por Hans
Holbein, o Jovem, por volta de 1537. Henrique
Anglicanismo, incorporando elemento das doutrinas Protestantes VIII foi o fundador da Igreja Anglicana e é
considerado o primeiro rei absoluto da
que ganhavam força no restante da Europa. Aprovou a escrita do Inglaterra.
Book of common prayer, que unificava a crença anglicana de bases
protestantes em todo o país. Em seu reinado, o Catolicismo foi
proibido em todo o território britânico.
• Maria I: filha mais velha de Henrique VIII, assumiu o trono com a
morte do irmão, Eduardo VI. Tentou reverter a Inglaterra ao
Catolicismo. Perseguiu os protestantes e, por isso, recebeu o apelido
de Blood Mary (“Maria Sangrenta”).
• Elizabeth I: subiu ao trono aos 25 anos, após a morte de sua irmã,
Maria. Elizabeth I ficou conhecida como “Rainha Virgem” por nunca
ter se casado. O reinado de Elizabeth foi marcado pelo crescimento
econômico da Inglaterra, com uma agressiva política mercantilista.
Atacou e ocupou as possessões coloniais da Espanha na América do
Norte (no litoral dos atuais Estados Unidos da América), além de
financiar os ataques de corsários (piratas) aos navios espanhóis que
levavam o ouro e a prata das Américas para a Europa. Como Retrato de Elizabeth I. Pintado por autor
resultado, a marinha inglesa teve de enfrentar a Invencível Armada desconhecido, por volta de 1575.

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da Espanha, a mais poderosa frota naval do mundo naquele momento. Os ingleses saíram vitoriosos, o que só
aumentou o prestígio da Inglaterra e da rainha. Elizabeth não deixou herdeiros. Sua morte, em 1603, encerrou
a Dinastia Tudor na Inglaterra. Seu primo, o rei da Escócia Jaime Stuart, foi convocado para assumir o trono
inglês, iniciando a segunda Dinastia do Absolutismo inglês – a Dinastia Stuart.

AS DIVISÕES RELIGIOSAS NA INGLATERRA MODERNA


A imposição do Ato de Supremacia por Henrique VIII criou uma primeira divisão entre os cristãos ingleses
– de um lado, os mais conservadores permaneceram fiéis ao Catolicismo; do outro, os mais leais à Monarquia
aderiram ao Anglicanismo. Mas, a situação se tornou ainda mais complexa com o avanço das doutrinas
Protestantes que começavam a ganhar impulso no continente europeu. O próprio Anglicanismo acabou sofrendo
grandes influências do Calvinismo durante o reinado de Eduardo VI, cada vez mais se afastando das práticas e
tradições da Igreja Católica Romana. As ideias Calvinistas de valorização do trabalho como virtude e
enaltecimento da riqueza e do lucro fizeram muito sucesso entre os homens de negócio ingleses – tanto burgueses
como Yeomen e Gentry. Duas vertentes do Calvinismo se fizeram particularmente presentes em solo inglês. A
primeira delas era o Presbiterianismo, tendência calvinista fundada na Escócia por John Knox e que defendia a
necessidade de a comunidade cristã ser conduzida pelos presbíteros, líderes escolhidos pela própria comunidade.
A outra dessas vertentes era o Puritanismo, grupo calvinista radical que pregava que a Igreja da Inglaterra devia
romper de forma ainda mais profunda com as tradicionais práticas católicas que ainda perduravam na doutrina
anglicana. Os Puritanos, como eram conhecidos os Protestantes dessa religião, defendiam uma maior moralização
dos costumes da população e o abandono até mesmo das velhas festividades que existiam desde a Idade Média.
O Puritanismo conquistou muitos adeptos, inclusive entre os membros da Câmara dos Comuns no Parlamento.

A REVOLUÇÃO PURITANA (1642-1649)

O COMEÇO DA DINASTIA STUART


A subida dos Stuart ao poder marcou o início das tensões entre a
Monarquia e o Parlamento na Inglaterra. O primeiro rei dessa Dinastia,
Jaime I, fora até então rei da Escócia. Sua subida ao trono inglês levou
à unificação das duas Coroas que perdura até os dias atuais. Jaime I foi
também o primeiro rei inglês a defender a Teoria do Direito Divino dos
Reis. Escreveu até mesmo um livro, chamado “A verdadeira lei das
monarquias livres”, onde pregava que a autoridade e superioridade dos
reis sobre toda a sociedade tinha princípios bíblicos. A relação de Jaime
I com o Parlamento logo apresentou problemas. O rei chegou a dizer
que se espantava que seus ancestrais tivessem aceitado a existência do
Parlamento, sempre tentando limitar o poder dos reis. Por mais de uma
vez, Jaime I convocou o Parlamento para tentar criar novos impostos e,
assim, resolver os problemas financeiros da coroa, mas teve suas
expectativas frustradas. Jaime dissolveu o Parlamento em 1614 e
governou sem convocar os parlamentares até 1621. Em 1625, Jaime I Retrato de Jaime I. Pintado por John de Critz
por volta de 1605.
morreu e seu filho, Carlos I, subiu ao trono.

O REINADO DE CARLOS I E A PETIÇÃO DE DIREITOS


Durante o governo de Carlos I, a relação da Monarquia com o Parlamento e com o povo inglês se tornou ainda
mais conflituosa. Carlos I teve diversos embates com os parlamentares da Casa dos Comuns sobre a criação de
novas taxas. Em 1627, o rei criou, sem o consentimento do Parlamento, o imposto conhecido como “empréstimo
forçado”, e passou a prender quem não pagasse a nova taxa. Em 1628, Carlos I declarou Lei Marcial, obrigando
todos na Inglaterra a custearem e darem abrigo aos membros das forças armadas inglesas. Novamente, o rei
ordenou que fossem presos aqueles que se recusassem a cumprir com essa exigência. Em resposta aos avanços

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autoritários do rei, o Parlamento se reuniu e criou a Petição de Direitos, documento onde demandavam que o rei
respeitasse os direitos e liberdades do povo inglês, estabelecidos desde a Magna Carta, como o direito de Habeas
Corpus e a proibição do rei criar taxas ou impostos sem o consentimento do Parlamento. O rei Carlos I se recusou
a assinar a Petição de Direitos e dissolveu o Parlamento em 1629 e ordenou a prisão de nove de seus membros (o
que era considerado um abuso, pois os parlamentares estavam protegidos pelo privilégio parlamentar). Depois
disso, o rei governou sem convocar o Parlamento por 11 anos. Ao longo desse período, Carlos I continuou a
arrecadar dinheiro para os cofres da Coroa através de taxas consideradas ilegais.

CONFLITOS RELIGIOSOS E O PARLAMENTO CURTO


Carlos I também tomou medidas que o colocaram em choque direto
com os Puritanos. Carlos I acreditava na importância da ação humana
na busca pela salvação, o que o aproximava mais da teologia católica.
Além disso, era favorável ao Episcopado, uma forma de governo da
Igreja com grande atuação dos Bispos (que eram indicados pelo rei).
Com o auxílio do Arcebispo da Cantuária, Guilherme Laud, o rei tentou
afastar o Anglicanismo das práticas calvinistas e unificar as práticas
religiosas, não só a na Inglaterra, mas também na Escócia. O Arcebispo
Laud se opunha agressivamente aos Presbiterianismo praticados na
Escócia, e usou os altos tribunais ingleses para impor punições
humilhantes àqueles que se recusassem a aceitar as práticas do
Anglicanismo de Carlos I. Em um dos casos mais extremos, um grupo
de nobres foi castigado em praça pública, onde foram chicoteados e
tiveram suas orelhas cortadas por distribuírem panfletos contra o
Episcopado da Igreja Anglicana. Também entrou em choque com os Carlos I em três posições. Pintura de sir
Puritanos quando ordenou que fossem fechada uma instituição de Anthony van Dyck, 1635.
caridade desses religiosos.
Na Escócia, as tentativas de intervenção do rei sobre as práticas religiosas geraram grande insatisfação nos
protestantes locais, de maioria presbiteriana (calvinista). O principal ponto de conflito era a imposição do
Episcopado. Os presbiterianos eram radicalmente contrários ao governo dos bispos, preferindo o governo dos
presbíteros, que eram líderes escolhidos pela própria comunidade. Esse desacordo levou, em 1639, ao conflito
armado, iniciando uma guerra que ficou conhecido como “Guerra dos Bispos”. Carlos I convocou, então, o
Parlamento em abril de 1640 para tentar aprovar medidas para financiar sua guerra contra os escoceses. Os
parlamentares da Casa dos Comuns, entretanto, disseram que só votariam o pedido do rei depois que fosse tratada
a questão dos abusos cometidos por ele nos anos anteriores. Em resposta, Carlos I dissolveu novamente o
Parlamento após apenas três semanas de trabalho. Por sua curta duração, essa assembleia ficou conhecida como
“O Parlamento Curto”. As dificuldades nas finanças da Coroa levaram Carlos I a convocar um novo Parlamento
em novembro daquele mesmo ano, em uma nova tentativa de conseguir financiar a guerra contra os escoceses. A
Guerra dos Bispos se encerrou em 1641, mas logo Carlos I teve de lidar com uma nova rebelião, dessa vez na
Irlanda. Os irlandeses católicos estavam descontentes com a perseguição ao Catolicismo e com o domínio inglês
sobre a Irlanda. Sua rebelião contra a Coroa Inglesa ficou conhecida como “Guerras confederadas irlandesas”
ou “Guerra dos Onze Anos” (1641-1653). Para o rei, era urgente que o Parlamento aprovasse novas taxas.

O PARLAMENTO LONGO E O INÍCIO DA REVOLUÇÃO PURITANA


O Parlamento estava, entretanto, mais interessado em condenar o autoritarismo do rei e buscar ampliar seu
próprio poder. Um dos movimentos mais ousados dos parlamentares foi conseguirem a prisão do Arcebispo
Guilherme Laud e do ministro Thomas Wentworth, dois importantes aliados do rei. Wentworth foi executado,
acusado pelo Parlamento de “praticar tirania” contra o povo inglês. Os membros da Casa dos Comuns, dominada
pelos Puritanos, tentaram aprovar não só medidas que transferiam para o Parlamento algumas atribuições reais,
como a aprovação de leis, mas também se movimentaram para acabar com o Episcopado na Igreja Anglicana.
Esse era um passo importante para os Puritanos, porque, ao mesmo tempo, eliminava uma estrutura herdada do
Catolicismo e retirava do Parlamento os acentos dos Bispos, que sempre votavam contra qualquer tentativa de
reforma política ou religiosa. A disputa sobre os Bispos piorou o conflito entre o Parlamento e o rei. Onze Bispos
foram presos a mando do Parlamento. O rei, por sua vez, ordenou a prisão de cinco parlamentares por traição,
mas sua iniciativa fracassou, e ele se retirou de Londres com a família real para a cidade de Oxford. Em março

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de 1642, os parlamentares aprovaram sem a assinatura do rei uma lei que dava ao Parlamento o controle das
milícias urbanas. Em resposta, o rei começou a juntar um exército para enfrentar as forças parlamentares. Era o
começo da Guerra Civil Inglesa, também conhecida como a Revolução Puritana ou Guerra dos Três Reinos
(porque envolveu a Inglaterra, a Escócia e a Irlanda). Como o rei não conseguiu dissolver aquele Parlamento (que
só viria a ser dissolvido em 1660), ele ficou conhecido como “O Parlamento Longo” (mais tarde, também
conhecido como Parlamento Coto).

CAVALEIROS X CABEÇAS-REDONDAS: A GUERRA CIVIL INGLESA


A Guerra Civil inglesa durou cerca de sete anos. De um lado,
estavam os Cavaleiros ou Realistas, tropas leais ao rei, formadas por
elementos mais conservadores da sociedade inglesa, como membros da
alta nobreza inglesa (os chamados “Pares”), burgueses conservadores,
seguidores fiéis da Igreja Anglicana e católicos. Do outro lado, estavam
os Cabeças-Redondas, as tropas que defendiam o Parlamento,
lideradas principalmente pelos membros puritanos e presbiterianos da
Casa dos Comuns, em sua maioria burgueses e membros da pequena
nobreza. O termo “cabeça-redonda” fazia referência ao fato de que a
maioria dos protestantes ingleses não usava os longos cabelos ou
perucas cacheadas que eram a marca da alta nobreza e dos membros da
família real. Ao invés disso, usavam os cabelos cortados curtos,
revelando o formato redondo de suas cabeças. O principal líder dos
Cabeças-Redondas foi o general puritano Oliver Cromwell, membro
da Gentry e parlamentar eleito por três vezes para a Casa dos Comuns Um cabeça-redonda. Pintura de John Pettie,
1870.
(fez parte do Parlamento dissolvido em 1629, do Parlamento Curto de
1640 e do Parlamento Longo).
Os soldados dos Cabeças-Redondas eram recrutados principalmente
entre os pequenos e médios proprietários rurais. Seus membros aderiam
voluntariamente, por convicções políticas e/ou religiosas. Homens de
negócio puritanos financiavam as tropas. O exército parlamentar ficou
conhecido como “Exército de Novo Tipo” (New Model Army), pois
apresentava uma estrutura diferente das forças militares tradicionais
europeias. No modelo antigo, a posição social era o que definia a
escolha dos altos oficiais. Somente elementos da nobreza podiam
alcanças os mais altos postos. Já no Exército de Novo Tipo, era o mérito
que definia quem seria promovido. Além disso, o Exército do Novo
Tipo era uma tropa permanente, enquanto os exércitos tradicionais
funcionavam como milícia, ou seja, eram convocados apenas em
tempos de conflito. Esse novo modelo de organização acabou se
mostrando decisivo nos rumos da guerra civil, que se encerrou com Oliver Cromwell, em pintura de John Walker,
vitória das forças do Parlamento. 1649.

INGLATERRA APÓS A GUERRA CIVIL


Com o fim da Guerra Civil, coube aos vitoriosos decidirem como reorganizar o governo da Inglaterra. Os
debates sobre como as reformas deveriam ser conduzidas levaram a uma divisão entre os vencedores da guerra.
O primeiro grupo era o dos Grandees, formado pelos membros da Gentry que comandavam o Exército de Novo
Tipo. Os mais moderados entre os Grandees defendiam a manutenção de Carlos I no trono da Inglaterra, mas
com a imposição de uma Constituição que limitasse o poder do rei. Essa era uma posição muito popular entre os
membros presbiterianos da Casa dos Comuns. Já os Puritanos independentes, como Oliver Cromwell, defendiam
o fim da monarquia e a construção de um governo de representantes eleitos pelos proprietários de terra. Havia
ainda os grupos que pediam por transformações mais radicais na política e na sociedade inglesas. Esses eram os
Levellers (“niveladores”) e os Diggers (“cavadores”). Os Levellers defendiam a soberania popular, a extensão
do direito de voto para outros grupos da sociedade, igualdade diante das leis, a tolerância religiosa e a
redistribuição das terras inglesas (uma espécie de reforma agrária). Faziam a distribuição de panfletos e discursos
públicos para divulgar suas ideias e conquistar mais adeptos. Os Diggers, por sua vez, iam ainda mais longe nas

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propostas de reformas sociais, defendendo que o estilo de vida inglês fosse completamente abandonado e, em seu
lugar, a sociedade fosse reorganizada em pequenas comunidades rurais, onde todos fossem considerados iguais
e a posse da terra fosse coletiva. A maioria dos Levellers e Diggers era de protestantes ex-combatentes da Guerra
Civil, tendo lutado no Exército de Novo Tipo em nome do Parlamento. Nessa disputa de projetos, foram os
Grandees puritanos que saíram vitoriosos sob o comando de Oliver Cromwell. Os parlamentares que se opunham
às ideias de Cromwell foram expulsos da Casa dos Comuns, dando origem ao chamado “Parlamento Coto”, que
dali em diante aprovaria somente os desígnios do líder puritano. Crowmell tomou, então, medidas contra os
Levellers e os Diggers, perseguindo-os e prendendo-os, até que ambos os grupos ficaram sem forças para
buscarem as reformas por eles desejadas. Em 1649, o rei Carlos I foi julgado pelo Parlamento pelo crime de alta
traição. O grupo liderado por Thomas Cromwell conseguiu a condenação do rei, que foi considerado “tirano,
traidor, assassino e inimigo público”. A Câmara dos Lordes foi abolida, e a Inglaterra foi proclamada uma
República.

A execução de Carlos I. Pintura de autor holandês anônimo. Embora na Inglaterra fosse proibido fazer qualquer tipo de representação da execução
do rei, em outros países não era incomum encontrar esse tipo de pintura. O pintor colocou em primeiro plano uma mulher desmaiando,
evidenciando o choque da população com aquele acontecimento. Em destaque, no canto superior direito, Oliver Cromwell aparece posando com
a cabeça de Carlos I.

A REPÚBLICA DE CROMWELL (1649-1659)


Com o apoio do exército e a aprovação do Parlamento Coto, em 1649 Oliver Cromwell proclamou o fim da
Monarquia e o início da Comunidade da Inglaterra (Commonwealth of England) também conhecida como
República Inglesa, República Puritana ou República de Cromwell. A princípio, o governo era exercido por
Oliver Cromwell em associação com o Parlamento Coto e com o Conselho de Estado (que substituiu o rei e seus
ministros em muitas funções do governo). Nessa primeira fase da República, Cromwell e o Parlamento aprovaram
os Atos de Navegação (1651), conjunto de leis que estabeleciam que mercadorias só poderiam entrar em portos
da Inglaterra ou de suas colônias se fossem transportados por navios ingleses ou do país que vendeu a mercadoria.
O objetivo dessas medidas era obter o controle sobre as rotas comerciais marítimas e atingir os negócios da
Holanda, que na época detinha a maior frota mercantil do mundo e obtinha lucro realizando o transporte de
produtos para outras nações. Os Atos de Navegação resultaram em uma guerra contra os holandeses entre 1652
e 1654, que terminou com vitória inglesa e o fortalecimento ainda maior do domínio marítimo inglês. Em outra
vitória da República Inglesa, as tropas do Exército de Novo Tipo derrotaram os exércitos do filho de Carlos I,
Carlos II, e o retiraram do governo da Escócia, que ele vinha exercendo desde a morte de seu pai em 1649. Carlos
II se exilou na França.
Em 1653, Cromwell dissolveu o que restava do Parlamento e substituiu os membros do Conselho de Estado
por homens que lhe eram completamente fiéis. O novo Conselho aprovou, então, o Instrumento de Governança,
documento que reestruturava o governo, declarando Oliver Cromwell o “Lorde Protetor da Inglaterra”. Na
prática, isso dava a Cromwell as mesmas atribuições e poderes que o rei tinha na Monarquia Absolutista, inclusive
a hereditariedade do cargo. A aprovação do Instrumento inaugurou a segunda fase da República Inglesa,
conhecida como “Protetorado”. Era o começo da ditadura pessoal de Cromwell. Durante a fase do Protetorado,

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Cromwell teve poucas realizações, e seu governo ficou marcado mais pelo autoritarismo. Ele fez duas tentativas
de eleger um Parlamento que aprovasse suas medidas, mas ambas resultaram em fracasso. Sua posição no poder
só se mantinha graças à sua ligação com os líderes do Exército de Novo Tipo. Com a morte de Oliver Cromwell
em 1658, seu filho, Richard Cromwell, foi elevado à posição de Lorde Protetor. Richard não tinha, entretanto,
servido no exército e não contava com a fidelidade dos oficiais. As lideranças do exército convocaram os
membros do Parlamento Coto de volta à Casa dos Comuns e, em 1660, aprovaram o fim da República e a
Restauração da Monarquia. O filho de Carlos I, Carlos II, que estava exilado na França, foi convocado para
assumir o trono e restituir a Dinastia Stuart ao poder.

OS STUARTS DE VOLTA AO PODER E A REVOLUÇÃO GLORIOSA

A QUESTÃO DA SUCESSÃO DE CARLOS II: WHIGS X TORIES


Um dos primeiros atos de governo de Carlos II foi ordenar que o corpo de Oliver Cromwell fosse exumado e
simbolicamente enforcado. A cabeça de Cromwell foi posteriormente colocada sobre um poste em frente ao
Parlamento. Ademais, o período em que Carlos II permaneceu no trono da Inglaterra foi de relativa tranquilidade,
sem grandes embates entre o rei e o Parlamento. Entretanto, a tentativa de Carlos II implantar a tolerância religiosa
a católicos e não-conformistas (protestantes que não seguiam o Anglicanismo) na Inglaterra em 1672 levantou a
suspeita entre membros do Parlamento de que o rei poderia ter simpatia pelo Catolicismo. A inquietação dos
membros do Parlamento se agravou com a descoberta de que o irmão de Carlos II, Jaime de York, era católico.
O problema residia no fato de que o rei não tinha filhos para lhe sucederem no trono, o que tornava Jaime de
York o primeiro na linha de sucessão. A questão levou a uma divisão no Parlamento. De um lado, estavam os
Whigs, parlamentares contrários ao retorno do Absolutismo e que defendiam que Jaime de York fosse removido
da linha de sucessão. Do outro lado, estavam os Tories, parlamentares conservadores, favoráveis à centralização
dos poderes do Estado nas mãos do rei e que defendiam que Jaime de York deveria ser o próximo monarca inglês.
Carlos II dissolveu o Parlamento em 1681 por causa dessa polêmica. A situação foi levada ao extremo quando,
em 1683, foi descoberta uma conspiração para assassinar o rei e seu irmão. Em resposta, o rei ordenou que várias
lideranças dos Whigs fossem executadas ou mandadas para o exílio. Carlos II governou sem um Parlamento até
sua morte, em 1685.

O REINADO DE JAIME II
Com a morte de Carlos II, Jaime de York foi elevado ao trono, tornando-se Jaime II da Inglaterra. Desde o
início, Jaime II demonstrou sua simpatia pela teoria do Direito Divino dos Reis. Seu primeiro grande embate com
o Parlamento veio com uma tentativa de estabelecer a tolerância religiosa ao Catolicismo, como seu irmão já
havia tentado. Diante de nova recusa do Parlamento, o rei impôs a medida através de um decreto real, o que
reforçou seu caráter autoritário. Os parlamentares tentavam evitar uma crise maior com o rei que pudesse levar a
uma nova guerra civil como a de 1642. Viam a religiosidade de Jaime II como um inconveniente temporário, que
se resolveria com sua morte, já que a primeira na linha de sucessão era a filha mais velha do rei, Maria, que era
anglicana e casada com um protestante, Guilherme de Orange.

A REVOLUÇÃO GLORIOSA (1688)


Em 1688, dois fatos tiraram dos parlamentares a tranquilidade. O primeiro deles foi o nascimento de mais um
filho de Jaime II, dessa vez do sexo masculino, o príncipe Jaime Francis Edward. Por ser homem, Jaime Francis
se tornava, automaticamente, o herdeiro legítimo ao trono inglês, o que abria a possibilidade de se formar uma
dinastia católica através da descendência de Jaime II. O segundo fato foi o rei ter ordenado o julgamento de sete
bispos da Igreja Anglicana pelo crime de libelo de sedição (crime onde a pessoa faz um discurso considerado
rebelde contra o rei). Isso levantou o alerta de anglicanos por todo o país, que se sentiam que o rei estava iniciando
uma perseguição à sua religião. Os bispos foram absolvidos em julgamento, o que demonstrou que a autoridade
do rei já estava fragilizada. Começaram a ocorrer rebeliões anticatólicas na Inglaterra e na Escócia. Começou a
ganhar força a ideia de que a única forma de se evitar uma guerra civil seria afastar Jaime II do trono e oferecer
a coroa para Maria e Guilherme de Orange. Em 5 de novembro de 1688, Guilherme desembarcou com suas tropas
na Inglaterra. O exército de Jaime II desertou, e ele fugiu para a França em busca de exílio. O Parlamento declarou

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o trono da Inglaterra vago. Para nomear oficialmente Guilherme como o novo rei da Inglaterra, entretanto, os
parlamentares exigiram que ele assinasse a Declaração de Direitos de 1689 (Bill of Rights), documento que
transferia para o Parlamento a soberania da Inglaterra, modificando o equilíbrio entre os poderes. Era o fim
definitivo do Absolutismo na Inglaterra. Todo esse processo ficou conhecido como “A Revolução Gloriosa”
porque praticamente não houve derramamento de sangue em solo inglês (embora, conflitos mais graves tenham
ocorrido na Escócia e, principalmente, na Irlanda, onde Jaime II tentou levantar um exército).

A DECLARAÇÃO DE DIREITOS DE 1689


A aprovação da Declaração de Direitos pelo Parlamento em 1689 trouxe uma grande transformação na
estrutura de governo da Inglaterra, e pôs fim à secular disputa entre o rei e o Parlamento que se arrastava desde a
Idade Média. A Declaração de Direitos impôs limitações ao poder do rei e estabeleceu uma série de direitos civis,
além de ampliar os poderes e direitos do Parlamento. Após sua aprovação, a Inglaterra se tornou uma Monarquia
Parlamentarista (uma vez que conduzida pelo Parlamento) e Constitucional (pois, agora, o rei devia obedecer a
uma Constituição, e não estava mais acima das leis). A Declaração de Direitos estabelecia, entre outras coisas:
• Que o Parlamento seria frequentemente convocado
• Que o rei não podia criar leis ou impostos sem a aprovação do Parlamento
• Que o rei ficava proibido de manter um exército em tempos de paz sem autorização do Parlamento
• Que deveria haver tolerância religiosa aos protestantes não conformistas
• Que deveria haver eleições livres para o Parlamento
• Que deveria haver liberdade de expressão em debates parlamentares
• Que fianças abusivas não seriam cobradas, nem punições excessivas seriam impostas a qualquer inglês

UMA VITÓRIA PARA O CAPITALISMO


A Revolução Gloriosa e o estabelecimento da Monarquia Parlamentarista foram uma grande vitória para os
homens de negócio ingleses. Agora, a Gentry e a Burguesia inglesa interferiam diretamente sobre as políticas de
Estado através do Parlamento. Como resultado, o governo inglês passou a tomar diversas medidas que
beneficiavam os negócios e favoreciam a acumulação de lucros, impulsionando enormemente o desenvolvimento
da economia capitalista na Inglaterra. Houve grande estímulo ao livre-comércio, além de investimentos na
infraestrutura do país, com a modernização dos portos e a construção e/ou revitalização de estradas. Todos esses
fatores tiveram um papel fundamental no início da Revolução Industrial.

ATIVIDADES

1) (Mack-1997) "Art. 2 - O pretendido direito de dispensar as leis ou de execução das leis pela autoridade real,
como foi usurpado e exercido ultimamente, é contrário às leis."
"Art. 3 - O imposto em dinheiro para uso da Coroa, sob pretexto de prerrogativas reais sem que haja
concordância por parte do Parlamento, é contrário às leis."
Os trechos anteriores foram retirados da DECLARAÇÃO DOS DIREITOS, elaborada em 1689, após a
Revolução Gloriosa, que implantou:
a) uma monarquia absolutista.
b) uma república parlamentarista.
c) uma monarquia parlamentarista.
d) uma república federativa.
e) um principado vitalício.

2) (Vunesp-2003) “... o período entre 1640 e 1660 viu a destruição de um tipo de Estado e a introdução de uma
nova estrutura política dentro da qual o capitalismo podia desenvolver-se livremente.”
(Christopher Hill, A revolução inglesa de 1640)
O autor do texto está se referindo
a) à força da marinha inglesa, maior potência naval da Época Moderna.
b) ao controle pela coroa inglesa de extensas áreas coloniais.
c) ao fim da monarquia absolutista, com a crescente supremacia política do parlamento.
d) ao desenvolvimento da indústria têxtil, especialmente dos produtos de lã.
e) às disputas entre burguesia comercial e agrária, que caracterizaram o período.

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3) (UNIFESP-2003) Nas outras monarquias da Europa, procura-se ganhar a benevolência do rei; na Inglaterra, o
rei procura ganhar a benevolência [da Câmara] dos Comuns.
(Alexandre Deleyre. Tableau de l’Europe. 1774)
Essa diferença entre a monarquia inglesa e as do continente deve-se
a) ao rei Jorge III que, acometido por um longo período de loucura, tornou-se dependente do Parlamento para
governar.
b) ao fato da casa de Hannover, por sua origem alemã, gozar de pouca legitimidade para impor aos ingleses o
despotismo esclarecido.
c) ao início da rebelião das colônias inglesas da América do Norte contra o monarca, que o obrigou a fazer
concessões.
d) à peculiaridade da evolução política inglesa a qual, graças à Magna Carta, não passou pela fase da monarquia
absolutista.
e) às revoluções políticas de 1640 (Puritana) e 1688 (Gloriosa), que retiraram do rei o poder de se sobrepor ao
Parlamento.

4) Observe a charge alemã abaixo, satirizando o líder da Revolução Puritana inglesa, Oliver Cromwell, e, de
acordo com seus conhecimentos históricos, responda à questão seguinte.
É possível afirmar que o artista ao satirizar Cromwell
estava relacionando-o ao fato de o autointitulado
Lorde Protetor:
a) ter se tornado rei da Inglaterra.
b) ter cortado a cabeça de Carlos I.
c) ter se tornado um ditador durante a República
Inglesa.
d) ter reinstaurado a monarquia.
e) ter reaberto o Parlamento.

5) Explique as consequências dos Cercamentos para a os camponeses mais pobres da Inglaterra da Idade
Moderna.

6) O Exército de Novo Tipo trouxe uma inovação que era uma ruptura significativa com as estruturas do Antigo
Regime. Que inovação era essa?

7) Quais foram os resultados dos Atos de Navegação para a economia inglesa?

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8) Explique de que modo a Revolução Gloriosa modificou o equilíbrio até então existente entre os poderes na
Inglaterra.

9) Por que se pode dizer que a Revolução Gloriosa foi uma vitória para os homens de negócios na Inglaterra?

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