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11º Ano
A Europa dos Estados Absolutos e a Europa dos Parlamentos

Estratificação Social e Poder Político nas Sociedades do Antigo Regime

Conceitos:

Antigo Regime: Época da história europeia compreendida entre o Renascimento e as grandes


revoluções liberais que corresponde, de grosso modo, à Idade Moderna. Socialmente, o Antigo
Regime caracteriza-se por uma estrutura fortemente hierarquizada, politicamente,
corresponde às monarquias absolutas e, economicamente, ao desenvolvimento do capitalismo
comercial.

Ordem/Estado: Categoria social que goza de um grau determinado de dignidade e prestígio,


que corresponde à função social que desempenha. A ordem (ao contrário da classe social)
assenta mais no nascimento do que na riqueza, perpetuando-se por via hereditária e
admitindo uma mobilidade social reduzida. Só a ordem do clero, foge, pelo celibato imposto
aos seus membros, à transmissão hereditária, mas reflete, na sua hierarquia interna, a
diversidade social das duas outras ordens.

Estratificação Social: Divisão da sociedade em grupos hierarquicamente organizados,


consoante o seu prestígio, poder ou riqueza.

Mobilidade Social: Transição dos indivíduos de um para outro estrato social, quer em sentido
ascendente, quer em sentido descendente. Numa sociedade de ordens esta mobilidade é
sempre reduzida, uma vez que o critério de diferenciação social assenta no nascimento.
Porém, no Antigo Regime, o desenvolvimento do capitalismo comercial conduziu à ascensão
da burguesia, que viu reforçadas tanto a sua valia económica como a sua dignidade social. Este
processo culminará com o empate das revoluções liberais que destruirão a sociedade de
ordens, instaurando o atual modelo de organização social em classes.

Monarquia Absoluta: Sistema de governo que se afirmou na Europa, no decurso do Antigo


Regime. Concentra no soberano, que se considera mandatado por Deus, a totalidade dos
poderes do Estado.

Sociedade da Corte: Grupo de pessoas que rodeia o rei e participa na vida da corte. Trata-se
de um conjunto razoavelmente vasto e organizado que partilha os mesmos valores e o mesmo
padrão de vida. A sociedade de corte atingiu o seu período áureo nos séculos XVII e XVIII,
assumindo então um lugar central no conjunto da sociedade.

Administração Central: Secretários perto do rei.

Fiscalidade Régia: Instrumento para fazer face ao aumento das despesas do Estado.

Burocracia: Sistema administrativo assente na multiplicidade de funções interligadas.

Administração Local: Funcionários mais afastados da Coroa e mais perto do povo.

Venalidade: Venda ou arrendamento de cargos.


Estratificação Social:

No Antigo Regime, a sociedade era dividida em três ordens ou estados: o Clero, a Nobreza e o
Terceiro Estado.

Clero:

O Clero podia se chamar Primeiro Estado, por ser a ordem mais próxima de Deus. A ordem
eclesiástica tinha imensos privilégios, tais como: estar isento de impostos à Coroa; não ter de
prestar serviço militar; não estar sujeitos à lei comum, mas sim ao Direito Canónico; poder
conceder asilo aos fugitivos; não estar na obrigação de franquear as suas casas aos soldados do
rei.

O clero era também um estado extremamente rico, sendo proprietário de todo o tipo de bens,
cujos rendimentos arrecadava na íntegra, recebendo a dízima e muitas ofertas dadas pelos
crentes.

Visto que o clero não adquiria elementos pelo nascimento, este concentrava integrantes de
todos os grupos sociais, sendo divididos por alto clero e baixo clero. Ao alto clero pertenciam
os filhos-segundos da nobreza e estava hierarquizado por cardeais, arcebispos, bispos e seus
séquitos e abades de mosteiros mais ricos. Viviam vidas de luxo e com educações esmeradas.
Desempenhavam cargos na administração e na corte.

Ao contrário do anterior, o baixo clero era proveniente das gentes rurais e partilhava a vida
simples dos mais desfavorecidos. Os objetivos destes eram ajudar os paroquianos
espiritualmente, tratar da missa do povo e ensinar, embora com dificuldade, uma vez que no
seminário não aprenderam muito mais que o que tinham de dizer na missa em latim.

Nobreza:

A nobreza ou o segundo estado era a ordem de maior prestígio. Vindos dela vão os membros
mais destacados do clero. O segundo estado ocupava os cargos de poder. Eles têm um regime
jurídico próprio, que lhes dá superioridade em relação aos outros. Estes, tal como os clérigos,
estão isentos do pagamento de contribuições ao rei, exceto em caso de guerra.

As famílias que pertencem à nobreza desde o passado, são chamados de nobreza de sangue ou
nobreza de espada. Os membros da nobreza de sangue encontravam-se estratificados em
diversas categorias hierarquizadas. No topo estavam os príncipes duques e outros que
convivem com o monarca. Em baixo ficavam os nobres mais rurais, que tinham alguma
dificuldade a viver com dignidade.

À nobreza de espada acrescentou-se uma nobreza administrativa ou de toga, cujo trabalho era
satisfazer as necessidades burocráticas do Estado. Os nobres de toga adquiriram títulos
concedidos pelo Rei. No princípio estes eram desprezados pelos nobres de espada, mas depois
começaram a fundir-se pelo casamento.

Terceiro Estado:

O Terceiro Estado era o mais heterogéneo em relação às outras ordens.

Este estado era muito hierarquizado. No topo da hierarquia encontravam-se os homens das
letras, que eram respeitados pelo que aprenderam na universidade. Abaixo destes estavam os
financeiros e os mercadores, cuja riqueza granjeava estatuto e respeito. Prosseguindo na
pirâmide hierárquica do Terceiro Estado, os boticários, os joalheiros e os chapeleiros também
mereciam respeito, uma vez que estavam “mais ligados à atividade mercantil do que ao
trabalho manual”. Os homens acima nomeados podiam-se chamar de burgueses, sendo
considerados a elite do Terceiro Estado. A seguir aos burgueses vinham aqueles que o trabalho
“assenta no corpo”, começando pelos lavradores que tinham terra própria ou por renda, logo
acima dos artesãos, que desempenhavam “ofícios mecânicos”. Abaixo destes encontravam-se
os trabalhadores mais humildes, que executavam trabalho assalariado e, muitas vezes, incerto.
Mesmo no fim da hierarquia, estavam os mendigos, vagabundos e os indigentes, que não
cumpriam a função social do Terceiro Estado: trabalhar.

Todos estes pagavam impostos e grande parte vivia do seu trabalho. O Terceiro Estado era
constituído maioritariamente por camponeses, que, no Antigo Regime, excederam cerca de
80% da população.

Mobilidade Social:

A sociedade do Antigo Regime era bastante consignada, sendo os pobres açoitados e


enforcados, enquanto os ricos eram decapitados, pois “morrer pela espada é menos aviltante
do que morrer pela corda”.

Embora a estrutura social no Antigo Regime, havia sempre pessoas que tinham a possibilidade
de ascender, normalmente o Terceiro Estado. Com isto, o nascimento deixou de ser a única
forma de uma pessoa pertencer à nobreza, decaindo o seu valor.

Foi o dinheiro da burguesia que a elevou ao nível da nobreza. Com o dinheiro vinham os
estudos e com os estudos vinham as oportunidades de ingressar na nobreza de toga. Como a
nobreza nesta altura não tinha tanto poder económico como antigamente, aliou-se à nobreza
de toga, proveniente do Terceiro Estado, com casamentos, tendo ganhos para todos: os
nobres de espada adquiriam dinheiro e os nobres de toga ganhavam títulos.

Absolutismo Régio:

O rei tem poder absoluto, poder supremo, próximo de Deus e por ele legitimado, que difere do
poder tirânico ou arbitrário.

O principal teorizador do direito divino foi Jacques-Bénigne Bossuet.

O rei é o representante de Deus na Terra. A sua autoridade é sagrada.

O exercício do poder tem quatro características básicas:

- é sagrado: Provém de Deus;

- é paternal: Satisfaz as necessidades do povo;

- é absoluto: não tem de prestar contas a ninguém;

- está submetido à razão: Deus dotou os monarcas com sabedoria, capacidade de previsão,
etc, para decidir bem e fazer o povo feliz.
A corte era o centro do culto monárquico, usado como um instrumento de governo; era o local
onde o rei controlava os “Grandes”, segundo o cerimonial e a etiqueta.

O absolutismo régio transformou a corte num espelho do poder, num símbolo de propaganda
da imagem real.

Na corte, o rei tornou-se o garante da ordem estabelecida.

Instrumentos do Poder Absoluto:

- Administração Central: Toda a “máquina” era supervisionada pelo rei, os conselhos tinham
um caráter consultivo;

- Fiscalidade Régia: Instrumento para fazer face ao aumento das despesas do Estado (guerras,
fausto da corte e complexidade da máquina administrativa e burocrática);

- Burocracia: Sistema administrativo assente na multiplicidade de funções interligadas;

- Administração Local: O rei nomeia cada vez mais funcionários com o fim de garantir uma
maior eficácia na ligação com a administração central.

Principais Problemas da Administração:

Venalidade;

Pouco zelo e corrupção;

Dificuldades de comunicação entre os órgãos administrativos.


Sociedade e Poder em Portugal:

Com a Restauração da Independência, dada pelos nobres, a nobreza restabeleceu o seu poder
em Portugal. Até meados do século XVIII, a nobreza de espada manteve quase completamente
o acesso aos cargos superiores da monarquia. Estes podiam aumentar o património das
grandes casas com rendas, bem como usufruir das ordens militares e dos bens da Coroa. Eram
também os nobres que controlavam o comércio ultramarino. Em Portugal, a nobreza era
agraciada com os negócios, embora pouco percebessem do assunto. Brevemente, Diogo de
Couto dizia que apenas os nobres tinham regalias e que a burguesia não. A nobreza,
acrescentado aos rendimentos que já tinham das suas terras, cargos e dádivas, agora também
adicionava os lucros do comércio. Com isto, surgem os nobres que comerciavam, os cavaleiros-
mercadores. Ao contrário dos comerciantes dos outros reinos da Europa, os portugueses não
sabiam como mercadejar. Estes não usavam o dinheiro do comércio para o desenvolver, mas
sim para mostrar ainda mais a sua riqueza. Devido a tais fenómenos, a burguesia teve muita
dificuldade em se afirmar.

Aparelho Burocrático do Estado Novo:

Como com muito poder, vêm também muitas responsabilidades, os reis absolutos
reestruturaram a burocracia do Estado, redefinindo e criando órgãos. Todos os órgãos, apesar
de terem alguma autoridade, era o rei quem os controlava.

Em Portugal, quando reconquistou a independência, D. João IV criou estruturas para uma


melhor organização. Com isto, o rei criou o Concelho da Guerra e a Junta dos Três Estados
para a área da Defesa, reformou o Conselho do Fazenda na área das Finanças e reestruturou o
Desembargo do Paço, para além da Casa da Suplicação e da Casa do Porto, que exercia a
jurisdição do sul e do norte, respetivamente. Isto para a área da Justiça. Mesmo em meados
do século XVIII, o aparelho burocrático estava ainda muito lento, pesado e insuficiente.
Quando o absolutismo monárquico se instaurou, o poder de decisão ia cada vez mais para o
rei, seguido dos secretários de estado e as cortes foram extintas, reunindo-se pela última vez
1697.

O Absolutismo Joanino:

Rei D. João V terá sido o monarca mais excêntrico da história de Portugal. Seguindo o exemplo
de Luis XIV, D. João V efetuou grandes mudanças no governo, sendo estas as características:

- Deu-se um reforço na autoridade do rei. Além de exercer controlo direto sobre toda a
administração, o rei deixa de reunir as cortes, sem, no entanto, deixar de exercer um estrito
controlo sobre a nobreza;

- O Rei realça a figura régia através do luxo e da etiqueta, o que resulta na criação de um
protocolo da Corte;

- Mecenato por parte do rei, que financiava bibliotecas, e apoiava a música, o teatro e a
ciência;
- Emprego de uma política das grandes construções, tais como o grandioso Palácio de Mafra,
como exaltação do seu poder;

- Em termos de política externa, o rei procurava sempre a neutralidade face a conflitos


externos, apenas agindo quando fosse benéfico. Desta forma, salvaguardou os interesses do
império e do comércio;

- Ao apoiar o Papa face aos Turcos, recebeu o título de fidelíssimo, garantindo-lhe grande
prestígio internacional;

- Enviava numerosas embaixadas, como forma de exaltar a imagem de Portugal e do rei


magnânimo.

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