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A Europa dos Estados absolutos e a Europa

dos parlamentos

 Diferenciar as três ordens, a sua composição


e o seu estatuto

 A expressão “a nobreza luta, o clero reza e o povo trabalha”,


com que se resumia, já na Idade Média, o estatuto de cada
grupo social, impôs-se na longa duração do Antigo Regime,
com alguma diversidade social interna:

 Clero, ou o Primeiro Estado


 O Clero era o estado mais digno porque estava mais próximo
de Deus. É o primeiro estado que usufrui privilégios: isentos de
impostos à Coroa, bem como da prestação de serviço militar;
não estava sujeito à lei comum, mas sim ao «foro eclesiástico»,
isto é, regem-se por um conjunto de leis específicas (o Direito
Canónico) e são julgados em tribunais próprios; podem
conceder o asilo aos fugitivos e não são obrigados a franquear
as suas casas aos soldados do rei. Ordem privilegiada, o clero é
também uma ordem rica, grande proprietário de todo o tipo de
bens, ainda recebe os dízimos (um décimo das colheitas) e
muitas outras “ofertas” dos crentes que pastoreia.
 Sendo o único estado que não se adquire por nascimento, mas
pela tonsura (corte de cabelo do eclesiástico separado no
centro), o clero aglutina elementos de todos os grupos sociais,
mas como estão sujeitos a uma rígida hierarquia, cada um
acaba por ocupar um lugar compatível com a sua origem
social. O alto clero, constitui-se pelos filhos segundos da
nobreza e agrupa todo um conjunto hierarquizado de cardeais,

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arcebispos, bispos e abades. Vivem folgadamente, muitas
vezes no luxo e desempenha cargos na administração e na
corte. O baixo clero, geralmente oriundo das gentes rurais,
eram os mais desfavorecidos, competia-lhes oficiar os serviços
religiosos, orientar espiritualmente os paroquianos e orientar a
escola local. O clero regular, são aqueles que estão sujeitos à
regra de uma ordem religiosa e que vivem em conventos ou
mosteiros.

 Nobreza, ou Segundo Estado


 A nobreza, próxima do rei, é a ordem de maior prestígio. É ela
que cede ao clero os seus membros mais destacados e que
ocupa na administração e no exército os cargos de poder.
Desfruta de um regime próprio que lhe garante superioridade e
está também isenta do pagamento de contribuições ao rei,
exceto em caso de guerra. As velhas famílias cuja origem
nobre mergulha no passado constituem a nobreza de sangue ou
nobreza de espada, sempre dedicada à carreira das armas. Os
membros da nobreza de sangue subdividem-se em categorias
diversas e hierarquizadas. No topo ficam os príncipes e duques
e no polo oposto fica a pequena nobreza rural, que só a custo
consegue viver dos rendimentos do seu pequeno senhorio. A
esta velha nobreza veio juntar-se uma nobreza administrativa
(ou de toga), destinada a satisfazer as necessidades
burocráticas do Estado.

 Terceiro Estado
 É, de todas, a ordem mais heterógena, cujos membros tanto
podem aspirar às dignidades mais elevadas como vegetar na
miséria mais extrema.

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 Reconhecer, nos comportamentos, os
valores da sociedade de ordens

 A diversidade de comportamentos e de valores e a mobilidade


social
 A diferenciação social deveria refletir-se, de forma clara, no
comportamento dos indivíduos e no tratamento que os outros
lhes dispensavam. Identificando pelo traje e pelas insígnias da
sua condição, cada um esperava receber o tratamento a que
tinha direito. O título de honra, salamaleques e vários e um
rígido protocolo faziam parte da vida corrente de nobres e
clérigos.

 Esta diversidade de estatuto está plenamente consignada no


exercício da justiça. Os elementos das ordens privilegiadas
estão isentos de penas vis, como o açoite e o enforcamento. Em
compensação, os seus crimes são punidos com pesadas multas,
com degredos e, em caso de pena máxima, são executados por
decapitação, pois morrer pela espada é menos aviltante do que
na corda.

 Porém, mesma nesta estrutura rígida, onde tudo parece


previsto, a mobilidade social existe e, a longo prazo, o Antigo
Regime salda-se por uma ascensão do Terceiro Estado e pela
decadência dos critérios sociais baseados no nascimento. Trata-
se, no entanto, de um processo lento, cheio de avanços e
recuos, visto que o apego às hierarquias e ao valor dos bem-
nascidos subsistirá, ainda, por muito tempo.

 Foi o dinheiro que abriu à burguesia os caminhos que


conduzem ao topo. Senhora de grandes fortunas, a burguesia
procurou os meios de superar o estigma que pesava sobre os
novos-ricos. Encontrou-os no estudo, na dedicação aos cargos
do Estado e no casamento.

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 Falámos já na nobreza de toga, oriunda do Terceiro Estado e
elevada graças ao desempenho de cargos administrativos que,
muitas vezes, consolidava a sua ascensão social através do
casamento. O sentido de superioridade da velha nobreza não
conseguia resistir à atração que lhe despertavam as grandes
fortunas e casava filhos e filhas com elementos da burguesia,
recuperando, deste modo, as suas depauperadas finanças.

 Foi, pois, a sua diferente postura perante a vida e a sociedade


que ditou o percurso da nobreza e da burguesia. A primeira,
agarrada a privilégios antigos e comprazendo-se nos sinais
exteriores da sua superioridade, foi lentamente decaindo; a
segunda adotou uma postura combativa, alicerçada no trabalho
e no mérito pessoas, que lhe abriu as portas da ascensão social
e do poder.

 Apresentar as características do poder


absoluto

 O Antigo Regime caracterizou-se, a nível político, pelo sistema


de monarquia absoluta, que atingiu o expoente máximo nos
séculos XVII e XVIII. Segundo Bossuet, o poder do rei tinha
quatro características:

 1. Era sagrado, porque provém de Deus que o conferiu aos reis


para que estes o exerçam em seu nome;

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 2. Era paternal, o rei devia satisfazer as necessidades do seu
povo, proteger os fracos e governar brandamente, cultivando a
imagem de pai do povo;

 3. Era absoluto, o que significa independente. O rei assegurava,


com o seu poder supremo, o respeito pelas leis e pelas normas
de justiça, de forma a evitar a anarquia que retira aos homens
os seus direitos e instala a lei do mais forte. O rei concentrava
em si os três poderes do Estado legislativo, executivo e
judicial;

 4. Era sujeito à razão, isto é, à sabedoria do rei. O rei,


escolhido por Deus, possui certas qualidades: bondade,
firmeza, força de caráter, prudência, capacidade de previsão
são elas que asseguram o bom governo.

 Sublinhar o papel desempenhado para corte


no regime absolutista

 Na monarquia absoluta, o rei utilizava a vida em corte para


mais facilmente controlar a Nobreza e o Clero. O grupo que
rodeava o rei (sociedade de corte) estava constantemente
sujeito à vigilância deste. Em França, o centro da vida de corte
desenrolava-se no Palácio de Versalhes, onde habitavam o rei e
a alta nobreza. O Palácio era, simultaneamente, lugar da
governação de ostentação do poder e de controlo das ordens
privilegiadas.

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 Esclarecer o significado da expressão
“encenação de poder”

 Não foi o Absolutismo que inventou a corte, mas foi ele que a
transformou no espelho do poder.

 poder.
 Tal como Luís XIV é o paradigma do rei absoluto, Versalhes é
o paradigma da corte real. Quem pretendia um cargo ou uma
mercê só podia obtê-los no palácio. O luxo da corte arruinara a
nobreza que rivalizava no traje, nas cabeleiras, na ostentação,
assim se esquecendo de que a sua influência política se esvaíra
nas mãos do soberano.
Nobres, conselheiros, privados do rei, funcionários que vivam
na corte e para a corte, seguindo as normas impostas por uma
hierarquia rígida e uma etiqueta minuciosa. Esta sociedade de
corte servia de modelo aos que aspiravam à grandeza, pois
representava o cume do poder e da influência.

 sociedade da corte servia de modelo aos que aspiravam à


grandeza, pois representava cume do poder e da influência.
 Todos os atos quotidianos do rei eram ritualizados, encenados
de modo a endeusar a sua pessoa e a submeter as ordens
sociais. Cada gesto tinha um significado social ou político,
pelo que, através da etiqueta, o rei controlava a sociedade. Um
sorriso, uns olhares reprovadores assumiam um significado
político, funcionando como recompensa ou punição de
determinada pessoa.

 Analisar as razões de sucesso do


absolutismo joanino

 O absolutismo joanino
 Em 9 de dezembro de 1706, quando subiu ao trono de
Portugal, D. João Francisco António José Bento Bernardo tinha

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apenas 17 anos. A história conhecê-lo-ia por D. João V, o
Magnânimo.

 O jovem monarca acalentava sonhos de grandeza para si e para


o seu reino e as circunstâncias foram-lhe favoráveis. O governo
joanino correspondeu a um período de paz e de excecional
abundância para os cofres do Estado, pois coincidiu com a
exploração das recém-descobertas minas de ouro e diamantes
do Brasil. Foi este ouro que, em grande parte, alimentou o
esplendor real.

 Administração
 Naquela época, a imagem de Luís XIV impunha-se na Europa
como modelo a seguir, quer no que respeita à autoridade com
que dirigiu os negócios do Estado, quer no que toca à
magnificência de que se rodeou. O nosso rei procurou imitá-lo
em qualquer dos dois aspetos.

 Para além da recusa em reunir Cortes e das reformas que, como


vimos, efetuou na administração do Estado, D. João V
procurou sempre expressar a sua superioridade face à nobreza.
Em 1728, não hesitou em banir da corte algumas dezenas de
cortesãos, por terem desrespeitado um oficial de justiça que,
embora funcionário modesto, representava a autoridade leal.

 Exaltação da figura régia


 Tal como o Rei Sol, D. João V realça a figura regia através do
luxo e da etiqueta. Adota-se a moda francesa, quer no traje,
quer no cerimonial, quer na preferência pelos grandes
espetáculos, como os fogos de artificio ou a ópera. Uma rígida
hierarquização marca o protocolo da corte: nas audiências, na
cerimónia do beija-mão, na assistência à missa, nas saídas das
procissões, nos banquetes, nos espetáculos, todos ocupam um
lugar definido de acordo com o seu título ou o seu cargo. O rei,
esse, tem sempre o lugar central. É o centro das atenções e o
centro do poder.

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 Política externa
 Em termos de política externa, o rei procurou a neutralidade
face aos conflitos europeus, salvaguardando, no entanto, os
interesses do nosso império e do nosso comercio. Apesar disso,
não se furtou à intervenção armada quando esta lhe podia
proporcionar prestígio internacional. Foi assim que, de
imediato, correspondeu ao pedido de auxílio do papa e enviou
uma poderosa armada para combater os Turcos, que
ameaçavam a Itália. O papa retribuiu-o com a criação do
Patriarcado de Lisboa para o qual o soberano reivindicou as
mais altas honras e ao qual dispensou a maior proteção.

 Relacionar o desenvolvimento do aparelho


burocrático em Portugal com a centralização
do poder

 Nos séculos XVII e XVIII, os reis portugueses procederam a


uma centralização do poder que se caracterizou pelas seguintes
etapas:
1. Século XVII
 Século XVII Após o domínio filipino, D. João IV, o primeiro
rei da dinastia de Bragança viu-se na necessidade de
restruturar os órgãos da administração central e de enfrentar a
situação de guerra. Assim, não sendo um rei de tipo
absolutista, criou órgãos (secretarias e os conselhos) em que
delegava poderes. Assim, ao longo do século XVII a
resoluções tomadas em Cortes tinham cada vez menos
importância para o destino do Reino e a sua convocação foi-se
tornando cada vez mais rara até se extinguirem praticamente a
partir de 1697.
2. Século XVIII a figura mais marcante do absolutismo português,
o rei D. João V, teve
 Século XVIII um papel muito interventivo na governação,
remodelando as secretarias criadas por D. João IV e rodeando-
se de colaboradores de confiança.

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 A recusa do absolutismo na sociedade
inglesa

 Na Inglaterra, o poder do rei foi, desde cedo, limitado pelos


seus súbditos. Corria ainda a Idade Média quando o rei João
Sem Terra se viu forçado a aceitar a Magna Carta (1215),
diploma que protegia os ingleses das arbitrariedades do poder
real e determinava a ilegalidade de qualquer imposto lançado
sem o consentimento do povo, representado por um conselho
(futuro Parlamento).

 Deste modo, não é de estranhar que as tentativas para impor o


absolutismo tenham fracassado, conduzindo, em menos de
meio século, à execução de um rei (Carlos I, em 1649), à
deposição de outro (Jaime II, em 1688) e à instauração, ainda
que breve, de um regime republicano (1649-1659).

 Da guerra civil à Declaração dos Direitos


 A primeira revolução e a instauração da república

 Quando, no século XVII, o absolutismo se impôs na Europa, os


sobreanos ingleses reivindicaram também uma autoridade
total. Esta atitude gerou tensões e conflitos com os
representantes parlamentares, que se viam a si próprios como
os guardiões dos direitos do povo inglês.

 A malquerença entre o rei e o Parlamento agudizou-se no


reinado de Carlos I. Face às ilegalidades cometidas pelo
soberano em matéria fiscal e justiça, multiplicaram-se os
panfletos, discursos e petições parlamentares. Em 1628, o rei
viu-se forçado a assinar a Petição dos Direitos, em que se
comprometia a respeitar as antigas leis, não procedendo a
prisões arbitrárias nem arrecadando impostos sem o
consentimento dos ingleses.

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 Descontente, Carlos I dissolve o Parlamento e inicia um
governo de índole absolutista. A tensão agrava-se e, em 1642,
eclode uma guerra civil em que a sorte das armas não sorri ao
monarca. Sob a influência de Cromwell, chefe da oposição ao
rei, um tribunal parlamentar condena Carlos I ao cadafalso.
Pouco depois, é abolida a monarquia e instaurada a república
(1649).

 Iniciada em nome da liberdade, a república inglesa acaba em


ditadura. Cromwell, incapaz de tolerar qualquer oposição,
encerra também ele o Parlamento e, sob o título de Lord
Protector, inicia um governo pessoal altamente repressivo.

 A restauração da monarquia. A Revolução Gloriosa

 Cromwell morre em 1658 e, pouco depois, é restaurada a


monarquia na pessoa de Carlos II, filho do malogrado rei
Carlos I. Durante o seu reinado, as liberdades individuais dos
ingleses são reforçadas por vários documentos, entre os quais o
Habeas Corpus (1679), lei que proibia detenções prolongadas
sem que a acusação tenha sido devidamente formalizada.

 A Carlos II sucedeu seu irmão Jaime II. Abertamente católico e


autoritário, Jaime II depressa incorreu no desagrado dos
Ingleses, abrindo a porta às pretensões do eu genro protestante,
o stathouder da Holanda, Guilherme III, casando com Maria, a
filha mais velha do rei.

 Em novembro de 1688, Guilherme de Orange desembarcou


triunfalmente em Inglaterra, à frente de um exército em cujos
estandartes se vitoriavam a religião protestante e o Parlamento.
Jaime II abandonou o país.

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 Esta segunda revolução – a Glorious Revolution -, menos
violenta que a primeira, contribuiu bastante mais para a
consolidação do regime parlamentar.

 Coroados em 1689, Maria e Guilherme de Orange, juraram


solenemente a Declaração dos Direitos. Este documento, que
continua a ser o texto fundamental da monarquia inglesa,
reitera os princípios da liberdade individual e a não
interferência dos monarcas nas decisões parlamentares.

 Pouco depois, estas liberdades foram reforçadas com a


abolição da censura (1695) e o direito de livre reunião.

 Deste modo, em Inglaterra, os poderes do Estado eram


partilhados entre o rei e o Parlamento, segundo regras
claramente definidas, que protegiam os Ingleses de um poder
absoluto e discricionário.

 Locke e a justificação do parlamentarismo

 Na Inglaterra do século XVII, uma “classe média”, alargada e


prospera, fazia já ouvir a sua voz e os seus ideais. Formada
pela burguesia de negócios e por ricos proprietários rurais, este
grupo constituiu a base social em que se apoiou a luta pelo
regime parlamentar.

 Oriundo deste estrato social foi o filosofo John Locke a quem


coube a fundamentação teórica do parlamentarismo.

 No seu Tratado do Governo Civil, publicado em 1690, Locke


defendeu que os homens “nascem livres, iguais e autónomos”,
pelo que só do seu consentimento pode brotar um poder a que
obedeçam. Esse poder resulta, pois, de uma espécie de contrato
entre os governados e os governantes, estabelecendo para
garantir o bem comum.

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 Uma vez que todo o poder depende da vontade dos
governados, estes têm o direito de se insurgirem contra os
príncipes que, usando de um poder arbitrário, prejudicam
gravemente a comunidade. Desta forma se legitima a
Revolução de 1688, em que Jaime II assume o papel do rei
tirano, indigno da função em que havia sido investido e, por
isso, legitimamente deposto pelos seus súbditos.

 Harmonizando a teoria e a prática políticas, a obra de Locke


contribuiu para o prestígio do sistema parlamentar que, passada
a instabilidade dos tempos revolucionários, se consolidou.
Numa Europa dominada pelas monarquias absolutas, este
sistema, em que o poder real era claramente limitado pela lei,
aparecia, aos olhos de muitos, como um modelo de liberdade e
um exemplo a seguir.

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