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Apontamentos de História 11º ano

A Europa nos seculos XVII e XVIII- sociedade, poder e dinâmicas coloniais


A população da Europa nos seculos XVII e XVIII: crises e crescimento
Economia e população
O sistema económico que vigorou no continente europeu até ao fim do século XVIII era genericamente
designado por economia pré-industrial.
A economia pré-industrial caracterizava-se essencialmente por uma larga base agrícola e uma evolução
tecnológica lenta. Era uma economia agrária e rural (de subsistência) onde a agricultura ocupada cerca
de 75% da mão-de-obra disponível. Era pouco produtiva, com atrasos económicos nos instrumentos e nos
métodos de cultivo, sujeitando-se às variações climáticas e à fertilidade natural dos solos. Era marcada
por desequilíbrios entre a oferta e a procura.

Evolução demográfica
 O modelo demográfico antigo: características
Do final do seculo XVI até á segunda metade do seculo XVIII, a população europeia aumentou mais
lentamente, devido ás crises económicas que se traduziram no comportamento demográfico.
Ciclicamente houve graves crises de mortalidade, devidas quer ás más condições de vida, geradas pelas
crises e pelas guerras, cada vez mais frequentes.
Assim, o modelo demográfico antigo é caracterizado por: valores elevados da natalidade e da
mortalidade, que conduzem a um crescimento natural reduzido.
 O seculo XVII
O século XVII foi caracterizado por grandes crises económicas, políticas, demográficas e sociais, originando
a trilogia negra, que também esteve presentes no seculo XVI. Estes períodos são caracterizados de curta
duração mas de um enorme perigo.
O seculo XVII é relembrado como um tempo de desgraças e dificuldade, onde a fome, a peste e a guerra
se juntam, formando a “trilogia negra”.
O seculo iniciou-se com a fome, devido a uma produção reduzida. A fome originada as doenças
(especialmente a peste)
Por fim, um clima de guerra permanente, onde a Guerra dos 30 anos se destacou.

Balanço demográfico
O modelo demográfico moderno é caracterizado pelos valores baixos e próximos entre a natalidade e
mortalidade que conduziram á estagnação de taxas de crescimento.

 O seculo XVII
O seculo XVIII foi o seculo das evoluções. O aumento demográfico aliado ás rápidas mudanças no campo
social e político. Essas mudanças, tais como:
• o aumento da esperança media de vida (35/40 anos);
• a melhoria climatérica;
• os progressos técnicos e economicos;
• os avanços na medicina;
• o aumento da higiene;
• maior preocupação com a saúde e com a educação das crianças;
• a diminuição das guerra;
• e, principalmente, o recuo da peste.

A Europa dos estados absolutos e a Europa dos parlamentos


Estratificação social e poder político nas sociedades de Antigo Regime
 Uma sociedade de ordens assente no privilégio
Antigo Regime: refere-se ao sistema social, político, económico e demográfico que, entre os seculos XVI
e XVIII, vigorou na maior parte dos países europeus.
• Socialmente, é uma sociedade de ordens/estados, estratificada e hierarquizada, marcada por
desigualdades.
• Politicamente, destacam-se as monarquias absolutas de poder divino
• Economicamente, corresponde ao desenvolvimento do capitalismo comercial.
• Clero (ou primeiro estado)
Antigo • Nobreza (ou segundo estado) Esta estratificação social mantém vivos muitos privilégios
Regime
• Terceiro estado (povo) e atributos que, nesta epoca, se atribuíam ás ordens

O clero ou o primeiro estado


• Estado mais digno, pois era aquele mais próximo de Deus;
• Isento de impostos e de prestar serviço militar;
• Não esta sujeito á lei comum mas sim ao “foro eclesiástico” (conjunto de leis especificas) e são
julgados em tribunais próprios;
• Ordem rica, proprietária de todo o tipo de bens (recebe muitas doações, prendas e heranças) e
recebe a dizima;
• Não se adquire por nascimento mas sim por tonsura. O clero junta elementos de todos os grupos
sociais.
Dividia-se em:
1. Alto Clero (cardeais, arcebispos, bispos e abades dos mosteiros):
• Constituído fundamentalmente pelos filhos segundos da nobreza;
• Vivem luxuosamente;
• Desempenham cargos na Corte e na admnistração central.
2. Baixo Clero (padres das paroquias):
• Constituído por pessoas oriundas do povo;
• Pouco instruídos;
• Oficiavam os serviços religiosos.
3. Clero Regular (monges eu vivem em conventos):
• Sujeitos á regra de uma ordem religiosa (ordem de S.Bento, de S.Francisco, etc.)
• Vão perdendo, pouco a pouco, a importancia economica que tiveram na Idade Media, no
entanto, o seu número vai aumentando.

A nobreza ou segundo estado


• Maior ordem de prestígio: beneficiava dos cargos mais importantes, quer na admnistração
central, quer no exército. Os seus membros ocupavam os cargos mais importantes da Igreja;
• Regime jurídico próprio;
• São grandes proprietários fundiários;
• Estão isentos de impostos.
Divida-se em:
1. Nobreza de sangue (ou nobreza de espada):
• Constituem o topo deste grupo social (príncipes, duques, condes, marqueses);
• Vivem na Corte, e como monarcas;
• Ocupam os cargos principais.
2. Nobreza administrativa (nobreza de toga):
• Origem da burguesia;
• Ocupação de cargos administrativos no governo central.

O Terceiro Estado

• Ordem mais heterogénea;


• No topo encontravam-se homens de letras (burgueses ricos e letrados, p.e.);
• Surgem alguns ofícios considerados superiores (joalheiro, boticário, etc.);
• Pagam impostos;
• representam cerca de 80% ou mais da população.

A diversidade de comportamentos e de valores. A mobilidade social


• Cada grupo social tinha os seus comportamentos e vestuários próprios.
• A Igreja continuava a afirmar que a cada ordem correspondia uma tarefa social (clero-rezar;
nobreza-combater; povo-trabalhar), e por isso, validava a desigualdade entre pessoas e a
existência de ordens privilegiadas e outras não.
• Os membros do povo so podiam falar com os privilegiados se expressamente autorizados a tal.
Porém, o Antigo Regime salda-se por uma ascensão do Terceiro Estado e pela decadência dos créditos
sociais baseados no nascimento.
A mobilidade social era muito difícil, devido ao facto do nascimento marcar o grupo social de cada um.
Uma das formas que a burguesia encontrou de subir na sociedade foi atraves do casamento. Muitos
nobres arruinados casavam com burgueses endinheirados para recuperar as suas finanças. Por
outro lado, a, cada vez maior, complexidade de governar um povo levava a que muitos burgueses
(letrados) ocupassem cargos importantes no Estado.
Esta ascensão foi lenta, com avanços e recuos: a nobreza permaneceu agarrada aos seus privilégios,
que lentamente foi perdendo; a burguesia foi ascendendo fruto do seu progressivo enriquecimento
atraves das atividades comerciais e financeiras.

 O absolutismo régio
Os fundamentos do poder real
As monarquias absolutas concentram no rei todo o poder do Estado (executivo, legislativo, judicial), tal, é
legitimado por ser essa a vontade de Deus. Não existem quaisquer impedimentos á governação do
monarca com exceção das leis de Deus.
O poder real conjuga quatro características básicas:

• Sagrado: provem de Deus, que conferiu aos monarcas o poder de governarem em seu nome;
nesse sentido o seu poder é incontestável, mas o rei deve ter a obrigação de governar para o
bem da população e da Nação;
• Paternal: o rei era uma espécie de pai dos seus súbditos e, na governação, deve ter em conta o
bem estar do povo;
• Absoluto: o rei não tem de prestar contas a ninguém das suas ações. Deve assegurar o respeito
pelas leis de maneira a criar justiça no seu reino;
• Está submetido á razão: é esta inteligência que lhe permite governar e fazer o povo feliz. Deve
demonstrar certas qualidade como bondade, firmeza, força de caracter, prudência e capacidades
de previsão.

O exercício da autoridade. O rei, garante da ordem social estabelecida


O rei concentra todo o poder do Estado, ele governa (poder executivo), juga (poder judicial) e faz as leis
(poder legislativo).
O rei substituiu o Estado, não existe qualquer organismo que controle o seu poder. Uma vez que as suas
ações estão legitimadas por si próprio, os monarcas absolutos dispensam o auxílio das outras forças
políticas.
O rei era o único garante da ordem social.

A encenação do poder: a corte regia


As cortes regias durante o absolutismo adquirem uma grande importancia: tornam-se um espelho do
poder.
O rei frances, Luís XIV, o Rei-Sol, o exemplo do monarca absoluto, funda Versalhes. O palácio foi
constituído para albergar a corte, nele vivam os principais funcionários e conselheiros régios, bem como
a nobreza que procurava os favores do monarca.
Vivia-se num clima de luxo e festa permanente, a nobreza arruinava-se para manter o seu nivel de vida e
passava a depender da distribuição de dinheiro por parte do rei.
Na corte existiam uma hierarquia, normas e uma etiqueta extremamente rígidas. Esta sociedade de corte
servia de modelo a toda a realeza europeia. Os monarcas favoreciam a sua existência, pois era uma forma
de controlarem a principal nobreza do seu país.

 Sociedade e poder em Portugal


A sociedade portuguesa apresenta as características do Antigo Regime.
Após a Restauração de 1640, Portugal tornou-se novamente independente, apos 60 anos de domínio
filipino. A nobreza portuguesa revoltou-se e restaurou a monarquia na pessoa de Duque de Bragança.
Seguiu-se um periodo conturbado, com uma guerra com Castela e com a deposição do rei Afonso VI.
A nobreza portuguesa, nos finais do seculo XVII detinha o poder. A nobreza de sangue manteve o acesso
aos cargos superiores de monarquia:
• Comandos das provincias militares;
Estes serviços permitiram garantir o usufruto dos
• Presidência dos tribunais da corte;
bens da Coroa e das ordens militares.
• Missões diplomáticas importantes.

A preponderância da nobreza fundiária e mercantilizada


O império ultramarino portugues nunca esteve baseado na existência de uma burguesia mercantil. Os
cargos desse império foram preenchidos pela nobreza. O rei usou esses cargos para recompensar a
nobreza portuguesa. Os nobres, na maior parte dos casos, viam esses cargos como se de um feudo se
tratasse e, por isso, tratavam de enriquecer ás custas dos interesses do reino.
Apesar das muitas críticas, a nobreza manteve, até meados do seculo XVIII, um regime praticamente de
exclusividade o acesso a esses cargos no ultramar.
Fruto destas atividades, a nobreza mercantiliza-se, dando origem a um tipo social específico: o cavaleiro
mercador. Nunca foi verdadeiramente um mercador/comerciante. Aplicava os seus ganhos na aquisição
de mais terras (ostentação excessiva da sua condição superior).
A nobreza portuguesa nunca revelou uma mentalidade capitalista na exploração do comercio colonial.
Dado esse domínio da nobreza, a burguesia portuguesa teve muitas dificuldades para se afirmar.

A criação do aparelho burocrático do Estado absoluto


Após a Restauração da independencia de 1640, os monarcas portugueses reorganizaram a burguesia do
Estado, adaptando ás necessidades da centralização do poder.
D.João IV criou a base da admnistração central: as Secretarias, bem como outros orgãos administrativos
(Conselho de Mesas e Juntas). O rei delegava nestes orgãos funções governativas. Ao longo dos seculos
XVII e XVIII a admnistração foi-se aperfeiçoando e as Cortes reúnem-se raramente e perdem importancia.

O absolutismo joanino
Foi D.João V, admirador de Luís XIV, que em Portugal melhor encarnou o ideal absolutista:
• Procedeu a uma reforma administrativa, no sentido de melhor controlar o governo do país. No
entanto, a burocracia continuava pesada e lenta;
• D.João V não reuniu as Cortes no seu reinado;
• Copiando Luís XIV, afirmou-se atraves do luxo, da etiqueta, da teatralização do poder, ou seja,
atraves da criação de uma sociedade de corte;
• O rei é o centro do poder;
• Foi favorecido pela descoberta de ouro no Brasil, que vai tornar possível a ostentação do rei;
• Pratica o mecenato das artes e das letras;
• Iniciou uma política de grandes construções;
• Perante os varios conflitos nessa epoca, promoveu a neutralidade do país;
• Atraiu, para a corte portuguesa, artistas portugueses e estrangeiros, que iriam contribuir para o
desenvolvimento do Barroco portugues.

Europa dos parlamentos: sociedade e poder político


 A afirmação política da burguesia nas Província Unidas
Em 1568, os Países Baixos do Norte (Holanda) revoltaram-se contra o domínio espanhol. Á revolta seguiu-
se uma longa guerra pela independencia, durante a qual nasceu e se consolidou a República das Provincias
Unidas.
As provincias Unidas formaram uma república formada por 7 provincias sob a hegemonias da Holanda.
Esta república, de maioria calvinista, demonstrou grande tolerância religiosa, da liberdade de pensamento
e do valor do individuo. Num contraponto claro, a rigidez e ao autoritarismo dos Estados tradicionais.

A burguesia nas estruturas do Poder


A República das Provincias Unidas era um federação de Estados com uma estrutura bastante
descentralizada, o que multiplicava os cargos/oportunidades de interferir na governação. Estes cargos
eram disputados tanto pelas famílias nobres como pelas famílias burguesas.

Estados Gerais da Republica (Parlamento) Stadhouder Geral:funções militares


República

Elegem o Stadhouder e o Grande Pensionario;


Grande Pensionario: funções
Conduzem a politica externa;
executivas e politicas
dirigem os principais assuntos da Republica;
escolhem o Conselho de Estado. Conselho de Estado: comando do
Exercito; controlo das Finanças

Estados Provincias (Parlamento Provincial) Stadhouder da provincia: funções


militares
Designam o Stadhouder e o Pensionario da
Provincias

Provincia;
Aprovam os impostos;
elegem os Delegados da Provincia aos Pensionario da Provincia: funções
Estados Gerais executivas

Ao poder centralizado do rei e á preponderância da nobreza que marcou o seculo XVII europeu opunham-
se: as Provincias Unidas; a descentralização governativa; o domínio da burguesia.
Os interesses do Estado e do comercio uniram-se estreitamente. Foi esta união que fez da Holanda uma
potencia marítima e colonial capaz de ombrear com os grandes Estados europeus.

A jurisprudência ao serviço dos interesses economicos: grotius e a legitimação da liberdade dos mares
Atraves do Tratado de Tordesilhas (1494), Portugal e Espanha tinham dividido o Mundo em duas partes,
fechando o mar a outros que pretendessem nele navegar (mare clausum).
Nos finais do seculo XVI, varios países, sobretudo os holandeses procuravam ter acesso a esses mares e
contestavam esta divisão dos mares entre os reinos ibéricos. Em 1608, o holandês Hugo Grotius,
publicou o livro “A Liberdade dos Mares”, onde defendia a liberdade de navegar os mares (mare liberum).
Grotius rejeitou o direito de Portugal e Espanha terem o exclusivo de navegação nos oceanos e
defendeu que os mares eram propriedade da Humanidade.

 A recusa do Absolutismo na sociedade inglesa


Na Inglaterra, o poder do rei foi limitado pelos seus súbditos. A assinatura da Magna Carta (1215) levou a
que o rei inglês fosse proibido de lançar impostos ou novas leis sem consentimento do Parlamento.
Deste modo, qualquer tentativa de impor o absolutismo fracassou, dando origem a revoluções violentas.
Parlamento: assembleia política que, na maior parte dos casos, tem a função legislativa. Pode ter outra
designação como: assembleia, cortes ou congresso. O atual parlamento inglês é o parlamento mais
antigo, tendo servido de modelo a muitos outros.
A sua origem remontam á Magna Carta (1215), encontrando-se dividido em duas camaras que evidenciam
a distinção entre o povo e a nobreza: A Camara dos Comuns que era eleita por sufragio censitário. E a
Camara dos Lordes, nomeada pelo rei.

A primeira revolução e a instauração da república


Quando, no seculo XVII, o absolutismo se impôs na Europa, os reis ingleses tentaram governar de forma
absoluta, isto desencadeou a violência na sociedade. Ás questões políticas juntam-se as de ordem
religiosa, pois os ingleses estão divididos entre protestantes (que apoiavam o Parlamento) e os Catolicos
(que apoiavam o rei).
As diferenças entre o Rei e o Parlamento agudizam-se no reinado de Carlos I, face ás ilegalidades
cometidas pelo soberano e perante a reação do Parlamento inglês.
Carlos I é obrigado a assinar a Petição dos Direitos em que se comprometia a respeitar as leis e, impede-
o de proceder a prisões arbitrarias, bem como lançar impostos sem o consentimento do Parlamento.
Carlos I dissolve o Parlamento e começa a governar de modo absoluto e, em 1642, eclode a guerra civil
entre os apoiantes do parlamente e os do rei. Nesta guerra, lutando pelas forças parlamentaristas,
distingue-se Oliver Cromwell. A guerra acaba em 1649 com a execução do rei. É então abolida a
monarquia e instaurada a república governada pelo Parlamento. As lutas e divisões no Parlamento
levaram Cromwell a encerrar o Parlamento e, sob título de Lord Protector, organizar um governo pessoal
e repressivo.

A reestruturação da monarquia. A Revolução Gloriosa


Cromwell morre em 1658 e, pouco depois, é restaurada na pessoa de Carlos II. Retornam as lutas entre o
rei e o Parlamento. Isto obriga o rei a assinar o Habeas Corpus (garantia a liberdade individual contra o
arbítrio do poder).
A Carlos II sucedeu-lhe Jaime II. Abertamente católico, pretende restaurar o catolicismo e governar de
modo absoluto. Jaime II depressa desagradou os ingleses, abrindo porta ás pretensões de Guilherme
Orange. Em 1688, Guilherme de Orange desembarcou em Inglaterra, á frente de um exército que apoiava
a religião protestante e o Parlamento. Jaime II, sem apoiantes, abandonou o país.
Esta revolução, a Glorius Revolution, contribuiu para a consolidação do regime parlamentar:
• Guilherma de Orange, em 1689, assinou a Petição dos Direito, que confirma a monarquia
controlada pelo parlamento;
• Reafirma os principios das liberdades individuais;
• Reconhece a liberdade de culto para os protestantes;
• Impede o rei de lançar impostos sem acordo do parlamento;
• Reconhece a independencia do poder judicial;
• Em 1695, é abolida a censura e é estabelecido o direto de livre reunião;
• O poder do rei era controlado pelos seus súbditos, representados no Parlamento;
• Parlamento passa a ter funções legislativa do Estado e as funções executivas dos monarcas.

Locke e a justificação do parlamentarismo


• Influenciou os sistemas políticos modernos: ao nível dos direitos e liberdade individuais e na
afirmação do parlamentarismo;
• Defendeu a ideia de que o poder político assenta num contrato entre o soberano e a nação;
• Os súbditos tinham legitimidade para depor o monarca, caso não cumprisse o contrato o poder
estava nas mãos do povo.

Triunfo dos estados e dinâmicas económicas nos seculos XVII e XVIII


Reforço das economias nacionais e tentativas de controlo económico
 O tempo do grande comercio oceânico
Portugal, Espanha, Holanda, França, Inglaterra. Estes países utilizaram mercados europeus para expandir
cada vez mais os negócios. Criaram a companhia do comercio e desenvolveram novos mecanismos
financeiros. Isto, com o objetivo de obter lucros mais elevados, ou seja, geravam capital, investiam-no e
aumentavam-no.
O comercio tornou-se aquilo que fazia a economia de um país avançar e, por isso, a Europa entrou numa
era de capitalismo comercial. Devido a esta importancia dado ao comercio, a América foi colonizada,
tornando-se bastante importante nos circuitos comerciais.
Capitalismo comercial: sistema económico que se caracteriza pela procura do maior lucro, pelo espírito
de concorrência e pelo papel determinante do comercio como motor do desenvolvimento económico.
• Açúcar
• Tabaco Estes produtos são enviados para a metropole. Em troca, a
• Algodão metropole fornece produtos agrícolas, industriais e mão de obra
• Criação de gado vinda de Africa (escravos)
• Extração de ouro
Existem duas rotas fundamentai no comercio internacional:
• A rota do Cabo, que se dirigia para Asia
• A rota Atlântica ou Comercio Triangular (Europa-Africa-América-Europa). A grande base deste
comercio era o trafico negreiro.

 Reforço das economias nacionais: o Mercantilismo


Mercantilismo em França
O mercantilismo foi introduzido em França por Colbert, ministro de Luís XIV.
• O Colbertismo consistiu numa política fortemente protecionista das manufatura francesas.
• Introdução de novas indústrias recorrendo á importação de técnicos estrangeiros;
• Desenvolvimento da criação de grandes manufaturas, desenvolvendo uma política de subsídios,
monopólios e outros incentivos;
• Colbert criou as manufaturas reais, que se dedicavam sobretudo á produção de produtos de luxo,
destinados a fornecer a corte de Versalhes;
• Toda a atividade manufatureira era regulamentada: qualidade, horas de trabalho, preços, etc.;
• Criação de companhias monopolistas para as quais criou o exclusivo de comercio com
determinadas zonas.

O sistema mercantil em Inglaterra


O mercantilismo inglês foi mais flexível, conseguiu adaptar-se á novas circunstâncias e, por isso mesmo,
conseguiu um elevado grau de eficácia.
O mercantilismo inglês procurou, em especial, desenvolver a marinha e o setor comercial.
• O poder comercial holandês motivou a tomada de medidas protecionistas. Entre 1651 a 1663,
foram aplicadas uma serie de leis, os Atos de Navegação. Estas tinham o objetivo de banir os
Holandeses das áreas de comercio inglês e determinavam que todas as mercadorias que
entrassem em Inglaterra seriam obrigatoriamente transportadas em barcos ingleses ou do país
de origem mercadorias. A Inglaterra ficou com o exclusivo do transporte dos produtos
coloniais;
• Marinha inglesa começou a desenvolver-se fortemente: iniciaram um política de expansão
colonial, sobretudo na América do Norte;
• Criaram grandes companhias de comercio. A mais importante foi a Companhia das Índias
Orientais, uma sociedade de ações que detinha os direitos exclusivos sobre todo o comercio
oriental;
• Protegeram a indústria das lãs, proibindo a exportação de matéria-prima inglesa e aumentaram
as taxas alfandegarias sobre os produtos estrangeiros;
• Protegeram a agricultura criando taxas alfandegarias para os cereais estrangeiros.
Estas peloticas criaram as condições para a Inglaterra se tornar a principal potência marítima na segunda
metade do seculo XVII.

 O equilíbrio europeu e a disputa das áreas coloniais


Numa altura em que o capitalismo comercial esta a desenvolver-se dominar os mercados tornou-se uma
prioridade política.
Devido ás medidas protecionistas a circulação entre os países tornou-se rara (ninguém queria importar).
Existiu então a necessidade de se começar a utilizar as colonias. E isto originou uma fonte de rivalidades:
todos os países queriam o mesmo, então entraram em conflito pelo cobiçado continente americano.
Os conflitos foram essencialmente entre a Holanda, França e Inglaterra.

A hegemonia economica britânica


 Condições do sucesso inglês
Os progressos agrícolas
Na região de Nortfolk iniciou-se a “revolução agricola”, um conjunto de alterações rápidas no tempo e
marcantes na forma de cultivar o terreno.
Enclousers (vedações de campo): representam um avanço na rentabilização das terras (sobretudo de
grandes propriedades) que, protegidas de animais bravos e dos caminhantes, se tornaram propicias a
diversas inovações e experiências como: a seleção de sementes, seleção de animais ou a rotação de
culturais;
Rotação quadrienal- fazia o aproveitamento pelo da terra (eliminação do pousio), introduzindo novas
culturas como as leguminosas e as forrageiras, algumas das quais fertilizam diretamente o solo e outras
indiretamente, ao permitirem a criação de gado, assegurar o necessário estrume, e, por outro lado,
incentivar o melhoramento das raças animais;
Inovações agrícolas: a introdução de máquinas nos campos (charrua triangular) retiravam um melhor
aproveitamento da terra.

O crescimento demográfico e a urbanização


A abundância e a criação de postos de trabalho fazem aumentar a taxa de nupcialidade e o número de
nascimentos, enquanto a norte regride. Por sua vez, o crescimento populacional estimula o consumo e
fornece mão de obra jovem aos diversos setores de atividade.
Para alem do crescimento demográfico, registou-se uma acentuada migração para os centros urbanos
que absorveram a mão de obra excedentária dos campos.

A criação de um mercado nacional


A Inglaterra foi o país que mais cedo se transformou num espaço económico unificado, onde o consumo
interno podia expandir-se.
Para a criação do mercado nacional contribuem os seguintes fatores:
• Crescimento demográfico urbano: tornaram-se motores do desenvolvimento económico ao
proporcionarem um maior consumo interno;
• Desenvolvimento dos transportes e vias de comunicação (construção de um sistema de canais,
ampliação da rede de estradas) permitia resolver os problemas de abastecimento, uma vez que
existia uma maior ligação entre as regiões do interior e cidades portuárias;
• União da Inglaterra com a Escócia (1707) e com a Irlanda (1808) criava um contexto político
propicio á circulação de produção;
• Inexistência de alfandegarias internas retirava os entraves ao comercio.

O alargamento do mercado externo


Os produtos ingleses espalhados por todo o continente europeu devido á sua qualidade e aos seus preços
baixos.
Mais de metade da frota de Inglaterra passava essencialmente pelas américas, mas também passava por
Africa, sendo assim, os ingleses estavam inseridos no comercio triangular.

O sistema financeiro
• Bolsa de valores: a compra de ações do Estado ou de companhias industriais permitiu reunir
capitais em grande escala e fornecer elevados lucros aos particulares e ao Estado
(desenvolvimento do capitalismo);
• Bolsa de Londres: realizava as operações de apoio ao comercio (p.e., depósitos e transferências),
emitia o papel-moeda (notas) e financiava a atividade comercial e industrial. A atividade do
Banco de Inglaterra foi complementada ela dezena de pequenas instituições- os country banks.

 O arranque industrial
O processo de industrialização iniciou-se em Inglaterra devido: aos avanços agrícolas e demográfico; ao
alargamento dos mercados; aos avanços tecnológicos; á capacidade empreendedora dos ingleses.

A indústria têxtil
A indústria têxtil progrediu devido aos seguintes fatores:
• Aumento da procura (interna e externa);
• Abundância de matérias primas, provenientes das colonias.
Graças ao melhoramentos na tecelagem, fiação e na estampagem, houve um aumento enorme na
produtividade e na produção.

A metalurgia
Este setor foi, talvez, o setor mais importante de todos, uma vez que é ele quem fornece máquinas e
outros equipamentos para os outros setores poderem produzir.

A força do vapor
Com a introdução do vapor, podemos dizer que as manufaturas duram lugar ás maquinofaturas e, aí,
nasce a revolução industrial.

Um tempo de mudança
Considera-se, geralmente, que foi a invenção da máquina a vapor e a sua subsequente aplicação aos
transportes e à indústria que provocaram a rápida mudança nos modos de produção (da manufatura
passou-se à maquinofatura). A Grã-Bretanha tomou a dianteira da Europa, guiando-a em direção a uma
época nova: a do capitalismo industrial.

Portugal- dificuldades e crescimento económico


 Da crise comercial de finais do seculo XVII á apropriação do ouro brasileiro pelo mercado
britânico
O surto manufatureiro
Portugal viveu, durante o século XVII, da exportação de produtos coloniais. Em meados do seculo XVII, os
holandeses, ingleses e franceses começaram a produzir esses produtos e a fazer concorrência aos
produtos coloniais portugueses.
Fruto dessas concorrências e da aplicação das políticas mercantilistas desencadeou-se uma grave crise
comercial em Portugal.
Entre 1670 e 1692, os produtos portugueses não eram vendidos e acumulavam-se nos armazéns em
Lisboa. Com isto da concorrência e a diminuição da procura, os preços baixavam constantemente. A
perda de receita vai ocasionar um desequilíbrio na nossa balança comercial, passamos a importar mais do
que exportamos.
O Conde da Ericeira teve como objetivo equilibrar a balança comercial de Portugal, substituindo os
produtos que importávamos por produtos que produzíamos em Portugal. As suas principais medidas
foram:
• Contratação de artesãos estrangeiros especializados;
• Criação de indústrias (vidro, ferro, têxteis) ás quais concedeu subsídios e outros privilégios;
• Promulgou as Leis Pragmáticas que proibiam o uso de determinados produtos de luxo
importados, para proteger a indústria nacional;
• Criação de várias companhias monopolistas;
• Desvalorizou a moeda nacional para tornar os produtos portugueses ais competitivos
internacionalmente.

A inversão da conjuntura e a descoberta do ouro brasileiro


A partir de 1692, a crise comercial parecia estar em vias de ser solucionada. Os produtos coloniais
aumentara as suas vendas e os preços subiram, assim como as receitas do Estado.
Nessa altura, descobre-se o ouro do Brasil, fruto da ação dos bandeirantes (expedições realizadas pelo
interior do Brasil por iniciativa de particulares) que descobrem grandes jazidas de ouro em Minas Gerais,
Mato Grosso e Goiás.
Esta descoberta vai disponibilizar dinheiro para o país pagar as importações e abandona as políticas
mercantilistas. Este ouro vai suportar o esplendor da corte de D.João V, ou seja, o ouro é gasto em luxos
e para importar produtos manufaturados.

A apropriação do ouro brasileiro pelo mercado britânico


Em 1703, Portugal e Inglaterra assinam o Tratado de Methuen:
Tecidos ingleses não Os vinhos portugueses pagariam
pagarão impostos (anulando apenas dois terços daquilo que
assim as Leis Pragmáticas) pagavam os vinhos franceses para
entrarem em Inglaterra
Este tratado foi responsabilizado pela destruição da industrialização portuguesa, mas, na realidade
apenas acelerou o processo que já estava a decorrer. A Inglaterra apoiou a causa portuguesa na guerra
da Restauração, e os portugueses pagavam á Inglaterra em benefícios economicos.
O Tratado de Methuen permitiu o crescimento das exportações dos nossos vinhos, mas, no entanto, as
nossas exportações vinícolas ficaram totalmente dependentes do mercado inglês. Isto representou o fim
do esforço de industrialização.
O défice comercial com Inglaterra não parava de crescer. Cerca de ¾ do ouro que vinha do Brasil ia parar
a Inglaterra.

 A política economica e social pombalina


• Debilidade da produção interna;
• Dificuldades de colocação, no mercado, dos produtos brasileiros; “Nova Crise”: diminuição das
• Excessiva intromissão das outras nações no nosso comercio colonial; remessão do ouro do Brasil
• Défice cronico da balança comercial.

No reinado de D.José I, destaca-se o marques de Pombal que tinha os seguintes objetivos:


• Reduzir o défice comercial com o estrangeiro;
• Nacionalizar o sistema comercial portugues.
Para isto, ia ser necessário:
• Diminuir a importação de bens de consumo;
• Relançar as indústrias;
• Oferecer ao comercio portugues estruturas que lhe garantissem segurança e estabilidade.
Tudo isto, seguindo as máximas mercantilistas:
• Criação da Junta do Comercio: regulação da boa parte da atividade economica do reino. A Junta
de Comercio foi a maior alavanca da obra pombalina para dirigir o setor comercial e encarregava-
se:
o Reprimir o contrabando;
o Intervir na importação de produtos manufaturados;
o Vigiar as alfandegas;
o Coordenar a partida das frotas para o Brasil;
o Licenciar a abertura de lojas e atividades dos homens de negócios.
• Criação de companhias monopolistas privilegiadas: juntavam o que havia de melhor na burguesia
mercantil portuguesa, concentravam capitais privados e do Estado, de forma a constituir-se
como entidades á altura de se baterem, comercialmente, com Inglaterra.
• Revitalização do setor manufatureiro com a realização das indústrias existentes e a criação de
novas unidades.
• Criação da primeira escola da Europa, Aula de Comercio. Destinava-se a fornecer uma
preparação adequada aos futuros comerciantes. Isto conferiu o estatuto nobre á alta burguesia.
• Fim da distinção entre cristãos-novos e cristãos-velhos, bem como a subordinação do Tribunal
do Santo Ofício á Coroa.

A prosperidade comercial dos finais do seculo XVIII


Os resultados da política pombalina fizeram-se sentir de imediato:
• As áreas económicas sob controlo das companhias prosperaram;
• Desenvolveram-se outros produtos coloniais (algodão, café, cacau);
• Produções internas substituíram as importações, aumentando as exportações;
• Balança comercial obteve saldo positivo.

Construção da modernidade europeia


O método experimental e o progresso do conhecimento do Homem e da Natureza
 A revolução científica
Ao longo dos seculos XVII e XVIII vão-se dar progressos nas ciências e no conhecimento humano que vão
mudar a forma como o Mundo era entendido.
• A intervenção divina, ou do Diabo, ou mesmo a conjugação de determinados astros era a
explicação para determinados fenómenos físicos e naturais;
• A Ciência assentava nos conhecimento dos Antigos como Aristóteles, Ptolomeu, Santo Agostinho
e outros cujas afirmações eram consideradas inquestionáveis;
• Durante o Renascimento nasceu o espírito critico, embora limitado a um pequeno grupo de
individuais;
• Os Descobrimentos trouxeram novos conhecimentos sobre o Mundo, as culturas, fauna, floras e
povos existentes;
• Na Europa surgem associações científicas onde se organizam debates e conferencias, algumas
tornam-se instituições nacionais;
• Surge o gosto pela observação dos fenómenos naturais e físicos;
• Desenvolvem-se as ideias que:
o O conhecimento aumenta constantemente;
o O progresso científico contribuiu para melhorar as condições da Humanidade.
• Dá-se início a uma revolução científica.
A partir do seculo XVI desenvolve-se o modo do experiencialismo. Francis Bacon foi um dos percursos que
afirmou que para conhecer a verdade era preciso observar os factos, formular hipóteses, repetir a
experiência e formular a lei. René Descartes elaborou o princípio da dúvida metódica. Foi um dos
pensadores que introduziu a matemática como a linguagem fundamental de expressão das leis científica.
Surge a expressão “ciências exatas”.

 O conhecimento do Homem
A ciência medica desenvolve-se. Em 1628, William Harvey publica as suas descoberta sobre a circulação
sanguínea.

 Os segredos do Universo
No seculo XVII, com Galileu começa a revolução da conceção do Universo. Foi o primeiro a olhar para o
universo atraves de um telescópio.
Galileu vai corroborar as teses heliocêntricas de Nicolau Copérnico, apesar da perseguição, por parte da
Inquisição, ás ideias divulgadas por Galileu, o conhecimento divulga-se e vai aumentado.
Isaac Newton descobre as leis da gravidade e formula a hipótese de um universo infinito.

 O mundo da ciência
• No seculo XVIII as academias científicas tornaram-se vulgares e apareceram em quase todas as
capitais europeias;
• Os jornais e boletins científicos proliferam;
• As Universidades criam laboratórios modernos;
• As ideias científicas discutem-se e divulgam-se com uma rapidez nunca antes vista;
surgem novos instrumentos científicos: telescópio, microscópio; barómetro; relógio de pendulo;
• O gosto pela ciência populariza-se e os debates/discussões científicos são divulgados em publico;
• As razões divinas deixam de ser aceites como explicações para os fenómenos físicos e naturais;
• A ciência subdivide-se em varios ramos do saber: astronomia, química, física, biologia, etc.
• O método experimental torna-se a única forma credível de procurar a verdade na ciência.

A filosofia das Luzes


 A apologia da Razão e do progresso
A elite europeia julgava-se a caminho de um futuro melhor, devido aos resultados brilhantes obtidos pelos
experimentalistas, no qual o raciocínio do homem era um dom com potencialidades quase ilimitadas.
A crença no valor da razão humana, como motor de progresso, aplicou-se á reflexão sobre o
funcionamento das sociedades gerais.
Acreditava-se que o uso da rezão livremente levava ao aperfeiçoamento moral do Homem, das relações
sociais e do poder político, levando á mesmo igualdade e justiça.
A razão era a luz que guiava a humanidade.

 O direito natural e o valor do individuo


• A descrença nos valores tradicionais que potenciam a diferenciação social;
• A Razão é a “luz” que esclarece o espírito humano, permitindo uma evolução dos saberes;
• Crença no valor da Razão Humana como motor de progresso da Humanidade;
• Valorização do indivíduo como parte integrante do progresso da Humanidade;
• Defesa do direito natural: defesa dos mais desfavorecidos tendo em conta a valorização do
indivíduo;
• Defesa dos direitos naturais do Homem: direito à liberdade, à igualdade, a um julgamento justo,
à posse de bens e à liberdade de consciência.

 A defesa do contrato social e da separação dos poderes


• Defesa do Contracto Social entre o povo e os governantes e da Soberania Popular (o povo detém
todo o poder e pode destituir o governo e o governante quase este se torne tirano ou ditatorial);
• Defesa da separação dos poderes (legislativo, executivo e judicial).

 Humanitarismo e tolerância
• Defesa da separação dos poderes (legislativo, executivo e judicial);
• Denúncia dos atos de escravatura e servidão, da tortura, da execução aviltante e dolorosa e dos
trabalhos forçados, desenvolvendo a fraternidade humana (Humanitarismo);
• Defesa da tolerância religiosa, da separação da Igreja e do Estado e da aceitação de outros cultos
espirituais.

 A difusão do pensamento das luzes


A critica violenta á sociedade, ao poder político e á igreja desencadeou uma onda de mau estar.
Foram inúmeros iluministas encarcerados no qual as suas obras eram queimadas ou colocadas no Índex.
As propostas iluministas invadiram os salões, clubes privados, academias e a imprensa periódica.
No entanto, a enciclopédia criou um impacto na maior parte da sociedade, apesar das duas primeiras
edições terem sido queimadas. A enciclopédia permitia que a população acompanhasse os avanços da
ciência e da técnica e os avanços das ideias iluministas,

Portugal- o projeto pombalino de inspiração iluminista


 A reforma pombalina das instituições e o reforço da autoridade do Estado
A reforma das instituições
O Marques de Pombal pôs em prática um conjunto de medidas de racionalização global do aparelho de
Estado e das instituições. Um objetivo requerido pelo despotismo iluminado.
A sua primeira preocupação foi a racionalização ou modernização do aparelho político administrativo.
Assim, promovendo as reformas que lhe permitiam restabelecer a autoridade do Estado e a eficiência dos
seus serviços.
A prioridade dada por Pombal a estes objetivos compreendem-se como principios fundamentais do
despotismo iluminado, algo que no reinado anterior se havia degradado.
Foi nesta perspetiva que foram criados:
• a Junta do Comercio, com função de combater o contrabando e a corrupção existentes na
atividade comercial;
• Erário Régio, um organismo onde foram centralizados todos os serviços de receitas e despesas;
• Intendência Geral da Política de Lisboa, com o intuito de fortalecer o Estado.
O controlo pelo Estado do aparelho político implicava:
• o afastamento dos grupos nobiliárquicos e eclesiásticos tradicionais;
• a restrição/extinção dos privilégios e poderes desses grupos e ate das instituições que estes
dominavam;
É nesta perspetiva que se deve enquadrar a política de nivelamento social.

A submissão das forças sociais


Marques de Pombal combateu duramente todas as forças, categorias sociais e instituições que colocavam
obstáculos á autoridade regia ou estatal.
Por outro lado, promoveu a alta burguesia com o objetivo de criar uma clientela política apoiante e
submissa á ação governativa e empenhada na política de fenómeno económico do país. Também as
reformas de educação e do ensino se enquadram nesta política de racionalização.

 O reordenamento urbano
A realização dos objetivos do despotismo esclarecido passavam também por transformações da
fisionomia e das características dos espaços urbanos. Esses objetivos do despotismo esclarecido
da centralização política e do nivelamento social tiveram tradução nas cidades da Europa das Luzes na
adoção de uma maior uniformização arquitetónica.
• O terramoto de 1755 exigiu a reconstrução pombalina da Baixa de Lisboa. Esta reconstrução foi
orientada de acordo com o racionalismo iluminista da epoca:
traçado geométrico;
• Ruas largas e retilíneas;
• Subordinações dos projetos particulares á unidade do conjunto, isto é, todas as casas era iguais
porque havia nivelamento do espaço;
• Sentido pratico, p.e. o “sistema gaiola” ou antissísmico;
• Valorização da burguesia com a transformação do Terreiro do Paço na Praça do Comercio.

 A reforma do ensino
Os estrangeirados (portugueses que, vivendo no estrangeiro, traziam para Portugal os ideais iluministas)
foram acolhidos por Marques de Pombal. Ribeiro Sanches e Martinho Mendonça foram alguns dos
estrangeirados que mais influenciaram a reforma do ensino.
• Criação do Real Colégio dos Nobres;
• Criação da aula do comercio para os filhos dos burgueses;
• Fundação das escolas menores, entre elas as de ler, escrever e contar, que eram oficiais e
gratuitas;
• Reforma da Universidade de Coimbra.
Com o intuito de subsidiar todas estas reformas e permitir a sua continuação, Pombal criou uma espécie
de tributação nacional, o Subsídio Literário.
A civilização industrial- economia e sociedade; nacionalismos e choques imperialistas
Transformações económicas na Europa e no Mundo
A expansão da Revolução Industrial
 A ligação ciência-técnica; novos inventos e novas formas de energia
Inovações na indústria química e na siderurgia
No seculo XX, a siderurgia se tornasse o setor de ponta da revolução industrial. O progresso decisivo dera-
se nos meados do seculo quando se inventara um conversor capaz de transformar o ferro em aço. As
potencialidades do aço levam ao aparecimento da indústria pesada de bens de equipamento (máquinas,
locomotivas, navios, pontes, construções metálicas).
Muito ligada á pesquisa, a indústria química foi um dos mais importantes setores da 2ª Revolução
Industrial. Industria-base, ela desenvolveu e forneceu um conjunto de produtos ás outras indústrias:
pesticidas, corantes, fibras, inseticidas, adubos, etc.

Novas formas de energia


Durante praticamente todo o seculo XIX, a força motriz da industrialização foi o carvão. Em 1913, 90% da
energia produzida na Europa dependia deste combustível. Mas, nas últimas decadas do seculo XIX, outras
fontes de energia se desenvolvem: o petróleo e a eletricidade.

Aceleração dos transportes


Os transportes foram também fator de industrialização. Era cada vez ais necessário movimentar, de forma
rápida e barata, volumes crescentes de matérias-primas e bens industriais. Por isso, os meios de
transporte acompanharam o progresso, adotando desde logo uma das primeiras inovações da RI: a
máquina a vapor, nomeadamente o transporte ferroviário e o transporte marítimo.

 Concentração industrial e bancaria


A partir de 1870, poe falar-se em civilização industrial, já que a grande indústria que molda a vida
economica e regula as relações sociais.
As grandes empresas internacionalizam-se e as decisões políticas são cada vez mais condicionadas pelos
interesses da grande indústria e da alta finança. É a epoca do capitalismo industrial.

A concentração industrial
Com o avanço da industrialização, a oficina vai progressivamente cedendo o lugar á fabrica. A nova
maquinaria obriga á construção de espaços amplos.
No seculo XIX, as fabricas mais prosperas vão transformando-se em grandes empresas. De forma a captar
o investimento necessário, vai-se assistir á expansão das sociedades por ações, sociedades em que o
capital esta fracionado num conjunto de títulos mobiliários transacionáveis em bolsa.
Também o fenómeno da concentração empresarial se expande na 2ª metade do seculo XIX. Porque:
• Por um lado, a evolução tecnológica reforça a supremacia da “grande empresa” com maior
capacidade de inovação e financiamento de projetos de investigação científica.
• Por outro lado, a “grande empresa” resiste melhor ás crises que ciclicamente abalam a economia,
assim como é mais eficaz na luta contra a concorrência.
• A “grande empresa” dá perspetivas mais amplas de crescimento;
• Nesta altura, quando os mais pequenos abrem falência, são absorvidos por fimas mais
poderosas;
• Outras vezes são mesmo as grandes empresas que se fundem entre si de modo a ganharem mais
força e competitividade

A concentração bancaria
Os bancos desempenharam um papel primordial no crescimento económico do século XIX. Era a sua
atividade que permitia a movimentação das enormes somas envolvidas no comércio internacional e
tornava possível, graças ao crédito, a fundação, ampliação e modernização das indústrias. Assistiu-se
então:
• Ao forte crescimento dos bancos mais poderosos e à falência dos pequenos bancos;
• À constituição de grupos económicos (concentração bancária), que financiam empresas
(participação diretamente no desenvolvimento industrial) e controlam outros sectores da
economia;
• Condução à afirmação do capitalismo financeiro.

 A racionalização do trabalho
O desenvolvimento da grande empresa deu origem a uma nova organização do trabalho, que foi
racionalizado, com vista a uma maior produtividade (taylorismo).
Este trabalho mecanizado, realizado de forma acéfala e mecânica, retirava ao operário toda a criatividade
e dispensava o seu saber.
Assim, reforçou-se a estandardização dos produtos, com vista a uma produção em massa, dividiu-se o
trabalho em pequenas tarefas elementares, encadeadas, a fim de assegurar maior rapidez de execução.
Introduziram-se mecanismos que levavam as peças até aos operários, de forma a evitar perdas de tempo
com a movimentação dos trabalhadores e impôs-se, por força da linha de montagem, um ritmo constante
e acelerado de produção.
Mais trabalho em menos tempos, era igual a lucro. O taylorismo para alem de consolidar o consumo de
massas, foi um fator de progresso da industrialização.

A geografia da industrialização
 A hegemonia inglesa
Em resultado do seu pioneirismo industrial, a Inglaterra vai manter, ao longo de todo o seculo XIX, um
claro avanço sobre todos os outros paises. A sua indústria moderna permite-lhe abastecer o mundo de
bens de consumo e de bens de equipamento a preços de concorrência.
Todavia, no fim do seculo, em razão da concorrência, verifica-se algum esbatimento desta supremacia. O
equipamento industrial inglês, outrora mais avançado, tornara-se obsoleto quando comparado, por
exemplo, com o da Alemanha, que, fruto de uma industrialização mais recente, se apresentava mais
evoluída. Detetam-se, igualmente, dificuldades em acompanhar o constante avanço tecnológico e em
reorganizar de forma competitiva o trabalho.

 A afirmação de novas potências


A Alemanha
Processo industrializador rápido.
Grande concorrência aos produtos ingleses. 1885, delimitação do espaço colonial na Conferencia de
Berlim: rivalidades e ressentimentos crescentes entre os dois países.

A França
Foi o segundo país a arrancar com a industrialização, mas o seu ritmo foi lento. A revolução, as guerras
napoleónicas e a ausência de condições estruturais foram fatores inibidores.
Apesar disso, o crescimento foi constante.
Indústrias de arranque: têxtil e extrativa; siderúrgica (a partir de 1840). Em 1860: construção da
ferroviária, formação do mercado interno e aparecimento dos primeiros bancos. Entre 1901 e 1913, maior
dinamismo, setores: eletricidade, automóvel, cinema, construção. Esforço, todavia, insuficiente para
encurtar o fosso face aos outros paises.

A emergência do Japão
Numa civilização de características ainda feudais, a partir de 1868, o Imperador impõe-se aos senhores
da terra e aos samurais lançando o pais na era Meiji (uma era de luz e progresso), conseguindo a
ocidentalização do país, que de agricola e atrasado se converteu numa nação industrial competitiva.
O impulso industrializador coube ao Estado, ao promover a entrada de capitais e técnicos estrangeiros e
ao financiar a criação de indústrias, ás quais concedeu privilégios. Os setores mais dinâmicos foram o
siderúrgico, o têxtil de seda e a construção naval. O crescimento demográfico funcionou ao mesmo tempo
como reserva de mão de obra e mercado consumidor.
 A permanência de formas de economia tradicional
A industrialização não se generalizou em termos mundiais:

• As regiões da Europa do Sul, do Norte e Oriental não conheceram um ritmo de industrialização


ao da Europa Central;
• O crescimento demográfico, a formação de um sólido mercado externo, as estruturas sociais, a
mentalidade empreendedora, a disponibilidade financeira, o apoio governamental, as inovações
técnicas e as características geográficas determinam o arranque industrial ou a permanência de
formas de economia tradicional.

A agudização das diferenças


 A confiança nos mecanismos autorreguladores do mercado: o livre-cambismo
O livre cambismo deparou-se com enormes resistências á sua aplicação. Mesmo grandes indústrias e
grandes banqueiros, defensores da liberdade economica, olhavam com desconfiança para a livre
circulação de mercadorias.
É em Inglaterra, porem, que vão aparecer os principais defensores desta doutrina. Segundo eles, era a
liberdade comercial que iria trazer o desenvolvimento e a riqueza a todos os países, já que, em face da
concorrência, cada um se veria compelido a produzir aquilo que fosse mais apropriado em face das suas
condições naturais.
A adoção do livre-cambismo em Inglaterra, em 1841, teve importantes repercussões tanto no pais como
no estrangeiro, onde também acabou por se implantar. As tarifas aduaneiras baixaram e o comercio
internacional conheceu um periodo de florescimento.

 As debilidades do livre-cambismo; as crises cíclicas


As previsões de um crescimento harmonioso entre todas as nações do mundo acabaram por não se
verificar, acabando o livre-cambismo por atrofiar o processo de industrialização dos países mais
atrasados, que de um momento para o outro se viram submergidos pelos produtos das potencias mais
industrializadas, com as quais não conseguiram competir.
Para alem disso, mesmo nas nações mais desenvolvidas, o ritmo de crescimento era bastante irregular,
sendo frequentes s crises cíclicas, das quais resultava inevitavelmente uma retração dos negócios.

 O mercado internacional e a divisão do trabalho


A estrutura do comércio mundial refle a divisão internacional do trabalho, que a Revolução industrial
agudizou. Os quatro grandes países industrializadores (Inglaterra, França, Alemanha e EUA) tornaram-se
as “fábricas do mundo”, responsáveis por mais de 70% da produção industrial. Fornecem,
dentro da Europa, os países mais atrasados, aos quais adquirem produtos agrícolas e matérias-primas.
Estava já consolidado este sistema de trocas desigual, que perpetua a diferença ente os países
desenvolvidos e o mundo atrasado e pobre que lhes fornecem os produtos primários.

A sociedade industrial e burguesa


A explosão populacional; a expansão urbana e o novo urbanismo; migrações internas e
emigração
 A explosão populacional
Entre 1800 e 1914, a população mundial duplicou. Nesta explosão demográfica, a Europa foi quem mais
se destacou.
Foi a este acréscimo de população europeia e ao grande fluxo emigratório consequente que se ficou a
dever a colonização de Africa, América latina, da Austrália e sobretudo da América do Norte.
Mas este crescimento apresentou algumas disparidades. A Europa do Noroeste (mais industrializada) teve
sempre taxas de crescimento superiores ás da Europa Oriental e Mediterrânea (mais rural).
Os motivos da explosão populacional europeia
• Decréscimo da mortalidade. Embora a mortalidade infantil permanecesse ainda elevada, este
decréscimo foi irreversível e pôs fim ao antigo modelo demográfico);
• Melhoria dos cuidados de higiene. Novos hábitos: troca frequente de roupa, novas normas de
construção (esgotos, abastecimento de água potável, tijolo), etc.. Resultado: menor
insalubridade;
• Melhoria na alimentação. Maior disponibilidade alimentar + progressos nos transportes = fim
das crises de abastecimento;
• Progressos na medicina. Vacina contra a varíola, tifo, difteria, cólera; anestesia; pratica da
desinfeção;
• Elevada taxa de natalidade ate 1870 (so depois surge o regime demográfico moderno).

 A expansão urbana
No decurso do seculo XIX, o número de cidades aumenta. A propria cidade cresce, quer em superfície
quer em densidade populacional, aparecendo então as primeiras aglomerações urbanas.
Este crescimento urbano foi particularmente visível nos paises industrializados.

Os motivos
• Explosão demográfica;
• Transformações económicas e exodo rural. A industrialização fez da cidade um polo de atração
para os jornaleiros e pequenos proprietários expropriados aquando da revolução agricola e
tinham possibilidade de arranjar emprego na cidade. Os camponeses tinham deixado de ser o
grupo maioritário;
• Imigração;
• Ideias de promoção e modernidade. A cidade era simbolo de riqueza, abastança, espetáculo,
fortuna, êxito, sucesso profissional, social e pessoal. Quem vai para a acidade, alem de emprego,
vai atras da ideia de promoção.

Os problemas
Viver na cidade estava longe ser o paraíso. O modo de vida urbano representava uma rotura relativamente
aos valores das sociedades rurais.
Por outro lado, as cidades não estavam prontas para receber tao grandes contingentes populacionais,
nomeadamente a nivel das infraestruturas (sistema sanitário, rede de distribuição de água, serviços de
limpeza).
• Problemas de circulação. A sobrelotação do centro e a fraca rede de transportes refletiam-se na
circulação caótica;
• Problemas de falta de espaço e habitação. Os operários não tinham casa nem dinheiro. Em
alternativa, construíram-se prédios em altura e bairros operários nos subúrbios;
• Problemas de higiene e saúde publica. Habitações mal construídas, sem saneamento e sem
conforto. Ruas sem pavimento e iluminação. Epidemias de cólera e tuberculose. Permanência de
uma mortalidade infantil elevada.;
• Problemas de desregramento social e delinquência. A degradação das condições de vida na
cidade operária trouxe consigo um conjunto de problemas sociais;
• Problemas de abastecimento, na alimentação, água e combustíveis.
Os problemas materiais e morais decorrente no urbanismo selvagem dos primeiros tempos levaram as
autoridades municipais a repensar as cidades. Um novo urbanismo iria nascer.

O novo urbanismo
Ao longo do seculo XIX, nas principais cidades europeias e americanas, vão ser levados a cabo grandes
trabalhos de renovação, reordenamento e requalificação urbana.
As primeiras obras vão ter como objetivo a resolução dos problemas mencionadas, mas também, e em
simultâneo, engrandecer e embelezar o espaço urbano.
Mas os planos urbanísticos refletem a segregação social da era industrial. As grandes obras de renovação
convergem somente para o centro. Muralhas, ruas, sinuosas, casas humildes são destruídas para dar lugar
a edifícios emblemáticos do poder burgues.

 Migrações internas e emigração


Migrações internas
• Migrações regionais/deslocações sazonais: de trabalhadores, entre zonas rurais com calendário
agricola defasado; em geral temporárias.
• Fluxo migratórios do campo para a cidade- exodo rural. As alterações introduzidas pela
revolução agricola, o apelo da industrialização, a tração exercida pela vida urbana, provocaram
uma sangria na população rural.
Implicações: diminuição da população rural, envelhecimento da população camponesa, estagnação do
mundo rural.

Emigração
Na Europa vão registar-se importantes movimentos migratórios entre os varios países. As principais
razoes prendiam-se com desnível económico, crises de desenvolvimento, guerras e instabilidade política.
Desde 1850 que se assiste a partidas em massa, favorecidas pela revolução dos transportes marítimos e
pela propaganda das companhias de navegação. Também os governos e os sindicatos, a certa altura,
estimularam a emigração, de forma a aliviar o mercado interno de emprego, a evitar turbulência social, a
manter o nivel salarial e a desenvolver as áreas coloniais.

Os motivos
• Europa do Sul e Oriente: povoamento denso, distribuição insuficiente de recursos, agricultura
pouco produtiva, fraco desenvolvimento industrial;
• Inglaterra: desemprego tecnológico;
• Irlanda, fome de 1840, que leva a expulsa 1/7 da população;
• Alemanha com dificuldades conjunturais na economia.
A estes fatores de repulsa responderam os paises de destino com boas condições socioeconómicas. Estes
(EUA, Brasil), escassamente povoados, necessitavam de mão de obra (apos a abolição da escravatura)
para exploração dos seus recursos naturais e ofereciam sociedades abertas e flexíveis onde as
oportunidades de ascensão economica e de promoção social abundavam.

A emigração portuguesa
Na segunda metade do seculo XIX, também Portugal participou ni fluxo emigratório europeu. A maior
parte deste caudal teve como destino o Brasil. No mito brasileiro de torna-viagem, rico e bem instalado
na vida, se revia ( e por vezes se iludia) a população mais desfavorecida.
Á semelhança daquilo que sucedia nos restantes paises mediterrâneos, em Portugal, 80% da população
era ainda rural. Por outro lado, a fraca industrialização não absorvia a mão de obra
excedentária. A emigração constituía a única alternativa para a população confrontada, no Norte, com a
pequena exploração que mal garantia a subsistência e, no Sul, com a regressão da cerealicultura, em rezão
da concorrência do trigo americano. A emigração constituiu assim, no nosso país, uma forma de fuga á
fome e á miséria, e não tanto á proletarização.

Unidade e diversidade da sociedade oitocentista


 Uma sociedade de classes
As transformações políticas e económicas do seculo XIX na Europa, acabaram por alterar profundamente
as estruturas sociais do mundo ocidental, nascendo entao: a sociedade de classes.
Com efeito, as velhas e tradicionais sociedades de ordens, vão desvanecendo.
A ideologia liberal, ao proclamar a igualdade jurídica de todos os homens, ao abolir os antigos estatutos
jurídicos das ordens e ao acabar com os privilégios de nascimento, termina com o predomínio social e
político da aristocracia.
A consagração constitucional destes novos preceitos marca o fim da sociedade de ordem do Antigo
Regime, dando origem a uma sociedade mais flexível e mais dinâmica, onde as distinções entre os homens
radicam agora no seu poder económico, situação profissional, grau de instrução e cultural; onde os cargos
são acessíveis a todos, onde quem controla meios de produção possui mais imoveis ou exerce uma
profissão mais prestigiada terá mais hipótese de ascender socialmente (mobilidade social), e esta forma,
beneficiar de uma melhor educação ou usufruir de um estilo de vida pautado pelo conforto, luxo e bem
estar.

 A condição burguesa: heterogeneidade de situações; valores e comportamentos


A formação de uma consciência de classe burguesa
A sociedade do Antigo Regime foi substituída, no século XIX e XX, por uma sociedade de classes, que se
dividia em dois grandes grupos: a burguesia e o proletariado. A importância de cada uma dependia da sua
profissão: do que se fazia e do que possuía.
Nesta sociedade, a burguesia ocupava lugar de destaque. A burguesia dividia-se em alta, média e baixa-
A alta burguesia industrial e financeira liderava a economia e influenciava o poder político mas também
ditava as modas impondo ao resto da população um certo modelo de vida, os seus valores, e, até mesmo,
as suas formas de diversão.
A burguesia defendia princípios como o direito à propriedade, a ideia de família, a valorização do trabalho
e da poupança, mas também o gosto pelo bem-estar e pela ostentação. Procurava imitar a velha
aristocracia mas apresentava a riqueza como fruto do trabalho, da iniciativa e do esforço pessoais, nada
devendo ao privilégio de um nascimento em berço de ouro. Apontavam o êxito individual e da
mobilidade social, nos verdadeiros self-made men.
Entre os dois últimos estratos, situava-se uma numerosa classe média, composta por pequenos e médios
empresários e profissionais liberais, como médicos, engenheiros, advogados, professores e jornalistas.
Nos estratos mais baixos da nova sociedade estava o proletariado, composto pela grande massa de
operários que enchia as cidades.

Proliferação do terciário e incremento das classes medias


Ao proclamar-se a igualdade dos homens perante a lei, já não fazia sentido os títulos de nobreza, os
brasões e os demais privilégios judiciais ou fiscais, derivados do nascimento e perpetuados em diferentes
estatutos jurídicos. As distinções entre os homens radicam no poder económico, na situação profissional,
no grau de instrução e cultura, nas opções políticas, nos valores e comportamento. A mobilidade
ascensional na nova sociedade era aberta e fluida, fazendo com que ser de uma família pobre não
bloqueava a ascensão e ser de uma família rica não garantia o usufruto de uma vida de luxo.
O crescimento das classes médias deveu-se, principalmente, à proliferação do terciário e dos serviços.
Aliado à necessidade de distribuir a riqueza produzida fez-se crescer os empregos comerciais (patrões
grossistas ou retalhistas, transportadores, empregos de loja ou de armazéns, vendedores). As
profissões liberais (advogados, médicos, farmacêuticos, engenheiros, notários, intelectuais, artistas)
mantinham um estatuto de privilégio devido ao seu conhecimento científico e importante na nova
moderna sociedade. O desenvolvimento de novas profissões como os funcionários de
escritório e o alargamento do ensino gratuito viu crescer o número de efetivos da classe média que se
situava entre a alta burguesia e o proletariado.

O conservadorismo das classes medias


As classes médias eram socialmente conservadoras. Encaravam com desconfiança o operário, cujos
hábitos de contestação lhes repugnavam. Defendiam os ideais de sentido da ordem, de estatuto e das
convenções, o respeito pela hierarquia, o gosto pela poupança, que lhes conferia algum luxo. Aspiravam
a respeitabilidade e a decência e davam grande importância ao seio familiar. Tinham gosto pelo trabalho,
pelo estudo, pela responsabilidade e pelo mérito. Viviam o culto das aparências.
 A condição operária: salarios e modos de vida; associativismo e sindicalismo; as propostas
socialistas de transformação revolucionária da sociedade
Condições de trabalho
• Longos horários de trabalho e esgotamento físico;
• Acidentes de trabalho;
• Trabalho e salário precários;
• Exploração da mão-de-obra feminina e infantil.

Condições de vida
• Habitações insalubres e, frequentemente, sobrelotadas;
• Alimentação insuficiente e desequilibrada;
• Doenças OU alcoolismo OU prostituição OU delinquência OU criminalidade;

O movimento operário: associativismo e sindicalismo


Ao longo de todo o seculo XIX, as crises cíclicas, o número crescente de trabalhadores e a modernização
do processo produtivo, com a desvalorização do trabalho operário, tiveram como reflexo a pauperização
da classe operária.
Por outro lado, o regime liberal, ao defender a liberalização total do mercado de trabalho e ao proibir as
antigas associações profissionais de solidariedade social, deixou o operário ainda mais desprotegido.
E isolados, os operários pouco podiam fazer face á degradação das suas condições de vida.
Apesar disso, os operários procuraram reagir com greves e violência por toda a Europa, algo que já estava
condenado ao fracasso. Sentiu-se então a necessidade de uma organização mais consistente da classe
operária, de forma a minorar os seus problemas e levar a bom termo as suas reivindicações. Nascia o
associativismo e o sindicalismo.

As propostas socialistas de transformação revolucionária da sociedade


O socialismo é uma teoria, doutrina ou prática social que defende a supressão das diferenças entre as
classes sociais, mediante a aproximação pública dos meios de produção e a sua distribuição mais
equitativa. O socialismo propunha os seguinte objetivos:
• Denúncia dos excessos da exploração capitalista;
• Eliminação da miséria operária;
• Procura de uma sociedade mais juta e igualitária.

O socialismo utópico
Distinguiu-se pelas suas propostas de reforma económica e social, que passavam pela recusa da violência,
pela criação de cooperativas de produção e de consumo e pela entrega dos assuntos do Estado a uma
elite de homens esclarecidos que governariam de molde a proporcionarem uma maior justiça social. P. J.
Proudhon chegou mesmo a defender a abolição da propriedade privada e a abolição do próprio Estado
que considerava desnecessário.
Preconizava uma autêntica revolução na economia, através da criação de associações mútuas, onde todos
trabalhariam, pondo em comum os frutos do trabalho. Originar-se-ia, em consequência, uma
sociedade igualitária de pequenos produtores, capazes de assegurarem a melhoria das condições sociais
sem luta de classes ou intervenção do Estado.

O marxismo
A perspetiva marxista concebe a História como uma sucessão de modos de produção (esclavagismo,
feudalismo, capitalismo), sucessão essa devido à luta de classes.
A luta de classes entre proletários e burgueses, devido ao modo de produção capitalista que beneficiava
os burgueses, conduziria à destruição do capitalismo, à implantação da ditadura do proletariado e à
construção do comunismo, a verdadeira sociedade socialista, sem classes, sem propriedade privada e se
Estado.
As internacionais operárias
A I Internacional mantinha secções locais nos países industrializados e apoiou numerosas greves em toda
a Europa. Apoiou também a insurreição dos operários da capital francesa, conhecido por Comuna de Paris.
Apesar de os apelos de Marx surtirem efeito e os partidos de classes operária irromperem, houve teses
que se opuseram ao marxismo como os proudhonianos e os anarquistas (rejeitavam as instituições que
ameaçavam a liberdade do indivíduo e defendiam o associativismo responsável e a repartição equitativa
dos bens. Para o derrube do capitalismo, preconizava a greve geral e o recurso aos atentados
terroristas, afastando-se do pacifismo proudhoniano).
Estes desentendimentos levaram à dissolução da I Internacional. Já a II Internacional viu-se também
ameaçada pelo revisionismo alemão (propôs uma evolução pacífica, gradual e reformista do capitalismo
para o socialismo por um clima de entendimento e colaboração ente os partidos da burguesia) e mais
uma vez levou à sua dissolução em 1914.

Evolução democratica, nacionalismo e imperialismo


As transformações políticas
 A evolução democratica do sistema representativo; os excluídos da democracia representativa
Da Monarquia á república
A segunda metade do século XIX assistiu a uma evolução democrática para um Demoliberalismo. Consistia
num sistema político em vigência no mundo ocidental em que se conferia um grande valor à
representação da Nação alargando o sufrágio e reforçando o poder dos Parlamentos. Neste período
assistiu-se à diminuição do poder do monarca e uma aproximação à República, o regime mais democrático
e livre considerado pela população.

O sufragio universal
O sufrágio universal foi instituído, acabando com as restrições financeiras ao exercício da cidadania. A
idade de voto fixou-se num modo geral nos 21 anos mas as mulheres e os negros, bem como os
analfabetos, eram afastados do poder de voto. As classes médias e o proletariado, entravam no exercício
da política.

 As aspirações de liberdade nos Estados autoritários


A autocracia
Nos impérios europeus autoritários alemão, austro-húngaro e russo, os soberanos governavam de forma
autocrática, quase sem conhecerem limites à sua autoridade e personificando a lei.
Apesar da publicação de constituições e da concessão do sufrágio universal, os imperadores continuavam
senhores dos destinos dos governos que demitiam quando entendiam. Anulavam as leis dos parlamentos,
substituindo-as por decretos imperiais e socorriam-se da polícia secreta para controlarem a oposição
política.

O conservadorismo
Rigidez e conservadorismo dominavam as sociedades imperiais. As velhas nobrezas mantinham uma forte
implantação nos cargos governativos e no exército, bloqueando a aplicação do princípio democrático da
igualdade de oportunidades.
Quanto às Igrejas gozavam de elevada proteção dos Estados, que as acumulavam de privilégios e não
reconheciam a liberdade religiosa.

A submissão das nacionalidades


Aos múltiplos povos do império não eram reconhecidos direitos, violando a aplicação do princípio liberal
das nacionalidades, segundo cada povo tem a sua Nação e cada Nação um respetivo Estado. Estas
submissões levaram a grandes tensões políticas e sociais.
 Os movimentos de unificação nacional
A unificação italiana
Em meados do século XIX, a Itália era um conjunto de sete Estados. Embora as correntes nacionalistas se
viessem a expandir desde o século XVIII, a ideia de um Estado único enfrentava a oposição dos Austríacos,
que dominavam do Norte e Centro, e a desconfiança do Papa, detentor dos vastos Estados da Igreja.
A unificação partiu da iniciativa do Reino do Piemonte-Sardenha, pois era o Estado onde o Liberalismo se
encontrava em expansão, quer a nível económico (era o mais industrializado do território italiano), quer
a nível político (vigorava a monarquia constitucional do rei Vítor Manuel II, favorável às ideias liberais).
As figuras-chave da unificação foram o primeiro-ministro Cavour, que defendeu a integração de Roma na
Itália unificada (mas salvaguardando a independência do Papa) e Garibaldi, conquistador do Reino das
Duas Sicílias. Graças ao apoio da França de Napoleão III, os Austríacos foram vencidos em batalha e Vítor
Manuel II tornou-se rei de Itália.

A unificação alemã
Em 1850, o território alemão era composto por 39 Estados autónomos, embora ligados pela Confederação
Germânica, criada pelo Congresso de Viena (1815).
A unificação foi impulsionada pela Prússia (o Estado mais industrializado) que já havia derrubado as
barreiras alfandegárias entre alguns dos Estados em 1828 (aliança que tomou o nome de Zollverein).
Os principais obreiros da unificação foram o rei Guilherme I da Prússia e o chanceler do rei Otto von
Bismark. A unidade alemã foi conseguida pelas armas, primeiramente contra a Áustria, na Guerra dos
Ducados, para integrar os territórios do Norte e Centro, e depois contra a França de Napoleão III, em
1870-71, para dominar os Estados do Sul.
A unificação, sob a forma de um Império com 25 Estados – o II Reich - consumou-se 1871, sob o reinado
do kaiser Guilherme I.
A unificação da Itália e a da Alemanha exprime claramente o nacionalismo oitocentista, pois cumpriu,
simultaneamente, dois objetivos: ligar povos com uma tradição comum e satisfazer interesses
económicos. A integração de territórios ricos em matéria-prima para a indústria (caso da Alsácia e Lorena,
anexadas pelo Império Alemão) e a conquista de colónias para escoar os produtos industriais não foram
alheios aos anseios nacionalistas do século XIX.

Os afrontamentos imperialistas: o domínio da Europa sobre o Mundo


 Imperialismo e colonialismo
A formação de impérios pelas potências europeias explica-se, em primeiro lugar, no contexto da expansão
industrial, que necessitava de matérias-primas para a produção maquinofaturada e de mercados para
escoar os excedentes.
Em segundo lugar, o continente europeu, em fase de explosão populacional, precisava de colónias para
aliviar a pressão demográfica.
Por último, os anseios nacionalistas que acompanharam a criação das democracias europeias tinham uma
vertente imperialista. O nacionalismo carregava a ideia de conquista: pangermanismo, pan-eslavismo
eram vocábulos correntes na época, utilizados para transmitir o desejo de expansão imperialista de um
povo traduzida no prefixo pan (vocábulo de origem grega que significa tudo ou todo).

 Rivalidades imperialistas
Profundas tensões acompanharam de perto o fenómeno imperialista. Rivalidades económicas e políticas
originaram acesas disputas territoriais. Nos Balcãs, em Marrocos, no Sudeste africano, no Extremo
Oriente, as rivalidades imperialistas e os nacionalismos fomentavam crises e punham em causa a
segurança mundial.
Vivia-se um clima de “paz armada” patente na formação de alianças militares como a Tríplice Aliança e a
Tríplice Entente, que conjugadas com a corrida aos armamentos, abriram o caminho para a Iª Guerra
Mundial.
Portugal, uma sociedade capitalista dependente
A Regeneração entre o livre-cambismo e o protecionismo (1851-1880)
 Uma nova etapa política
A Regeneração foi um período da vida política portuguesa que decorreu entre 1851 e o fim do século XIX.
Teve como objetivo o estabelecimento da concórdia social e política (das diferentes fações do
Liberalismo), bem como o desenvolvimento económico do país. Para o efeito, procedeu-se à revisão da
Carta Constitucional (alargou-se o sufrágio), assegurou-se o rotativismo partidário e promoveu-se uma
série de reformas económicas.

 O desenvolvimento de infraestruturas: transportes e meios e comunicação


A política de Obras Públicas do período da Regeneração foi designada por fontismo devido à ação do
ministro Fontes Pereira de Meio.
Preocupado em recuperar o país do atraso económico, Fontes encetou uma política de instalação de
infraestruturas e equipamentos, tais como estradas, caminhos-de-ferro, carros elétricos, pontes, portos,
telégrafo e telefones.

Os resultados
Vislumbravam-se três grandes vantagens decorrentes do investimento em transportes e meios de
comunicação:
• a criação, pela primeira vez na história portuguesa, de um mercado nacional, fazendo chegar os
produtos a zonas isoladas e estimulando o consumo;
• o incremento agrícola e industrial;
• o alargamento das relações entre Portugal e a Europa evoluída.
• Porém, como alertava, então, Oliveira Martins, embora o caminho-de-ferro fosse um meio de
• desenvolvimento económico também criou "condições de concorrência para que não estávamos
preparados".

 A dinamização da atividade produtiva


Sob o signo do livre-cambismo
O fomento económico assentou na doutrina livre-cambista, expressa na pauta alfandegária de 1852.
Fontes Pereira de Meio (o qual, além de ministro das Obras Públicas, foi, também, ministro da Fazenda)
era um acérrimo defensor da redução das tarifas aduaneiras, argumentando que:
• só a entrada de matérias-primas a baixo preço poderia favorecer a produção portuguesa;
• a entrada de certos produtos industriais estrangeiros (que Portugal não produzia) a preços mais
baixos beneficiava o consumidor;
• a diminuição das tarifas contribuía para a redução do contrabando.

A exploração capitalista dos campos


A aplicação do liberalismo económico favoreceu a especialização em certos produtos agrícolas de boa
aceitação no estrangeiro como, por exemplo, os vinhos e a cortiça. A aplicação do capitalismo ao sector
agrícola passou por uma série de inovações, nomeadamente:
• o desbravamento de terras (arroteamentos);
• a redução do pousio;
• a abolição dos pastos comuns;
• a introdução de maquinaria nos trabalhos agrícolas (sobretudo no Centro e Sul do país, pois no
Norte a terra é mais fragmentada e irregular);
• o uso de adubos químicos (produzidos nacionalmente, devido ao desenvolvimento da indústria
química).
A industrialização
Progressos
• difusão da máquina a vapor;
• desenvolvimento de diversos sectores da indústria (nomeadamente cortiças, conservas de peixe
e tabacos);
• criação de unidades industriais e concentração empresarial em alguns sectores (por exemplo, no
têxtil);
• aumento da população operária, sobretudo no Norte do país (apesar de se tratar
maioritariamente de mão-de-obra não qualificada);
• criação de sociedades anónimas;
• aplicação da energia elétrica à indústria (já no século XX).

Bloqueios
• a falta de certas matérias-primas no território nacional (por exemplo, o algodão);
• a carência de população ativa no sector secundário (totalizava apenas cerca de 20%, em 1890);
• a falta de formação do operariado e do patronato;
• a orientação dos investimentos particulares para as atividades especulativas e para o sector
imobiliário, em detrimento das atividades produtivas;
• a dependência do capital estrangeiro.

 A necessidade de capitais e os mecanismos de dependência


As obras públicas, resultado da política de desenvolvimento da Regeneração, trouxeram graves
problemas a Portugal. Por começar estas obras eram construídas através do investimento estrangeiro,
caindo na sua dependência.
O défice das finanças públicas não parava de crescer e os sucessivos aumentos dos impostos não
conseguiam a situação de equilíbrio. Para pagar a dívida, recorria-se a empréstimos estrangeiros que
entravam num ciclo vicioso pois para os pagar recorriam-se a outros empréstimos estrangeiros, elevando
o défice orçamental cada vez mais crónico.

Entre a depressão e a expansão (1880-1914)


 A crise financeira de 1880-1890
Entre 1880 e 1982, Portugal viveu uma crise financeira gravíssima resultante da política de livre-câmbio
do período da Regeneração, decretando bancarrota em janeiro de 1892. Entre os fatores que a explicam
encontramos:
• A diminuição das exportações agrícolas;
• A importação de artigos industriais;
• Aumento dos encargos coma dívida pública devido aos sucessivos empréstimos no país e no
exterior;
• Falência dos londrinos Baring & Brothers, que cobriam o défice das finanças públicas com
empréstimos;
• Diminuição das remessas de dinheiro dos nossos emigrantes devido à crise económica no Brasil.

 O surto industrial do final do seculo


No final do século XIX, a crise obrigou a uma reorientação da economia portuguesa, que apostou nos
seguintes vetores:
• retorno à doutrina protecionista (com a pauta alfandegária de 1892),que permitiu à agricultura
enfrentar os preços dos cereais estrangeiros e à indústria colocar a produção no mercado em
condições vantajosas;
• concentração industrial - através da criação de grandes companhias, melhor preparadas para
enfrentar as flutuações do mercado (por exemplo, a CUF - Companhia União Fabril, de Alfredo
da Silva, produtora de adubos);
• valorização do mercado colonial, suprindo a perda de mercados europeus;
• expansão tecnológica, com a difusão dos sectores ligados à 2ª revolução industrial (eletricidade,
indústria química, metalurgia pesada) e da mecanização.

As transformações do regime político na viragem do seculo


 Os problemas da sociedade portuguesa e a contestação da monarquia
A crescente massa urbana aliada aos progressos da instrução e a proliferação dos jornais contribuíram
para a formação da opinião pública, força poderosa que os governos passaram a ter em conta e que
desempenhou nas últimas décadas da monarquia um papel primordial.

A crise político-social e a emergência das ideias republicanas


O rotativismo partidário português, fruto da Regeneração, parecia não dar resposta à crise financeira. As
rivalidades ente os dois partidos originaram duras críticas ao Governo e o rei era visto na opinião pública
como o culpado dos males que afligiam o país.
A debilidade económica fazia-se sentir e dos campos, saíam milhares de emigrantes. O operariado
miserável, pobremente alojado e alimentado, era analfabeto e as classes médias olhavam com dificuldade
os baixos salários face ao seu estatuto que lhes dava uma vida digna. Com exceção da alta burguesia ligada
ao poder político, estas classes sociais viviam um descontentamento geral e eram recetivos face aos
projetos de mudança.
O Partido Republicano viu nesta situação uma oportunidade de se afirmar. Efetuou diversas críticas
violentas ao rei e aos seus governos e emancipava um patriotismo português forte, que originou a sua
crescente adesão.

A questão colonial e o Ultimato britânico


Um dos assuntos que mais interessava à opinião pública era a questão das colónias. Em 1881, a Sociedade
de Geografia de Lisboa elaborou um projeto que visava a ligação de Angola com Moçambique, ficando
conhecido por “Mapa Cor-de-Rosa”. Face a estas pretensões africanas, Portugal recebeu um Ultimatum
britânico, pois a Grã-Bretanha pretendia ligar numa faixa contínua o seu território do Cabo ao Cairo.
Ameaçando o corte diplomático, Portugal aceitou as exigências britânicas e abandonou o projeto, dando
origem a diversas contestações face ao Governo que deram origem à primeira tentativa de derrube da
monarquia no Porto a 31 de janeiro de 1891, que acabou por fracassar.

Do reforço do poder real á implantação da República


A revolução fracassada do Proto fez ver que o estado político do país estava muito débil e que era
necessário um poder forte e seguro capaz de dar volta à situação.
Assistiu-se a um contorno do republicanismo e a um clima propício ao reforço do poder real. D. Carlos
dispôs-se então a realizar diversas reformas há muito esperadas e em 1906, nomeia o chefe de Governo
João Franco. Franco viu-se nos braços de uma sistemática obstrução do Parlamento, agitado por
escândalos financeiros e pela agressividade dos partidos da oposição.
Desta forma, D. Carlos dissolveu o Parlamento e João Franco governou em ditadura.
A repressão abateu-se de tal forma que levou ao assassinato do rei e do príncipe herdeiro a 1 de fevereiro
de 1908. Apesar do sucessor, D. Manuel, tentar governar num clima de transigência e compromisso, a
revolta republicana prosperou e a 5 de outubro de 1910 foi proclamada a primeira república portuguesa.

A Primeira República
O sistema parlamentar
O poder legislativo pertencia ao Congresso da República, composto por duas câmaras- a dos Deputados
e o Senado ambas eleitas por sufrágio direto e universal, com restrições (Eleitores: todos os portugueses
com mais de 21 anos, com a condição de saberem ler e escrever ou de serem chefes de família).
O predomínio do poder legislativo expressava-se nas vastas competências do Congresso a quem cabia a
legislação geral, tal como muitas matérias do exercício regular do Governo e da Administração Pública. Já
o presidente, eleito de 4 em 4 anos, promulgava de forma automática, as leis aprovadas.
Pelo contrário, era ao Parlamento que cabia o controla das ações do Governo e do Presidente, o que
contribuiu para uma enorme instabilidade governativa.
Palco de encarniçadas lutas políticas, o Congresso obstruía de forma quase sistemática, a ação dos
governos que, constantemente substituídos, não dispunham de tempo nem de autoridade para
concretizarem as suas tarefas.

A concretização do ideário republicano


As principais ideias sobre as quais assentou a atuação dos governos da Primeira República foram:
• a laicização do Estado (total separação entre a Igreja e o Estado), porém, as medidas anticlericais
do ministro Afonso Costa (por exemplo, a expulsão dos jesuítas do país) fizeram com que a
primeira república perdesse uma grande parte do apoio popular;
• a abolição da sociedade de ordens (pela aniquilação definitiva dos privilégios do Clero e da
Nobreza);
• a defesa dos direitos dos trabalhadores (nomeadamente, instituindo o direito à greve e o
descanso obrigatório aos domingos para os assalariados);
• o direito à instrução (através da reforma do ensino público) - a Primeira República conseguiu
resultados assinaláveis no domínio do ensino mas afastou os analfabetos da intervenção política.

Os caminhos da cultura
A confiança no progresso científico
 O avanço das ciências exatas e a emergência das ciências sociais
Palco de extraordinárias descobertas, o século XIX não se limitou a acrescentar o volume dos
conhecimentos, mas revolucionou também as suas bases:
• Na Química, Mendeleiev elaborou a primeira tabela periódica;
• Na Física, os britânicos formularam a teoria cinético-molecular, onde todos os corpos são
formados por partículas dotadas de movimento, cuja intensidade varia pela ação de fatores
externos por como, por exemplo, a temperatura;
• Na biologia, Charles Darwin publicou a “Origem das Espécies”, uma hipótese da evolução das
espécies animais e vegetais e Mendel desvendaria o complexo mecanismo que preside à
transmissão dos caracteres hereditários;
• Na microbiologia e na medicina, os estudos de Louis Pasteur e de Robert Koch, deram melhores
conhecimentos sobre as causas da propagação de doenças;
• A Sociologia nasceu e Émile Durkheim lançou os seus fundamentos na obra “As Regras do
Método Sociológico”;
• Na economia política, Marx tentou tornar “científico” o socialismo utópico;
• A Geografia deixou de ser puramente descritiva, debruçando-se sobre a relação entre homens e
o espaço;
• A História desenvolveu as regras para a seleção e a crítica das suas fontes, na esperança de, desse
modo, reconstituir o passado com toda a exatidão.

 A progressiva generalização do ensino publico


O cientismo e a sua fé inabalável no alcance do conhecimento impulsionaram a instrução e o seu
desenvolvimento, sendo a segunda metade do século XIX a época da alfabetização:
• O ensino primário tornou-se gratuito e obrigatório;
• O pagamento dos professores deixou de estar a cargo das autarquias e instituições de
benemerência e transitou para o poder central;
• Construção de redes de escolas;
• Laicização da escola pública;
• Impulsionamento dos ensinos secundários e superiores, que formavam profissionais nas áreas
da engenharia e empregos liberais, com renovação dos seus currículos e métodos pedagógicos;
• Desenvolvimento, na Alemanha e EUA, do conceito de docência universitária que colocava o
professor como orientador do trabalho e dos seus alunos formando uma equipa de investigação.
O interesse pela realidade social na literatura e nas artes- as novas correntes estéticas na
viragem do seculo
 O realismo
Movimento cultural que se segue e se opõe ao Romantismo. Influenciado pela corrente positivista, o
Realismo rejeita toda a subjetividade, opondo à beleza, ao refinamento, à elevação moral o simples culto
dos factos. Estendendo-se, embora, a vários domínios, este movimento foi particularmente expressivo na
pintura e na literatura.
Na pintura, o Realismo manifestou-se na simples reprodução, desapaixonada e neutra do que a vista
oferece ao pintor, passando, depois aos temas do quotidiano. Na literatura, o Realismo centrou-
se no retracto objetivo da realidade social em detrimento da exaltação dos sentimentos individuais que
tinha marcado o Romantismo. Foi esta realidade palpável, clara e cruamente exposta, que chocou a
sociedade burguesa da época, tão ligada às aparências.

 O impressionismo
Corrente pictórica que se esboça na década de 60 e persiste, pelas mãos de pintores como Claude Monet,
até ao início do século XX. Os impressionistas procuram captar a realidade visível tal como, de imediato,
a percebemos, transfigurada pelas diferentes intensidades de luz. Caracteriza-se por uma técnica
pictórica rápida, de contornos diluídos, que privilegia as cores fortes e claras. Rejeita a pintura de atelier,
a aplicação tradicional das cores, o esboço prévio e os contornos definidos.

 O simbolismo
Corrente artística da segunda metade do século XIX que atingiu a sua expressão mais forte cerca de 1880-
1890. O Simbolismo toma como tema o mundo dos pensamentos e dos sonhos, o sobrenatural
e o invisível, adquirindo um carácter hermético e isotérico. Revela um desprezo pelo mundo industrial
(evasão do quotidiano) e rejeita o “culto dos factos”, a simples reprodução da realidade visível.

 Uma “arte nova”


Estilo que marca, na Europa, a viragem do século (1890-1914) e se afirma pela oposição aos estilos antigos
que continuavam a inspirar a arte académica. Embora se desdobre em múltiplas vertentes
nacionais, a Arte Nova define-se pela preocupação decorativa, pelo predomínio da linha ondulada, pelo
recurso aos motivos florais e femininos e pela predominância de cores claras. Rejeita a separação
entre artes maiores (arquitetura, escultura, pintura) e artes menores (artes decorativas em geral).

Portugal: o dinamismo cultural do último terço do seculo


 O impulso da geração de 70
A inquietação e os anseios de modernidade que se sentiam na Europa vai masterizar-se em Portugal, num
grupo de estudantes de Coimbra, conhecendo-os como a Geração de 70, este grupo de jovens abraçava
entusiasticamente a fé cientista no progresso, bem como a crença no papel da literatura como meio de
transformação social. Insurgia-se contra a “escola literária de Coimbra” e o conservadorismo dos
intelectuais portugueses, contrapondo-lhes a “novidade” europeia. Elaboraram uma série de
Conferências Democráticas onde discutiam abertamente a política, a sociedade, o ensino, a literatura e a
religião.
Condenados pelo regime, o ciclo das conferências não chegou a completar-se. Os membros da Geração
de 70 sentiram-se então derrotados pelo imobilismo nacional, tendo, todavia, deixado um legado que
alimentou a efervescência ideológica que marcou o fim da monarquia e abriu o caminho a novas correntes
literárias e artísticas.

 O primado da pintura naturalista


Em Portugal, fruto dos jovens estudantes bolseiros que estudavam em França e de lá traziam as novas
correntes artísticas, o Naturalismo ganhou destaque e tornou-se a “arte oficial” que, sendo moderno, não
chocava nem desencadeava polémicas no seio da sociedade conservadorismo da época, predominando
uma inexistência de percursos marcantes pela inovação e originalidade.

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