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A Europa nos séculos XVII-XVIII e a Europa dos estados absolutos

A evolução demográfica da Época Moderna (XV-XVIII), nas suas linhas gerais,


caracteriza-se por várias oscilações: um crescimento robusto no século XVI, um
retrocesso no século XVII e, um novo período de expansão no século XVIII.
Podemos afirmar que estas oscilações resultaram do sistema económico que vigorou até
ao final do século XVIII, a chamada economia pré-industrial, que se caracterizava por
uma extensa base agrícola e uma forte debilidade tecnológica. Esta agricultura era muito
rudimentar e, naturalmente esta debilidade dificultava o quotidiano da população europeia
e, por isso era frequente a ocorrência de crises demográficas, que consistiam numa
elevação brusca da taxa de mortalidade que ultrapassava a taxa de natalidade, apesar de
esta ser igualmente elevada. Este aspeto é uma característica permanente do modelo
demográfico da Época Moderna.
Realçando agora o século XVII, este foi conhecido em toda a Europa por ser um século
sombrio e de grandes dificuldades, pelo que a trilogia negra (fome, peste e guerra) voltou
a assolar a Europa.
A contrastar com este século desastroso, surge o século XVIII, um período de
crescimento caracterizado essencialmente pela redução da mortalidade. Este fator foi
proporcionado pelas melhorias climáticas, uma alimentação mais equilibrada, a melhoria
dos transportes, as melhorias na habitação (casas com tijolo), progressos na higiene,
melhoria na saúde pública (criação da vacina, desenvolvimento da obstetrícia e a prática
da quarentena), o recuo da peste e a ocorrência de menos guerras. Todos estes fatores
estão na raiz de um novo modelo demográfico, caracterizado pelo recuo da mortalidade
juntamente com uma elevada natalidade, o rejuvenescimento da população e o aumento da
esperança média de vida.
Assim, surgiu um novo período histórico designado Antigo Regime, que tem início no
século XVI e fim no século XVIII. Socialmente este período caracteriza-se por possuir
uma estrutura fortemente hierarquizada, politicamente corresponde às monarquias
absolutas e economicamente ao desenvolvimento do capitalismo comercial.
A sociedade do Antigo Regime encontrava-se organizada através de ordens ou estados:
o clero, a nobreza e o povo, sendo apenas os primeiros dois grupos privilegiados podendo
usufruir de alguns privilégios.
O Clero surgia como o estado mais digno por ser o mais próximo de Deus e, assim era o
único estatuto que não se adquiria pelo nascimento. Esta ordem social encontrava-se
subdividida em Alto Clero (filhos segundo da nobreza) e Baixo Clero (párocos e frades
oriundos da população rural).
A Nobreza era a ordem de maior prestígio por ser a mais próxima do Rei. Tinha como
função proteger e defender o país e, por isso ocupava cargos mais elevados na
administração e no exército. Esta subdividia-se em nobreza de sangue (membros que
nasciam nesta ordem social) e a nobreza de toga (burguesia enobrecida).
O Povo era a ordem que não detinha quaisquer privilégios. A maioria do povo dedicava-
se à agricultura, porém existiam também os burgueses que exerciam profissões ligadas ao
comércio. De entre o povo encontravam-se também os mendigos e os vagabundos.
Nesta sociedade hierarquizada a mobilidade social era completamente escassa,
ocorrendo apenas quando um indivíduo se destacava na sociedade e o rei lhe atribuía um
título, ou mais raramente quando um nobre por questões financeiras se casava com um
burguês.
Para manter a ordem social na sociedade do Antigo Regime encontrava-se o Rei como
expoente máximo do poder, detendo em si todos os poderes e, assim instaurando uma
monarquia absoluta. O Rei conjuga em si quatro características básicas: é sagrado, pois
provém de Deus e por isso todos lhe obedecem; é paternal, uma vez que deve satisfazer as
necessidades do seu povo, protegê-lo e defendê-lo; é absoluto, porque contém em si todos
os poderes; e está submetido á razão, visto que Deus dotou os reis de capacidades
superiores que o permitem governar de modo a fazer o bem. O Rei D. Luís XIV foi
considerado o exemplo máximo do absolutismo.
Com todo o poder que lhe é concedido o Rei encontra-se rodeado por um vasto grupo de
pessoas que participam ativamente na vida de corte, ao que se designava sociedade de
corte. Usualmente, o Rei aproveitava este ambiente para mais facilmente controlar a
nobreza e o clero.
A sociedade de corte era uma constante encenação de poder demonstrado através de
festas luxuosas e numeroso banquetes. Assim, como expoente do poder, os atos do
quotidiano do Rei eram ritualizados e encenados de modo a endeusar a sua pessoa e
submeter as ordens sociais.
O modelo da sociedade do Antigo Regime instaurou-se por toda a Europa, porém este
manifestou-se de forma diferente nos diversos países europeus. Portugal não foi exceção,
entre as principais caraterísticas da sociedade de ordens portuguesa, destaca-se o
afastamento da burguesia das esferas do poder, pelo facto de os comerciantes portugueses
serem muito acanhados e, a preponderância política da nobreza de sangue. No nosso país
surgiu no Antigo Regime, uma nobreza mercantilizada que se dedicava ao comércio,
trabalho usualmente destinado á burguesia. Esta nobreza mercantilizada deu origem à
figura do “cavaleiro-mercador” que investia os lucros do comércio praticado em terras e
bens de luxo, e não em atividades lucrativas.
A concentração de poderes obrigou os reis portugueses a proceder à sua organização,
para isso estes decidiram reestruturar a burocracia do Estado, redefinindo as funções dos
órgãos já existente e criando novos órgãos. Assim, no século XVII, criaram-se as
secretarias que intervêm em áreas como defesa, finanças e justiça. No século XVIII, esta
estrutura governativa foi-se aperfeiçoando e, o rei impôs-se com mais firmeza na
governação, pelo que as reuniões nas cortes foram tornando-se cada vez mais escassas até
extinguirem em 1697.
Foi assim imposta em Portugal uma monarquia absoluta por intermédio de D. João V,
que procurava seguir o estilo de vida pessoal e governamental de Luís XIV e, era
usualmente designado de “Rei Sol Português”. D. João V diminui progressivamente a
capacidade de decisão dos diversos conselhos, remodelando as secretarias criadas e
rodeando-se de colaboradores de confiança. Ainda assim, o aparelho burocrático do
Estado era muito lento e insuficiente o que revelou a incapacidade da instituição real em
subjugar o país.

Maria João Queirós Teixeira

N.º 19 11.º CLH1

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