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1.1.1.

O período de transação ou artigo Regime


O Antigo Regime é o período da História europeia que, no Ocidente, decorre entre o século XVI
e a eclosão das revoluções industrial e liberal, em finais do século XVIII e princípios do século
XIX.
Este período tem características próprias relativamente aos aspectos económico, político, social e
cultural. O Antigo Regime ficou marcado pelo mercantilismo na economia, pelo absolutismo na
política e pela divisão da sociedade em ordens. A cultura, a arte e a mentalidade foram marcadas,
num primeiro momento, pelo estilo renascentista e depois pelo estilo barroco.

1.1.2. A economia europeia no período de transição ou Antigo Regime


A passagem do feudalismo para o capitalismo não foi um processo fácil. Durante os séculos XIV
e XV registam-se na Europa muitas revoltas de camponeses contra as leis repressivas dos
senhores feudais, levantamentos estes que aceleraram o processo de degradação do sistema
feudal.
No século XVI, o comércio com as colónias cria uma grande. necessidade de produtos têxteis,
como tecidos, ferramentas, calçado, etc., e produtos agrícolas, tanto alimentos como matérias-
primas.
Como consequência desta grande procura, os preços nos mercados sobem. Assim, os que
produziam para o mercado e os que viviam do comércio tornavam-se cada vez mais ricos.
O dinheiro acumulado a partir da actividade de comércio nas cidades é aplicado no campo, onde
grandes terrenos são cercados e os camponeses expulsos das terras.
Desta forma, a terra deixa de ser exclusivamente propriedade dos grandes senhores nobres e
torna-se propriedade capitalista (nas mãos de burgueses), podendo-se comprar e vender.
As transformações operadas na estrutura agrária foram acom. panhadas por um grande
movimento na indústria e comércio. As corporações feudais deram lugar às manufacturas, que
originaram um aumento da produção e, consequentemente, do poder da bur. guesia.
Como fruto da expansão europeia, desenvolveu-se o comércio, originando uma nova doutrina
económica, chamada mercantilismo, entre os séculos XVI e XVIII.
De referir, no entanto, que, apesar da intensificação do tráfico comercial e do desenvolvimento
das manufacturas, a principal actividade económica do Antigo Regime continuou a ser a
Agricultura.

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Agricultura
Durante o Antigo Regime, a agricultura era o sector predominante da economia. Assim:
 os campos forneciam alimentos (cereais, vinho, azeite, etc.), matérias-primas (madeiras,
fibras têxteis, couros), combustíveis (lenha, carvão);
 o comércio dependia em grande parte do que era produzido na terra (produtos europeus
ou coloniais);
 a maioria esmagadora da população activa ocupava-se nos campos (95% em alguns
países);
 •os centros urbanos eram pequenos e penetrados de ruralidade (hortas, estábulos,
maneiras de ser, etc.).
Assim, a agricultura tinha um peso importante nos orçamentos dos Estados e nas fortunas
pessoais.
Contudo, esta actividade predominante no Antigo Regime era tecnicamente atrasada, apesar das
transformações operadas na estrutura agrária e da intensificação do comércio, que tinha
necessidade dos produtos agrícolas.
Os instrumentos nela utilizados eram de madeira (o ferro era utilizado apenas nas partes
cortantes), os adubos eram de origem animal ou vegetal e a terra estava sujeita a pousio. Por isso,
a produtividade era baixa.
A maioria das terras continuava a ser explorada pela nobreza e pelo clero, que quase não
investiam no desenvolvimento agrícola. Assim, a agricultura do Antigo Regime, devido ao seu
atraso técnico, estava sujeita a crises frequentes, que provocavam fome, contribuindo para a
existência de altas taxas de mortalidade.

Indústria
Em relação à produção industrial no Antigo Regime, predominavam as manufacturas (que eram
unidades de fabrico predominantemente manual).
Estes produtos manufacturados também alimentavam o comércio, nomeadamente o comércio
colonial.
O comércio colonial precisava de produtos como tecidos, ferramentas, calçado e outros para
trocar pelas riquezas ultramarinas.

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A necessidade de produzir estes bens levou ao desenvolvimento das indústrias manufactureiras.
Os Estados mercantilistas procuraram fomentar e proteger as manufacturas.

Comércio
Neste período, o comércio intensifica-se, como resultado da expansão europeia. O comércio
começa a ser feito à escala mundial.
À Europa chegavam muitos produtos coloniais e dela saíam produtos manufacturados.
Fundam-se companhias comerciais, desenvolvem-se as instituições financeiras e as bolsas.
Mesmo o comércio interno (dentro de cada país) se vê intensificado com as trocas entre o campo
e a cidade, devido à necessidade de produtos agrícolas.

Mercantilismo
No plano económico, os Estados europeus desenvolveram uma doutrina denominada
mercantilismo. Esta doutrina defendia que a maior riqueza de um país residia na acumulação de
metais preciosos.
A balança comercial teria de ser favorável, por isso fomentava o aumento das exportações e a
diminuição das importações.
No intuito de diminuir as importações, os estados europeus tomaram medidas protectoras das
manufacturas.
A aplicação do mercantilismo implicou uma forte intervenção do Estado na economia
(proteccionismo).
O mercantilismo será abordado mais à frente.

Características políticas
O poder pessoal e universal dos senhores feudais foi sendo gra- dualmente substituído pelo poder
centralizador dos soberanos, originando as monarquias nacionais centralizadas. O Estado tornou-
se mais intervencionista. Os reis tornaram-se senhores absolutos, concentrando nas suas mãos os
poderes executivo, legislativo e judicial. A este sistema político chamou-se absolutismo, que
caracteriza o Antigo Regime. O absolutismo será tratado mais à frente.

1.1.3. A estrutura da sociedade europeia no período de transição.

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A sociedade do Antigo Regime, na esteira do que sucedera ao longo da Idade Média, continuava
dividida ou estratificada em ordens, como tal, devidamente hierarquizada. Esta rígida
estratificação social assentava em três ordens ou estados: o clero, a nobreza e o povo ou Terceiro
Estado, designação adoptada em França.
Enquanto as duas primeiras pertenciam ao grupo das ordens privilegiadas, o povo era uma ordem
não privilegiada, pois apenas lhe cabiam deveres e obrigações. Aliás, a diferenciação social entre
as ordens estava bem demarcada.
Estas distinguim-se através de estatutos jurídicos próprios (direitos e deveres), das funções que
desempenhavam na sociedade, do modo como se apresentavam em público (vestuário, etc.) e
ainda das formas de tratamento verbal.
Além disso, as ordens representavam estratos sociais muito fechados, o que praticamente
impedia a mobilidade social, isto é, estava praticamente vedada a ascensão de membros do povo
às duas ordens privilegiadas, nobreza e clero.
A pertença a uma dada ordem era, portanto, determinada pelo nascimento (ou pela função, no
caso do clero) e não pelas capacidades ou competências dos indivíduos. Mesmo a burguesia,
apesar do seu poder económico, tinha dificuldade em ascender socialmente durante este período.
Mas, afinal, como estava organizada a sociedade do Antigo Regime?

Clero
O clero mantém-se, em teoria, como o estado mais digno, porque estava mais próximo de Deus.
Ele é o primeiro estado da nação, usufruindo, por isso, de numerosos privilégios: está isento de
impostos à Coroa, bem como da prestação de serviço militar; não está sujeito à lei comum, mas
sim ao "foro eclesiástico", isto é, os seus membros regem-se por um conjunto de leis específicas
- 0 Direito Canónico - e são julgados, salvo algumas excepções, em
tribunais próprios.
As suas funções consistiam em praticar o culto religioso, implementar o ensino e prestar
assistência aos mais pobres. Os membros desta ordem social dividiam-se em alto clero (bispos e
abades) e baixo clero (párocos e monges). Ao primeiro pertenciam os grandes proprietários,
isentos de impostos e recebedores de renda, nomeadamente o dízimo (décima parte da colheita).
Ocupavam importantes cargos políticos na Administração Pública e possuíam grande prestigio
social junto da Coroa.

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O baixo clero vivia de forma modesta, muitas vezes no limiar da pobreza, e provinha de estratos
sociais inferiores (povo).

Nobreza
A nobreza, próxima do rei e pedra angular do regime monárquico, é, de facto, a ordem de maior
prestígio. É ela que ocupa, na administração e no exército, os cargos de poder.
Desfruta de um regime jurídico próprio que lhe garante a superioridade perante as classes
populares. É a grande proprietária de terras.
Os nobres dividiam-se em vários estratos: os mais representativos eram a nobreza de espada (ou
nobreza de sangue), cujos membros se dedicavam à carreira das armas, possuíam altos cargos na
corte, na administração e no comércio ultramarino; e a nobreza de toga, que integrava
funcionários e magistrados por vezes oriundos da burguesia, destina-se a satisfazer as
necessidades burocráticas do Estado.
No topo ficam os príncipes, duques e outros pares do reino, que, na corte, convivem de perto
com o monarca e beneficiam da sua opulência. No pólo oposto, situa-se a pequena nobreza rural.
É respeitada localmente e vive dos rendimentos do seu pequeno senhorio.
As principais funções da nobreza eram políticas e militares, mas também estavam muito ligados
à exploração da terra. Os rendimentos provinham das rendas proporcionadas pelas vastas
propriedades que detinham, bem como das tenças (quantias dadas pelo reia quem lhe prestasse
determinados serviços). Estavam, ainda, isentos do pagamento de impostos e, apesar de não
disporem de tribunal próprio, como o clero. Beneficiavam de um regime jurídico que incluía
penas geralmente leves.

O povo ou Terceiro Estado


A maior parte da população, cerca de 80%, pertence ao Terceiro Estado.
À cabeça do Terceiro Estado encontram-se os homens de letras, muito respeitados pelo saber que
adquiriram nas universidades. Estão divididos em diversos grupos hierarquicamente ordenados,
conforme a importância da função que exercem. Seguem-se os mercadores,proprietários ricos,
funcionários administrativos e profissionais liberais. Estes estratos gozavam de poder económico
e usavam o título de burguês.

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Vêm depois aqueles cujo trabalho "assenta no corpo". Em primeiro lugar, os lavradores que têm
terra própria ou de renda. Abaixo deles, os artesãos, logo seguidos dos que executam trabalho
assala- riado e, muitas vezes, incerto, quer nas cidades quer nos campos.
Abaixo de todos na pirâmide social vêm os mendigos e vagabundos.
O Terceiro Estado é a única ordem social que vive do seu trabalho e paga impostos. Não tem
qualquer tipo de privilégios, mas apenas obrigações.

1.1.4.0 desenvolvimento socioeconómico, político, religioso e cultural de África entre os


séculos XV e XVII
A população africana nesse período estava organizada em reinos, clãs, impérios ou estados, com
um dinamismo próprio e uma certa estabilidade política, económica, social e cultural.
A principal actividade económica era a agricultura, para além da mineração do ouro e do
artesanato.
Na costa oriental africana desenvolveram-se, a partir do século IX, cidades mercantis (feitorias),
fruto das rotas comerciais estabelecidas no oceano Índico. Como exemplos apontam-se as
cidades de Mogadíscio, Brava, Mombaça e Quíloa.
No caso dos estados Hauças, o comércio foi de tal forma relevante que surgiram fortes cidades-
estado (Tombuctu). Entretanto, foi no século XV que se intensificou, gradualmente, a relação de
África para o resto do mundo através do comércio, sobretudo, do marfim, do ouro e de escravos.
Gradualmente, a economia africana viu-se enfraquecida pelos europeus, que não só se
interessavam pelos recursos minerais como também pelo comércio de marfim, nos séculos XVII
e XVIII, e pelo comércio de escravos.
A nível político, emergiram neste período alguns estados africa- nos como, por exemplo: os
impérios de Mali, Gana Shongay, na África ocidental (séculos XV e XVI), Etiópia do
Zimbabwe, Mwene- mutapa, Massina, Mandara, Nubia, Hauças e Congo.
Na África Central situavam-se os estados e reinos de Luanda e do Congo, entre outros. E na
costa oriental localizava-se importantes estados, como, por exemplo, o Estado do Monomotapa.
As populações africanas neste período estavam organizadas em reinos ou estados, representados
por um rei. Abaixo do rei estava a classe dos chefes (anciãos) e sacerdotes, os intermediários
entre os antepassados e o rei. Mais abaixo situavam-se os guerreiros, cuja tarefa era proteger o

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reino contra agressões externas. E existia a classe dos produtores - camponeses, ferreiros e
artesãos -, que garantia a economia do reino.
A nível cultural, devido à influência asiática, sobretudo na costa oriental de África, desenvolveu-
se a cultura e civilização swahili, com aculturação das populações da costa pelos arábico-persas.
Foi sob sua influência que surgiram os reinos afro-islâmicos da costa de Moçambique, tais como
os de Quitangonha, Sangage e Sancul.
Ainda antes da influência árabe e cristã, baseava-se em usos e costumes regionais muito
diversificados. As populações africanas professavam religiões sincréticas e animistas. O culto
aos antepassados constituía o garante do bem-estar social e económico (o sucesso nas colheitas
em determinada época dependia da satisfação que a aldeia ou linhagem familiar tivesse prestado
aos seus antepassados), cujos anciãos ou feiticeiros eram os intermediários entre os vivos e os
mortos e comunicavam com os deuses. E, como forma de prestar homenagem aos seus deuses, as
populações organizavam geralmente cerimónias ou festas mediadas pelos mais velhos ou
curandeiros. Com as influências árabe e cristã, este ciclo cultural foi substancialmente alterado,
embora não na sua totalidade - por exemplo, os rituais de iniciação constituem ainda hoje uma
prática cultural bastante rica, principalmente em algumas regiões do Norte de Moçambique.

1.1.5. As relações entre a África e os outros continentes durante os séculos XV a XVII


Calcula-se que durante os séculos XV a XVII a África ajudou a desenvolver a Europa na mesma
proporção em que a Europa ajudou a subdesenvolver a África.
No século XV, os europeus levaram a cabo a iniciativa de demandar outras regiões do mundo,
passando, em resultado, a deter o controlo do comércio entre os quatro continentes (Europa,
América, África e Ásia), mediante a posse e uso de grandes esquadominavam os mares. Os
africanos tiveram pouca voz no tocante ao desenvolvimento dos laços tricontinentais que se
estabelecera entre a África, a Europa e as Américas.
Na verdade, os europeus serviram-se da superioridade dos seus navios e canhões para conseguir
o controlo de todos os caminhos marítimos mundiais, a começar pelo Mediterrâneo Ocidental e a
costa atlântica do Norte de África.
Por exemplo, nos séculos XV, XVI e XVII, os portugueses transportaram a maior parte do
marfim africano, que comercializavam na Índia, enquanto os tecidos e colares indianos eram por
eles vendidos no este e oeste de África. Mais tarde este comércio também passou a ser feito por

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ingleses e franceses. Por um lado, os europeus passaram a decidir qual o papel a desempenhar
pela economia africana; por outro, a África tornou-se um mero prolongamento do mercado
capitalista europeu.

Comércio triangular
No que toca ao comércio externo, a África, a Europa e a América encontravam-se relacionadas
pelo comércio triangular. Neste comércio a África era completamente dependente do que os
europeus se dispunham a vender ou a comprar.
Importa ainda salientar que a Europa exportava para a África bens que eram produzidos e
consumidos pela própria Europa, muitos de pouca qualidade e que não tinham saída, como o
linho holandês, o ferro espanhol, o estanho inglês, vinho português, vidros de Veneza, mosquetes
alemães, roupas, tecidos, missangas, bebidas, que eram adquiridos neste período pelos chefes
africanos, vistos como garante do poder político.
Os portugueses tiveram êxito na obtenção de ouro nas regiões da África Ocidental e da África
Central, tendo a chamada "Costa do Ouro" atraído maior atenção dos europeus entre os séculos
XV e XVII. A Europa ansiava pelo ouro africano para sustentar a crescente economia monetária
capitalista.
Dado que o ouro só se encontrav em pequenas áreas de África, a principal mercadoria de
exportação tornou-se o próprio ser humano, medida que levou os europeus a penetrarem no
continente africano. Portugueses, espanhóis, franceses, ingleses e holandeses competiram pelo
domínio das novas rotas comerciais mediante o estabelecimento de feitorias costeiras e portos de
embarque para o tráfico de escravos.
De recordar que o tráfico de escravos em África teve o seu início no século XV. No entanto, só
depois da conquista da América o tráfico de escravos não só aumentou extraordinariamente
como se tor- nou uma instituição que durante cerca de quatro séculos (XV a XIX) relacionou de
forma dramática os três continentes: África, América e Europa, portanto, o comércio triangular
ou tráfico triangular.

Circuito do Comércio Triangular


A Europa transformou-se no centro do comércio que ligava todos os continentes no início do
século XVI. Os navios negreiros que transportavam escravos partiam para África dos portos

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europeus, carregados de artigos de pouco valor (quinquilharias): barras de ferro, tecidos, fardas
(fatos de teatro ou militares), bebidas alcoólicas, espelhos, contas de vidro, missangas,
espingardas.
Em África, estes artigos eram trocados por produtos de grande valor, tais como ouro, peles,
goma, marfim e sobretudo escravos, que depois eram levados para as Américas, onde eram
vendidos aos colonos para trabalhar nas grandes plantações de açúcar, algodão, café, tabaco e
nas minas de ouro, prata e pedras preciosas.
O comércio foi, no princípio, monopólio português e espanhol, mas a partir do fim do século
XVI as companhias holandesas, francesas e inglesas entraram no circuito, lutando por controlar
estas regiões. Surgiu assim uma concorrência encarniçada entre os países europeus que iria
manter-se ao longo de todo o período do tráfico de escravos que vendiam no Brasil e na América
Central.
A partir do século XVII, os negreiros franceses desembarcavam os escravos em São Domingos
(Haiti), nas Antilhas francesas e na Louisiana, na América do Norte.

1.2.1. 0 comércio mediterrânico nos séculos XIII e XIV


No século XIII, as especiarias e drogas orientais chegavam à Europa por via essencialmente
terrestre.
Este comércio era controlado, no Mediterrâneo Oriental, por várias cidades italianas marítimas e
comerciais, como Veneza, Pisa e Génova.
A bacia do Mediterrâneo comunicava com o Extremo Oriente por quatro rotas comerciais,
controladas nas extremidades ocidentais pelas cidades italianas. Eram rotas essencialmente
terrestres: as rotas das caravanas - rotas da seda e rotas das mercadorias chinesas.
 uma passava ao norte, unindo a China ao Mar Negro pela orla florestal da grande estepe
herbácea do Sul da Sibéria;
 a outra, de oásis em oásis, atravessava o deserto de Turquistão e chegava, através do Irão,
ao extremo do Golfo Pérsico;
 uma rota mais antiga chegava desde a Índia, Malaca ou Insulíndia ao Golfo Pérsico.
 .Um longo transporte que atravessava o deserto e que desembocava, através do Crescente
Fértil, numa das escalas da Palestina ou da Síria;

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• uma rota mais recente e mais aperfeiçoada terminava no Mar Vermelho, nos golfos de Acaba e
do Suez.
Desde que o contacto comercial entre a bacia ocidental do Mediterrâneo cristã e o Extremo
Oriente foi estabelecido, cada uma destas rotas conheceu muitas transformações.
No fim do século XIII, as cidades italianas Veneza e Génova, que dominavam o tráfico oriental,
partiram para a conquista da Flandres.
A nova rota marítima directa, modificação premonitória, duplicou, sem eliminá-la, a antiga rota
alpina que, por intermédio das feiras de Champagne, ligava a Itália aos Países Baixos, quando
Génova descobriu a via fecunda da ligação marítima directa Mediterrâneo-Atlântico.
Também os turcos desempenharam um importante papel no comércio mediterrânico. Por
exemplo, alcançaram o domínio comercial na Argélia, quando os comerciantes locais, desejosos
de se livrarem dos espanhóis, pediram auxílio ao pirata turco Khayr al Din Barba Roxa, que tinha
influências em Constantinopla. O domínio turco consolidou-se e a Argélia e a Tunísia
prosperaram. Esta prosperidade só veio a conhecer o seu termo no século XVIII. A actividade
comercial conduziu ao surgimento de uma burguesia comercial cosmopolita, constituída por
muçulmanos, turcos, espanhóis da Andaluzia e judeus provenientes da Espanha e da Itália. Os
produtos transaccionados eram o ouro, o marfim, o sal, as penas, as couraças, os escravos e
outros. Este comércio era dinamizado também pelos comerciantes árabes estrangeiros.

1.2.2 Os Factores de expansão, objetivos e etapas


A expansão europeia teve como antecedente a crise ocorrida na Europa no século XIV, que se
traduziu em êxodo rural, conflitos sociais, protestos das massas populares, subida de salários,
falta de cereais, de ouro e prata e a desvalorização da moeda, períodos de más colheitas,
epidemias e longos períodos de guerra.
Esta crise provocou muitas mortes. Com o fim das pestes, das guerras e das revoltas sociais,
gradualmente, a população europeia aumentou. A agricultura e o artesanato desenvolveram-se e
o comércio renasceu. Os europeus sentiram, então, a necessidade de obter novas oportunidades
comerciais e explorar "novos mundos".
Os portugueses, governados pela dinastia de Avis, foram pioneiros nesse processo de abertura da
Europa ao Mundo.

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As tradicionais rotas do comércio já não ofereciam segurança contra os assaltos cada vez mais
frequentes. Além disso, os mercadores eram obrigados a pagar pesadas tarifas aos senhores
feudais pelo direito de atravessar as suas propriedades, o que elevava o preço final das
mercadorias.
Assim, as antigas rotas terrestres e fluviais no interior da Europa acabaram por entrar em
colapso, sendo lentamente substituídas pelas rotas marítimas.

Factores da expansão europeia e a prioridade portuguesa


No século XV, Portugal e Espanha reuniam um conjunto de condições que lhes permitiram ser os
primeiros países europeus a iniciar a expansão marítima. As principais condições que permitiram
ser pioneiros no processo desta expansão foram:
.a estabilidade política e o clima de paz que se estabeleceu em Portugal primeiramente e em
Espanha após a conquista definitiva de Granada (1492);
.o apoio régio (em Portugal), desde o século XIII, à actividade marítima e à construção naval,
com iniciativas como a fundação da Bolsa de Mercadores (1293) e da Companhia dos
Naus (1377);
.a permanência no território de muçulmanos e judeus que permitiram aos portugueses e
espanhóis o contacto com técnicas de navegação já utilizadas por outros povos do Oriente;
• a procura de soluções para os problemas de falta de cereais, falta de ouro para cunhar moeda,
necessária para dinamizar o comércio, falta de matéria-prima e de mão-de-obra para a produção
agrícola e manufactureira;
• o desejo da burguesia alargar os seus mercados, procurar pro- dutos que não existiam na
Europa, em particular, metais preciosos, cereais, especiarias, plantas tintureiras ou dragoeiros; a
própria situação geográfica no extremo ocidental da Europa, com uma costa mais ampla, a que se
acrescentava também um espírito de aventura e o desejo de espalhar a fé cristã;
• para os portugueses vontade de descobrir rotas ou caminhos que pudessem levá-los até às
Índias em busca de matérias-primas e especiarias a preços baixos, sustentada numa vasta
experiência marítima.
A expansão europeia foi vista como um projecto nacional, envolvendo todos os grupos da
sociedade portuguesa (rei, nobreza, clero, burguesia e povo).

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Em Portugal, o rei D. João I, representando a nova dinastia de Avis, desejava afirmar o seu
poder, a grandeza face a outras nações e resolver os problemas económicos do país.
A nobreza, que vivia da terra e do saque, queria conquistar novas terras.
O clero pretendia expandir a fé cristã, combater os muçulmanos e aumentar os seus rendimentos.
O povo via a expansão como uma possibilidade de melhorar as suas condições de vida,
participando nas viagens, emigrando e beneficiando das baixas dos preços dos produtos que
chegavam por mar. E a burguesia via o alargamento dos seus mercados possibilidade de
enriquecer.
Assim, os problemas socioeconómicos do Ocidente e os obstá- culos ao tráfico cristão no
Mediterrâneo impulsionaram os europeus nos inícios do século XV para o Atlântico e o Norte de
África.
Podemos, assim, concluir que a situação de paz interna, apoiada por um vasto conjunto de
condições favoráveis, possibilitou que Portugal e Espanha fossem pioneiros na expansão
europeia dos séculos XV e XVI.

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