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Agricultura
Durante o Antigo Regime, a agricultura era o sector predominante da economia. Assim:
os campos forneciam alimentos (cereais, vinho, azeite, etc.), matérias-primas (madeiras,
fibras têxteis, couros), combustíveis (lenha, carvão);
o comércio dependia em grande parte do que era produzido na terra (produtos europeus
ou coloniais);
a maioria esmagadora da população activa ocupava-se nos campos (95% em alguns
países);
•os centros urbanos eram pequenos e penetrados de ruralidade (hortas, estábulos,
maneiras de ser, etc.).
Assim, a agricultura tinha um peso importante nos orçamentos dos Estados e nas fortunas
pessoais.
Contudo, esta actividade predominante no Antigo Regime era tecnicamente atrasada, apesar das
transformações operadas na estrutura agrária e da intensificação do comércio, que tinha
necessidade dos produtos agrícolas.
Os instrumentos nela utilizados eram de madeira (o ferro era utilizado apenas nas partes
cortantes), os adubos eram de origem animal ou vegetal e a terra estava sujeita a pousio. Por isso,
a produtividade era baixa.
A maioria das terras continuava a ser explorada pela nobreza e pelo clero, que quase não
investiam no desenvolvimento agrícola. Assim, a agricultura do Antigo Regime, devido ao seu
atraso técnico, estava sujeita a crises frequentes, que provocavam fome, contribuindo para a
existência de altas taxas de mortalidade.
Indústria
Em relação à produção industrial no Antigo Regime, predominavam as manufacturas (que eram
unidades de fabrico predominantemente manual).
Estes produtos manufacturados também alimentavam o comércio, nomeadamente o comércio
colonial.
O comércio colonial precisava de produtos como tecidos, ferramentas, calçado e outros para
trocar pelas riquezas ultramarinas.
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A necessidade de produzir estes bens levou ao desenvolvimento das indústrias manufactureiras.
Os Estados mercantilistas procuraram fomentar e proteger as manufacturas.
Comércio
Neste período, o comércio intensifica-se, como resultado da expansão europeia. O comércio
começa a ser feito à escala mundial.
À Europa chegavam muitos produtos coloniais e dela saíam produtos manufacturados.
Fundam-se companhias comerciais, desenvolvem-se as instituições financeiras e as bolsas.
Mesmo o comércio interno (dentro de cada país) se vê intensificado com as trocas entre o campo
e a cidade, devido à necessidade de produtos agrícolas.
Mercantilismo
No plano económico, os Estados europeus desenvolveram uma doutrina denominada
mercantilismo. Esta doutrina defendia que a maior riqueza de um país residia na acumulação de
metais preciosos.
A balança comercial teria de ser favorável, por isso fomentava o aumento das exportações e a
diminuição das importações.
No intuito de diminuir as importações, os estados europeus tomaram medidas protectoras das
manufacturas.
A aplicação do mercantilismo implicou uma forte intervenção do Estado na economia
(proteccionismo).
O mercantilismo será abordado mais à frente.
Características políticas
O poder pessoal e universal dos senhores feudais foi sendo gra- dualmente substituído pelo poder
centralizador dos soberanos, originando as monarquias nacionais centralizadas. O Estado tornou-
se mais intervencionista. Os reis tornaram-se senhores absolutos, concentrando nas suas mãos os
poderes executivo, legislativo e judicial. A este sistema político chamou-se absolutismo, que
caracteriza o Antigo Regime. O absolutismo será tratado mais à frente.
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A sociedade do Antigo Regime, na esteira do que sucedera ao longo da Idade Média, continuava
dividida ou estratificada em ordens, como tal, devidamente hierarquizada. Esta rígida
estratificação social assentava em três ordens ou estados: o clero, a nobreza e o povo ou Terceiro
Estado, designação adoptada em França.
Enquanto as duas primeiras pertenciam ao grupo das ordens privilegiadas, o povo era uma ordem
não privilegiada, pois apenas lhe cabiam deveres e obrigações. Aliás, a diferenciação social entre
as ordens estava bem demarcada.
Estas distinguim-se através de estatutos jurídicos próprios (direitos e deveres), das funções que
desempenhavam na sociedade, do modo como se apresentavam em público (vestuário, etc.) e
ainda das formas de tratamento verbal.
Além disso, as ordens representavam estratos sociais muito fechados, o que praticamente
impedia a mobilidade social, isto é, estava praticamente vedada a ascensão de membros do povo
às duas ordens privilegiadas, nobreza e clero.
A pertença a uma dada ordem era, portanto, determinada pelo nascimento (ou pela função, no
caso do clero) e não pelas capacidades ou competências dos indivíduos. Mesmo a burguesia,
apesar do seu poder económico, tinha dificuldade em ascender socialmente durante este período.
Mas, afinal, como estava organizada a sociedade do Antigo Regime?
Clero
O clero mantém-se, em teoria, como o estado mais digno, porque estava mais próximo de Deus.
Ele é o primeiro estado da nação, usufruindo, por isso, de numerosos privilégios: está isento de
impostos à Coroa, bem como da prestação de serviço militar; não está sujeito à lei comum, mas
sim ao "foro eclesiástico", isto é, os seus membros regem-se por um conjunto de leis específicas
- 0 Direito Canónico - e são julgados, salvo algumas excepções, em
tribunais próprios.
As suas funções consistiam em praticar o culto religioso, implementar o ensino e prestar
assistência aos mais pobres. Os membros desta ordem social dividiam-se em alto clero (bispos e
abades) e baixo clero (párocos e monges). Ao primeiro pertenciam os grandes proprietários,
isentos de impostos e recebedores de renda, nomeadamente o dízimo (décima parte da colheita).
Ocupavam importantes cargos políticos na Administração Pública e possuíam grande prestigio
social junto da Coroa.
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O baixo clero vivia de forma modesta, muitas vezes no limiar da pobreza, e provinha de estratos
sociais inferiores (povo).
Nobreza
A nobreza, próxima do rei e pedra angular do regime monárquico, é, de facto, a ordem de maior
prestígio. É ela que ocupa, na administração e no exército, os cargos de poder.
Desfruta de um regime jurídico próprio que lhe garante a superioridade perante as classes
populares. É a grande proprietária de terras.
Os nobres dividiam-se em vários estratos: os mais representativos eram a nobreza de espada (ou
nobreza de sangue), cujos membros se dedicavam à carreira das armas, possuíam altos cargos na
corte, na administração e no comércio ultramarino; e a nobreza de toga, que integrava
funcionários e magistrados por vezes oriundos da burguesia, destina-se a satisfazer as
necessidades burocráticas do Estado.
No topo ficam os príncipes, duques e outros pares do reino, que, na corte, convivem de perto
com o monarca e beneficiam da sua opulência. No pólo oposto, situa-se a pequena nobreza rural.
É respeitada localmente e vive dos rendimentos do seu pequeno senhorio.
As principais funções da nobreza eram políticas e militares, mas também estavam muito ligados
à exploração da terra. Os rendimentos provinham das rendas proporcionadas pelas vastas
propriedades que detinham, bem como das tenças (quantias dadas pelo reia quem lhe prestasse
determinados serviços). Estavam, ainda, isentos do pagamento de impostos e, apesar de não
disporem de tribunal próprio, como o clero. Beneficiavam de um regime jurídico que incluía
penas geralmente leves.
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Vêm depois aqueles cujo trabalho "assenta no corpo". Em primeiro lugar, os lavradores que têm
terra própria ou de renda. Abaixo deles, os artesãos, logo seguidos dos que executam trabalho
assala- riado e, muitas vezes, incerto, quer nas cidades quer nos campos.
Abaixo de todos na pirâmide social vêm os mendigos e vagabundos.
O Terceiro Estado é a única ordem social que vive do seu trabalho e paga impostos. Não tem
qualquer tipo de privilégios, mas apenas obrigações.
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reino contra agressões externas. E existia a classe dos produtores - camponeses, ferreiros e
artesãos -, que garantia a economia do reino.
A nível cultural, devido à influência asiática, sobretudo na costa oriental de África, desenvolveu-
se a cultura e civilização swahili, com aculturação das populações da costa pelos arábico-persas.
Foi sob sua influência que surgiram os reinos afro-islâmicos da costa de Moçambique, tais como
os de Quitangonha, Sangage e Sancul.
Ainda antes da influência árabe e cristã, baseava-se em usos e costumes regionais muito
diversificados. As populações africanas professavam religiões sincréticas e animistas. O culto
aos antepassados constituía o garante do bem-estar social e económico (o sucesso nas colheitas
em determinada época dependia da satisfação que a aldeia ou linhagem familiar tivesse prestado
aos seus antepassados), cujos anciãos ou feiticeiros eram os intermediários entre os vivos e os
mortos e comunicavam com os deuses. E, como forma de prestar homenagem aos seus deuses, as
populações organizavam geralmente cerimónias ou festas mediadas pelos mais velhos ou
curandeiros. Com as influências árabe e cristã, este ciclo cultural foi substancialmente alterado,
embora não na sua totalidade - por exemplo, os rituais de iniciação constituem ainda hoje uma
prática cultural bastante rica, principalmente em algumas regiões do Norte de Moçambique.
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ingleses e franceses. Por um lado, os europeus passaram a decidir qual o papel a desempenhar
pela economia africana; por outro, a África tornou-se um mero prolongamento do mercado
capitalista europeu.
Comércio triangular
No que toca ao comércio externo, a África, a Europa e a América encontravam-se relacionadas
pelo comércio triangular. Neste comércio a África era completamente dependente do que os
europeus se dispunham a vender ou a comprar.
Importa ainda salientar que a Europa exportava para a África bens que eram produzidos e
consumidos pela própria Europa, muitos de pouca qualidade e que não tinham saída, como o
linho holandês, o ferro espanhol, o estanho inglês, vinho português, vidros de Veneza, mosquetes
alemães, roupas, tecidos, missangas, bebidas, que eram adquiridos neste período pelos chefes
africanos, vistos como garante do poder político.
Os portugueses tiveram êxito na obtenção de ouro nas regiões da África Ocidental e da África
Central, tendo a chamada "Costa do Ouro" atraído maior atenção dos europeus entre os séculos
XV e XVII. A Europa ansiava pelo ouro africano para sustentar a crescente economia monetária
capitalista.
Dado que o ouro só se encontrav em pequenas áreas de África, a principal mercadoria de
exportação tornou-se o próprio ser humano, medida que levou os europeus a penetrarem no
continente africano. Portugueses, espanhóis, franceses, ingleses e holandeses competiram pelo
domínio das novas rotas comerciais mediante o estabelecimento de feitorias costeiras e portos de
embarque para o tráfico de escravos.
De recordar que o tráfico de escravos em África teve o seu início no século XV. No entanto, só
depois da conquista da América o tráfico de escravos não só aumentou extraordinariamente
como se tor- nou uma instituição que durante cerca de quatro séculos (XV a XIX) relacionou de
forma dramática os três continentes: África, América e Europa, portanto, o comércio triangular
ou tráfico triangular.
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europeus, carregados de artigos de pouco valor (quinquilharias): barras de ferro, tecidos, fardas
(fatos de teatro ou militares), bebidas alcoólicas, espelhos, contas de vidro, missangas,
espingardas.
Em África, estes artigos eram trocados por produtos de grande valor, tais como ouro, peles,
goma, marfim e sobretudo escravos, que depois eram levados para as Américas, onde eram
vendidos aos colonos para trabalhar nas grandes plantações de açúcar, algodão, café, tabaco e
nas minas de ouro, prata e pedras preciosas.
O comércio foi, no princípio, monopólio português e espanhol, mas a partir do fim do século
XVI as companhias holandesas, francesas e inglesas entraram no circuito, lutando por controlar
estas regiões. Surgiu assim uma concorrência encarniçada entre os países europeus que iria
manter-se ao longo de todo o período do tráfico de escravos que vendiam no Brasil e na América
Central.
A partir do século XVII, os negreiros franceses desembarcavam os escravos em São Domingos
(Haiti), nas Antilhas francesas e na Louisiana, na América do Norte.
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• uma rota mais recente e mais aperfeiçoada terminava no Mar Vermelho, nos golfos de Acaba e
do Suez.
Desde que o contacto comercial entre a bacia ocidental do Mediterrâneo cristã e o Extremo
Oriente foi estabelecido, cada uma destas rotas conheceu muitas transformações.
No fim do século XIII, as cidades italianas Veneza e Génova, que dominavam o tráfico oriental,
partiram para a conquista da Flandres.
A nova rota marítima directa, modificação premonitória, duplicou, sem eliminá-la, a antiga rota
alpina que, por intermédio das feiras de Champagne, ligava a Itália aos Países Baixos, quando
Génova descobriu a via fecunda da ligação marítima directa Mediterrâneo-Atlântico.
Também os turcos desempenharam um importante papel no comércio mediterrânico. Por
exemplo, alcançaram o domínio comercial na Argélia, quando os comerciantes locais, desejosos
de se livrarem dos espanhóis, pediram auxílio ao pirata turco Khayr al Din Barba Roxa, que tinha
influências em Constantinopla. O domínio turco consolidou-se e a Argélia e a Tunísia
prosperaram. Esta prosperidade só veio a conhecer o seu termo no século XVIII. A actividade
comercial conduziu ao surgimento de uma burguesia comercial cosmopolita, constituída por
muçulmanos, turcos, espanhóis da Andaluzia e judeus provenientes da Espanha e da Itália. Os
produtos transaccionados eram o ouro, o marfim, o sal, as penas, as couraças, os escravos e
outros. Este comércio era dinamizado também pelos comerciantes árabes estrangeiros.
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As tradicionais rotas do comércio já não ofereciam segurança contra os assaltos cada vez mais
frequentes. Além disso, os mercadores eram obrigados a pagar pesadas tarifas aos senhores
feudais pelo direito de atravessar as suas propriedades, o que elevava o preço final das
mercadorias.
Assim, as antigas rotas terrestres e fluviais no interior da Europa acabaram por entrar em
colapso, sendo lentamente substituídas pelas rotas marítimas.
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Em Portugal, o rei D. João I, representando a nova dinastia de Avis, desejava afirmar o seu
poder, a grandeza face a outras nações e resolver os problemas económicos do país.
A nobreza, que vivia da terra e do saque, queria conquistar novas terras.
O clero pretendia expandir a fé cristã, combater os muçulmanos e aumentar os seus rendimentos.
O povo via a expansão como uma possibilidade de melhorar as suas condições de vida,
participando nas viagens, emigrando e beneficiando das baixas dos preços dos produtos que
chegavam por mar. E a burguesia via o alargamento dos seus mercados possibilidade de
enriquecer.
Assim, os problemas socioeconómicos do Ocidente e os obstá- culos ao tráfico cristão no
Mediterrâneo impulsionaram os europeus nos inícios do século XV para o Atlântico e o Norte de
África.
Podemos, assim, concluir que a situação de paz interna, apoiada por um vasto conjunto de
condições favoráveis, possibilitou que Portugal e Espanha fossem pioneiros na expansão
europeia dos séculos XV e XVI.
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