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A Europa dos Estados absolutos e a Europa dos

Parlamentos

 A crise demográfica do século XVII


A economia pré-industrial (séculos XVII e XVIII) tinha uma base agrícola e nela predominava a
agricultura tradicional, com uma evolução tecnológica lenta e manufaturas de tipo artesanal.

Logo, geram:
- a tecnologia rudimentar; - fraca produtividade, escassez de
- a inexistência de fertilizantes químicos; cereais, devido às más colheitas
sucessivas
- a ineficácia no combate às pragas;
- emprego da maior parte da
- as consequências das intempéries/condições climatéricas população (entre 65% e 90%)

Quebra demográfica, associada às crises de subprodução, devido: (nas zonas mais ricas a
população aumentou e nas zonas mais pobres recuou) Embora natalidade continue alta,
- crise de subsistência (fome) esta registou um ligeiro recuo:

- fomes (limitam o crescimento populacional) Quebra nos casamentos 


Quebra nas conceções  Quebra
- guerras (epidemias, devastação de culturas e insegurança) nos nascimentos

 Crescimento demográfico no século XVIII


No século XVIII, sucederam-se melhorias na agricultura e progressos técnicos. Realçavam-se
países do norte da Europa como a Inglaterra e Holanda, onde predominavam atividades
económicas como o comércio, a indústria e a agricultura.

Individualizando a Holanda, nesta deu-se o alargamento da área cultivável, devido à secagem


dos pântanos, à construção de barragens e diques e à eliminação da técnica do pousio. Tal
resultou no aumento da produtividade agrícola, destinada a mercados.

Logo, como a Holanda apostou no desenvolvimento do comércio e investiu na transformação


de matérias-primas, deu-se um surto demográfico com a melhoria do nível de vida, uma
alimentação mais completa, melhorias nos cuidados de higiene e avanços na medicina.

O século XVIII foi classificado como uma época feliz, do ponto de vista económico e social

Razões: - progresso verificado em vários setores: agrícola, medicina, higiene pública e privada

- prosperidade económica
- crescimento da população

- processo de industrialização

Fatores: - redução da taxa de mortalidade

- declínio das guerras

- introdução de novos alimentos e criação de gado (população mais bem alimentada)

- progressos na medicina

- melhoria das condições climatéricas que levou ao aumento da produção agrícola


(diminuição da humidade, que também reduziu as febres e epidemias)

- mudanças de mentalidade e comportamentos (antecipação na idade do casamento,


que gera mais nascimentos; na família, fortaleceram-se os laços de afetividade; maior
interesse pela criança; a preocupação em tornar as crianças adultos honrados fez valorizar a
educação e o bem-estar; maiores cuidados com a higiene e saúde física das mesmas)

O crescimento da população foi maior nas zonas de maior dinamismo

 Os fundamentos e formas de organização da sociedade de ordens


O Antigo Regime é o período histórico, entre o século XVI e o final do século XVIII, associado à
monarquia absoluta de direito divino e uma sociedade desigualitária, tripartida, hierarquizada
e estratificada.

Este regime vigorou em França, durante a Época Moderna, e foi abolido pela Revolução
Francesa, em 1789. A Europa estava longe de possuir uniformidade nos regimes políticos que
governavam os seus reinos e Estados. Contudo, apesar da diversidade política, nos séculos XVII
e XVIII, o regime dominante era a monarquia de caráter absoluto.

A divisão tripartida da sociedade em categorias sociais, cada uma com a sua função,
estabelecida por Deus, foi uma conceção herdada da Idade Média. Em 1610, o jurista francês
Charles Loyseau defendeu a ideia de que a sociedade estava organizada em três ordens ou
estados – categorias sociais cujo prestígio e dignidade se diferenciavam de acordo com o
nascimento, honra e a função desempenhada.

Clero Nobreza
(oratores) (bellatores)

Povo (Laboratores)

A ordem social do Antigo Regime era garantida pelo absolutismo régio (regime político
associado ao Antigo Regime, caracterizado pela concentração de todos os poderes no rei,
segundo a vontade divina). Nesta sociedade, as ordens sociais eram diferenciadas segundo:

 Privilegio do nascimento: o privilegio do nascimento nobre eram conferido pela


linhagem familiar.
 Posse da terra: estava concentrada nas mãos da nobreza e do clero, donde resultava a
principal fonte de rendimento.
 Função: o tipo de função desempenhada era um critério de diferenciação social.

O Antigo Regime foi um período onde, a nível económico, deu-se o predomínio da agricultura
(como produtiva e ocupava a maior parte da população), o comércio assumiu cada vez maior
importância (capitalismo comercial) e adotaram-se medidas protecionistas. Já a nível político,
predominavam as monarquias absolutistas, baseadas num governo forte e pessoal dos reis,
com autoridade total e absoluta. E no âmbito social, assentava-se uma sociedade de ordens
tripartida: clero, nobreza e terceiro estado.

Na sociedade do Antigo Regime distinguiam-se os privilegiados (uma minoria) dos não


privilegiados (a maioria).

 Clero (primeira ordem)

Funções religiosas e desempenho de cargos governativos.

Privilégios: estava isento do pagamento de impostos; recebia rendas e tributos decorrentes da


posse da terra e a dízima; tinha leis (direito canónico) e tribunais próprios; usava vestuário
próprio e formas de tratamento diferenciadas e exclusivas.

 Nobreza (segunda ordem)

Funções militares, desempenho de cargos na corte e não podia desempenhar profissões


consideradas vis (insignificantes ou humildes).

Privilégios: estava isenta do pagamento de impostos; possuía propriedades que garantiam


rendas e impostos senhoriais; podia usar espada e ter brasão; tinha tratamento diferenciado
perante a lei e gozava do direito de ser julgada em tribunais especiais, dispondo de penas
próprias e tinha direito de apelação; distinguia-se pelo uso de vestuário próprio; usava formas
de tratamento (títulos) exclusivas e tinha direito a lugares determinados na vida pública e
social; os seus privilégios decorriam do nascimento e da linhagem que passava de geração em
geração.

 Terceiro estado (terceira ordem)

Funções de trabalhar para manter-se a si e às outras duas ordens sociais e desempenhava


funções consideradas desprestigiantes.

Ausência de privilégios: não tinha privilégios jurídicos individuais, independentemente da


riqueza; não tinha acesso a determinados cargos, reservados aos privilegiados, salvo em casos
excecionais; estava sujeito a penas humilhantes e públicas; pagava pesados impostos ao rei,
direitos senhoriais e a dízima à Igreja.

 A estratificação social e a diversidade de comportamentos e


valores
As três ordens apresentavam grandes clivagens sociais, ou seja, havia uma estratificação social
– os indivíduos estavam divididos em estratos. Estado mais digno, pela proximidade a Deus.
Era a única ordem que não era definida pelo nascimento.

 Clero – dividia-se em dois estratos.


Composto por cardeais, arcebispos e bispos (clero secular) e abades (clero
regular). Ocupava os principais cargos eclesiásticos e integrava instituições
ligadas ao poder político. Recebia rendimentos avultados e detinha
propriedades.

Os elementos do alto clero eram, geralmente, oriundos da alta nobreza


Alto Clero Constituído pelo clero secular, sacerdotes que viviam perto das populações,
nas paróquias urbanas ou rurais, e pelo clero regular, frades ou monges que
viviam nos mosteiros ou conventos, sujeito a uma regra.
Baixo clero
Ministrava os sacramentos (batismos, casamentos e enterros), assegurava o
ensino nas escolas e a assistência nos hospitais ou noutras instituições.

Era oriundo de diversos setores sociais, especialmente da baixa nobreza e


burguesia.

Os bispos usavam anel e báculo, enquanto o clero secular usava sotaina. Contudo, ambos os
cleros possuíam a tonsura (corte de cabelo). Destacou-se o Cardeal de Richelieu que pertenceu
ao alto clero e desempenhou funções políticas como primeiro-ministro de Luís XIII, sendo um
homem de Estado e tendo-se destacado como um dos principais construtores do regime
absoluto em França.

 Nobreza – dividia-se em três estratos.


Estava ligada às antigas linhagens do reino, dela fazendo parte os
príncipes de sangue, os duques e os condes.

Podia assistir o rei no seu conselho e desempenhar altos cargos na


corte, no reino e na Igreja.
Nobreza de espada O seu comportamento e os seus valores ligavam-se ao código
cavaleiresco medieval.

Tinha dignidade, estatuto e honra, traduzidos no modo como se


comportava e na diferença de tratamento a que tinha direito em
sociedade.

Era composta por fidalgos que tinham um grau de nobreza inferior.

Vivia nas suas propriedades, afastada da corte, apesar de muitos dos seus
elementos acabarem por lá se dirigirem em busca de mercês régias.
Nobreza rural
Podia ascender à alta nobreza.
ou provincial
Levava uma vida modesta e era menos sofisticada do que a nobreza de
espada.

Gozava de prestígio local e desempenhava cargos provinciais ou no


exército.

De origem recente, era originária de escalões mais baixos da nobreza, ou


até da burguesia, não tendo um título de linhagem antiga.

O título ou condição de nobre era obtido por concessão régia, isto é, por
Nobreza de toga nobilitação ou favor régio (como recompensa pelo desempenho de
funções) ou através da compra de títulos por parte de elementos da
burguesia rica, em ascensão.

Estava associada ao desempenho de funções administrativas e judiciais.


 Terceiro estado – abrangia a larga maioria da população, urbana e rural. Os estratos
que compunham esta ordem evidenciavam grandes diferenças entre si.
Alta burguesia – ricos mercadores ligados ao comércio nacional e internacional
(colonial); profissionais de atividades especializadas: notários, advogados,
médicos, boticários, ourives, etc; gozavam de privilégios especiais no caso de
Burguesia pertencerem a uma corporação (também designada guilda, regulava os ofícios
artesanais, controlando a produção e garantindo a qualidade dos produtos)

Média burguesia – pequenos comerciantes, mestres de oficinas e indivíduos que


exerciam profissões por conta própria.

Proprietários rurais com terras exploradas diretamente ou arrendadas.

Rendeiros que trabalham terra arrendada e pertencente a


outrem.
Camponeses e Profissões ligadas a atividades comerciais e artesanais menos
artesãos assalariados rentáveis ou menos prestigiadas.

Serviçais e assalariados ligados ao desempenho de atividades e


serviços braçais, no campo ou nas cidades.

À margem da sociedade – pobres, vagabundos e marginais que viviam de esmolas ou de


serviços e trabalhos ocasionais.

Podemos então concluir que a sociedade de ordens assentou sob os seguintes princípios:

- em cada ordem havia uma pluralidade de estratos (estratificação social)

- as diferenças de privilégios e de direitos entre as ordens eram necessárias e aceitáveis


(sociedade desigualitária, assente em privilégios, nomeadamente de nascimento)

- o rei, detentor de todo o poder, mantinha o corpo social, criado por Deus (rei garante a
ordem social)

- a sociedade é um “corpo único” dividido em três ordens ou estados (conceção trinitária da


sociedade, de origem medieval)

Apesar de a hierarquia da sociedade do Antigo Regime ser apresentada como estática (fixa), na
prática, sobretudo a partir da segunda metade do século XVII e ao longo do século XVIII, fez-se
sentir a mobilidade social (passagem de um indivíduo posicionado numa hierarquia de um
estrato social para outro, superior ou inferior).

Eram vários os fatores que concorreram para a mobilidade social (nobilitação):

- concessão régia de um título de nobreza, como recompensa pelo desempenho de cargos


públicos (administrativos e judiciais).
- casamento entre elementos oriundos da nobreza e da burguesia enriquecida: a nobreza
aumentava os seus recursos financeiros, através do dote, a burguesia acedia ao meio social da
nobreza, podendo comprar títulos.

- compra de cargos (ou venalidade – prática de compra e venda de cargos administrativos


como forma de obter rendimentos ou de desempenhar cargos que podiam nobilitar, depois de
longos anos de serviço) que, pela sua importância, era um meio para aceder a títulos.

Os soberanos do Antigo Regime fizeram da mobilidade social um instrumento de dominação,


concedendo títulos ou, pelo contrário, retirando mercês. Deste modo, a nobreza, ao serviço do
rei, tornou-se mais submissa e dependente.

A nobreza adaptou-se às mudanças decorrentes da economia mercantil que se generalizou no


século XVII quando a posse de terra deixou de ser o principal indicador de riqueza. O comércio,
antes considerado função indigna, tornou-se não só nobilitante como necessário ao serviço
dos interesses da Coroa, ou seja, da grandeza do Estado, como aconteceu no reinado do rei
Luís XIV. Gerando assim uma progressiva alteração os valores e comportamentos da
sociedade.

 Os fundamentos e expressões da organização política


Foi em França, no século XVII, que o Estado centralizado e moderno atingiu o apogeu. O
processo de fortalecimento do Estado, relativamente longo e com algumas resistências, foi
possível devido a diversas personalidades que, através da reflexão sobre a autoridade real,
contribuíram para reforçar o poder régio:

Cardin Le Bret – publicou, em 1632, a obra Tratado da Soberania do Rei e defendeu que o
monarca era a única autoridade a quem todos se deviam submeter.

Richelieu – em 1688 escreveu a obra Testamento Político, defendendo a unidade religiosa


como meio de reforçar o poder régio e considerou necessária a submissão dos “Grandes” do
reino para fortalecer o poder do monarca.

Bossuet – publicou em 1709 a obra A Política Tirada da Sagrada Escritura, desenvolvendo a


doutrina do poder régio de direito divino como base na ideia de que o poder do rei era sagrada
porque emanava de Deus, o único a quem prestava contas da sua governação. O poder do rei
era absoluto porque todos os poderes e autoridade se concentravam nele, logo a autoridade
do rei, tal como a de um pai, não era contestada, o que evidenciava a defesa de uma conceção
paternalista do poder régio.

A partir de 1661, Luís XIV tornou-se símbolo e modelo da monarquia absoluta, que foi o regime
político vigente nos séculos XVII e XVIII, no qual o rei concentrava em si todos os poderes
(legislativo, executivo e judicial), assumindo-se como representante de Deus na Terra.

Contudo, o seu poder não era arbitrário nem ilimitado, estando submetido à razão. Além de
ser sagrado, paternal e absoluto. As leis, os usos e os costumes, bem como os valores e a
consciência cristã constituíam limites à atuação do monarca. Luís XIV tornou-se paradigma do
monarca absoluto.

Constituindo os limites teóricos ao exercício do poder absoluto:

- as leis de Deus: o rei jurava obediência às leis de Deus.


- as leis da justiça natural dos homens: direito á propriedade, à justiça, à liberdade, à vida.

- as leis fundamentais de cada reino: instituídas pelo costume e pela tradição: direito
consuetudinário.

A centralização de uma monarquia absoluta foi favorecida por fatores como:

- o ressurgimento urbano e da economia mercantil, burguesa e capitalista.

- o desejo de ascensão da burguesia enriquecida.

- o desenvolvimento cultural e o renascimento do Direito Romano que revalorizou a noção de


Estado centralizado.

- o crescimento económico e o alargamento geográfico dos países, factos que impuseram a


necessidade de uma organização mais completa e unitária que só o poder absoluto poderia
fazer com eficácia.

Luís XIV, a partir de 1661, no quadro do absolutismo, assumiu o poder pessoal. Manteve os
Conselhos, mas sem dar primazia a nenhum ministro. Passou a contar com a colaboração do
chanceler, o mais importante funcionário da Corte, e com os intendentes, nas províncias, de
modo a reduzir a influência da nobreza e dos parlamentos regionais (era um “tribunal” de
ultima instancia ao qual se apelava de uma decisão ou sentença. As leis, éditos e outros
documentos eram aí registados antes de serem publicados. Os membros dos parlamentos,
proprietários do cargo, podiam transmiti-lo hereditariamente mediante o pagamento de um
imposto).
Luís XIV assumiu o controlo do Estado, da Guerra às Finanças, da Justiça à Administração
central e local, manifestando-se em diversos campos de intervenção.

Durante o seu longo reinado, a afirmação do absolutismo régio foi essencial para assegurar a
coesão da França e para obter um lugar de destaque entre os Estados europeus seus rivais –
Holanda, Espanha e Inglaterra. Através de alianças, guerra e do reforço do exército, marinha e
de uma política económica dirigida pelo ministro e controlador-geral das finanças (Jean-
Baptiste Colbert), a França procurou a hegemonia.

As enormes despesas da guerra, da corte de Versalhes, da máquina burocrática e de um vasto


corpo de funcionalismo do Estado absoluto levaram ao agravamento da situação financeira e à
criação de novos impostos. A crise económica e financeira não foi evitada, o que originou
revoltas, que foram prontamente reprimidas.

 Os modelos estéticos de encenação do poder absoluto


A afirmação do poder absoluto de Luís XIV, para além das medidas no âmbito administrativo e
jurídico, apoiou-se numa estratégia de divulgação da sua figura que exaltou a majestade e
poder do monarca.

A encenação do poder régio contou com o recurso a meios artísticos variados, como o teatro e
a música, centrando a linguagem simbólica em toro da figura do Rei-Sol. A pintura, as artes
decorativas, a escultura e a arquitetura espelharam a grandiosidade e o poder dos monarcas
absolutos.

O barroco (estilo artístico, em voga entre o final do seculo XVI e meados do seculo XVIII,
marcado pelo esplendor e pela exuberância. Foi adotado pela Igreja Católica como expressão
artística em resposta à difusão do Protestantismo), caracterizado pelo sentido de grandeza,
riqueza e movimento, pelo apelo aos sentidos e emoções, também foi determinante na
encenação do poder e para veicular princípios políticos e a grandeza dos Estados e do
soberano.

Assim, a exuberância do barroco, conciliada com o rigor do classicismo, acompanhou o gosto e


estilo do seu reinado.

O Palácio de Versalhes foi um modelo arquitetónico para as cortes europeias, mas também um
teatro de encenação do poder e um meio de controlo e de submissão da nobreza, interessada
nos favores do rei.

Versalhes tornou-se o centro da sociedade de corte (modelo de sociedade centrada em torno


da figura do rei e que obedece a um código rígido de conduta e etiqueta, na qual a hierarquia
decorre da proximidade com o rei):

- o palácio, com os seus salões, galerias e aposentos, bem como o vasto complexo de jardins,
era o palco onde se desenrolava a encenação do poder e da vida do rei;

- a grandiosidade de Versalhes expressava a magnificência do monarca, através das festas que


associavam o teatro, a música e a ópera, culminando com grandiosos fogos de artificio;

- as manifestações artísticas presentes no palácio, da pintura à música ou à literatura, eram


apoiadas pelo rei e espelhavam o desenvolvimento cultural alcançado durante o seu reinado;

- as ciências e as letras beneficiaram do patrocínio régio, no contexto da política de mecenato


desenvolvida pelo rei e de controlo de todas as atividades culturais, como foi o caso da
fundação da Academia das Ciências, em 1666.

A sociedade de corte, centrada em Versalhes, foi moldada por um cerimonial e regras de


etiqueta (cerimonial ou conjunto de usos e comportamentos da vida na corte junto do rei ou
de uma grande personalidade), de que se destacam:

- o rei era a figura central, cuja vida e atos quotidianos assumiam um valor simbólico;

- o cerimonial, que acompanhava a vida do monarca, decorria desde o “acordar do rei” à


cerimónia do “deitar do rei”;

- os gestos e os comportamentos relacionados com a participação na rotina diária do monarca,


e no acesso aos espaços por ele frequentados, seguiam uma hierarquia rígida;

- a corte era mobilizada para o culto ao rei, de acordo com regras, gestos e procedimentos
predefinidos pela etiqueta e protocolo que regiam o quotidiano daqueles que viviam na corte;
- a rotina diária dos nobres ajustava-se à do monarca, com regras de precedência e de maior
ou menor aproximação, consoante o favor e a vontade do rei.

 Sociedade portuguesa do Antigo Regime


A sociedade portuguesa, no longo período que decorreu entre os séculos XVI e XVIII,
apresentava uma estrutura de ordens, hierarquizada e estratificada, própria do Antigo Regime,
à semelhança do que se passava na Europa dos Estados absolutos. No entanto, a sociedade
portuguesa apresentou algumas especificidades, decorrentes do processo histórico português,
ligadas à mercantilização da sociedade, ao impacto da união dinástica e à necessidade de
renovar a ordem nobiliárquico-eclesiástica, após a Restauração.

 Características da sociedade portuguesa


A preponderância de uma nobreza fundiária e mercantilizada
Era uma sociedade estruturada com um certo grau de rigidez, em ordens ou estados. Os
séculos XVI e XVII caracterizaram-se por um reforço da posição socioeconómica do clero e da
nobreza. O rei apoiou-se nas ordens privilegiadas para a governação do Reino e do Império
Colonial. A Restauração trouxe muito prestígio à alta nobreza que viu o seu papel político
reforçado. Os mais altos cargos administrativos e militares do reino estavam monopolizados
pela nobreza, o mesmo acontecendo com inúmeros postos e funções no império:
governadores, feitores, vice-reis. Estes cargos proporcionaram honras, mercês e prestígio
político.

Os cargos ligados ao comércio ultramarino serviam para agraciar a nobreza que, na grande
maioria dos casos, pouco percebia de negócios, deixando a burguesia relegada para segundo
plano, o que mereceu fortes críticas aos monarcas. Surgindo a expressão “o homem que não é
fidalgo, não é chamado para nada”. Por todo o Império, os nobres enriquecem à custa das
sedas da China, da canela de Cellão, dos escravos da Guiné ou do açúcar do Brasil.

Fruto destas atividades, a nobreza mercantiliza-se, dando origem a um tipo social especifico: p
cavaleiro-mercador, que não era um verdadeiro homem de negócios. O comércio foi sempre
um modo fácil para enriquecer, uma atividade complementar à de grande proprietário e
permitiu-lhe esbanjar em artigos de luxo.

A debilidade da burguesia

Preponderância da nobreza nos cargos políticos e nos negócios do Imperio Colonial impediu o
crescimento e enriquecimento da burguesia. A nossa burguesia teve certas dificuldades em se
afirmar, atrofiada pelo protagonismo excessiva da coroa e da nobreza. A burguesia
portuguesa, até ao período do Marques de Pombal, caracterizou-se por uma grande debilidade
política, económica e social. Poucos foram os casos de sucesso.

O grande peso das atividades mercantis, o atraso da agricultura, o absolutismo régio e a


preponderância de uma sociedade conservadora conduziram ao bloqueamento da economia
interna.

 A criação do aparelho burocrático do Estado absoluto no século


XVII
Com a subida ao trono de João IV, e para responder às diversas tarefas da governação, que se
pretendia centralizada, acentuou-se o desenvolvimento do aparelho burocrático, mediante a
criação de diversas instituições para a afirmação do absolutismo, que permitiram responder às
crescentes exigências da governação, colocada na esfera do monarca. Este processo de
burocratização e de administração centralizada foi desenvolvido num período longo.
A par do declínio dos Conselhos e da não convocação das Cortes, assistiu-se à reforma das
Secretarias, no sentido de uma maior especialização necessária ao fortalecimento do Estado
moderno. O sucesso do absolutismo de D. João V foi o resultado de um conjunto de reformas
administrativas desenvolvidas ao longo de vários anos.

 O absolutismo joanino
O reinado de D. João V, entre 1706 e 1750, correspondeu ao período de afirmação da
monarquia absoluta, não só a nível interno, mas também no quadro internacional, numa
Europa marcada pela figura de Luís XIV, paradigma do rei absoluto.

D. João V procurou, com o apoio da diplomacia, o prestígio e o reconhecimento internacional


por parte dos Estados e das monarquias do seu tempo. As iniciativas no quadro da ação
diplomática constituíram um dos elementos definidores do reinado deste monarca e
enquadraram-se na necessidade de legitimar a monarquia através de uma cuidada definição
de títulos, de rituais e de práticas que culminaram no esforço de disciplinação da sociedade da
corte joanina. Empenhou-se, também, nas relações com a Santa Sé a fim de obter benefícios
eclesiásticos e alcançar prestígio. Procurou a igualdade de tratamento atribuído aos reis de
outras potências europeias no seu relacionamento com a Santa Sé, ou seja, obter o título de
Fidelíssimo, o que lhe foi concedido pelo Papa Bento XIV, em 1748. Assim, D. João V foi
equiparado aos monarcas absolutistas da França e Espanha, destacando a ação de Portugal na
evangelização e no combate ao Infiel.

O sucesso do absolutismo joanino deveu-se a certos fatores político-institucionais e sociais. O


longo reinado de D. João V ficou associado ao ponto alto de afirmação da monarquia
absolutista, com contornos semelhantes aos demais reinos europeus em que o absolutismo
régio se afirmou. Criou as secretarias; interveio na defesa, nas finanças e na justiça, através da
criação de um núcleo administrativo central; atenuou o poder do clero e da nobreza; no século
XVII, esta estrutura foi-se aperfeiçoando e o rei tomou com mais firmeza as rédeas do poder;
apagou o papel das Cortes.
 A corte joanina
O reinado de D. João V ficou marcado pela substituição das Cortes pela corte. Na corte, centro
do poder absoluto, D. João V recorreu a um conjunto de práticas que exaltavam e glorificavam
a sua figura, numa clara encenação do poder, à semelhança do que acontecia na Europa dos
Estados absolutos.

Manifestações de grandeza:

- a pompa, o fausto e o cerimonial, na corte e em público, construíram a imagem do rei, do


reino e do seu poder, sem lugar à improvisação, porque tudo era pensado e organizado.

- a vida na corte era determinada por um cerimonial rígido e hierárquico, em que cada um
ocupava um lugar, definido de acordo com o protocolo e as formas de tratamento
estabelecidas.

- a presença de uma elite nobre e eclesiástica na corte era uma forma de participar na vida
social, cultural e política do reino, de aceder aos privilégios concedidos pelo rei, de modo a
criar uma rede de dependências e a disciplinar as ordens privilegiadas.

- as entradas solenes do monarca e da sua família, nas ocasiões festivas, estavam associadas a
cerimónias do calendário religioso ou à vida da família real.

- as procissões solenes, batismos, casamentos e cerimónias fúnebres eram momentos de


associação entre os poderes monárquico e religioso e mobilizavam a participação do reino,
através dos municípios e das corporações, nas principais cidades que se associavam, por
ordem régia, às comemorações.

- as entradas públicas dos seus embaixadores nas principais capitais europeias evidenciavam a
grandeza do rei, através de cortejos solenes onde foram exibidos coches faustosos, decorados
ao gosto barroco: em Viena, em 1708, por ocasião do seu contrato de casamento com Maria
Ana de Áustria; em Roma, em 1716, aquando da embaixada do Papa Clemente XI.

- as artes, nas suas diversas manifestações, evidenciavam a grandeza do poder real, por
exemplo, na decoração e construção de arquitetura efémera associada a cerimónias públicas e
religiosos.

- a edificação de palácios e mansões, a reforma do Paço da Ribeira, palácio real, bem como de
igrejas e capelas, decoradas com talha dourada, constituíram um dos traços característicos da
arte barroca do período joanino, apoiadas pelo monarca, um pouco por todo o reino e
territórios do Império Colonial.

De entre as obras arquitetónicas do período joanino, destacaram-se o palácio-convento de


Mafra e o Aqueduto das Águas-Livres, iniciados em 1717 e 1732. Mafra foi um dos principais
símbolos do reinado de D. João V, estabelecendo-se como um exemplo de afirmação de
grandeza, representando a expressão da autoridade e do poder absoluto.

As letras e as artes, ao serviço da propaganda régia, beneficiaram igualmente do patrocínio do


monarca, dando origem à criação de diversas instituições, das quais se destacaram, no campo
da ciência:

- a Academia Real de História Portuguesa, em 1720.


- a Biblioteca da Universidade de Coimbra, conhecida como Biblioteca Joanina (1717), e de
alguns núcleos da Biblioteca da Ajuda, em Lisboa.

- a edificação do Teatro Real para a ópera, inaugurado em 1737.

- a instalação de um gabinete e observatório astronómico.

- a divulgação de curiosidades, como a famosa experiencia do padre Bartolomeu de Gusmão, o


“instrumento de andar sobre o ar”, conhecido como passarola.

 A Europa dos Parlamentos


No século XVII, em Inglaterra, ao contrário dos reinos do continente europeu, a monarquia
apresentava características específicas, ligadas a uma longa tradição que estabeleceu limites
ao exercício do poder dos monarcas. Aqui, vivia-se um período politicamente conturbado,
associado à recusa da instauração do absolutismo, num país que desde a Idade Média
estabelece limites ao poder do monarca.

A partir de 1215, com a Magna Carta (documento de 1215 que consagrou, por escrito, que
nem o rei nem nenhuma pessoa estava acima da lei, limitando a autoridade régia. Neste
documento, apresentado pelos nobres ao rei, estava previsto o respeito pelas liberdades e
privilégios dos três estados. Consagrou a liberdade da Igreja, as prerrogativas municipais, a
moderação tributária e o direito a ser julgado pelos seus pares. Dos artigos que constatavam a
Magna Carta, apenas três continuam a fazer, atualmente, parte da lei inglesa), ficou
consagrado que o rei não podia lançar novos impostos sem o consentimento do “grande
conselho”, que, ainda durante o século XIII, deixou de ser apenas um tribunal de justiça (como
acontecia em França) e deu origem ao Parlamento.

Parlamento – órgão com competências legislativas que, entre outros poderes, controlava o
levantamento de novos impostos. Era constituído por duas assembleias: a Câmara dos Lordes
(nobres e eclesiásticos nomeados vitaliciamente pelo rei) e a Câmara dos Comuns (formada
por representantes não nobres dos condados rurais).

Desde a Idade Média, o Parlamento inglês participava no exercício do poder legislativo. No


entanto, no século XVII, esta prática que limitava o poder régio foi posta em causa pelos
monarcas da dinastia Stuart. Estes monarcas (Jaime I, Carlos I, Carlos II, Jaime II) exerceram o
poder sem respeitarem os direitos do Parlamento e procuraram implantar o regime absolutista
de direito divino. O confronto entre o poder régio e o Parlamento marcou, por isso, grande
parte do século XVII e deu lugar a duas revoluções contra a tentativa de instauração do
absolutismo.

 Da tirania de Carlos I à guerra civil e à abolição da monarquia


Jaime I afirmou-se como absolutista e defensor da Teoria do Direito Divino do Rei,
pretendendo governar no desrespeito da tradição instituída pela Magna Carta, o que provocou
a prostilidade do Parlamento, que deixou de convocar durante sete anos.

Com a subida ao trono de Carlos I, monarca anglicano defensor do absolutismo, acentuou-se a


cisão entre a Coroa e o Parlamento, quando o rei implantou as seguintes medidas:

- aumento dos impostos sem o consentimento parlamentar

- ordenação de prisões arbitrárias


- obrigação de acolhimento de soldados nas casas particulares

O Parlamento considerou estas medidas ilegais, associadas ao exercício de um poder arbitrário


e ao não cumprimento dos princípios da Magna Carta. Face à ameaça da implementação do
absolutismo, o Parlamento apresentou, em 1628, a Carlos I a Petição dos Direitos, na qual
pedia ao rei o respeito pelos direitos e liberdades:

- lançamento de impostos apenas com consentimento parlamentar

- proibição de utilização da lei marcial em tempo de paz

- impossibilidade de aquartelar soldados em casas particulares

- direito de Habeas Corpus (expressão latina que significa “O teu corpo pertence-te”,
estabelecendo que ninguém pode ser preso sem culpa formada) posteriormente tornado lei.

Carlos I não respeitou a petição de 1628, prendeu os líderes do Parlamento e governou à


maneira absoluta, durante o período designado “tirania dos onze anos” (1629-1640). A
atuação do poder régio pôs em causa os direitos e liberdades que tinham moldado a sociedade
inglesa até então.

Ao problema político (recusa do absolutismo) juntou-se a questão religiosa, devido ao clima de


intolerância dos Anglicanos face aos Católicos e a outras confissões protestantes (como os
puritanos – no quadro de protestantismo inglês, defendiam uma religião mais pura e
evangélica, liberta das influencias e práticas religiosas), cujas dissidências eram motivo de
conflitos e perseguições, desde finais do século XVI, pois Carlos I reforçou o Anglicanismo, com
o intuito de o impor a todo o país, incluindo a Escócia, o que fez com que os Puritanos
escoceses invadissem a Inglaterra.

A partir de 1640, as hostilidades radicalizaram-se e a guerra civil eclodiu (1642-1649), opondo


os defensores do poder real, designados “cavaleiros realistas” e apoiados pela Igreja Anglicana
e alta nobreza, aos defensores dos direitos do Parlamento, designado “cabeças redondas”
apoiados pela burguesia e campesinato e protestantes, liderados por Oliver Cromwell.

Os partidários de Carlos I foram derrotados e o rei capturado, sentenciado e executado em


1649. A monarquia foi abolida e instaurou-se uma República, entre 1649 e 1659, liderada por
Oliver Cromwell até 1658. Em 1653, assumiu um poder pessoal, sob a forma de “protetorado”,
apoiado numa base social e religiosa ligada aos puritanos. A República transformou-se numa
ditadura, depois de dissolver o Parlamento. A anarquia imperava, num ambiente de guerra
civil, desde a Inglaterra, à Escócia e à Irlanda, entre diversas fações políticas (monárquicas e
parlamentaristas) e religiosas (anglicanos e protestantes).

 Da restauração da monarquia à exclusão dos Stuart do trono


Em 1660, o Parlamento autorizou o regresso do exílio de Carlos II, filho do rei Carlos I (que
tinha sido deposto e decapitado). A restauração da monarquia pôs fim ao clima de guerra
entre as diversas fações políticas e religiosas.

Carlos II:

- devolveu a influencia ao Parlamento;

- compensou as vítimas da guerra civil;


- restaurou a Igreja Anglicana com os seus direitos e propriedades;

- restaurou o poder dos tribunais.

Em 1670, acordou secretamente a sua versão ao Catolicismo em troca de apoios da França.


Além disso, a negociação do seu casamento com D. Catarina de Bragança, católica, filha de D.
João IV, rei de Portugal, acentuou a desconfiança da influencia do Catolicismo na corte. A
atuação de Carlos II provocou o descontentamento e levou o Parlamento a adotar medidas de
caráter religiosos e jurídico:

- aprovação, em 1673, do Test Act que impôs aos funcionários (civis e militares) a rejeição do
Catolicismo e obrigou ao juramento de lealdade à Igreja Anglicana.

- aprovação, em 1679, da lei de Habeas Corpus para confirmar o antigo direito, incluído na
Magna Carta, que protegia as pessoas de serem presas arbitrariamente.

A recusa do absolutismo deixava evidente, novamente, que a sociedade inglesa não abdicava
dos direitos e liberdades individuais há muito consagrados.

Contudo, Carlos II morreu sem deixar descendentes, sucedendo-lhe o irmão, Jaime II:

- Jaime era católico e admirador do absolutismo francês;

- contrariou o disposto no test act, nomeando católicos para cargos importantes e proclamou a
liberdade religiosa para os Católicos;

- entrou em conflito com o Parlamento, provocando o descontentamento generalizado da


maioria protestante.

Iniciou uma política de tolerância para com os Católicos, tal proteção e a guerra em que se
envolveu com a Holanda acabaram por provocar a oposição do Parlamento. A atuação do rei
desencadeou forte oposição e desconfiança, pelo que o Parlamento desenvolveu ações no
sentido de evitar o regresso da guerra civil, procurando uma solução de compromisso. Jaime II
foi, novamente, forçado ao exílio em França. A questão passou a ser se os Stuart deviam ser
excluídos definitivamente da sucessão do trono.

Alguns membros do Parlamento solicitaram a intervenção de Guilherme III de Orange e


Nassau, Stathouder há Holanda (cargo político executivo nas Províncias Unidas), protestante e
casado com Maria, filha mais velha do rei Jaime II, também ela protestante. Com efeito, em
1688, o exército de Guilherme de Orange invadiu a Inglaterra, com o apoio do Parlamento.

Esta série de acontecimentos, designada Revolução Gloriosa, encerrou o longo processo de


recusa do absolutismo e de afirmação de um regime de monarquia parlamentar.
 A Revolução Gloriosa e a instauração da monarquia parlamentar
Os acontecimentos da Revolução Gloriosa (1688-1689) ocorreram graças à intervenção do
Parlamento Inglês, e foi determinante para eliminar as tentativas de instauração do
absolutismo, uma vez que a Declaração dos Direitos instituiu a partilha de poder entre o
soberano e o Parlamento.

O Parlamento apresentou a Guilherme de Orange e a Maria Stuart a Declaração dos Direitos


(Bill of Rigths), onde constavam os “direitos e liberdades antigas”. Estabeleceu os direitos civis
e políticos, limitou e regulou os poderes na monarquia parlamentar. O Parlamento assumiu o
poder legislativo e os reis dividiram o seu poder com esse órgão, ficando sujeitos à lei.

A Declaração dos Direitos, tornou-se assim uma espécie de Constituição inglesa, segundo a
qual o monarca ficava obrigado a respeitar o Parlamento (ainda sem representação alargada e
universal), exercendo um poder limitado de acordo com estes princípios:

- os reis não estavam acima da lei (submeteram-se ao direito comum, aplicado aos súbditos)

- os reis ficavam obrigados a reunir o Parlamento (ficavam proibidos de suspender as leis e de


lançar impostos sem o consentimento parlamentar)

- os reis ficavam proibidos de criar exceções ao cumprimento da lei (ficavam impedidos de


recrutar um exército permanente em tempo de paz)

- garantia (o direito de petição; a liberdade e inviolabilidade dos membros do Parlamento; a


reunião regular das Câmaras)

Em 1701, a aprovação do Act of Settlement estabeleceu que o trono não podia ser ocupado
por um católico.
 Locke e a justificação do parlamentarismo
No século XVII, em Inglaterra, o ambiente social e cultural era marcado pelo protestantismo,
pela valorização da educação e do ensino, bem como pela afirmação da liberdade de
expressão e de pensamento, liberdades há muito consagradas na sociedade inglesa. Estas
foram algumas das condições que contribuíram para formar uma população alfabetizada e
crítica, num ambiente social como uma mentalidade favorável à afirmação de novas teorias
sobre o poder político.

Entre 1603 e 1689, a Inglaterra viveu décadas politicamente conturbadas, marcadas por
violentas lutas políticas e intolerância religiosa entre as várias confissões, no quadro de recusa
do absolutismo. Este clima de agitação teve consequências ao nível da teorização das ideias
políticas.

Marcado pelos acontecimentos da época, John Locke recusou o absolutismo. Ao analisar a


deposição de Jaime II e a sua substituição por Guilherme de Orange, constituiu-se como o
teorizador da Revolução Gloriosa, na obra Dois Tratados do Governo Civil, em 1690. Justificou
o parlamentarismo à luz de um conjunto de princípios que se tornaram referências na história
do pensamento político moderno.

Os princípios enunciados por Locke, à luz do direito natural, comum a todos os indivíduos
(anteriores à ordem social), foram importantes para a formação dos sistemas políticos
modernos, ao nível dos direitos, das liberdades individuais e da afirmação do
parlamentarismo. As suas ideias foram acolhidas em 1776 na Declaração da Independência dos
Estados Unidos da América e em França em 1789, inspiraram a Declaração dos Direitos do
Homem e do Cidadão.

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