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Resumos de História (1º teste)

1.1 A Europa dos Estados absolutos e a Europa dos parlamentos

1.1.1 Uma sociedade de ordens assente no privilégio

Entre os séculos XVI e XVIII, a Europa viveu um período designado por Antigo Regime,no
qual, no geral, os países apresentam as mesmas características económicas, sociais e
políticas.

Antigo Regime - Época da história europeia compreendida entre o Renascimento e as


grandes revoluções liberais que corresponde, grosso modo, à idade Moderna. Socialmente,
o Antigo Regime caracteriza-se por uma estrutura fortemente hierarquizada, politicamente,
corresponde às monarquias absolutas e economicamente, ao desenvolvimento do
capitalismo comercial.

A sociedade do Antigo Regime: era uma sociedade de ordens ou estados – clero,


nobreza e povo (Terceiro Estado), definidas pelo nascimento e pela função que os seus
membros desempenham. Assim, era uma sociedade hierarquizada, em que as ordens não
estavam todas ao mesmo nível em termos de importância e poder. Os vários privilégios
que possuíam, faziam do clero e da nobreza as ordens sociais mais poderosas.

Ordens ou estados - Categoria social que goza de um grau determinado de dignidade e


prestígio, correspondente à função social que desempenha. A ordem (ao contrário da classe
social) assenta mais no nascimento do que na riqueza, perpetuando-se por via hereditária e
admitindo uma mobilidade social reduzida. Só a ordem do clero, foge, pelo celibato imposto
aos seus membros, à transmissão hereditária, mas reflete, na sua hierarquia interna, a
diversidade social das outras ordens.

Dentro de cada ordem social, havia vários estratos (graus, categorias…), também eles
hierarquizados, dependendo da função que ocupavam – sociedade estratificada.

Sociedade estratificada (Estratificação social)- Divisão da sociedade em grupos


hierarquicamente organizados, consoante o seu prestígio, poder ou riqueza.

→ O clero ou o primeiro estado: considerada a ordem mais digna, por estar mais próxima
de Deus. Beneficiava de inúmeros privilégios: posse de terras (domínios senhoriais),
isenção de pagar impostos (recebendo-os) e de prestar serviço militar, ocuparam cargos
importantes na administração, tinham leis próprias (direito canónico) e tribunais próprios.

No geral, era uma ordem rica, recebendo muitas ofertas dos crentes. Os seus membros
vêm da nobreza e do povo. Dividia-se em alto clero (bispos, arcebispos, cardeais…), baixo
clero (párocos, monges…) e o clero regular. Muitos elementos do baixo clero levavam
uma vida simples, até com dificuldades financeiras.
→ A nobreza ou o segundo estado: ordem de maior prestígio, ocupando os cargos mais
importantes na administração e no exército. Também possuíam muitas propriedades e
cobravam impostos (não pagavam).
As velhas famílias que há várias gerações pertenciam a esta ordem, era a chamada
nobreza de sangue ou nobreza de espada. Esta nobreza estava hierarquizada, desde a
nobreza que vivia na corte à nobreza rural, vivendo esta dos poucos rendimentos dos seus
senhorios.

A esta velha nobreza veio juntar-se a nobreza de toga (ou administrativa),


maioritariamente oriunda da burguesia. Muitos burgueses, com estudos, começaram a
destacar-se e a ocupar cargos importantes na administração. Para isso, eram nobilitados
pelos reis. Pela via do casamento, estas “duas nobrezas” começaram a misturar-se.

A Alta Nobreza era constituída pelo Rei, príncipes, duques; Marquês e condes. A Baixa
Nobreza era constituída pelos viscondes; fidalgos, cavaleiros e escudeiros.

→ O Terceiro Estado (povo): era a esmagadora maioria da população europeia. Era a


ordem social mais estratificada: à cabeça tínhamos a burguesia (homens de negócios e
ligados à banca), muitos deles com estudos superiores. Depois, vinham os camponeses,
artesãos, mendigos…, vivendo na pobreza, trabalhando nas terras dos grandes senhores,
sujeitos ao pagamento de impostos.

A diversidade de comportamentos e de valores.


A mobilidade social

Cada estrato social diferencia-se, por exemplo, nas formas de tratamento ou no


vestuário. Assim, a lei definia um conjunto de regras que todos tinham de cumprir: por
exemplo, só o nobre podia usar espada e tecidos ricos. Um nobre tinha de ser tratado, por
exemplo, por Excelência.

A mobilidade social, embora reduzida, existia no Antigo Regime: a principal era a


ascensão de membros do povo (burguesia). Aos poucos, o nascimento deixava de impedir
essa mudança social. Foi o dinheiro e os estudos que abriram o caminho para a burguesia
chegar ao topo da pirâmide social. O desempenho de cargos administrativos levou ao
aparecimento da nobreza de toga. Outra via foi o casamento: muitos nobres arruinados viam
no casamento dos filhos com a burguesia endinheirada, uma boa oportunidade de enriquecer.

Mobilidade social - Transição dos indivíduos de um para outro estrato social, quer em sentido
ascendente quer em sentido descendente. Numa sociedade de ordens esta mobilidade é
sempre reduzida, uma vez que o critério de diferenciação social assenta no nascimento.
Porém, no Antigo Regime, o desenvolvimento do capitalismo comercial conduziu à ascensão
da burguesia, que viu reforçadas tanto a sua valia económica como a sua dignidade social.
Este processo culminará com o embate das revoluções liberais que destruirão a sociedade
de ordens, instaurando o atual modelo de organização social em classes.(definição do
manual).
1.1.2 O absolutismo régio

No Antigo Regime, politicamente, grande parte dos países europeus tinha como regime
o absolutismo régio ou monarquia absoluta. O expoente máximo desse regime foi o rei de
França, Luís XIV, no século XVII.

Monarquia absoluta - Sistema de governo que se afirmou na Europa no decurso do Antigo


Regime. Concentra no soberano, que se considera mandatado por Deus, a totalidade dos
poderes do Estado.

Principais características do absolutismo (Fundamentos do poder real):

- É absoluto: o rei concentra em si todos os poderes (legislativo, executivo e judicial);

- É Sagrado (o seu poder tem uma origem divina): cumprem a vontade de Deus, são os seus
representantes na Terra. Atentar contra o rei é o mesmo que atentar contra Deus. Tem um
poder sagrado;

- É paternal: tal como Deus;


tal como um pai, o rei deve proteger os seus súbditos e contribuir para a sua felicidade (“pai do
povo”);

- Está submetido à razão: governa com sabedoria, pensando nos seus atos
para decidir o bem (Deus dotou os reis desta maneira).

O exercício da autoridade. O rei, garante da ordem social estabelecida

O rei absoluto concentra em si toda a autoridade do Estado: ele legisla, ele executa, ele
julga. Na prática, o rei tomou o lugar do Estado, com o qual se identifica.
Uma vez que as suas ações estão legitimadas por si próprias, os monarcas absolutos
dispensam o auxílio das outras forças políticas.
Em Portugal, as cortes não se reúnem uma única vez durante todo o século XVIII.
Mas, na verdade, nenhuma instituição foi abolida. Nem os Estados Gerais, em França, nem as
Cortes, em Portugal. Abolir qualquer instituição seria uma afronta aos privilégios
estabelecidos que ao rei cabia preservar.
O rei torna-se, assim, o garante da ordem social estabelecida e é nessa qualidade que
recebe, das mãos de Deus, o seu poder. Qualquer tentativa feita no sentido de a alterar é
vista como um desrespeito do direito consuetudinário e quebra do juramento prestado.

A encenação do poder: a corte régia

A corte era o espelho de todo o poder dos reis absolutistas, com destaque para a
Corte francesa, situada em Versalhes. O grande palácio foi projetado à imagem do “rei-sol”,
vivendo lá milhares de pessoas, das classes privilegiadas. A estes o rei distribuía benefícios
e privilégios, exigindo em troca a sua fidelidade e obediência. Por outro lado, era uma
forma do Rei os manter “debaixo de olho”, para impedir ou descobrir eventuais tentativas de
revolta.
Quem não frequentava a corte virava as costas ao poder e ao dinheiro que o rei distribuía
magnanimamente pelos que o cercavam, pois o luxo da corte arruinara a nobreza que
rivalizava no traje, nas cabeleiras, na ostentação, assim se esquecendo de que a sua
influência política se esvaíra nas mãos do soberano.
A sociedade da corte servia de modelo aos que aspiravam à grandeza, pois representava o
cume do poder e da influência, Ela era, sem grande medida, a medida que, do país, irradiava
para o estrangeiro.

Sociedade da corte - Grupo de pessoas que rodeia o rei e participa na vida da corte. Trata-se
de um conjunto razoavelmente vasto e organizado que partilha os mesmos valores e o
mesmo padrão de vida.

Em Versalhes, tudo servia para glorificar o rei, havendo um rígido protocolo que todos
deviam respeitar. Coisas aparentemente insignificantes, como o deitar ou o levantar do rei,
eram pretexto para uma cerimónia, na qual era bem evidente a hierarquização da sociedade.

1.1.3 Sociedade e poder em Portugal (no Antigo Regime)

A realidade francesa constitui o modelo da sociedade do Antigo Regime, sendo as estruturas


sociais e políticas que aí vigoravam comuns a praticamente toda a Europa. No entanto, é
possível distinguir, em cada país, particularidades próprias que o individualizam. Como
por exemplo o caso português.

A preponderância da nobreza fundiária e mercantilizada:

A nobreza portuguesa teve um papel fundamental na Restauração da Independência em 1640,


que acabou com 80 anos de domínio filipino. Com D. João IV iria iniciar-se a 4ª e última
dinastia monárquica.

A nobreza vai reforçar a sua influência política, aumentando o seu poder junto dos reis. A
nobreza de sangue mantinha a quase exclusividade no acesso aos cargos superiores
da administração e do exército.
O mesmo acontecia com os cargos ligados ao comércio ultramarino. Esta situação ia
merecendo algumas críticas: “Só os fidalgos governam…mesmo sem experiência de nada…,
homem que não é fidalgo não é chamado para nada.”

Muitos nobres juntavam aos rendimentos da terra os rendimentos obtidos na prática


do comércio por todo o Império, negociando os produtos do Brasil(açúcar), de África(da
Guiné, escravos), da China (sedas), de Ceilão(canela)… Fruto destas atividades, a nobreza
mercantiliza-se, dando origem a um tipo social específico: o cavaleiro-mercador. Sendo
uma maneira fácil de ganhar dinheiro, o nobre investia esses lucros na compra de mais terras
ou em luxos excessivos.

Paralelamente, a burguesia portuguesa tinha muitas dificuldades em se afirmar. Por


um lado, enfrentava a concorrência dos nobres no comércio, por outro, os reis procuravam
chamar a si o monopólio do comércio colonial, não dando liberdade de iniciativa aos
burgueses. Deste modo, boa parte dos lucros do comércio marítimo português não frutificava
nem contribuía para o desenvolvimento de uma burguesia enriquecida e enérgica.
A criação do aparelho burocrático do Estado Absoluto

O aparelho burocrático do Estado Absoluto: mesmo chamando a si todos os poderes,


também em Portugal os reis organizaram o aparelho de Estado, criando órgãos com funções
específicas para cada área da governação. Tinham alguma autonomia mas estavam sob o
controlo do rei.

Nos primeiros anos do seu reinado, D. João IV cria um núcleo administrativo central - as
secretarias-, com funções na área da defesa (criação do Conselho da Guerra), finanças
(reforma do conselho da Fazenda) e justiça (reestruturação do Desembargo do Paço). O
reforço do poder real esbater o peso político da nobreza e conduziu também ao
apagamento do papel das Cortes como órgão de Estado. Deste modo começaram a
reunir-se cada vez menos, até deixarem de reunir com D. João V.
No geral, o Estado era burocrático, lento e insuficiente, estando longe das populações.

O absolutismo joanino

Em 9 de dezembro de 1706 subiu ao trono D. João V, que viria a ser o expoente


máximo do absolutismo em Portugal, sendo Luís XIV o modelo que seguiu. (Conhecido
como João V, o Magnânimo).

Administração
A imagem de Luís XIV impunha-se na Europa como modelo a seguir, no que respeita à
autoridade com que dirigiu os negócios do Estado e no que toca à magnificência de que
se rodeou. D.João V procurou imitá-lo nos dois aspetos. Nunca convocou as Cortes e
procurou sempre impor a sua autoridade sobre os privilegiados (nobreza)

Exaltação da figura régia


Destacou-se pelo luxo e ostentação (utilizando as recém-descobertas minas de ouro e de
diamantes no Brasil, foi este ouro que, em grande parte, alimentou o esplendor real), com
uma corte cheia de protocolo, à semelhança de Versalhes, onde ele era o centro de todas
as atenções e o centro do poder.
Promoveu o mecenato das artes e das letras e empreendeu uma política de grandes
construções, com destaque para o Convento de Mafra. O século XVIII é o século da arte
barroca, arte riquíssima, onde predomina a exuberante decoração e a talha dourada. Este
estilo artístico foi muito utilizado pelos reis absolutistas, como mais uma forma de mostrar
todo o seu poder, autoridade e riqueza.

Política externa
O rei procurou a neutralidade face aos conflitos europeus, salvaguardando, no entanto, os
interesses do nosso império e do nosso comércio. Não se furtou à intervenção armada
quando esta lhe podia proporcionar prestígio internacional.
Com o mesmo objetivo, o monarca não olhou a despesas para engrandecer as nossas
representações diplomáticas. As numerosas embaixadas que enviou (a Viena, a Paris, a
Roma, a Madrid, à China) primaram pela pompa: trajes sumptuosos, coches magníficos,
distribuição de moedas de ouro pela população exaltaram no estrangeiro a imagem de
Portugal e do rei magnânimo. Em plena época barroca, o brilho e a ostentação significavam
autoridade e poder.
magnânimo- Expressou-se pelas quantias fabulosas que mandava distribuir aos nobres
portugueses e estrangeiros que o serviam. Estas excessivas liberdades contribuíram para o
descontrolo das contas públicas e para a penúria dos mais humildes. Os soldos das nossas
tropas chegaram a ser pagos com 7 anos de atraso.

1.2 A recusa do absolutismo na sociedade inglesa

Desde cedo que o poder dos reis em Inglaterra foi limitado pelos seus súbditos. Remonta
ao século XIII a Magna Carta(1215), diploma que protegia os ingleses das arbitrariedades do
poder real e determinava a ilegalidade de qualquer imposto lançado sem consentimento do
povo, que viria a estar na base do Parlamento.

Parlamento - Assembleia política à qual cabem, em regra, funções legislativas. Este tipo de
órgão apresenta outras designações como assembleia, cortes ou congresso. O atual
Parlamento inglês é o parlamento mais antigo, tendo servido de modelo a muitos outros. As
suas origens remontam à Magna Carta (1215), encontrando-se desde o tempo de Eduardo III
(século XIV) dividindo em duas câmaras, que evidenciam a distinção entre povo e a nobreza:
a Câmara dos Comuns que, nos séculos XVII e XVIII, era eleita por sufrágio censitário, e a
Câmara dos Lordes, nomeada pelo rei.

1.2.1 Da guerra civil à Declaração dos Direitos

A primeira revolução e a instauração da república

No século XVII, o absolutismo impôs-se na Europa. Também em Inglaterra houve


tentativas para seguir o mesmo caminho político. Tal atitude gerou conflitos e tensões com os
representantes parlamentares (viam-se como guardiões do povo inglês): em 1628, Carlos I
foi obrigado a aceitar a Petição dos Direitos, documento em que se compromete a respeitar
as antigas leis e que o impedia de lançar impostos de sua única vontade e de ordenar prisões
arbitrárias.
Dissolveu o Parlamento e iniciou um governo absolutista. A tensão agrava-se em 1642,
eclode uma guerra civil que não acaba bem para o monarca que em 1649 foi condenado à
morte, sob influência de Cromwell.
A monarquia foi abolida e instaurada a república em 1649.
Iniciada em nome da liberdade, a república inglesa (Commonwealth and Free State) acaba
numa ditadura, após Cromwell ser incapaz de tolerar qualquer oposição, acaba com o
Parlamento e, sob o título de Lord Protector, inicia um governo pessoal altamente repressivo.
,

A restauração da monarquia. A Revolução Gloriosa

Depois da morte de Cromwell (1658) foi restaurada a monarquia na pessoa de Carlos II, filho
de Carlos I. Durante o seu reinado, as liberdades individuais dos ingleses são reforçadas por
vários documentos, entre eles o Habeas Corpus (1679), lei que proibia detenções
prolongadas sem que a acusação tenha sido devidamente formalizada.
Sucedeu-lhe o seu irmão, Jaime II, visto que este era casado com D. Catarina de Bragança, e
estes não tinham deixado descendência. Jaime II rapidamente foi de encontro ao desagrado
dos ingleses, abrindo portas ao seu genro Guilherme III

Em novembro de 1689 é coroado Guilherme de Orange (a Glorious Revolution). Jaime II


abandonou o país. O Parlamentarismo triunfa definitivamente, consagrado na Declaração
dos Direitos, que ainda hoje é o texto fundamental da monarquia inglesa. A abolição da
censura(1696) veio reforçar a liberdade. Deste modo, em Inglaterra, os poderes do Estado
eram partilhados entre o rei e o Parlamento.

1.2.2 Locke e a justificação do parlamentarismo

Coube ao filósofo John Locke a fundamentação teórica do Parlamentarismo, afirmando no


seu Tratado do Governo Civil(1690) que os homens, “nascem livres, iguais e autônomos",
esse poder resulta de uma espécie de contrato entre os governados e os governantes.
Todo o poder depende da vontade dos governados, podendo estes retirar do poder os
governantes que não governem para o bem comum.

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