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História 11° ano- 1° período

A Europa dos Estados absolutos e dos parlamentos

→ sociedade de ordens

- o período que decorre entre a expansão europeia e a Revolução Francesa, do século XVI a
finais do século XVIII, é designado por Antigo Regime;

- no Antigo Regime, a estratificação social caracterizava-se por uma grande rigidez. na maioria
dos Estados europeus existia uma interligação entre a organização social, composta por ordens
ou estados, e o absolutismo régio baseado no direito divino;

- a sociedade era hierarquizada e a ordem social assentava no nascimento e não na riqueza, pelo
que a mobilidade social era quase inexistente; a pertença a uma determinada ordem era
transmitida de forma hereditária e conferia um estatuto próprio a cada um dos elementos que a
integrava;

• clero ou primeiro estado:

- considerado o estado mais digno e o mais próximo de Deus; presidia ao culto religioso e
praticava a assistência junto dos mais necessitados; possuía grande poder fundiário e era a
única ordem cuja posição não era definida pelo nascimento, integrando membros de diversas
proveniências sociais;

- privilégios: isenção de impostos à Coroa; isenção de serviço militar; gozava de leis próprias (o
direito canónico) e era julgado por tribunais próprios; recebem a dízima; recebiam direitos
senhoriais;

- alto clero: filhos-segundos da nobreza e agrupa: cardeais, bispos, arcebispos e abades dos
mosteiros; vive folgadamente, muitas vezes no luxo e, já que os seus membros recebem uma
educação esmerada, desempenham cargos na administração e na corte;

- baixo clero: geralmente proveniente das gentes rurais, partilhavam uma vida simples com os
mais desfavorecidos; competia-lhe: oficiar os serviços religiosos, oriental espiritualmente os
paroquianos;

• nobreza ou segundo estado:

- a mais próxima do rei e pedra angular do regime monárquico, a ordem de mais prestígio;
desempenha funções militares e administrativas; usufruiam de prerrogativas exclusivas como a
espada e o brasão;

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- privilégios: não pagavam impostos e tinham um estatuto jurídico próprio; possuíam grande
poder fundiário e detinham vários rendimentos (como as rendas das terras que arrendavam e
pensões pagas pelo rei);

- nobreza de sangue/espada: desde sempre dedicada à carreira das armas e a espada é o seu
símbolo; Os membros da nobreza de sangue subdividem-se em categorias diversas e
hierarquizadas: no topo ficam os príncipes, duques e outros; em baixo fica a nobreza rural que
só consegue viver com dignidade a custo dos rendimentos do seu pequeno senhorio;

- nobreza administrativa/toga: destina a satisfazer as necessidades burocráticas do Estado; a


ocupação de cargos públicos de destaque por juristas de ordem burguesa forçou o rei a
conceder-lhes um título, compatível com a dignidade das funções que desempenhavam;

• terceiro estado:

- a ordem mais heterogênea, cujos membros tanto podem aspirar às dignidades mais elevadas
como vegetar na miséria mais extrema;

- obrigações: pagavam impostos, tinham a obrigação de cumprir serviço militar e sustentavam


as ordens privilegiadas;

- “a elite do terceiro estado” era composta por homens de letras, financeiros e os mercadores
profissionais de reconhecida utilidade a quem a riqueza granjera estatuto e respeito;

→ o absolutismo régio

- o vértice da hierarquia social é ocupado pelo rei; nos séculos XVII e XVIII, percorrido o
longo caminho da centralização política, o poder real atingiu o auge da sua força; ao rei foram
atribuídos todos os poderes e toda a responsabilidade do Estado;

- a legitimidade deste poder supremo só poderia ser encontrada na vontade de Deus; dela
provinham a autoridade real e as qualidades necessárias ao exercício dos tão importantes
cargos;

• fundamentos do poder real:

- foi o clérigo francês Bossuet quem melhor teorizou os fundamentos e atributos da monarquia
absoluta; com os seus melhores escritos procurou legitimar o estilo de governação de Luís
XIV, modelo de todos os reis absolutos e até do próprio absolutismo;

- Luís XIV subiu ao poder depois de cinco anos de guerra civil e revoltas que envolveram o
parlamento e parte significativa da nobreza francesa, este período ficou conhecido como fronda;

- segundo Bossuet, o poder real conjuga quatro características básicas: é sagrado porque
provém de Deus e devem usá-lo para o bem público; é paternal e o rei deve satisfazer as

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necessidades do seu povo, proteger os fracos e governar cultivando a imagem de “pai do povo”;
é absoluto e o rei assegura com o seu poder supremo o respeito pelas leis e normas da justiça;
está submetido á razão visto que Deus dotou os reis de capacidades que lhes permitem decidir
bem e fazer o povo feliz;

• exercício da autoridade:

- o rei absoluto concentra em si toda a autoridade do Estado: ele legisla, ele executa, ele julga;
isto é, poder legislativo, executivo e judicial;

- uma vez que as suas ações estão legitimadas por si próprias, os monarcas absolutos dispensam
o auxílio das outras forças políticas;

- uma vez que as suas ações estão legitimadas por si próprias, os monarcas absolutos dispensam
o auxílio das outras forças políticas. em frança as cortes reuniram-se pela última vez perto do
fim do reinado de Luís XIV, 1614-1615;

• a encenação do poder: a corte régia:

- não foi o absolutismo que inventou a corte mas foi ele que a transformou no espelho do poder.
Tal como Luís XIV é o paradigma do rei absoluto, Versalhes é o paradigma da corte real.

- quem pretendia um cargo ou mercê só podia obtê-lo no palácio; quem não frequentava a corte
virava costas ao poder e ao dinheiro que o rei distribuía magnanimamente pelos que o
cercavam, pois o luxo da corte arruinara a nobreza;

- a vida em Versalhes era, quotidianamente, uma encenação do poder e da grandeza do


soberano. Cada gesto do monarca adquiria um significado social ou mesmo político e
diplomático.

- símbolos do poder: cetro; bastão; o colar da ordem do Espírito Santo; trono; o manto de
veludo azul com flor de lís; espada; mão da justiça; coroa;

→ sociedade e poder em Portugal

- a realidade francesa constitui o modelo da sociedade do Antigo Regime, sendo as estruturas


sociais e políticas que aí vigoraram comuns a praticamente toda a Europa. No entanto existem
particularidades próprias de cada país, em Portugal:

• a preponderância da nobreza fundiária e mercantilizada:

- em 1640, Lisboa voltou a ter uma corte e Portugal tinha um rei não partilhado com os seus
vizinhos. A monarquia foi restaurada na pessoa do Duque de Bragança e foram os nobres que
restauraram a monarquia portuguesa, encerrando a longa guerra com Castela. Logo, pode-se

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afirmar que “nos fins do século XVII os grandes proprietários detinham firmemente as rédeas
do poder”.

- até meados do século XVIII a nobreza de sangue manteve (quase em regime de exclusividade)
o acesso aos cargos superiores da monarquia: comandos das províncias militares; presidência
dos tribunais de corte; vice-reinados da Índia e Brasil e missões diplomáticas;

- esta também obtinha os seus rendimentos através do comércio colonial, “do trato e da
mercadoria”, ou seja, da oportunidade de participar num negócio bastante lucrativo;

- surge assim em Portugal a figura de cavaleiro-mercador, um tipo-social específico, aquele que


enriqueceu à custa: das sedas da China; da canela de Ceilão; do açúcar do Brasil; dos escravos
da Guiné. Este usava os lucros do comércio para adquirir terras ou esbanjava em luxos -
ostentação;

- desta forma, boa parte dos lucros do comércio marítimo português não dava frutos e não
contribuía para o desenvolvimento de uma burguesia ativa, enriquecida e energética; sendo
assim, em Portugal a burguesia teve sérias dificuldades em se afirmar, atrofiada pelo
protagonismo excessivo da coroa e da burguesia;

- só na segunda metade do século XVIII, graças a Marquês de Pombal, é que a burguesia


adquiriu um peso significativo na ação política e económica do reino;

→ Criação do aparelho burocrático do Estado absoluto

- a concentração de poderes obriga a sua organização, por isso, os monarcas absolutos sentiram
a necessidade de restaurar a burocracia do Estado, redefinindo as funções dos cargos já
existentes e criando outros;

- em Portugal, na primeira metade do século XVII, a reorganização do aparelho burocrático


iniciou-se antes do advento da monarquia absoluta (é um sistema de governo que concentra
todos os poderes do Estado);

- é assim que, logo nos primeiros anos do seu reinado, D. João IV cria um núcleo
administrativo central - as secretarias e intervém em áreas fundamentais, como: a defesa
(criação do Conselho de Guerra); as finanças (reforma do Conselho da Fazenda); e a justiça
(reestauração do Desembargo do Paço);

- na segunda metade do século XVII, esta estrutura governativa foi-se aperfeiçoando; o reforço
do poder real esbater sobre o poder político da nobreza e conduziu também ao apagamento do
papel das Cortes como órgãos de Estado, não lhes permitindo qualquer interferência nas
decisões do Governo;

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- Coube a D. João V encarnar, em Portugal, a imagem do rei absoluto; com a sua obsessão em
controlar tudo, este, vai tirar a capacidade de decisão de vários conselhos, esvaziando-os de
competências e transferindo-as para os seus colaboradores mais diretos, os secretários;

- para aperfeiçoar este núcleo administrativo central, em 1736, procedeu-se à reforma de três
secretarias redefinindo as suas funções e alterando os seus nomes; sendo elas: Estado de
Guerra; Negócios Estrangeiros; Marinha e do Ultramar;

- embora os esforços feitos, a máquina burocrática do Estado continuava pesada, lenta e


insuficiente; a ligação à administração local era inexistente e a maior parte da população
continuava ligada à alçada senhorial;

- formou-se, através de D. João V, o absolutismo joanino que correspondeu a um período de


paz e de excecional abundância para os Cofres do Estado, pois coincidiu com a exploração das
recém-descobertas minas de ouro e diamantes do Brasil;

- no que se refere à administração, D. João V recusa-se a reunir as cortes e exila/afasta muitos


dos grandes nobres de Portugal, dizendo que não os temia;

- este, exalta a figura régia através do luxo e da etiqueta, adota-se a moda francesa e uma rígida
hierarquização marca o protocolo da corte; o rei tem lugar central, sendo assim, não só o
centro do poder como o centro das atenções;

- traz a política de mecenato das artes e das letras, patrocinando importantes bibliotecas;
promove a impressão de variadas obras; e funda a Academia de História;

- empreende uma política de grandes construções e por toda a parte se edificam igrejas ou
recobrem-se os seus interiores com o brilho da talha dourada; remolda-se o Paço da Ribeira;
edifica-se a Patriarcal; mas sobretudo constrói-se o Convento de Mafra, obra imensa. símbolo
de um tempo e de um reinado;

- em termos de política externa, o rei procurou a neutralidade face aos conflitos europeus,
salvaguardando os interesses do nosso império e do nosso comércio; contudo, ajudou com o
combate aos turcos que ameaçavam a Itália;

- engrandeceu as nossas representações diplomáticas que deslumbravam os contemporâneos; as


numerosas embaixadas que enviou primaram pela pompa: trajes sumptuosos; coches
magníficos; distribuição de moedas de ouro pela população. Estávamos em plena época barroca,
logo o brilho e a ostentação significava autoridade e poder;

→ o sistema político na Inglaterra

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- atualmente, no nosso sistema político temos um parlamento que é constituído por deputados
eleitos nas eleições legislativas, ocorrendo estas, de 4 em 4 anos e o partido com mais
deputados eleitos pode formar governo e indicar um nome para 1º ministro.

- também as eleições autárquicas são de 4 em 4 anos e servem para eleger as assembleias


municipais e de freguesia; já as eleições presidenciais realizam-se de 5 em 5 anos e servem para
eleger o Presidente da República; além dessas Portugal também participa, como membro da
UE para as eleições do parlamento europeu;

- portanto o sistema que observamos hoje no nosso país, em que o parlamento é epicentro da
democracia, já de verificava na Inglaterra no século XVIII;

• a recusa do absolutismo na sociedade inglesa:

- na Inglaterra o poder do rei foi, desde cedo, limitado pelos seus súbditos.

- estávamos ainda na Idade Média quando o rei João Sem Terra se viu forçado a aceitar a
Magna Carta (1215), diploma que protegia os ingleses das arbitrariedades do poder real e
determinava a ilegalidade de qualquer imposto lançado sem o consentimento do povo,
representado por um conselho;

- deste modo, não é de estranhar que as tentativas para impor o absolutismo tenham
fracassado, conduzindo, em menos de meio século, à execução de um rei (Carlos I, em 1649), à
disposição de outro (Jaime II, em 1688) e à instauração, ainda que breve, de um regime
republicano (1649-1659).

• Da guerra civil à Declaração dos Direitos:

- a primeira revolução e a instauração da república

- a malquerença entre o rei e o parlamento agudizou-se no reinado de Carlos I; contudo, face às


ilegalidades cometidas por este, multiplicaram-se os pedidos e em 1628 foi obrigado a assinar a
Petição dos Direitos, em que se comprometia a respeitar as antigas leis, não procedendo a
prisões arbitrárias nem arrecadando impostos sem o consentimento dos ingles;

- descontente, Carlos I dissolveu o Parlamento e iniciou um governo de carácter absolutista,


agravando-se a tensão em 1642 que acaba por eclodir uma guerra civil. Pouco depois, é abolida
a monarquia e instalada a república, em 1649;

- Iniciada em nome da liberdade, a república inglesa acaba em ditadura e Cromwell, incapaz de


tolerar qualquer oposição, encerra também o Parlamento e inicia um governo pessoal
altamente repressivo, sob o título de Lord Protector;

- a restauração da monarquia, a revolução gloriosa

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- Cromwell morre em 1658 e pouco depois é restaurada a monarquia na pessoa de Carlos II,
durante o seu reinado as liberdades dos ingleses são reforçadas através de documentos, como o
Habeas Corpus (1679) que proibia detenções prolongadas sem que a acusação tenha sido
devidamente formalizada;

- a Carlos II sucedeu Jaime II que depressa desagradou os ingleses, sendo ele abertamente
católico e autoritário.

- em 1688, Guilherme de Orange desembarca triunfalmente para a Inglaterra e sucede-se a


segunda revolução, menos violenta que a primeira porém contribuiu bastante para a
consolidação do regime parlamentar;

- em 1689, Maria e Guilherme de Orange, juraram solenemente a Declaração dos Direitos,


documento esse que continua a ser texto fundamental da monarquia inglesa, onde reitera os
princípios da liberdade individual e a não interferência dos monarcas nas decisões
parlamentares. Passado seis anos foram reforçadas a abolição da censura e o direito de livre
reunião;

- deste modo, em Inglaterra, os poderes do Estado eram partilhados entre o rei e o Parlamento,
segundo regras claramente definidas, que protegiam os Ingleses de um poder absoluto e
discricionário.

• Locke e a justificação do parlamentarismo:

- na Inglaterra, no século XVII, a burguesia de negócios e proprietários rurais lutavam pelo


regime parlamentar e, foi a John Locke a quem coube a fundamentação teórica do
parlamentarismo;

- no seu Tratado do Governo Civil (1690), Locke defendeu que “os homens nascem livres e
autónomos”, pelo que só do seu consentimento pode brotar um poder a que obedeçam, poder
esse que resulta de uma espécie de contrato entre os governantes e governados para garantir o
bem comum;

- uma vez que todo o poder depende da vontade dos governados, estes têm o direito de se
insurgirem contra os príncipes que, usando um poder arbitrário, prejudicam gravemente a
comunidade. Desta forma se legitima a Revolução de 1688, em que Jaime II assume o papel de
rei tirano, indigno da sua função;

- harmonizando a teoria e a prática de políticas, a obra de Locke contribuiu para o prestígio do


sistema parlamentar que, passado a instabilidade dos tempos revolucionários, se consolidou.
Numa Europa dominada pelas monarquias absolutas, este sistema, em que o poder real era
claramente limitado pela lei, aparecia aos olhos de muitos, como um modelo de liberdade e
exemplo a seguir;

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