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A reforma protestante

- O luteranismo:
A reforma protestante tem antecedentes que remontam à Idade Média, com episódios de
contestação e de tentativas de renovação da Igreja Católica como:
● John Wyclif, na Inglaterra;
● Jan Hus, na Boémia;
● Jerónimo Savonarola, na Itália.
Foi na Alemanha do início do século XVI que surgiu o primeiro movimento reformista da
Igreja, liderado por Martinho Lutero (1483-1546), um monge agostinho. No território alemão
muito fragmentado politicamente, cresciam as tensões entre os poderes políticos e religiosos,
assim como o clima de aversão a Roma. Foi neste contexto que Martinho Lutero cresceu,
angustiado pelo medo da morte e sem a certeza da salvação.
Lutero frequentou a universidade de Erfurt, obteve o grau de mestre em Filosofia, em 1503, e
no ano seguinte matriculou-se em Direito. Em 1505, ingressou nos Eremitas de Santo
Agostinho, em consequência de uma promessa, e foi ordenado padre em 1507. No ano de
1512, adquiriu o título de doutor em Teologia.
Por meio das suas leituras, descobre a doutrina da justificação pela fé, encontrando a paz de
espírito que procurava na Carta de S. Paulo aos Romanos: O justo viverá pela fé.
Atingir a salvação era uma das angústias dos católicos, e Lutero acreditava que o caminho
para a conseguir era a fé em Deus. E neste sentido, vai-se opor à venda de indulgências.
No ano de 1514, o papa Leão X emite a bula que oferece perdão dos pecados a quem
contribuísse para a construção da basílica de São Pedro. Os abusos cometidos na pregação
das indulgências, na Alemanha, desencadearam a reação de Lutero que, indignado com a sua
prática e as «virtudes» que lhes eram atribuídas, redigiu em latim e afixou as 95 Teses Contra
as Indulgências , no ano de 1517.
Lutero questionava os poderes papais de aplicar as indulgências, pois considerava que a
salvação não dependia das boas obras, era uma graça de Deus que não podia ser comprada. A
posição assumida por Lutero acabou por desencadear uma rutura com a Igreja Católica.
As 95 Teses Contra as Indulgências foram afixadas na catedral de Wittenberg. Tiveram uma
rápida difusão pelo Império alemão, facilitada pela ação da imprensa, que imprime e divulga
as ideias de Lutero. A reação da Igreja Católica é rápida, obrigando Lutero a defender-se.
O papa Leão X exige que Lutero se retrate, sob ameaça de excomunhão, com a bula Exsurge
Domine (1520). Lutero recusa fazê-lo e queima em praça pública a bula papal.
Em 1521, Lutero foi excomungado, pela bula Decet Romanum Pontificem, foi expulso do
Império e declarado herege pelo Édito de Worms de Carlos V. Acaba por ficar sobre a
proteção do príncipe Frederico III da Saxónia.
As décadas seguintes foram de confronto entre os apoiantes e os opositores de Lutero, e de
expansão do luteranismo. Apenas com a assinatura da Paz de Augsburgo (1555) foi
reconhecida a liberdade de cada príncipe alemão escolher a religião do seu estado.
- Princípios do luteranismo:
Lutero propôs novos princípios doutrinários que assentavam:
★ na justificação pela fé – apenas a fé permite a salvação;
★ no servo arbítrio – considera o livre-arbítrio enganoso, o ser humano não tinha
capacidade, de pelas suas obras atingir a salvação;
★ no sacerdócio universal, função clerical aberta a todos os crentes, depois de batizados;
★ na Bíblia como única fonte de fé, que devia estar acessível a todos;
★ na interpretação livre e subjetiva do texto bíblico, sem intermediação do clero;
★ na simplificação dos ritos, apenas se presta culto a Deus e a Cristo;
★ na missa celebrada em língua nacional e na comunhão em duas espécies;
★ no reconhecimento de apenas dois sacramentos, o Batismo e a Eucaristia.
★ na permissão de casamento a bispos e pastores;
★ na atribuição da autoridade religiosa às autoridades temporais.
Vários fatores contribuíram para a propagação do luteranismo. Foi apoiado pela burguesia
urbana, príncipes, pequena nobreza e camponeses e beneficiou, em particular, da imprensa. O
luteranismo expandiu-se para os países da Escandinávia e ducado da Prússia, tornando o
Báltico um «mar luterano».

- O calvinismo:
As ideias de oposição à Igreja Católica romana foram despertando outras consciências e
levando o surgimento de outros ventos reformistas. Um desses casos foi o teólogo francês
João Calvino (1509-1564). Nasce poucos anos antes da afixação das 95 Teses Contra as
Indulgências e vai crescer no mundo dividido entre o catolicismo e as heresias.
Depois de se converter ao luteranismo, Calvino foi forçado a deixar Paris, no ano de 1533,
consequência da perseguição aos heréticos decretada pelo rei Francisco I, encontrando
refúgio em Basileia, na Suíça. Publica o texto elementar do calvinismo, Institutio Religionis
Christianae (1536), instalando-se depois em Genebra. A Igreja Calvinista caracterizou-se pela
imposição da autoridade religiosa, pautada por uma profunda reforma moral e litúrgica, o que
não foi muito bem acolhido pela população, tendo Calvino de abandonar Genebra.
Regressa mais tarde à cidade e assume-se como soberano religioso e político, transformando
Genebra no principal centro calvinista da Europa. O calvinismo propaga-se para os Países
Baixos e França, atingindo também o Norte da Escócia.

- Princípio do calvinismo:
A doutrina calvinista assenta nos princípios:
● da primazia da palavra, sendo a Bíblia a única autoridade;
● da negação da autoridade do papa;
● da defesa do sacerdócio universal;
● da existência de apenas dois sacramentos, o Batismo e a Eucaristia;
● do culto simplificado, com rejeição do culto dos santos e das imagens;
● da predestinação (Deus omnisciente e presciente é que determina quais os homens que
alcançarão a justificação);
● da hierarquia clerical formada por pastores, que podiam casar, e por um conselho que
os coordenava;
● da subordinação das instituições temporais ao poder religioso.
O calvinismo pretendeu enquadrar, além da vida religiosa, a vida familiar e política. Instituiu
ríspidos mecanismos de disciplinamento da vida moral e de controlo da vida pública e
privada da população, pautada pela austeridade, ordem e disciplina.

- O anglicanismo:
A Reforma inglesa vai surgir de um conflito entre o rei Henrique VIII e o papa Clemente VII,
pela recusa deste último em anular o casamento do monarca com a rainha Catarina de
Aragão.
Henrique Tudor (1491-1547) era filho do rei Henrique VII. Estava casado com Catarina de
Aragão, filha dos Reis Católicos, desde 1509. Catarina já tinha sido casada com Artur Tudor,
irmão de Henrique, que tinha morrido em 1502.
A partir de 1527, Henrique VIII faz solicitações ao papa Clemente VII, a fim de conseguir a
anulação do casamento com Catarina de Aragão, usando o argumento de que esta era viúva
do seu irmão, não sendo por isso válido o enlace. O monarca inglês pretendia voltar a casar,
de modo a conseguir o filho varão que assegurasse a sucessão ao trono, uma vez que do
casamento com Catarina apenas tinha sobrevivido uma filha, Maria Tudor.
A anulação foi recusada pelo papa, porém Henrique VIII casou em segredo com Ana Bolena
em 1532, de quem teve uma filha, Isabel.
Em 1534, Henrique VIII convocou o Parlamento que ratificou o Ato de Supremacia de
iniciativa régia e assim cortou os laços entre a Igreja inglesa e Roma. O rei era proclamado
«cabeça suprema da Igreja de Inglaterra» e o clero foi colocado sob a alçada da lei civil e do
poder do Parlamento.
Em 1536, o casamento com Ana Bolena termina quando esta foi acusada e executada por
conspiração e adultério. Henrique VIII acaba por casar mais quatro vezes.
Durante o reinado de Henrique VIII, não se definem os princípios doutrinários do
anglicanismo. No entanto, foi autorizada a Bíblia em inglês e dissolvidos mosteiros e
conventos. No reinado de Eduardo VI (1547-1553), há uma aproximação ao calvinismo. A
rainha Maria Tudor (1553-1558) procurou restabelecer o catolicismo, perseguindo os
protestantes.
O anglicanismo foi consolidado no reinado de Isabel I que procurou uma via de compromisso
entre o catolicismo e o calvinismo. A Declaração dos Trinta e Nove Artigos (1563) definiu a
estrutura institucional das relações entre o Estado e a Igreja reformada e é considerada a carta
doutrinal do anglicanismo.
- Princípios do anglicanismo:
A doutrina anglicana assenta nos seguintes princípios:
→ na justificação pela fé;
→ as Escrituras são a única autoridade em matéria de fé, com interpretação livre dos
crentes;
→ apenas se reconhecem os sacramentos do Batismo e da Eucaristia;
→ na celebração do culto em inglês;
→ na rejeição do culto da Virgem e dos santos;
→ a igreja é liderada pelo monarca inglês;
→ não é reconhecida a supremacia do papa;
→ a hierarquia eclesiástica é composta por pastores, reverendos e bispos a quem é
permitido o casamento.

- A reforma protestante:
A reforma protestante abriu caminho para a construção da mentalidade moderna. A leitura da
Bíblia, a sua interpretação individual, anulando a intervenção do clero, vai permitir o
desenvolvimento do espírito crítico na Europa do Norte, o que terá consequências no
desenvolvimento económico e científico da região.

- Conceitos importantes:
Contrarreforma: resposta da igreja católica à reforma protestante que consistiu na organização
e reforma de vários aspetos da vida eclesiástica e dos fiéis, e que incluiu ações de combate
aos seguidores das heresias protestantes e à sua disseminação.
Concílio: assembleia dos prelados da Igreja reunida para deliberar sobre questões de doutrina
ou de disciplina eclesiástica.
Seminário: casas de educação e ensino de jovens que se destinam à vida eclesiástica.
Catecismo: compêndio ou manual que contém, de forma elementar, a doutrina da Igreja.
Identidade: designa o conjunto de características próprias e exclusivas que diferenciam uma
pessoa ou uma comunidade. Ao reconhecer a sua especificidade o indivíduo estabelece uma
relação pessoal com Deus, distinta dos restantes indivíduos.
Index: organização religiosa criada para controlar a circulação das ideias através da imprensa,
recorrendo quer à censura prévia, quer à elaboração de catálogos dos livros suspeitos de
heresia e cuja leitura era proibida pela Igreja.
Inquisição: tribunal eclesiastico criado com o objetivo inicial de combater as heresias. Os
inquisidores dispunham de vastos poderes para inquirir, julgar e condenar suspeitos.

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