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Farsa de Inês Pereira - Gil Vicente

Excerto 1

Finge-se, na introdução, que Inês Pereira, filha de uma mulher de baixa sorte, muito fantesiosa,
está lavrando em casa, e sua mãe é a ouvir missa. E ela diz:

INÊS Renego deste lavrar Vem a Mãe, e diz:


e do primeiro que o usou;
ao diabo que o eu dou, MÃE Logo eu adivinhei
que tão mau é d'aturar. lá na missa onde eu estava,
Oh Jesu! Que enfadamento, como a minha Inês lavrava
e que raiva, e que tormento, a tarefa que lhe eu dei...
que cegueira, e que canseira! Acaba esse travesseiro!
Eu hei de buscar maneira E nasceu-te algum unheiro
d'algum outro aviamento. ou cuidas que é dia santo?
INÊS Praza a Deus que algum quebranto
Coitada, assi hei de estar me tire do cativeiro.
encerrada nesta casa
como panela sem asa, MÃE Toda tu estás aquela!
que sempre está num lugar? Choram-te os filhos por pão?
E assi hão de ser logrados INÊS Prouvesse a Deus! Que já é razão
dous dias amargurados, de eu não estar tão singela.
que eu possa durar viva? MÃE Olhade ali o mau pesar!
E assim hei de estar cativa Como queres tu casar
em poder de desfiados? com fama de preguiçosa?
INÊS Mas eu, mãe, sam aguçosa
Comendo-me eu logo ao demo e vós dais-vos devagar.
s’eu mais lavro nem pontada;
já tenho a vida cansada MÃE Ora espera assi, vejamos.
de jazer sempre dum cabo. INÊS Quem já visse esse prazer!
Todas folgam, e eu não, MÃE Cal’-te, que poderá ser,
todas vêm e todas vão que ante a Páscoa vêm os Ramos.
onde querem, senão eu. Não te apresses tu, Inês,
Hui! E que pecado é o meu, maior é o ano qu’o mês.
ou que dor de coração? Quando te não precatares,
Esta vida é mais que morta. virão maridos a pares,
Sam eu coruja ou corujo, e filhos de três em três.
ou sam algum caramujo INÊS Quero-m'ora alevantar;
que não sai senão à porta? folgo mais de falar nisso,
E quando me dão algum dia assi me dê Deus o Paraíso,
licença, como a bugia, mil vezes que não lavrar.
que possa estar à janela, Isto não sei que o faz...
é já mais que a Madanela MÃE Aqui vem Lianor Vaz.
quando achou a aleluia. INÊS E ela vem-se benzendo...
LIANOR Jesu a que m’eu encomendo,
quanta cousa que se faz!
Excerto 2 das cousas que me dizia:
chamava-me «luz do dia»;
MÃE Lianor Vaz, que foi isso? «Nunca teu olho verá!»
LIANOR Venho eu, mana, amarela.
MÃE Mais ruiva que uma panela! Se estivera de maneira
LIANOR Não sei como tenho siso. sem ser rouca, bradara eu,
Jesu! Jesu! Que farei? mas logo m'o demo deu
Não sei se me vá a el-rei, cadarrão e peitogueira,
se me vá ao Cardeal. cócegas e cor de rir,
MÃE Como? E tamanho é o mal? e coxa pera fugir;
LIANOR Tamanho? Eu to direi. e fraca pera vencer.
Porém pude-me valer
Vinha agora pereli sem me ninguém acudir.
ao redor da minha vinha,
e um clérigo, mana minha, O demo (e não pode al ser)
pardeus, lançou mão de mi! se chantou no corpo dele.
Não me podia valer, MÃE Mana, conhecia-t’ele?
diz que havia de saber LIANOR Mas queria-me conhecer!
se era eu fêmea, se macho. MÃE Vistes vós tamanho mal?
MÃE Hui! Seria algum muchacho LIANOR Eu me irei ao Cardeal,
que brincava por prazer? e far-lh’ei assi mesura,
e contar-lhe-ei a aventura
LIANOR Si, muchacho sobejava! que achei no meu olival.
Era um zote tamanhouço!
Eu andava no retouço, MÃE Não estás tu arranhada,
tão rouca que não falava. de te carpir, nas queixadas.
Quando o vi pegar comigo, LIANOR Eu tenho as unhas cortadas,
que m'achei naquele perigo, e mais, estou tosquiada:
«Assolverei!» – «Não assolverás!» – e mais, pera que era isso?
«Jesu! Homem, que hás contigo?» E mais, pera que é o siso?
E mais, no meio da requesta
«Irmã, eu t’assolverei veio um homem de uma besta,
co breviário de Braga.» que em vê-lo vi o Paraíso,
«Que breviário, ou que praga!
Que não quero áque d'el-rei!» E soltou-me, porque vinha
Quando viu revolta a voda, bem contra sua vontade.
foi e esfarrapou-me toda Porém, a falar verdade,
o cabeção da camisa. já eu andava cansadinha.
MÃE Assi me fez dessa guisa Não me valia rogar,
outro, no tempo da poda. nem me valia chamar
«Áque de Vasco de Fóis,
Eu cuidei que era jogo acudi-me, como sois!»
e ele... dai-o vós ao fogo! E ele senão pegar:
Tomou-me tamanho riso, «Mais mansa, Lianor Vaz,
riso em todo meu siso, assi Deus te faça santa!»
e ele leixou-me logo. «Trama te dê na garganta!
LIANOR Si, agora, eramá, Como! Isto assi se faz?»
também eu me ria cá «Isto não revela nada.»
«Tu não vês que sam casada?» Pêro Marquez, vosso amigo,
MÃE Deras-lhe, má hora, boa que ora estou na nossa aldeia,
e mordera-lo na coroa. mesmo na vossa mercê
LIANOR Assi, fora excomungada. m'encomendo, e mais digo,
digo que benza-vos Deus,
Não lhe dera um empuxão, que vos fez de tão bom jeito.
porque sam tão maviosa, Bom prazer e bom proveito
que é cousa maravilhosa; veja vossa mãe de vós.
e esta é a concrusão.
Leixemos isto. Eu venho, Ainda que eu vos vi
com grande amor que vos tenho, est'outro dia folgar,
porque diz o exemplo antigo e não quisestes bailar,
que amiga e bom amigo nem cantar diante mi...»
mais aquenta que o bom lenho. INÊS Na voda de seu avô,
ou onde me viu ora ele?
Inês Pereira é concertada Lianor Vaz, este é ele?
pera casar com alguém? LIANOR Lede a carta sem dó,
MÃE Até ‘gora com ninguém que inda eu sam contente dele.
não é ela embaraçada.
LIANOR Eu vos trago um casamento Prossegue Inês Pereira a carta.
em nome do Anjo bento.
Filha, não sei se vos praz. INÊS «Nem cantar presente mi,
INÊS E quando, Lianor Vaz? pois Deus sabe a rebentinha
LIANOR Eu vos trago aviamento. que me fizestes então.
Ora, Inês, que hajais bênção
INÊS Porém, não hei de casar de vosso pai e a minha,
senão com homem avisado, que venha isto a concrusão.»
ainda que pobre pelado, Viste tão parvo vilão?
seja discreto em falar. eu nunca tal cousa vi,
LIANOR Eu vos trago um bom marido, Nem tanto fora de mão.
rico, honrado, conhecido;
diz que em camisa vos quer. LIANOR Quereis casar a prazer
INÊS Primeiro, eu hei de saber no tempo d'agora, Inês?
se é parvo, se sabido. Antes casa, em que te pês,
que não é tempo d'escolher.
LIANOR Nesta carta que aqui vem Sempre eu ouvi dizer:
pera vós, filha, d'amores, «Ou seja sapo ou sapinho,
veredes vós, minhas flores, ou marido ou maridinho,
a discrição que ele tem. tenha o que houver mister.»
INÊS Mostrai-ma cá, quero ver. Este é o certo caminho.
LIANOR Tomai. E sabedes vós ler?
MÃE Hui! E ela sabe latim, MÃE Pardeus, amiga, essa é ela!
e gramática e alfaqui, «Mata o cavalo de sela,
e tudo quanto ela quer. e bom é o asno que me leva».
LIANOR Filha, «No Chão de Couce,
Lê Inês Pereira a carta. quem não puder andar choute.»
«Mais quero eu quem m'adore,
«Senhora amiga, Inês Pereira, que quem faça com que chore».
Chamá-lo-ei, Inês?

INÊS Si,
venha e veja-me a mi,
quero ver, quando me vir,
se perderá o presumir
logo em chegando aqui,
pera me fartar de rir.

MÃE Touca-te, se cá vier


pois que pera casar anda.
INÊS Essa é boa demanda!
Cerimónias há mister
homem que tal carta manda?
Eu o estou cá pintando;
sabeis, mãe, que eu adivinho?
Deve ser um vilãozinho...
Ei-lo, se vem penteando:
será com algum ancinho?
Excerto 3 Ora vós er ide vendo
se lhe vem melhor alguém,
Vem Pêro Marques e diz: a segundo o que eu entendo.

PÊRO Homem que vai aonde eu vou Cuido que lhe trago aqui
não se deve de correr; peras da minha pereira;
ria embora quem quiser, hão de estar na derradeira.
que eu em meu siso estou. Tende ora, Inês per i.
Não sei onde mora aqui: INÊS E isso hei de ter na mão?
olhai que m'esquece a mi! PÊRO Deitai as peas no chão.
Eu creio que nesta rua, INÊS As perlas pera enfiar,
e esta parreira é sua; três chocalhos e um novelo,
já conheço que é aqui. e as peas no capelo...
E as peras onde estão?
Chega a casa de Inês Pereira:
PÊRO Nunca tal me aconteceu!
Digo que esteis muito embora. Algum rapaz m'as comeu;
Folguei ora de vir cá. que as meti no capelo,
Eu vos escrevi de lá e ficou aqui o novelo,
uma cartinha, senhora: e o pentem não se perdeu.
E assi que de maneira... Pois trazia-as de boa mente.
MÃE Tomai aquela cadeira. INÊS Fresco vinha aí o presente
PÊRO E que val aqui uma destas? com folhinhas borrifadas.
INÊS (Oh, Jesu! Que João das bestas! PÊRO Não, que elas vinham chentadas
Olhai aquela canseira!) cá em fundo no mais quente.

Assentou-se com as costas pera elas, e diz: Vossa mãe foi-se? Ora bem,

PÊRO Eu cuido que não estou bem... sós nos leixou ela assi?
MÃE Como vos chamais, amigo? Cant'eu quero-me ir daqui,
PÊRO Eu Pêro Marques me digo, não diga algum demo alguém...
como meu pai que Deus tem. INÊS Vós que me havíeis de fazer?
Faleceu (perdoe-lhe Deus, Nem ninguém que há de dizer?
que fora bem escusado) (O galante despejado!)
e ficamos dous ereos; PÊRO Se eu fora já casado,
porém, meu é o mor gado. d'outra arte havia de ser,
MÃE De morgado é vosso estado? como homem de bom pecado.
Isso viria dos céus!
INÊS (Quão desviado este está!
PÊRO Mais gado tenho eu já quanto, Todos andam por caçar
e o maior de todo o gado, suas damas sem casar,
digo maior algum tanto. e este, tomade-o lá!).
E desejo ser casado, PÊRO Vossa mãe é lá no muro?
prouguesse ao Espírito Santo, INÊS Minha mãe, eu vos seguro,
com Inês; que eu m’espanto que ela venha cá dormir.
quem me fez seu namorado. PÊRO Pois, senhora, eu quero-me ir
Parece moça de bem, antes que venha o escuro.
e eu de bem er também. INÊS E não cureis mais de vir.
PÊRO Virá cá Lianor Vaz, Que sempre disse e direi:
veremos que lhe dizeis. mãe, eu me não casarei
INÊS Homem, não aporfieis, senão com homem discreto,
que não quero, nem me praz. e assi vo-lo prometo
Ide casar a Cascais. ou antes o leixarei.
PÊRO Não vos anojarei mais,
ainda que saiba estalar; Que seja homem mal feito,
e prometo não casar feio, pobre, sem feição,
até que vós não queirais. como tiver discrição,
não lhe quero mais proveito.
Estas vos são elas a vós: E saiba tanger viola,
anda homem a gastar calçado, e coma eu pão e cebola.
e quando cuida que é aviado, Siquer uma cantiguinha!
escarnefucham de vós. Discreto, feito em farinha,
Creio que lá fica a pea... porque isto me degola.
Pardeus! Boom ia eu à aldeia!
Senhora, cá fica o fato. MÃE Sempre tu hás de bailar
INÊS Olhai se o levou o gato. e sempre ele há de tanger?
PÊRO Inda não tendes candeia? Se não tiveres que comer,
o tanger te há de fartar?
Ponho per cajo que alguém INÊS Cada louco com sua teima.
vem como eu vim agora, Com uma borda de boleima
e vós às escuras a tal hora: e uma vez d'água fria,
parece-vos que será bem? não quero mais cada dia.
Ficai-vos ora com Deus: MÃE Como às vezes isso queima!
cerrai a porta sobre vós
com vossa candeiazinha; E que é desses escudeiros?
e siquaes sereis vós minha, INÊS Eu falei ontem ali,
entonces veremos nós. que passaram por aqui
os judeos casamenteiros
Vai-se Pêro Marques e diz Inês Pereira: e hão de vir agora aqui.

INÊS Pessoa conheço eu Vêm os Judeus casamenteiros, Latão e


que levara outro caminho... Vidal, e diz Latão:
Casai lá com um vilãozinho,
mais covarde que um judeu! LATÃO Ou de cá!
Se fora outro homem agora, INÊS Quem está lá?
e me topara a tal hora, VIDAL Nome de Deus, aqui somos!
estando comigo às escuras, LATÃO Não sabeis quão longe fomos!
dissera-me mil doçuras, VIDAL Corremos a ira má.
ainda que mais não fora. Este e eu.
LATÃO Eu, e este.
Vem a Mãe e diz: VIDAL Pela lama e pelo pó,
que era pera haver dó,
MÃE Pêro Marques foi-se já? com chuva, sol e noroeste.
INÊS E pera que era ele aqui? Foi a coisa de maneira,
MÃE E não t'agrada ele a ti? tal friúra e tal canseira,
INÊS Vá-se muitieramá! que trago as tripas maçadas:
assi me fadem boas fadas leixai-o a outrem mexer».
que me saltou caganeira. MÃE Mau conselho t'aconselha.
INÊS Judeus, que novas trazeis?
Pera vossa mercê ver VIDAL O marido que quereis,
o que nos encomendou. de viola e dessa sorte,
LATÃO O que nos encomendou não no há senão na corte
será o que houver de ser. que cá não no achareis.
Todo este mundo é fadiga.
Vós dixestes, filha amiga, Falámos a Badajoz,
que vos buscássemos logo... músico, discreto, solteiro;
VIDAL E logo pujemos fogo. este fora o verdadeiro,
LATÃO Cal’-te! mas soltou-se-nos da noz.
VIDAL Não queres que diga? Fomos a Vilhacastim,
e falou-nos em latim:
Não fui eu também contigo? «Vinde cá daqui a uma hora,
Tu e eu não somos eu? e trazei-me essa senhora».
Tu judeu e eu judeu, INÊS Assi que é tudo nada enfim!
não somos massa d’um trigo?
LATÃO Leixa-me falar. VIDAL Esperai, aguardai ora!
VIDAL Já calo. Soubemos d’um escudeiro
Senhora, fomos... Agora falo, de feição d'atafoneiro,
ou falas tu? que virá logo essora,
LATÃO Dize, que dizias? que fala, e como ora fala,
Que foste, que fomos, que ias qu’estrugirá esta sala!
buscá-lo, esgravatá-lo. E tange, e como ora tange,
e alcança quanto abrange,
VIDAL Vós quereis, Amor, marido e se preza bem da gala.
mui discreto, e de viola?
LATÃO Esta moça não é tola,
que quer casar per sentido.
VIDAL Judeu, queres-me leixar?
LATÃO Leixo, não quero falar.
VIDAL Buscámo-lo...
LATÃO Demo foi logo!
Crede que o vosso rogo
vencerá o Tejo e o mar.

Eu cuido que falo e calo:


falo eu agora ou não?
Ou falo se vem à mão?
Não digas que não te falo.
INÊS Não falará um de vós?
Já queria saber isso.
MÃE Que siso, Inês, que siso
tens debaixo desses véus!

INÊS Diz o exemplo da velha:


«O que não haveis de comer
Excerto 4 Isto te aviso daqui,
faze-o por amor de mi.
Vem o Escudeiro e diz: MOÇO Porém, senhor, digo eu
que mau calçado é o meu
ESCUDEIRO Se esta senhora é tal pera estas vistas assi.
como os Judeus ma gabaram,
certo os anjos a pintaram, ESCUDEIRO Que farei, que o sapateiro
e não pode ser i al. não tem solas nem tem pele?
Diz que os olhos com que via MOÇO Sapatos me daria ele,
foram de Santa Luzia, se me vós désseis dinheiro...
e cabelos de Madanela. ESCUDEIRO Eu o haverei agora
Se fosse moça tão bela, e mais calças, te prometo.
como donzela seria? MOÇO (Homem que não tem nem preto,
casa muito na má hora.)
Moça de vila será ela
com sinalzinho postiço, Chega o Escudeiro onde está Inês Pereira e
e sarnosa no toutiço, diz:
como burra de Castela.
Eu, assi como chegar, ESCUDEIRO Antes que mais diga agora,
cumpre-me bem d’atentar Deus vos salve, fresca rosa,
se é garrida, se honesta, e vos dê por minha esposa,
porque o melhor da festa por mulher e por senhora.
é achar siso e calar. Que bem vejo
nesse ar, nesse despejo,
MÃE Se este escudeiro há de vir, mui graciosa donzela,
e é homem de discrição, que vós sois, minha alma, aquela
hás-te de pôr em feição que eu busco e que desejo.
de falar pouco e não rir.
E mais, Inês, não muito olhar, Obrou bem a Natureza
e muito chão o menear, em vos dar tal condição,
por que te julguem por muda; que amais a discrição
porque a moça sisuda muito mais que a riqueza.
é uma perla pera amar. Bem parece
que a discrição merece
ESCUDEIRO Olha cá, Fernando, eu vou gozar vossa fermosura,
ver a com qu’hei de casar: que é tal que, de ventura,
avisa-te, que hás de estar outra tal não s’acontece.
sem barrete onde eu estou.
MOÇO (Como a rei! Corpo de mi! Senhora, eu me contento
Mui bem vai isso assi.) receber-vos como estais;
ESCUDEIRO E se cuspir, pela ventura, se vós vos não contentais,
põe-lhe o pé e faz mesura. o vosso contentamento
MOÇO (Ainda eu isso não vi.) pode falecer no mais.
LATÃO (Como fala!
ESCUDEIRO E se me vires mentir, VIDAL E ela como se cala!
gabando-me de privado, Este há de ser seu marido,
está tudo dissimulado, segundo a coisa s'abala.)
ou sai-te pera fora a rir.
ESCUDEIRO Não dormes tu que te farte?
ESCUDEIRO Eu não tenho mais de meu, MOÇO No chão, e o telhado por manta,
somente ser comprador e cerra-se m'a garganta
do Marichal, meu senhor, com fome.
e sam escudeiro seu. ESCUDEIRO Isso tem arte...
Sei bem ler,
e muito bem escrever, MOÇO Vós sempre zombais assi.
e bom jogador de bola, ESCUDEIRO Oh! Que boas vozes tem
e quanto a tanger viola, esta viola aqui!
logo me vereis tanger. Leixa-me casar a mi,
depois, eu te farei bem.
Moço, que estais lá olhando? MÃE Agora vos digo eu
MOÇO Que manda Vossa Mercê? que Inês está no Paraíso!
ESCUDEIRO Que venhas cá. INÊS Que tendes de ver co isso?
MOÇO Pera quê? Todo o mal há de ser meu.
ESCUDEIRO Por que faças o que eu mando!
MOÇO Logo vou. MÃE Oh! como é seca a velhice!
(O Diabo me tomou: INÊS Leixai-me ouvir e folgar,
sair-me de João Montês que não m’hei-de contentar
por servir um tavanês, de casar com parvoíce.
mor doudo que Deus criou!) Pode ser maior riqueza
que um homem avisado?
ESCUDEIRO Fui despedir um rapaz, MÃE Muitas vezes, mal pecado,
por tomar este ladrão, é melhor boa simpreza.
que valia Perpinhão.
Moço! LATÃO Ora ouvi e oivireis.
Dizei alguma cantadela.
MOÇO Que vos praz? Namorai esta donzela
ESCUDEIRO A viola. e esta cantiga direis:
MOÇO (Oh! como ficará tola, «Canas do amor, canas,
se não fosse casar ante canas do amor.
co mais sáfio bargante Polo longo de um rio
que coma pão e cebola!) canaval está florido,
canas do amor.»
Ei-la aqui bem temperada,
não tendes que temperar. Canta o Escudeiro o romance «Mal me
ESCUDEIRO Faria bem de t’a quebrar quieren en Castilla» e diz Vidal:
na cabeça, bem migada.
MOÇO E se ela é emprestada, VIDAL Latão, já o sono é comigo,
quem na havia de pagar? como oiço cantar guaiado,
Meu amo, eu quero-me ir. que não vai esfandegado...
ESCUDEIRO E quando queres partir?
MOÇO Logo quero começar. LATÃO Esse é o demo qu’eu digo.
Viste cantar Dona Sol:
Determino de partir «Pelo mar vai a vela,
ante que venha o inverno, vela vai pelo mar?»
porque vós não dais governo
pera vos ninguém servir. VIDAL Filha Inês, assi vivais
que tomeis esse senhor
escudeiro cantador Nome de Deus, assi seja!
e caçador de pardais, Eu, Brás da Mata, Escudeiro,
sabedor, revolvedor, recebo a vós, Inês Pereira,
falador, gracejador, por esposa verdadeira
afoitado pela mão, como manda a Santa Igreja.
e sabe de gavião... INÊS Eu, aqui diante Deus,
Tomai-o por meu amor. Inês Pereira, recebo a vós,
sem mais preço nem demanda,
Podeis topar um rabugento, como a Santa Igreja manda,
desmazelado, baboso, a Brás da Mata.
descancarado, brigoso,
medroso, carapatento. LATÃO Aí somos nós!
Este Escudeiro, aosadas, «Alça manim dona, ó dona, ha,
onde se derem pancadas, arrea espeçulá,
ele as há de levar bento o Deu de Jacob,
boas; senão, apanhar... bento o Deu que a Faraó
Nele tendes boas fadas. espantou e espantará.
Bento o Deu de Abraão,
MÃE Quero rir com toda a mágoa benta a terra de Canão.»
destes teus casamenteiros! Pera bem sejais casados!
Nunca vi judeus ferreiros Dai-nos cá senhos ducados.
aturar tão bem a frágoa. MÃE Amanhã vo-los darão.
Não te é melhor, mal por mal,
Inês, um bom oficial, Pois assi é, bem será
que te ganhe nessa praça, que não passe isto assi.
que é um escravo de graça, Eu quero chegar ali
e mais casas com teu igual? chamar meus amigos cá,
e bailarão de terreiro.
LATÃO Senhora, perdei cuidado: ESCUDEIRO Oh! Quem me fora solteiro!
o que há de ser, há de ser; INÊS Já vós vos arrependeis?
e ninguém pode tolher ESCUDEIRO Ó esposa, não faleis,
o que está determinado. que casar é cativeiro.
VIDAL Assi diz Rabi Zarão.
MÃE Inês, guar'-te de rascão! Vem a Mãe com certas moças e mancebos
Escudeiro queres tu? pera fazerem festa e diz uma delas, per nome
INÊS Jesu, nome de Jesu! Luzia:
Quão fora sois de feição!
LUZIA Inês, por teu bem te seja!
Já minha mãe adivinha... Oh! Que esposo e que alegria!
Folgastes vós na verdade INÊS Venhas embora, Luzia,
casar à vossa vontade? e cedo, t'eu assi veja.
Eu quero casar à minha. MÃE Ora vai tu ali, Inês,
MÃE Casa, filha, muit'embora. e bailareis três por três.
ESCUDEIRO Dai-me cá essa mão, senhora. FERNANDO Tu connosco, Luzia, aqui,
INÊS Senhor, de mui boa mente. e a desposada ali,
ESCUDEIRO Per palavras de presente ora vede qual direis.
vos recebo desd'agora. Cantam todos de terreiro:
«Mal ferida i va la garza
enamorada,
sola va y gritos daba.
A las orillas de um rio
la garça tenia el nido;
ballestero la ha herido
en el alma;
sola va y gritos dava.»

E acabando de cantar e bailar diz


Fernando:

FERNANDO Ora, senhores honrados,


ficai com vossa mercê,
e nosso Senhor vos dê
com que vivais descansados.
LUZIA Ficai com Deus, desposados,
com prazer e com saúde,
e sempre ele vos ajude
com que vivais descansados.
Esta festa fio agora,
mas melhor será outrora.

MÃE Ficai com Deus, filha minha,


não virei cá tão asinha:
a minha bênção hajais.
Esta casa em que ficais
vos dou, e vou-me à casinha.
Senhor filho e senhor meu,
pois que já Inês é vossa,
vossa mulher e esposa,
encomendo-vo-la eu.
E, pois que dês que naceu
a outrem não conheceu,
senão a vós, por senhor
que lhe tenhais muito amor,
que amado sejais no céu.
se eu disser “isto é novelo”
Excerto 5 havei-lo de confirmar.
E mais, quando eu vier
Vai-se e fica o Escudeiro com sua mulher, o de fora, haveis de tremer,
qual diz: e cousa que vós digais
não vos há de valer mais
ESCUDEIRO E vós cantais, Inês Pereira? daquilo que eu quiser.
Em vodas m'andáveis vós?
Juro ao corpo de Deus Moço, às Partes d'Além
que esta seja a derradeira! vou fazer-me cavaleiro.
se vos eu vejo cantar, MOÇO(Se vós tivésseis dinheiro,
eu vos farei assoviar… não seria senão bem...)
INÊS Bofé, senhor meu marido, ESCUDEIRO Tu hás de ficar aqui.
se vós disso sois servido, Olha, por amor de mi,
bem o posso eu escusar. o que faz tua senhora,
fechá-la-ás sempre de fora.
ESCUDEIRO Mas é bem que o escuseis, Vós lavrai, ficai per i.
e outras cousas que não digo.
INÊS Porque bradais vós comigo? MOÇOCo dinheiro que leixais
ESCUDEIRO Será bem que vos caleis, não comerei eu galinhas...
e mais, sereis avisada ESCUDEIRO Vai-te tu per essas vinhas.
que não me respondais nada, Que diabo queres mais?
em que ponha fogo a tudo, MOÇOOlhai, olhai, como rima!
porque o homem sesudo E depois de ida a vindima?
traz a mulher sopeada. ESCUDEIRO Apanha desse rabisco.
MOÇOPesar ora de São Pisco!
Vós não haveis de falar E convidarei minha prima...
com homem nem mulher que seja.
Somente ir à igreja E o rabisco acabado,
não vos quero eu leixar. ir-m’-ei espojar às eiras?
Já vos preguei as janelas, ESCUDEIRO Vai-te per essas figueiras,
por que não vos ponhais nelas. e farta-te, desmazelado!
Estareis aqui encerrada MOÇOAssi?
nesta casa tão fechada, ESCUDEIRO Pois que cuidavas?
como freira d'Odivelas. E depois virão as favas.
Conheces túberas da terra?
INÊS Que pecado foi o meu? MOÇOI-vos vós embora à guerra,
Porque me dais tal prisão? que eu vos guardarei oitavas.
ESCUDEIRO Vós buscastes discrição,
que culpa vos tenho eu? Ido o Escudeiro, diz o Moço:
Pode ser maior aviso,
maior discrição e siso MOÇOSenhora, o que ele mandou
que guardar o meu tesouro? não posso menos fazer.
Não sois vós, mulher, meu ouro? INÊS Pois que te dá de comer,
Que mal faço em guardar isso? faze o que t'encomendou.
MOÇOVós fartai-vos de lavrar,
Vós não haveis de mandar eu me vou desenfadar
em casa somente um pelo; com essas moças lá fora.
Vós perdoai-me, senhora, à senhora minha irmã,
porque vos hei de fechar. em Tomar lhe seja dada.»
De meu irmão... Venha embora!
Fica fechada Inês Pereira e lavrando canta: MOÇOVosso irmão está em Arzila?
Eu apostarei que i vem
INÊS «Quem bem tem e mal escolhe, nova de meu senhor também.
por mal que lhe venha não s'anoje.» INÊS Já ele partiu de Tavila?
Renego da discrição, MOÇOHá três meses que é passado.
comendo ao demo o aviso, INÊS Aqui virá logo recado,
que sempre cuidei que nisso se lhe vai bem, ou que faz.
estava a boa condição. MOÇOBem pequena é a carta assaz.
Cuidei que fossem cavaleiros, INÊS Carta de homem avisado.
fidalgos e escudeiros,
não cheios de desvarios, Lê a carta.
e em suas casas macios,
e na guerra lastimeiros. «Muito honrada irmã,
esforçai o coração
Vede que cavalarias, e tomai por devação
vede já que mouros mata de querer o que Deus quer.»
quem sua mulher maltrata, E isto que quer dizer?
sem lhe dar de paz um dia!
Sempre eu ouvi dizer Prossegue:
que o homem que isto fizer «E não vos maravilheis
nunca mata drago em vale, de cousa que o mundo faça,
nem mouro que chamem Ale; que sempre nos embaraça
e assi deve de ser. com cousas. Sabei que indo
vosso marido fugindo
Juro em todo meu sentido da batalha pera a vila,
que se solteira me vejo, a meia légua de Arzila,
assi como eu desejo, o matou um mouro pastor.»
que eu saiba escolher marido, MOÇOOh, meu amo e meu senhor!
à boa fé, sem mau engano,
pacífico todo o ano, INÊS Dai-me vós cá essa chave,
e que ande a meu mandar. e i buscar vossa vida.
Havia m'eu de vingar MOÇOOh, que triste despedida!
deste mal e deste dano. INÊS Oh, que nova tão suave!
Desatado é o nó!
Entra o Moço com uma carta e diz: S’eu por ele ponho dó,
o Diabo m’arrebente!
MOÇOEsta carta vem d’Além, Pera mim era valente,
creio que é de meu senhor. e matou-o um mouro só.
INÊS Mostrai cá, meu guarda-mor,
e veremos o que i vem. Guardar de cavaleirão,
barbudo, repetenado,
Sobrescrito: que em figura d’avisado
é malino e sotrancão.
«À senhora mui prezada Agora quero tomar,
Inês Pereira da Grã, pera boa vida gozar,
um muito manso marido.
Não no quero já sabido,
pois tão caro há de custar.

Vem Lianor Vaz visitá-la e ela finge-se muito


anojada.

LIANOR Como estais, Inês Pereira?


INÊS Muito triste, Lianor Vaz.
LIANOR Que fareis ao que Deus faz?
INÊS Casei por minha canseira.
LIANOR Se ficaste prenhe, basta.
INÊS Bem quisera eu dele casta,
mas não quis minha ventura.
LIANOR Filha, não tomeis tristura,
que a morte a todos gasta.

O que havedes de fazer?


Casade-vos, filha minha.
Inês Jesu! Jesu! Tão asinha!
Isso me haveis de dizer?
Quem perdeu um tal marido,
tão discreto e tão sabido,
e tão amigo de minha vida?
LIANOR Dai isso por esquecido,
buscai outra guarida.

Pêro Marques tem que herdou


fazenda de mil cruzados,
mas vós quereis avisados...
INÊS Não! Já esse tempo passou.
Sobre quantos mestres são
experiência dá lição.
LIANOR Pois tendes esse saber,
querei ora a quem vos quer,
dai ao demo a opinião.

Vai-se Lianor Vaz por Pêro Marques.

INÊS Andar! Pêro Marques seja.


Quero tomar por esposo
quem se tenha por ditoso
de cada vez que me veja.
Por usar de siso mero,
asno que me leve quero,
e não cavalo folão.
Antes lebre que leão,
antes lavrador que Nero.
ermitaño de Cupido
Excerto 6 para siempre en soledad,
pues su siervo soy nacido.
Vem Lionor Vaz com Pêro Marques. Por ejemplo,
me meti en su santo templo
LIANOR No mais cerimónias agora; ermitaño en pobre ermita,
abraçai Inês Pereira abastada de infinita
por mulher e por parceira. tristeza en que contemplo.
PÊRO Há homem empacho má hora
quanto a dizer abraçar; Adonde rezo mis horas
depois que a eu usar y mis dias y mis años,
entonces poderá ser. mis servicios y mis daños,
INÊS (Não lhe quero mais saber; donde tú, mi alma, lloras,
já me quero contentar...) dolor de tantos engaños.
Y acabando
LIANOR Ora dai-me essa mão cá. las horas, todas llorando,
Sabeis as palavras, si? tomo las cuentas una y una,
PÊRO Ensinaram-mas a mi, con que tomo a la fortuna
porém esquecem-me já... cuenta del mal en que ando,
LIANOR Ora dizei como digo. sin esperar paga alguna.
PÊRO E tendes vós aqui trigo
pera nos jeitar por riba? Y ansi sin esperança
LIANOR Inda é cedo, como rima! de cobrar lo merecido,
PÊRO Soma: vós casais comigo. sirvo alli mi Dios Cupido
con tanto amor sin mudanza,
E eu convosco, pardelhas! que soy su santo escogido.
Não cumpre aqui mais falar. Ó señores,
E quando vos eu negar, los que bien os va d'amores,
que me cortem as orelhas. dad limosna al sin holgura,
LIANOR Vou-me; ficai-vos embora. que habita en sierra oscura,
INÊS Marido, e sairei eu agora, uno de los amadores
que há muito que não saí? que tuvo menos ventura.
PÊRO Si, mulher, saí-vos i,
qu'eu me sairei pera fora. Y rogaré al Dios de mi,
en que mis sentidos traigo,
INÊS Marido, não digo isso. que recibais mejor pago
PÊRO Pois que dizeis vós, mulher? de lo que yo recebi
INÊS Ir folgar onde eu quiser. en esta vida que hago.
PÊRO I onde quiserdes ir, Y rezaré
vinde quando quiserdes vir, con grau devocion y fe,
estai onde quiserdes estar. que Dios os libre de engaño,
Com que podeis vós folgar que esso me hizo ermitaño,
qu'eu não deva consentir? y para siempre seré,
pues pera siempre es mi daño.
Vem um Ermitão a pedir esmola e diz:
INÊS Olhai cá, marido amigo,
ERMITÃO Señores, por caridad
dad limosna al dolorido
eu tenho por devação PÊRO Corregei vós esses véus
dar esmola a um ermitão, e ponde-vos em feição.
e não vades vós comigo. INÊS Sabeis vós o que eu queria?
PÊRO I-vos embora, mulher PÊRO Que quereis, minha mulher?
não tenho lá que fazer. INÊS Que houvésseis por prazer
INÊS Tomai a esmola, padre, lá, de irmos lá em romaria.
pois que Deus vos trouxe aqui.
ERMITÃO Sea por amor de mi PÊRO Seja logo, sem deter!
vuesa buena caridad. INÊS Ora este caminho é comprido,
contai uma história, marido.
Deo gracias, mi señora! PÊRO Bofá que me praz, mulher
La limosna mata el pecado, INÊS Passemos primeiro o rio.
y vos teneis buen cuidado Descalçai-vos.
de ser de mi matadora. PÊRO Assi há de ser?
Debéis saber, E pois como?
para merced me hacer, INÊS E levar me-eis no ombro,
que por vos soy ermitaño. não me corte a madre o frio.
Y aun más os desengaño
que esperança de os ver Põe-se às costas do marido.
me hizo vestir tal paño.
INÊS Assi.
INÊS Jesus, Jesus, manas minhas! PÊRO Ides à vossa vontade?
Sois vós aquele que um dia, INÊS Como estar no Paraíso.
em casa de minha tia, PÊRO Muito folgo eu com isso.
me mandastes camarinhas; INÊS Esperade ora, esperade!
e quando aprendia a lavrar Olhai que lousas aquelas,
mandáveis-me tanta cousinha? pera poer as talhas nelas!
Eu era ainda Inesinha, PÊRO Quereis que as leve?
não vos queria falar. INÊS Si: uma aqui e outra aqui.
Oh, como folgo com elas!
ERMITÃO Señora, tengo os servido Cantemos?
y vos a mi despreciado; PÊRO Se vós quereis.
haced que el tiempo pasado INÊS E vós me respondereis
no se cuente por perdido. a tudo quanto eu cantar:
INÊS Padre, mui bem vos entendo... «Pois assi se fazem as cousas».
Ao demo que vos eu encomendo,
que bem sabeis vós pedir! Canta Inês Pereira:
Eu determino lá d'ir
à ermida, Deus querendo. INÊS «Marido cuco me levades
ERMITÃO Y quando? e mais duas lousas.»
INÊS I-vos, meu santo, PÊRO «Pois assi se fazem as cousas.»
que eu irei um dia destes
muito cedo, muito prestes. INÊS «Bem sabedes vós, marido,
ERMITÃO Señora, yo me voy en tanto. quanto vos quero.
Sempre fostes percebido
INÊS Em tudo é boa a concrusão. pera cervo.
Marido, aquele ermitão Agora vos tomou o demo
é um anjinho de Deus. com duas lousas.»
PÊRO «Pois assi se fazem as cousas»

INÊS «Bem sabedes vós, marido,


quanto vos amo.
Sempre fostes percebido
pera gamo.
Carregado ides, noss’amo,
com duas lousas.»
PÊRO «Pois assi se fazem as cousas.»

E assi se vão, e se acaba a dita Farsa.


Laus Deo.

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