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Percursos da História 10º ano

II. Dinamismo civilizacional da Europa Ocidental nos


séculos XIII a XIV – espaços, poderes e vivências

1. O espaço português
(primeira parte)
Cronologia – Antiguidade tardia e Alta Idade Média (séculos IV a X)

Percursos da História 10º ano | 1. O espaço português - primeira parte


Cronologia – Baixa Idade Média (séculos XI a XIV)

Percursos da História 10º ano | 1. O espaço português - primeira parte


O cristianismo como matriz identitária europeia

Foi na província romana da Judeia, na


primeira metade do século I d.C., que
surgiu o cristianismo.
Jesus Cristo apresentava-se como o
Messias e pregava uma mensagem
em defesa dos pobres e desprotegidos.
A mensagem de Cristo desagradou à
maioria judaica, o que levou ao seu
julgamento pelo Sinédrio e à
crucificação por decisão de Pôncio
Pilatos.
1 A província da Judeia no tempo de Jesus Cristo .

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O cristianismo como matriz identitária europeia
Após a morte de Cristo, os seus seguidores continuaram
a divulgar o cristianismo e a definir a sua doutrina.
Os cristãos foram alvo de perseguições, uma vez que
recusavam o culto imperial e o politeísmo. Porém a
mensagem cristã acabou por se afirmar entre os
habitantes do Império Romano.

1 Jesus Cristo. 2 Catacumbas em Roma.

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O cristianismo como matriz identitária europeia

Depois de séculos de perseguições, o


imperador Constantino concedeu
liberdade de culto aos cristãos, em 313,
através do Édito de Milão.

Nós, Constantino e Licínio, Imperadores,


encontrando-nos em Milão […] para que
possamos dar tanto aos cristãos como a todos
o livre poder de seguirem a religião que cada
um quiser.
1 Imperador Constantino. 2 Édito de Milão.

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O cristianismo como matriz identitária europeia

No ano de 380, o imperador Teodósio, no Édito de Tessalónica, define o


cristianismo como a religião oficial do Império Romano e a única autorizada.

“Queremos que todos os povos governados pela administração da nossa clemência


professem a religião que o divino apóstolo Pedro deu aos romanos [...]. Ordenamos
que tenham o nome de cristãos católicos os que seguirem esta lei, enquanto os
demais os julgamos dementes e loucos sobre os quais pesará a infâmia da
heresia[...]. Serão objeto, primeiro da vingança divina e depois castigados também
pela nossa iniciativa, que adotaremos como vontade celeste.”
2 Édito de Tessalónica.

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O cristianismo como matriz identitária europeia

Através da realização de concílios, a Igreja foi


uniformizando a sua doutrina e fixando os
seus dogmas. Entre os concílios destacam-se
os de: 
• Niceia (325);
• Constantinopla I (381);
• Calcedónia (451).

A Igreja Católica Apostólica Romana tornou-se


assim, após a queda do Império Romano, a
principal transmissora do legado político e
cultural clássico na Europa Ocidental.
1 Concílio de Niceia (325).

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A fragmentada realidade medieval circunscrita ao local e ao regional

Em 395, o Império Romano é


dividido em Império do
Ocidente e do Oriente. 
Desde do século III que se
verificam as migrações dos
povos germânicos para o
interior das fronteiras
romanas, porém a situação
agrava-se com a pressão dos
hunos no final do século IV.

1 As invasões germânicas do século V.

Percursos da História 10º ano | 1. O modelo ateniense (síntese)


A fragmentada realidade medieval circunscrita ao local e ao regional
Os territórios
imperiais foram alvo
de extensas
pilhagens e os
diferentes povos
germânicos foram-se
estabelecendo no
ocidente da Europa,
dando origem a
1 As invasões germânicas e os novos reinos bárbaros do século V.
novos reinos.
Em 476, Odoacro, general germano, depõe o imperador Rómulo Augusto,
chegando ao fim o Império Romano do Ocidente.

Percursos da História 10º ano | 1. O modelo ateniense (síntese)


A fragmentada realidade medieval circunscrita ao local e ao regional

A Europa ocidental
encontrava-se agora
transformada num conjunto
de reinos independentes. 
A Igreja Católica
empenhou-se na
cristianização dos povos
germânicos de modo
a construir uma civilização
em que coexistiam o legado
da cultura greco-romano e a 1 Os reinos bárbaros.
religião cristã.

Percursos da História 10º ano | 1. O modelo ateniense (síntese)


O senhorio – a realidade organizadora da vida económica e social do mundo rural

Entre os séculos VIII e X, a


Europa sofreu novas invasões,
desta feita de muçulmanos (séc.
VIII), víquingues (sécs. VIII-IX),
húngaros (sécs. IX-X),
provocando um novo período
de instabilidade no ocidente
europeu.

1 Invasões da Europa dos séculos VIII a X.

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O senhorio – a realidade organizadora da vida económica e social do mundo rural

Em consequência desta nova vaga de invasões e da


instabilidade política e económica, a Europa vai
sofrer um processo de ruralização:
• assiste-se ao êxodo urbano, uma vez que os
centros urbanos eram locais preferenciais de
ataque;
• as populações procuram a proteção da nobreza
e do clero;
• com a decadência do comércio, a agricultura
era a atividade económica primordial.
1 Práticas agrícolas.

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O senhorio – a realidade organizadora da vida económica e social do mundo rural

Ainda durante o século XI, agrava-se o conflito


entre as igrejas de Roma e de Bizâncio. Ambas se
assumem como transmissoras da mensagem de
Cristo, porém divergem em questões teológicas e
rituais.
No ano de 1043, o patriarca Miguel Cerulário
ordena o confisco das igrejas latinas, o que vai
determinar a sua excomunhão pelo papa Leão IX.
Em resposta, o patriarca de Constantinopla
excomunga o papa e confirma-se o grande cisma
do Oriente (1054).
1 O papa Leão IX e o patriarca Miguel Cerulário. 
Com o corte definitivo de relações vai surgir a
Igreja Ortodoxa Grega.
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O senhorio – a realidade organizadora da vida económica e social do mundo rural

Na Alta Idade Média, encontramos uma


sociedade organizada em três ordens, que
se distinguiam pelas funções
desempenhadas: 
 Grupo não
 Grupos privilegiados
privilegiado

 clero (oratores)  Povo (laboratores)

 nobreza (bellatores)
1 A sociedade medieval. 

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O senhorio – a realidade organizadora da vida económica e social do mundo rural

As relações de dependência
estabeleciam-se entre os senhores da
terra, nobres e eclesiásticos, e os
camponeses que procuravam garantir
a proteção através do pagamento de
diversos impostos que resultavam do
trabalho agrícola na propriedade do
senhor.
Para além do poder económico, os
senhores exerciam nos senhorios
autoridade fiscal, jurídica e militar.

1 O domínio senhorial.
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O senhorio – a realidade organizadora da vida económica e social do mundo rural

O senhorio dividia-se em
duas partes, a reserva, explorada
diretamente pelo senhor, e os
mansos, parcelas de terreno
arrendadas aos camponeses.
Nos mansos, o senhor cobrava os
seus direitos senhoriais, rendas
em géneros e em dinheiro.
Para além das rendas, o camponês
estava ainda obrigado ao
cumprimento das corveias. 
1 O domínio senhorial.

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O senhorio – a realidade organizadora da vida económica e social do mundo rural

As corveias eram os trabalhos


devidos ao senhor e podiam
incluir:
• o cultivo da terra;
• tarefas de manutenção da
propriedade;
• auxílio nas missões militares
do senhor.
1 Trabalho agrícola (século XIV).

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O senhorio – a realidade organizadora da vida económica e social do mundo rural

Para além destas obrigações, o


camponês tinha ainda de pagar as
banalidades, imposto sobre o uso de
equipamentos como o moinho, lagar
ou forno.
O senhor detinha assim o direito de
ban ou bannum que incluía poder
fiscal, poder judicial e poder militar.

1 Setembro – Colheita das uvas.

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O senhorio – a realidade organizadora da vida económica e social do mundo rural

A hierarquização dos senhorios está


relaciona com os títulos de nobreza,
dos principados aos condados.
Os membros da nobreza
estabeleciam laços pessoais por meio
do contrato feudo-vassálico,
oficializado numa cerimónia dividida
em três momentos:
• a homenagem;
• o juramento de fidelidade;
• a investidura. 1 A cerimónia de vassalidade.

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O senhorio – a realidade organizadora da vida económica e social do mundo rural

A Igreja, proprietária de extenso


património fundiário, detinha
os direitos senhoriais sobre os seus
domínios, como imposto sobre a
terra e as obrigações banais.
Entre as ordens religiosas
destacam-se a Ordem de
Cluny (séc. X) e a Ordem de Cister
(séc. XI). 

1 São Bernardo de Claraval e os seus monges cistercienses.

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O senhorio – a realidade organizadora da vida económica e social do mundo rural

O século XI foi uma época de tensão entre o papa


(poder espiritual) e os reis, imperadores e senhores
feudais (poder temporal) que disputavam entre si
a influência de um sobre o outro na cristandade
ocidental. 
No entanto, a Igreja revelava sinais de crise como:
• diversos atos de simonia;
• abusos por parte dos membros religiosos;
• crescimento das heresias.
Neste contexto, o papa Gregório VII vai promover
uma reforma.
1 Papa Gregório VII.

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O senhorio – a realidade organizadora da vida económica e social do mundo rural

Através do Dictatus Papae de 1075,


Gregório VII, proclama a autoridade
suprema do papa sobre os poderes
laicos.
De acordo com o Dictatus Papae, apenas
o papa podia nomear ou depor os
bispos, o que gera um conflito com o
imperador do Sacro Império Romano-
Germânico conhecido como a questão
das investiduras.

1 Dictatus Papae (1075).

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O senhorio – a realidade organizadora da vida económica e social do mundo rural

O reforço da autoridade da Igreja


continuou nos séculos seguintes. Em
1215, realizou-se Concílio de
Latrão convocado pelo papa Inocêncio
III.
Foram discutidas questões
doutrinárias e aprovadas medidas
como a: 
• criação do tribunal da Inquisição
para combater as heresias;
• reafirmação dos sacramentos;
1 Papa Inocêncio III.
• condenação da simonia.
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O movimento de expansão demográfica, económica, social e religiosa do século XIV

Entre os séculos XI e XIII, viveu-se


um período de prosperidade na
Europa Ocidental, nomeadamente
no crescimento populacional.
Na agricultura registou-se um
aumento de produtividade que se
pode explicar pela alteração das
condições climáticas, mas também
pelo alargamento da superfície
cultivada com os arroteamentos. 
1 Arroteamentos.

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O movimento de expansão demográfica, económica, social e religiosa do século XIV

O aumento de produção também se 1 Afolhamento trienal

deveu as inovações técnicas como:


• o afolhamento trienal que
permite maior diversidade
de culturas;
• a melhoria e introdução de
novos instrumentos agrícolas; 
• novas formas de atrelagem 2 Alfaias agrícolas.
como a coelheira e atrelagem
em fila; 3 Coelheira.
• difusão dos moinhos de água. 

4 Moinhos de água.

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O movimento de expansão demográfica, económica, social e religiosa do século XIV

Às inovações agrícolas juntaram-se 2 Kogge - fusta


hanseática
as inovações nos transportes que
tornaram as deslocações mais
rápidas, facilitando o movimento de
produtos e pessoas.
Estas inovações passaram pelos
novos sistemas de atrelagem, o uso
das ferraduras, dos estribos nos 1 Transporte com
coelheira rígida
transportes terrestres.
Nos transportes fluviais e marítimos,
surgem novas embarcações como
as kogges ou as galés e generaliza-se
o leme de cadaste.
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O movimento de expansão demográfica, económica, social e religiosa do século XIV

O desenvolvimento dos transportes e o


novo surto urbano contribuíram para o
renascimento do comércio na Europa
Ocidental e a revitalização de uma
economia monetária.
Entre as regiões mais dinâmicas do
comércio europeu destacam-se:
• a Hansa Teutónica;
• a Flandres;
• as feiras de Champagne;
• e as cidades do norte da Península
1 Banqueiros.
Itálica, como Génova ou Veneza.

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O movimento de expansão demográfica, económica, social e religiosa do século XIV

Nas cidades surge um novo


grupo social, a burguesia, que
desempenha funções ligadas ao
comércio, dinamizando as feiras
e os mercados. 

1 Cena de uma feira medieval.

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O movimento de expansão demográfica, económica, social e religiosa do século XIV

A Europa medieval, em
termos religiosos, 
encontrava-se dividida
entre católicos,
ortodoxos
e muçulmanos. 
No final do século XI teve
início o movimento das
Cruzadas que pretendia
eliminar os inimigos da
fé cristã e que se vão
estender até ao século
2 As Cruzadas (1096-1272). 
XIII. 1 A Europa religiosa em meados do século XII. 
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O movimento de expansão demográfica, económica, social e religiosa do século XIV

À prosperidade verificada, nos


séculos XII e XIII, sucede-se um
período de recessão no século XIV.
A crise resulta de uma sucessão de
maus anos agrícolas, consequência
de mudanças climáticas que
originam um período de fomes
devido à carência de cereais.
A situação agrava-se com a
chegada à Europa da Peste Negra.

1 A disseminação da Peste Negra (1346-1353).

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O movimento de expansão demográfica, económica, social e religiosa do século XIV

A Peste Negra chega à Europa, em


1347, trazida do mar Negro nos
barcos genoveses. A epidemia
espalha-se rapidamente pelas rotas
terrestre e marítimas do comércio
medieval. 
As regiões foram atingidas com
intensidades diferentes, porém o
resultado foi um decréscimo
significativo da população europeia. 1 Evolução da população europeia (1340-1500).

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O movimento de expansão demográfica, económica, social e religiosa do século XIV

A juntar à fome e à peste, o século XIV


foi palco de uma série de conflitos
militares em que se destacam a Guerra
dos Cem Anos (1337-1453); os
conflitos na Península Ibérica entre
reinos cristãos e com os muçulmanos;
e os levantamentos populares.

1 A
2 Batalha de
Pilhagem de uma
Crécycidade
– Guerra dos Cem Anos.
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