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Poesia Trovadoresca

História:
Idade média
 período situado entre a Antiguidade greco-romana e os tempos modernos;
 do século V ao século XV;
 Cidades desenvolvidas à volta do castelo; ideia de Estado ainda inexistente; o rei como dono e senhor de uma grande
quinta;
 esperança média de vida muito baixa; condições de vida degradantes; injustiça social;
 miséria e injustiças económicas (recolha de impostos do povo para sustentar a nobreza e o clero);
 Cristianismo corrompido pelo Clero, que detinha um enorme poder;
 o clero como única classe culta.

Poesia trovadoresca

 temática sentimental: cantigas de amigo e cantigas de amor;


 temática satírica: cantigas de escárnio e maldizer.

Satírica- poesia em que o ator mede o ridículo, os vícios ou defeitos de uma época ou pessoa

Cantigas de Amigo e Cantigas de amor

Cantigas de amigo Cantigas de amor


temática idêntica: “o amor não correspondido, fonte de todo o sofrimento e causa de
Semelhanças
desconforto e lamento”
“origem autóctone”,
Origem “de inspiração cortês e provençal”
“popular” e ibérica
o poeta fala em nome da
Emissor mulher (“finge que é a o poeta fala dos seus sentimentos (“o
Sujeito poético mulher a expor as suas poeta fala de si mesmo”)
próprias penas”)
donzela, simples, ingénua e requintada, distante, socialmente
Figura feminina
Diferenças

apaixonada superior
veneração, sujeição, mantendo a
Relação “eu”/objeto da
proximidade hierarquia social e o esquema de
cantiga
vassalagem do feudalismo
o amigo, os elementos da
Natureza ou outras pessoas, nenhuns, para além do “eu” e da
Outros intervenientes
nomeadamente a mãe ou as “senhor”
suas amigas (confidentes)
não existem referências diretas ao
Ambiente/ cenário Natureza cenário ou ambiente que poderia
servir de pano de fundo.
Poesia Trovadoresca
Paralelismo:

Os cantares de amigo não se distinguem dos de amor unicamente por aparecerem ali “elas” e aqui “eles” a falar, mas
também por outras diferenças de forma e intenção.
 cantares de amigo- elas;
 cantares de amor- eles.
As cantigas, nomeadamente designadas como “paralelísticas”, apresentam estrutura rítmica. A unidade rítmica não é a
estrofe, mas o par de estrofes, ou, mais precisamente, o par de dísticos, dentro do qual ambos os dísticos querem dizer o
mesmo, diferindo só, ou quase só, nas palavras da rima. O último verso de cada estrofe é o primeiro verso da estrofe
correspondente no par seguinte. Cada estrofe vem seguida de um refrão.

A este esquema deu-se o nome de paralelismo, onde só há 5 versos semanticamente diferentes (incluindo o refrão).
O refrão sugere a existência de um coro.

Cantigas de amigo

 Temática sentimental;
 Lirismo autóctone- estilo elevado, suave e apaixonado de um determinado povo de uma dada região;
 emissor feminino e recetor masculino;
 mulher de baixa condição social;
 drama sentimental (aparentemente) espontâneo da donzela;
 presença de confidentes (humanos ou inanimados);
 ambiente rural e doméstico;
 valor documental histórico-social- tarefas domésticas, relações familiares, a ausência masculina (na guerra ou no
mar), vida coletiva e religiosidade.

A cantiga de amigo apresenta uma estrutura completamente diferente da cantiga de amor. O emissor é, pois, uma rapariga
apaixonada que, tomando como confidente a mãe, as amigas (“manas”) e na Natureza, exprime o seu drama sentimental
(“cuidado”), devido à ausência do amigo ou namorado, que partira para combater os Mouros (“ir no ferido”, “ir no
fossado”), ou acompanhava o rei (“en cas d’el-rei”), atividades que refletem a Reconquista cristã e consequentemente as
circunstâncias históricas em que se formou Portugal. Sendo criado criações literárias, cujos autores, exprimem em língua
galego-portuguesa os sentimentos e reações de uma mocinha da época (século XII e XIV), reconstituindo, do ponto de vista
feminino, situações da vida sentimental dos namorados, que no campo, quer em meio burguês.
A antiguidade deste lirismo oral é atestada pelos numerosos arcaísmos conservados pelos trovadores para exprimirem as
suas cantigas. E a importância atribuída à mulher na cantiga de amigo (corresponde às condições histórico-sociais do
noroeste peninsular, onde, na ausência do chefe de família, esta o substituía no lar e no trabalho rural) permite filiar este
lirismo autóctone numa poesia romântica e cristã muito antiga.
A cantiga de amigo de molde popular obedece a uma estrutura estrófica e rítmica que lhe imprime musicalidade: é a
paralelística perfeita.
A cantiga de amigo, em monólogo ou diálogo, documenta a vigilância da mãe, com quem a menina desabafa, recebendo
conselhos, mas revoltando-se, por vezes. Além da confidência às amigas, a originalidade da cantiga de amigo consiste no
diálogo com a Natureza, que, humanizando-se, consola a menina.
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Ondas do mar de Vigo norte de PT

dizei-me se namorado
Ondas do mar de Vigo,
se vistes meu amigo! virá
E ai Deus, se verrá cedo!
Refrão- muito agitado
importante porque Ondas do mar levado,
português arcaico- já não se usa
reforça a preocupação se vistes meu amado!
do sujeito poético com a E ai Deus, se verrá cedo!
ausência do namorado
a ausência do namorado foi Se vistes meu amigo, “queira Deus que ele venha cedo”
por causa de andar na o por que eu sospiro!
guerra, ficando a mulher a E ai Deus, se verrá cedo!
tratar de tudo, era a gestora. verbo haver- sinónimo ter
Se vistes meu amado,
por que ei gran cuidado! preocupação
E ai Deus, se verrá cedo!

Martim Codax….
autor- trovador de grau mais baixo (jugral)

Análise:

 Estas cantigas foram escritas para serem cantadas, pois são fáceis de decorar por causa da repetição do refrão.
 O sujeito poético dirige-se ao mar de Vigo.
 Amigo e Amado são sinónimos.
 Cantiga paralelística perfeita, pois, obedece a um esquema de verso/ esquema rimático.
 O sujeito poético é diferente de autor: o sujeito poético é uma donzela.
 Donzela- mulher virgem, mulher com pureza
 Cogla- designação atribuída às estrofes, na poesia trovadoresca.

Perguntas:

1. Trata-se de uma cantiga de amigo, uma vez que o sujeito lírico é uma mulher que se dirige ao seu amigo/
amado.
2.1. O sujeito poético recorre ao vocativo para nomear o destinatário das suas palavras, interpelando as “Ondas
do mar” e fazendo delas suas confidentes.
3. O “eu” lírico encontra-se ansioso, agitado e preocupado (v. 11).
3.1. O seu nervosismo deve-se à incerteza da chegada e à demora do seu amigo.
3.2. Ambiente em que decorre o monólogo: O sujeito poético encontra-se sozinho a observar o mar que, aos seus
olhos, parece cada vez mais agitado, o que piora o estado de espírito e as emoções do sujeito poético.
4. O poema pode ser dividido em duas partes:
 1ª parte: 1-2 estrofes; a donzela/ sujeito poético pergunta às “Ondas do mar de Vigo” se viu o seu
namorado;
 2º parte: 3-4 estrofes; se na possibilidade de ter visto para lhe dar notícias.
4.1. As estrofes que compõem cada uma das partes do poema apresentam um conteúdo semântico bastante
semelhante. O segundo dístico de cada par repete, com ligeira variação, a ideia já apresentada no primeiro.
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6.1. A repetição do verso “E ai Deus, se verrá cedo!” realça o estado de ansiedade e angústia que o sujeito poético
experiencia face à demora do seu amado.
b) O refrão reflete um clima de grande religiosidade, invocando Deus, e sugere a transmissão oral das cantigas (de
natureza repetitiva).

Figura de estilo: Apóstrofe;


vive com sofrimento por causa do namorado Função: vocativo

Como vivo coitada, madre, por meu amigo


recado
Como vivo coitada, madre, por meu amigo,
porque guerra, são sinónimos
ca m'enviou mandado que se vai no ferido,
e por el vivo coitada! refrão paralelística- a 1ª
estrofe (2º verso)
repete-se na 3ª
Como vivo coitada, madre, por meu amado,
estrofe (1ª verso) e
ca m'enviou mandado que se vai no fossado,
o 2º verso da 2ª
e por el vivo coitada! causa estrofe repete-se no
1ª verso da 4ª
Ca m'enviou mandado que se vai no ferido, estrofe.
eu a Santa Cecília de coraçón o digo,
e por el vivo coitada!
sinónimos
Ca m'enviou mandado que se vai no fossado,
eu a Santa Cecilia de coraçón o falo,
e por el vivo coitada!

Análise:
 Madre: pessoa que está no topo de um invento;
 Mater- evoluiu de forma erudita;
 O esquema paralelístico é sempre com letra maiúsculas: A, B, R; A’, B’, R; B, C, R; B, C’, R;
 Esquema rimático: a, a, b; c, c,b ; a,a,b; c,c,b;

 1º verso- lamenta a ausência do namorado e diz-nos que ele foi para a guerra; ela sente a sua falta; efeito de
tristeza/ preocupação;
 2º/3º verso- causa- dele ter ido para a guerra.
 Dá a ideia que foi cantado por mais que um trovador;
 Os homens ou iam para a guerra ou iam pescar;

Perguntas:
1. O “eu” enunciador sente-se infeliz e sofre pela ausência do seu amado que partiu para a guerra.
1.1. Recursos expressivos que contribuem para a forma emotiva do sujeito poético: A apóstrofe confere à composição
poética um tom marcadamente confessional (“madre”), e a estrutura paralelística dos versos enfatiza o sofrimento
do “eu” lírico.
1.2. A donzela mostra-se infeliz, magoada e preocupada pelo facto de o amigo partir para a guerra, deixando-a sozinha
com a incerteza do seu regresso.
2. Esta cantiga apresenta um forte valor documental, uma vez que através dela confirmamos tratar-se de um período em
que os conflitos e as guerras eram uma constante, o que pode ser atestado nas expressões “que se vai no ferido” e “que
se vai no fossado”, e dominado pela religiosidade.
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destinatário árvore mais plantada em
Portugal e a mais alta.
Ai flores, ai flores do verde pino, O pinheiro fazia a ligação
do céu com a terra.
10 silabas métricas
(decassilábico) Ai flores, ai flores do verde pino,
“onde está?”;
dizei-me ; oração subordinada se sabedes novas do meu amigo!
preocupação da donzela
adverbial condicional Ai Deus, e u é?

Ai, flores, ai flores do verde ramo,


se sabedes novas do meu amado!
Ai Deus, e u é? “mentiu sobre o”

Se sabedes novas do meu amigo, que me prometeu


aquel que mentiu do que pôs comigo!
Ai Deus, e u é?

caracteriza o namorado Se sabedes novas do meu amado “do que me jurou”


como mentiroso
aquel que mentiu do que mh á jurado!
Ai Deus, e u é? pentassilábico
indica que esta cantiga é dialogada “são”; estar saudável
-Vós me preguntades polo voss'amigo,
e eu ben vos digo que é san' e vivo.
Ai Deus, e u é?
hendecassilábico

Vós me preguntades polo voss'amado,


e eu ben vos digo que é viv'e sano.
Ai Deus, e u é?
vosc- “convosco; ant’ o przo saído”-
E eu ben vos digo que é san' e vivo antes do prazo acabado.
e seerá vosc' ant' o prazo saído. O namorado cumpre o prazo, logo não
é mentiroso.
Ai Deus, e u é?

E eu ben vos digo que é viv'e sano


e seerá vosc'ant'o prazo passado.
Ai Deus, e u é?

Análise:
 1ª à 4º estrofe- a donzela pergunta ao pinheiro se tem novidades do seu amigo:
 Recetor: folhas do pinheiro;
 Emissor: donzela.
 5ª á 8ª estrofe- personificação (o pinheiro responde à donzela):
 Recetor: donzela;
 Emissor: folhas do pinheiro.

 O amigo prometeu voltar numa certa altura e coimo ele não está a voltar, a donzela está preocupada;
 Cantiga dialogada;
 idade média: religião cristã e constantes guerras;
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 24 versos:
 8 estrofes- 3 versos e 1 refrão;
 8 dísticos seguidos de um refrão.

Perguntas:
1. É possível dividir a cantiga em 2 momentos distintos que correspondem à expressão de diferentes emissores.
A composição apresenta uma estrutura dialogar, pois o sujeito poético faz perguntas e o destinatário responde.
A repetição da oração condicional, ao longo das 4 primeiras coblas, contribui para intensificar a situação emocional
(Ansiedade) do sujeito poético.
A caracterização do “amigo” é constante ao longo do poema: na 1ª parte diz que ele é mentiroso e na 2ª parte “anula”.
O refrão confere unidade à cantiga, embora evidencie a mudança do estado psicológico da donzela ao regresso do seu
amado: na 1ª parte mostra muita preocupação e na 2ª parte mostra-nos ansiedade e espectativa.
2. Na personificação utilizada nas 4 estrofes finais, as “flores do verde pino” respondem e tranquilizam a donzela como se
fossem um confidente humano.
3. Atendendo ao contexto histórico de produção da poesia trovadoresca, utilizou-se os adjetivos “sano” e “vivo”, pois, o
estado de guerra permanente levava a indefinições sobre o paradeiro dos ausentes, persistindo a dúvida sobre a sua
sobrevivência. Neste caso, o amado encontrava-se são e vivo (“san’ e vivo”).
4. Esquema rimático: aab , ccb, ccb, aab, ccb;
Esquema Paralelístico: A,B,R; A’,B’, R; C,D,R; C’,D’,R.

pronome relativo, refere-


se ao amigo introduz uma
Como ouvi Linda cantar por seu amigo José
oração subordinada
namorado adjetiva restritiva
Se sabeis novas do meu amigo
novas dizei-me que vou morrendo morte; para não se
impediram-no de ver
por meu amigo que me levaram identificar ninguém
o sol; levaram o
amigo de madrugada num carro negro de madrugada. Inicio do dia
num carro negro
imperativo Dizei-me novas do meu amigo aguenta, que há esperança
em sua torre tecendo os dias
reforça a ideia de que para vivermos
dai-me palavras pra lhe mandar precisamos de liberdade; sol= vida;
com ruas brisa domingos sol. Enumeração: expressividade-
2ª pessoa do plural liberdade
não é uma realidade; faz um Se sabeis novas de meu amigo
noticias
apelo; presente do indicativo novas dizei-me que desespero
fica demasiado desesperada,
com valor de Imperativo- por meu amigo que longe espera
quase a desistir
expressividade tecendo os dias tecendo a esperança.
“Dizei-me” - causa do seu ela fala com o vento porque ele é
desespero; Mando recados não sei se chegam livre e pede-lhe para levar as
“que” - conjunção subordinada leva-me ó vento da noite triste noticias ao namorado e trazer até
adverbial causal (porque) ou diz-me novas de meu amigo ela, já que ela não consegue
que tece o tempo na torre negra.

Que tece o tempo que tece a esperança.


Já da ternura fiz uma corda
ó vento prende-a na torre negra
que meu amigo por ela desça.

Por essa corda feita de lágrimas


Poesia Trovadoresca
que meu amigo por ela desça
ou mande a esperança que vai tecendo
que desespero sem meu amigo.

Análise:
 Sujeito poético: mulher; Relação com o sujeito: namorado;
 O sujeito poético quer saber onde esta o seu amigo;
 Domingos- dia de descanso e reunião familiar;

Pois nossas madres vam a San Simon


onde decorre a ação
Pois nossas madres van a San Simon acender velas, fazer
de Val de Prados candeas queimar, promessas
nós, as meninhas, punhemos de andar
con nossas madres, e elas enton
queimen candeas por nós e por si
refrão “aí”
e nós, meninhas, bailaremos i.

Nossos amigos todos lá iran tempo futuro

oportunidade de se por nos veer, e andaremos nós espécie de saia- expressa


mostrarem aos rapazes bailand’ ant’ eles fremosas [en] cós, alguma sensualidade
e nossas madres, pois que alá van, lá
queimen candeas por nós e por si
e nós, meninhas, bailaremos i.
contemplar
Nossos amigos irán por cousir
como bailamos, e podem veer
bailar moças de bon parecer,
e nossas madres pois lá queren ir,
queimen candeas por nós e por si
e nós, meninhas, bailaremos i.

Análise:
 As donzelas vão acompanhar as mães às romarias, para elas cumprirem promessas- religiosidade;
 Os Homens estão ausentes, acompanhando as mães as meninas;
 Enquanto colocam velas a arder elas (meninas) fazem uma roda a dançar;
 O Cristianismo era vivido muito seriamente;
 As meninas aproveitam que as mães colocam as velas para irem bailar;
 A mãe é a confidente das meninas.

Perguntas:
1. Ação: romaria; Tempo: tempo futuro; Espaço: San Simon; Personagens: meninas, mães e os “amigos”;
1.1. As mães vão cumprir as suas promessas, as “meninas” acompanham-nas para se encontrarem com os seus amigos
que também lá irão e os amigos vão ver as meninas.
2. A dança serve para seduzir os “amigos”.
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3. O sujeito poético desta composição distingue-se do das cantigas de amigo anteriormente analisadas por ser um sujeito
poético plural (“nós”).
4. As romarias constituíam manifestações da religiosidade medieval.

Cantigas de amor

 Temática sentimental;
 Poesia de imitação provençal;
 Emissor masculino;
 Mulher de elevado estatuto social;
 Coita de amor do sujeito poético face à “Senhor”;
 Sentimento convencional;
 Idealização e inacessibilidade da mulher amada- código do amor cortês;
 Ambiente palaciano.
 Amor platónico- amor que não é possível/ não correspondido; amor à distância, em que não se tocam; amor puro,
ama-se incondicionalmente podendo causar sofrimento;

A cantiga de amor aparece por influência da cansó de amor provençal.


O trovador celebra os raros dons morais e físicos da mulher que diz amar, utilizando 2 códigos:
 O código linguístico (rico e variado);
 O código de amor cortês.
Este último código implica algumas regras como:
 O segredo da dama celebrada- necessário porque o trovador provençal cantava geralmente um amor proibido, poir
dirigia sempre as suas homenagens a senhoras casadas;
 A denúncia a todo o prazer;
 A fidelidade e a constância;
 o sentimento de amar é supremo bem e que nada se deve esperar em troca de amor puro.
O trovador galego-português, apesar de ter ido buscar influências ao cansó de amor provençal, mantem-se fiel à exaltação à
mulher através das características que lhe atribui e a diferencia de todas as outras mulheres. E a exaltação do amor como
meio para alcançar o supremo bem.
O que distingue as nossas cantigas de amor provençal é sobretudo a totalidade efetiva.
Enquanto que as cancós provinciais mostram jubilo (alegria) de amor, nas portuguesas denota-se a coita, a pena de amor, a
mágoa incurável, chegando o trovador a desejar a morte.
Embora o trovador galego-português continue a afirmar que sofrer por amor por determinada senhora é o maior dos bens,
ele lamenta esse facto, muitas vezes, recorrendo à imagem de morte para exprimir o tormento de amar, sem receber nada
em troca.
As principais situações e sentimentos das cantigas de amor são:
 a morte de amor;
 a mágoa da ausência ou da privação da vista da senhora;
 a timidez que impede o poeta de revelar os seus sentimentos à amada;
 os olhos que se são instrumentos de paixão, sendo no caso da amada uma representação de todo o se encanto e no
caso do amante, olhos que por azar foram encantados e não se cansaram de ver a amada, dando ao poeta todo o
bem e todo o mal).
Outra diferença entre a cantiga de amor galego-portuguesa face à provençal é a caracterização abstrata da senhora amada,
limitando-se à utilização de expressões vagas, não transmitindo nenhuma caracterização que lhe dê alguma individualidade.
Quanto ao retrato psicológico, este é também genérico e pouco elucidativo, mas sempre deixando claro a perfeição da
mulher amada.
Normalmente, nas cantigas de amor galego-portuguesas a “senhor” é tratada como um objeto de tortura ou de impossível
felicidade para o amante.
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Também não são apresentadas características dos lugares onde se move ao “senhor” nem do tempo que decorre este drama
de amores, visto que não interessa ao trovador.
O trovador está mais preocupado com as relações entre as pessoas que as circunstâncias em que estas ocorrem, não
mencionando o tempo e espaço

Coita- sofrimento por amor;


classifica a vida, não o senhor
Feminino, senhora

Senhor, eu vivo coitada


adjetivo

nome Senhor, eu vivo coitada “desde quando”


vida, des quando vos nom vi;
Ele começou a sofrer porque ela se Nunca mais viu a sua amada
mais, pois vós queredes assi,
afastou dele e por ser o que ela quer
por Deus, senhor ben talhada,
Formosa, perfeita fisicamente
Pede à donzela que tenha pena dele querede-vos de mim doer
ou que o deixe morrer; ele prefere Ter dó
ou ar leixade-m’ir morrer.
morrer do que continuar a não a ver “ou então, pelo contrário”
Este trovador depende da mulher para Vós sodes tan poderosa Sentido de ter poder sobre ele
o bem e para o mal- a sua vida está de mim que meu mal e meu bem
nas mãos dela; em vós é todo; [ e ] por en, “por isso”
Ela tem tanto poder nele, que tudo
por Deus, mha senhor fremosa, formosa
depende dela- submissão
querede-vos de mim doer
ou ar leixade-m’ir morrer.

Eu vivo por vós tal vida Oração subordinada adverbial consecutiva


que nunca estes olhos meus
“perfeita”; sinonimo de
dormem, mha senhor; e por Deus, talhada e fremosa
que vos fez de bem comprida,
querede-vos de mim doer
ou ar leixade-m’ir morrer.
“porque” “em relação a isso, a esse respeito”
Ca, senhor, todo m’é prazer
Dístico: tudo o que ela fizer
quant’ i vós quiserdes fazer. já será muito para ele

Análise:

 Existência apenas de características psicológicas;


 A palavra “coitada” teve uma evolução semântica (mudou de significado): hoje usámos-ma quando algo correu mal,
antigamente era o sofrimento por amor;
 Descrição formal da cantiga:
 A nível estrófico- Cantiga de refrão, com três estrofes (de quatro versos, seguidos de refrão dístico) e uma
finda (cobla final e conclusiva) de dois versos.
 A nível métrico- heptassilábicos e octossilábicos (7 e 8 silabas métricas);
 A nível rimático- existe rima interpolada e emparelhada nas quadras e emparelhada nos dísticos (refrão e
finda).
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Perguntas:
1. O sujeito poético sofre com a ausência da sua amada, manifestando tristeza e desespero.
2. A “Senhor” é bela (v. 4; v. 10), dominadora (vv. 7-8) e perfeita, tal como podemos verificar no poema “formosura,
poderosa, bonita”.
2.1. O enunciador sofre com a ausência da amada, mas para ela esse sofrimento é lhe indiferente.
3. O “que” do verso 14 introduz uma oração subordinada adverbial consecutiva (a 2ª oração é a consequência da 1ª). Valor
expressivo: realça a força/intensidade do amor que o sujeito poético sente pela amada.
4. A última estrofe funciona como conclusão do poema, reforçando-se novamente a ideia de que o sujeito poético se
encontra totalmente rendido às qualidades e à vontade da mulher amada: o que quer que ela faça será para ele motivo
de grande alegria.

Quer'eu em maneira de proençal


provençal
Quer'eu em maneira de proençal
fazer agora un cantar d'amor, louvar
A quem e querrei muit'i loar mia senhor Conjunto de qualidades morais
Características física a que prez nen fremusura non fal, que tornavam digna de ser amada;
nen bondade; e mais vos direi en: Bela psicologicamente.
Hipérbole (exagero tanto a fez Deus comprida de ben Sobre isso
de uma realidade) que mais que todas las do mundo val.
quis
Porque Sabedora (adjetivo)
Ca mia senhor quiso Deus fazer tal,
quando a faz, que a fez sabedor
Apesar disso
de todo ben e de mui gran valor, Sociável (adjetivo)
e con tod(o) est' é mui comunal Também
Quando deve ali u deve; er deu-lhi bon sen,
e des i non lhi fez pouco de ben, Senso
Além disso
quando non quis que lh'outra foss'igual.
Conjunção “Porque” louvor
Ca en mia senhor nunca Deus pôs mal,
mais pôs i prez e beldad' e loor Característica física
e falar mui ben, e riir melhor hoje
De modo completo, que outra molher; des i é leal
perfeitamente muit', e por esto non sei oj' eu quen
Além da sua bondade
possa compridamente no seu ben
falar, ca non á, tra-lo seu ben, al. Mais ninguém

Análise:
 3ª estrofe- “porque Deus nunca pôs maldade na minha senhoras, mas pôs bondade, lealdade e louvor, e além disso
é mito leal, e por isso eu não conheço outra que seja tão completa como ela no seu bem falar”.
 Assunto da cantiga: o sujeito poético descreve a mulher pela qual está apaixonado;
 Deus quis fazer da mulher a mais perfeita;

Perguntas:
1. O tema da cantiga é o amor.
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2. O texto pode ser dividido em duas partes: a primeira corresponde à primeira estrofe e a segunda parte às estrofes dois e
três. Na primeira parte, o sujeito poético apresenta o objetivo da sua composição (“fazer agora un cantar d‘ amor”) e,
num segundo momento, identifica as características da amada que justificam a sua declaração de amor.
2.1. A conjunção “Ca” estabelece uma relação de causalidade em relação à primeira estrofe, uma vez que as estrofes
dois e três funcionam como justificação do propósito da cantiga.
3.1. Fisicamente, a “senhor” é bela (“fremusura”, v. 4; “beldad[e]”, v. 16) e tem um sorriso bonito (“riir melhor/ que outra
molher”, vv. 17-18). Do ponto de vista moral, é dotada de grande valor (“prez”, v. 4), sendo generosa (“bondade”, v. 5),
sensata (“bon sen”, v. 12) e muito sociável (v. 11).
3.2. A adjetivação (vv. 6, 9, 11, 18) e a hipérbole (vv. 6-7) contribuem para a caracterização da mulher amada.
3.3. A mulher amada é perfeita a todos os níveis, o que a eleva a um plano superior, tornando-se inacessível
ao sujeito poético, o que lhe causa sofrimento.

Cantigas de escárnio e maldizer

Cantigas de Maldizer
As cantigas de Maldizer caracterizam-se pela identificação da pessoa satirizada e pela alusão crítica direta.
 Roi Queimado.

Cantigas de escárnio
As cantigas de escárnio são sátiras indiretas onde o destinatário não é identificado.
No entanto, a sátira de intenção social aparece também nas cantigas de escárnio, obtida por meio da caricatura e da criação
de tipos representativos das classes que se pretende satirizar.
Outra variedade satírica muito apreciada são os “escárnios de amor”, que se tratam de composições que apresentam o
reverso do amor cortês, constituindo uma imitação irónica da cantiga de amor, pois ridicularizam os principais tópicos da
lírica trovadoresca: a superioridade da “senhor” e o respeito que por ela sente o trovador; o elogio da sua beleza e do seu
“prez”, ou dignidade moral, com realce também para as qualidades intelectuais (ben falar). Todos estes tópicos aparecem
satirizados.
 Ai, dona fea, fostes-vos queixar.

No amor cortês temos um trovador que sofre por amor e chega a desejar a morte, a mulher é caracterizada como perfeita e
o trovador namora uma mulher inalcançável cujo amor não era correspondido.
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Ai, dona fea, fostes-vos queixar
“mas”- ideia de
contraste/oposição Ai, dona fea, foste-vos queixar
“Agora” que vos nunca louv'en [o] meu cantar;
mais ora quero fazer um cantar
“louvarei de
en que vos loarei toda via;
qualquer modo”
e vedes como vos quero loar:
“louca”
dona fea, velha e sandia!

“tendes tanto desejo”


Dona fea, se Deus me perdon,
pois avedes [a] tan gran coraçon “por este motivo”
Conjunção consecutiva
que vos eu loe, en esta razon
vos quero já loar toda via; “louvor, elogio”
e vedes qual será a loaçon:
dona fea, velha e sandia! louvei
“ainda que”
Nas minhas cantigas Dona fea, nunca vos eu loei
en meu trobar, pero muito trobei; Tenha feito muitas cantigas
“já agora” mais ora já un bon cantar farei, “em que de qualquer
en que vos loarei toda via; modo vos louvarei”
e direi-vos como vos loarei:
dona fea, velha e sandia!
Análise:
 1ª estrofe- ela queixa-se que ele nunca lhe-há dedicado uma canção de amor, então ele dedica-lhe uma canção a
dizer que ela era feia e maluca;
 Destinatário: mulher feia;
 Sujeito poético: um trovador que critica.
 Cantiga de escárnio- sátira indireta, o destinatário não é identificado.

trovador
Roi Queimado morreu con amor
“por
Roi Queimado morreu con amor ”
“por uma senhora que “valha-me Deus”
queria muito bem” en seus cantares, par Sancta Maria,
“por se armar em” por ũa dona que gran ben queria: não lhe correspondia ao amor
e, por se meter por mais trobador,
porque lhe ela non quis ben fazer, “Mas ressuscitou depois ao 3º dia”
feze-s'el en seus cantares morrer,
mais resurgiu depois ao tercer dia!
“Isto” “uma “Senhor” ”
Esto fez el por ũa sa senhor “disto”
“a quem quer o bem” que quer gran ben, e mais vos en diria:
por que cuida que faz i maestria, “faz i maestria”- faz versos como mestre;
“á sabor”- tem prazer
enos cantares que faz, á sabor ele pensa que é o mestre a fazer versos
É nos cantares que ele faz
que tem prazer de morrer i e des i d'ar viver; “de morrer aí e em
esto faz el que x'o pode fazer, seguida de voltar a viver
“isto só ele pode fazer”
mais outr' omem per ren' nono faria. “mais outro homem de modo
“e já não tem nenhum não o faria”
pavor pela morte”
“se não, temeria
mais pela morte”
Poesia Trovadoresca
E non á já de sa morte pavor,
“mas sabe bem, por
senon sa morte mais la temeria,
sua experiência”
mais sabe ben, per sa sabedoria,
“volta logo a viver” que viverá, des quando morto for,
e faz-[s'] en seu cantar morte prender, “mas quem poderia
des i ar vive: vedes que poder supor tal coisa”
que lhi Deus deu, mais que non cuidaria.
“que ele hoje
tem, depois” E, se mi Deus a mim desse poder
qual oj'el á, pois morrer, de viver,
já mais morte nunca temeria.

Análise:
 Divisão do poema:
 1ª parte- 3ªs estrofes, o sujeito poético é irónico referindo-se sempre às cantiga que Roi Queimado fazia;
 2ª parte- refere-se a si próprio.
 Não tem um destinatário evidenciado;
 Cantiga de maldizer- pois há uma crítica direta a alguém identificado, Roi Queimado;
 Uma mulher diz que nunca doi critica de uma cantiga de amor;
 O trovador critica outro trovador: Roi Queimado amava/ estava apaixonado por uma dona. E através das suas
cantigas, ele dizia que morria se ela não quisesse o seu amor mas milagrosamente isso não acontecia, pois ele
continuava a escrever, o que significava que estava vivo. Armava-se em trovador e tem uma atenção especial de
Deus, pois este deu-lhe o poder de ressuscitar. – Ironia.

Perguntas:

1. No texto “Ai, dona fea, foste-vos queixar” temos presente uma cantiga de escárnio, pois o satirizado não é
identificado, existem apenas alusões indiretas que permitem caracterizá-lo (“velha e sandia”). No texto “Roi Queimado
morreu queimado” temos presente uma cantiga de maldizer, pois há uma crítica direta a alguém identificado, Roi
Queimado.
2. No amor cortês temos um trovador que sofre por amor e chega a desejar a morte, a mulher é caracterizada como
perfeita e o trovador namora uma mulher inalcançável cujo amor não era correspondido. Logo, nestes 2 textos temos
presente uma paródia do amor cortês, pois o 1º texto serve para criticar e ridicularizar, sendo a mulher caracterizada
como feia e velha, e no 2º texto denuncia-se o artificialismo da “morte por amor”, pondo-se assim em dúvida a
sinceridade ao amor que sente pela dona.

1º Texto:
3.1. No 1º texto o sujeito poético evidencia os defeitos da mulher a quem se dirige, que o impedem de lhe dedicar uma
cantiga de amor.
3.2. No 1º texto os traços que permitem caracterizar a “dona visada” são “feia, velha” e “louca”. Trata-se de uma mulher
que não possui beleza física, afastando-se, assim do retrato da mulher das cantigas de amor, caracterizada como perfeita.
3.2.1. No 1º texto, através da ironia, o sujeito poético acede ao desejo da “dona fea” de ser “louvada”, mas não do modo
que ela desejaria.
3.3. No 1º texto, a repetição do vocativo reforça o tom satírico, sendo “dona fea” a sátira mais forte.

2º Texto:
4.1. A 3.ª pessoa do singular é predominantemente utilizada ao longo da cantiga, que associada ao pretérito perfeito
simples do indicativo, confere um tom narrativo ao poema.
4.2. O sujeito lírico critica Roi Queimado (trovador), por repetir, nas suas cantigas, que morre de amor, continuando a
produzi-las, “ressuscitando”. Além disso, põe em causa os dotes poéticos do trovador, que pretende mostrar-se
mais engenhoso do que realmente é.
Poesia Trovadoresca
4.3. De modo a construir a mensagem do poema, é utilizado como recursos expressivos a metafórica da expressão “morreu
con amor”, a hipérbole (no exagero das capacidades de Roi Queimado) e a ironia.
4.4. O vocabulário religioso acentua o tom irónico do poema, aproximando Roi Queimado de Jesus Cristo, que
ressuscitou “ao tercer dia”
4.5. A cantiga pode ser dividida em três partes:
 versos 1 a 9 – identificação do objeto da sátira, Roi Queimado;
 versos 10 a 21 – ridicularização do visado, devido à sua vaidade (v. 10) e à superficialidade das suas
palavras (vv. 11- -12);
 versos 22 a 24 – conclusão irónica sobre as capacidades sobre-humanas de Roi Queimado.

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