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Cantigas de amigo pelo amor não correspondido da “senhor” e ao

“elogio de amor cortês”, ou seja, ao louvor


físico e psicológico à “senhor” pois ela é a mais
perfeita de todas em tudo.
O sujeito poético é feminino: uma donzela
simples, ingénua, apaixonada, alegre ou Diferenças entre cantigas de
sofredora.
amigo e amor
O sujeito poético lamenta a ausência ou A cantiga de amigo é tematicamente afim da
indiferença do amigo ou namorado. cantiga de amor – tanto numa como noutra o
argumento essencial é, de facto, o amor não
Os temas abrangidos podem ser: correspondido, fonte de todo o sofrimento e
causa de desconforto e lamento –, mas
a saudade; distingue-se dele pela perspetiva, atmosfera,
o sofrimento por ciúme; entoação e esquemas formais em que se
a felicidade e a certeza de ser amada; manifesta a situação amorosa. A diferença mais
o encontro amoroso; imediatamente percetível entre os dois géneros
o baile; é, sem dúvida, a indicada pela fragmentária Arte
a espera angustiada pelo regresso do amigo; de Trovar do Cancioneiro da Biblioteca
a ida à romaria; Nacional, em cuja formulação a cantiga é de
a confissão amorosa às suas confidentes. amor quando o poeta fala de si mesmo, e é de
amigo quando ele finge que é a mulher a expor
As confidentes da donzela são a mãe, as amigas as suas próprias penas. Mas não são menos
ou até a própria Natureza e as mesmas servem relevantes os outros traços distintivos: a mulher
para a donzela desabafar e libertar-se dos seus que se lamenta pela ausência ou indiferença do
receios e preocupações ou para a donzela amigo não é a requintada “senhor”
compartilhar as suas alegrias. aristocraticamente esquiva e feudalmente
distante da cantiga de amor, mas sim, pelo
A donzela move-se num ambiente campestre ou contrário, uma donzela, uma “dona virgo”
marítimo, mariotariamente. aparentemente simples e ingénua, sinceramente
apaixonada e dolente, vulnerável a qualquer
Existência de paralelismo na escrita destas desilusão, embora também sempre pronta a
cantigas: o paralelismo é a repetição de defender o seu próprio sentimento de qualquer
palavras, de versos completos, de conceitos e a interferência. A protagonista move-se num
existência de um refrão com o intuito de ambiente de natureza que ela chama como
intensificar a expressão das emoções através das testemunha dos seus próprios sofrimentos,
mesmas. muitas vezes objetivados ao ponto da
identificação total com a realidade circundante.
Cantigas de amor Ao contrário do poeta da cantiga de amor, cuja
relação verbal – monólogo, por vezes diálogo –
é instaurada exclusivamente com a “senhor”, a
O sujeito poético é masculino e dirige-se a uma mulher da cantiga de amigo entra direta ou
dama ou “senhor”. indiretamente em contacto não só com o amigo
mas também com outras personagens –
O sujeito poético expressa os seus sentimentos elementos da natureza (o mar, as árvores, a
pela mulher amada, a quem reconhece perfeição fonte, o cervo, o papagaio) ou seres humanos (a
e superioridade mãe, as amigas confidentes) – […] que
condicionam, positiva ou negativamente, a
O amor é idealizado e impossível atitude da protagonista. […] O movimento
rítmico aparentemente mais simples, a presença
a indiferença da amada conduz à “coita de de refram, a estruturação do texto segundo as
amor”, isto é, ao sofrimento do sujeito poético fórmulas do paralelismo mais rigorosamente
iterativo (no seio de uma gama de matizes e
gradações bastante ampla), a ambientação rural
e a personalidade da protagonista (não só
mulher mas também “dona virgo”) sugeriram a
muitos estudiosos a teoria da origem autóctone
da cantiga de amigo que, ao contrário da cantiga
de amor de inspiração cortês e provençal, seria
um produto “popular” e “ibérico”.

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