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Cantigas de amigo: Origem galego-portguesa (noroeste 3.

Relação com a natureza


peninsular) Ambiente campestre; ✿ cenário (elementos naturais com valor simbólico
✿ confidente (natureza humanizada/ personificada)
Este tipo de cantiga não surgiu em Provença como as outras, teve
suas origens na Península Ibérica. Têm origem popular, o trovador Há em alguns cantares de amigo uma intimidade afetiva com a
apresenta o outro lado da relação amorosa, isto é, assume um natureza talvez diferente do gosto cenigráfico da paisagem (como
novo eu-lírico feminino o da mulher que, humilde e ingênua , canta, quadro ou reflexo dos sentimento dos humanos). Dir-se-ia existir
por exemplo, o desgosto de amar e, depois, ser abandonada; ou uma afinidade mágica entre as pessoas e tudo o que se parece
o da mulher que se apaixonou e fala à natureza, à si mesma ou a mover-se ou transformar-se por uma força interna: a água da fonte
outrem sobre sua tristeza, seu ideal amoroso ou, ainda, sobre os e do rio, as ondas do mar, as flores da primavera ou verão, os
impedimentos de ver seu amado; ausência do seu amado . cervos, a luz da alva, a dos olhos. Todas estas coisas
A plavras “amigo” tem o sentido de pretendente, namorado ou amante participavam ainda de associações mágicas, as suas designações
Outra diferença da cantiga de amor, é que nela não há a relação evocavam tantas correspondências entre o impulso amorosos e o
Suserano x Vassalo, ela é uma mulher do povo. florescer das árvores, o comportamento animal, os movimentos
das coisas naturais, que o esquema repetitivo era como
imperceptível e subtil desenvolvimento de um tema através de
Sujeito poético – Em geral, voz feminina (donzela), que se refere modulações que sugerem os seus inesgotáveis nexos com a vida.
ao “amigo” (namorado)
Ambiente (espaços, protagonistas e circunstâncias)
- marcas evidentes da literatura oral (reiterações, paralelismo,
refrão e estribilho). Esses recursos, típicos dos textos orais, Ambiente doméstico e familiar, marcado pela presença feminina
facilitam a memorização e execução das cantigas. /ausência do chefe de família; autoridade materna)
- tarefas domesticas – ida à fonte
Objeto desejado: O amigo; - vida coletiva – baile, romaria
Mulher sofre pelo amigo que está ausente.

Tipos de cantiga de amigo Caracterização formal

- albas (alvas ou serenas) – o amor relaciona-se de qualquer forma com Carcaterizam-se por uma estrutura estrófica e rítmica que aproxima
a alvorada a poesia da música. Esse efeito resulta do fato de estas cantigas
- barcarolas (ou marinhas) – predominam motivos marítimos ou fluviais) recorrerem, frequentemente, a dois processos (em simultâneo ou
- Bailas ou bailadas – próprias para ser cantadas acompanhadas de isoladamente):
dança
- cantigas de romaria – mencionam romagens a santuários
ð O refrão – repetição de um ou mais versos no final de cada
- pastorelas – postas na boca de pastores
estrofe
- tensões – cantigas em que a donzela dialoga com a mãe, a irmã,
ð paralelismo (principio da repetição e da simetria)
uma amiga ou o namorado contrariando-se sucessivamente
Refrão – esquema típico da cantiga peninsular, que não é o da
Caracterização temática cansó provençal (designado, na “Poética Fragmentária”, cantiga de
mestria), mas o da cantiga de refram, caracterizado pela presença,
Representação de afetos e emoções no final de cada estrofe, de um ou mais versos que se repetem
em todas. É esta a forma que apresenta a quase totalidade das
cantigas d’amigo, mais de cinquenta por cento das cantigas d’amor e
1- Variedade do sentimento amoroso: amor, alegria/orgulho de
um terço das composições satíricas
amar e de ser amada, ansiedade, saudade, tristeza, raiva, etc
O uso de refrão constitui já de si uma forma de paralelismo, mas
O argumento essencial é, de fato, o amor não correspondido, fonte de
todo o sofrimento e causa de desconforto e lamento. O poeta finge que é não é este o único tipo de repetição paralelística praticado pelos
a mulher a expor as suas próprias penas e esta mulher que se lamenta poetas galego-portugueses. Sob vários matizes e formas estilísticas, o
pela ausência ou indiferença do amigo é uma donzela, uma “dona virgo” paralelismo revela-se como “a qualidade dominante que estrutura os
aparentemente simples e ingénua, sinceramente apaixonada e dolente, cancioneiros” adotando a terminologia de Ascensio, e tomando como
vulnerável a qualquer desilusão, embora também sempre pronta a base o seu amplo estudo sobre a matéria, poderemos considerar
defender o seu próprio sentimento de qualquer interferência. Expressa o na lírica galego-portuguesa 3 tipos de paralelismo:
seu mundo interior, sentimentos e preocupações. O leque de emoções
que a donzela exterioriza vai desde a alegria da partilha do amor ao
sofrimento, passando pelo ciúme, pela raiva, pela dúvida.
Ü literal ou de palavra, substituição de palavra rimante por um
sinónimo; (mais utilizado). Repetindo ipsis verbis a primeira parte
2- Confidencia amorosa
do verso ou mesmo o verso inteiro
Ü estrutural ou de construção (sintática e rítmica) transposição
A protagonista move-se num ambiente de natureza que chama
de palavras
como testemunha dos seus próprios sofrimentos, muitas vezes
Ü concetual ou de pensamento - repetição do conceito
objetivados ao ponto da identificação total com a realidade
mediante a negação do conceito oposto
circundante. A mulher da cantiga de amigo entra direta ou
Ü leixa-pren- processo de encadeamento de estrofes que
indiretamente em contato não só com o amigo mas também com
consiste na retoma dos versos
outras personagens – elementos da natureza ( o mar, as árvores, a
fonte, o cervo, o papagaio) ou seres humanos ( a mãe, as amigas,
Equivale isto a dizer que a essência fundamental do paralelismo
as irmãs confidentes) ( a mãe pode ser severa ou compreensiva
consiste na repetição simétrica de palavras, versos inteiros,
estruturas rítmico-metricas, construções, conteúdos semânticos que nunca houvera amado:
ou conceitos e que tal técnica não pode deixar de arrastar consigo amor ey!
uma certa monotonia. Para a evitarem, e simultaneamente
Que nunca houvera amigo,
conseguirem a progressão do pensamento, recorriam os
ergas no sagrad’en Vigo:
trovadores a outro elemento fundamental do paralelismo, a amor ey!
variação.
Que nunca houvera amado,
Ergu’en Vigo, no sagrado:
Paralelismo amor ey!

| Paralelismo perfeito / puro –paralelisticas puras Rima toante ou imperfeita – quando há correspondência na vogal tónica
se o número de estrofes/colba for par mas a rima não é total .Analisa-se as sílabas tónicas das últimas palavras
se a repetição tem encadeamento (o 2º verso de uma estrofe é o
1º verso da estrofe alternada subsequente Ex:
Há vários cantigas de amigo que são paralelísticas perfeitas, isto Non chegou, madre, o meu amigo, a
é, que obedecem o seguinte esquema de construção e hoj'ést'o prazo saído! a’ i
ai, madre, moiro d'amor! (refrão)

Non chegou, madre o meu amado b a


e hoj'ést'o prazo passado! b’
ai, madre, moiro d'amor!

E hoj'ést'o prazo saído! a’ i


Por que mentiu o desmentido? a’’
ai, madre, moiro d'amor!

E hoj'ést'o prazo passado! b’


Por que mentiu o perjurado? b’’ a
ai, madre, moiro d'amor!

Por que mentiu o desmentido a’’ i


| Paralelismo imperfeito pesa-mi, pois per si é falido. a’’’
se está isolado em cada par de estrofes ai, madre, moiro d'amor!

No processo leixa-prem: Por que mentiu o perjurado a


pesa-mi, pois mentiu a seu grado.
Uma grande parte das cantigas de tipo paralelístico apresenta-se ai, madre, moiro d'amor.
estruturada em dísticos monórrimos (com uma só rima) seguidos
de refrão invariável de um verso com rima diferente, e nelas o Recursos expressivos: ironia, compração personificação
paralelismo associa-se a um processo de encadeamento das
estrofes chamado leixa-prem

- o 1º dístico emparelha com o 2º dístico, mudando a palavra


rimante, mas reproduzindo o sentido:
- no 3º dístico, o 1º verso retoma o 2º verso do 1º distico
(processo de leixa-prem, propriamente dito), acrescentando um
verso novo;
- o 4º dístico retoma o 2º verso do 2º dístico (leixa-prem) e repete,
com variação, o 2º verso do 3º dístico
- a progressão do pensamento faz-se sempre no 2º verso das
estrofes/coblas ímpares, culminando na penúltima estrofe/colba

O paralelismo consubstancia-se frequentemente no leixa-pren

Eno sagrad’ en Vigo


bailava corpo velido cada par de dísticos realiza uma
amor ey! Parelelismo semântico

En Vigo, no sagrado
bailava corpo delgado
amor ey!

Bailava corpo velido,


que nunca houvera amigo:
amor ey!

Bailava corpo delgado,

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