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Poesia trovadoresca

Preparação para o segundo teste de avaliação


Poesia trovadoresca – Propostas de questões para o teste de avaliação/ficha de trabalho

GRUPO I
Lê atentamente a cantiga de amigo a seguir transcrita.
Non chegou, madr’, o meu amigo,
e oj’ est’ o prazo saído! v.2 – hoje chegou o dia do encontro
Ai, madre, moiro d’ amor! v.3 – morro

Non chegou, madr’, o meu amado,


e oj’ est’ o prazo passado!
Ai, madre, moiro d’ amor!

E oj’ est’ o prazo saído!


Por que mentiu o desmentido? v.8 – o mentiroso
Ai, madre, moiro d’ amor!

E oj’ est’ o prazo passado!


Por que mentiu o perjurado? v.11 – o falso; o mentiroso
Ai, madre, moiro d’ amor!

Por que mentiu o desmentido,


pesa-mi, pois per si é falido. v.14 – mentiu porque quis
Ai, madre, moiro d’ amor!

Por que mentiu o perjurado,


pesa-mi, pois mentiu a seu grado. v.17 – por sua vontade
Ai, madre, moiro d’ amor!

D. Dinis
Poesia trovadoresca – Propostas de questões para o teste de avaliação/ficha de trabalho

Informações relevantes

Nomenclatura:
- Estribilho ou refrão = verso repetido na íntegra.
- Cantiga de mestria = cantiga sem paralelismo (ausência de refrão/paralelismo imperfeito).
- Copla, Cobla, Cobra ou Talho = estrofe
- Palavra perduda = verso branco ou solto.

Pontuação:
- Nas cantigas de amigo, as interrogações retóricas e as exclamações são frequentes,
conferindo expressividade à composição poética. A questão retórica tem a intenção de
reforçar o estado de espírito do sujeito poético: dúvida, dor, saudade, indecisão, desejo de
desabafo e de receber apoio na “coita” amorosa. Sendo uma interrogação, pressupõe um
interlocutor; logo, reforça a ligação entre este sujeito de enunciação e o seu interlocutor. Por
sua vez, as exclamações resultam num reforço da expressividade do estado de alma da
menina/moça/donzela.
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Outras informações:
- Nalgumas cantigas, a donzela interpela Deus, manifestando a sua ansiedade, as suas dúvidas.
O apelo à proteção e ajuda divina minora o sofrimento do sujeito poético.
- A Natureza não se limita a ouvir a donzela; torna-se confidente e cúmplice da jovem; partilha
o seu sofrimento e tenta acalmá-la/apaziguar o seu estado de espírito, daí a sua
personificação. A donzela projeta o seu estado de alma na Natureza.

Papéis da mãe:
- confidente, conselheira, conivente/cúmplice do amor confessado pela filha.
- responsável pelo exercício de autoridade, vigilante, controladora, a quem a filha tem de
prestar contas pelos seus atos. No contexto social da época, a mãe exerce a autoridade familiar,
pois o pai/chefe de família está ausente, tendo ido combater os Mouros. Tais condições sociais
favorecem a importância adquirida pela mulher na época em causa.

Leituras simbólicas:
- O amado tirou os ramos secos e secou as fontes onde as aves bebiam: pode referir-se à
tentativa de manter o amor em segredo ao fim do amor. Cortar os ramos = privar as aves de
local onde pousar; secar as fontes = privar as aves de água. Destruir as aves implica a
destruição/o fim do amor. As aves são testemunhas do amor. Cantam e espalham esse amor. O
canto das aves representa a alegria de amar.
- As manhãs frias referem-se à separação em relação ao amado.
- O anel é símbolo de amor, compromisso, união, fidelidade. O anel perdido é um prenúncio da
separação.
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1. Identifica o tema da cantiga, justificando com expressões do texto.

Exemplo de resposta
1. O tema da cantiga, intensificado no refrão “Ai, madre, moiro d’amor!”, é o
amor.
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2. Delimita a cantiga em três partes lógicas, explicitando o assunto de cada uma delas
e aludindo ao estado de espírito do sujeito poético.
Exemplo de resposta
2. A primeira parte integra as duas primeiras estrofes/coplas/coblas. Nelas a donzela,
apaixonada/enamorada, ansiosa e saudosa, revela à mãe (sua confidente), em tom de
desabafo, a sua inquietude, pois hoje chegou o dia do tão aguardado encontro com o
seu amigo/amado/namorado e ele ainda não apareceu –“Non chegou, madr’, o meu
amigo,/ e oj’est’o prazo saído!” (vv.1 e 2); “Non chegou, madr’, o meu amado,/e
oj’est’o prazo passado!” (vv. 4 e 5).
Na segunda parte, constituída pelas terceira e quarta estrofes/coplas/coblas, a
donzela, angustiada e desiludida, questiona a mãe sobre a razão que terá motivado o
amigo/amado/namorado a mentir. Lamenta, pois, o facto de este ter faltado ao que
havia prometido (encontrar-se com ela no prazo combinado), chamando-lhe “falso” e
“mentiroso” – “Por que mentiu o desmentido?” (v.8); “Por que mentiu o perjurado?”
(v.11).
Na terceira parte, composta pelas duas últimas estrofes/coplas/coblas, a donzela,
irada/furiosa e desiludida com a deslealdade do amigo, que alimentou as suas
esperanças e o seu amor (afinal, não correspondido), afirma que este faltou ao
encontro porque quis/de livre vontade – “pesa-mi, pois per si é falido” (v.14); “pesa-mi,
pois mentiu a seu grado” (v.17). A jovem sente-se traída e abandonada.
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3. Procede à análise formal da composição poética.

Exemplo de resposta
3. Em termos formais, a cantiga é composta por seis estrofes/coplas/coblas cujo
esquema rimático é o seguinte: aaB/ccB (rima emparelhada). Caracteriza-se pelo
paralelismo perfeito ou puro, a saber: três pares de dísticos, seguidos de um refrão –
“Ai, madre, moiro d’amor!” -, com alternância da rima em i nas estrofes ímpares e a
nas estrofes pares e estruturados segundo o processo do leixa-pren, isto é, o segundo
verso da primeira estrofe ímpar repete-se como primeiro da estrofe ímpar seguinte,
procedimento este que se verifica, de igual modo, com as estrofes pares.

Análise formal:
- Número/quantidade de estrofes;
- Esquema rimático;
- Paralelismo: pares de dísticos, refrão, unidade rítmica (alternância das rimas)
e leixa-pren.
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4. Indica o recurso estilístico predominante na cantiga, transcreve-o e explicita o seu


valor expressivo.

Exemplo de resposta
3. O recurso estilístico predominante na cantiga é a apóstrofe - “madr’”/”madre”. A
apóstrofe à mãe está presente no início da composição poética e volta a ocorrer no
refrão. Pretende reforçar a relação entre o sujeito de enunciação (a donzela) e o sua
interlocutora/recetora (a mãe).
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Outras questões possíveis:

- Identifica o sujeito poético e analisa o seu estado de espírito.


- Explicita o papel da Natureza nesta composição poética
Exemplo da Cantiga Ondas do Mar de Vigo: Nesta composição poética, a Natureza
– “Ondas do mar de Vigo” - é um espaço natural que assume o papel de confidente
do sujeito poético; por outro lado, tem um valor simbólico, podendo ser associada
quer à ausência do amigo (que terá partido por mar), quer ao estado de
inquietação e ansiedade da donzela.
- Caracteriza a relação que se estabelece entre o sujeito poético e a natureza.
Exemplo: Entre o sujeito poético e a Natureza estabelece-se uma relação de
cumplicidade.
- Questões relacionadas com o simbolismo da fonte, dos cervos, das aves, da
manhãs frias, das ondas, entre outros, e com o subgénero da cantiga (ver
documento Lírica trovadoresca galego-portuguesa, enviado por email).

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