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Ano Letivo 12 / 13

Disciplina: Português – 9º Ano

ANÁLISE DA CENA DA DESPEDIDA (pp.223-224)

“A construção desta cena é feita principalmente através da alternância de planos: desde o plano de
conjunto inicial (“as gentes (...) por perdidos nos julgavam” ) aos planos de pormenor ( “as mulheres (...) os
homens”) e mesmo aos grandes planos ( “Qual vai dizendo (...) Qual em cabelo” ). Termina com novo plano de
conjunto, na estrofe 92, e com a narração do que se passava a bordo.
A consternação era geral na cidade e a bordo: tinha-se a noção dos perigos, de que o caminho era “ tão
longo e duvidoso”, de que, muito provavelmente, os que partiam não iriam regressar. Deste clima de
consternação davam conta as mulheres “ cum choro piadoso” e os homens “ com suspiros que arrancavam ".
Particularmente débeis eram, contudo, as mulheres: “ Mães, Esposas, Irmãs, que o temeroso /Amor mais
desconfia acrescentavam/A desesperação e frio medo/De já nos não tornar a ver tão cedo ”. Surgem então, como
a comprová-lo, dois grandes planos, com as palavras de uma Mãe e de uma Esposa, personagens colectivas,
dadas em discurso directo.
A mãe que nos fala na estrofe 90 é o símbolo da velhice que se abandona, em troca de uma morte mais
que certa no mar. Daí que as suas palavras sejam de incompreensão e de perplexidade, dada pelas
interrogações angustiadas que ficam no ar, sem resposta. (…)
Repare-se nas sonoridades suaves em i (vogal doce), contrastando, depois, com a dureza das
sonoridades em vogal aberta a. O mesmo discurso dorido, perplexo, interrogativo é a tónica das palavras da
Esposa, na estrofe 91. (…) Como se vê, esta Esposa interroga, queixa-se e, de certo modo, censura e acusa. A
adjectivação é extremamente expressiva: “ doce e amado esposo”; o amor é reafirmado como “ vão
contentamento” (“engano de alma ledo e cego ” se lhe chamara no episódio de Inês de Castro), “ sem quem não
quis amor que viver possa”, “afeição tão doce nossa” (veja-se a doçura destas aliterações em s).
Aquele que parte não tem o direito de o fazer, pois aventura algo que lhe não é pertença privada, “ essa
vida que é minha e não é vossa ”. Ainda no capítulo das sonoridades, repare-se nas aliterações e rima interna do
último verso: “Quereis que com as velas leve o vento? ” Trata-se de algumas das mais belas palavras de amor
jamais escritas, sobretudo tendo em conta que se trata do amor conjugal, raramente tratado na nossa tradição
lírica ocidental.
Após estes dois grandes planos, retoma-se na estrofe 92 a visão de conjunto: frágeis são os que ficam,
mães, esposas, irmãs, é certo, mas também os velhos e os meninos. A própria natureza se comove e se associa
numa dor à escala cósmica. Aos que partem só resta uma saída: partir depressa, sem o “ despedimento
costumado”.
Amélia Pinto Pais, Ensinar Os Lusíadas, 1.a ed., Areal Ed., 1997

Ler~Compreender – Tópicos de respostas (p. 225)

1.1. Seguindo o modelo das epopeias greco-latinas, a narração não começa no princípio da acção (a partida das
naus de Lisboa e início da viagem), mas já a meio da acção (in medias res): “Já no largo Oceano navegavam,”
[Canto I, est. 19].

1.2. Vasco da Gama, que é um narrador participante e subjectivo (atente-se no emprego do pronome pessoal
me, no último verso da est. 84: “Estão para seguir-me a toda a parte.”). Os alunos deverão recordar que Vasco
da Gama continua a sua narração ao rei de Melinde, a quem se dirige directamente na estrofe 87: “Certifico-te, ó
Rei,…”.

1.3. e 1.4. Este excerto d’Os Lusíadas narra-nos a partida dos marinheiros da praia do Restelo e a despedida
dos seus familiares e amigos. Dividimo-lo em três partes:
a. Introdução [est. 84-86]: localizada a acção no espaço-tempo, observamos o alvoroço geral dos últimos
preparativos para o embarque da “gente marítima e a de Marte” (marinheiros e soldados). Prontas as naus, os
nautas reúnem-se em oração na ermida de Nossa Senhora de Belém.

b. Desenvolvimento [est. 87-92] Descreve-se a “procissão solene” do Gama e seus companheiros desde o “santo
templo” (ermida) até aos batéis, pelo meio da “gente da cidade”, homens e mulheres, velhos e meninos, com
relevo especial para as mães e as esposas. Tanto os que partiam como os que ficavam se entristeciam e a
despedida assume grande emotividade. “Porque me deixas, mísera e mesquinha? Porque de mi te vas, ó filho
caro,” [est. 90, vv. 5-6].

c. Conclusão [est. 93] Refere-se ao embarque que, por vontade do Gama, se fez sem as despedidas habituais
para diminuir o sofrimento, tanto dos que partiam como dos que ficavam.

2.1. No porto de Lisboa (“E já no porto da ínclita Ulisseia”), as naus estão preparadas; no templo de Belém, que
está edificado à beira da água (“Partimo-nos assi do santo templo / Que nas praias do mar está assentado,”), os
homens prepararam as almas para a morte (rezaram).

3.1. Rezaram, implorando a Deus que os guiasse e que favorecesse o início da viagem.

3.2. “Aparelhámos a alma pera a morte, Que sempre aos nautas ante os olhos anda.” [est. 86, vv. 3-4].

4.1.
a. Os que ficam:
– “Saudosos na vista e descontentes.” [est. 88, v. 4]
– “As mulheres cum choro piadoso,
Os homens com suspiros que arrancavam.
Mães, Esposas, Irmãs, que o temeroso
Amor mais desconfia, acrecentavam
A desesperação e frio medo” [est. 89, vv. 3-7]
– “Os velhos e os mininos os seguiam,” [est. 92, v. 3]
– “A branca areia as lágrimas banhavam,” [est. 92, v. 7]

b. Os que partem:
– “Cum alvoroço nobre e cum desejo” [est. 84, v. 2]
– “e não refreia / Temor nenhum o juvenil despejo” [est. 84, vv. 5-6]
– “Nós outros, sem a vista alevantarmos” [est. 93, v. 1]

4.2. Estrofe 92, versos 5 a 8.

Tarefa:

a) Lê, atentamente, o texto lírico de Fernando Pessoa, nas páginas 225 e 226.
b) Analisa os aspectos da estrutura interna: tema tratado, sujeito a quem se dirige, particularidades
estéticas (expressões mais significativas, como por exemplo “lágrimas de Portugal”, “Tudo vale a pena /
Se a alma não é pequena” e os dois últimos versos do poema).
c) Verifica o uso de figuras de estilo e recursos estilísticos, exemplificando com passagens do texto
devidamente identificadas.
d) Estabelece uma relação da temática tratada com os factos históricos que conheces, relevando os
aspectos positivos e negativos dos Descobrimentos Marítimos.
e) Faz a análise formal do poema, ao nível das estrofes, versos e rimas (estudar rima rica e rima pobre).
f) Redige um texto final que se considere uma análise global do poema de pessoa, apresentando as
ideias progressivamente e de forma organizada.

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