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O episódio “Despedidas em Belém” d’ Os Lusíadas e “Mar Português” de Fernando Pessoa.

O poema “Mar Português” compara-se com o episódio “Despedidas em Belém” de Os


Lusíadas, pois as lágrimas de Portugal que tornaram salgados o mar, são as mesmas que os
familiares horaram perante a partida dos marinheiros para a aventura marítima.

Luís de Camões e Fernando Pessoa enalteceram os Descobrimentos portugueses e a dor, o


sofrimento e o sacrifício das pessoas envolvidas direta (marinheiros) ou indiretamente
(familiares, amigos) nesse feito.

Luís de Camões exprime estes sentimentos através da narração que Vasco da Gama faz ao rei
de Melinde. Vasco da Gama narra a partida da armada para a viagem de descoberta do
caminho marítimo para a Índia, dando particular relevo às despedidas dos navegadores
portugueses em Belém (Canto IV, est. 88-93).

Fernando Pessoa revela estes mesmos sentimentos no poema "Mar Português" , onde retrata
a ânsia do desconhecido e o esforço heroico da luta que os portugueses travaram com o mar.

Os dois textos evidenciam o grande sofrimento e a dor dos Portugueses no momento da


partida das naus:

- Luís de Camões refere o doloroso sacrifício e desespero das mães, esposas e irmãs: "Mães,
Esposas, Irmãs, que o temeroso/ Amor mais desconfia, acrescentavam/ A desesperação e frio
medo/ De já nos não tornar a ver tão cedo"(est.89, vv.5-8).

- Fernando Pessoa realça a dor das mães, dos filhos e das noivas que perderam a sua
oportunidade de constituir família: “Por te cruzarmos, quantas mães choraram/ Quantos filhos
em vão rezaram!/ Quantas noivas ficaram por casar” (vv.3-5)

Constatamos que os dois poetas evidenciam mais o sofrimento das mães e privilegiaram o
sentimento de dor dos familiares mais próximos dos nautas. Mas, os dois textos apresentam
uma diferença significativa quanto à abrangência do sofrimento, relativamente às pessoas
atingidas por esse sentimento dentro de todo um país.

Camões neste excerto considera que a dor, o sofrimento e o sacrifício afetaram somente as
pessoas da cidade de Lisboa: " Agente da cidade, aquele dia, / (Uns por amigos, outros por
parentes, / Outros por ver somente) concorria"(est.88,vv.1-3).

Já Fernando Pessoa diz que o sofrimento atingiu todas as regiões de Portugal:" Ó mar salgado,
quanto de teu sal/ São lágrimas de Portugal (vv.1- 2)

Considera as estrofes d’Os Lusíadas.


– Refere as razões que estão na origem dos sentimentos dos que partem na viagem, fundamentando a
tua resposta com elementos textuais.
- Ambiente de dor e de pessimismo (“Cheio dentro de dúvida e receio,/Que apenas nos meus olhos
ponho o freio”) provocado pela:
o   antecipação dos perigos que aqueles que partem vão enfrentar – “Em tão longo caminho e duvidoso,/Por
perdidos as gentes nos julgavam”;
o   noção do desconhecido e incerteza que aquela jornada implicaria - “Em tão longo caminho e duvidoso,/Por
perdidos as gentes nos julgavam”;
o   consciência de que a morte era o destino provável – “A desesperação e frio medo/De já não nos tornar a
ver tão cedo”.

– Refere os sentimentos dos que partem na viagem, fundamentando a tua resposta com elementos
textuais.
- Medo, dúvida, receio e dor (“Cheio dentro de dúvida e receio,/Que apenas nos meus olhos ponho o
freio”) provocado pela antecipação dos perigos que vão enfrentar – “Em tão longo caminho e
duvidoso,/Por perdidos as gentes nos julgavam”;
- Sentimento de dever a cumprir, determinação, vontade de ir, apesar da dor sentida e da consciência de
que a morte era o destino provável – “A desesperação e frio medo/De já não nos tornar a ver tão cedo”.

- Refere os sentimentos dos que ficam em terra, fundamentando a tua resposta com elementos textuais.
- Medo, dúvida, receio, dor e pessimismo (“Por perdidos as gentes nos julgavam”) provocado pela
antecipação dos perigos que os seus familiares e amigos vão enfrentar – “Em tão longo caminho e
duvidoso”;
- Desespero, já que tinham consciência de que a morte era o destino provável – “A desesperação e frio
medo/De já não nos tornar a ver tão cedo”.

Atenta no poema «Mar Português».


– Interpreta a expressividade da interrogação retórica existente na segunda estrofe.
-        Confere um carácter mais reflexivo a esta segunda parte do poema;
-        O sujeito poético questiona a validade do sofrimento passado por todos quantos ficaram e partiram na
grande empresa dos descobrimentos;
-        Consolidação da ideia de que todos os sacrifícios são justificáveis, se o objetivo que estiver na sua base
for nobre, por isso conclui «Tudo vale a pena se a alma não é pequena», querendo salientar que os
propósitos dos portugueses eram nobres e por isso, valeria a pena enfrentar todos os obstáculos
esperados.

- Explica o valor expressivo da hipérbole que inicia a primeira estrofe.


–       Salientar o sofrimento/a dor causado/a pela conquista do mar àqueles que ficavam em terra, vivendo na
incerteza do regresso dos seus entes queridos, por isso, se insinua que grande parte do sal que o mar
tem é proveniente da quantidade de lágrimas de todos os parentes e amigos que ficaram em Portugal a
rezar por aqueles que foram à descoberta do mar sem fim.
–       Reforçar o sacrifício inerente às grandes conquistas.
– Clarifica a expressividade existente na rima «deu»/«céu», tendo em conta a construção de sentidos do
poema.
-        Foi Deus quem predestinou a glória para Portugal, logo, o «céu», como representação do divino permitiu,
ou «deu», a Portugal a hipótese de alcançar o seu sonho através dos mares;
-        Deus “deu” ao mar os perigos e abismos e só quem os ultrapassasse é que poderia atingir o “céu”;
-        O mar é o espelho do céu, e os portugueses são o agente da vontade divina que desbrava o mar para dar
ao mundo novos mundos e atingir a imortalidade.
-        Demonstração que a imortalidade e a glória de Portugal surgem como vontade divina, como é dito no
«Infante» «Deus quer, o homem sonha, a obra nasce».

Exercício:
Apresenta as semelhanças e as diferenças entre as estâncias 84 a 93, canto IV, de  Os Lusíadas e o
poema «Mar Português».
-        A mesma temática: a imortalidade alcança-se com a vitória sobre o sofrimento.
-   As «lágrimas de Portugal» que tornaram salgado o Mar Português são as lágrimas choradas n’Os
Lusíadas pelas mulheres que, na praia, se despediram dos marinheiros que partiram na grande aventura
de Vasco da Gama;
-        Sofrimento dos agentes da ação, tanto dos que ficaram como dos que partiram, assim tanto sofreram os
navegadores, por saírem do seu país e do seu seio familiar, como sofreram as famílias que viam os
marinheiros partir, receosas «de não [os] tornar a ver tão cedo»;
-         Viagem era cheia de perigos, não havendo, por isso a certeza de que eles voltariam para as suas casas.
-        Os sentimentos existentes e o dramatismo necessário que se viveu naquele dia, para que fosse possível
a posterior alegria do regresso e da glória.
-        A consciência do perigo, que provoca dor e sofrimento, mas que é encarada como um meio necessário
para alcançar o sonho, é uma fase do caminho para atingir o absoluto.
-        Determinação dos navegadores que, embora estejam “[cheios] de dúvida e receio”, consideram que
“[vale] a pena” e embarcam nesta aventura.

_ O sofrimento é de todos os portugueses em “Mar Português”, enquanto que n’ Os Lusíadas


restringe-se mais a Lisboa.

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