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Escola EB 2,3 de Souselo

Língua Portuguesa 9
Maio de 2006 Os Lusíadas

Episódio de Inês de Castro


(Canto II, est. 119-137)

A Verdade Histórica Alterações resultantes da poetização

÷ O casamento do Infante D. Pedro com D. Constança de ÷ A morte de D. Inês é apresentada como o


Castela, em 1340; “assassinato” de uma inocente, um crime
÷ Inês de Castro, o “colo de garça”, pertencia a uma das hediondo;
famílias mais nobres e poderosas de Castela e era uma das ÷Não há referências à expulsão do país e à
damas que integravam o séquito de D. Constança; tensão das relações com D. Afonso IV;
÷D. Pedro apaixona-se por D. Inês; ÷ Inês é apresentada, sobretudo, como vítima de
÷ Inês torna-se madrinha do príncipe D. Fernando amor e não das razões de Estado;
estabelecendo-se, assim, laços de parentesco moral entre ela ÷ Os cavaleiros arrancam das suas espadas e
e D. Pedro, se bem que fossem já primos em segundo grau; trespassam-lhe o peito. Dir-se-ia que o coração,
÷ D. Inês é expulsa de Portugal, mas regressa depois da como grande culpado, é o primeiro a sentir o
morte de D. Constança, em 1345; castigo. Pretende Camões, também vítima do
÷ Inês e Pedro passam a viver juntos nos Paços de Santa amor, dar a Inês uma “morte nobre”, isto é, à
Clara, em Coimbra; espada e de frente para os algozes;
÷ O Príncipe é aconselhado por sua mãe e alguns fidalgos a ÷ Camões segue de perto a tradição oral e

desposar Inês, mas recusa; popular, que já havia inspirado as “Trovas à morte
÷ Nascem bastardos; de Inês de Castro”, de Garcia de Resende, e cuja

÷ D. Pedro imiscui-se na política Castelhana e os fidalgos grandeza poética, tipicamente portuguesa, saberá
aproveitar.
portugueses temem a ambição e influência da família Castro,
que podia levar ao trono português um dos filhos da ligação
ilegítima de Pedro, em detrimento do herdeiro legítimo, D.
Fernando, filho de D. Pedro e de D. Constança;
÷ O rei D. Afonso IV e seus conselheiros analisam a situação
e concluem da necessidade de matar Inês;
÷ Num dia em que D. Pedro anda à caça, D. Afonso IV chega
a Coimbra com alguns fidalgos;
÷ Sabedora das intenções do Rei, Inês vai ao seu encontro,
rodeada dos filhos, e, banhada em lágrimas, implora
misericórdia e perdão;
÷ D. Afonso IV comove-se e hesita. Pressionado pelos
conselheiros Álvaro Gonçalves, Pêro Coelho e Diogo Lopes
Pacheco, autoriza a execução de Inês;
÷ Inês é decapitada em 7 de Janeiro de 1355.
A. Considerações gerais sobre o episódio

 Narrador: Vasco da Gama

 Narratário: Rei de Melinde

 Plano em que se insere o episódio: Plano da História de Portugal

 Classificação do episódio: episódio trágico e lírico

- Trágico, porque contempla momentos característicos de uma tragédia clássica:


1. a paixão entre Pedro e Inês é um desafio ao poder real por Inês representar um perigo para o
reino;
2. a punição, a decisão de matar Inês;
3. a piedade, presente no discurso de Inês quando tenta demover o rei;
4. a catástrofe, quando se consuma a morte de Inês.

- Lírico, porque o narrador interpela o amor acusando-o de ser o responsável pela


tragédia, expressando ao longo de todo o episódio a inconformidade do “eu” poético, bem como a
repulsa pela morte trágica de Inês, que compara à morte da natureza.

B. Estrutura do episódio

1. Considerações iniciais do narrador (est. 118-119)

Vasco da Gama relata ao rei de Melinde o episódio trágico de Inês de Castro, cujo
responsável é o Amor, causador da morte de Inês.

2. Felicidade de Inês (est. 120-121)

Inês vivia tranquilamente nos campos do Mondego, rodeada por uma natureza alegre e
amena, recordando a felicidade vivida com D. Pedro, seu amor.
O narrador, no entanto, vai introduzindo indícios de que essa felicidade não será duradoura
e terá um fim cruel:
• “Naquele engano da alma, ledo e cego” (est. 120, v.3)
• “Que a Fortuna não deixa durar muito” (est. 120, v. 4)
• “De noite, em doces sonhos que mentiam” (est. 121, v.5)

3. Condenação de Inês (est. 122-125)

D. Afonso IV, vendo que não conseguia casar o filho em conformidade com as
necessidades do Reino, decide pela morte de Inês.
Os algozes trazem-na perante o rei.
O rei vacila, apiedado, mas as razões do reino levam-no a prosseguir.
4. Discurso de Inês (est. 126-129)

Inês inicia a sua defesa, apelando à piedade do rei através:


• do exemplo das feras e aves de rapina, que se humanizaram ao cuidarem de crianças
indefesas:
- “Se já nas brutas feras” (est. 126, v.5)
- “Com pequenas crianças viu a gente” (est. 126, v.5)
- “Terem tão piadoso sentimento” (est. 126, v.6)
• da afirmação da sua inocência;
• do respeito devido aos seus filhos, netos do monarca;
• do apelo ao desterro.

5. Sentença e execução da morte (est. 130-132)

O rei mostra-se sensibilizado mas, uma vez mais, as razões do reino e os murmúrios do
Povo são mais fortes e a sua determinação mantém-se.
Inês é executada.

6. Considerações finais do narrador (est. 133-135)

O narrador compara esta atitude a outras conhecidas atrocidades.


Repudia a morte de Inês, que compara à da própria natureza.
As lágrimas das ninfas do Mondego fazem nascer a Fonte dos Amores, eternizando esta
tragédia.

7. Vingança de D. Pedro (est. 136-137)

Quando sobe ao trono, D. Pedro concretiza a vingança, mandando matar os carrascos de


Inês.

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