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Os Lusíadas e

Auto da Barca do Inferno

Índice
Os Lusíadas ..................................................................................................................................... 2
Auto da Barca do Inferno ............................................................................................ 10

Na versão do aluno, os Resumos: Os Lusíadas e Auto da Barca do Inferno


serão incluídos no final do manual.
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Resumos

Os Lusíadas
Proposição
Canto I, estâncias 1 a 3 Manual, p. 95

Estrutura interna

Proposição

Às três estâncias iniciais d’ Os Lusíadas dá-se o nome de Proposição, porque nelas o

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poeta expõe o assunto que se propõe “cantar” ou narrar na sua obra, proclamando ao
mundo (“Cantando espalharei por toda parte”) os feitos gloriosos d’ “o peito ilustre Lusi-
tano”, isto é, do povo português.
O objeto ou assunto do canto é abrangente. São referidos primeiramente “As armas e os
barões assinalados” (homens nobres, de armas), que rasgaram mares antes desconhecidos.
Aqui se esboça o plano da Viagem. Depois, referem-se “as memórias gloriosas/Daqueles
Reis”, que expandiram a fé cristã e o Império Português no mundo, aflorando, assim, o plano
da História de Portugal. Não são esquecidos, também, todos aqueles que são dignos de
recordação devido às suas obras. Em síntese, trata-se d’ “o peito ilustre Lusitano”. Portanto,
em vez de um herói individual, são sobretudo um povo e a sua história que são exaltados:
o povo português e a História de Portugal. Daí dizer-se que o herói de Os Lusíadas é coletivo.
Na estância 3, o poeta equipara a sua obra às grandes epopeias da Antiguidade (Odis-
seia e Eneida). E não hesita em superiorizar o seu canto à “Musa antiga” (poesia greco-ro-
mana), pois os heróis portugueses excederam os antigos, nomeadamente, Ulisses e Eneias,
Alexandre Magno e Trajano. De tal maneira que até os deuses do mar (Neptuno) e da guerra
(Marte) se curvaram perante os portugueses (“que eu canto o peito ilustre Lusitano,/A
quem Neptuno e Marte obedeceram.”), anunciando assim, logo na Proposição, a presença
do plano da Mitologia na sua obra.

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Os Lusíadas

Episódio do Consílio dos Deuses


Canto I, estâncias 19 a 41 Manual, p. 100

Estrutura interna Plano narrativo Tipo de episódio

Plano da viagem
Narração Mitológico
e plano mitológico

Neste episódio, já a frota de Vasco da Gama se encontra em alto-mar


(est. 19), quando os deuses do Olimpo se reúnem para decidir se ajudarão ou
não os portugueses a chegar a Índia. Mal se inicia o relato da viagem, as
divindades olímpicas reúnem-se em Consílio, entrelaçando-se, assim, os
planos da viagem e da mitologia. Júpiter, o pai dos deuses, convoca, através
de Mercúrio, os deuses para irem ao Olimpo (est. 20). Estes acorrem de todas
as partes e sentam-se segundo critérios hierárquicos de Razão e de Ordem:
os mais velhos e honrados acima e abaixo os mais novos (est. 21 a 23).
Júpiter, tomando a palavra (est. 24 a 29), refere a intenção dos Fados, ou
seja, do destino, que determina que o valor dos lusos suplantará o dos
povos antigos; lembra as proezas lusas contra Mouros e Castelhanos e a
fama de Viriato e Sertório; considera que os nautas de Vasco da Gama, que
já passaram por muitos perigos durante a viagem, merecem chegar à costa
africana.
Os deuses diferem nas suas opiniões e Baco, deus do vinho, manifesta-
-se contra a chegada dos portugueses à Índia por temer, tendo êxito a
viagem, que o seu culto lá se apague (est. 30 a 32).
Pelo contrário, Vénus, deusa do amor, advoga a favor dos portugueses,
visto que estes encarnam as qualidades do seu amado povo romano, além
de falarem uma língua muito próxima da língua latina (est. 33 e 34).
Levanta-se uma grande discussão na assembleia dos deuses (est. 34 e 35):
Marte, deus da guerra, interfere, tomando o partido de Vénus, ou por se
recordar do seu amor antigo pela deusa ou por ter apreço por um povo
guerreiro (marcial) como o português. Salienta no seu discurso que Baco é
movido pela inveja e que Júpiter revelaria fraqueza se voltasse atrás na
decisão que já tinha tomado (est. 36 a 40).
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Júpiter termina a reunião, após decidir ajudar os portugueses na sua


viagem até à Índia, e os deuses regressam, pela Via Láctea, aos seus apo-
sentos (est. 41).

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Resumos

Episódio de Inês de Castro


Canto III, estâncias 118 a 135 Manual, p. 108

Estrutura interna Plano narrativo Tipo de episódio

Narração História de Portugal Lírico

O poeta começa por referir, na estância 118, que o “caso triste” que vai relatar aconteceu

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após a vitória de D. Afonso IV na batalha do Salado, aquando do seu regresso a Portugal.
Trata-se da morte de D. Inês de Castro, fidalga que foi coroada rainha após a sua morte.
Refletindo sobre este caso (est. 119), o poeta salienta a culpa que o Amor teve no trágico
acontecimento: personificando este sentimento, caracteriza-o como uma entidade cruel,
que se alimenta das lágrimas e do sofrimento dos que amam. Nas estâncias 120 e 121, é
feita a descrição de Inês de Castro e da sua relação com D. Pedro: Inês é uma jovem bela,
serena, que vive feliz com o amor que sente por D. Pedro, mas ingénua, pois tinha a ilusão
de que a relação entre ambos era possível.
A Natureza é apresentada pelo poeta como testemunha e cúmplice desta felicidade.
Na estância 122, demonstra-se que o amor por Inês é tão intenso, que D. Pedro rejeita
todas as “belas senhoras e Princesas”. Estas atitudes preocupam D. Afonso IV que, influen-
ciado pelos rumores do povo, manda matar Inês (est. 123), acreditando que esta é a única
forma de libertar o seu filho da influência da fidalga. O poeta manifesta a sua indignação
através de uma interrogação: como é possível que a mesma espada que se ergueu contra
os Mouros seja agora usada contra uma “fraca dama delicada”? Inês é levada pelos carras-
cos à presença do Rei (est. 124), que se mostra piedoso, mas vulnerável à feroz opinião do
povo. Mais do que preocupada ou infeliz com a sua morte, Inês sente mágoa por deixar
D. Pedro e os filhos. Assim (est. 125), chorando, implora perante D. Afonso IV, tentando
demovê-lo da sua cruel decisão. Para reforçar o seu apelo, argumenta dizendo que até os
animais selvagens mostram piedade pelas crianças (est. 126), tentando demonstrar-lhe que
não é humano mandar matar uma donzela fraca só por esta se ter apaixonado; apela ainda
à piedade pelos seus filhos, que são também netos do rei (est. 127). Pede-lhe clemência para
que este lhe poupe a vida (est. 128) e, em desespero, implora pelo desterro, para, pelo menos,
poder cuidar dos seus filhos (est. 129).
Depois de a ouvir, o rei quer perdoá-la, mas o povo convence-o de que o casamento de
Pedro e Inês poderá representar um perigo para a independência de Portugal, e Inês é
assassinada (est. 130). O narrador revela a sua revolta ao comparar a morte de Inês com a da
princesa Policena, vítima da ira de Pirro e sacrificada de forma cruel e impiedosa (est. 131-132),
e ao referir a terrível vingança preparada por Atreu para castigar o seu irmão Tiestes (est.
133). Também a Natureza manifesta piedade pela morte de Inês: os vales ecoam as suas
últimas palavras (est. 133), Inês é comparada com uma flor cortada antes do tempo (est. 134) e
as ninfas do Mondego choram de tal forma que as suas lágrimas deram origem à Fonte dos
Amores (est. 135).

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Os Lusíadas

Episódio das Despedidas em Belém


Canto IV, estâncias 84 a 93 Manual, p. 116

Estrutura interna Plano narrativo Tipo de episódio

Narração Plano da viagem Lírico

Vasco da Gama contou a História de Portugal ao rei de Melinde. Nas estâncias 84 a 93,
narrou o momento da partida para a sua viagem até Calecut, na Índia. Assim, o narrador
deste episódio apresenta informação sobre os preparativos desta expedição (est. 84 e 85) e
revela como os marinheiros e soldados (“a gente marítima e a de Marte”) estão seguros (“e
não refreia/Temor nenhum o juvenil despejo”) na sua decisão de seguir o Mestre (“Estão
pera seguir-me a toda a parte.”) nesta viagem que prometia ser gloriosa (“fortes naus […]
prometem/[…] De ser no Olimpo estrelas”). Na praia, juntou-se uma multidão (“gente da ci-
dade”) que observava a procissão dos nautas e dos soldados cada um com o seu colorido
traje (“Pelas praias vestidos os soldados/De várias cores vem”). Depois os navegadores
prepararam a alma ouvindo missa na Ermida de Nossa Senhora de Belém (“Aparelhámos a
alma pera a morte”) e, assim, pedindo proteção ao “sumo Poder”, as naus estavam prepara-
das para a partida (est. 86 e 87). No entanto, Vasco da Gama estava temeroso (“Cheio dentro
de dúvida e receio”). Nas estâncias 88 a 92, a multidão,
que observava os marinheiros e soldados a enca-
minharem-se para os batéis na companhia de
mil religiosos diligentes, também estava cons-
ternada (“Saudosos na vista e desconten-
tes.”). As mulheres, representadas por uma
mãe e uma esposa, expressavam o seu
receio e choravam (“cum choro piadoso”)
pelo risco de nunca mais verem os familia-
res que agora partiam (est. 90 e 91). A par
com a multidão, também a Natureza se
mostrava compadecida (est. 92).
Vasco da Gama determinou que não
deveriam fazer as habituais despedidas
(est. 93), já que seriam não só difíceis para
quem fica como também para quem
parte, intensificando a dor e podendo
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levar a desistências (“Por nos não ma-


goarmos, ou mudarmos/Do propósito
firme começado”).

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Resumos

Episódio do Adamastor
Canto V, estâncias 37 a 60 Manual, p. 123

Estrutura interna Plano narrativo Tipo de episódio

Plano da viagem
Narração Simbólico
e plano mitológico

Nas estâncias 37 e 38, são apresentadas as circunstâncias que antecedem o apareci-

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mento do Gigante Adamastor: a viagem decorria tranquilamente e os marinheiros estavam
despreocupados, quando surge, de repente, uma nuvem “que os ares escurece” (est. 37) e
que anuncia a aproximação de uma tempestade. Vasco da Gama suspeita que se aproxima
“ameaço divino” (est. 38), ou seja, algo desconhecido, secreto, que deixa os marinheiros ater-
rorizados: “pôs nos corações um grande medo” (est. 38). Nas estâncias 39 e 40, aparece o
gigante e é feita a sua descrição: de uma estatura de tal forma enorme, que o poeta o com-
para ao Colosso de Rodes (estátua gigantesca de Apolo), com uma barba desgrenhada, os
olhos encovados, os cabelos crespos e cheios de terra, os dentes amarelos, com um carác-
ter implacável e assustador e um tom de voz “horrendo e grosso” (est. 40). Nas estâncias 41 a
48, é apresentado o primeiro discurso do Adamastor, em que este elogia a coragem e a
ousadia dos portugueses, apelidando-os de “gente ousada” (est. 41), mas, como consequên-
cia disso, profetiza que sofrerão terríveis castigos ao tentarem dobrar o Cabo das
Tormentas: tempestades, naufrágios e a morte de figuras como Bartolomeu
Dias, D. Francisco de Almeida e Manuel Sepúlveda e sua família.
Nas estâncias 49 a 59, Vasco da Gama interpela o Gigante (“Quem
és tu?”) e aí o Adamastor faz o seu segundo discurso; agora, com
um tom de mágoa e dor, o gigante conta a sua trágica história
de amor a Vasco da Gama. Revela ser o Cabo das Tormentas
(“Eu sou aquele oculto e grande Cabo”) e que, no passado,
fora um titã, um gigante que se rebelara contra os Deuses,
chefiando a marinha titânica contra a armada de Júpiter devido
à sua paixão por Tétis. Sabendo que a sua monstruosidade não
seduziria a ninfa, tentou conquistá-la pela força (“Determinei por
armas de tomá-la,”), mas foi enganado. Como castigo pela guerra
contra Júpiter, foi transformado num penedo pelos deuses.
Acentuando a sua infelicidade, está o facto de Tétis se passear
nas águas que o circundam: “Me anda Thetis cercando
destas águas.” (est. 59). Na estância 60, o gigante desapa-
rece e Gama pede a Deus que impeça a concretização
das profecias do Adamastor: “A Deus pedi que remo-
vesse os duros/Casos, que Adamastor contou futu-
ros”.

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Os Lusíadas

Episódio da Tempestade
Canto VI, estâncias 70 a 94 Manual, p. 131

Estrutura interna Plano narrativo Tipo de episódio

Plano da viagem
Narração Naturalista
e plano mitológico

Antes deste episódio, Baco apercebe-se de que os Lusos estão praticamente a chegar
ao seu destino. Então, convence as divindades marinhas, com a ajuda do deus dos ventos,
Éolo, a provocar uma tempestade que os impeça de atingir a Índia.
Na estância 70, Vasco da Gama repara no aparecimento de uma “nuvem negra” e na
intensificação dos ventos. Por isso, alerta os marinheiros para o perigo. Apesar da deso-
rientação, todos se apressaram para os seus postos, tendo especial atenção ao recolher
das velas. Nas estâncias 72 a 79, é-nos descrita a violência da tempestade: uma das velas
rasga-se, uma nau fica inundada (“a nau pendente/Toma […] água pelo bordo”), os marinhei-
ros são derrubados e um mastro parte-se. Ouvem-se os gritos de pânico dos marinheiros
perante a força dos elementos. O narrador, numa gradação crescente, descreve-nos a
intensidade da tempestade que aumenta cada vez mais. Há ventos furiosos, ondas gigan-
tescas (“Agora sobre as nuvens os subiam/As ondas de Neptuno furibundo/Agora a ver
parece que deciam/As íntimas entranhas do Profundo”), relâmpagos e trovões. Perante
a incapacidade de controlar os navios e a possibilidade de naufrágio, invocam Deus na
expectativa de proteção divina. A procela atinge uma tal gravidade que também afeta os
animais que viviam junto à costa, nomeadamente as aves que, entristecidas, fogem e os
golfinhos que se escondem nas covas do mar. As consequências na natureza envolvente
também são destruidoras: os montes são derrubados, as árvores são arrancadas pela raiz e
as areias do fundo do mar vêm à tona.
Neste cenário, nas estâncias 80 a 84, Vasco da Gama dirige uma súplica a Deus (“Divina
Guarda”) utilizando vários argumentos. O primeiro destaca o poder imenso de Deus que já
salvara outros homens de grandes dificuldades (Hebreus, São Paulo e Noé). O segundo
argumento sublinha que a missão tem como objetivo difundir a fé cristã. Por último, e em
terceiro lugar, louva os que afortunadamente morreram a defender a fé e pede que Deus
não os desampare, dado que só pretendem servi-Lo (“Teu serviço só pretende”). Lamenta,
ainda, não ter morrido a lutar no Norte de África, onde a morte lhe teria trazido honra e, até,
reconhecimento. A tempestade, todavia, não se apazigua, pelo contrário, agrava-se (os
ventos “como touros indómitos” e os relâmpagos “medonhos”).
Porém, nas estâncias 85 a 91, não é Deus quem acorre em sua salvação, mas Vénus,
deusa do amor e protetora dos portugueses, que, observando a aflição dos Lusos, envia as
Ninfas marinhas em seu socorro. Ordena-lhes que se embelezem e acalmem os ventos.
(“Abrandar determina, por amores,/Dos ventos a nojosa companhia,/Mostrando-lhe as
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amadas Ninfas belas”). E, assim, a tempestade termina. Conclui-se que esta foi uma vitória
da coragem humana sobre as forças da Natureza e, também, o triunfo do Amor (represen-
tado por Vénus e pelas Ninfas) sobre o ódio e a inveja (representados por Baco).

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Resumos

Nas estâncias 92 a 94, finda a tempestade, cedo pela manhã, o piloto melindano avista

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terra. Gama, numa mistura de emoções, tanto pelo sofrimento passado, como pela alegria
do avistamento de Calecut, ajoelha-se e agradece a Deus não terem naufragado e terem
conseguido concretizar o seu projeto (“Os geolhos no chão, as mãos ao Céu,/A mercê
grande a Deus agradeceo”).
Este episódio é marcado pelo realismo descritivo, enfatizado pelas sensações auditivas
(o apito, os gritos, os ruídos da Natureza e da destruição das naus) e cinéticas (movimento
das naus e dos marinheiros).

Episódio da Ilha dos Amores


Canto IX, estâncias 18 a 29 Manual, p. 139

Estrutura interna Plano narrativo Tipo de episódio

Narração Plano mitológico Simbólico

Nas estâncias 18 a 20, é apresentada a decisão de Vénus: por ordem de Júpiter, pre-
tende recompensar os portugueses por todas as dificuldades que passaram. Nas estân-
cias 21 e 22, decide preparar uma ilha paradisíaca para os portugueses descansarem e
terem momentos de diversão, como prémio pelas provações passadas. No plano delineado
pela deusa, as ninfas do mar, “aquáticas donzelas” (est. 22), escolhidas entre as mais belas e
mais devotas (“Todas as que tem título de belas,/Glória dos olhos, dor dos corações”), rece-
beriam os portugueses, recompensando-os com a sua beleza, as suas danças e o seu amor.
Nas estâncias 23 e 24, para cumprir o seu objetivo, Vénus pede o auxílio do seu filho Cupido,
que em tempos já a tinha ajudado, levando Dido a apaixonar-se por Eneias: “Que, assi como
naquela empresa antiga/A ajudou já, nestrouta a ajude e siga” (est. 23). Na estância 24, per-
cebe-se que o plano de Vénus estava a ser cumprido: “No ar lascivos beijos se vão dando”.
Nas estâncias 25 a 29, Cupido pretende “fazer hũa famosa expedição/Contra o mundo
revelde” (est. 25), com o objetivo de castigar algumas atitudes dos homens, visto que “estão,/
Amando coisas que nos foram dadas,/Não pera ser amadas, mas usadas” (est. 25). Cupido
pretende castigar quem não sabe amar “a bela forma humana” (est. 26); quem se ama
apenas a si próprio (“Vê neles que não tem amor a mais”); quem é adulador (“Vendem
adulação, que mal consente”); quem ama as riquezas e não se interessa pela justiça e pela
integridade (“Amam somente mandos e riqueza,/Simulando justiça e integridade.”); quem é

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Os Lusíadas

tirano e ambicioso (“Da feia tirania e de aspereza/Fazem direito e vã severidade.”); e quem


concorda com as leis que favorecem o rei e prejudicam o povo (“Leis em favor do Rei se es-
tabelecem;/As em favor do povo só perecem.”). Critica, assim, a sociedade, dirigindo-se aos
homens do poder, ao clero e aos palacianos bajuladores. Considera que é um erro não se
amar o que merece ser verdadeiramente amado: “ninguém ama o que deve” (est. 29).

Chegada a Portugal e epílogo


Canto X, estâncias 142 a 146; 154 a 156 Manual, p. 146

Estrutura interna Plano narrativo

Plano da viagem
Narração
e plano mitológico

A ninfa Tétis avisa os portugueses de que já podem partir (“Podeis vos embarcar”,
est. 143) rumo à pátria. Alegremente, enchem o barco com provisões e levam também a lem-
brança do tempo que passaram com as ninfas. Com o mar sereno e o vento de feição, che-
gam à foz do rio Tejo.
O poeta, então, lamenta-se à Musa Calíope (personificação da poesia épica), confes-
sando-lhe que se sente cansado, não pelo canto em si, mas devido ao facto de os destina-
tários do seu poema, a “gente surda e endurecida”, habitarem numa “pátria” dominada pela
“cobiça” e pela “tristeza”.
Porém, logo na estância seguinte (est. 146), o poeta supera o desânimo, interpelando o
rei, D. Sebastião (“Por isso vós, ó Rei,”), para que veja que é “Senhor só de vassalos excelen-
tes”. Nas estâncias 154 a 156, o poeta autocaracteriza-se, primeiramente, como “humilde,
baxo e rudo”, exclamando que a sua mensagem é digna de apreço, pois a sinceridade é
própria dos humildes (“Da boca dos pequenos”), mas logo salienta a particularidade de se
conjugarem nele o “honesto estudo”, a “longa esperiencia” e o “engenho”. É um homem de
armas, “braço às armas feito”, como aqueles barões assinalados no primeiro verso d’ Os
Lusíadas, ao mesmo tempo que é um poeta eminente (“mente às Musas dada”). Com tal
“virtude”, com tais méritos, falta ao poeta ser reconhecido por D. Sebastião. A ser assim, a
Musa do poeta “já estimada e leda”, isto é, valorizada e perene, conseguirá celebrar os fei-
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tos previsíveis do rei no território de Marrocos, designadamente, “o monte Atlante”, os


“campos de Ampelusa” e “Trudante”. Comparado aos heróis da Antiguidade, o rei portu-
guês ver-se-á semelhante a Alexandre Magno, mas sem ter, como este, inveja de Aquiles.

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Resumos

Auto da Barca do Inferno


Introdução Manual, p. 163

O Auto da Barca do Inferno, escrito por Gil Vicente, é um “Auto de Moralidade” (l. 1), pois

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pretende criticar os hábitos, vícios e costumes da sociedade da época. Esta peça foi enco-
mendada pela rainha D. Leonor para ser representada na presença de D. Manuel.
A ação decorre num cais, onde se apresentam duas barcas: uma com destino ao
Inferno, governada pelo Diabo e o seu Companheiro; e outra ao Paraíso, governada pelo
Anjo. Cada personagem acabada de falecer (“no ponto que acabamos de espirar”), ora entra
na barca do Inferno, se praticou o Mal, ora entra na barca da Glória, se praticou o Bem.

Anjo, Diabo e Companheiro Manual, p. 164

A peça inicia-se com o Diabo e o Companheiro a dialogarem. Estes preparam a embar-


cação para a chegada dos tripulantes. Para aliciar as almas, o Diabo apregoa a entrada na
sua barca: “À barca, à barca, houlá!/que temos gentil maré!” (vv. 1-2). Frenético e ansioso, dá
ordens ao seu Companheiro para que a barca fique, rapidamente, pronta para o embarque
das almas e para a partida rumo ao Inferno (“atesa aquele palanco/e despeja aquele
banco”, vv. 6-7) e este executa-as com rapidez e entusiasmo (“Feito, feito!” e “Oh-oh, caça!
Oh-oh, iça! iça!”). O Diabo pede-lhe ainda que coloque as bandeiras na barca, assinalando
o ambiente festivo que ali se vivia: “Põe bandeiras, que é festa.” (v. 21).

Fidalgo Manual, p. 167

Classe social: Percurso cénico:


Nobreza Barca do Inferno
Barca da Glória
Elementos cénicos:
Barca do Inferno
Manto, cadeira, pajem

O Fidalgo (D. Anrique) é um elemento da Nobreza, que entra em cena vestido com um
manto, uma cadeira de espaldas e um pajem, elementos que representam a sua classe
social, e também os seus pecados, nomeadamente a sua vaidade e arrogância, a explora-
ção dos mais fracos (facilitada pelo seu estatuto social) e o autoritarismo que exerceu em
vida. É acusado pelo Diabo de ser tirano e vaidoso. O Fidalgo defende-se com o argumento
de que deixara na terra quem rezasse por ele. Também é acusado de ser um falso religioso,
porque o seu comportamento revela uma vida de prazer e de infidelidade.
O Anjo acusa igualmente o Fidalgo de ser um tirano e opressor dos mais fracos e desfa-
vorecidos. D. Anrique pensava que, por ser de uma classe social elevada, da Nobreza, teria
acesso direto à barca do Paraíso.
Depois de passar pela barca infernal e pela do Anjo, regressa à do Diabo, onde, final-
mente, embarca.

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Auto da Barca do Inferno

Onzeneiro Manual, p. 173

Profissão: Elemento cénico:


Onzeneiro (Aquele que Bolsão
emprestava dinheiro a
juros de 11%) Percurso cénico:
Barca do Inferno
Classe social: Barca da Glória
Burguesia Barca do Inferno

O Onzeneiro era um usurário, que emprestava dinheiro a onze por cento (a onzena).
O Diabo recebe-o como se ele fosse seu parente. O seu traço característico (não é a “bolsa”,
o seu elemento cénico, mas o “bolsão” – note-se o grau aumentativo) é a crença no poder
ilimitado do dinheiro, que persiste até ao fim. A morte surpreende-o em plena azáfama do
“apanhar”, o que lhe vale o dito irónico do Diabo (“Ora mui muito m’espanto/nom vos livrar
o dinheiro!”, vv. 188-189). Ou seja, afinal, o dinheiro não o livrou da morte. Apesar de o Anjo
declarar amaldiçoada a “onzena”, o Onzeneiro quer ainda regressar ao mundo terreno para
trazer umas moedas, com o objetivo de corromper o próprio Anjo. Este diz-lhe ainda que o
bolsão, apesar de agora vazio, tinha contaminado de cobiça, irremediavelmente, o seu
coração. A contragosto, lá entra na barca do Inferno, onde encontra o Fidalgo.

Parvo Manual, p. 178

Classe social: Percurso cénico:


Povo / Pobres de espírito Barca do Inferno
Barca da Glória
Elementos cénicos:
Não apresenta

O Parvo (Joane) era um homem simples, pobre de espírito, que, chegado ao cais, se
aproxima da barca do Inferno e pergunta se aquela é a barca dos tolos. Assim, na sua apre-
sentação destaca-se, desde logo, a sua simplicidade. Mal o Diabo o convida a entrar na sua
barca, o Parvo começa a falar de forma eufórica e desarticulada, dizendo por que motivo
morreu. O Diabo reitera o seu convite, mas, ao saber que o destino era o Inferno, o Parvo
responde-lhe despropositadamente, insultando-o.
Depois deste momento cómico, o Parvo dirige-se à barca do Paraíso e pergunta ao Anjo
se ele o quer levar na sua barca. O Anjo pergunta-lhe quem é ele e, perante a simplicidade
da resposta do Parvo (“Samica alguém.”, v. 298), o Anjo diz-lhe que ele poderá entrar na
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barca, pois os erros que cometeu não foram causados por malícia, mas por pobreza de
espírito. Contudo, o Anjo convida-o a aguardar no cais para ver se, entretanto, chegarão
mais almas merecedoras de entrar na barca do Paraíso.

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Resumos

Com a manutenção desta personagem no cais, Gil Vicente tem como objetivo utilizá-lo

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para fazer muitas críticas, que, de outra forma, não poderiam ser feitas, a outras persona-
gens, como o Judeu ou o Frade.

Sapateiro Manual, p. 183

Profissão: Elementos cénicos:


Sapateiro Formas e um avental

Classe social: Percurso cénico:


Povo / Artesãos Barca do Inferno
Barca da Glória
Barca do Inferno

O Sapateiro entra em cena com um avental e com formas de madeira, materiais


próprios da profissão e, simultaneamente, adereços cénicos que representam o peso dos
pecados que foi acumulando ao longo dos anos. É uma personagem-tipo que representa
os artesãos e que se defende invocando o seu respeito pelos preceitos religiosos, na
medida em que assistiu a missas, deu esmolas, rezou pelos mortos e se confessou e
comungou antes de morrer.
O Diabo acusa-o de mentir e de ser ladrão, já que cobrava dinheiro a mais pelos servi-
ços que prestava, e acusa-o, também, de um ser um falso religioso.
João Antão argumenta, junto do Anjo, que as suas formas ocupariam pouco espaço,
mas o Anjo aponta os pecados do Sapateiro como impedimento para sua entrada na barca
do Paraíso. O Sapateiro pergunta-lhe, usando um trocadilho, se irá ser “cozido” no Inferno e
o Anjo envia-o para a barca do Diabo. Assim, apesar de o Sapateiro já ter dialogado com o
Diabo e ter tentado entrar na barca do Anjo, termina na barca do Inferno, onde já se encon-
travam o Fidalgo e o Onzeneiro.

Frade Manual, p. 189

Profissão: Elementos cénicos:


Frade Moça, broquel (escudo),
espada, casco (capacete)
Classe social:
Clero Percurso cénico:
Barca do Inferno
Barca da Glória
Barca do Inferno

O Frade, elemento do Clero, entra em cena de mão dada com a sua amante. Faz-se
acompanhar de um broquel (escudo), uma espada e um casco (capacete), os seus símbo-
los cénicos, e apresenta-se ao Diabo como cortesão: “Deo Gratias! Sou cortesão.” (v. 372).

12
Auto da Barca do Inferno

O Diabo pergunta-lhe se no convento não o censuravam pela sua relação com a Moça,
“E não vos punham lá grosa/no vosso convento santo?” (vv. 381-382), ao que o Frade responde
que os outros elementos do Clero também tinham amantes: “E eles fazem outro tanto!”
(v. 383). Assim, é acusado pelo Diabo de levar uma vida mundana, ser namoradeiro, desres-
peitar o voto de castidade, gostar de dançar, cantar e esgrimir. O Frade, que exibe orgulho-
samente a sua vida mundana, defende-se, pois acredita que o facto de pertencer ao Clero,
usar hábito (“E est’hábito no me val?”, v. 390) e rezar muitos salmos (“se há um frade de
perder,/com tanto salmo rezado?”, vv. 411-412) deveria garantir-lhe um lugar no Céu.
Entretanto, o Diabo convida o Frade a dar uma aula de esgrima: “Dê Vossa Reverência
lição/d’esgrima, que é cousa boa!” (vv. 423-424). Finalizada esta lição, o Frade dirige-se à barca
da Glória e questiona o Anjo se há lá lugar para ele e para a sua amante: “Deo gratias! Há
lugar cá pera minha reverença?” (vv. 461-462). Sendo membro do Clero e tendo, portanto, a
obrigação de dar o exemplo, os pecados do Frade assumem uma gravidade acrescida,
razão pela qual o Anjo nem sequer lhe dirige a palavra, acabando por ser o Parvo a mandá-
-lo embora: “Andar, muitieramá!” (v. 465).
O Frade resigna-se e entra na barca do Diabo com Florença.

Alcoviteira Manual, p. 195

Profissão: Elementos cénicos:


Alcoviteira (Aquela que Moças, 600 virgos postiços,
promovia a prostituição) joias e vestidos roubados,
casa movediça, dois coxins,
Classe social:
estrado de cortiça
Povo
Percurso cénico:
Barca do Inferno
Barca da Glória
Barca do Inferno

A Alcoviteira (Brísida Vaz) salienta-se pelo descaramento, ao revelar largamente pe-


rante o Diabo os artifícios do seu ofício de prostituição e feitiçaria (o seu elemento cénico
é o “muito fato”, v. 487), não escondendo que vendia “moças” (raparigas do povo) e criava
“meninas” (raparigas burguesas) para os Cónegos da Sé (crítica ao Clero) e ao considerar-
-se uma mártir, comparando-se aos anjos e apóstolos (“E eu sou apostolada,/angelada e
martelada”, vv 530-531). Tal inversão do discurso religioso continua diante do Anjo, compa-
rando, inclusivamente, o seu recrutamento de moças ao de Santa Úrsula, e culminando
com a tentativa de seduzir o próprio Anjo (“anjo de Deos, minha rosa?”, “olho de perlinhas
finas”), como se estivesse a seduzir um qualquer homem terreno.
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O Anjo envia-a rapidamente para a barca do Inferno, onde é recebida com ironia pelo
Diabo.

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Resumos

Judeu Manual, p. 199

PCH9 © Porto Editora


Classe social: Percurso cénico:
Judeus Barca do Inferno
Barca da Glória
Elemento cénico:
Barca do Inferno
Bode

Trazendo um bode às costas, símbolo da sua religião, o Judeu, ao contrário das outras
personagens, dirige-se de imediato à barca do Inferno e pede ao Diabo que o embarque no
seu batel. Esta situação explica-se pelo facto de, à época, os cristãos-novos (judeus) não
serem aceites na sociedade. Por isso, também ao contrário do que acontece com as outras
personagens, o Diabo não revela interesse em embarcá-lo – para se livrar dele, chega até a
sugerir que ele tente entrar na barca do Anjo, pois está mais vazia. Perante as recusas do
arrais do Inferno, o Judeu até oferece dinheiro para que o Diabo o deixe embarcar com o
bode, símbolo que representa o apego à sua religião. Contudo, o Diabo não cede, dizendo-
-lhe que não permitirá a entrada do bode no seu batel. O Judeu, indignado, não compreende
como é possível que não haja lugar para ele numa barca onde vai a Alcoviteira. Por isso,
pergunta ao Fidalgo, que também já está na barca, se ele o deixa entrar, dando a entender
que é o Fidalgo quem manda na embarcação, o que deixa o Diabo ainda mais furioso.
Depois disto, o Judeu insulta o arrais, recorrendo a uma linguagem grosseira.
Entretanto, dirige-se à barca do Paraíso onde é recebido por Joane que, mais uma vez,
desempenha o papel de acusador, substituindo-se ao Anjo, que nem sequer intervém.
É então acusado de roubo e de não cumprir os preceitos religiosos (profanação de sepultu-
ras, comer carne em dias de jejum, etc.). Perante estas acusações, o Judeu volta à barca do
Inferno e o Diabo diz-lhe que só o deixará ir a reboque da barca, levando o bode pela trela,
o que coloca esta personagem num plano inferior ao de todos os outros condenados.

Corregedor e Procurador Manual, pp. 204 e 206

Profissão: Profissão:
Corregedor Procurador
(Juiz) (Advogado)

Classe social: Classe social:


Oficial de justiça Oficial de justiça

Elementos cénicos: Elementos cénicos:


Vara, feitos Livros de Direito

Percurso cénico: Barca do Inferno Barca da Glória Barca do Inferno

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Auto da Barca do Inferno

O Corregedor e o Procurador eram oficiais da justiça corruptos. O Diabo apelida logo o


Corregedor de “amador de perdiz” (v. 607), isto é, de se deixar corromper com ofertas de
perdizes. O espírito de grupo é demonstrado pelas cortesias recíprocas (cf. vv. 677, 678).
O Corregedor, na confrontação com o Diabo, procura em vão um colega – o “meirinho do
mar” (v. 631). Daqui se percebe que é todo um grupo, o da magistratura, que está em causa.
Ambos alegam, em sua defesa, a formalidade da lei, pronunciando sentenças em latim
(a linguagem jurídica da época) o que pode ser visto como uma forma de demonstrarem
sabedoria, erudição, e de acentuar a sua presunção. Por troça e com ironia, o Diabo utiliza
um latim macarrónico com ambos e, diante do batel da Glória, também Joane, o Parvo,
recorre a esse processo de cómico. De notar que, atormentado pelas acusações, o Corre-
gedor transfere a sua culpa para a mulher (cf. 657, 658). Os símbolos cénicos do Corregedor e
do Procurador – os “feitos” (processos judiciais) e os “livros” (compêndios jurídicos), respe-
tivamente – são denunciados como “papel” corrompido, pelo Anjo (cf. vv. 711-712), aludindo,
assim, ao facto de terem prejudicado os mais desfavorecidos com as suas decisões
parciais. Em diálogo, ambos os oficiais de justiça revelam não terem cumprido as regras do
sacramento da Confissão, o que, mais uma vez, denuncia a falsa prática religiosa.
No final, o antigo juíz e a antiga ré (Brísida Vaz), acabam por se encontrar, em igual
situação, no batel dos condenados.

Enforcado Manual, p. 210

Classe social: Percurso cénico:


Povo / Criminosos Barca do Inferno

Elemento cénico:
Corda ao pescoço (baraço)

O Enforcado pertence ao povo e representa os criminosos. Foi condenado à morte,


pelo que se apresenta com uma corda (baraço) ao pescoço, que simboliza a forma como
morreu (castigo pelos crimes e roubos que conduziram à sua condenação à morte).
Esta personagem surge em cena após os oficiais de justiça (Corregedor e Procurador),
já que foi vítima da justiça terrena que eles representam. O Enforcado é um homem
crédulo e simples, que diz ter sido enganado por Garcia Moniz, um funcionário do Tesouro,
que o levou a cometer crimes, pelo que está convencido de que não irá para o Inferno.
Defende-se, apresentando os argumentos que lhe tinham sido dados por Garcia Moniz,
que o convencera de que o facto de ter estado preso era o seu purgatório, isto é, já o purifi-
cara dos crimes cometidos.
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O Diabo demonstra-lhe, contudo, que, ainda que influenciado, o Enforcado escolhera o


seu percurso, ou seja, optara por uma vida criminosa, pelo que, como pecador, não está
isento do castigo no Além.

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Resumos

Desanimado, o Enforcado entra, então, na barca do Inferno, fazendo companhia ao

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Fidalgo, ao Onzeneiro, ao Sapateiro, ao Frade, à Alcoviteira, ao Judeu (que ia a reboque), ao
Corregedor e ao Procurador.

Cavaleiros Manual, p. 214

Classe social: Percurso cénico:


Cavaleiros das Cruzadas Barca da Glória

Elementos cénicos:
Cruz de Cristo, espada, escudo

Ao contrário das outras personagens, os Cavaleiros são uma personagem coletiva, isto
é, um grupo de indivíduos que age por uma só vontade. Trazem, como símbolos cénicos,
a Cruz de Cristo, as espadas e os escudos, e representam os Cavaleiros das Cruzadas
mortos na luta pela expansão da fé cristã (divulgando a palavra de Deus). Quando entram
em cena, entoam uma canção para os “pecadores” (v. 836), referindo que, após a morte, serão
castigados ou recompensados, em função das suas atitudes em vida, sendo esta, no fundo,
a moralidade do Auto: “que, despois da sepultura,/neste rio está a ventura/de prazeres ou
dolores!” (vv. 837-840). Em seguida, dirigem-se, confiantes e decididos, para a barca da Glória,
sem parar na barca do Inferno e, quando interpelados pelo Diabo (“Cavaleiros, vós passais/
e nom perguntais onde is?”, vv. 843-844), estes argumentam que morreram a lutar pela fé e,
por isso, sabem que entrarão, diretamente, na barca do Anjo: “Quem morre por Jesu Cristo/
não vai em tal barca como essa!” (vv. 853-854). O Diabo fica surpreendido com a sua atitude e
acaba por não lhes fazer qualquer acusação. O Anjo, que já os esperava, recebe-os alegre-
mente, invocando que, por serem mártires da Igreja, serão recompensados com a vida
eterna: “Sois livres de todo o mal,/mártires da Madre Igreja,/que quem morre em tal peleja/
merece paz eternal.” (vv. 859-862).

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