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1. O espaço circundante é experienciado como asfixiante, pois o protagonista, Batola, sente-se incapaz de fugir
à realidade quotidiana («tem de olhar todos os dias o mesmo»). É um espaço marcado pela pobreza e pelo
isolamento físico, psicológico e social, bem representado nas casas da aldeia de Alcaria — poucas
habitações, afastadas entre si e pobres (note-se a expressividade do diminutivo e da dupla adjetivação em
«quinze casinhas desgarradas e nuas») —, casas que mal se veem, confundindo-se com o resto da paisagem
(«de sumidas que estão no fundo dos córregos»).
Mesmo para lá de Alcaria, é impossível escapar à solidão («para qualquer parte que volte os olhos, estende-se a
solidão dos campos») e a um silêncio que se prolonga no espaço e no tempo («Um silêncio que caiu,
estiraçado por vales e cabeços, e que dorme profundamente»). O espaço em redor da aldeia contribui para
acentuar ainda mais a sensação de asfixia e de solidão, uma vez que a localidade é cercada, como se fosse
aprisionada, por planícies que parecem não terminar e surgem despovoadas, também elas sem vida («Oh,
que despropósito de plainos sem fim, todos de roda da aldeia, e desertos!»).
3. O carro atrai as mulheres e as crianças que estavam em Alcaria, pois «[f]azia anos que tal se não dava na
aldeia», e é o primeiro sinal do «extraordinário acontecimento» que vai ser a chegada da telefonia à aldeia.
Depois de os ceifeiros regressarem dos campos, os habitantes de Alcaria, em vez de ficarem em casa,
dirigem-se, curiosos, para a venda de Batola, «com um olhar admirado», e aí ouvem as notícias da guerra até
ao fim da emissão; jantam rapidamente e voltam à venda, onde ficam até muito tarde, regressando a casa
«numa grande animação». A telefonia ajuda, pois, a ligar os habitantes de Alcaria ao resto do país e do
mundo («Todos sabem o que acontece fora dali»), a aproximá-los entre si («E sentem que não estão já tão
distantes as suas pobres casas. Até as mulheres vêm para a venda depois da ceia») e a apreciar «as
melodias que vêm de longe até à aldeia, e que são tão bonitas!…»).
Com a chegada da telefonia à aldeia, o quotidiano monótono e triste de uma população que vive cansada e
isolada torna-se menos duro e pesado.
4. 4.1 A donzela — que espera o namorado («amigo») na ermida do ilhéu de «Sam Simion» —, porque o
tempo passa, o «amigo» não chega («eu atendend’o meu amigu’!») e a maré vai subindo («e cercarom-mi
as ondas, que grandes som», v. 2 / «cercarom-mi as ondas grandes do mar», v. 5), sem que haja
alguém que a transporte do ilhéu para a enseada («non ei i barqueiro, nem remador», v. 8), é dominada
pelo receio de que o namorado não chegue («E verrá?») e de morrer sozinha no mar («morrerei eu
fremosa, no mar maior», v. 14 / «morrerei eu fremosa no alto mar», v. 17), revelando angústia crescente
e, por fim, desespero.
5. 5.1 Existe, com efeito, um crescendo de intensidade na situação vivida pela donzela. No primeiro par de
coblas, a donzela exprime receio por ter sido cercada pelas ondas. No segundo par de coblas, refere-se,
além disso, à subida da maré e ao facto de estar sozinha, sem ninguém que a ajude. No terceiro par de
coblas, alude novamente ao seu isolamento e refere-se, agora, à morte iminente.
Este crescendo de intensidade dramática é realçado pelos seguintes elementos estilísticos: a repetição
do refrão ao longo do texto («eu atendend’o meu amigu’! E verrá?»), assim como a estrutura
paralelística perfeita, sugerindo que a donzela espera o amado com uma ansiedade, obsessão e
angústia crescentes; o emprego do gerúndio no refrão («atentend'»), que realça o prolongamento da
espera; o predomínio de formas verbais do pretérito no primeiro par de coblas («Sedia-m'eu»,
«cercarom-mi»), que dá lugar, no segundo par, ao presente («ei», «sei») e, no terceiro par, ao presente
e ao futuro («ei», «sei», «morrerei») — uma progressão temporal que evidencia o crescendo da
situação dramática e dos sentimentos da donzela.
GRUPO II
10. Sujeito.
GRUPO III
Construção de um texto de opinião que respeite o tema, a estrutura e os limites propostos. Devem respeitar-se as
principais características do género textual em causa:
explicitação do ponto de vista;
clareza e pertinência da perspetiva adotada, dos argumentos desenvolvidos e dos respetivos exemplos;
discurso valorativo (juízo de valor explícito ou implícito).
1. As duas personagens são ligadas, em primeiro lugar, por um ódio recíproco: o Dr. João Pedro Bekett, ansioso
por tratar os transeuntes que lhe pareciam doentes, não gostava que o semaforeiro o impedisse de atravessar
a rua; Ramon, contrariado por o médico querer interferir no seu trabalho, «daí por diante, passou a dificultar a
passagem ao doutor».
Embora exerçam profissões muito diferentes e pertençam a estratos sociais distintos, apresentam em comum
uma paixão pelo trabalho que exercem, ao qual se dedicam inteiramente: Ramon (como os seus
descendentes semaforeiros), apesar do modesto vencimento, tinha um «amor à profissão» e esmerava-se na
manutenção e na preservação do semáforo movido a pedal; e o Dr. João Pedro Bekett «transbordava de
espírito de missão», bem patente na pressa que muitas vezes tinha em atravessar a rua, preocupado com a
saúde de alguns transeuntes.
Por fim, ambos tiveram filhos e netos (e sabemos que, no caso do semaforeiro, também um bisneto) que
exerceram a mesma profissão que os pais: Ximenez, Asdrúbal e Paco, na família dos semaforeiros; João e
Paulo, na família dos médicos.
2. O processo de caracterização das duas famílias é, de facto, diferente. Embora conheçamos os nomes das
várias gerações de semaforeiros, esta família é caracterizada de forma coletiva (excetua-se uma breve
referência sobre Ramon no fim do primeiro parágrafo), como evidencia a descrição feita no segundo
parágrafo. Sabemos que todos os semaforeiros executam o seu trabalho com grande zelo, «pelo amor à
profissão», apesar do modesto vencimento, e que se preocupam em conservar o semáforo movido a pedal,
mas nada distingue os semaforeiros entre si.
Já a família dos médicos é caracterizada de forma individualizada: no quarto parágrafo, é feita a descrição do
Dr. João Pedro Bekett, «pai de filhos e médico singular», que chegara «de Coimbra com boa fama» e
«[a]ndava pelas ruas a interpelar os transeuntes»; no quinto parágrafo, a do seu filho, o Dr. João, «médico
muito modesto» que gostava de «encandear Ximenez com um espelho colorido»; nos sexto e sétimo
parágrafos, o narrador apresenta o neto, o Dr. Paulo, que «era muito explicativo» e que, no fim das consultas,
incentivava os clientes a acirrar o semaforeiro.
4. Perante a crítica de uma mulher («dona») que se lamentara pelo facto de o trovador não a ter louvado à
maneira provençal («fostes-vos queixar / que vos nunca louvo em meu cantar», vv. 1-2), este responde-lhe
dizendo que lhe dedicará, então, uma cantiga («mais ora quero fazer um cantar / em que vos loarei toda via»,
vv. 3-4). No entanto, o anúncio de que a vai elogiar é claramente irónico: em vez de a louvar numa cantiga de
amor, o sujeito poético, parodiando as convenções desse tipo de cantigas, zomba da «dona», que, por não
apresentar características físicas e psicológicas que justifiquem o louvor, é descrita repetidamente, de forma
violenta e sarcástica, como «fea, velha e sandia».
GRUPO II
GRUPO III
Construção de um texto de opinião que respeite o tema, a estrutura e os limites propostos. Devem respeitar-se as
principais características do género textual em causa:
explicitação do ponto de vista;
clareza e pertinência da perspetiva adotada, dos argumentos desenvolvidos e dos respetivos exemplos;
discurso valorativo (juízo de valor explícito ou implícito).
1. A metamorfose da figura feminina concretiza-se quando a protagonista, num regresso à vila natal (caminha
«na longa rua onde […] volta a passar depois de mais de vinte anos») que a leva a recordar intensamente a
sua juventude, encontra Gi, aquela que fora em jovem, que lhe lembra um ambiente do qual se afastara e que
procura esquecer («e a outra cujo nome quase quis esquecer, quase esqueceu») — um passado do qual
conservara apenas uma fotografia de si própria, que traz sempre consigo («que tem corrido mundo numa
mala qualquer, que tem morado no fundo de muitas gavetas, o único fetiche de George»). Depois de se
confrontar com o passado, George é levada a projetar-se no futuro, encontrando-se com uma «senhora de
idade», a «velha Georgina», que lhe fala de solidão e da velhice.
2. Gi e Georgina aparecem de forma progressiva, como retratos que vão sendo construídos, porque são o
resultado da imaginação de uma pintora («já com nome nos marchands das grandes cidades da Europa»). No
caso de Gi: «O rosto da jovem que se aproxima é vago e sem contornos, uma pincelada clara», e «[a]s suas
feições ainda são incertas». Quanto a Georgina: «A figura vai-se formando aos poucos como um puzzle
gasoso, inquieto, informe. Vê-se um pedacinho bem nítido e colorido mas que logo se esvai para aparecer daí
a pouco, nítido ainda, mas esfumado.» e «uma senhora de idade, primeiro esboçada, finalmente completa».
4. A visão da mudança na vida do Homem é profundamente negativa: as mutações são constantes, não
correspondem às expectativas («Continuamente vemos novidades, / diferentes em tudo da esperança;», vv. 5-6)
e são geradoras de sofrimento — a memória de factos negativos e a saudade dos factos positivos («do mal
ficam as mágoas na lembrança, / e do bem (se algum houve), as saudades», vv. 7-8) —, conduzindo a um
desencanto perante a vida («muda-se a confiança», v. 2), e a própria mudança já não ocorre como no
passado — «não se muda já como soía», v. 14.
Já a visão da Natureza é perspetivada de forma positiva, pois é cíclica e natural, uma vez que a primavera se
segue ao inverno («O tempo cobre o chão de verde manto, / que já coberto foi de neve fria,», vv. 9-10).
5. O poema é um soneto (constituído por duas quadras e dois tercetos), em versos decassilábicos, seguindo o
esquema rimático abba / abba / cde / cde, com rima interpolada e emparelhada nas quadras e rima
interpolada nos tercetos.
GRUPO II
GRUPO III
Construção de um texto de opinião que respeite o tema, a estrutura e os limites propostos. Devem respeitar-se as
principais características do género textual em causa:
explicitação do ponto de vista;
clareza e pertinência da perspetiva adotada, dos argumentos desenvolvidos e dos respetivos exemplos;
discurso valorativo (juízo de valor explícito ou implícito).
Transcrição:
Fátima Campos Ferreira: Dr. Marinho e Pinto, porque é que o senhor é contra o Facebook?
Marinho e Pinto: Dizer que sou contra talvez seja um pouco exagero. Eu não sou praticante dessa nova religião,
ou dessa nova ideologia, ou dessa nova forma de participar na vida coletiva. Eu tenho graves dúvidas,
graves apreensões acerca dos benefícios do Facebook. Tem, naturalmente, benefícios, mas tem
desvantagens, que são muito…
Fátima Campos Ferreira: Quais são essas desvantagens?
Marinho e Pinto: Olhe, há uma perda de autenticidade nas pessoas. Aquilo que as pessoas são… São aquilo que
elas põem no Facebook. E aquilo que elas põem nas redes sociais condiciona a sua própria atitude, até na
sua intimidade, na sua vida privada. Condiciona o próprio debate, porque é um debate que, muitas vezes,
não é privado, e diz-se aquilo que se pensa que vai ter mais likes, mais aprovações, e não aquilo que muitas
vezes sentimos. Eu já participei até num programa seu, «Prós e contras», já não sei a propósito de quê, mas
ao meu lado estava um jornalista, muito conhecido, que estava com um iPhone, no Facebook, e o que ele
recebia condicionava as suas próprias intervenções no debate. […] Portanto, há uma perda de autenticidade.
As pessoas deixam de ser pessoas e passam a ser personagens, permanentemente personagens — como
sabe, na teoria clássica, uma personagem é uma pessoa que fala através de máscaras […] — e depois o
Facebook significa que pessoas não tão preparadas como o Dr. José Magalhães ou a Dr.ª Rita Ferro podem
dar dimensões da sua vida de que mais tarde se vão arrepender. Hoje, o Facebook generalizou-se… Há
pessoas que chegam atrasadas ao emprego, de manhã, porque passam a noite no Facebook […]. Não é
uma coisa de namoro […]. É muito mais do que isso. Deforma as pessoas impreparadas para lidar com
esses instrumentos. Deforma-as. Há um fascínio enorme pela importância deste continente e não há
preocupação com a relevância do conteúdo. A Internet e as redes sociais têm um impacto na vida coletiva e
nas vidas individuais superior ao que teve a [invenção] da imprensa por Gutenberg.
Fátima Campos Ferreira: Na sua opinião, tem um impacto que pode ser muito negativo também.
Marinho e Pinto: Muito.
Fátima Campos Ferreira: E mais negativo do que teve a imprensa no seu tempo?
Marinho e Pinto: A imprensa foi negativa para o poder, para os poderes absolutos, para os tiranos, porque, na
verdade, foi uma forma de difundir ideias, de generalizar o livro como instrumento de cultura. […]
Fátima Campos Ferreira: Rita Ferro…
Rita Ferro: Eu começo logo pelos prós, um democrático e outro humano. O democrático é que, pela primeira vez,
nós temos esta total independência dos media para expressar a nossa opinião. Qualquer pessoa, a qualquer
momento, pode intervir na sociedade, ainda que a rádio e a televisão a dispensem. E isto, para mim, é uma
enorme aquisição. Dantes só falava quem os critérios dos media decidissem. Agora, qualquer pessoa tem
essa oportunidade. A segunda razão, que para mim é a mais importante, é aquela que deverá ser mais
estudada, é a questão da solidão. As pessoas não gostam de admitir que têm solidão e veem a solidão como
um sinal de fracasso. Ou porque não tem amigos, ou porque vive isolado,… E não é verdade. Eu acho que é
uma coisa inerente ao ser humano. Todos temos solidão, mesmo que a nossa rede de amigos verdadeira
seja enorme, podemos sentir uma grande solidão, porque não fomos habituados nem educados para viver
sozinhos. O Zuckerberg não criou uma necessidade. Havia esta necessidade. Nós temos a ilusão, ainda que
a ilusão, de termos companhia, e isto é muito agradável para qualquer pessoa. […] E, se queres que eu te
diga, ao fim destes anos todos, eu noto, por exemplo, os portugueses mais calmos, porque estão em
constante catarse, e isso é muito bom. Nem que seja para dizer «parti um braço» ou «fui humilhado num
serviço público». […]
1. (A) — 1; (B) — 8; (C) — 7; (D) — 2; (E) — 9; (F) — 10; (G) — 3; (H) — 4; (I) — 5; (J) — 6.
1. 1.1(C); 1.2 (A); 1.3 (C); 1.4 (D); 1.5 (D); 1.6 (B); 1.7 (D).