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PORTUGUÊS 12.

o ANO

PROVA-MODELO – PROVA 4
GRUPO I
A
Leia o excerto de «George», de Maria Judite de Carvalho.
Já não sabe, não quer saber, quando saiu da vila e partiu à descoberta da cidade gran-
de, onde, dizia-se lá em casa, as mulheres se perdem. Mais tarde partiu por além terra,
por além mar. Fez loiros os cabelos, de todos os loiros, um dia ruivos por cansaço de si,
mais tarde castanhos, loiros de novo, esverdeados, nunca escuros, quase pretos, como
5 dantes eram. Teve muitos amores, grandes e não tanto, definitivos e passageiros, sim-
ples amores, casou-se, divorciou-se, partiu, chegou, voltou a partir e a chegar, quantas
vezes? Agora está – estava –, até quando?, em Amsterdão.
Depois de ter deixado a vila, viveu sempre em quartos alugados mais ou menos
modestos, depois em casas mobiladas mais ou menos agradáveis. As últimas foram
10 mesmo francamente confortáveis. Vives numa casa mobilada sem nada teu? Mas deve ser um
horror, como podes? teria dito a mãe, se soubesse. Não o soube, porém. As cartas que lhe
escrevia nunca tinham sido minuciosas, de resto detestava escrever cartas e só muito
raramente o fazia. Depois o pai morreu e a mãe logo a seguir.
Uma casa mobilada, sempre pensou, é a certeza de uma porta aberta de par em par,
15 de mãos livres, de rua nova à espera dos seus pés. As pessoas ficam tão estupidamente
presas a um móvel, a um tapete já gasto de tantos passos, aos bibelots1 acumulados ao
longo das vidas e cheios de recordações, de vozes, de olhares, de mãos, de gente, enfim.
Pega-se numa jarra e ali está algo de quem um dia apareceu com rosas. Tem alguns
livros, mas poucos, como os amigos que julga sinceros, sê-lo-ão? Aos outros livros,
20 dá-os, vende-os a peso, que leve se sente depois!
– Parece-me que às vezes fazes isso, enfim, toda essa desertificação, com esforço,
com sofrimento – disse-lhe um dia o seu amor de então.
– Talvez – respondeu –, talvez. Mas prefiro não pensar no caso.
Queria estar sempre pronta para partir sem que os objetos a envolvessem, a seguras-
25 sem, a obrigassem a demorar-se mais um dia que fosse. Disponível, pensava. Senhora
de si. Para partir, para chegar. Mesmo para estar onde estava.
Maria Judite de Carvalho, «George»,
in Maria Isabel Rocheta & Serafina Martins (coord.),
Conto Português [séculos XIX-XXI]: Antologia Crítica,
vol. 3, Porto, Edições Caixotim, 2011, pp. 116-117

1
Bibelots: pequenos objetos que servem
para adornar mobília ou partes da casa.

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PREPARAR O EXAME NACIONAL

PROVA-MODELO – PROVA 4
Cotações
1. Mostre que, entre as linhas 8 e 13, percebemos a relação de oposição entre George e 16 pontos
a família.

2. Esclareça o papel do discurso direto da Mãe e do diálogo de George com o seu 16 pontos
«amor de então» na tricotomia realidade / memória / imaginação.

3. Explique em que medida o conteúdo das linhas 14 a 26 revela a complexidade da 16 pontos


natureza de George.

4. Explicite o valor expressivo do pleonasmo presente na última frase do excerto. 8 pontos

B
Leia o excerto de A Ilustre Casa de Ramires, de Eça de Queirós.
Sem temor, erguido sobre o travesseiro, Gonçalo não duvidava da realidade maravi-
lhosa! Sim! Eram os seus avós Ramires, os seus formidáveis avós históricos, que, das suas
tumbas1 dispersas corriam, se juntavam na velha casa de Santa Ireneia nove vezes secular
5 – e formavam em torno do seu leito, do leito em que ele nascera, como a assembleia
majestosa da sua raça ressurgida. (…)
Então, por aquela ternura atenta do mais poético dos Ramires, Gonçalo sentiu que
a sua ascendência2 toda o amava – e da escuridão das tumbas dispersas acudira para o
velar e socorrer na sua fraqueza. Com um longo gemido, arrojando a roupa, desafogou,
10 dolorosamente contou aos seus avós ressurgidos a arrenegada3 Sorte que o combatia
e que sobre a sua vida, sem descanso, amontoava tristeza, vergonha e perda! E eis que
subitamente um ferro faiscou na treva, com um abafado brado: «−Neto, doce neto, toma
a minha lança nunca partida!...» E logo o punho duma clara espada lhe roçou o peito,
com outra grave voz que o animava: «−Neto, doce neto, toma a espada pura que lidou
15 em Ourique!...» (…)
Como sombras levadas num vento transcendente, todos os avós formidáveis perpassa-
vam – e arrebatadamente lhe estendiam as suas armas, rijas e provadas armas, todas, através
de toda a história… (…) «− Oh neto, toma as nossas armas e vence a Sorte inimiga!...»

Eça de Queirós, A Ilustre Casa de Ramires,


Lisboa, Imprensa Nacional Casa da Moeda, 2014,
[cap. X], pp. 296-297
1
Tumbas: túmulos; caixões.
2
Ascendência: linha de geração anterior.
3
Arrenegada: azarenta; contrária.

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PORTUGUÊS 12.o ANO

pequenas pausas conseguidas por meio das vírgulas. Note-se GRUPO III
também que a frase iniciada na linha 8 só será terminada na Para apreciar a escrita original de um poeta ou romancista, temos
linha 20. de saber falar a sua língua. Para sabermos apreciar Pintura, Es-
4. A metáfora associa inesperadamente a rua ao basalto pro- cultura, Arquitetura, precisamos de possuir algumas noções teó-
priamente dito («é um basalto»), ou seja, a sua caracteriza- ricas. Para sabermos compreender uma peça de teatro ou um fil-
ção resume-se à cor deste tipo de pedra (com a qual está me (sem legendas ou dobragens), precisamos de dominar a língua.
«calçada») – o negro. Ao fazer sobressair tal negrura, o au- Todavia, para fruirmos um concerto de música basta sentirmo-la
tor consegue enfatizar a ideia de sujidade e escuridão desta com os sentidos. Com aquilo que nos é agradável ou ruidoso, mo-
parte de Lisboa por onde Reis deambula. tivo de tranquilidade ou perturbação, aprazível ou detestável. As-
sim é com toda a Música.
GRUPO I • B Ocorrem-me dois exemplos: música clássica e música pop. Con-
5. Este excerto mostra-nos a cidade e os tipos sociais por meio sideremo-los.
da deambulação do sujeito poético. A cidade é especificada Quando escutamos Bach, designadamente as suas composições
nas partes por onde circula: as «ruas» próximas do rio Tejo («o litúrgicas, conseguimos perceber a relação intrínseca entre os sons
Tejo, a maresia»), «os edifícios, com as chaminés, e a turba», que saem do órgão sinfónico e o momento do calendário litúrgico
«edificações somente emadeiradas» (prédios em construção), que estão a musicar. Ao ouvirmos os noturnos de Chopin, percebe-
«boqueirões», «becos» e «cais». Quanto aos tipos sociais, po- mos a soturnidade e o sentimentalismo saídos do piano. Perante as
demos reconhecer os membros do Povo (operários), designa- composições de Tchaikovsky ou Haydn, deliciamo-nos com a profu-
damente, «os mestres carpinteiros» e os «calafates», ambos são de sons vindos de instrumentos musicais que nos despertam
em atarefado horário de trabalho. todos os sentidos. E não precisamos de palavras nem de noções
6. Percebemos como se encontra o interior, o estado de es- teóricas, pois a sua linguagem é a dos sentidos/das sensações.
pírito do eu lírico pela leitura das duas primeiras estrofes. Do mesmo modo, ao escutarmos Coldplay, Maroon 5 ou Taylor
Assim, o sujeito lírico sente a «soturnidade» e a «melanco- Swift, ao dançarmos ao som de David Guetta, Madonna ou de uma
lia» que o envolvem e o afetam, o que percebemos pelos qualquer banda francesa que ouvimos e vemos, não precisamos
adjetivos usados. Tudo lhe provoca um «desejo absurdo de de saber falar inglês ou francês, basta deixarmo-nos levar pelos
sofrer», «absurdo» porque, porventura, não tem qualquer ritmos, sonoridades e reverberações. O mesmo acontece com
motivo lógico de sofrimento, a não ser a participação na en- pop chinesa ou escandinava. Há dúvidas sobre a universalidade
volvência. Por outro lado, «a cor monótona e londrina» dos da linguagem musical e do poder da Música? Acredito piamente
edifícios está a ser apresentada por meio de adjetivos que que não.
revelam os seus sentimentos, uma vez que nela vê impaciên-
cia e agitação típicas de uma grande capital − Londres. O PROVA-MODELO 4 (p. 379)
que fica escrito confirma-se pelo uso de verbos, tais como
«Despertam-me», «enjoa-me», «perturba» à medida que GRUPO I • A
ele circula e pensa: «Embrenho-me, a cismar» e «erro pelos 1. Nestas linhas, o narrador informa-nos do passado de George,
cais». Relativamente às personagens (sobretudo, os carpin- que, em virtude de visões contrárias/opostas de vida, a moti-
teiros) que o sujeito poético vê, a comparação revela a forma vou a sair de casa e a abandonar a família. «vila» e «lá em casa»
maquinalmente obediente e concentrada como os operários descrevem o local onde nasceu e a família em que cresceu;
trabalham («Como morcegos, ao cair das badaladas, / Saltam pelo contrário, «cidade grande», «além terra», «além mar» e
de viga em viga os mestres carpinteiros.»). «Amsterdão» remetem para o presente já liberto e emancipa-
dor desta mulher. Por consequência, a oposição entre a família
GRUPO I • C e George adulta está espelhada na afirmação «cidade grande,
7. No conto «Sempre é uma companhia» verifica-se uma suces- onde, dizia-se lá em casa, as mulheres se perdem.», dado que
são breve de acontecimentos, que se precipitam para o final. a família era fechada, conservadora e circunscrita à pequenez
A ação pode ser dividida em dois momentos fulcrais: o an- da vila, ao passo que George procurava no seu «além» e nas
terior à vinda da telefonia e o posterior, que vai culminar suas metamorfoses (de que os «cabelos» e os «amores» são
com a sua permanência na venda da aldeia da Alcaria. Toda a exemplo) uma grandeza de espírito e uma liberdade próprias
ação se desenvolve num número muito reduzido de páginas, da sua mente aberta ao desconhecido e ao diferente.
onde as peripécias se vão sucedendo (a rotina dos ceifeiros 2. É por meio destes dois momentos discursivos que percebe-
que regressam, a compra da telefonia, o amuo da mulher de mos a referida tricotomia. O discurso direto da Mãe – sím-
Batola, as festas na aldeia ao som do aparelho), e com um bolo da memória do passado − é reproduzido apenas pela
número muito limitado de personagens. imaginação de George, não tendo tido lugar na realidade. No
Por outro lado, o débito de informação sobre a passagem do caso do diálogo entre George e o seu «amor de então», pode-
tempo é também propício à brevidade da narrativa, como se mos afirmar que foi real (e não imaginado) e corrobora (pro-
pode observar em «E os dias custaram tão pouco a passar va) a visão da vida que George tem, ou seja, liberta de tudo o
que o fim do mês caiu de surpresa em cima da aldeia da Al- que a prende, neste caso a memória do passado (corporizada
caria». Numa só frase, percebemos que passou um mês. As- nos objetos e livros de que continuamente se vai desfazendo
sim, a referida brevidade é conseguida não só pelo reduzido e separando).
número de páginas, como também pela economia / gestão
das informações, designadamente as temporais.
3. O conteúdo das linhas 14 a 26 revela a complexidade da na-
tureza de George na medida em que ela opta por se livrar de
Em conclusão, podemos afirmar que, sem delongas, mas com
tudo o que, metaforicamente, lhe lembre o passado e a ele a
intensidade narrativa, este é um conto exemplificativo da
prenda. Ora, «móvel», «tapete», «bibelots», «jarra» e «livros»
brevidade típica deste género literário na sua versão con-
trazem consigo recordações de lugares ou de pessoas que
temporânea. lhos ofereceram e que George quer esquecer. Portanto, a
melhor maneira de se separar do seu passado não é por meio
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do esquecimento e da indiferença voluntários, mas por meio
1. (C); 2. (A); 3. (D); 4. (C); 5. (B). do despojar-se literalmente de objetos físicos. Essa é a sua
6. Oração subordinada adjetiva relativa restritiva. maneira, complexa, mas só sua, de lidar com um passado
7. Complemento indireto. aprisionador.

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PREPARAR O EXAME NACIONAL

4. O pleonasmo é conseguido pela repetição do sentido do ver- Nascemos enquanto nação em 1143, graças a um rei que lutou
bo «estar» (em «estar» e «estava») e serve o propósito de contra a própria mãe, e fomos crescendo lentamente, vítimas das
acrescentar mais um exemplo da liberdade interior que esta referidas guerras (contra mouros e castelhanos) e das pestes.
figura feminina procura. Assim, até para simplesmente per- Deste ponto de vista, poder-se-á aceitar parcialmente a designa-
manecer num qualquer lugar, George necessita dessa auto- ção «Idade das Trevas». Porém, ela não deve ser tomada taxativa-
nomia que a desprende de todas as amarras e lhe dá o direito mente. Há dois exemplos que a contrariam: a evolução da Literatu-
de escolher. ra Portuguesa e a preservação dos textos da Antiguidade Clássica.
No primeiro caso, verificamos que são medievais os textos da
GRUPO I • B lírica trovadoresca; também o são os textos dramáticos que se
5. Gonçalo Mendes Ramires é um homem alvo de «arrenegada vão desenvolvendo até ao patamar da escrita de Gil Vicente. Uns
sorte», ou seja, vítima do azar, inseguro, frágil e envergonha- e outros chegaram aos nossos dias, integrando as obras obrigató-
do consigo mesmo, o que se prova pela seleção de vocábulos rias dos ensinos básico e secundário.
«fraqueza», «gemido», «tristeza, vergonha e perda». A comple- No segundo, façamos jus ao trabalho de monges copistas que se
xidade advém do facto de este seu interior contrastar com o dedicaram à cópia manual de obras de Teologia, Filosofia, Ciência,
Música, que não teriam chegado à Modernidade e à Contempora-
espírito «da sua raça», da família, cuja origem remonta ao tem-
neidade sem o contributo destas figuras. Não raro, vemos expos-
po anterior à nação (século X). Essa raça está representada
tos em catedrais e monumentos nacionais os originais salvaguar-
nos seus «avós históricos» que deram vida à genealogia que se
dados ou as cópias medievas que são património imaterial. O que
estendeu até Gonçalo, homens destemidos, lutadores, bravos
tem isto de «trevas»? Rigorosamente nada; pelo contrário, trata-
e espelhados na «lança nunca partida», na «espada pura que
-se de provas de um trabalho iluminado e imenso que se revestiu
lidou em Ourique» e nas «rijas e provadas armas».
de um caráter intermediário entre a Antiguidade e o Renascimen-
6. O binómio passado/presente é absolutamente diferente quan- to e de então até hoje.
do consideramos os textos A e B. Enquanto George luta, a todo
o custo, pela sua separação e libertação do passado que viveu PROVA-MODELO 5 (p. 385)
com a família aprisionadora, Gonçalo precisa dele e dos seus
familiares antepassados para reencontrar o seu vigor e a pu- GRUPO I • A
reza da sua «raça». Em síntese, a George (mulher) o passado é 1. O conteúdo do poema de Ana Luísa Amaral parte do objetivo
desprezível/nefasto; a Gonçalo (homem), ele é essencial/vital. verbalizado de querer escrever «um poema de epopeia / e luz»,
«às duas da tarde / e num café». «epopeia» evoca Os Lusíadas
GRUPO I • C e o período áureo das Descobertas; «luz» pressupõe não só a
7. Em O Ano da Morte de Ricardo Reis é indubitável o desenho da «tarde adolescente» desse momento, mas, porventura, a
narrativo de um triângulo amoroso composto pelo próprio Ri- escrita de feitos brilhantes, renovados e, sobretudo, positivos.
cardo Reis, por Lídia, a criada de hotel, e Marcenda, a filha do Ora, o verso 9 apresenta a conjunção coordenativa adversativa
hóspede do hotel. «Mas», que vai criar um contraste inequívoco: se o objetivo ini-
Existem dois aspetos de que nos podemos socorrer para o cial era luminoso, a consciência do outro lado dos Descobrimen-
confirmar: tendo conhecido primeiramente Lídia, Ricardo tos quinhentistas (o lado negativo) deitou por terra esse desejo
Reis encetou uma relação amorosa com ela durante o tempo de escrita. Esse revés, essa outra face de moeda está plasmada
que permaneceu no hotel Bragança e depois continuou essa na sequência «a conquista, / o coração pesado de ambições,
relação na sua casa do Alto de Santa Catarina. Ainda assim, / tortura de poderes». Por outras palavras, há que considerar
igualmente a certeza provada pela História de que os descobri-
foi atraído pelo mistério e beleza de Marcenda, quando ainda
dores, feitas as conquistas ultramarinas, também tiveram ati-
era hóspede no hotel Bragança, envolvendo-se emocional-
tudes e comportamentos movidos pela desmesurada ambição
mente com ela, o que o levou a procurá-la, levando-o a por
(interesses pessoais) e luta pelo poder/supremacia. Pelo que
exemplo na viagem a Fátima, ou a escrever-lhe cartas.
fica escrito se percebe que o sujeito poético sinta que «traiu» a
O resultado desta triangulação não foi feliz porque Lídia de-
«palavra», inicialmente preparada para louvar, mas agora obri-
sapareceu (depois da morte do irmão) e Marcenda terminou
gando-se a criticar. Em síntese, o «seu poema de epopeia e luz»
tudo, voltando à pacatez da sua vida na província. Quanto a terá de incluir igualmente uma espécie de treva corporizada no
Reis, foi fazer companhia ao defunto Fernando Pessoa, no lado negativo e presunçoso do acontecimento universal narra-
fim dos seus nove meses de existência pós-morte. do – a descoberta do caminho marítimo para a Índia.
Desta teia complicada de relações que foram sendo criadas
entre as personagens, nenhuma das relações sobreviveu,
2. De acordo com este poema, a escrita de poesia resulta da von-
tade primeira do/da poeta, pois o vate quer escrever sobre
culminando esta ação com a «partida» de Ricardo Reis. um tema, orientando a palavra. Todavia, neste caso, a palavra
foi traída na medida em que foi preparada para cantar com
GRUP I renovados elogios (renovada «luz») um assunto épico, mas
1. (A); 2. (C); 3. (D); 4. (A); 5. (C). a realidade total de tal assunto obriga a criticar/julgar o que
6. Oração subordinada substantiva completiva. não correu bem. Assim, acabamos por ter uma imagem muito
7. Sujeito (simples), complemento direto e predicativo do sujeito. sugestiva: o sujeito poético termina, assumindo a sua «culpa»
e desejando não ter incutido sensações, ideias luminosas e
GRUPO III «adolescentes» na palavra.
É do conhecimento geral que o período da Idade Média está as- 3. Os dois últimos versos podem constituir a conclusão do poema
sociado a guerras para definição de fronteiras, a pestes que dizi- porque o eu lírico admite que levou a palavra a enamorar-se
mavam a agricultura e à conhecida Peste Negra, que matou cerca de «réplicas de olhar», isto é, espelhos redutores ou imitações
de um quarto da população europeia. Estas circunstâncias moti- incompletas que serviriam de inspiração para a escrita. E tais
varam um contexto de privação económica. A distribuição de pro- «réplicas» foram da responsabilidade da poeta, que se serviu
priedades pela nobreza feudal e pelo clero foi um estímulo à vida delas, embora inconscientemente, para iludir a palavra.
rural, fechada e contingente. A utilização de «trevas» foi comum- 4. Este poema afigura-se uma inequívoca representação do
mente aceite, a meu ver, pela presença de um certo recolhimento contemporâneo na medida em que o sujeito poético verte
social aliado ao fervor religioso da parte das pessoas dessa épo- por toda a composição a sua preocupação com a escrita (a
ca. O caso português é disso exemplificativo. desejada e a conseguida), fazendo-o segundo um modelo (ou

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