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O Parnasianismo no Brasil:

Olavo Bilac
O Parnaso (1509-1511), do pintor renascentista Rafael.
O afresco representa o monte Parnaso, que, na
mitologia grega, é a morada de Apolo, o deus da
música e da poesia, e das nove musas. A cultura
clássica greco-latina, amplamente cultivada durante o
Renascimento, foi retomada pelo Parnasianismo.

Na segunda metade do século XIX, como reação à


poesia romântica, marcada pelo sentimentalismo, pela
idealização e pela subjetividade, surgiu o
Parnasianismo. O nome dessa tendência poética foi
inspirado no título da obra Parnaso contemporâneo
(Parnasse contemporain), uma antologia de poemas de
diversos poetas franceses publicada entre 1866 e 1876. Tal nome sugere a revalorização da cultura
clássica greco-latina, defendida principalmente por Leconte de Lisle, colaborador da antologia e um dos
mestres do Parnasianismofrancês. Como representante da nova tendência poética, Leconte de Lisle
propôs a abordagem de temas históricos e mitológicos greco-
latinos e orientais; descrições de sentimentos sem os excessos
românticos; o retrato objetivo e detalhado de cenas e objetos;
o aprimoramento formal, por meio do emprego de vocabulário
sofisticado e preciso, versos bem ritmados e efeitos sonoros e
visuais.
Théophile Gautier, outro importante colaborador do
Parnaso contemporâneo, também exerceu grande influência
entre os parnasianos. Para o poeta, a beleza do verso não era
fruto de uma simples inspiração, mas, sim, resultado de um
Olavo Bilac
trabalho intenso e persistente com a palavra. Dessa ideia Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac
resultou a concepção de “arte pela arte”, segundo a qual a arte (1865-1918) nasceu no Rio de Janeiro.
não tem outra finalidade a não ser a criação da beleza. Essa Estudou Medicina e Direito, mas não
concepção criava uma grande distância entre o Parnasianismo concluiu nenhum desses cursos, que
e o Realismo e o Naturalismo, para os quais a arte e a abandonou para atuar no jornalismo e na
literatura eram meios de retratar e criticar a realidade. literatura.
Os ideais estéticos defendidos pelos poetas franceses Como poeta, estreou com sucesso
Leconte de Lisle e Théophile Gautier influenciaram o aos 23 anos, com a publicação de
Parnasianismo brasileiro, que teve início, formalmente, com a Poesias. Dedicou-se também ao ensino e
produziu poemas infantis e livros didáticos.
publicação de Fanfarras (1882), de Teófilo Dias. Os poetas
Foi grande defensor da difusão da
mais representativos desse movimento literário são Raimundo instrução primária e do serviço militar
Correia, com Sinfonias (1883), Alberto de Oliveira, com obrigatório e, como patriota convicto,
Meridionais (1884), Olavo Bilac, com Poesias (1888), escreveu a letra do Hino à Bandeira e
Francisca Júlia, com Mármores (1895) e Vicente de Carvalho, poemas de temática nacionalista.
com Poemas e canções (1908). Em seu tempo, Bilac foi um dos
poetas mais lidos e mais populares, tendo
sido eleito em um concurso da revista Fon-
Olavo Bilac Fon! como o “p
Considerado o mais popular dos poetas parnasianos ríncipe dos poetas brasileiros”. Foi um dos
brasileiros, Olavo Bilac se destacou pela fluidez de seus fundadores da Academia Brasileira de
versos e pela sofisticação da linguagem de seus poemas. Letras.
Entre as obras poéticas do autor
Em conformidade com os preceitos dos parnasianos estão também Poesias infantis (1904) e
franceses, Bilac criou em sua obra descrições detalhadas, Tarde (1919), esta publicada
primou pelo rigor formal e defendeu o princípio de que a beleza postumamente. Arquivo/D.A Press
do poema resulta do esforço empreendido em sua Parnasianismo.
composição, e não da inspiração do autor. Tal princípio, bem
como o de que a finalidade da poesia é a beleza, foi expresso em “Profissão de fé”, poema-manifesto que
inicia o livro Poesias.
Combinando o exemplo dos parnasianos franceses e a tradição clássica portuguesa, Bilac deu
preferência às formas fixas, especialmente o soneto, tipo refinado de composição amplamente cultivado
por Camões, no Classicismo, e por Bocage, no Arcadismo português. Em seus poemas, as cores, as
formas, as texturas, os movimentos e os sons constroem imagens primorosas, dando concretude ao
mundo criado. Essa riqueza imagética da poesia do autor está presente tanto nos poemas líricos quanto
nos poemas patrióticos de caráter épico, como “O caçador de esmeraldas”, que narra os feitos do
bandeirante Fernão Dias Pais Leme.
Em poemas das séries intituladas “Via láctea” e “Sarças de fogo”, que integram a obra Poesias, a
objetividade parnasiana não é categórica. Em alguns poemas de “Via láctea”, o sentimento amoroso é
expresso de modo fervoroso, desdobrando-se em um lirismo espiritualizado, enquanto em outros de
“Sarças de Fogo”, há a presença de forte sensualidade.

FOCO N
Você vai ler, a seguir, dois textos de Olavo Bilac: o poema “Rio abaixo”, da série “Sarças de fogo”, e o
poema XXXI, da série “Via láctea”.
TEXTO I

desmaiar: perder a cor.


fímbria: linha, traço.
gládio: espada.
Rio abaixo ocaso: pôr do sol.
Treme o rio, a rolar, de vaga em vaga...
Quase noite. Ao sabor do curso lento
Da água, que as margens em redor alaga,
Seguimos. Curva os bambuais o vento.

Vivo há pouco, de púrpura, sangrento,


Desmaia agora o ocaso. A noite apaga
A derradeira luz do firmamento...
Rola o rio, a tremer, de vaga em vaga.

Um silêncio tristíssimo por tudo


Se espalha. Mas a lua lentamente
Surge na fímbria do horizonte mudo:

E o seu reflexo pálido, embebido


Como um gládio de prata na corrente,
Rasga o seio do rio adormecido.
(Os melhores poemas de Olavo Bilac.
Seleção de Marisa Lajolo. São Paulo: Global, 1985. p. 71.)
TEXTO II
1.
Diferente
Longe de ti, se escuto, porventura,
mente do Romantismo, o Parnasianismo se distinguiu
Teu nome, que uma boca indiferente
pelo aprimoramento formal e pelo emprego de uma
Entre outros nomes de mulher murmura,
linguagem sofisticada.
Sobe-me o pranto aos olhos, de repente...
a. Nos textos 1 e 2, Bilac utilizou um tipo refinado
de composição poética. Observe a
Tal aquele, que, mísero, a tortura
organização dos versos nas estrofes, faça a escansão
Sofre de amargo exílio, e tristemente
dos primeiros versos dos poemas e responda:
A linguagem natal, maviosa e pura,
Qual é o nome desse tipo de composição? Qual é a
Ouve falada por estranha gente...
métrica empregada?
Porque teu nome é para mim o nome
b. A fim de garantir a métrica, o ritmo e a rima, o
De uma pátria distante e idolatrada,
poeta realizou inversões na ordem direta das palavras
Cuja saudade ardente me consome:
nas frases. Identifique um exemplo desse
procedimento em cada um dos poemas em estudo.
E ouvi-lo é ver a eterna primavera
E a eterna luz da terra abençoada,
c. Identifique em cada um dos textos uma palavra
Onde, entre flores, teu amor me espera.
que exemplifique o elevado nível vocabular cultivado
pelo poeta parnasiano.
2. No texto 1, o eu lírico descreve uma cena da natureza.
a. Qual é o tema da cena descrita? Que elementos da natureza compõem tal cena?
b. O eu lírico está ausente ou presente na cena descrita? Justifique sua resposta com elementos do texto.
c. O título do poema confirma a resposta do item anterior?

3. No texto 1, cores, movimentos e sons revelam os detalhes da paisagem natural.


a. Nas três primeiras estrofes do poema, identifique um exemplo de cada um desses
elementos.
b. Qual é a imagem construída pelo eu lírico na última estrofe do poema?
c. Na descrição feita no poema, prevalece um retrato objetivo e concreto da paisagem
ou um retrato subjetivo, criado pela imaginação? Justifique sua resposta com elementos do texto.

4. Em relação ao texto 2, responda:


a. Que sentimentos afligem o eu lírico? Justifique sua resposta com elementos do texto.
b. Para expressar seus sentimentos, qual é a comparação que o eu lírico faz nas duas primeiras estrofes
do poema?
c. Nas duas últimas estrofes, o amor a que o eu lírico faz alusão é sensual ou espiritualizado? Justifique
sua resposta com elementos do texto.
d. É possível afirmar que a amada corresponde ao amor do eu lírico? Justifique sua resposta com
elementos do texto.

5. Os poetas parnasianos, na tentativa de se afastar do sentimentalismo dos poetas românticos, buscaram


um lirismo moderado, sem excessos. Nesse poema, Bilac segue à risca essa proposta do Parnasianismo?
O eu lírico demonstra total equilíbrio de suas emoções? Justifique sua resposta com elementos do texto.

O Simbolismo: Cruz e Sousa e


Alphonsus de GuimaraensLITERATURA
O Simbolismo apareceu como movimento literário na
década de 1880, na França. Suas primeiras manifestações são,
porém, anteriores a esse momento, conforme atestam criações
de seus iniciadores, Verlaine e Mallarmé, e de Baudelaire,
precursor do movimento, publicadas na coletânea de poemas
Parnaso Contemporâneo (1866-1876). O nome Simbolismo tem
relação com as aspirações da nova poesia: sugerir, como um
símbolo, ideias abstratas por meio de imagens evocativas de
cores, sons, formas, etc.
A Revista Ilustrada
Idealizada e editada por um renomado artista gráfico,
Angelo Agostini, a Revista Ilustrada foi um importante veículo de
difusão de ideias abolicionistas e republicanas. Além de textos
políticos, figuravam entre as publicações do periódico também
textos literários, charges e a série “As aventuras de Zé Caipora”,
considerada a primeira história em quadrinhos do Brasil. A revista
circulou no Rio de Janeiro entre 1876 e 1898 e contou com a
colaboração de autores como Olavo Bilac e Cruz e Sousa.

Por influência dos poetas franceses, o Simbolismo se


manifestou no Brasil no final da década de 1890. Nos anos
anteriores, os fundadores do Simbolismo brasileiro realizaram um
percurso semelhante ao dos principais poetas parnasianos.
Como estes, participaram de campanhas republicanas e
abolicionistas por meio da publicação, em jornais e revistas, de
artigos, crônicas e poemas, como foi o caso de Cruz e Sousa,
nosso maior simbolista. Oficialmente, o Simbolismo teve início no Brasil em 1893, com a publicação das
obras Missal, com poemas em prosa, e BroquŽis, com poemas em versos, de Cruz e Sousa. Destacam-se
no movimento também os poetas Alphonsus de Guimaraens, Emiliano Perneta, Dario Veloso e Pedro
Kilkerry.

Cruz e Sousa
O poeta Cruz e Sousa, chamado de “Dante negro”, foi admirado durante sua vida por um grupo
reduzido de amigos. Sua obra foi conquistando reconhecimento ao longo do século passado e,
atualmente, ele é considerado um dos maiores poetas brasileiros.
Como você viu no capítulo anterior, os aspectos formais da obra de Cruz e Sousa se caracterizam,
principalmente, pela exploração da melodia das palavras, pelo emprego de sinestesias e pela presença de
imagens criadas a partir de elementos brancos, translúcidos e brilhantes. Esses recursos sensoriais
produzem uma poesia sugestiva, que evoca a transcendência espiritual, a integração cósmica, o
misticismo, a espiritualidade, o mistério, a morte, a melancolia, os níveis mais profundos da mente e a
sublimação sexual.
O poeta viveu em um período de tomada de consciência em relação ao preconceito e à
discriminação racial e, ao contrário do que julgaram determinados críticos, ele não se manteve alheio aos
dramas vivenciados pelos negros. Cruz e Sousa atuou na campanha abolicionista, participando de
conferências e publicando artigos contra a escravidão, e manifestou sua insatisfação a respeito da
situação do negro em textos literários como “Pandemonium”, “Litania dos pobres”, “Dor negra”,
“Consciência tranquila” e os poemas “Emparedado”, em prosa, e “Crianças negras”, em versos.

Cruz e Sousa
Filho de escravos, João da Cruz e Sousa (1861-1898) nasceu em Desterro, atual Florianópolis, em Santa
Catarina. Os pais foram alforriados e, tutelado pelos ex-senhores, recebeu uma
educação primorosa até o momento em que seu protetor morreu, quando teve de
deixar os estudos. Começou a trabalhar ainda muito jovem, na imprensa
catarinense, na qual colaborou com textos em que se manifestava contra a
escravidão e o preconceito racial, de que foi vítima em mais de uma ocasião.Em
1890, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde entrou em contato com as obras de
Verlaine e de Baudelaire e liderou o primeiro grupo de simbolistas brasileiros.
Colaborou de maneira irregular em jornais e revistas cariocas e viveu quase na
penúria.

Morreu, aos 36 anos, de tuberculose, doença que também vitimou seus quatro filhos e a mulher.
Além de Missal e Broquéis, destacam-se na produção do escritor as obras Evocações (1898), Faróis (1900) e
Últimos sonetos (1905), publicadas postumamente.

1- Pesquise um poema considerado simbolista de Cruz e Sousa, copie-o e aponte as


características simbolistas.
2- Faça um quadro de características que diferenciam o Parnasianismo do Simbolismo.

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