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Paula Cajaty

A FÓRMULA
DO SUCESSO
PARA
ESCRITORES
PARTE 2
“A fórmula: as leis universais do sucesso” de
Albert-László Barabási aplicada aos escritores
– parte 2
“A fórmula: as leis universais do sucesso” de Albert-László Barabási aplicada aos escritores –
parte 2

Como Barabási diz em seu livro “A fórmula”, você pode ter uma performance perfeita
apurando suas habilidades, praticando, preparando-se, comparando-se a outros para ver onde
pode melhorar. Só que o sucesso é uma categoria totalmente diferente, daquilo que você faz.
Sucesso é uma medida coletiva que captura como as pessoas respondem à sua performance.
Logo, é um fenômeno coletivo, e não individual.
Neste ponto, é necessário inspecionar as redes sociais e profissionais que geram
respostas coletivas a performances individuais.
Um autor de livros deve se perguntar, em primeiro lugar: qual o impacto inicial da
minha obra entre as pessoas?
Autores que possuem vários livros em suas gavetas e que recusam contatos humanos
ou exposição social terão, evidentemente, uma dificuldade imensa em obter a resposta coletiva
à sua obra literária individualmente produzida. Os primeiros impactos de uma obra literária são
inevitavelmente locais, acompanhados por membros da família, colegas, amigos, vizinhos,
colaboradores, livreiros e alguns primeiros leitores. Nada mais do que isso. Esses são os círculos
que irão reverberar para outros círculos, assim irradiando pela sociedade até que haja uma
resposta comunitária mais ampla, ou até que encontre um lugar na consciência coletiva da
sociedade em que habita.
Quais as redes a que o autor pertence? Como ele pode utilizá-las estrategicamente
para o seu benefício? Como as redes em que o autor se encontra podem isolar ou multiplicar a
sua obra?
Voltando à dupla de pilotos Barão Vermelho e o desconhecido René Fonck, já vimos
que havia uma medida objetiva de performance – número de aviões inimigos abatidos –, e que
o Barão Vermelho teve performance inferior à de Fonck. Porém, o que fez o sucesso do Barão
Vermelho foi o que estava acontecendo na esfera política e social durante a guerra: as pessoas
desejavam um herói, e a máquina de propaganda alemã obteve alguém que entusiasmasse a
população, o que era vital para a sua mensagem. O público respondeu positivamente à
performance do Barão Vermelho, criou um mito sobre ele e transformou-o numa lenda. Ou
seja, a rede no seu entorno considerou-o útil e escolheu amplificar os seus sucessos.
Buscando dados de modo mais amplo, Barabási foi avaliar quem seriam as pessoas
mais famosas do mundo. A partir do Projeto Pantheon, que mede o número de línguas em que
uma pessoa é retratada na Wikipedia, encontrou Aristóteles, em primeiro lugar. Certamente,
essa medida corresponde fielmente a uma personagem histórica com contribuições relevantes
para a humanidade e que foi capaz de manter a sua relevância ao longo dos séculos. Só que,
junto a Aristóteles, Kim Kardashian ocupa o décimo quarto lugar entre as celebridades de todos
os tempos. Acontece que Kardashian é o oposto de Aristóteles: alguém que tem extremo
sucesso, porém, não se relaciona a uma performance óbvia.
Barabási olha para esses dados objetivos e enuncia a primeira Lei do Sucesso:

“A performance dirige o sucesso, mas quando a performance não pode ser medida, são
as redes que dirigem o sucesso”

A partir dessa assertiva, surge uma pergunta crucial: como sucesso e performance se
relacionam entre si?
Voltamos ao escritor de livros – de ficção ou de não-ficção – e fazemos essa mesma
pergunta: como medimos a performance de um escritor e identificamos se há hipótese para
que sua obra artística tenha sucesso?
Essa Lei ajuda um escritor a entender que é necessário casar sua obra com o interesse
da comunidade, para que a sua performance possa ressoar o mais amplamente possível. Se o
sucesso só vem quando o trabalho de um escritor é relevante para os outros, que vão consumir
e ressoar a sua obra, então o escritor precisa entender como o interesse coletivo nas suas
contribuições artísticas pode ser gerado, através das redes complexas em que ele está inserido.
A primeira Lei do Sucesso compara os dados objetivos da performance individual, com
os dados subjetivos das redes invisíveis no ambiente em que habitamos.
Para testar a primeira Lei, Barabási analisou os resultados dos tenistas. Observando o
tráfego nas páginas Wikipedia, foi possível identificar que, a cada jogo ganho, as pessoas
corriam para clicar na página Wikipedia do ganhador.
Assim, para ter sucesso como tenista, a performance deve preponderar: o tenista
precisa ganhar jogos.
Claro que a performance também deve ser considerada nas outras profissões, ainda
que a performance seja difícil de comparar: advogados devem ter um conhecimento jurídico
que atraia clientes e os faça ganhar suas causas, os arquitetos precisam conhecer engenharia e
design e criar projetos atrativos.
Mas nem sempre a performance é o que determina o sucesso ou o fracasso. Em uma
outra análise, os achados do autor concluíram que bons alunos que, por décimos de nota, não
entraram nos melhores colégios de Boston, e entraram em colégios menos importantes,
tiveram performance equivalente na vida profissional. Neste caso, a pesquisa confirmou que
não é bem o colégio que cria o sucesso para o aluno, e sim o sucesso acadêmico do aluno que
gera o renome e estabelece o ranking de um colégio.
Novamente a primeira Lei se mostrou válida: alunos com semelhante performance,
embora colocados em colégios de reputação diferente, tiveram o mesmo resultado
profissional.
Com isso, sabe-se que a excelência é gratificada com o sucesso e o sucesso, quando
mensurável, decorre da performance.
Pensamos na ótica do mercado literário e editorial: quais as medidas para identificar a
performance de um escritor?
Para já, penso em duas: premiações e ranking de vendas.
Para um escritor, ganhar um prêmio literário ou editorial pode ser alguma mensuração
do seu trabalho, assim como o número de livros vendidos. Um autor que obtenha um prêmio
literário do seu país, ou que venda 2 milhões de exemplares, tem a sua performance
objetivamente apreciada e estes dados serão certamente levados em conta para o seu sucesso
e para o sucesso dos próximos livros que irá criar.
Em outras palavras: esses reconhecimentos públicos (prêmios, número de exemplares)
serão capazes de conduzir futuros sucessos de um escritor.
Paulo Coelho não ganhou prêmios literários, mas vendeu milhões de exemplares.
Stênio Gardel, praticamente desconhecido até 2021, ao ser finalista do Jabuti e ganhar o
National Book Award, tornou-se famoso. Logo, por diferentes métricas, ambos atingiram o
sucesso: um através dos números de vendas; o outro, através de premiações relevantes.
Mas, e antes de atingir essas marcas, como será possível comparar as performances
dos livros inéditos, manuscritos, livros não premiados, ou quanto aos quais não haja contagem
de exemplares vendidos? Essa é a questão que se coloca para os autores estreantes, ou que
não apresentaram resultados mensuráveis: ou seja, que não possuem performance.
Neste caso, como Barabási reconhece, há ambientes e segmentos profissionais em que
a performance não pode ser medida em números. Será exatamente nestes âmbitos que as
redes vão preponderar perante a performance.
O autor prossegue no desenvolvimento da primeira Lei e assinala os motivos pelos
quais apenas o trabalho duro não funciona como gerador de sucesso. Para tanto, lembra a
dupla de artistas plásticos Al Diaz e Jean-Michel Basquiat. Ambos saíram do mesmo ponto de
partida, mas Basquiat, criando redes e tratando cuidadosamente das suas relações pessoais,
tornou-se um ícone, enquanto Diaz, sendo um recluso, não teve os mesmos resultados.
Conclui-se que, para a arte, não há como discernir, apenas num olhar, entre o que
possui valor e o que não tem.
O que traz o valor para uma obra artística, quando inexistem dados de performance, é
a rede invisível de pessoas que, conjuntamente, estabelecem um preço para ela.
Resumidamente, foi o que aconteceu com a “Fonte”, obra de Marcel Duchamp. Ao
colocar o prosaico vaso sanitário numa exposição de arte, aquilo suscitou no público e na crítica
um grande questionamento de qual o valor intrínseco da arte e como esse valor é atribuído. Ao
ponto de, atualmente, historiadores de arte considerarem a “Fonte” como a obra de arte
moderna única mais importante. Afinal, uma das suas 17 réplicas receber de um colecionador
grego o valor de 2 milhões de dólares em 1997, por considerá-la a obra contemporânea de
maior importância.
A “Fonte” ilustra a dificuldade de entendermos como o sucesso ocorre quando
qualidade e performance não podem ser mensuradas. Obviamente que pode haver na obra
qualidade e performance, mas os números objetivos que as possam comparar não estão
disponíveis.
Transposto isso para o mercado editorial, perguntamo-nos: Qual é o livro mais vendido
do mundo? Qual o mais famoso? Qual o mais representativo de uma época? Tudo isso é
relativo e a medida nem sempre é apreciável numericamente.
Para isso são feitas listas de mais vendidos, rankings, concursos, premiações. Por isso
as plataformas observam o número de avaliações, reviews, estrelas. Todas estas são tentativas
de mensurar o impacto de uma obra artística no público e, assim, dar uma ideia da relevância
desta obra e do seu possível sucesso.
A Amazon, por exemplo, promove um livro a partir de 50 resenhas na plataforma. É o
número de corte e, acima dele, a Amazon realiza promoções cruzadas (cross promotion) e
classifica o livro acima de outros nas mesmas categorias, com base em termos de pesquisa.
Com 75 avaliações, a Amazon é acionada para enviar mensagens de e-mail para clientes que
compraram livros semelhantes. Esse é, portanto, um diferencial numérico que precisa ser
levado em conta por novos escritores: eles devem investir em números de performance.
De fato, os números da venda de cópias podem ser anotados e resulta disso que as
obras clássicas, publicadas há muitos anos, possam tenham até maior impacto e visibilidade do
que livros recém lançados. Além disso, a percepção do público leitor pode mudar ao longo do
tempo.
A Mona Lisa só se tornou famosa a partir de 1911, as obras de Van Gogh só foram
valorizadas após a sua morte. O que revela que uma obra literária pode se tornar famosa em
qualquer altura. Essa afirmação é confirmada com “Orgulho e Preconceito”: o romance foi
terminado em 1797, quando Jane Austen tinha 21 anos, e na época não era grande coisa. A
história repercutiu tanto ao longo dos séculos, que o romance se tornou mundialmente
famoso. Em 2008, atingiu o 1º lugar entre os 101 melhores livros já escritos, em uma pesquisa
na Austrália. Entre os espectadores da BBC, ficou com o 2º lugar em 2003, após “O senhor dos
anéis”, um livro de gênero totalmente diferente, o que demonstra como listas de melhores
livros são relativas, afastadas de um padrão intrínseco e único daquilo que deva ser
considerado o melhor livro literário. Afinal, novos concursos podem ser feitos e outros
resultados poderão aparecer, aumentando ou reduzindo a repercussão de Jane Austen, donde
se conclui que a performance, na arte, ainda que mensurável, levará sempre em conta o lugar e
o tempo, ou seja, as redes que repercutem a obra.
Assim, inexiste um meio de se estabelecer que uma obra artística seja
verdadeiramente melhor do que a outra, sem que a rede do artista assuma o protagonismo e
estabeleça esse valor.
No segmento da arte, são as redes que trazem oportunidades e hubs para novos
grupos sociais, de modo que a performance – aqui referindo a arte literária – precisa ser
empoderada pela oportunidade.
O principal modo de sair do ostracismo é atravessar as pontes sociais. Barabási aponta
a necessidade de se pensar diuturnamente como o trabalho individual impactará os outros e o
mundo à volta.
Se o valor dos tenistas está mais ligado à performance e se o valor dos artistas
plásticos está mais ligado às suas redes, as outras profissões situam-se no meio termo entre
esses dois extremos. Então, na hora de avaliar e comparar métricas de performance e sucesso,
é necessário levar em conta a Segunda Lei do Sucesso, que será estudada no próximo artigo.

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