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Paula Cajaty

A FÓRMULA
DO SUCESSO
PARA
ESCRITORES
PARTE 5
“A fórmula: as leis universais do sucesso” de
Albert-László Barabási aplicada aos escritores
– parte 5
“A fórmula: as leis universais do sucesso” de Albert-László Barabási aplicada aos escritores –
parte 5

Por que os superstars – de qualquer área – são tão desejados? Quem não ficaria
impactado ao conhecer pessoalmente Paulo Coelho (90 milhões de cópias), ou Pedro Bandeira
(27 milhões de cópias)?
Na consciência coletiva, superstars – e no caso do mercado editorial, os best-sellers -
pertencem a uma sociedade separada, constituída dos raros e sortudos. Os superstars são
idolatrados. E, pior, as pessoas os tratam de tal modo, que a sua própria habilidade de ter
sucesso em sua presença chega a ser afetada negativamente por essa conduta.
Essa é outra das análises quantitativas de Barabási: nos seus estudos, o economista
Jennifer Brown explorou os efeitos negativos que os superstars exercem no resto das pessoas,
ou seja, nos seus seguidores. Avaliando as performances de Tiger Woods e seu competidor
mais próximo, o segundo lugar, Vijay Singh, notou-se que o último apresentava melhores
resultados exatamente quando Tiger Woods não estava no torneio. Já os competidores com
posicionamentos mais distantes sequer eram afetados pela presença ou ausência de Tiger
Woods no torneio. Os números se revelaram tão evidentes, que esse efeito ganhou um nome:
o “efeito Tiger Woods”: uma frase que capturava a ideia de como a performance dos
competidores sofre na presença dos superstars.
Os estudos de Brown evidenciaram que a falta de esperança é capaz de criar uma
postura derrotista e, por esse motivo, é importante que as pessoas voltem a ver os superstars
como pessoas normais e colocarem-se no mesmo patamar, para que possam sentir-se capazes
de alcançar o mesmo sucesso.
Até porque os superstars são pessoas completamente normais que fizeram um
primeiro sucesso e este, multiplicado pelo ajustamento ao público, levou ao sucesso futuro, em
um ciclo infinito e em crescente, o que consolida a Terceira Lei do Sucesso:

“Sucesso anterior x fitness = sucesso futuro”

O livro conta-nos a experiência do jogo de cartas “Exploding Kittens”, que tinha uma
meta de campanha no Kickstarter de USD 10.000,00 e atingiu mais de 8,8 milhões de dólares de
200 mil apoiadores. Isso, em um ambiente no qual 70% dos projetos de financiamento coletivo
fracassam.
Um experimento de Arnout van de Rijt foi conduzido junto a projetos de
financiamento coletivo, que consistia em contribuição pequena e aleatória a alguns projetos
escolhidos, mantendo o monitoramento de um segundo grupo que não receberia esse apoio
inicial. Sua conclusão foi a de que doações feitas aos projetos foram determinantes no
levantamento de mais doações aos mesmos projetos, revelando que o sucesso é capaz de criar
um novo sucesso. Esse efeito foi chamado de “apego preferencial”. O conceito, identificado em
1999, mostra que os ricos ficam mais ricos, as celebridades constroem mais celebridade, e nada
é capaz de gerar sucesso como a evidência do próprio sucesso. Basicamente, significa que a
máxima “fake it until make it” realmente funciona.
E esse fenômeno foi extremamente intensificado com a internet. Isto porque os hubs
de pesquisa (Google, Facebook) fazem o ranking de um site pela contagem de quantos outros
sites referenciam aquele primeiro site. Assim, quanto mais links um site possui, a sua
visibilidade online é aumentada exponencialmente. O mesmo acontece com tudo o que
participa de uma rede: seja uma personalidade famosa, um corretor de imóveis, um médico, e
será possível identificar todas as formas de apego preferencial no mundo que nos rodeia.
Quanto mais referências aquele item ou personagem receber, mais valor ele receberá.
Para que se tenha uma ideia, a Amazon trata de modo diferente os livros ou produtos
que recebem a partir de 50 avaliações e aumentam, automaticamente, a exposição do produto
na plataforma. As 50 avaliações são um divisor de águas para um livro ficar “escondido” e
precisar de uma pesquisa específica, ou ser mais apresentado como sugestão de venda de
acordo com as preferências de consumo.
Também é isso o que ocorre com um profissional liberal: quanto mais clientes um
médico possui, e que o recomendam, mais clientes vão buscá-lo e, depois, mais clientes o
médico terá, em um círculo virtuoso ilimitado.
O apego preferencial é, portanto, o responsável pelo efeito “bola de neve”.
Se o sucesso tivesse um limite, como a performance, ele teria um limite para a base de
fãs. Só que não há limite para o sucesso.
E Barabási continua: outras coisas possuem esse efeito “bola de neve”. Conhecimento,
habilidades, experiências - e todos estes levam ao sucesso, que se constrói sobre si mesmo.
Para tirar qualquer dúvida sobre os fundamentos de uma história de sucesso, o
pesquisador Arnout fez um novo experimento: separou o 1% entre os editores mais ativos da
Wikipedia, depois dividiu-os em 2 grupos. Para o primeiro grupo, concedeu prêmios chamados
“Barnstars”. Para o segundo grupo, não forneceu reconhecimentos ao seu trabalho.
Simplesmente, a produtividade daqueles premiados subiu 60%, quando comparada
com o outro grupo. E, mais, entre os premiados, muitos deles passaram a ganhar mais prêmios
oriundos de outros usuários da Wikipedia. Exatamente como se a pessoa premiada, depois do
prêmio, se tornasse ainda mais “premiável”.
Enquanto isso, o grupo que não foi premiado manteve-se no mesmo patamar de
produção de conteúdo, e não ganhou prêmios no período.
É isto também o que acontece com autores que participam de premiações literárias:
sua motivação aumenta, o seu trabalho se intensifica, aprendem a “ganhar prêmios”, obtêm
visibilidade, e então o retorno vem com rapidez.
Note-se, portanto, que não havia diferença inicial entre os dois grupos estudados: não
havia variantes no talento ou privilégio, não havia vantagens sociais inerentes àquelas pessoas.
Simplesmente, o sucesso as motivou a entregar mais – e, no entanto, todas elas tinham as
mesmas características no início do experimento.
Há mais uma questão que deve ser levada em conta: uma pessoa premiada torna-se, à
partida, mais premiável. Isto porque o reconhecimento anterior reduz as incertezas acerca dos
seus méritos, e pode ser usada para justificar as novas premiações.
O fenômeno tem um aspecto de “prova social”: se em um mercado há uma fila se
formando em torno de um produtor local, e se logo uma fila se forma, isso simplesmente
convida outros a também entrarem na fila. O alarido dos próprios consumidores faz com que
outros fiquem curiosos para descobrir o que é.
O mesmo ocorreu com o livro “1808”, do Laurentino Gomes, há alguns anos, no
mercado brasileiro. De um momento para outro, todos estavam lendo este livro e, porque
todos estavam lendo, todos os que não o conheciam imediatamente quiseram passar a lê-lo. E,
porque todos liam um texto histórico dos tempos do Império do Brasil, outros romances
históricos e livros do gênero tiveram um aumento de performance.
Como a febre dos livros de cachorro a partir de “Marley & eu”, de 2006, que perdurou
por longos anos, ou dos livros de colorir, que começou com “Jardim Secreto” em 2015.
O apego preferencial é o que está invisível sob as nossas escolhas, desde os produtos
que compramos até as ideologias que professamos. Há também um divertido estudo de Arnout
sobre como uma petição na plataforma Change.org ganha assinaturas: apenas as petições que
agregam muitas assinaturas são assinadas, e nossa resposta interna para assiná-las é: “esse
tema é muito importante para o meu grupo”, apenas quando percebemos que uma causa é
popular e tem tido êxito.
Este movimento de acumulação pode se intensificar ao longo dos anos, beneficiando
inclusive aqueles que originalmente não fizeram sucesso: as tendências do mercado editorial
são capazes de gerar efeitos imensos para gêneros específicos de livros, e cabe ao escritor estar
atento aos movimentos do mercado: não para criar livros fora do seu gênero, mas para
relacionar-se com tais movimentos e manter-se presente e ativo nas ondas do mercado
editorial.

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