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Coluna Comporte-se

Data 18/01/2023

Título: Vivendo entre o ser, o ter e o fazer.

Olá.

Hoje esta coluna está filosófica. De vez em quando precisamos ser filosóficos para entender
como a vida nos afeta, como afetamos a vida e principalmente, para termos um pouco de
analgésico para esta atividade tão complexa como viver e ainda por cima, viver em sociedade.

A ideia para este texto nasceu da dificuldade algumas pessoas que frequentam meu
consultório, geralmente pessoas que atuam em posições de liderança e outros tantos que já
posso chamar de colegas, pois fizeram formações semelhantes e enfrentam dificuldade diárias
para promover uma ação ou reação específica em outras pessoas. Sim, querido leitor, nossa
grande dificuldade, muito mais do que fazer está associada a habilidade de fazer com que
façam e neste caso, como diriam as toupeiras, o buraco é mais embaixo.

Fazer com que façam é um eufemismo para a manifestação de poder. Segundo French e Raven
a definição de poder consiste em:

Habilidade que “A” tem de fazer com que “B” se comporte de acordo com os
interesses de “A”.
Desta forma, todas as pessoas que podem fazer com você se comporte de acordo com os
interesses dela, na prática exercem poder sobre você. Eis aqui um ponto de pensamento sobre
o quanto somos ou não pensadores livres. Bem, ainda segundo estes pensadores, existem
cinco formas de se exercer poder sobre uma pessoa:

A primeira e mais conhecida é o poder coercitivo ou poder de coerção. Lembra quando


ouvimos na mídia que determinado sujeito recebeu ordem de condução coercitiva para
depor? Pois é, coerção é a forma mais conhecida e mais cruel de poder. Na prática significa
que se não se comportar como esperado, o indivíduo sofrerá consequências.

A segunda forma de poder, muito utilizada de forma “motivacional” é a chamada de poder de


recompensa. Ao contrário do poder coercitivo, esta forma de poder está associada não com as
restrições, mas sim com as premiações. Este modelo pode ser visto na maioria das empresas
na forma de programas de metas ou até mesmo em casa, quando uma criança faz algo de bom
e é recompensada. Este modelo foi largamente estudado por Ivan Pavlov com ratinhos que
quando faziam algo correto ganhavam comida, também chamado de comportamento
condicionado.

A terceira forma de poder é definida como poder legítimo, ou seja, aquele que é reconhecido e
aceito pela sociedade dispensando maiores explicações ou definições. Um exemplo de poder
legítimo é o poder paterno e materno. Contudo, o poder legitimo envolve uma questão chave:
Para ser legítimo ele precisa ser legitimado. No caso do poder paterno, ele pode ser exercido
por pais que cumprem adequadamente seu papel como tal. Um pai ou uma mãe que sejam
relapsos perdem o direito sobre os filhos.

A quarta forma de poder conhecida é o poder de especialista. Simples de compreender, pois


quando confiamos em um especialista, passamos a alterar nosso comportamento de acordo
com as suas instruções na maioria das vezes sem questionamento. Pense por exemplo em uma
consulta médica. O profissional examina, pede exames completares, diagnostica e receita
medicações que via de regra, tomamos da forma como recomendada sem questionamentos.
Outra forma banal de exercício de poder está no uso de aplicativos de navegação baseados em
GPS. Aceitamos que os criadores do sistema são especialistas e se estamos em uma cidade
desconhecida, na chuva e querendo encontrar o caminho, aceitamos as mudanças sem nos
preocupar com a qualidade dos programadores e algoritmos.

Por fim, temos o poder legal. Poder de força de lei que como o nome diz, é definido por leis e
modelos maiores que não cabe discussão de pronto. Por exemplo, a lei determina que um
agente policial pode nos parar, abordar, solicitar documentos e etc., desde que respeite os
limites da ética e do respeito. A mesma lei que autoriza a abordagem, limita a ação do agente
criando assim sustentação.

De todos estes modelos de exercício de poder, exceto o poder legal, todos são aplicáveis no
mundo corporativo assim como nas relações entre coaches, mentores e afins. Para seu pleno
exercício, de diferentes formas será preciso identificar as expectativas de ganhos do elemento
sobre o qual se pretende exercer o poder, ou seja, quais as condições para que o elemento em
estudo altere seu comportamento, fazendo o que precisa ser feito, na forma como precisa ser
feito. Ai que precisamos entender que existem pessoas do ser, pessoas do ter e pessoas do
fazer.

Nem sempre elementos materiais serão suficientes, seja como recompensa seja como
restrição para alterar o comportamento de alguém. Da mesma forma, se quisermos exercer o
poder de especialista, mas, nossa forma de vida não serve de referência para o outro, isso não
ocorre. Um coach de prosperidade (muito comum hoje em dia) que leva uma vida espartana,
não irá promover a mudança pretendida em ninguém assim como um coach de qualidade de
vida que trabalha dezoito horas por dia não convencerá ninguém.

Lembra do tal poder paterno? Então, como um pai que não respeita o avô será respeitado pelo
filho?

Você que pretende trabalhar como mentor, coach, especialista ou o que for, avalie muito bem
o nicho do seu interesse e verifique se existe aderência com o seu jeito de viver. Lembrando
que nenhum de nós é somente uma das coisas. Podemos ser, ter e fazer em proporções
parecidas. Busque compreender seus motivadores para sentir seu estilo e a partir disso, poder
usar seus mecanismos de poder e suas formas de acesso.

Para hoje, o que mais te motiva:

 O nome no cartão de visita de uma grande empresa?


 Um automóvel ou motocicleta de alto valor?
 Uma viagem para um lugar de sua preferência?

Tudo isso conta, e somente nós temos a resposta. Caso queira conversar, você sabe onde me
encontrar.

Pense nisso.

Edson

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