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Coluna Comporte-se

Data 17/11/2022

Título: Educando onde tudo ofende.

Olá.

Vivemos tempos bastante estranhos não é mesmo? Ao mesmo tempo que queremos total
liberdade, somos colhidos por uma sensação de abandono quando nos vemos livres e sem
saber para onde ir. Buscamos ser ouvidos, mas por outro lado, não queremos ser contestados
por aqueles que nos ouvem. Reclamamos quando nossa dor não é percebida, mas também
reclamamos da dor do outro que chamamos de mimimi. Enfim, parece que a maioria das
coisas que conhecemos e aprendemos agora não mais funcionam, ou pior ainda, não são
adequadas, apesar de visivelmente funcionarem.

Me lembro dos tempos de outras vidas minhas, profissionais é claro, onde trabalhava criando
cartas de conduta que chamávamos de cartas de governança, ou modelos de papéis e
responsabilidades e invariavelmente elas continham a seguinte frase: “CABE AO GESTOR
CUMPRIR E FAZER CUMPRIR...” Agora pensa em uma coisa difícil: O fazer está claro e é até
certo ponto bastante simples. Daí vem a complicação o tal do “fazer cumprir”. Fico me
perguntando, como fazer para fazer que algo seja cumprido? Volto no tempo com bom e velho
professor Bazanini que lecionava sobre estruturas de poder e naquela época dizia que o poder,
tem uma definição clara e significa “A habilidade de um indivíduo fazer com que outro
individuo se comporte de acordo com os interesses deste primeiro”.

Assim, o tal do fazer cumprir está relacionado diretamente com o exercício do poder. Poder de
um indivíduo sobre o outro. Frase estranha e até mesmo ofensiva em alguns aspectos. Então
me acompanhe no desenrolar deste raciocínio: Existem diferentes formas de poder, na
verdade são cinco sendo a primeira mais conhecida que é poder coercitivo. Ou você faz o que
eu mando ou sofre as consequências. Velho conhecido nosso. O segundo modelo é o chamado
poder da recompensa, onde se você fizer aquilo que eu digo, você ganha um prêmio. Este
modelo está associado diretamente ao trabalho corporativo com suas políticas de bônus e
remuneração variável. Mas, também pode estar associado a várias formas de educação
“moderna” com as crianças ganhando doces, presentes ou mais tempo de videogame se
fizerem algo que deveria ser sua obrigação.

O terceiro modelo de exercício de poder é chamado de poder do especialista. Este modelo


podemos presenciar quando vamos a um médico por exemplo. Ele faz uma rápida entrevista,
elabora um diagnóstico, pede ou não pede exames e a partir deste ponto recomenda
medicamentos que a maioria de nós toma sem sequer ler a bula. O fato do médico ser um
especialista em sua área concede poder para alterar meu comportamento de maneira
automática. O quarto poder é o poder legal. Aquele exercido por lei. Um agente de polícia
pode, por exemplo, parar qualquer pessoa na rua e solicitar a apresentação de documentos,
pode ainda executar uma revista em um automóvel se assim desejar, obviamente, dentro dos
limites da lei e da cordialidade. O fato de ser um agente da lei lhe concede o poder de alterar
minha rota e meu comportamento, inclusive no sagrado direito de ir e vir.

Por fim, o quinto modelo de exercício de poder é exercido através do poder legítimo. Aquele
que é concedido pelos fatos e circunstâncias em uma mescla entre cultura e legalidade. Um
exemplo claro é o pátrio-poder. Aqui deixando claro que pode ser exercido pelo pai ou pela
mãe, ou ainda por qualquer pessoa seja responsável por outra pessoa menor de idade ou
dependente. Agora, curiosamente, o poder legítimo precisa ser legitimado. O que significa que
se você for responsável por um menor, mas, todavia, possuir uma conduta indigna, não poderá
ser reconhecido como tal e perderá o poder.

Agora que você teve esta longa leitura sobre formas de poder, retomo a pergunta original:
Como educar alguém em um mundo onde tudo ofende. Veja que não estou falando de educar
no sentido de aplicação do poder seja ele legítimo, legal ou de especialista. Estou falando de
“dar um toque” em um colega de trabalho ou até mesmo, orientar uma pessoa de nossa
equipe para atuar de maneira mais assertiva. Algumas das vezes, não são orientações
profissionais e podem inclusive envolver comportamentos indesejáveis, falhas no dress code
ou até mesmo hábitos de saúde e higiene. Tudo é possível. Na prática, estou falando do
modelo de “cumprir e fazer cumprir” que é a base do código da liderança. Se apertar de
menos, nada acontece, se apertar de mais, pode-se ofender e namorar seriamente com
elementos do assédio moral.

Assim fica a dica de quando podemos educar alguém sem ofender: Somente nestes casos, ok?

 A pessoa pediu para ser educado. Neste caso, quando a pessoa pediu sua ajuda, toda a
orientação é bem-vinda.
 Quando você é responsável legal pela pessoa. Serve pai, mãe, professor ou tutor.
Nestes casos é esperado que você oriente e eduque, então tudo bem.
 Quando a atitude da pessoa coloca você em risco. Seja físico, psicológico, político ou
qualquer outro tipo de risco. Neste caso você não só pode como deve educar para que
o comportamento mude.
 Quando a atitude da pessoa coloca terceiros em risco. Vale a mesma regra anterior.

Fora estas quatro situações, nunca tente educar uma pessoa. Você abrirá uma porta para o
sentimento de desrespeito e ofensa e isso dificilmente será reparado.

Então como faço?

Simples, vá para a primeira situação: Antes de falar, pergunte se a pessoa te dá permissão.

Assim você pode exercer seu poder de especialista e ajudar a pessoa a mudar seus
comportamentos, sem que isso vire ofensa, ou mimimi.

Pense nisso!

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