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Paula Cajaty

A FÓRMULA
DO SUCESSO
PARA
ESCRITORES
PARTE 3
“A fórmula: as leis universais do sucesso” de
Albert-László Barabási aplicada aos escritores
– parte 3
“A fórmula” do sucesso – para escritores (parte 3)

Segundo Albert Barabási, a Segunda Lei do Sucesso enuncia o seguinte:

“Performance é limitada, mas o sucesso é ilimitado”.

Neste capítulo, pergunta-se o autor: como decidir quando é impossível decidir? Para
ilustrar essa dúvida, ele traz como exemplo os concursos de vinho e os estudos quantitativos
efetuados neste universo.
Simplesmente, nos concursos de vinhos, chegou-se à curiosa conclusão acerca da
impossibilidade de os juízes de fato conseguirem escolher o melhor vinho entre os candidatos.
Em estudos cegos, os mesmos juízes atribuíram notas 80, 90 e 96 para o mesmo vinho, sendo
que a última nota renderia a medalha de ouro.
Notou-se, portanto, que em um ambiente de extrema excelência, é impossível
discernir a diferença entre vinhos igualmente excelentes, o que equivaleria a uma tarefa de ser
capaz de diferenciar a performance de Usain Bolt frente a Yohan Blake e Tyson Gay, de quem
ele ganhou por 0,11 segundos, uma diferença de 1%. Se pode ser fácil registrar a diferença de
1% entre velocistas, é impossível discernir a diferença de 1% entre vinhos, apenas com base no
seu gosto, cheiro e cor. Essa comparação pode ser efetuada com livros e é por isso que os júris,
ao analisar finalistas de obras literárias, precisam ser em número suficiente, para que as notas
sejam corretamente atribuídas.
Nesta análise comparativa, Barabási concluiu que a performance tem um limite, ou
seja, um teto, e por isso é possível prever quais os limites máximos de performance em cada
área. Se a performance fosse ilimitada, outros competidores conseguiriam continuar a quebrar
recordes – mas isso é humanamente impossível. Logo, em um espaço de excelência, a diferença
entre performances igualmente excelentes é imperceptível. Seria como tentar comparar o
seguinte: entre Miguel Cervantes e Shakespeare, há como atribuir o melhor entre eles?
Novamente, prepondera a Segunda Lei do Sucesso: se a performance é limitada, o
sucesso é ilimitado.
Dada essa assertiva, o que um escritor pode fazer para distinguir-se entre os demais,
se a performance (o seu texto) já estiver no nível de excelência?
Barabási, ao tentar responder a esta pergunta, traz uma nova análise quantitativa: em
um concurso de música, foram avaliados três finalistas em três etapas: um grupo ouviu apenas
o áudio, o segundo grupo recebeu áudio e vídeo, e o terceiro grupo avaliou apenas o vídeo dos
finalistas, sem ouvi-los. O resultado foi surpreendente: o grupo que apenas observou o vídeo
dos finalistas, sem áudio, foi o mais apto na escolha do vencedor, acertando o vencedor com
50% de margem perante os dois outros grupos. Um resultado intrigante: o grupo que não ouviu
os músicos foi duas vezes mais capaz de identificar o vencedor do concurso de música, frente
aos dois grupos que ouviram os áudios.
Voltando aos escritores literários, o que isso pode significar?
Simplesmente, que aquele que fizer melhor uma encenação da sua vida de escritor,
aquele que vestir a camisa da sua atividade, que souber atuar de modo mais relevante e
perceptível na sua profissão, será mais capaz de ser identificado como melhor escritor por
avaliadores e leitores. Em outras palavras: um escritor ativista, ou tenha uma conduta
impactante, terá mais chances de ser percebido pelo público como melhor escritor. Em outras
palavras: em um contexto em que uma obra literária de um escritor com expressão midiática
seja de qualidade e esteja competindo com outras obras de idêntica qualidade, porém de
escritores não-ativistas, ou que não aparecem bem ao público - aquele que for mais midiático
terá o melhor resultado.
Distinguir-se da multidão, fazer com que genuinamente os traços da sua personalidade
impressionem o público, aparecer melhor ou de modo único frente aos demais será algo
valorizado pelos leitores.
Aqui devemos lembrar autores cujas características foram singulares: Shakespeare
inventou mais de 1.700 palavras que se incorporaram ao vocabulário inglês, do mesmo modo
que Guimarães Rosa o fez no Brasil. Stephen King afiava sua escrita redigindo 2 mil palavras
diariamente sem a presença de advérbios, seus livros já venderam mais de 400 milhões de
cópias, com publicações em mais de 40 países. Clarice Lispector, com sua personalidade
introvertida e misteriosa, escrevia a partir do lugar de fala de uma mulher do século XX que se
confrontava com o espaço da mulher naquela sociedade.
Uma característica comum a todos eles: um vasto conhecimento da sua sociedade e do
seu tempo, uma noção forte do seu idioma, de história, contexto e capacidade de ler o mundo.
Esses e muitos outros escritores, por sua tenacidade e motivação, suas personalidades únicas,
inspiraram gerações com a sua visão do mundo e a capacidade de contar histórias incríveis e
memoráveis.
Claro que, diferente de uma competição de música, na qual a atuação presencial do
músico pode interferir no resultado, em um concurso literário, isso será levado em conta se o
júri conhecer o nome do autor e o seu posicionamento na sociedade: ou seja, no caso de obras
já publicadas, em que se sabe quem é o autor e quem é a editora. Em concursos de inéditos,
em que se desidentifica o autor, e o júri avalia apenas o texto literário, o que irá preponderar
será, efetivamente, a qualidade da obra.
Logo, para escritores que participem de concursos com livros publicados, será bom
que porte-se como um escritor profissional, sempre que puder, em entrevistas, produção de
textos para a mídia e redes sociais, e cuidadosamente refletir como transmite a sua imagem
pública.
Do mesmo modo que um médico, para ser confiável, precisa portar-se como médico,
adotar o vocabulário próprio, conviver com outros médicos, ou um advogado, para ser
reputado bem-sucedido, precisará reafirmar suas vitórias e ter uma conduta pautada por um
código da profissão; escritores possuem uma agenda própria, pois transitam entre uma
profissão que exige algo de sisudez, mas ao mesmo tempo, exige atuação social. Escritores
devem ser revolucionários e, ao mesmo tempo, cumprir as normas sociais do que é expectável
de um escritor. Andam sobre uma corda-bamba, sobretudo em países com costumes
polarizados.
Se J. K. Rowling foi um fenômeno de vendas na Inglaterra e no mundo, atualmente
sofre com um extremo cancelamento pela sociedade. Se Chico Buarque vendeu muito bem
junto a um público entre 2008 e 2015, após a polarização no Brasil, precisou retirar-se da cena
midiática para não sofrer o cancelamento de segmentos da direita extrema e comprometer
suas performances anteriores.
O leitor se pergunta: mas então, se concursos literários, competições e premiações
podem trazer resultados aleatórios, desvinculados da qualidade do conteúdo, ainda vale a pena
concorrer? Segundo Barabási, sim.
Justamente porque competições podem conceder prêmios aleatoriamente e o
concorrente pode ser um dos contemplados, o autor recomenda que os competidores se
submetam a concursos de modo reiterado e sistemático.
Em uma análise dos resultados da Competição Internacional de Música da Rainha
Elizabeth, chegou-se a conclusões desconcertantes: nenhum competidor que tenha tocado no
primeiro dia ganhou o prêmio. Nunca. Depois, somente os 2 competidores do segundo dia e 1
competidor do último dia, foram capazes de ganhar o prêmio. Por fim, metade dos ganhadores
estava entre os que tocaram no quinto dia da competição. Mulheres tiveram,
sistematicamente, posições inferiores nestes concursos.
Quais as razões para esses resultados? Descobriu-se que todos os competidores
deveriam tocar a mesma música, que era inicialmente desconhecida dos músicos e do júri.
Assim, os jurados tendiam a dar notas baixas para os primeiros competidores, quando foram
apresentados à música pelas primeiras vezes, e notas mais altas quando já estavam mais
acostumados à música do concerto, premiando os competidores finais com notas mais altas.
Quanto às mulheres, notou-se que havia uma discriminação evidente: homens sempre
ganhavam melhores posições, e as mulheres tinham resultados melhores quando não se sabia
o gênero de quem estava tocando.
Sobre a atribuição de notas ao longo de uma avaliação, para quem é professor, esse é
um fenômeno bem conhecido: a tendência é ser mais rigoroso com as primeiras provas
dissertativas, e menos rigoroso depois que já foram avaliadas mais de 50% das provas, quando
já se estabeleceu um costume com a média das respostas dos alunos. Ao ponto de os
professores geralmente revisarem para cima as notas dos primeiros alunos.
Os pesquisadores continuaram investigando se esse fenômeno acontecia em outros
concursos, e ele se repetiu em concursos de: canto, skate, dança, entrevistas de emprego,
seleção de juristas na Espanha, aprovação de aparelhos médicos na FDA americana, e a lista
continua. Um padrão foi observado: em todos os concursos, competidores posicionados do
meio para o final levam o melhor resultado.
Deste modo, se você é um escritor, o único modo de ganhar prêmios, é continuar
participando dos concursos, para que, posicionado entre os últimos avaliados, possa ter mais
chances. Em algum momento, o seu texto estará do meio para o final e será aquele que vai
agradar extremamente os avaliadores que já atravessaram muitas leituras. Assim, poderá ser
possível a atribuição de uma premiação de semifinalista, ou finalista, e até mesmo a premiação
de vencedor.
A notícia boa de Barabási é que, uma vez que se ganhe um concurso, os dados revelam
que o competidor começará a ganhar sempre, pois estranhamente o sucesso começa a se
reproduzir sozinho, crescendo em proporção ao seu tamanho, de modo infinito. É aqui que o
autor afirma a comprovação da parte final da Segunda Lei do Sucesso: embora a performance
tenha limites, o sucesso é ilimitado - a premiação concedida pelo público poderá ser infinita.

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