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FRANK B.

HOLBROOfC EDITOR

1
A IT
V L .U Z J

INTERCESSÃO, EXPIAÇÃO E JUÍZO


n o Sa n t u á r io C e l e s t ia l

Faculdade Adventista
SÉRIE
B ib lio te ca
) e P r o f e c ia s a p o c a l í p t ic a s
Centro Wtvte
47528
4
O
livro de Hebreus, em particular, teve uma função vital para os pio­
neiros do adventismo no contexto do Desapontamento em 1844.
Seu estudo foi um fator decisivo nos anos de formação doutri­
nária do adventismo, especialmente ao definir a crença bíblica, bifásica, do
ministério sacerdotal expiatório de Jesus no santuário celestial, com forte
ênfase na segunda vinda, fase iniciada no dia 22 de outubro de 1844.
A Comissão de Daniel e Apocalipse da A ssociação Geral dos Ad-
ventistas do Sétimo Dia apresentou na década de 1980 novas evidências
relacionadas-a questões sobre o livro de Hebreus, baseada, particularmente
em duas perguntas: (1) Hebreus ensina de form a explícita que o ministério
sacerdotal de Cristo tem duas fases? (2) Hebreus nega que o ministério
sacerdotal de Cristo tem duas fases?
________ E m b o ra a comissão co n cluísse com uma resposta negativa a am ­
bas as perguntas, os estudos selecionados confirm am persuasivamente a
veracidade bíblica do ministério sacerdotal expiatório pleno de Cristo no
santuário celestial.
N ovam ente, a U N A S P R E S S se faz presente com outro lançamen­
to de vital importância p or suas evidências e afirmações específicas sobre
Hebreus, texto que provê fundamento bíblico doutrinai e identidade ecle-
sial para a visão e missão da Igreja Adventista do Sétimo Dia.

R ob erto Pereyra, P h .D
D iretor de p ó s-g rad u ação
Facu ld ad e A dventista de Teologia (U n a sp -E C )

4 !uz de Hebreus
Faculdade Adventista
Biblioteca

Centro Whiit

ISBN 9 7 8 -8 5 -8 9 5 0 4 -1 3 -3
UNASPRESS
Centro Universitário Adventista
de São Paulo
Campus Engenheiro Coelho 9 ?88589"504133
A existência de um santuário celes­
tial, onde Jesus Cristo desenvolve
desde a ascensão um sacerdócio de
natureza exclusiva e fundamental em
favor dos seres humanos, constitui
uma das doutrinas capitais e distin­
tivas do movimento adventista do
sétimo dia. É impossível desvincu­
lar as origens desse movimento das
descobertas que seus pioneiros fize­
ram sobre o assunto ao pesquisar as
- Sagradas-Escnturas. ..

A carta aos Hebreus sem dúvida foi


um -dos documentos bíblicos que
maior contribuição ofereceram para

pioneiros. -Não ;é-por-acaso:-ra obra


apresenta de forma específica e siste­
matizada temas essenciais apenas es­
boçados em outros livros. Vemos nela,
por exemplo, um desenvolvimento
amplo do tema do sacerdócio levítico
e o santuário terrestre que o abrigava
como destinados a ensinar o evange­
lho por meio de figuras e símbolos,
e a prefigurar o verdadeiro sacerdó­
cio de Cristo no santuário do Céu.
biblíoteca - fãdba
S É R IE ANALÍTICA PRONTA
Sa n t u á r i o e P r o f e c ia s A p o c a l íp t ic a s
VOLUME 4
Frank b . holbrook , Editor

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1NTERCESSAO, EXPIAÇÃO E JUÍZO


NO SANTUÁRIO CELESTIAL

I nstituto de P esquisas B íblicas v


A ssociação G eral dos A dventistas do Sétimo D ia
S ilver S pring , AID

2 a EDIÇÃO
2009
A LUZ DE H E B R E U S
Intercessão, Expiação e Juizo no Santuário Celestial

Título do original em inglês: Issues in the Book o f Hebreus


Editor: Frank B. Holbrook

Todos os direitos reservados para a U N A SPRESS. Não é permitida a cópia total


ou parcial sem autorização prévia dos editores.

Tradução: Fernanda Caroline de Andrade Souza


Revisão e Editoração: Renato Groger
------Capa: Geyvison S. Ludugério
Diagramação: Luzia Paula

H olbrook, Frank B ., editor

A Luz de Hebreus: Intercessão, Expiação e Juízo no San tu ário


Celestial
2a ed.

U N A SP R E SS , 2 0 0 9
Engenheiro C oelh o , SP
1. santuário; 2 .tipologia; 3. intercessão; 4. expiação; 5. H ebreus

2a edição
1 .000 exemplares
2009

Impresso no Brasil
Pnnted in Brasil

Para adquirir um exemplar, entre em contato com:


U N ASPRESS - Imprensa Universitária Adventista
Tel.: (19) 3 8 5 8 -9 0 5 5 / Home Page: vvww.unaspress.unasp.edu.br

•«a l n E - BIB^UÇTECa
In ° 4 7
! Ano iZ C t/V *
Salvo outra indicação, as citações escriturístiqis ao longo deste
volume são extraídas da versão Almeida Revista e Atualizada,
2* edição, 1993, da Sociedade Bíblica do Brasil.
CO N TEÚ D O

Abreviatura................................................................................................................... VII
Transliteração do alfabeto grego.......................................................................... VIII
Ao leitor.-------------------------------— .......................................................................IX

1. Relatório da Comissão de Daniel e Apocalipse................................................ 1

2. Panorama geral de Hebreus................................................................................... 13


William G. Johnsson

3. O santuário celeste - figurativo ou real?...........................................................33


W illiam G. Johnsson

4. Uma exegese de passagens selecionadas........................................................... 49


Herberr Kiesler

5. Contaminação/purificação e Hebreus 9 :2 3 .................................................... 75


William G. Johnsson

6. Alusões ao dia da expiação................................................................................. 101


W illiam G. Johnsson

7. Tipologia no livro de Hebreus............................................................................ 11


7 Richard M. Davidson

8. Tipologia antitética ou de correspondência.7.................................................. 181


Alberto R. Treiyer9

9. Teologia do santuário............................................................................................193
Alwyn P. Salom

Apêndice A
Ta Hagia na epístola aos Hebreus............................. >.......................... 213
Alwyn P. Salom
Apêndice B
Hebreus 6:19 - Análise de algumas suposições
sobre katapetasma...........................................................................................223
George E. Rice

Index................................................................................................................................231
A b r e v ia t u r a s

AB Anchor Bible
ACF Almeida Corrigida e Fie!
ANET Ancient Near Eastern Texts, Pritchard, ed.
Ant. Antiquities o f chi Jeivs, Josephus
ARA Almeida Revista e Atualizada
ASV American Standard Version
— AT Antigo Testamento
AUSS Andrews University Seminary Scudies
BA Biblical Archaeologist
BDB F. Brown, S. R. Driver e C. A. Briggs, A Hebrew and English
Léxicon o f lhe Old Testamen: (Oxford, 1952)
~BZ B iblis’cke~Zei cschrift
C CI Comentário Critico Internacional
c; t Candiar. Journal o f Theology
ERV English Revised Version
EvQ Evangelical Quarterly
ExpTim Expository Times
HA L Hebráisches und aramàisches Lexikon zum AUen Testament
HTh R H anard Theological Review
IB Interpretará Bible
IC C International Criticai Commenrary
JB L Journal o f Biblical Literatura
JTS Joumtd o f Theological Studies
KJV King James Version
Leg. Alleg. Legum Allegorie (Allegorical Interpretaüon)
LXX Septuaginta
NASB New American Standard Bible '
NEB New English Bible
N ICN T New International Commenrary on rhe New Testamenr
NIV New International Version
NovT Novum Testamentum
NT Novo Testamento
NTS New Testament Studies
RB Revue Biblique
RàtQ Reiue de Qumran
R SV Revised Standard Version
SB L Society o f Biblical Literature
SBT Stud ies in Biblical Theology
SJT Scottish Journal o f Theology
TDNT Theological Dictionary o f che New Testament, Kirtel e
Friedrich, eds.
TD O T Tkeological Dizcionary o f che Old-Tescament, Botterwerck e
Ringgren, eds.
TM Textos Massoréticos
TNTC Tyndale New Testament Commentary
TO T C Tyndale Old Testament Commentary
VT Vecus Testamentum
ZAW Zeitsch. fiir die alttes. Wiss.
ZNW Zeitsch. für die neutes. Wiss.

VIII

Transiíteração do alfabeto grego

\=\
II
T)

Ç=z
a

9 ~ph
n ii =m p=r
*l r~
Z = ch
0 =th v =n a =s
V =ps
i =i s= x t =t
w =õ
M

0 =0 u =u
II

‘ =h
A O L E IT O R

Quatro livros da Bíblia - Levitico, Hebreus, Daniel e Apocalipse - têm contri­


buído para a compreensão dos adventistas do sétimo dia do ministério sacerdotal de
Cristo no santuário celeste. Uma ve: que a tarefa designada à Comissão centralizou-se
em grande parte em questões relacionadas à doutrina do Santuário, o Iívto de Hebreus
também foi estudado, embora não seja um Iívto profético.
O livro de Hebreus forneceu aos nossos pioneiros os passos inicias para a solução
do dilema do desapontamento de 1844. A epístola os direcionou não para a igreja ou
para a Terra como o santuário a ser purificado na era cristã, mas ao santuário celeste,
a semelhança do tabemáculo/templo israelita. Pela fé, eles contemplavam o Salvador
como seu sumo sacerdote entrando na segunda fase de seu ministério sacerdotal, cor­
respondendo ao ministério no lugar santíssimo no simbólico santuário terrestre.
Pode parecer estranho, mas o livro que trouxe grande alegria aos nossos pio-
neiros fez com que outros adventistas abandonassem a igreja. Julga-se que o livro
de Hebreus nega a crença adventista de que Cristo intercede num ministério sacer­
dotal de duas fases (o antitipo das ministrações diárias e anuais no santuário terres­
tre), rendo a última começado em 1844. Afirma-se que, de acordo com Hebreus,
Cristo ascendeu após sua morte e ressurreição ao lugar santíssimo no santuário
celeste e deu início a um ministério intercessório de uma só fase. Em 1844, ele não
assumiu um segundo ministério.
Conseqiientemente, a questão abordada pela Comissão delimitou-se a uma
pergunta dupla: (1) Hebreus ensina de forma explícita que o ministério sacerdotal
de Cristo tem duas fases? (2) Hebreus nega que o ministério sacerdotal de Cristo tem
duas fases? Ao final, a Comissão deu uma resposta negativa a ambas as perguntas.
E evidente que o autor de Hebreus não faz nenhuma tentativa para detalhar o
significado anntipico do santuário levitico. Em vez disso, ele restringe seu objetivo a
relembrar a prevista extinção do santuário terrestre e expor sua debilidade inerente
(como uma sombra-tipo) para eliminar o pecado da alma. Do lado positivo, ele en­
fatiza a eficácia do sacrifício eterno de Cristo e o novo caminho^para a presença do
próprio Deus, que resultou dos méritos do sangue e sacerdócio superior de Cristo.
Conseqiientemente, o ministério de duas fases não faz parte do propósito do autor,
embora ele não diga nada que o invalide.
O argumento para a doutrina adventista resulta nos tipos do santuário que
apresentam em sequência duas principais divisões do ministério sacerdotal. Por­
tanto, é razoável inferir tal ministério, uma ve: que os sacerdotes leviticos servem
num santuário que é figura e sombra do santuário celestial onde Cristo agora
ministra como sumo sacerdote (Hb 8:1, 5).
Para o autor de Hebreus, o argumento resulta do fato de que os ritos-tipos do san­
tuário são inadequados em si mesmos para remover pecados (Hb 10:4) e, então, prover
um acesso livre e direto a Deus. Os cristãos hebreus, tentados a retomar ao antigo sistema
levirico, precisavam ser avisados de sua natureza limitada.
Os tópicos de Hebreus, que enfatizam o acesso direto a Deus por meio do sa­
cerdócio mediador de Cristo e da toda suficiência de seu sangue para purificar do
pecado, parecem ser esboçados, em parte, em contraste com o contexto figurativo
do dia da expiação. A necessidade de a igreja de hoje ouvir sobre esses temas é tão
grande quanto a dos crentes do primeiro século.
Apesar de Ellen White rer ensinado sobre o ministério sacerdotal de duas
fases de Cristo no santuário celeste, ela referiu-se aos principais tópicos de Hebreus
apenas de forma ocasional. Ela não via contradição entre essas duas aplicações
básicas do sistema levitico. Mencionamos duas citações:
“Graças a Deus pelos quadros luminosos que pos tem apresentado! Enfei-
xemos todas as benditas promessas de seu amor, a fim de sobre elas poder deter
continuamente o olhar. O Filho de Deus, deixando o trono do Pai, revestindo
sua divindade com a natureza humanã“a fim d e vir resgatar o homem do poder"
de Satanás; o triunfo que obteve em nosso favor, abrindcTão homem a porra do
Céu, revelando aos olhos humanos a câmara onde a Divindade manifesta sua
glória; a raça caída erguida do abismo da ruína em que o pecado a submergira,
e novamente posta em ligação com o infinito Deus, e, depois de resistir à divina
prova mediante a fé em seu Redentor, revestida da justiça de Cristo, e exaltada a
seu trono - eis os quadros que o Senhor deseja que contemplemos.” - Cam inho a
Cristo, p. 118 (grifo nosso).
“Ainda carregando a humanidade, Ele ascendeu aos céus, triunfante e vito­
rioso. Ele levou o sangue da expiação ao santíssimo, espargiu-o sobre o propicia-
rório e sobre sua própria veste, e abençoou o povo. Logo, ele virá pela segunda
vez para declarar que não há mais sacrifício pelo pecado.” - Signs o f thc Times, 19
de abril de 1905.
Os vários artigos preparados para a Comissão fornecem material para debates,
mas não necessariamente resultam em publicação. Isso faz com que todos os pontos
de vista sejam ouvidos imparcialmente. Das discussões sobre Hebreus, a Comissão pre­
parou um relatório consensual que forma o primeiro capitulo deste volume (impresso
primeiramente pela Adventist Review, em 7 de fevereiro de 1985, p. 5-9; M inistry, em
abril de 1985, p. 12-16, 21). Alguns dos esmdos considerados de valor geral foram
publicados juntamente com o relatório. Outros estudos sobre esse tópico não foram
incluídos - porque estão em parte duplicados ou porque são técnicos demais para
serem lidos por um público leigo, ou, ainda, porque expressam visões que a Comissão,
ao final, não adorou.
Dois artigos úteis que se referem diretamente a essa discussão foram reimpressos
da obra The Sanctuary and lhe Atonement, uma publicação do Instituto de Pesquisas
Bíblicas. Dois artigos pequenos que envolvem termos técnicos, que apareceram antes
no Seminário de Estudos da Universidade de Andrews, foram colocados no Apêndice como
referências para aqueles que estão familiarizados com o grego e com o hebraico.
Este volume, portanto, não tem por objetivo ser um estudo versículo por
versículo do livro de Hebreus. No entanto, ele lida seriamente com um dos estu­
dos de grande importância para a identidade e bem-estar da Igreja Adventista do
Sétimo Dia e sua missão. Um leitor atento poderá perceber diferenças individuais
em alguns pontos de interpretação, mas a Comissão não tentou reconciliá-los. Pelo
contrário, há espaço para a continuidade do estudo da mensagem de Hebreus. A
-Comissão ficou com a pergunta principal: o livro de Hebreus invalida o ministério
sacerdotal de duas fases de Cristo, apontado pelos tipos do santuário e por outras
passagens das Escrituras?
Expressamos nosso apreço aos vários convidados que contribuiram para essa dis­
cussão e aos autores cujas contribuições aparecem no presente volume:

Richard M. Davidson Herbert Kiesler


W illiam G. Johnsson Alwyn P. Salom
Alberto R. Treiyer

Comissão de Daniel e Apocalipse


Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia
C a p ít u l o 1

R elatório da C omissão de
D aniel e A pocalipse

C ontexto histórico

ma interpretação correta do livro de Hebreus depende do conhecimento


U do contexto histórico em que a epístola foi escrita, bem como da necessidade
daqueles para quem ela-foi endereçada. Informações encontradas na própria epís­
tola e em outros livros do-Novo Testamento nos dão uma-idéia clara da situação
difícil da igreja cristã do primeiro século, para a qual foi escrito o livro de Hebreus.
Recapitulemos ■brevemente .as evidências internas e externas:

C ontexto histórico externo

A morte, ressurreição e ascensão de Jesus Cristo deram início à igreja cristã


no Pentecostes. Nessa ocasião, milhares de novos conversos uniram-se aos apósto­
los e seus seguidores (Atos 2:5, 41, 47). Mais tarde, “muitíssimos sacerdotes" (6:7)
e muitos “da seita dos fariseus” (15:5), bem como o povo comum, engrossaram as
fileiras do movimento que se iniciava (4=4). Todos esses eram judeus e enfrentavam
grande oposição de seus concidadãos da Judeia (lTs 2:14; comp. Hb 10:32, 33).
Na posição em que estavam; isto é, na transição entre duas grandes dispensações,
foi difícil para muitos desses cristãos hebreus separar-se totalmente do templo e de
seu serviço de culto. Aparentemente, não perceberam que o tipo havia encontrado
o antitipo na vinda de Cristo, sua morte expiatória e seu ministério sacerdotal no
Céu (M t 27:50-51). À medida que a igreja rapidamente aumentava suas fileiras por
meio de uma nova missão aos gentios, alguns cristãos hebreus insistiam na necessi­
dade da participação destes nos rituais mosaicos.
O Concilio de Jerusalém (49 d.C.) reafirmou, porém, a verdade de que os pe­
cadores - sejam eles judeus ou gentios - obtêm a salvação do pecado somente pela
fé em Jesus Cristo (At 15:7-11). O concilio isentou os cristãos gentios de qualquer
exigência quanto à participação no serviço de culto do templo (versículos 13-21,
28, 29), mas a questão da observância dos cristãos hebreus não foi abordada (Rm
R e l a t ó r io da C o m issã o de D a n ie l e a p o c a lip s e

14:5-6), e um considerável número permaneceu ligado ao templo. Aproximada­


mente dez anos depois (58 d.C.), a liderança de Jerusalém informou ao apóstolo
Paulo que havia “dezenas de milhares entre os judeus... que creram, e todos são
zelosos da lei" (At 21:20). Oito anos depois teve inicio a guerra entre os judeus e
seus dominadores romanos (66 d.C.). Esse trágico conflito culminou na destruição
do Templo e na ruína da nação (70 d.C.), como Jesus havia predito (M t 23:38; 24:1,
2, 15-19; Lc 19=4144; 21:20).

E vidência interna

Ao aproximar-se essa terrível crise da história judaica, a epísrola indica que a


condição espiritual de muitos cristãos hebreus estava seriamente se deteriorando.
Estavam, gradualmente, perdendo a confiança na promessa do retom o do Senhor,
e se inclinavam a negligenciar a salvação que Ele havia provido e a se esquecer das
retumbantes declarações do evangelho (Hb 10:35-37; 2:1-3).
//ov/aperigode que esses cristãos, outrorafervorosos, caíssem na descrença deseus
antepassados ao migrarem para a Terra Prometida (3:6tl9; 4:1, lI )T-esobas pressões de...
muitasprovaçõese desãnimos (12:30-13) caisscmem franca apostasia da fécristã (6:4-9).
Eles já tendiam a abandonaras assembléiasde seus irmãos cristã os (10:25) e a retornarão
judaísmo (13:13), do qual eles aparentemente nunca haviamse separado por completo.

O propósito da epístola

Ê evidente, portanto, que a epístola aos Hebreus está escrita sob a perspectiva
de uma profunda preocupação pastoral por esses cristãos que - em um período crucial da
história judaica - estavam em sério perigo de fazer naufragar sua fé. Seu propósito
era revitalizar sua experiência vacilante ( 10:23), focalizando a fé e atenção mais uma
vez em seu Senhor que ascendeu aos céus, “o autor e consumador” de sua fé (12:2).
Tentava direcionar sua atenção dos rituais inadequados que envolviam o sangue de
animais para o verdadeiro sacrifício de Cristo pelo pecado e o seu ministério no
verdadeiro santuário celestial. A ênfase estava nas boas novas - o evangelho - ao
alcance de todos por intermédio de um sumo sacerdote transcendente que sempre
ministrava a favor deles na presença de Deus.
Os pontos importantes da mensagem pastoral podem ser resumidos a seguir:
1. Deus, que estabeleceu o sacerdócio levitico com seu sistema típico do sanni-
ário, pretendia, em determinado momento, substitui-lo pelo verdadeiro sacerdócio
de Jesus Cristo (prefigurado pelo primeiro - 8:4, 5) que agora ministra como um
sacerdote-rei no santuário celestial segundo a ordem de Melquisedeque (5:5, 6;
7:11, 12, 18, 19; 8:1, 2).
A LUZ DE HEBREUS

2. G santuário levitico (destinado a ensinar o evangelho por meio de tipos e sím­


bolos, 4:1, 2) provia em si mesmo apenas um acesso restrito a Deus (9:6, 7) e suas ações
eram continuas e repetitivas (v. 25, 26; 10:1-3), pois esse sistema era incapaz de tirar os
pecados e limpar a consciência do pecador penitente ( 10:4, 11).
Esse apelo aos cristãos hebreus do primeiro século é feito na epístola por meio
da constante comparação e contraste dos sacrifícios e do ministério sacerdotal do
santuário levitico com o sacrifício eficaz de Cristo e do seu sacerdócio celestial. Não
há tentatiw de se mostrar o significado típico das duas fases do compartimento do ministério
sacerdotal. Por exemplo, embora sejam feiras alusões ao dia da expiação, não há refe­
rência alguma ao bode expiatório e seu significado naquele importante ritual.
Emvezdisso, oapeloaessescristãosdoprimeiro século para mantersuaféemCristo(3:6,
_ 14) focaliza-se na ênfase da superioridade da pessoa de Cristo, sua morte expiatória eseu
ministério sacerdotal, sobre os então abolidos rimais. Assegura-se a esses crentes que em
seu Senhor exaltado eles têm um sacrifício superior e um sacerdote superior que inter­
cede por eles em um santuário mais elevado em conexão com uma aliança mais elevada.

ÀtGUivíAS QUESTÕES ABORDADAS

A comissão observou que vários problemas podem ser solucionados á luz do con­
texto histórico e do propósito da epístola. Seguem abaixo algumas questões propostas:

L inguagem

Como a linguagem empregada pelo inspirado autor de Hebreus deveria ser


interpretada?
A’ linguagem do livro de Hebreus deve ser-compreendida em seu sentido
natural e literal. Não deve ser compreendida alegoricamente. Na sua linha de
raciocínio, o autor compara de maneira clara os santuários e sacerdócios da nova
e antiga aliança ( 8 :1-13: 9 : 1).
1. A Epístola indica claramente que há uma realidade celestial designada
como “o verdadeiro tabernáculo que o Senhor erigiu, não o hom em ” (8:2). Isso
estabelece um elo vertical entre o tabernáculo celestial e seu correspondente
terrestre. O tabernáculo terrestre é visto com o uma “figura”ve uma “som bra”
(sombra-tipo) do celestial (v. 1-5; 9:11, 23, 24). Evidentem ente, os escritores da
Bíblia falam sobre o tabernáculo celestial - a realidade celestial como lhes é
representada - nos termos limitados do discurso hum ano. Conseqüentem en-
te, nem sempre é possível formular uma correspondência direta entre os dois
tabernáculos, visto que a realidade celestial em muito excede a compreensão e
expressão hum anas.*1 É essencial, portanto, procurar pelas grandes idéias enfa­
tizadas nos tipos terrestres.
R e l a t ó r io da Co m is s ã o d e D a n ie l e A p o c a l ip se

2. A linguagem literal pode empregar expressões idiomáticas e figuras de lin


guagem. Por exemplo, a expressão “assentado á destra da Majestade” (cf. 1:3; 8:1) é
uma expressão idiomática. O Messias sempre é retratado dessa forma (cf. SI 110:1;
At 2:33; 5:31; Rm 8:34; E f 1:20; C l 3:1; lPe 3:22, etc.). A expressão idiomática é
usada até mesmo na segunda vinda do Salvador (Mt 26:64). Uma expressão pareci­
da é usada para se referir aos salvos (Ap 3:21). A expressão não se refere à localização,
mas como uma expressão, indica autoridade plena de Cristo, sua dignidade e po­
sição, sua exaltação e supremacia. A expressão “além do véu” provavelmente está
sendo usada de modo figurado e denota acesso a Deus. Leia logo mais o debate
sobre Hebreus 6 :19, 20.

-H ebreus 9 :8 —

Esta passagem ensina que o primeiro compartimento do santuário terrestre era


destinado a representar a era mosaica, enquanto que o segundo compartimento repre­
senta o próprio Céu e a era cristã?
_____ Hebreus 9:1-7 contém 1 1 m fenômeno lingüistico. C ada com partim ento no
santuário terrestre é mencionado como um “tabem áculo” ou “tenda” (v. 6,7).
Entretanto, é também verdade que o santuário inteiro é visto com o um “taber-
náculo” ou “tenda” (cf. 8:2; 9:11). Conseqüentemente, a expressão “primeiro
tabernáculo” ou “primeira tenda”, no capitulo 9, versículo 8, é interpretada por
alguns estudiosos como o primeiro compartimento do santuário israelita, en­
quanto que outros entendem que este representa o primeiro tabernáculo inaugu­
rado por Moisés no Sinai.
A comissão.considera que o contexto (que começa no capitulo 8:1. 2) é
determ inante c resolve claramcnte a questão. O contexto indica que o autor
compara todo o santuário da primeira aliança com o da segunda aliança, ou
“nova aliança” (8:1, 2, 6-13; 9:1, 11, 24). Dessa forma, a referência ao “primeiro
tabernáculo” deve ser entendida com o uma referência ao santuário/taberná-
culo do Sinai. A comissão rejeitou a alegação de que o autor esteja usando a
“primeira tenda/tabernáculo” (= primeiro com partim ento) com o um sím bolo
para todo o tabernáculo mosaico (uma parte pelo todo), uma vez que o sentido
da argumentação no contexto geral sugere uma simples comparação dos dois
santuários: o terrestre e o celestial.
Aversão New English Bible traduz Hebreus 9:8 da seguinte forma: “By this the
Holy Spirit signifies that so long as the earlier tent still stands, the way into the
sanctuary remains unrevealed." (“Dando nisto a entender o Espírito Santo que
ainda o caminho do santuário não estava descoberto enquanto se conservava em
pé o primeiro tabernáculo”. ARA). Assim, o sentido da passagem é simplesmente
que enquanto o “primeiro tabernáculo”, ou seja, o tabemáculo terrestre, tivesse
A LUZ DE HEBREUS

uma função viável como um tipo {até a primeira vinda de Cristo), o ministério
sacerdotal do nosso Senhor no santuário celestial não teria começado.

Ta hagia (“ lugares santos”)

Como essa expressão deveria ser traduzida em Hebreus? O termo, que no


contexto de Hebreus funciona como um substantivo, deriva do adjetivo hagios, que
significa "santo”. A palavra aparece dez vezes em Hebreus 8-13 (8:2; 9:1-3, 8, 12,
24, 25; 10:19, 13:11). Geralmente, essa palavra aparece nessa passagem na forma de
substantivo plural neutro, exceto no capitulo 9:1, onde aparece como ura substantivo
singular neutro.
______ O uso dessa forma plural (ta hagia) como uma designação para o santuário
inteiro é comum na Septuaginta (a LXX, tradução grega da Biblia em hebraico
criada no terceiro e segundo séculos a.C). Isso pode ser significativo já que o au­
tor de Hebreus consistentemente retira suas citações do AT dessa versão (no livro
•apócrifo.de 1 Macabeus [dentro cia LXX] ta h agia .também é usado para designar
-o-templo-todo. Disse-Jndas-Macabeus: “...subamos agora-a pw ificaj e consagrar
o-santuário [ta hagia]. Ver 1 Macabeus 4:36,41,43,48). Entretanto, a prática do
autor de Hebreus não é totalmente consistente, porque em dois claros exemplos
ele usa a forma plural para denotar um único compartimento (9:2, 3).
À luz desses, fatos - e do contexto geral de Hebreus 8-10 - a comissão acredi­
ta que ta h ag ia deveria ser considerado um termo geral a ser traduzido na maioria
dos casos como “santuário”, a menos que o contexto claramente indique algo
diferente (como no capitulo 9:2, 3). A comissão rejeita a posição dos tradutores
da The New International Vérrion,vque, após assumirem que a expressão deveria ser
traduzida com o "M ost Holy Place” (o lugar santíssimo) no capitulo 9, versículo
8 (“that the way into the Most Holy Place had not yet been disclosed” [que o
caminho do lugar santíssimo ainda não havia sido revelado. Tradução da NIV[),
traduziram todas as referências subsequentes ao ta hagia celestial com a frase
“lugar santíssimo”. Uma tradução mais neutra é a da versão New English Bible,
que traduz ta hagia como “sanctuary" (santuário) em cada exemplo, exceto no
capitulo 9:2, 3 (nesses casos é dado claramente o significado para “lugar santo”
e “lugar santíssimo”).

H ebreus 6 : 19, 20 (“ além do véu” )

Por essa expressão, deveria ser entend ido que Jesus entrou no lugar san­
tíssimo em sua ascensão? Se for assim, isso invalida o sacerdócio de Jesus em
dois com partim entos ou duas fases no santuário celeste, com o é ensinado
pela igreja?
R e l a tó r io da Co m is s ã o d e D a n ie l e a p o c a lip s e

Alguns estudiosos observam que todo o santuário era visto por Israel como a ha­
bitação de Deus (Ex 25:8), e que o autor estava ciente do fato de que um véu separava
cada compartimento (Hb 9:2,3). Portanto, eles sugerem que a frase “além do véu" seja
uma alusão ao primeiro véu, e que significa simplesmente que Cristo teria entrado
“no santuário celeste na presença de Deus”. Por outro lado, há eruditos que acredi­
tam que o autor de Hebretis tinha as cenas do “dia da expiação” em mente (cf. 9:7;
Lv 16:3), e que ele estava pensando na entrada de Cristo no lugar santíssimo do san-
mário. Assim, eles sugerem que a frase “além do véu’’ refere-se ao segundo véti e que a
ahtsão intensifica o foco do argumento do autor de que o transcendente sumo sacer­
dote dos crentes havia aberto um caminho novo e vivo ao próprio coração Deus.
A comissão concorda que o autor está com parando o lim itado acesso a
Deus_que Israel tinha n o sacerdócio- levítico (Hb 9 :6 ,7 ) com o acesso direto
que todos os crentes têm agora em Jesus Cristo, que m inistra com o sum o sacer­
dote na presença do próprio Deus em prol deles (v. 24). Q ualquer crente pode
achegar-se “confiadamente junto ao trono da graça” (4:16) “pelo novo e vivo
cam inho" (10:20) —em virtude da mediação do Salvador. Ellen W h ite usou a
metafr>Fa-do véu do-eapítulo-ó: 19, 20-para-ambos- os com p artim en tos.2-------------
Pode-se admitir que se o autor está usando uma metáfora do dia da expia­
ção no .capitulo 6:19, 20 (um ponto de vista-apoiado pela m aioria dos estudio­
sos), isso de fato torna mais precisa a mensagem que ele desejava transm itir aos
leitores de que pela virtude da morte e sacerdócio de C risto eles agora tinham
acesso direto a Deus. Por meio do ministério de seu eterno sumo sacerdócio,
eles poderiam chegar-se a Deus "em plena certeza de fé” (7:25; 10:19-22). Seu
sangue eficaz interviria por eles na própria presença da Divindade (9:14, 24).
A-Comissão concluiu que se o autorde'H ebreus tinha-em mente a metáfora
do dia da expiação (no capítulo 6:19, 20), sua utilização não esgota o significado do
ritual do dia da expiação nem nega o ministério sacerdotal de Cristo em dois com­
partimentos no santuário celestial. Considerando o evidente propósito do autor,
a metáfora do dia da expiação simplesmente enfatizaria o fato de que Cristo havia
aberto o caminho para a presença direta de Deus, e que toda barreira existente en­
tre eles e Deus havia sido removida. A fé em Cristo, seu sumo sacerdote eterno na
presença de Deus, poderia ser-lhes “âncora da alma, segura e firme” (v. 19).

O TIPO DO DIA DA EXPIAÇÃO E O C a LVÁRIO

O livro de Hebreus ensina que o tipo do dia da expiação alcançou seu cumprimento
no Calvário? Hebreus 9 :11-14, com suas referências a “touros" e “bodes”, indica isso?
A comissão notou que o autor de Hebreus m enciona uma série de rituais
no santuário e não apenas um. Por exemplo, ele faz referência ao sacrifício
diário (7:26, 27; 10:11, 12) assim como ao sacrifício anual (o dia da expiação -
A LUZ DE HEBREUS

9 :2 5 ; 10:3). Ele se refere à água espargida para purificação feita das cinzas de
uma novilha vermelha (9:13; Nm 19) e à administração do sangue de animal
na confirm ação da aliança no Sinai (Hb 9:18-21). C om uma ampla referência
ele inclui todos os diferentes sacrifícios do ritual do santuário: “quase todas as
coisas, segundo a lei, se purificam com sangue; e sem derramamento de sangue,
não há remissão" (v. 22).
E verdade que um touro e um bode eram sacrificados no dia da expiação, mas
esses eram oferecidos também em muitas outras ocasiões (ver Nm 28, 29). A expressão
"bodes e touros” em Hebreus 9:13 significa o mesmo que “bodes e bezerros” no versí­
culo 12. Mas é evidente que a expressão semelhante (“bezerros e bodes”) no versículo
19 é uma referência aos sacrifícios realizados na confirmação da aliança e não àqueles
— feitos no dia da expiação. Há um reconhecimento por parte dos acadêmicos de que
“touros e bodes” se tomou uma expressão estereotipada para se referir a sacrifícios em
geral (SI 50:9-13; 66:15). Conseqüentemente, a fraseologia não carrega necessariamente
a metáfora do dia da expiação.
Seja como for, é importante ter em mente que a cruz é a verdadeira consumadora
dètôdos os sacrificios típicas/Portanto, pode-se dizer corretamente que a cruz (aniiti-
po) de fato cumpriu o aspecto do sacrifício (a oferenda do bode do Senhor) do dia
da expiação (tipo).
No entanto, a comissão está convencida de que as alusões ao dia da expiação,
bem como aos ritos diários, irão tencionavam fornecer uma interpretação completa
do seu significado antitipico. Em vez disso, o propósito do autor é enfatizar por meio
do contraste a repetitiva e ineficiente natureza de sacrifícios de animais para salvar do pe­
cado, sendo eles diários ou anuais (10:4). Por meio do contraste, ele apresenta o sangue
superior do sacrifício supremo de Cristo, oferecido e uma vez por todas (9:25-28).
Apenas os méritos de seu sangue podem purificar a consciência (v. 11-14) e propiciar
redenção genuína da transgressão, seja sob a primeira ou segunda aliança.

P urificando o santuário

Hebreus indica que a morte expiatória de Cristo em 31 d.C. purificou (1:3) o


santuário celeste (9:23-26)? Se assim for, não havería a necessidade do cumprimen­
to do tipo da purificação/dia da expiação em 1844-
E importante notar que duas idéias estão entrelaçadas no pensamento do au­
tor quando ele fala do sacrifício e suas realizações: (1) o sacrifício em si (o derrama­
mento de sangue), e (2) a aplicação ou mediação do sangue (= a aplicação dos méritos
do sacrifício). As duas partes formam uma unidade. Um sacrifício nunca permane­
ceu sozinho, se mencionado ou não, o ministério ou aplicação do sangue sempre foi
uma parte essencial do sacrifício. Essas duas facetas do sacrifício podem ser vistas na
descrição dada pelo autor no capitulo 9:
R e l a t ó r io da Co m issã o d e D a n ie l e a p o c a l ip s e

1. Versículos 12, 13
a. Sangue de bezerro./bodes/touros (= sacrifício)
b. “Santificação para a purificação da carne” (= aplicação/mediação)
2. Versículo 14
a. “Sangue de Cristo" - “ofereceu-se a si mesmo" (= sacrifício)
b. “Purifica sua consciência” (= aplicação/mediação)
3. Versículos 18-21
a. Sangue de bezerros/bodes - Aliança no Sinai (= sacrifício)
b. “Aspergiu” o livro e sobre o povo (= aplicação/ mediação)
4. Versículo 22*5
__________a. “Derramamento de sangue" (= sacrificio) _
b. “Purificação", “Remissão” (= aplicação/ mediação)
5. Versículo 23
a. Santuário Terrestre (“figura das coisas que se acham nos céus”)
(1) “tais" (sacrifícios de animais)
----------- (Z)-Purificação" (_ aplicação/mediação a qtialquer honrque lorcliamado)—
b. Santuário Celestial (“as próprias coisas celestiais”)
(1) “Sacrifícios superiores” (■* sacrifício de Cristo no Calvário)
(2) “necessário que se purificassem” ([entendido] = aplicação/mediação)
E evidente que existe somente um sacrifício expiatório para o pecado, o sacri­
fício da morte de Cristo. Se esse evento tivesse “purificado” o santuário celestial,
não haveria motivo para o Salvador atuar ali como sacerdote. Mas um sacrifício
nunca se separou das aplicações dos seus méritos. Conseqüentemente, entende-se
que há muitas aplicações dos méritos do sacrifício ocorrido na cru*.
Toda a “obra” no Céu é realizada com base no Calvário e é uma aplicação de
seu significado. Hebreus 9:23 (no contexto) mostra tanto as idéias da morte eficaz
de Cristo quanto a aplicação de seus méritos - sejam eles aplicados na justificação
do pecador que aceita a salvação de Deus ou no dia do julgamento final a fim de
reafirmar o crente verdadeiro e justificar a autoridade e soberania de Deus perante
o universo. O sacrifício da cruz não purificou o santuário celestial no momento da
morte do Salvador, porém proveu o fundamento sob o qual Cristo, como sumo
sacerdote dos homens, pudesse mediar seus méritos e prover a reconciliação do
universo (E f 1:10; Cl 1:20), e com isso restaurar o santuário celestial e o governo de
Deus ao seu “estado de direito” (Dn 8:14).

O JULGAMENTO E O DLA DA EXPIAÇÃO

Outra questão que normalmente surge quando se discute o livro de Hebreus


(embora não seja baseada nele) foi brevemente abordada pela comissão. Se, segun-
A LU Z DE 11EBREUS

do João 12:31, um julgamento aconteceu na cruz, isso não seria a realização do tipo
do dia da expiação? Não é verdade também que uma pessoa é julgada quando lhe-
é pregada a palavra de Deus e ela a rejeita (3:18)?
Fica claro, ao consideramos essas passagens, que o termo “julgamento” está
sendo usado num sentido diferente. Satanás foi de fato desmascarado e condenado
diante do universo leal na cruz, porém ele continua a reinar. O pecador que rejeita
o convite do evangelho tem sobre ele a condenação (v. 36), mas ele poderá se arre­
pender novamente quando o Espirito Santo o tocar.
O fato é que nenhuma dessas declarações trata do julgamento final. O ritual
do dia da expiação removia completamente todos os pecados que haviam sidos
transferidos ao santuário. Em consequência disso, o santuário, as pessoas e o acam-
-panientneram considerados purificados.
O ritual do dia da expiação é, portanto, análogo ao julgamento final em suas três
fases (pré-advento, milenial, executivo), pois somente o julgamento final acaba com-
pletamente com o pecado e seus efeitos no universo. As Escrituras deixam claro que o
julgamento final envolverá roda a humanidade, até mesmo os protéssos seguidores de
Deus (At 17:31fRra44sl042t 2C o 5:10; Mr 22:9-14; Ec 12: M-, etc.).-Assim, o tipo do dia
da expiação - com relação ao julgamento final - não tem seu correspondente na cruz.

O VALOR DO LIVRO DE H E B R E U S

P ara a doutrina do santuário

O livro de Hebreus não dá nenhuma informação detalhada sobre o ritual do


santuário israelita, porque seus interesses estão focados em outra direção. No en­
tanto, ele fornece alguns pontos importantes para o entendimento do significado
do santuário e suas principais solenidades. Por exemplo:
1. Indica cjuc há uma conexão vertical entre o santuário termstre c o cclt*$riol.
O santuário terrestre é visto como uma versão do celestial e é considerado uma
“figura” e “sombra” da realidade celestial.
2. Com o uma ferramenta de ensino, o santuário terrestre é descrito como
uma “parábola” (9:9 “figura” = do grego, p arab olè = do inglês^ “parable”). Como
uma parábola, o santuário terrestre serve para ilustrar os pontos principais no evan-
gelho/plano de salvação (4; 1-2).’
3. O santuário terrestre e seus rituais também são mencionados como
“sombra" ou “tipo” (8:1-5; 10:1). Uma sombra-tipo é como uma profecia; ela
prenuncia “os bens futuros” (10:1). Em Hebreus, fica evidente que os rituais do
santuário eram destinados a prenunciar a expiação, a morte sacrifical de Cristo e
seu ministério como sumo sacerdote no santuário celestial (8:1; 2; 9:11-14).
RELATÓRIO DA COMISSÃO DE DANIEL E APOCALIPSE

4. O livro de Hebreus faz certas aplicações dos tipos de santuários para


demonstrar a insuficiência do sangue animal para lidar com o problema do pe­
cado na mediação do homem. Ao mesmo tempo, ele procura cham ar a atenção
de seus leitores da visão do templo e seus rituais com o um fim em si mesmo,
para focalizar a fé no grandioso Ser por trás de todas as sombras, o próprio
Jesus Cristo, sua morte expiatória e ministério sacerdotal em prol deles na
presença de Deus.
Outros escritores do Novo Testamento também usam o tipo do santuário
de um modo geral em vários assuntos como a encarnação (Jo 1:14), a igreja (2Co
6:16), e ao cristão em particular (IC o 6:19, 20). No entanto, nenhum a dessas
aplicações, incluindo a de Hebreus, esgota ou limita qualquer outra aplicação
-dos tipos do santuário. -- — ----- -—
A compreensão dos adventistas do sétimo dia quanto às duas fases do ministé­
rio sacerdotal de Cristo está baseada nos dois principais ministérios dos sacerdotes
no santtiário terrestre. O autor de Hebreus claramente enfatizou o fato de que o sa­
cerdócio levitico serviu como “figura e sombra das coisas celestes” (8:5). Portanto,
é razoável e togicõ. exammar esses distintos trabalhos do tipico sacerdócio apenas
para se ter uma idéia da natureza e esfera de ação da verdadeira função sacerdotal
do Salvador no santuário celestial.

P ara a experiência pessoal

A mesma mensagem que o inspirado autor de Hebreus transmitiu a seus leito­


res do primeiro século é novamente necessária nos liltimos anos da história huma­
na. Os cristãos dos liltimos tempos, exaustos, de nm lado pela farmra, e distraídos,
de outro, devido às muitas preocupações, correm o risco de perder a fé enquanto
esperam pela volta do Senhor. Há necessidade de se olhar novamente para o Cristo
vivo, ou sumo sacerdote, no trono de Deus. Como um dos membros da comissão
tão bem expressou:
“Nossa necessidade, portanto, é de ouvir o mesmo tipo de mensagem
transmitida aos Hebreus. Alguém deve nos relem brar da realidade de nossa
religião, do seu valor extraordinário - deve falar-nos novamente da glória do
nosso Líder, de tal forma que possamos com preender e tomarm os consciência
disso. Devemos ouvir isso mais uma vez porque nossa religião é maravilhosa;
devemos segui-la seriamente. Talvez, se pudermos entender a grandiosidade
da nossa salvação, se formos capazes de ver sua dim ensão transcendente e sua
realidade divina; então deixaremos de ser cristãos tão m ornos. Poderemos nos
erguer e olhar diretamente para o mundo e saberemos com certeza o que somos
e em que nos tornarem os”.
A l u z no H e b r e u s

Notas

1Cf. Ellen G. White, O Grande Conflito (Tatui, SP, 2001), p. 414.


1 Cf. Ibid., p. 420421, primeiro compartimento; Present Tradi (março, 1850), p. 64
'Revieuf and Herald reimpressões, p .ll), segundo compartimento.
3 Cf. Ellen G. White, Parábolas de Jesus (Tatui, SP, 2000), p. 133.

11

\
C apítulo 2

P anorama geral de H ebreus


WlLLIAM G. JOHNSSON

inopse editorial. A Igreja Adventista do Sétimo Dia aceita a unidade das Es­
S crituras como um principio apoiado biblicamente porque o Espirito Santo é o
principal autor desses documentos. Portanto, é lógico sintetizar os ensinamentos da
doutrina biblicade.todo o corpus das Escrituras (ver o-método-dejesus, Lucas 24:27,
44). Por outro lado, reconhecemos que cada livro e epístola da Bíblia tem sua própria
posição, sua própria linha de raciocínio que deve ser respeitada. Passagens isoladas
devem primeiramente ser entendidas dentro da estrutura do propósito e perspectiva
do documento. Assim, o escritor deste capítulo dá o primeiro passo em direção à
compreensão dos ensinamentos de Hebreus, introduzindo o propósito, a estrutura e
a natureza da obra - destacando sua importância para os cristãos de hoje.
Hebreus é mais um sermão cuidadosamente elaborado e bem argumentado
que propriamente uma epístola. Uma “palavra de exortação” (13:22) é a descrição
que o próprio autor apostólico dá a essa obra. O livro faz um apelo aos cristãos
judeus do primeiro século (d.C.), cujas energias espirituais estavam enfraquecidas e
que questionavam o valor de sua fé. em vista da religião judaica outrora praticada,
para a qual pareciam estar sendo arraidos a voltarem.
O “sermão” alterna quatro exposições doutrinárias e quatro exortações que
surgem em conexão com as exposições. As exposições focam a superioridade da
morte expiatória de Cristo e o seu ministério sumo sacerdotal no santuário celestial
comparado à ministração limitada, repetitiva e ineficaz do santuário e sacerdócio
ievitico. As quatro exortações advertem contra a negligência e franca apostasia da
grande salvação que lhes é oferecida por meio de Cristo. Sugere-se que essas duas
linhas de pensamento estão naturalmente relacionadas sob o tema “peregrinação”.
Os cristãos a quem se dirige são vistos como uma comunidade religiosa - separada
de seu passado e agora povo de Deus - em peregrinação para a cidade celestial em
uma “pátria superior” (11:16).
Pa n o r a m a g er a l d e H e b r e u s

Ao comparar e contrastar Cristo com o sistema de adoração do AT, o es­


critor apostólico chama a atenção com o conceito “superior/excelente”. Cristo
fornece uma mais excelente revelação de Deus do que os profetas forneceram
(1:1-4). Ele tem um nome mais excelente do que os anjos (1:5 - 2:18) e é um líder
mais excelente do que Moisés (3:1- 4 : 16). Ele atua com o um sacerdote superior
(5:1 - 6:20) de um sacerdócio superior (7:1- 27) em um santuário superior (8:1-
6) e é mediador de uma aliança superior (8:7-13). C om o nosso sumo sacerdote,
Ele oferece os méritos de seu sacrifício mais excelente na presença de Deus em
nosso favor (9:1-10:18).
A mensagem de Hebreus ainda é importante para a igreja atual. A epístola
demonstra que a teologia bíblica é importante na pregação e também para atender
asjieoessi.diídes humanas.. Ela mostra com o os cristãos devem reagir-à aparente
demora da volta de Cristo e chama atenção para o Cristo vivo e Seu ministério
sacerdotal no santuário celestial. "Hebreus é vital por suas afirmações específicas
sobre o santuário e ministério celestial ministrado por Cristo, nosso grande sumo
sacerdote. Hebreus concretiza o que é apontado nos tipos do Antigo Testamento e
simbolosdo-Novo Testainento-lApocalípse)."-------------------- ---------------------------------
Hebreus destaca o Calvário como “o momento decisivo na história da salva­
ção” e insta os cristãos peregrinos a .perseverarem na sua jornada em direção ao
objetivo prometido. “Com efeito, tendes necessidade de perseverança, para que,
havendo feito a .vontade de .Deus. alcanceis a promessa” (10: 36).

E sboço do capítulo

1. Introdução
2. O propósito de Hebreus
3. A estrutura de Hebreus
4. A natureza do documento
5. A importância de Hebreus hoje

I ntrodução

A enigmática natureza do livro de Hebreus é um ponto comum entre os es-


mdiosos do Novo Testamento. Além dos debates quanto ao significado central do
documento, as questões básicas - Quem o escreveu? Quando? Para quem? Por quê?
De onde? - estão sujeitas a muitas opiniões divergentes.
“A epistola de Paulo, o apóstolo, aos Hebreus” é o titulo padrão da versão
inglesa King James. Mas cada parte desse titulo foi e é negada por alguns estudiosos
A LU Z DE HEBREUS

do livro, os quais afirmam que Hebrcus não é uma epístola, Paulo não a escreveu, e
ela não foi dirigida a leitores que não tinham origem judaica.
Essas questões iniciais entrelaçam-se. A resposta que damos a uma afeta as
outras. Por exemplo, a questão que trata da identidade dos leitores afeta nosso
entendimento quanto ao propósito do documento assim como, com menos inten­
sidade, a questão sobre a data em que foi escrito.
O propósito deste capitulo não é coletar opiniões e argumentos com relação
a essas questões iniciais. De fato, conforme demonstrado várias vezes nas pesquisas
dos estudiosos, onde há pouca informação, proliferam teorias. E para algumas das
questões sobre Hebreus, especialmente sobre a autoria do livro, as evidências são
insuficientes.1 Em vez disso, procuramos desvendar os temas que mais interessam aos
_____ pensativos estu d iosos do livro de Hebreus, que são: o propósito do livro, a estrutura
da argumentação, a natureza do documento e sua importância para nós. Felizmente
não precisamos depender de teorias extensas e complexas para adentrar esses tópicos,
uma vez que o próprio livro de Hebreus fomecc os dados c as respostas.

O propósito de H ebreus

D estinatários: os “ hebreus”

Os primeiros manuscritos diziam apenas: PROSHEBRAIOUS - “Aos hebreus”.


O termo “hebreu” não aparece dentro do próprio livro.
“Aos Hebreus” tem quatro possíveis interpretações. As duas primeiras são as
mais óbvias. “Hebreus,” usado etnicamente refere-se ou aos judeus em geral (assim
sendo, o documento faz uma apologia do cristianismo para o povo judeu) ou aos cris­
tãos judeus. Uma terceira forma de interpretar "Hebreus'’ seria no sentido espiritual.
Neste caso, o documento seria dirigido aos judeus espirituais, que na igreja cristã
significa o novo Israel espiritual. Pedro refere-se aos cristãos usando esses termos.2 C.
Spicq1sugeriu ainda uma interpretação metafórica para “Hebreus”. Na analogia de
Deuteronômio 26:5 (em que os primeiros hebreus eram descritos como peregrinos)
ele afirma que o titulo do sermão significa “Aos Peregrinos”. Sua idéia ganha força
nas referências às jornadas, encontradas especialmente nos capítulos 3, 4, 11 e 13.4
Judeus. C om base nas informações precisas encontradas dentro do pró­
prio livro de Hebreus, podemos rapidamente descartar essa prim eira sugestão.
Embora alguns estudiosos afirmem que os leitores não eram judeus cristãos
ou o eram parcialmente, podemos ter certeza de que eles eram “com pletos”
cristãos. O livro cham a Jesus de “Sen h or” (2:3). Seus leitores receberam a sua
salvação mediante os apóstolos (2:1-4) e foram abençoados com o dom do Es­
pirito Santo (6:4, 5). De fato, eles já eram cristãos por um periodo considerável
de tempo, pois o trabalho deles em favor dos santos era bastante conhecido
Pa n o r a m a g er a l d e H e b r e u s

(6:9, 10), e, antes, quando se tornaram cristãos, suportaram grandes tribulações


e perdas por confessarem a Jesus (10:32-34).
Igreja cristã. A terceira interpretação também não possui respaldo. O escri­
tor não aplica as promessas do A T feitas a Israel no sentido espiritual aos crentes
gentios como Pedro claramente faz. O livro contém muitas referências ao AT, mas
as usa de uma maneira: ou sem “espiritualizar”, como nas descrições do sistema
sacrifical, ou messianicamente.5
Sentido metafórico. A explicação de Spicq de Hebreus com o “peregrinos” é
engenhosa. Entretanto, não encontramos referências claras a Deuteronômio 26:5
dentro do texto. Deve, portanto, permanecer uma conjetura. Talvez Spicq estivesse
no rastro de algo maior do que ele próprio notou, como veremos quando tivermos
um_completoentendimento-sobreo-livro de-Hebreus.-----—
Cristãos judeus. Ainda resta esta segunda possibilidade. Para muitos estudio­
sos do livro de Hebreus, essa resposta jã era óbvia...Eles concluiram que as abran­
gentes referências ao sacerdócio do A T e os cultos pressupõem um público cristão
judeu, que talvez estivesse sentindo a influência do fim das cerimônias do templo
oirerifrerrrando o trãum aliã”perdã do templo na destruição romana de Jerusalém
no século 70 d.C.6
Entretanto, éSsa possibilidade não é irrefutável. O apelo ao argumento sacri­
fical deve ser defrontado com três curiosos pontos de evidência no texto. Por um
lado, o escritor não racionaliza a partir dos serviços do templo que supostamente
estavam ainda em funcionamento naquela época. Em vez disso, ele argumenta com
base no sistema sacrifical do tabernáculo no deserto (S:5; 9:1-8). Isto é, ele não
desenvolve seu raciocínio a partir do judaísmo contemporâneo, mas do Pentateuco
do AT. Por oiiito lado, ele não é cauteloso em sua descrição do santuário e sacrifí­
cios do AT. Por exemplo, ele localiza o altar de ouro no santo dos santos e une os
vários sacrifícios.7 Fica a dúvida quanto a se esses “lapsos” não preocupariam um
público cristão judeu. Os diversos apelos ao “Deus vivo" (3:12; 9 : 14; 10:31; 12:22)
feriam mais significado se direcionados aos cristãos gentios.
Devemos acrescentar que muito da argumentação sacrifical teria mais signi­
ficado se o templo em Jerusalém ainda estivesse de pé e em funcionamento. Em
geral, então, o ponto de vista que considera os cristãos judeus como leitores assume
a posição mais forte, mesmo que encontremos espaço para dúvida.
Local. Um versículo, apenas um, parece referir-se ao local onde se encontram os
leitores. É o versículo 24 do capitulo 13, que diz: “Os da Itália vos saúdam.” Porém,
mesmo esta passagem é ambígua. Ela pode estar se referindo àqueles que residem na
Itália, nesse caso, o livro de Hebreus foi escrito e enviado da Itália (muitos estudiosos
acreditam que tenha sido de Roma).5Por outro lado, a passagem talvez esteja se refe­
rindo a certos italianos que estavam viajando pelo exterior e mandam saudações. Nesse
A LUZ DE HEBIIEUS

caso, o autor de Hebreus escreveu aos cristãos da Itália (talvez de Roma, novamente)
de um pais tora da Itália. Possivelmente, ficaremos com o último, com base na cons­
trução do grego.9
A questão da idenridade de Hebreus é interessante, mas não é o assunto
principal. Não precisamos ter certeza se eles eram cristãos judeus ou gentios para
compreendermos o documento. Mais importante é o perfil espiritual deles, que
emerge rapidamente à medida que vemos as instruções que lhes são dadas.

O PROBLEMA ABORDADO

Com o foi freqüenremente observado, o livro aos Hebreus alterna exposições


teológicas com aplicação prática ou exortação. Em rápidas pinceladas10, o padrão
é o seguinte:

Exposição 1:1-14
Exortação 2:1-4
Exposição 2 :5 - 3 :6 J
Exortação 3 :6 b -4 :16
Exposição 5 : 1-10
Exortação 5:11 -6 :2 0
Exposição 7:1-10:18
Exortação 10:19-25:25

Examinando as exortações do escritor e percebendo os perigos espirituais


quanto aos quais ele adverte, fica claro o problema de seus leitores.
Na primeira-exorcaçãc (2:1-4),-o perigo quc-os-leitores enfrentam é especificado
pelos verbos “desviar” (pararrein) e “negligenciar" (amelein). Ü primeiro termo é uma
metáfora que significa “deixar fluir”, “deixar escapar”, “ser arrastado para longe”,
“apartar-se”.11 O segundo significa “negligenciar”, “estar desinteressado”, ser “indife­
rente" t2. E óbvio que o “problema” a ser evitado aparece nesta passagem como uma
queda gradual em vez de um ato deliberado de rompimento com a comunidade.
A segunda passagem exortativa (3:6b—4 : 16) enfatiza e modifica essa idéia. Por
um lado, o escritor adverte repetidamente contra o perigo do^“endurecimenro”
(sklêrunein) ” do coração pelo “engano” ou “prazeres" (apaiê)H do pecado. Tal co­
tação - maligno e infiel - conduz à apostasia (iapostênai) da comunidade, assim foi
com a geração desgarrada que pereceu no deserto.
Por outro lado, é apresentado um perigo mais “ativo”, aquele que é focalizado
nos verbos “desobedecer" (apeithein)15 e “rebelar” (parapikrainein)}6 Vemos que o
perigo que ameaça a comunidade é que eles podem deixar de considerar a herança
prometida por causa de um coração infiel e descrente que pode ou não ser manifes­
tado por meio de franca rebelião.
Pa n o r a m a g e r a i d e h e b r e u s

Uma terceira admoesração (5:11-6:20) mantém essa distinção. Os leitores


são repreendidos por terem se tornado “tardios em ouvir" e lhes é lembrado de
que as bênçãos de Deus convertem-se em maldição se não produzirem fruto. Ao
mesmo tempo nos é apresentada uma figura vivida de franca rejeição dos valores
religiosos da comunidade: os apóstatas que desertam {parapiptein), 17crucificam
(anastauron)18 por sua própria conta o filho de Deus e expõem-no ao vitupério
(paradeigmatizein) 1!).
Encontramos o mesmo tipo de divisão na exortação final (10:19-13:25).
Primeiro, o perigo move-se sorrateiramente na “inconstância”, no ato de deixar a
congregação, no esquecimento da perseverança do cristianismo nos “dias anterio­
res”, na “rejeição” da confiança (apoballein), na falta de perseverança, no retrocesso
{hupostole). Segundo, há a posstbtlidade-de que o pecado seja cometido voluntaria­
mente (hekousiõs), quando o filho de Deus é pisado, o sangue da aliança profanado
e o espirito ofendido (10:19-39).
Nos dois últimos capítulos (12,13) podemos novam ente d iscernir a
diferença entre infidelidade “gradual” e “d ireta”. Assim, o perigo era de
que a5~cristãT)3~se “ “en fr aquécessern” ~(kamriêirí)-ao u perdessem o “an im o ”
(eklu esthai),11que desistissem em face das dificuldades da vida cristã, que ne­
gligenciassem dem onstrar hospitalidade o u que se esquecessem de seus seme­
lhantes, que pudessem cair em idolatria, imoralidade, amor ao dinheiro ou
cair na armadilha dos falsos ensinam entos.
Ao mesmo tempo, o exemplo de Esaú é apresentado. Ele era “profano",
“sem deus”, “sem religião” (b eb élo s)22 ao ponto de não en con trar uma m anei­
ra de recuperar a sua herança. Da mesma forma, o perigo de rejeitar ou re­
cusar a Deus (paraitein sthai):1 sempre será uma possibilidade am edrontadora
para os cristãos.
Essas passagens têm-nos dado um perfil espiritual razoavelmente claro dos
destinatários de Hebreus. O problema deles-não são os falses mestres que impres
sienaram suas mentes a saírem do caminho correto, como na Galácia, nem um
entusiasmo impetuoso por causa das manifestações do Espírito Santo, como em
Corinto. Não é a quesrão do fracasso dos judeus em receber o evangelho como em
Romanos. Não. Seu problema era “desânimo”. Eles haviam se enfraquecido de
tanto esperar pela volta do Senhor, ociosos em sua identidade cristã, questionando
o valor de sua religião, mais ainda quando os tempos difíceis começaram a surgir
no horizonte.
A mensagem do apóstolo é de que a fraqueza espiritual é perigosa. Ele repe­
tidamente adverte sobre suas temíveis consequências. Sugere que podemos nos
tornar negligentes quanto aos nossos privilégios e considerar de pouca importância
o que é de supremo valor, ou podemos rejeitar abertamenre a fé cristã e assumir
A IU Z DE H E 3REUS

um lugar entre a maioria que não confessa a Jesus como Senhor e salvador. Ambas
as conseqüências são igualmente terríveis.

Solução

Encontramos a confirmação das observações acima quando examinamos a


“solução” que é mantida pelo autor nas mesmas passagens.
A grande necessidade é “prestar atenção”, “dar aten ção ”, “estar aler­
ta” (p ro sech ein )u , “su portar” (karechein)25, “agarrar”, “observar" (katrein)26,
mostrar “sobried ad e” (spou dê): : , “considerar” (katan oein ):a, “exortar”
(p arakalein )29, “lem brar-se” (anam im nêskein),0, e correr com “resistência”, “pa­
ciên cia” (hu pom on ê) 51.
--------- No entanto, a palavra eminente é “fé" ou “fidelidade” (pistis). Foi a “fidelida­
de” que caracterizou a vida de Jesus, assim como a de Moisés (3:2). Foi a falta de fé
(pistis) que fez com que a geração do deserto não alcançasse a promessa (3 :19;4:2),
O famoso capítulo 11 é construído com base nessa palavra; pela fé os heróis ven­
ceram todas as dificuldades físicas e suportaram todas as tentações. Os leitores de
“Hebreus devenrãlcançar o objetivo. Em vez de serem “negligentes” (nõthroi)22, eies
devem ser “imitadores daqueles que, pela fé e ionganimidade, herdaram as promes­
sas” (6:12). • -
Aqui está o propósito do livro de Hebreus: despertar os cristãos cansados para
os gloriosos privilégios de pertencer Acomunidade cristã, =de maneira que perseve-
rem na fidelidade para alcançar a promessa da herança.
Com o o autor busca atingir seu objetivo? Isso nos conduz a um estudo da
estrutura do livro de Hebreus.

A ESTRU TU RA DE H E B R E U S

Vimos antes que a estrutura de Hebreus consiste basicamente da alternância


entre exposição teológica e aplicação prática. Nesta seção, examinaremos mais de
perto cada um desses elementos, e então nos esforçaremos para encontrar uma
estrutura que abranja o todo do livro.

E xposição

Não é correto sugerir que Hebreus justapõe teologia e exortação, uma vez que as
passagens que contêm exortações também são ricas em conteúdo teológico.’ ’ Ao mes­
mo tempo, porém, um estudo das passagens que classificamos como “exposição" revela
uma concentração na teologia e um desenvolvimento da argumentação teológica que
juntos conferem a essas seções de Hebreus características distintas. Além disso, o pró­
prio autor costumeiramente nos dá um sinal das suas intenções de mudar da exposição
Pa n o r a m a g e r a l d e H e b r e u s

para a aplicação ao escrever “Por esra razão..., pois...” (2:1; 10:19) e ao trocar da terceira
pessoa do plural para a primeira.
E ntão, com o que se preocupa a “exposição”? Podemos observar quatro
características:
1. Cristologia do sumo sacerdócio. Hebreus é singular entre os escritos
do N T devido à apresentação desse tema. Em qualquer outro lugar encontra­
mos no máximo sugestões como em Romanos 8 :3 4 ou 1 João 2 :2 , ou imagens
alusivas com o em Apocalipse, capítulos 1, 4 e 5. Entretanto, em Hebreus, Jesus
com o sumo sacerdote é a idéia dom inante, e o livro a desenvolve por meio de
grandes detalhes.
Embora a expressão “sumo sacerdote” apareça primeiramente no capitulo
-2,-versículol7-, toda aargum entação-foi- construída -na introdução.-Pelo fato de
C risto ser totalmente Deus (1:5-14) e totalmente homem (2:5-16), Ele pode se
tom ar nosso sumo sacerdote. ’4 Passagens subsequentes apresentam as duas carac­
terísticas do sumo sacerdócio especificadas em 2:17; sua fidelidade (em 3 :l-6 a ) e
sua misericórdia (em 5:1-10). O capítulo 7 mostra como Jesus, um descendente
da-tribo-de^Judárpodia ser sumo sacerdote =~na vmhtdeTÜte é trnrsacertlore d e —
ordem superior.
Assim, alcançamos o auge d c .sumo-.sacerdócio .no capitulo 8:1, 2 - “Ora, c
essencial das coisas que temos dito é que possuímos tal sumo sacerdote, que se as­
sentou ã destra d c -trono-da Majestade tios céus, como ministro do santuário e do
verdadeiro tabernáculo que o Senhor erigiu, não o homem.”
2. Terminologia de culto. O livro de Hebreus, particularmente nas passagens
que descrevemos como “exposição”, está repleto de referências a tabemáculos, sacrifí­
cios, sacerdotes, sangue e oblações. De tato, a própria argumentação teológica baseia-
se numa estrutura de culto que não pode ser compreendida separadamente.
Com o apresentarei no capitulo 5 deste livro15, na “exposição” o “problema”
humano e sua “soluçãol são bem diferentes sob o ponto de vista das exortações,
onde chama-se a atenção para contaminação no lugar de infidelidade. A missão de
Cristo é prover purificação em ver de fornecer um modelo, um ensinamento de
esforço incansável.
3. U m a apresentação sistemática da argumentação teológica. O escritor pla­
nejou toda a obra antes de escrever a primeira palavra, introduzindo cada idéia em
seu devido lugar, e ‘sõ enrão desenvolveu e concluiu seu pensamento. Cada tema
se mistura ao raciocínio geral a fim de produzir um texto com grande propriedade
lógica. Além de sua influência espiritual, este documento é uma obra de arte do
pensamento ordenado.
Por exemplo, observamos as seguintes idéias:
a) Purificação: introduzida em 1:3; desenvolvida em 9 : 1 ao 10:18.
A LU 7 DE HEBREUS

b) Sumo sacerdote: introduzido em 2 : 17, 18; desenvolvido em 4:4-16 e 5 :1-10;


explicado detalhadamente em 7:1-10:18.
c) Anjos: introduzidos em 1:4; desenvolvidos em 1:5-14; conclusão em 2:16.
d) Aliança: introduzida em 7:22; desenvolvida em 8:6-13; conclusão em 9:18
e 10:16-18.
e) Fé: introduzida em 2:17; desenvolvida em 3:1-6; explicada detalhadamente
em 11:1-39.
4. O clímax da argumentação. O plano teológico de Hebreus alcança seu
completo desenvolvimento na longa passagem de 7:1 a 10:18, e seu auge é marcado
pelos capítulos 9:1 - 10:18.
O capitulo 7 retere-se a Cristo como sumo sacerdote segundo a ordem de Melquise-
-deque, a qual é considerada superior àquela dada em Levitico por trazer consigo a “perfei­
ção" (teleiosis). Entretanto, a ordem não é apenas superior, mas o próprio Cristo sobrepu­
ja os levitas em virtude de seu caráter moral, vida eterna, a promessa de sua intercessão e
sua missão sacerdotal. Este é o tema central do capimlo 7: um sacerdote superior.
■No capítulo 8, o escritor declara ter chegado ac “ponto ■crucial” (.kephalaion)
de sua argumentação; pois Cristo é o sumo sacerdote de uni santuário superior, e,
ao mesmo tempo, Ele é o mediador de uma melhor aliança, profetizada por jere­
mias. O capimlo 8, portanto, apresenta um santuário e uma aliança subtricr.
Isso prepara o terreno para o tema da obra de Cristo. O capítulo 7:27 já declara
que Cristo ofereceu-se a si mesmo de uma vez por todas. Os capítulos 9 e 10 reto­
marão esse pensamento e o explicarão. Contudo, seria um grave erro considerar os
capítulos 9 e 10 como o ápice da argumentação sobre o ritual do templo dos capítulos
7 :1 - 10:18, pois há muitas colocações que antecedem esta passagem e mesmo conside­
rações acerca desse tema nos capítulos seguintes.
A frase depois de ter feito a purificação dos pecados..." (1:3) é uma declara­
ção direta da argumentação a ser apresentada em detalhes apenas nos capítulos 9 e
10. De maneira similar, as apresentações em 2:5-18 (o sacerdócio de Cristo baseado
em sua humanidade), 4 :1 4 -5 :10 (Jesus, um sacerdote em virtude de seus sofrimentos
e chamado divino), e, em 6 :19, 20 (Jesus como sumo sacerdote precursor), se direcio­
nam a uma explicação mais detalhada em 7:1-10:18.
O auge é alcançado em 10:18. O restante do livro será compreendido sob
o “Tendo, pois” (oitn) do capitulo 10, versículo 19. O conselho direto vem acom­
panhado de uma séria advertência, e, em seguida, as exortações para se imitar a
fidelidade dos antigos “heróis da fé” e para “aproximar-se” da presença divina por
meio do pleno acesso provido pelos méritos do sangue de Jesus.í0
É impressionante ver nestes capítulos após o ápice de 10:18 a ênfase dada ao
“sangue” de Cristo. De faro, o termo “sangue” (haima) em um sentido cúltico não
aparece antes do capitulo nove. Após 10:18, entretanto, ele aparece sete vezes, cinco
Pa n o r a m a g e r a l d e H e b r e u s

das quais significando o sangue de Cristo.77 Em todas as sete ocorrências há um


apanhado do que foi dito nos capítulos 9 e 10.
Por esta ratão, parece evidente que o nono e o décimo capítulo de Hebreus
nos posicionam no ponto mais alto da epístola, se considerarmos que a argumen­
tação está relacionada apenas com o culto do santuário, ou se procurarmos recons­
tituir toda a discussão do autor.

E xortações

Até aqui, consideramos o conteiido exortativo de Hebreus, porém julgamos


apropriado fazer outras duas observações:
1. As exortações não revelam a estreita relação da argumentação teológica e
nem caminham em busca do mesmo objetivo, mas a partir delas podemos discernir
algumas orientações. Em geral, demonstram desde uma preocupação sobre a negli­
gência dos privilégios do cristianismo até sérias advertências contra a franca rejeição
de Cristo e da comunidade. Por fim, focalizam a fé (pisris) como um dos maiores
atributos de caráter necessário aos cristãos hebreus.
2. As exortações emanam da argumentação teológica e repetem-na. Por exem­
plo: a primeira exortação (2:1-4) toma como base a superioridade de Cristo em rela­
ção aos anjos (1:5-14) para discorrer sobre o grande pecado de negligenciar as boas
novas que vieram por meio de Cristo em contraposição à Torah transmitida pelo
anjo no Sinai. No capímlo 5:10, o esclarecimento dado pelo autor de que Cristo é o
sumo sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque, cessa de forma abrupta quan­
do o autor volta a repreender os leitores pelo fracasso deles no que diz respeito ao
crescimento espiritual e, como conseqüência disso, o fato de não serem capazes de
LuífiCaC rcolcgica cjue £5t« »>cndo apresentada.

Seqüência

Um esboço de H ebreus 38
A. O prefácio, 1:14
B. Cristo superior aos anjos, 1:5-14
C. Primeira exortação, 2 :1 4
D. inferioridade temporária de Cristo para com os anjos - a necessidade
da encarnação, 2:5-18
E. Cristo superior a Moisés, 3: l-6a
F. Segunda exortação - “Descanso em Cristo”, 3 :6 b -4 :16
1. Lições aprendidas com Israel, 3:6b-19
2. Aplicação aos cristãos, 4:1-16
A LUZ DE HEBREUS

G. Características dos sumos sacerdotes, 5; 1-10


H. Terceira exortação, 5 :1 1 -6 :2 0
1. Repreensão, 5:11-14
2. Advertência, 6:1-8
3. Encorajamento, 6:9-20
I. Jesus Cristo: sumo sacerdote e sacrifício, 7:1-1 0 :1 8
1. Sacerdócio superior, 7:1-1 0 :1 8
2. Santuário celeste, 8:1-5
3. Nova aliança, 8:6-13
4. Sacrifício superior “O sangue de Jesus", 9 : 1-10:18
a. Descrição breve do santuário terrestre, 9:1-5
_________ b._A limitação do culto antigo, 9:6-10
c. Resumo do novo culto, 9:11-14
d. Benefícios “objetivos” do novo culto, 9:15-28
e. Benefícios “subjetivos” do novo culto, 10:1-18
J. .Quarta exortação, 10:19-13:25
------- —L Resposta, tende-em vista a obra de Cristo, 10:19-39------
2. Exemplos de fé, 11:1-39
3. Encorajamento e advertência, 12:1-29
a. O exemplo de Jesus, 12:1-11
b. Encorajamento, 12:12-14
c. Advertência, 12:15-17
d. Bênçãos, 12:18-24
e. Advertências, 12:25-29
•4. Exortações concludentes, 13:1-25

U ma visão holística de H ebreus

Nosso debate sobre a estrutura de Hebreus mostrou como a exposição teoló­


gica e a aplicação prática se alternam e se misturam ao longo de todo o documento.
Ao mesmo tempo, apresentou um problema evidente em sua unidade de raciocí­
nio: parece haver dois esquemas teológicos operando.59
O primeiro e maior tema constitui a exposição, que destaca o problema hu­
mano d o pecado e coloca a obra de Cristo como aquela que promove a purificação
por meio de seu sangue. Considera os benefícios presentes e que estão disponíveis
ao crente por meio dessa obra.
O segundo e menor tema trata das exortações. Aqui o foco é o perigo da apos­
tasia e a fidelidade como a virtude necessária. A questão é direcionada ao futuro, ou
seja, como manter a qualidade de vida atual e obter a herança futura.
Pa n o r a m a g e r a l d e H e b r e u s

Podem estes dois esquemas ser reunidos sob apenas um principio? Sim. O
conceito de pere£rinação40produz o holismo teológico de Hebreus.
Os cristãos de Hebreus são vistos como uma comunidade religiosa em movimen-
to. Cada uma das partes dessa descrição é importante: uma comunidade religiosa
ou cultuai e a peregrinação em direção ao lugar sagrado.
E devido ao fato de Hebreus considerar os cristãos como uma comunidade
religiosa que a idéia de “separação” é muito forte no documento. Os cristãos são
“consagrados”, “santificados”, “perfeitos”, “purificados”41 - todos termos culmais.
Eles são o povo de Deus, mesmo agora. E a partir dessa visão particular que as terrí­
veis advertências contidas em 6:4-6; 10: 26-31; e 12:15-17 se tornam compreensíveis.
Pelo fato de serem uma comunidade religiosa, eles agora estão “limpos”, agora podem
se achegar a Deus, agora suas consciências estão purificadas, agora possuem um sumo
sacerdote, Jesus Cristo. O contexto é o passado e o presente. A obra de Cristo no
Calvário (passado) os colocou em plena comunhão com Deus (presente).
Entretanto, eles estão também em marcha. A comunidade peregrina (cada
grupo peregrino) não está apenas satisfeita em deixar seus lares, mas parte em uma
jom ada-com um objetivo definido. A p esarde^já consagrada e SéparadãV ela busca
o centro do universo, a própria presença de Deus. Assim, o povo de Deus em He­
breus está em marcha.
Esta alternância teológica entre culto e exortação em Hebreus não é bem
compreendida .pelos estudiosos da-obra, visto que o culto ibi, de forma geral, ne­
gligenciado e/ou considerado superficialmente. Contudo, a visão de Hebreus com
respeito às metáforas do culto e da peregrinação pode explicar essas alternâncias na
linha de pensamento.
O Conceito de contaminação‘e puTificação retembra sua separação do mundo
no passado e destaca sua situação atual perante Deus como cristãos. O “quadro"
de descrença e fidelidade aponta pata o futuro, atentando para a consciência dos
perigos no presente, os quais podem arruinar o objetivo final. Há perigo não de
apenas falhar em alcançar o prometido “descanso”; mas também de se separar da
comunidade do povo de Deus.
Semelhantemente, podemos ver com mais clareza como Cristo é ao mesmo
tempo “sumo sacerdote” (archiereus) e “pioneiro/lider” (archêgos), e o motivo pelo
qual a argumentação cultuai aponta para o “já ” e “agora”, enquanto que as exor­
tações chamam atenção para o “ainda não" do cristianismo. Assim, reconhecer o
tema da peregrinação em Hebreus fornece uma visão holistica do documento.42

A NATUREZA DO DOCUMENTO
Em vários aspectos, as cartas do Novo Testamento seguem um padrão pareci­
do com as nossas. Quar io Paulo, por exemplo, escreve para os cristãos da Galácia,
\ LU 7 r>F IlE B IlE U S

Roma, Filipos, Corinto, Colosso, ou a seu amigo Filemom, encontramos palavras


de saudações, desejos pessoais e discussões de temas à medida que vêm â mente.
Um fechamento convencional marcado nela menção de pessoas e uma benção cris­
tã concluem a carta. Tais documentos se assemelham a cartas que um pastor, hoje,
poderia escrever a sua antiga congregação ou a um membro da igreja. A única di­
ferença significativa é o começo. Enquanto começamos com uma saudação (“Caro
João...”) e terminamos com o nosso nome (“Arenciosamente, Silvia...”), Paulo logo
se identifica: “Paulo, um apóstolo de Jesus Crisro,... para a igreja de ...”43
Mas Hebreus é diferente, não sabemos quem é o autor, não há menção
dos destinatários e não temos palavras de saudação. Em ve: disso, o docum ento
se atira de cabeça numa profunda declaração teológica: “Havendo Deus, outro-
raj- falado, muitas vezes e de muitas m aneiras...”. A escrita não demonstra uma
característica espontânea e esquematizada, levantando tópicos, problemas ou
perguntas que esperamos ler em uma carta. Ao invés disso, o docum ento segue
a forma de uma argumentação pensada que flui de forma calculada e constante.
Não é o que poderiam os chamar de um riacho que percorre uma m ontanha,
com correntezas,“correntes secundárias ou até mesmo redemoinhos, com o os
pensamentos de uma carta, mas a grandeza de um rio avançando, implacavel­
mente, em .d ireção ao mar.
O próprio escritor se refere a Hebreus como “palavra de exortação” (13:22).
Nossos-estudos dos,propósitos e da estrutura do iivro mesrram a exaridão dessa des­
crição. Hebreus não é por si só um trabalho teológico sistemático, apesar de conter
teologia trabalhada de maneira sistemática; antes, teologia e exortação se misturam
e se encaixam: o escritor expõe teologia a serviço das exortações, enquanto as exor­
tações nascem da teologia.
Portanto, Hebreus é melhor descrito como um sermão. Diferente de uma
carta, a qual pode surgir de uma profunda emoção e ser escrita de modo febril,
um sermão resulta cie cuu planejamento cuidadoso, nao obstante, nac e isolado da
vida - têm sempre em mente seus ouvintes e suas necessidades. Deste medo, no
sermão aos Hebreus, o raciocínio teológico, em toda sua complexidade, serve a um
fim especifico e prático na vida de seus destinatários.
O tema desse sermão se tornou extremamente claro no decorrer deste capi­
tulo. E a grandeza do cristianismo, cujo Senhor é Jesus Crisro, nosso sacrifício
e sumo sacerdote, o qual tem preparado um lar eterno para todos aqueles que
vivem pela fé. Ê a “tão grande salvação” (2:3), confiança absoluta na presença de
Deus devido ao cam inho e á purificação proporcionados por Jesus e, finnlmente,
a eternidade com Ele.44
Os primeiros quatro versículos do livro anunciam essas viroriosas melodias
em um preliidio de majesrade e ressonância, colocando-nos perar.re a supremacia
Pa n o r a m a g er a l d e H e b r e u s

cie Cristo: o resplendor de sua pessoa como filho de Deus - eterno feixe da divina
glória e imagem da essência divina, e com a grandeza de sua obra - criador, mante­
nedor, purificador de pecados, eterno rei.
Hebreus é rico em superlativos, sua palavra-chave é “superior”.45 Sem de­
turpar o desenvolvimento do livro, podemos delim itar seu padrão usando os
tópicos que se seguem:

Uma revelação superior 1 :1 4


Um nome superior 1:5-2:18
Um líder superior 3 :1 -4 :1 6
Um sacerdote superior 5 :1 -6 :2 0
Um sacerdócio superior__ . _ 7 : 1-27
Um santuário superior 8:1-6
Uma aliança superior 8:7-13
Um sacrifício superior 9:1-10:18
Uma pátria superior 10:12-12:2
Um lar superior , 12:3-13:25

A importância de H ebreus hoje

Nosso estudo sobre Hebreus nos revelou quão valioso este sermão pode
ser para todos os cristãos que estão vivendo no final do segundo m ilênio da era
cristã. Nossas condições, necessidades, pregações - Hebreus irradia luz sobre
tudo isso.
A descrição dos destinatários de Hebreus se assemelha,em muito aos cris­
tãos de hoje. Se o passar dos anos afligiu os primeiros cristãos - o aparente
movimento inexorável do tempo, ininterrupto por intervenções divinas - quan­
to mais hoje. É triste o fato de que uma grande quantidade de cristãos tenha
abandonado a esperança da segunda vinda de C risto há um bom tempo.
As teorias modernas - a evolução das raças, os processos regulares de mu­
dança, decadência, e nova vida, o inevitável avanço do progresso - têm moldado
o pensamento do século 20. De fato, em nossa era, o cientista tem se tornado
sumo sacerdote, e os remédios dos psicólogos e socialistas um bálsamo (aparente)
para toda e qualquer enfermidade.' Quando o homem tiver sido analisado, dis­
secado e esquadrinhado, quando parecer adaptado e conformado com a ordem
natural, que espaço sobrará para uma dimensão especificamente religiosa?
Enfrentamos uma continua pressão de um estilo de pensamento e vida secula­
res. O cristianismo, se alguma vez já existiu, desmoronou com o inicio da primeira
guerra mundial. Entramos em uma nova Idade Média para a igreja cristã, com gran­
des ameaças a um verdadeiro caminho cristão no mundo, com suas tentações sutis
A LUZ DE HEBREUS

e encantos ludibriosos. O alto inciice de apostasia entre os cristãos, especialmente


adolescentes, não deveria surpreender-nos, mesmo que isto nos angustie.
O segundo grande perigo é a apostasia ou lento esfriamento, tão real hoje
quanto o era quando o escritor escreveu esse sermão. A adoração se transformou
em mera formalidade, a oração um ritual sem vida, pertencer a uma igreja é como
pertencer a um “clube cristão”, alguns podem escolher entrar e sair, se afastar e
retornar, quase que indecisos.
Nossa necessidade, portanto, é de ouvir o mesmo tipo de mensagem trans­
mitida aos Hebreus. Alguém deve nos relem brar da realidade de nossa religião,
do seu valor extraord inário- deve falar-nos novamente da glória do nosso Li-
der, de tal forma que possamos compreender e tomarmos consciência disso.
~ Devemos ouvir isso mais uma vez porque nossa religião é maravilhosa; devemos
segui-la seriamente. Talvez, se pudermos compreender a grandiosidade da nossa
salvação, se formos capazes de ver sua dimensão transcendente e sua realidade
divina; então deixaremos de ser tão m ornos como cristãos. Poderemos nos er­
guer e olhar diretam ente para o mundo e saberemos com certeza o que somos
e em que nos tornaremos.
Uma confiança absoluta - certamente é esta nossa necessidade. Em face da confian­
ça centralizada no homem, da indiferença em relação a'Deus e à sua Palavra, caracterísri-
cas da presente era secular, carecemos de plena confiança nele e em sua lei. Precisamos ter
confiança absoluta de nosso livramento e do triunfo de seu reino.
E, inesperadamente, o mundo já não é tão seguro de si mesmo. O progresso
humano já não parece inevitável. O inicio do segundo milênio, segundo cien­
tistas e futurologistas, virá acompanhado.de profecias terríveis, pois eles vêem o
mundo sem ar puro, água potável, comida, petróleo. Um apocalipse secular paira
no ar. Este mundo também necessita ouvir a mensagem de confiança absoluta
ostentada por Hebreus.
Os pregadores que lerem esse livro irão aprender muito. O escritor nos diz,
primeiramente, que teologia é importante na pregação, trabalhar e falar de reaviva-
mento não faz sentido a menos que tenha um acompanhamento teológico. Da mes­
ma maneira que falar para as pessoas o que deveríam ser ou fazer ção é o suficiente
- discursos de advertência são falhos. Talvez, os pregadores estejam servindo leite
.já por muito tempo, pode ser que eles mesmos precisem primeiro cavar profundg-
mente na mina da Palavra e trazer, como os escritos de Mateus, tesouros antigos
e novos. Apenas quando as pessoas receberem alimento sólido é que poderemos
esperar por mudanças.
A ênfase do escritor com relação ao rigoroso empenho teológico é apresen­
tada em uma passagem que confunde muitos exegetas que têm se esforçado para
compreender sua lógica: Hb 5:11-6:2.
Pa n o r a m a c e r a l d e H e b r e u s

Em Hb 5:1-10 é feira uma reflexão cuidadosa do sumo sacerdócio de Cris­


to, trazendo à tona uma discussão sobre os sacerdotes da linhagem de Arão. Ele
apresenta Jesus como sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque e encerra de
maneira brusca, não retomando o assunto aré o final do próximo capitulo. “A esse
respeito remos muitas coisas que dizer” ele escreve, “e difíceis de explicar, porquan­
to vos rendes tornado tardios em ouvir” (v. 11). Então, segue a repreensão de que
eles são ainda crianças em vez de cristãos adultos.
Em vista de sua declaração no versículo 12 de que eles precisavam de “leite”,
em vez de alimento sólido, esperávamos que ele apresentasse a mamadeira. Apa­
rentemente, eles não seriam capazes de digerir a pesada doutrina sobre Melqui­
sedeque. Portanto, no capitulo 6, versículo 1, esperávamos que o autor dissesse:
“Voltemos às idéias elementares dcucristianismo, uma vez que vocês não estão
preparados para digerir o alimento sólido - deixemos Melquisedeque em paz!” Em
vez disso, porém, ele fala justamente o contrário: “...pondo de parte os princípios
elementares da doutrina de Cristo” (Hb 6:1).
É a conjunção “por isso" ou “portanto” (dio) que faz com que sua lógica seja
tão-notáveL-Não-devemos-abranda^sua fotea.-Na-essência, o-apéstolo racionaliza:
“Vocês não estão preparados para alimentos sólidos, mas apenas para leite, portan­
to, vamos deixar de .lado.o leite e dar-lhes alimento sólido”.
E é exatamente isso o que ele faz. Após as exortações do capitulo 6, apresenta
a lógica mais complexa de todo o sermão à medida que argumenta sobre Melqui­
sedeque, Abraão e Jesus. Do mesmo modo, Hb 8:1-10:18 desenvolve o ministério
sacerdotal e o sacrifício de Jesus em uma argumentação altamente complexa.
Como podemos explicar o Por isso de Hb 6:1? Alguns estudiosos sugerem que
havia dois grupos distintos entre os Hebreus, um espiritualmente fraco e outro.bem
desenvolvido. O escritor repreende o primeiro em Hb 5 :11-14, e então continua com
sua instrução avançada sobre Melquisedeque e o ministério de Cristo para aqueles
que estavam aptos a recebê-la, porém, o problema com esta interpretação é que ela
não está bem apoiada no texto. O autor direciona seus conselhos a todos os seus ou­
vintes - não temos nenhum indicio de diferenciação tal como o que é sugerido.
Quando meditamos bastante sobre Hb 5:11-6:2, sua lógica finalmente faz sentido.
Ciente dos problemas espirituais de seus ouvintes, o apóstolo pensou cuidadosamente em
uma solução. Eles talharam com relação ao seu crescimento espiritual, e estão prontos ape­
nas parti c 'leite -—mis oJeúe tmovs bácjzukvrmiis, a situação deles é muito séria. Se eles que­
rem ser salvos dos perigos da negligência ou rejeição, então, devem comer alimentos sólidos.
O pcrr isso sugere que a única esperança deles está no que o escritor tem para lhes falar.
Sua ênfase sobre a atividade intelectual é única entre os escritos do NT. O após­
tolo declara que a teologia - mesmo a mais complexa - ajuda os cristãos a crescer. Em
alguns casos de estagnação, a única esperança virá do alimento sólido da teologia.-10
A LU7 HE HEBREUS

Semelhantemente, a pregação deve ter um propósito. Devemos pensar cuida­


dosamente nos problemas espirituais das pessoas, orar e estudar até sabermos como
alcançá-las combinando a teologia e a exortação. Muitos “sermões" são palestras,
discursos interessantes, porém poucos nascem da convicção e do anseio ardentes
de satisfazer a necessidade humana.
Por isso, Hebreus é relevante - muito relevante - para todos os cristãos de
hoje. Entretanto, para os adventistas, Hebreus possui um significado especial.
Primeiro, por tratar diretam ente do aparente atraso da volta de Jesus,
nos advertindo para que não sejamos “daqueles que se retiram para a perdi­
ção, mas daqueles que crêem para a conservação da alma" (10:39). O livro de
Hebreus prom ete:
“Porque, ainda denrro de pouco tempo, aquele que vem virá, e não tardará” (10:37).

E também fundamenta a esperança da segunda vinda exatamente pelo fato


da primeira vinda:
______“Assim também Cristo, tendo-se oferecido uma vez para sempre para tirar os pecados
de inuiros, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o aguardam para salvação"
(9:28).

O livro de Hebreus é uma ponte sobre o abismo do tempo mostrando que


Cristo e o Céu estão ainda trabalhando em nosso favor, ã medida que o ministério
no templo celestial caminha para sua conclusão.
Segundo, fornece o fundamento biblico para a doutrina do santuário celeste.
Essa doutrina é formada de muitas fontes bíblicas, particularmente, de quatro li­
vros.- Levirioo, Hebreus, Daniel e Apocalipse. Q livro de Hebreus é vital, pois possui
declarações especificas do santuário celeste-" e do ministério celeste efetuado por
Cristo, nosso sumo sacerdote.48 Ele torna concreto o que é apontado pelos tipos do
AT e símbolos do N T (Apocalipse).
Terceiro, porque exalta o Calvário como o “cumprimento dos tempos”
(9:26), um momento decisivo na história da salvação que proporciona completa
purificação e garante que o futuro será de Deus. Esta ênfase é particular da pro­
clamação Adventisra: Somos mensageiros do evangelho “poisvi chegada a hora
do seu juizo” (Ap 14:07).
Quarto, porque em Hebreus, o evangelho se apresenta como promessa. O
povo de Deus é estrangeiro e peregrino, separados por Deus rumo á cidade ce­
lestial. Desde já, as bênçãos são muitas e grandes, porém ainda não chegaram ao
objetivo e por esta razão, em Hebreus, como em nenhum outro livro da Bíblia,
palavras de confiança confrontam palavras de severa advertência contra a rejeição,
e o pensamento “uma vez salvo sempre salvo” está fora de questão.
Pa n o r a m a g er a l d e H e b r e u s

Assim, o autor de Hebreus ainda fala, e em especial para os adventistas, assim


como falava nos primórdios do primeiro século aos cristãos, e suas palavras ainda
podem ser ouvidas. “Assim, pois, como diz o Espírito Santo: Hoje, se ouvirdes a sua
voz, não endureçais o vosso coração" (3:7,8).

N o tas

'Artigo de Erich Grãsser, “Der Hebrãerbrief 1938-1963", TRu 30 (1964): 138-236


é a base para qualquer discussão da literatura que trata de Hebreus no século 20. Para
informações atualizadas das criticas de Grãsser, veja também Willian G. Johnsson, “Issues
in the Interpretation of Hebreus”, AL7SS, vol. 15, N° 2 (1977), p.169-187; e Willian G.
Johnsson, “The Cultus of Hebrews in the Twentieth Century Scholarship”, ExpT, vol. 89,
N° 4 (1978), p.104-8.
: 1 Pedro 1:1; 2:4-9; 3:5-6; ver Gaiatas 3:29; 6:15-16.
3 C. Spicq. L'Èpitre aux Hébreux, 2 vols. (Paris, 1952); 1: 269-280, esp. p. 243-46;
também “LEpitre aux Hébreux, Apollos, Jean-Baptiste, les Hellenistes et Qumran", RevQ
(1958-59), 1:365-90.
- 1-Hebreus-3H-4rH-r H :8-10, 13-16r 27, 3 7 ,-3 8 r B r iM + -----------------------
5Hebreus 1: 5-13; 2: 6-8, 12-13; 5: 5-6; 7:1-3, 11, 17, 21.
“Esta é a visão.apresentada em M. L. Andreasen, The Book o f Hebrews, Washington,
d.C., 1948, p. 21-31, 34-42.
7Hebreus 9:34. Apesar dos esforços, os estudiosos não obtiveram explicações convin­
centes. Notamos também a junção de “touros e bodes” (9:13), “bezerros e bodes" (9:19), e
“touros e bodes” (10:4). Êxodo 24:3-8, a passagem do Antigo Testamento a que Hebreus
9:15-22 faz referência, menciona apenas “novilhos”.
3William Manson, em The Epistle to the Hebrews: An Historical and Theological Recon-
sideration.Ediriburgh, 1951, argumentou de modo mais persuasivo sobre o caso da origem
romana.
5Com B.F. Westcott, The Epistle to the Hebrews (Grand Rapids, 1965), p. xliii-iv.
10Nas passagens de transição, especialmente nos versículos 4:14-16 e 6:19-20, o ponto
preciso da divisão entre exposição e exortação é contestável. O ponto problemático está no
capitulo l h a qual pertence? Embora esteja escrito quase que totalmente na 3a pessoa (em
vez de na 1.’ do plural), o assunto em questão é bem diferente daquelas passagens coesas
que abrangem a exposição. Ela, portanto, se encaixa melhor na exortação.
11Willian F. Arndt e F. Wilbur Gingrich, A Greek-English Lexicon o f the New Testament
and Other Early Christian Literature (Chicago, 1969), p. 627.
12 Ibid., p. 44.
13Ibid., p. 763.
“ Ibid., p. 81.
15 Ibid., p. 82.
10Arndt e Gingrich, A Greek-English Lexicon, p. 626.
17Ibidem.
18Ibid., p. 60.
A UJ7. DE HEBREUS

19Ibid., p. 619.
20 Ibid., p. 403 (12:3).
21 Ibid., p. 242 (12:3,5).
-Ib id ., p. 138(12:16).
13Ibid., p. 621-622(12:19,25).
24 Ibid., p. 721 (2:1).
25 Ibid., p. 423-24 (3:6, 14; 10:23).
26 Ibid., p. 449-50 (4:14, 6:1Ç)
27 Ibid., p. 771(6:11:4:11).
28 Ibid., p. 416 (3:1).
29 Ibid., p. 622-23 (3:13; 10:25; 13:19,22).
50 Ibid., p. 57 (10:32)
_____ JLIbid.*_p. 854 (10:36; 12:1).
52 Ibid., p. 549 (6:12)
33 Exemplos: fé, apostasia, peregrinação (falaremos disso logo mais, neste capitulo).
34 Isto é, Jesus é único; Ele é o único sumo sacerdote verdadeiro na história. A argu­
mentação final de Hebreus 5:1-10 tem este teor.
35 Discuti amplamente este tema em minha tese de doutorado, Defilement and Purga-
tion in the Book o f Hebmvs (Vanderbilt University, 1973).
3oA advertência, 10:26-31; imitação dos antigos heróis da fé, capitulo 11; o convite
para se achegarem a Deus, 12:18-29.
37 Referente aos rituais do santuário, 11:28; 13:11; referente ao sangue de Cristo,
.1.0:19, 29; 12:24; 13:12, 20.
38A estrutura aqui sugerida tem semelhanças e diferenças daquela apresentada por A.
Vanhole em La Structun litteraire de 1’Épitre aux Hébreux (Paris, 1963). Em minha opinião, o
conteúdo de Hebreus de modo geral não tem correlação com as formas literárias conside­
radas, por ele nesse documento.
39A maneira como exposição e exortação estão integradas é um problema antigo na tentariva
de se determinar a estrutura teológica de Hebreus: veja Grãsser, “Der Hebrãerbrief 1938-1963”.
40 Discuti esta idéia até certo nivel em “The Pilgrimage Motif in the Book of He-
brews", JB L, vo!. 97, N" 2 (1978), p. 239-51. O conceito de peregrinação tcmou-se cada
vez mais remoto para o homem ocidental; o tema em si mesmo não é exato. Na tentativa
de dar maior precisão ao tema, tentei usar o modelo de peregrinação desenvolvido por H.
B. Partin, The Muslim pilgrimage: Jouney to the Center (tese de doutorado, Universidade de
Chicago, 1967). Partin encontra quatro propósitos fundamentais parava peregrinação: (1)
separação, deixar o lar; (2) uma jornada a um lugar sagrado; (3) um propósito fixo e (4) difi­
culdade. Comparei os dados de Hebreus referentes à peregrinação com o modelo de Partin
e encontrei grande similaridade.
41 Hebreus 3:1; 13:24; 2:11; 9:13; 10:10; 14,29; 13:12; 5:14; 7:19; 9:9; 10:1,14; 11:40;
12:23; 7:11; 12:2; 1:3; 9:14, 22, 23, 10:2.
42 Essa interpretação de Hebreus com relação a metáforas hannonizadas de culto e peregrina­
ção fundamenta o trabalho de outros esmdiosos do documento. Ela reforça as idéias Kàsemann,
cuja cristologia de aithegos (“pioneiro/lider”) archiereus não conferiu o devido valor ao tema archie-
Pa n o r a m a g er a l d e H e b r e u s

rus (“sumo sacerdote”) e considerou principalmente vis exposições para a compreensão de hamartia
(“pecado"). Veja Das wandemde Gottesvolk, 1938, p. 19-27. O artigo de C. K.Barret, “The Eschato-
logy ot tire Epistle to dre Hebrews", em The Background of tlie New 7èstament and Its Eschazology, eds.
\V. D. Daube (Cambridge, 1956), procurou relacionar o “agora" com o “ainda não”. Tenho rne
esforçado para mostrar como o conceito de uma comunidade cúltica que está em direção a um
objetivo se relaciona a essas idéias.
43Rm 1:1,7;IC o 1:1 -3;2, G1 1:1-5; Ef 1:1-2; F1 1:1-1; Jd 1. Observe também o fecha­
mento, assim como em Rm 16:1-27; IC o 16:5-24; G1 6:11-18; F1 4:14-23; Cl 4:7-18; 2Tm
4:9-22; T t 3:12-15; Fm 23-25.
44Edmund Gosse, em uma magnífica passagem de Father and Son (Pai e Filho), capturou o
poder da linguagem e as idéias de Hebreus. “A extraordinária beleza da linguagem - por exemplo,
o incomparável ritmo poético e imagens do primeiro capitulo - impressionaram a minha imagi­
nação, e foi (eu acho) meu primeiro contato com a magia da literatura. Fiquei incapaz de definir o
que senti, mas fiquei com um nó na garganta, o qual foi em sua essência uma emoção pura, quan­
do meu pai leu com sua voz pura, grossa e sonante tais passagens “Os céus são obras de tuas mãos.
Eles perecerão; tu, porém, permaneces; sim, todos eles envelhecerão qual veste; também, qual
manto os enrolarás, e, como vestes, serão igtmlmente mudados; tu, porém, és o mesmo, e os teus
anos jantais terão fim.” Porém, as partes dialéticas rne confundiam. Tais idéias metafísicas como
“lançando, de novo, a basedo arrependimento de obras mortas c da fé em Deus” e “de novo, estão
crucificando para si mesmos o Filho de Deus" não estavam exatamente no meu entendimento...
A linguagem melodiosa, a intrepidez retórica 'divina, a suntuesidade-dos-argumentos que fazem
da epístola de Hebreus tal milagre, estavam muito além de minha compreensão e eles apenas me
confimdiam” .(citado, em James .Moffarr. A critica/ and Essgecir ai Commentarv on the £pistle to the
Hebnavs [Edingburgh, 1924]).
45Encontramos um nome superior em (1:4), uma esperança maior em (7:19), uma aliança
superior em (7:22), promessas melhores em (8:6), sacrifícios superiores em (9:23), uma pátria supe­
rior em (11:16), uma ressurreição superior em (11:35) e sangue superior em (12:24).
46Compare essa observação de Ellen G. White, Conselhos aos Professares, Pais e Estudantes
(Tatui, SP, 2000), p. 361: “A operação do Espirito de Deus não afasta de nós a necessidade de
exercitar nossas faculdades e talentos, mas nos ensina a empregar toda capacidade para glória
de Deus. As faculdades humanas, quando sob a orientação especial da graça divina, são sus­
ceptíveis de ser empregadas para os melhores desígnios na Terra. A ignorância não aumenta
a humildade nem a espiritualidade de qualquer professo seguidor de Cristo. As verdades da
divina Palavra podem ser melhor apreciadas pelo cristão intelectual. Cristo pode ser glorifica-
do melhor por aqueles que o servem com inteligência."
47Veja meu ensaio “O Santuário Celeste - Figurativo ou Real?”, capitulo 3 deste volume.
48Veja meu ensaio “Alusões ao.Di? da Expiação", capitulo 6 deste volume.
C apítulo 3

O SANTUÁRIO CELESTE - FIGURATIVO OU REAL?'


W lL L I A M G. JO H N SSO N

inopse-editorial. Como devemos considerar as alusões ao santuário celeste no


'S livro de Hebreus? O santuário celeste possui uma existência objetiva ou é ape­
nas uma idéia? O escritor sugere que as referências ao santuário celeste são conside­
radas de acordo com uma das seguintes visões:
1. Metafórica. Esta visão rejeita qualquer realidade objetiva; a termos concre­
tos são atribüidòs sfgniticados espirituais.
2. Literalista. Esta perspectiva argumenta que cada termo tem um valor
“reai”. A realidade celestial é interpretada em todos os aspectos como idêntica à
estrutura terrestre.
3. Literal. Nesta visão “a realidade do santuário e ministério celestes é mantida
para salvaguardar o caráter concreto da obra de Cristo, porém, detalhes precisos des­
se santuário não estariam claros para nós”. Esta visão afirma a realidade do santuário
celestial, mas confessa que temos poucas informações sobre o aspecto da entidade
celestiai. A maioria dos adventistas aceita a última visão.
Enquanto os estudiosos católicos geralmente buscam na epístola seus interesses
linirgicos, estudiosos protestantes tendem a negligenciar a mensagem de Hebreus que
enfatiza o ministério de Cnsto. Mais grave, entretanto, tem sido a postura de considerar
Hebreus apenas uma metáfora. Os sacrifícios, sacerdotes, templos e assim por diante
são tidos como “códigos" - um mero “discurso” metafórico que, por sua vez, deve ser
espiritualizado conforme a visão de Filo de Alexandria sobre o cosmos.
O autor deste capítulo desconsidera qualquer vinculo enfte o pensamento
de Filo de Alexandria (filônico) e o de Hebreus, demonstrando que os conceitos
expressos rra Epístola são contrários àqueles considerados por Filo. As passagens
analisadas não dão apoio algum às afirmações de Filo.

Reimpressão de 'T h e Heavenly Cultus in tire Book ot Hebrews - Figura tive or Real?" in
Amold V. Walienkampl e W. Richard Lesher, eds. Tne Sanctuary and the Aconement, Washington,
DC: Instituto de Pesquisa Bíblica, 1981, p. 362-79
O SANTUÁRIO CELESTE - FIGURATIVO OU REAL?

A linguagem do santuário israelita permeia rodo o livro e deveria ser consi­


derada literalmente. O livro se refere ao verdadeiro problema humano, ou seja, a
degradação pelo pecado. A verdadeira necessidade religiosa da humanidade é a
purificação dos seus pecados. A epístola aos Hebreus não trata das inquietações
cosmológicas de um Filo, mas dos grandes temas da redenção humana por meio do
sacrifício e sacerdócio de Jesus Cristo - uma redenção prefigurada, porém, nunca
realizada no ritual dos tipos do santuário terrestre.
Para tanto, a epístola de Hebreus “estabelece uma série de bases para a fé
cristã - divindade real, humanidade real, um sacerdote real, Lima aliança real, um
sacrifício real, purificação real, acesso real e, por conseguinte, um santuário e minis­
tério celeste reais”.

E sboço do capítulo

1. Introdução
2. A interpretação metafórica
________________________3. Crítica.à interpreraçãcunetafòtica-— -------------------------
4. A interpretação realística (literal)

E evidente, até mesmo numa leitura superficial, que o livro de Hebreus está
impregnado com a linguagem do santuário, sacerdote e sacrifício. Com o apre­
sentado em outra parte1, as expressões - as quais devemos designar linguagem
cultuai do documento - estendem-se além da argumentação teológica formal. A
medida que o texto original é pesquisado, as referências cultuais permeiam todo
o trabalho, envolvendo-se tanto nas exortações quanto na teologia. Por exemplo,
o verboproserchom ai (“penetrar, entrar”), usado nas exortações de Hebreus 4 : 14-
16 e 10:19-22, é uma palavra cultuai que significa a entrada do sumo sacerdote
na presença de Deus.:
O estudo contemporâneo de Hebreus não tem tratado de maneira adequada
sua linguagem cultuai.3 Os protestantes em geral, talvez por não se agradarem de
rituais, tendem a negligenciar os temas de Hebreus que focalizam Jesus como sumo
sacerdote. Incontestavelmente, isto é uma falha crucial, pois, desse modo, a parte
reconhecidamente essencial (kephalaion, Hb 8:1-2) do livro de Hebreus é descon­
siderada. Por outro lado, estudiosos católicos manifestaram durante todo o século
passado um grande interesse no culto de Hebreus. Muitas vezes, suas obras refletem
interesses dogmáticos, como quando os escritores procuram alusões ao sacramento
da eucaristia em Hebreus.4 Assim, a questão da interpretação da linguagem cultuai
de Hebreus não tem sido considerada importante, antes, permanece oculta.5
O assunto é ainda mais complicado. Junto com a negligência geral, por parte
dos protestantes, dos interesses cultuais de Hebreus, tem havido muitas vezes uma
A LUZ DE 11EBR.EUS

interpretação implícita da linguagem cultuai que destrói de modo eficaz sua força.
Sustenta-se que os temas sobre sacerdotes, templos e sacrifícios são apenas uma
metáfora para explicar a obra de Cristo.0 Em outras palavras, o livro de Hebreus
estabelece um código e, por assim dizer, deveriamos decifrar o código para ver a in­
tenção do escrito. Demorar-se apenas nos termos sacerdote, santuário e sacrifício é
perder o propósito do livro. A menção de um santuário celestial, por exemplo, não
se refere a um lugar no Céu, mas deve ser compreendida ao longo do pensamento
filônico.7 Tampouco devemos visualizar uma obra ministerial feita por Cristo, ou
seu sangue como um sacrifício celestial. Esses termos não são mais do que uma
ilustração consistente, ou modelo, da obra transcendente de Cristo.8
Essa questão é muito importante para a Igreja Adventista do Sétimo Dia quan-
—dalem bramos o que o santuário e ministério celestiais significam em nossa herança.
Nossos pioneiros e Ellen W hite muito tempo atrás consideraram o livro de Hebreus
como um apoio poderoso à idéia de um santuário celeste real, e uma obra celestial feita
por Jesus, nosso verdadeiro sumo sacerdote. Se dissolvermos essas realidades em discurso
metafórico, com certeza, deveremos mudar toda-a doutrina adventista do sérimo dia.
—Isso fará-com que tenhames-de reorganizar nossa compreensão da realidade celestial
—e nosso lugar ao longo dos acontecimentos divinos, com uma implicação importante
nos eventos de 1844.
Citarei algumas referências ao livro de Hebreus nos escritos de Ellen W hite
que apresentam uma interpretação real da linguagem cultuai.

Por virtude de sua morte e ressurreição, tomou-se o ministro do “verdadeiro t;i-


bernáculo que o Senhor erigiu, não o homem” (Hb 8:2). Foram homens que erigiram
o tabemáculo judaico; homens construiram o templo; o santuário de cima, porém,
do qual o terrestre era o símbolo, não foi construído por nenhum arquiteto humano.
“Eis aqui o homem cujo nome é Renovo; Ele mesmo edificara o templo do Senhor
e será revestido de glória, assentar-se-á no seu trono, e dominará, e será sacerdote no
seu trono" (Zc 6:12 e 13).

O serviço sacrifical que apontara a Cristo passou, mas os olhos dos homens vol­
taram-se para o sacrifício verdadeiro pelos pecados do mundo. O sacerdócio terrestre
terminou; mas nós olhamos a Jesus, o minisrro do novo concerto, e “ao sangue da
aspersão, que fala coisas superiores ao que fala o próprio Abel”. “® caminho do San­
to Lugar não se manifestou, enquanto o primeiro tabemáculo continua erguido, ...
■quando, porém, veio Cristo como sumo sacerdote dos bens já realizados, mediante o
maior e mais perfeito tabemáculo, não feito por mãos, ... mas pelo seu próprio san­
gue, entrou no santo dos santos uma vez por rodas, tendo obtido eterna redenção”
(Hb 12:24; 9:8-12).9

Jesus Cristo é representado como estando continuamerite no altar, oferecendo


o sacrifício pelos pecados do mundo. Ele é um ministro do verdadeiro tabernácu-
O SANTUÁRIO CELESTE - FIGURATIVO OU REAL?

Io, erigido por Deus e não pelo homem. A sombra típica do tabernãculo judaico
não tem mais nenhuma virtude. Não há mais necessidade de se fazer expiação
diária ou anual, entretanto, o sacrifício expiatório por meio de um mediador é es­
sencial devido à prática constate do pecado. Jesus está intercedendo na presença
de Deus, oferecendo seu sangue vertido, como o de um cordeiro sacrificado. Jesus
apresenta a oblação por cada ofensa e cada fraqueza do pecador.10

A pergunta “Que é o santuário?" é claramente respondida nas Escrituras. O termo


“santuário”, conforme é empregado na Biblía, refere-se primeiramente ao tabemáculo
construído por Moisés, como figura das coisas celestiais; e, em segundo lugar, ao “ver­
dadeiro tabemáculo" no Céu, para o qual o santuário terrestre apontava. Por ocasião
da morte de Cristo, o serviço típico terminou. O “verdadeiro tabemáculo", no Céu,
é o santuário do novo concerto. E como a profecia de Daniel 8:14 se cumpre nesta
dispensação, o santuário a que ela se refere deve ser o santuário do novo concerto.11

Tal era o serviço efetuado como “exemplar e sombra das coisas celestiais". E o
que se fazia tipicamente no ministério do santuário terresrre, é feito na realidade no
______ministério do santuário celestial. Depois de sua ascensão, começou nosso Salvador a
obra como nosso sumo sacerdote. Diz Paulo: “Cristo não entrou em santuário feito
por mãos, figura do verdadeiro, porém no mesmo céu, para comparecer, agora, por
nós diante de Deus” (Hb 9:24).

O ministério do sacerdoce, durante o ano todo, no primeiro compartimento do


santuário, “além do véu” que formava a porta e separava o lugar santo do pátio exter­
no, representa o ministério em que entrou Cristo ao ascender ao Céu. Era a obra do
sacerdote no ministério diário, a fim de apresentar perante Deus o sangue da oferta
pelo pecado, bem como o incenso que ascendia com as orações de Israel. Assim
pleiteava Crisro com seu sangue, perante o Pai, em favor dos pecadores, apresentando
também, com o precioso aroma de sua justiça, as orações dos crentes arrependidos.
Esta era a obra ministerial no primeiro compartimento do santuário celeste.

Para ali a fé dos discípulos acompanhou a Cristo, quando, diante de seus olhos,
Ele ascendeu. Ali se centralizara sua esperança, e esta esperança, diz Paulo, “remos por
âncora da alma, segura e firme e que penetra além do véu, onde Jesus, como precur­
sor, entrou por nós, tendo-se tornado sumo sacerdote para sempre”. “Não por meio
de sangue de bodes e de bezerros, mas pelo seu próprio sangue, entrou no Santo dos
Santos, uma vez por todas, rendo obtido eterna redenção” (Hb 6:19 e 20; 9:12).

Durante dezoito séculos este ministério continuou no primeiro compartimento


do santuário.12

Em contraste, a interpretação “metafórica” ou “espiritualizada” (vamos


usar esses termos, neste capitulo, em oposição à interpretação “realistica” ou “li­
teral”) conclui o seguinte: (1) Não existe um santuário celeste real - “o santuário
A LUZ DE HEBREUS

celeste”é uma metáfora para “o universo” (2) Não existe um sacerdócio celestial
de Cristo - a linguagem é interpretada de uma forma subjetiva e significa a expe­
riência cristã de salvação (até mesmo alguns intérpretes conservadores chegam
a essa conclusão)13; (3) Não há “purificação” - do santuário celeste; portanto,
não há a possibilidade de se ter em 1844 uma indicação de um evento celestial
objetivo que marca uma nova fase de um ministério celeste objetivo realizado
por Cristo.
É possível que alguns estudiosos adventistas de Hebreus tenham sido in­
fluenciados pela escosla metafórica de interpretação. Alguns, claro, podem afir­
mar que tal ponto de vista não necessariamente demonstre um sinal de aban­
dono de nossa histórica doutrina do santuário - eles podem apelar para Daniel
-rApocalipse para sustentar essa afirmação. No entanto, ao que tudo indica, se
Hebreus fosse interpretado metaforicamente, essa doutrina pode ser seriamente
enfraquecida; evidentemente é Hebreus que, em face disso, apresenta as decla­
rações mais poderosas da Bíblia que apoiam a existência real de um santuário e
ministério celestes.
Neste capitulo, abordaremos a questão mais essencial no que tange à compre­
ensão de Hebreus: Pode ser a linguagem cultuai de Hebreus interpretada de forma
mecafórica (espiritual) ou realistica (literalmente):14 Desenvolveremos este capitulo
em três etapas: (1) a interpretação metafórica, (2) uma critica do ponto de vista
metafórico, e (3) interpretação realistica.

A INTERPRETAÇÃO METAFÓRICA

Os argumentos a favor deste ponto de vista podem ser classificados como


exegético e conceituai. Faz-se um apelo de maneira ampla à cosmologia de He­
breus, uma vez que versículos específicos envolvendo a linguagem cultuai são
citados com o indícios da intenção metafórica do documento. Analisaremos
cada visão.

A INTERPRETAÇÃO CONCEITUAL v

Afirma-se que a eoemovisÃo do judaísmo helenistico e, .em.particular, os es­


critos de Filo15 formam o pano de fundo para a linguagem cultuai de Hebreus.
Quando Filo escreveu sobre um santuário e linirgia celestes, ele tinha uma visão
cósmica na qual a theios logos (“palavra divina”) era o sacerdote:

O templo sagrado de Deus é, como devemos acreditar, o universo inteiro, tendo


por seu santuário a parte mais sagrada de toda a existência, mesmo o céu, por seu
O SANTUÁRIO CELESTE - FIGURATIVO OU REAL?

ornamento de estrelas, por seus sacerdotes, os anjos, os quais são servidores do seu
poder, almas desencarnadas, não constituídas de natureza racional e irracional.16

Foi determinado, portanto, criar um tabernáculo, um trabalho de grande santida­


de, a construção apresentada a Moisés no monte por ordens divinas. Ele vislumbrou
com os olhos da alma a forma imaterial do que iria ser feito, e essas formas tinham
de ser reproduzidas para serem percebidas pelos sentidos, copiadas do rascunho ori­
ginal... e de padrões concebidos na mente. A construção do santuário deveria ser
designada a ele, que era o sumo sacerdote, a fim de que a execução dos rituais feitos
por ele pudesse estar em harmonia com o plano.17

Um anjo é uma alma intelectual, ou melhor, por completo mente e espirito, feito
(para ser) um ministro de Deus. 0 anjo é possuidor de certos poderes e está a serviço
da raça dos mortais, a qual não estava apta a receber as bênçãos e benefícios concedi­
dos por Deus, pois sua natureza é corrupta... (por esta razão) a necessidade do Logos
[o Verbo) ser designado como juiz e mediador, o qual é chamado de “anjo".

-------------- E prova-clara-tlisse-é-que-o nome-divino é-invoeade-peraiu e o anjo. E este-é-o mais-------


poderoso e principal (ser) que o Céu, a Terra e todo o mundo conhecem.18

Afirma-se que Hebreus com partilha deste mundo conceituai. Para apoiar
essa idéia, pode-se destacar que os term os usados em Hebreus para descrever
a relação entre o santuário terrestre e o celestial - sk ia (“som bra”), eikon
(“imagem”), e hupodeigm a (“exemplo”, “cóp ia”) - possuem origens platônicas
e são usados por Filo no mesmo co n tex to .19 Hebreus com partilha com Filo
o dualismo cosmológico platônico pelo qual o invisível é o real - o visível é
passageiro. Hebreus 8:2 com enta sobre o alêthin os - o verdadeiro, ou rea! - ao
passo que em todo o capítulo 11 o contraste é delim itado entre o terrestre,
o qual é temporário e irreal, embora seja visto, e o celeste, o qual é divino e
real, em bora invisível.20
Estudar Filo para fornecer o fundamento conceituai para Hebreus é de forte tra­
dição entre comentaristas. Moffat, no IC C 21, é provavelmente o mais influenciador. En­
tretanto, mesmo onde a relação com Filo não é diretamente reconhecida, os exegetas de
Hebretis muitas vezes se mantêm parcialmente fiéis a esta interpretação.
Uma dissertação ..recente de Harvard, T he Intermediary World and Patterns
o f Perfeccion in Philo and Hebreuis11, [O M undo Interm ediário e Padrões de Per­
feição em Filo e Hebreus), de L. K. K. Dey, argumenta de modo amplo a favor
do mundo filônico de Hebreus. Prosseguindo além dos antigos argumentos
baseados nos capítulos 8, 9 e 11, os capítulos 1 -7 racionalizam que a discussão
sobre anjos, Moisés, “perfeição”, Arão e M elquisedeque tem origem nas cate­
gorias de Filo.2’
A LUZ DE HEBREUS

Se, então, o livro cie Hebreus usa a linguagem do santuário e liturgia celestes
como Filo a emprega (apesar de fazer de uma maneira cristã para dar a Cristo um
lugar de honra), seria um grande mal-entendido do documento considerar reais o
templo e seus serviços.

A INTERPRETAÇÃO EXEGÉTICA

Vários versículos e expressões na argumentação cultuai de Hebreus 9:1-10:18


nos dão indícios de uma linguagem cultuai.
1. O santuário terrestre (liagion kosmikon) (9:1). O termo hagion na LXX ge­
ralmente significa todo o santuário, como em Êxodo 36:3 e Números 3 :3 8 .24 Qual
o significado de kosmikon aqui? Para Filo (e também Josefo)25 o santuário terrestre
era um símbolo do cosmos. A frase hagion kosmikon poderia ser vista como “um
símbolo no palco deste mundo para ilustrar o que estava sendo feito ou estava para
ser feito em planos mais elevados”26. Isto é, kosmikon é visto como um predicativo
do adjetivo, e a frase hagion kosmikon deveria ser traduzida como “tabernáculo ter-
restre com um modelo cósmico”.234
2. O “prim eiro tabernáculo” (sk ên êliêp ro tê) (9:2). Qual é o correspondente
deste termo? Apesar de estar claro em 9:2-4 que a ênfase é a distinção entre o pri­
meiro e o segundo compartimento do tabernáculo (observada pela descrição dos
objetos), é afirmado que aqui temos um indicio da natureza do santuário celeste.
Os dois tabernáculos (compartimentos) sugerem o contraste entre os santuários
terrestre e o celestial: o lugar santo com seus objetos mundanos simbolizando a
Terra; o lugar santíssimo como símbolo do Céu.
3. O “santo dos santos” (liagia hagion) (9:3). Esta é uma referência ao san­
tuário celestial. Para apoiar este ponto de vista, é citado Hebreus 9:8-9, onde o
lugar santo é um símbolo da antiga era (o kairos enestêkos), e o santo dos santos é
um símbolo da nova era (o kairon diorthosêos).27 De acordo com esta interpretação
vemos que Hebreus, apesar de adotar a terminologia do santuário, lhe atribui um
significado alegórico.28
4. O “m aior e mais perfeito tabernáculo” (9:11). A interpretação centraliza-
se no uso do primeiro dia (“por meio”ou “por”) na frase, que pode ser entendido
como instrumental, e, de fato, é usado assim no versículo 12.29 Esse versículo su­
gere que Cristo teve acesso a Deus por meio de um "maior e mais perfeito taber­
náculo, não feito por mãos", ou seja, seu corpo. A palavra skênê (“tabernáculo”)
corresponde à existência terrestre de Cristo. Em outros lugares no N T o corpo de
Jesus é chamado de templo (Mc 14:58; Jo 1:14; 2:19; Cl 2:9), e o livro de Hebreus
já argumentou antes da necessidade da encarnação (2:14-16; 5:7). Ou seja, o corpo
de Cristo se tom ou um instrumento da salvação divina na Terra. O escritor U. Luk
defende essa posição com base em Hebreus 10:5 em diante, afirmando que Jesus,
O SANTUÁRIO CELESTE - FIGURATIVO OU REAL?

em sua existência como “templo celestial”, trouxe o santuário celestiai para a Terra
durante sua vida. Assim, seu serviço sacerdotal na cruz é realizado em seu próprio
corpo como um templo; na vida e morte de Jesus, o Céu e a Terra se encontram.30
5. “Pelo véu, isto é, pela sua carne” (10:19-20). A interpretação metafórica tem
nestes versículos seu grande apoio. Considerando que as referências anteriores exigiam
um raciocínio cuidadoso, aqui afirma-se que temos evidência de uma intenção espiritu­
al - o véu do santuáTio celeste é identificado com o acame-fou corpo) de Cristo.11
Assim como a cortina é o limite do acesso ou não a Deus no templo judai­
co, a existência de Cristo é o marco divisor entre o céu e a Terra.32 Entretanto,
uma cortina tanto encobre como dá acesso, desse modo, apenas pela morte de
Cristo o véu foi removido e seu verdadeiro papel sacerdotal revelado. Se o véu do
santuário celeste é a sua carne, podemos entender toda a descrição do santuário
e não mais ver um santuário e liturgia celestes reais. Dessa forma, é evidente que
há uma razão importante para se fazer uma interpretação espiritualizada da lin­
guagem do santuário de Hebreus. Embora a maioria das evidências individuais
seja pequena, pesa o efeito cumulativo. Portanto, abordaremos agora essa nnter-

C O V ÍEN IÁ R IO C R ÍTIC O DA INTERPRETAÇÃO M ETAFÓRICA

Examinar passo a passo o caso acima, iniciando pelos dados conceituais, e


então a detalhada exegese.

CONCEITUAL

Apenas de maneira muito generalizada é que podemos afirm ar que o


pensam ento universal de Hebreus está de acordo com o de Filo. Podemos
concordar que Hebreus, com o Platão e Filo, afirm a que o real está fora do
campo dos sentidos. Entretanto, a idéia de buscar o genuíno, o au tên tico, na
esfera extra-sensorial, ou celestial, não é exclusividade de Platão e F ilo ,33 mas
é tam bém parte da visão bíblica da realidade. Isso está afirm ado de forma
sucinta em 2 C orintios 4 : 18 - “não atentando nós nas coisas que se vêem,
mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são tem porais, e as que se
não vêem são eternas".
Observemos estes três aspectos do santuário de Hebreus:
1. O livro de Hebretis afirma que Cristo entra em um Ligar de sacerdócio
celestial - 4:14, Ele “penetrou os céus”; 4:15, temos um sumo sacerdote; 4:16,
o “trono da graça" nos ajuda em tempo oportuno; 6:19-20, Jesus entrou “além
do véu”; 8:1-2, “temos um sumo sacerdote tal... ministro do santuário e do ver­
dadeiro tabernáculo”; 8:6, “obteve Jesus ministério tanto mais excelente”; 9:12,
A LU7. nc HEBREUS

“entrou uma vez”; 9:24, “Cristo entrou... no mesmo céu”; 10:12, “assentou-se á
destra de Deus.”
Esta preocupação com o lugar vai de encontro à idéia filônica. Apenas o in­
telecto pode vislumbrar o real. Falar de uma entrada real num lugar, como parece
falar Hebreus, seria absurdo.M
2. A ênfase temporal de Hebreus põe abaixo a interpretação filônica, e, em
meu parecer, incontestavelmenre. Hebreus não apenas comenta sobre “o genuíno”,
como oposto ao visto, mas também evidencia que “o genuino” diz respeito a um
determinado tempo. Notamos em 10:1 que “a lei tem apenas uma sombra dos bens
vindouros”. Pelo modelo filônico, o verdadeiro sempre se justapõe ao transitório,
que é skia (“sombra”); mas aqui o verdadeiro é vindouro. Não é isto que impulsiona
toda-a argumentação contida nas passagens 1:5-10:18 de Hebreus? É-nos mostrada
a nossa necessidade da divindade e da humanidade do Filho, “para ser misericor­
dioso e fiel sumo sacerdote” (2:17). A designação divina (5:5-6; cf. 7:20-21) faz parte
deste modelo. Do mesmo modo em Hebreus 8:3, “por isso, era necessário que
também esse sumo sacerdote tivesse o que oferecer”.*3
ATirteirçãu des^rrarrocTnio é mostrar que jesus sè tom oü nosso sumo sa­
cerdote celestial. As afirmações “de uma vez por todas” 35 apontam para o seu
sacrifício auto-suficiente no .Calvário. Por causa.desta oferta, todas as barreiras fu­
ram destruídas entre Deus e homem, eliminando a necessidade de sacrifícios de
animais. Por isso, Hebreus enfoca o aspecto temporal: primeiro a transformação do
Filho em homem (a encarnação); e, segundo, o seu sacrifício no Calvário. Ambas as
realizações capacitaram Cristo a exercer seu ministério sacerdotal no Céu.
Com isso, a linguagem cultuai de Hebreus diverge nitidamente do modelo
filônico. Não podemos mais sustentar uma ordem cclestrahetema, imutável e inal­
terável, afastada e intocada pelos acontecimentos desta Terra.30
3. O terceiro ponto é ainda mais drástico. "Era necessário, portanto, que as
figuras das coisas que se acham nos céus se purificassem com tais sacrifícios, mas
as próprias coisas celestiais com sacrifícios a eles superiores.” (Hb 9:23). A idéia
de que haveria a necessidade de modificar as coisas celestiais faz com que a mente
esmoreça, e até mesmo confunde completamente alguns estudiosos!37 O modelo
platônico é claramente considerado inadequado aqui. v
Parece que Hebreus, apesar de empregar terminologia e alguns conceitos
paralelos de uso filônico, tem seu próprio significado distinto, portanto, deve
ser estudado em seus próprios termos, sem considerar as idéias de Filo. Alguns
intérpretes modernos de Hebreus reexaminaram a suposta relação filônica e che­
garam a um veredicto negativo. Tal foi a conclusão de Ronald Williamson em sua
dissertação Philo an d the Epistle o f the Hebrews (Filo e a Epístola dos Hebreus),38
que aborda este tema. A. McNicol, em T he Relationship o f the Image o f the Highest
O SANTUÁRIO CELESTE - FIGURATIVO OU REAL?

Angel to the High Priest Concept in Hebrews (A Relação da Imagem do A njo Mais
Elevado e o Conceito de Smuo Sacerdote em Hebreus)39, também argumenta
contra os princípios filônicos.
Agora, estudaremos o mateTial exegético. Tendo concluído que a estrutura
conceituai de Hebreus diverge da filônica, devemos ainda examinar a linguagem
cultuai para ver se está sendo utilizada de uma forma espiritualizada, tomando
as passagens anteriormente observadas nas quais se afirma haver evidencias de
tal intenção.

E xegese

1. O Itagíon kosm ikon (9:1). O modo mais simples de entender este texto é
considerar Kosmikon como lím uso substantivado do adjetivo. Então, hagion kos­
mikon é apenas uma referência ao tabemáculo da aliança judaica, nada mais. O
contexto certamente aponta para esta direção.
No capitulo 8, a discussão gira em torno das duas alianças, com a citação de
Jeremias profetizando a nova diathêke (“aliança”). Na passagem 9:1 lemos que “a
primeira [aliança] também tinha preceitos de serviço sagrado e o seu santuário
terrestre [ou terreno]”, e os próximos nove versículos expandem essa declaração.
Os versículos 1-5 esboçam de forma breve esse santuário, e os versículos 6-10
descrevem resumidamente as suas cerimônias, as quais são apresentadas como
limitadas no tocante ao acesso à presença de Deus. Assim, kosmikon em 9:1 con­
trasta com epouranios (“celestial”).40 A passagem 9:1-10 prepara o terreno para a
descrição do ministério celestial de Cristo, que será mais detalhado em 9:11-10:18.
Assim como a primeira diathêke tem seu santuário (o kosmikon ou o “terrestre”),
a nova diathêke, inaugurada pelo sangue de Cristo (9:15-18), tem um santuário
(o celestial - 9:24-26). Portanto, levantar questões sobre o cosmos em 9:1 está
totalmente fora do contexto.
2. O sk ên ê h ê p r o tê (9:2). O termo no contexto está claramente ligado ao pro­
pósito de fazer uma distinção entre o primeiro compartimento e o segundo com­
partimento do sanmário terrestre. A breve descrição da mobília de cada um aponta
isto. A questão é se atribuir um significado alegórico a esses dois compartimentos,
de forma que eles tenham referentes separados - h êp ro te skên ê significando o pri­
meiro santuário/era/pacto, e hê deutera (“segundo”) skênê significando o santuário
celestial/nova era/novo pacto. Se este é o objetivo dessa passagem, ele certamente
foi bem camuflado. Observemos:
a) Como a discussão dos dois compartimentos termina repentinamente com
peri hõn ouk estin nnn legein kata meros: “das quais coisas não falaremos agora par­
ticularmente”. Ou seja, somos desencorajados a investigar os detalhes desses dois
compartimentos para buscar significados escondidos.
A LUZ DE 1IEBREUS

b) Hebreus 9:6-10 segue imediatamente com uma descrição dos serviços do


santuário terrestre, não de uma maneira a apoiar a visão alegórica. O segundo com­
partimento não é apresentado como o lugar de livre acesso; na verdade, o sumo
sacerdote poderia entrar nele somente uma vez por ano e “não sem sangue” (9:7).
Em outras palavras, a passagem completa, 9:1-10, é uma descrição do antigo san­
tuário e suas cerimônias. In toto, o antigo culto era inadequado em dois pontos: o
acesso limitado e a falta-de objetivo em seus sacrifícios (apresentado por suas falhas
em “aperfeiçoar" a sunaidêsis (“consciência”) do adorador - veja 9:9).41
c) O argumento subsequente é o de que a passagem de 9:11 a 10:18 mos­
tra como a morte de Jesus Cristo e o ministério do santuário celestial cumpre
tudo o que o antigo culto não era capaz de cumprir. Ele tanto quebra todas as
--------- barreiras, entre Deus e o hom em 42, como provê um sacrifício todo-suficiente43,
de forma que não é mais necessário relembrar os pecados.44 Nesta longa argu­
mentação, embora encontrem os em algumas partes o contraste do culto antigo
com o novo,45 nós não encontram os o contraste dos dois compartimentos do
"santuário terrestre.
Assi m—mds-Gr-sa ntuár-io terrestre, não somente seu prim eiro compartimento,
----------foi uma parábola da era antiga, no tempo então presente (ton kairon ton snestekotd),
.que cumpre os propósitos de Deus “até um tempo de reforma” (9:10).46
3. “Por um maior e mais perfeito tabernáculo” (9:11). A interpretação de skénê
como a existência corporal de Jesus não tem fundamento. Em todas as outras referên­
cias a skenê no livro de Hebreus (8:1, 5; 9:2, 3, 6, 8, 21; 11:9; 13:10), o significado é
claramente o santuário. O substantivo skenê não é usado em nenhuma passagem do
NT para se referir ao corpo de Jesus. Esta questão é muito importante, pois Hebreus,
■em particular ~ talvez; como nenhum-outro.livro do NT -enfatiza n humanidade de
Jesus. Mas o termo é sarx (2:14; 5:7; 9 :10, 13-14; 10:20; 12:9). No capitulo o, versículo
2, Cristo é chamado de leitourgos (“ministro”) do sanmário celestial, e o último é
imediatamente descrito como tês skênês lês alêthinês (“do verdadeiro tabernáculo").
Apenas essa referência parecería negar a interpretação metafórica de 9:11.
E o que dizer então da foTça de dia no versículo 11? O argumento tão repe­
tido da coerência - ou seja, uma vez que no versículo 12 dia claramente tem um
sentido instrumental (“por seu próprio sangue”), deve ter o mesmo sentido antes
na frase longa (ou seja, no início do versículo 11) - isto não se comprova aqui. Está
claramenre demonstrado que-em qualquer outra parte do N T a mesma preposição
pode apresentar diversos sentidos mesmo em sucessões imediatas.47 Assim, dia no
versículo 11 deve ser interpretado em sentido de localização. Temos uma descrição
de Cristo ascendendo ao verdadeiro sanmário, o celestial. A passagem é análoga à
de 4:14 (“um grande sumo sacerdote que penetrou os céus”), à de 6:19-20 (“penetra
além do véu”), à de 8:1-2 (“possuímos tal sumo sacerdote, que se assentou à destra
O SANTUÁRIO CELESTE - FIGURATIVO OU REAL?

do trono da Majestade nos céus”), e à de 9:24-25 (“Cristo não entrou em santuário


feito por m ão s.....porém no mesmo céu”).
4. “Pelo véu, isto é, pela sua carne” (10:19-20). Aqui, a interpretação
m etafórica busca seu apoio máximo. No entanto, ao pesquisarmos, esta visão,
que parece convincente ao leitor comum da KJV, é inadmissível. Se dissermos
que katapetasm a é carne, o que diremos das referências anteriores ao véu? O
“segundo véu” de 9:3 é, sem dúvida, uma cortina literal, o divisor entre o lugar
santo e o santíssimo no santuário do AT. A lém disso, é impossível interpretar
a passagem de 6:19-20 alegoricamente. Cristo, com o nosso precursor, penetrou
no “interior do véu”...tendo se tornado um sumo sacerdote segundo a ordem
de M elquisedeque. De forma alguma katapetasm a (“véu”) pode ser a carne de
C risto. Neste contexto, deve. ser sustentado o uso no sentido de localização, e —
observado os paralelos entre 6:19-20 e 10:19-20, 22:

6:19-20 1 0 rl9 -2 0 ,22


Confiança (“âncora da alma”) Ousadia
Cristo p e n e t r o u __________ Cristo consagrou____________________
Sumo sacerdote Grande sacerdote
Véu Véu
Precursor Pelo sangue de Jesus...
aproximemo-nos

C om o, então, podemos entender a expressão "pelo véu, isto é, pela sua


carne”? Podemos entendê-la somente com um reestudo de 10:19-20 em sua to­
talidade. Apenas pelo fato de “isto é, pela sua carne” vir seguido de katapetas-
m atos não significa necessariamente que deva estar-atrelado ao seu significado. A
alternativa é ver hodon (“cam inho”) como o referencial, como os tradutores da
N EB - “Tendo, pois, irmãos, intrepidez para entrar no Santo dos Santos, pelo
sangue de Jesus, pelo novo e vivo cam inho que ele nos consagrou pelo véu, isto
é, pela sua carne” (10:19-20).
Um argumento extra foi fornecido por Jeremias48, que de maneira convincen­
te chamou atenção para o quiasmo de 10:19-20, o qual mostra que hodon está de
fato atrelado ao significado de tout' estin tes sarkos autou (isto é, pela sua carne).

Versículo 19 Versículo 20
“para entrar n o” “Pelo novo e vivo cam inho”
{eis tên eisodon) (hodon prosphaton kai zõsan)
"santo dos santos” pelo veu
(tõn hagiõn) (dia tou katapetasmatos)
“pelo sangue de Jesus” “isto é, pela sua carne”
(em lõ haimati têsou) (tout'estin tês sarkos autou)
A LUZ DE HEBREUS

Portanto, ao analisar caáa uma das passagens de Hebreus tidas como exem­
plos a favor da interpretação metafórica dos rituais celestes, vemos que elas não
fornecem o embasamento que é frequentemente reivindicado.

A INTERPRETAÇÃO REALÍST1CA (LITERAL)

Praticamente não temos nada a adicionar aos nossos comentários acima. Vi­
mos anteriormente neste capitulo como a linguagem cultuai permeia o livro de He­
breus. Este fator é tão facilmente percebido em todo o livro que somos autorizados
a declarar que a menos que se nos dêem indicações convincentes de que esta linguagem não
deve ser considerada ao pé da letra, somos obrigados a considerá-la seriamente. Somente se a
-argumentação cúltica devesse ser considerada sem sentido por si própria justificar-
se-ia descartarmos a interpretação literal em Hebreus.
Mas, uma interpretação realística não é de forma alguma sem sentido!
Mostrei em outra parte49 com o o “problema” do homem, a transgressão, está
•expresso em Hebreus da forma mais básica, provando que sua necessidade reli-
-giosa-é-a-purificação.-Essas-idéias são a própria essência de-Hebreus, e elas são
termos cúlticos.
Podemos acrescentar resumidamente dois pontos. Primeiro, a interpretação
realística está completamente de acordo com o propósito homilético de Hebreus.
Esse propósito, como mostrado no estudo das exortaçõesso, é consolidar a con­
fiança na obra de Cristo, mostrar a superioridade da religião cristã, advertir con­
tra uma negligência gradual ou uma franca rejeição, e encorajar a perseverança
até o fim. Dessa forma, o documento apresenta uma série de fundamentos para
a confiança cristã. Divindade real, humanidade real,. sacerdote real, aliança real,
sacrifício real, purificação real, acesso real, e, por conseguinte ministério real e
santuário celeste real.
Segundo, não deveriamos supor que todos os judeus do primeiro século
tivessem uma visão metafórica do culto celestial. Na verdade, é cada vez mais
evidente que muitos grupos de judeus criam numa liturgia e num santuário celes­
tiais literais. Os escritos apocalípticos do judaísmo indicam tal concepção, como
por exemplo, “e nele [o tabernáculo celestial] estão os anjos da jmesença do Se­
nhor que ministram e fazem propiciação para o Senhor por todos os pecados
•da ignorância do justo e oferecem ao Senhor uma oferta de cheiro suave, sem
sangue, racional.”31 "E que o Senhor conceda-lhes...... servirem em seu santuário
como os anjos de sua presença e os santos.”52 Aproxime-se de Deus e do anjo que
intercede por você, pois ele é um mediador entre Deus e o homem.”53
Ao mostrar esses paralelos, não desejamos sugerir que Hebreus é dependente
de tais fontes não-biblicas. De fato, a apresentação de Hebreus é unicamente cristã
e cristocêntrica. No lugar de ministros angélicos, há um único sumo sacerdote -
0 SANTUÁRIO CELESTE - FIGURATIVO OU REAL?

Jesus Cristo. Em vez de exaltar Melquisedeque, mostra que ele apenas tipificava
Cristo.’4 No entanto, estar ciente dessas outras idéias relacionadas ao culto celes­
tial, concorrentes com a cristandade do primeiro século, serve de auxílio em pelo
menos duas formas: (1) Estamos mais aptos a entender a linguagem ciiltica de
Hebreus; ao mesmo tempo que ela compartilha as concepções encontradas nos
apocalípticos bem como em Filo, não pode ser considerada “filônica" sem uma
séria qualificação. (2) Podemos entender a preocupação de Hebreus em falar da
função dos anjos e da função de Melquisedeque.55
Finalmente, como parece claro, requer-se uina interpretação realistica literal da
linguagem cúltica de Hebreus pela evidência do texto. Quão literal deverá ser? Por
exemplo, quando lemos o "sangue” de Cristo56, devemos entender seu sangue real
sendo oferecido no santuário celestial? Portanto-, somos direcionados a ver possíveis —
maneiras de se interpretar Hebreus: (1) metafórica ou espiritual, a qual é deficiente,
conforme tentamos mostrar neste capítulo; (2) literalista, segundo a qual cada termo
possui real significado - para o santuário celestial, o terrestre seria uma miniatura em
todos os aspectos; e (3) literal, segundo a qual a realidade do sanniário e ministério

detalhes precisos desse santuário não estariam claros para nós.


■No meu julgamento, o livro de Hebreus-não nos ajuda a nos decidirmos de­
cisivamente pelas visões 2 ou 3 como explicadas acima. Embora o argumento não
necessariamente-exclua a •possibilidade de que o santuário celestial seja uma versão
glorificada do terrestre, devemos observar: (1) o celestial é o genuíno, o verdadeiro,
assim, deveriamos ver o terrestre à luz do celestial, em vez de vice-versa.57 (2) Em
9:24 lemos meramente “céu”, certamente uma descrição muito geral. (3) A falta
de interesse em traçar linhas de comparação do terrestre com o celestial é mostra­
da pelas palavras concisas em 9:5. E (4) a ênfase em 9:1-10:18 recai sobre a obra
que Cristo realiza; parece não haver interesse em dar detalhes do ambiente. É,
portanto, evidente que, ao mesmo tempo em que podemos afirmar a realidade do
santuário celestial no livro de Hebreus, temos relativamente poucos dados sobre
sua aparência.

N otas

1William G. Johnsson, Defilement and Purganon in the Book o f Hebrews (tese de doutora­
do, 1973), capitulo 1.
: Leia também Hebreus 7:25; 10:1; 11:6; 12:18,22.
3Johnsson, Defilement and Pmgation in the Book of Hebrews, capitulo 2; Veja também Id., “Tire
Cultus of Hebrews in Twenneth-Century Scholarship”, Exp Tim 89/4 (Janeiro, 1978): 104-8.
4 Leia William G. Johnsson, “Issues in the Interpretation of Hebrews” AliSS 15/2
(1977), N° 67-71, para uma bibliografia das obras católicas recentes sobre Hebreus.
A IU Z DE HEBREUS

5 Ibid., p. 169-87.
6 Para Jerome Smith, A Priestfor Ever, London, 1969, coda a argumentação de Hebreus
é uma metáfora ampliada.
7 Os estudiosos mais proeminentes que adotaram este ponto de vista são: James
Moffatt (A Criticai and Exegetical CommenCary on tire Epistle to tke H ebrew [Nova Iorque,
1924]); E. Kâsemann (Das Wandernde Gottesvolk IGõttingen, 1939]); F.J.Schierse (Verkeú-
sung und Heilsvollendung: Zur Theologischen Grundfrage des Hebrãerbriefes [Munich, 1995]);
E. Grãsser (Der Glaube im Hebrãerbrie/IMarbug, 1965]); G.Theissen (Untersuckungen zum
Hebrãerbrief [Gücerslob, 1959]); C. Spicq (L’Épitre anx Hébreux, 2 vols., [Paris, 1952]); e
J. Héring (The Epsitle to tke Hebreu/s [Londres, 1970]).
8 Cf. Moffatt, p. xxxi: “O autor escreve de sua própria filosofia religiosa, ou seja, de
sua própria dentre os escritores do Novo Testamento. O elemento filosófico na sua visão do
— mundo e de Deus é fundamentalmente platônico.”
9 Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações (Tatui, SP, 2000), p. 165-66
10 Francis D. Nichol, ed., Tke SDA Bible Commentary , vol. 6 (Washington, DC,
1980), p. 1077.
11 Ellen G. White, O Grande Conflito (Tatui, SP, 2001), p.417.
________ 12Ibid., p. 420421
13Observe, por exemplo, como F. F. Bruce em seu comentário sobre Hebreus (The Epis­
tle to tke Hebrews [London, 1971]) parece favorecer um santuário celestial real em Hebreus
8:1-5, mas em Hebreus 10:19-22, alegoria o véu como sendo o corpo de Cristo.
19 Obs.: Este capitulo não considera as afirmações de Ellen G. W hite relacionadas a
-Hebreus. Essas afirmações, que. em si geram certas discussões, todavia, se mantêm fiéis ao
santuário celeste real. As questões levantadas por essas declarações serão tratadas em outros
capítulos em The Sanctuary and tke Atonement, Eds. A.V. Wallenkampf e W.R. Lesher (Wa­
shington, DC, 1981).
15As datas de Filo são incertas: 20 a.C. a 50 d.C.
16De specialibus legibus, Lxxii. 66 cm LCL, Philo, VIL 137,139.
17De Vita Mosis, ll.xv.74 em LCL, Philo, VL485.487
18Quoestiones et Solutiones in Exodum, II.3, in LCL, Philo, Supp. 11:48,51
19Veja Moffatt, xxxi-xxxiv, p. 104-6, 135; e também W. F. Hosvard, Tke Founh. Gospel
in Recent Cristicism and Interpretation (Londres, 1955), p. 115.
20 Leia esp. Hb 11:1, 2, 6, 7, 10, 13-16, 26-27, 3 9 4 0
21Veja nota 7.
: : Série Teses 25 SBL (Missoula, MT1, 1975). v
23 É significativo que Dey não tentou abranger Hebreus 8-10 em sua tese.
24A. P. Saiam (“Ta liagia na Epístola de Hebreus”, AUSS 5 [Janeiro, 1967]: 60) afirma
que dos 172 usos de liagion, 142 se referem ao santuário em geral. Veja apêndice A.
25 Ant. III. 6:4, 111,7:7.
26Moffat, p. 113.
27So Schierse, p. 29-33.
28 Veja Também U. Luk, “Himmlisches e Irdisches Geschehen im Hebrârieí”, NovT
(1963), p. 211.
O SANTUÁRIO CELESTE - FIGURATIVO OU REAL?

39 Hebreus 9:11-12 forma uma sentença continua; por isso, se deduz que dia deveria
ser usado de maneira constante do começo ao fim.
30 Luk, p. 209-10
31 É interessante notar como G. W. Buchanan (To the Hebrews, AB [New York, 1972])
lida com esta passagem. Seu comentário se opõe fortemente á visão metafórica, defendendo
uma interpretação literal. Aqui, porém, sugere que a frase “isto é, sua carne" é algo engano­
so - com certeza uma resposta sem lógica.
33 N. Dahl, “A New and Living Way" [Um Caminho Novo e Vivo), ínt., 5:401-12
33 Pertence, de fato, ao antigo pensamento oriental.
34 R. Williamson, “Platonism and Hebrews" (Platonismo e Hebreus), SJT 16 (1963):419
35 Hebreus 6:4, 9:7, 26-28; 10:2; 12:26-27 (hapax)\ Hebreus 7:27; 9:12; 10:10 (ephapax).
36 Cf. Buchanan, p. 134
37 Observe, e.g., a resposta de Spicq a tal pensamento: “absurdo" (11:267)
38 Leiden, 1970
39Tese de doutorado, Universidade de Vanderbilt, 1974
w Hebreus 8:5; 9:23 (veja também 3:1; 6:4; 11:16; 12:22).
41 Fiz a exegese de 9:1-10:18 em De/ilement and Purgation, cap. 4 de minha tese. Veja
-uma diseussão maissucinta no capitulo 5 deste livro.___________________________________
43 Hebreus 4:14-16; 6:19-20; 9:6-12; 24-25; 10:19-22; 12:18-24.
43 Hebreus 2:17; 7:27; 8:3; 9:13-14; 15-34; 26-28; 10:4; 11-14.
44 Hebreus 9:9-10; 10:1-4; 15-18.
45 Hebreus 9:6-10; 13-14, 18-23; 10:14.
“ Á -mesma tonclusão é tirada por McNiool,--p. 153-58, e O . Hofius, “D a sE iste
und das zweite Zelt - ein Beitrag zur Auslegung Von Hb 9:1-10”, Zeischrift für die neu-
testamentliche Wissenschaft und die Kunde dês Urchristentums 61, N° 3-4 (1970): 274-75.
47O. Hofius “Inkamation und Opfertod Jesu nach Hebr 10, 19t.”, Der Ruf Jesu und die An-
twort der Gemeinde, ed. E. Lohse, C. BurchaTd, and B. Schaller (Gõttingen, 1970), p. 13241.
l5J. Jeremias, “Hebrãer 10:20 - tout estin tés sarkos autou." ZNW 62 (1971): 131. Este
artigo apóia a conclusão a que chegou O. Hofius previamente (n. 46).
49Johnsson, De/ilement and Purgation.
50Hebreus 2 :1 4 ; 3:74:16; 5:11-6:18; 10:32-39; 12:1-13:21.
51 Test. o f Levi 3:5-7.
S5Jubilees 31:14.
53 Test. ofD an 6:2.
54 Há forte evidência da exaltação de Melquisedeque entre a seita Qumran.
55 Um dos rolos do Mar Morto refere-se a uma função intercessória de Melquisedeque
no santuário celestial.
59 Hebreus 9:12, 14; 10:19, 29; 12:24; 13:12, 20.
57 Hebreus 8:1-5.
C a p ít u l o 4

U ma exegese de passagens selecionadas

H e r b e r t K ie s l e r

inopse editorial. Os adventistas do sétimo dia ensinam que o ministério sa­


S cerdotal de Cristo no santuário celestial consiste de duas fases ou ministrações
distintas. A natureza e a seqüência dos serviços diários e anuais relacionados ao
lugar santo e ao lugar santíssimo do típico santuário terrestre fornecem a base

Essa doutrina do sacerdócio de Cristo está relacionada à compreensão adven-


tista de certas profecias de Daniel e Apocalipse e à origem da igreja. Os adventistas
surgiram na metade do século 19 com o movimento milerita ecumênico na Amé­
rica do Norte, e -vieram a crer, por meio do estudo das Escrituras, que em 1844
(término da profecia de 2.300 anos de Daniel 8-9) Cristo começou a segunda fase
de seu sacerdócio.
De acordo com a tipologia do santuário, bem como as profecias, esta segunda
e final fase do ministério constitui um julgamento pré-advento, a fase inicial do
julgamento final (Lv 16; Dn 7:9-10, 13-14; Ap 14:6-7). Cristo dá seqüência a esse
ministério, juntam ente com sua intercessão a favor dos pecadores, até o término da
provação humana, quando Eie retorna pela segunda vez para seu povo na glória de
seu reino como Rei dos reis e Senhor dos senhores (Ap 19:11-16; Hb 9:28).
De tempos em tempos, oponentes têm sugerido que a epístola aos Hebreus
nega a posição adventista de um ministério sacerdotal de C rista constituído de
duas fases. Argumenta-se que Hebreus ensina que Cristo, por ocasião de sua
ascensão, -foi entro nirado à destra de Deus no lugar santíssimo do santuário ce­
lestial para iniciar sua obra sacerdotal. Assim, ele não poderia ter entrado numa
segunda fase do ministério semelhante ao ministério no lugar santíssimo no san­
tuário terrestre em 1844.
A questão, portanto, é se a epístola aos Hebreus de fato nega a doutrina do
ministério sacerdotal de Cristo em duas fases que parece tão evidente do ponto de
U m a e x e g ese d e p a ssa g en s se lec io n a d a s

vista da tipologia do santuário. Neste capitulo, o autor examina as principais passa­


gens de Hebreus que focalizam questão.
Ficará evidente que os estudiosos da Bíblia não concordam plenamente
quanto aos significados precisos dessas passagens, embora sua essência geral es­
teja clara. Um texto central é Hebreus 9:8. Sua tradução afetará a compreensão
do argumento subseqüente do autor. Os tradutores da New International Vérsion
concluíram que o autor estava falando d o 'lugar santíssimo do santuário ce le ste s
traduziram a passagem assim: “The Holy Spirit was showing by this that the way
into the Most Holy Place had notyet been disclosed as long as the first tabernacle
was still standing” (“O Espirito Santo estava mostrando com isso que o cam inho
para o lugar santíssimo ainda não havia sido revelado enquanto o primeiro taber-
náeulo estava ainda de pé;” Tradução da NIV-). - -
Essa tradução inrerpretativa de 9:8 fez com que o versículo 12 fosse traduzido
da seguinte maneira: “He [Christ] did not enter by means o f the blood o f goats and
calves; but He entered the Most Holy Place once for all by his own blood, having
obtained eternáTredemption’’ (“Ele [Cristo] não entrou por meio do sangue de
bode^edrezerrosrmas entrou’ ncrlugarsantissnn^ d ^ itn ã vez por todss-por-setr
próprio sangue, tendo obtido redenção eterna.” Tradução da NIV).
Por outro lado, estudiosos que traduziram-a versão New English Bible toma­
ram uma posição totalmente diferente nessa passagem crucial, a qual interpretaram
como se-estivesse falando em- termos gerais do santuário celestial: “By this The
Holy Spirit signifies that so long as the earlier tent still stands, the way into the
sanctuary remains unrevealed” (“Por meio disso, o Espirito Santo quer dizer que
enquanto a primeira tenda estiver de pé, o caminho para o santuário permanece
encoberto."Tradução da NEB).
Isso levou-os a traduzir o versículo 12 assim: “The blood o f his sacrifice is his
own blood, not the blood of goats and calves; and thus He [Christ] has entered
the sanctuary once.and for all andsecured an eternal deliverance”. (“O sangue de
seu sacrifício é seu próprio sangue, não o sangue de bodes e bezerros, e, assim, ele
[Cristo] entrou no santuário uma vez por todas e assegurou livramento eterno.”
Tradução da NEB)
Enquanto um grupo de estudiosos traduz interpretativamente o termo grego
para dizer que Cristo entrou no lugar santíssimo do santuário celestial na sua ascen­
são, outro grupo interpreta a mesma terminologia para dizer simplesmente que
Cristo entrou no santuário celestial.
Esta ambivalência dos estudiosos sugere uma certa ambigüidade da parte
do autor de Hebreus. O fato de ele fazer apenas referências gerais a ambos os
rituais diários (7:27; 10:11-12) e anuais (9:25; 10:3) implica que ele não está
preocupado em detalhar o significado das duas fases da ministração sacerdotal.
Antes, seu foco é na forte necessidade de afastar os cristãos desanimados de sua
A LUZ DE HEBREUS

confiança nos ultrapassados rituais do serviço do tentplo. Ele deseja direcionar


a atenção deles ao fato de que Jesus Cristo é real, é seu salvador, e é o Cínico
que pode livrar do pecado.
Assim, parece que o objetivo do autor não é explicar em profundidade a na-
tureza das ministrações sacerdotais de Cristo, mas enfatizar a inadequabilidade do
sistema levítico, bem como firmar a fé dos crentes no sumo sacerdote vivo na pre­
sença de Deus que proveu um sacrifício superior e inaugurou um sacerdócio supe­
rior num santuário superior de uma aliança superior.

E sboço do capítulo

1. Introdução
2. Hebreus 8:1-6
3. 9:1-8
4. 9:11-14
5. 9=23-2476
6. 10:19-22
7. 6:13-31

Introdução
Para os adventistas do sétimo dia, o ministério celestial de Jesus Cristo é de
vital importância. Ao comparar os ensinamentos de Hebreus, Levítico e as declara­
ções proféticas de Daniel 7-9, os adventistas alcançaram uma compreensão única
do papel e função de Cristo no santuário celeste.
Neste estudo, não faremos uma apresentação da doutrina do santuário. An­
tes, tentaremos determinar o papel e a função de Jesus como nosso sumo sacerdo­
te a partir das informações fornecidas pelo autor de Hebreus. As^im, lemos para
entender a mensagem que Hebreus transmitiu aos seus ouvintes da época. Nossa
apreciação dá situação histórica nos ajudará a entender a concepção cristológica do
autor sobre Jesus como nosso sumo sacerdote.
O principal objetivo de Hebreus foi trazer encorajamento aos leitores.1Vez
após vez, o autor os exorta a resistir à tentação de se afastarem de seu compromisso
cristão e os insta a continuar sua peregrinação em direção ao seu objetivo escato-
lógico. Se eles apostatarem, podem novamente estar sujeitos ao regime da antiga
aliança, a qual foi inerentemente imperfeita e limitada. Assim, em sua argumen-
U m a e x e g es e d e p a ssa g en s s e l e c io n a d a s

tação, o autor tenta estabelecer a verdadeira imagem de Cristo nas mentes de seus
leitores. Alguns comentaristas sustentam que isso era necessário porque Jesus, com
sua aparência terrena e sua morre vergonhosa na cruz, tornou-se uma pedra de
tropeço para eles.2
A fim de opor-se a esses sentimentos negativos, o autor desenvolveu uma
cristologia única do sumo sacerdócio de Jesus. Com base nas concepções do AT
sobre o sitmo sacerdote, ele‘ trarz à tona as características não familiares de Jesus
com o o grande sumo sacerdote. Jesus é descrito como um compassivo mediador
entre Deus e o homem e seu sumo sacerdócio está intimamente ligado à sua mor­
te expiatória pelo pecado. Finalmente, a superioridade de seu sacerdócio sobre
o sistema levitico é claramente demonstrada; Jesus pode assegurar-lhes o dom da
- divina salvação. Num sentido negativo, a s concepções cristológicas do sacerdócio
de Jesus indicam que foi descartada a possibilidade de as concepções judaicas
significarem uma tentação ou ameaça aos leitores.

------- H.EBREUS-8:1-6

V ersículo 1

Em 8:1, o autor introduz o sacerdócio superior de Jesus com a frase: “Ora,


o essenciabdas coisas que temes dita é ” {ksphslaian d e apitais legom enoixJ.3 A pala­
vra kephalaion pode ser interpretada no sentido de “o topo da argumentação” ou
o ponto principal4, em vez de “resumo". O contexto favorece a idéia de “assunto
principal” ou “ponto principal”.5 Jesus é superior ao sacerdócio levitico porque
ele está assentadb à destra do tro n o d a majestade no céu. Assim, em contraste
com os sumo sacerdotes levíticos, cujos ministérios são restritos a esta Terra e que
estão sujeitos á morte (7:23), o ministério de Cristo demonstra-se superior.
A frase, “se assentou à destra do trono da Majestade nos Céus” recorda passa­
gens tais como as de Salmos 110:1-7, Hebreus 1:3, 13, também 10:12. Ela enfatiza
a posição e a autoridade de Jesus, o status e honra de seu sumo sacerdócio.6 A
expressão “Majestade nos céus”, como em Hebreus 1:3, designa o próprio Deus.7 A
palavra “trono” é, em si mesma, um símbolo de autoridade.
Em suma, o autor está dizendo que Jesus foi exaltado e elevado a uma posição
de excelência, autoridade e domínio. Conseqüentemente, seria errado assumir que
a frase denota a simples ação de sentar-se; antes, ela deve ser entendida como uma
expressão que delega poder, que investe com autoridade. O fato de esta expressão
estar articulada à função de Cristo como sumo sacerdote na presença de Deus
não deve passar desapercebidamente.8 Ela marca o começo da autoridade de Jesus
como o sumo sacerdote celestial.
A LUZ DE HEBREU5

V ersículo 2
A frase “ministro do santuário e do verdadeiro tabernáculo” {tõn hagiõn lei-
tourgos kai tês skènês tês alêthinês) expressa a idéia fundamental de toda a epístola.9
Os termos ta hagia (literalmente “os santos") e skênê ("tenda/tabernáculo") têm
ocasionado uma variação considerável de conceitos entre comentaristas. De seu
estudo de ta hagia (à luz da Septuaginta [LXX]), Salom conclui que a expressão
refere-se ao santuário em geral.10 isso significa que esta palavra não é um termo
técnico para lugar santíssimo.
Na opinião de Salom, esse significado básico de ta hagia como o “santuário”
deve estar em primeiro lugar na mente do tradutor. No entanto, ele observa que
um exame contextual permitiría aos especialistas serem mais precisos do que tra-
----- dtrtores em determinar que parte especifica do santuário o autor tinha em mente.11
No contexto de Hebreus 8:2, Salom entende a expressão como uma referência
generalizada ao santuário celestial.
Michel vê a frase “ministro do santuário" (ton hagion leitourgos) como uma
construção helenística fixa. Ele não tem dúvidas de que o autor tinha em mente
todo o santuário celestial. Ele racionaliza que a existência^Te um sumo sacerdote
celestial requer ações cúlticas e também um santuário celestial.12
Alguns exegetas, no entanto, estão convencidos de que a expressão ta h a-
gia refere-se ao lugar santíssimo celestial. Hughes, por exemplo, argumenta que
é citado o santo dos santos celestial n e presente contexto.13 E m stia opinião,
entende-se aqui (8:2) que Jesus entrou com o nosso sumo sacerdote no santo
dos santos. Por outro lado, a palavra paralela “tenda” {skênê), que é usada para
explicar o ta hagia, denota claramente o tabernáculo inteiro ou santuário e não
_ uma parte dele (8:2).
Esse santuário celestial é considerado como o “verdadeiro tabernáculo” esta­
belecido pelo próprio Senhor e não por algum agente humano. O adjetivo “verda­
deiro” {alêthinês) significa “autêntico”, “reai", no sentido de realidade tida somente
pelo antítipo e não por suas cópias.14 O verdadeiro sanmário celestial é contrastado
com o material na Terra.
Salom tem nos acautelado a não tomarmos muito detalhadamente o ter­
restre para entender a natureza e formação do santuário celestial.15 Entretanto,
não se pode negar que o entendim ento do autor quanto ao papel e á função do
santuário celestial estava enraizado no tabernáculo terrestre. Isto se evidencia
pela declaração de que o santuário terrestre foi uma “cópia" {hupodeigma), uma
“som bra” {skia), e um “tipo” (tupos; “m odelo”) do santuário celestial (8:5). Ele
extraiu o termo “tipo” {tupos) da tradução da Septuaginta para o hebraico tabnit
nas instruções de Deus a Moisés (Êxodo 2 5 :4 0 , LXX). Essas expressões dão um
U m a e x e g ese d e p a ssa g en s s e lec io n a d a s

forte apoio à visão de que o escritor do livro de Hebreus tinha o A T com o fonte
de entendim ento das correspondências do santuário terrestre-celestial.

V ersículo 3

Uma vez que é dito que Cristo tem uma função no santuário celeste, surge a
questão: Qual é a natureza de seu ministério? Em Hebreus 5:1 o autor mostra que
todo sumo sacerdote é escolhido dentre os homens e “é constituído (kathistêmi) a
favor dos homens nas coisas concernentes a Deus, para que ofereça dons e sacrifí­
cios pelos pecados". Assim, é necessário também que Cristo como sumo sacerdote
tenha alguma coisa para oferecer (cf. 8:3).16
Qual é a natureza de sua oferenda? Deve-se observar que a oferenda é limi­
tada a um único sacrifíciotm dícadõ pela expressãõ no singular “alguma coisa”,"
ACF ou “ o que”, ARA).17 O autor evidentemente está preocupado em enfatizar
a suficiência do sacrifício único (consumador) de Jesus Cristo em contraste aos
sacrifícios contínuos do sistema levitico. Isto fica claro na lingua original pelos
tempos verbais que o autor emprega no versículo 3: “Pois todo sumo sacerdo­
te é constituído para oferecer [prospherein, presente infinitivo] tanto dons como
sacrifícios; por isso, era necessário que tam bém esse sumo sacerdote tivesse o
que oferecer [prosenegkê, subjuníivo passado]”. O primeiro “oferecer” no tempo
presente denota o contínuo, repetitivo sacrifício dos sumo sacerdotes terrestres.
O segundo “oferecer” no tempo passado indica a natureza do sacrifício de Cristo
na cruz, que foi uma vez para sempre.18

V ersículo 4

Hebreus 8:4 apresenta um forte argumento para uma declaração positiva.


(“Ora, se ele estivesse na terra, nem tampouco sacerdote seria.")19Jesus é sumo
sacerdote. Seu ministério deve ser exercido no santuário celestial. Seu sacerdócio
pertence a uma esfeTa que não é terrestre e nem temporária.
A razão para seu sacerdócio celestial é dada no texto (“... visto existirem aqueles
que oferecem os dons segundo a lei”). Não lhe é impossível exercer seu ministério
no sanmário terrestre porque Ele não pertence à linhagem de Levi, uma exigência
da lei mosaica.10 Jesus pertenceu à tribo de Judá, “tribo à qual Moisés nunca atribuiu
sacerdotes” (7:14). Como Miohel habilmente . observou, o sumo sacerdote celestial
não encaixa na estrutura dessa época e desse mundo.21

V ersículo 5

Os sacerdotes terrestres serviram na “figura” (hupodeigm a) e “sombra”


(skia) do santuário celestial. Dessa forma, surge a questão: Quanta informação
A LUZ DE HEBREUS

detalhada concernente ao santuário celestial pode ser obtida ao se comparar os


dois santuários? Antes de chegarmos a uma conclusão sobre esse assunto, é neces­
sário considerar a importância dessas três palavras-chave encontradas no texto:
hupodeigm a (“figura”), skia (“sombra”), e tupos (“m odelo”). Segundo M ichel esses
três termos pertencem ao padrão imaginado ou relação de arquétipo (“original”)
e cópia. Esse contraste é similar à relação de “som bra” {skia) a “forma real" (eikõn )
expressa em 10:1.
A palavra hupodeigma (8:5; 9:23) significa um mero esboço simples ou figu­
ra.22 Segundo M offatt, o único exemplo análogo está na LXX (“cópia da casa”
hupodeigma tou oikou ([Ezequiel 42:15]). Ele sugere que os dois termos “figura”
e “sombra” em 8:5 formam uma hendiade, que juntas transmitem a idéia de um
----- esboçe-indefinido, isto é, uma reprodução de segunda linha e inferior.23
Em Êxodo 2 5 :4 0 (LXX), citado no versículo 5, o original celestial é cha­
mado de tupos (“tip o ”), enquanto que o santuário terrestre é cham ado de
antitupos (“a n títip o ” [Hb 9:24]). Neste caso, as palavras estão trocadas. Se­
gundo G oppelt, o autor de Hebreus procurou caracterizar o m inistério do
sumo sacerdócio celestial de C risto com o um equivalente real ao m inistério
do AT. Então (à luz de Êxodo 2 5:40), ele argum enta que há para o santuário
terrestre (o an titu pos, “arititipo” [9:24] e hupodeigm a, “figura” [ 8:5 ; 9 :2 3 ]) um
“original” celestial (tuposÊ24
Os três termos do autor no versículo 5 sugerem, então, que o santuário ter­
restre é apenas uma representação indefinida da realidade celestial. Entretanto,
seríamos injustos à argumentação de Hebreus se rejeitássemos que há uma seme­
lhança vital e uma relação entre o ministério dos sacerdotes levíticos e o ministério
de Jesus no santuário celestial.
Deve-se enfatizar que o tupos (“tipo") em Hebreus (citando Êxodo 25:40,
LXX) é ao mesmo tempo o arquétipo (“o original”), o que significa que a reali­
dade (no Céu) existia antes da cópia e sombra (na Terra).23 Assim, o tabernáculo
terrestre construído por Moisés foi construído de acordo com o modelo ou tupos
revelado a ele no M onte Sinai. Seu propósito foi demonstrar de uma maneira
tipológica verdades profundas concernentes ao plano divino da salvação.
O que pode ser dito a respeito do modelo que formou a base para o taberná­
culo mosaico? F. F. Bruce sustenta, à luz de Êxodo 25:40, que Moisés não recebeu
simplesmente instrução verbal, mas lhe foi mostrado um modelo ou algum outro
tipo de representação.26 Da palavra hebraica tabnit em Êxodo 25:40 {tupos, LXX)
podemos concluir que o autor teve um modelo em miniatura do santuário celestial
ou mesmo o santuário celestial em mente. Tal modelo funcionaria como padrão
para a construção do santuário terrestre. Os termos tabnit-tupos, então, refletem o
próprio original ou protótipo.27 Parece haver um bom apoio para tal relação.
U m a e x e g e s e d e p a ssa g en s s e l e c io n a d a s

As correspondências entre os santuários terrestre e celestial limitam-se


som ente aos aspectos essenciais. Ao fazermos comparações devemos considerar
que o superior (santuário celestial) nunca poderá se ajustar às categorias finitas
deste mundo. Por outro lado, se podemos assumir que o ministério dos sacer­
dotes levíticos refletem o arquétipo celestial (“original”), este últim o deve ter
um m inistério de duas fases. A linguagem tipológica do autor indica que ele
deve ter tido em mente tal ministério (de duas fases) de Cristo.

V ersículo 6

A frase introdutória “Agora, com efeito ...” (mtni de) dá continuidade à idéia
do “ministério/serviço” superior de Cristo (leitourgia). Segundo Huges, esta frase
introdutória enfatiza o contraste fundamental entre o ministério de Cristo e o
ministério da antiga lei.28 O ministério de Cristo é superior porque ele é mediador
(mesitês) de um pacto superior. A palavra mesitês (“mediador”) tem sua base na
linguagem jurídica grega. Ela,pode significar juiz, pacificador, testemunha, fiador.
C omo mediador (mesitês) C risto está em posição de estabelecer um acordo entre
duas partes.
M ichel salienta que os dois conceitos, “mediador” (mesitês) e “aliança”
{diathêke), não têm significado nem helenístico nem jurídico no contexto de He-
breus, mas se relaciona com as concepções bíblica e judaica. Cristo com o o me­
diador (mesitês) é superior a Moisés (a frase “mediador da aliança” traz à mente
o paralelo com Moisés). E Cristo quem dá início à nova aliança e é Ele quem nos
garante que esta será levada a cabo.29
O. verbo “obteve” (tugchanõ) indica realização, sucesso e vitória, que, toda­
via, nao é o resultado de esforço própno. Portanto, deduz-se que Jesus recebeu
autoridade de seu Pai para servir como sumo sacerdote no santuário celeste. O
ministério de Cristo, como afirma o autor do livro de Hebreus, é muito superior
a qualquer ministério terrestre, porque a aliança mediada por ele é melhor.
A aliança “superior” ou nova é representada por promessas melhores. Jere­
mias 31 faz menção dessas promessas. Elas são melhores promessas porque foram
cumpridas ao termos nossa consciência purificada da culpa e do pecado e termos
restaurado a comunhão intima com nosso Criador.50
O anúncio .de uma nova aliança implica que a antiga era inadequada. De
certa forma, os ensinamentos dos profetas apoiam a visão de que a nova aliança
é muitíssimo superior à antiga. O autor parece esclarecer a questão de que haverá
uma transformação de coração e mente resultante da obediência aos mandamen­
tos de Deus.
O conceito da nova aliança ganhou significado particular na comunidade
de Q um ran.51 Entretanto, há uma diferença fundamental entre esses sectários e
A LU7 DF 11FBR.EIJS

os pontos de vista apresentados pelo autor de Hebreus. O povo de Qumran tinha


seus olhos fixos em um templo material, com suas cerimônias sacrificais e seu sacer­
dócio devidamente nomeado. Em oposição a isso, segundo o autor de Hebreus, a
nova aliança focaliza o ministério sacerdotal superior de Cristo no santuário celes­
te, o qual destitui completamente o ultrapassado sistema sacrifical.

H ebreus 9:1-8
No capitulo 8, o autor mostra as imperfeições da antiga aliança e seu ministé­
rio sacerdotal. No capítulo 9, versículo 1, ele faz uma descrição das partes e funções
do santuário terrestre.

Versículo 1

“Ora, a primeira aliança também tinha preceitos dc serviço sagrado e o seu santu­
ário terrestre.” (v. 1). Alguns exegetas.acreditam que “a primeira” (hêprõté) neste vetsicu-
------le-se-refere ao “primeiro-tabemáculo”, ou seja, o tabemáculo-mosaiesj-e-não à primeira
aliança.12 Todavia, não há apoio para esta posição. Está claro no versículo 1 que a pri­
meira aliança tinha suas próprias ordenanças de culto e um santuário terrestre.
Alguns exegetas, inclusive Martinho Lutero, têm a tendência de considerar
latreias (“serviço/culto sagrado”) como um acusativo plural.1’ Nesse caso leriamos:
“A primeira aliança também tinha preceitos de serviços sagrados e o seu santuário
terrestre". Outros, como Moffatt, Riggenbach e Hughes acreditam que seria mais
natural tratar o termo como um genitivo singular, definindo a palavra “preceitos”
(dik&iõmatc).™ Assim, leriamos, “preceitos de/para o serviço sagrado”.
O uso do substantivo neutro singular to hagion (“o santuário") no mesmo ver­
sículo transmite o significado de “santuário”. Isso não se encontra em nenhum ou­
tro lugar do Novo Testamento.14 No entanto, na LXX, o termo aparece em Levitico
16:2, 3, 16, 17, 20, 23, 27 como o santíssimo. Mas, aqui em Hebreus 9:1, o termo
denota o santuário todo.15 Por outro lado, há uma confusão considerável entre os
tradutores quanto à tradução correta da forma plural deste substantivo no livro de
Hebreus (to hagia, literalmente, “os santos”). O correto significado da palavra deve
ser determinado pelo contexto.

V ersículos 2-7

Apenas no versículo 2 é usado hagia, uma forma plural sem um artigo (literal­
mente “santos”). Sem diivida, ele se refere ao primeiro compartimento, o “primeiro
tabemáculo” ou “tabemáculo externo” (prõte skênê). O autor nomeia as mobílias
que havia nesse tabemáculo.
U m a exeg ese d e p a ssa g en s se le c io n a d a s

A expressão kagia hagiõn (literalmente “santo dos santos”) também é usada


sem um artigo. Neste caso, ela se refere ao lugar santíssimo.
Em 9:6, o autor descreve nitidamente a função e os deveres dos sacerdotes
no lugar, santo. Os sacerdotes entram (a todo tempo no tabemáculo “externo”
cumprindo seus serviços religiosos. Somente o sumo sacerdote entra no segundo
tabemáculo (“tabemáculo interno”) uma vez por ano, mas “não sem sangue, que
oferece por si e pelos pecados de ignorância do povo” (Hb 9:7).
Não pode haver dúvida de que o papel e a função do sumo sacerdote são
vistos dentro do contexto do dia do juízo. O fato de o sumo sacerdote entrar no
segundo tabemáculo (versículo 7) uma vez por ano e não sem sangue dá apoio a
este argumento.
- - Para salientar a clara distinção entre as duas partes do santuário, o autor
usa no versículo 6 h ê p r õ t ê skênê (“primeiro tabernáculo”/ “tabernáculo externo”)
para designar o lugar santo no qual os sacerdotes realizavam seus serviços diários.
O segundo compartimento no qual o sumo sacerdote entra uma vez por ano é
designado tên deuteran (“o segundo [tabemáculo]5’)'significando “o tabem áculo
interior” (verstctrlcnT):----------------------------------------

V ersículo 8

Enquanto è bastante fácil determinar o significado de p r õ tê sk ên ê (“primei­


ro tabem áculo”) em 9:2, 6, a situação parece um pouco ambígua em 9:8. Qual é
o significado neste ponto? Ele se refere ao primeiro compartimento com o em 9:2,
6 ou ao primeiro tabem áculo, o santuário que Moisés ergueu no Sinai?
Westcott e outros acreditam que a expressão deve se referir ao primeiro com­
partimento como no versículo 2 .17 Eles não vêem o porquê de no versículo 8 de
repente estar se referindo ao primeiro santuário, ao tabem áculo mosaico.
Mais recentemente, Young argumentou que o p rõ tê skênê (“primeiro taber-
náculo”) em 9:8 se refere ao tabemáculo externo em vez de todo o santuário.’8
Ele atribui uma significação temporal (elemento de tempo) no lugar de espacial
(espaço) ao tabemáculo externo no versículo 8 devido ao uso de eti ("enquanto”).
Em sua opinião, o primeiro tabemáculo ou tabemáculo externo perdeu sua impor­
tância nos propósitos redentores de Deus no momento em que o culto religioso do
judaísmo perdeu ssuavalidade. Foi -a•diária oferenda -de sacrifícios que bloqueou o
caminho para o santo dos santos.
À primeira vista, essas propostas parecem convincentes. Por outro lado, a po­
sição divide em partes o simbolismo dos dois compartimentos do santuário. Surge
a questão se a equação do termo prõtê skênê (“primeiro tabemáculo”) com a era mo­
saica é verdadeira. É somente o lugar santo - e não o santuário inteiro - simbólico
da antiga dispensação judaica? De qualquer modo, pelo contexto do livro faz mais
A LU Z DE 1-iEBR.cUS

sentido traduzir h êp rõ rê skênê ("o primeiro tabernáculo”) como o santuário inteiro


conforme 8:5; 9:11, 21 e 13:10.
A posição de que o versículo 8 se refere ao santuário mosaico como um rodo
também é apoiada por Héring. Ele sustenta a idéia de que não é somente o pri­
meiro compartimento do tabernáculo terrestre que perdeu o seu valor e que parou
de “existir” (echouses stasin), mas todo o santuário terrestre.’9 Essa observação se
relaciona com a concepção de Hebreus quanto à aliança. A primeira aliança per­
deu o seu valor no momento em que Cristo se tornou o mediador de “uma nova
aliança”. Da mesma forma, o tabernáculo terrestre se tom ou rotalmenre obsoleto
no momento da morre expiatória de Cristo na cruz.
Entretanto, antes de obtermos o significado completo do versículo 8, será
—necessário-considerar a palavra ta hagia (literalmente “os santos”) nesse mesmo
versículo. Parece que ta hagia neste ponto é a réplica celestial para p rõtê skênê (“pri­
meiro tabernáculo”) ou o santuário terrestre. Neste caso, o autor está dizendo que
o caminho para o santuário celestial estava historicamente impedido enquanto o
santuário terrestre ainda existisse.40 Em outras palavras, antes da morte expiatória
clFCrisTcTCs fiéistinhãm" UifTãcésso muito restrito a Deus devido 5 estrutura e ao
cerimonial do santuário terrestre. Com a morte expiatória de Jesus, o sanniário
terrestre havia cum prido seu propósito, e agora-se tornara possível o acesso ao
santuário celestial.

V ersículos 9-10

Na opinião de Michel, a construção gramatical do versículo 9 é problemática,


pois permite várias possibilidades gramaticais e estilísticas.-*1 A questão é: o que
antecede as orações introduzidas por dois pronomes relativos (“E isto [hêtis] uma
parábola para a época presente”; “segundo esta [kath ’hên\, se oferecem tanto dons
como sacrifícios")?
W indisch, por exemplo, acredita que a primeira oração relativa (hêtis) se re­
fere a todo o contexto precedente,42 enquanto associa a segunda oração relativa
(ka t‘hên) ao “primeiro tabernáculo” (tês prõtês skênês) no versículo 8. M ichel4’ e
Bruce44 acreditam que o antecedente da primeira oração (hêtis) pode ser o contex­
to completo dos versículos 6-8. Conforme a segunda opinião, o pronome relativo
“isto” (hêtis) é atraído para o gênero e número de p u rab oiê (“alegoria”, “figura",
“parábola” no versículo 9).
Se a suposição de Bruce e M ichel estiver correta, de que o antecedente da
primeira oração relativa (hêtis) é de fato o contexto com pleto dos versículos 6-8,
isso significa que o autor se desviou da norma. Em outros casos ele, de forma
consistente, se remete a um antecedente específico, gênero e núm ero.45 Assim,
por razões gramaticais é m elhor considerar “o prim eiro tabernáculo” (h ê p rõ tê
U m a e x eg ese d e p a s s a g en s s e l e c io n a d a s

skên ê) no versículo 8 como o antecedente das orações relativas no versículo


9. O propósito do autor é dizer que as cerim ônias do santuário terrestre eram
compostas de ritos externos que não poderíam limpar a consciência do pecado.
Este era um sistema temporário e limitado, designado para funcionar até a
vinda do Messias.

H ebreus 9:11-14

Este parágrafo é composto por duas longas sentenças no texto grego. Os


versículos 11-12 formam a primeira sentença. A segunda sentença (versículos
13-14) é adicionada para explicar a frase “tendo obtido eterna redenção”, que
aparece nõ final da prim eira sentença. C itam os a sentença de abertura da tra­
dução da NASB:

“Mas, quando veio Cristo como um sumo sacerdote dos bens vindouros, Ele entrou
por meio de \dia\ um maior e mais perfeito tabemáculo, não feito por mãos, isto é,
---------não-desta criação^nem por- meio de [<feí]-sangue-de-bodes-e“bezerros7-mas-por-meio—
de [dia] seu próprio sangue, Ele entrou [eiselthen] no santo lugar [ta hagia], uma vez
por TODAS, HAVENDO OBTIDO ETERNA REDENÇÃO.” (TRA DU ÇÃ O DA N A SB DE
H ebreus 9:11-12).

V ersículo 11

Uma variante textual na prim eira oração conduziu os tradutores a inter­


pretarem o participio associado a “ben s” para significar tanto “bens vindouros"
(mellonton, como Hebreus 10:1) ou “bens que vieram” (genomenon). A última
variante é a que mais dá sentido no contexto,16 pois enfatiza o fato de que devido
ã m orte expiatória de Cristo, “os b en s” de fato chegaram. Os dois “bens” trazidos
pelo presente ministério de Cristo que o sistema antigo nunca poderia conceder
são: ( l) um sacrifício eficaz que é capaz de tirar o pecado e limpar a consciência,
e (2) um sumo sacerdote eterno que provê acesso direto a Deus.
Como entender e traduzir os três termos dia (por - veja citação acima) - es­
pecialmente a oração “por um m aior e mais perfeito tabem áculo” - provou ser
um desafio rnais sério para -os intérpretes.
Alguns procuraram uma solu ção ao relacionar as três frases dia (“por”) ao
verbo final “entrou ” (eiselthen ). Isto gera uma redundância, porque significa que
C risto passou “pelo mais perfeito tab em ácu lo ” para entrar no santuário celes­
tial (ta hagia). C om entaristas esclarecem bem isso ao sugerirem que a primeira
frase dia deveria ser compreendida em um sentido de localização ao invés de em
um sentido instrum ental (por m eio de). C onseqüentem ente, .a expressão “por
A LUZ DE HEBREUS

um maior e mais perfeito tabernáculo” é construída como outra forma de dizer


que Cristo atravessou o céu para alcançar o trono de Deus.^Todavia, a frase
usada para descrever esse tabernáculo - “não feito por mãos [ou cheiropoiêtou],
isto é, não desta criação” - parece inapropriada e forçada se aplicada como
referência ao céu.
Outra proposta sugere que “um maior e mais perfeito tabernáculo" se refere
ao céu de anjos ou à multidão de anjos celestiais por quem jesus passou para chegar
ao trono de Deus.48 Essa hipótese inovadora dificilmente pode ser sustentada.
Alguns comentaristas, seguindo as explicações dos antigos pais da igreja,
equacionaram “um maior e mais perfeito tabernáculo” com o corpo de Cristo.49
M. L. Andreasen apoiou a posição de que a passagem quis dizer que Cristo, em
vimfdtnie~sira vida perfeita - tendo feito de seu corpo um templo adequado e
limpo para a morada do Espirito de Deus - apareceu diante de Deus trazendo seu
próprio sangue. Isso fez com que ele pudesse entrar no santuário celestial.50
Considerando que a tentativa dos pais da igreja de esclarecer a construção
' linguística desta passagem tem algum valor, surgem questões em relação a isso. A
dificuIdãdFmãis uma vez seTüto-impõe quando a frase “não"feito pòr mãos, isto
é, não desta criação” é aplicada a Cristo. Esta não é apenas uma maneira estranha
para se referir ao -Salvador, m asela se opõe-á opinião^do au tor-de que Cristo é hu­
mano (Hb 2:14-17; 5:7) bem com o divino. Uma variante desta opinião equaciona
o “mais perfeito tabernáculo” com o eucaristico corpo de Cristo.51
Outro comentarista sugere que “um maior e mais perfeito tabernáculo” deveria
ser igualado à nova aliança, que limpa o pecado e torna disponível o acesso a Deus.52
Mas uma concepção abstrata do significado de “o mais perfeito tabernáculo” não
parece justificada. A frase descritiva “não feito por mãos, isto é, não desta criação,"
parece ser uma forma inadequada para falar da nova aliança.
Essas tentativas, e outras que poderíam ser mencionadas, são diferentes esforços
para lidar com o uso de dia no versículo 11, sendo que algumas dificilmente passam de
meras conjecturas. Uma vez que um problema lingüístico (para nós) aparece na passa­
gem, o contexto mais amplo fornece um bom apoio para identificar “um maior e mais
perfeito tabernáculo, não feito por mãos, isto é, não desra criação” com o santuário
celestial onde Cristo entrou em sua ascensão. Duas passagens demonstram isso:
Porque Cristo não entrou em santuário feito por mãos [cheiropoiêta], figura do
verdadeiro (não feito por mãos), porém no mesmo céu, para comparecer, agora, por
nós, diante de Deus. (9:24, ARA).

Ora, o essencial das coisas que temos dito é que possuímos tal sumo sacerdote,
que se assentou à destra do trono da Majestade nos céus, como ministro do santuário,
e do verdadeiro tabernáculo que o Senhor erigiu, não o homem (não feito por mãos).
(8:1-2, ARA).
U m a e x eg ese d e pa ssa g en s se le c io n a d a s

As expressões “feito por mãos" e “não feiro por m ãos” (expressas ou en­
tendidas) se relacionam às passagens de 8:1-2; 9:11-12 e 9 :2 4 ■E evidente que o
autor de Hebreus está comparando o santuário terrestre e o celestial. Portanto,
podemos seguramente dizer que nesta passagem (11-12) o autor de Hebreus
mostra a superioridade do sumo sacerdócio de C risto ao descrever sua entrada
no “verdadeiro rabernáculo”, o santuário celestial, para estar diante de Deus
por nós.
Uma vez que este parece ser o sentido correto do contexto, sugerimos que a
preposição dia (“por”) neste exemplo (v. 11) tem a nuança de “n o”. As outras duas
ocorrências teriam uma função instrumental. A passagem, então, seria:
Mas, quando veio Cristo como um sumo sacerdote dos bens vindouros, [Ele
entrou) no maior e mais perfeito tabernáculo, não feiro por mãos, isto é, não
desta criação, nem por meio de sangue de bodes e bezerros, mas por meio de seu
próprio sangue, Ele entrou no santo lugar uma -vez por todas, havendo obtido
eterna redenção.

V ersIculos 12-14

Muitos exegetas entendem os versículos 12-14-como uma alusão ao contexto


do dia da expiação. Veja algumas razões citadas a seguir:
1. Cristo exerce o -papel de “surr.a sacerdote” (v. 11).
2. Cristo entrou diante de Deus (v. 24). Os aspectos característicos do dia da
expiação foram representados no lugar santíssimo, onde, na Terra, sua presença
era manifesta.
3. Sua entrada no santuário celestial foi “de uma vez p o r todas”, o que nos
relembra a entrada do sumo sacerdote da linhagem de Arão no lugar santíssimo
uma vez por ano, no dia da expiação (v. 25).
4. A menção aos “bodes e bezerros” (v. 12) e “bodes e touros” (v. 13) parecem
aludir ao dia da expiação.33 Bodes e touros eram usados nesse dia (Lv 16:3, 5, 14;
Nm 29:7-11).
5. Uma comparação de Hebreus 9:6-7 com 11-12 parece apoiar a visão
de que o autor de Hebreus tinha o contexto do dia da expiação em mente.
Por exemplo:
a. “No segundo, só o swmo sacerdote entra” (v. 7).
“vindo Cristo, o sumo sacerdote dos bens já realizados" (v. 11)
b. “Ele, todavia, uma vez por ano” (v. 7)
“Entrou uma vez por todas” (v. 12)
c. “Não sem sangue” (v. 7)
“Não por meio de sangue de bodes e de bezerros, mas pelo seu próprio san­
gue” (v. 12)
A LUZ DE IIEBREUS

Sob a luz de tais considerações não é de se surpreender que existam crí­


ticos que interpretem 9:12-14 com o uma passagem alusiva ao contexto do dia
da expiação.
Porém, outros discordam. Na opinião de Gerhard Hasel, uma alusão ao dia
da expiação limita desnecessariamente as grandes conquistas do sacrifício superior
de Cristo. Tendo em vista Hebreus 9:12-14, ele observa que enquanto Hebreus
9:12-14 refere-se a dois tipos de animais (touros/bodes), Levitico 16 (o principal
capitulo do AT sobre o Dia da Expiação) na verdade faz menção a três tipos: touro,
bode e carneiro. Hasel argumenta que Hebreus 9:12-14 realmente toma o tópico
inaugural do A T e o aplica ao ministério celestial de C risto.H
A esse respeito ele tem a mesma linha de raciocínio de F. F. Bruce, que
considera a situação sob o ponto de vista da entrada de Cristo na presença de
Deus. Bruce interpreta a entrada de Cristo no santuário celestial como um dia
de comemoração da sua ascensão como um sacerdote-rei - e não com o um dia
de afligir a alma e jejuar, que lembra o dia da expiação sob a antiga aliança.55 De
qualquer maneira, como veremos, o autor de Hebreus deve ter tido em mente
uma perspectiva muito mais abrangente do que o dia da expiação ou um contex­
to inaugural.
Para muitos críticos, a referência ao sangue de bodes e touros no versículo 13
é uma evidência suficiente de que o autor esteja apontando os sacrifícios do Dia
da Expiação.50 Por outro lado, a ligação do ritual de purificação da novilha com o
suposto dia da expiação no mesmo versículo parece um tanto estranha. Nos tempos
bíblicos, o ritual de purificação envolvendo as cinzas da novilha não tinha ligação
com o ritual do dia da expiação.
M ichel sustenta que o participio “aspergido” (hrantizc.usa) faz referência
à “água da aspersão” preparada a partir das cinzas de uma novilha e usada
em cerimônias de purificação {hudor hrantism ou [Nm 19:9, L X X j).51 A água era
comumente usada para purificar a pessoa que tinha se tornado imunda pelo
contato com um cadáver.58 M ichel não faz ligação entre “aspergido" e “sangue”
no versículo 13.59
Entretanto, outros estudiosos fazem essa ligação (ver Hb 9:13^. Hasel argu­
menta que se isso se referisse ao sangue, então o autor de Hebreus não tem em
mente o dia da expiação. Ele sugere que Hebreus 9:13 pode ser melhor entendido
em relação à aliança feita e ao ritual da novilha.60
A introdução da novilha na sequência dos versículos 11-14 salienta a convic­
ção de que o autor de Hebreus não procura explicar o anriripo do ritual do dia da
expiação. Ele tem outro propósito, mais estritamente relacionado com o problema
do qual está tratando, isto é, ele ressalta a superioridade do sangue de Cristo - seu
sacrifício - em relação ao sangue animal e ritual de purificação. Somente o sangue
U m a e x e g e s e d e p a ssa g en s s e l e c io n a d a s

de Cristo pode purificar a consciência que o pecado corrompeu (v. 14). Além disso,
ele também enfatiza que Cristo, como nosso sumo sacerdote, entrou uma vez por
todas no santuário celestial - na presença do próprio Deus pela virtude de seu
próprio sangue - obtendo nossa redenção.
No versículo 12, o autor de Hebreus declara a eterna validade do sacrifí­
cio de Cristo e a redenção consumada. Esse fato contrasta nitidam ente com a
natureza temporária dos sacrifícios de animais que podería prover em si pró­
prios somente um ritual: “purificação da carne” (v. 13). W estcott aponta quatro
características pelas quais podemos notar que o sacrifício de C risto é, de fato,
superior aos sacrifícios de animais: foi voluntário, racional, espontâneo e mo­
ral.61 Acima de tudo, a eficácia da m orte expiatória do Salvador tem com o base
sua natureza eterna.

H ebreus 9 :2 3 , 2 4
Nos versículbs anteriores a esta passagem (v. 15-22), o autor mantém a neces-
sidadé~da morre sscrificahdtrjesus. Nesta primeira linha d e ra cio cin io fv : 15-17)-
ele faz uma interpretação da palavra grega diathêkê, a qual pode significar tanto
“aliança” como “testamento”. Ele aplica ambos os significados aqui. Primeiro ele
repete que Cristo é o mediador da nova aliança (v. 15; 8:6). Por meio da aliança,
•o Senhor nos atrai a um relacionamento especial com Ele. .Mas, observa o autor,
a aliança é também como um testamento e somente se concretiza na morte do
testador. Então, neste sentido, a morte de Cristo estabeleceu a aliança; seu sangue
vertido validou o plano da redenção.
Em sua segunda linha de pensamento, o-autor continua com o tema do sa­
crifício ao declarar que mesmo a confirmação da aliança do Sinai e a inauguração
do tabemáculo requeriam sacrifício de sangue (v. 18-21). Isso o leva a sua síntese:
“Com efeito, quase todas as coisas, segundo a lei, se purificam com sangue: e, sem
derramamento de sangue, não há remissão” (v. 22). Este é o contexto da passagem
sob análise, a qual segue abaixo:

Era necessário, portanto, que as figuras das coisas que se acham nos céus se purifi­
cassem com tais sacrifícios, mas as próprias coisas celestiais, com sacrifícios a eles su­
periores. Porque Cristo não entrou em santuário feito por mãos, figura do verdadeiro,
porém no mesmo céu, para comparecer, agora, por nós, diante de Deus (v. 23-24).

A questão que queremos destacar aqui é: Como podemos entender a afirma­


ção do autor de que as coisas celestiais - entenda-se: o santuário celestial - precisam
ser purificadas? Estudiosos divergem bastante neste ponto.
Ao descrever “as coisas celestiais” (ta epourania), M ichel argumenta que,
de acordo com o versículo 9:24, o santuário onde Cristo serve a Deus represen-
A LUZ DE HESILEUS

ca o próprio Céu."2 Consequentem ente, a purificação do santuário poderia ser


entendida com o um tipo de inauguração ou consagração no Céu. No entanto,
ele sugere que a purificação seria mais bem entendida à luz da representação
apocalíptica, a qual descreve Satanás sendo expulso do Céu (Ap 12:7-9; Lc
10:18; Jo 12:31).
De acordo com W indisch, existe uma necessidade concreta para a purifi­
cação do santuário celestial: a sujeira deixada pelos pecados da humanidade.6’’
Outros exegetas deduzem que a “purificação" das coisas celestiais significa a
“inauguração” ou “consagração” do santuário celestial pelo sacrifício “supe­
rior” de C risto.64
Desde os dias de Crisóstomo, vários exegetas têm argumentado que “as coisas
celestiais” são uma designação para o povo de Deus que constituía a igreja, isto é, o
templo de Deus. Desse modo, Bruce sustenta que “a fim de ser uma casa espiritual
desta espécie, eles precisam ter experimentado a regeneração e a purificação pela
'aspersão do sangue de Jesus Cristo’” (lPe 1:2, 19, 22).65 Entretanto, é difícil perce­
ber como tal argumento pode explicar o referido texto. Como Hughes destacou
corretameritè, tal interpretação requer uma identificação entre o santuário ceiesticti
(ou mesmo o próprio céu) e o povo redimido.66
Buscando um entendimento correto da expressão, Westcort destacou cone-
tamente que “a necessidade da purificação do santuário terrestre e seus utensí­
lios vem do fato de que eles eram usados pelo homem e compartilhados em sua
impureza”.67 Ele dá continuidade a esse raciocínio dizendo que em harmonia com
essa idéia mesmo as '“coisas celestiais’ ... em contato com o pecado precisavam de
purificação."68 Podemos acrescentar que devido á própria origem do mal ter ocor­
rido no Céu, há a necessidade de este ser purificado.
Nesta passagem, é evidente que o autor está contrastando os dois santuários:
(1) o terrestre (“figuras das coisas que se acham no céu” [v. 23); cf. “ministram em
figura e sombra das coisas celestes” [8:5]), e (2) o celestial (“as próprias coisas celes­
tiais”, “figura do verdadeiro” [v. 23-24]; “as coisas celestiais” [8:5]). A purificação do
santuário terrestre é consumada por sacrifícios de animais; a purificação do celes­
tial é consumada pelo melhor sacrifício de Cristo (v. 23). Assim, o autor refere-se
à cruz e faz alusão a seu comentário inicial: “depois de ter teito a purificação dos
pecados, assenrou-se” (1:3).
Está claro, portanto, que a purificação do santuário celestial tem a ver particu­
larmente com o pecado humano. A luz do contexto, não se poderia interpretar que
a cruz consumou - de uma só vez - essa purificação, no sentido de prover salvação
universal automática. Antes, deveria ser entendido que o sacrifício feito de uma
vez por todas, permitiu a purificação do pecado à medida que Cristo realiza seu
ministério sacerdotal, intercedendo por nós (9:14; 7:25).
U m a e x e g ese de p a ssa g en s se le c io n a d a s

H ebreus 10:19-22
Uma ambigüidade na versão Grega do versículo 20 afeta a interpretação dessa
passagem em certo nível. A parte da frase “isto é, pela sua carne,” pode ser enten­
dida de duas maneiras. Gramaticalmente (no grego) é possível para a expressão
“sua carne” defender uma posição para ambos “véu/cortina” ou “cam inho”. Duas
traduções podem-ser citadas como exemplo:

Tendo, pois, irmãos, ousadia para entrar no santuário, pelo sangue de Jesus, pelo novo e
vivo caminho que ele nos consagrou, pelo véu, isto é, p ela su a carne (Almeida Corrigida Fiel).

Por esse motivo, irmãos, temos ampla confiança de poder entrar no santuário
eterno, em virtude do sangue de Jesus, p elo c a m in h o novo e v iv o que nos abriu através
do véu, isto é, o caminho d e seu próprio co rp o (Biblia Ave Maria).

Sua carne

W estcott aponta que as palavras “sua carne” (tês sarkos cintou) são co n side-
radas poT alguns como gramaticalmente dependentes de “o véu/cortina” (tou
katapetasm atos) em duas construções possíveis.69 Em ambos os casos o corpo de
Cristo é entendido como o véu, algo que Ele teve que transpor, uma cortina
que por algum tempo proibiu qualquer acesso a Deus.
Westcott, entretanto, é contrário à correspondência véu = corpo. Em sua opi­
nião, ninguém poderia conceber o corpo de Cristo “como um véu, um obstáculo,
para a visão de Deus onde a ênfase é dada na Sua humanidade”. Além disso, ele ar­
gumenta que deve-se esperar que seja preservado um completo paralelismo “entre a
descrição da aproximação de Cristo a Deus e a aproximação do crente a Deus”.
Bruce assume uma direção contrária, afirmando que a expressão “sua car­
n e” explica o significado do "véu”. Essa visão é interessante porque a ordem da
palavra é mais natural do que a construção que une “sua carne” a “o novo e vivo
cam inho”.70 Além disso, ele argumenta que a objeção de W estscott à correspon­
dência véu = corpo não tem peso, uma vez que o autor usa outras metáforas
além de “carne", como “o corpo de Jesus” ou "o sangue de Jesus" (v. 10 e 19).
O corpo de Jesus Cristo, então, seria uma referência a sua vida humana a
qual Ele ofereceu como sacrifício a Deus.71 Isso pode denotar que a encarnação de
Cristo e sua morte expiatória tornaram possível nosso acesso a Deus. A luz desse
contexto a visão de que o véu é o corpo de Jesus parece ser a mais razoável.72

O VÉU

Na LXX katape/asnw é uma palavra usada para uma cortina do tabernáculo.


É importante notar que costuma, às vezes, referir-se à cortina da entrada do pátio,
A LUZ DE HEBREUS

à cortina da entrada do santuário, assim como à cortina entre o lugar santo e o


lugar santíssimo.73
Nos evangelhos sinópticos “a cortina do templo” (to katapetasm a tou naoit)
foi rasgada no momento da morte de Jesus (Mt 27:51; Mc 15:38; Lc 23:45). A
questão está, com certeza, em qual cortina os evangelistas tinham em mente. A
opinião dos estudiosos é dividida. Fiebig, Zahn e outros argumentam que se trata
.da corrina exterior, à entrada do santuário. Na opinião deles, apenas essa poderia
ser vista pelo povo.
Por outro lado, a cortina exterior, que encobria o lugar santo da vista do
povo, parece ter tido menos importância cultuai do que a cortina interior, a qual
separava o santo do santíssimo. Além disso, a subjacente concepção teológica de
que a morte de Jesus tornou acessível a entrada para o santíssimo merece uma
consideração cautelosa.
De acordo com Schneider,74 a cortina citada em 6:19, 9:3 e 10:20 tem um
significado teológico e em cada caso se refere à cortina interior. Ele destaca que
essa nortina £ identificada na passagem 10:20 com o corpo de Cristo, sugerindo
_que a existência terrestre de J esus tem um duplo significadoL Como um véu entre
o santo dos santos e a congregação, e como o único caminho possível para o
santo dos santos.
Recentemente, Hasel argumentou que o autor de Hebreus empregou o termo
katapetasm a num sentido que inclui tanto o véu diante do lugar santo como tam-..
bém o véu diante do lugar santíssimo.75 A entrada de Cristo “além do véu” é vista
como a consagração de todo o santuário celestial. Depois de tal dedicação, Cristo
assumiría a função de sacerdote celestial e sumo sacerdote para aplicar os benefi-
-cios-de.seu sangue e sacrifício. Porimeio.de Cristo como seu sacerdote celestial e
sumo sacerdote pessoal, o crente torna-se apto para entrar além do véu e ter acesso
a Deus, que está presente em todo o santuário.
Embora essa tentativa de lançar luz sobre um problema difícil seja muito
fascinante, ainda permanece a questão: o autor de Hebreus tinha em mente a
dedicação de Cristo de todo o santuário celestial quando ele fala da entrada
do Salvador “pelo véu”? Q uer entendamos o termo katapetasm a nessa passagem
como a cortina exterior ou interior, parece absolutamente certo q u £ o autor com­
preende tal cortina como algo que oculta a presença divina. Mas a boa notícia é
que por meio de Jesus Cristo o crente pode agora passar pela cortina e chegará
presença de Deus.
O que quer dizer tõn hagiõn (literalmente, “os santos”)? Deve ser entendido
como uma referência aos dois lugares, tanto o santo quanto o santíssimo? Na pas­
sagem 9:8, assim como aqui, pode ser interpretado como “santuário” (cf. NEB).
Outros comentaristas estão convencidos de que a expressão designa o lugar santis-
U m a e x e g e s e d e pa ssa g en s s e l e c io n a d a s

simo. Todavia, a principal preocupação do autor nessa passagem é mostrar que os


cristãos têm agora livre e direto acesso a Deus no santuário celestial pela virtude de
seu sacerdote-Rei, Cristo Jesus.

H ebreus 6 : 1 3 - 2 0
Apelando para a experiência de Abraão, o autor busca trazer encorajamento
para seus leitores. Desse modo, ele aponta para “duas coisas imutáveis” que ele
considera a base de sua esperança: (1) a promessa de Deus, e (2) o juram ento pelo
qual sua promessa está confirmada. A particular promessa a que se referiu nesse
contexto é a que Deus fez a Abraão depois da sua experiência com Isaque no monte
------ M oriá (Gn 22:46-18). ---------------------------
Essa promessa, evidentemente, é para ser vista como uma elaboração das primei­
ras promessas de Deus para Abraão, as quais deviam se cumprir no nascimento de um
filho, o começo de uma grande posteridade, e a vinda do redentor do mundo por meio
de sua descendência (Gn 12:1-3; 15:3-6; 17:15-25). O autor observa que depois da dis-
:, Detis repetiu snapromessaTra-confirmou-eom—
um juramento, tomando-a, dessa maneira, duplamente certa (v. 16-17).
Portanto,-nessa-passagem, é assegurado ,aas leitores de que a promessa de
Deus para eles é igualmente certa. Ele sustenta que nossa esperança, tendo seu
fundam ente na-imutável promessa de Deus, ,é absolutamenre segura. A lém disso, é
com o âncora da alma, segura e firme, e que penetra “além do véu” (eis to esõteron
tou katapetasmatos).
Os pontos em discussão aqui são as frases “além do véu/cortina” (eis to eso-
leron tou katapetasmatos '[6:19]) e “pelo véu/cortina” -(áicfiou katapetasrnatos [\Q: 19-
20]), as quais já observamos anteriormente. O termo empregado para véu/cortina
é katapetasm a. N o N T essa palavra aparece em Mateus 27:51, Marcos 15:38 e Lucas
23:45. Nessas passagens, o partir do véu é recordado como um dos sinais que acom­
panham a morte de Jesus na cruz.
De acordo com Schneider, como já observamos antes, os evangelistas tinham
a cortina interior em mente, já que a exterior não tinha grande significado. Ele
também atribui um significado teológico as três referências em Hebreus (Hb 6:19;
9:3-, 10:20). Para ele não há dúvida de que essas seis citações do N T se referem ao
véu interior (to esoteron kaiapetasm atos[ Lv 16:2, 12]) ou “o segundo véu" (to deute-
ron katapetasm a [Hb 9:3]).
Schneider está convencido de que katapetasma em Hebreus 6:19 refere-se ao
véu que separa o lugar santo do lugar santíssimo, mas como já mencionamos antes,
não há consenso entre os estudiosos quanto a se o termo refere-se ao véu interior
ou ao exterior.76
A LUZ DE HEBREUS

Tendo em vista as considerações filológicas, somos fortemente pressionados a


determinar se a palavra katapetasma refere-se ao véu interior ou ao exterior. E bem
possível que o autor, que às vezes mostrava pouca preocupação com detalhes, tenha
pensando em algo mais amplo que apenas “véu” diante do Santo dos Santos. Está
claro que o principal objetivo de sua mensagem é mostrar que Cristo iniciou um
ministério que é cumprido na presença de Deus.
E na presença de Deus no santuário celeste, que Ele aplica os benefícios de
Seu sangue e sacrifício como sumo sacerdote celestial segundo a ordem de Mel-
quisedeque. A comparação de Hebreus 6:2 0 e 9:24 parece apoiar a visão de que
a frase “além do véu" talvez seja simplesmente outra forma de declarar que Jesus
entrou “no mesmo Céu, para comparecer, agora, por nós diante de Deus”.

R esumo e conclusão

Com o um artista-mestre, o autor de Hebreus pintou, de forma ampla, porém


não com pinceladas incertas, um profundo retrato da natureza e função do supe-
— rior-ministério sumo sacerdotal de Cristo e a absoluta certezaida esperança de salva-
—-ção para todo o que crè. Assim, a impressão criada não pode ser capturada apenas
,.por um estudo analítico. Para examinar e entender sua mensagem é imperativo ler
o texto muitas vezes.
Isso implica também que nós não devemos ignorar o objetivo do autor de
suprir as necessidades de seus leitores, os quais estavam em risco de apostasia. Pare­
ce certo que eles encaravam alguns problemas aparentemente intransponíveis que
faziam com que quisessem desistir do seu compromisso com Cristo; uma situação
tão difícil-que estimulou uma exposição tão magistral.
A visão de que o autor foi influenciado por concepções piatônico-fiiônicas
nos é inaceitável. Talvez seja possível detectar alguma influência filônica na sua
linguagem, mas a correspondência entre o santuário terrestre e o celestial não é um
modo filônico-platônico de pensamento.
O uso de linguagem tipológica por parte do autor, que aponta para a corres­
pondência entre os santuários terrestre e celestial, nos permite assumir a posição de
que ele tinha em mente o ministério sacerdotal de Cristo sendo reaíizado em duas
fases. Tendo dito isso, acreditamos que qualquer comparação entre os santuários
terrestre e celestial deve levar em consideração que o transcendental nunca pode
ser contido nas categorias finitas deste mundo.
Acreditamos que a expressão ta h ag ia (“santos”) é melhor entendida como
um termo geral para o verdadeiro santuário celestial em vez de apenas o lugar
santíssimo, a menos que esteja definitivamente qualificada como em Hebreus
9:2-5. Nessa ligação, temos tentado esclarecer o significado de protõs skên ê (“pri-
U m a e x e g ese d e passag ens se le c io n a d a s

meiro tabemáculo”) em 9:8. Em nossa opinião a frase se refere ao santuário


completo da antiga era ou tempo da antiga aliança. A referência ao “maior e mais
perfeito tabemáculo” (tês meizonos kai teleioteras skênês) em 9 : 11 é tam bém per­
cebido pelo autor como o santuário no Céu dividido em duas partes. Por razões
sintáticas, contudo, nós talvez não sejamos capazes de capturar completamente o
que o autor quis transmitir aqui.
Nos versículos 11-14 o autor chega ao climax de sua mensagem. Apesar de
alguns estudiosos acreditarem que ele emprega a linguagem do dia da expiação, é
evidente que seu objetivo maior é enfatizar a superioridade do sangue de Cristo
sobre o sangue animal. O iiltimo pode completar o ritual de purificação, mas so­
mente o primeiro pode purificar a consciência.
Mesmo que alguns dos problemas sintáticos e lingüísticos apresentados por esse
texto possam nos confundir, sua mensagem central é clara. Várias vezes é assegurado
aos leitores que o ministério sumo sacerdotal de Cristo no santuário celestial em seu
favor precisa ser visto como realidade suprema. De um ponto de vista meramente
prático, o crente não mais tem que cumprir rituais que são simbologias de coisas gran­
diosas que estãtrporaccntecer. O crente nãtrprecisamraisdepende rda: mediarão'do—
sacerdote humano. Agora, por meio de Jesus, seu sumo sacerdote maior, cujo sangue
é capaz de removeras manchas do pecado e da culpa,-ele pode chegar à presença de
Deus com confiança. O pecado, portanto, não mais representa uma barreira entre
Deus e o homem.- fbr meio do especial ministério de Jesus Cristo no santuário celes­
tial, o homem agora é capaz de usufruir um relacionamento pessoal com Deus.

N o tas

1H. Strathman, Der Briefan Jie Hebráer (Gõrtingen, 1953), p. 69.


" Ibid., p. 68.
3Todas as passagens bíblicas foram extraídas da versão ACF - Almeida Corrigida e
Fie! (1994), salvo as indicadas de outra forma.
4 Para mais detalhes sobre este tema, veja W. Manson, The Epistle to tlie Hebrews (Lon­
dres, 1951), e F. F. Bruce, The Epistle to lhe Hebrews (Grand Rapids, 1964). Ambos os erudi­
tos preferem traduzir keplmlaion com referência ao ápice da argumentação. Otto Michael,
Der Brief an die Hebráer, vol. 13 do Kritisch-exegetischer Kommentar über das Neue Testa-
ment esr. .por Heinriah. Augusto. WilUelm Meycr (Gnttinger.: Vandenhoeck &. .Ruprecht,
1975), p. 287, salienta que toiouios aponta para trás. Hughes afirma que os versículos 1-2
constituem o tema central de roda a epístola. Philip E. Hughes, A Commencary on the Epistle
to the Hebrews (Grand Rapids, 1977), p. 50.
5 Michel, p. 286-87. Epi tois legonienois é uma referência a todo o tema do sumo sacer­
dócio de Cristo, ainda em discussão, em vez do que foi sugerido antes, veja B. F. Wesrcotr,
T he E p istle to th e H ebrew s (Grand Rapids, 1950), p. 213.
A LUZ DE HEBREUS

6 Michel, p. 287; Hughes, p. 281.


7 Ibidem.
8 H. Montefiore, A Commentary on th e EpistU to th e H ebrew s (Londres, 1964), p. 132.
9 L. Sabourin, “Liturge De Sanctuaire Et De La Tente Veritable (Hb 8:2)” NTS 18
(1971): 87-88.
10A. P. Saiam, " T a H a g ia in the Epistle to the Hebrews", AU SS 1 (1967):65. Veja o
Apêndice A deste livro.
11 Ibidem.
12Michel, p. 288.
13 Hughes, p. 281-82.
14Michel, p. 289-90.
15Veja o cap. 9, p. 199-200 deste livro.
16Westcott, p. 215; Bruce, p. 163-64.
17Bruce, p. 164.
18 Ibidem.
19A. P. Salom, “Exegesis of Selected Passages of Hebrews 8 and 9", artigo não-
publicado apresentado à Comissão de Estudos do Santuário, Glacier View, Agosto,
1980, p.6.
20 Bruce, p. 164.
21 Michel, p. 290.
22 lbid., p. 290-91.
■3J. Moffatt, A C r itic a i a n d E x eg ctical C orr.m sr.tary c r. th e E p istle to th e H eb rew s (Edin-
burgh, 1924), p. 105-6.
24L. Goppelt, “T u p o s ”, TDNT(1972), p. 256ff.
25 lbid., p. 257-58.
26 Bruce, p. 165
1‘ R. M. Davidson, “Typology in Scripture", S érie d e Teses D ou torais d a U n iv ersid a d e
A n d rew s, N° 2 (Berrien Springs, MI, 1981), p. 343. \
23 Hughes, p. 295.
2 9 Michel, p. 292.
j0 Hughes, p. 297; também Bruce, p.176; Montefiore, p. 133.
31 Bruce, p.l76ff
3‘ Hughes, p. 304.
3'lbid., n. 25, p. 305.
U m a e x e g e s e d e p a ssa g en s s e l e c io n a d a s

35Westcott, p. 244.
38Ibid.
37 Ibid., p. 252.
’8N. H. Young, “The Gospel according to Hebrews 9", NTSC 27 (1981): 198-210.
j9J. Héring, T h e E p isle to the H ebrew s (London), p. 74.
30 Hughes, p. 321.
41 Michel, p. 307.
4: H. Windisch, D er H e b r à e r b r ie f ( H N T 14) citado por Michel, n. 4, p. 307.
4j Michel, p. 307.
44 Bruce, n. 60, p. 195.
45 Young, p. 201íf.
46Westcott, p. 255; Bruce, p. 199; W. G.Johnsson, “Defilementand Purgation in the
Book of Hebrews” (Tese de doutorado na Vanderbilt University), 1973, p. 290.
47 Héring, p. 76.
48 P. Andriessen, “Das grõssere und vollkommenere Zelt (Hb 9:11)" B Z 15
(1971): 76-92.
— »IU J^pJ77f£----------------------------- -- -----------------------------------------------------------
50 M. L. Andreasen, T h e Book o f H eb rew s (Washington, DC, 1948), p. 335ff.
51J. Swemam, “The Grearer and More PerfectTent: A Conrriburion to the Discussion
of Hebrews 9:11”, B ib 45 (1966), p. 91-106.
5: Young, p. 201ff.
53Andriessen, p. 82.
54 G. F. Hasel, “Some Observations on Hebrews 9 in view of Dr. Ford’s Interpreta-
tion”, manuscrito não-publicado, Andrews University.
55 Bruce, p. 199.
58 Hughes, p. 354; Moncefiore, p. 154.
57 Michel, p. 313.
58S. H. Horn, SD A B ib le D ietion a-n (Washington, DC, 1979), p. 917.
59 Michel, p. 313.
60 Hasel, “Some Observations on Hebrews 9..."
01Westcott, p. 260.
o: Michel, p. 323-24.
83 Ibid., n. 2, p. 324.
64 Hughes, p- 380.
85 Bruce, p. 219.
86 Hughes, p. 381.
67 Wescort, p. 270.
u8Wescott, P. 270.
89 Ibid., p. 319.
7t1Bruce, p. 247.
A LUZ D E H EBREtlS

7! Ibid., p. 248.
7_ Para um debate sobre vêu=caminho, veja W. G. Johnsson, p. 44 deste livro.
'Veja George Rice, “Hebrews 6:19: Analysis ofSome Assertions Concerning K a ta p e -
la s m a , AUSS. 25 (1987): 65-71. Veja o Apêndice B neste livro.
74 C. Schneider, “K a lc ip e lu s m a ", T Ü N T (Grand Rapids, 1965), p. 631.
,s Hasel, “Some Observations on Hebrews 9...”
76Schneider, p. 631-32.
C a p ít u l o 5

CONTAMINAÇÃO/PURIFICAÇÃO E
H ebreu s 9 :2 3
W lL L lA M G. JOHNSSON

inopse editorial. Os advenristas creem - com base nos tipos do santuário ieviti­
S co e nas profecias de Daniel - que Cristo iniciou em 1844 a fase do ministério
sacerdotal celeste no segundo compartimento. Na fraseologia bíblica, esse ministé­
rio é mencionado como “a purificação do santuário” (D n 8:14). No NT, Hebreus
9:23 ajuda a entender melhor a mensagem de Daniel 8:14.
“Era necessário, portanto, que as figuras das coisas que se acham nos céus [o
santuário israelita) se purificassem com tais sacrifícios, mas as próprias coisas celes­
tiais [o santuário celestial] com sacrifícios a eles superiores” (Hb 9:23).
Hoje em dia tem-se argumentado que essa passagem de Hebreus pode nos
levar a concluir que o trabalho de Cristo de purificar - ou limpar - o santuário ce­
lestial foi completado na cruz. Tal interpretação do versículo, se correta, invalidaria
imediatamente a crença adventista como resumida acima. No entanto, Jonhsson
demonstra que essa interpretação baseia-se numa exegese incorreta, porque falha
ao considerar a argumentação teológica central do livro. A exegese de passagens
isoladas pode não levar a uma interpretação razoável, a menos que as passagens
sejam vistas de acordo com a perspectiva teológica global do documento.
A preocupação teológica essencial em Hebreus gira em torno da problemática
da contaminação e purificação. Isso é evidente tanto na escolfta do vocabulário
por parte do autor apostólico, quanto na sua progressão de pensamento a partir da
abertura concisa da obra de Cristo na Terra: “depois de ter feito a purificação dos
pecados (1:3). A terminologia contaminação/sangue/purificação forma o cerne
teológico de conceitos por meio dos quais o escritor apostólico descreve o dilema
da humanidade e o cam inho para sua salvação.
Seu modelo não deve ser extinto ou destruído pela mistura ou confusão
com outros modelos. A impureza aponta para a mácula, a mancha, a corrupção
CONTAMINAÇÀO/PURIFICAÇÃO E HEBR.EUS 9:23

da pessoa. Com o o escritor observa, ‘'não se é redimido da impureza, assim


com o não se é perdoado, reconciliado, ou justificado apesar dela. Se alguém está
impuro, ele precisa ser limpo - a mancha, a corrupção precisa ser retirada”. O
meio para essa purificação é o sangue, o sangue do próprio C risto, o agente
purificador por excelência.
Embora as concepções da impureza humana e a necessidade de purificação
pareçam ser reconhecidas universalmente, o autor apostólico traça suas concepções
a partir do modelo do santuário: contaminação - sangue - purificação; e desen­
volve sua argumentação nesse contexto. Deus designou o ritual do santuário como
uma ferramenta educativa, mas seus rituais repetitivos com sangue animal eram em
si mesmos ineficazes para remover a impureza e a mancha do pecado moral. Desse
modo, o foco da apresentação teológica de Hebreus 9-10 é o Calvário. As Boas No­
vas é que “uma vez por todas se manifestou” Cristo “para aniquilar o pecado pelo
sacrifício de si mesmo” (Hb 9:26); por seu próprio sangue vertido, providenciou o
meio para a purificação permanente.
Tendo em vista o argumento teológico central, é evidente que Hebreus 9:23
nãcTdeclara que o santuário celestiãrfoi purificado quando Cristo m õrretrntrC al--
vário, pelo contrário, a passagem reflete o assunto falado no inicio: “...ter feito a
purificação d os-pecados” (1:3). O tempo-da purificação do santuário celestial não
está em questão aqui, e sim a necessidade das coisas celestiais serem purificadas
pelo sacrifício superior de Cristo.-Este íato é salientada visto que o escritor apostó­
lico tinha em mente um presente ministério sacerdotal de Cristo, que lança mão
dos méritos de seu sangue purificador em favor dos arrependidos diante de Deus
(7:25; 9:24).
O ponto do livro de Hebreus é precisam ente este: “O grande sacrifício,
Jesus, proveu o que todos os anim ais não podiam - uma solução para o pro­
blem a do pecado, um sacrifício que é capaz de purificar decisivam ente. Isso
não diz respeito ao tempo quando o santuário celestial deve ser p u rificad o."
A lém disso, a intenção do escritor apostólico não é m ostrar que o Calvário
é o antitipo do dia do juizo, mas que o Calvário é o antitip o de todos os
sacrifícios do AT. Som ente o sangue superior de C risto é capaz de prover a
purificação genuína.
Um elemento temporal é introduzido à argumentação a esse respeito: num
dado momento, o Calvário proveu a resposta única e toda-suficienre para o peca­
do. Hebreus não determina o tempo para a purificação do santuário celestial e para
o “juízo investigativo” - duas concepções que os pioneiros adventistas consideram
estar ligadas, com base em Hebreus 9:23. Embora essas concepções não sejam te­
mas de Hebreus, afirmamos que a idéia básica dos pioneiros estava correta e sua
forma de interpretar Hebreus 9:23 é válida.
A LUZ DE HEBREUS

A argumentação teológica central tam bém esclarece a idéia de “perfeição”


no livro. Em Hebreus, o conceito não indica crescimento em caráter nem um
objetivo em direção do qual devamos nos esforçar. Pelo contrário, perfeição
significa que “o velho problema da impureza foi solucionado pelo sacrifício
que provê com pleta purificação, abrindo as portas.até a presença de Deus e
levando a cabo todos os outros sacrifícios e esforços humanos para encontrar
a purificação”.

E sboço do capítulo

1. Introdução;
2. Vocabulário de contaminação e purificação
3. Ênfase teológica em Hebreus
4. Aspectos de interesse para os adventistas
5. Conclusão

Introdução

A igreja adventista há muito tempo considera que o livro de Hebreus tem


um significado particular. Nossos pioneiros consideraram de maneira especial
essa obra para fundamentar as doutrinas distintivas, especialmente a do santu­
ário celestial tendo Cristo como sumo sacerdote. Apesar de Hebreus ter sido
amplamente desprezado pelos estudiosos protestantes durante o século vinte,1
estudantes adventistas da Bíblia têm sido uma exceção ao se preocupar em desco­
brir o significado desse documento escrito com tamanha maestria.1
Durante os últimos anos, o livro de Hebreus tem se tornado um centro de
controvérsia entre os eruditos adventistas do sétim o dia. Há oitenta anos, A.
F. Ballenger desafiou a visão tradicional adventista da obra celestial de Cristo,
baseando o argumento principalmenre em sua interpretação de^Hebreus 6:19-
2 0 .1 Nos últimos anos, tem-se chamado atenção para Hebreus - especialmente
para o nono e décim o capítulos - como um apoio para outra retnterpretaçào
da doutrina do santuário.4 C onquanto Hebreus seja o único livro do N T onde
se é dada uma interpretação explicita e uniforme dos rituais do AT, ele é con­
siderado fundam ental para o novo esquema proposto.
Penso que seja razoável dizer que Hebreus foi mais mal-interpretado do que
entendido durante o século vinte. Escritores católico-romanos - cujo interesse por
CONTAMINAÇÃO/PURIFICAÇÃO E HEBREUS 9:23

Hebreus é maior do que o dos protestantes, com exceção dos últimos 10 ou 15


anos - freqüentemente têm “encontrado” idéias do sacramento da eucaristia e do
sacerdócio terrestre.5 Estudiosos protestantes têm achado a terminologia cúltica e
o raciocínio estranhos e incompatíveis com sua maneira de pensar, então desconsi­
deram-no.6 E muitas vezes, esmdiosos adventistas têm se preocupado com questões
apologéticas ou polêmicas, compreendendo nuanças significativas, mas falhando
em buscar as linhas de argumentação mais amplas, a progressão desse magnificente
tratado teológico.

A rgumentação central

A argumentação teológica de Hebreus centraliza-se no ritual (o sistema de


adoração do santuário). E o ritual - conform e mostrado em Hebreus - gira em
torno do problema da purificação e contam inação.7 Esse é o ponto abordado
na declaração introdutória, onde toda a obra terrestre do Filho de Deus está
resumida nas palavras “depois de ter feito a.purificação dos pecados” (1:3). Este
é o ponto para o qual o raciocínio retorna vez após vez, esnecialmente nos capí-
tulos 9 e 10, onde a argumentação teológica alcança seu impacto final.
Contudo, a maioria dos estudiosos de Hebreus não vê esse ponto. Eles não
estão alerta para essa linguagem de culto. No lugar disso, estão empenhados em pôr
abaixo o modelo contaminação-purificação e evidenciar outros como o da reden­
ção, perdão, ou expiação. Até mesmo adventistas, de quem se espera que tenham
entendimento do ritmo do ritual do santuário, não conseguem reconhecer plena­
mente o que está “acontecendo”, o maior escopo da argumentação de Hebreus.8
A percepção da argumentação central do livro é importante, para os adventistas
U C V IV A U d , y c iu meiluS, u u id d a y c ^ iu a .

Primeiro, as questões especificas e isoladas de Hebreus que dizem respeito


à interpretação de pontos particulares - ou a exegese de certos textos-chave
- podem ser entendidas somente ã medida que se tenha compreendido comple­
tamente a estrutura global da teologia de Hebreus. Isso significa que o estudan­
te de Hebreus deve “ficar por dentro” do culto e explorar sua razão de existir.
Segundo, adventistas, pelo menos em certo nivel, têm há muito se preocupa­
do com questões de contaminação e purificação. Ao trabalharmos com a versão
KJV de Daniel 8:14 (derivada da Septuaginta e da Vulgata), temos ensinado “a
purificação” do santuário celestial. E curioso que, embora se fale muito sobre con­
taminação e purificação ao longo do livro de Hebreus, ainda não somos capazes de
compreender o total impacto de sua linguagem. E tempo de corrigir essa omissão
- ver a contribuição de Hebreus para o entendimento da purificação do santuário
celestial à medida que nos esforçamos para sermos verdadeiros quanto ao desenvol­
vimento teológico que abarca todo o livro.
A LU Z DE HEBREUS

E studo em três estágios

Nosso estudo procederá em três estágios. O primeiro será descritivo. Ire­


mos expor as informações textuais de Hebreus para demonstrar que o raciocí­
nio de contam inação-purificação forma a matriz da argumentação cultuai. A
segunda fase será teológica. Refletirem os no significado da inform ação apre­
sentada. Na parte final, indicaremos o direcionam ento da discussão em He­
breus sobre as questões teológicas de interesse especial aos adventistas. E agora
devemos encarar diretamente a questão: Hebreus leva-nos a conclu ir que o
trabalho de C risto de purificação foi completado na cruz, desm entindo assim
o ensinam ento adventista do sétimo dia da purificação do santuário celestial
iniciado em 1844?

V ocabulário de contaminação e purificação

Teologia não é feita pela contagem de ocorrências de palavras. Contudo, no


___ infcÍQ„é_útil para a classificação dos dados lexicais.

V ocabulário de contaminação

A contaminação é indicada especificamente pelo uso de dois verbos gregos:


koinoun e miainein, ' e adjetivos relacionados.
Koinoun (e o adjetivo relacionado koinos) significa “tornar com um ou im­
puro, contam inar no sentido cerim onial”, ou “considerar ou declarar (ceri-
m onialm ente) im puro”.9 Esses termos são usados duas vezes em Hebreus, a
primeira vez em referência ao culto do A T e a segunda vez em referência ao
novo pacto:

9:13 “Portanto, se o sangue de bodes e de touros e a cinza de uma


novilha, aspergidos sobre os contaminados [koinoun], os santifi­
cam quanto à purificação da carne,”

10:29 “de quanto mais severo castigo julgais vós será considerado digno
aquele que calcou aos pés o Filho de Deus, e profanou [koinos] o
sangue da aliança com o qual foi santificado, e ultrajou o Es­
pirito da graça?"

'Miainein significa “mancha, mácula,” e pode referir-se tanto à “impureza ce­


rimonial” como à “corrupção moral pelo pecado ou vícios".10 Essa palavra também
ocorre duas vezes, ambas em referência aos cristãos:
CONTAMINAÇÀO/PUr j FICAÇÃO E HEBREUS 9:23

12:15 “atentando diligentemente, por que ninguém seja faltoso, sepa­


rando-se da graça de Deus; nem haja alguma raiz de amargura
que, brotando, vos perturbe, e, por meio dela, muitos sejam con­
taminados [miainein].”

13:4 “Digno de honra entre todos seja o matrimônio, bem como o


leito sem mácula [amiantos, adjetivo na forma negativa]; porque
Deus julgará os impuros e adúlteros.”

Por si mesmas essas quatro ocorrências de termos que apontam para contami­
nação podem parecer pouco significativas. Contudo, começamos a compreender
sua força quando percebemos que é dada forte ênfase ao oposto do conceito que
transmitem: purificação.

V ocabulário de purificação

--------A-pr-tnetpal pakvra-usada-para-indiear- purrfrcaçxtrérkuthurizein e seus~cogna°-


tos. Pode-se também observar outros dois termos relacionados: louein e baptismos.
Kathar.izein significa “tornar limpo, limpar, purificar”.PA forma verbal ocorre
quatro vezes; a forma nominal, duas vezes, e, com o adjetivo, uma vez:

1:3 “Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser,


sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, depois de
ter feito a purificação [katharismos] dos pecados, assentou-se à
direita da Majestade, nas alturas.”

9:13 “Portanto, se o sangue de bodes e de touros e a cinza de uma


novilha, aspergidos sobre os contam inados, os santificam, quan­
to à purificação [katharotês] da carne.”

9:14 “muito mais o sangue de C risto, que, pelo Espírito eterno, a


si mesmo se ofereceu sem mácula a Deus, purificará [katharizõ}
a nossa consciência de obras m ortas, para servirmos ao Deus

vivo!

9:22 “Com efeito, quase todas as coisas, segundo a lei, se purificam


[katharizõ) com sangue; e sem derram am ento de sangue, não há
remissão”.
A LUZ DE HEBREUS

9:23 “Era necessário, portanto, que as figuras das coisas que se ach­
am nos céus se purificadas [katharizõ] com tais sacrifícios, mas as
próprias coisas celestiais, com sacrifícios a eles superiores”.

10:2 “Doutra sorte, não teríam cessado de ser oferecidos, porquanto


os que prestam culto, tendo sido purificados [katharizõ] uma vez
por rodas, não mais teriam consciência de pecados!”

10:22 “aproximemo-nos com sincero coração, em plena certeza de fé,


tendo o coração purificado de má consciência e lavado o corpo
com água pura, [katharos]".u

Assim, os dados demonstram que à primeira vista, o assunto da contamina­


ção e purificação no livro de Hebreus merece uma investigação cuidadosa. Listar os
"dados lexicais é só o começo.
Os termos que acabamos de >observar não representam conceitos diferen-
~tesrSãcrapenas-janelas-dentre-de-ü-ma mesma estrutura cultuai, um fragmento da
—matriz da argumentação teológica. Também precisamos levar em consideração a
importância do vocabulário relacionado, que é extenso, mas para simplificá-lo o
restringiremos aos termos que podem ser associados mais diretamente à contami-
- nação e à purificação.

V ocabulário relacionado
Sangue. O substantivo mais importante para consideração aqui é haima (“san­
gue”). Haima é o termo intermediário, por assim dizer, entre a contaminação e a
purificação. Assim como a contaminação é o problema e a purificação, a solução, o
sangue é o meio para alcançar este último.
H aima ocorre não menos que 21 vezes em Hebreus, sendo que 14 delas estão
nos capítulos 9 e 10.13 Citaremos aqueles que mostram mais claramente o sangue
como meio de purificação.

9:7 “mas, no segundo, o sumo sacerdote, ele sozinho, uma vez por
ano, não sem sangue, que oferece por si mesmo e pelos pecados de
ignorância do povo.”

9:12 “não por meio de sangue de bodes e de bezerros, mas pelo seu próprio
sangue, entrou no santo dos santos, uma vez por todas, tendo
obtido eterna redenção.”
CoN TAM !NAÇÃO/PURI FICAÇÃO E HEBR.EUS 9:23

9:13-14 "Portanto, se o sangue de bodes e de couros e a cinzas de uma


novilha, aspergidos sobre os contaminados os santificam, quanto
á purificação da carne, muito mais o sangue de Cristo, que, pelo
Espirito eterno a si mesmo se ofereceu sem mácula a Deus,
purificará a nossa consciência de obras mortas, para servirmos
ao Deus vivo!”

9:22 “Com efeito, quase rodas as coisas, segundo a lei, se purificam com
sangue; e sem derramamento de sangue, não há remissão...”

10:4 “Porque é impossível que o sangue de touros e de bodes remova


pecados.”

10:19 “Tendo pois, irmãos, intrepidez para entrar no santo dos santos,
pelo sangue de Jesus,..."

10:29 “de quanto mais severo castigo julgais vós será considerado
digno aquele que calcou aos pés o Filho de Deus, e profanou o
sangue da aliança, com o qual foi santificado, e ultrajou o Espírito
da graça?”

12:24 “E a Jesus, o mediador da nova aliança, e ao sangue da aspersão


que fala coisas superiores ao que fala o próprio A bel.”

13:12 “Por isso, foi que também Jesus, para santificar o povo, pelo seu
próprio sangue, sofreu fora da porta.”

13:20 “Ora, o Deus da paz, que tomou a trazer dentre os mortos a


Jesus, nosso Senhor, o grande Pastor das ovelhas, pelo sangue da
eterna aliança...”
Verbos de rem oção. Na argum entação cultuai, são usados três verbos
que se relacionam com o problema do pecado - anapherein, ap h airein e p ariai-
rein. Estes três apontam para o “pecado” (ham artia) com o algo que deve ser
removido (em contraste com uma divida a ser paga, um relacionam ento a ser
restaurado, e assim por diante). C om o tal, fazem um paralelo ao co n ceito do
pecado com o contam inação:

a. Anapherein significa “levar ou assumir... tirar.”1'1 É usado em Hebreus


ao dizer da remoção dos pecados realizada por Cristo:

9:28 “assim também Cristo, tendo-se oferecido uma vez para sempre
para tirar [anapherein] os pecados de muitos, aparecerá segunda
vez, sem pecado, aos que o aguardam para a salvação.”
A LU7. DE HEBREUS

b. Aphairein significa “tirar"15 e é encontrado em conexão com o culto


do AT:

10:4 “porque é impossível que o sangue de touros e de bodes remova


os [aphairein] pecados.”

c. Pmairein com o significado de “tirar, remover”111 é igualmente encon­


trado em referência aos serviços da antiga aliança:

10:11 “Ora, todo sacerdote se apresenta dia após dia, a exercer o serviço
sagrado e a oferecer muitas vezes os mesmos sacrifícios, que nun­
ca jamais podem remover pecados[periairein]."

Tendo pesquisado a terminologia da contaminação e purificação em Hebreus,


precisamos, agora, focar onde os termos ocorrem na argumentação - isto é, harmo­
nizá-los com os significados conferidos pelo autor.

-A rgumentação da contaminação/ purificação

As observações a seguir são pertinentes:

1. A declaração inicial no livro de Hebreus não é simplesmente uma intro­


dução. Foi, na realidade, planejada de acordo com sua base teológica e aponta a
Cristo como purificador dos pecados (v. 3). De fato, todo o período da encarnação
é aqui compreendido sob esse único comentário. Por meio dessa declaração, a
abordagem cúltica dessa obra é imediatamente destacado, bem como o conceito de
pecado - uma contaminação que exige purificação...
2. As ocorrências das terminologias contaminação/purificação/sangue se juntam
no ceme da argumentação teológica do livro - capítulos 9 e 10. Esses capítulos expres­
sam minuciosamente a declaração de 1:3 de que Cristo fez a purificação do pecado.
Explicam em detalhes a eficiência de seu trabalho em comparação e em contraste com
os sacrifícios de animais providenciados por Deus para a nação de Israel do AT. Parece
incontestável que o exegeta de Hebreus precisa atentar para os conceitos de contami­
nação e purificação, considerando seu peso total na argumentação^ para se ter uma
interpretação correta desses capituloschave.
3. Esses termos (contaminação/sangue/purificação) não só aparecem em Hebreus
9-10, mas formam, de fato, o suporte lógico e teológico da argumentação. Provar essa
declaração pode ser possível somente por meio de uma exegese bem desenvolvida, uma
tarefa além do escopo deste esnido. Apenas providenciamos os seguintes exemplos
como demonstração; uma apresentação completa está disponível em outra parte.17
a. O principal tema dos capítulos é o sangue, um termo que, como menciona­
mos, ocorre 14 vezes. Como o escritor argumentou anteriormente com relação a um
CONTAMINAÇÃO/PURIFICAÇÁO E HEliREUS 9:23

nome mais excelente (cap. 1), um líder superior (cap. 3), um sacerdote superior (cap.
5), um sumo sacerdote superior (cap. 7), um santuário e uma aliança superiores (cap.
8), então aqui sua apresentação gira em torno do "sangue superior”.
b. A argumentação, que à primeira vista muda de sangue no capitulo 9 para sacrifí­
cio no capitulo 10,13retoma o tema sobre o sangue em sua síntese (10:19, 29).
c. As três afirmações "não sem sangue” (9:7, 18, 22) salientam a função do
sangue no pensamento do autor.
d. A estrutura lógica é a seguinte:
(1) 9:22 - A “regra do sangue”. O axioma subjacente a todos os sacrifícios,
seja no AT ou no NT.

(2) 10:4 - A definitiva inadequabilidade do sangue animal para resolver o


problema do pecado.

(3) 9:13, 14 - Comparação e contraste. A limitada habilidade do sangue


animal contrastado com a habilidade superior do sangue de C risto para a
purificação efetiva.

e. As inter-relações de contaminação, sangue e purificação (sendo o sangue o


termo intermediário, o meio para efetivar a transição) são vistos mais claramente
nos versículos 13-14 do capítulo 9, a passagem que sintetiza o raciocínio envolvido
nos dois capítulos:
Portanto, se o sa n g u e de bodes e de touros e a cinza de uma novilha, aspergidos
sobre os contaminados, os santificam quanto à p u r ific a ç ã o da carne, muito mais o san­
gue de Cristo, que, pelo Espirito eterno, a si mesmo se ofereceu sem mácula a Deus,
p u r ific a r á a nossa consciência de obras mortas, para servirmos ao Deus vivo!

Concluímos, portanto, que as informações no livro de Hebreus sobre con­


taminação e purificação - tanto o vocabulário empregado como a atuação dos
conceitos na progressão de pensamento do autor - requer que nos envolvamos em
uma reflexão séria quanto ao significado pretendido pelo autor. Essa será nossa
tarefa na seção seguinte.

A ÊNFASE TEOLÓGICA
Os dados em Hebreus com respeito à contaminação e purificação sugerem
quatro observações:

U nidade teológica de conceitos

O conjunto de idéias associadas com os termos “contaminação”, “sangue" e


“purificação” representam uma unidade lógica e teológica.
A LUZ DE HE3R.EUS

Essas idéias não devem ser simplificadas ou traduzidas no intuito de cons­


tituírem outro “pacote” teológico de termos que podem nos ser mais familiares
ou mais facilmente acessíveis para compreensão. Quando os hebreus descrevem
o dilema hum ano da contam inação, por exemplo, o problema não é a ausência
de justiça perante a lei, tampouco é uma divida que temos, de forma a buscar­
mos o perdão; menos ainda o desejo de um escravo que tem a liberdade como
a benção suprema. Não; contam inação aponta para a mancha, o borrão, a cor­
rupção do indivíduo.
Não se é salvo da contam inação, assim como não se é perdoado, reconciliado
ou justificado. Se alguém está contam inado, a mancha deve ser limpa, a corrup­
ção deve ser tirada. E, argumenta o autor de Hebreus, o meio pelo qual é alcan-
“çãdã a purificação é o sangue, o sangue do próprio Cristo, o agente purificador
por excelência.
De fato, estudos da literatura religiosa19 e dos hábitos da humanidade de­
monstram a natureza fundamental do retrato da condição do ser humano e o meio
provido por Deus para sua restauração, como apresentado no livro de Hebreus.
Conforme estudiosos como Paul Ricoeur20 demonstraram, o mais pleno reconheci­
mento de nossa condição pecaminosa, nosso senso da queda, é expresso, de forma
simplificada, pela declaração “eu sou imundo, sujo”, uma declaração que clama
por um remédio que cure esse mal.
Tal reconhecimento está profundamente arraigado na mente humana, e po­
demos vê-lo exteriorizado em hinos como “Por um Pecador Qual Eu” e “Alvo mais
que a Neve". Mas, mesmo contextos seculares mostram sua persistência, apesar da
educação e psicologia modernas, por meio de expressões inconscientes tais como
“política suja", “pano sujo”, e “piadas sujas".
Dada a em inência da lei em muitos contextos teológicos, não é de se
surpreender que o padrão contaminaçâo/sangue/purificação tenha sido igno­
rado. Concentrar-se na lei conduz logicamente para o modelo de uma corte
judicial: Deus é o juiz, a humanidade no banco dos réus é culpada, e o apelo é
por absolvição.
Nós não denegrimos a importância deste modelo e os sistemSs teológicos de­
senvolvidos a partir dele, mas é necessário chamar atenção para o fato de que o mo­
delo de corte judicial, embora válido, é uma das maneiras como o dilema humane
e o trabalho de Cristo para solucioná-lo são apresentados nas Sagradas Escrituras.
Em Hebreus, o modelo da lei/corte judicial não está presente e não deveria ser
considerado importante, nem colocado em destaque. Para entendermos Hebreus,
devemos permitir que os argumentos se revelem por si mesmos em seus próprios
termos à medida em que o Espirito Santo, como no primeiro século a.C., ilumina
nossas mentes hoje.
Co n ta m in a ç ã o /P u r if ic a ç ã o e H e b r e u s 9:23

O CONTEXTO DO SANTUÁRIO

A pergunta inevitavelmente nos confronta: Por que Hebreus? Por que nele,
de todos os I ívtos no NT, deveria a obra de Cristo ser retratada dessa maneira?
E verdade que Hebreus é o único livro no N T onde a argum entação teo­
lógica é construída sob o padrão contam inação/sangue/purificação. Enquan­
to outros livros fazem referências ocasionais ao m odelo (por exemplo, l j o 1:9;
T t 2:14), em nenhum outro é discutido extensam ente à m aneira sistem ática
de Hebreus.
Também, nenhum outro livro do N T discute o tema do santuário como
o faz Hebreus. Em várias partes, encontramos indícios da intercessão de Cristo
n o Céu (por exemplo, Rm 8:34; ljo 2rl), e Apocalipse emprega imagens do —
santuário e coloca as visões no ambiente do santuário celestial. Mas somente em
Hebreus, Jesus é explicitamente chamado de sumo sacerdote, e somente nele a
existência do santuário celestial é explicitamente argumentada/1
Inevitavelmente, somos levados de volta ao con texto do santuário do
' AT.MrreviTavelmente^sumos- lêvadüs~á'refletir sobre o convite à santidãdt,
mencionado repetidamente em Levitico. Inevitavelm ente som os lembrados
da grande quantidade de regras dadas para proteger a pureza do povo anda­
rilho de Deus - as leis da contam inação e purificação. O convite à santidade
para o povo de Deus acampado ao redor d e santu ário era um convite à prote­
ção da contam inação, um convite à purificação. E o cam inho para lidar com
o pecado, para remover a contam inação, era o cam inho do sangue, por meio
do sacrifício de animais.
O santuário! - aqui está a chave. “‘E me farão um santuário, para que eu
possa habitar no meio deles”, disse Deus (Êx 25:8). E esta foi sua promessa, a
palavra do Deus da aliança: “Andarei entre vós e serei o vosso Deus, e vós sereis
o meu povo” (Lv 26:42). Com essa palavra, todavia, veio esta também: “Porque
tu és povo santo ao Senhor, teu Deus; o Senhor teu Deus te escolheu, para que
lhe fosses seres o seu povo próprio, todos os povos que há sobre a terra” (D t 7:6).
Então, em Levitico, o livro do santuário, o Deus que habita entre seu povo diz:

Eu sou o Senhor vosso Deus; portanto, vós vos consagreis e sereis santos, porque eu
sou santo; e não vos contaminareis por nenhum enxame de criaturas que se arrastam
sobre a terra. Eu sou o Senhor, que vos faço subir da terra do Egito, para que eu seja
vosso Deus; portanto, vós sereis santos, porque eu sou santo (Lv 11:44-45).

Parece inegável a relação do “santuário” com “contaminação/sangue/pu-


rificação” tanto no AT como no NT. Hebreus é a reprodução de Levitico no
NT, elaborando e explicando suas idéias com riqueza de detalhes.” Assim, em
Hebreus, encontramos novamente o convite à santidade: “Segui a paz.com to-
A LUZ DE HEBREUS

dos, e a santificação, sem a qual ninguém verá o Sen h or” (Hb 12:14). É por isso
que a apresentação da obra de Cristo é descrita em Hebreus nos termos que
observamos: o modelo é o santuário, não a lei moral ou qualquer outra.

A OBRA EFICAZ DE C R IST O

O sistema contaminação/sangue/purificação nos chama a atenção para uma


apresentação diferente da obra de Cristo.
Primeiro, vemos por meio da idéia da contam inação a desesperadora con­
dição humana. Em Hebreus 9-10 a ênfase recai na im perfeição do ritual do
AT. Apesar das muitas características educativas, era estritam ente temporário:
;____lordenanças da carne, impostas até o tempo oportuno de reform a...” (9:10)
O sangue de animais podia estender-se à “purificação da carne” (9:13), mas
não além. Era “impossível” que o pecado fosse tirado por tais meios (10:4). Os
mesmos sacrifícios, oferecidos de ano em ano, eram incapazes de “aperfeiçoar”
os adoradores (1 0 :1 ). Apesar de que alguns possam ter alcançado a paz religio-
------sa-fe-sem dúvida-muitos-a-aleançararn), a própria repetição d o s sacrifícios de
— IsTael indicava a falta de solução para o problema da contaminação (9:6, 25;
10: 2, 11). •
Devemos ser bem claros quanto à argum entação de Hebreus: o autor não
está denegrindo o culto do AT. A final, Deus foi quem lhes ordenou isso! Era
o cam inho de salvação pela fé para aquela época ,23 no en tan to , era insufi­
ciente por si próprio. Este é o ponto em discussão. O Deus que determ inou
o sistem a de sacrifício iria, no seu próprio tempo e por meio de seu próprio
plano, providenciar um sacrifício que solu cionaria o problem a do. pecado de
maneira definitiva.
O pecado é um problema moral, horrendo, que nos separa da santidade
de divina, e que não pode ser removido por um ato mecânico de derramamento
de sangue animal. Som ente Deus pode fornecer a resposta e trazer purificação
definitiva, e isto ele fez dando-nos Jesus Cristo, que é ao mesmo tempo sacrifício
e sumo sacerdote.
Em contrate com os repetidos sacrifícios de anim ais, a n\orte de C risto
foi “oferecida uma vez por todas” (7:27; 9 :2 6 , 28; 10:2, 12-13). A purificação
•por Ele .providenciada foi absolu ta - n ão som ente da “carne (sarx)", mas da
“con sciên cia” (su n eidêsis). Estes termos (respectivam ente sarx e su n eidêsis no
grego) devem ser entendidos da perspectiva de Israel com o um todo, e não
com o adoradores individuais (ver 9; 9-10, 13-14; 10:2-3, 19-22).24 Por um lado,
eles apontam para a constrangedora consciência de Israel, para o fato de os
rituais do A T não serem definitivos, com o dem onstrado pelo ciclo de sacri­
fícios. Por outro lado, eles enfatizam a auto-suficiência do sangue de Cristo,
CONTAMINAÇÃO/PURIFICAÇÁO E HEBREUS 9:23

que por um sacrifício providenciou a purificação de uma vez por todas e aca­
bou com a necessidade de sacrifício de animais.
C om o observamos na primeira seção do estudo, tanto na freqüência dos
termos-chave como na estrutura da argumentação, a ênfase do autor recai sobre
o sangue. Seu argumento é cristocêntrico, enfatizando o feito de Jesus em nos­
so favor em vez de enfatizar o dilema humano. Assim, o foco da apresentação
teológica de Hebreus 9-10 é o Calvário. A argumentação relembra os meios de
purificação por excelência.

A SINGULARIDADE DO CRISTIANISMO

__Finalmente, vemos a singularidade da religião cristã na descrição da obra de


Cristo. Ao longo da história humana, a humanidade tem sido perturbada pelo
persistente senso de “desconforto espiritual”,25 pela consciência de se estar sujo, im­
puro. Muitos foram os meios e agentes alistados paru remover essa contaminação.
O objetivo da pessoa impura sempre foi a purificação, no entanto, esse objetivo
tem sido elusivo. efêmero, procurado, mas nunca alcançado, sentido, mas nunca
desejado firmemente . A experiência religiosa da humanidade tem sido oscilante.

Contaminação muitos agentes mal-sucedidos Purificação

Causas da contaminação

Mas Cristo, argumenta o livro de Hebreus, quebrou o terrível ciclo. Por si


próprio - por seu próprio sangue, forneceu os meios de profunda, permanente
purificação Apenas Ele é capaz de trazer um fim para a intensa busca humana por
um caminho que conduza à liberdade da corrupção:

Contaminação O sangue de Cristo Purificação

Nossa reflexão teológica nesta seção destacou a im portância de Hebreus


com o um documento centralizado no santuário. Mostrou com o as raízes do
santuário do A T fornecem o conjunto de idéias de contam inação, sangue, e
purificação. Estas idéias são uma unidade lógica e teológica, que apontam pri­
m eiram ente p ara'o terrível peso d o problem a'do'pecado e, então, para o meio
glorioso que Deus providenciou em Cristo para escapar desse problema. Esta
é uma representação diferente da obra de Cristo, que não pode ser resumida a
nenhum outro esquema ou adotada por outras religiões da humanidade.
O modo como a teologia da contaminação, sangue e purificação é desen­
volvida no todo de Hebreus não é nossa preocupação aqui, tampouco podemos
explorar a relação das seções exortativas d o- livro (onde essa teologia se cala) com a
\ LUZ DE WEBREUS

argumentação quanto ao sumo sacerdote. M enciono esses temas num outro estudo
preparado para este volume.26
Na seção final deste capítulo discutiremos aspectos relevantes para os advem
tistas do sétimo dia.

A s p e c t o s d e in t e r e s s e p a r a o s a d v e n t is t a s

Quatro assuntos associados ao tema deste estudo são de preocupação es­


pecial para os adventistas do sétimo dia: (1) a interpretação de Hebreus 9:23;
(2) os aspectos temporais da purificação (a obra purificadora de Cristo já ter­
minou?), (3) a função do sangue, e (4) o ensinam ento de Hebreus com respeito
----- a—perfeição .

A INTERPRETAÇÃO DE HEBREUS 9 : 2 3

■Hebreus 9:23 assombra a maioria dos comentaristas de Hebreus:


“Era necessário, portanto, que as figuras das coisas que sc acham nos céus se
— purificadas com tais sacrifícios, mas as próprias coisas celestiais, com sacrifícios a
eles superiores.”
O texto fala da necessidade de purificar as “coisas que se acham nos céus”,
expressão que, pelo contexto, significa o santuário celestial, visto que o santuário
terrestre e seus utensílios eram “figuras das coisas que se acham nos céus”. C.
Spiqc rejeita tal pensamento (“sem sentido”!27 bem como quase todos os comen­
taristas. Com o, argumentam eles, podem as coisas do Céu - o lugar da perfeição
- exigirem purificação?
Freqüentemente, encontramos duas linhas de interpretação; ambas negam o
significado óbvio do texto:
i. a s coisas que se acham nos céus" não se referem ao santuano celestial,
mas ao suneidêsis (“conhecim ento” ou “consciência”), argumento baseado no
suposto paralelo com 9:14, onde se afirma que o sangue de Cristo purifica a
suneidêsis'. “muito mais o sangue de Cristo, que, pelo Espirito eterno, a si mesmo
se ofereceu sem mácula a Deus, purificará a nossa consciência (suneidêsis) de
obras mortas, para servirmos ao Deus vivo? Entretanto, essa interpretação é
falsa 'tanto W ; Telação à terminologia quanto ao contexto.
Primeiro, com relação à terminologia. O livro de Hebreus, ao expor a
pessoa e a obra do Filho, tem muito a dizer sobre "coisas que se acham nos
céus”. Argum enta que o verdadeiro, o real está no Céu (veja 4:14; 7:26; 8:1-5;
9:8, 11-12; 10:12, 19; 12:18-24). Já mostramos as razões por que sustentamos
que o autor de Hebreus acredita num santuário celestial real - que ele não está
usando uma m etáfora.28
CONTAMINAÇÁO/PURIFICAÇÃO E HEBREUS 9:23

Interpretar “coisas que se acham nos céus” em 9:23 como a suneidêsis (“co­
nhecimento/consciência”) é contrário a toda estrutura conceituai do livro. Além
disso, põe abaixo a terminologia usada pelo autor de um modo não justificado
pelo contexto. Sustentamos que o vocabulário de Hebreus mostra uma precisão
de escolha e uso que nos proibe estabelecer tal equivalência. A purificação do
conhecimento ou consciência (suneidêsis) é um benefício para os crentes que
provém da obra de Cristo - e não é a obra em si.
O contexto também é claramente contrário a esta interpretação. Hebreus
9:23 é uma transição entre o debate dos rituais do AT (versos 18-22) e dos novos,
no santuário celestial (versos 24-28). Leva o leitor das "figuras” para “coisas que
se acham nos céus” e para um melhor sacrifício, a morte expiatória de Cristo.
Seu ponto é, como nos capítulos 9-10, o_“sangue superior” de C risto . Então, o- —
versículo 23 começa com “Era necessário, portanto (oun)...” e o versículo 24 segue
com “Pois Cristo não entrou num santuário feito por mãos, figura do verdadeiro,
porém no mesmo céu...” Interpretar “coisas que se acham nos céus” em 9:23 como
conhecimento/consciência (suneidêsis) humana, distorce o contexto em vista dos
versículos que se seguem.
2. Outra tentativa de explicar a purificação das coisas celestiais em 9 :23 é
sugerir que o coríceito transmite o sentido de “consagração”. Este entendim ento
tem conquistado credibilidade em alguns círculos adventistas.29 Seu principal
apoio é tirado der contexto. O versículo 18 fala da consagração da primeira alian­
ça, e os versos 19-21 descrevem-na. Assim, argumenta-se que o versículo 23 pode
ser visto como um paralelo do versículo 18: “Por isso também o primeiro não foi
consagrado sem sangue.”
Porém, devemos rejeitar essa interpretação por três razões:

Primeira, o paralelo não é convincente. Enquanto os versículos 19-21 descre-


venraconsagração de um santuário, os versículos 24-28 não o fazem. Eles focalizam
Cristo e sua obra, não o santuário. Cristo se apresenta diante de Deus em nosso fa­
vor (v. 24); Ele se manifestou “para aniquilar, pelo sacrifício de si mesmo, o pecado”
(v. 26). Ou seja, o escopo do argumento é muito mais amplo do que a consagração
do santuário celestial. A passagem trata de mediação, não de consagração!
Segunda, o versículo 22 deve ser visto com o um intervalo contextual.
“quase todas as coisas, segundo a le i,'se-purificam com sangue-, e se rrn derra­
ma mento de sangue, não há remissão.” Q uando conferim os a este versículo seu
devido valor, o suposto paralelo é enfraquecido. M uitos exegetas de Hebreus
têm visto neste versículo a chamada “regra de sangue", uma base essencial
na argumentação do autor. O versículo claram ente trata de algo bem mais
amplo que consagração, uma vez que está tratando de ap h esis ( “libertação",
“perdão”) .30 O versículo 22 está resum indo a função do sangue no AT. Sem
A LUZ DE HEBREUS

a presença deste versículo, a interpretação sugerida da consagração teria um


forte apoio contextu al; com ele, o apoio desmorona.
Mas, o argumento mais forte contra essa visão, a meu ver, é a terminologia do
autor. Ele usa katharizein (“purificar”) não egkainizein (“consagrar”). Estes termos
não são equivalentes.
Nosso trabalho neste livro tem mostrado a necessidade de “ouvir” a voz
de Hebreus. Devemos evitar o erro de importar .ou sobrep or outras categorias à
linguagem de culto. Ao fazermos esta observação, não defendemos uma litera-
lidade rígida; apenas pedimos que se permita ao autor explicar seu significado
sem nos colocarm os no seu cam inho. Se considerarmos sua linguagem no seu
real teor, isto nos causa um problema conceituai, devemos estar preparados
— para re av a lia rm o s nossos conceitos. Dada a estrutura geral do esquema teo­
lógico de contaminação/sangue/purificação, tal reavaliação nos levará a uma
maior unidade lógica e teológica no desenvolvimento total.
Afirmamos, portanto, que o significado de Hebreus 9:23 é o que parece dizer
-'q u e o santuário celestial requer purificação. O .que tal purificação implica não é
—detalhado,- ne m-ma is- à~frente -no capítulo, nem em qualquer o u tra lugar do livro.
Os pioneiros relacionaram os conceitos de purificação do santuário celestial
com o “jidgamento investigativo” do povo de Deus. O livro de Hebreus anuncia
um julgamento, principalmente nas partes exortativas,31 mas não relaciona o con­
ceito de 9:23 - a necessidade de se purificar as coisas celestiais - com esse tema.
A idéia teológica mínima de tal visão é a seguinte: Céu e Terra estão interliga­
dos. O que acontece na Terra tem ramificações cósmicas que tocam o próprio Céu.
Qualquer separação platônica do reino de Deus e da humanidade foi posta abaixo.
Antes, « solução do problema do pecado —quando opróprio Deus assume a resolu­
ção do dilema humano - se estende ao coração do universo.
Tal concepção é desconhecida de muitos cristãos, mas não dos adventistas.
Com a percepção que temos do grande conflito entre C risto e Satanás, todos
vemos a salvação da humanidade num cenário cósmico. Nossos pioneiros viram
em Hebreus 9:23 apoio para esta visão. Afirmamos que sua percepção básica
estava correta.
v
O TEM PO DA OBRA PURIFICADORA DE C R IST O

Hebreus ensina que Cristo completou sua obra purificadora no Calvário? A


pergunta surge naturalmente do tema deste estudo. Hebreus 9:23 nos diz que Cris­
to, por ocasião de sua ascensão, purificou o santuário celestial?
Entretanto, precisamos esclarecer os conceitos do autor para que não leia­
mos em suas palavras mais do que ele pretendeu transmitir. C om o vimos, sua
argumentação em 9 :1 -1 0 :1 8 considera Israel (em sentido coletivo) e prossegue
CONTAMINAÇÃO/PUFUFICAÇÂO E HEBREUS 9:23

mais por meio de contraste do que por comparação. Em especial, ele compara
os repetitivos e inadequados sacrifícios do culto do A T com o sacrifício único e
suficiente de Cristo.
Com relação aos adoradores, essa comparação é também benéfica, expressa
pelo acesso a Deus e pela extensão da purificação. Acesso: os cristãos têm acesso,
pela fé, ao santuário "real”, onde o verdadeiro sumo sacerdote ministra (10:19-22;
12:18-24). Extensão: Enquanto o culto do AT provia-purificação cerimonial (sm-x
- a “carne”), o novo culto em Cristo provê purificação da suneidêsis (“consciên­
cia”- v e r 9:9, 13-14; 10:14).
Em outras palavras, a argumentação com respeito à purificação é moldada
em termos da relativa eficácia de sacrifícios - os muitos e inadequados sacrifícios
____ e_o sacrifício único e auto-suficiente que provê os meios de purificar a contam i­
nação humana.32
Mas existencialmente, essa apresentação não sugere que os cristãos não enfren­
tem mais nenhum perigo do pecado. Embora agora- eles sejam um povo santo (“san­
tificado”!), continuam sendo peregrinos e confrontando os perigos da. negligência,
--------- até mesmo-rejeição, da fé, como mostramos em-outro-lugar.— CristQ^tendo-feito-.a-
purificação dos pecados, proveu os meios para sua remoção, agora e etemamente
- não que o pecado tenha sido completamente removido.
^ Nem 9:23 necessariamente implica que “as coisas que se acham nos céus”
foram purificadas no Calvário. Como notamos, a idéia não é desenvolvida em He-
breus. O tempo no versículo é obscuro, temos apenas a observação da necessidade
de purificação das coisas celestiais.
De fato, o raciocínio do autor com relação ao ministério celestial de Cristo
não aponta em direção a uma obra completada.no .Calvário.34 Ao. passo, que dá
poucos detalhes relativos à natureza da função do sumo sacerdote, ele claramente
sustenta que um ministério está sendo tealizado agora.
Ele nos fala que Cristo vive para interceder sempre por eles (7:25); que Ele é
“ministro do santuário, e do verdadeiro tabemáculo” (8:2); que Ele é o “Mediador da
nova aliança” (9:15); que Ele comparece por nós diante de Deus (9:24); que este “com-
parecimento” envolve o aniquilamento do pecado pelo sacrifício de si mesmo (9:26).
É manifesto que a purificação dos pecados na cruz de modo algum nega a continuação
da atividade divina para o cumprimento do plano de redenção.
Assim, 9-23 é um importante versículo para-a compreensão.adventistas do sétimo
dia da doutrina do santuário. Tendo em mente que a argumentação de Hebreus recor­
da o Calvário, em vez de olhar para o futuro, não podemos usar este único versículo de
modo inadequado, podemos, contudo, recorrer a ele para fundamentar a idéia essen­
cial da necessidade da purificação das coisas celestiais.
Além disso, compreendendo que a completa argumentação teológica de He­
breus prossegue com referência ao sacrifício - todos os sacrifícios do A T e o sacrifí-
A LU Z DE HEBREUS

cio único de Cristo não deveriamos permitir que o livro seja forçado a referir-se
a temas alheios a seu propósito. Para ser preciso: Hebreus ensina que o grande
sacrifício, Jesus, proveu o que todos os animais não puderam- a solução para o
problema do pecado, um sacrifício que é capaz de purificar decisivamente. Não
menciona quando o santuário celestial deve ser purificado.

A REGRA DO SANGUE NA ARGUMENTAÇÃO

Temos visto neste capítulo que “sangue” é o tema central da argumentação teológica
de 9:1-10:18.0 sangue superior de Cristo, mais eficaz que todos os sacrifícios, capaz de nos
purificar do pecado e prover o acesso à presença de Deus, esta é a êníáse do autor.
E importante discernir o papel essencial do sangue no raciocínio, para que não
—se enfatize demais o dia da expiação. Há três referências evidentes ao dia da expiaçâo
nestes capítulos (9:7, 25; 10:3),35 mas elas fazem parte da argumentação maior relativa
ao sacrifício. Assim, também encontramos menções aos sacrifícios diários (9:9-10), o
sacrifício da novilha (9:13), os sacrifícios na consagração da aliança com Israel (9:18-20),
e o demais “sacrifício e ofertas, e holocaustos e oblações pelo pecado” (10:8-11).36
Enfatizámos: a intenção do autor não é mostrar que o Calvário é o antítipo do
dia da expiação do AT, mas que o Calvário é o antítipo de rodos os sacrifícios do
AT. Não devemos confundir função {do sacrifício) com-tempo.
Este assunto é importante em debates atuais entre adventistas, visto que alguns
têm buscado injetar (em nossa opinião iniusrificadamente) aspectos temporais na
interpretação de Hebreus. Em Hebreus, o tempo entra na argumentação somente
a este respeito: que no Calvário Deus proveu a única, auto-suficiente resposta para
o pecado. Mas Hebreus não trata do tempo da purificação do santuário celestial e
do julgamento (Hb 9:2 3 ).37

“P e r f e iç ã o ” n o l iv r o d e H ebreu s

A questão da perfeição tem sido há muito tempo tema de debate entre os


adventistas do sétimo dia. Em Hebreus, encontramos o vocabulário de “perfeição”
associado à argumentação a respeito da contaminação e purificação.
O autor de Hebreus trata da perfeição em dois aspectos: de Cristo e do povo.
As referências a Cristo são encontradas no contexto de sua prêparação para seu
ofício como sumo sacerdote. Elas não estão associadas ao complexo de idéias de
contaminação-purificação.

A respeito de Jesus, lemos:


2:10 “Porque convinha que aquele, por cuja causa e por quem todas as
coisas existem, conduzindo muitos filhos à glória, aperfeiçoasse,
por meio de sofrimentos, o Autor da salvação deles (operasse a
perfeita [teleioun salvação]).
CONTAMtNAÇÃO/PURIFICAÇÃO E HEBREUS 9:23

5:9 “E, tendo sido aperfeiçoado (tendo sido feito perfeito [teleioim]
tornou-se o Autor da salvação eterna para todos os que lhe obe­
decem,”

7:28 “Porque a lei constitui sumos sacerdotes a homens sujeitos à fra­


queza, mas a palavra do juramento, que foi posterior à lei, constitui
o .Filho, perfeito.[teleioim] para sempre.”

Qual a natureza da perfeição do Filho? Podemos, de inicio, descartar duas


possíveis interpretações.
Primeiro, não significa que Deus elevou Jesus ao nível do status divino que ele
não possuía antes. As palavras do apóstolo negam tal visão. Por exemplo, lembra-
_ mos o “sendo” de 1:2-3 (“sendo.ele o resplendox da glória” e não “tornando-se”). As__
passagens 5:7-9 e 7:28, que falam sobre sua perfeição, chamam-no “Filho”. Ou seja,
Ele não é um homem ou ser superior que, por causa de sua perfeição terrena, tor­
na-se qualificado para ser o Filho, mas é o Filho, enquanto Filho, que é perfeito.
Segundo, a perfeição não significa uma obra de purificar a humanidade do
_Filho. O autor não apresenta a experiência de lesus “nos dias da sua carne" (Hb 5 :7 )__
como uma derrota progressiva do pecado em si mesmo. O sermão38 contrasta a peca-
minosidade do homem comum com a pessoa incorruptível de Cristo:

4 : 15 “foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança”.

5:3, 9 Ele não compartilha da fraqueza m oral dos sacerdotes da li­


nhagem de Arão.

7:26 Ele é chamado de “santo, inocente, imaculado.”

7:27 Ele não necessitou, como os sumos sacerdotes, de oferecer sacri­


fícios, por seus próprios pecados.

9 :14 Ofereceu a si mesmo como sacrifício “imaculado a Deus”.

O contexto nos dá pistas para entendermos a natureza da “perfeição” do Fi­


lho. Notamos que ambas as passagens, 2:10 e 5:8-9, falam de sua perfeição por
meio do sofrimento, e três passagens relacionam a obra de perfeição à sua função
de sumo sacerdote (veja 2:17-18; 5:9-10; 7:27-28). A “perfeição” descreve as continu­
as experiências do Filho encarnado, experiências que o conduziram a novos níveis
de dependência de Deus, e então o qualificaram para ser nosso sumo sacerdote.
A "perfeição” do Filho indica um processo de aprendizagem. Jesus aprendeu, não
como fazemos freqüentemente, caindo e levantando para vencer da próxima vez,
mas pela submissão constante à vontade de Deus. Ele estava sempre aprendendo
o que significava estar em conformidade com a vontade divina. Era como se essa
vontade o desafiasse a agir até que a submissão trouxesse sofrimento. Mas Ele foi
A LUZ DE HEBREUS

adiante, constante mente desenvolvendo em si mesmo o plano divino, nunca des­


viando-se dele não importando o quanto isso custasse. O teste final era o maior. No
jardim, Ele clamou e chorou, mas mesmo lá ele foi adiante - para a cruz!
Como homem, Ele tornou-se um sofredor, um dependente, um aprendiz. As­
sim, por tudo o que Ele passou, Ele foi “perfeito”. Suas experiências humanas
- intensas, reais, genuínas - o tomaram completo para o oficio celestial de sumo
sacerdote, decretado pelo plano divino.39
As referências do aperfeiçoamento do povo de Deus ocorrem em um contexto
bem diferente, ou seja, o culto:

7:11 “se, portanto, a perfeição [teleiosis] houvera sido mediante o sa­


cerdócio levítico...”

7 :19 “(pois a lei nunca aperfeiçoou [teleioun] coisa alguma), e, por outro
lado, se introduz esperança superior, pela qual nos chegamos a
Deus.”

' 9 :9 “...e segundo esta, se oferecem tanto dons como sacrifícios, em-
------------------------- bora-estesnro tocante à consciência, sejam ineficazes para aper­
feiçoar [teleioun] aquele que presta culto.”

10:1 “Ora, visto que a lei tem sombra dos bens vindouros, não a ima­
gem real das coisas, nunca, jamais pode tornar perfeito [teleioun]
os ofertantes, com os mesmos sacrifícios que, ano após ano,
perpetuamente, eles oferecem .”

10:14 “Porque, com uma única oferta, aperfeiçoou [teleioun] para sempre
quantos estão sendo santificados.

Um estudo dessas referências, no contexto, sugere um duplo entendimento


de “perfeição” com respeito ao povo de Deus:
Primeiro, a “perfeição” está associada ao acesso a Deus: “(Pois a lei nunca
aperfeiçoou coisa alguma) e, por outro lado, se introduz esperança superior, pela
qual nos achegamos a Deus” (7:19).
Segundo, a “perfeição” está associada à su neidêsis purificada, a consci­
ência do pecado. N otam os um paralelo entre 9:9-10 e 9:13- 14.v Enquanto no
culto antigo as ofertas e sacrifícios não puderam “aperfeiçoar aquele que presta
o culto", o oferecim ento de Cristo pode “purificar a consciência”. Da mesma
forma, em 10:1-2. O s sacrifícios anuais não puderam “aperfeiçoar” aqueles que
se aproximavam a cada ano, pois havia uma “consciência” (suneidêsis) contínua
do pecado.
Assim, “perfeição ” em Hebreus (com relação ao povo de Deus) significa
os benefícios do novo culto. Não apontam um crescim ento no caráter ou uma
CONTAMINAÇÃO/PURJFICAÇÃO E HEBREUS 9:23

meta que os cristãos devem alcançar. Têm um sentido coletivo, abrangendo


o povo de Deus su jeito ao novo cu lto .40 “P erfeição” significa que o antigo
problema da contam inação foi solucionado por meio de um sacrifício que
provê purificação com pleta, abrindo totalm ente as portas para a presença de
Deus, e trazendo a um fim todos os outros sacrifícios e esforços hum anos na
busca da purificação.
Assim, em Hebreus, “perfeição” é usada em dois sentidos completamente di­
ferentes, embora relacionados; é afirmada no contexto individual de Jesus quando
o autor de Hebreus descreve essas experiências humanas que qualificaram o Filho
a ser designado sumo sacerdote, também é usada em um contexto coletivo para
resumir a finalidade do sacrifício de Cristo em remover todas as barreiras para o
aeesso-a Deus

C onclusão

O estudo dos temas de contaminação e purificação, no livro de Hebreus pode


os que buscam desvendar o raciocínio desse documento.
Todos os cristãos que priorizam a cruz de Cristo encontrarão aqui muitas conside­
rações que destacam seu sacrifício.
Entretanto, os adventistas, com seu conhecim ento do verdadeiro santuário
e do grande conflito, encontram isso e muito mais. Isso porque vemos exposto o
terrível dilema da humanidade sob o domínio do pecado, buscando o sangue ver­
tido, purificador, mas não encontrando uma resposta final. Vemos a resposta de
Deus, o Filho, que veio providenciar a purificação por meio de seu próprio sangue,
para tornar-se sumo sacerdote na .corte celestial com um sacrifício auto-suficiente,
eterno. E vemos os benefícios da graciosa provisão de Deus para nossa salvação:
acesso livre para o santuário celestial; o fim dos sacrifícios e esforços humanos para
a purificação; purificação em uma escala cósmica de modo que o universo logo
estará finalmente e totalmente livre da poluição do pecado.

“Um banho quer instituir,


Lavar-nos do pecado;
A morte amarga destruir
Por seu.sofrer. amargo.
Eis uma nova vida.”

- M artinho Lutero
“Hino de Epifania
A LUZ DE HEBREUS

N otas
1William G. Johnsson, “The Cultus of Hebrews in Twentieth-Century Scholarship”,
ExpT, vol. 89, N° 4 (1978), p. 104-108.
2 Além dos temas discutidos neste livro, oferecidos durante anos nas faculdades e
universidades adventistas do sétimo dia, considere-se, por exemplo, The Book o f Hebrews de
M. L. Andreasen (Washington, DC, 1984).
J Albion Foss Balleger, Cast Out for The Cross o f Christ (Tropico, CA, s.d.).
4 Desmond Ford, Daniel 8:14-The Day o f Atonement, and the Investigative Judge-
ment, um documento preparado pela Comissão de Estudos do Santuário (Glacier
View, CO, 1980).
5 Listei os livros e artigos sobre Hebreus de autores católicos romanos em William
— Sr^ohnsson,-“Issues in the Interpretation of Hebrews”, AUSS, vol. 15, N° 2 (1977),
p. 169-187.
6 Um exemplo admirável disso é mostrado por D. Bernhard Weiss, Der Hebra-
er brief in teits gerchichtlicher Beleuchtung (Leupzig, 1910). Weiss dedica 32 páginas
para Hebreus 22:12, 13, 25, nuas só L2 páginas para toda a argumentação cúltica de
— 8: 6-10081_____________________________________ _________

7 Essa argumentação é desenvolvida em minha tese de Ph.D., De/ilmsnt and Purgation


in the Book o f Hebrews (Vanderbilt University, 1973).
8 A concentração nas passagens selecionadas no livro em vez de ver o livro
como um todo somado a preocupações polêmicas e apologéticas provavelmente é
razão do fracasso.
5 William F. A m dt e F. W ilbur Gingrich, A Greek-English Lexicon o f the New Testament
and Other Early Christian Literature (Chicago, 1969) p. 439.
10 Arndt e Gingrich, p. 522.
11 Ibid., p. 388.
12 Não nos interessamos pelas ocorrências de louein (“lavar” ou “banhar”) ou bap­
tismos (“mergulhar” ou “lavar”) uma vez que esses termos não entram na argumentação
cultua! de Hebreus. Os termos que ocorrem em Hebreus 10:22 (“aproximeme-nes, com
sincero coração, cm plena certeza de fé, tendo o coração purificado de má consciência
e lavado [louein\ o corpo com água pura”); 6:2 (“E da doutrina dos batismos [baptismos],
e da imposição das mãos, e da ressurreição dos mortos, e do juizo eterno.”); e 9:10 (“...
baseadas somente em comidas, e bebidas, e diversas abluções, impostas até ao tempo
oportuno da reforma.”).
13 Hebreus 2:14.; 9.-.7, 12, 13, 14, 18, 19, 20,21, 22, 25; .10.-4,19, 29; 11:28; 12:4, 24;
13:11, 12, 20.
14 Arndt e Gingrich, p. 62.
15 Ibid., p. 123-124.
16 Ibid., p. 651.
17 Veja Defilement and Purgation in the Book of Hebrews.
18 Veja n. 13: depois 10:4 em lugar de “sangue” lemos “sacrifícios e ofertas" e “holo-
COMTAMINAÇÀO/PURIFICAÇÀO H HEBREUS 9:23

caustos e oblações” (v. 5-6), “Sacrifício e oferta, e holocaustos e oblações” (v. 8), “sacrifícios”
(v. 11), “sacrifício” (v. 12), “oblação” (v. 14), “oblação" (v. 18).
19 Observe principalmente Proceedings o f the X lth International Congress o f the In­
ternational Awociation for the History o f Religioru, vol. II: Guiít or Pollution and Rites o f
Purification (Leiden, 1968). Reuni outras informações em Defilement and Purification in
the Book o f Hebrews.
20 Paul Ricoeur, The Simbolism o f Evil, tr. Emerson Buchanan (Boston, 1969).
21 Na minha opinião, a tentativa de ver a linguagem do santuário de Hebreus como
metafórica ou ilustrativa é falha á luz de seu uso no livro. Veja William G. Jonhsson, “O
Santuário Celeste - Figurativo ou Real?”, cap. 3 deste livro.
” Ao passo que há breves menções ou pistas da singular doutrina adventista em
muitos livros da Bíblia, quatro em particular a fundamentam: Levitico, Hebreus, Da­
niel e Apocalipse.
23 Observe Hebreus 1:1-2: o mesmo Deus falou tanto por meio do AT como por meio
de Cristo!
24 Observe C. A. Pierce, Consciente in The Neui Testament (Chicago, 1955).
25 O termo é de A. C. B o u q u e t _________________________ ___________
2u Panorama Geral de Hebreus, cap. 2.
27 C. Spicq, L'Épitre aux He'breux, 2 vols. (Paris, 1952).
28 Veja n. 21.
29 Alguns comentaristas não-adventistas também sugeriram esta interpretação.
30 Amdt e Gingrich, p. 124.
31 Hebreus 2:2-3; 3:12, 17-19; 4:1, 11-13; 6:7-8; 10:26-31; 12:25-29; 13:17.
32 Veja Hebreus 10:14, mas compare 2:11.
33 Veja William G. Johnsson, “The Pilgrimage Motif in the Book o f Hebrews”, JBL,
vol. 97, N- 2 (1978), p. 239-51.
)4 A semântica é importante em discussões acerca deste tema. Ao afirmarmos a eterna
obra de Cristo como sumo sacerdote celestial, ressaltamos o sacrifício todo-suficiente no
Calvário. Esse sacrifício provê a base para sua obra sacerdotal.
35 Alguns comentaristas vêem muitas outras alusões ao dia da expiação no livro de
Hebreus, mas suas evidências são conrestáveis.
36 Além dos capítulos 9 e 10, encontramos outras referências a sacrifício: 5:1-3,
“dons e sacrifícios pelos pecados”, 7:27, sacrifícios diários pelo pecado; 10:29, “o sangue
da aliança”; 11:4, o sacrifício de Abel; 11:28, o sangue da Páscoa; e 12:24, o sangue da
nova aliança.
37 Aqui temos um resumo. Para uma discussão mais detalhada, veja “Alusões ao dia
da expiação”, no cap. 6 deste volume.
’8 Veja meu artigo neste volume “Panorama Geral de Hebreus”, cap. 2.
39 Esta compreensão da obra sumo sacerdotal de Jesus é apoiada de forma especial por
Hebreus 2:17, o qual por sua vez deve ser entendido como estando apoiado nas argumen-
A LUZ DE HEBREUS

tações dos capítulos 1 e 2. Algumas vezes, estudiosos das Escrituras têm argumentado, em
outras circunstâncias, que Jesus já era sumo sacerdote durante o periodo da encarnação; no
entanto, o livro de Hebreus se opõe a esta idéia.
* O vocabulário de “perfeição" na carta aos Hebreus tem atraido a atenção de estu­
diosos. Dentre as muitas contribuições à discussão que podem ser mencionadas, notamos
apenas duas: P. J. Du Plessis, Teleios: The Idea o f Perfection in tKe New Testament (Kampen,
1959); e Allen Wikgren, “Patterns of Perfection in the Epistle to the Hebrews”, NTS 6
(1959-1960): 159-60.

99

V
CAPITULO 6

A lusões ao dia da expiação

W lL L IA M G. JO H N SSO N

inopse editorial. Como devemos entender as alusões ao dia da expiação no


S livro de Hebreus.7A epístola aponta para a cruz como o antitipo do ritual do dia
da expiação, como alguns afirmam.7 Nesse caso, como podemos relacionar o inicio
do evento antitípico do dia da expiação - o julgamento pré-advento - com 1844?
"Estas são questões sérias, uma vez que envolvem as raízes da Igreja Adventista do
Sétimo dia. Iníelizmente, com o passar dos anos, alguns pastores e membros encon­
traram em Hebreus o seu “Waterloo Teológico” e se perderam.
O conceito do ministério sacerdotal de Cristo em duas fases no santuário celes­
tial foi “a chave” para a resposta do amargo desapontamento que nossos pioneiros
experimentaram em 1844. Por meio do livro de Hebreus, eles aprenderam que nem
a Terra nem a igreja era o santuário da Bíblia. Em vez disso, eles perceberam que
Cristo advogava em seu favor num santuário celestial do qual o tabemáculo/templo
israelita era tipo. E, a partir do tipo terrestre, eles compreenderam a importância das
duas divisões do ofício de Cristo.
Assim, os nossos pioneiros vieram a entender que em 1844 - o fim dos 2.300
anos da profecia de Daniel —Cristo entrou no lugar santíssimo para começar a
segunda fase do seu ministério sacerdotal como prenunciado pelo ritual do dia da
expiação. No término deste ministério, Ele voltará uma segunda vez para seu povo.
A partir dai, nossos pioneiros foram descobrindo uma série de verdades interliga­
das e as razões proféticas para o surgimento e missão do povo remanescente no fim
dos tempos.

Reimpressão de “The Significance of the Day o f Atonement Allusions in the Episde to che
Hebrews" (O Significado das Alusões ao Dia da Expiação na Epístola aos Hebreus), In: Amold V.
Wallenkatnpf e W . Richard Lesher, eds., The Sanctiiary and the Atonement (Instituto de Pesquisas Bíbli­
cas: Washington, DC, 1981), p. 380-93.
ALUSÕES AO DIA DA EXPIAÇÃO

Por que, então, o livro de Hebreus tem levado alguns adventistas a abando­
narem a igreja por causa da doutrina do santuário, quando idéias do mesmo livro
permitiram aos nossos pioneiros explicar o Desapontamento? A resposta parece
estar, pelo menos em parte, na falha de entender a argumentação principal da e-
pistola. Albion F. Ballenger (1861-1921), um ministro que abandonou a igreja em
1905 por causa da doutrina do santuário, pode ser tomado como exemplo. Seu
principal argumento de que Hebreus vê a cruz como o antitipo do dia da expiação
foi a expressão “além do véu” (Hb 6 :19-20). Ele inferiu desta expressão que em sua
ascensão, Cristo começou seu ministério no “além do véu”, isto é, no lugar santís­
simo do santuário celestial.
O autor deste capitulo concorda que os dados lingüísticos (AT hebraico,
e â tradução grega da Septuaginta do AT) parecem, em geral, apoiar a visão de
Ballenger de que a frase: “além do véu" refere-se ao lugar santíssim o. Entre­
tanto, ele argumenta que a exegese isolada de Ballenger da passagem 6:19-20
fez com que ele distorcesse a mensagem real e tirasse conclusões erradas. Diz o
escritor: “Ele fracassou ao estudar o livro de H ebreus por si só. O prim eiro prin­
cipio da exegese requer que o estudante considere o con texto .” Tal exame dõ
contexto poderia tê-lo conduzido a considerar o objetivo pelo qual as alusões
ao dia da expiação foram empregadas. O propósito do autor em empregar tais
alusões é essencial para uma compreensão correta de sua mensagem.
No livro de Hebreus'há três passagens claras que contrapõem a obra de Cristo
no Calvário e a metáfora dos serviços do dia da expiação (Hb 9:6-7, 24-25; 10:14).
Não é certo que haja oito outras passagens que sugerem tal alusão, mas se conce­
bermos que o autor faz referência ao dia da expiação, a questão importante é deter­
minar como as alusões devem ser entendidas. Talvez dever-se-ia afirmar neste ponto
o que é obviamente incontestável: todos os rituais de sacrifícios, sejam diários ou
anuais, públicos ou privados, apontavam para a cruz e cumpriam seus aspectos sa­
crificais na morte de Cristo. Todavia, outros aspectos dos sacrifícios podiam ter seu
total cumprimento somente em conexão com o ministério sacerdotal de Cristo
depois do Calvário.
E evidente que as alusões ao dia da expiação não são importantes para o
debate em Hebreus. A argumentação sacrifical (8 :1 -1 0 :1 8 ) não é a do dia da
expiação, mas a do sangue superior de Cristo. Sangue animal, quer na forma de um
sacrifício diário, pessoal ou anual, não poderia verdadeiramente tirar o pecado
(10:4). Mesmo no seu ponto mais importante - o ritual do dia da expiação - os rituais
levíticos eram inadequados.
A boa noticia, diz o autor de Hebreus, é que tudo em que falhou o sistema
antigo - incluindo o dia da expiação - devido à sua insuficiência inerente, foi agora
cumprido por Cristo no Calvário. No lugar de sacrifícios repetitivos, Ele fez um, de
A LUZ DE HEBREUS

uma vez por todas. E assim, por esse ato único, todas as barreiras entre a Divindade
e o homem foram abolidas, de modo que nós agora pudéssemos nos achegar con-
fiadamente à presença de Deus.
“Portanto, as referências de Hebreus ao dia da expiação não são designadas para
mostrar que o antitipico dia da expiação começou na ascensão (contrariamente à
visão de Ballenger), nem para sugerir a entrada ao lugar santíssimo para sua consa­
gração (contrariamente à visão de Andross), nem o cumprimento do ponto mais alto
do AT, o cumprimento completo com início em 1844 (não abordado em Hebreus).
Antes, a argumentação insiste no valor do sacrifício, contrastando o auge do culto do
AT com o supremo sacrifício de Jesus Cristo no Calvário.” A comparação e o con­
traste focalizam a eficácia do sacrifício de Cristo e o acesso direto à presença de Deus
proporcionada por ele.
Assim, o emprego das imagens do dia da expiação pelo autor destaca o fato
de que a morte de Cristo realizou a purificação permanente dos pecados e propor­
cionou o acesso a Deus - cumprimentos que mesmo o ritual, em seu ponto mais
intenso, não realizou. Portanto, não era intenção do autor prover uma exposição
detalhada do significado dos rituais diários e anuais. Tais questões possuem uma
importância muito grande para nós, mas elas não fazem parte da preocupação do
autor de Hebreus.

E s b o ç o d o c a p ít u l o

1. Introdução
2. A abordagem de Ballenger da expressão “além do véu”
3. Alusões ao dia da expiação em Hebreus
4. Interpretação das alusões ao dia da expiação

Antes, os adventistas do sétimo dia tinham o livro de Hebreus como uma fon­
te de nossa compreensão única do santuário e ministério celestiais. Conform e ar­
gumentei num capitulo anterior, a interpretação da linguagem cúltica de Hebreus
é carregada de pesadas conseqüências para a teologia adventista d ç sétimo dia. Se
assumirmos a posição de que o templo, o sacrifício e o ministério celestiais têm
significados meramente figurativos, nosso ensinamento sobre o santuário precisará
ser reorganizado.1
Este capítulo pressupõe os resultados da apresentação anterior, ou seja,
afirm am os que a linguagem cúltica de Hebreus corresponde ao m odelo do
judaísm o apocalíptico, e não ao m odelo de Filo, e aponta para um tem plo ce­
lestial real e um m inistério celestial de C risto tam bém real. Mas, desse modo,
surge uma nova questão sobre com o entenderem os as alusões ao dia da ex-
ALUSÕES AO DIA DA EXPIAÇÃO

piação no livro de Hebreus. Se o santuário celestial é verdadeiro, Hebreus


aponta para a cruz com o o antitipo do dia da expiação do AT?
A importância desta discussão é obvia. Se o Calvário é apresentado como o
dia da expiação do NT, o que dizer da nossa ênfase sobre 1844 como o inicio do
antitipico dia da expiação? Assim, o livro de Hebreus, ao qual os adventistas têm
recorrido tão frequentemente como o apoio para nossa doutrina mais distintiva,
provaria ser nosso W aterloo teológico.
Não é de se surpreender que a história dos adventistas do sétimo dia espalha
controvérsias a respeito desta questão.2 A tentativa mais famosa é Cast Out for the
Cross ofChrist4 [Banido pela Cruz de Cristo] de Albion Foss Ballenger. No entanto,
já em 1846, O. R. L. Crosier sentiu a gravidade do problema,4 e, em 1877, Uriah
Sm ith5 considerou essa questão. Também D. M. Canright6 argumentou que Jesus
entrou no lugar santíssimo na sua ascensão, 1.800 anos antes de 1844- Um líder
australiano da Igreja Adventista do Sétimo Dia, W. W. Fletcher, registrou essa ques­
tão com o umas das principais razões para sua apostasia.7 Outros que contribuiram
—ne-debate incluem-E.-E. Andtassr cujo livto-A More-Exceüent Ministry [Um_Minjsré-__
rio Mais Excelente],3 procurou contestar o trabalho de Ballenger, W. H. Branson,9
C.H. Watson,10 e W. E. Howell.11
Este assunto tem sido apresentado com fortes convicções e, muitas vezes, com
104 resultados dolorosos, à medida que alguns irmãos experientes e virtuosos se sepa­
ram dos caminhos da igreja por causa desta controvérsia. Assim sendo, requer-se
um cuidado especial em nossos dias à medida que procuramos compreender o
pensamento de Hebreus.
Não pretendemos considerar todos os argumentos de Ballenger.12 Nosso foco
neste capítulo está nas alusões ao dia da expiação em Hebreus e sua interpretação.
Conseqüentemente, limitaremos nossa crítica ao entendimento da frase: “além do
véu” por Ballenger, a qual é seu argumento principal em Hebreus para afirmar que
a cruz é o antitipo do dia da expiação. Então, voltaremos a Hebreus a fim de exami­
nar essas alusões ao dia da expiação, e, finalmente, tentaremos interpretá-las.

A ABORDAGEM DE BALLENGER DA EXPRESSÃO “ALÉM DO VÉU”

I-Iebreus-ó: 19-20 é a passagem■decisiva para o argumento de Ballenger:

A qual temos por âncora da alma, segura e firme, e que penetra além do véu, onde
Jesus, como precursor, entrou por nós, tendo-se tomado sumo sacerdote para sempre,
segundo a ordem de Melquisedeque.

Observe como sua argumentação baseia-se na falta de especificação na frase


“além do véu”:
A LUZ DE HEBREUS

Se as Escrituras tivessem dito em Hebreus 6:19 que Cristo tinha entrado no


“primeiro véu", então a questão estaria definida, mas simplesmente di: que Cristo
entrou “além do véu”. Considerando que ele usa o termo sem explicá-lo, assumin­
do que seus leitores entendam a que lugar ele se refere, surge a questão mais
importante: A qual lugar - além do primeiro véu, ou além do segundo - deve o
leitor entender que se refere o termo “além do véu”? Se o termo se refere ao pri­
meiro compartimento, então esperaríamos que tivesse sido aplicado de modo tão
universal no Antigo Testamento, que o leitor não hesitaria em aplicá-lo ao primeiro
compartimento. Mas, quando examinei cuidadosamente a questão, vi que o termo
“além do véu” no AT nunca se refere ao lugar da porta do tabernáculo, ou do pri­
meiro compartimento, mas sempre ao santíssimo, além do véu que separava o santo
do santíssimo. Vi que as Escrituras hebraicas nunca chamam a cortina da porta do
tabernáculo de um “véu”, muito menos de “o véu". Por outro lado, o termo “véu”
é aplicado à cortina que separa o santo do santíssimo, e o termo ‘além do véu’ se
aplica apenas ao santíssimo.'3

Conseqiientemente, observamos os seguintes pontos desenvolvidos por Ballenger:

O TERM O HEBRAICO PARA “vÉu” ( PÃRÕ KET)

Em cada caso o termo hebraico pãrõket aplica-se à segunda cortina, a que se­
para o santo do santíssimo. Por contraste, em todo o AT, a primeira é chamada de
"porta do tabernáculo”.14 Ballenger cita 23 referências ao pãrõket como apoio (Êx
26:31, 33, 35; 27:21; 30:6; 35:12; 36:35; 38:27; 39:34; 40:3, 21-22, 26; Lv 4:6, 17,
16:2, 12, 15, 21:23, 24:3; Nm 4:5; 18:7; 20-3 :1 4 ).
Quando examinamos essas passagens, encontramos em quase todos os casos que a
referência é claramente ao segundo véu. Em dois lugares, entretanto, o significado está
aberto à pergunta: (1) “Porém, até ao véu não entrará, nem se chegará ao altar, porque
tem defeito, para que não profane os meus santuários; porque eu sou o Senhor que os
santifico” (Lv 21:23); e (2) “Mas tu e teus filhos contigo atendereis ao vosso sacerdócio em
tudo concernente ao altar, e ao que estiver para dentro do véu, isto é o vosso serviço; eu
vos tenho entregue o vosso sacerdócio por oficio como dádiva; porém, o estranho que se
aproximar morrerá” (Nm 18:7).
Além disso, devemos observar que o segundo véu não é sçmpre designado
simplesmente como “o véu", isto é, por p ãrõk et sem uma amplificação: “tora do
véu, que está diante do testemunho” (Êx 27:21), “o véu que está diante da arca do
testem unho” (Ex 30:6), “o véu do reposteiro” (Êx 35:12), “o véu do reposteiro”
(Êx 39:34), “o véu do reposteiro” (Êx 40:21), “véu do santuário” (Lv 4:6), “véu
do testem unho” (Lv 24:3), e “o véu do reposteiro" (Nm 4:5). Assim, embora os
dados do A T sustentem o ponto de vista de Ballenger aqui, ele exagerou ao argu­
m entar que
ALUSÕES AO DIA DA EXP1AÇÃO

o Senhor invariavelmente aplica o termo [véu] à cortina que separa o lugar santo áo
lugar santíssimo. Ele nunca chamou a primeira cortina de “o véu” nas Escrituras
hebraicas. O Senhor era cuidadoso ao nomear as duas cortinas, para dar à primeira
o nome de “porta do tabemáculo" e à segunda”o véu”.15

O TERMO DA LXX PARA “ v É u ” ( k ATAPETASMÀ)

Ballenger agora volta-se para a Septuaginta:

Na Septuaginta nunca [sic], a primeira cortina é chamada de véu, com exceção nas
diretrizes para a construção e movimentação do tabemáculo, e então somente quando
é mostrado claramente a que cortina está se referindo.16

A palavra grega em questão é katapetasm a. E verdade que esta palavra,


que é usada também em Hebreus 6 :1 9 com o “véu”, é regularm ente usada
para designar o véu do segundo com partim ento. No en tan to , p ã r õ k e t ocorre
tanto com qualificação com o sem qualificação, com o em Êxodo 27:21 ( “véu
que está-diante-do testem unho”) e e m Ê x o d o 3 õ i 6 :( “véu que está d iante da—
arca do testem unho”).
No .mínimo em um lugar, contrariamente à posição de Ballenger, .o uso não
qualificado refere-se ao primeiro véu, como revela um estudo cuidadoso de Êxodo
26:31-37..Nos versículos 31-35, o segundo véu é mostrado com quatro colunas, co­
bertas de ouro, sobre quatro bases de prata (cf. Êx 3 7 :3 4 , onde o segundo véu tem
quatro colunas e bases de prata). No versículo 37 o katapetasma tem cinco colunas
cobertas de ouro e bases de cobre (cf. Ex 37:5-6, onde o primeiro véu tem cinco
colunas cobertas de ouro e bases de cobre). Claramente, a referência n o versículo
37 é ao primeiro véu; a afirmação de Ballenger de que “sempre quando o termo
véu aparece na Septuaginta sem classificação refere-se ao véu que separa o santo do
santíssimo”17, está incorreta, pelo menos neste caso.
Além desta falha na pesquisa de Ballenger, seu argumento quanto ao uso
de katapetasm a não é tão forte como o das ocorrências de p ã rõ k et, pois k a ta ­
p etasm a é usado na LXX para traduzir p ãrõk et > bem com o m ãsãk, e pode ser
usada também para as cordas no portão do pátio, o prim eiro véu e tam bém o
segundo véu.18

AS EXPRESSÕES “ ALÉM DO VÉU” E “ FORA DO V É u ”

Como um terceiro argumento, Ballenger examina os empregos de “além do


véu” e “fora do véu” no AT. Ele chega à conclusão de que as cinco menções da pri­
meira frase (Êx 26:33; Lv 16:2, 12, 15; Nm 18:7), “no pensamento de um pesquisador
das Escrituras hebraicas, quer dizer no lugar santíssimo, e não no primeiro comparti-
A LUZ DE HEBREUS

mento".*9 Ele então examina as passagens onde aparecem “fora do véu" ou “diante
do véu” (Êx 26:35; 27:20-21; 40:22, 26; Lv 4:6, 17; 24=1-3), e conclui que ambas as
expressões “referiam-se invariavelmente ao lugar santo, ou primeiro com partim ento" .20
O argumento, embora seja de peso, carrega um certo exagero. Já indicamos que a
menção em Números 18:7 é ambígua, mas que o termo “véu” está amplificado em
Êxodo 27:21; 40:21; e Levítico 4:6; 24:3.
Não está claro nesta seção se Ballenger está baseando seu raciocínio a partir
dos TM ou da LXX. Ele poderia ter fortalecido seu exemplo apelando para a LXX
na frase to esõteron tou katapetasm atos (“além do véu”). Essa expressão, que é encon­
trada em Hebreus 6:19, ocorre na LXX somente em Êxodo 26:33 e Levitico 16:2,
12, 15; e em cada caso, refere-se ao véu interior. É interessante notar em Números
_ _18il7 que a LXX tem endothen tou katapetasm atos.

O EMPREGO DO TERMO “o VÉU” NO NOVO TESTAMENTO

O apelo final de Ballenger é ao próprio Novo Testamento.21 Ele cita os três re­
latos sinópticos do rasgar do véu no dia da morte de Jesus (Mt 27:50-52; Mc 15:37-
38; Lc 23:44-45). E claro que em cada uma dessas referências encontramos “o véu
do santuário”, ao invés de, simplesmente, “o véu”. As passagens provavelmente se
reterem ao segundo véu; entretanto, esta parte não promove o argumento de forma
significativa. As três referências finais ao katapetasm a no N T vêm do próprio livro
de Hebreus (6:19-20; 9:3; 19:20).

U m a s ín t e s e d a p o s iç ã o d e B a llen g er

'Podemos sintetizar nossa avaliação do modo com o Ballenger se refere à


frase “além do véu” como se segue: (1) A palavTa usada para “véu” em Hebreus
6:19-20, katapetasm a, não pode resolver a questão quanto a que véu se está
referindo; (2) a verdadeira frase “além do véu” {to esõteron tou katapetasm atos)
usada em Hebreus 6:19 ocorre apenas quatro vezes na LXX e se refere ao segun­
do véu; e (3) embora, de um modo geral, os dados lingüisticos estudados por
Ballenger sustentem sua tese, ele exagerou no seu exemplo.
Até aqui, acompanhamos Ballenger na sua pesquisa do AT piara encontrar a
interpretação de Hebreus 6:19-20. Nossa principal critica recai no que ele falh ou em
fazer mais do que naquilo que ele apresentou ao debater a frase “além do véu”, isto
é, ele falhou ao estudar apenas o livro de Hebreus. O primeiro principio da exegese
é que o pesquisador leve em conta o contexto. Neste caso, Ballenger não deveria
simplesmente ter feiro a exegese de Hebreus 6:19-20 sem analisar o contexto; ele
deveria ter destacado as alusões ao dia da expiação no livro de Hebreus, o que pas­
saremos a fazer na sequência.
A l u s õ e s a o d ia d a ex p ia ç ã o

A l u s õ e s a o dla d a e x p u ç ã o e m H e b r e u s

Devemos primeiramente observar as referências incontestáveis ao dia da


expiação em Hebreus, das quais há três, e então listar outras possíveis alusões
no docum ento.

Referências incontestáveis ao dia da expiação

1. Hebreus 9:6-7. “Ora, depois de tudo isto assim preparado, continuamente


entram no primeiro tabernáculo os sacerdotes, para realizar os serviços sagrados;
mas, no segundo, o sumo sacerdote, ele sozinho, uma vez por ano, não sem sangue,
que oferece por si e pelos pecados de ignorância do povo”. Estes versículos focalizam
a preocupação do capimlo até aqui. Aparentemente, o esboço conciso do santuário
do A T com seus dois compartimentos - completado de forma um tanto brusca no
versículo 5 (“...dessas coisas, todavia, não falaremos, agora, pormenorizadamente.’’)
- foi fornecido para enfatizar os dois tipos de serviço', descritos nos versículos 6-7.
O contraste entre os dois compartimentos e seus ministérios é óbvio:

P rim eiro Tabernáculo Segundo Tabernáculo

a todo o tempo uma vez no ano


os sacerdotes o sumo sacerdote
muitos sacerdotes só o sumo sacerdote
cumprindo os serviços oferta de sangue

A referência ao dia da expiação do AT é inequívoca.


2. Hebreus 9:24-25. “Porque Cristo entrou não em santuário feito por mãos,
uma cópia do verdadeiro, mas no próprio céu, agora para comparecer na presença
de Deus em nosso favor. Nem foi para se oferecer a si repetidamente, como o sumo
sacerdote entra no Lugar Santo a cada ano com sangue alheio” (Tradução da RSV).
A versão R SV é claramente falha. O termo grego ta hagia deve ser traduzido como
“santuário” ou “lugares santos” tanto no versículo 24 como no 25! A R SV muda
de “santuário” (v. 24) para “lugar santo”. A tradução “lugar santo” é falha porque
o contexto aponta claramente para o dia da expiação (sumo sacerdote, a cada ano,
sangue. Cf. 9:7).
3. Hebreus 10:1-4. “Ora, visto que a lei tem a sombra dos bens vindouros,
não a imagem real das coisas, nunca jamais pode tornar perfeitos os ofertantes com
os mesmos sacrifícios que, ano após ano, perpetuamente , eles oferecem. Doutra
sorte, não teriam deixado de ser oferecidos, porquanto, os que prestam culto, ten­
do sido purificados uma vez por todas, não mais teriam consciência de pecado?
Entretanto, nesses sacrifícios, faz-se recordação de pecados todos os anos, porque é
A IU Z DE HEBREUS

impossível que o sangue de touros e de bodes remova pecados”. As especificações


“cada ano” e “sangue dos touros e dos bodes” novamenre indicam o contexto do
dia da expiação. Nestas três passagens, Hebreus contrapõe o sacrificio de Cristo ao
contexto do Yom Kippur do AT (dia da expiação). A segunda contém essa compa­
ração. Na primeira passagem, o bloco 9:1-10, que explica o antigo santuário e seus
serviços, é seguido pelo bloco de contraste 9:11-14, mostrando o sacrifício de Cris­
to. Semelhantemente, na terceira passagem, a menção dos sacrifícios antigos no
capítulo 1 0 :1 4 é contrastado com a obra de Cristo em 10:5-18. Logo nos ocupare­
mos da importância dessas informações, mas antes apresentaremos outras possíveis
alusões ao dia da expiação em Hebreus.

P o s s í v e i s a l u s õ e s a o d la d a e x p i a ç ã o

1. Hebreus 4:16. O "trono da graça” aqui é o antitipo do propiciatório do anti­


go culto. Diante do propiciatório o sangue era esparzido no dia da expiação; dessa
forma, pode-se argumentar que a alusão aqui é à obra antitípica de Cristo.
2. H ebreus 5:3. O dever do sumo sacerdote de oferecer sacrifícios pelos seus
"próprios pecados, é tambénrTpêlos pecados do povo, era uma exigência especifica
para o dia da expiação.
3. Hebreus 7:26-27. Novamente, é apontada a necessidade de os sumos sacerdotes
terrenos oferecerem sacrifícios por seus próprios pecados. A inclusão de cada dia, entre­
tanto, lança por terra a idéia de que a passagem seja uma alusão ao dia da expiação.
4. Hebreus 9: 5. A menção do “propiciatório” evoca os serviços do dia da
expiação. Mas não está claro que a descrição dos objetos nos versículos 1 4 esteja
apresentada de maneira a sugerir o ritual do dia da expiação, então, o ponto não
é convincente.
5. Hebreus 9 :8 . Já discutimos este versículo em outra parte. Argumenta-se
que o ensinamento aqui aponta para o primeiro compartimento ou compartimen­
to externo como símbolo da era do AT, e o segundo como símbolo da era do MT.
Isso relacionaria o periodo todo, desde o Calvário, com o dia da expiação. Entre­
tanto, como sugerimos, o “primeiro tabernáculo” aqui provavelmente aponta para
todo o santuário do antigo ritual, em contraste com o genuíno ou ‘Verdadeiro
tabernáculo” do santuário celestial (Hb 8 : 1-12). Isto é, o contraste e s t íentre os dois
santuários e não entre as duas eras.
6. Hebreus 9:1 3 . Maimonides indica que as cinzas de uma novilha eram es-
parzidas sobre o sumo sacerdote duas vezes durante os sete dias de isolamento antes
do dia da expiação.” Porém, não há sugestão de alguma conexão entre a cerimônia
da novilha e o dia da expiação no AT.
7. Hebreus 9:27-28. Visto que os antigos israelitas esperavam pelo regresso do
sumo sacerdote no dia da expiação, pode-se argumentar que os cristãos aguardam
A l u s õ e s ao d ia da expia ç ã o

o regresso de seu Senhor do Santo dos Santos, onde adentrou em sua ascensão.
Contudo, é evidente que essa idéia não é o objetivo primordial da passagem, mas
um acréscimo questionável.
8. Hebreus 13:10-11. No dia da expiação as carcaças do novilho e do bode
da expiação eram queimadas fora do arraial (Lv 16:27). Mas a questão não está
bem definida porque esse procedimento também era seguido por algumas ofertas
de pecados, em outros momentos que não no dia da expiação (Êx 29:14; Lv 4:12;
8:17; 9:11).
Portanto, ao pesquisarmos encontramos pelo menos três passagens em He­
breus onde o sofrimento de Cristo no Calvário é contrastado com os serviços do
dia da expiação do AT. Não é certeza de que outras passagens sugeridas como alu­
sões ao dia da expiação devam ser interpretadas assim.
Agora consideraremos o significado das alusões inquestionáveis de Hebreus
ao dia da expiação.

— I n t e r p r e t a ç ã o d a s a l u s õ e s a o d ia t d a e x p i a ç ã o

Há pelo menos duas maneiras de se entender as referências em Hebreus ao


dia da expiação.

Sob o princípio do duplo cumprimento

Pode-se sustentar que o dia da expiação levitico possui um cumprimento ini­


cial na cruz, o que de maneira alguma diminui sua aplicação futura à purificação
do santuário celestial que começou em 1844. Isso estaria em conformidade com
a tensão do “ainda não” que permeia o NT.23 Diversas afirmações de EUen White
parecem defender tal interpretação. Embora ela aplique de forma clara o dia da
expiação aos acontecimentos que tiveram início em 1844,24 em alguns lugares cia
parece ver um cumprimento na cruz:
Foi feito o grande sacrifício. Acha-se aberto o caminho para o santíssimo. Um
novo, vivo caminho está para todos preparado. Não mais necessita a pecadora, aflita
humanidade esperar a chegada do sumo sacerdote. Dai em diante, devia o Salvador
oficiar como sacerdote e advogado no Céu dos Céus.25

O propiciatório, sobre o qual a glória de Deus repousava no santíssimo, está aber­


to a todos que aceitam Cristo como propiciação pelo pecado, e, por meio desta inter­
mediação, eles são trazidos à comunhão com Deus. O véu está rasgado, as paredes di­
visórias desfeitas, o registro das ordenanças foi cancelado. Em virtude de seu sangue,
a inimizade está abolida. Pela fé em Cristo, judeus e gentios poderão tomar parte do
pão da vida.26
A LUZ DE HEBREUS

Um novo e vivo caminho, diante do qual nenhum véu pende, é oferecido a


todos. A humanidade pecaminosa e sofrida não precisa mais aguardar a vinda do
sumo sacerdote.17

Deve-se levantar a questão quanto a se estas afirmações não são uma nova for­
ma dos ensinamentos de Ballenger. Deve-se lembrar que Ellen G. White escreveu a
respeito do ponto de vista dele:

As provas do pastor Ballenger não são confiáveis. Uma vez aceitas, destruirão a fé
do povo de Deus na verdade que nos tornou o que somos. Não devemos hesitar com
relação a este assunto; pois o que ele está tentando provar por meio das Escrituras não
é razoável.;s

----------- E llen G .W h ite tinha a intenção de desaprovar cada aspecto da interpretação


de Ballenger? Infelizmente, não temos uma discussão sobre seus ensinamentos re­
gistrada por W hite.25 Os pontos de vista de Ballenger, contudo, abrangiam vários
assuntos e incluíam o seguinte: (1) O ministério do santuário celestial existiu desde
a queda d o homem ’até a Parousia;30 (2) O ministério no primeiro compartimento
— teve início na queda e findou-se-eom a crucifixãc;31 (3) Cristo não se tomou sumo
— sacerdote até após sua encarnação - o ministério no primeiro compartimento era
conduzido por Melquisedeque e os anjos;32 (4) pelo fato de Cristo ter concordado
em carregar sobre si o pecado do homem no momento da queda, Ele foi fisicamen­
te separado de seu Pai por 4 mil anos até a ascensão;33 (5) O ministério no segundo
compartimento deu-se inicio com a ascensão de Cristo e termina na segunda vin­
da34 (6) O sangue das ofertas diárias do A T representava somente a confissão do
pecador e a oração pela remissão da culpa, ao passo que apenas o sangue aspergido
diante do propiciatório representava o substituto do pecador.35
O duplo cumprimento, obviamente, difere da visão de Ballenger. Ele nega
que o dia da expiação foi completamente cumprido na cruz, como Ballenger pro­
pôs. Apresenta alguma similaridade com a interpretação de Andross, que viu uma
obra limitada de C risto em sua ascensão ao inaugurar ou ungir o santíssimo.36
A meu ver, esta visão não interpreta corretamente a função e a ênfase das
alusões ao dia da expiação em Hebreus. Considerar essas alusões à luz do desenvol­
vimento teológico completo do documento é interpretá-las de formswdiferente, ou
seja, com base na eficácia do pecado.

A EFICÁCIA DO SACRIFÍCIO

Devemos, primeiramente, localizar as alusões ao dia da expiação em Hebreus


e então buscar entender suas funções.
1. O papel das alusões ao dia da expiação. O tema do dia da expiação não é
central na argumentação de Hebreus com relação ao sacrifício. Embora seja impor-
ALUSÓES ao d ia d a ex p ia ç ã o

tante nas três passagens que já observamos, não é a única ênfase. Antes, é parte de
um complexo de referências ao culto: 5:1-3 “dons e sacrifícios pelos pecados”, 7:27, o
sumo sacerdote oferecia sacrifícios diários pelos seus próprios pecados e pelos pecados
do povo; 9:9-10, "dons e sacrifícios ...comidas...bebidas...várias abluções”; 9:12, “o
sangue de bodes e bezerros”, 9:13, "o sangue de touros e bodes...as cinzas de uma no­
vilha”; 9:18-21, ratificação da primeira aliança pelo sangue de bodes e bezerros; 10:8,
sacrifícios, ofertas, holocaustos, oblações pelo pecado; 10:11, os serviços diários do
antigo santuário; 10:29, “o sangue da aliança”; 11:4, o sacrifício oferecido por Abel;
11:28, o sangue da Páscoa; e 12:24, o sangue da nova aliança.
O tema do dia da expiação em Hebreus deve ser colocado dentro de seu
contexto cúltico mais amplo. A meu ver, a primeira interpretação confere a
este tema uma. im portância indevida. C onform e argumentei em minha tese,”—
o tema central da argumentação de Hebreus (8:1-10:18) é o sangue superior em
vez de o dia da expiação. Com o o apóstolo apresentou anteriorm ente, o Filho
superior aos anjos, o sacerdócio superior, m elhor aliança, o sumo sacerdote su­
p erior e o mais perfeito tabernáculo, então aqui ele fala do sangue superior. É o
tema de .haim a.(sàngue) que-Liga-as várias-r-e-ferências aos-saerificios diários:-no-—
vilha, inauguração da aliança e Yom Kippur. N otam os isso nas três declarações
enfáticas: “não sem sangue” (9:7, 18. 22). na lógica de 9:13-14 (se o sangue dos
touros e bodes ...muito mais o sangue de C risto), e no axioma fundam ental da
passagem, a “regra do sangue" de 9:2 2 - sem haim atekchu sia (“derramamento
de sangue”), sem aphesis (“perdão”). Este tema central do sangue não deve ser
substituído - ele reúne todo o discurso sobre sacrifício, oferta e Dia da Expia­
ção; apenas ele pode trazer a purificação do problema hum ano da contam ina­
ção apresentado no livro de Hebreus.
2. A função das alusões ao dia da expiação. Por que, então, o dia da expiaçã
esrá presente no discurso? Porque era o ponto alto do antigo culto. Era o dia em
que o homem (embora apenas um) entrava no santíssimo; era o dia da remoção dos
pecados de Israel. A argumentação de 8 :1 -1 0 :1 8 é desenvolvida a fim de enfatizar
a superioridade do sangue de Cristo; nela ressalta-se o fato de que a despeito de
todo o valor que os sacrifícios do AT possam ter tido, não podiam em si mesmos
exterminar o pecado: “Porque é impossível que o sangue dos touros e dos bodes re­
mova pecados” (10:4). Então, a argumentação é a de que os serviços do AT, mesmo
os mais importantes, eram inadequados, pois proviam um acesso limitado a Deus
(apenas um homem) e sua própria natureza repetitiva demonstrava seu fracasso:
"Doutra sorte, não teriam cessado de ser oferecidos?” (10:2). Assim, mesmo o dia
da expiação anual expunha a necessidade de Israel, pois demonstrava acesso limita­
do e insuficiência em exterminar pecados.
Assim, finalmente, todo o culto deve ser posto de lado no plano divino ("até ao
tempo oportuno de reforma”, 9:10). Se o sistema de sacrifícios prova ser insuficiente,
toda a estrutura deve ser considerada inadequada. Mas, diz Hebreus, as boas novas
A LUZ DE HEBREUS

são o sangue superior1. Tudo aquilo em que o antigo sistema talhou devido a sua ine­
rente insuficiência, tudo o que os dias de expiação não puderam cumprir, agora foi
alcançado pelo Calvário. No lugar de muitos e repetitivos sacrifícios, há um sacrifício
eterno. Por este ato único, todas as barreiras entre Deus e o homem foram abolidas
a fim de que possamos nos achegar à presença de Deus. Finalmente foi feito um
sacrifício capaz de trazer a eterna purificação do pecado. As referências ao dia da ex­
piação em Hebreus, portanto, não tinham a intenção de mostrar que o antitipico dia
da expiação teve inicio na ascensão (como diz Ballenger), nem a intenção de sugerir
a entrada ao lugar santíssimo para sua consagração (conforme Andross), tampouco
para mostrar o primeiro cumprimento do ápice do AT, o completo cumprimento que
se iniciou no ano de 1844 (e não mencionado por Hebreus).
~ Antes, a argumentação oscila entre o valor do sacrifício, em oposição ao ápice
do culto do A T com o grandioso feito de Jesus Cristo no Calvário. A meu ver, o
elemento temporal não está sendo considerado aqui (Hb 9:1-5 já deveria nos ter
desviado da tentativa de racionalizar de tipo a antítipo nesta parte). A comparação
e o contraste, conforme claramente demonstrado em Hebreus 9:13-14, enfoca a
eficácia do sacrifício. Com o notamos de acordo com a primeira interpretação das
alusões ao dia da expiação, Ellen G. W hite algumas vezes emprega a linguagem de
Hebreus do “novo e vivo cam inho” e do “véu”. Quando ela faz isso,-compartilhe
os conceitos de Hebreus - um sacrifício que forneceu total purificação do pecado
e ilimitado acesso a Deus.

C o n c lu sã o

Balleger, err. seu esforço para compreender o livro de Hebreus, falhou ao desconsi­
derar o contexto mais amplo - o retrocesso e a continuidade da argumentação. Tem-se
impressão de que a frase “além do véu” ocupou um lugar muito grande em seu pensa­
mento, a ponto de impedi-lo de perceber o desenvolvimento do raciocínio deste docu­
mento cuidadosamente elaborado. Do mesmo modo, ele procurou introduzir questões
de tipologia e eventos que não fazem parte das considerações do apóstolo.
O raciocínio de Hebreus 8:1-10:18 teria solucionado seu dilema se ele tives­
se se demorado o tempo suficiente nessas passagens. Ele deveria <er visto que a
argumentação total sobre o culto, com suas referências aos sacrifícios, santuários,
e o dia dc expiação, é descrita para m ostrara magnificência do cristianismo - Je­
sus Cristo, nosso sumo sacerdote, com um sacrifício suficiente e único. Assim, a
expressão “além do véu” teria sido vista de forma panorâmica - mostrando o que
Cristo realizou para destruir todas as barreiras entre Deus e o homem.
ALUSÕES AO DIA DA EXP1AÇÃO

N otas

1 William G. Johnsson, "O Santuário Celeste - Figurativo ou Real?”, cap. 3 deste livro.
2 Ao escrever este parágrafo, pesquisei o material de Norman Young num artigo não
publicado intintlado “The Checkered History of the Phrase ‘W ithin the Veil'”.
3 Publicado pelo autor, Tropico, CA, s.d.
4 O. R. L Crosier, “The Law .of Moses”, The Day Star (7 de Fevereiro de 1846), p. 41.
s U riah Sm ith, The Sanctuary and the TwenCy-three Hundred Days o f Daniel VIII (Battle
Creek, MI, 1877): 221 ff.
6 Dudley M. Canright, Seventh-day Adventism Renounced (Nova Iorque, 1899), p. 122.
7 The Reasons for My Faith, (Sidney, 1932), p. 11
8 Mountain View, CA, 1912.
9 Reply to Canright (Washington, DC, 1934), p. 181-91.
10 The Atoning Work of Christ (Washington, D.C., 1934), p. 181-91.
11 “The Meaning of the Veil”, The Ministry 13/11 (1940): 13ff.
12 Para um estudo mais detalhado, veja Arnold V. Wallenkampf, “A Brief Review of
Some of the Internai and Externai Chalengers to the Seventh-Day Adventist Teachings
on thíTSanctuary and the Atonement”, The Sanctuary and the Atonement, eds., Arnold V.
Wllenkampf e W. Richard Lesher (Washington, DC, 1981), p. 582-603; reimpresso em
Frank B. Holbrook, ed., Q octrineof lhe Sanccuary: A Histórica! Survey (Washington, DC,
1988), Apêndice B.
13 Ballenger, p. 20-21.
14 Ibid., p. 21-27.
15 Ibid-, p. 27.
16 Ibidem
17 Ibid., p. 27-28. Estou em divida com o aluno de doutorado da Andrews University,
Lloyd A. Willis por levantar esta questão.
18 Veja Êxodo 38:18; 39:40; Números 3 :2 6 ; 4 :3 2 ; veja também o Apêndice B
deste volume.
19 Ballenger, p. 29.
20 Ibid., p. 30 (grifo nosso).
21 Ibid., p. 30-34.
2' Veja F. F. Bruce, The Epistle to the Hebrews (Grand Rapids, 1971), p.203-4.
23 Os escritores do NT comparam a esperança da parousia e cumprimento final do
plano de redenção com-.o -que foforealizado nu inaugurado pelo primeiro advento e pela
cruz, por exemplo, o tema “reino”.
24 Veja Ellen G. W hite, Primeiros Escritos (Tatui, SP, 1999), p. 244, 251-54; Idem,
O Grande Conflito, p. 352, 400, 421-22, 433, 480, etc.
25 Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações (Tatui, SP, 2000), p.757.
26 Francis D. Nichol, ed., The SDA Bible Commentary , vol. 5 (Washington, DC,
1980), p. 1109.
A LU Z DE HEBREUS

27 Ibidem.
28 Carta N° 329, 1905.
29 Ellen G.W hite fez sérias advertências contra os ensinamentos de A. F. Ballenger,
mas não indica que áreas especificamente tinham falhas. As seguintes declarações são sig­
nificativas: “Não há verdade na explicação que o pastor Ballenger e seus associados estão
apresentando das Escrituras. As palavras estão certas, mas mal empregadas para vindicar o
erro. Não devemos aprovar seu raciocínio. Ele não é guiado por Deus... ‘Sou instruída a di­
zer ao Pastor B. que suas teorias, as quais carecem de muita explicação, não são verdadeiras
e não devem ser trazidas ao rebanho de Deus.’” - MS Release 737 (20 de maio de 1905).
“Se as teorias que o irmão B. apresenta fossem recebidas, levariam muitos a se apartarem
da fé. Iriam opor-se às verdades sobre as quais o povo de Deus têm se mantido nos últimos
cinqüenta anos. Sou instruída a dizer em nome do Senhor que o Pastor B. está seguindo
I anu falsa luz. Não é o Senhor quem está lhe dando a mensagem concernente ao serviço
do santuário.” - MS 62, 1905 (24 de maio de 1905). “O pastor B. pensa que tem nova luz,
e que é sua responsabilidade transmiti-la ao povo; mas o Senhor tem me instruído que ele
~ tem feito mal uso de textos das Escrituras e dado a elas uma aplicação errada. ‘Arrependa-
•se da inclinação de distinguir-se a si mesmo .como um homem que .possui grande luz. Sua
-— suposta-luz me_é_mQSJrada_cojno_grande escuridão, a qual lhe conduzitá_a_um caminho
-__estranho.'” MS 145, 1905. “Então, vejam, é impossível para nós concordar com as posições
assumidas pelo irmão A. F. Ballenger; pois nenhuma mentira provém da verdade. Suas pro­
vas não são de onde ele as coloca, e embora ele possa levaT mentes a acreditar em sua teoria
com relação ao santuário, não há evidência de que sua teoria seja verdadeira.” - Carta 50
(30 de janeiro de 1906).
30 Ballenger, p. 45.
31 Ibid., p. 56
32 Ibid., p. 83
__ 33 Ibid., pp. 45-46
34 Ibid., p. 56.
35 Ibid., p. 40-41.
36 Andross, p. 53.
37 William G. Johnsson, De/iiement and Purgation in the Book o f Hebrews (tese não-publi-
cada, Vanderbilt University, 1973), cap. 4.
r
C a p ít u l o 7

T ipologia no livro de H ebreus


R ic h a r d M. D a v i d s o n

A NATUREZA DA TIPO LO G IA BÍBLICA

inopse ed itorial. Os adventistas do sétimo dia afirmam que passagens como


Hebreus 8:5 e Hebreus 9:24 ensinam que o santuário israelita funcionava
xom nujm a-“rèpliea”-ôi-: eom 0 -uma-sombra-tipo que apontava para uma realida­
de ainda maior, o verdadeiro santuário no Céu (Hb 8:2). Conseqüentemente, o
santuário terrestre .constituído por seus dois compartimentos (sendo que cada
ministério possuía sua respectiva função) serve de instrução aos cristãos e for­
nece dados im portantes sobre a natureza do ministério sacerdotal de Cristo no
santuário celestial.
Alguns argumentam, contudo, que tipos bíblicos não podem ser usados para
estabelecer uma doutrina e que o livro de Hebreus, por si, só é a norma suprema a
•ser segtridapara a interpretação dos tipos d© santuário. Afirma-se que o escritor do
livro de Hebreus enfatizou a divergência entre o tipo e o antitipo a tal ponto que fez
ruir sua harmonia fundamental. Por essa razão, conclui-se que não é razoável traçar
uma relação básica entre os santuários terrestre e celestial.
Obviamente, tal postura nega que o sacerdócio de Cristo se constitua de duas
fases em sucessivas ministrações (correspondente às ministrações nos dois compar­
timentos do santuário terrestre). Também rejeita a idéia de que o ministério de
Cristo no segundo compartimento tenha começado em 1844, a chave dos pionei­
ros para a explicação do desapontamento milerita.
•A fim de examinar a validade destas objeções, o escritor deste capítulo inves­
tiga o tema da tipologia bíblica. Nesta seção, ele descreve as características da tipo­
logia nos escritos do N T (independentemente do livro de Hebreus). Numa seção
posterior, ele compara a tipologia geral com a tipologia encontrada em Hebreus.
Por fim, aplica os resultados de sua pesquisa às declarações acima.
A palavra “tipo” é derivada do grego tupos, e suas formas correspondentes
aparecem 20 vezes no NT. Uma análise das passagens onde o escritor do N T utiliza
TIPOLOGIA NO LIVRO DE HEBREUS

esses termos para interpretar o AT indica que cinco características ou “estruturas”


são inerentes aos tipos bíblicos.
1. A estrutura histórica. Os tipos têm suas raizes na história. Personagens
históricos (Adão, etc.), acontecimentos (o êxodo, o dilúvio), ou as instituições (san­
tuário) são usados como prefigurações. Seus antítipos no N T são também realida­
des históricas.
2. A estrutura escatológica. Os tipos se caracterizam por acontecim entos
do tempo do fim. Por exemplo, Israel e sua experiência no deserto é uma figura
dos cristãos no tempo do fim, “para quem já são chegados os fins dos séculos”
(IC o 10:6; II).
3. A estrutura cristológico-soteriológica. Os tipos do A T têm seu cumpri­
mento em Cristo ou em algum aspecto de sua obra salvifica. Por exemplo, Adão é
visto como um tipo de Cristo (Rm 5:14).
4. A estrutura eclesiológica. Os tipos também possuem um aspecto congre-
gacional. Por exemplo, a salvação de Noé e sua família “pela água” tem seu antitipo
na ordenação do batismo, o qual salva a congregação cristã por meio da ressurrei-
ção de Jesus Cristo Q F è 3 :20-21).
5. A estrutura profética. Os tipos do A T apontavam para o futuro, poden­
do ser vistos como prefigurações da realidade correspondence do NT. C om o foi
mencionado acima, Adão, como um tipo, leva consigo uma ênfase cristológica,
mas também tem um aspecto profético, pois Adão é visro como uma “prefiguração
daquele que havia de vir” (Rm 5 :14).
A visão pós-critica da tipologia, que recentemente vem sendo defendida por
estudiosos do Movimento Bíblico Teológico, não considera que a historicidade de
um tipo seia essencial, posição que reieita o conceito de que um tipo é uma pretigu-
ração com propósito e perspectiva. Essa escola de pensamento se satisfaz apenas em
ver analogias e paralelos gerais nas semelhantes formas de atuação divina.
Em oposição a isso, as cinco “estruturas” ou características provenientes des
dados bíblicos reafirmam o ponto de vista mais tradicional: a tipologia bíblica é edi-
ficada sobre uma realidade histórica de ambos, “tipo” e “antitipo”, e consiste numa
prefiguração profética projetada divinamente, envolvendo, por vezes, detalhadas
correspondências entre as realidades do Antigo e do Novo Testamento, bem como
entre as situações semelhantes de modo geral.

E sbo ç o da seç à o

1. Introdução
2. Novo interesse
3. Estruturas da tipologia
A lU Z DE IlEBREUS

In trodução

Estudos recentes sobre a epístola de Hebreus geralm ente concordam


que a tipologia tem uma função m uito im portante na argum entação, parti­
cularm ente quando o autor fala sobre o santuário e seus serviços. Ao mesmo
tempo, a literatura atual revela nítidas divergências de opinião em questões
ligadas à natureza e à função da tipologia na epístola. Essas questões podem
ser divididas em quatro áreas principais, e cada uma será enfocada num a outra
seção deste capitulo.
A primeira, e também mais ampla, categoria pertence à natureza da tipologia
bíblica em geral. Duas visões modernas da tipologia - a “rradicional” e a “pós-criti-
ca” - declaram representar a perspectiva bíblica fundamental atualmente. Uma vez
que elas divergem em pontos tão críticos, é vital que demos atenção à natureza da
tipologia nas Escrituras como um todo.
Sendo assim, a primeira parte deste estudo apresenta as diferenças principais en­
tre os dois pontos de vista atuais da tipologia bíblica. Forneceremos um breve resumo
dás análises das características ou dãs "estruturas" da tipoiogia â medida que aparecem
~ nas Escrituras. Essas análises foram feitas por mim e publicadas anteriormente.1
A segunda área principal aborda a relação entre a tipologia de Hebreus e a
perspectiva tipológica encontrada em outras partes das Escrituras. Várias pesquisas
recentes argumentam que a tipologia vertical (terrestre/celestial) em Hebreus é um
vestígio de formas de pensamento místico ou dualista estranhos à Bíblia. Várias dis­
cussões em tom o desse tema baseiam-se na distinção entre a tipologia vertical em
Hebreus e a tipologia horizontal (histórica) usada por outros escritores da Biblia. A
conclusão a que se chega é que somente a tipologia horizontal é aceitável no ponto
de vista moderno.
Na segunda parte deste estudo, procuraremos analisar as estruturas conceituais da
tipologia em Hebreus e determinar como são comparadas ou contrastadas com aquelas
encontradas em passagens ripologicamente representativas em outros livros da Biblia.
A terceira parte tem a ver com a base do AT para a tipologia do santuário em
Hebreus. O autor de Hebreus (8:5) baseou sua tipologia vertical (terrestre/celes­
tial) do santuário citando Êxodo 25:40. Mas argumenta-se recent&mente que, em
oposição ao que é afirmado em Hebreus, a passagem de Êxodo não apóia uma cor­
respondência vertical entre os santuários terrestre e celestial. Consequentemente,
nessa terceira parte, teremos uma exposição de Hebreus para examinar se Êxodo
25:40 indica uma tipologia vertical do santuário.
O quarto grupo principal gira em tom o da pergunta sobre a relação entre tipo
e antitipo em Hebreus. Essa área é particularmente significativa à luz da discussão
dos adventistas do sétimo dia sobre a doutrina do santuário.
T ip o l o g ia no l iv r o d e h e b r e u s

Os adventistas do sétim o dia concluem , a partir de versículos tais como


Hebreus 8:5 e 9:24, que o santuário terrestre do A T é uma cópia ou um modelo
do santuário celestial. Sustenta-se, portanto, que há uma harm onia básica entre
o contorno essencial do “tipo” e “antitipo”. O autor de Hebreus reconhece que
o terrestre é uma “som bra” que aponta para a realidade maior, o “verdadeiro”
santuário no Céu. C ontudo, ele ainda mantém a harm onia fundam ental entre
“tipo” e “antitipo”. O santuário terrestre, com seus com partim entos e serviços,
é tido como um modelo que esclarece os contornos básicos do santuário celes­
tial do NT.
Recentem ente, porém, argumenta-se que no livro de Hebreus há uma “de­
sigualdade trem enda” entre tipos e antitipos, e que o santuário terrestre é fre-
qüentemente rejeitado por causa de suas “fraquezas e inutilidade”. Sustenta-se
que os “repetidos desvios", por parte do autor, dos tipos do santuário do AT a
fim de explicar a realidade celestial do N T e seu “esforço para adequar o tipo às
crenças cristãs”, contribuiu para o colapso da harm onia fundam ental entre tipo
e antitipo. Várias afirmações relacionadas à interpretação da tipologia em He­*1234
breus estão baseadas ou intim am ente relacionadas com esse argumento geral:
1. A tipologia não pode ser usada para estabelecer doutrinas, somente
para ilustrar aquilo que é ensinado em outro lugar num a linguagem clara e
não-simbólica.
2. Argumentos não devem relacionar tipos do A T com antitipos do NT, mas
somente vice-versa - do celestial ao terrestre.
3. O autor de Hebreus não se preocupa com os detalhes do tipo do AT. Ele fre-
qüentemente modifica o tipo para ajustar-se ao cumprimento do NT, e se confunde
ao discutir os detalhes que menciona.
4. O livro de Hebreus é a norma suprema para se interpretar os tipos do
santuário do AT, visto que somente nesse livro encontramos interpretações do NT
referentes aos ministérios do primeiro e do segundo compartimento.
Tais afirmações com respeito à relação de “tipo” e “antitipo” em Hebreus re­
querem séria consideração. Examinaremos essas afirmações na parte final deste
capitulo. Embora este estudo não tenha a intenção de dar a “palavra final” sobre a
natureza da tipologia em Hebreus, espera-se que seja feito um progresso na tentativa
de se identificar princípios de interpretação tipológica que emergem das Escrituras,
e que são fiéis à sua norma infalível.

N O V O INTERESSE

Nas últimas décadas, vários eruditos bíblicos importantes têm avaliado de


forma positiva o papel da tipologia nas Escrituras. Por exemplo, Leonard Go-
ppelt, que fez a primeira pesquisa abrangente sobre a tipologia do N T a partir de
A VJ7. DE HESREU5

uma perspectiva histórica moderna,2 continuou a enfatizar em artigos posteriores


que a tipologia “é a forma principal e característica do NT de compreender as
Escrituras”. Entendida da maneira adequada, “é a interpretação conclusiva de
Jesus, do evangelho, da igreja... A tipologia é teologicamente vital para a compre­
ensão do evangelho”.5
Podemos notar outras afirmações semelhantes. G. Ernest Wright afirma que
“a palavra que talvez descreva melhor do que qualquer outra o método da igreja
primitiva de interpretar o Antigo Testamento é ‘tipologia’”.4 R. M. Grant concorda
que “o método do Novo Testamento de interpretar o Antigo era geralmente o da
tipologia”.5 E. Earle Ellis (aderindo à opinião de W. G. Kümmel) afirma que “a
interpretação tipológica expressa de forma mais clara 'a atitude fundamental do
“ cristianismo primitivo com respeito ao Antigo Testamento’”.6
Essas afirmações recentes da importância e centralidade da tipologia bíblica
mostram-se dignas de nota em vista da prevalecente e desfavorável avaliação ieita
por eruditos críticos em décadas anteriores. O êxito da crítica histórica entre os eru-
ditos liberais tinha praticamente eliminado qualquer interesse sério no assunto no
decorrer do século 19 e início do século 20. Exceto em certos círculos conservado­
res, a tipologia era meramente “uma curiosidade histórica, de pouca importância
ou significado para o leitor contemporâneo”.’
Após a Segunda Guerra Mundial, fortes defensores do método critico-histó-
rico - que desferiu um golpe mortal 11 a tipologia tradicional do século 19 - ado­
taram uma “neotipologia pós-crítica”.8 Assim, nas últimas décadas, uma multidão
de eruditos tem participado da discussão sobre a tipologia bíblica.0 Um novo inte­
resse surgiu não somente .entre os estudos referentes à Bíblia, mas também entre
disciplinas relacionadas, como teologia dogmática e sistemática, história da igreja,
arquitetura e arte, e crítica literária.

P r in c ip a is t e n d ê n c ia s

Uma pesquisa dos principais participantes e das principais questões relaciona­


das ao debate moderno revela dois pontos de vista centrais com relação à natureza
da tipologia bíblica.10 A compreensão “tradicional” é que a tipologia se refere ao
estudo das prefiguracões do AT. divinamente estabelecidas, de Jesus Cristo e das
verdades do evangelho reveladas sobre Ele.11
A visão tipológica “pós-crítica",12 defendida por renomados eruditos do Mo­
vimento Teológico Bíblico, estabelece conceitos bem diferentes da compreensão
tradicional. Ela fundamenta-se numa visão distinta da história e da revelação que
dá pouco espaço ao elem ento profético. A tipologia é tida como um modo de
pensamento analógico comum. A interpretação tipológica envolve o reconhecí-
t ip o l o g ia n o l iv r o d e h e b r e u s

mento retrospectivo de correspondências gerais dentro da consistente “revelação


divina na história”.15
Os principais elementos diferenciais entre esses dois pontos de vista da
natureza da tipologia podem ser resumidos assim:

“Tradicional” “Pós-Crítica”
1. Baseada em realidades históricas 1. A história não é essencial
(a história é essencial)
2. Prefigurações divinamente 2. Analogias/correspondências
designadas nos modos semelhantes de
atuação divina
3. Prospectiva/Profética 3. Retrospectiva (pouco ou
nenhum elemento profético)

4. As prefigurações se estendem a*5 4. Envolve somente “situações


detalhes específicos pârateias” gerais

5. Inclui tipologia vertical (santuário) 5. Rejeita a tipologia vertical,


considerando-a estranha à
perspectiva bíblica
(Hebreus ” mitico/dualista)

6. Envolve princípios uniformes de 6. Nenhum sistema ou ordem


interpretação liberdade de Espirito

Logo surge a pergunta: como decidir qual é a perspectiva bíblica da tipologia?


Isso nos leva a aspectos importantes da metodologia.

M étodos de a b o r d a g em

Uma revisão abrangente das iniimeras literaturas que tratam da tipologia


bíblica revela uma deficiência surpreendente a respeito de método. Embora de­
finições e listas de características tenham sido disponibilizadas, nenhum desses
estudos tratou reaimente das estruturas - os elementos conceituais - da tipologia
proveniente das Escrituras.
Em vez disso, uma compreensão preconcebida da tipologia - baseada em
pouca ou nenhuma evidência exegética - é projetada nas Escrituras. O ma­
terial bíblico é, então, examinado a partir da perspectiva dessa com preensão
anterior. No afã de encontrar correspondências tipológicas, estudos anterio­
res negligenciaram a meticulosa, porém inevitável, tarefa de estabelecer uma
A LUZ DE HEBREUS

base lingüistico-exegética sólida para poder entender o que a tipologia biblica


realm ente é.
Para sermos justos com esses estudos prévios, devemos destacar as dificul­
dades em definir a tipologia por meio das Escrituras somente, sem impor idéias
preconcebidas de outras fontes. Por exemplo, se não definirmos a tipologia antes de
examinarmos as Escrituras, como iremos perceber onde ela está presente? Mas se a
definimos com antecedência, então trazemos um entendimento prévio de sua natu­
reza às Escrituras, em vez de permitir que esta surja das Escrituras! Com o sair desse
impasse? Com o entramos no “círculo hermenêutico” e percebemos a existência da
tipologia em passagens bíblicas, sem definir de antemão sua natureza?
Na tese do autor deste capítulo, articula-se um método que tenta solucionar
----- esse impasse.14 Essa abordagem pode ser descrita da seguinte forma: certamente,
pode-se definir tipologia como o “estudo dos tipos”. Esse passo não requer uma
compreensão prévia dos tipos nas Escrituras, mas esse processo simples nos leva
a uma ponte lingüística no “circulo hermenêutico”, porque a palavra portuguesa
'“tipo" é a equivalente da palavra grega tupos.
Um estud od o uso á n u p o s (e seus cognatos) no N T revela que em seis ocor-
—~ rências tupos (ou cognato) é empregado como um termo hermenêutico técnico
usado para descrever a interpretação do A T pelo autor do NT. Portanto, nessas
passagens, tupos (ou cognato) fornece claramente um indicador da presença da
“tipologia”. Não temos que pré-estabelecer a abordagem hermenêutica do. autor
do NT. Podemos ter certeza que envolve tipologia - o estudo de tipos - porque o
escritor da Bíblia destacou isso usando a palavra tupos (ou cognato).
Dessa forma, podemos prosseguir com uma exegese detalhada das passagens
dó N T que contêm o termo tupos. A p a rtir dessa-análise, deve surgir pelo menos
uma delineação preliminar das estruturas fundamentais e conceituais da tipologia
bíblica. Junto com a análise exegética, espera-se que um estudo detalhado da pala­
vra tupos (e cognatos) na literatura bíblica e não-bíblica forneça mais informações
da natureza da tipologia nas Escrituras.
A seguir, temos um breve resumo dos resultados da tentativa de aplicar o mé­
todo sugerido acima. Para fundamentação e uma consideração mais detalhada das
conclusões expostas nessa parte, o leitor é encorajado a consultar a íese do autor.15

E s t r u t u r a s d a t ip o l o g ia

A palavra tupos (ou cognatos) é encontrada 20 vezes no NT. Com o notamos


antes, seis dessas ocorrências aparecem num contexto hermenêutico, isto é, num
contexto onde o autor do N T está envolvido com a interpretação do AT. A palavra
tupos è encontrada em três passagens (Rm 5:14; IC o 10:6; Hb 8:5 = Ex 25:40);
antitupos é encontrada duas vezes (Hb 9:24; lPe 3:21); e a palavra tupikos aparece
T ip o l o g ia n o l iv r o d e H e b r e u s

uma vez (IC o 10:11). Nessa parte, limitaremos nossa pesquisa a passagens (e seus
contextos imediatos) que se encontram fora de Hebreus.
Cinco estruturas tipológicas comumente emergem de uma minuciosa análise
das passagens que não estão no livro de Hebreus (Rm 5:12-21; IC o 10:1-13; lPe
3:18-22). O primeiro elemento conceituai pode ser denominado estrutura histórica.
Os quatros remanescentes são teológicos: estrutura escatológica, estrutura cristológica-
soteriológica, estrutura eclesiológica e estrutura profética.
1. A estrutura histórica. A presença deste elemento conceituai destaca o fato
de que a tipologia tem suas raizes na história, o que se opõe ã alegoria. O interesse
primordial da alegoria não é o sentido histórico literal, mas sim o “caroço” figura­
tivo ou espiritual escondido sob a “casca” da história.
Na tipologia, a estrutura histórica envolve três aspectos cruciais. Primeiro, —
pressupõe-se que o “tipo” do A T é uma rea lid a d e histórica. Por exemplo, as rea­
lidades históricas podem ser: pessoas (Adão, Rm 5), acontecim entos (o Êxodo,
IC o 10), ou instituições (o santuário, Hb 8, 9 - veja a próxima seção). A histo-
ricidade dessas realidades é um pressuposto. De fato, os argumentos tipológi- *5
cõs~erírRomanôS 5, 1 C orintios- 10 e 1 PedroT~dependem dadirsroricidade de—
Adão, do Êxodo e do dilúvio e cairiam por terra se sua realidade histórica não
fosse aceita.
O segundo aspecto é o da correspondência histórica entre o “tipo” do A T e o
antitipo do NT. Assim, Adão é *um “tipo" (tapas) de Cristo (R m 5); o Êxodo é um
tipo (tupoi ) que corresponde à experiência da igreja cristã (IC o 10); e o dilúvio cor­
responde ao seu “antitipo” (antitupos ), o batismo cristão (1 Pe 3).
O conteúdo das correspondências estende-se até mesmo a detalhes relacio­
nados ao “tipo”. Aparentemente, porém, os elos são'aqueles detalhes já investidos
de significado redentor no AT. A correspondência pode envolver aspectos tanto
de antítese como de comparação, por exemplo, entre Adão e Cristo em Romanos
5. Mas mesmo quando há apenas uma comparação de semelhanças, um terceiro
aspecto da estrutura histórica está presente, o da intensificação. O “tipo” e o “an-
títipo” nunca estão no mesmo nível. A constância do antitipo do N T envolve uma
ampliação ou intensificação absoluta do “tipo" do AT. Por exemplo, a comida e a
bebida do povo de Israel no deserto são ampliadas no “antitipo” como os alimentos
que se devem ou não comer (IC o 10). Novamente, a libertação fisica pelo dilúvio é
intensificada na libertação espiritual antitipica pelas águas do batismo (lP e 3). Um
exemplo fora de nossas passagens hermenêuticas com tupos está em Jesus como o
antitipo: “aqui está quem é maior que o templo" (Mt 12:6); "eis aqui quem é m aior do
que Jonas” (M t 12:41); “e eis que está quem é m aior do que Salomão” (Mt 12:42).
2. E stru tu ra escatológica. Este elemento esclarece a natureza da correspon­
dência histórica e intensificação descrita acima. Os tupoi do A T não estão rela-
A LUZ DE HEÜREUS

cionados a qualquer realidade semelhante. Antes, determinadas pessoas, aconte­


cimentos e instituições do AT têm seu cumprimento nas realidades escatológicas
do N T (utilizamos a palavra “cumprimento” devido à estrutura profética mencio­
nada abaixo).
Em 1 Corintios 10, as experiências do povo de Israel no deserto são “tipos”
(lupoi ) do escatológico “nós” - “de nós outros sobre quem os fins dos séculos têm
chegado” (v. 11). Em Romanos 5, o primeiro homem, Adão, é um “tipo" (rupos )
daquele “que havia de vir” - o segundo Adão, cuja vinda deu início à nova era
escatológica. Em 1 Pedro 3, a salvação de Noé e sua família, por intermédio do dilú­
vio, têm seu antitipo (antitupos) na salvação sacramental (batismo) do escatológico
“agora [nun]" (v. 21).
--------- Deve-se notar que o cum prim ento escatológico das passagens que contém
tupos envolve três perspectivas: (1) A primeira vinda de Cristo deu inicio ao
cumprimento escatológico no reino da graça. (2) Agora, a igreja vive no tempo
da apropriação, a era da tensão escatológica entre o "já” e o “ainda não”. (3)
A segunda vinda de C risto irá anunciar a consumação escatológica no reino da
■“ glória.16 As diversas^passagenrenfatizam um ou mais desses aspectos de cumpri-
~ mento escatológico.
3. A estru tu ra cristológico-soteriológica. Esta estrutura é significativa em
sua determ inação do conteúdo do tipo e antitipo. Os tipos do A T têm seu
cumprimento em C risto. As vezes, há uma correspondência direta entre uma
realidade do A T e a pessoa de Cristo, com o acontece em Romanos 5. Adão é
equivalente a C risto. Em outros mom entos, o principal cumprimento do tipo
do A T ocorre em várias realidades da nova aliança relacionadas ou iniciadas
por C risto. Por exemplo, em 1 C orintios 10 e em 1 Pedro 3, o antigo IsTael e
Noé e sua família são equivalentes à igreja cristã - individualmente, coletiva­
mente e sacram entalm ente.
Outro aspecto da determinação cristológica é trazido à tona em 1 Corintios
10. Aqui, Cristo é apresentado como o ponto de orientação supremo dos tipos
do AT e seus cumprimentos no NT. Os tipos e seus correspondentes do N T estão
determinados de forma cristocênmca. Eles podem ter uma “carga” moral positiva
ou negativa dependendo de sua posição em relação a Cristo. Dessfc modo, em 1
Corintios 10, a “maioria” do antigo Israel que persistia em desobedecer são tipos
daqueles que, na igreja cristã, igualmente, orientam-se contra Cristo.
Intimamente envolvido com a estrutura cristológica está o componente
soteriológico desta estrutura. A correspondência de tipo-antitipo não está entre
eventos históricos, pessoas, instituições “comuns” ou “neutras”, mas entre aqueles
que têm relação salvifica. Os tipos do A T são realidades redentoras, e têm seu cum­
primento na obra salvifica de Cristo e nas realidades da nova aliança trazidas por
T ip o l o g ia n o l iv r o d e h e b r e u s

Cristo. Esta dimensão salvífica oli soteriológica é completamente cristocêntrica,


isto é, tanto positiva (redentora àqueles que aceitam a graça de Cristo) como nega­
tiva (àqueles que rejeitam sua misericórdia).
4. A estrutura eclesiológica. Este quarto elemento na tipologia bíblica inclui três
aspectos: os adoradores individuais, a comunidade coletiva, e as ordenanças da igreja.
Em 1 Coríntios 10, todas as três são enfatizadas. As experiências do antigo Israel no
deserto aconteceram tipologicamente (tupikos), como tipos (tupoi) do rebanho do fim
dos séculos (v. 6, 11), a igreja cristã. Isso envolvia os sacramentos (v. 2 4 ) e uma decisão
pessoal, para ser fiel ou desobediente (v. 5-10).
Em Romanos 5 há uma correspondência entre “os muitos" em Adão (v. 15)
e “os muitos” (“os que recebem", v. 17) em Cristo. Este tema é desenvolvido com
relação ao batismo no capítulo seguinte. Em lPedro 3, a salvação de Noé e sua
família "através da água” (v. 20) tem seu tipo escatológico (antitupos), no qual as
ordenanças do batismo salva o rebanho cristão (os que foram batizados, vs. 21) pela
ressurreição de Cristo.
— S^A estrutunrprofética. Este_idtimo. elementO-ConceiruaL tamhérr,_envolve três as-
pectos. Primeiro, o tipo do AT aponta para o futuro - é uma apresentação prévia ou prefigu- _
ração da realidade ou realidades correspondentes do NT. Em 1 Corintios 10, a experiência
do antigo Israel no deserto mostra ser uma apresentação prévia da experiência da igreja
cristã. Em Romanos 5, o primeiro homem, Adão, é visto como uma prefiguração do
segundo Adão, Jesus Cristo. Em 1 Pedro 3, a salvação divina de Noé e sua familia através
da água revelou-se como uma pré-apresentação da salvação dos cristãos no sacramento do
batismo (pela ressurreição de Jesus Cristo).
Segundo, em cada um desses exemplos há a revelação do desígnio divino.. As
realidades do AT foram administradas por Deus para que fossem prefigurações
das realidades do NT. O desígnio divino inclui detalhes específicos bem com o os
contornos gerais soteriológicos, porém, não interfere na liberdade dos indivíduos
envolvidos, nem minimiza o significado histórico redentor das realidades do A T
em si mesmas.
Terceiro, as apresentações prévias designadas por Deus envolvem uma ca­
racterística “obrigatória” que confere aos tipos do AT o impacto de prefigurações
prospectivo-proféticas de seus cumprimentos no NT. E m l C orintios 10, Paulo
constrói a relação tipológica entre'o Israe 1•antigo e o escatológice com o propó­
sito de mostrar que o que aconteceu com o Israel desobediente no deserto deve
acontecer aos corintios que persistem na desobediência. Em Rom anos 5, Paulo
argumenta acerca das conseqiiências dos atos de Adão e dos atos de C risto sobre
todos os homens, destacando uma relação entre eles. Em I Pedro 3, o apóstolo as­
segura aos leitores que como Noé e sua familia experimentaram a salvação divina
pela água, assim o batismo agora os salva pela ressurreição de Jesus Cristo.
A LUZ DE HEBREUS

TUPOS CO M O U M TERM O HERMENÊUTICO

U m estudo da palavra grega lupos e seus cognatos no N T até a época do


N T revela uma riqueza de inform ações,17 principalm ente o uso prim itivo de
tupos para determ inar “form a”, ou uma “form a côncava" ou "m old e”. O ter­
mo tupos n o seu significado original de form a côncava é bastante apropriado
para abranger a dinâm ica que envolve as estruturas tipológicas que acabamos
de descrever.
Um molde côncavo/vazio envolve cinco dinâmicas básicas espaciais e linea­
res: (1) E uma realidade concreta. (2) Foi formada de algum protótipo que existiu
anteriormente (quer de forma concreta ou na mente do projetista). (3) Funciona
com uma matriz para dar forma ao produto final. (4) o produto final invariavel­
mente se harmoniza com os contornos básicos do molde. (5) mas ele transcende
o molde quanto ao seu cumprimento do propósito ao qual foi designado.
Relacionemos tupos como um “molde côncavo” com iupos como um termo
hermenêutico para o tipo bíblico. O tipo {tupos) é (1) uma realidade concreta (his-
tórica) que (2) foi “moldada” de acordo com o prévio desígnio (divino) e (3) funcio-
__na como um "m olde” para “modelar” o produto final (escatológico), o antitipo do
NT, que como resultado final (4) invariavelmente corresponde aos contornos bási­
cos do tipo (do ÀT), mas (5) transcende o tipo, pois cumpre o propósito definitivo
(cristológico-soteriológico/eclesiológico) para o qual o tipo (AT) foi designado.

I m p l ic a ç õ e s para o debate a tu a l

Considerando a síntese anterior, é evidente que as estruturas tipológicas pro­


venientes de .passagens .que contêm tupos (pelo menos as que não pertencem ao
livro de Hebreus) geralmente estão em harmonia com a compreensão tradicional,
e não com a compreensão pós-critica de tipologia. Podemos resumi-las observando
que de acordo com os escritores do NT:
1. A tipologia necessariamente pressupõe e é edificada sobre a realidade his­
tórica de ambos “tipo” e “antitipo” (em contraste com a visão pós-critica de que a
historicidade do tipo/ antitipo é secundária).
2. A tipologia consiste em prefigurações divinamente planejada^ (em contras­
te com a visão pós-critica de que a tipologia simplesmente retrata as analogias ou
correspondências dentro do ritmo repetitivo da atividade divina na história).
3. A tipologia é basicamente prospectiva/profética (em contraste com a
visão pós-critica de que a tipologia é retrospectiva, com pouco ou nenhum ele­
mento profético).
4. A tipologia envolve correspondências detalhadas entre as realidades do AT
e do NT, bem com o “situações semelhantes” em geral (em contraste com a visão
pós-critica de que a tipologia se relaciona apenas a “situações paralelas”).
T ip o l o g ia no l iv r o d e h e b r e u s

Até aqui, tratam os das estruturas tipológicas das Escrituras não perten­
centes ao livro de Hebreus. Agora, nos direcionarem os à segunda área princi­
pal esboçada na introdução, ou seja, a natureza da tipologia na Epístola aos
H ebreus. A que ponto as estruturas tipológicas de Hebreus - à medida que
se tornam evidentes na tipologia de culto envolvendo as passagens co n ten ­
do tupos de Hebreus 8:5 e 9:2 4 - coincidem com as estruturas tipológicas
inerentes em outras passagens do N T que con têm tuposl Esta pergunta nos
conduz à próxima seção.

A TIPOLO G IA EM H E B R E U S

Sinopse Editorial. Hebreus 8:5 e 9:24 são passagens importantes para d e te rm in a i


as características da tipologia empregada no livro. A primeira contém a palavra grega
tupos (“tipo”, “padrão”, RSV); já a segunda usa a palavra antitipo (“cópia", RSV). Essas
passagens estão inseridas no contexto da principal exposição do culto do santuário
(7:1 -10:18). O emprego das palavras indicativas tupos/antitupos nos alerta para a preserv
ça-de-tipologia-nesta-seçãOr-üe-fet©r o contexto revelará suas-disantas-nuanças_________
Os tipos bíblicos podem ser classificados como horizontais ou verticais, de
acordo com seu sentido direcional..No primeiro caso, os tipos prefiguram antíti-
pos futuros no decorrer do tempo histórico; o movimento é horizontal, parte do
tipo (pessoa, evento ou instituição) para um antitipo posterior. Temos na corres­
pondência Adão/Cristo (Rm 5:14) um exemplo de tipologia horizontal. Por outro
lado, a tipologia vertical se baseia na relação terra/Céu, ctijo exemplo clássico é a
correspondência do santuário terrestre/celestial. Ambas as tipologias ocorrem e se
intercalam no livro de Hebreus.
Em geral, eruditos modernos rejeitam a tipologia vertical em Hebreus, argumen­
tando que ela reflete as visões filosóficas de Platão e Filo, ou ainda que é uma herança
da “analogia mito/cósmica da antigüidade”; no entanto, nenhuma conclusão está
em harmonia com os fetos relatados nas Escrituras. Nesta seção, o autor demonstra
que a tipologia vertical em Hebreus é orientada pela compreensão do próprio AT
quanto à dimensão do santuário terrestre/celestial.
A questão tratada nesta seção é: “A tipologia em Hebreus tem as mesmas
cinco características encontradas em tipologias bíblicas de outras passagens? A
resposta é afirmativa - tanto-para a 'tipologia horizontal quanto para a vertical.
Na linha horizontal, maiores correspondências históricas são obtidas entre a an­
tiga e a nova aliança, entre os sacrifícios leviticos e o sacrifício supremo de Cristo;
entre o sacerdócio levitico e o de Jesus. Às vezes, as correspondências envolvem
detalhes específicos. Há a intensificação do antitipo, à medida que o movimento
é feito a partir do culto ineficaz do AT para o mais eficaz e perfeito sacrifício e
sacerdócio de Cristo.
A LUZ DE HEBREUS

As outras estruturas (analisadas na primeira seção) também estão presentes


nos tipos horizontais, onde há uma grande ênfase na escatologia. A estrutura cristo-
lógica/soteriológica é essencial para o tema principal do livro: contaminação/puri­
ficação. A única solução para o problema humano da contaminação é a purificação
- não pelo sangue animal (tipo) - mas pelo sangue purificador de Cristo (antítipo).
A estrutura eclesiástica está refletida no fato de que pecadores purificados pelo san­
gue de Cristo são convertidos à comunhão da comunidade da nova aliança. O ele­
mento profético aparece à medida que é revelada a ineficiência dos cultos antigos
e sua natureza provisória. Sua função limitada proporcionou uma prefiguração dos
contornos essenciais de um breve cumprimento escatológico: o Salvador vindouro,
sua morte expiatória e seu ministério sacerdotal num santuário superior.
Uma forte tipologia vertical permeia Hebreus. O eixo terra/Céu cruza o de­
curso horizontal do tempo. O livro delineia correspondências entre os sacerdotes
terrestres e o sumo sacerdote celestial, entre o santuário terrestre e o celestial, e
entre os rimais terrestres e os celestiais. D o mesmo modo, as mesmas características
escatológicas, cristológicas/soteriológicas e proféticas estão presentes tanto na tipo­
logia vertical, como na perspectiva horizontal.
Assim, ocorre uma combinação única dessas duas tipologias no livro. A di­
mensão vertical proporciona ao crente um entendimento da conexão que existe en­
tre o Céu e a terra, uma vez que Deus revela o plano da salvação horizontalmente,
por assim dizer, na terra.
C o m u mente, nos referimos às pessoas, instituições e eventos do AT como
o “tipo” (tupos) e seus respectivos cum prim entos no N T com o “antítipo” (anti-
tupas)..N o entanto, em Hebreus, essa term inologia é inversa. O santuário celes­
tial é referido com o o “tipo”, já o santuário terrestre é o “antítipo”. isso ocorre
devido ao fato de que o santuário do céu existia antes do santuário do AT, e foi
a base para a origem desse último. Por esta razão, o autor apostólico designa a
realidade celestial com o o tupos (8:5) e o santuário terrestre com o o antitupos
(9: 24) - “figura do” celestial. C ontudo, uma vez que o movimento funcional da
tipologia em Hebreus parte da realidade do A T para o cumprimento no NT, é
conveniente e plausível nos referirmos ao santuário terrestre coçro o “tipo" e
ao celestial com o seu “antítipo”.
A presença das cinco estruturas com uns à tipologia n o livro de Hebreus
sugere que outros temas tipológicos podem ser encontrados no livro, além
do tema principal analisado. E evidente, a partir desse estudo, que a tipolo­
gia en contrad a em Hebreus é sem elhante à tipologia encontrada em outras
partes das Escrituras. Além disso, podem os afirm ar que a tipologia vertical
(correspondências terra/Céu), tão bem salientada em Hebreus, não encontra
suas raízes n o pensam ento pagão, mas nas Escrituras hebraicas.
T ip o l o g ia n o l iv r o d e H e b r e u s

E s b o ç o d o c a p ít u l o

1. Introdução
2. Passagens tupos contextualizadas
3. Estruturas tipológicas horizontais
4. Estruturas tipológicas verticais
5. Tupos/Antitupos como termos hermenêuticos
6. Resumo

In trodução

Entre os inúmeros estudos mais recentes da exegética há “uma ampla acei­


tação de que Hebreus contém tipologia”.18 Esse consenso se aplica tam bém a
Hebreus 8:5 e 9 :2 4 ;19 entretanto, até 1980 não havia análises consistentes do con­
texto cultuai dessas passagens com tupos, o que teria revelado suas estruturas tipo-
—lógicas-inerentes—Esta-análise-fot-empreendidanTa-tese^tkrautoTdesre cap itu lor0
e é apresentada num formato menos técnico nas próximas páginas desta seção.—
Alicerçada em estudos anteriores, enriquecida por outras .análises de importantes
questões estruturais não muito esclarecidas; nossa pesquisa procura sintetizar as
estrtituras tipológicas verticais e horizontais que emergem dessas passagens tupos
e de seu amplo contexto cultuai na epístola.

C o n s id e r a ç õ e s p r e l im in a r e s

Inúmeras questões introdutórias sobre a Epístola de Hebreus (tais como


autoria, leitores, circunstância em que foi escrita, etc.) já foram amplamente dis­
cutidas. W illiam G. Johnsson observou certa vez: “A despeito de todo o tem­
po despendido na discussão a respeito do escritor e seus leitores, os 'resuitados
confirmados’ são praticamente nulos”.21 Felizmente, nossa análise de estruturas
inerentes (que contêm tupos) no contexto cultuai de Hebreus 8:5 e 9 :24 não de­
pende da identidade do autor, seus leitores, ou da época em que o documento
foi escrito.22 No entanto, há certas questões contextuais filosófico-hermenêuticas
que requerem especial consideração, e é delas que falaremos agora.

C o n s id e r a ç õ e s f il o s ó f ic o - h e r m e n ê u t ic a s

Ao mesmo tempo em que, no geral, se aceita a existência de tipologia no con­


texto cultuai de Hebreus 8:5 e 9:24, há também um debate sobre a origem e a na­
tureza dos conceitos e termos usados. Tem-se afirmado constantemente (e algumas
vezes veementemente defendido) que idéias e expressões filosóficas de Platão e Filo
A LUZ DE H EBILEUS

se escondem por trás da correspondência Céu-terra presente em Hebreus.23 Por ou­


tro lado, vários estudos recentes negam a existência desses conceitos na epístola.24
Uma cuidadosa consideração sobre este assunto já foi empreendida por Ro-
nald W illiam son,25 e concordamos com os fundamentos de sua prodigiosa pesqui­
sa, a qual “atribuiu um veredicto negativo sobre a escola filoniana".26
W illiam som lida amplamente com a evidência linguística, temas, idéias,
e o uso das Escrituras em Filo e Hebreus. No seu estudo, ele demonstra as
principais divergências de pensam ento entre Filo e o autor do livro bíblico. A
seguir, listam os os pontos mais cruciais para a com preensão de tupos/antitupos
em Hebreus 8 e 9:

1. O autor de Hebreus não usa a suposta terminologia platônica num mode­


lo compatível com o do filósofo.
2. O mundo celestial das idéias em Platão e Filo - o qual não pode ser aden­
trado, salvo pela razão - não tem lugar para a pessoa histórica de Jesus, da forma
- como foi descrita pelo autor de Hebreus.
A. A seqüência de movimento nistórico-temporai em Hebreus é totalmente in­
compatível com os princípios etemal/atemporal da ética e metafísica platônica.27
4. Há alegoria, não tipologia, em Filo; e tipologia, não alegoria, em Hebreus.28
5. Não há sinal de messianismo nos trabalhos de Filo, em oposição ao tema
cristológico dominante em Hebreus.29
W illiam son analisa minuciosamente Hebreus 8:5 em busca da influência
platônico-filoniana30. Ele corrobora sua afirmação de que “embora algo da lin­
guagem do platonismo filoniano possa ser encontrado em Hebreus 8:5, não há
traço algum nesse versículo, e, de fato, em nenhum outro lugar da epístola, dos
fundamentos e convicções que constituem o platonismo, nem na sua forma ori­
ginal, nem nas suas formas filonianas.31 A pesquisa de W illiam son é persuasiva,
pois ele contextuaiiza a formação dos conceitos (incluindo aqueles relativos ao
santuário) dentro da “eloquente metafísica histórica da teologia judaico<ristã”,32
e não do idealismo platônico.33
Não que se descarte a possibilidade de idéias filonianas no vocabulário do
autor de Hebreus. M esmo aqueles que rejeitam a existência de conceitos platô-
nico-filonianos na epístola, reconhecem um possível emprego de terminologia
filoniana. W illiam son, por exemplo, admite essa possibilidade em Hebreus.34
De qualquer forma, ainda que um vocabulário similar ao filoniano possa ser
encontrado, tais termos parecem ter sido modificados pelo autor. As estruturas
conceituais básicas do idealismo platônico-filoniano parecem ter sido substituídas
por conceitos da teologia apocalíptica judaico-cristã. No decorrer de nossa análise
das estruturas conceituais no contexto cíiltico de Hebreus 8:5 e 9:24, teremos a
T ip o l o g ia n o i i v r .0 d e H e b il e u s

oportunidade de elucidar a diferença dos conceitos da filosofia desses pensadores


e o livro de Hebreus.
Uma análise do uso de lupos e do termo subjacente hebraico tabnU (“modelo”)
em Êxodo 25:40 (LXX e MT) - a passagem citada em Hebreus 8:5, com o prova de
uma correspondência entre o santuário terrestre/celestial - será revista nessa seção.
Devemos dizer, porém, que ela parece corroborar a conclusão de que “o escritor de
Hebreus retirou esse pensamento [correspondência entre o santuário terrestre/ce-
lestial] do próprio AT, e não da filosofia alexandrina”.35
Ficará evidente que o termo hebraico tabnU (“modelo") - como a palavra
grega tupos no seu sentido básico, “molde (côncavo/vazio)” - pode denotar tanto
“cópia” (aquilo que é form ado ) quanto “padrão” ou “protótipo" (aquilo que form a)
simultaneamente. Em Êxodo 25:40 parece provável que tabnU (tupos LXX) refere-se
a um modelo em miniatura ou cópia do santuário celestial e/ou o próprio santu­
ário celestial (com um modelo em miniatura intermediário). No entanto, o termo
tabnU (“cópia/molde”) também funciona como um protótipo ou padrão para a
construção do santuário terrestre . _____ ______________________________

P a s s a g e n s t u p o s c o n t e x t u a l iz a d a s

A estrutura literária de Hebreus foi analisada detalhadamente por Albert Va-


nhoye.30 Em consonância com o que Johnsson corretamente observou, Vanhoye
mostrou que a seção 7:1-10:18, que trata dos rituais, “não é essencial apenas na
localização, mas, certamente no plano geral da obra”.37 Os capítulos 8 - 9 partilham
do mesmo argumento cultuai (7:1-10:18): o sacrifício eficaz do sumo sacerdote
Jesus Cristo, em contraste com a inadequação e ineficiência da antiga adoraçüo.3S
Assim, iremos considerar as passagens 8:5 e 9:24, em seu contexto cultuai mais
amplo, na elucidação de estruturas conceituais.
Permita-nos m encionar de forma breve o contexto dessas passagens. Qs
prim eiros sete capítulos de Hebreus revelam a superioridade de C risto com
relação aos anjos (1 :4 -2 :1 8 ), M oisés e Josué ( 3 :1 -4 :1 3 ) e ao sacerdócio de
A rão (4:14-7= 28).
Em Hebreus 8.1, 2, o autor resume o ponto principal de sua exposição ante­
rior: “Ora, o essencial das coisas que temos dito é que possuímos tal sumo sacer­
dote, que se assentou à destra do trono da Majestade nos céus, como ministro do
santuário e do verdadeiro tabemáculo que o Senhor erigiu, e não o homem.” Os
versículos 3-6 mostram como Cristo é sumo sacerdote de um “santuário superior”,
o verdadeiro “santuário celestial” (v. 5), o que é apoiado pela citação de Êxodo
25:40. No versículo 6, o autor ressalta o ministério mais excelente de Cristo e ini­
cia uma consideração quanto às promessas superiores e á superioridade do novo
concerto em detrimento do 'antigo (v. 7-13).
A IU Z DE HEBREUS

O “sacrifício mais excelente” do novo concerto é o foco de Hebreus 9:1-10:18.


Hebreus 9:1-5 descreve rapidamente o santuário terrestre (AT). Logo depois, o au­
tor destaca as limitações dos serviços do santuário no AT (v. 6-10) em comparação
com o sacrifício eterno de Cristo (v. 11-14). Nos versículos 15-22 Cristo é apresenta­
do como mediador do novo concerto, oferecendo “sangue superior” (v. 12-14).
O axioma cúltico apresentado no versículo 22, “sem derramamento de sangue,
não há remissão [aphesis]", aplica-se no versículo 23 para a purificação das “próprias
coisas que se acham nos céus”. No versículo 24, a relação entre o santuário terrestre
e o celestial é reiterada. O santuário terrestre “feito por mãos” (cheiropoièta hagia)
é uma “cópia” (antitupa) do verdadeiro. Cristo entrou nesse santuário “no mesmo
Céu, para agora comparecer por nós diante de Deus”.
-------- Cristo não Se oferece anualmente, como fazia o sumo sacerdote ao oferecer
sangue no dia da expiação, mas “se manifestou uma vez por todas, para aniquilar,
pelo sacrifício de si mesmo, o pecado” (v. 26). Ele aparecerá uma segunda vez, não
para lutar contra o pecado de novo, mas para trazer salvação para aqueles que o
•esperam (v. 27-28). A superioridade, eficácia e finalidade do sacrifício de Cristo, em
---- contraste com os sacrifícios ineficientes e inadequados de animais do AT, é a ênfase
— de Hebreus 10:1-18.

E s t r u t u r a s t ip o l ó g ic a s h o r iz o n t a is

Os tipos bíblicos podem ser classificados de acordo com sua orientação dire­
cional, ou seja, horizontal ou vertical. Enquanto os tipos horizontais prefiguram
antítipos futuros no decorrer do tempo histórico, os verticais têm a ver com um
alinhamento terrestre/celestial.
Nas passagens que contém tupos, que estão agora sob consideração, encon­
tramos estruturas tipológicas horizontais cruzando-se com as verticais. Por isso, a
fim de esclarecer essas estruturas, examinaremos as dimensões vertical e horizontal
separadamente. Em seguida, tentaremos determinar a relação entre as duas. Em
primeiro lugar, veremos as estruturas horizontais.

Es t r u t u r a h is t ó r ic a v

Vimos como os argumentos e descrições do autor foram estruturadas numa se-


qüência histórico-temporal de movimento. Ele assumiu a realidade histórica das pesso
as, dos eventos e das instituições do AT mencionados na epístola e, da mesma forma,
seus correspondentes no NT. Conforme Johnsson expressa:
O interesse (do autor de Hebreus) durante todo o sermão é fundam entar a confiança
cristã em fa to s objetivos... divindade r e a l , hum anidade real, sacerdócio r e a l , e , pode­
mos acrescentar, um m inistério re a l em um santuário rea l . ^
T ip o l o g ia n o l iv r o d e h e b r e u s

Em Hebreus 8, a correspondência h istórica m a is im p ortan te ocorre entre a


antiga e a nova aliança. Em Hebreus 9, esse tem a con tin u a, mas o foco deslo­
ca-se para a correspondência histórica entre os sacrifícios levitas tem porários
e o sacrifício eterno de Cristo. Ambos os capítulos se detêm na correspondên­
cia entre o sacerdócio dos levitas e o (sumo) sacerdócio de M elquisedeque,
tipo de C risto.
A correspondência entre os cultos do A T e do N T envolve detalhes específicos
e cruciais. Por exemplo, como os sacerdotes terrestres, Cristo deveria oferecer um
sacrifício (8:3), e assim como os corpos dos animais sacrificados, cujo sangue era
trazido para o santuário, eram queimados “fora do arraial”, Jesus “sofreu fora da
porta” (13:11-13).
A correspondência histórica enVolve uma completa am pliação ou intensificação-----
da realidade do AT para a do NT. Há uma ampliação do culto temporário, inefi­
caz e inadequado, oferecido no AT, para um sacerdócio superior e permanente
(4:14-7:28) com um “ministério tanto mais excelente” (8:6), para uma “aliança
superior” baseada em “promessas superiores” (ou seja, o tratamento eficaz contra
o problema do pecado, 8:6-13), para “sãcnficios melHõrêi” (9:23) com~um sangue
superior (9:13, 14). Em outras palavras, o tipo tem seu cumprimento histórico em '
um sacrifício eficaz, todo suficiente e etern o '(9:25-10:18).

E struturas t e o l ó g ic a s

As várias estruturas teológicas também atuam de forma horizontal dentro da


tipologia de Hebreus 8 e 9.
1. A estrutura escatológica-é evidente na epístola. A análise de Charles K.
Barret - que incluiu uma seção com as passagens 8:5 e 9:24 - o convence de “que o
pensamento de Hebreus é uniforme e, que dentro deste pensamento, a escatologia
é o elemento determinante”'80 ou, em outras palavras, ele afirma que “a estrutura
do pensamento em Hebreus é escatológica”.41
Para Barret, a escatologia de Hebreus é praticamente a mesma escatologia
característica do cristianismo do NT em geral: “o padrão comum da escatologia do
N T aparece em Hebreus de uma maneira excepcionalmente clara. Deus começou
a cumprir suas promessas antigas: o alvorecer do novo século rompeu apesar de o
dia ainda não ter chegado. A igreja vive nos últimos dias, mas ainda não no último
dia”.42 “A particular convicção cristã... de que os eventos escatológicos já acontece­
ram (embora outros estejam no futuro como objetos de esperança) é encontrada
tão claramente em Hebreus como em qualquer outra parte do N T”.43
O utros reconhecem essa forte tensão escatológica entre o “já ” e o “ainda
não” em Hebreus. Cora Brady demonstra o m ovim ento em Hebreus ao longo
de uma “linha temporal ascendente”.44 Esta linha começa no ontem (o ato
A LUZ DE HEBREUS

todo-suficiente de C risto no passado, 10:10), passa pelo hoje (Cristo reina, 1:3;
2:9; mas a vitória ainda não está completa, 2:8; 10:13), e estende-se ao futuro
(a esperança futura, centrada na segunda vinda, 9 :2 8 ; 10:25 e 37; envolvendo a
eternidade, 13:8). B ertold Klappert descreve as estruturas do “já " e do “ainda
não”.43 Jerom e Sm ith fala a respeito da “escatologia dom inante na estrutura do
pensam ento em H ebreus”. 46 O trabalho de Floyd Filson reconhece uma estru­
tura escatológica tem poral.47
Essa seqüência de tempo escatológica tem sido destacada principalmente
em partes do livro não-relacionadas a cultos. Por exemplo, Johnsson ilustra num
esquema com o o tema da peregrinação tem três estágios paralelos ao padrão es-
catológico do livro:48

Naquele tempo (passado) separação (batismo, perseguição)


Agora (presente) transição (jornada, participação proléptica)
Ainda não (futuro) incorporação (conquista da cidade, ver a Deus)

Essa escatologia horizontal-temporal pode também ser vista dentro do con­


texto imediato de nossas passagens (caps. 8 e 9). Por exemplo, em 8:6 em diante,
a correspondência histórica ocorre entre a nova e a antiga aliança, as quais Barret
analisa com relação â “fé escatológica comum da igreja primitiva”.4'' Em 9:25 em
diante, o autor de Hebreus esclarece o movimento temporal a partir de Cristo, do
seu sacrifício todo-suficiente “ao se cumprirem os tempos” (9:26) até seu apareci­
mento "uma segunda vez, sem pecado, aos que o aguardam para salvação” (9:28).
2. Ao se examinar o contexto cultuai de Hebreus 8 e 9, observa-se imediata­
mente a estrutura soteriolágica/cristológica da tipologia.3tlO ponto crucial da argu­
mentação do autor envolve a eficácia e a total suficiência do sacrifício de Cristo e
do ministério sumo sacerdotal para purificar a consciência. O tema contaminação-
purificação é dominante, e não o tema da culpa-remissão.51
johnsson sintetizou as questões em tom o do culto em sua revisão da pesquisa
moderna sobre os cultos em Hebreus,57 e realizou uma exegese minuciosa de He­
breus 9 - IO.55 Suas conclusões destacam as estruturas centrais da cristologia e da so-
teriologia na argumentação da epístola: a solução para o problema da “corrupção”
do homem é a “purificação” por meio do sangue de Cristo.54
3. Já a estrutura eclesiológica da tipologia tornou-se evidente em nossa referên­
cia ao tema peregrinação. Esse tema se compara à tensão escatológica da epístola e
pode ser considerada como “a idéia organizadora de Hebreus”.55Johnsson fornece
uma análise persuasiva de como o autor “usa o cristianismo como uma peregrina­
ção para sua concepção predominante”.56
Os elem entos da peregrinação - separação, jornada para um lugar sagra­
do, propósito definido, e dificuldade - convergem dentro da epístola. O povo
T ip o l o g ia n o l iv r o d e H e b r e u s

escatológico de Deus deixou seu lar, separou-se do mundo (11:13-16; 13:14), o


cam inho é cercado por dificuldades (3:12-18; 5 :1 1 -6 :1 2 ; 10:23-26; 12:4), mas
os peregrinos estão viajando com um propósito definido para a cidade celestial
(11:10, 16; 13:14).
A estrutura eclesiológica é essencial para a argum entação cultuai de
7 :1 -1 0 :1 8 . Ao mesmo tem po em que o tema “corrupção-purificação” envolve
a cristologia e a soteriologia, obviamente envolve pessoas que são co n tam i­
nadas e purificadas. C onqu anto a correspondência dom inante seja traçada
entre a institu ição cultuai nova e a antiga, a razão e propósito subjacentes
para os cu ltos não devem ser ignorados.
O hom em é corrompido pelo pecado, e o problema do pecado precisa ser
solucionado. O sacrifício de Cristo “aperfeiçoa” ou “purifica” a “consciência”
(9:9 e 14; 10:2, 14, 22) do adorador individualmente. Ademais, sob a nova alian­
ça, os fiéis se unem a uma comunidade escatológica (L0:8-13; cf. 10:21; 12:22-24).
Portanto, a estrutura eclesiológica em sua dimensão particular e coletiva emerge
de um co ntexto imediato de Hebreus 8:5 e 9:24- Entretanto, deve-se notar que
não existe alusão aparente aos sacramentos da igreja cristã no contexto de He-
breus 8:5 e 9:24.
4. A estrutura profética da tipologia e muito evidente dentro da argumenta­
ção de Hebreus. De fato, como George B. Caird observa: o autor de Hebreus
“considerou todo o A T como uma obra profética, por duas razões-, por Deus ter
falado por meio do A T a seu povo, e por ter, em todo o AT, direcionado a atenção
do seu povo para o futuro escatológico”.57 Caird demonstra que a argumentação
de Hebreus com o um todo considera a “auto-proclamada inadequabilidade da
ordem”58, ilustrada em Hebreus por meio de uma exegese dos Saímos 8, 9 e 110, e
de Jeremias 31.59 O A T apontava para uma intensificação escatológica. Ao revelar
sua ineficácia e natureza provisória, o A T também forneceu uma prefiguração dos
contornos essenciais do cumprimento escatológico.
As instituições relativas ao culto (sacerdócio, serviço do santuário, sacrifícios,
etc.) são de interesse particular para nós (no contexto de Hebreus 8 e 9). Elas
apresentavam, em sua ineficácia, uma antecipação das realidades em Jesus e sua
obra. Por exemplo, em Hebreus 8:3 e 4, o autor discorre a partir dos sacrifícios
dos sumos sacerdotes da antiga aliança até a necessidade de um sacrifício oferecido
por Cristo. A natureza profética da correspondência histórica é, então, revelada.
Ademais, foi desígnio divino que a lei sacrifical da antiga aliança constituís­
se “uma som bra dos bens vindouros” (10:1). A instituição da antiga aliança foi
ordenada por Deus ( 9 :1), serviu em sua função temporária (9:10), mas apontava
para o futuro com o uma sombra (10:1) das realidades da nova aliança a serem
efetuadas por Jesus.
A LUZ DE HEBREUS

E s t r u t u r a s t ip o l ó g ic a s v e r t ic a is

Observamos as estruturas tipológicas horizontais inerentes em Hebreus, e no­


tamos que junto com a seqüência histórico-temporal de movimento há também
uma forte dimensão vertical (terrestre/celestial). Johnsson a descreve da seguinte
maneira: “a seqüência de tempo de Hebreus é cruzada por uma seqüência vertical,
terrestre/celestial”.60 Desse modo, Hebreus 8:5 apresenta Êxodo 25:40 como evi­
dência de que o santuário terrestre é uma cópia (hupodeigma), uma sombra (skia),
do santuário celestial.61
No decorrer dos capítulos 7 a 10, as correspondências históricas são mes­
cladas com correspondências cruciais entre terra e Céu. Há as correspondên­
c i a s entre os sacerdotes terrestres e o sumo sacerdote celestial, entre o santuário
terrestre e o celestial, o ritual terrestre e seu equivalente celestial. Esta dimen­
são vertical envolve as mesmas estruturas que emergiram de nosso estudo da
dimensão horizontal.

Estr u tu r a h is t ó r ic a ______

Assume-se que o santuário terrestre e seus serviços são uma realidade histórica.
Além disso, na descrição do santuário celestial e da sua liturgia, o autor de He­
breus “apóia-se na realidade deles".62 A correspondência entre os santuários celestial
e terrestre envolve uma absoluta intensificação ou ampliação do “exemplo e sombra”
(8:50) para o “verdadeiro” (9:24).

E struturas t e o l ó g ic a s

O ministério de Cristo no santuário celestial é condicionado pela estrutura escato-


lógica que envolve a tensão do “já” e do “ainda não”. Cristo já inaugurou seu reino com
seu sacrifício todo-suficiente e deu início ao seu ministério sumo sacerdotal (9:24-26).
Ele agora continua sua intercessão no santuário celestial (7:25). Em breve, aniquilará o
pecado e aparecerá uma segunda vez para saivar aqueles que o aguardam.
A tipologia vertical do santuário está inextricavelmente ligada à estrutura
soteriológica/cristológica. Pode-se concluir que até mesmo o sacrifício de Cristo
ocorreu sobre um altar que está dentro do pátio (terrestre) do santuário celes­
tial.63 O ministério sumo sacerdotal de Cristo no santuário celestial é claramente
soteriológico, isto é, tem o propósito de salvar os crentes penitentes que se che­
gam a Deus (Hebreus 7:25; 9:12-14, 24-26). Seu aparecimento “pela segunda vez”
também acontece “para salvar aos que o aguardam para salvação" (9:28).
Também, a estrutura eclesiológica é um componente da dimensão vertical. Os
beneficiários do sacrifício de Cristo e da mediação celestial são os adoradores indi­
vidualmente, os quais, sob a nova aliança, formam uma comunidade escatológica.
T ip o lo g ia ,n o l iv r o d e H e b r e u s

O movimento vertical está principalmente evidente em Hebreus 12:22-24, que des­


creve os crentes se aproximando (pela fé) da Jerusalém celestial, da “assembléia dos
primogênitos”, e do mediador celestial.
Por fim, a estrutura profética está presente tanto na dim ensão vertical
quanto na horizontal. Em Hebreus 9 :2 3 , por exemplo, o autor d iscorre da
purificação do santuário terrestre à necessidade de uma p u rificação do san­
tuário celestial. Por desígnio divino, o santuário terrestre, form ado de acordo
com o original, com todas as suas funções cultuais torna-se uma prefiguração
ou pré-apresentação das realidades relacionadas ao m inistério de C risto no
santuário celestial (8:5).
A existência de duas modalidades tipológicas expressas no livro de Hebreus
- a horizontal e a vertical - é reconhecida há muito. Mas a interpretação comum
de comentaristas modernos, baseados na tendência de igualar o pensam ento ver­
tical com dualismo de Platão/Filo tem firmado uma dipotomia teológica entre os
dois. James Moffat, por exemplo, está convicto de que a idéia platônica de dois
mundos (eterno e material) está presente em Hebreus. Este pensam ento “mais
profundo’ , afirma ele, não pode sé harmonizar com as formas escatcrlógicas de-
pensamento do autor.64
Outros estudiosos acreditam que o au to r de Hebreus reinterpretou um modo
de pensamento de forma que sirva ao outro. Deste modo, J. Cam bier argumen­
ta que as formas de pensamento horizontais (“escatológícas”) são reinterpretadas
pelo autor de Hebreus de modo a se ajustarem à forma alexandrina/helenista.65
Klappert, por outro lado, conclui que a função da correspondência vertical (alexan­
drina/helenista) é fornecer uma base para o fundamento da esperança horizontal
apocalíptica futura.66
Mesmo Goppelt, que não encontra em Hebreus uma dependência direta do
vocabulário ou desenvolvimento filònico, ainda relega o pensamento vertical como
“a analogia cósmica mítica da antiguidade”67, a qual é em Hebreus “mera ajuda
para a apresentação e caracterização da horizontal”.68
Entretanto, o estudo de Williamson65 indicou que a fonte do pensamento ver­
tical não é de Platão ou de Filo. Nosso estudo da correspondência vertical em Êxo­
do 25:40 e em todo AT7P leva à conclusão de que não é um vestígio da “analogia
cósmica mitica”, mas uma parte integrante da compreensão que o povo de Israel
tinha da relação entre o santuário terrestre e o celestial dentro do desenvolvimento
do plano histórico linear de Deus.
Assim, não há incoerências entre as correspondências vertical e horizontal.
São descrições da mesma realidade a partir de duas perspectivas. “O tabernáculo
celestial e seus serviços são, de um ponto de vista, arquétipos eternos, e de outro,
eventos escatológicos”.71
A LU Z DE HEBREUS

Uma abordagem holistica do livro de Hebreus deve reconhecer que a tipo­


logia vertical e a horizontal se harmonizam e se misturam uma com a outra no
livro. Ambas são essenciais para o entendimento da escatologia. A correspondência
horizontal provê a dimensão linear da atividade redentora de Deus, a qual alcança
seu cumprimento fundamental na obra histórica de Cristo, se estende eclesiologi-
camente à medida que a igreja se apropria dessa obra, e alcança sua consumação
na segunda vinda.
A dimensão horizontal está inextricavelmente ligada à vertical na escatologia, cristo-
logia/soteriologia e eclesiologia. A dimensão esclarece a relação entre Céu e terra no de­
senrolar do plano divino de salvação. Em todo o AT, esse alinhamento vertical é mantido
e o celestial é apresentado como a fonte suprema de significado para o terrestre.
Em Hebreus, o vertical “toma a intensificação tipológica inquestionavelmente
clara tanto no nível material como no lingüístico".77 O sacrifício de Cristo na terra
é visto ocorrendo sobre o altar que está no pátio (terrestre) do sanmário celestial. Os
adoradores cristãos obtêm a salvação em Cristo quando, pela fé, se chegam a Ele no
santuário celestial (40:19-22), onde Ele intercede continuamente em seu favor (7:25).
-Do-santuário eelest-ial Cristo-virá- uma segunda vez, tendo eliminado o pecado de uma
vez por todas, e trará a consumação da salvação (9:28).
Em bora exista uma conexão indivisível entre a correspondência vertical
e a horizontal, é verdade (conform e Klappert73 e G op p elt74 sustentam) que a
horizontal se destaca na ênfase fundam ental do autor. Mas, isso não envolve
a subordinação de uma dimensão vertical “cósm ico-m ítica” (G oppelt) ou “ale-
xandrina/helenista” (Klappert) desconhecida a uma dim ensão histórico-escato-
lógica judaico-cristã natural. Pelo contrário, a dim ensão vertical já é comum na
trad ição-cristã. Ela é empregada squ i numa- argum entação cúltica excepcional
para explicar a natureza do cum prim ento histórico da salvação, iniciado por
C risto com seu sacrifício feito uma vez, disponível à igreja por meio de um re­
lacionam ento espiritual/celestial com Ele com o sumo sacerdote, e próximo de
ser consum ado no térm ino de seu m inistério sacerdotal.
A importância de se compreender a relação entre as estruturas horizontal e
vertical na argumentação de Hebreus 8, 9 torna-se mais evidente à medida que
pesquisamos o uso de tupos e antitupos nas passagens 8:5 e 9:24 resçectivamente. É
disso que falaremos agora.

T u p o s / a n t it u p o s c o m o t e r m o s h e r m e n ê u t ic o s

À medida que se examina o uso de tupos e antitupos em Hebreus 8:5 e 9:24


respectivamente, uma inesperada divergência do uso no N T torna-se imediatamente
evidente. Nas passagens com tupos fora de Hebreus (IC o 10; Rm 5; lPe 3) o tupos
TIPOLOGIA NO LIVRO DE HEBREUS

("tipo") refere-se à realidade do AT e o antitiipos (“antitipo") à realidade do NT. No li­


vro de Hebreus, contudo, o antitupos denota a realidade do A T (o santuário terrestre),
e o tupos refere-se (direta ou indiretamente) à realidade do N T (o santuário celestial).
Devido a essa aparente inversão na aplicação da terminologia tipológica, faz-se neces­
sário examinar o uso de tupos e antitupos no livro de Hebreus.
Em Hebreus 8:5, o autor afirma que o santuário terrestre foi “um exemplo (hupodeig-
ma) e sombra (skia) das coisas que se acham nos céus". Ele sustenta essa afirmação
citando Exodo 25:40 (LXX). Ele escreve: “...como Moisés divinamente foi avisado,
estando já para acabar o tabemáculo; porque foi dito: Olha, faze tudo conforme o
modelo (tupos) que no monte se te mostrou.”

Na terceira parte deste capítulo conclui-se que tupos (LXX)/tabnit (MT) nessa
passagem se refere tanto ao próprio santuário celestial (como um modelo em mi­
niatura, intermediário), quanto a uma representação em miniatura (tridimensio­
nal) do santuário celestial.
.Se nossa análise de Exodo 25:40 estiver correta, então está.justificado o fato de
_o_autor de Hebreus empregar esta passagem do AT comQ-prova_da_existência de_iLm
santuário celestial, do qual o terrestre eTa uma cópia e uma sombra. Mas, assim como
Exodo 20:40 pode se referir ao santuário celestial ou ao seu modelo em miniatura,
então Hebreus 8:5 está equivocado neste ponto. O autor afirma a correspondência
do santuário terrestre/celestial com base em Exodo 25:40, mas ele não declara expli­
citamente que o tupos é o santuário celestial.
É possível que ele interprete tupos como modelo em miniatura do santuário
celestial, mas não originalmente o próprio santuário celestial.75 Esta possibilidade
encontra mais apoio se tupos (junto com hupodeigm.a e skicà ío r visto como parte
do vocabulário filônico empregado pelo autor, como é freqüentemente sugerido.
É verdade que Filo compreendia tupos em Êxodo 25:4 0 , simultaneamente, como
uma cópia do arquétipo celestial e um modelo para o santuário terrestre.76 Se o
autor de Hebreus utiliza o filonismos aqui, não obstante a terminologia esteja
repleta de um novo conteúdo apocalíptico, ainda considera-se presentes as mes­
mas dinâmicas verticais.
Contudo, não podemos determinar que o autor de Hebreus empregue tupos
com as mesmas dinâmicas verticais que Filo. Ele não introduz os termos filônicos
característicos (archetupcs ç.winiãmá) descrever o arquétipo e a cópia terrestre,
respectivamente. Além disso, parece que o interesse fundamental desta passagem
seja o de estabelecer a correspondência entre o santuário celestial e o terrestre, e
não tratar de um modelo em miniatura.
Devemos concluir, portanto, que qualquer das três opções que colocamos
com respeito ao tupos em Exodo 25:40 (LXX) são possíveis nessa passagem: (1) Tu­
p os pode se aplicar ao modelo em miniatura do santuário celestial, projetado com
A LUZ DE HE BREUS

o propósito de construir o santuário terrestre; (2) pode se referir diretamente ao


santuário celestial (como a maioria dos comentaristas modernos sugere);" (3) ou,
talvez, o autor tivesse em mente tanto o modelo em miniatura quanto o santuário
celestial. Mas independentemente de qual opção esteja correta, fica clara a confir­
mação de uma correspondência vertical (terrestre/celestial) do santuário.
O termo tupos nessa passagem possui a mesma dinâmica linear como vimos
em 1 C oríntios 10 e Romanos 5. Tupos é um protótipo, padrão, cópia. Se tupos
refere-se originalmente ao modelo em miniatura do santuário celestial, neste caso
as mesmas dinâmicas qualitativas são também conservadas. Assim com um “mol­
de côncavo/vazio”, que deriva de um original e é secundário ao produto final ao
qual molda, o tupos (modelo em miniatura) deriva de um original (o santuário
—— celeste). Ele desempenha um papel secundário para “formar” uma realidade de
ordem superior, o santuário celestial. Contudo, se tupos refere-se originalmente
ao próprio santuário celestial (conceito que pode estar mais em harmonia com a
argumentação do autor), então, as dinâmicas qualitativas estão invertidas. Tupos
é-o origina! e -funciona como o protótipo de uma ordem “inferior”, secundária (o
------santuário terrestre).----------------------------------
O uso de ar.titupos em Hebreus 9:24 parece ser determinado pelo significado de
tupos em 8:5.79 A palavra antitupos, como Moffatt aponta corretamente, “literalmente
'responde ao tipo’ que foi mostrado a Moisés no monte”.80Selwyn destaca que o termo
antitupos “é em si uma palavra neutra que pode... ‘depreciar relativamente’, ou ‘louvar
relativamente.’ O significado, portanto, deve ser determinado pelo contexto: em si sig­
nifica ‘correspondente’ ou ‘o objeto correspondente”’.81
Em Hebreus 8:5, a citação de Êxodo 2 5:40 obrigou o autor de Hebreus a usar
tupos que (direta e/ou indiretamente) se refere ao santuário celestial. Deste modo,
em Hebreus 9:24 ele continua usando-o e permite que antitupos tenha o significado
“correl-ativo, correspondente a” com a conotação de “cópia”.83
Este uso de antitupos na prática confere-lhe a mesma significação de outras
palavras como s k ia (“sombra”) e h ip od eig m a (“cópia”), que dirigem a atenção do
leitor da cópia/sombra terrestre à realidade celestial. Fazendo isso, o autor mantém
a mesma seqüência lin ear como temos visto em outras passagens de tupos : modelo/
protótipo (tupos) seguido de uma cópia posterior (antitupos ). O santuário celestial,
original e anterior (ou modelo em miniatura do original) é o padrão para o santu­
ário terrestre posterior.
Contudo, o uso de antitupos em Hebreus 9:24 é único, no que diz respeito a
tupos (diretamente ou indiretamente o santuário celestial), que é anterior ao terres­
tre em existência, suceder o terrestre em função soteriológica. O antitupos “corres­
ponde” ao precedente tupos, mas também aponta para o futuro, para a inauguração
escatológica de seus serviços. Assim, a aplicação ripológica normal dos termos tupos
T ip o l o g ia n o l iv r o d e H e b r e u s

e antitupos è invertida. Antitupos (“antítipo”) denota a realidade do AT, e o tiipos


(“tipo”) denota a realidade celestial do NT, a qual a instituição do A T prefigurou.
Como já observamos, esta inversão ocorreu, em termos, porque o autor se
comprometeu em Hebreus 8:5 a usar tupos com o é encontrado em Exodo 25:40
(LXX). Nesta passagem, tupos já se refere ao santuário celestial e/ou modelo em
miniatura do santuário celestial. Portanto, em Hebreus 9:24 ele continua a usar
tupos como em Hebreus 8:5 e emprega antitupos conforme o significado comum em
grego de “o que corresponde ao tupos”, ou seja, a cópia terrestre.

R esu m o

D esco bertas

Os componentes estruturais da tipologia que sé manifestaram em nosso es­


tudo das passagens com tupos em Hebreus podem ser resumidos .sob o mesmo
— cabeçalho que empregam.os_para-as .outras, mensagens .de .'«pom a primeira^seção,
deste capítulo. _
Primeiramente, temos a estrutura histórica que envolve uma correspondên­
cia histórica entre as realidades do A T e os cumprimentos escatológicos do NT.
Nas passagens com tupos em Hebreus são originalmente instituições ctilticas e
não eventos históricos específicos ou indivíduos que formam o conteiido das
realidades do AT.
A correspondência, como em outras passagens de tupos, é vista em detalhes
cruciais, bem como em contornos gerais, e .envolve uma intensificação absoluta
em seus cumprimentos escatológicos. Na epístola aos Hebreus, a intensificação
escatológica é realçada por uma correspondência vertical que atravessa a correspon­
dência horizontal e abarca todos os acontecimentos, eventos e atividades históricas
relacionadas à salvação.
As estruturas teológicas nas passagens com tupos em Hebreus incluem a esca­
tológica, soteriológica-cristológica, eclesiológica e profética. Elas são cruzadas pelas
correspondências tipológicos horizontais e verticais.
A escatologia de Hebreus revela o que encontram os em outras passagens
com tupos: uma tensèo -er.tre o que já está cum prido em Jesus C risto e o que
ainda não está consumado. Mas, em Hebreus, a certeza dos cristãos na consu­
mação futura é fundamentada mais na correspondência vertical terra-céu.
O contexto imediato de Hebreus 8:5 e 9:24 move-se mais livremente no cam­
po da soteriologia e cristologia ctiltica do que em outras passagens com tupos. A
eclesiologia é também determinada cultualmente em 7:1 -1 0 :1 8 . O aspecto sacra­
mental dessa estrutura eclesiológica não aparece. A argumentação dessa parte, e em
A LUZ DE HEBREUS

particular os próprios termos tupos-antitupos, claramente revela os aspectos proféti­


cos da prefiguração preditiva, da apresentação prévia e do desígnio divino.
Tanto tupos quanto antitupos são vistos como termos técnicos. Desta manei­
ra, podem ser considerados como indicadores da presença da tipologia nessas
passagens. O uso de tupos/antitupos segue a seqüência linear (protótipo = cópia)
como em outras passagens sobre tupos. Contudo, uma vez que tupos (na citação
de Exodo 2 5 :4 0 ) refere-se (direta e/ou indiretamente) ao santuário celestial, o
antitupos denota o que “corresponde” ao precedente tupos; isto é, o santuário
terrestre do AT. Portanto, a aplicação comum dos termos é inversa no livro de
Hebreus. O antitupos é a realidade terrestre do A T e o tupos é (direta/ou indireta­
mente) o santuário celestial do N T (que antecedeu o terrestre em existência, mas
—que começou oficialm ente a sua função somente depois da ratificação do novo
concerto mediante a morte de Jesus).

I m p l ic a ç õ e s

______ A partir desta análise das estruturas tipológicas nas passagens com tupos cm
Hebreus, surgem certas implicações significativas:
1. Primeiramente, nosso estudo indicou que a tipologia em Hebreus é consti­
tuída das mesmas estruturas conceituais encontradas na tipologia do restante das
Escrituras. Nas passagens com tupos a correspondência é ampliada para incluir a
instituição santuário, bem como pessoas e acontecimentos. Além disso, uma cor­
respondência vertical (terrestre/celestial) está presente junto com o alinhamento
horizontal (histórico) comum. Contudo, as estruturas básicas da tipologia perma­
necem inalteradas.
A inclusão do santuário simplesmente serve para expandir o escopo das
realidades tipológicas para abarcar três categorias: pessoas, acontecim entos e
instituições. Igualm ente, a introdução da dim ensão vertical, na verdade, serve
para reforçar o eiem ento de ampliação ou intensificação que forma parte da
estrutura histórica.
2. A referência à dimensão vertical nos direciona a uma segunda implicação
importante. Com base em nossa análise de Hebreus 8:5 e 9:24 nos seus contextos
de culto, é inapropriado considerar a tipologia vertical como um vestígio do antigo
pensamento mítico oriental ou um componente do dualismo platônico-filônico.
Tais perspectivas são estranhas à dimensão histórico-escatológica do pensamento
judaico-cristão.
Em oposição a esse conceito, descobrim os que a correspondência vertical
(terrestre/celestial) do santuário já é com um no A T (compare Êxodo 2 5 :4 0 e
muitas outras passagens). Na Epístola aos H ebreus, a correspondência verti­
cal do santu ário se harm oniza com as estruturas horizontais. Portanto, tanto
TIPOLOGIA NO LIVRO DE HEBREUS

as estruturas verticais quanto as horizontais parecem ser inerentes à tipologia


b íblica, em bora ambas não sejam empregadas em todas as passagens com tu­
p o s . Esta implicação coloca-se em oposição à visão de im portantes defensores
da neotipologia pós-critica, que desprezam a tipologia vertical e aceitam so­
m ente a horizontal com o verdadeira representante da perspectiva bíblica.
3. Uma terceira implicação a partir deste estudo tem a ver com o uso da
term inologia mais apropriada para descrever as realidades correspondentes do
A T e N T na tipologia bíblica. Temos notado que nas Escrituras em geral a
palavra tupos (“tipo”) refere-se à realidade do A T e antitupos (“an títip o”) ao cum­
prim ento do NT. Em Hebreus, ocorre o contrário. A palavra antitupos refere-se
ao santuário terrestre do AT, e tupos alude (diretam ente ou indiretam ente) ao
santuário celestial.
C om o já vimos, a diferença em Hebreus surge porque a realidade do N T
(o santuário celestial) existia antes da realidade d q.A T (o santuário terrestre);
conseqüentem ente, o terrestre é em Hebreus o antitupos do (“que corresponde
ao") celestial.
Para ser exato, no livro dè Hebreiís, a palavra'“antítipo” podería ser usada
para indicar o santuário terrestre do AT, e “tipo” deveria se referir ao santuário
celestial (e/ou ao modelo em miniatura'mostrado a Moisés). Contudo, o movi­
m ento funcional da tipologia em Hebreus (da realidade do A T para o cumprimento
do N T) é o mesmo-de •outras passagens de tupos. Portanto, a verdade fundamental
em Hebreus não é abalada se, em prol da conveniência e constância, o uso comtim
dos termos “tipo” e “antítipo” são empregados em referência à realidade do A T e o
cumprimento do N T respectivamente.
4. Uma implicação final de nossa análise das estruturas com tupos em H e­
breus tem a ver com a abrangência da tipologia na epístola. Seguindo a metodo­
logia delineada na seção anterior, focalizamos a seção cúltica principal onde a
ocorrência de tupos e antitupos tem fornecido palavras que indicam a presença da
tipologia. Deste modo, tem sido possivel permitir que as estruturas da tipologia
procedam das Escrituras, sem a necessidade de se impor uma compreensão prévia
do texto bíblico.
Vimos que as características das passagens com tupos em Hebreus coincidem
com as estruturas tipológicas encontradas em 1 Corintios 10, Romanos 5, e 1 Pe­
dro 3. E agora possivel procurar tipologia em outras passagens de Hebreus onde
essas mesmas estruturas aparecem, mas a palavra tupos (ou “cognato”) não está pre­
sente. Não é nosso propósito aqui irmos além de uma consideração da natureza da
tipologia, isto é, realizar uma pesquisa detalhada da abrangência da tipologia em He­
breus. Contudo, mesmo um levantamento superficial indica que a epístola é rica
em temas tipológicos em passagens que não fazem parte da seção ciilrica principal.
A LUZ DE HEBREUS

Como exemplos notamos que as estruturas tipològicas aparecem em referências


a Moisés (3:1-5), Josué (4:1-10), Melquisedeque (7:1-28), monte Sião (12:22), e o
tema da peregrinação para a terra prometida (que permeia as seções não-cúlticas da
epístola). Estes e outros possíveis temas tipológicos motivam outros estudos. Cien­
tes de que outras pesquisas podem ser realizadas e outras ampliações verificadas a
partir desses temas tipológicos, qualquer declaração sobre a natureza tipológica em
Hebreus deve permanecer em aberto.

A b a s e d o A n t ig o T e s t a m e n t o p a r a a t ip o l o g ia d o

SANTUÁRIO EM H E B R E U S

Sinopse ed itorial. A fim de demonstrar uma relação vertical entre os santuá­


rios terrestre e celestial, o escritor de Hebreus cita as instruções de Deus para Moisés
em Exodo 25:40. “Vê que faças todas as coisas de acordo com o modelo [grego, tupos;
hebraico, tabnh f] que te foi mostrado no monte” (Hb 8:5).
A citação é tirada da Septuaginta grega (LXX), uma tradução da Biblia hebrai­
ca feita no segundo/terceiro séculos a.C. Os tradutores empregaram a palavra grega
lupos como tradução da palavra hebraica tabnh.
Nessa seção, o autor explora a questão quanto a se tabnit (no contexto de Exodo
25) implica uma correspondência vertical (terrestre/celestial) do santuário.
Tabnh, um substantivo derivado do verbo b ã n ã h ("construir"), ocorre 20 vezes
no AT. De acordo com o contexto, tabríit pode exprimir um dos três conceitos
básicos: o term o pode significar (1) uma cópia de algo, (2) um m od ela/padrão para
construir algo, ou (3) uma cópia de algo e um modelo/padrão para construir algo
- ambos ao mesmo tempo. Essas nuanças de significado são também encontradas
no grego tupos.
Sete linhas de evidência são citadas para indicar que o uso de tabnit em Exodo
25:40 reflete a idéia de que o santuário terrestre foi visto como o corresponden­
te da morada celestial da Divindade. Conseqüentemente, nessa passagem tabnit
é mais bem compreendido como um modelo em miniatura do santuürio celestial
(cópia do original) que foi mostrada a Moisés como um exemplo (modelo/padrão)
para o propósito de construir o sanmário terrestre.
Portanto, tal significado para tabnit evidencia claramente uma correspondên­
cia vertical (terrestre/celestial) do santuário, e foi reconhecido e empregado pelo
autor de Hebreus em sua argumentação, e vertido corretamente pelos tradutores
da LXX como tupos.
t ip o l o g ia n o l iv r o d e h e b r e u s

E sbo ç o da seç ã o

1. Introdução
2. Significado de taknit
3. Estruturas de tabnit/tupos
4. Resumo e implicações

I n tro dução

Em Hebreus 8:5, o escritor apostólico cita Êxodo 25:40 da Septuaginta grega (LXX)
para provar que o santuário terrestre era uma cópia e sombra do santuário celestial.
...como Moisés divinamente foi avisado, estando já para acabar o tabernáculo; porque
foi dito: “Vê que faças todas as coisas de acordo com o modelo que te foi mostrado
no monte (Hb 8:5).

A palavra hebraica, traduzida pela palavra grega íupos nessa passagem, é tabnU.
Tabnít também aparece duas vezes nas declarações do versículo 9, as quais se harmo­
nizam bom a deélãfãçãoTeitÃnesseAersícuTcrque cítãmos. Portanto, é importante
examinar o termo hebraico (tabriit) para determinar se ele pressupõe uma corres­
pondência vertical (terra e Céu).83
Êxodo 25 inicia a seção do livro que trata da construção do santuário. Primeiro, Deus
lista os materiais que o povo deve trazer (v. 1-7). Em seguida expressa o propósito divino: “E
me farão um santuário, para que eu possa habitar no meio deles...” (v. 8).
Moisés, é, então, admoestado a fazer o santuário de acordo com o que lhe foi
mostrado, ou seja, de acordo com o modelo (tabriit) do tabernáculo e sua mobília.
Após detalhar as especificações para a arca (v. 10-22). a mesa (v. 23-30), e o candelabro
(v. 31-39), Deus repete sua admoestação a Moisés: “Vê, pois, que tudo faças segundo
o modelo que te foi mostrado no monte” (versículo 40).

O SIGNIFICADO DE T á BNÍT

Essa parte das Escrituras se refere ao santuário celestial, como declara Hebreus
8:5? A resposta para essa pergunta depende muito do significado do termo hebrai­
co tabriit no contexto desse versículo.84Essa palavra hebraica é usada três vezes nos
versículos 9 e 40 (de Exodo 25), e é traduzida por muitas das versões em inglês
como “pattern” (padrão). Na ARA é traduzida como modelo. Devemos examinar
essa palavra lexicográfica e contextualmente a fim de determinar sua abrangência
semântica nas Escrituras.
Tabnít é um substantivo derivado do verbo bãnãh, “construir”.85 O verbo
bãnãh aparece no AT pelo menos 370 vezes,86 e o substantivo tabnit aparece 20 ve-
A LUZ DE HEBREUS

zes.37 Os lexicógrafos Brown, Driver e Briggs definem o significado básico de tabnU


como “construção”, "modelo” e “figura”83 e dividem o uso desse substantivo de
uma maneira muito clara dentro dessas três categorias:85
1. “Construção”, “estrutura” (o uso original, aparentemente).
Exemplos: As tribos de Rúben e Gade fizeram um altar, uma construção *
real (um modelo do altar original do tabernáculo), Josué 22:28.
As filhas são comparadas a pedras de esquina retiradas da construção de
um palácio, Salmos 144:12.
2. “M odelo” (segundo o qual todas as coisas devem ser construídas).
Exemplos: O tabernáculo foi construído segundo um “modelo”, Êxodo 25:9.
Seus utensílios foram feitos segundo um "modelo”, Êxodo 25:9 e 40.
O rei Acaz enviou um “modelo” do altar que havia visto em Damasco
para ser copiado em Israel, 2 Reis 16:10.
Davi entregou a “planta” do templo e da mobília a Salomão, 1 Crônicas
28:11, 12, 19.
___ 3. “Figura, semelhança, forma”.
Exemplos: ídolos feitos em “forma, figura” de animais, Deuteronômio
4:16, 17, 18 (é mencionado 2 vezes nos versículos 17 e 18).
Os israelitas trocaram a glória de Deus pela “figura” de um boi, Salmos
106:20.
ídolos feitos segundo a “forma” de um homem, Isaias 44:13.
A “forma” de uma mão, Ezequiel 8:10.
Toda a “forma” ...pintados na parede, Ezequiel 8:10.
E apareceu nos querubins uma “sem elhança” de mão de homem, Eze­
quiel 10:8.
Os lexicógrafos Ludwig Koehler e Walter Baumgarther dividem o uso do subs­
tantivo cabnít_de maneira diferente:90
1. “modelo”, “protótipo” (Urbild), Êxodo 25:9,40.
2. “Semelhança”, “reprodução” (Abbild), Deuteronômio 4:10-18, Josué 22:28.
3. “Modelo” (Modell), 2 Reis 16:10; Salmos 144:12; 1 Crônicas 28:11, 12, 18.
4. “Forma” (Bild), Isaias 4 4 :13; Ezequiel 8 : 10; Salmos 106:20. v
5. “Semelhança” (etuos wie), Ezequiel 8:3; 10:8.
6. “planta” (BaupUm), 1 Crônicas 28:19.
Se analisarm os os usos acim a da palavra hebraica tabn iu descobrirem os
que são sem elhantes à palavra grega tupos, que foi usada para traduzir tabnU
na Septuaginta grega (LXX) em Êxodo 2 5 :4 0 . Assim com o tupos, a palavra
hebraica tabnU tam bém pode carregar três significados: 1. uma “cópia (de)”,
2. um “m odelo/padrão (para)” ou 3. uma “cópia (de)” ou um “m odelo (para)”
ao m esm o tempo.
T ip o l o g ia n o l iv r o d e H e b r e u s

Em pelo menos 12 dos 20 usos, existe uma referência explicita para tabnit como
cópia do original. Encontramos cópias de um altar (Js 22:28), de animais ( Dt 4:16-18; SI
106:20; Ez 8:10), de homens (Is 44:13), ou de mãos humanas (Ez 8:3; 10:8).
O termo tabnit possui o mesmo significado de modelo/padrão para pelo menos
oito vezes.91 Encontramos modelos/padrões para o santuário e seus utensílios (Ex
25:9, 40), o templo de Salomão e suas mobíüas ( lC r 28:11-12, 19), e o ouro do
carro dos querubins ( lC r 28:18).
Em pelo menos uma das 20 referências, tabnit significa um modelo/padrão e
uma cópia simultaneamente (2Rs 16:10-11). Está registrado que o rei Acaz viu um
altar em Damasco e enviou uma cópia deste (tabnit), a qual se tornou um modelo/
padrão para outro altar construído por Urias, o sacerdote. Está explicitamente de­
clarado aqui que tabnit quer dizer tanto cópia do original quanto m odelo/padrão_z
para a construção de outro objeto. Tal sentido duplo para tabnit pode estar suben­
tendido em Exodo 25:9, 40, se for possível determinar que ele foi formado a partir
do tabernáculo celestial, o original.
Assim, temos no termo tabnit uma ampla diversidade semântica que focaliza
três significados-básicosjz-iiLcluLnuanças-variadas.-----------------------------------------------------

E str u tu r a s t a b n ít / t u p o s

Eruditos têm aplicado diferentes combinações dos significados básicos e nuanças


semânticas das- três ocorrências de tabnirem Exodo 25:9, 40, obtendo seis possibilida­
des. Podemos esquematizar em diagramas os conceitos sugeridos:

1. Um modelo tridimensional em miniatura para o santuário terrestre:91


2
Modelo em-miniatura ' tabnit

T
Santuário terrestre

2. Planta arquitetônica do santuário terrestre:93


Planta 4 = tabnit.

Santuário terrestre

3. Ums*cáptís do santuário ceiestiabque funciona como um modelo/padrão para


o santuário terrestre (na forma de um modelo em miniatura):9'*
Santuário celestial

Modelo em miniatura tabnit.

Santuário terrestre
A LU Z DE HEBREUS

4. Uma cópia do santuário celestial que funciona como um modelo/padrão


para o santuário terrestre (na forma de planta do santuário):9’

Santuário celestial

Planta = tabnít
Santuário terrestre

5. O próprio santuário celestial com o m odelo/padrão para o santuário


terrestre.-96

Santuário celestial = tabnit_

Santuário terrestre

6. Inspiração subjetiva (sem comunicação ou sugestões) como o modelo/pa­


drão para o santuário terrestre:97

Inspiração subjetiva = tabnít

Santuário terrestre

Uma vez que há pessoas que apóiam cada uma dessas sugestões, como decidir
qual é a correta? W illiam G. Moorehead responde enfaticamente, “Não podemos
dizer.”98 Reconhecemos que há certa ambigüidade com relação ao termo tabnít,
mas várias considerações apontam na direção de conclusões plausíveis.
Geralmente, concorda-se que os prefixos preposicionais kf (“segundo”) antes
de “tudo” {kol em Êxodo 25:9) e b 1 (“por/conforme”)99 antes de “modelo” (tabnít
em Êxodo 25:40) indicam que tabnít é (ao menos) um modelo/padrão para o san­
tuário terrestre. Mas, qual é a natureza desse tabnít]. É um modelo em miniatura
(n°s 1 e 3 acima) ou uma planta arquitetônica (n°s 2 ou 4), o próprio santuário
celestial (n° 5), ou simplesmente ponderações sobre uma subjetiva “inspiração
divina” (n° 6)?
A posição n° 6 pode ser rejeitada, pois ela conflita com Éxo^o 25:9, onde
é afirmado que o modelo foi mostrado a Moisés (Hiphil particípio de rã'ãh).
O texto indica que uma realidade visivel foi mostrada a Moisés. Números 8:4
usa a palavra mostrar, ver, visão (mar ’eh) para descrever o mesmo acontecimento.
Outras passagens análogas apóiam a conclusão de que Moisés contemplou uma
realidade visível.100
Tabnít envolve uma construção sólida ou uma planta arquitetônica? Em doze
dos vinte usos de tabnít no AT, há referência explicita a uma estrutura sólida. Dei­
xando de lado Êxodo 25, vimos como Koehler e Baumgartner categorizaram vinte
T ip o l o g ia n o l iv r o d e H e b r e u s

referências sobre o significado “modelo",101 o qual parece implicar uma estrutura


sólida. Vários eruditos argumentaram a favor desse mesmo significado de “mode­
lo” em Êxodo 25:9, 4 0 .102
Se tivessem sido mostradas a Moisés meras plantas arquitetônicas, elas teriam
sido entregues a ele na montanha. Mas, o registro diz que ele trouxe consigo apenas
as duas tábuas de pedra (Ex 32:15). Estaria mais em conformidade com o contexto
assumir que Moisés teve uma -visão -de algo construído, uma realidade expressiva
de como o santuário seria. A luz de uma análise quantitativa dos usos de tabnlt e o
contexto imediato de Êxodo 25:9, 40, a conclusão de David N. Freedman, parece
preferível: “Moisés viu algo construído, no lugar de uma planta.”103
Se tabnU st refere a algo construído, qual a natureza dessa construção? É um
modelo em miniatura para o santuário terrestre, ou um modelo em miniatura
do santuário celestial para a construção do terrestre (ou seja, tanto cópia como
modelo/padrão)? Ou é o próprio santuário celestial (ou seja, o original)? Ou M oi­
sés primeiro viu o santuário celestial e, então, um modelo tridim ensional do
celestial, padrão para a construção do terrestre?*12

C o r r e s p o n d ê n c ia v e r t i c a l t e r r e s t r e / c e l e s t ia l d o s a n t u á r i o

A pergunta básica que deve ser primeiramente respondida é se há uma corres­


pondência vertical terrestre/celestial do santuário nessa passagem. Êxodo 25:9, 40
não afirma explicitamente que Moisés viu o santuário celestial,104 embora o peso
da evidência favoreça uma pressuposição da correspondência terrestre/celestial do
santuário na passagem e no seu contexto.
1. Vimos como a-abrangência semântica da palavra tabnlt possibilita, e até, mes­
mo tende a um originai celestial e/ou modelo em miniatura de um originai celestial.
Em Salmos 144:12 tabnlt parece referir-se a uma estrutura original. Essa aplicação
tendería a apoiar a idéia de um original celestial em Exodo 25:9, 40.
Em 2 Reis 16:10, 11 tabnU refere-se a uma cópia de um original que serve como
modelo para a construção de outra cópia. Em pelo menos 11 outras ocorrências
no AT, tabnlt é semelhantemente uma cópia embasada em alguma idéia ou objeto
pré-existente.105 Essas aplicações apoiariam a idéia de um modelo em miniatura de
um santuário pré-existente no Céu.
2. O contexto imediato visionário e teoíànico dessa passagem parece sugerir co­
notações do santuário celestial.106 No capítulo anterior, Moisés e outros representan­
tes de Israel “viram o Deus de Israel, sob cujos pés havia uma como pavimentação de
pedra de safira" (Êxodo 24:10). Esta é uma indicação da visão do trono em Ezequiel
1 - no contexto do templo celestial - onde o trono era “como uma safira” (v. 26).
Parece provável que na narrativa de Êxodo 24, Moisés e os anciãos tiveram um
vislumbre do santuário celestial como o lugar de habitação de Deus no Céu. Então, se
A LUZ DE HEBREUS

no capítulo seguinte Moisés recebe a ordem de construir um lugar de habitação terres­


tre para Deus (Ex 25:8), seria razoável dizer que o lugar de habitação terrestre fosse, em
certo sentido, uma réplica do lugar de habitação de Deus no Céu.107
3. Esta probabilidade contextual é fortalecida por uma terceira considera­
ção, a saber, a crença comum do antigo Oriente Médio de que o templo terrestre
foi construído como uma cópia de um original celestial.108 Alguns exemplos desta
difundida noção devem ser analisados. Na Enuma elish babilônica observamos um
pátio de assembléia celestial (Ubshukkinna) correspondente a um templo terrestre.109
De acordo com o código de Hammurabi, o templo Ebabbar em Sipar era “como a
habitação celestial”.110 Os famosos textos cuneiformes neo-sumerianos retratando
as bravuras de Gudea de Lagash proveem o exemplo mais claro e mais antigo.111
_ O rei Gudea conta como foi orientado na construção dos templos,112 e narra sua
visão da deusa Nina, seu irmão Nigirsu e sua irmã Nindubi. Nina ordena-lhe que
construa um templo, Nigirsu mostra-lhe o templo celestial que ele deve copiar113e
Nindub lhe entrega a “planta” {gishar)lu do templo que cie deveria construir.
O s correspondentes semiticos não.devemser tomados como um determinante
------finabpara a-concepçáo-israelita, Não obstante, devemos permitir que-o-paralelo de
comparação seja completo e sirva como um dos vários indicadores de que o povo
de Israel também tinha conhecimento de uma correspondência terrestre/celestial.
4. Uma quarta linha de evidência que apóia uma correspondência terrestre/
celestial do santuário em Exodo 25-9, 40 é encontrada em numerosos paralelos do
AT. Allan J. M cNicol destaca corretamente115 que a idéia de uma correspondência
vertical (terrestre/celestial) do santuário é comum no AT e não, como afirma von
Rad, “quase totalmente estranho ao antigo Israel".116
Logo no livro de G ênesis, encontram os paralelos úteis. Com referência a
Gênesis 28:10-22, F. Jerem ias argumenta fortem ente que Jacó teve em Betei “a
visão do santuário celestial”.117 A idéia de um equivalente celestial original/ter-
icSuc e expiessa através da forma com o foi chamado o local terrestre — casa
de D eus.”118Tryggve N. D. M ettinger ressalta mais uma ilustração na analogia
entre tabníl e o conceito im ago de Gênesis 1:27. Ambos concordam com origi­
nais celestiais.119
Nos Salmos e nos livros dos profetas encontram-se numerosas referências ex­
plicitas ao santuário celestial ou templo num paralelismo próximo ou justaposição
com o santuário terrestre.120 A linha de raciocínio dos escritores bíblicos se move
facilmente do santuário terrestre para o celestial, e os aspectos litúrgicos do santuá­
rio terrestre são freqüentemente apresentados numa correspondência vertical com
a liturgia do santuário celestial.121
5. Outras linhas de evidência de uma correspondência vertical do santuário
em Êxodo 25:9, 4 0 provêm da literatura do judaísmo moderno. Os livros apócri­
T ip o l o g ia n o l iv r o d e H e b r e u s

fos e os pseudepígrafos dão várias indicações de uma correspondência terrestre/


celestial do templo/santuário e liturgia.122 Fontes rabínicas declaram freqüente-
mente a existência de um santuário celestial original que corresponde em seus
minimos detalhes às ordenanças e liturgia do santuário levítico.123 Muitos dos
trabalhos do original celestial são fundamentados em Êxodo 25:9, 4 0 com o um
texto de prova.
O uso dos termos tirpos e p a ra d eig m a na LXX pode também indicar que o
hebraico (em Exodo 25:9, 40) foi interpretado com base na correspondência terres­
tre/ celestial do santuário.
Finalmente, como pudemos observar,124 Filo interpreta o que foi mostrado
para Moisés como um tupos do original celestial p ara o terrestre. Embora Filo inter­
prete o original celestial com base em idéias eternas, transcendentes e não como
realidades celestiais materiais, a mesma dinâmica vertical (Céu/terra) parece estar
presente, como no AT.
Em suma, uma análise gramatical de tabnU em Êxodo 2 5 :4 0 permite e impli­
ca uma correspondência vertical terrestre/celestial do santuário. Esse ponto de
vista é~apoiado p ekr(l)-contexto teofânieo im ediator-eombtnado-eom-a-funeão-
determinada do santuário como um lugar de habitação para Deus; (2) parale­
los do antigo O riente Médio; (3) .paralelos d o A T: (4) literatura pseudepigrafa e
apocalíptica; (5) fontes rabínicas; (6) a tradução da LXX; e (7) a interpretação de
Filo. Considerando essa evidência Ju n tam en te com F ran kM . Cross, poderiamos
afirmar que “provavelmente a concepção de tabnU, o ‘modelo’ (Êx 25:9), também
retoma definitivamente à idéia de que o santuário terrestre é o correspondente
da habitação celestial de uma deidade.” 125
Se Êxodo 25:9, 40, de fato, implica uma correspondência vertical terrestre/ce-
lestial, ainda resta determinar especificamente o que foi mostrado para Moisés.
Observamos que o contexto teofãnico de Êxodo 24 implica que Moisés viu
o santuário celestial, mas, não parece provável que tabnU refira-se exclusivamente
ao santuário celestial. Se o próprio santuário celestial (sem intermediação de
alguma apresentação de modelo em miniatura) fosse visto inteiramente, isso não
coincidiría com outros relatos do A T quanto ao santuário celestial.
Em outra parte das Escrituras, o santuário celestial é descrito como um tem­
plo majestoso, imenso, onde existem incontáveis anjos.126 Se Moisés fosse capaz de
compreender tal manifestação de majestade {sem intermediação de algum modelo
em miniatura), não seria necessário que Deus lhe dissesse repetidamente para cons­
truir o santuário de acordo com o que lhe foi mostrado (Êx 25:9, 40; 26:30; 27=8; Nm
8:4). A ênfase dessas últimas passagens descarta a idéia de que Moisés viu somente
a realidade celestial e, então, foi deixado sozinho com a tarefa de traduzi-la em
proporções terrestres.127
A LUZ DE HEBREUS

Parece mais provável que Moisés tenha primeiramente recebido uma visão
do santuário celestial e, então, foi-lhe dado um modelo em miniatura do mesmo,
pelo qual deveria construir o terrestre.128 Se foi isso o que aconteceu, ainda existem
várias possibilidades com relação à abrangência de tabnit em Êxodo 25:9, 40.
O term o tabnit pode referir-se, em principio, ao modelo em miniatura do
santuário celestial (embora não exclua uma orientação básica para o próprio
santuário celestial).129 Essa hipótese está em harmonia com a maioria das utiliza­
ções do termo em que tabnit se refere a um significado diferente de “original”.
Isso corresponde particularm ente ao alcance semântico de tabnit, explícito em
2 Reis 16:10. Aqui o termo se refere a uma cópia do original que é empregado
com o um modelo para outra cópia. De acordo com essa hipótese, tabnit (em
Êxodo 25:9, 40) se referiría a um modelo em miniatura de um santuário celes­
tial original, o qual Deus instruiu Moisés a utilizar como um modelo/padrão
para o santuário terrestre.
Por outro lado, em Êxodo 25 tabnit pode apontar primeiramente para o pró­
prio santuário celestial (embora não exclua a necessidade de uma representação
em miniáturã~para Moisés seguir)!™ Isso está em harmonia com o uso de tabnit em
Salmos 144:12. Neste caso, tabnit significaria o original que serve como um modelo
para a cópia terrestre.
Uma terceira possibilidade é que tanto o santuário celestial como o modelo
em -miniatura estão n a visão. O tabnit envolvería, portanto, tudo o que foi mostra­
do para Moisés na montanha - o santuário celestial original e o modelo em minia­
tura - que deveria servir como um padrão para o santuário terrestre.131
Não parece possível decidir com exatidão, a partir da evidência disponível, se
a primeira referência de tabnit é um modelo em miniatura do santuário celestial,
se é o próprio santuário celestial (com um modelo em miniatura), ou ambos. Mas,
qualquer que esteja na visão, tanto o santuário celestial (o original) quanto o mo-
uciu em liiIuícilUlci \v.OuiO uind v_cpia e modelo padrao), parece estar intimamente
ligado ao termo.
Comparando as linhas de argumentação e de evidência da natureza de tabnit
em Êxodo 25:9, 40, podemos nos posicionar a favor de uma estrutura vertical
(terra/Céu) nesta passagem. O tabnit provavelmente significa, no^ versículos 9 e
40, um modelo em miniatura do santuário celestial e/ou o próprio santuário ce­
lestial (com um modelo em miniatura, intermediário. Este tabnit funciona como
um modelo/padrão para a construção do santuário terrestre.
O que concluím os a respeito do termo tabnit em Êxodo 25:9, 40 (TM)
parece também estar inerente na tradução da LXX dessa passagem. As palavras
p arad eigm a e tupos, que são usadas na tradução de tabnit em Êxodo 25:9, 40,
respectivamente, ocorrem no pensamento de Platão, Aristóteles e no pensa-
T ip o lo g ia n o l iv r o d e h e b r e u s

mento grego do segundo e terceiro séculos a.C . para indicar uma correspon­
dência terrestre/celestial.132
A palavra grega lupos (da mesma forma que a hebraica tabnit) pode denotar
simultaneamente tanto cópia de como m odelo/padrão para; portanto substitui tabnit
de forma muito apropriada. Como o termo original hebraico, tupos pode sugerir
que Moisés viu uma cópia (isto é, um modelo em miniaRira) do santuário celestial
(ou, talvez, o original, o próprio santuário celestial) que serviu como um modelo/
padrão para o santuário terrestre.133

R esu m o e c o n c l u sõ e s

---------- O termo hebraico lahnit parece envolver dinâm icas sem elhantes às da -
palavra grega tupos. Ele pode denotar uma cópia de, ou modelo/ padrão para,
ou ambos sim ultaneam ente. Em Êxodo 2 5 :9 , 4 0 parece provável que tabnit,
e tupos no versículo 4 0 (LXX), refere-se a uma cópia de um original (ou o
próprio original) que serve como um m odelo/padrão para outra cópia. Ele
ten rem vista o ‘‘padrão” 'fraruosanraárioreiesrtThqtre^éTrim uttârrearneTite"
um modelo em miniatura do próprio san tu ário celestial. Tal significado é
sugerido pelo uso de tabnit em outros lugares n o A T e apoiado pelo co n tex to
imediato e pelos paralelos extrabíblicos, parabiblicos e b íblicos. Pode-se, por­
tanto, considerar presente em 'Êxodo 2 5 :9 , -40 uma correspondência vertical
(tenra/Céu) do santuário.
Se, de fato, Êxodo 25:9, 40 implica uma correspondência vertical entre os
santuários celestial e terrestre, então podemos concluir que o autor de Hebreus
(Hb 8:5) citou apropriadamente Êxodo 2 5 :4 0 para comprovar a existência de uma
tipologia vertical do santuário.

A RELAÇÃO ENTRE TIPO E ANTÍT1PO EM Ü E B R E U S

inopse editorial. Os adventistas do sétimo dia defendem que existe uma conti­
S nuidade básica entre o tipo santuário terrestre e o antítipo santuário celestial.
Assim, o ministério sacerdotal no santuário terrestre esclarece a natureza do minis­
tério sacerdotal de Cristo no santuário celestial.
Esta posição fundamental está sendo desafiada atualm ente. Argumenta-
se, em oposição à visão adventista, que o autor de Hebreus faz uma brusca
interrupção entre tipo e antitipo e repetidamente desvia-se do tipo do AT, alte­
rando-o para ajustar-se ao cumprimento no NT. Conseqüentem ente, conclui-se
que o tipo nunca deve ser usado para explicar o antitipo, em bora o antítipo
possa ser utilizado para esclarecer o tipo. Além disso, alega-se que é impróprio
empregar a tipologia para estabelecer uma doutrina. Finalm ente, sustenta-se
A LUZ DE HEBREUS

que Hebreus 9 é, essencialm ente, a única norma para interpretar o tipo do


santuário do AT.
Nesta seção, o autor demonstra que evidências no próprio livro de He­
breus negam essas acusações. Os pontos principais podem ser resumidos da
seguinte forma:
1. O próprio autor de Hebreus estabelece uma doutrina por meio da tipolo­
gia. Por exemplo, ele baseia a doutrina da purificação do santuário celestial exclusi­
vamente na tipologia (Hb 9:23). Seu argumento é o de que a purificação do santuá­
rio terrestre por meio do sangue de animais aponta para a purificação do santuário
celestial pelo sangue de Cristo. Ele não faz outras considerações ou apresentações.
A doutrina é estabelecida estritamente a partir do tipo.
2. Da mesma forma, o autor de Hebreus tece suas argumentações do tipo
para o antítipo. Essa direção de pensamento também é ilustrada em Hebreus
9:23, onde a argumentação se move da purificação da cópia terrestre para a neces­
sidade da purificação do santuário celestial. Em Hebreus 8:1-5, a argumentação
desenvolve-se a partir dos sacrifícios oferecidos pelos sumo sacerdotes terrestres*34
(o tipo) para a necessidade de um sacrifício a ser oferecido pelo nosso sumo sacer­
dote celestial (o antitipo).
Na verdade, as correspondências entre tipo e antitipo fun cion am com o
uma rua de mão dupla. Isto se verifica, particularm ente, na relação entre
santuário terrestre e santuário celestial. Em bora a realidade celestial esclareça
de fato a ilustração terrestre, esta última tam bém dá dicas im portantes sobre
a prim eira.
3. O autor de Hebreus está totalmente ciente de que o santuário terrestre
não é uma cópia exata do original celestial. O santuário terrestre é uma “cópia”
de um original, uma “sombra” de uma substância verdadeira. Não obstante, seus
argumentos testificam que ele reconhece uma continuidade básica entre o tipo e
seu antitipo.
4. O autor de Hebreus contrasta em certos pontos o antítipo com o tipo (a
acusação é “afastam ento”). Especificam ente, ele contrasta os sacerdócios (He­
breus 7), os sacrifícios (Hebreus 8 e 10), as alianças (Hebreus 8) e os santuários
(Hebreus 8 e 9). Uma questão surge naturalmente: com o pode o autor se afastar
do tipo e, ao mesmo tempo, manter uma continuidade fundam ental entre o
tipo e o antitipo? A resposta é concedida pelo próprio livro. De acordo com o
autor deste capitulo, cada vez que ele se afasta do tipo levitico, ele corrobora tal
mudança referindo-se ao AT, o qual já havia predito essas modificações.
Por exemplo, o sacerdócio de Cristo diverge em características essenciais do
sacerdócio arônico, mas o autor de Hebreus destaca que essas diferenças já foram
profetizadas no Salmo 110. O sacrifício de Cristo difere dos sacrifícios de animais
T ip o l o g ia n o l iv r o d e h e b r e u s

do ritual do AT, mas essa mudança do tipo já havia sido expressa no Salmo 40. A
nova aliança contém promessas melhores que a antiga, mas isso já estava apontado
em Jeremias 31. O sanmário celestial é o “maior e mais perfeito tabernáculo”, mas
isso também já estava indicado em Êxodo 25:40.
O autor de Hebreus não quebra a harmonia entre tipo e antitipo. Pelo contrá­
rio, ele a preza tanto que onde quer que o antitipo do N T esteja direcionado para
uma modificação real do tipo do AT, ele é compelido a mostrar que essa alteração
já estava indicada no AT.
5. O nde não são citados textos de controle do AT, o autor de Hebreus geral­
mente considera correspondências tipológicas entre tipo e antitipo.
6. O autor de Hebreus não sugere que apenas ele tem uma interpretação
inspirada do ritual do santuário. Uma vez que há uma continuidade essencial - —
entre o tipo no A T e o antitipo no NT, e o tipo é visto como uma ilustração do
evangelho (Hb 4= 1-2), é evidente que todo o testem unho das Escrituras deve ser
empregado para explicar a tipologia do santuário. Sua interpretação não está
limitada a Hebreus 9.

E sbo ç o d a seç ã o

1. Pesquisa de temas
2. Análise e explicações
3. Conclusões

P e s q u is a d e t e m a s

O grupo mais importante de temas a respeito da tipologia em Hebreus


centraliza-se na relação entre tipo e antitipo na epístola. Os adventistas do
sétim o dia afirmam que há uma continuidade básica entre Levitico e Hebreus,
entre os contornos essenciais do tipo do santuário do A T e o antitipo do san­
tuário do NT. Portanto, o santuário terrestre, com seus com partim entos e ser­
viços representados a partir do original celestial, devem ser considerados úteis
para esclarecer os pontos mais importantes do m inistério sacerdotal de nosso
Sen h or no santuário celestial.
Porém, nos últimos anos, eruditos, adventistas ou não, têm desafiado se­
riam ente essa posição.154 Declaram que “há uma tremenda disparidade entre
os tipos e seus antítipos”.135 Esta “tremenda disparidade” não se deve simples­
mente ao elem ento da intensificação escatológica (descrita na seção anterior de
nosso estudo), mas também aos “repetidos desvios do tipo do A T", por parte
do autor, e “na sua rejeição do santuário terrestre por causa da ‘fraqueza e inu­
tilidade’ deste”.136
A LUZ DE HEBREUS

Várias passagens de Hebreus são citadas para ilustrar a acusação dos “repeti­
dos desvios” do tipo para o antitipo.lj7 Mas o maior destaque é dado ao tema do
dia da expiação em Hebreus 9. Aqui argumenta-se que o autor conscientemente se
esforça para modificar o tipo a fim de ajustá-lo ao antitipo.138 Várias outras decla­
rações seguem esta convicção fundamental de uma forte desconrinuidade entre o
tipo e o antitipo em Hebreus.
Primeiro, mantém-se uma pressuposição: uma vez que há uma disparidade entre
o tipo e o antitipo, é inapropriado usar a tipologia para se estabelecer uma doutrina. A
tipologia deve ser usada unicamente para ilustrar o que é ensinado em outras partes das
Escriniras, numa linguagem clara e didática (não simbólica e não tipológica).139
Um segundo ponto, intimamente relacionado, é que não se pode legitima­
mente traçar argumentos do tipo para o antitipo, mas somente o contrário.140 O
antitipo celestial esclarece o tipo terrestre, mas o santuário terrestre não pode ser
útil na compreensão do original celestial, como apoio a este segundo ponto, ge­
ralmente sugere-se que Êxodo 25:9, 40 não implica uma correspondência vertical
entre os santuários terrestre e celestial.141 ___
Terceiro, uma vez que existe a idéia de que o autor altera frequentemente
o tipo para ajustá-lo ao cum prim ento no NT, conclui-se que ele tinha pouco
interesse nos detalhes do tipo do AT. Este ponto é enfatizado ao se identificar o
que é considerando erro histórico ou descuido. Por exemplo, o autor é acusado
de localizar de forma incorreta o altar de incenso no santíssimo (9 :3 4 ) .I4:
Finalmente, argumenta-se que a única norma definitiva para se interpretar
os tipos do santuário do A T é o livro de Hebreus, particularmente o capitulo 9.
Defende-se que “somente em Hebreus 9 encontramos a interpretação do Novo
Testamento do ministério no primeiro compartimento, do dia da expiação, da na­
tureza e do tempo da purificação do santuário”143 Novamente, “Hebreus 9 é a Pa­
lavra divina sobre o significado do ritual do santuário, e qualquer coisa que entre
em conflito com tal explicação não pode ser imposta sobre os outros como uma
doutrina a ser ensinada e na qual se deve crer”.144 Declarar que somente Hebreus
9 serve de base para a interpretação, limita severamente a discussão do significado
do ritual do santuário. *
Tais declarações desafiam a opinião adventista sobre a relação entre tipo e
antitipo em Hebreus, e faz com que examinemos mais profundamente a epístola
para averiguar se tais alegações podem ser mantidas.

A n á l is e e e x p l ic a ç õ e s

Nesta seção final atentaremos para as questões hermenêuticas que têm sido
levantadas a respeito da relação entre tipo e antitipo em Hebretis. O limite de tama-
T ip o lo g ia no l iv r o d e h e b r e u s

nho do capítulo não permite um completo estudo exegético das passagens cruciais,
mas é possível traçar um resumo geral do pensamento do autor deste capitulo e
apontar o caminho para estudos posteriores.

T i p o l o g ia e d o u t r i n a

A primeira questão diz respeito ao uso da tipologia para se estabelecer


uma doutrina. E correta a regra de que a tipologia não deve ser empregada para
determinar qualquer parte da doutrina do santuário, mas som ente para ilustrar
o que é ensinado numa linguagem didática, não sim bólica e explícita?
De imediato, observamos que o próprio autor de Hebreus nos dá um cia-
-----ro .exemplo da metodologia que está sendo acusada como ilegítima. Em Hebreus _
9:23, a doutrina da purificação do santuário celestial é baseada unicamente na
correspondência tipológica com a purificação do santuário terrestre. Uma vez que
é reconhecida a inspiração do autor de Hebreus, deve-se reconhecer que ele não
fornece uma declaração didática para a purificação do santuário celestial, mas sim
— um-argumento tipeióyicü.-Ele-e-spera que-se-U^leitQres creiam-nele.-não por-causada__
sua inspiração (à qual ele não apela), mas por causa da correspondência tipológica
que podem reconhecer como válida.

O TIP O DO A T E O A N TÍTIPO DO N T

A referência acima de Hebreus 9:23 nos direciona a uma outra questão. Nes­
sa passagem, o autor de Hebreus está comprometido com aquilo que alguns têm
considerado ilegítimo: argumentar a partir do tipo do A T para o antitipo do NT.
Nesse exemplo, o argumento vai da purificação da cópia terrestre para a necessidade
da purificação da realidade celestial.
Outro exemplo desta mesma abordagem é encontrado no capitulo 8:1-5.
Aqui, o autor desenvolve sua argumentação a partir dos sacrifícios oferecidos pelos
sacerdotes terrestres do AT para a necessidade do sacrifício oferecido pelo sumo
sacerdote celestial do NT.
Na verdade, as correspondências entre tipo e antitipo funcionam como uma
via de mão dupla. Isto é particularmente verdade quanto à relação entre os santu­
ários terrestre e celestial. Enquanto a realidade celestial, de fato, esclarece a ilustra­
ção terrestre, a ilustração terrestre provê, da mesma forma, especificações sobre a
função da realidade celestial.
Temos usado a frase “argumentar a partir do tipo do A T para o antitipo do
N T ”. Para ser mais preciso, no livro de Hebreus o santuário terrestre do AT é de­
signado o “antitipo” (antitupos) e a realidade celestial o “tipo” (tupos).14’ Portanto,
para aqueles que insistem que não se deve argumentar do tipo para o antitipo,
A LUZ DE HEBREUS

mas som ente do antitipo para o tipo, deve-se destacar que isso é precisamente
o que o autor faz quando ele argumenta a partir do terrestre (antitipo) para o
celestial (tipo)!

A C O N T IN U ID A D E ENTRE OS SANTUÁRIOS DO A T E N T

E claro que a fundamentação desta tese envolve mais do que mera questão
semântica. Devemos encarar a pergunta crucial: em que o autor fundamenta sua
argumentação detalhada do santuário do A T para a realidade do NT? É somente
porque ele é um homem inspirado e, portanto, pode distinguir os pontos válidos
de correspondência entre antitipo e tipo? Ou é também porque ele assume uma
___continuidade fundamental entre os dois? O autor deste capitulo está convencido
de que a última é a resposta correta.
Fica evidente pelas citações de Êxodo 2 5 :4 0 (Hb 8:5) e pelo uso da ter­
minologia em Hebreus 8:5 e 9:24 (cópia/sombra) que o escritor de Hebreus
• concebe,um a continuidade entre os contornos básicos dos santuários terrestre
------e celestial. -Como-já vim os-antes,!—o uso de tabnit {tupos, LXX) em Exodo 2 5 :4 0
indica uma correspondência vertical entre o santuário terrestre e o santuário
celestial (um modelo em miniatura). O autor de Hebreus permanece fiel a essa
prática na sua epístola.
Além disso, vimos que no N T o uso de tupos como um termo hermenêutico
abrange a dinâmica linear de seu significado original de “molde côncavo/vazio”.
Com um molde côncavo, o antitupos se harmoniza ao contorno básico de tupos.
Assim, na tipologia bíblica, o “antitipo” corresponde em seus contornos essen­
ciais ao “tipo”.
O que está claro com respeito à tipoiogia horizontal ( iC o Í0; Rrn 5; iPe 3), na
qual o “tipo” é a realidade do AT e o “antitipo” é o cumprimento no NT, é ainda
mais evidente na tipologia vertical (Hb 8 e 9), na qual o santuário terrestre é o “an­
titipo” correspondente ao pré-existente “tipo”, o santuário celeste (e/ou seu modelo
em miniatura). Na tipologia horizontal, a pessoa/evento do AT somente brefigura
uma realidade escatológica que ainda se concretizará no futuro. Mas na tipologia
vertical (do santuário), o santuário terrestre do AT não somente apqpnz para uma
realidade celestial futura operante, de certo modo, no presente, mas, na realidade,
deriva .do original celestial já existente.
É óbvio que o autor de Hebreus está ciente de que o santuário terrestre não
é uma cópia exata do original celestial. Na tipologia horizontal, há uma intensifi­
cação escatológica absoluta do tipo no cumprimento no NT. Na tipologia vertical
(do santuário), o terrestre é descrito como uma “cópia" (hupodeigm a) e “som bra”
iskia) do santuário celestial (Hb 8:5). Devemos, portanto, esperar uma intensi­
ficação entre a cópia/sombra terrestre e o original/verdadeiro celestial. No en-
T ip o l o g ia n o u v r o d e h e b r e u s

tanto, ao mesmo tempo, esses pares de palavras indicam uma continuidade dos
contornos básicos. Um a “cópia” corresponde ao seu “original” e uma "som bra”
revela os contornos básicos de sua “substância”. Aqueles que argumentam contra
uma continuidade básica, algumas vezes apontam para as várias diferenças entre
o tabernáculo mosaico e o templo salomônico (e podem, ainda, somar a visão de
Ezequiel de um novo templo, Ezequiel 4 0 -4 8 ), os quais foram construídos (ou
deveríam ser construídos) de acordo com o padrão divinamente fornecido.1+7 Tal
argumento, porém, pode estar completamente errado.
As próprias diferenças nos santuários proveem uma indicação do A T do que
constituem os contornos essenciais, aqueles que permanecem constantes todo
o tempo. Embora possam variar em tamanho, material e número de artigos, a
" estrutura básica dos santuários T a mesfnaf Há dois compartimentos (santo e
santíssimo), as mesmas proporções dimensionais e os mesmos artigos de mobília.
É esta estrutura básica que é descrita em Hebreus 9:1-5.

S o l u c io n a n d o o c o n f l i t o d a c o n t i n u i d a d e / d t s p a r id a d e _____________________

A próxima pergunta crucial é.- se a evidência lingüistica aponta para a existên­


cia de uma correspondència/continuidade fundamental entre tipo e antitipo, como
explicar a “tremenda disparidade” entre eles que alguns alegam? Tais alegações não
têm fundamento? Seria apropriado, neste momento, aprofundarmos nas passagens
citadas com o evidência dos contrastes e desvios na tipologia de Hebreus.
Deixando, por enquanto, de lado Hebreus 9 (será examinado mais adiante),
percebemos que as seguintes passagens são freqüentemente usadas para apoiar a
áisparidader Hebreus 7:11-14; 8:1-3; 10:1-14.148 Os contrastes entre tipo e antitipo
nestas passagens têm sido resumidos da seguinte forma:

No tipo, o sacerdote era um pecador cujo ministério era imperfeito e terminava


com suã morte. Ele estava sempre oferecendo sacrifícios, mas nunca era bem sucedi­
do no seu trabalho. Ele pertencia à tribo de Levi e, na melhor das hipóteses, podia
entrar na presença de Deus só uma vez por ano. Que contraste com o nosso sacerdote
no verdadeiro santuário celestial. Cristo não pertence â tribo de Levi, seu ministério
é perfeito, nunca será interrompido, e pertence a “um tabernáculo maior e mais per­
feito”. Ele não necessita oferecer sacrifícios continuamenre, mas depois de uma única
oferta que valia'pOt todas, tornou-se sacerdore-rei â destra de Deus, para sempre na
presença de seu Pai.149

Esse resumo destacou corretamente elementos de completo contraste, claros


desvios do tipo do A T para o antitipo do NT. Podemos sintetizar as diferenças mais
importantes nestas passagens (e seus contextos) que não foram mencionadas na
citação anterior:
A LUZ DE HEBREUS

T ip o do A T A ntitipo do N T

A. Sacerdócios contrastados 1. Tribo de Levi 1. Ordem de Melquisedeque


(Hb 7) 2. Mortal 2. Eterno
3. Pecaminoso 3. Puro

B. Sacrifícios contrastados 1. Sacrifícios 1. Sacrifícios “superiores"


(Hb 8:1-6; 10:1-14) ineficazes
2. Sangue de animais 2. Sacerdote oferece o
próprio sangue
3. Oferecidos 3. Oferecido uma ve: por
repetidamente todas

C. Alianças contrastadas 1. Primeira aliança 1. Nova aliança


(Hb 8:6-13) 2. Promessas da 2. “Superiores” promessas
aliança

D. Santuários contrastados l.Sanruárioterresrre 1. Santuário celestial


(Hb 8:1-5) 2. Cópia/Sombra 2. Original/Real

Com o pode o autor de Hebreus realizar tais desvios entre o “tipo” do A l e o


“antitipo” do N T e ainda manter uma continuidade fundamental entre os dois? A
resposta é, ao mesmo tempo, simples e surpreendente: em c a d a u m a d a s p a s s a g e n s
c i t a d a s a c i m a , o a u t o r d e H e b r e u s in t r o d u z u m d e s v io d o t ip o le v ític o , m a s e l e d e fe n d e t a l
d e s v io a p a r t i r d o p r ó p r io A T I

O sacerdócio de Cristo difere, de fato, em aspectos essenciais do sacerdócio


arônico, mas o autor mostra como essas diferenças já estão indicadas no Salmo 110.
O sacrifico de Cristo difere dos sacrifícios de animais do serviço de culto do AT,
mas essa alteração do tipo já está estabelecida no Salmo 40. A nova aliança contém
promessas melhores do que a antiga, e elas já estão apontadas em Jeremias 31. E,
finalmente, o santuário celestial é, de fato, “o maior e mais perfeito tabernáculo”,
mas isto também já está indicado em Êxodo 25:40.
Em cada uma dessas mudanças do sistema levitico, o autor de Hefcreus não se
empenha em uma manipulação arbitrária do tipo do AT. Em vez disso, ele realiza
uma exegese, considerada uma cbra de arte, da das passagens de controle do A T a
fim de demonstrar a “inadequabilidade auto-proclamada do sistema antigo”.,so
Desta forma, o autor de Hebreus não interrompe a continuidade entre tipo e
antitipo. O fato é que ele a preza tanto que onde quer que o antitipo do N T esteja
direcionado para uma modificação real do tipo do AT, ele é compelido a mostrar
que essa alteração já estava indicada no AT.
T ip o l o g ia n o l iv r o d e h e b r e u s

H ebreus 9

É possível encontrar essa mesma consideração pela contintiidade entre tipo e


antítipo quando nos movemos de Hebreus 7, 8 e 10 para a passagem polêmica de
Hebreus 9:1-9? Ou Hebreus 9, como alguns alegam, contém repetidas alterações do
tipo do AT - sob a forma de manipulação consciente do tipo para se adequar ao
antítipo ou às inexatidões históricas do relato?
Altar de ouro. Tomando primeiramente a questão das inexatidões, nos refe­
rimos brevemente a um suposto exemplo: “por trás do segundo véu, se encontrava
o tabernáculo que se chama o santo dos santos, ao qual pertencia um altar de ouro
para o incenso...” (Hb 9:3-4).
Em principio, o autor parece descrever de forma errada o santo dos santos, dizendo
que este tinira o altar de curo para o incenso (e c h o u s a thumiatêrion).*1*1Alguns têm tentan­
do explicar este problema traduzindo thumiatêríon como “incensário” no lugar de “altar
de incenso”.152 Esta é uma tradução possível, mas parece muito improvável que o autor
mencionaria o incensário e omitiría qualquer referência a “um dos instrumentos mais
notáveis e-imper-tantesdô-tabemáculo",-asaber, Q-altandeJncensa.____________________
Uma explicação satisfatória é sugerida ao observar-se a substituição na fraseo­
logia do versículo 2 para o versículo 4. No versículo 2, o autor indica uma p o s i ç ã o
e s p a c i a l quando se refere ao lugar santo, “no qual (e n h ê ) estavam o candeeiro e a
mesa e o pão da Presença” (Tradução RSV). Mas no versículo 4, com o bem observa
B. F. Wescott, “a substituição de e c h o u s a (‘tendo’)11 por e n h ê (‘no qual’)b aponta
claramente para algo diferente do que mera posição”.153 Ao usar o termo e c h o u s a
(“tendo"), o escritor de Hebreus parece indicar que o altar de incenso apropriada­
mente “pertence ao”154 santíssimo quanto à f u n ç ã o , embora não esteja localizado
no santíssimo de tato.
Tal concepção da relação f u n c i o n a l entre o altar de incenso e o santíssimo já
havia sido apresentada no AT. Em 1 Reis 6:22 o altar de incenso é descrito como
“diante do santo dos santos” ( ' a s e r - l a d b í r ), o santíssimo (v. 16). Em outras partes
do AT, a arca da aliança e o altar de incenso estão localizados de modo a estabele­
cerem estreita conexão.155 Além disso, é importante notar que nas instruções para
a construção do santuário (Êx 2 5 4 0 ), somente com relação ao altar de incenso há
uma menção do dia da expiação anual, realizado no santíssimo (Ex 30:10).
É possivel, então, concluir que o -autor de Hebreus não descreveu erronea­

N OTAS DA TRADUTORA:

1 Aqui, este termo foi trac!u:ido tio inglês conforme está no material original. Entretanto, a
ARA traduz o mesmo termo echousa, no versículo 2, por “onde".
b Aqui, este tenno foi traduzido do inglês conforme está no material original. Entretanto, a
ARA traduz o mesmo termo, en hê no versículo 4, por “pertencia".
A IU Z DE HEBREUS

mente a localização do altar de incenso. Ele simplesmente foi além deste aspecto
para o funcional, a fim de mostrar a perspectiva do A T de que o altar de incenso
“pertence ao” santíssimo.
A questão da exatidão do relato não é, contudo, o principal assunto em jogo
sobre a interpretação de Hebreus 9. Alguns comentaristas modernos insistem que
em Hebreus 9 o autor se afasta deliberadamente do tipo terrestre (santuário ter­
restre) na sua descrição do santuário celestial.156 O foco está no versículo 8, onde
sugere-se que o autor tenha argumentado que o lugar santo terrestre tipifica toda
a ordem do A T e o santíssimo terrestre corresponde ao santuário celestial do NT.
Embora não seja o propósito deste capítulo fazer uma exegese detalhada de He­
breus 9, é necessário apontar considerações exegéticas e contextuais relevantes que
tom am tal interpretação insustentável.
N enhum a alteração indicada por citação do AT. É importante observar, an­
tes de tudo, que Hebreus 9 (diferentemente dos capítulos 7, 8 e 10) não apresenta
nenhuma citação do A T para apoiar o desvio do tipo para o antitipo. Não deveria­
mos forçar indevidamente o argumento da coerência, contudo, isso podería preca-
—ver-nos eontra-presumirmos-muito-facilmente desvios radicais entre os santuários
terrestre e celestial quando a passagem não cita nenhuma evidência do A T para
indicar tais mudanças.

O contexto maior. Vários escudos recentes,~? que argumentam que o contex­


to maior faz uma comparação entre a nova e a antiga aliança (8:1-2, 13; 9:1), salien­
tam o ponto de que cada uma das alianças tinha um santuário. Assim, Hebreus 9
compara todo o santuário terrestre (de duas partes) da primeira aliança - que é uma
p a r a b o l ê simbolizando o sistema mosaico - e todo o santuário celestial da nova
aliança, “o maior e mais perfeito tabem áculo” (9:11). O capítulo 9:1-7 constitui-se
de uma descrição do santuário terrestre ( p r o t ê s k ê n ê ) , e o versículo 8 introduz o
santuário celestial [ l õ n h a g i õ n ) .
As palavras p r o t ê s k ê n ê no versículo 8 devem ser entendidas, portanto, no
s e n t i d o t e m p o r a l do “primeiro tabem áculo”, assim como p r o t ê (primeiro) é usado
no versículo 1. Ele não deveria ser interpretado como uma continuação do s ig n i­
f i c a d o espacial de “primeiro rabernáculo" (por exemplo, o lugar santo), como nos
versículos 2 e 6.158 Portanto, o autor emprega a figura de linguagem quiasmo (num
padrão A:B: : B ' :A ') para trazer o leitor de volta ao ponto principal introduzido no
versículo 1. Observe o quiasmo na seguinte síntese da passagem:
T ip o l o g ia n o l iv r o d e H e b r e u s

Q u ia s m o e m H ebreu s 9 :1 -8

A “Primeira” {prõtê) “aliança”; santuário terrestre [primeiro] v. 1

B “Primeiro” (prõtê), “externo” - primeiro compartimento v. 2-5


[Segundo] (deuteros) “interno” - segundo compartimento

B ' “Primeiro" {prõtê) “externo” - primeiro compartimento v. 6-7


“Segundo" {deuteros) “interno” - segundo compartimento

A ' “Primeiro" {prõtê), santuário terrestre v. 8

Ta liagia. A essa altura, o autor de Hebreus também faz uma transição para a
exposição do santuário celestial ao introduzir o termo ta hagia. Com o demostrou A.
S. Salom, “ta hagia em Hebreus (não considerando 9:2-3) deve ser entendido como
referência ao santuário como um todo”,1’9 e não simplesmente ao santíssimo.
Talvez o estudo mais forte que apóie os pontos linguísticos, estruturais e con-
textLraisTiieTíctonatlos sejaTrrrattrrezandaTrrpologiadTibttca: :------------------------
Diferença entre tipo e símbolo. Aqueles que defendem uma disparidade entre
tipo e antitipo nessa^passagem, •geralmente consideram a palavra p arab olê em Hebreus
9:9 como sinônimo de tupos, referindo-se à tipologia.160 Eles acreditam em uma relação
tipológica entre o lugar santo terrestre e toda a -antiga ordem mosaica do AT, entre o
santíssimo terrestre e o ministério de Cristo no santuário celestial. Mas considerando
as estruturas tipológicas que estudamos (resumidas nas primeiras duas partes deste ca­
pitulo), devemos concluir que p arab olê não se refere a uma relação tipológica.
Neste ponto, 0 autor e Hebreus escolheu cuidadosamente a palavra p a ra b o lê
no lugar de tupos ou antitupos. O termo prõtê skênê (a despeito de denotar o pri­
meiro [anterior] santuário ou o primeiro compartimento deste santuário) somente
simboliza ou significa, mas não aponta para ou prefigma a “era presente” da qual faz
parte. Portanto, não há nenhuma estrutura profética neste versículo, tampouco
uma estrutura escatológica. A “era presente” não é o cumprimento escatológico
prefigurado pelo santuário terrestre.
Por causa da falta dessas estruturas tipológicas mais importantes, não se pode as­
sumir uma correspondência tipológica entre o santuário terrestre (nem como um todo
ou uma parte) e a antiga ordem que ela representa. Esta primeira correspondência não
é tipológica, mas simbólica. Colocar essa correspondência simbólica em paralelo direto
com a clara correspondência tipológica entre o santuário terrestre e o celestial, que se
apresentam no contexto mais amplo desta passagem, não é uma exegese razoável.
Consequentemente, não se pode dizer que o lugar santo do santuário ter­
restre é um símbolo da era presente, mas que o santíssimo do mesmo santuário é
A LUZ DE HESR.EUS

um tipo que aponta para o santuário celestial do NT. São duas coisas totaímente
diferentes. A única maneira de ser coerente tanto para com a simbologia como para
com a tipologia da passagem é reconhecer que: (1) o santuário terrestre como um
todo simboliza ou significa a ordem antiga na qual servia, e: (2) que o santuário
terrestre com o um todo (e a ordem da antiga aliança que ele representa) aponta ti-
pologicamente além de si mesmo para o cumprimento no NT no santuário celestial
(e a ordem da nova aliança na qual ele serve).
N ão se deve concluir, a partir de nossa consideração, que o autor de He-
breus está tentando provar a existência de um santuário celestial de dois compar­
timentos que corresponda ao seu equivalente terrestre. O que estamos dizendo é
que em sua argumentação, ele permanece fiel à coerência entre tipo e antítipo.
— Seria justo dizer que, em harmonia com a idéia de correspondência (contornos
básicos) entre tipo e antítipo, como expresso pelos termos tupos e antitupos, o
autor defende que o santuário original tinha duas partes, bem como sua cópia.
Contudo, isso não está explicitamente declarado e não é o ponto em pauta em
sua argumentação.
------------ Ponto de tra n siç ã o rô rju e podemos esperar que o autor indique, à medida
que compara os santuários da antiga e da nova aliança, é alguma referência ao
ponto de transição entre a antiga e nova alianças, ao .início do ministério da .nova
aliança e da consagração do santuário da nova aliança. E exatamente isso que fica
explicito na principal parte de Hebreus 10:19, 20, .onde o verbo eg k ain to (“consa­
grar”) é empregado para descrever a entrada de Cristo no santuário celestial. Da
mesma forma que o santuário do AT foi inaugurado ou consagrado antes que seus
serviços começassem oficialmente (Êx 40; Lv 8), o santuário celestial é consagrado
quando Jesus começa seu ministério sacerdotal ali. Gecrge Rice mostrou que He­
breus 10:19, 20 faz parte de um quiasmo (que abrange 6:19-10:39) e que Hebreus
10:19 em diante (a segunda parte do quiasmo) é o desenvolvimento explicativo do
paralelo da primeira parte do quiasmo, Hebreus 6:19.161 Portanto, considerando a
clara referência da inauguração do santuário celestial no capitulo 10:19, 20, parece
possível concluir que o mesmo acontecimento se dá na descrição da entrada de
Jesus no santuário celestial em 6:19, 20. A despeito de que véu(s) o autor tem em
mente nestas passagens,162 a continuidade entre tipo e antítipo é maVitida, visto que
todo o santuário foi inaugurado no inicio de seus serviços.
E possível afirmar que há referência das cenas da inauguração, e não do dia da
expiação principalmente, em Hebreus 9 : 12-21.163 O “sangue de bodes e de bezerros”
(v. 12) parece fazer referência não aos serviços do dia da expiação, mas ao início/
inauguração do sumo sacerdócio arônico e ao começo dos serviços no santuário.
Naquela época tais ofertas eram sacrificadas (Lv 9:8, 15, 22; cf. Hb 9:19). Assim, o
autor de Hebreus permanece fiel aos contornos básicos do tipo do AT. Podemos
T ip o l o g ia n o l iv r o d e h e b r e u s

deduzir que quando ele faz referência especifica à entrada de Jesus no santuário
celestial depois de sua ascensão, o evento em foco é a inauguração antítipica do
santuário celestial.
O autor de Hebreus descreve a obra contínua de Cristo depois da inaugura­
ção em harmonia com o ministério sacerdotal do primeiro compartimento do san­
tuário terrestre. Por exemplo, ao dizer que Cristo “vive sempre para interceder por
eles” (7:25) reflete o ministério do sacerdote terrestre que oferecia “incenso conti­
nuo perante o Senhor” (Éx 30:8) todos os dias no lugar santo. Outras passagens
concernentes ao ministério sacerdotal de Cristo no Céu, e que são correspondentes
ao ministério diário (lugar santo) no santuário terrestre, são as seguintes: Hebreus
2:17, 18; 8:2, 6; 9:15, 24; 10:21; 12:24; 13:15.1<HAo mesmo tempo, em harmonia
com a passagem de controle do AT, o Salmo 110, Cristo é descrito com base na sua
posição de rei, bem como na sua função sacerdotal; Ele se assenta à destra do Pai
para aguardar até que seus inimigos sejam postos como escabelo para seus pés (SI
110:1; Hb 1:3, 13; 10:12, 13).165
O sangue superior. No entanto, nem a inauguração, nem a obra celestial de
Cristo como sacerdote/rei é o principal foco da epístola e o argumento ciiltico da
seção central. William Johnsson sustenta fortemente que a principal preocupação é
com “o importante valor do sacrifício”.16” Aos cristãos hebreus, tentados a retomar ao
judaísmo, o autor da epístola assegura que somente em Jesus eles podem encontrar o
“sangue superior", ó único sacrifício eficaz e suficiente que pode purificar a consciên­
cia do crente (9:13-14; cf. 10:4). Se eles se afastarem dele, para onde irão?
O autor destaca, a partir do Salmo 4 0 (10:5-10), que todos os sacrifícios do
A T se concretizam.num grande sacrifício, na pessoa de Jesus. Pelo fato de todos
os tipos sacrificais do A T convergirem para Jesus, o atitor de Hebreus evoca as
várias cenas sacrificais do ritual do AT. Ele faz alusão tanto ao sacrifício anual
(dia da expiação) como ao sacrifício diário e aos outros rituais de sangue impor­
tantes (7:27; 10:11; 9:13, 18-22, 25). O argumento é simples: mesmo no seu ápice
(tal com o o dia da expiação), o sangue sacrifical do A T não é capaz de purificar
a consciência, como evidenciado pelo fato de que ele deve ser repetido continua­
mente nos rituais (10:3-4). Mas o sangue de Cristo é muito superior. Seu sacrifí­
cio todo-suficiente foi feito uma vez por todas (7:27; 9 :2 6 , 28; 10:10, 14).
Portanto, nas alusões ao dia-da expiação na epístola, o ponto em questão é a
eficácia do sacrifício, e não o tempo. Obviamente, todos os rituais de sangue (diários e
anuais) cumpriram sen aspecto sacrifical na cmz. Mas, todos os outros aspectos encontram
seus respectivos cumprimentos no desenvolver do ministério sacerdotal de Cristo.
Embora o tempo dos serviços antítipicos do dia da expiação não seja o
ponto em questão, o autor fornece indícios disso ao se referir à purificação do
santuário (9:23), seguida de uma referência a um julgamento futuro (v. 27) e
A LU Z DE HEBREUS

a segunda vinda de Cristo (v. 28). Outras cinco passagens se referem a um jul­
gamento futuro (2:2-4; 4:1-3; 6:7-12; 10:28-30; 12:26-29). Elas se referem a um
julgam ento investigativo (4:12; 6:10; 10:28-30) e também a um julgamento exe­
cutivo envolvendo o professo povo de Deus. Esses indícios a respeito do tempo
estão de acordo com o tipo do AT.
Fontes para interpretação. Ao completarmos esse estudo, precisamos dar
a ten ção ’a um a questão final. Aqueles que alegam uma disparidade entre tipo e
antitipo do sanmário em Hebreus afirmam que somente Hebreus (e especialmente
Hebreus 9) provê “a Palavra divina sobre o significado do ritual do santuário”.167
Mas, se existe uma continuidade entre o tipo do A T e o antitipo do NT, como
temos defendido neste capitulo, então não há mais a necessidade de uma norma
— suprema no NT. De fato, a epístola de Hebreus não alega, em parte alguma, repre­
sentar a única interpretação inspirada do ritual do santuário.
A fim de colocar a tipologia de Hebreus sob uma perspectiva adequada, desemos
ressaltar que a interpretação do sistema levítico dado em Hebreus é apenas uma parte
do rico mosaico tipológico quepermeia toda a Bíblia. Juntamente com Hebreus, outros
------livros da Bíblia, em particularDaniel e Apocalipse, devem ser consultados para uma
noção completa da natureza e tempo do cumprimento da tipologia do santuário.

R e s u m o e i m p l ic a ç õ e s

Vimos que ao longo da epístola de Hebreus o autor defende a correspondên-


cia/continuidade entre o tipo e o antitipo do santuário. Essa continuidade funda­
mental é vista nos seguintes pontos:
1. Uso da terminologia dpológica (tupos, antitupos, hupodeigma e skia)-,
2. Citação de Exodo 25:40 em Hebreus 8:5;
3. Liberdade para argumentar do tipo para o antitipo e estabelecer pontos
doutrinários;
4. Uso de passagens de controle do A T para fundamentar os exemplos nos
quais o tipo do A T vai além da intensificação escatológica para uma verdadeira
modificação do ripo do AT;
5. Emprego coerente das correspondências tipológicas em passagens onde tex­
tos de controle do A T não são citados;
6. Negação de -estabelecer sua interpretação do rima! do santuário com o a
única e completa “Palavra de Deus” sobre o assunto.
As implicações desta seção são especialmente importantes para o debate da
relação entre tipo e antitipo. Considerando o que Hebreus revela, parece possível
manter a posição adventista tradicional de que (1) existe uma continuidade básica
entre os contornos essenciais do tipo do santuário do A T e o antitipo do N T,I6Se
portanto, (2) o santuário terrestre deve ser considerado como um instrumento que
T ip o l o g ia n o l iv r o d e h e b r e u s

esclarece os aspectos essenciais do santuário celestial, embora, ao mesmo tempo, se


deva reconhecer a ampliação escatológica que ocorre entre tipo e antitipo.10'’

C o n clu sõ es

Resumimos as principais conclusões hermenêuticas a que chegamos em nossa


consideração das quatro áreas relacionadas à natureza da tipologia em Hebreus:
1. A tipologia bíblica é caracterizada pela presença de certas estruturas que
podem ser chamadas de histórica, escatológica, soteriológica-cristológica, eclesio-
lógica e profética. Essas características, encontradas em passagens tipológicas re­
presentativas, coincidem com a visão tradicional sobre a tipologia. A visão bíblica
difere da posição moderna adotada por estudiosos da neotipologia pós-critica;
2. A tipologia do santuário de Hebreus possui dimensões verticais e cultu­
ais únicas. Entretanto, consiste das mesmas estruturas conceituais encontradas em
passagens tipológicas representativas em outros lugares das Escrituras. A tipologia
vertical do santuário, portanto, é parte da perspectiva bíblica fundamental sobre
tipõlõgia^nãoTXm vestígiorte pensamentos ntíricasrstrdCfSrlistasj
3. A palavra tabnil em Êxodo 25:40 implica uma correspondência entre os
santuários terrestre e celestial. Portanto,- o autor de Hebreus interpretou Êxodo
2 5 :4 0 corretamente, quando recorre á passagem como um apoio do A T para uma
tipologia vertical do santuário;
4. O autor de Hebreus reconhece e mantém uma continuidade entre os con­
tornos essenciais do tipo e antitipo do santuário. Essa alta consideração pela conti­
nuidade tipológica permite que ele argumente a partir do tipo para o antitipo em sua
exposição doutrinária. Além disso, faz com que ele dê indicadores do AT (passagens
de controle) para tais exemplos onde o cumprimento do NT se direciona (além da
intensificação escatológica) para uma verdadeira modificação do tipo do AT.

N otas

1 Richard M. Davidson, Tipology in S crip tu re (Berrien Springs, MI, 1981).


2 Leonard Goppelt, T upos: D ie T y p olog isch e Deutung des A lte n Testaments im N e u e n
(Gütersloh, 1929;.re:tupresso ed., Darmstadt, 19.66); Eng. Tr-, T upas: T h e T y p o lo g ica l Inierpre-
tfltion o f the O ld T esta m e n t in th e N ew (Grand Rapids, 1982).
3 Leonard Goppelt, "T up os, a m itu p o s , lu p ik o s , h u p o tu p õ s is " , TDNT, 8:255-56.
4George E. Wright, “God W ho Acts: Biblical Theology as Recital” S B T , N° 8 (Lon­
dres, 1952), p. 61.
5 Robert M. Grant, A S h o n H isiory o f the Jnterpretation o f lh e B ib le , rev. ed. (Nova Ior­
que, 1963), p. 54-55.
A LUZ DE HEBREUS

6 E. Earle Ellis, P rophecy a n d H erm en eu tic in E arly C h ristia n ity (Tübingen, 1978), p. 165,
citado em Werner G.Krümmel “Schriftauslegung”, Religion in G esch ich te und G eg en w art, 3*
ed., vol. 5, p. 1519.
' Geoffrey W. H. Lampe, “The Reasonableness ofTipology”, em Geoffrey W. H. Lampe
e Kennerh J. Woollcombe, “Essays on Typology", S B T , N° 22 (Naperville, 1L, 1957), p. 16.
8 Esta trase é cunhada por Gilbert F. Cope, S y m b o l ism in th e B ible a n d th e C h u rch (Nova
Iorque, 1959), p. 20.
9 Para uma pesquisa dos principais participantes, visões e questões nesta exposição,
veja minha tese, T ypology in Scripture: A Study o f H e r m e n e u tic a l Typos a n d Structures, Universi­
dade Andrews. Série de Teses Doutorais (Berrien Springs, MI, 1981): 15-114.
10 Para uma consideração das duas principais visões, veja principalmente Ibid., p. 46-75.
11 Pode-se distinguir três principais métodos “tradicionais”: o método Cocceian (re­
cebe este nome por Johannes Cocceius - veja Ibid., p. 33-36, 46 para consideração) opera
com pequenos ou nenhum controle hermenêutico e tende a indicar correspondências tipo-
lógicas onde há mesmo a mais leve semelhança entre as realidades do AT e do NT. No outro
extremo, o método Marshian (recebe este nome pelo Bispo Herbert Marsh - veja Ibid.,
p. 36-37, 46-48, para consideração) sustenta que os únicos tipos verdadeiros são aqueles
confirmados de- forma explicita' ncrNT. Uma posição intermediária, representada na obra
clássica do século 19 de Patrick Fairbaim (veja Ibid., p. 38-42, para consideração), adota
uma tipologia controlada por princípios hermenêuticos cuidadosamente delineados.
12 Para um panorama dos principais defensores da visão “pós-critica” da tipologia, veja
Ibid., p. 51-88.
,J Pode-se distinguir duas principais correntes dentro desta neodpologia pós-critica. Uma
tradição inglesa representada por G. W. H. Lampe e K. J. Woollcombe, priorizam o “ritmo
repetitivo “da atividade redentora divina, ao passo que uma corrente alemã, representada por
Gerhard Von Rad, concebe um número ilimitado de “analogias estruturais dentro da história
tradicional”. Para um debate dessas duas ênfases, veia Ibid.. p. 59-65, 68-69.
14Para uma descrição detalhada e defesa deste método, veja Ibid., p. 4-14.
15 Veja Ibid., p. 115-336.
:i Por conveniência, podemos chamar esses três aspectos do cumprimento de cristoió-
gico, eclesiológico e apocalíptico. Para mais detalhes, veja Ibid., p. 388-97.
*' Ibid., p. 115-90.
18 Jerome Smith, A Priest Forever: A study o f Typology a n d E schatology in H eb rews (Londres,
1969), p. 10; cf. p. 30: “Todos os comentaristas concordam que há tipos."
19 Veja, e.g., Goppelt, T D N T , 8:256-59-, Frederick F. Bruce, The Epistíe to thc H ebrew s,
N1CNT (Grand Rapids, 1964), p. 1-11, 116, 220; George W. Buchanan, T o T h e Keérews,
AB (Garden City, NY, 1972), p. xxiv-xxv, 153-54, 250-51; Andrew B. Davidson, T h e Epistíe
to th e H eb rew s, Handbooks for Bible Classes (Edinburgh, 1882), p. 158-59, 186; Delitzsch,
H ebreuis, 2:126-27; Thomas Hewitt, T h e Epistíe to th e H eb rew s: An In trodu cü on and Commen-
tary, T N T C (Grand Rapids, 1960), p 144; Philip E. Hughes, A Commentary on th e E p istíe to
the H ebreu is (Grand Rapids, 1977), p. 382; Richard C. H. Lenski, T h e In terp retation o f the
E pistíe to th e H eb rew s (Columbs, OH, 1946), p. 315; Floyd V. Filson, “‘Yesterday’: A study of
T ip o l o g ia n o l iv r o d e H e b r e u s

Hebrews in the Light of Chapter 13” SBT, 2o ser., N° 4 (Naperville, IL, 1967), p. 83; Aeired
Cody, H ea v en ly S an ctu ary a n d Liturgy in the E p istle to th e H ebrew s (St. Meinrad, IN, 1960), p.
46; Sidney G. Sowers, T h e H erm en eutics o f P h ilo a n d H ebrew s: A C o m p a r is o n o f the O ld Testa-
m en t in Philo Ju d a en s a n d T h e Epistle to th e H eb rew s; Basel, Studies o f T h eo lo g y , N° 1 (Richard:
John Knox, 1965), p. 89-97.
20 Veja Davidson, Typology in Structure, p. 336-67.
21 William G.Johnsson, “Defilment and Purgation in The Book of Hebrews" (tese,
Universidade Vanderbilt, 1973), p. 23. Para maiores informações, consultaras introduções
do NT padrão.
22 Uma determinação mais clara quanto a data e o autor da epístola, naturalmente,
seria de grande auxilio; sobretudo, pela proposta de situar Hebreus 8:5 e 9:24 numa seqü-
ència histórica apropriada com outras passagens hermenêuticas tupos pelo próprio autor
ou autores diferentes; de forma que mudanças ou desenvolvimentos possíveis pudessem
ficar evidentes. Certas evidências parecem favorecer uma data no período anterior à crise
iminente da destruição de Jerusalém em 70 d.C. (veja R.K. Harrison, In tr o d u c tio n to the O ld
T esta m en t (Grand Rapids, 1969J, p. 380). A visão tradicional que atribui a Paulo a autoria
do livro (com talvez uma transcrição literária feita por alguém que.coloriu o final) não pare-
ce ser tão insustentável quanto tem-se geralmente defendido nas lireramras modernas (cf..
Ftancis D. Nichol, ed., T h e S D A B ib le C o m m e n ra r y [Washington, DC, 1953-1957] 7:387-89).
Mas a despeito da data e autor dessa epístola, uma vez que estamos considerando Hebreus
8:5 e 9:24 sob um subtítulo separado (por causa da estrutura tu p o s tanto vertical quanto ho­
rizontal), a ordem do estudo das passagens hermenêuticas de tu p o s permanece inalterada.
23 Para as primeiras defesas da influência platônica e riloniana em Hebreus, veja
bibliografia em Bruce, H e b r e w s , p. Ivii. O defensor moderno mais vigoroso de influ­
ência direta é Ceslaus Spicq, “Le philonisme de L’Épirre aux H ébreux”, R B 5 6 (1949):
542-72; 57 (1950): 212-42. Esse mesmo material também é encontrado em Spicq’s
L ‘Ê p itr e a iix Hebreus, 2 vols. (Paris, 1952-53), 1:39-91-, cf. Bultmann, “Ursprung und
Sinn", p. 210; James Moffatt, “A Criticai and Exegerical Commenrary on the Epistle
to the Hebrews”, IC C (Edinburgh, 1924), p. xxxi-xxxiv, 106-7, W ilbert F. Howard,
T h e F o u r th G o s p e l in R e c e n t C r itic is m a n d I n t e r p r e t a t io n , 3* ed. (Londres, 1945), p. 115;
W illiam Manson, T h e E p is tle to th e H e b r e w s (Londres, 1951), p. 124-26; Jean Héring,
“Eschatologie biblíque et idéalisme platonicien”, em T h e B a c k g r o u n d o f t h e N e w T es­
t a m e n t a n d h s Eschatology, ed. W. D. Davies e Daube (Cambridge, 1956), p. 444-63;
id., T h e E p is tle to th e H e b r e w s , tr. A. W. Heathcote e P. J. Allcock (Londres, 1970), p.
66; Goppelt, T u p o s, p. 62; C .F.D . Moule, “Sanctuary and Sacrifice in the Church of
the New Testament”, J T S 1 (1950):37. Diversos graus de dependência são percebidos;
para uma pesquisa ác posições e citações dos defensores mais representativos até
1970, veja Ronald W illiam son, Philo a n d t h e E p is t le to th e H e b r e w s (Leiden, 1970),
p. 1-10. Para mais defensores modernos de um modelo platõnico-filoniano veja os
seguintes nomes; Theodore G. Stylianopouloss “Shadow and Reality: Reflecrions in
Hebrews 10:1-18", G r e e k O r t h o d o x T h e o lo g ic a l R e v ie w 17 (Holy Cross O rthodox School
o f Theology, 1972):217; James W. Thompson, “That W hich Abides: Some Metha-
physical Assumptions in the Epistle to the Hebrews” (tese de Ph.D ., Universidade
A LUZ DE HEBREUS

V anderbilt, 1974); Laia K. X . Dey, The I n t e r m e d ia r y W o r ld a n d P a tte r n s o f P e r fe c tio n in


Philo a n d H e b r e w s , SB L Séries doutorais, N° 25 (Missoula, MT, 1975); e George W.
M acRae, “Heavenly Temple and Eschatology in the Letter to the Hebrews”, Semeia
12 (1978): 179-99.
24 E.g., Charles K. Barret, “The Eschatology of" the Epistle to the Hebrews", em
The B a c k g r o u n d o f the New Testament a n d Its E s c h a to lo g y , Ed. W. D. Davies e David Daube
(Cambridge, 1956), p. 363-93); Bruce, H e b r e u s , p. 229-30; Buchanan, p. xxv, 134-35;
Sowers, passim; W oollcombe, p. 67-68. A posição mais claramente detalhada é a de
W illiam son, P h ilo a n d H e b r e w s . Para autores mais modernos veja especialmente Allan
J. M cNicol, “The relantionship of the Image o f the Highest Angel to the High Priest
Concept in Hebrews” (tese de Ph.D., Universidade Vanderbilt, 1974); O tfried Hofius,
Der Vorgang Von dem Thron Gottes: Eine exegetish-religionsgeschichtliche Untenuchung 711
H e b r à e r 6.9/. und 10, 1 9 b , W issenschaftliche Untersuchungen zum Neuen Testament,
N° 14 (Tübingen, 1972); Ronald H. Nash, “The N otion o f Mediator in Alexandrian
Judaism and the Epistle to the Hebrews”, W T J 40 (1977): 105-112; e L. D. Hurst, “How
Platonic are Heb w i.5 e ix.23f.?” J T S 34 (1983): 156-68. Esses estudos permitem uma
(possível) similaridade verbal entre Filo e Hebreus, mas insiste na ausência de estrutu­
ras conceituais de idealismos platônico-filonianos.256789301
25 A monografia de Williamson foi originalmente sua tese de Ph.D. apresentada a
Universidade de Leeds. É dificil entender como grandes defensores do modelo platônico-
filoniano na Epístola de Hebreus desde 1870 - principalmente Dey e Thompson - não
tenham mencionado o estudo de Williamson. As obras produzidas desde 1970 parecem
não possuir evidência nem argumentação que já não tenha sido antecipada e efetivamente
conduzida por Williamson.
26 William G. Johnsson, “The Cultus of Hebrews in twentieth-Century Scholarship”
Exp Tim 89 (1978) p. 105.
27 Veja Barrett, “Eschatology o f Hebrews”, paia distinguir escatologia. Para um resu­
mo desses primeiros três argumentos com particular atenção a Hebreus 8:1-5, veja o artigo
mais recente de Ronald Williamson, “Platonism and Hebrews" (Platonismo e Hebreus) SJT
16 (1963M 18-19; cf. argumentos semelhantes em Buchanan, p. xxv, 134-35.
28Sowers, p. 91: “Exegese tipológica está completamente ausente de escritos de Filo.”
R. Hanson, A llegory a n d ev en t, p. 49: “Filo não exibe qualquer tipologia”; cf. também Ibid,
p. 86, e Sowers, p. 137, para uma consideração da ausência de alegoria em Hebreus.
29 Williamson, Philo a n d H ebrew s, p. 23-31, 423-24, onde as duas referências messiâni­
cas possíveis são reveladas como completamente diversas das de Hebreus.
30 Ibid., p. 557-70.
31 Ibid., P. 557
32 Ibidern.
33 Barret, “Eschatology of Hebrews", p. 389: “O tabemáculo celestial em Hebreus não
é produto de idealismo platônico, mas o templo escatológico do judaísmo apocalíptico." F. F.
Bruce, “To The Hebrews or To Essenes?", NTS 9 (1963) p. 229-30, concorda: “Sua [do autor de
Hebreus) representação do santuário terrestre como uma cópia do ‘real’ no Céu está fortemente
T ip o l o g ia n o l iv r o d e H e b r e u s

ligada ao platonismo; mas, quando observamos mais atentamente suas passagens, é evidence
que ele se refere primariamente às instruções de Moisés em Êxodo xxv. 40... [citado] - e ele
desenvolve sua idéia muito semelhantemente aos escritos apocalípticos, incluindo os autores
apocalípticos do NT, que não soiferam a influência de Platão." Mais recentemente, Nasch, p.
105-115, mostrou que a natureza de Cristo e seu ministério mediador em Hebreus é totalmente
diferente das concepções mediadoras cristológicas/celestiais de Filo. Em Hebreus, em oposição
a Filo, não há (1) abstração metafísica, mas uma pessoa histórica, (2) dualismo platônico, mas
encarnação, (3) depreciação de emoções, mas expressão de emoção e (4) a disposição de Cristo
para o sofrimento, para ser tentado e para a morte, com o que Filo jamais concordaria.
i4 Williamson, Philo and H e b r e u s , p. 579.
55 Charles T. Fritsch, “ To A n tity p on " , in S tu d ia B ib lic a et S e m itic a (Wageningen, 1966),
p. 103. É dizer, a correspondência do santuário terTestre/celestial já estava bem situada no
AT e não precisava ser confrontada com concepções platônico-filonianas. O que certamen­
te não elimina a possibilidade de que o a u c to r a d H eb r a eo s reconheça a dinâmica vertical de
tu p o s no AT (ta b n lt ), como é feito indubitavelmente por Filo, ainda que sejam suas idéias
transcendentais que estejam em perspectiva, não realidades celestiais consistentes (como
em Êxodo 25:40 e o paralelo das passagens do AT).

strr.ctu red T ra n sla tio r . to the Epistle to th e H e b r e u s , tr., James Swetnam (Roma, 1964).
37 Johnsson, “The Cultus of Hebrews", p. 104; cf. Vanhoye, La structure, p. 137-71; id.,
A Structured Transladou, p. 17-25.
38 Veja Michel Gourgues, “Remarques sur La ‘structure centrale’ de 1'épitre aux Hébreux.
A 1’occassion d’une réédition", RB 84 1997):31-32, onde no capítulo 8, na estruturação de üour-
gues, exprime-se o ponto principal com relação a Cristo como sumo sacerdote (v. 1-5) e media­
dor do novo concerto (v. 6-13), e o capitulo 9 forma o primeiro desenvolvimento desse principal
ponto. Da mesma forma com Vanhoye (La structure, p. 137-71; “A Structured Transladou", p. 17-
25), em qüe o os versos 8:1-9:10 são vistos como indicadores da antiga adoração inadequada, e
o os versos de 9:11-28 mostram a eficiência do sacrifício de Cristo.
39 William G. Johnsson, em Absolute Confidence: The Book o f Hebrews Speaks to Our Day
(Nashville, 1979), p. 91, grifo do autor.
30 Barret, “Eschatology of Hebrews”, p. 366; cf. Hans Windisch, “Der Hebrãerbrief,”
Handbuch zum Neuen Testament, 2* edição (Tübingen, 1931), p. 86; Otto Michel, “Der
Brief an die Hebrãer”, Kritisch-Exegetischer Kommentar (Gõttingen, 1966), p. 17; J. Smith,
p. 172.
41 Barrett, “Eschatology of Hebrews”, p. 391.
4: Ibid.
41 Ibid., p. 364.
44 Brady, p. 330; gf. p. 329-39.
45 Bertold Klappert, Die Eschatologie des Hebrãerbriefs (Munique, 1969), p. 54-58.
44 J. Smith, p. 172.
47 Filson, “Yesterday”.
48 William G. Johnsson, “The Pilgrimage Motif in the Book of Hebrews", JBL 97
A LUZ DE HEBREUS

(1978): 246; cf. o estudo sobre o tema da peregrinação, Ernst Kãsemann, D as w an d ern d e
G o tte sv o lk : E in e Untersiicliung ;um H eb rà erb rief, 4.“ ed. Gôttingen, 1961.
49 Barrett, “Eschatology o f Hebrews”, p. 391.
50 Para uma exposição detalhada da cristologia em Hebreus, veja, e.g., Erich Grãs-
ser, Der G la u b e im H e b r à e r b r ie f, Marburger theologische Studien 2 (Marburg, 1965): 214-23;
Anthony Snell, N ew a n d L ivin g W ay: An E x p la n a tio n o f th e E pistle to lh e H eb reu s (Londres,
1959), p. 40-45; para soteriologia, veja Stephen S. Smalley, "Atonement in the Epistle to the
Hebrews", E v Q 33 (1961): 36-43.
51 Johnsson, “Defilement and Purgation”, p. 39.
52 Ibid., p. 27-96; cf. sua sintese e atualização em “The Cultus of Hebrews”, p. 104-8.
53 Johnsson, “Defilement and Purgation”, p. 206-379.
54Ver seu resumo das conclusões no cap. 6 de “Defilement and Purgation”, p. 429-35.
35 Johnsson, A b s o lu te C o n fid e n c e , p. 152.
56 Ibid., veja sua análise das p. 152-60, cf. id., “Pilgrim Motif”, p. 239-51; id. “Defile­
ment and Purgation”, p. 380-424.
57 George G. Caird, “The Exegetical Method o f the Epistle to the Hebrews”, C/T 5
(1959): 47.
58 Ibid.
59 Caird argumenta que em cada exemplo, o uso das passagens do AT (SI 8, 95, 110, Jr
31) pelo autor de Hebreus é “um trabalho perfeito de exegese" (p. 47; cf. p. 47-49).
6PJohnsson, “The Pilgrimage Motif in the Book of Hebrews”, p. 247.
61 Para mais considerações, veja as p. 140-151.
62 Johnsson, A b s o lu te C o n fid e n c e , p. 91.
63 Isso parece já estar inferido em Hebreus 8:1-5. Assim como os sacerdotes do san­
tuário terrestre ofereciam sacrifícios, Jesus, o sumo sacerdote do santuário celestial deve
também oferecer um sacrifício. Isso Ele fez oferecendo a Si mesmo (Hb 7:27; 9:14; 10:12;
etc.), mas era na Terra que o sacrifício antitipo foi morto. A Terra corresponde ao pátio do
santuário levitico - o lugar onde os sacerdotes matavam suas vitimas cujo sangue devería ser
levado ao santo ou santíssimo. Hebreus 13.10 parece tornar claro que o atector a d H eb ra eo s
considera a cruz do Calvário o altar antitipico (no pátio do santuário celestial). Para uma
consideração mais detalhada, veja i.e., Edwin W. Reiner, T h e A ton em en t (Nashville, 1971),
p. 88-92, T h e S D A B ib le C o m m e n ta r y , 7:492.
64 Moffat, H eb rew s, p. liv, xxxii, xxxiv. v
1,5 J. Cambier, “Eschatologie ou hellénisme dans l’Épitre aux Hébreux: Une étude sur
menein ET 1’exhortation finale de 1' Epitre”, Salesianum 11 (1949):62-69.
“ Klappert, p. 50, 59.
67 Goppelt, TDNT, 8:259.
65 Ibid., p. 258.
09Veja p. 127-128.
70 Veja p. 140-151.
71 Barret, “Eschatology of Hebrews", p. 385.
tip o lo g ia n o l iv r o d e H ebr eu s

7: Goppelf, TDNT, 8: 258.


7 ,Klappert, p. 50.
74 Goppelt, TDNT, 8: 258
75 Ver especialmente Samuel T. Lowrie, An Explanation o f the Epistle o f the Hebrews
w vNova Iorque, 1884), p. 275, de acordo com Alford, vol. 4, p. 150.
^ 76 Philo, Legun allegoriae, 3.102; De vita Mosis 2.74 ff.; De Somniis 1.206. Veja a expo-
. sição em Davidson, p. 124-126.
77 E.g., Moffart, Hebreus, p. 132; Bruce, Hebreus, p. 220-21: McGaughev, p. 61.
78 Se em Hebreus 8:5, o autor entende que tupos se refere tanto a modelo em mi-
^ niatura do santuário celestial como o próprio santuário celestial, o contexto da passagem
parece indicar que o principal foco é o santuário celestial (direta ou indiretamente). Assim,
P as dinâmicas qualitativas (superior [celestial] = inferior [terrestre]) ainda seriam diferentes
fc daquelas passagens hermenêuticas (fora da seção cúltica principal) com tupos.
_ 79 É importante notar que Filo nunca emprega essa palavra em seus esforços herme-
™ nêuticos. Se o autor de Hebreus emprega filonismos em sua epístola, ele não usa vocabulá-
^ rio filõnico neste ponto cmcial.
p —? Moffatt.Jdífcrem^p^ L32,________ ___________________________________________
81 Edward G. Sehvyn, T h e First E pistle o f St. Peter (Londres, 1946), p. 299.
82 Se tupos se refere originalmente ao modelo em miniatura do santuário celestial,
J e n tã o o antitupos seria a correspondência (cópia do) do modelo em miniatura (do santu-
^ á rio celestial). Esta é a maneira como Lowrie, p. 323, o interpreta: “O apóstolo o chama
" o santuário celestial] de um antitipo das verdades santas, significando que o santuário
^celestial foi o correlativo do tipo do verdadeiro, como foi mostTado a Moisés no m onte.”
por outro lado, o tupos se refere também ou principalmente ao santuário celestial - o
^ q u e pode ser mais harmonioso com o contexto de 8:5 e 9:24 - então o antitupos seria
^ íq u e le que corresponde (cópia do) ao santuário celestial. Neste caso, o antitupos poderia
W'depreciar relativamente” em contraste ao seu uso em 1 Pedro 3:21 (onde é empregado
^para “exaltar relativamente”).
w 33 O material dessa seção é adaptado de Davidson , T ypology in S criptu re, p. 367-88.
0 84 Isto é corretamente apontado por Cody, p. 16
a 8S Siegfried Wagner, “bãnã/i", T D O T , 2:179.
86 BDB, p. 124 observa 373 vezes. A. R. Hulst, 1: 325, tem 376 vezes. HAL, p. 133,
® s t a 370 vezes. Nossa conta de Salomon Mandelkern, Vetens T esta m en ti C o n c o r d a n tia e H e-
^ jp ra ic a e a tq u e C h a ld a ic a e , 3* edição (Tel Aviv, 1978), p. 204-6, é 373 vezes.
87 Mandelkern, p. 225.
• 88 BDB, p. 125.
^ 89 Ibidem.
,n Ludwig Koehler e Walter Baumgartner, Lexicon in Veteris Testamenti Libros, 2a edição
t
9
eiden, 1958), p. 1018.
91 Ou uma n orm a nonnans, para usar a designação de Franz Delitzsh. Franz Delitzsch,
^Commentary on th e E p istle to the H ebrew s, tr. James Martin (Garnd Rapids, 1952), p. 32.
A LU Z DE I lEBREUS

9" 92 Cody, p. 16; R. Alan Cole, E xodu s: An In tro d u c tio n a n d C o m m e n ta r y , TOTC (Do-
wners Grove, IL, 1973), p. 190'
,J Johannes H. A. Ebrard, B ib lic a l C o m m e n ta r y on th e E p istle to th e H ebreiv s, tr. John Ful-
ton, Clark's Foreingn Theological Library, 32 (Edinburgh,1853), p. 248-50; Joseph M ’Caul,
T h e E p istle to th e H ebrew s (Londres, 1871), p. 98.
94 Bruce, H eb rew s, p. 165-66; John H. Davies, A L e tte r to H eb r ew s , Cambridge Bible
Comentary (Cambridge, 1967), p. 201.
95 Henry Alford, T h e G r e e k T esta m e n t: W ith a C r itic a lly R ev ised Text, a D igest o f V arious
R eadin gs, M a r g in a l R eferen ces to V erb al a n d Id io m a tic U sag e, P ro le g a o m en a , a n d a C r itic a i a n d
E x eg etical C o m m e n ta r y , vol. 4 (Londres, 1864-1868), 4:150; cf. primeiros comentaristas (Fa-
ber Srapulensis, Bleek, Schlichting e Srort) mencionados e/ou cirados por Alford (Idem),
propondo uma apresentação similar. Cf. também uma discussão desses comentaristas (plus
R ivet) por Ebrard, p. 249-50. n. 1.
90 Umberto Cassuto, A Commentary on T h e B o o k o f E x od u s, tr. Israel Abrahams (Jeru­
salém, 1967), p. 322. Goppelr, T D N T , 8:256; David N, Freedman, “Early Israelite History
In The Light of Early Israel Poerry”, em L/nity and D iversity. Ed. H. Goendicke e J.M.M.
Roberts (Balrimare e Londres, 1975), p. 26.
-------- 33 Gearge A : GhsdwickrThe' B ookv f Exodus ( Nova York, 1908), p. 25.
98 William G. Moorehead, Studies in th e M o s a ic Jnsíitittions: T h e T a b e m a c le , th e Pries-
tknod, t h e S a crifices, T h e F easts o / A n c ie n t Israel (Davron, OH, 1896), p. 16.
99 BDB, p. 90 (III, 8).
100 Veja Êxodo 26:30; 27:8.
101 Veja p. 143.
102 Além das referências listadas acima, veja a bibliografia em R. G. Hamerton-Kelly,
“The Ternple and the Origns of Jewish Apocalyptic”, V T 20 (1970):6, n. 1.
103 Freedman, p. 26.
1U1 Conforme argumenta Cody, p. 17, 20, e está satisfeito em deixar isso assim. Ele
encontra em Provérbios 9:8 a referência explicita que ele acredita ser a fonte principal de
Hebreus 8:5.
105 Veja C. F. Keil, B ib lic a l C o m m e n ta r y on E xodu s, trad. inglês de James Martin (Grand
Rapids, 1952), p. 165.
106 Veja Wagner, T D O T , 2:179.
107 Bruce, H eb rew s, argumenta, com efeito, que uma vez que a idéia do rabernáculo
terrestre como um lugar de habitação de Deus é enfatizada em Êxodo 25:8, 9, 40 “estaría­
mos mantendo completamente a prática atual de que tal lugar de habitação terrestre deve
ser uma réplica do lugar de habitação celestial de Deus”. Esse argumento combina os indi­
cadores contextuais que acabamos de considerar com os atuais paralelos do antigo Oriente
Médio, os quais discutiremos no próximo tópico.
108 Vários estudiosos têm percebido a ênfase da correspondência terra/Céu (vertical)
dentre a literatura do antigo Oriente Médio, particularmente com referência a um santu­
ário/templo celestial como o original divino do terrestre. Hans Bietenhard, D ie h im m lische
W elt in U rschristen tu m u n d S p à tju d e n tu m , Wissenschatliche Untersuchungen zum Neucn
T ip o l o g ia n o l iv r o d e H e b r e u s

Testment 2 (Tübingen, 1951):13; F. J. Schierse, Veheirssung und Heilsvollendung: Zur thelogis-


chen Grundfage des Herbrãerbriefes (Munich, 1955), p. 15; J. C oert Rylaarsdam, “T he Book
of Exodus: Inrroduction and Exegesis”, IB, 1:1021 resume assim: “A noção de um modelo
celestial para templos, culto, objetos e leis é universal no antigo Oriente M édio.” Hugh
Montefoire, A Commentary on Episcle to the Hebreus, Harpers New Testment Commentaries
(Nova Iorque e Evanston, 1964), P- 135, ressalta que “a idéia de um templo celestial, com
um templo terrestre como seu equivalente,^ de taxo muito antiga. Ela pode ser traçada des­
de a Babilônia..." Finalmente, Mircea Eliade, prolífico escritor na área de fenomenologia
da religião, declara a respeito das crenças do Antigo Oriente Médio no seu livro Cosmos
and History (Nova Iorque, 1954), p. 7: “O templo em particular, preeminentemente o lugar
santo, tem um protótipo celestial”.
109 Enuma elish 3.61, 119, 131 (ANET, p. 65); cf. Bruce, Hebreus, p. 166.
H0"ANET, p. 164; cf. Montefiore, p. 135.
111 Veja Hammerton-Kelly, p. 7; Cody, p.17; Robert W. Rogers, A History o f Babylonia
andAssyria, 2 vols., (London, 1902), 1: 369; Driver, Exodus, p. 267; Menahen Haran, “Shi-
loh and Jerusalem: The Origin of the Priest tradition in the Pentateuch”, JB L 81 (1962):
21; Henry Frankfort, Kingship and the Gods: A Study o/Andent Near Eastem Religion as the
—Iniegration-of-Soctety-cmd Natnre (Ghicagc^-1948)rp: 2-25*2-56:------------------------------------------------
112 Cilindro A. Para ter o texto (transliteração e tradução), veja George A . Barton, —
The Royal Inscriptions o f Sumer-and A kkad ÍNew Haven, 1929), p. 205-237; François Thure-
au-Dangin, ed., Die Sumerísche und akkadische Kõnigsinschriften (Leipsig, 1907), p. 89-123.
113 De acordo com a análise de Hamerton-Kelly, p. 7. Nesse ponto (A, 5.8-9), o texto
não é claro (Thureau-Dangin, p. 95, não obtém uma tradução completa). Mas, em outra
parte do cilindro A, é evidente que o templo terrestre deveria ser feito segundo o original
celestial. Veja 11.16 (Barton, p.233): “Da mesma forma que o majestoso templo do Céu,
o terrestre foi erigido". Veja também 27.13 (Barton, p. 233): “o seu lado, como o templo
no Céu, cheio de abundância”. Cf. Cilindro B. 24:14 (Barton. p. 255): “Em Eninnu,
construído no Céu e na terra”.
114 Cilindro A, 5.4. Anton Deimel, Ed., Sumerishes Lexikon, 3 vols. (Rome, 1925-
1934; reimpresso e editado por Graz, Áustria, 1962), 2: 797 (e 3:123), define gii.har
como “Zeichnung; Bild; Emblema; Betismung ...; Plan.” No contexto especifico de
Cilindro A. 5.4, a palavra sumeriana e 2 -a g is-h a r -b i é traduzida como “Tempelriss”. De
acordo com A. 4.3-4 (Barton, p. 209), esta “planta do tem plo” estava numa placa de
lápis-lazúli.
115 McNicol, p. 55-56.
116 Gerhard ven Rad, “Typologica! Interpreta tior. of.the Old Testament", em Essa-js
on Old Testament Hermeneucics, ed. Claus Wesrermann (Richmond, 1963), p. 19. Até mesmo
von Rad aponta a vários “vestígios”, como ele diz, da correspondência vertical no A T (veja
von Rad, TDNT, 5:508). Mas, ele não considerou os inúmeros exemplos das correspondên­
cias verticais do santuário (especialmente em Salmos e Provérbios) nem a facilidade como o
pensamento dos escritores bíblicos se move do santuário terrestre para o celestial.
117 F. Jeremias, “Das orientalishe Heiligttim”, Angelos 4 (1932):56.
A LUZ DE HEBILEUS

US Ibid., p. 56, 61-63.


119 Tryggve N. D. Mettinger, “Abbild oder Urbild Tmago D ei’ in traditionsgeschichtli-
cher Sicht”, ZAW 86 (1974):410.
120 Note particularmente as seis passagens seguintes: SI 11:4; 18:6 (Mt 7); 60:6 (8) =
108:7 (8); 63:2 (3); 68:35 (36); 69:9; 102:19 (20); 150:1; Is 6 :lff.; Ez 1-10, 40-48; Jn 2:7 (8);
Mq 1:2; Hc 2:20; Zc 3. Para consideração desses e outros textos, veja meu trabalho não
publicado, “The Heavenlv Sanctuary in the Old Testament”, (Andrews University Seven-
th-Day Adventist Theological Seminary, 1976); cf. Niels-Erik Andreasen, “The Hcavenly
Sanctuary in the Old Testement”, em T h e Sanctuary a n d th e Atonement, ed. Amold V. Wal-
lenkampf e W. Richard Lesher (Washington, DC: Biblical Research Institute, 1981), p. 67-
86; e William H. Shea, S ele c te d S tudies on P rop h etic ln te r p r e ta tio n (Washington, DC: Biblical
Research Institute, 1982), p. 1-24.
121 Veja especialmente J. C. Matthews, “Die Psalmen und der Tempeldienst”, ZAW 22
(1902): 65-82; Richard Preuss, “Die Gerichtspredigt der vorexilischen Propheten und der
Versuch einen Steigerungder kultischen Lelstung”, ZAW 70 (1958): 181:84; Hans Strauss,
“Zur Auslelung von Ps. 2 9 ”, ZAW 82 (1970):91-102.
122 Veja Provérbios 9:8.
------------- m Partrrer resumos-das evitrèncraSTAeja éspeciaimente Raphaei Patai, Man and T em p le
in Ancient j e i u ú h Mytfi and R itu a l (Nova Iorque, 1967), p. 130-33, 138-39; Strack e Billerbeck,
3:700-704; Bietenhard, p. 125, 130; Cody, p. 22-25; Buchanan, p. 158.
124 Veja Davidson, Typology in Scripture, p. 130-131.
1:5 Frank M. Cross, “The Tabernacle”, BA 10 (1947), p. 62. Veja também N or­
mal C. Habel, Y a h w e h V ersu s B a a l : A Con/lict o f R e lig io u s C u lt u r e s (Nova Iorque, 1964),
p. 85-86.
126 Observe Daniel 7:9, 10.
127 Veja .Delitzsch. H ebrew s.. 2:34.
128 Gray, p. 156, nos recorda de que não era comum, na mente do povo sernita antigo,
acreditar numa correspondência terrestre/celestial e, ao mesmo tempo, ter o conceito de um
modelo do terrestre. Habel, p. 85-86, contra esse contexto misto de terrestre/celestial e celes-
tial/cerrestre, vê Exodo 25:9, 40 apontando deiinitivamence para um original celestial.
129 Hipótese n° 3 acima.
13(1 Hipótese n°5 acima.
131 Esse ponto de vista abrangería as hipóteses n° 3 e n° 5.
132 Veja Hamerton-Kelly, p. 6. No dualismo grego, é claro, esta correspondência fun­
ciona num outro nível diferente do AT. São idéias transcendentes e não realidades celestiais
materiais que correspondem ao terrestre. Não obstante, uma dinâmica vertical semelhante
está presente.
1,3 Uma vez que tupos e paradeigm a foram empregados em conexão com uma corres­
pondência vertical na literatura contemporânea e na antiga, os tradutores da LXX podem
muito bem ter escolhido estes termos gregos para indicar que interpretaram a palavra
hebraica tabnit com base na correspondência terrestre/celestial (tanto no sentido do AT
de uma realidade celestial material ou no sentido platônico de idéias transcendentes).
T ip o lo g ia n o l iv r o d e H e b r e u s

Mas, a despeito da intenção deles, as palavras substitutas para la b r iit , e, em particular,


a palavra substituta para t u p o s , abrangem impressionantemente a dinâmica semântica
presente no original.
134 O mais recente protesto dentro do adventismo foi semeado por Desmond Ford
em seu manuscrito Glacier View de 1980, publicado sob o titulo Daniel 8 :1 4 : T h e D ay o f
Atonement, a n d lh e Investigative Ju d m en t (Casselberry, FL, 1980). Vários escritores de dentro
e de fora do adventismo-que partilham das mesmas convicções sobre a tipologia são citados
ao longo do trabalho, especialmente no capitulo 3 e no apêndice 9 “Citações a respeito da
natureza antitética dos tipos do santuário”.
135 Ford, p. 133.
136 Ibid., p. 134.
137 Veja p. 156-158 deste esmdo para listagem e as considerações destas passagens.
115Veja Ford, p. 119; 142-144, para citações de vários estudiosos bíblicos neste assunto.
139 Ibid., p.l: “Uma doutrina não pode ser estabelecida por tipos ou interpretação
profética, eles devem ser usados somente para ilustrar e confirmar o que é claramente ensi­
nado em outro lugar, e numa linguagem não simbólica”. Veja também p. 22, 24, 293 para
declarações similares.
I4' 1 Veja ibid., p. 134.
141 Veja notas 92 e 93 deste estudo para proponentes deste ponto de vista.
143 Veja Miles M. Bourke, “The Epistle to the Hebrews", em The Je r o m e Biblical Com-
mentary, ed., Raymond E. Brown, Joseph A. FitzmeyeT e Roland E. Murphy (Englewood Cli-
ffs, N], 1968), p. 396, a respeito de Hebreus 9:4; “Parece que o autor cometeu um erro aqui,
causado provavelmente pelo fato de que ele não estava falando do conhecimento pessoal
do templo, que substituiu o tabemáculo mosaico, mas estava meramente repetindo, e neste
caso mal-interpretando, a descrição do Tabernáculo encontrada em Êxodo”. Alexander C.
Purdy, “The Epistle to-the Hebrews: Exegesis”, ÍB, Ed. George A. Buttrick (Nova Iorque,
Nasnville, 1955), 11:686-687, a respeito da mesma passagem: “Ou o autor tem outras fontes
desconhecidas para nós, ou ainda, mais provavelmente, ele não estava totalmente à vonta­
de aqui, obtendo seu conhecimento somente de livros, e, neste caso, usando-os de forma
descuidada.”
143 Ford, p. 157.
144 Ibid., p. 22.
143 Veja p. 135-138 deste estudo.
I4fi Veja p. 140-150 deste estudo.
147 Veja Ford p. 137-138.
143 Veja Ibid., p. 101.
149 Ibid.. p. 108-109.
150 Caird, p. 47 se refere especialmente ao Salmo 110 e a Jeremias 31 (juntamente com Sal­
mos 8 e 95). Veja nossa análise de Êxodo 25:40 nas p.151-163 deste estudo. O escritor também
considerou apropriada a declartação de Caird no que tange ao uso que o autor de Hebreus faz
do Salmo 40. A parte central do Salmo 40 (v. 6-10, o coração da estrutura quiasmo) parece rela­
cionar-se ao cerne do discurso messiânico direto, e o autor de Hebreus reconheceu corretamente
A LU Z DE HEBREUS

(10:5-10) a dramática justaposição entre os obsoletos sacrifícios de animais e o Messias que ha­
vería de vir para cumprir o que os sacrifícios nunca poderíam. Veja o estudo não publicado de
Jacques Doukhan para considerações adicionais sobre esse importante Salmo.
151 Veja nota 142 acima para citações ilustrativas deste assunto. Como outro exemplo,
veja também Horner A. Kentjr., T h e E p istle to th e H eb rew s (Grand Rapids, 1972), p. 84: “Ele
(o autor de Hebreus) pensou que o incensário de ouro estava após o véu.”
152 Veja Brooke Foss Wescott, T h e Epistle to the Hebreus (Grand Rapids, 1950), p. 247, para
uma pesquisa sobre o uso deste termo e uma lista dos defensores da interpretação “incensário”.
151 Ibidem.
154 Ibidem.
155 Veja Êxodo 30:6; 40:5; cf. Levitico 4:7; 16:12, 18. Para maiores discussões sobre a
função do altar de incenso no santíssimo, veja M. L. Andreasen, T h e B o o k o f H eb rew s (Wa-
— shigton, D C, 1948), p. 321-322.
156 Veja em Ford, apêndices 6 e 8, declarações de vários comentaristas que apoiam
esse ponto de vista.
1,7 Veja especialmente F. F. Bruce, Commentary on th e E p istle to th e H eb rew s (St. Mein-
rad, IN , 1960), p. 147-148; Jean Héring, T h e E p istle to the H ebrew s (London, 1970), p. 70-75;
Spicqr^F 2537254; e om atem i fiâõ~pubircádò de Gerhard Hasei, "Some Observations on
— Flebrews 9 in view of Dr. Fords Interpretation”, p. 6-8. Cf. William Lindsay, L ectu res on th e
E p istle t o th e H eb r ew s , 2 vols. (Philadelphia, 1868), 2:22-23; Ronald Williamson, T h e E p istle
to th e H eb r ew s ( London, 1964), p. 84.
158 Assim diz Bruce, p. 194-195: “Precisamos notar ainda que, considerando que até
agora nosso autor tem usado ‘o primeiro tabemáculo’ do compartimento exterior do santuá­
rio, aqui (em 9:8) ele o utilizou como o santuário da ‘primeira aliança’ (9:1), incluindo o lugar
santo e o santíssimo”. Mais uma vez, Cody, p. 147-148 afirma que “o primeiro santuário (de
9:8) se toma o santuário terrestre, antigo na sua inteireza, incluindo o santo e o santíssimo, e
... o ‘maior e mais perfeito tabernáculo’ do verso 11, se torna o santuário celestial"’; William­
son, H ebrew s, p. 84: "O verso 9:8 não é uma referência ao santíssimo, mas representa o sistema
judaico que foi descrito.” Lindsay, 2:22-34 faz semelhante afirmação: “no primeiro tabemá­
culo, nesse verso (9:8), não devemos entender, como nos versos 2 e 6, a divisão externa do
antigo tabernáculo como distinta da interna, mas sim o tabemáculo judaico como diferente
do tabemáculo cristão... Não teria nenhum propósito definir um período de continuidade do
compartimento exterior particularmente, uma vez que o interno existiu no mesmo tempo...
Entende-se claramente o tabernáculo judaico como um todo, o qual é contrastado com o
maior e mais perfeito tabemáculo mencionado no verso 11”. A NVI conseguiu dar o sentido
correto para p r o t ê s k ê n ê com a expressão “earlier tent” (tabemáculo anterior). Devemos obser­
var que Josefo (Contra Apion 11.12) usa p r o t ê s k ê n ê no mesmo sentido de “tabernáculo antigo”
(i.e., o santuário terrestre precedendo o templo salomônico).
159 A. P. Salom, “Ta liagia in the Espisrle to the Hebrews”, AUSS (1967):64-65; veja p.
59-70 para uma completa exposição desse tema. Juntamente com a evidência comparativa
da LXX citada por Salom, observe também como os outros escritores gregos usam o plural
ta liagia para denotar o santuário como um todo; Filo (Fuga 93) e Josefo (Jcwish Wars 2341)
também o aplicam ao santuário terrestre como um todo, enquanto Sibyline Oracles, 3: 308,
T ip o l o g ia n o l iv r o d e H e b r e u s

o aplica para o santuário celestial como um todo. Para considerações adicionais sobre as
possíveis aplicações do plural, veja Hasel, “Observations on Hebrews 9 ”, p. 3-5; veja tam­
bém no Apêndice A deste volume uma reedição do estudo de Saloin.
Io° Veja Kent, p. 168; J. H. Davies, A Letter to cke Hebrews, Cambridge Bible Commentary,
ed. P. R. Ackroyd, A. R. C. Leaney, e J. W. Packer (Cambridge, 1967), p. 86.
161 George Rice, “The Chiastic Structure o f the Central Section o f the Epistle to the
Hebrews", AUSS 19 (1081):243-246.
162 Para uma consideração do assunto “véu” em Hebreus 6 e 10, e o problema do aces­
so à presença de Deus, veja especialmente Hasel, “Observations on Hebrews 9", p. 14-19.
Em várias considerações filológicas torna-se evidente que as referências à entrada para além
do interioT do véu em 6:19 e 10:20 poder incluir algo mais abrangente que somente o véu
diante do santíssimo; ao mesmo tempo, é visto que a presença de Deus não é limitada ao
“santíssimo. Levando em conta o fato de que o autor de Hebreus em 9:3 usa “segundo véu”
ao se referir especificamente ao véu diante do santíssimo, é muito provável que em 6:19,
20 a referência seja ao véu diante do lugar santo, ou talvez num sentido geral para ambos
o(s) véu(s) diante dos lugares santo e santíssimo. Mas, mesmo que o autor de Hebreus esteja
sendo coerente com o uso da LXX em 6:19, e tiver em mente o véu diante do santíssimo
-exc-lusivamentth-isso-ainda ficaria correlacionado-com a tipologia-da-inauguração, que_no_
“tipo" do AT incluía a entrada no santíssimo bem como no lugar santo.
163 Isso vai contra Ford, que argumenta que “os versículos 13-22 de Hebreus 9 não se
desviam do dia da expiação” (p. 146). Veja Hasel, “Observations on Hebrews 9”, p. 9-12,
para mais discussões sobre este assunto. Para argumentos contra o ponto de vista da inau­
guração, veja Johnsson, p. 86-87 neste volume.
164 Veja também Hebreus 7:27 e 10:11, onde os serviços diários do santuário terrestre
(em particular os sacrifícios diários) são comparados com a obra de Cristo.
165 Para o tema do reinado, veja também Hebreus 1:5, 8, 9; 2:7; 8:1; 12:2. As refe­
rências a “sentar-se à destra” do Pai servem para indicar, não tanto a posição física real de
Cristo, mas sua autoridade (cf. SI 45:9; 109:31; 110:1, 5; Mt 20:21, 23; 26:64; Mc 16:19; At
2:34; Cl 3:1; 1Pe 3:22).
166 William Johnsson, “Day of Atoncment Allusions”, cap. 6 deste volume.
167 Veja a citação completa na p. 168.
168 Em Ellen G. White, Primeiros Escritos (Tatui, SP, 1999), p. 252: “Foi-me também
mostrado um santuário sobre a Terra, contendo dois compartimentos. Parecia-se com o do
Céu, e foi-me dito que era uma figura do celestial.”
169 Ibid., p. 253: “E na sabedoria de Deus os pormenores desta obra nos foram dados
para que pudéssemos, volvendo um olhar para-as mesmos, compreender a obra de Jesus no
santuário celeste.”
C a p ít u l o 8

T ip o l o g ia a n t it é t ic a

OU DE CORRESPONDÊNCIA?
A lberto R. T r e iy e r

inopse editorial. Mesmo o leitor desatento de Hebreus percebe que seu autor
S apostólico está comparando e contrastando o sistema levítico (primeira aliança;
santuário terrestre; sacrifícios de animais; sacerdócio humano) com o novo sistema
de adoração inaugurado por Cristo (nova aliança; santuário celestial; a própria
morte expiatória de Cristo e seu sacerdócio).
Eruditos que consid eram que a epístola sofreu in flu ên cia do pensa­
m ento grego interpretam -na com o um ataque ao sistema levítico e vêem-na
com o um exem plo ú n ico de tipologia an titética. A ruptura entre o sistema
do san tu ário levítico e o m inistério celestial de C risto é considerado mui­
to profundo para p erm itir qualquer correspond ên cia significativa entre os
dois. Pela lógica, tal posição rejeitaria um m inistério sacerdotal de C risto
em duas fases.
O autor deste capítulo demonstra com o a posição da tipologia antitética
é errônea e defende uma tipologia de correspondência. Embora os contrastes
entre os dois siscemas salientem a aliança “superior” e o santuário “superior”,
o sacrifício “superior” e o sacerdócio “superior” da era cristã, “superior” não
significa “em oposição a”, mas simplesmente indica algo mais “elevado”, algo
mais "definitivo”.
O apóstolo Paulo retrata o sistema cristão como “mais glorioso ’ ao compará-
lo com o sistema levítico, o qual descreve com o “glorioso” (2Co 3:6-18). Ambos
são “gloriosos” porque ambos revelam a luz do evangelho. O sistema levítico não
ergueu uma barreira para impedir Israel de se aproximar de Deus; pelo contrário,
Deus pediu a seu povo que lhe construísse um santuário a fim de que Ele pudesse
habitar entre eles (Èx 25:8), e para que os pecadores tivessem acesso a Ele por
meio de um sacerdócio legítimo. Mesmo hoje, na nova dispensação - assim como
na antiga - nenhum crente pode entrar corporalmente na presença de Deus. Em
T ip o lo g ia a n t it é t ic a o u d e c o r r e s p o n d ê n c ia ?

qualquer das dispensações, entramos por meio de um sacerdote, seja arônico ou


o próprio Cristo.
A fragilidade do sistema levirico não consistia no impedimento da apro­
ximação a Deus, mas o fato de ser apenas uma sombra-tipo. C om o tal, ele era
incapaz de acabar com o problema do pecado. Ele podia apenas direcionar a fé
do crente no sacrifício perfeito e no sacerdócio do Messias, o qual poderia exter­
minar o pecado.
Todas as sombras-tipo - quer da m onarquia de Davi, ou do sacerdócio
de M elquisedeque, ou do sistema levítico - tinham lim itações e aspectos in­
com pletos. A evidência é suficiente para dem onstrar que o autor de Hebreus
escreveu sob o princípio de correspondências tipológicas entre os dois sis-
— temas em todos os exemplos possíveis. Q uand o m encionava um detalhe do —
sistema levítico que não se ajustava perfeitam ente ao m inistério de C risto,
indicava que tais pontos já haviam sido previstos e firm ados no AT.
Uma vez que o autor de Hebreus relaciona tipologicamente o novo sistema ao
antigo, prosseguimos com base no sólido fundamento biblièo a fim de confirm ar as
~duasTases~rlo~mimstéri'OTíacerdotal deCrisro~ premi nciadasTrasmfnistrações diárias----
e anuais do santuário terrestre.

E sbo ç o d o c a p ít u l o

1. Introdução
2. Correspondência em contrastes
3. Limitações na tipologia
4. Sacrifício: contraste e correspondência
5. Santuário levítico: uma barreira à aprcodmação de Deus?
6. Limitações fundamentais do sistema antigo
7. Conclusões

I n tro du ção

Os escritores que acreditam haver influência alexandrina em Hebreus vêem


pouca ou nenhuma relação entre a tipologia levitica e o ministério celestial de Cris­
to. De acordo com essa opinião, o propósito da epístola era mostrar a “antítese” ou
o contraste entre os dois sistemas.1Todo o ritual levítico é visto com o um obstáculo
para a aproximação do homem a Deus; enquanto o sistema novo, estabelecido por
Cristo, é visto como aquele que remove essa barreira.2 Em suma, se alguém deseja
falar sobre tipologia em Hebreus, sugere-se que fale sobre uma tipologia de oposi­
ção e não de correspondência.
A LUZ DE HEBREUS

Não se pode negar que o autor de Hebreus, de fato, contrasta o novo sistema
com o antigo. Por exemplo:
1. Os sumos sacerdotes do A T “são feitos sacerdotes em maior número, porque
são impedidos pela morte de continuar.” Em contraste, Cristo que “continua para
sempre, tem o seu sacerdócio imutável” (Hb 7:23-24).
2. Os sumo sacerdotes do A T tinham “de oferecer todos os dias sacrifícios
- primeiro, por seus próprios pecados, depois, pelos do povo”. Já Cristo não teve
necessidade de oferecer sacrifício por si mesmo, e fez apenas um sacrifício, ao
oferecer-se a si mesmo (Hb 7:27).
3. Os sumo sacerdotes do A T eram “fracos”. Cristo, como sacerdote designado
por Deus, foi “perfeito para sempre” (Hb 7:28).
4. Os sumo sacerdotes do A T não podiam remover o pecado; dai a repetição
dos sacrifícios ano após ano (Hb 10:1-4). Cristo se ofereceu para sempre com o um
único sacrifício para remover o pecado (Hb 10:10-12, 14).
5. Os sumo sacerdotes do A T serviram “figura e sombra das coisas celestes”
(Hb 8:5) e dos “bens-vindouros” (Hb 10.T). Cristo ministra no próprio santuário
— ceies t ia 1re-verd ade ire-{H b-8r2, - 5 ) —
Mas, por que o apóstolo faz esses contrastes? Resposta: Esses contrastes fazem
com que o leitor veja que o ministério .de Cristo é superior e mais pleno que o dos ,
sacerdotes terrestres. Seu propósito não é negar a correspondência tipológica entre
os dois sistemas.
Há agora uma “superior aliança”, “com base em superiores prom essas”
que perm item um “m inistério tanto mais excelente” (Hb 7 :2 2 ; 8:6 ), e tem
“sacrifícios superiores” (9:23). A idéia de coisas superiores não significa ne­
cessariam ente oposição,' mas sim -algo superior,- de -maior valor, algo mais
am plo e d efinitivo.

C o r r e s p o n d ê n c ia e m c o n t r a s t e s

É evidente que o padrão terrestre nunca poderá acolher a plenitude da rea­


lidade celestial.5 Os sacerdotes terrestres, por exemplo, eram filhos de Levi, mas o
Messias é da linhagem de Davi. Com o Jesus poderia satisfazer a^sses dois tipos,
levitico e davídico, de modo a cumprir o papel prenunciado do Messias no AT?4
Para explicar essa aparente incom patibilidade tipológica, o apóstolo recor­
re a uma profecia do AT que a justifica e, ao mesmo tempo, completa o papel
m essiânico que Jesus deve realizar no santuário celestial. De fato, o próprio
Davi resolveu essa questão quando profetizou sobre o Messias: “Tu és um sa­
cerdote eterno, segundo a ordem de M elquisedeque.” M elquisedeque foi rei
e sacerdote, sendo assim, um tipo adequado para a dupla função do Messias
com o rei-sacerdote.5
T ip o l o g ia a n t i t é t ic a o u d e c o r r e s p o n d ê n c ia ?

Isso demonstra que o autor de Hebreus não teve nenhuma intenção de violar a
tradição bíblica. Pelo contrário, cada vez que aparece um contraste entre ambos os siste­
mas, ele fundamenta seu argumento no AT para mostrar que embora alguns detalhes
do sistema levitico não possam se adequar perfeitamente ao ministério de Cristo, eles
foram previstos e esclarecidos anteriormente nas mensagens proféticas.6
O esquema tipológico é então retomado. O antigo é projetado para o novo.
Há correspondência entre ambos. Tanto Meiquisedeque com o Davi são tipos ou
figuras de uma dimensão no futuro ministério do Messias que o sacerdócio arõnico
ou levitico não poderia representar adequadamente.

L im it a ç õ e s n a t ip o l o g ia

Isso não sugere que o ministério arõnico não corresponde ao ministério de


Cristo, porque o inverso também é verdade. Em outras passagens da epístola o
sacerdócio arõnico é aceito como tipo ou sombra de Jesus em uma dimensão que
nem Davi nem Meiquisedeque poderia prefigurar.7
— Por-exercvple, Melquisedeque-alguma vez. ofereceu-sacrificios-pelos-pecados_
com o os sacerdotes leviticos fizeram, e como o próprio. Jesus fez?8A resposta é
não. Não há registro bíblico que relate a oferta de pecado para Meiquisedeque.
Mas Jesus ofereceu-se a si mesmo como oferta de pecado em correspondência à
tipologia levitica.
Neste mesmo quesito, Davi também é um tipo limitado. Embora tivesse feito
ofertas de pecado, ele nunca atuou como sacerdote em tais casos, ele as oferecia
com o todos os outros príncipes de Israel quando cometiam pecados.9 Pode sua
oferta ser relacionada ao ministério sacerdotal de Jesus? .Não. Jesus .ofereceu um
sacrifício por seus próprios pecados? Nunca.10 Assim, é evidente que as tipologias
de Meiquisedeque e de Davi também estão limitadas em sua dimensão. Autores
modernos que baseiam suas idéias na ordem diferente de genealogia para o sacer­
dócio de Meiquisedeque - negando a correspondência tipológica de Jesus com o
sistema levitico - traem suas verdadeiras intenções.
O argumento de que a inadequação do sistema levitico prova que sua tipologia
é contrária ao sacerdócio real de Cristo poderia também ser facilmente atribuído
à tipologia do reino de Davi. Por exemplo, a instituição davidica também produ­
ziu homens que se tornaram pecadores e apóstatas,11e-então, nunca poderíam ter
cumprido a realidade prefigurada. O próprio Davi “morreu e foi enterrado”, bem
como todos os seus descendentes.12 Em contraste com a monarquia davidica, Jesus
ressuscitou, e seu reino não pode ser tomado, quer seja pela morte ou por qualquer
outro poder.11
Se o apóstolo não discute as limitações da monarquia davidica em sua epístola
é porque a instituição já não existia em Israel; seu cumprimento messiânico ainda
A LUZ DE HEBREUS

estava no futuro. É por isso que os evangelhos afirmam que Jesus era o “Filho de
Davi”,H e Paulo afirma mais tarde que Jesus é o Filho de Davi “segundo a carne".15
Mesmo depois de sua ressurreição e ascensão, João continua identificando Jesus
com Davi.16
Apesar dessas correspondências, o ministério de Jesus é muito superior ao
de Davi. Em correspondência com Davi, mas numa maior e mais majestosa pro­
porção, Jesus “regerá" as nações “com vara de ferro” em sua segunda vinda.17 Isso
demonstra que apesar das limitações do reino de Davi para representar a Cristo, o
ministério real de Cristo no Céu e na terra renovada corresponde com o de Davi e
não é contrário a ele.18 Davi reinou em Israel e subjugou todas as nações inimigas;
Jesus reina hoje em sua igreja - o Israel espiritual19 - e subjugará as nações por
ocasião de sua vinda.20
Qual é, então, o problema que o escritor apostólico enfrenta em Hebreus? Ele
tem de quebrar todas as ligações com a “figura”, “tipo”, “modelo, e “parábola” do
sistema levitico? Não. Em vez disso ele mostra que apesar de Jesus não pertencer
à tribo de Levi, Ele pode e cumpre os tipos do modelo levitico porque Ele é, ao
mésmcTtempo, rei e sacerdote.
C om o tipologia, o sacerdócio de Melquisedeque teve também limitações
quecontrastaram com-a-realidade do sacerdócio de Cristo. Vimos a ausência de
ofertas de pecado. Notamos outro exemplo: os escritores da Bíblia, especialmente
Mateus e Lucas, registram a genealogia d e Jesus. Mas nada é dito sobre a de Mel­
quisedeque.21 Devemos então considerar que Melquisedeque é superior a Cristo?
De forma alguma.
A mudança da lei levítica com relação ao sacerdócio (ou seja, sua abolição, Hb
7:11-19), provocada pela instituição da ordem de Melquisedeque, tinha a ver com
seu aspecto hereditário. Somente um sacerdote da linhagem de Arão poderia atuar
legitimamente. Para estabelecer a legitimidade desta mudança no sacerdócio e, ao
mesmo tempo, preservar a correspondência tipológica entre o sacerdócio de Cristo e
o sacerdócio arônico, o apóstolo apresenta três linhas fundamentais de evidência.
1. Embora Cristo pertença à tribo de Judá, Ele pode cumprir os tipos repre­
sentados pelo sacerdócio levitico, porque - como Arão - o próprio Deus chamou-o
para ser sumo sacerdote (Hb 5:4-6).
2. A mudança na ordem do sacerdócio foi predita por Deus na mensagem
profética de Davi (SI 110:1, 4).
3. Assim como Melquisedeque, que supostamente não tinha “princípio de
dias nem fim de existência” (Hb 7:3), Jesus pode oficiar como sumo sacerdote com
base em sua “vida indissolúvel” (Hb 7 :16).
Este último aspecto do ministério de Jesus (uma vida eterna) não poderia
ser cumprido pelo sacerdócio levitico (Hb 7:23), nem segundo o reino davidico
t ip o l o g ia a n t i t é t ic a o u d e c o r r e s p o n d ê n c ia ?

(Atos 2:29); nem por Melquisedeque, mas só em tipo. É por isso que uma vez que
Melquisedeque aparece no registro bíblico sem genealogia, é dito que ele foi “[feito
semelhante] ao Filho de Deus” (Hb 7:3). Isso prova que Jesus é considerado pelos
Hebreus não somente superior a Levi e a Davi, mas também a Melquisedeque.

S a c r i f í c i o *, c o n t r a s t e e c o r r e s p o n d ê n c i a

Um exemplo excelente de correspondência tipológica na epístola aos Hebreus


é o sacrifício de Jesus. O sacrifício de Cristo é comparado com o sacrifício de
animais. O último realmente não poderia por si só tirar o pecado (Hb 10:4). De
acordo com o autor de Hebreus, esta diferença de sacrifício foi prevista na Palavra
"profética. O corpo ou o sacrifício do Messias" é apresentado em contraste com as —
fraquezas e insuficiência das ofertas de animais.22
E assim, a própria epístola tenta relacionar a morte .de Cristo tipologicamente
ao sistema de sacrifícios. As correspondências são notáveis. Em ambos os exemplos
o sangue é levado “ao santuário” - lugar santo e santíssimo23 - e os corpos são
removidos dolicampamentcUT^sse exemplo demonstra que o autor dêTHêbreus
usa o termo “santuário” para se referir (como no capítulo 9) aos seus dois compar­
timentos interiores e a todos os seus serviços anuais.

S a n t u á r io l e v ít ic o : u m a b a r r e ir a à a p r o x im a ç ã o d e D e u s ?

Os que consideram a epístola aos Hebreus um ataque sistemático à ordem do


santuário levítico não entendem a mensagem fundamental da adoração bíblica he­
braica, e mal interpretam a teologia do apóstolo. A existência do santuário terrestre
tornou tangível ao povo a grande verdade de que Deus estava, realmente, no meio
deles (Êx 25:8).25
Além disso, o santuário não foi projetado com o uma barreira para impe­
dir a nação de se aproximar da presença de Deus. Pelo contrário, o ritual do
santuário ensinou o povo como poderia se achegar a Ele e com o poderia servi-
lo de uma maneira aceitável. O sistema ainda nos ensina hoje com o podemos
nos aproximar de Deus.
E verdade que - fisicamente falando - nem todo mundo podia entrar no
lugar santo, tampouco no santo dos santos. A epístola aos Hebreus não diz que os
cristãos podem, entrar corporalmente no santuário celestial, “além do véu”. Eles
aproximam-se do trono da graça (Hb 4:16), do monte Sião (Hb 12:22), de maneira
espiritual, mas não entram corporalmente além do véu.26
No antigo sistema, como também no novo, os crentes vão além do véu apenas
por meio do sacerdócio (Hb 10:20; 7:25) - quer de Arão ou de Cristo - com o san­
A LUZ DE HEBREUS

gue substitutivo que Ele apresenta em favor áeles diante de D eus.'7 Essa entrada na
realidade divina em nome do povo de Deus tem dois momentos: o presente, que é
espiritual e realizada mediante a fé, e o futuro, que é físico e se dará no retorno de
Cristo (Ap 3:12, 21).
É por isso que o israelita não precisava entrar no interior do santuário terrestre
para se aproximar de Deus.73 O simples ato de vir ao pátio do santuário colocava-o na
presença de Deus.29 As expressões “diante de Deus” ou “na presença de Deus” (lignê
Yahweh) são usadas com relação ao santo dos santos30, ao lugar santo31, ao pátio32, e
nos exemplos excepcionais, além do véu.33
Além disso, o serviço do próprio santuário funcionava em favor dos pecado­
res penitentes. Embora o santuário tivesse épocas determinadas para certos ritos,
seu serviço não estava limitado pelo tempo. Por exemplo, o principal ofício do
sacerdote no lugar santo envolvia a intercessão pelo povo por meio do ritual do
incenso.34 O ritual diário foi descrito como tãmíd (“continuo”),35 isso porque o
incenso, como também o fogo das lâmpadas e o pão da proposição,36 permaneciam
contínuamente diante de Deus.
O incenso que queimava continuam ente no altar perm itia que o mlnisté-
rio intercessório do sacerdote fosse realizado continuam ente (de maneira sim­
bólica), em bora ele próprio não permanecesse fisicam ente no interior o dia
todo. Algo sem elhante acontecia com o tãm íd (“co n tin u o ”) altar do holocausto.
•Gs méritos do sacrifício sempre estavam disponíveis dia e noite porque o fogo
nunca se apagava.37
Dessa maneira, o sistema antigo resolveu o problema da limitação huma­
na do sacerdócio, e até providenciou uma forma para que aqueles que eram
impedidos de virem ao templo para invocar este ministério se apresentassem de
um modo espiritual diante de Deus (lR s 8:44-52). Foi por isso que Salomão pe­
diu em sua oração, na inauguração do templo, que os olhos de Deus estivessem
“noite e dia” sobre aquela casa, ouvindo as súplicas do povo, e concedendo-lhes
perdão (lR s 8:29-30). E foi isso o que o apóstolo em Hebreus também percebeu
quando interpretou brevemente o antigo serviço de adoração, dizendo que os
sacerdotes “entram continuam ente” no lugar santo para realizar os rituais de
adoração em favor do povo.
Isto significa, então, que o apóstolo entendeu mal a mensagem do sistema
antigo ao o contrastá-lo com o novo inaugurado por Jesus Cristo? Ele realmente
disse que os israelitas não poderíam ter acesso a Deus em nenhum momento?
Sua mensagem poderia ter sido aceita num ambiente judeu contendo um erro
tão evidente a respeito do conteúdo e propósito da adoração antiga?
Pode-se dizer o seguinte sobre a adoração levitica com respeito a tirar os peca­
dos: a “parábola” terrestre mostrou que por meio desse ministério os pecados eram
T ip o l o g ia a n t i t ê t ic a o u d e c o r r e s p o n d ê n c ia ?

removidos do povo e finalmente retirados do acampamento no dia da expiação, e


não havia mais lembrança deles.38Visto que é assim, o que quis dizer então o após­
tolo quando falou que “o sangue dos touros e dos bodes” do antigo sistema não
poderíam nunca “remover pecados” (Hb 10:4, 11)?

L im it e s b á s ic o s d o s is t e m a a n t ig o
Não há dúvida de que a epístola esboça aqui o limite básico do culto an­
tigo. Essa adoração era só uma parábola, uma sombra e figura que ilustra­
vam as verdades vindouras; mas nunca poderíam ser a própria realidade, a
qual é sempre superior.39 Até que essa realidade representada chegasse, os
—mesmos sacrifícios seriam -inftnitamente repetidos e gerações de sacerdo­
tes iriam e viriam; pois, com o eram sujeitos à morte, não poderíam continuar.
No final das contas, esta é a razão de sua inutilidade (Hb 7:18) e da neces­
sidade de uma reforma ( 9 :10). Quando o sacrifício pelos pecados deixaria de ser
oferecido?40 É evidente que se buscamos uma redenção total e definitiva, o sistema
~~ figu rati vo~de saerifiuiosAena-q ue~ter mi nar -algu m d ia (Hb 10r24^Isto-aconteeeria-
quando o pecado fosse tirado na realidade - e não figurativamente - por um mi­
nistério superior.41
O sacrifício e ministério sacerdotal superiores chegaram com o primeiro
advento de Cristo. O fato de Jesus ter oferecido sacrifício “uma vez" (7:27), o
que nunca será repetido, prova que “agora,” na nova dispensação, o pecado foi
completamente expiado (Hb 10:1-14). Além disso, seu sacerdócio não terá que
ser substituído por outro, porque Ele “continua para sempre" (Hb 7:24). Jesus
não precisa sair ou entrar no santuário para oficiar pelo povo. Em virtude de seu
próprio sacrifício, que não será repetido, Ele “vive sempre para interceder por
eles”42 “até aos tempos da restauração de todas as coisas, de que Deus falou por
boca dos seus santos profetas desde a antiguidade” (At 3:21).
Isso não significa que na nova ordem, em contraste com a antiga, o crente
não precise realizar nenhum tipo de purificação. Hoje, também, é necessário
aproximar-se do santuário para limpar o coração “de má consciência”, lavar o
corpo “com água pura",43 e oferecer continuam ente a Deus “um sacrifício de
louvor” (Hb 13:15-16).
Mas, no lugar de se aproximar de um santuário terrestre simbólico do qual
Deus já se retirou,44 o crente deve se aproximar diretamente do santuário celestial.45
Lá, é realizado um serviço que, por natureza, pode aniquilar para sempre o pecado.
Em suma, pode-se dizer que, em contraste com a necessidade de se repetir
interminavelmente os mesmos sacrifícios no antigo sistema, Jesus iniciou um mi­
nistério único capaz de exterminar o problema do pecado para sempre com um
único sacrifício e ministério. .Assim, fica claro que Jesus cumpriu todo o objetivo
A IU Z DE HEBREUS

do antigo serviço de adoração. Limitado por sua natureza temporária, o sistema


levítico só poderia servir como uma prefiguração da realidade por vir.
.Assim, fica claro que nem o A T nem o NT, nem ainda a epístola aos Hebreus,
afirma que o antigo sistema impediu que o povo de Israel se aproximasse de Deus
ou que seus pecados fossem perdoados. A avaliação que o apóstolo faz do problema
do pecado e de sua solução no antigo sistema é inteligente. Sua ênfase é a de que
essa abordagem levitica e a libertação dos pecados no templo de Jerusalém nuncu
seriam definitivas em si mesmas enquanto sua adoração continuasse a ser pratica­
da. Conseqüentemente, era necessário que este serviço fosse substituído por outro
mais eficaz (Hb 10:8-9), pela realidade que ele representava. O autor demonstra a
necessidade de a fé passar do ministério terrestre ao ministério celestial, sem o qual
o primeiro era impotente e não tinha razão de existir.
A mensagem da epístola é a de que a realidade anunciada já chegou. Ago­
ra não há mais a necessidade de recorrer a sombras-tipo para se aproximar
de Deus. A solução terrena para retirar o pecado e se aproximar de Deus era
provisória. Seu m inistério feri, apesar disso, glorioso/6 Mas que valor poderia
esre lim itado sistema de^ tipos tér agora em vista do mais gíorióso m inistério de
Jesus no Céu (Hb 3:3)?

C o n c lu sã o

É verdade que a adoração levitica tinha certos limites que não lhe permitiram
realizar uma libertação definitiva do pecado e ter uma aproximação total de Deus.
Mas, esses mesmos limites que deveríam refletir toda a realidade divina também
foram compartilhados por todas as instituições tipolõgicas de Israel, incluindo a do
sacerdócio de Melquisedeque. Todavia, as correspondências entre o sistema levítico
e o de Cristo não são negadas. Até mesmo nesses exemplos, onde aparecem certas
incongruências, previsões dc A T esclareceram cs ajustes para manter as correspon­
dências gerais entre os dois sistemas.
Portanto, é incorreto referir-se à tipologia de Hebreus como antitética ou ti­
pologia de oposição e negar a correspondência que o livro faz entre a instituição
levitica e o sacerdócio de Jesus. Também é incorTeto atribuir essa s\iposta antítese a
uma influência platônica sofrida pelo autor. A idéia de coisas superiores não envol­
ve necessariamente a idéia de oposição entre os sistemas celestial e terrestre.
Embora a instituição davidica tivesse limitações, ninguém nega sua correspon­
dência típica ao reinado de Cristo. Igualmente, o sistema arônico tinha limitações,
mas o autor de Hebreus reconheceu claramente suas correspondências fundamen­
tais com o sacerdócio de Cristo. Apesar do passado histórico de Israel, tão caracte­
rizado pela debilidade humana, Cristo foi coroado rei como Davi e ordenado sumo
T ip o lo g ia a n t it é t ic a o u d e c o r r e s p o n d ê n c ia ?

sacerdote como Arão - um rei-sacerdote como Melquisedeque - para cumprir to-


dos os tipos do AT.

N otas

1 J. C. Verrechia, L e Sanctuarie d a m 1'Épitre a u x H é b r e u x (tese doutorai, Straboug,


1981), p. 240-54; V. R. Christensen, Exegesis o f H eb rew s 8 a n d 9, Lisarow, s/d, p. 4-6; S. J.
Kistemaker, Exposition ò f the Epistle to tkt H eb rew s, Grand Rapids, 1984, p- 263-65.
2 Verrechia; A. Vanhoye, L e m essage de l'épitre a u x h ébreu x (Paris, 1977), p. 49-50, 54-55;
Leon Morris, Hebrews (Grand Rapids, 1981), p. 46, 84, etc.
3 Cf. Hebreus 7:11.
4 Cf. Hebreus 7:14.
------------- 5 Salmos 110:1, 4; Hebreus 5:5;_cf- Gênesis 14:18. Quando Jesus foi feito rei diante
de seu Pai, segundo a linhagem de Davi (SI 2:7; At 13:33; Hb 1:5, 8-9), Ele foi apontado ao
mesmo tempo como sumo sacerdote (Hb 5:5). Sua dupla função é descrita como normal
em Atos 13:22-23, 32-39.
6 Cf. Hebreus 8:3-5; Exodo 25:40. R. M. Davidson, "Tipology and the Levitical System",
em Ministrv, Abril, 1984, p. 11-12, que concorda com G. B. Caird, “The Exegetical Method
of the Epistle to the Hebrews”, em CJT 5 (1959), p. 47, em sua análise dos detalhes do antigo
sistema que o apóstolo obviamente não pode aplicar ao novo. Assim, o Salmo 110 soluciona de
antemão o problema apresentado em Hebreus 7; Jeremias 31 é citado para justificar a exposição
de Hebreus 8; Salmo 40 serve para apoiar o argumento de Hebreus 10; e Êxodo 25:40 fala de
“um maior e mais perfeito tabemáculo”, o santuário celestial (Hb 9:11; cf. 8:5).
7 Cf. Hebreus 3:5; 4:2; 4:14-16; 5:1; 8:3, 5; 9:9-12, 23; 10:1; 12:18-24; 13:11-12.
8 Hebreus 7:27; 8:3; 10:11-12; etc.
9 Cf. Levitico 4:22-26.
10João 8:46; 2 Corintios 5:21; 1 Pedro 2:22; cf. Isaias 53:9; 1 João 3:5.
11 Cf. Hebreus 7:27-28.
12 Atos 2:29; cf. Hebreus 7:3.
13 Atos 2:30-36; cf. Hebreus 7:24-25,28.
14 Lucas 1:32; 2:11; João 7:42; Mateus 21:9.
15 Romanos 1:3; Atos 13:22-23; 2 Timóteo 2:8.
16 Apocalipse 5:5; 22:16; cf. Hebreus 1:5.
17 Apocalipse 19:15; cf. Salmos 2:9.
18 Cf. Hebreus 10:13.
19 Efêsios 1:22; 4:15; 5:23; Cl 1:18; etc.
20 Cf. Mateus 24:30; Apocalipse 6:14-17; 19:11-21.
21 Mateus 1; Lucas 3; cf. Hebreus 7:3.
22 Hebreus 10:4-10; Salmos 40:6-8.
23 Cf. Hebreus 8:3; 9:12, 24-26; 10:19; 13:11-12, 20.
24 Hebreus 13:11-14; Levitico 6:30 [23]; cf. 4:5-12; 16:14-16, 27.
25 Cf. Hebreus 12:18.
A LU Z DE HEBREUS

16 Hb 13:14. G. E. Ladd, A Theology o/the hlexv Testament, (Grand Rapids, 1974), p. 576.
27 Hebreus 5:1-3; 4:14-16; 8:3; 10:19.
78 Com respeito à natureza spiritual desse acesso, veja Romanos 5:2; Efésios 2:18;
3:12, etc.
29 Levitico 1:3; Juizes 21:2.
,0 Levitico 16:13.
11 Levitico 4:6-7; Êxodo 28:29, 35.
’2 Levitico 4:4,15; 16:7, 12.
3) Juizes 21:2; 2 Samuel 21:9.
34 Êxodo 30:7-8; cf. Lucas 1:9-11, 21.
35 Êxodo 30:8; 28:29-30, 38, etc.
36 CL Êxodo 25:30; Números 4:7; Levitico 24: 2 4 .
37 Êxodo 2 9 :3 8 4 2 ; Levitico 6:9, 12-13.
38 Levitico 16:20-22; veja Alberto Treiyer, Le Jour dês Expiatiuns, et la Purification Du
Sanctuaire (tese doutorai, Strasbourg, 1982), p. 157-62, etc.
39 Cf. Hebreus 10:1.
----- ^ C f H e b r e u s 4 0 :1 8 .--------------
41 Hebreus 9:26.
42 Hebreus7_25.
43 Hebreus 10:21-22; cf. 9:10, 14.
44 Cf. Mateus 23:38; 27:51.
45 Hebreus 10:19-22; 12:22-24; 7:25; 4:16.
40 2 Corintios 3:7-11; cf. Hebreus 12:18-21.
C a p ít u l o 9

T eologia do santuário

A lw yn P. S a l o m

inopse editorial. O livro de Hebreus, assim como os de Daniel e Apocalipse,


S desempenhou um importante papel na formulação do alicerce bíblico dos ad-
ventistas do sétimo dia. Seu principal ensino quanto ao ministério sacerdotal de
Jesus no santuário celestial, deu aos nossos precursores nova esperança e incentivo,
além de ter solucionado esta complexa questão: por que Jesus não voltou em 1844,
ao final da profecia dos 2.300 anos de Daniel (ver O Grande Conflito, p. 411413)?
Ao longo dos anos, os adventistas têm dedicado bastante tempo ao estu­
do árduo do livro de Hebreus na Escola Sabatina. Três trimestres entre 1889-
1890 foram dedicados à análise do livro, usando materiais preparados por J. H.
Waggoner. Em 1948, M. L. Andreasen escreveu durante outros três trimestres
consecutivos sobre o mesmo tema. Em 1976, por três meses, a igreja mundial
estudou a epístola com lições escritas por W aiter Specht. E mais recentemente,
em 1986, a igreja mundial, mais uma vez, revisou os ensinamentos desta magní­
fica epístola, agora com lições preparadas por W. G . Johnsson.
Nesses vários estudos de Hebreus, o enfoque não foi sempre o mesmo. A
questão predominante dos três trimestres de Waggoner entre 1889-1890 era a das
alianças. Escritos mais recentes trazem respostas à acusação de que Hebreus nega
a interpretação adventista de que o ministério sacerdotal de Cristo no santuário
celestial consista de duas fases seqüenciais (a saber, a intercessão e o julgamento
em 1844) conforme tipificadas pelas ministrações realizadas em conexão com
os dois compartimentos do santuário israelita. O presente capitulo trata desse
último ponto.
Se quisermos compreender corretamente o ensinamento de Hebreus para os
nossos dias, é fundamental utilizarmos um método adequado para a interpretação
da Bíblia. Em primeiro lugar, isto quer dizer que devemos descobrir (o quanto pu­
dermos) como os crentes do primeiro século entendiam a mensagem da epístola.
Segundo, que qualquer aplicação válida para os cristãos do século 20 deve ser um
T e o lo g ia d o s a n t u á r io

produto genuíno da mensagem original e estar de acordo com ela. Escritos inspira­
dos têm um nível de importância maior para as gerações seguintes, entretanto, essa
importância está atrelada à intenção original do escrito.
A epístola aos Hebreus parece dirigir-se aos judeus cristãos que estavam sendo
confrontados com a enorme brecha existente entre o judaísmo e o cristianismo,
perseguições contínuas, necessidades econômicas, e com o que consideravam ser
uma demora da volta do Senhor. A tentação de abandonar a fé cristã e retom ar ao
judaísmo e a seu templo era forte.
Em resposta, o autor de Hebreus sente uma preocupação pastoral de restau­
rar a abalada fé de seus irmãos no Cristo vivo que agora ministra em favor deles
como sumo sacerdote na presença de Deus no santuário celestial. São enfatizados
-dois pontos essenciais: (1) A Importância do Calvário para a salvação. Apenas
o “sangue superior” do sacrifício único e eficaz de Cristo é capaz de purificar o
crente dos seus pecados; (2) O acesso livre e direto a Deus por meio do sumo
sacerdócio de Cristo. Essas nobres verdades são demonstradas por meio da com­
paração que o autor faz delas com os sacrifícios repetitivos e ineficazes oferecidos
no sistema dtrcultcrisfaelitay e‘com seu limitado acesso a Deus.
Hebreus ressalta a realidade do santuário celestial e o ministério de Cristo
na presença de Deus, verdades válidas para os cristãos de hoje, assim com o para
os do primeiro século. O autor parece usar as cenas do dia da expiação para dei­
xar claro o fato de que a morte e o sacerdócio de Cristo abriram “um cam inho
novo e vivo” que leva à presença de Deus; todas as barreiras entre o Céu e o
crente foram removidas.
Contudo, a cerimônia do dia da expiação não constitui um tema relevante
na epístola. Há alusões ao rito diário, bem como ao anual e referências a outros
elementos do sistema. Não há tentativa alguma de se desenvolver considerações
sobre qualquer aspecto dos serviços. Pelo contrário, o claro objetivo do autor
é demonstrar aos seus ouvintes a total inadequação do sistem a tip icc. Até mes­
mo em suas funções mais solenes (como o dia da expiação), o sistema típico é
simplesmente incapaz de solucionar o problema do pecado.
O único elemento temporal que aparece na epístola destaca o caráter tempo­
rário do santuário israelita, o qual deveria funcionar apenas até a vinda de Cristo
e sua morte expiatória, e inicio de seu ministério sacerdotal com o rei-sacerdote no
santuário celestial. É em Cristo que a fé dos leitores deve se apoiar enquanto con­
tinuam a corrida espiritual.
Uma vez que este é o ponto central da epístola, naturalmente o resultado é que
embora Hebreus nos forneça valiosas idéias da doutrina do santuário, ele não fala dire­
tamente sobre as duas fases do ministério sacerdotal de Cristo ou sobre o tempo profé­
tico do início do julgamento final. Mas, tampouco invalida essas verdades encontradas
A LUZ DE HEBREUS

em outras partes das Escrituras. Hebreus forneceu outra seção no todo da verdade
bíblica, mas não é o todo. Outras verdades têm suas seções dispostas em ordem a fim de
formarem um todo harmonioso. Hebreus eleva a fé cristã rumo ao Céu para evidenciar
o nosso sumo sacerdote vivo - uma verdade que precisa ser ouvida continuamente.

E s b o ç o d o c a p ít u l o

1. Introdução
2. Interpretação de Hebreus hoje
3. O santuário celestial em Hebreus
4. O ministério celestial de Cristo em Hebreus
5. “A destra de Deus”
6. “Livre acesso”
7. Alusão ao “dia da expiação"
8. O ministério de duas fases e os acontecimentos no tempo
9. Conclusões

Introdução

E desnecessário dizer que o livro de Hebreus é de suma importância para


a teologia dos adventistas do sétimo dia sobre o “santuário”. O livro aborda o
ministério celestial de Jesus, nosso grande sumo sacerdote, com maior freqüência
e clareza do que qualquer outro do NT. Aliás, além .de Hebreus, o N T traz pouca
informação direta sobre o que Cristo tem feito desde sua ascensão.
Assim, é de extrema importância que se faça uma análise detalhada de He­
breus para se descobrir o que ele diz com respeito a questões específicas da teologia
adventista.1 Há afirmações explicitas relacionadas à doutrina adventista do santu­
ário? O que é possível inferir de maneira legitima em Hebreus que seja relevante
para o ensino do santuário? O livro não comenta os pontos principais; ou de fato
nega quaisquer ensinamentos da teologia adventista? E que progresso tem havido
no pensamento adventista ortodoxo com relação a esses temas ao longo dos anos?
Estas são. as .perguntas básicas que serão tratadas no presente estudo.

I n t e r p r e t a ç ã o d e H e b r e u s h o je

Devemos conhecer o método correto para se chegar a uma interpretação váli­


da das Escrituras antes de perguntarmos o que, de fato, Hebreus pode dizer para a
teologia adventista neste final de século 20.
TEOLOGIA DO SANTUÁRIO

Sig n if ic a d o p a r a o s p r im e ir o s l e it o r e s e a p l ic a ç õ e s p o s t e r io r e s

Um principio básico de interpretação exige que o intérprete trabalhe a par­


tir da base do sentido e da intenção original do escritor. Por exemplo, ele deve
perguntar: Qual o contexto histórico no qual o docum ento foi escrito? Quando
exatamente foi escrito e qual é o objetivo? Qual é o significado da mensagem
para os primeiros leitores?2 Som ente quando essas informações básicas tiverem
sido reunidas (até onde a evidência permita) é que será possível ao intérprete
discernir com precisão “o grau de importância e o significado mais oculto”3 do
docum ento bíblico.
Embora o sentido original da mensagem seja de grande importância, também
J verdade que Deus pode ter tido em mente significados mais profundos para as
gerações posteriores.
Embora Deus tenha falado às gerações contemporâneas dos escritores dos livros
bíblicos, Ele também cuidou para que o leitor destes livros no futuro conseguisse
encontrar neles importância e significado profundos que vão além do lugar e das
______ circunstLnci_as_liinij:adasmas_quais o originaLfoi_escritcL.Í-----------------------------------------

Qualquer aplicação posterior deve originar do significado do texto para os


seus pnmetros leitores', e estar em conformidade com ele.. Gerhard Hasel diz: “
E importante enfatizar que o significado para a fé dos homens de hoje não pode ser
algo totalmente diferente do significado pretendido pelos escritores bíblicos para os
de sua época. Qualquer tentativa de se entender os autores da Bíblia que não consi­
ga identificar uma homogeneidade básica entre o significado obtido pelo intérprete
“agora" e o significado da mensagem “de então” fracassará em sua tentativa de trans­
mitir as mensagens inspiradas aos homens de hoje.’

Esse principio tem grande relevância. Qualquer interpretação de textos da


Bíblia para os nossos dias não pode jamais destoar do sentido e intenção ori­
ginais da passagem. Ao contrário, deve achar-se em total conformidade com a
intenção do autor. Hasel enfatiza bem este principio:

“A dimensão do sentido e da importância das Escrituras estão implícitos nas palavras


da Biblia quer o autor esteja ou não consciente disso. N ã o s ã o uma leitu ra n o se n tid o res­
trito d o terno e nem um sig n ific a d o d e id éia s a lh e ia s a e la ou à mtenção d as p a la v r a s b íb lica s.
Antes, o que caracteriza a dimensão do sentido e da importância das Escrituras é a
harmonia perfeita com o significado literal e o sentido; isto é, é o resultado d o desen vol­
v im en to d a q u ilo q u e o escritor orig in al in sp irad o c o lo c o u em p ala v ra s." "

Este principio, com as limitações que contém, deve ser aplicado às passagens
de Hebreus que possam referir-se aos pontos teológicos adventistas; isto é, ao se
chegar a uma interpretação destas passagens, é importante assegurar que a aplica-
A LUZ DE HEBREUS

ção concorda com a intenção original do autor. A interpretação do século 20 de


uma passagem qualquer tem de ser o resultado do desenvolvimento da mensagem
original do escritor bíblico.
Para se determinar o sentido de Hebreus aos seus primeiros leitores (ou ou­
vintes?), e assim estabelecer uma base de onde se possa abordar o texto para uma
interpretação válida atual, é necessário prestar atenção ao contexto externo e inter­
no do texto.

O CONTEXTO EXTERNO

O contexto externo ou histórico refere-se às pessoas às quais se destina a men­


sagem, às circunstâncias que a requereram, ao autor que a escreveu, ao local e à
época em que foTescríta. Considerando-se as diferentes interpretações sem ques­
tionarmos os argumentos, os dados seguintes podem ser considerados como um
breve resumo do contexto histórico de Hebreus:7
Possivelmente, Hebreus foi preparado primeiramente para ser um sermão
(13:22; cf. 11:32), ou uma série de sermões, para uma comunidade judaico-cristã do
primeiro século, talvez antes do ano 70 d.C. Se admitirmos que o autor é Paulo, o
escriba de Paulo ou outra pessoa qualquer, enfrentaremos problemas difíceis. Pode
ser melhor, como W illiam G. Johnsson fez, recorrermos à designação “o apóstoio”
para se referir ao autor.8 O único versículo que fala diretamente sobre a questão da
origem e destino é ambíguo (13:24).

O CONTEXTO INTERNO

Uma observação quanto às circunstâncias que deram origem ao escrito de He­


breus forma uma ponte entre o contexto externo ou histórico e o contexto interno
ou literário de qualquer passagem do livro. Os primeiros destinatários de Hebreus
estavam enfrentando problemas decorrentes da ruptura entre o judaísmo e a nova
igreja, e da tentação de voltar ao judaísmo. A demora da segunda vinda, a perse­
guição continua e os problemas econômicos também se somaram ao seu trauma,
levando-os a questionar se o cristianismo realmente valia a pena.9
v
A MENSAGEM DE HEBREUS

Para responder a estes problemas, o apóstolo faz uma série de comparações


entre o judaísmo e o cristianismo, mostrando em cada caso a superioridade deste
último. Ele mostra que o judaísmo se cumpre no cristianismo, sendo este, a supre­
ma revelação de Deus ao homem. Cristo é o “sacerdote superior” para ministrar
dentro da estrutura da “aliança superior”. Seu ministério no santuário celestial é
contrastado com o ministério dos sacerdotes leviticos no santuário terrestre.
t e o l o g ia d o s a n t u á r io

Dois temas (entre outros) têm uma importância especial para a compreensão
dos destinatários: a centralidade e a singularidade do Calvário e o “acesso direto”
do crente a Deus por meio de Cristo.10 O Calvário é importante pelo que ele é em
si; mas ele também é importante pelo que ele significa como precursor do ministé­
rio celestial de Jesus.11 O acesso a Deus é enfatizado por repetidos contrastes entre
o ministério celestial de Cristo e o sistema levitico.12
Essas,1então, são as peTguntas que devemos ter em m ente ao abordarmos as
passagens de Hebreus que tenham especial importância para a teologia adventista
do "santuário”. O que o escritor estava dizendo para os primeiros destinatários? O
que isso significa para nós hoje à luz da “dimensão do sentido e da importância”?
Nossa interpretação de Hebreus está em harmonia com a mensagem original da
passagem em questão? O que Hebreus diz direta ou indiretamente que seja impor­
tante para a teologia adventista? Hebreus não diz nada a respeito ou nega a teologia
adventista em todos os aspectos? Vamos aos pontos.

___ O SANTUÁRIO CELESTIAL EM H E B R E U S ____ ____ _

A REALIDADE DO SANTUÁRIO CELESTIAL

Hebreus é categórico quanto à existência e realidade do santuário celestial.


Johnsson ressalta este importante aspecto:

“Embora ele não faça uma descrição do santuário celestial e da liturgia, sua linguagem
parece sugerir várias conclusões. Primeiro, ele confirma suas realidades. Sua preocu­
pação ao longo do sermão é fundamentar a convicção cristã em fatos objetivos, como
vimos. A deidade real, a humanidade real, o sacerdócio real - podendo-se acrescentar,
um ministério real em um santuário real.”13

Referindo-se ao santuário terrestre como uma “figura” (fntpodeigma) e “sombra"


(skia [8:5]), o apóstolo descreve o arquétipo como “o santuário” (ta hagia) e “o verdadei­
ro tabernáculo” (hê skênê hê alêthinê) “que o Senhor erigiu, não o homem” (8:2). O ad­
jetivo alêthinos significa “genuíno”, “real." Essa palavra denota a realidade do santuário
celestial; é “verdadeiro no sentido da realidade possuída somente pelo arquétipo”.14
O capítulo 9 de Hebreus contém iníimeras referências acerca do santuário. O
versículo 8 diz “o caminho do santuário” não estava descoberto, enquanto “se con­
servava em pé o primeiro tabernáculo” (Tradução da RSV). O versículo 11 fala do
santuário celestial como “o maior e mais perfeito tabernáculo (não feito por mãos,
quer dizer, não desta criação)”. E o versículo 24 afirma que Cristo não entrou “em
santuário feito por mãos, figura do verdadeiro, porém no mesmo Céu”. A seguir
(10:19), o autor escreve: “Tendo, pois, irmãos, ousadia para entrar no santuário,
pelo sangue de Jesus” (Tradução da RSV).
A LUZ DE HEBREUS

Para os leitores de Hebreus, estas declarações acerca do santuário celestial fo­


ram feitas com o fim de dar-lhes confiança.” Por causa da ampla hostilidade tanto
da família com o de toda a nação, os leitores judaico-cristãos de Hebreus haviam
sido separados da vida religiosa do judaísmo. E se, como parece provável, a destrui­
ção de Jerusalém e de seu templo estava próxima, mais ainda precisariam ter tal
confiança. Esses versículos diziam-lhes que tinham acesso a um “templo” superior
- um santuário.celestial onde Jesus ministrava.
A aplicação desses versículos hoje deve se desenvolver a partir da intenção
original do autor. Assim como ocorreu com os leitores do primeiro século, tam­
bém precisamos ter a convicção do nosso acesso ao trono de Deus no santuário
celestial. Em uma época que ameaça todos os valores religiosos, precisamos saber
que temos um “grande sumo sacerdote que penetrou os céus” e que podemos nos
achegar “junto ao trono da graça” a fim de recebermos misericórdia e acharmos
graça (4:14, 16).

•A NATUREZA DA REALIDADE'CELEST1AL: UM ALERTA

Ao mesmo tempo em que as passagens de Hebreus 8 e 9 citadas acima afir­


mam a realidade do santuário celestial, elas também nos advertem com relação à
maneira com o interpretamos sua natureza. Hebreus 8:1-5 traz vários aiettas. Por
exemplo, a expressão, “o qual o Senhor erigiu, não o homem” (v. 2), sugere que há
uma diferença vital enrre os santuários terrestre e celestial. Essa diferença está na
natureza de quem os constrói. As limitações do construtor humano do santuário
terrestre não se aplicam a Deus. E assim, o santuário celestial não deve ser visto
com as limitações próprias de uma obra humana.
As palavras “figura” {'nupodeigma), “som bra” (skia) e “m od elo” (tupos)
no versículo 5, tam bém indicam que o santuário terrestre não pode servir de
base para se ten tar fazer uma reconstrução detalhada do celestial. O santuário
terrestre não passa de uma réplica obscura da realidade celestial. A inda que
possamos tirar algumas conclusões gerais a respeito do santuário celestial gra­
ças ao estudo do terrestre, devemos ter cuidado para não irmos longe demais
nessa com paração. “É necessário lembrarmos que uma ‘cóf^ia’ terrestre não
pode jam ais, em todos os seus detalhes, representar totalm ente um original
do C é u ."16
O capitulo 9 tam bém contém algumas advertências acerca de se levar ao
extrem o paralelos entre os dois santuários. Hebreus 9:9 identifica o “primeiro
tabernáculo" com o uma “parábola” (parabolê). Se o “primeiro tabernáculo"
refere-se aqui ao prim eiro com partim ento do santuário ou a todo o santuário
de M oisés está além do objetivo deste estudo.17 O que chama a atenção é que
o santuário terrestre é descrito como tendo valor simbólico. Isto nos adverte para
T e o lo g ia d o s a n t u á r io

não consideram os de forma literal o santuário terrestre para se determ inar a


natureza do celestial.18
Em Hebreus 9:11 nosso autor descreve o santuário celestial como “o maior
e mais perfeito tabemáculo (não feito por mãos, isto é, não desta criação).” Nova­
mente somos alertados do fato de que existem diferenças fundamentais entre os
dois santuários. O celestial é “maior”, “mais perfeito", “não feito por mãos”, e “não
desta criação”. Ele pertence á ordem celestial da realidade, enquanto que o santuá­
rio israelita pertencia a este mundo (9:1).
Em Hebreus 9:24 o santuário terrestre é descrito como uma “figura (antitupos)
do verdadeiro (alêthinos)”. As deficiências do santuário terrestre para representar o
celestial aparecem novamente de maneira implícita. Neste versículo também há um
contraste entre os santuários (“não... feito ponmãos").19
Johnsson destaca que o escritor de Hebreus “não é cuidadoso em sua descri­
ção do santuário e sacrifícios do Antigo Testamento. Por exemplo, ele situa o altar
de ouro no santo dos santos e mistura os diversos sacrifícios.”:0 Tal atitude não
seria adequada se o autor procurasse apresentar o santuário terrestre como uma
miniatura do-eelestiai-em-fodos-os seus aspectos. Este descnidtrsugere-querjs-deta^
lhes da descrição do santuário terrestre pouco significam para uma compreensão
do santuário celestial., De fato, com .relação a isto,-ele diz: “não falaremos, agora,
pormenorizadamente” (Hb 9:5b).
Embora os termos que. ele utiliza deixem 2 desejar, Johnsson está correto ao
fazer uma distinção entre uma visão “literalista” e outra “literal” do santuário ce­
lestial.21 Ele caracteriza a interpretação literalista como aquela em que “cada termo
possui valor literal para o santuário celestial, o terrestre seria uma miniatura em
todos os aspectos”.22
A interpretação literal é aquela em que “a realidade do santuário e ministério
celestiais seria mantida para proteger a objetividade da obra de Cristo, mas os deta­
lhes exatos desse santuário não seriam claros para nós”.23
Com relação as duas categorias de Johnsson, as evidências apoiam a última.
“Portanto é evidente que, embora possamos afirmar a existência real do santuário
celestial no livro de Hebreus, temos poucos dados disponíveis a respeito de como
ele é.”24 Isto se apóia no seguinte: “... não podemos permitir que nenhuma dúvida,
ao visualizarmos um santuário celestial com base no terrestre, ofusque em nossas
mentes as grandes verdades ensinadas por essa ‘sombra’ terrestre...”25

Função e m d e t r im e n t o d a f o r m a

Os primeiros leitores de Hebreus precisavam entender que não deviam apoiar


sua confiança na opulenta estrutura do templo de Jerusalém. Sua presença e ritu­
ais, sem dúvida alguma, fizeram com que se sentissem tentados a abandonar a fé
A LUZ DE HEBUEUS

cristã. Eles precisavam se lembrar que mesmo o tabernáculo do deserto, precursor


espiritual do templo, não era mais que uma “figura” e “sombra” do verdadeiro san­
tuário celestial. Visto que foram tentados a dar importância para a forma externa,
o apóstolo lembra a seus leitores que mais importante do que a estrutura de qual­
quer um dos dois santuários, é a sua função. Seu alerta é relevante ainda hoje.
C om o o santuário celestial é o “genuíno”, o “original”, “devemos ver o
terrestre à luz do celestial, e não vice-versa".26 O santuário celestial - o arquétipo
- deve ser a base do nosso raciocínio, não o objetivo. Como Johnsson declara,
“é o celestial e não o terrestre que é o autêntico. O santuário terrestre, todavia,
era uma sombra opaca, um recurso provisório que indicava o real (este ponto,
aliás, é im portante na interpretação: o verdadeiro explicará a sombra, e não vice-
versa).1,27Assim, ao olharmos para o santuário terrestre, devemos nos sentir im­
pelidos a contemplar os grandes princípios que ele envolve, não os detalhes de
sua estrutura.
Não pode haver dúvida alguma com relação à existência do santuário celestial.
Hebreus nos garante isso, e, ao mesmo tempo, nos fornece apenas informações
limitadas sobre a natureza dessa realidade.

O M INISTÉRIO CELESTIAL DE C R IS T O EM H E B R E U S

Os adventistas não são os únicos a reconhecerem o valer de. Hebreus peloque


a carta ensina a respeito do ministério atual de Jesus no santuário celestial. Um
texto popular e tradicional de duas décadas atrás diz o seguinte:

O maior valor singular de Hebreus é seu ensino sobre o ministério e sacerdócio de


Cristo. Hà muitas referências no Novo Testamento acerca de sua ascensão e sua po­
sição à destra do Pai, mas com exceção de Romanos 8:34, nenhuma destas explica o
que Cristo está fazendo agora.23

O bispo anglicano Brooke Foss Westcott, em seu clássico comentário sobre


Hebreus, descreve Cristo como sumo sacerdote que ministra "em sua natureza hu­
mana” e o santuário celestial como o “arquétipo” do terrestre.29 Em uma nota
sobre The Present Work o f Christ as High-priest (A Obra Atual de Cristo como Sumo
Sacerdote], ele descreve a obra de purificação do sumo sacerdote levitico. Westcott
declara: “Assim, vemos como em figura a obra sumo sacerdotal de Cristo.”30 Mais
recentemente, George W. Buchanan consentiu que “visto que o arquétipo celestial
funciona como sua réplica terrestre”, procede “purificar as coisas que se acham nos
céus (Hb 9:23)”.31 Neste contexto, Buchanan aborda a “purificação” do santuário
celestial do “pecado e contaminação”.32
Os adventistas têm recorrido a Hebreus em busca de informações a respeito
do ministério celestial de Jesus, por ele fornecer declarações importantíssimas
T eo lo g ia d o s a n t u á r io

sobre a atual obra de nosso grande sumo sacerdote. Nos capítulos 8-10, em par­
ticular, e em vários versículos nos capítulos 4, 6, 7 e 13, o autor descreve a obra
celestial de Cristo.

“ À DESTRA DE D E U S ”

Em cinco lugares de Hebreus (1:3, 13; 8:1; 10:12; 12:2), o nosso autor fala de
Cristo sentado “à destra de Deus” após a sua ascensão. Esta afirmação faz parte de
um tema maior do N T que inclui um total de 19 passagens.33 O contexto de três
passagens (Mc 16:19; E f 1:20 e lPe 3:22) claramente indica que Cristo assumiu essa
posição em sua ascensão. E também importante observar que os vários contextos
~õnde aparece a expressão “à destra de Dèus” são cúlticos por natureza,34 o que
sugere que a expressão se refere a algo além da inauguração, dedicação e exaltação
de Cristo no santuário celestial, mas pode algumas vezes incluir também uma refe­
rência à sua obra continua como sumo sacerdote.35
A repetição deste tema em Hebreus teve, sem dúvida, o objetivo de conven­
cer seus leitores da importância do ministério celestial de Cristo. Alguns estavam
vacilantes em sua determinação de se manter firmes na nova fé. O escritor lhes
assegura que aquele a quem aceitaram como salvador é o mesmo que ministra em
favor deles na presença de Deus.
Também é freqüente em Hebreus a implicação de que se seu sumo sacerdote
está na presença de Deus, há acesso total e livre à presença divina.36 Tal garantia é
fornecida por esses versículos que afirmam ainda que nosso Senhor e Salvador não
está de modo algum separado do Pai - Ele está em sua presença.
O tema “à destra de Deus” declara que Cristo tem ministrado na presença de
Deus desde sua ascensão. Isto não nega a possibilidade de um ministério celestial
de duas fases, entretanto, negaria qualquer visão literalista do santuário celestial
que limitasse Cristo a um compartimento separado de Deus. Este tema foca tanto
o lugar como a natureza do ministério de Cristo.

O TEMA DO LIVRE ACESSO

Sa n t u á r i o t e r r e s t r e : acesso l im it a d o a D eus

O culto levitico, o qual os destinatários de Hebreus estavam tentados a reto­


mar, era caracterizado por um “acesso limitado" do adorador a Deus. O israelita
estava separado do objeto de sua adoração pela maneira como funcionava o sistema
do santuário. Hebreus 9:6-8 deixa isso tão claro como nenhuma outra passagem
das Escrituras. O israelita podia se achegar apenas até o pátio do santuário para
oferecer seu sacrifício; ele não tinha qualquer-acesso ao santuário em si, ao passo
A LUZ DE HEBREUS

que o sacerdote tinha acesso ao primeiro compartimento do santuário, mas não


além. O sumo sacerdote tinha acesso ao segundo compartimento - mas somente
uma vez ao ano, e ainda somente quando trazia consigo o sangue do sacrifício. A
todo o momento, o adorador se defrontava com barreiras que lhe impediam o
acesso a Deus.

Sa n t u á r io c e l e s t ia l : l i v r e a c e s s o a D eus

Os judaico-cristãos, destinatários de Hebreus, estavam sendo tentados a re­


tomar novamente seu antigo sistema de culto com suas peculiares limitações. Para
que compreendessem a futilidade de tal passo, o autor de Hebreus destaca a liber­
dade de acesso a Deus que agora está disponível no ministério celestial de Cristo e
desafia seus leitores a se beneficiarem disso. Com a entrada de Cristo à presença de
Deus, criou-se um método novo e direto de acesso. Este é o objetivo das passagens
que falam da entrada de Cristo à presença de Deus.
Hebreus 6:19-20 é um exemplo do tema do “livre acesso” num contexto im­
portante.37 O autor assegura aos seus leitores de seu acesso a Deus devido ao fato de
que Cristo entrou à presença dê Deus. Mediante o peso de duas coisas imutáveis -
a promessa de Deus (v. 15) e seu juramento (v. 17) - o autor lhes assegura sobre uma
- aproximação livre a Deus por meio de Cristo, desejando que creiam que em Cristo
eles têm uma “âncora da alma, segura e firme” (v. 19a). Essa âncora é a esperança
“que penetra além do véu” (v. 19b). Então, o autor lhes falada garantia mais forte:
Cristo, como a esperança do cristão, entrou à presença do próprio Deus como um
precursor em nosso favor, “sumo sacerdote para sempre, segundo a ordem de Mel-
quisedeque” (v. 20). Em virtude do acesso de Cristo à presença de Deus, os leitores
também podem ter acesso livre a Deus.
O presente contexto (v. 13-20) e o tema do “livre acesso” revelam claramente
a intenção do autor na passagem 6:19, 20. A frase “que penetra além do véu”
(v, 19) pode ser entendida como referência ao segundo com partim ento,38 sem
apresentar nenhum indício de que a segunda fase do ministério de Cristo tenha
começado na ascensão.39
A intenção primordial do autor era assegurar a seus leitores o fato de que o
ministério celestial de Cristo forneceu a base para uma forma “superior” de ado­
ração do que eles haviam experimentado no culto levitico, e que isso lhes tomou
possível o total e livre acesso a Deus.
Não cremos que com essa frase o autor quis dizer que desde o momento de sua ascen­
são Cristo está desenvolvendo um ministério equivalente ao que o sumo sacerdote do
AT realizava uma vez ao ano no segundo compartimento do tabernáculo no dia da
expiaçâo, e excluir a fase diária do ministério sacerdotal. “Ao interior do véu", cremos,
tinha a intenção de comunicar a convicção de que, desde a ascensão cie Cristo, temos
cotai, direto e livre acesso à presença do próprio Deus.40
T e o lo g ia d o s a n t u á r io

A conferência Glacer View publicou um documento que declarou:


Não há barreiras para nossa aproximação a Deus. Hebreus enfatiza o fato de que
nosso grande sumo sacerdote está à destra de Deus (cap. 1:3) “no mesmo céu
...diante de Deus” (cap. 9:24). A linguagem s im b ó lic a d o s a n tís s im o , “interior d o véu",
é u s a d a p a r a nos assegurar nosso a c e s s o t o t a l, liv re e d ir e to a D eu s (cap. 6:19-20; 9:24-

28; 10:l-4)41

A l u s õ e s a o d ia d a e x p ia ç ã o

A importância das alusões ao dia da expiação em Hebreus foi discutida e exami­


nada por vários.42 Cautelosamente, Johnsson identifica três referências não-ambiguas
— (9:6-7, 24-25; 10:l-4).4i Apenas uma destas (9:24-2-5) refere-se ao ministério celestial
de Cristo. Além disso, ele notou outras oito possíveis alusões (4 :16, 5:3, 7:26-27, 9:5,
8, 13, 27-28; 13:10-11). Deste último grupo, todos (exceto 5:3 e 9:5) referem-se ao
ministério de Cristo.44 Norman Young defendeu fortemente a existência de paralelos
entre 9:7, versículos 11, 12 e 25.45 Assim, 9:7, que é uma referência dara ao dia da
expiação, Estabelece o padrao~panTas oiftrãS duas passagens^ ~
A atenção dada ao ritual do dia da expiação em Hebreus (especialmente no
cap. 9) foi, sem dúvida, importante para os destinatários. Com o judeus, antes de se
converterem consideravam esse dia o mais importante da vida religiosa, o ápice de
sua experiência cúltica. Agora, pensavam na possibilidade de abandonar o cristia­
nismo e voltar ao judaísmo.
Pelo fato de o dia da expiação ser tão importante para o judaísmo, o autor
lhe dá atenção especial. Ele se esforça para mostrar as inadequações do culto
levitico, mesmo nesse ápice religioso do judaísmo. Embora esse ritual moscrasse
o exemplo máximo de acesso a Deus no ritual do AT, tal acesso era estritamente
limitado (9:7). Além disso, esse ritual precisava ser repetido ano após ano (9:7,
25; 10:2-3). Porém, mais importante que isso, não era eficaz para tirar pecados
(9:9-10; 10:1-4). No entanto, o dia da expiação apontava para o perfeito ministé­
rio celestial de Cristo (se as seguintes passagens forem aceitas como referências
ao dia da expiação: 9:11, 12, 14, 24-26). “Todas as barreiras entre Deus e o ho­
mem foram derrubadas a fim de que pudéssemos nos aproximar com ousadia da
presença de Deus. Finalmente, foi feito um sacrifício capaz de prover purificação
completa dos pecados.” 46
Talvez a passagem mais crucial em Hebreus para a teologia adventista do san­
tuário seja 9:23-25. Johnsson destacou que “o contexto aponta claramente para
uma alusão ao dia da expiação.”47 O livre acesso fornecido pelo ministério celestial
de Cristo (v. 24), a superioridade de seu sacrifício (v. 25), e sua natureza definitiva
(v. 26) são os principais objetivos desta passagem para os primeiros leitores. Faz
parte da relação das “melhores” coisas peles quais os leitores estavam sendo enco-
A LUZ DE HEBREUS

rajados a permanecer na fé cristã. Ao se fazer a interpretação para os dias de hoje,


deve-se ter esse contexto em mente.
Comentaristas desistiram de ver a necessidade de uma “purificação” do san­
tuário celestial como uma correlação ao dia da expiação no santuário terrestre.
Tentaram evitar o tema sugerindo várias soluções para a elipse no versículo 23. O
verbo “inaugurou” tem algumas vezes sido usado para preencher a lacuna na segun­
da frase. Porém, o Bispo Wesrcort, identificou claramente a relação do pecado com
o santuário celestial, e a necessidade de sua “purificação".

A estrutura completa da frase requer que “purificassem" fosse repetido na segunda


sentença, e não outro termo geral como "inaugurado”. Em que sentido pode-se dizer
que as “coisas que estão no Céu” necessitavam ser purificadas.’

A necessidade da purificação do santuário terrestre e seus utensílios decorre do fato


de que eles eram usados pelo homem e, portanto, eram contaminados pela sua imun-
dícia (comp. Lv 16:16).

Em concordância com esta visão pode-se dizer que mesmo as “coisas que estão nos
céus", até onde incorporaram as condições da vida humana, contraíram pela Queda
algo que requeria purificação.48

O santuário terrestre estava contaminado pelo pecado e precisava de puri­


ficação, assim coitig o santuário celestial. Portanto, embora a argumentação de
Hebreus não trate diretamente da questão da doutrina adventista do santuário,
“podemos dizer, especialmente com base no capitulo 9, versículo 23, que ela dá
uma abertura para isso”.49
Deve-se observaT que Hebreus 9 não dá atenção especial apenas ao ritual do
dia da expiação. Há também mais referências casuais ao sacrifício da “novilha” (v.
13), à consagração da aliança com sangue (v. 18-20), à dedicação do santuário (v.
21) e a sacrificios em geral (v. 22). De f a t o , as alusões a o clia da e x p i a ç ã o , n a verdade,
n ã o c o n s t it u e m o t e m a c e n t r a l n a a r g u m e n t a ç ã o d e Hebreus n o q u e d iz r e s p e it o a s a c r ifíc io .
Elas são meramente parte de um complexo maior de referências co culto levítico.50
Reconhecer isso permite que vejamos essas alusões numa perspectiva correta.
Conform e Johnsson indicou tão claramente, o verdadeiro pdnto em questão
nessa parte de Hebreus não é o dia da expiação como tal, mas a superioridade do
sangue de C risto.51 “Se o sistema sacrifical falira em seu objetivo mais supTemo,
toda a estrutura deve ser considerada inadequada. Mas, diz Hebreus, a boa nova
é o sangue superior!”52 Os repetitivos dias da expiação não poderíam fazer o que foi
feiro uma vez por todas no Calvário pelo sacrifício de Cristo - o derramamento
do “sangue superior” . E em Hebreus, “é o rema do hai/na (sangue) que interliga
as muitas referências aos sacrificios diários, novilha, inauguração da aliança e
Yom Kippur”.55
T e o lo g ia d o s a n t u á r io

Então, o que diz Hebreus 9 com relação à teologia adventista do santuário


quando fala do ministério de Cristo no contexto do dia da expiação? Prim eiro,
deve-se salientar que há uma relação clara entre as alusões ao dia da expiação em
Hebreus e o ministério celestial de Cristo. “Há comum acordo quanto à idéia
de que C risto em sua ascensão entrou na presença de Deus, como sim bolizado
pela entrada do sumo sacerdote terrestre ao santíssimo no dia da expiação”.51
Entretanto, isso não quer dizer que Cristo tenha iniciado a segunda fase
de seu ministério celestial na sua ascensão.55 A implicação das alusões ao dia da
expiação em Hebreus é a de que Cristo está, após sua ascensão, com o o sumo
sacerdote no dia da expiação, na presença de Deus. Mas, Hebreus não trata da
questão das duas fases do ministério celestial de Cristo, nem de quando elas co-
meçaram. Johnsson diz:

As alusões ao dia da expiação em Hebreus, portanto, não são para mostrar que o an-
titipico dia da expiação começou na ascensão... Antes, a argumentação oscila no valor
relativo do sacrifício, contrastando o ápice do ritual do AT com o sacrifício excelente de
______ lesus Cristo no Calvário.sâ______________________________________________________

O M INISTÉRIO DE DUAS FASES E O TEM PO DOS ACONTECIMENTOS

Sem identificá-la como tal, Hebreus fala claramente da primeira fase do minis­
tério celestial de Cristo. Hebreus 7:25 discute o ministério intercessório de Cristo
de forma um tanto explicita. Além disso, 4:14-16 implica fortemente em sua inter-
cessão para aqueles que se aproximam do trono de graça em busca de “misericór-
dia e graça .

Sa n t u á r i o s - c o n tr a s te d e eras?

Questões sobre as fases do ministério e sobre o tempo dos acontecimentos


l têm sido levantadas com relação a Hebreus 9:6-10, principalmente no versículo 8.
Neste versículo, a melhor tradução para tõn hagiõn é “santuário”.57 Os versículos
1-7 descrevem o santuário terrestre e seus serviços, e, logo a seguir, o autor discute
I a obra de Cristo no santuário celestial (v. 11-12). Sendo assim, é bastante natural
, que os versículos 8-10 formem uma passagem-ponte na qual ele descreve o valor
simbólico do santuário terrestre á luz do celestial.
A frase “primeiro tabernáculo" (tès proles skênès) gerou muita discussão. Foi
usada duas vezes para descrever o primeiro compartimento do santuário terrestre,
portanto seria razoável que fosse usada da mesma forma no versículo 8 .S8
Isso levou alguns à conclusão incorreta de que o primeiro compartimento ou
compartimento externo é simbolo da era do AT, e o segundo compartimento ou
Compartimento interior, aponta para a era do NT, o que identificaria todo o peri-
i
A LUZ DE HEBREUS

odo desde o Calvário com o dia da expiação.69 Mas o contraste na argumentação


do autor é feito entre santuários, não eras. Assim, o primeiro compartimento ou
compartimento externo do santuário terrestre representa todo o santuário terrestre
como o sistema do acesso limitado.
W estcott expressou essa idéia da seguinte forma:

O p rim e iro , externo, tabernáculo, o santuário de adoração h ab itu a l, dem onstrou


de m o d o impressivo os lim ites que foram impostos sobre o adorador. Em bora
este fosse u m lugar reconhecido entre outras instituições divinas, o povo estava
separado do objeto de sua devoção. A té aquele m o m e n to , nin gu ém tinh a o p riv i­
légio dos sacerdotes, porém os sacerdotes não tin h a m o d ire ito de se aproxim ar
do tro n o de Deus. Assim , o santuário externo representava todo o tabernáculo
com o o lugar de serviço.60

Johnsson concorda que “...o ‘primeiro tabernáculo’ aqui provavelmente apon­


ta para todo o santuário do antigo culto, em contraste com o genuíno ou ‘verdadei­
ro tabernáculo’ do santuário celestial (Hb 8:1, 2) ou seja, o contraste é entre os dois
-santuários e não-entre-as du-as-eras-.61—
O versículo 9a está intimamente ligado ao comentário sobre “o primeiro ta-
bem áculo” (v. 8). O santuário terrestre, representado por seu primeiro comparti­
mento, era marcado pelo acesso limitado a Deus (cf. v. 6, 7). Enquanto os serviços
do templo continuassem, essa seria a situação para aqueles que, como alguns dos
primeiros leitores de Hebreus, estavam em perigo de escolher adorar de acordo
com o sistema do santuário do AT. Assim, o autor descreve o primeiro compar­
timento (que representa todo o santuário terrestre) como uma “alegoria para o
tempo presente”.62
O apóstolo está dizendo que o cam inho para o santuário celestial ainda
não estará descoberto enquanto o santuário terrestre continu ar a existir ou
“ter prestigio” (schou sss siosifi). C onsiderando o problema dos judeus-cristãos
oscilantes, pode ser que ele não esteja falando aqui de fatos históricos - que sua
ênfase seja sobre a experiência espiritual de seus leitores e não sobre o tempo
dos acontecim entos.
v

Q uestões n ã o abo rdadas

Hebreus não aborda diretamente a questão das duas fases do ministério ce­
lestial de Cristo. Esta não é sua preocupação. Johnsson coloca a questão dessa
forma: “Podemos dizer que Hebreus dá uma abertura para a obra de duas fases de
Cristo, mas não a discute. O autor faz alusão a um julgamento futuro [9:27; 10:30,
31; 12:25-271, mas não vai além - seu interesse está no que Cristo já fez e em seu
presente ministério celestial.”65
TEOLOGIA DO SANTUÁRIO

Esta visão é apoiada pelo The SDA Bible Commentary quando, ao discutir as
duas fases do ministério celestial de Cristo, diz: “Dificilm ente encontrarem os no
livro de Hebreus uma apresentação definitiva sobre o assunto.”64 O utra declara­
ção adventista recente tem posição semelhante: “Há também um consenso geral
de que nem Daniel nem um ministério de duas fases são abordados na epístola
aos H ebreus."65
Novamente, Hebreus não aborda a questão de tempo futuro. Além de refe­
rências ao segundo advento e alusões gerais ao julgamento futuro, ele não trata do
futuro. Hebreus está mais preocupado em olhar para trás, para o que foi realiza­
do no Calvário e fazer seu apelo aos primeiros leitores com base nisso. “Ele está
certo da realidade do ministério sumo sacerdotal de Cristo no santuário celestial,
mis"sua argumentação volta-se basicamente para trás, para o que já aconteceu no
Calvário.”66 Hebreus não dá dicas sobre acontecimentos escatológicos no tempo.
"D e fato, Hebreus não está preocupado com a questão do tempo; mas concentra-se
na toda-suficiência do Calvário.”67

C o n clu sõ es

Hebreus não fala de alguns assuntos de grande interesse aos adventistas.


Esses assuntos fazem parte de nossa preocupação ao olharmos para o cenário
escatológico, mas não eram preocupação do escritor de Hebreus. São nossas ques­
tões, não do apóstolo. Devemos ter cuidado ao interpretar esse livro - bem como
toda a Biblia. Não devemos procurar respostas para indagações que são irrelevan­
tes para o escritor.
Hebreus é um tanto explicito em sua exposição, tanto da realidade do santu­
ário celestial, como do ministério de Cristo ali. Está evidente que Cristo descobriu
o cam inho que deu acesso total e direto à presença de Deus, e que Ele ministra
ali em nosso favor. É certo quê seu sacrifício forneceu “melhor sangue ' do que os
sacrifícios de animais, mas Hebreus não discute nem as duas fases do ministério
celestial de Cristo, nem quaisquer questões envolvendo o tempo de seu ministério.
“Portanto, a argumentação de Hebreus não nega a doutrina ASD do santuário,
uma vez que o livro basicamente não aborda o tema.”68
A LUZ DE HEBREUS

N otas

1 Sobre este aspecto, ver espedalmente os dois estudos de William G. Johnsson, “O


Santuário Celestial - Figurativo ou Real?" e “Alusões ao Dia da Expiação”, capítulos 3 e 6,
respectivamente, neste livro. Devido á natureza deste estudo, os documentos (oram restri­
tos, na medida do possível, a escritores adventistas.
I Ver Donald Guthrie, “Questions on Inrroduction", New Testament In terp retation :
MetKod s, ed. I. Howard Marshall (Exeter, 1977), p. 114.
Essays on P rincipies a n d
5 Gerhard F. Hasel, “Principies o f Biblical Interpretation”, A Symposium on b ib lic a l
ed. Gordon M. Hyde (Washington, DC, 1974), p. 185.
H er m en e u iic s ,
4 Ibid., p. 168. Veja também O G r a n d e C o n flit o , p. 344; Testemunhos p a r a a Igreja 6:19-
20; P rofetas e R eis, p. 731; E d u c a ç ã o , p. 183. Convém ressaltar que este estudo não considera
as declarações de Ellen G. White referente a Hebreus.
5 Flasel, p. 183. Ver também, p. 163, 170, 182; e Hasel,
U n derstan din g the Living W ord
Biblioteca Adventista do Pensamento Cristão 1 (Mountain View, CA, 1980):78-79;
o fG o d .
I. H. Marshall, “Introduction”, em N ew Testament Interpretation, p. 15.
6 Hasel, “Principies", p. 185 (grifo nosso).
______7 Para opiniões conservadoras a respeito da evidência para o contexto histórico de
Hebreus, ver Donald Guthrie, New T esta m en t In trod u ction , 3* ed., rev. (Londres, 1970), p.
685-718; Everett F. Harrison, In trod u ction to th e N ew T estam en t, rev. ed. (Grand Rapids,
1971), p. 370-80. Para uma opinião adventista da evidência, ver William G. Johnsson, In
A b so lu te C o n fid e n c e : T h e B o o k o f H ebreu s S p ea k s to O u r D ay (Nashville, 1979), p. 15-20, 27-30;
Francis-D. Nichol, .ed., T h e S D A Bible Commentary, 7 vols. (Washington, DC, 1953-1957),
7:387-94.
8 Johnsson, In A b so lu te C o n fid e n c e , p. 29.
9 Ver Guthrie, New Testament Introduction, p. 704-5.
10 Hebreus 7:27; 9:12, 26, 28; 10:10.
II Ver Johnsson, ín A b so lu te C o n fid e n c e, p. 114-18.
12 Hebreus 4:14, 16; 6:19-20; 9:11-12, 24; 10:19-20; cf. 7:23-25; 9:7-8: 10:11-12.
,! Johnsson, In A b so lu te C o n fid e n c e , p. 91.
14 William F. Arndt e F. Wilbur Gingrich, A Greek English Lexicon o f th e N ew T estam en t
a n d O th e r E arly Christian L itera tu re, 2* rev. (Chicago, 1979), p. 37.
15 Ver por exemplo, Hebreus 10:19: “Tendo, pois, irmãos, ousadia para entrar no
santuário, pelo sangue de Jesus.” \
10 Francis D. Nichol, ed., T h e SD A B ib le Commentary (Washington, DC, 1980),
7:445.
17 Ver Ibid, p. 451.
18 Ver Seventh-day Adventists Answer Questions on Doctrine (Washington, DC, 1957), p.
365-68.
19 Cf. Hebreus 9:11.
Johnsson, In Absolute Confidence, p. 16-17; ver também, p. 32, n. 10.
21 Idem, “O Santuário Celestial," p. 46, neste livro.
TEOLOGIA DO SANTUÁRIO

22 Ibidem.
23 Ibidem. Também “não devemos pensar literalmente em um tabemáculo no Céu,
erigido por Deus” - T h e D S A B ib le C o m m en tary , 7:444
24 Johnsson, “O Santuário Celestial,” p. 46, neste livro.
25 Francis D. Nichol, ed., T he SDA Bible C om m en tary (Washington, DC, 1980), 7:468.
20 Johnsson, “O Santuário Celestial”, p. 46, neste livro.
Idem, In A b so lu te C tm fid en c e, p.91. Isto não deve negar que a ilustração da sombra
nos apresenta importantes aspectos sobre o ministério de Cristo, tais como as duas fases de
seu ministério que correspondem à ministração nos dois compartimentos. -Ed.
28 Merrill C. Tenney, New T estam en t Survey, rev. ed. (Londres, 1961), p. 362.
29 Brooke Foss Westcott, T h e E pistle to th e H ebrew s: T h e G r e e k T ext W ith N otes a n d Es-
says, 2* ed. (Londres, 1892), p. 257.
30 Ibid., p. 229.
31 George Wesley Buchanan, To the H ebrew s, AB (Garden City, NY, 1972), p. 162.
32 Ibid.
33 Veja também Marcos 16:19; Efésios 1:20; Colossences 3:1. Apocalipse 3:21 diz o
mesmo, com uma pequena variação. As seguintes passagens dizem que Cristo está à destra
de Deus sem usar o verbo “sentar-se”: Mateus 22:44 (e paralelas - Marcos 12:36; Lucas
20:42); Atos 2:33-34; 5:31; Romanos 8:34; 1 Pedro 3:22; Atos 7:55, 56.
34 Veja A. P. Salom, “Exegesis of Selected Passages in Hebrews 8 and 9" (trabalho não
publicado, Glacier View, 1980), p. 22-23.
35 Para uma visão um pouco diferente, veja o relarório da Comissão de Daniel e Apo­
calipse neste livro, p. 4.
36 Veja Hebreus 4:14, 16; 7:19, 25; 10:22.
37 Veja também Hebreus 10:19-20.
38 Veja Salom, p. 17-19; e Norman H. Young, “The Checkered History o f the Phrase
W ithin the Veil’" (trabalho não publicado, Avondale College, 1974), p. 1-13. Veja também
Erwn R. Gane, “Within the Veil: where did Christ go?” Ministry, dezembro 1983, p. 4-7.
39 “’No interior do véu’ refere-se à imagem simbólica da presença de Deus numa apli­
cação do dia da expiação em vez do cumprimenro antitipico do tipo do AT. Esse modo de
dizer de forma nenhuma exclui nosso entendimento quanto ao ministério intercessório de
duas fases de Cristo no santuário celestial..." Declaração no documento de Desmond Ford
(Glacier View, CO), Adventist Revieu/, 4 de setembro de 1980, p. 9.
40 Ibid., p. 8 (grifo nosso).
41 Comissão do Santuário, “Christ in the Heavenly Sanctuary”, Adventist Review, 4 de
setembro de 1980, p. 14 (grifo nosso).
42 Veja Norman H. Young, “The Impact f the Jewish Day of Atonement upon the
Thought of the New Testament” (Tese de doutorado, Manchester University, 1973); "The
Gospel According to Hebrews 9", NTS 27 (1981): 198-210; Johnsson, “Day of Atonement
Allusions", p. 110-115.
43 Johnsson, “Day of Atonement Allusions", p. 113-114.
A LUZ DE HEBREUS

44 Hebreus 9:7 deveria estar relacionado com o versículo 8 e 9:11, 12 com o versículo 13.
45 Young, “The Gospel”, p. 199.
46 Johnsson, “Day of Atonement Allusions”, p. 119; cf. T h e D SA B ible Commentary, 7:455.
47 Ibid., p. 113.
48 Westcott, p. 270. Buchanan (p. 162) acrescenta: “Também parece um pouco estra­
nho pensar no céu como um lugar onde há pecado e contaminação que requer purificação.
No entanto, o auror de Hebreus lidou bem com essa idéia.”
49 Johnsson, “D ay o f Atonement A llu sio n s”, p. 110-115.
50 Veja Hebreus 5:1-3; 7:27; 9:9-10, 12-13, 18-21; 10:8, 11, 29; 11:4, 28; 12:24.
31 William G. Johnsson, “Contaminação e Purificação no Livro de Hebreus” (Tese de
doutorado, Universidade de Vanderbilt, 1973), p. 102-361.
52 Johnsson, “Day of Atonement Allusions", p. 110-115.
53 Ibid., p. 118.
54 “Declaração”, p. 8 (grifo nosso).
55 Ibidem.
56 Johnsson, “Day of Atonement Allusions”, p. 110-115.
___ 57 Veia A. P. Salom. “Ta Hagia m the Epistle to the Hebrews”, AU5S-5(4967):59-65,68.
Veja o Apêndice A.
58 Esta é uma opção de Francis D. Nichol, ed., T h e S D A B ib le C o m m e n ta r y (Washing­
ton, D C, 1980), 7:451. Para outros comentários, veja Johnsson, p. 44-45, 109; Kiesler, p.60-
62; Davidson, p. 159-160, neste volume.
50 Veja Desmond Ford, “Daniel 8:14, the Day of Atonement, and The Investigative
Judgment” (trabalho não publicado, Glacier View, 1980), p. 183-864.
60 Westcott, p. 252.
61 Johnsson, “Day of Atonement Allusions", p. 114; também: “Assim, todo o santuário
terrestre, não apenas seu primeiro compartimento era uma analogia da era antiga, no momento
então apresentado...” (Id., “The Heavenly Sanctuary”, p. 47; T h e D S A B ible C om m en tary, 7:451).
62 Embora os resultados finais sejam os mesmos, a Comissão de Daniel e Apocalipse
adotou uma exposição diferente de Hebreus 9:8. Veja o relatório, p. 4-5.
63 William G. Johnsson, “Hebrews, Adventist Storm Centre”, T rim estral d a E scola
S a b a t in a , 30 de setembro, 1981, p. 16.
64 Francis D. Nichol, ed., T h e S D A B ible Commentary (Washington, DC, 1980), 7: 468.
63 “Declaração”, p. 8; e também p. 9: “Esse modo de dizer de forma nenhuma exclui
nosso entendimento quanto ao ministério intercessório de duas fases de Cristo no santuá­
rio celestial, o qual a carta aos hebreus nem ensina nem nega.”
66 Johnsson, “Hebrews, Adventist Storm Centre", p. 16. “O apóstolo aqui defini­
tivamente não trata da obra de Cristo no santuário celestial a partir de uma perspectiva
temporal" U ohn sson , I n A b s o lu le C o n fid e n c e , p. 116).
67 “Christ in the Heavenly Sanctuary", p.13.
68 Johnsson, ln A b so lu te C o n fid e n c e , p. 116.
A pêndice A

Ta H a g ia na epístola aos H ebreus


A lvvyn P. Salom

T a ayLa (e suas variantes) aparece num total de dez vezes no NT, sendo todas
na epístola aos Hebreus.1Um exame superficial das traduções e comentários deixa
claro que há uma notável confusão de termos (se não de idéias) entre os traduto­
res e os comentaristas ao tratarem esta palavra. A tabela 1 ilustra tais diferenças
de tradução que vão desde a versão King James até a Phillips. Tentou-se escolher
um grupo representativo, incluindo o comitê de tradução, a tradução do discurso
— moderno e a paráfrase. Das dez traduções escolhidas, só há consenso em Um ponto
(9:1). Em seis dos versículos em questão (9:2, 8, 25; 10:19; 13:11) há divergência
quanto a.se .rà ã y i a refere-se ao santuário como um todo ou a. uma ..parte especifica
dele. Das 100 traduções representadas na tabela 1, 65-69 são sobre o santuário em
geral, 11-13 referem-se ao compartimento externo do santuário e 20-22 tratam do
compartimento interno.2
A mesma diferença de opinião surgiu entre os comentaristas,3 sendo necessá­
rio explicar que “Lugar santo", em alguns casos, não se refere ao lugar santo, mas
ao santo dos santos!
Tendo em vista que o auctor ad Hebraeos baseou-se tão fortemente na LXX,5
parece o lugar mais óbvio para encontrar provas do significado quanto ao uso de
r à 'áyia. U m estudo da LXX revela os resultados que foram resumidos na tabela 2.
Dos 170 usos diferentes desta palavra, com referência ao tabernáculo ou templo,5
a maioria esmagadora (142) referia-se ao santuário em geral. Quando usada desta
forma, rà à y ia parecia surgir indiscriminadamente no singular ou plural, embora
tenha aparecido com mais freqüência no plural.0 Ao mesmo tempb, deve-se notar
que seu uso foi mais comum no singular ao referir-se ao compartimento interno ou
externo. Em somente quatro exceções, seu uso foi com artigo. Este mesmo padrão
geral parece ter sido seguido (em escala bem menor) em Hebreus.7

Reimpresso com autorização da Andrews University Studies, em janeiro de 1967, vol. 5, N° 1,


p. 59-70. Por motivos técnicos, acentos e espíritos foram omitidos das palavras gregas usadas no corpo
do texto e notas de rodapé (Ed.).
T a H a g ia n a e p ís t o l a ao s H e b r e u s

Tabela 1: Tradução de ra a y La na epístola aos Hebreus3

"O

au
Rcfercnci;

Phillips
M offat
-G

W uest
Grego

Knox
C CQ

ERV

A SV

R SV

KJV
O UJ
O Z
08:02 ' -TÜ)V CrytüJV ib 1 1 1 i 1 1 1 10 1
09:01 To t e aytov i 1 1 1 1 1 1 1 1 1
09:02 Ayia i 1 2 2 2 2 1 2 2 2A
09:03 Ayia Ayuuv IA IA 3 4 4 4 5 4 4 4
09:08 xcov ayuuv 1 1 1 9 9 1 5 6 7 4
09:12 xa ayta 1 1 1 9 9 2 9 2 4 4
09:24 ayia 1 1 1 9 9 1 10 9 10 10
09:25 xa ayia 1 1 1 9 9 2 9 9 10 4
10:19 xcov ayuuv 1 1 1 9 9 1 1 ”8 4 4
i v : 1-1------ i i 1 9 1“ 9 1 1 2 T 1

3 As traduções estão dispostas (lê-se da esquerda para a direita) de forma a garantir a


consistência da tradução. Embora se reconheça que este não é um sine qua non da tradução,
é, no entanto, um fator de avaliação e, neste caso, um padrão conveniente de comparação.
Um estudo desta tabela revela alguns resultados já esperados, como, por exemplo, a estreita
relação entre as versões ERV e ASV; e a inconsistência na tradução “expandida” da versão
Wuest e a paráfrase de Phillips. Também revela algumas surpresas, como a consistência da
tradução da versão NEB e a similaridade das versões Knox e Godspeed.

k 1 = “santuário; 1A_= “santuário interno”


2= "Lugar Santo”, “Lugar santo”, “lugar Santo”
2A= ‘compartimento externo”
3= “Lugar Santíssimo”
4” “Santo dos Santos”, “Santo dos santos”, “santo dos santos”
5= “O mais Santo de todos”, “o mais santo de todos”
6 = “A Presença Santíssima”
7= “O Santíssimo”, “santíssimo"
8 = “santa Presença"
9= “lugar santo"
10= “lugares santos”

E interessante que dos 98 lugares onde esta expressão da LXX é uma tradução
do hebraico, 36 traduzem miqdãs, que designa um santuário em geral.8 Tudo isso
sugere que esta palavra tinha a idéia do santuário como um todo para seu significa­
do básico em Hebreus, assim como na LXX.
A LU Z DE HEBREUS

Tabela 2: O uso de xa a y ia na L X X a

Compartimento Compartimento
Santuário externo interno
Número total de usos 142 19 9
Singular 45 13 8
Plural 97 6 1
Com artigo 138 19 9
Sem artigo 4 — ____

1 A exatidão dessa representação, é claro, está sujeita a fatores como leituras diferentes, usos
dúbios e o fator humano.

Poder-se-ia argumentar que uma vez que todos os usos de xa 'úyia de


Hebreus 9 :8 em diante encontram-se num contexto relacionado com o dia da
expiação, deve haver uma ligação entre esses seis usos (pelo menos) e os sete
usos desta mesma palavra em Levitico 16.9 E verdade que essas últimas referên­
cias são ao com partim ento interno do santuário.10 Entretanto, devemos atentar
para-o fato de-que cada um-dos usos em Levitico está no singular,-enquanto que
em Hebreus (com exceção de um) eles estão no plural. Se o autor de Hebreus
estava fazendo um empréstimo consciente de Levitico 16, sem dúvida ele deve­
ria ter usado no singular. Além do mais, parece muito mais provável que ele foi
influenciado pelo conceito da L X X de um santuário com o um todo (que indica
que xa a y iu refere-se primeiramente ao santuário com o um todo), em vez de
uma parte especifica dele.
Além dos usos de xa a y ia já considerados, há outras duas construções que
aparecem na LXX. ro ãyiov xcov ayicov (e suas variantes) ocorrem 11 vezes referin-
do-se ao compartimento interno do santuário.11 Sete destas são da ordem citada
acima (Ex. singular/plural) e quatro são plural/plural. Todas elas são traduções
de qôder, hatfdãSlm . "A yia 'Ayícov em Hebreus 9:3 é um exemplo desse uso e re­
fere-se ao compartimento interno. Embora apareça na LXX com mais frequência
na forma com artigo (oito vezes), não é razão suficiente para elim inar o exemplo
sem artigo em Hebreus desta categoria. Parece que o autor de Hebreus teve um
motivo específico para omitir o artigo.12 A construção com xonoç ê encontrada 16
vezes na LXX na forma singular.15Não aparece em Hebreus, mas é encontrada no
N T em M ateu s'24:15; Atos 16:13; 21:28. Em todas as ocorrências na LXX, refere-
se ao santuário em geral. As três vezes em que foram usadas no N T poderíam
ser entendidas da mesma forma. Atos 21:28 é particularmente im portante ao
mostrar que ròvayiov zómov roúrov é equivalente a icpov. O uso desta construção
tanto na LXX quanto no N T apóia a tese de que xa a y ia refere-se principalmente
ao santuário em geral.
T a H a g ia n a e p ís t o l a aos H e b r e u s

O uso de ayioç em rontes não bíblicas revela que o significado “santuário” ou


“templo” foi bastante difundido. No período ptolomaico ra a y ia foi usada para
“templo” na inscrição canopo de Ptolomeu III (239 a.C).HTanto Filo15 quanto Jo-
sefo16também a usaram neste sentido. Schalatter destaca que provavelmente Josefo
usou-a de forma comedida neste sentido porque soaria estranho aos ouvidos dos
gregos que estavam acostumados a ouvir tepov.17Procksch15concorda com Flasher19
que ro a y i a e r k a y ia foTam introduzidos na LXX para evitar o uso da palavra
tepov que tem conotação pagã.
Som ente três dos usos de xa ccyia em Hebreus são sem artigo. Destas, He­
breus 9:24 é caracterizada pelo acompanhante xetpoicoírjra de modo a ter valor de
definido, embora não na forma com artigo. As outras duas 9:2 ("A y ia ) e 9:3 ("A
yxa Aytcov) referem-se a partes específicas do santuário (os compartimentos externo
e interno respectivamente), conforme indicado claramente pelo contexto. Estaria o
autor tentando fazer uma distinção entre essas duas partes (deixando-as sem artigo)
e os outros usos em Hebreus, dessa forma indicando que elas referem-se a partes
especificas do santuário? Seria este um artifício empregado deliberadamente para
m ostrara diferença-entre-os-doiygTUpos?:0 Se-esteé-crcasorémmsürnãívidêTTcia_de
que xa ã y t a em Hebreus (exceto 9:2, 3) deveria ser considerado com o referência
ao santuário como um todo.
A conclusão geral obtida com o estudo do uso de xa a y ia na L X X e a com­
paração com ,seu.uso,em Hebreus é que esta expressão refere-se basicamente ao
santuário em geral. A questão final a ser respondida é com relação à tradução.
C om o esta palavra deveria ser traduzida em Hebreus? A tradução deveria manter
a ênfase no significado básico e então traduzir como “santuário” em todas as
ocorrências (como na Goodspeed e Knox)? Ou deveria ser interpretada á luz do
contexto e da teologia da passagem, e ser traduzida de acordo com aquela parte
específica do santuário que parece estar na mente do escritor? Este é o ponto de
vista do autor deste apêndice, de que o significado básico da palavra deveria estar
claro na mente do tradutor, uma vez que fizesse sentido no contexto, deveria
ser usada na tradução.21 Assim, “santuário” seria a tradução em todo o livro de
Hebreus exceto em 9:2, 3. E tarefa do comentarista, com base em seu estudo do
contexto e da teologia da passagem, decidir que parte específica (caso haja) do
santuário estava na mente do escritor.
8:2 túiv ixyicov neste caso refere-se ao santuário celestial como um todo.
Isto é sustentado pela explicação exegética a seguir, ícai xr/ç ok)]vt]ç rf)ç àhj&tvfiç."
ítk/jvx] é usado com bastante freqüência na LXX para ‘ôhel e miskãrt representan­
do o tabernáculo como um todo. Embora Koester3e Hewitt24 argumentem que o
autor neste caso está falando de duas coisas distintas, essa posição não é apoiada
fortemente. Considerando a evidência já apresentada da LXX quanto ao uso de xa
A U JZ DE H EB R EU S

tíyux, parece que o principal significado aqui é o santuário como um todo, não o
compartimento interno (base do argumento de Koester e Hewitt). Moffatt defende
fortemente esta conclusão.25
No contexto mais amplo da argumentação do autor, a ênfase aqui está na
existência do santuário celestial. Assim com o Israel tinha seu lugar de adoração
e seu sumo sacerdote, então (diz o autor) o cristianismo, em maior escala, tam­
bém tem. Nas palavras de M oule, “santuário e sacrifício são nossos”.26 Agora é
certo que a referência no contexto é com relação à função sumo sacerdotal (8:1,
3), e que a especial função do sumo sacerdote estava relacionada com o com­
partim ento interno do santuário. Assim, ao passo em que “santuário” deveria
ser a tradução correta de xcovayicov, em um nível secundário, ao menos, pode-se
considerar que o autor tenha tido em vista uma parte especifica do santuário.
9:1. Apresentando-se no inicio da descrição detalhada das partes e funções do
santuário celestial, xo ayiov koouikov obviamente é uma referência ao santuário em
geral, e deveria ser traduzido adequadamente. Assim como destaca Bruce, o autor
baseia sua descrição no “rabernáculo no deserto descrito no livro de Êxodo... o
santuário da antiga nhança”.~Wesn:otr enfatiza que eia dá naturahneute “a noção
geral do santuário sem levar em conta o seu uso em diierentes partes do texto”.25 A
forma singular xo ãyiov não é encontrada em lugar algum em Hebreus; entretanto,
encontra-se com bastante freqüência na LXX.29
,9:2. Considerando correta a leitura "A yia (tà a y t a B.sa), este uso é único. A
importância disso já foi discutido.30 Montefiore lembra que a forma anarthrous é
única em Hebreus, mas falha em não ver significado algum nela.31 De forma inex­
plicável (a menos que tenha havia um erro de impressão, ou que ele esteja seguindo
o Textus Recepcus), ele identifica a palavra como a y ta e, então, discute sobre o fato
de ela ser plural neutro ou feminino singular. Ele opta pelo feminino e leva em con­
ta que ela é usada como adjetivo que qualifica okijvt). Entretanto, parece estar na
forma neutra e usada como substantivo para referir-se ao compartimento externo
(//xpcoxri mojvrj) do santuário. A descrição dada no versículo quanto ao interior da
sala apóia esta visão.
9:3. Este é o uso mais direto de và á y ta em Hebreus. A forma "Ayta 'Ayícov
(ambas neutro plural) é equivalente ao superlativo hebraico qôcks cfdãsim (san­
tíssimo) e, portanto, refere-se ao com partim ento interno do santuário.32 Como
em 9 :2 , a expressão neste versículo é an<srtlirot<s,53 e como em 9:2, refere-se a
uma parte específica do santuário. Isso, é claro, é confirmado pelo contexto
(9:4) que descreve o conteúdo deste com partim ento.
Em 9:8 novamente, o significado básico de ~cc a y ta deve prevalecer na tradução,
de modo que “santuário”, conforme traduzido na Goodspeed, Knox, RSV e NEB, está
correto. O significado abrangente que inclui tanto o compartimento interno e extemo
T a H a c ia n a e p ís t o l a aos H e b r e u s

do santuário explica o uso de f] xpcov] oicrpn) cnajvrj.^ O santuário aqui descrito é o san­
tuário celestial do qual o compartimento interno do santuário terrestre é simbólico.35
O meio de acesso ao santuário celestial não estava historicamente acessível,
contanto que o compartimento externo estivesse em pé ou tivesse ainda impor­
tância.36 Este compartimento externo representa o limite de acesso a Deus na
experiência de Israel. O comentário de W esrcott é pertinente: “O santuário exte­
rior [ou seja; compartimento] era o simbólo representativo de todo o tabem áculo
como um lugar de serviço sagrado.”37 Q uando o santuário terrestre cumpriu seu
propósito na morte de Cristo, o meio de acesso foi historicamente fornecido no
santuário celestial.
9:12. As traduções de KJV, ERV e A SV (“o lugar santo”) e a de M offatt (o
— Lugar santo) e a RSV (“o Lugar Santo”) estão definitivamente erradas. O serviço
característico do dia da expiação referido aqui (compare v. 7) era realizado no com­
partimento interno do santuário celestial. Entretanto, posto que o sumo sacerdote
tivesse que atravessar o compartimento externo, poderia-se dizer que ele “empre­
gou" (compare v. 11, ôia ri)ç /ueíÇovoç >cai reXeicnkpaç mapin)) todo o santuário neste
serviço. “EnquantcrArãoeseus sucessores adentravanrcrsantissimo terrestre n o d ia
da expiação... Cristo entrou no santuário celestial.”38 Sugere-se, então, que vcc ay ia
seja novamente traduzido como “santuário”, referindo-se ao santuário celestial.
9 :2 4 . Se em 9:12 rà uyux deve ser traduzida com o “santuário”, é eviden­
te que deveria ser da mesma forma em 9 :2 4 , pois é descrito o mesmo Local.
O que está na m ente do autor não é uma parte específica do santuário celes­
tial, com o se evidencia por sua frase adversativa à V .' e í ç aÒTÓv ròv oúpavòv.
Com entaristas são quase unânimes em consid erar este uso de áy ia com o uma
referência áo santuário celestial com o'um to d o .39
9:25. Com o em 9:12, a tradução “Lugar San to ” (e suas variantes) está errada.
A referência no contexto do serviço do dia da expiação do sumo sacerdote terres­
tre não é ao compartimento externo do santuário. Seus sacrifícios característicos
daquele dia eram realizados no compartimento interno. No entanto, mais uma
vez, pelo fato de todo o santuário estar envolvido nesses serviços, “santuário” é a
palavra mais adequada como tradução, enfatizando assim o significado básico da
expressão. Isso deixa aos comentaristas a tarefa de mostrar que o compartimento
interno era o lugar mais importante daquele dia.40
10:19. Inquestionavelmente, o contexto (v. 20) indica que aqui o autor está
se referindo ao privilégio do cristão de livre acesso à presença do próprio Deus,
acesso que foi negado tanto ao adorador quanto ao sacerdote comum no santuário
terrestre. Novamente recomenda-se a tradução de teüv 'ayicov como “santuário”,
permitindo ao leitor ou comentarista, com base no contexto literário e teológico,
tirar suas conclusões quanto a que parte do santuário o autor tinha em mente.
A LUZ DE HEBREUS

13:11. Embora W estcott admita que este versículo possa ser aplicado a outro
ritual que não seja o ritual do dia da expiação,41 é especialmente no capítulo 9 que
vemos a probabilidade de o autor ter este dia em mente. A partir de Levitico 16:27
(conforme verso 2) é possível descobrir que no dia da expiação o sangue do animal
sacrificado era transportado para dentro do compartimento interno do santuário.
Por isso, essa parte do santuário estava na mente do autor. Mas, o uso de ra ayicc
na LXX e a maneira como foi usada em Hebreus nos levaria a traduzi-la mais uma
vez no sentido neutro, “santuário”.

N otas
1 Hebreus 8:2; 9:1, 2, 3, 8, 12, 24, 25; 10:19, 13:11.
: A variação ocorre porque em certas partes a intenção do tradutor não está clara. Pára
evitar a confusão com termos como “Lugar Santo”, “Lugar santo”, “lugar Santo”, “lugar santo",
“lugares santos”, etc., a seguinte terminologia é usada daqui em diante sempre que possível: “san-
, tuário” refere-se ao tabemáculo ou ao templo em geral; “compartimento externo” e “comparti­
mento interno” são. usados ernjceferênda ao lugar santo e santo dos santos, tesnecrivaroenfe. A
síntese apresentada acima no texto pode ser dividida da seguinte forma: 8:2 santuário 10 x; 9:1
santuário lOx; 9:2 santuário 3x (?), compartimento externo 7 x; 9:3 compartimento interno 10
x; 9:8 santuário 6 x, compartimento interno 4 x; 9:12 santuário 5 x, compartimento externo 3 x,
compartimento interno 2 x; 9:24 santuário 10 x; 9:25 santuário 7 x, compartimento externo 2
x; compartimento interno 1 x; 10:19 santuário 6 x, compartimento interno 4 x; 13:11 santuário
8 x, compartimento externo 1 x, compartimento interno 1 x.
3 Ver infra, p. 66 em diante.
4 Para uma discussão mais atualizada do uso da LXX em Hebreus, veja Kenneth
J.Thomas, “The Old Testament Citanons in Hebrews”, NTS 11 (1965), 303-25. Veja tam­
bém B. F. Westcott, The Epistle to the Hebrews (Londres, 1903), p. 469-80; J. van der Ploeg,
“L’ exégèse de L' Ancien Testament dans 1'Épitre aux Hébreux”, RB 54 (1947), 187 em
diante.; R. A. Stewart, The Old Testament Usage in Philo, Rabbinic Writings, and Hebrews (não-
publicado M. Litt. Tese, Universidade de Cambridge, 1947); C. Spicq, LÉpitre aux Hébreux
(Paris, 1952), 1, p. 330 em diante.; F. C. Syunge, Hebrews and the Scriptures (Londres, 1959);
M. Barth, “The Old Testament in Hebrews”, Current Issues in NT Interpretation, ed. W. Klas-
sen and G. F. Snyder (Nova Iorque, 1962), p. 53 em diante.
5Além disso, havia outros 16 usos que foram construídos com tonos, e 13 nas quais to
'ayiovxüv 'ayiajv (e suas variações) ocorreram. Essas foram tratadas separadamente.
6 As possíveis razões por que a forma no plural foi tão comumente usada não
foram analisadas neste estudo. Ver F. Blass e A. Debrunner, A Greek Grammar o f the
New Testament and Ot/ier Early Christian Literature (trad. e rev. por Robert W. Funk,
Cambridge, 1961), p. 78; Nigel Turner em James Hope Moulton, A Grammar o f New
Testament Greek (Edinburgh, 1963), III, 25-28; J. Wackernagel, Vorlesungen iiber Syntax
mit besonderer Berücksichtigung von Griechisch, Lateinisch und Deutsch (Basel, 1926), I, p.
97 em diante.
T a H a c ia n a e p ís t o l a ao s H e b r e u s

7 Quanto aos nove usos em Hebreus que correspondem a r i ay ia (a construção em


9:3 é 'íyta 'ayiuiv), oito estavam no plural e sete estavam com artigo.
8 As demais 62 são tradução de qôdes que equivale a ayioç.
9 Levitico 16:2, 3, 16, 17, 20, 23, 27.
10 Ver especialmente Levitico 16:2, onde “dentro do véu, diante do propiciatório"
especifica a que parte do santuário está se referindo.
11 Êxodo 29:31;d .Reis 6:16; 7:36; 8:6; 1 Crônicas 6:49; 2 Crônicas 3:8, 10; 4:22; 5:7;
Ezequiel 41:4; Daniel 9:24- Ainda existem outros dois usos cujos significados são discutí­
veis: Levitico 16:33; Números 18:10.
12 Ver infra, p. 64.
13 Êxodo 29:31; Levitico 6:9 (Mt 6:16), 19 (Mt 26); 8:31; 10:13, 17, 18; 14:13; 16:24;
24:9; Salmos 23:3 (Mt 24:3); 67:6 (Mt 68:5); Eclesiastes 8:10; Isaías 60:13; 2.
14 W. Dittenberger, ed., Orientes Graeci Inscriptiones Sekctae (Leipzig, 1903-1905), N°
56, linha 59. Veja também (Berlin, 1922), N° 119, linha 12 (156 a.C.).
15 Legum Allegoriae, iii. 125.
16Josefo usou-a tanto para o templo de Jerusalém (Ant., iii. 6.4), para o compartimen­
to interno (Bell., i. 7.6), e para o santuário com os átrios e paredes do templo (BelL.iv. 3.10;

17 A. Schlatter, Der Evangelist Matháiu (Stuttgart, 1929), p. 12.


18 Otto Procksch, TDNT (Grand Rapids, 1964), I, 95.
19 M. Flasher in ZAW, 32 (1929):245, n. 2
20 Westcott, op. eit., p. 245 observou que “a forma sem artigo j.-íyifl! em 9:2] neste
sentido parece ser única”. Ele também fez ligação dela com 'Âyict 'Ayicav em 9:3. Entre­
tanto, ele percebe que ela fixou a atenção quanto à natureza do santuário. A perplexi­
dade de Helmut Koester com relação ao uso de 3 y t a aqui (‘“ Fora do arraial’: Hebreus
13:9-14”, H ThR 55 [1962]: 309, n. 34) é atenuada pela sugestão acima. Sua declaração
de que “em todos os outros lugares a simples ÃyLU é o termo técnico para ‘tabernáculo
interior’ não leva em consideração a peculiar natureza sem artigo da expressão em 9:2
nem considera o uso desta palavra em 9:1, 24. Sua explicação de 9:2 sobre a dependên­
cia de uma 14Vorlage” na descrição do tabernáculo, é um tanto insatisfatória. O próprio
Koester parece preferir a sugestão de J. Moffatt, A Criticai and Exegetical Commentary on
the Epistle to the Hebrews (Nova Iorque, 1924), p. 133, que as palavras rjriç Àéycrai 7lyta
de 9:2 estariam melhor posicionadas se estivessem logo após 7) rpiárq. A partir disso,
Koester dá o próximo passo e sugere que as palavras são anotações “que posteriormen­
te incorporaram-se ao texto, ficando em lugar errado”. É verdade que há uma certa
confusão textual neste ponto, mas nenhum dos textos sugere uma posição diferente
para esta sentença. Também deve-se notar que, embora existam textos com artigos que
apresentam palavras tanto antes de !íy ta de 9:2 quanto de 'Xytcc 'Ayicav de 9:3, as provas
não são fortes o bastante para ambas.
•' O principio geral como aplicado à questão da ambiguidade na tradução é discutida por:
Robert G. Bratcher and Eugene A Nida, A Translaior's Handbcck on the Gospei of Mark (Leiden,
1961), p. 63, 69; Theophile J. Meek, “Old Testament Translation Principies”, JBL 81 (1962): 143-
A LUZ DE H EB R EU S

45; F. F. Bruce, T h e English Bible: A History o f Translations (Londres, 1961), p. 222.


:: Spicq, op. cit., II, 234, “Mais il designe nettement le remple dans ix, 8 ,1 2 ; x, 19; xiii,
11, et il est fréquemmenr I equivalent de lepov dans les LXX (cf. Lev. v, 15:1 Mac. iv, 36; xiv,
15). De fait, il est parallèle ici à n/ç aiajvrjç." Vale notar que Filo usa a frase exata (Leg. Alleg.
iii. 46), AetTOüpyoç tcúv ayicov, de Arão. Ele a usa, porém, no sentido de “coisas sagradas".
33 Koester, loc. cit., “Não é uma hendiade, mas expressa que o ofício de Cristo inclui
tanto o serviço no próprio santuário celestial (ra a y ia ) como a entrada passando pelas regi­
ões celestiais (>/ cwrçw/) = a ascensão!"
34Thomas Hewitt, T h e E p istle to the H eb rew s (Grand Rapids, 1960), p. 135.
:5 Moffat, op. cit., p. 104; “Mas o escritor usa ra ayia para outro lugar (981 1019 13")
além de 'o santuário’, uma tradução favorecida pelo contexto. Com ra ayia ele se refere,
como ocorre com freqüéncia na LXX, ao santuário em geral, sem qualquer referência à
distinção (cap. 93') entre o tabernáculo interno ou externo."
36 C. F. D. Moule, “Sancniary and Sacrifice in rhe Church of the New Testament”,
JT h S.N . S„ 1 (1950): 37.
27 F. F. Bruce, T h e E p istle to th e H ebrew s (Grand Rapids, 1964), p. 182.
38 Westcott, ob. cit., p. 244- Veja também Moffatt, ob. cit., p. 248 (‘il désigne ice
1’esemble de ce lieu saint distinction de I’une ou 1’autre de ses parties”).
39 Por exemplo, Êxodo 36:3; Levitico 4:6; 10:18; Número 3:47; Salmos 62:3 (Mt 63:2);
Ezequiel 45:18; Daniel 8:11, etc.
30 Supra, p. 64.
31 Hugh M ontefiore, A Commentary on the Epistle to the Hebrews (New York,
1964), p. 146.
33 P46 tem ayia aqui e ayia ayicov em 9:2. Este parece ser o resultado de alguma desor­
dem original do texto.
35 ,'r B D‘ K L leia-se ra ayta rcuv ayiosv. Isto pode ser uma assimilação do uso da LXX
desta frase que é sem artigo.
341] Kpomj (nctjvrf (como em 9:2, 6) reiere-se ao compartimento exterior. Veja Moffatt,
op. cit., p. 118; Westcott, p. 252.
35 Spicq, op cit., p. 253.
3” Bruce, The Epistle to the Hebrews, p. 192, n. 48: “Não está necessariamente implícito
que o santuário terrestre, como uma estrutura material, não mais existisse; o que está im­
plícito é que tendo Cristo passado ‘penetrado nos céus’ (4:14) para a presença de Deus, a
estrutura terrestre perdeu sua importância.”
37 Westcott, op. cit., p. 252. v
38 Bruce, T h e E pistle to the H ebrew s, p. 200. Veja também Montefiore, op. cit., p. 153.
'9 Veja Montefiore, op. cit. p. 160; Bruce, Th; Epistle to the Hebrews, p. 220; Spicq, op.
cit., p. 267; Westcott, op. cit., p. 271; F. W. Farrar, Tire Epistle to the Hebrews, Cambridge
Greek Testament (Cambridge, 1888), p. 123.
40 F. D . Nichol, ed., T h e S D A B ib le Commenta r r (Washington, DC, 1957), 7:456: “Ta
h a g ia pode, neste contexto, ser considerado como referindo-se particularmente ao santíssi­
mo, ou em sentido geral, ao santuário como um todo, como no cap. 8:2."
41 Westcott, op. cit., p. 440.
A p ê n d ic e B

H ebreu s 6:19
A n á l is e d e a l g u m a s s u p o s iç õ e s s o b r e k a t a p e t a s m a

G eorge E. R ic e

Comentaristas do livro de Hebreus são quase unânimes com relação a quatro


suposições sobre as quais baseiam suas interpretações do termo katapetasm a, “véu”,
em 6:19 (e também em outro lugar no livro). São as seguintes: (1) que tou kata-
petasm atos na frase eis to esõteron tou katapetasm atos em 6:19 é o segundo véu da
estrutura do tabernáculo, ou seja, o véu que separa o santo do santíssimo; (2) que
esõteron, “cT [lugar] interior”, n a mesma frase, refere-se ao tabernáculo interno ou
santíssimo; (3) que Deus, a presença do Pai dentro do santuário do AT, encontrava-
se apenas no santíssimo; e (4) que ta h a g ia (literalmente “os santos”), no capítulo
9, refere-se ao santíssimo.
•Em outras palavras, supõe-se que a linguagem do santuário e as cenas do livro
de Hebreus refletem o ritual do dia da expiação e do segundo compartimento. O
espaço que temos não nos permitirá uma análise de cada uma dessas quatro supo­
sições, mas somente as duas primeiras - aquelas que dizem respeito ao significado
dos termos Katapetasm a e esõteron em Hebreus 6:19. Se há dúvida quanto à valida­
de destas duas primeiras suposições, então a terceira e quarta também estão abertas
a questionamentos e requerem nova investigação.

K atapetasm a

O tto M ichel reflete o pensamento dos com entaristas ejn geral sobre s no
livro de Hebreus ao declarar que “quando Hebreus fala de ‘véu’... refere-se ao
véu diante do santíssim o,,em harm onia com um uso mais amplo da língua”.1
O s com entaristas apoiam essa posição apelando a Filo e/ou à LXX, conform e
em Levitico 16:2.:

Reimpresso sob a permissão da Andrews University Studies, Spring 1897, vol. 5, N° 1, p. 65-
71, com correções, do autor.
HEBREUS 6:19...

Filo (De Vit. Mes. 3.5), diz Marcus Dods, faz uma disrinção entre os dois véus
do santuário, identificando o primeiro véu com o termo kalumma e reservando ka-
tapetasma para o véu do interior. Dods, então, sugere que é assim que kalapetasm a
deve ser entendido no NT.3
Entretanto, B. F. Westcott aponta que Filo usa esses termos “para uma inter­
pretação espiritual”.4 Filo tem liberdade para fazer esta clara distinção do uso de ka­
lumma e kalapetasm a em sua alegoria, mas será que sua alegoria reflete a realidade?
Pergunta-se, com base em Flebreus 9:3, onde o véu interno do santuário terrestre
é chamado deuteron kalapetasm a, “segundo véu”? Se o adjetivo numérico deuteron
identifica este véu, é possível que a palavra kuiapetasma não se referisse ao véu inter­
no como Filo e Dods sugerem?
Com relação à LXX de Levitico 16:2, sua forma de expressar eis to hagion
esõteron tou katapetasmatos, e a de Hebreus 6 : 19, eis to esõteron tou katapetasmatos,
são de fato bem próximas. Isto levou James M offatt a concluir que Hebreus “usa a
linguagem do ritual de Levitico 162f”, indicando assim que o véu de Hebreus 6:19 *16
é o véu do interior.5 _______________ ____ ______________________________________
Porém, o contexto das duas passagens são completamente diferentes. Levitico
16 apresenta o dia da expiação - um dia de julgamento e acerto de contas. Hebreus
6:13-20 trata da aliança de Abraão e a dispensação de suas promessas aos seus
herdeiros. Devemos impor o contexto do dia da expiação de Levitico a Hebreus 6
na tentativa de identificar o véu de Hebreus 6:19? O fato de que o sumo sacerdote
terrestre atravessou o véu interno durante o ritual do dia da expiação é razão sufi­
ciente para entender o termo kalapetasm a em Hebreus 6:19 como o véu interno?
Ou deveriamos permitir que eis to esõteron tou katapetasm atos permaneça dentro do
seu próprio contexto, 'livre da influência de Levitico 16?
Considerando em Filo a distinção entre o véu interno (kalapetasm a) e o
externo (kalumma) do santuário, Westcott admite que esta “distinção entre os
dois não está estTitamente preservada na LXX”.6 O problema na observação de
W estcott é que ele deixa de informar aos leitores até que ponto esta distinção não
é preservada na LXX.
Outros comentaristas reconhecem haver uma discrepância entre o uso de ka-
tapetasma na LXX e a tese geralmente aceita de que quando esta palavra é lida,
devemos entendê-la como o véu interno. Hebert -Braun, por exemplo, usa o ter­
mo “meist" neste sentido quando comenta sobre o tou katapetasm atos em Hebreus
6:19: Na LXX, ele diz, este termo é usado “principalmente [meist] para o véu entre
o santo e o santo dos santos”.7Se com “meist” Braun quis dizer que kalapetasm a é
a palavra que é quase sempre escolhida para o véu interno em oposição a qualquer
outra palavra, não há objeção quanto sua afirmação. Mas se ele pretende dizer que
kalapetasma é usada para o véu interno e quase nunca para o véu do pátio, nem para
A LUZ DE HEBREUS

o primeiro véu do santuário, então sua afirmação deve ser seriamente questionada.
Infelizmente, Braun não esclarece o que quer dizer com “meist”.
R. C. H Lenski, por outro lado, não deixa alternativa ao declarar: “O
Kazanexaapa zov vaiov é a cortina interna ou véu que se encontra entre o santo e
o santo dos santos, como os leitores, sendo hebreus, bem sabiam... Mas o termo
normalmente usado para cortina externa era Kod.oppa e apenas ocasionalmente usa­
va-se o outro termo.”6
Devido ao fato de que o tabem áculo no deserto forma a base para a discus­
são do santuário no livro de Hebreus, uma análise de kalapesmct e kalumma na
LXX se mostrará interessante. Vendo as referências a essas duas palavras em Ha-
tch e Redpath, tem-se uma grande surpresa. Das seis referências ao véu do pátio,
katapetasm a é usada cinco vezes5 e kalumma, uma vez.10Em todas as 11 referências
ao primeiro véu do santuário, katapetasm a é usada seis vezes,11kalumma katapetas­
ma, uma vez,12 katakalumma, duas,13 kalumma, uma,we epipastron, uma vez.15 Das
25 referências ao véu interno, katapetasm a é usada 23 vezes,16to katakalumma tou
katapetasm atos, uma vez17 e katakalumma, uma vez.18
Certamente, katapetasm a é usada quase que exclusivamente para o véu interno
(23 das 25 vezes). Mas, o mesmo pode ser dito com relação ao véu do pátio (cinco
de seisvezes)! Katapetasm a é também a escolha da maioria para o primeiro véu do
santuário (seis das onze vezes).
•Em outras palavras, das 42 referências na LXX aos três véus do santuário no
deserto, katapetasm a é usada 34 vezes. Colocando de outra forma: em apenas oito
vezes entre as 42 referências aos véus do santuário katapetasma não é usada sozinha.
Além do mais, em dois outros casos katapetasma é combinada com kalumma, restan­
do apenas seis casos de 42 onde a palavra não aparece.
Assim, sem dúvida alguma, katapetasm a é a favorita, não só para véu interno,
mas para o primeiro véu e também para o véu do pátio. E, em vista deste uso de
katapetasm a na LXX, somos forçados a concluir que suposições como a de Lenski
devem ser examinadas. Certamente, os leitores hebreus da LXX estavam cientes de
que katapetasm a era usado predominantemente para todos os três véus, e é indubi­
tavelmente por esta mesma razão que Hebreus 9:3 identifica a que katapetasm a está
se referindo por meio do uso do adjetivo numérico deuteron.

To E s õ t e r o n
Como analisaremos a seguir a suposição de que uma analogia com Levitico
16:2 to esõteron em Hebreus 6:19 deve referir-se ao santuário interno, é importante
notar que a omissão de to hagion da frase contida em Hebreus cria uma diferente
sintaxe do que é encontrado em Levitico 16:2. Em eis to esõteron tou katapetasmatos
em Levitico 16:2, to hagion é um substantivo adjetivo e objeto da preposição eis. A
HEBREUS 6:19...

palavra esõteron parece ser uma preposição imprópria seguida por um genitivo de
lugar, como é também verdade em Levitico 16:12,15. Em eis to esõteron tou kata-
petasm atos em Hebreus 6:19, entretanto, to esõteron torna-se um substantivo19, e,
assim, o objeto da preposição eis; e a frase tou katapetasm atos é, novamente, um
genitivo de lugar.
Paul Ellingworth e Eugene A. Nida dizem que “relicário” ou “santuário” deve
ser entendido com o substantivo esõteron, tendo então “santuário interno” ou “san­
tíssimo”.20 Porém, isto é válido somente se consideramos que katapetasm a identifi­
ca o segundo véu. Entretanto, vimos que katapetasm a é usada predominantemente
para todos os três véus. Então, o esõteron por trás do véu poderia, da mesma forma,
ser tanto o primeiro compartimento do santuário como o “santuário interno”,
-visto que não há nada no contexto de Hebreus 6 que identifique diretamente qual
véu está sendo citado.
A forma comparativa de esõteron em Hebreus 6:19 também não deveria ser en­
tendida como indicadora do “santuário interno". As formas comparativas no grego,
nessa época, não eram amplamente entendidas. Isso pode ser visto em Levitico em
16:2, onde o contettü'parada ~fra.se eis fírhagiõn esõrerontõxrkaiapeiasmátos identifica
to hagion como a sala onde se encontrava a arca da aliança, com tou katapetasmatos
sendo, então, o segundo véu localizado antes da arca. Esõteron aqui é entendido
como o simples eso e é traduzida como “interior.” O contexto proíbe qualquer outra
interpretação da palavra esoteron. Da mesma forma, em Hebreus 6:19, esõteron pode
ser entendida como simplesmente “interior”. A forma comparativa não deveria ser
usada de forma abusiva na tentativa de identificar que compartimento encontrava-se
atrás do véu.21

O CONTEXTO DE H EBREU S 6 : 1 9

G. W. Buchanan faz a seguinte declaração, um tanto difícil de se entender:

A LXX tem to hagion esõteron, “o lugar Santíssimo’’. O autor [de Hebreus) ou usou
um texto diferente ou preferiu omitir esta palavra, mas o contexto requer que o lugar
seja entendido como o santo dos santos. A passagem da LXX refere-se à condura de
Arão no dia da expiação. A razão de o autor citar esta passagem é dar continuidade
à sua discussão anterior. A esperança pela qual outras gerações tinham aguardado o
cumprimento, uma .vez.que a promessa foi feira primeiramente a Abraão, poderia ser
cumprida para a geração do autor.22

Buchanan não nos informa como o dia da expiação de Levitico 16 relacio­


na-se com o contexto de Hebreus 6 e o cumprimento da aliança feita a Abraão.
Ele também não indica como ou por que o contexto de Hebreus 6 requer que
consideremos o santo dos santos, o lugar claramente indicado dentro do contexto
de Levitico 16. Parece que Buchanan está dizendo que o contexto de Levitico 16
A LU Z DE HEBREUS

é a base para nosso entendimento de Hebreus 6:19. Mas, Hebreus 6:19 tem seu
próprio contexto, e devemos permitir que o termo “véu” seja interpretado dentro
desse contexto específico.
Em Levitico 16:2, o contexto identifica katapetasm a como o segundo véu e
to hagion como o “santuário interno”. Também, em Hebreus 9:3 o contexto geral
e o uso do adjetivo numérico deuteron identifica katapetasm a com o o segundo
véu. Mas o contexto de Levitico 16 e Hebreus 9 não existe em Hebreus 6. O fato
de o termo katapetasm a aparecer em Hebreus 6:19 não nos permite presumir que
signifique o segundo véu, pois vimos que esta palavra é usada livremente para os
três véus do santuário.
Então, o contexto de 6:19 nos ajuda de alguma forma a identificar a pala­
vra katap etasm a? Hebreus 6:13-20 trata das dispensações das bênçãos da aliança
feita com A braão e seus filhos: (1) Deus jurou por si mesmo que cum priría as
suas promessas (v. 13-16). (2) Para convencer os herdeiros da aliança que Ele
cumpriría sua palavra, Deus fez um juram ento (v. 17). (3) Então, por estas
duas coisas imutáveis somos fortem ente encorajados a reter a esperança (cum-
- prim entcrdas promessas-de Deus) posta diante de nós (v: 18).-(4) A esperança
entra “além do véu”, onde Jesus entrou por nós como sumo sacerdote segundo
a ordem de M elquisedeque (v. 19-20).
Este contexto não trata do santuário em si - ou seja, seus compartimentos,
utensílios, sacrifícios, etc. - nem contém qualquer referência ao dia da expiação,
como no contexto de Levitico 16:2 e Hebreus 9:3. Em 6.-19, katapetasma é simples­
mente inserido numa argumentação em tom o da aliança feita com Abraão e as dis­
pensações das bênçãos daquela aliança. Não há nada aqui que identificaria o véu
envquestão, mas katapetasma é introduzido simplesmente para dizer onde Jesus está
ministrando - o lugar onde a esperança do povo da aliança está centrado e o lugar
de onde as bênçãos da aliança são dispensadas. Dentro de um contexto mais amplo
da argumentação de todo o livro de Hebreus, poderia parecer que katapetasm a está
sendo usada aqui metaforicamente para o santuário, de onde as bênçãos da aliança
abraâmica são dispensadas.

C o n clu sã o

Embora os comentaristas sejam praticamente unânimes em dizer que kata-


petasm a em Hebreus 6:19 é o “segundo véu” e que esõteron é o "santuário inte­
rior”, essas suposições são postas em xeque pelos seguintes fatos: (1) Na LXX, a
palavra katapetasm a é usada 34 das 42 vezes para todos os três véus do santuário;
(2) esõteron , embora seja um substantivo em Hebreus 6:19, não pode ser tradu­
zido com o “santuário interior” porque katapetasm a não pode ser identificada
como o segundo véu; (3) o contexto de Hebreus 6:19 não permite a identificação
HEBREUS 6:19...

do segundo véu, com o em Levitico 16:2 e Hebreus 9:3; (4) katapetasm a, dentro do
contexto de Hebreus 6:19 e do contexto mais amplo de todo o livro de Hebreus,
pode ser entendido metaforicamente como o santuário no Céu, ao qual Jesus
adentrou com o nosso precursor, onde a nossa esperança tem acesso, e de onde
Jesus dispensa as bênçãos da aliança abraâmica.
Finalmente, pelo fato de a validade das suposições com relação a katapetasma e
esõteron poder ser scriamente contestada, as suposições sobre Deus e a presença do Pai
no interior do santuário e o significado de ta hagia também devem ser contestadas.

N otas

— 1 O tto Michel, “Der Brief an die Hebraer", em Kritisch-Exegetischer Kommentar uber


das Neue Testament (Gõttingen, 1975), p. 254-
I Comp. George Wesley Buchanan, To the Hebrems, AB36 (Garden City, NY, 1985), p.
116; Michel, p. 253-54; James Moffatt, A Criticai and Exegetical Commentary on the Epistle to
■the Hebreuis, ICC (Edinburgh, 1979), p. 89; Brooke Foss Westcott, The Epistle to the Hebretvs
IG rand Rapids. MI. 1970). p. 163.___________________________ ________________________ _—
5 Marcus Dods, “The Epistle to the Hebrews,” em The Expositor j Greek Testament, ed.
W. Robertson Nicoll (Grand Rapids, 1970), p. 305.
4 Westcott, p. 163.
5 Moffatt, p. 89.
6 Westcott, p. 163.
7 Herbert Braun “An die Hebraer”, em Handbuch zum Neuen Testament, 14 (Tübingen,
1984): 191. No original em alemão lê-se: "In LXX unübertragen, rneist für den Vorhang
zwischen dem Heligen und dem Allerheiligsten."
8 R.C.H. Lenski, The InC srpretation o f th e E p istle to th e H e b r e u s a n d o f the E p istle o f l a m e s
(Columbus, OH, 1938), p. 205-6. Lenski aqui usa a escrita dos evangelhos sinópticos (Mt
25:51; Mc 15:38; Lc 23:45) no comentário de Hebreus 6:19.
9 Êxodo 37:26; 39:19; Números 3:26; 4:32; 3 Reis 6:36 (1 Reis 6:36).
10 Êxodo 27:16
II Êxodo 26:37; 35:5 (36:37); 39:19 (40); Levitico 21:23; Números 3:10; 18:7.
12 Êxodo 40:5.
15 Números 3:25; 4:31.
14 Números 4:25.
13 Êxodo 26:36.
18 Êxodo 26:31, 33 (três vezes), 34, 35; 27:21; 30:6; 35:12; 37:3 (36:35); 38:18
(36:35); 39:4 (38:27); 40:3, 22, 26; Levitico 4:6, 17; 16:2, 12, 15; 24:3; Números 4:5; 2
Crônicas 3:14.
17 Êxodo 40:21.
18 Números 3:31.
A LUZ DE HEBREUS

19 Comp. Braun, p. 191.


20 Paul Ellingworth and Eugene A. Nida, A T ran slator's H a n d b o o k o n the Letter to the
H ebretvs (Nova Iorque, 1983), p. 131.
21 A. T. Robertson observa que o significado original dos adjetivos comparativos que
foram construidos em advérbios “não era a comparação de maior ou menor, nem uma
questão de posição, mas sim de contraste e dualidade". “Assim, nporepoç (do advérbio Jtpo)
não é ‘mais adiante’, mas ‘adiante’ em oposição a uorepoç, ‘para trás'... Então E ç o n e p o ç é
‘fora,’e não ‘mais para fora.'” (A Grammar of the Greek New Testament, p. 662) A noção
de posição surgiu posteriormente (p. 663.). O contexto para esõteron em Levitico 16:2 e
Hebreus 6:19 parece favorecer a ênfase original de contraste. Entretanto, o substantivo
esõteron (que é construído com o advérbio esõ) em Hebreus 6 :19 deveria simplesmente ser
entendido como falando daquilo na qual está “no interior” (não como uma questão de
posição - “santuário interno”) em oposição a esõteros, que está “fora”.
~ Buchanan, p. 116.
I ndex

Acesso, livre, tema, 194, 202-204


Antitupos (“antítipo"), 55, 128-129, 139-145
“Além do véu", um tema, 5-6, 68-69, 104-107, 203-204, 223-229

B
Ballenger, Albion F., argumento “além do véu”, 104-107

Cristo, ministério celestial de, 201-202


_ duas fases,_a_q.U£StãQ_dasi 10,49-50, 101, 1 9 3 ,2 0 2 ,2 0 6
não mencionado em Hebreus, 194-195, 207-208
Contaminação/purificação, tema da, 21, 75-99
argumentação de, central em Hebreus, 78, 83-84
ênfase teológica na, 84-89 731
vocabulário de, 79-83

D
Descrença/infidelidade, um tema, 17-19
“Destra de Deus, à", 4, 52-53, 202

Expiação, dia da, alusões, debate sobre o, 62-64, 101-115, 194, 204-206
controvérsia sobre o, 104
cumprimento na cruz, 6-9, 93, 101-103 \
duplo cumprimento, 110-111
cenas do, 6
interpretação do, 101-103,110-113
passagens questionáveis, 109-110
Exegese de algumas passagens, 49-73
Hebreus 6:13-20, 6 ,4 4 ,6 8 - 6 9
8:1-6, 52-57
9:1-8, 4-8, 4 2 4 3 , 50, 57-59, 108, 109, 206-207
ÍNDEX

9:11-14, 4 3 4 4 ,6 0 -6 4
9:23-24, 64-65, 89-93, 108
10:14, 108-109
10:19-22, 4 4 4 5 ,6 6 -6 7

Hagia, ta (“os santos”), 5, 53, 57-60, 69-70


Hebreus, Epístola aos, argumentação da, 75-77, 78, 83-84
interpretação de, para os dias de hoje, 195-198
linguagem de, 34, 3348
mensagem de, 197-198
natureza de, 13, 24-26
esboço de, 22-23
peregrinação em, tema da, 13, 24
propósito de, 2-3, 15-19, 193-194
_ problema abordado em,______ 17 - 1 9 ______________________
destinatários de, 15-17
importância hoje, 26-30
santuário, teologia adventista do, e, 84-89
contexto histórico de, 1-2, 17-19, 196-198
tipologia de, 117-180,181-191
valor de, doutrinai e pessoal, 9-11, 26-30, 201
Hupodeigma (“cópia”), 38, 54-55, 198-199

iJL
Interpretação, questão da, 33-37
metafórica, argumentação para, 3740
crítica da, 4045
realistica (literal), 4 5 4 6 , 132

J
Julgamento, na cruz, debate sobre o, 9
futuro. 207-208
investigativo, 76,91

K
Katapetasm a (“véu”), 4445
declarações concernetes á sua interpretação, 223-229
Ballengen sua argumentação com respeito a, 102, 104-107
A LU Z DE HEBREUS

M ãsãk (“tela”), 106


Melquisedeque, 21, 27-28, 181-182, 183-186
Ministério, sacerdotal, de Cristo, 201-202
duas fases, a questão das, 10, 49-50, 101
não mencionado em Hebreus, 207-208

P ara b olê (“parábola”), 9, 59, 199


P ãrõkel (“cortina”), 105-106
Perfeição, em Hebreus, 77, 93-96
Filo, Hebreus ensina conceitos de, 33-48, 130-132

“Superior”, tema-chave,___ 26, 112-113, 166


Sangue, argumentação do, 81-82, 93, 102, 111-113, 166, 194
Santuário, celestial, purificação do, e Hebreus 9:23, 64-65, 89-91
contrastado com o terrestre, 3-5, 42-43, 206-207
correspondência com o terrestre, 3-4, 181-191
a cruz purificou, 7-8, 91-92
idéias, de Hebreus, 9-10, 154-167, 198-202
interpretação, questão da, 33-48
Levítico, não uma barreira a Deus, 186-189
limitado, como uma sombra, 181-182, 188-Í89
realidade do, 3, 4 5 4 6 , 134, 198-201
teologia do, adventista, e Hebreus, 84-89, 193-211
Skênê (“tenda”), 53, 58-60, 164, 198
Skia (“sombra”), 38, 53-55, 140, 141, 159, 198-199
Sunaidêsis (“consciência”), 87, 89-90, 92, 95

T
Tahnit (padrão/ modelo), 55, 132, 145-154
Tempo, da obra purificadora de Cristo, 76, 91-93, 207-208
Tupos (“tipo”), 55-56, 123, 127-128, 132-133, 139-154
Dois mil e trezentos dias/anos, profecia dos, 49
Tipologia, antitética ou de correspondência, em Hebreus, 154-168
bíblica, natureza da, 117-128
em Hebreus, 128-145
I n d ex

importância da, respondendo a certas acusações, 154-168


interesse e tendências na, 120-123
limitações da, 181-189
métodos de abordagem, 122-123
base do AT para a, em Hebreus, 145-154
estruturas da, 118,123-126
horizontal, 133-136
vertical, 137-139

Véu, “sua carne”, debate sobre, 40, 4 4 4 5 , 66-68


segundo, argumentação de Ballenger, 104-107

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