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BÍBLICO
MOODY
Editado por
Charles F. Pfeiffer
Velho Testamento
Everett F. Harrison
Novo Testamento
Volume 5
Romanos à Apocalipse
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Rua Kansas, 770 - Brooklin • 04558-002 • São Paulo - SP
2001
Título em inglês:
The Wycliffe Bible Commentary
Copyright, 1962. by the Moody Bible Institute ofChicago
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Rua Kansas, 770 - Brooklin - 04558-002 - São Paulo - SP
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PREFÂCIO
Este volume (número 5 de uma série de 5), do Comentário Bíblico Moody, inclui
Romanos à Apocalipse. Foi traduzido do Wycliffe Bible Comentary, publicado por
Moody Press, edição com copyright de 1962.
O Wycliffe Bible Comentary é um comentário completamente novo, abrangendo
a Bfblia inteira, escrito e editado por um bom número de eruditos estudiosos, represen-
tando uma ampla faixa do Cristianismo Protestante Americano. Este comentário, tem
como propósito, de maneira breve, tratar o texto completo, tanto do Velho como do
Novo Testamentos, frase por frase. Além disso, resumos das principais divisões de cada
livro da Bíblia aparecem no texto com as divisões principais do esboço do livro. As-
sim, o leitor recebe tanto uma vista panorâmica como uma discussão detalhada do
trecho das Escrituras ao mesmo tempo.
Nos comentários sobre os diversos livros, os autores apresentam o resultado do
seu cuidadoso estudo pessoal da Bfblia; mas também apresentam algumas das melho-
res obras de comentários dos séculos passados, e o conhecimento dos estudiosos con-
temporâneos. Enquanto sopram na obra inteira um espírito novo, ao mesmo tempo
demonstram sua crença absoluta na inspiração divina das Sagradas Escrituras.
Mesmo que o texto bíblico usado na tradução deste comentário seja o da Socie-
dade Bfblíca do Brasil, Edição Revista e Atualizada no Brasil, diversos escritores co-
mentaristas fizeram suas próprias traduções dos livros com que trabalharam. Vez ou
outra eles usam frases de sua própria tradução no texto do comentário. Para facilitar
as coisas para o leitor, toda frase bfblíca foi colocada em tipo negrito, como também
as referências. Desse modo os números dos versículos são facilmente distintos dos
pontos do esboço. Em casos que o escritor preferiu usar uma frase de sua própria
versão, não da Sociedade Bíblica do Brasil, a frase está identificada. Enquanto os
comentários dos diversos livros enfatizam a interpretação das palavras nas Escrituras,
cada um vem acompanhado de uma breve discussão introdutória a respeito do autor,
data, situação histórica, e coisas desta natureza.
O propósito básico deste comentário é determinar o sentido do texto das Escri-
turas. Desse modo, nem é um tratamento devocional nem tecnicamente exegético.
Esforça-se para apresentar a mensagem bíblica de tal maneira que o estudante da Bí-
blia possa achar ampla ajuda em suas páginas.
Os contribuintes do Wycliffe Bible Comentary representam mais de quinze de-
nominações. Entre os quarenta e oito escritores, vinte e cinco são professores em es-
colas de educação cristã de nível pós universitário. Com tal variedade de formação,
espera-se que os contribuintes difiram entre si na interpretação de certas porções.
Os redatores não fizeram nenhum esforço para fazer com que cada uma das posições
conformasse com as outras e todas entre si de modo absoluto; aos escritores foi dada
liberdade de expressão em tais casos. O leitor descobrirá, então, algumas diferenças
de opinião em lugares tais como as passagens paralelas dos evangelhos e nos livros de
Reis e Crônicas.
Os contribuintes de Romanos à Apocalipse são:
Romanos: A. Berkeley Mickelsen, Bacharel em Divindade, Doutor em Filoso-
fia, Professor de Bfblia e Teologia, Escola Graduada, Colégio Wheaton, Wheaton,
Illinois, Estados Unidos da América.
I Coríntios: S. Lewis Johnson, Jr., Doutor em Teologia, Professor de Letras e
Exegese do Novo Testamento, Seminário Teológico de Dallas, Dallas, Texas, Estados
iii
Unidos da América.
II Coríntios: Wick Broomall, Mestre em Teologia, Pastor, Igreja Presbiteriana de
Westminster, Augusta, Georgia, Estados Unidos da América.
Gálatas: Everett F. Harrison, Doutor em Teologia, Doutor em Filosofia, Profes-
sor do Novo Testamento no Seminário Fuller, Pasadena, Califórnia, Estados Unidos
da América.
Efésios: Alfred Martin, Doutor em Teologia, Deão de Faculdade, Professor de
Síntese do Velho Testamento, Instituto Bíblico Moody, Chicago, lllinois, Estados Uni-
dos da América.
Filipenses: Robert H. Mounce, Mestre em Teologia, Doutor em Filosofia, Profes-
sor Associado de Letras da Bfblia e Grego, Colégio e Seminário Bethel, St. Paul,
Minneapolis, Estados Unidos da América.
Colossenses: E. Earle Ellis, Bacharel em Divindade, Doutor em Filosofia, con-
ferencista e escritor do Novo Testamento, atualmente empenhado na pesquisa e re-
dação do idioma Alemão.
I e II Tessalonicenses: David A. Hubbard, Mestre em Teologia, Doutor em Fi-
losofia, Presidente da Divisão de Estudos Bíblicos e Filosofla.Tolégío Westmont, Santa
Barbara, Califórnia, Estados Unidos da América.
I e II Timóteo, Tito: Wilbur B. Wallis, Mestre de Teologia Sistemática, Doutor em
Filosofia, Professor de Linguagem e Letras do Novo Testamento, Colégio e Seminá-
rio Teológico de Covenant.
Filemon: E. Earle Ellis (veja Colossenses).
Hebreus: Robert W. Ross, candidato à Doutor em Filosofia, Chefe Interino do
Departamento de História do Colégio Northwestern, Minneapolis, Minn., Estados
Unidos da América.
Tiago: Walter W. Wessel, Doutor em Filosofia, Professor Associado de Letras
da Bíblia, Colégio e Seminário Teológico Bethel, St. Paul, Minneapolis, Estados Unidos
da América.
I e II Pedro: Stephen W. Paine, Doutor em Filosofia, Presidente e Professor de
Grego no Colégio de Houghton, Houghton, N.Y., Estados Unidos da América.
I, Il, III João: Charles c: Ryrie, Doutor em Teologia, Doutor em Filosofia, Pre-
sidente do Departamento de Teologia Sistemática, Deão da Escola Graduada do Semi-
nário Teológico de Dallas, Dallas, Texas, Estados Unidos da América.
Judas: David H. Wallace, Mestre em Teologia, Doutor em Filosofia, Professor
de Teologia Bfblica, Seminário Teológico Batista da Califórnia, Covina, Califórnia, Es-
tados Unidos da América.
Apocalipse: Wilbur M. Smith, Doutor em Divindade, Professor da Bíblia Inglesa,
Seminário Teológico de Fuller, Pasadena, Califórnia, Estados Unidos da América.
iv
I il
II I "
Abreviações
a. Livros da Bíblia.
1. V.T. - Gn. ~x. Lv. Nm. Dt. ls. Jz. Rt. I Sm. 11 Sm. I Rs. 11 Rs. I CIo 11 CIo Ed
Ne. Et. lá SI. Pv. Ec. Ct. Is. lI. Lm. Ez. Dn. Os. n. Am. Ob. ln. Mq. Na. Hc.
Sf. Ag. Zc. MI.
2. N.T. - Mt. Mc. Lc. lo. At. Rm. I Co. 11 Co. GI. Ef. Fp. CI. I Ts. 11 Ts. I Tm.
11 Tm. ri, Fm. Hb. Tg. I Pe. 11 Pe. I lo. 11 lo. III lo. ld. Ap.
b. Apócrifo.
I Esd, (I Esdras); 11 Esd. (11 Esdras); Tob. (Tobias); Livro de Sabedoria; Eclesiás-
tico; Bel (Bel e o Dragão); I Mac. (I Macabeus); 11 Mac. (11 Macabeus).
v
JewEnc Jewish Encyclopaedia
JBL Joumal ofBiblical Literature
JBR Joumal ofBible and Religion
JFB Jamieson, Fausset, and Brown, A Commentary Criticai. Exper-
imental and Practical on the Old and New Testaments
JNES Joumal ofNear Eastem Studies
Jos Josephus' Antiquities oftheJews, eta!.
JPS Jewish Publication Society Version ofthe Old Testament
JQR Jewish Quarterly Review
JTS Joumal of Theological Studies
KB Koehler Baumgartner, Lexicon in Veteris
KD Keil and Delitzsch, Commentary on the OT
LSJ Liddell, Scott, Jones, Greek-English Lexicon
LXX Septuaginta
MM Moulton and Milligan, The Vocabulary of the Greek Testament
MNT Moffatt's New Testament Commentary
MSt McClintock and Strong, Cyclopaedia of Biblical, Theological,
and Ecclesiastical Literature
MT Masoretic Text
Nestle Nestle (ed.) Novum Testamentum Graece
NovTest Novum Testamentum
NTS New Testament Studies
Pesh Peshitta (Syriac)
PTR Princeton Theological Review
RB Revue Biblique
RSV Revised Standard Version
RTWB Richardson 's Theological Word Book
SBK Kommentar zum Neuen Testament aus Talmud und Midrasch
(Strack and Billerbeck)
SHERK The New SchaffHerzog Encyclopedia of Religious Knowledge
ThT Theology Today
Trench Trench 's Synonyms of the New Testament
TWNT Theologisches wõrterbucn zum Neuen Testament (Kittel)
VT Vetus Testamentum
Vulg Vulgate Version
Wett Wettstein's Novum Testamentum Graecum
WC Westminster Commentaries
WH Westcott and Hort, Text ofthe Greek NT
WTJ Westminster Theological Journal
ZAW Zeitschrift für die alttestamentliche Wissenschaft
ZNW Zeitschrift für die neutestamentliche Wissenschaft
d. Outros.
a.C. Antes de Cristo
A.D. anno domini (no ano de nosso Senhor Jesus Cristo)
art. artigo
c. acerca
capo capítulo
vi
il
I' I
I
I
com. Comentário
cons. consulte
e. g. exempli gratia (por exemplo)
Gr. Grego
Heb. Hebraico
i. e. id est (isto é)
marg. marginal
MS., MSS. manuscrito, manuscritos
pág. página
pl. plural
seco século
sego seguinte
sing. singular
vii
CONTEÚDO
Prefácio iíí
Romanos 1
I Coríntios 65
11 Coríntios 110
Gálatas 139
Efésíos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 161
Filipenses 184
Colossenses 202
I Tessalonicenses 221
11 Tessalonicenses 239
I Timóteo 248
11 Timóteo 268
Tito 280
Filemom . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 285
Hebreus 288
Tiago 325
I Pedro 340
11 Pedro 356
I João 370
11 João 391
111 João 395
Judas 398
Apocalipse. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 403
A EPISTOLA AOS ROMANOS
INTRODUÇÃO
Destinatários Originais. Lucra-se mais judeu - como Deus lidou com eles
na leitura das epístolas do Novo Testa- no passado, lida com eles no presente e
mento obtendo-se o maior número de lidará com eles no futuro. Mas os leitores
dados possíveis, sobre as pessoas que são tratados de um modo que não deixa
foram os primeiros destinatários dessas dúvidas, quanto ao fato de serem pre-
obras. Isto é mais do que certo quanto dominantemente gentios (veja 1:5,6; 1:
à carta aos romanos. Embora a maior 13; 11: 13; 15: 15, 16). Havia provavel-
parte dos primeiros onze capítulos do mente cristãos judeus na igreja, mas cons-
livro pareça ser bastante universal, nos tituíam a minoria.
últimos cinco capítulos, o leitor toma Parece-nos pertinente perguntar como
conhecimento de uma comunidade em a igreja em Roma foi organizada. Infeliz-
particular com necessidades particulares. mente não existem documentos do pri-
Percebemos então que os ensinamentos meiro século que nos forneçam a respos-
contidos nos onze capítulos, embora ta. Algumas sugestões têm sido apresenta-
universais em sua aparência, contêm das. Já se afirmou que "estrangeiros em
uma certa ênfase que Paulo achou espe- Roma, judeus e prosélitos", que teste-
cialmente necessária dar aos crentes em munharam a vinda do Espírito Santo
Roma (uma base justa para o julgamento (Atos 2: 10) retomaram à cidade, e
daqueles que não conhecem a lei judia, o organizaram ali um núcleo de crentes.
relacionamento dos gentios com Abraão Entretanto, os cristãos, depois do Pente-
e os patriarcas, e outros). costes, não se sentiram imediatamente
O apóstolo endereça sua carta aos diferentes dos judeus, nem começaram a
crentes - "A todos os amados de Deus, organizar igrejas locais separadas das
que estais em Roma, chamados para sinagogas. Daí, o começo de uma igreja
serdes santos" (1: 7). Em suas cartas às cristã em Roma, logo depois do Pentecos-
igrejas Paulo costumava colocar a palavra te, não parece provável. Outros crêem
"igreja" na saudação (cons. I Co. 1: 2; que a igreja em Roma foi organizada
11 Co. 1: I;Gl.l:2;ITs.l: 1;11 TS.l: 1) por missionários da Antioquia (cons.
ou a palavra "santo" como título daque- Hans Lietzmann, The Beginnings of the
les a quem se dirigia (Ef. 1: 1; Fp. 1: 1; Christian Church, irado Bertram Lee
Cl. I: 2). A saudação aqui é uma varia- Woolf, págs. 111, 133, 199). Uma vez
ção do segundo dos dois procedimentos. que Antioquia era um centro missionário,
Em Romanos ela não subentende uma parece certamen te plausível. Mas a
organização eclesiástica fortemente unida, melhor das sugestões parece que diz
e o capítulo 16 dá um quadro de peque- que a igreja foi organizada e cresceu
nos grupos de crentes em vez de um só com os convertidos por Paulo, Estêvão
grupo grande. e outros apóstolos que viajaram à cidade
Esses crentes eram predominantemen- imperial a negócios, ou para se estabele-
te judeus ou gentios? A resposta deve ser cerem lá.
dada à luz do que Romanos declara expli- Quando Pedro e Paulo chegaram a
citamente. É verdade que uma grande par- Roma? Quando se comparam as decla-
te do conteúdo se relaciona com o povo rações dos Pais da Igreja primitiva com as
-1-
evidências do Novo Testamento, parece nos lugares onde pessoalmente rrums-
improvável que algum dos apóstolos trara (cons. I Co., II Co., I e II Ts., Fp.,
fosse a Roma antes do ano 60 AD., isto Ef. [Éfeso e Ásia Menor] e Gl.). Mas em
é, diversos anos depois de escrita a carta Romanos e Colossenses ele cita nomes
aos romanos. Se Pedro estivesse em Roma de pessoas nas saudações. Nos lugares
quando Paulo escreveu esta epístola, onde não estivera, ele poderia incluir
Paulo certamente o teria saudado. O todos os conhecidos, a fim de estabe-
desejo que Paulo tinha de há muito de lecer contato. Ou se fizesse uma sele-
pregar em Roma (Rm. 1: 11-13) e sua ção, o propósito seria evidente, de modo
política de não edificar sobre os fun- que ninguém se sentisse negligenciado.
damentos lançados por outro homem São cinco as doxologias ou bênçãos
(15: 20) toma improvável, que Pedro - 15: 13; 15: 33; 16: 20; 16: 24; 16: 25-
fosse a Roma antes da ocasião da carta 27. Em cada caso, ou Deus ou Cristo
aos romanos. são invocados para realizarem algo,
Autoria e Data. É quase universal para ficarem com os leitores, ou para
a concordância que Paulo foi o autor fornecerem-lhes graça. A primeira (15:
desta epístola. Isto se baseia nas decla- 13) conclui a seção com uma explanação
rações dos capítulos 1 e 15, no estilo de Paulo, a respeito da ética cristã, e
e argumentação proposta nos capítulos a necessidade de os cristãos viverem em
intermediários, e no testamento de todos harmonia e em entendimento mútuo.
aqueles de antigamente, que citam a A segunda (15: 33) termina a seção, na
qual Paulo fala de seus planos de viagem
epístola.
e de sua intenção de levar uma coleta a
As únicas dúvidas quanto à autoria Jerusalém, e pede orações em favor
relacionam-se com o capítulo 16 e as dessa coleta e sua ida a Roma. A ter-
doxo1ogias. Em 16: 3-16 há uma longa ceira (16: 20) segue-se a uma advertên-
lista de pessoas às quais foram enviadas cia contra aqueles cujas atitudes e pala-
saudações. Priscila e Áqüila foram men- vras são contrárias 'aquilo que foi ensi-
cionados em 16: 3·5, mas Atos 18: 18, nado. Paulo assegura a seus leitores que
19 declara que Paulo os deixou em Deus, que dá a paz, logo esmagará Sata-
Éfeso. Por causa disso, alguns concluí- nás sob os seus pés. Enquanto isso, Paulo
ram que Romanos 16, que contém expressa seu mais profundo desejo,
esses nomes, foi originalmente endere- que a graça do Senhor Jesus possa lhes
çado por Paulo a Éfeso. Epéneto foi pertencer. A quarta (16: 24), não tendo
mencionado em 16: 5, onde é chamado bons manuscritos como prova para sus-
de um dos primeiros frutos da Ásia (isto tentá-la, foi omitida em todas as versões
é, da Ásia Menor). Disto também dá modernas com base em um texto grego
para concluir que esta parte foi escrita melhor. A úl tima (16: 25 -27) é a mais
para Éfeso. Mas as evidências não exigem interessante de todas, porque se encon-
tal conclusão. Priscila e Áqüila viajavam tra em diversos lugares nos manuscritos
muito. Uma vez que vieram da Itália antigos. A família dos textos alexandri-
(Atos 18: 2) não seria estranho que para nos, e o Manuscrito D da família dos
lá retoruassem. O fato de Epéneto ser textos orientais, contêm esta doxologia
o primeiro convertido da Ásia Menor, um tanto longa, bem no final do capítulo
não prova que tenha morado lá toda a 16. É aí que deve estar. Alguns outros
sua vida. Uma das consistentes práticas manuscritos a colocam depois de 14:
de Paulo, nas saudações, era de não 23. Alguns poucos a colocam depois
mencionar os nomes dos indivíduos de 14: 23 e em 16: 25-27. Um manus-
-2-
I '
crito, o G, omite esta doxologia comple- perceber algumas dessas divergências e
tamente. O manuscrito do papiro p46, observar o que os melhores manuscritos
coloca-a depois de 15: 33. têm produzido. Quer consideremos os
Alguns mestres tem tentado mostrar manuscritos da mais alta qualidade (o
que o conteúdo desta última doxologia, mais importante) ou a quantidade total,
caracteriza-o como tendo sido composto a maior parte deles incluem o livro de
no segundo século, como fórmula litúr- Romanos todo, com exceção de 16: 24,
gica de conclusão (cons. John Knox, que indubitavelmente não fazia parte
"Romanos", The Interpreter's Bible, do texto original.
IX, 365-68). Dr. Hort, há quase um Esta carta foi escrita por Paulo em sua
século atrás, comparou cuidadosamente terceira viagem missionária. Uma vez
suas frases com frases de cartas paulinas que o apóstolo passou três meses na
anteriores e posteriores, e descobriu um Grécia (Atos 20: 3) e ele recomendava
notável número de semelhanças (F.J. Febe, a diaconiza de Cencréia (porto
A. Hort, "On the End of the Epistle to ociden tal de Corin to) que, provavel-
the Romans", in Biblical Essavs, com- mente, foi a portadora da carta a Roma,
pilado por J .B. Lightfoot, págs. 324-329). é muito provável que a carta fosse escri-
Conclui-se daí, que existem boas provas ta em Corinto. Mas é possível também,
para apoiar a autoria de Paulo nesta que outra cidade grega,. Filipos por
doxologia final, além do fato de que, exemplo, fosse o lugar. As datas da
se encontra no final ou perto do final epístola têm se situado entre 53 A.D. a
de Romanos. 58 A.D. Os anos de 55 ou 56 parecem
Mas, por que deveria esta doxologia ser os mais prováveis.
do final de Romanos, aparecer em dife- Ocasião e Propósito da Carta. O após-
rentes lugares nos diversos manuscritos? tolo planejou deixar a Grécia e ir para a
Um certo número de fatores podem ter Palestina com a coleta que recolhera
desempenhado o seu papel. Orígenes, entre as igrejas gentias. Paulo queria
no seu comentário sobre a Epístola que essa coleta fosse apresentada aos
aos Romanos, declara que o herético santos pobres de Jerusalém por ele,
Marcion (que fez seus rasgos de pena além dos representantes das igrejas
entre 138-150 A.D.), cortou o final do gentias. Ele achava que esse gesto dos
livro de Romanos a partir de 14: 23. gentios demonstraria o amor deles,
Seguidores de Marcion teriam produ: pelos irmãos cristãos da Palestina, e
zido cópias que paravam nesse ponto. demonstraria a unidade da igreja. Pre-
Além disso, os títulos das seções - fra- tendia ir depois para Roma. De Roma
ses suscintas descrevendo o conteúdo - queria ir para à Espanha. Antes de Paulo
estão ausentes dos dois últimos capí- virar as costas, por algum tempo, para
tulos, nos dois manuscritos da Vulga- seus alvos ocidentais, escreveu esta
ta - Codex Amiatinus e Codex Ful- potente carta aos Romanos e a enviou
densis. A omissão desses capítulos para para o ocidente.
o público leitor, teria influenciado a Que tipo de carta é a Epístola aos
colocação da doxologia. Novamente, Romanos? Foi escrita para um grupo
Paulo ou os cristãos de Roma, imedia- (ou grupos) de crentes em Roma. O
tamente após sua morte, podem ter fato de que expressa pensamentos gran-
encurtado a epístola, a fim de fazê-la des, profundos e sublimes sobre Deus,
circular pelas outras igrejas. O próprio não invalida a classificação deste livro
fato de termos tantos manuscritos an- como carta. Paulo orava pelos leitores
tigos da carta aos romanos, permite-nos, incessantemente (1: 9, 10) e ansiava por
-3-
ter comunhão com eles (1: 11). Que- Depois ele se atira ao assunto da impor-
ria que orassem por ele por causa dos tância da justiça no relacionamento
perigos que o ameaçavam (15: 30-32). entre o homem com Deus (1: 18 - 8: 39).
Daí, Romanos não é um tratado de Primeiro, destaca originalmente que o
doutrina sistemática. Os pensamentos homem não é justo, depois cuidadosa-
de Paulo sucedem-se logicamente, mas mente responde a questão: Como um
ele certamente não procura apresentar homem se torna justo diante de Deus?
todos seus ensinamentos doutrinários. Reforça a questão com a discussão de
Romanos não é também um ensaio como o homem justificado diante de
polêmico - Cristianismo Paulino contra Deus, deveria viver. Sendo judeu, Paulo
Cristianismo Judeu. A unidade e a união olhava para a humanidade como se
entre os crentes é central na metáfora fosse dividida em duas classes - judeus
da oliveira em Romanos 11. e gentios. Como cristão, como olhar
Romanos é uma carta de instruções para essas duas divisões? Ele responde
no que se refere àquelas verdades prin- a pergunta quando examina o plano de
cipais do Evangelho, que Paulo sentia Deus para o judeu e para o gentio (9:
fossem mais necessárias aos que se en- 1-11: 36). Aqui ele estabelece uma po-
contravam em Roma. Uma vez que as sição distinta para a história da filoso-
necessidades dos gentios eram as mesmas, fia cristã. Depois, indo para a área da
estivessem em Roma ou em Colossos, a aplicação, dá exortações específicas para
carta tem um toque universal. Romanos os cristãos romanos, quanto a sua apa-
é um resumo das verdades fundamen- rência, atitudes e práticas (12: 1·15:
tais que Paulo ensinou nas igrejas, onde 13). Concluindo, ele mostra seu interes-
passou algum tempo proclamando o se profundo pelos crentes romanos (15:
Evangelho Um dos motivos porque
o 14-16:27). Eles se encontravam em sua
esta epístola tem uma tão grande in- região e ele pretendia visitá-los. Até
fluência é que Deus orientou seu servo, que isso fosse possível tinha de lhes
a apresentar estes pensamentos soberbos enviar sudações por carta, admoestan-
numa carta para que mestres e leigos, do-os e entregando-os a Deus, pois
igualmente, pudessem se apropriar das só Ele poderia firmá-los.
verdades que moldariam seu destino eter-
no. Ao estudar Romanos, não devemos
Desenvolvimento do pensamento. Pau- nos esquecer do todo, ao qual cada pas-
lo começa com alguns comentários pre- sagem individual pertence. Arrancar uma
liminares preparando o leitor para tudo passagem do seu contexto, sempre é
quanto ele pretende escrever (1: 1-17), prejudicial; em Romanos, isto pode
e assim estabelece uma harmonia exce- produzir, uma inversão completa do
lente entre ele próprio e seus leitores. que Paulo quis dizer.
ESBOÇO
-4-
I il
A. A justiça é o "status" necessário para o homem se apresentar diante de Deus.
1:18-5:21.
1. O fracasso do homem em alcançar a justiça. 1: 18 - 3: 20.
a. A negligência dos gentios. 1: 18-32.
b. A negligência do homem que julga em contraste com o justo juízo de
Deus. 2: 1-16.
c. A negligência do judeu. 2: 17-29.
d. Objeções contra os ensinamentos de Paulo com base na negligência
do homem. 3: 1-8.
e. A negligência de toda a humanidade diante de Deus. 3: 9-20.
2. Ajustiça alcançada pela fé, não por obras legalistas. 3: 21-31.
3. A justiça pela fé na vida de Abraão. 4: 1-25.
a. Sua justiça alcançada pela fé, não pelas obras. 4: 1-8.
b. Abraão feito o pai de todos os que crêem pela fé, antes da circuncisão.
4: 9-12.
c. Realização da promessa pela fé, não pela lei. 4: 13-16.
d. Deus, Senhor da morte, o objeto da fé de ambos, de Abraão e do
cristão.4: 17-25.
4. Centralidade da justiça pela fé nas vidas individuais e na estrutura da
história. 5: 1-21.
a. Efeitos dajustiça pela fé sobre os recipientes. 5: 1-11.
b. Efeitos da desobediência de Adão e da obediência de Cristo. 5: 12-21.
B. A justiça como a maneira do cristão viver diante de Deus. 6: 1 - 8: 39.
1. Sofisma sobre o pecar para que a graça abunde. 6: 1-14.
2. Sofisma sobre o pecar porque os crentes estão sob a graça, não sob a
lei. 6: 15 - 7: 6.
a. Fidelidade, fruto, destino. 6: 15-23.
b. Anulamento e novo alistamento causado pela morte. 7: 1-6.
3. Perguntas que surgem por causa da luta contra o pecado. 7: 7-25.
a. A Lei é pecado? 7: 7-12.
b. Aquilo que é bom é a causa da morte? 7: 13, 14.
c. Como pode ser resolvido o conflito interno? 7: 15-25.
4. A vitória através do Espírito ligada ao propósito e ação de Deus. 8 :1-39.
a. Libertação do pecado e morte pela atividade do Pai, Filho e Espí-
rito.8:14.
b. A disposição da carne versos a do Espírito. 8: 5 -13.
c. Orientação e testemunho do Espírito. 8: 14-17.
d. A consumação da redenção esperada pela criação e crentes igual-
mente. 8: 18-25.
e. O ministério intercessor do Espírito. 8: 26, 27.
f. O propósito de Deus para aqueles que o amam. 8: 28-30.
g. Triunfo dos crentes sobre toda oposição. 8; 31-39.
-5-
9:6-9.
2. A escolha que Deus fez de Jacó e não de Esaú. 9: 10-13.
3. A misericórdia de Deus para com Israel e o endurecimento de Faraó,
9: 14-18.
4. O controle de Deus sobre os vasos da ira e da misericórdia. 9: 19-24.
5. O testemunho de Deus em Oséias e Isaías numa extensão e limitação
da sua obra salvadora. 9: 25-29.
C. O fracasso de Israel e o sucesso dos gentios. 9:30 - 10: 21
1. Os gentios obtiveram o que Israel perdeu. 9: 30 - 33.
2. Ajustiça de Deus ignorada por Israel. 10: 1-3.
3. Relação entre a justiça da fé e o objeto da fé. 10: 4-15.
4. As Boas novas rejeitadas. 10: 16-21.
D. A situação de Israel no tempo de Paulo. 11: 1-10.
E. A perspectiva de Israel para o futuro. 11: 11-36.
1. Estágio de bênção da queda de Israel e sua pleni tude. 11: 11-15.
2. Os gentios individualmente não têm do que se vangloriar. 11: 16-21.
3. A bondade e a severidade de Deus expostas por sua reação à crença e à
incredulidade. 11: 22-24.
4. Salvação para o povo de Israel. 11: 25-27.
5. A misericórdia de Deus exaltada por sua ação na história. 11: 28-32.
6. A excelência e a glória de Deus - a Fonte, o Sustentador e o Alvo de
todas as coisas. 11: 33-36.
IV. A atitude e a conduta que se espera dos cristãos em Roma. 12: 1-15: 13.
A. Consagração de corpo e mente. 12: 1,2.
B. A humildade no uso dos dons divinos. 12: 3-8.
C. Características da personalidade a serem exemplificadas. 12: 9-21.
D. Submissão à autoridade do governo deve ser acompanhada de um modo de
vida dedicado e honesto. 13: 1-14.
E. Tolerância necessária para com as consciências fortes e fracas. 14: 1 - 15: 13.
1. Diferenças de opinião sobre o alimento ou dias especiais. 14: 1-6.
2. O juízo é do Senhor, não dos irmãos. 14: 7-12.
3. Remoção de pedras de tropeço. 14: 13-23.
4. Os fortes devem ajudar os fracos e não agradarem-se a si mesmos. 15: 1-3.
5. Glória dada a Deus pela paciência, consolação e harmonia. 15: 4-6.
6. O ministério de Cristo tanto ajudeus como a gentios. 15: 7-13.
-6-
I I
ROMANOS 1: 1-4
COMENTÁRIO
I. Declarações Introdutórias de Paulo, Paulo usa a palavra "mortos" depois da
o Apóstolo, 1: 1-17. palavra "ressurreição", a palavra grega
para "mortos" está no plural. Algumas
A extensão da introdução prova que vezes ele declara explicitamente uma
Paulo dava grande importância a esta ressurreição de pessoas (cons. I Co. 15:
carta. Observe o espírito de dedicação 12, 13,21,42). Mas aqui em Rm. 1: 4 e
que permeia estas linhas introdutórias. também em Atos 26: 23 ele se refere
Observe também como ele passa rapi- à ressurreição de Jesus Cristo. Todavia
damente de um pensamen to para outro . o termo "mortos" está no plural. Por-
A. Revelação da identidade do escri- tanto, na ressurreição desta pessoa, está
tor. 1: 1. A palavra que foi traduzida implícita a ressurreição de todos os que
servo significa realmente escravo. Para ressuscitarão por meio dEle. Mas, em
Paulo, esta expressão significava que ele Rm. 1: 4, Paulo se refere explicitamente
pertencia a Jesus Cristo. Ele era propri- à vitória de Cristo sobre a morte (cons.
edade de Cristo, e, como tal, tinha uma 6: 9). O uso do plural aqui é um toque
tarefa divina para realizar. Sua chamada do estilo do escritor.
para ser apóstolo veio-lhe claramente
em Damasco (Atos 9: 15, 16; 22: 14, 15; Segundo o Espírito de santidade. A
26: 16-18). Ele fora separado para o evan- ressurreição dos mortos era um fato pro-
gelho de Deus. Em Gálatas, Paulo remon- clamado pelos cristãos. Mas a poderosa
ta esta chamada à ocasião do seu nas- declaração de Jesus como Filho de Deus,
cimento (Gl. 1: 15), mas aqui em Roma- decorrente de Sua ressurreição, foi obra
nos, ele destaca o propósito de sua sepa- do Espírito Santo para iluminação do
ração: para o evangelho que Deus criou. pleno significado do fato histórico.
Paulo tinha um Mestre divino, um cargo Alguns mestres consideram o "Espírito
divino e uma mensagem divina. de santificação" como uma forma mais
B. O evangelho identificado com forte de "Espírito Santo" (veja Arndt,
Jesus Cristo. 1: 2-5. Nestes versículos o hagiosyne, pág. 10). Outros acham que
Evangelho é considerado em duas di- a frase se refere ao espírito humano de
mensões - a histórica e a pessoal. Cristo, que se caracterizava pela grande
2. Historicamente, Deus proclamou santidade - "quanto ao (seu) Espírito
este evangelho outrora, por meio de de santificação" (veja Sanday e Head1am,
agentes especiais, os profetas. O registro ICC, pág.9; cons. Arndt, pneuma, 2,
do que proclamaram encontra-se nas pág. 681). Outros ainda igualam "santi-
Santas Escrituras. Esta última é uma ficação" aqui com a Deidade ou Deus.
designação técnica para todas as partes Mas o Espírito de Deus, de acordo com
da Escritura, a Escritura como um todo. esse ponto de vista, não é o Espírito
3. O evangelho de Deus é sobre Seu Santo, mas o Princípio Criador Vivente,
Filho. Em primeiro lugar Paulo destaca Deus operando nos negócios humanos
Sua humanidade: segundo a carne, veio (veja Otto Procksh, TWNT, I, 116: "A
da descendência de Davi. Eis aí em des- Divindade de Cristo torna-se clara por
taque o Seu nascimento. Tornou-se causa da ressurreição na qual a nova
homem. criação mostra-se de acordo com o
4. Logo a seguir destaca a qualidade Princípio da . . . Divindade"). Veio
de ser Filho de Deus: Designado Filho (1: 3; AV, foi feito) declara a origem.
de Deus com poder ... pela ressurreição Designado é a designação daquilo que é.
dos mortos. Em todos os exemplos onde Portanto o humano e o divino estão
-7-
ROMANOS 1: 4-11
em contraste nesses dois versículos. nos faz parte de uma preocupação maior.
Deve-se decidir se a frase pneuma ha- 1: 8-15. Paulo conta a seus leitores o de-
giosynes (Espírito de Santidade, es- seja que tem há muito de visitá-los.
pírito de santidade, Princípio Criati- Tal visita, ele acha, seria boa não só
vo da Divindade), modifica a declaração, aos romanos, mas para ele também.
ou descreve a pessoa de Cristo, ou trans- Roma, com sua população híbrida,
mite a idéia da atividade de Deus no sintetizava os vários tipos de pessoas
mundo. A primeira interpretação, que a quem o apóstolo devia uma obrigação.
certamente parece ser a melhor, pede 8. Dou graças a meu Deus. A fre-
a tradução, "Espírito de Santidade". qüência da ação de graças nos começos
5. Paulo recebeu graça e o seu apos- das epístolas de Paulo é um testemunho
tolado através do Filho. A frase, por amor da intimidade que Paulo tinha com
do seu nome, deveria estar ligada ao Deus, e de seu ponto de vista alegre
apostolado - um apostolado por causa (eukaristeo, "dar graças": Rm. 1: 8; I Co.
do seu nome. 1: 4;Ef. 1: 16; CI. 1: 3; I Ts. 1: 2; 11 Ts.
C. Saudações aos leitores. 1: 6, 7. 1: 3; Fm. 4; karim eko, "sentir-se grato:
Estes versículos esclarecem que os "ro- I Tm. 1: 12; 11 Tm. 1: 3). Observe que
manos" a quem se dirige a carta são gen- tanto as graças como as petições são diri-
tios. Duas vezes Paulo destaca o fato de gidas a Deus mediante Jesus Cristo. O
que foram chamados. Foram chamados objeto da ação de graças foi especifi-
para serem santos. A idéia por trás da camente declarado.
palavra "santo" não é a de alguém com- 9. Observe aqui o destaque dado ao
pletamente separado dos outros, mas de aspecto interior do serviço - a quem
alguém que é consagrado a Deus. O im- sirvo em meu espírito. Deus, que co-
pacto que um grupo de crentes consa- nhece o homem interior, poderia dar
grados ou dedicados a Deus, sobre a testemunho do interesse de Paulo pelos
sociedade, não deve ser desprezado. romanos.
As palavras graça e paz representam 10. Além de mencionar os ramanos
uma fórmula cristã de saudação em freqüentemente em suas orações, o após-
cartas (veja Rm. 1: 7; I Co. 1: 3; 11 Co. tolo também sempre orava sobre a sua
1: 2;Gl.I:3; Ef.1:2; Fp.I:2; CI.1:2; ida até eles. Aqui se vê que, embora
ITs.I: 1;11 Ts.I:2;Tt.I:4;Fm.3;I Pe. Paulo sinceramente orasse para estar
I:2;IIPe. I:2;ITm. 1: 2;11 Tm. 1:2; na vontade de Deus em relação a este
11 Jo. 3). Graça (Káris) foi usada aqui assunto, não tinha certeza, quando
em lugar de uma expressão grega comum, escreveu, se era ou não da vontade de
Kairein, que significa "saudações". Paz Deus que fosse a Roma. Eis aqui suas
tem um paralelo hebraico e aramaico, próprias palavras: Em todas as minhas
shalom, que tem a complexa idéia de orações, suplicando que nalgum tem-
prosperidade, boa saúde e sucesso. Mas po . . . se me ofereça boa ocasião de
estas saudações cristãs destacam o que visitar-vos. Deus não lhe dissera "Não";
Deus fez nas vidas dos crentes. Todavia por isso Paulo continuou orando.
o. estudante deve sempre lembrar que Il. O dom espiritual era o que Paulo
esta é uma fórmula de saudação - não desejava comunicar aos romanos para
uma referência independente à graça fortalecimento deles. Não era algum
e paz. A frase deve ser tomada como dom especial, como aqueles que Paulo
um todo: Graça ... e paz ... de Deus alista em Rm. 12: 6-8, mas antes um
nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo. conhecimento crescente das diversas
D. O interesse de Paulo pelos roma- verdades de Deus, que os capacitaria
-8-
ROMANOS 1: 11-17
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ROMANOS 1: 17-20
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I '
ROMANOS 1: 20-25
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ROMANOS 1: 25-32 - 2: 1·4
ram entre si. A idolatria consiste na ado- palavra fornicação (AV, v. 29). Difa-
ração e no culto prestado à criatura madores são aqueles que falam mal dos
(v. 25); na sensualidade o homem adora outros, ou seja os fofoqueiros. Calunia-
e serve a si mesmo. dores são os que procuram arruinar ou
26, 27. A impureza sempre gera difamar o caráter dos outros - difama-
mais impureza. Aqui está um juízo. dores. O homem que arruína a reputação
divino no qual Deus entregou os gentios de outras pessoas, ele mesmo se toma
a paixões infames. As mulheres são acu- repulsivo. Observe a desagradável com-
sadas de perversão sexual no versículo 26 binação apresentada no versículo 31:
e os homens no versículo 27. Paulo usa Insensatos, pérfidos, sem afeição natural.
linguagem direta, para condenar a per- Sem misericórdia não se encontra nos
versão do sexo fora do seu justo lugar, bons e antigos manuscritos. Lembre-se
dentro do relacionamento conjugal. Ele de que as pessoas aqui descritas tive-
considera a união dos sexos no casamento ram oportunidade de conhecer os atri-
como relacionamento natural (modo butos de Deus. Mais ainda, elas sabiam
natural). Mas ali as mulheres trocaram que a morte era a penalidade para o mal.
as relações naturais do sexo, por aquelas Mesmo assim, além de pecarem com
que são contrárias à natureza. Os homens prazer, também aplaudem os outros
fizeram a mesma coisa. Paulo descreve que pecam. Seu pecado alcançou um
a depravação e degradação do homem ponto onde elas recebem uma satisfa-
inflamado com desejo sensual uns pelos ção vicária no pecado dos outros.
outros. A isto se segue a nota do juízo. b) O Fracasso do Homem Que Julga
Recebendo em si mesmos a merecida em Contraste com o Justo Juízo de Deus.
punição do seu erro. Paulo não penetra 2: 1-16. O homem que Paulo considera
nos detalhes sobre qual seria exatamente julgando não foi dito se é judeu ou
a natureza do juízo - as conseqüências gentio. Ao que parece, Paulo tinha o
psicológicas e físicas. Mas a natureza da judeu em mente, uma vez que o homem
penalidade diz-se que corresponde à que julga, experimentou a bondade e a
enormidade do pecado. paciência de Deus de maneira especial.
28-32. Aqueles que não parecem se A recompensa do Senhor para cada
encaixar no conhecimento de Deus, pessoa será de acordo com as obras
Ele os entregou a um sentimento per- dela -- não de acordo com os seus pró-
verso. A palavra grega tem estes signi- prios privilégios. Deus julgará com justi-
ficados: "baixo", "desqualificado", "in- ça, quer um homem viva sob a lei Mo-
digno", "incapaz de ser aprovado" ou saica ou longe dela.
"desaprovado". Eis aí, uma mente que 1-4. A palavra ju1gas (krinon) ocorre
não tem um ponto estável sobre o qual se três vezes no versículo 1 (E.R.C.). Tem
edifica a harmonia interior. Tal mente aqui o significado de fazer juízo desfavo-
pode produzir só aquelas coisas incon- rável, criticando ou censurando. O ho-
venientes, (que não convém) ou aque- mem que é indesculpável é aquele que
las coisas que são indignas. A lista dos tem grande capacidade de crítica, mas
versículos 29-31 mostra que tal mente não autodisciplina. O juízo de Deus é...
está em desarmonia com ela mesma, contra os que praticam tais cousas. Tais
e com os seus próximos. A anarquia cousas. As ações do crítico são idênticas
e o caos vêm de uma mente que retira às ações daqueles que ele critica. O catá-
Deus do seu conhecimento. Em alguns logo de pecados em Romanos 1 é positi-
bons manuscritos não se encontra a vamen te inclusivo. Inveja, murmuração
- 12-
ROMANOS 2: 4 -16
e contenda são consideradas faltas nos sempre o ponto central do quadro neo-
outros, mas o crítico desculpa essas testamentário do juízo. São indicação
coisas nele mesmo, como se fosse "um externa de uma confiança ou entrega
justo senso de necessidade", "uma interior da pessoa. O Senhor, é claro,
simples declaração de fato", ou ''uma olha para ambos, o interior e o exte-
corajosa posição ao lado da verdade". rior. Mas a atividade exterior revela a
Paulo apela para a consciência do ho- convicção interior. É preciso apenas
mem: Pensas que te livrarás do juízo de que se compare a forma do verbo em
Deus? (isto é, à sentença pronunciada 2: 9 - que faz o mal (constantemente)
por Ele?) A tradução desprezas (v. 4) - com a do verbo em 2: 10 - que pra-
pode ser uma tradução forte demais tica o bem (constantemente) para se
para kataphroneo, em relação ao con- ver que as atitudes revelam as convicções
texto. Parece que seria melhor traduzir (ou a falta delas). Isto não significa que
assim: Ou será que alimentas idéias aqueles que fazem o bem constante-
erradas a respeito da (Arndt, pág. 421) mente têm um pleno conhecimento
bondade, paciência e longanimidade de de Deus. Mas sem uma confiança em
Deus? A palavra arrependimento envol- Deus, a qual exige algum conhecimento,
ve muito mais do que o abandono de os homens não serão capazes de execu-
uma prática antiga. Envolve o começo tar constantemente e com determinação
de uma nova vida religiosa e moral (veja aquilo que Deus diz que é bom.
Arndt, págs. 513,514). Uma vez que a
12-16. Uma vez que em Deus não
bondade de Deus não traz castigo ime-
existe parcialidade, como Ele vai lidar
diato, não se deve crer que o Senhor
com aqueles que pecam sem a lei e aque-
seja indiferente ao pecado. Longe disso!
les que pecam debaixo da lei? A resposta
Por causa de sua bondade divina, Ele
se encontra nas frases - perecerão e
quer levar os homens por um novo ca-
serão julgados (v. 12). Tanto os que
minho de vida. Ter idéias erradas a res-
vivem debaixo da lei como aqueles que
peito disso é descansar numa falsa com-
vivem sem a lei foram declarados peca-
placência. O juízo de Deus é certo.
dores. O tempo aoristo aqui (pecaram)
5-11. O Todo-Poderoso examina a acentua uma ação completa. Resume
conduta do homem e o julga de acordo todos os pecados da pessoa cometidos
com ela. Um homem cujo coração é durante a sua vida. Por causa do total
duro e impenitente, armazena a ira de desses pecados, os homens que não ti-
Deus contra ele. A ira ... de Deus arma- veram a oportunidade de viver debaixo
zenada nos céus é o mais trágico estoque da lei mosaica, perecerão. Do mesmo
que um homem poderia acumular para modo, por causa do total dos seus pe-
si. Observe a nota sobre o juízo indivi- cados, aqueles que viveram debaixo da
dual no versículo 6. Qual é a disposi- lei serão julgados. Embora uma lingua-
ção ou perspectiva daqueles que buscam gem diferente fosse usada para descre-
a glória, a honra e a imortalidade? Perse- ver o juízo de Deus, este juízo é certo
verando em fazer o bem (v. 7), caracte- e justamen te dispensado, quer a lei
riza a perspectiva daqueles que buscam mosaica exerça alguma parte no juízo,
os alvos enumerados. O resultado é que quer não. Até onde o juízo está envol-
recebem vida eterna do Juiz. Aqueles vido, o que conta é a situação, não a
que por causa da contenda são desobe- tomada de consciência deste ou daquele
dientes à verdade e obedecem à injustiça, estado. Os que praticam a lei hão de
recebem a ira e o juízo. As obras são ser justificados, isto é, serão absolvidos,
-13-
ROMANOS 2: 16
serão declaradosjustos. reagem diante desse padrão, não ficam
A esta altura surge uma pergunta completamente sem lei. São praticantes
profunda: Os praticantes da Lei se limi- obedientes da lei que Deus coloca em
tam àqueles que conhecem e praticam seus corações. Seria melhor ligar o 2: 16
a lei mosaica? Em 2: 14 Paulo responde ao 2: 13: "Os praticantes da lei serão jus-
"Não" à pergunta e explica a razão. Os tificados ... no dia em que Deus julgar
gentios que não têm a lei mosaica, proce- os segredos dos homens".
dem por natureza de conformidade com Esta passagem dá alguma luz sobre
a lei. A expressão natureza (physei) tem o destino eterno daqueles que nunca
sido interpretada com o significado ouviram o Evangelho. Como Deus lidará
de "seguindo a ordem natural das coisas" com essas pessoas no dia do juízo? Estes
(veja Hans Lietzmann, Der Brief und versículos parecem indicar que Ele
die Romer, também Handbuch zum observará suas ações tal como observará
Neuen Testament. Digressão sobre Rm. as ações daqueles que conhecem a Lei, e
2: 14-16). Mas o contexto aqui não tem aqueles que ouviram o Evangelho, e que
a mesma ênfase de 1: 20. Por isso parece Ele julgará todos de acordo com tais
muito melhor aceitar que natureza sig- observações. Então, a obediência a es-
nifica "instintivamente". O que está te padrão interno não anula o prin-
envolvido neste tipo de resposta? Quando cípio da salvação pela fé? Não. A fé
os gentios praticam instintivamente os é essencial para aqueles que obedecem
requisitos da Lei, eles os fazem de con- ao padrão interno e para aqueles que
formidade com a lei (2:14). Eles exibem obedecem à Lei ou ao Evangelho. Mas
a norma da lei gravada nos seus corações. quão mais rico e mais completo se toma
Esses gentios têm uma norma e padrão o nosso conhecimento de Deus, 'a medida
interior colocada por Deus em seus co- que for revelado através do seu Filho!
rações. Esse padrão interior é a base A busca da glória, honra e incorrupti-
tanto para a reação de suas consciên- bilidade (v. 7) não passariam de egoís-
cias quanto do seu raciocínio. A cons- mo. Mas a busca dessas coisas com a
ciência (v. 15) é uma reação intelectual determinação de fazer o que é bom (v.
automática a um determinado padrão. 7) significa que aquele que busca está
Contrastando, raciocínio envolve refle- cônscio de um padrão de bondade. Se
xão. Os pensamentos resultantes de tal este padrão fosse uma simples abstração,
reflexão, representam um julgamento como seria difícil perseverar na bondade.
ponderado, em contraste à reação inte- Mas se o padrão é o próprio Deus - ainda
lectual e automática da consciência. As que imperfeitamente percebido (e quem
consciências de muitas pessoas associa- de nós percebe Deus perfeitamente?), a
das produzem um testemunho mútuo. fé ou a submissão a Ele estabelecerá
Do mesmo modo os julgamentos de va- as bases para a perseverança constante
lores combinados do grupo são difundi- naquilo que é bom. Por que, então deve-
dos. As decisões resultantes, às vezes ríamos levar impacientemente o Evange-
reprovam as pessoas do grupo, e às lho àqueles que nunca ouviram? Antes de
vezes falam em sua defesa. Embora tudo, porque Deus no-lo ordenou (Mt. 28:
Paulo não descreva todo o conteúdo 19,20; Atos 1: 8). Segundo, é essencial,
desse padrão interior, ele assegura que pois Deus quer que cada pessoa seja
existe. Sabemos que tanto a consciên- confrontada com o conhecimento de
cia quanto a razão podem decidir que Deus (Is. 11: 9; Hc. 2: 14; Is. 45: 5, 6;
certa atitude é ruim e outra atitude é 52: 10; 66: 18, 19; 11 Ts. 1: 8) e tenha
boa. Os gentios, quando corretamente oportunidade de se lhe entregar e de
-14-
ROMANOS 2: 16-29
ampliar o conhecimento dEle (Jo. 14: 7; ras? Roubas os templos? Paulo não diz
17: 3; 11 Co. 2: 14; rr, 1: 16; I Jo. 2: que tipo de resposta espera. Mas ele
3-6; 5: 19,20; Fp. 3: 8-10; 11 Pe. 3: 18). destaca que o judeu, transgredindo
Finalmente, é essencial por causa do que a Lei da qual tanto se orgulha, deson-
Cristo é - o clímax da revelação de ra a Deus - Aquele que deu a Lei. O
Deus (Hb. 1: 1,2). nome de Deus é blasfemado entre os
Uma vez que Cristo é a suprema re- gentios por causa da maneira de agir
velação de Deus, e uma vez que o N.T. dos judeus. A última frase - como está
é o registro que confronta os homens escrito - não se refere a alguma passagem
com Cristo, outros métodos de revelação do V.T. em particular que fala dos pe-
divina devem ser considerados apenas cados dos judeus como causa da blas-
fragmentários. Isto é especialmente ver- fêmia contra o nome de Deus. Antes,
dade no que se refere aos dois métodos Paulo parece ter juntado Is. 52: 5 e Ez.
discutidos em Romanos 1; 2: (1) o tes- 36: 21·23.
temunho das coisas que foram criadas 25-29. Aqui o apóstolo aponta para
(1: 20); 2) o padrão interno colocado o que ele considera um verdadeiro judeu.
nos corações (2: 14, 15). Todavia, eles Ele mostra que o gentio que guarda (a
são canais divinamente escolhidos, cuja palavra ohylasso também pode ser tra-
existência e função Paulo convida seus duzida para observa, ou segue) os pre-
leitores a considerar seriamente. ceitos da lei (v. 26) é um verdadeiro
c) O Fracasso dos Judeus. 2: 17-29. A- judeu. O rito da circuncisão só declara
qui Paulo descreve vividamente as opor- que um homem é judeu se este praticar
tunidades dos judeus, e destaca como a Lei. Para um judeu, tornar-se trans-
até mesmo essas não levaram os judeus gressor da Lei é, realmente, diante de
a uma vida de obediência e comunhão Deus, tornar-se incircunciso. Além de
com Deus. um gentio ser um verdadeiro judeu, se
17-20. O fracasso do judeu tornou-se observar os preceitos da Lei, ele, que
mais conspícuo por causa dos seus privi- é fisicamente incircunciso, se assentará
légios e sua fé. Ele repousava na lei. Ele para julgar o judeu que tem as quali-
se gloriava (orgulhava-se) em Deus. Ele ficações físicas, mas nenhuma obedi-
conhecia a vontade de Deus. Aprovas ência (v. 27). Esta é uma declaração de
~ cousas excelentes (ou aquelas que são Paulo, não uma pergunta. No versículo
essenciais). Ele podia fazer a vontade 27 Paulo destaca que o judeu que será
de Deus porque fora oralmente instruí- julgado pelo gentio, é aquele judeu que
do na Lei. Ouvira os rabinos discutin- é transgressor da Lei, não obstante a
do os pontos cruciais. Por causa de tais letra e a circuncisão (cons. dia, Arndt,
antecedentes, o judeu tinha confiança. Ill, 1, c, pág. 179). Eis aí a tragédia
Ele podia ajudar e instruir os demais, daquele que tem uma lei escrita objetiva,
porque ele tinha certeza de que tinha e o sinal exterior da aliança de Deus
a forma da ciência e da verdade na com o seu povo, mas que no entanto
Lei (v. 20). nunca se apropriou da realidade. Numa
21-24. Paulo insiste na derrota dos última palavra ao judeu, Paulo destaca
judeus, perguntando-lhes se suas atitu- que não é o exterior, mas a condição
des estão de acordo com os seus ensi- interior do coração que torna um homem
namentos (2: 21, 22). Tu, pois, que ensi- verdadeiramente judeu, isto é, filho de
nas a outrem não te ensinas a ti mesmo? Deus (v. 29). A verdadeira circuncisão
(v. 21) Por que, é claro, que o faz. Nas é uma espécie de circuncisão do coração
outras três perguntas: Furtas? Adulte- (cons. Lv. 26: 41; Dt. 10: 16; 30: 6; Jr.
-15 -
ROMANOS 2: 29 - 3: 1-8
4: 4; 9: 26; Atos 7: 51). Esta verdadeira pergunta: E daí? Qual é pois a situação?
circuncisão não está na esfera da legali- Os judeus tinham essas verdades divinas
dade - um código escrito - mas antes vitais. Mas como reagiram? Se alguns
na esfera do espírito, isto é, na área não creram, a incredulidade deles virá
da vontade. desfazer a fidelidade de Deus? De ma-
d) Objeções aos Ensinamentos de neira nenhuma, Paulo responde rapida-
Paulo sobre o Fracasso do Homem. mente (longe disso). A palavra alguns
3: 1-8. Paulo fala principalmente das não significa, necessariamente, uma pe-
objeções oriundas dos judeus. Mas a quena parte. O contraste está entre "par-
idéia de que a justiça de Deus é exal- te" e "todo". Além de Deus ser fiel,
tada pelo pecado do homem, vem de Ele também é verdadeiro. Para reforço
qualquer oponente dos ensinamentos de suas palavras o apóstolo cita SI. 51.4:
paulinos. "De maneira que serás tido por justo
14. Qual é a vantagem do judeu? Qual no teu falar e puro no teu julgar". Deus
a utilidade da circuncisão? Essas pergun- é fiel, verdadeiro e vitorioso, embora
tas parecem extraídas da experiência os judeus na grande maioria, tenham
de Paulo na pregação do Evangelho. se tornado infiéis.
A resposta de Paulo é: "Muita, em toda 5-8. A tradução de synistemi para
maneira" (v. 2). Ele faz seu interrogante recomenda não é satisfatória. A palavra
se lembrar que aos judeus foram con- realmente significa demonstra ou traz
fiados os oráculos de Deus. No grego a lume. Se a nossa injustiça - a do ju-
clássico a palavra logion ("oracle") usa- deu e gentio - demonstra a justiça de
-se principalmente em relação às frases Deus, então que diremos? Porventura
curtas pronunciadas por alguma divin- será Deus injusto por aplicar a sua ira?
dade (Arndt, pág. 477). Em Atos 7: 38 Paulo nos diz que está falando sob o
a palavra é usada falando-se das revela- ponto de vista humano. Então ele re-
ções que vieram a Moisés. Em Hb. 5: 12 plica, De maneira nenhuma (v. 6). Paulo
é usada em relação com os elementos é tão conciso no começo do versículo 6
iniciais pertencentes aos oráculos ou que o peso de sua resposta se perde.
palavras de Deus. A passagem em Hebreus Certo que não, se o Senhor não touxer
refere-se a um todo coletivo. Pedro o castigo da ira, como julgará Deus o
diz que se alguém falar, tendo recebido mundo? O fato de que a justiça divina
graça, deve falar os oráculos. ou pala- brilha fortemente contra as trevas do
vras de Deus (I Pe. 4: 11). Em Rrn. 3: 2 o cenário da injustiça do homem, nada
destaque foi dado às promessas de Deus, tem a ver com a justiça do Senhor no
aos judeus. Em todos os contextos os juízo e na condenação que devem vir.
"oráculos" envolvem proclamação oral, Deus tem de julgar, condenar e punir
e referem-se à voz viva de Deus e às ver- porque é um ser santo. Sendo um ser
dades que Deus falou aos homens. Deus santo tem de lidar com qualquer viola-
confiou essas verdades aos judeus durante ção da santidade. Paulo assegura aqui
longos períodos de tempo. Os judeus as que deve, sem entrar no por quê. No
colecionaram, e elas foram registradas versículo 7 ele coloca a objeção de seu
no V.T. Mas a palavra logion propria- interpelador em uma forma um pouco
mente dita destaca o pronunciamento diferente. E, se por causa da minha men-
particular de Deus. O fato de que todos tira fica em relevo a verdade de Deus
esses pronunciamentos vieram aos judeus para a sua glória (cons. perisseuo, Arndt,
foi certamente para vantagem deles. pág. 656), por que sou eu ainda con-
Paulo começa o versículo 3 com uma denado como pecador? Antes exa-
-16 -
ROMANOS 3: 8-20
minou o argumento de que a justiça gunta então seria: Temos nós, em nós
de Deus sobressai contra o cenário do mesmos, algo que nos proteja contra
pecado humano. Aqui ele ataca o argu- a ira de Deus? Paulo responde: De forma
mento de que a verdade de Deus toma-se nenhuma, pois já temos demonstrado
mais clara, quando em contraste com a que todos, tanto judeus como gregos,
falsidade do homem. A esta altura, Paulo estão debaixo do pecado. O pecador
menciona a caricatura corrente dos seus não tem meios em si mesmo de lidar
ensinamentos referentes à salvação pela com o pecado. Ele está debaixo do pe-
graça: Pratiquemos males, para que ve- cado, isto é, debaixo do poder, governo,
nham bens (v. 8). Para aqueles que comando, controle do pecado. Ele pre-
respondem assim, o único comentário cisa de ajuda de fora. Seus próprios
de Paulo é: A condenação destes é justa. recursos não podem libertá-lo.
Estes dois argumentos falsos baseiam-se 10-18. Nestes versículos Paulo cita
sobre a idéia de que o Senhor precisa um número de passagens do V.T.: 3: lO
do pecado a fim de demonstrar que -12 do SI. 14: 1-3; 3: 13 a, b do SI. 5 : 9;
Ele é Deus. Ele não precisa nada disso. 3: 13 c do SI. 140:3;3: 14 do SI. 10:7;
Sendo Deus, na presença do pecado 3: 15-17 de Is. 59: 7,8; 3: 18 do SI. 36: 1.
demonstrará quem Ele é. Mascomo é mui- O apóstolo não cita do texto hebraico
to mais glorioso ver o que, e quem Ele é mas da versão grega do V.T., a Septua-
na esfera da eterna comunhão com Ele, ginta (LXX). Às vezes ele a cita exata-
do que no banimento de Sua presença, mente; outras, parafraseia ou abrevia;
com todas as conseqüências proveni- ocasionalmente ele se sente bastante
entes. livre para manipular as palavras (veja
e) O Fracasso de Toda a Humanidade Sanday e Head1am, The Epistle to the
Diante de Deus. 3: 9-20. Paulo conclui Romans, ICC, págs. 77-79). Mas o pensa-
que este ensinamento concorda com o mento do V.T. é adequadamente comu-
V.T. e a função da Lei, que é despertar nicado. Todas essas citações são dos
a consciência do pecado. Salmos com exceção de urna passagem
9. Que se conclui? Deveria ser desen- - Is. 59: 7. Em seu contexto original
volvido em: O que devemos, pois, conclu- nem todos esses versículos destacam
ir? Antes de tirar esta conclusão, Paulo a universalidade do pecado. O primeiro
faz mais uma pergunta. Se esta pergun- (SI. 14: 1-3) sim. Os três seguintes (SI.
ta - Temos nós qualquer vantagem? - 5: 9; 140: 3; 10: 7) tratam da condição,
relaciona-se aos judeus com os quais atitude e conduta dos maus. A passagem
Paulo esteve lidando na primeira parte de Isaías (59: 7, 8) trata da injustiça de
do capítulo 3, o verbo proekometha Israel. O Salmo 36: 1 apresenta a falta
tem de ser traduzido: Temos nós (os de respeito do homem mau para com
judeus) qualquer vantagem? Isto é, nós Deus. Essa coleção de citações do V.T.,
os judeus estamos em posição pior do portanto, ilustra as diversas formas do
que os gentios? Ao que Paulo responde, pecado, as indesejáveis características
de forma nenhuma. Mas se a pergunta dos pecadores, o efeito de suas ações
refere-se a todo o argumento começado e a atitude deles para com Deus. É o
em I: 18, então tomando proekometha mesmo quadro que Paulo estivera pin-
na voz média, a tradução seria: Podemos tando.
nós (os leitores) manter algo diante de 19,20. Tudo (todas as coisas) que a
nós para proteção? O verbo proeko lei diz. A palavra lei aqui deve se referir
no meio significa "manter diante de às diversas citações que Paulo acabou
alguém" (veja LSJ, pág. 1479). A per- de fazer. Uma vez que foram extraídas
-17 -
ROMANOS 3: 20-23
-18 -
I I
ROMANOS 3: 23-26
Sublimidade envolve uma posiçao su- 25,26. Esta obra é uma transação
perior e elevada - daquele que é supre- objetiva, um ato particular de Deus que
mo. A glória de Deus, todavia, não envolveu a pessoa do Seu Filho. Foi
é apenas para ser vista por aqueles que um ato necessário. A necessidade não
crêem (10. 11: 40), mas é para ser aceita foi imposta a Deus de fora, pois então
ou fazer parte daqueles que crêem (11 Ele não seria Deus. Foi-Lhe imposta
Co. 3: 18) e é o seu destino (I Ts. 2: 12; no Seu interior, em virtude de Sua
11 Ts, 2: 14). Ela não é apenas atribuída própria natureza. A Quem (Cristo Jesus)
a Deus pela grande multidão celeste Deus propôs, no seu sangue, como pro-
por causa de sua vitória sobre o pecado píciação. Aqui Paulo reúne Deus e Cristo,
(Ap. 19: ·1), mas também caracteriza a obra realizada, e a reação do homem
a Cidade Santa, o eterno lugar de habi- diante desta obra. Deus expôs Cristo
tação de Deus com o seu povo (Ap. 21: publicamente como meio de propíci-
11, 23). Os homens estão sempre care- ação em ou pelo Seu sangue. A morte
cendo da glória de Deus porque a prá- de Cristo foi um fato que deve ser obser-
tica contínua do pecado nega tudo o vado por todos. Mas o aspecto propicia-
que a glória de Deus significa. tório - esse que propiciou o pecado - foi
A justiça de Deus que foi revelada, o de desistir de Sua vida. Isto se vê no
e a qual Deus concede a todos aqueles fato de que o Seu sangue foi derramado.
que estão crendo ou confiando significa Esses detalhes não foram apresentados
que eles estão absolvidos ou justificados para despertar simpatia, mas para mos-
gratuitamente (Rm. 3: 24). Como pode trar a realidade desta morte. Deus foi
ser? É por meio da graça de Deus. Deus o ofertante. Cristo foi o sacrifício. O
está favoravelmente disposto a fazê-lo, pecado humano foi coberto, isto é,
não por causa de algum mérito nos apagado para sempre. Todavia para esta
homens, mas porque Ele é gracioso e propiciação se tornar efetiva na vida da
resolveu manifestar a Sua graça para pessoa, é preciso que haja fé. A fé ou
com os homens. Mas pode Deus fazê-lo confiança está em Deus, em primeiro
simplesmente por uma decisão de Sua lugar, mas também envolve o que Ele
vontade, sem qualquer ação objetiva de fez. Ele tomou o pecado em Seu próprio
Sua parte? Paulo responderia "não". ser (11 Co. 5: 21), lidou com ele ali
Portanto, ele acrescenta a frase, redenção objetivamente, e assim fazendo, teve
que há em Cristo Jesus. O homem pode em vista a manifestação da sua justiça.
ser absolvido (justificado) porque Deus Mas será que Deus deixou impunes os
agiu. Ele providenciou a redenção. Ori- pecados anteriormente cometidos, isto
ginalmente a palavra significa tomar a é, antes da morte de Cristo? A morte
comprar um escravo ou cativo, libertan- de Cristo, objetiva e pública no Calvário,
do-o pelo pagamento de um resgate prova que o Senhor não deixou impunes
(Amdt, apolytrosis, pág. 95). Aqui a esses pecadores. Sabemos que Ele esta-
redenção se refere à libertação provi- va ali resolvendo o problema do pecado
denciada por Cristo, libertação do pecado humano - os pecados do passado da
e suas conseqüências. Esta redenção ou humanidade e também os que estavam
libertação é em Cristo Jesus. Estar em sendo praticados no presente, e aqueles
Cristo é pertencer-Lhe e ser uma parte ainda a serem cometidos - porque Ele
de tudo o que Ele tem feito e realizado o declarou através dos Seus apóstolos
por meio de Sua obra redentora. Paulo e profetas. Esses pecados do passado
agora prossegue mostrando exatamente foram cometidos na sua tolerância
o que esta obra envolveu. (Rm. 3: 25). O Senhor não se esque-
-19 -
ROMANOS 3: 26-31 - 4: 1-5
ceu desses pecados, embora não os uma confiança pessoal nEle. Este fato
resolvesse imediatamente. não significa que a Lei seja anulada
A ação de Deus na cruz foi mais do Antes, confirmamos a lei, ou estabele-
que uma autovindicaçâo à vista da cemos. Ela é confirmada no seu papel
história humana do passado. Ela foi de tornar os homens cônscios do pecado
também a manifestação da sua justiça (v. 20). A lei confronta os homens não
no tempo presente (3: 26). O Senhor apenas com o seu próprio pecado, mas
tem de ser justo agora quando declara também com o Doador da Lei. Quando
justificado aquele que crê em Jesus. os homens confiam em Deus, o Doador
Ele não passou uma lei dizendo, que da Lei, estão exatamente no lugar onde
aquele que crê em Jesus, seria decla- a lei tinha a in tenção de colocá-los.
rado justificado simplesmente porque 3) A Justificação pela Fé na Vida de
Ele o disse. Antes, Ele agiu. O Pai, o Abraão. 4: 1-25.
Filho e o Espírito Santo entraram na A argumen tação de Paulo de que
arena do pecado humano. O Todo-Po- somos justificados pela fé, não é algo
deroso colocou a base sobre a qual novo. O objeto da fé para Paulo era
poderia perdoar o pecado, e sobre a qual Cristo. A explícita apresen tação da fé
declara os pecadores justificados, ainda em Cristo como meio de justificação,
assim permanecendo justo. torna a nova aliança uma aliança eterna.
27-31. Agora Paulo prossegue com os Mas a velha aliança já trazia em si o
resultados da obra salvadora de Deus em princípio da justificação pela fé. Quem
Cristo na cruz. Ele sustenta que a jactân- melhor do que Abraão serviria, por
cia está excluída. Como? Por que lei? Por exemplo? Ele foi o pai do povo judeu.
que tipo de sistema, princípio, código, Por isso Paulo examina cuidadosamente
ou norma poderia a jactância ficar ex- a sua vida.
cluída? Das obras? Oh, não. Tal sistema a) Sua Justificação Obtida pela Fé,
engendra o orgulho. Antes, é pela lei não pelas Obras. 4: 1-8. 1. Paulo repre-
da fé. Uma vida centralizada nas obras senta um judeu fazendo a pergunta:
é uma vida centralizada no ego. Mas a Que pois, diremos ter alcançado Abraão,
lei ou código da fé produz uma vida nosso pai segundo a carne? Essas per-
centralizada em Deus. O Cristianismo guntas que Paulo freqüentemente apre-
está sendo considerado aqui corno uma senta, provavelmente lhe eram feitas
nova lei - um código de vida com a fé no nas suas viagens de cidade em cidade.
seu centro. Esta idéia da palavra lei 2. Vamos aceitar por um instante que
se encontra em Rm. 3: 27; 8: 2; Tg. 1: 25; Abraão fosse justificado pelas obras;
2: 8, 9; 2: 12. A essência da lei da fé é ele poderia então jactar-se. Sua jactan-
que o homem é justificado pela fé, cia, entretanto, não seria em Deus, mas
independentemente das obras da lei (Rm. nele mesmo. 3. O testemunho das Es-
3: 28). O Senhor é aquele que declara os crituras é a autoridade final para re-
homens justificados. Ele é o Deus, tanto solver qualquer ponto em discussão.
de judeus como de gentios (v. 29). Ele Abraão cria ou confiava em Deus. A
declara que os judeus são justificados crença ou confiança, isso lhe foi im-
por causa da (ek) fé, e os gentios medi- putado para justiça. (Arndt, dikaiosyne,
ante a (diá) fé. Nos dois exemplos a fé 3, pág. 196; eis 8 b., pág. 229). Aqui
é a causa da declaração de Deus. Assim Paulo está citando Gênesis 15: 6.
ambos, judeu e gentio, encontram acei- 4,5. Ora, ao que trabalha, o salário
tação com Deus da mesma maneira - a- não é considerado como favor, e, sim
través de uma submissão pessoal a Ele, como dívida. Salário vencido não tem li-
-20-
ROMANOS 4: 5-12
gaçãoalguma com doação. Masao que não que Crêem pela Sua Fé Anterior à Cir-
trabalha, porém crê naquele que justi- cuncisão. 4:9-12. Se o caso de Abraão
fica ao ímpio, a sua fé lhe é atribuída é uma ação judicial que põe à prova a
como justiça. Aqui, em poucas palavras, constitucionalidade da lei, como a sua
está resumida a doutrina paulina da fé se relaciona com o rito da circuncisão?
justificação pela fé. Confiança cons- Ele foi o primeiro a participar desse rito,
tante ou entrega a Deus é o primeiro e este se tomou o sinal da aliança de
e único requisito do homem, que é Deus com o Seu povo. Com toda certeza
justificado. Para os judeus isso era um essa pergunta era feita em toda discus-
escândalo de proporções não despre- são que Paulo tivesse com os judeus.
zíveis. Não podiam aceitar que Deus 9,10. O apóstolo insiste que o cré-
pudesse absolver um homem culpado, dito da fé para a justificação teve o seu
ímpio. Duas coisas eram desprezadas lugar antes da circuncisão de Abraão.
pelos judeus que se opunham a isto, Na verdade, a circuncisão é considerada
como se fosse um libelo contra a essência nas Escrituras como o sinal da circun-
de Deus. Primeiro, os judeus rejeitavam cisão como selo da justiça da fé (v. 11).
Jesus como Messias, e, portanto, eles Conclue-se que a circuncisão foi um
menosprezavam a transação redentora sinal dado a Abraão da justificação,
que envolvia Deus e Cristo. Segundo, que Deus lhe concedia por causa de
falharam em compreender o signifi- sua confiança. Uma vez que a fé e a
cado da crença ou confiança da parte concessão da justificação ocorrem antes
daquele que era ímpio. Tal confiança da circuncisão, Abraão é o pai dos gentios
mostra que o homem já não é mais um que crêem, mas que não têm este sím-
indivíduo sem Deus, mas antes uma bolo religioso. A ordem no caso de
pessoa que se entregou a tudo o que Abraão - fé e depois o crédito da justi-
Deus é, a tudo o que Deus fez, e a tudo ficação - toma inequivocamente claro
o que Deus fará. que a justiça pode ser computada aos
6-8. Davi também fala de como é gentios que crêem. O fato da circun-
bem-aventurado (feliz) o homem a cisão ser um sinal de justificação conce-
quem Deus atribui justiça independen- dida a Abraão por causa de sua fé, faz de
temente das obras. Com isto confirma Abraão também o pai dos judeus, os
a afirmação anterior feita sobre Abraão. quais - como ele - receberam a cir-
Na citação de SI. 32: 1, 2, fica claro que cuncisão, exerceram a fé, obtiveram a
a justificação creditada a um homem, justificação concedida por Deus, e con-
é colocada em sua conta. Descreve-se sideram a circuncisão como o sinal
essa mesma pessoa tendo perdoados desta fé e justificação. 12. Observe que
seus feitos ilegais e cobertos os seus Abraão não é o pai (num sentido espi-
pecados. O Senhor não coloca o pecado ritual e vital) daqueles que só têm o
em sua conta. Em lugar de um débito sinal externo; mas, antes, ele é o pai
que jamais conseguiria pagar, ele recebe daqueles que andam na fé, que ele teve
a justificação em sua conta, justificação antes de receber qualquer sinal exterior.
essa que nunca mereceu. Como pode Os judeus deviam andar nas pegadas
um homem ser justificado diante de de Abraão, o homem da fé, não nas
Deus? Deus concede a Sua justiça àque- pegadas de alguém que legalístamente
les que confiam nEle (Fp. 3: 9). O V.T. realizasse um rito que Deus tivesse or-
afirma que Deus o faz. O N.T. mostra denado.
mais claramente como Ele o faz. c) Realização da Promessa Realizada
b) Abraão Feito Pai de Todos Aqueles pela Fé, não pela Lei. 4: 13-16. Paulo
- 21-
ROMANOS 4: 12-17
assevera que a promessa foi dada a sa) provém da fé. A promessa tem sua
Abraão ou sua semente, não por inter- fonte na fé a fim de que todos saibam,
médio da lei. Que promessa Paulo tem em que o conteúdo da promessa é um favor,
mente? É a promessa de que ele, Abraão, não coisa merecida, que venha em retri-
havia de ser herdeiro do mundo. Esta buição de algo. Mais ainda, a promessa
linhagem exata não se encontra no V.T., é garantida para toda a descendência.
mas certamente Paulo fala aqui de Abraão Paulo esclarece que a posteridade não
como o pai de uma grande descendência deve ser restringida àqueles que viveram
(Gn. 15: 5,6; 22: 15-18). A grande quan- sob a Lei. Antes, a posteridade refere-se
tidade da sua semente - como as estre- àqueles que, tal como Abraão, crêem em
las do céu e a areia ao longo da praia Deus - aqueles que participam da fé de
(Gn. 22: 17) - era entendida 'pelos Abraão. Se esta é a definição da palavra
judeus como se referindo apenas aos descendência, então Abraão é realmente
seus descendentes físicos. Mas em Rm. pai de todos nós.
4: 11 Paulo diz que Abraão é o pai da- d) Deus, o Senhor da Morte, o Objeto
queles que crêem entre os gentios - "a- da Fé para Abraão e o Cristão 4: 17-25.
queles que crêem estando na incircun- Nesta parte o leitor vê o Deus em Quem
cisão". Por isso Abraão é o herdeiro Abraão creu. Também fica sabendo que
do mundo, porque ele é o pai dos crentes. obstáculos e dificuldades Abraão venceu
Esta promessa é mediante a justiça da fé. por causa de sua firme confiança. Ambos,
É claro que a fé realmente não concede Abraão e o Cristão, partilham da mesma
a justiça. Deus a concede com base na convicção: Deus dá vida aos mortos.
fé. 14. E se nós presumirmos que aqueles 17. Um ano antes de Isaque nascer,
que são da Lei são herdeiros? Anula-se Deus reapareceu a Abraão, reenfatizando
a fé e cancela-se a promessa. Sempre Sua aliança com ele, dizendo que seria
que a escolha recai sobre a fé ou a lei, o pai de muitas nações, e mudando o
então a escolha da lei (legalismo) como seu nome de Abrão para Abraão (Gn. 17:
base da herança do mundo e maneira 1-5). O apóstolo cita a frase, Por pai de
de agradar a Deus, significa abandonar muitas nações te constituí. Paulo des-
a fé e a promessa que nela se baseia. lS. creve Abraão, no momento em que
A lei suscita a ira. Ela o faz estabelecendo esta declaração foi feita, perante aquele
um padrão divino de conduta. Os homens (Deus) no qual creu. Duas coisas impor-
que ignoram esse padrão e fazem o que tantes foram ditas sobre o Deus em Quem
querem, colocam-se diretamente sob a Abraão creu: 1) Ele vivifica os mortos.
ira de Deus. Mas onde não há lei, também Abraão experimentou este poder no
não' há transgressão. Ninguém normal- nascimento de Isaque (cons. Rm. 4: 19).
mente seria acusado de excesso de ve- Paulo estava pensando no Pai especial-
locidade, se o estado não tiver um limi- mente como Aquele que ressuscitou
te de velocidade, e se não houver sinais Cristo (cons. v. 24). 2) chama à exis-
de limite colocados ao longo da estrada, tência as cousas que não existem. Este
e se não houver nada que pareça irrazo- é o poder do Senhor para criar. Também
ável e impróprio naquele que está diri- poderia ser traduzido assim: Deus cria
gindo. A palavra transgressão (para- o que não existe como se existisse.
basis) refere-se a uma infração, uma vio- Nenhum mortal pode compreender o
lação de ordem específica. O papel da poder criativo de Deus. A criação dos
Lei, então, é o de esclarecer o que Deus objetos animados e inanimados e a sua
exige dos homens. conservação é a atividade de Deus. A
16. Essa é a razão por que (a promes- natureza dos objetos pode ser discutida
-22-
ROMANOS 4: 17-25
- mente, matéria, energia - mas o por- Cristo nosso Senhor. Há uma diferença
quê e como de sua existência, só pode entre Abraão e o Cristão. Abraão creu
ser exatamente conhecido até onde ou confiou em Deus (v. 3). O Cristão
o Senhor revela. 18. Conhecendo Abraão confia no mesmo Deus, mas agora Ele
um Deus assim, ele era capaz de crer, é conhecido como o Deus que ressus-
em esperando contra a esperança. Sua fé citou Jesus Cristo dos mortos (v. 24).
foi dirigida para o propósito e alvo de Nisto o Senhor revelou-se agindo em be-
ser o pai de muitas nações. 19. Havia nefício do homem de um modo todo
dois grandes obstáculos na consecução especial. 25. O centro de sua ação é
do seu alvo. Ele era fisicamente incapaz Cristo, o qual foi entregue por nossas
de gerar um filho. Sua esposa Sara era transgressões. O verbo "entregar" está
fisicamente incapaz de conceber e dar à na voz passiva, significando que foi
luz. Mas ele sem enfraquecer na fé, em- Deus que o entregou (cons. 8: 32). A
bora levasse em conta o seu próprio mesma palavra foi usada com Judas e
corpo (considerando-o) amortecido (v. sua traição. Mas embora Judas fosse
19). Ele não considerou o seu próprio o instrumento humano, que entregou
corpo já morto. Mas esta negativa não Cristo aos soldados, e embora o pecado
é sustentada pelos melhores manuscritos. de Judas fosse muito grande, era propó-
Portanto, Paulo descreve Abraão enfren- sito de Deus que Cristo fosse entregue
tando a dificuldade. Ele tinha cerca de nas mãos dos pecadores. (A palavra
cem anos de idade. Ele considerou "entregou", paradidomi, é usada em
mais a morte do ventre de Sara. 20. diversos contextos interessantes. Para
Não duvidou da promessa de Deus, um estudo dessa palavra veja F. Buchsel,
por incredulidade. A palavra que foi TWNT, 11, 171-175; Karl Barth, Church
traduzida para "duvidou" (diakrino) Dogmatics, VoI. 11, Parte 2, lhe Doctri-
poderia ser também "oscilou". Para o ne of God, págs. 480494). Quando ve-
patriarca, não havia incerteza por causa mos que "nossas" transgressões exigiram
de incredulidade. Em face desses obs- que Cristo fosse condenado à morte,
táculos, Abraão se fortaleceu na fé ou a morte de Jesus aparece numa luz
confiança. Observe aqui os efeitos da diferente. Um observador neutro po-
crença e descrença. A incredulidade põe deria concluir que Cristo morreu e
a pessoa em discordância com ela mesma; ressuscitou. Mas alguém que se entregou
a crença produz força para enfrentar o a Deus diz: "Jesus foi entregue por causa
obstáculo. Abraão deu glória a Deus das minhas transgressões". O pronome
conforme foi fortalecido. 21. Ele esta- plural nossas mostra a identificação de
va convencido de que o que ele (Deus) Paulo com seus leitores romanos. Ressus-
. . . prometera, era capaz de realizar. citou por causa da nossa justificação. O
O verbo "prometer" está no perfeito. verbo está novamente na passiva. Deus
Isto significa que Abraão estava na posse ressuscitou Cristo dos mortos. Aqui se
da promessa, tão grande era sua con- diz que a ressurreição foi essencial para
vicção de que a promessa se realizaria. sermos justificados. A ressurreição assi-
22. Este era o tipo de fé creditado a nalou não somente a vitória de Cristo
Abraão como justiça. 24. O crédito sobre a morte mas também sua vida
da fé como justiça, não foi só para o testífica que Ele completou a obra
benefício de Abraão. O registro deste redentora que foi planejada por Deus
fato foi por nossa causa. A justiça será (a obra para a qual Ele se tornou ho-
computada àqueles que crêem naquele mem), e que Ele vive para rogar pela
que ressuscitou dentre os mortos Jesus causa daqueles que crêem nEle e na
-23 -
ROMANOS 4: 25 - 5: 1-5
- 24-
ROMANOS 5: 5-11
tãos (Jo. 13: 34, 35). dade, conclui o apóstolo, muito mais
Este amor, derramado em nossos verdade é que seremos salvos pela sua
corações, com a esperança que não vida. Em outro lugar, Paulo destaca
desaponta, tem o seu exemplo supremo que aquele que é ligado ao Senhor é
no amor de Deus por nos (Rm. 5: 6-8). um espírito com Ele (I Co. 6: 17), isto
6. Realmente, quando nós ainda éramos é, participa da vida ressurreta e poder
fracos (fraqueza moral), (Cristo) morreu espiritual de Cristo. Ele também diz:
a seu tempo pelos ímpios. Raros são os "Quando Cristo, que é a nossa vida, se
exemplos de uma pessoa morrendo manifestar, então vós também sereis
por um homem justo. Que alguém possa manifestados com ele, em glória" (CI.
se aventurar a morrer por um homem 3: 4). Seremos salvos pela vida de Cristo
bom, por causa do impacto de sua vida, porque participamos desta vida. Per-
é muito plausível. Mas, que Deus de- tencemos a Cristo. O escritor aos He-
monstraria o seu amor por nós em Cristo, breus destaca que Cristo vive para in-
morrendo por nós enquanto éramos terceder por nós (Hb. 7: 25). A vida
ainda pecadores, não é apenas espantoso, intercessória de Cristo na glória, tem um
mas quase incrível. Quatro vezes nesta desempenho vital na salvação dos cren-
seção ocorre a preposição hyper (vs. tes. Mas o contexto aqui parece desta-
6, 7, 7, 8). Ela tem um sentido tão car a participação dos crentes na morte
amplo que nenhuma palavra pode trans- e vida ressurreta de Cristo. Os crentes
miti-la. Ela realmente envolve em uma serão salvos (fut.) pela sua presente e
só unidade as idéias de "em benefício futura participação na vida de Cristo.
de", "em favor de" e "em lugar de". 11. Jactar-se ou gloriar-se em Deus,
Se estas idéias forem colocadas dentro ato esse por meio do qual o crente a-
da palavra "por", então todo o signifi- firma sua devoção a Deus, é feito atra-
cado da morte de Cristo "por" nós vés do Senhor Jesus Cristo. Através
começa a despontar. dEle acabamos agora de receber a recon-
9. Mas Paulo rapidamente muda o ciliação. Deus é Aquele que age na
cenário do nosso anterior estado de reconciliação (11 Co. 5: 18, 19), e os
pecadores para o agora. Se Deus nos homens diz-se que são reconciliados
amava quando éramos pecadores, se (Rm. 5: 10; 11 Co. 5: 20), isto é, Deus
Cristo morreu por nós então, muito age sobre eles. Assim, os crentes, diz-se,
mais agora, tendo sido declarados jus- recebem reconciliação. São os recipi-
tificados por Seu sangue, seremos sal- entes de um relacionamento de paz e
vos através dEle (Cristo) da futura ira harmonia realizado por Deus.
de Deus. Observe que a base para a jus- b) Os Efeitos da Desobediência de
tificação é o sangue de Cristo. Esta fu- Adão e da Obediência de Cristo. 5: 12-21.
tura salvação é do castigo da ira de Esta é uma das passagens mais difíceis
Deus, do qual se fala em 11 Ts, I: 9, "eter- do livro de Romanos, porque Paulo é
na destruição, banidos da face do Senhor tão conciso. A aparente repetição, é
e da glória do seu poder". 10. Os que apenas por causa de freqüente menção
agora estão justificados, diz-se, que de Adão e Cristo - e aqueles que foram
foram reconciliados com Deus, quando influenciados por suas ações. Na verdade,
inimigos. A base dessa reconciliação Paulo desenvolve seu argumento com to-
ficou explicitamente declarada - me- do o cuidado. Ele usa o argumento a
diante a morte de seu Filho. Fomos fortiori (mais conclusivamente, com ra-
reconciliados por Sua morte enquanto zões mais fortes): Se o pecado de Adão
ainda éramos inimigos. Sendo isto ver- resultou nisso, quanto mais a obra reden-
-25 -
ROMANOS 5: 11-14
tora de Cristo fará. Embora a obra com Acã foi erradicado de Israel. Outro
redentora de Cristo seja muito mais exemplo de solidariedade familiar en-
potente do que a transgressão de Adão, contra-se no incidente de Abraão, pagan-
como mostra o apóstolo, isto não sig- do dízimos a Melquisedeque (Gn. 14:
nifica que todos os homens serão salvos. 18-20). O escritor aos Hebreus diz que
Pois os homens, para reinar em vida, Leví deu dízimos a Melquisedeque,
devem receber a abundância da graça embora não nascesse antes de aproxi-
e a justiça que Deus põe à disposição madamente 200 anos mais tarde. Ele
deles (v. 17). diz que Levi estava ainda nos lombos
12-14. A Universalidade do Pecado e de seu pai, quando este se encontrou
da Morte. 12. Por um só homem entrou com Melquisedeque (7,9, 10). No mesmo
o pecado no mundo, e pelo pecado a sentido, Adão era o indivíduo e a raça.
morte. O homem é Adão. O tempo do Sua posteridade é considerada agindo
verbo indica uma entrada histórica distin- com ele porque é a sua descendência.
ta. Mundo refere-se à humanidade (uso Como filhos de Adão constituem a
comum da palavra em Romanos; cons. raça de Adão.
1: 8; 3: 6; 3: 19; 5: 12, 13). A morte 13. Dos tempos de Adão até os da lei
passou a todos os homens porque todos mosaica, o pecado estava no mundo.
pecaram. A morte física sobreveio a todos Estava presente nos atos dos homens
os homens, mas não porque estivessem e na sua natureza (isto é, no princípio
todos no processo do pecado individual. da rebeldia que se encontrava neles).
Todos os homens pecaram (com exce- Mas o pecado não é levado em conta
ção das criancinhas que morrem na in- quando não há lei. Adão foi acusado
fância) experimentalmente. Mas Paulo do seu pecado e do pecado de sua des-
não está falando sobre isso aqui. O cendência, porque ele quebrou uma
pecado de todos centraliza-se no de ordem explicitamente dada por Deus.
um só homem, Adão. Porque todos Os homens, de Adão até Moisés, sem
pecaram. Paulo declara que todos os tais leis explícitas, não poderiam ser
homens pecaram quando Adão pecou, acusados do pecado na forma em que
mas ele não explica como. Todavia Adão foi. Eles não tinham estatutos
muito se tem escrito sobre a questão definidos e específicos, como os que
do como. O conceito paulino da soli- foram mais tarde dados na lei mosaica.
dariedade racial, parece ser uma uni- 14. Mas esses homens participaram dos
versalização do conceito hebreu da efeitos do pecado de Adão, porque a
solidariedade da família. Uma figura morte reinou de Adão a Moisés, mesmo
trágica da solidariedade familiar vê-se sobre aqueles que não pecaram à seme-
em Josué 7: 16-26, quando Acã foi des- Ihança da transgressão de Adão. Olhando
coberto ser a causa da derrota de Israel para esses homens do ponto de vista
em Aí. Apropriara-se de despojos de da solidariedade humana, Paulo vê os
Jericó, contrariando ordem específica homens de Adão a Moisés, todos en-
do Senhor (Js. 6: 17, 18). Acã não acu- volvidos no pecado inicial de Adão
sou ninguém mais - "Eu vi ... cobicei-os e suas conseqüências. Aqueles, neste
e tomei-os" (Js. 7: 21). Mas na adminis- grupo, que não pecaram quebrando uma
tração do castigo, não foi somente Acã, ordem especificamente dada, também
mas também toda sua propriedade, seus morreram. Adão foi chamado neste
filhos, suas filhas, seus bois, seus jumen- versículo de o qual prefigura aquele
tos, suas ovelhas, sua tenda, foram que havia de vir. Paulo não está dizendo,
destruídos. Tudo o que tinha ligação que não houveram ordens dadas por
-26 -
I ~'
ROMANOS 5: 14-19
Deus conhecidas pelos homens en tre transgressão de um, con trasta com o
Adão e a Lei (cons. Gn. 26: 5). Ele reino da vida - uma parte daqueles
afirma que uma ausência de um código que recebem a abundância da graça
legal - de uma norma divinamente e o dom da justiça. Por meio de um só,
concedida - afeta a maneira como reinou a morte. Adão transgrediu o
o pecado é colocado contra os homens. mandamento de Deus, que dizia, que
15-17. Resultados Contrastantes de não devia comer da árvore do conhe-
Diversas Atitudes. Paulo destaca as di- cimento do bem e do mal (Gn. 2: 17).
ferenças entre Adão e Cristo. Esta ordem foi um teste da obediência
15. A transgressão de um (Adão) do homem a Deus. Com a entrada do
contrasta-se como a graça de Deus e o pecado na experiência do homem, a
dom na esfera da graça que um homem, morte também entrou. A morte passou
Cristo, concede. Morreram muitos por a reinar. Reinava de maneira suprema.
causa da transgressão de Adão. Uma vez A atitude de Adão provocou o reino da
que a morte passou a todos os homens morte. Muito mais. Eis aí novamente a
(v. 12), está claro que a expressão muitos ação de um homem; mas desta vez é a
refere-se a "todos os homens". Muito ação de um homem simplesmente em
mais. A graça de Deus e o dom que está resposta ao que Deus fez. Os que rece-
na esfera da graça, que Cristo concede beram a abundância da graça, e do dom
afluiu para muitos. "Os muitos" é o mes- da justiça. Vemos aqui o homem obri-
mo grupo que foi afetado pela transgres- gado a tomar uma atitude para com a
são de Adão, e conseqüentemente morre- ação de Deus. A abundância da graça
ram. A graça de Deus e o dom na esfera relaciona-se com tudo o que Deus rea-
da graça de Cristo abundou para todos lizou e prometeu fazer em Cristo. O dom
os homens. O dom é a justificação (veja foi definido aqui como a justiça. É a
v. 17). O ato de Adão trouxe a morte. justiça concedida por Deus com base
A graça divina abunda para aqueles que na fé (Rm. 1: 17;3: 21, 22, 26; 5: 17,21;
foram afetados pelo ato de Adão. 9: 30; 10: 3). Aqueles que estão receben-
16. O veredito da condenação pro- do o favor abundante de Deus para com
veniente da transgressão, contrasta com o os que estão em Cristo, e a justificação
dom gracioso que veio à existência por que Ele concede, reinarão em vida por
causa das muitas transgressões. Porque meio de um só, a saber, Jesus Cristo.
o julgamento derivou de uma só ofensa, Por causa da obra de um só homem,
para a condenação. O juízo (veredito) Jesus Cristo, a morte não reina mais,
refere-se à sentença de Deus. A palavra mas os homens reinarão em vida por
condenação envolve idéias de "castigo" meio de um só. Por que não são tantos,
e "ruína". Perguntamos: a quê? A res- os que reinam em vida, quantos os
posta é, ao castigo e à ruína. A seriedade que estavam sob o reino da morte?
desta condenação não pode ser exage- Porque a abundância da graça e o dom
rada. Mas a graça transcorre de muitas da justiça, foram rejeitados por um
ofensas, para a justificação. O resultado número maior do que os que os rece-
da transgressão de Adão foi a condena- beram.
ção. Muitas transgressões produziram a 18,19. Todos os homens foram afe-
operação do gratuito dom de Deus, e tados pela trangressão (de Adão) e o
o seu resultado ou alvo é a absolvição. ato da justiça (a morte expiatória de
Como deve ser poderoso este dom gra- Cristo e a Sua ressurreição). Pois (como
tuito quando dirigido para tal fim! resultado então). Paulo está pronto
17. O reino da morte, por causa da para resumir o seu argumento brevemente.
-27 -
ROMANOS 5: 19- 21
Assim como por uma só ofensa veio o ficado: "apontar" "colocar na catego-
juízo sobre todos os homens. O sujeito ria de ", "constituir", "estabelecer".
aqui, o juízo, tem de ser suprido do Por causa da desobediência de Adão,
versículo 16. O verbo veio é uma tra- os muitos foram apontados por Deus
dução satisfatória do verbo grego ege- como sendo pecadores. Foram coloca-
neto, que deveria ser fornecido. Assim dos na categoria de, e constituídos peca-
também por um só ato de justiça veio a dores. Por causa da obediência de Cristo,
graça sobre todos os homens para justi- os muitos serão apontados como justos.
ficação que dá vida. Em relação a um só O verbo está no futuro porque Paulo
ato de justiça veja Arndt, dikaioma, 2, estava pensando na futura geração de
pág. 197. Romanos 4: 25 dá evidência crentes, que confiando em Cristo seriam
de que Paulo considerava a morte e a declarados justos. Teria o apóstolo mu-
ressurreição de Cristo como um todo dado o alcance dos muitos em cada
unificado. O sujeito, a graça (dom gra- lado desta comparação? Não, porque
tuito), deve ser procurado em 5: 16. Esta ele está mostrando em que categoria
graça vem a todos os homens com o pro- Deus coloca os homens quando ele
pósito de (para) justificação que dá vida os encara em termos do efeito real
(veja Arndt, dikaiosis, pág. 197). Em da desobediência de Adão, e do efeito
ambas as partes deste versículo, ocorre potencial da obediência de Cristo. Paulo
a mesma frase - todos os homens. Por não está ensinando, como em 5: 17,
meio de uma transgressão o veredito que todos os homens serão salvos. Mas
ou sentença de juízo veio sobre todos no versículo 19, ele declara que, a obe-
os homens. Da mesma maneira, por diência de Cristo abrange todos aqueles
meio de um só ato de justiça veio o dom afetados pela desobediência de Adão.
gratuito da redenção (veja Amdt, karis-
20,21. O Reino do Pecado Versos o
ma, 1, pág. 887) sobre todos os homens
Reino da Graça. Aqui Paulo conclui a
com o propósito da absolvição que pro-
argumentação que começou em 5: 12
duz vida. Paulo declara que o efeito do
sobre a pergunta: Qual dos dois é o
ato de justiça de Cristo, estende-se exa-
mais poderoso - o pecado ou a graça?
tamente até onde se estendeu o efeito
20. O escritor nos faz lembrar que
da transgressão de Adão.
19. Como pela desobediência de um embora a justificação pela fé seja o ponto
só homem muitos se tomaram pecadores, central da história humana, a Lei tem
assim também por meio da obediência um lugar importante. A Lei veio para
de um só muitos se tomarão justos. A que avultasse a ofensa (aumentasse,
desobediência de Adão contrasta com multiplicasse). Mas, onde abundou o
a obediência de Cristo. No versículo pecado. As palavras ofensa e pecado
precedente Paulo emprega o vocabulário foram ambas personificadas aqui, fazendo
e a estrutura de um tribunal de justi- do mal um inimigo distinto e não uma
ça - condenação de um lado e absol- mera abstração. Superabundou a graça.
vição de outro. Ele conserva esta lin- Ou, . esteve presente em abundância
guagem legal também neste versículo. O ainda maior. A graça é muito mais po-
verbo kathistemi, traduzido como se derosa que o pecado. Todavia quando
tomarão, faz parte dessa linguagem os crentes vêem o tremendo poder do
legal. Em que sentido os muitos se tor- pecado, esquecem-se desta verdade.
naram pecadores e em que sentido 21. Como o pecado reinou pela
os muitos se tomarão justos? A lin- morte, a graça abundou para que reinas-
guagem legal sugere o seguinte signi- se ... pela justiça. O pecado está relacio-
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ROMANOS 5: 21 - 6: 1-4
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ROMANOS 6:4·11
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ROMANOS 6: 11-16.
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ROMANOS 6: 17-23 - 7: 1-2
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ROMANOS 7: 2-6
pio legal de que uma mulher casada conspícuas, lembrando aos homens os
está ligada ao seu marido. Tratando des- padrões divinos, operavam constante-
te mandamento em particular, Paulo mente em nossos membros. Dominados
certamente o faz à luz de sua bagagem por essas paixões, os homens produzi-
judia dentro da lei mosaica. Se o mes- am fruto para a morte. A morte aqui
mo morrer, desobrigada ficará da lei está personificada. Significa morte eterna
conjugal. A morte traz a anulação de todo (veja 6: 21). 6. Agora, porém, libertados
o relacionamento anterior do seu ca- da lei. A Lei não tinha poder para remo-
samento. 3. Será considerada adúltera ver as paixões dos pecados. Livres da lei,
se vivendo ainda o marido, unir-se com equivalente aqui a estar livre da carne.
outro homem. A tradução "se for de" Estamos mortos para aquilo a que está-
(cons. Arndt, ginomai, 11, 3, pág. 159) vamos sujeitos (pela Lei). Sob a Lei, o
tem o sentido implícito de se for casa- crente morre com Cristo. Ele morre às
da com. Mas, depois da morte do seu exigências da Lei que reclamam a conde-
marido, ela pode tomar a se casar sem nação. Paulo fala desta morte para a
que seja acusada de adultério. A esposa Lei em Gl. 2: 19. Ficar livre da lei produz
que ficou viúva, está livre para casar-se um novo relacionamento com uma nova
com outro. atitude. O relacionamento é o de ser es-
4. Quando Paulo aplica a ilustração cravo constante de Deus. Isto significa
ao relacionamento de um indivíduo que devemos servir a Deus, completa-
com a Lei e com Cristo, é o indivíduo mente cônscios de que Lhe pertencemos.
que morre (o crente que morre com Ele nos possui porque Ele nos redimíu.
Cristo) e fica livre da Lei e livre para Servimos em novidade de espírito e não
pertencer a Cristo. Vós morrestes rela- na caducidade da letra. Ou melhor,
tivamente à lei, por meio do corpo de em novidade de Espírito que contrasta
Cristo. A expressão por meio do corpo com o velho código legal. Em vez de um
de Cristo refere-se à identificação do legalismo que dá força aos estatutos, há
crente com Cristo em sua morte física. um espírito de amor e dedicação.
Em 6: 6 Paulo já disse que a pessoa não 3) Perguntas que Surgiram por causa
regenerada foi crucificada com Cristo. da Luta Contra o Pecado. 7: 7·25.
Esta morte privou a Lei do seu poder
sobre nós e teve por fim o nosso per- Aqui Paulo desvenda suas próprias
tencer a outro - aquele que ressuscitou lutas íntimas. Ele não o relata como se
dentre os mortos. Eis aí um novo alis- fosse uma parte interessante de sua auto-
tamento. Agora pertencemos a Cristo, biografia, mas porque sabe que seus
para que possamos produzir frutos leitores .têm as mesmas lutas. Paulo
para Deus. Traduzir a frase, eis to genes- controlado pelo pecado fazia coisas
thai humas hetero, para "para que se- que o Paulo controlado por Deus não
jais de (casados com) outro", está abso- queria fazer. Paulo controlado pelo
lutamente certa. Faz parte da analogia pecado "não era o seu verdadeiro ego, mas
de Paulo e concorda com o uso que o falso. Apesar disso, era o mesmo ego.
faz da comparação com o casamento Paulo era culpado quando era controlado
em outra passagem (11 Co. 11: 2; Ef. pelo pecado e santo quando controlado
5: 25,29). por Deus. Na qualidade de judeu ele
conhecia a vontade de Deus (Fp. 3: 6;
5. Estar na carne significa estar sob o Atos 22: 3; 26: 4, 5). Até onde execu-
controle e domínio do pecado. As pai- tava a vontade de Deus, era controlado
xões pecaminosas, as quais a Lei tornou por Deus. Isto não fazia dele um crente
-33-
ROMANOS 7: 7-14
em Cristo ou cristão. Mas tornava-o côns- adulto, como o jovem e rico doutor da
cio da luta entre fazer o que é certo, e lei pode declarar confiantemente: "To-
fazer o que é errado. Quando se tomou das estas coisas tenho guardado (obser-
cristão, a luta se intensificou. Todo o vado) desde a minha mocidade" (Mc.
crente, cônscio da justiça que Deus con- 10: 20;cons. Mt. 19: 20;Lc.18:21).10.
cede, e da justiça como meio de vida Mas houve um dia na vida de Paulo quan-
cristã, pode dizer ao ler esta passagem, do o mandamento específico, "Você
"Esta é a minha experiência". Paulo (sing.) não deve desejar o que está proi-
também se coloca representativamente bido", acertou-o em cheio. Paulo tomou
para aquelas pessoas judias - o povo consciência do pecado, e ficou sabendo
da Lei - que passaram da atitude de que estava espiritualmente morto. Este
complacência sob a Lei, para a condição mandamento específico ("Não cobiça-
de preocupação com as lutas profundas, rás") além de tomar claro que é pecado
que tiveram lugar, e então para a posição desejar o que está proibido, também lhe
de serenidade e vitória em Cristo. disse como deveria viver. Fê-lo lembrar
a) A Lei é pecado? 7: 7-12. 7. Se, ao que não estava vivendo da maneira
se tornar cristão, um homem é libertado certa. 11. O pecado o enganara. Com-
ou isentado da Lei, isso significa que a preendendo o mandamento, a extensão
Lei tem algo de errado? Paulo responde: da mentira do pecado tornou-se-lhe
De modo nenhum. A Lei lhe mostrou (e clara. O mandamento fez Paulo ver
mostra-nos também) exatamente o que o que o pecado operara a sua morte. Pri-
pecado é. Por exemplo, Paulo diz: Eu meiro o pecado engana, depois mata.
não teria conhecido o pecado, senão Esta ordem mostra como o pecado é
por intermédio da lei; pois não teria astuto e qual o seu objetivo - a ruína
eu conhecido a cobiça se a lei não dis- eterna dos indivíduos.
sera: Não cobiçarás. O anseio pelo mal b) Aquilo que é bom é a causa da
toma-se visível quando o mandamento morte? 7: 13, 14. Paulo faz esta per-
declara: Esta coisa má está proibida. gunta a respeito de si mesmo. E respon-
Então o pecador a deseja. 8. O após- de enfaticamente: De modo nenhum.
tolo conta como o pecado conside- Deus colocou as coisas de tal maneira
rou o mandamento, tomando ocasião, que o pecado produz a morte através
despertou nele toda a cuncupiscência daquilo que é bom. O pecado, para re-
(pelo que estava proibido). Sem lei está velar-se como pecado, por meio de uma
morto o pecado. Paulo não diz que sem cousa boa, causou-me a morte; a fim
a lei não se comete pecado. Ele diz de que pelo mandamento se mostrasse
que sem a lei o pecado não nos é aparen- sobremaneira maligno. Sendo o homem
te. É preciso o nível de um carpinteiro pecador, ele não crê que o pecado seja
para nos mostrar como uma tábua é realmente o que é. A Lei lhe mostra
torta. claramente o que é, e o que pretende
fazer.
9. Outrora, sem lei, eu vivia; mas, Tanto os leitores como o escritor
sobrevindo o preceito, reviveu o pecado, sabiam que a lei é espiritual (cheia do
e eu morri. O apóstolo aqui fala de sua Espírito divino). (Veja Arndt, pneu-
própria consciência do pecado. Quando matikos, pág. 685). A palavra pneu-
era rapaz, o conteúdo da Lei não o al- matikos também pode ser traduzida
cançava. Ele não entendia o verdadeiro para pertence ou corresponde ao Espi-
propósito da lei. Esta falta de entendi- rito (divino). (Ibid.). Eis aí o grande
mento não se limita às crianças. Um tributo de Paulo prestado à Lei. Ela
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ROMANOS 7: 14-22
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ROMANOS 7: 22-25 - 8: 1
espiritualmente sadia diante da lei de lei de Deus. Mas com a sua carne (o
Deus. ego controlado pelo pecado) ele serve
23. Ao mesmo tempo, Paulo via uma ao princípio do pecado.
outra lei nos seus membros. Seu verda- As expressões seguintes caracterizam
deiro ego, o homem interior, concordava Paulo sob o controle do pecado: "o pe-
com a lei de Deus. Mas outra lei (a lei cado que habita em mim" (vs. 17,20); "a
do pecado) mantinha o "eu" cativo, lei" (v. 21); "nos meus membros outra
como um prisioneiro. Mas antes de lei" (v. 23); "lei do pecado que está
fazer de Paulo um prisioneiro, a lei do nos meus membros" (v. 23); "em mim,
pecado batalha contra a lei do seu en- isto é, na minha carne" (v. 18); "segundo
tendimento. Esta lei do seu entendi- a carne" (v. 25). As expressões seguin-
mento, com o homem interior, repre- tes designam Paulo sob o controle de
sentava o verdadeiro ego de Paulo contro- Deus: "eu" enfático com o pronome
lado pelo ser de Deus. Paulo diz, que o expresso (vs. 17, 20); "ao homem inte-
seu verdadeiro ego foi aprisionado pela rior" (v. 22); "a lei da minha mente"
lei do pecado em seus membros. Se Paulo (v. 23); "com a mente" (v. 25).
parasse aqui, ele estaria discordando 4)Vitória Através do Espírito Rela-
de sua declaração em 6: 14. Mas ele cionada com o Propósito e Ação de
não parou. Ele afirma que o pecado Deus. 8: 1-39.
em seus membros é uma força poderosa Ninguém pode compreender o sig-
(e ninguém deveria tentar negar este nificado da vitória, até que saiba quem
fato). 24. O pensamento de que o é o oponente, e que tipo de luta está
pecado podia mantê-lo prisioneiro le- envolvida. Em Romanos 8 Paulo mostra
vou-o a exclamar: Desventurado homem o que Deus fez para conceder ao cristão
que sou! quem me livrará do corpo a vitória sobre o pecado Ele destaca o
desta morte? O corpo é o cenário desta que Deus está fazendo agora e o que o
luta. O pecado vivo nos membros pro- crente deve fazer. Ele examina o propó-
duz a morte espiritual do corpo, e o sito de Deus e a crise sentida por ambos,
homem se toma cônscio de que precisa a criação e o crente. Ele enfatiza a rela-
de ajuda externa. Paulo grita não por ção do Espírito com o crente e a inter-
libertação do corpo como tal, mas pela -relação do Espírito com Cristo e o Pai.
libertação do corpo caracterizado pela Ele pinta um quadro glorioso do destino
morte espiritual - o fazer daquilo que daqueles que amam a Deus e mostra
é mau em oposição ao seu desejo de fa- que nada pode separá-los do amor de
zer o que é bom. 25. Graças a Deus Deus. Quando um crente se ocupa de
por Jesus Cristo nosso Senhor. Emo- si mesmo, não pode levantar-se acima
cionado demais, o apóstolo não dá uma de Rm. 7: 25. Quando vê o que Deus
resposta direta a sua pergunta. Ele apre- fez e está fazendo por ele, deve reagir
senta Aquele a quem devemos agra- com a linguagem de 8: 37-39.
decer, enfatizando que é o Libertador. a) Livramento do Pecado e Morte
A declaração completa deveria ser: pela Atividade do Pai, do Filho e do
"Graças sejam dadas a Deus; o livra- Espírito. 8: 1-4. 1. Agora, pois, retroce-
mento vem por meio de Jesus Cristo de ao último versículo de 7: 25. Uma vez
nosso Senhor". Em Romanos 8 ele que a libertação vem por meio de Jesus
fala mais de seu livramento. Mas aqui Cristo não existe nenhuma condenação
ele simplesmente resume o argumento (que envolva castigo ou destino eterno)
de 7: 7-25. Com o seu entendimento há para os que estão em Cristo Jesus.
ou mente ele constantemente serve à Aqueles que estão em Cristo não são c on-
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ROMANOS 8: 1-10
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ROMANOS 8: 10-17
ter o próprio Cristo (cons. 8 :16, 17). Pau- "ses", Uma vez que a morte espiritual
lo fala da realidade de Deus na vida de aqui foi encarada corno o clímax - o
um cristão. Embora cheio de Deus banimento final da presença de Deus
sob este aspecto, ele diz, o corpo na - a vida, à que se refere, deve ser a vida
verdade, está morto por causa do pecado, glorificada que está à espera do crente.
mas o espírito é vida por causa da justiça. c) Orientação e Testemunho do
Aqui o termo corpo significa o homem Espírito. 8: 14-17. 14. Filhos de Deus
sob o controle do pecado - a idéia são definidos como aqueles que são
comumente expressa em "carne". O guiados pelo Espírito de Deus. O Espí-
falso ego está morto ou inútil por causa rito lidera. O verbo está no tempo pre-
do pecado. Este ego não pode produzir sente e na voz passiva - todos os que
algo para Deus. Mas o espírito - o ver- são guiados (conf. Arndt,ago, 3, pág. 14).
dadeiro ego - está vivo por causa da 15. As frases, espírito de escravidão e
justiça que Deus concede. É claro que espírito de adoção são paralelas. Uma
não existem dois egos separados. Quando tradução melhor seria: O estado de es-
o ego se torna falso, age de acordo com pirita que pertence à escravidão e o es-
a carne. Quando o ego é verdadeiro, tado de espirito que pertence à adoção.
age de acordo com o Espírito. O resultado do primeiro é o medo; o
11. A presença do Espírito de Deus resultado do outro é a capacidade de
nos crentes garante que Deus, que ressus- orar e dirigir-se a Deus como Pai. A
citou Cristo dos mortos, revivificará palavra Aba é um termo aramaico colo-
os corpos mortais dos crentes por meio cado em letras gregas e transliterado
do seu Espírito que '" habita neles. O pa- para o português. Significa "Pai". A
pel do Espírito Santo na ressurreição reunião de ambos, judeu e grego (genti-
dos crentes é um tema que tem sido os), em Cristo, vê-se nessas palavras
negligenciado. Um corpo mortal é um introdutórias de vocativo em oração.
corpo sujeito à morte. Um corpo revi- 16. O Espírito Santo dá testemunho
vificado pelo Espírito Santo torna-se com o nosso espírito de que somos
imortal. A transição da mortalidade filhos de Deus. Isto significa na verdade
para a imortalidade é obra do Espírito. que o Espíri to dá testemunho com nosso
12. Os crentes estão no Espírito, e ego (veja I Co. 16: 18; G1. 6: 18; Fp.4:
o Espírito habita neles. Através dEle 23). Este testemunho relaciona-se a cada
receberão corpos glorificados. Estes fatos aspecto de nossa personalidade, que par-
levam a urna certa conclusão. Assim, ticipa da estrutura de nosso ego. O tes-
pois, irmãos, somos devedores, não à temunho do Espírito é para a pessoa. 17.
carne como se constrangidos a viver Observa-se que os crentes são herdeiros
segundo a carne (veja Arndt, opheiletes, de Deus e co-herdeiros de Cristo. Somos
2b, pág. 603). 13. Presumindo que estão herdeiros de tudo que Deus tem para
vivendo de acordo com a carne, Paulo nos oferecer, o que significa que somos
diz aos seus leitores que vão morrer. co-herdeiros em Cristo, a quem o Pai
Esta é uma morte espiritual. Mas presu- entregou todas as coisas. Mas, para
mindo que pelo Espírito condenam sermos co-herdeiros com Cristo, signi-
à morte os feitos maus (cons. C1. 3: 9) fica que temos também de participar
do corpo, viverão. Os dois "ses" em dos sofrimentos de Cristo. O tempo
8: 13 presumem a realidade da coisa está no presente: se com ele sofrermos.
declarada. As conclusões seguem-se logi- O sofrimento é o papel que Deus deu
camente. Sua solenidade corresponde a Cristo para desempenhar (Lc. 24: 26,
à seriedade da ação nas cláusulas com os 46; Atos 17: 3; 26: 23; Hb. 2: 9,10). É
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ROMANOS 8: 17-25
também uma experiência que Deus tem deterioração e corrupção, será libertada
ordenado aos crentes em Cristo (Mt. dessa condição. Sua nova condição
10: 38; 16: 24; 20: 22; I Ts. 3: 3; 11 Ts. está descrita corno a liberdade da gló-
1: 4, 5; 11 Co. 1: 5; CI. 1: 24; 11 Tm. 3: ria dos filhos de Deus. 22. Como isto
12; I Pe. 1: 6; 4: 12). Aqueles que são é diferente da presente situação - para
participantes com Cristo no sofrimento, ambos, a criação e os filhos de Deus.
também serão participantes da sua A criação geme e agoniza com os homens
herança na glória (Rm. 8: 17). A expe- que habitam a terra. 23. Não apenas a
riência do sofrimento precede a expe- criação, mas também os crentes que têm
riência da glória. as primícias do Espírito gemem dentro
de si mesmos. As primícias aqui podem
d) A Consumação da Redenção
ser as bênçãos e mudanças que o Espí-
Aguardada pela Criação e Crentes Igual-
rito já tem produzido nas vidas dos
mente. 8: 18·25. Como se deve encarar
crentes. Ou pode ser que o próprio
os sofrimentos do presente? Eles devem
Espírito seja considerado as primícias
ser encarados à luz da glória por vir a
(cons. 11 Co. 1: 22; Ef. 1: 14). À luz do
ser revelada em nós, (v. 18). Os sofri-
contexto, a primeira interpretação parece
mentos não devem ser comparados com
a melhor. Os gemidos do crente nada
a vinda da glória, pois não são de modo
tem a ver com murmuração. Antes,
nenhum iguais em intensidade ou valor
é o suspirar de cada um em particular,
19. Além da glória que será revelada
por ter de viver em um mundo pecador.
aos crentes, estes também serão revelados o
-39 -
ROMANOS 8: 25-29
-40 -
ROMANOS 8: 29·39 - 9: 1·3
foi colocada sobre a ação de Deus - Seu a vitória por meio dAquele que nos
plano e a realização do Seu plano. 30. amou. Estamos vencendo, não através
Os verbos: chamou, justificou e glori- de nossa própria força ou talento, mas
ficou relacionam-se com o plano (eterno por meio de Cristo. 38,39. Paulo alarga
conselho de Deus) e a execução do Seu as experiências, as personalidades, e as
propósito. Tendo Deus um plano, ou coisas que o crente tem de enfrentar:
propósito -. resumir todas as coisas, morte ou vida, anjos ou principados, a
reuni-las em Cristo, as coisas do céu e altura ou a profundidade, ou qualquer
da terra (Ef. 1: 10, 11), Ele é capaz de outra criatura. Depois declara enfati-
operar conjuntamente para o bem daque- camente que nehuma dessas coisas pode-
les que O amam. A ênfase que Paulo rão nos separar do amor que Deus mani-
dá aqui está no que Deus faz pelos festa, este amor que está em Cristo Jesus,
muitos irmãos. A única resposta. huma- nosso Senhor. O poder do amor de Deus
na mencionada é o amor a Deus. é um tema que nunca poderá ser exauri-
g) O Triunfo dos Crentes sobre Toda do.
Oposição. 8: 31-39. 31,32. Agora Paulo m. Israel e os Gentios no Plano de
começa a destacar as implicações do seu Deus. 9: 1 - 11: 36.
ensinamento. Deus envolveu-se no dilema
do homem, a fim de realizar o Seu plano. Paulo considera o plano de Deus
Ele entregou seu próprio Filho por todos em relação às duas divisões da humani-
nós. Cristo foi entregue para benefício dade, que ele via, na qualidade de ju-
nosso, em nosso favor e em nosso lugar. deu - Israel ou o povo judeu e os gentios.
Deus não podia poupar Seu Filho e exe- A. Preocupação de Paulo para com Seu
cutar o Seu plano de redenção. Por isso Próprio Povo, Israel, 9: l-S.
Ele o entregou à morte para que pudés- 1,2. Este capítulo começa com uma
semos ser redimidos. Paulo tira certas coleção de provas de que Paulo sentia
conclusões dessa ação divina. Com grande tristeza e incessante dor no cora-
Cristo Ele nos dará graciosamente todas ção com referência ao seu próprio povo.
as cousas, embora possamos não tê-las Eis aqui a prova: ele fala a verdade em
todas agora. 33,34. Ninguém pode acu- Cristo; ele não está mentindo; sua cons-
sar os escolhidos ou eleitos de Deus, ciência testifica por ele na presença do
nem condená-los, porque Deus e Cristo Espírito Santo. O apóstolo dizia isso
participaram nesta ação divina da entre- porque sabia como os judeus o difama-
ga de Cristo. vam (veja, por exemplo, Atos 21: 28 -
35,36. Obstáculos formidáveis não um acontecimento depois que ele escre-
podem nos separar do amor que Cristo veu aos romanos, mas que indica como
nos dispensa. Essas dificuldades são: os judeus se sentiam). 3. Paulo sentia
tribulação, angústia, perseguição, fome, tão profundamente por causa do seu
nudez, perigo ou espada (isto é, a morte povo, que aqui ele emprega a linguagem
violenta). ,O apóstolo cita SI. 44: 22 de um desejo inatingível (imperfeito
para mostrar quais as dificuldades que potencial em grego): Eu mesmo dese-
o povo de Deus tem de enfrentar. 37. Sua jaria ser anátema separado de Cristo,
conclusão é que em todas essas dificul- por amor de meus irmãos, meus compa-
dades, somos mais do que vencedores, triotas segundo acame. A linguagem aqui,
por meio daquele que nos amou. O sig- parece a de Moisés, quando ele inter-
nificado aqui é o seguinte: "Estamos no cedeu junto a Deus para que o riscasse
processo de alcançar a vitória". Nas do Seu livro (Ex, 32:31,32).
pressões externas da vida podemos obter Paulo faz agora uma lista das bênçãos
-41-
ROMANOS 9: 4-5
que pertencem aos seus compatriotas. tor responde a um argumento dos seus
4. Eram israelitas possuidores da adoção oponentes judeus que era o seguinte:
- isto é, um povo do próprio Deus "Temos a circuncisão por sinal (cons.
(cons. Is. 43: 20, 21). Eles tinham a gló- Gn. 17: 7-14) de que somos o povo
ria. Esta tanto pode ser a glória de serem eleito de Deus. Membros do povo elei-
o povo de Deus, como a glória de Deus to de Deus não perecerão. Portanto, nós
que aparecia no meio do Seu povo (Êx. não pereceremos". Evidências rabínicas
24: 16, 17). As alianças está no plural, provam que esta era a atitude da maioria
porque Deus falou ao Seu povo sobre a dos judeus no tempo de Paulo. Hermann
Sua"aliança com eles em muitas ocasiões. L. Strack e Paul Billerbeck prepararam
Poderia também ser traduzido para de- um Comentary on the New Testament no
cretos ou penhores. A legislação também qual reuniram paralelos do Talmude e do
lhes pertencia, isto é, a lei de Moisés, e Midrashim que lançam luz sobre o N.T.
o culto, ou a adoração a Deus - o ritual No Vol. IV, Parte 2, devotaram uma
do Tabernáculo e do Templo. Eles dissertação inteira (n? 31) ao assunto do
tinham as promessas divinas, especial- She01 , Geena (lugar de castigo) e ao
mente as promessas messiânicas. 5. Os Jardim Celestial do Éden (Paraíso).
pais - Abraão, Isaque, e Jacó - também As citações abaixo incluem títulos de
lhes pertenciam. Mas a bênção mais tratados de escritos rabínicos, da qual
importante era que Cristo, quanto à foram extraídas as idéias sobre esses
carne, vinha dos compatriotas de Paulo, lugares, como também indicam a loca-
os israelitas. Mas esse (Cristo), que huma- lização no Strack Billerbeck.
namente veio de Israel, foi muito mais O Rabi Levi disse: No futuro (do
do que um israelita; Ele era sobre todos, outro lado - o que os gregos cha-
Deus bendito para todo o sempre. (para mam de mundo dos espíritos) Abraão
prova de que esta última cláusula se está assentado à entrada do Geena e
refere a Cristo, veja Sanday e Headlam, ele não permite que os israelitas cir-
Epistle to the Romans, ICC, págs. 232- cuncidados entrem ali (isto é, no Gee-
238). Conhecendo o lugar exaltado de na). [Midrash Rabba Gênesis, 48 (30a,
Cristo, a aflição de Paulo por causa da ce- 49) SBK, IV, ii, pág. 1066]
gueira de seu povo apenas aumentava. Nesse mesmo contexto faz-se "a per-
Eles tinham recusado esse Messias. gunta: O que acontecerá àqueles que
Essas linhas não são doxologia feita pecam excessivamente? A resposta é:
a Deus, pois isto não se encaixaria na Retornam ao estado da incircuncisão
linha do pensamento. Antes, a expres- quando entram no Geena. A citação
são mostra como Cristo é exaltado, o seguinte trata da questão do que acon-
que se encaixa na linha do pensamento tece depois da morte a um israelita.
perfeitamen te. Quando um Israelita penetra em sua
B. Deus é Livre, Justo e Soberano no casa eterna (sepultura), um anjo está
Seu Trato com Israel e com Todos os assentado do outro lado do jardim
Homens. 9: 6-29. De 9: 6 até o fim do do Éden, que recebe cada filho de
capítulo 11 Paulo discute a profunda Israel que está circuncidado, com o
pergunta: Como rejeitaria Deus o seu propósito de introduzi-lo no jardim
povo eleito? Ele destaca até que ponto celestial do Éden (paraíso). (Mi-
o povo foi rejeitado, porque foi rejeita- drash Tanchum, Sade, waw, 145a ,
do, a existência de um remanescente, e 35; SBK, IV, Parte ü, pág. 1066)
que planos Deus tem para o futuro Novamente surge a pergunta: E os
de Israel, Seu povo. Em 9: 6-29 o escri- israelitas que adoram ídolos? Tal como
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ROMANOS 9: 5-13
acima a resposta é: Retornarão ao estado Deus. Isaque nasceu por causa da pro-
de incircuncisão no Geena. Eis aqui messa. Deus escolheu abençoar a huma-
uma citação que encara os israelitas nidade através dele.
como um grupo: 2) Deus escolheu Jacó em lugar de
Todos os israelitas circuncidados en- Esaú. 9: 10-130
tram no jardim celestial do Éden
(paraíso). (Midrash Tanchuma, Sade, Os contemporãneos judeus de Paulo
waw, 145 a, 32; SBK, IV, Parte u, devem ter replicado: "Somos filhos de
pág.1067) Isaque; daí podemos ter a certeza de
que Deus não nos rejeitará". 10,11. Mas
Está claro destas citações, que a
Paulo mostra que Deus fez uma escolha
maior parte dos judeus cria e ensinava
entre os dois filhos de Isaque, antes
que todos os israelitas circuncidados,
mesmo deles terem nascido ou feito
que morreram estão no paraíso e que
algo de bom ou mau. Tal escolha foi
não há nenhum circuncidado no Geena.
feita para que o propósito de Deus
Diante da declaração que o Senhor quanto a eleição prevalecesse, não por
não poderia rejeitar o Seu povo eleito, obras, mas por aquele que chama. A
Paulo em primeiro lugar replica enfati- seleção divina não se baseia em obras
zando a liberdade divina, Sua justiça legalistas, mas sobre Si mesmo e sobre o
e soberania. Deus age livremente, age Seu plano para o mundo. 12,13. O que
com justiça, e age soberanamente porque esta seleção envolve? O mais velho será
Ele é livre, justo e soberano no Seu servo do mais moço. Uma vez que esta
ser eterno. seleção aconteceu antes que os gêmeos
I) Deus Escolheu Isaque em lugar nascessem (Gn. 25: 23), Paulo certamente
dos Outros Filhos de Abraão. 9:6-9. pensava aqui em dois indivíduos. Na
6. Não pensemos que a palavra de citação de MI. 1: 2, 3, que volta-se pa-
Deus haja falhado. O presente estado ra a conduta de Deus em relação a Ja-
dos judeus não indica que a promessa có e Esaú, a ênfase cai sobre as nações.
divina tenha sido rescindida. Nem todos O que começou no período da vida dos
os que descendem de Israel são real- fundadores dessas nações, continuou
mente o Israel. As promessas do Senhor entre seus descendentes. A seleção
em qualquer período da história, podem relacionava-se com os papéis que os
envolver ativamente quantos dentre o dois grupos iam desempenhar na his-
Seu povo Ele decidir. 7. No caso dos tória. O Senhor demonstrou o Seu amor
filhos de Abraão, Deus fez uma escolha. por Jacó, fazendo dos descendentes
Em (por meio de) Isaque será chamada do patriarca os canais por meio dos
a tua descendência (cons. Kaleo, Arndt, quais Ele falava Seus oráculos, e torna-
I. a, pág. 400). 8. Aqui se faz uma va conhecida a Sua verdade. Deus abor-
distinção entre os filhos da carne, que receu a Esaú no sentido de que Ele não
nasceram de Hagar e Quetura (Gn. 16: fez dos descendentes de Esaú canais
1-16; 25: 14) e Isaque, nascido segundo de revelação, mas antes, como diz Mala-
a promessa. Isto é, estes filhos de Deus quias: (Deus disse) "Fiz dos seus montes
não são propriamente os da carne, mas uma assolação, e dei a sua herança aos cha-
devem ser considerados como descendên- cais do deserto" (MI. 1: 3). Voltando os
cia os filhos da promessa. Paulo colo- olhos para a história de Esaú, Malaquias
ca a negativa em primeiro lugar, para também usa sua palavra "aborreci" por
esclarecer que os filhos da carne não causa da severidade da atitude de Deus
se tornam automaticamente filhos de com Esaú. A situação histórica de ambos
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ROMANOS 9: 13-18
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ROMANOS 9: 18-22
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ROMANOS 9: 22-28
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ROMANOS 9: 28-33 - 10: 1
voltará (texto heb.), retomará (AV), decorre da fé. E Israel que buscava
isto é, para Deus. Paulo desenvolve este lei de justiça não chegou a atingir essa
tema mais detalhadamente em Romanos lei. Paulo aqui é muito conciso. Não
11. Encontraram-se dificuldades na inter- obstante, observe que no versículo
pretação de Rm. 9: 28 por causa da 30 a palavra justiça (E.R.C.) ocorre
linguagem e variação dos textos. As três vezes. Os gentios crentes desco-
palavras "em justiça . . . abreviando-a" briram a chave do relacionamento do
não se encontram nos melhores textos. homem com Deus - a justiça. Eles
Aqui temos dois meios possíveis de tra- encontraram a justiça que Deus con-
duzir e interpretar este versículo (veja cede por causa da fé ou confiança (cons.
Arndt, suntemno, pág. 800) 1) O Senhor 3; 21-26). Israel buscara o princípio da
agirá cumprindo sua palavra pela abre- lei (o código mosaico era a mais apre-
viação ou exclusão. A abreviação pode ciada personificação desse princípio)
ser traduzida como cumprimento das para obter justiça, mas eles nunca al-
promessas em um grau limitado ou cançaram essa justiça.
pela abreviação da nação, ficando o 32. Por que Israel não alcançou a
remanescente. 2) O Senhor agirá con- justiça? Tragicamente vem a resposta:
cluindo e abreviando (o tempo). Isto sig- Porque não decorreu da fé, e sim, como
nifica que Deus não prolongará indefi- que das obras (que eles buscaram a jus-
nidamente o período de Sua longani- tiça). A fé ou confiança é importante
midade, mas que o Seu juízo virá. No por causa do objeto (Cristo) no qual
contexto de Paulo aqui, a segunda inter- se crê e confia. Israel rejeitara o objeto.
pretação parece a melhor. Eles tropeçaram (ou rejeitaram) na
29. Finalmente, completando o qua- pedra de tropeço. Na admoestação
dro do V.T. da ação salvadora de Deus, de Is. 8: 14, Jeová é a pedra de tro-
Paulo cita Is. 1: 9 da LXX. Onde a LXX peço para a maioria daqueles, que fazem
tem "deixou-nos semente", o texto parte de ambas as casas de Israel. No N.T.
hebraico tem "um pequeníssimo rema- é Cristo que é a pedra de tropeço (aqui
nescente". Se Deus não tivesse deixado e em I Pe. 2: 6-8). 33. A maior parte
alguns, a nação de Israel teria sido riscada. da citação de Paulo neste versículo é
C. O Fracasso de Israel e o Sucesso da promessa de Is. 28: 16. Mas o apósto-
dos Gentios. 9: 30-10: 21. lo usa a linguagem da advertência de Is.
Agora Paulo trata do relacionamento 8: 14 - uma pedra de tropeço e rocha
de Israel e dos gentios com a justiça, de ofensa e insere esta advertência no
fé e salvação. Ele mostra que este é um meio do ensino positivo sobre a pedra
assunto crucial porque os judeus criam em Is. 28: 16, e depois completa o
que, estando assinalados pela circun- versículo. A última cláusula de Rm.
cisão, na qualidade de povo eleito de 9: 33 - E aquele que nela crê não será
Deus, o Senhor não poderia rejeitá-los. confundido - introduz um raio de luz
1) Os Gentios Alcançaram o que num quadro, que de outro modo seria
Israel Perdeu. 9: 30-33. muito negro. Tal reação positiva, entre-
30,31. Uma vez que Deus nos chamou, tanto, não foi a de Israel como um
a nós os cristãos (v. 24), dentre judeus e todo, pois Israel tropeçou na pedra
gentios, que diremos pois a respeito dos que Deus colocou em Sião.
gentios e judeus que alcançaram ajustiça? 2) A Ignorância de Israel sobre a Jus-
A resposta: Dizemos ou declaramos que tiça de Deus. 10: 1-3.
os gentios, que não buscavam a justifica- I. Novamente o apóstolo expressa
ção, vieram a alcançá-la, todavia a que sua preocupação com o seu povo. Em
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ROMANOS 10: 1-8
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ROMANOS 10: 8-18
,
tiça que é pela fé diz assim" (10: 6). A nome. Isto leva Paulo a indagar sobre a
compatibilidade de ambas as alianças invocação do nome do Senhor. Não
mostra-se pelo fato, de que esta justiça pode haver invocação sem crença ou
se encaixa na linguagem do N.T. confiança. Não pode haver crença ou
9. Confissão com a boca e crença no confiança sem ouvir. Não pode ouvir
coração refere-se às reações interna e sem qne hl!ia pregação. Não haverá
externa do crente. Sua convicção inte- pregação se os pregadores não forem
rior precisa de expressão exterior. Quan- enviados. Observe que a pregação de
do ele confessa que Jesus é o Senhor, Deus aos homens começa pela delegação
ele está declarando a divindade de Cristo dos mensageiros. Então por meio da
e a Sua exaltação, e o fato de que ele, pregação, do ouvir e confiar, os homens
o crente, Lhe pertence. A crença de são levados a invocar o nome do Senhor.
um homem na Ressurreição, prova que A beleza dos pés dos mensageiros refe-
ele sabe que Deus agiu e triunfou na re-se, à presteza deles em levarem as
cruz. Um homem que confessa que boas novas. A citação de Is. 52:7 refe-
Cristo é o Senhor e tem essa crença ou re-se à notícia levada pelos mensageiros,
convicção alcançará a salvação. 10. de que Jeová redimiu Jerusalém. Paulo
Esta confiança ou crença é uma ati- aplica estas palavras às boas novas sobre
vidade constante e refere-se à justiça; a Cristo - o Evangelho.
confissão é também uma atividade 4) As Boas Novas Rejeitadas. 10:
constante e refere-se à salvação. Estas 16-21.
verdades, confessadas e cridas, são con-
16. Embora as boas novas fossem
vicções constantes e duradouras.
proclamadas; isto não significa que os
12. Uma vez que tal confissão e ouvintes obedeçam às boas novas. Paulo
crença são essenciais para a salvação, a cita Isaías perguntando: "Senhor, quem
próxima declaração de Paulo torna-se ouviu a nossa pregação?" (cons. Is. 53:
pertinente e quase auto-evidente. Na 1). 17. O apóstolo tira a conclusão de
questão da consecução da salvação, que a fé vem da pregação (das coisas
não há distinção (diferença) entre judeu ouvidas). E a pregação tem de ser pela
e grego. Cristo é o mesmo Senhor de palavra (ordem, mandamento, direção)
todos, rico (e generoso) para com todos de Cristo. Uma tradução diz Deus, mas
os que o invocam. Os escritores do N.T. os melhores manuscritos trazem Cristo.
fizeram do nome Senhor (kyrios) um 18. Uma vez que Israel teve ambos,
dos seus títulos favoritos ao se referirem os mensageiros que proclamam as boas
a Jesus (veja Arndt, kyrios, 2.,c., págs. novas e as próprias boas novas, por
460, 61; Foerster, TWNT, Ill, 1087 - que os judeus não obedeceram? O após-
94). Paulo toma a citação do V.T. que tolo trata das duas desculpas que possam
fala de Jeová como o Senhor e aplica ser apresentadas. Porventura não ouvi-
o termo a Jesus (cons. vs. 13 e 12). Invo- ram? Sim, ouviram muito bem. Ele cita
car o nome do Senhor significa invocar SI. 19: 4, o qual originalmente tratava
Jesus. Assim, orar a Jesus está explicita- da proclamação universal da glória e
mente recomendado por esta linguagem. poder de Deus pelas obras da natureza.
14,15. A ligação que existe entre a Ele aplica as palavras deste salmo ao
justiça da fé e o objeto da fé é simples. Evangelho - Por toda a terra se fez
A crença no objeto da fé (Cristo) produz ouvir a sua voz, e as suas palavras até
a justiça da fé, no crente. Quando os ho- aos confins do mundo. A segunda des-
mens confiam em Cristo, invocam o Seu culpa trata de uma falha de conhecimen-
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ROMANOS 10: 19-21 - 11: 1-10
to. 19. Porventura não terá chegado isso 2b-S. Mostrando que havia um Is-
ao conhecimento de Israel? Sim, soube rael remanescente que era fiel, Paulo
muito bem. Moisés foi o primeiro a dizer, prova que Deus não repudiou o Seu
que Deus usaria uma nação ou gente povo. O apóstolo lembra seus leitores,
falta de entendimento para tomar os que havia um remanescente piedoso
judeus ciumentos e irados (cons. Dt. no tempo de Elias, e declara que há
32: 21). Os judeus, além de ouvirem a um remanescente semelhante no seu
mensagem sobre Cristo, sabiam também tempo (Rm. 11: 5). Assim, pois, tam-
que Deus se ocuparia de outras gentes bém agora, no tempo de hoje, sobrevive
além deles mesmos. 20. Paulo cita o um remanescente (veja Arndt, ginomai,
profeta Isaías afirmando isto (Is. 65: 11, 5, pág. 159), segundo a eleição da
1, 2). Na verdade, os dois versículos graça (veja Arndt, ekloge, 1, pãg. 242).
citados de Isaías referem-se ao Israel A graça produz ou provoca esta eleição.
desobediente. Mas em Rm, 10: 20, o 6. Esta verdade toma a ser declarada.
escritor aplica Is. 65: 1 aos gentios. A seleção é pela graça ou favor de Deus
Em Rm. 10: 21 ele aplica Is. 65: 2 a - não pelas obras dos homens. Obras
Israel. Aplicando a linguagem de Is. sugerem legalismo e nulificam a graça.
65: 1 aos gentios é o mesmo que aplicar 7. Que conclusão devemos, pois,
Os. 2: 23 e 1: 10 (cons. Rm. 9: 25, 26) tirar? Temos de concluir que, em Israel,
a eles. O apóstolo representa Deus di- há atualmente um remanescente fiel
zendo aos gentios: Fui achado pelos que e que há uma maioria incrédula. O
não me procuravam, revelei-me aos que que Israel busca isso não conseguiu;
não perguntavam por mim. 21. Em con- mas a eleição o alcançou; e os mais
traste, o Senhor implora a Israel - Ele foram endurecidos. Um intérprete deve
estendeu suas mãos a um povo rebelde perguntar: O que foi que Israel buscou
e contradizente. e não alcançou? Paulo já respondeu
essa pergunta em 9: 32 elO: 3. Israel
D. A Situação de Israel no Tempo
buscou a justiça. Mas em lugar de se
de Paulo. 11: 1-10.
submeter à justiça de Deus, procurou
1. Embora Paulo tivesse acabado de estabelecer a sua própria justiça. Os
descrever a desobediência e obstinação eleitos alcançaram a justiça que Deus
do seu povo, ele declara agora: Terá concede. 8. Os demais foram endure-
Deus, porventura, rejeitado o seu povo? cidos. Eles foram endurecidos porque
De modo nenhum. Sendo ele mesmo, deixaram de se submeter à justiça de
Paulo, um israelita, a idéia de que Deus Deus. Eis aí Deus novamente atuando
pudesse rejeitar Seu povo era-lhe repug- em castigo judicial. Quando um homem
nante. Por seu povo Paulo quer dizer a se confronta com a justiça de Deus,
nação de Israel. 2a. Deus não rejeitou o mas toma a decisão de continuar no
seu povo, a quem de antemão conheceu. seu próprio caminho, o embotamento,
A expressão seu povo enfatiza a ante- a dureza e a cegueira são o resultado.
rior escolha ou seleção divina. A expres- Paulo aplica as palavras do V.T. à sua
são de antemão conheceu indica que o geração. Sua primeira citação foi de
Senhor conheceu de antemão que Israel Dt. 29: 4, com um pouco de Is. 29: 9,
seria desobediente e obstinado (cons. 10 incluído. Ele intensifica esta passa-
10: 21). Deus conhecia de antemão os gem do V.T. para enfatizar o endure-
pecados do Seu povo, mas Ele não cimento judicial. Deus dá um espírito
lhos decretou diretamente (veja Tg. 1: de estupor (cons. Is. 10), olhos que não
13). vêem, ouvidos que não ouvem. 9,10.
- 50-
ROMANOS 11: 10-15
Finalmente, o apóstolo cita SI. 69: 22, para abençoar os gentios. O apóstolo
23 - a tradução da LXX - na qual o argumenta partindo do menor para o
salmista descreve a mesa dos seus ini- maior; podemos ver, assim, que a ação
migos deserta, seus olhos obscurecidos, positiva dos judeus - o cumprimento
e suas costas encurvadas por causa da das exigências de Deus (veja pleroma,
luta. Assim, Paulo diz que, embora a Arndt, 4, pág. 687) - produzirá bênçãos
maioria do povo de Deus está atual- ainda maiores. 13. O escritor 'lembra
mente sob julgamento divino, a exis- aos gentios a bênção que receberam
tência de uma minoria é a prova de - Dirijo-me a vós outros, que sois genti-
que o Todo-Poderoso não repudiou os. Paulo magnífica o fato de seu minis-
o Seu povo. tério ser aos gentios. 14,15. Ele espera,
E. A Perspectiva do Futuro de Israel. com isso, provocar o ciúme dos seus
11: 11-36. irmãos na carne e salvar alguns deles.
Aqui Paulo chega à conclusão do Porque, se o fato de terem sido eles
seu discurso sobre o lugar de Israel e rejeitados trouxe reconciliação ao mun-
dos gentios no plano de Deus. O propó- do, que será o seu restabelecimento (com
sito da ação de Deus na história é que Deus), senão vida dentre os mortos?
Ele quis ter misericórdia de todos - ju- Observe que Paulo continua a argu-
deus e gentios. O papel de Israel é mais mentação partindo do menor para o
impressionante, quer na rejeição, quer maior. A rejeição de Israel envolveu
na aceitação. Harmonizando-se em um a reconciliação do mundo. Ambos,
quadro sublime vemos toda a história, judeus e gentios, foram reconciliados
as atitudes e reações de Israel e dos entre si e com Deus em Cristo. É uma
gentios, e a sabedoria de Deus no inter- realização notável. Mas a aceitação de
Israel por Deus produzirá uma reali-
-relacionamento desses dois grupos. Na
metáfora da oliveira vemos a impres- zação ainda mais significativa - vida
sionante unidade do povo de Deus em dentre os mortos. Isto sem dúvida se
ambos os convênios. refere ao clímax da reconciliação na
volta de Cristo, a ressurreição dos mor-
1) A Extensão da Bênção entre a tos, o libertamento da criação da escra-
Queda e a Plenitude de Israel. 11: 11-15. vidão da deterioração ou corrupção
11. Paulo começa com sua costu- (8: 21), e o glorioso reino de Cristo.
meira pergunta. Porventura tropeçaram 2) Os Gentios Individualmente Care-
para que caíssem? De modo nenhum. cem de Base para se Gloriarem, 11:
Pelo contrário, foi por meio do pecado 16-21.
(transgressão) de Israel, que a salvação Devemos nos lembrar que a carta aos
veio aos gentios com o propósito de romanos foi escrita a um grupo parti-
provocar o ciúme de Israel. 12. Qual cular em Roma. No versículo 13 o
foi esse pecado ou transgressão? O da escritor esclarece: Dirijo-me a vós outros,
incredulidade. Ora se a transgressão que sois gentios. Mas em 11: 17-24 ele
deles redundou em riqueza para o tem em mente o leitor gentio individual.
mundo, e o seu abatimento em riqueza Nestes versículos encontramos oito pro-
para os gentios, quanto mais (será) a nomes e treze verbos na segunda pessoa
sua plenitude (dos judeus). O cumpri- do singular. Embora a maioria dos is-
mento das exigências divinas por parte raelitas tenha sido derrotado e.rejeítado,
dos judeus enriquecerá o mundo. O nenhum gentio deveria se atrever ao
pecado de Israel (a incredulidade) e sua orgulho ou auto-suficiência. Por isso,
derrota foram os meios que Deus usou Paulo torna os gentios, individualmente,
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ROMANOS 11; 15-22
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ROMANOS 11 : 22-28
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ROMANOS 11: 28-36 - 12: 1
seus pais. Observe aqui um grupo que, desprezam a Sua misericórdia (veja
embora eleito, está afastado de Deus. 2:4).
Os leitores gentios de Paulo tinham um 6) Excelência e Glória de Deus - a
relacionamento de contraste com os Fonte, o Sustentador, e o Alvo de Todas
judeus. Quanto ao Evangelho, são eles as Coisas. 11: 33-36.
inimigos por nossa causa. Tendo rejei- O plano de Deus na história capacita-o
tado o Evangelho, a maior parte do povo a demonstrar misericórdia para com
judeu tomou-se hostil para com os ambos, Israel e os gentios, para que
cristãos. Tendo sido rejeitados por Ele possa ter misericórdia de todos.
Deus que demonstrou misericórdia para E Ele é capaz de fazer a rebeldia dos
com os gentios, eles tratavam os gentios homens servir a um propósito em Seu
como a inimigos. Quanto, porém, à plano. Isto faz Paulo irromper em lou-
eleição (dos judeus por Deus), (eles vores.
são) amados por causa dos patriarcas. 33. Profundidade. As riquezas, sabe-
Isto se refere à eleição de toda a nação doria e ciência de Deus são inexauríveis.
judia e ao fato de que o povo era amado Seus juízos ou decretos estão além da
porque Deus escolhera seus pais. A capacidade humana de sondá-los. Seus
eleição pode envolver toda uma nação, caminhos - o todo de Sua conduta -
como aqui; ela pode envolver um rema- não podem ser acompanhados ou tra-
nescente, como em 11: 5; ela pode çados. Nenhum homem é suficiente-
envolver um grupo menor, tal como mente grande para observar todas as
os Doze (10. 6: 71). Em cada um desses ações de Deus e segui-las uma a uma.
casos, a eleição se referia a uma tarefa As citações do V.T. (Is. 40: 13; 1641:
específica para a qual o grupo foi co- 11) mostram que Deus é independente
missionado por Deus. do homem. 36. Finalmente, em uma
29. Paulo ensina a fidelidade de Deus enorme onda repentina de devoção,
quando diz: os dons e a vocação de Deus Paulo atribui glória a Deus para sempre,
são irrevogáveis. Dons. Os privilégios ao Deus que é a Fonte, o Sustentador, e
desfrutados por Israel (cons. 9: 4, 5). o Alvo de todas as coisas.
Vocação. A declaração divina a Israel IV. A Atitude e a Conduta que se
ou lacó que eles eram o Seu povo (cons. Espera dos Cristãos em Roma. 12: 1-
Is. 48: 12). Os gentios, que foram deso- 15: 13.
bedientes a Deus, obtiveram a miseri-
córdia por causa da, ou por meio da, Evidentemente Paulo estava bem in-
desobediência de Israel. Agora, por formado das necessidades dos crentes
causa da misericórdia experimentada em Roma. Embora a maior parte de
pelos gentios, o povo de Israel deve suas exortações se enquadram em qual-
experimentar a misericórdia. 32. A quer grupo de crentes, muitos deles
conclusão de Paulo é que Deus a todos achavam que o apóstolo pensava em um
encerrou na desobediência, a fim de grupo particular quando escrevia. O al-
usar de misericórdia para com todos. Cada cance dessas exortações é surpreen-
todos deste versículo refere-se a ambos, dente. A vida cristã é simplesmente ser
judeus e gentios. Deus aprisiona os ho- um cristão e agir como um cristão em
mens com o propósito de libertá-los. cada setor da vida.
Com todos ... misericórdia. Não a sal- A. Consagração de Corpo e Mente. 12:
vação de todos. O ensinamento de Paulo 1,2.
sobre aqueles que desprezam a bondade 1. A linguagem aqui é do V.T. e faz-
de Deus, também se aplica àqueles que -nos lembrar que os crentes judeus ofe-
-54-
ROMANOS 12: 1-8
-55 -
ROMANOS 12: 8-21 - 13: 1-2
Isto tem de ser feito com alegria. Aque- preocupar com o que é moralmente
le que tem o dom de exercer misericór- bom diante de todos os homens. 18.
dia deve usar o dom com alegria. Os Até onde for possível, os cristãos devem
dons aqui mencionados são - 1) pro- viver em paz com todos os homens. 19.
fecia, 2) ministério (serviço ou ofício de Os crentes não devem procurar a vin-
diácono), 3) ensino, 4) exortação (possi- gança, mas devem dar oportunidade à
velmente conforto, encorajamento), 5) ira de Deus para operar os seus propó-
repartir, 6) presidir ou dar ajuda, 7) exer- sitos (veja Arndt, topos, 2. c, págs.
citar misericórdia. Cada um é um talen- 830-831). O V.T. faz notar que a vin-
to particular para um tipo particular de gança e a recompensa pertencem a Deus.
atividade. 20. Os crentes devem tratar os inimigos
C. Qualidades do Caráter Exempli- que se encontram em dificuldades, como
ficadas. 12: 9-21. tratariam os outros em circunstâncias
semelhantes. Alimentando-os e desseden-
Devemos meditar nesta lista se qui-
tando-os, os crentes amontoam brasas
sermos que o seu impacto nos atinja.
vivas sobre as cabeças deles. Esta figura
9. O amor tem de ser genuíno (ou sin-
parece querer dizer que o inimigo corará
cero, sem hipocrisia). Os crentes têm o
de vergonha ou remorso diante de tão
mandamento de aborrecer o mal cons-
inesperada delicadeza. 21. A última
tantemente e a se apegarem constante-
qualidade de caráter mencionada em
mente ao bem. 10. Devem se devotar
Romanos 12, mostra que Paulo sente
uns aos outros com amor fraternal e
que a vida cristã é como uma competi-
devem se exceder uns aos outros na
ção - Não te deixes vencer do mal, mas
demonstração do respeito recíproco.
vence o mal com o bem.
11. Não devem ser indolentes. Devem ser
fervorosos ( incandescentes), literalmente, D. Submissão às Autoridades do Go-
fervendo, no espírito. Devem servir con- verno Deve Ser Acompanhada por
tinuamente ao Senhor. 12. Os crentes uma Maneira de Vida Amorosa e
devem se regozijar na esperança, isto é, Reta. 13: 1-14.
em tudo o que Deus tem prometido Como o cristão enfrenta suas respon-
fazer por eles em Cristo. Devem supor- sabilidades diante do governo, como ele
tar as aflições e estar sempre em oração. age para com o seu vizinho, e como ele
13. Devem suprir as necessidades dos se comporta na sua vida pessoal, todas
santos (companheiros crentes) e seguir são questões de grande importância.
ou buscar a hospitalidade. 14. Os cren- 1,2. A obediência ao Estado é man-
tes devem abençoar seus perseguidores damento divino. As palavras iniciais:
e deixar de amaldiçoar os patifes. 15. Todo homem esteja sujeito às auto-
Devem se regozijar com os que se rego- ridades superiores definem a obrigação
zijam e chorar com os que estão tristes. do cristão. O restante dos dois primei-
Sentir alegria genuína com o sucesso ros versículos mostra por que ele tem
de outrem é sinal de verdadeira matu- esta obrigação. Não há autoridade que
ridade espiritual. 16. Os crentes devem não proceda de Deus; e as autoridades
viver em harmonia entre si. Em vez de que existem foram por ele instituídas.
lutar na consecução de coisas que estão A fraseologia enfatiza a autoridade e o
altas demais para eles, devem se acomo- cargo que ocupa. Nada se diz aqui sobre
dar às maneiras simples, deixando de forma de governo. A passagem enfatiza
ser convencidos. 17. Não devem retri- o governo propriamente dito e os seus ad-
buir o mal com o mal. Antes, devem se ministradores quando funcionam devida-
-56 -
, [
ROMANOS 13: 2·13
mente. Resistir à autoridade do governo não pode saldar devidamente. 8b. Pois
é resistir ao que Deus determinou. Aque- quem ama ao próximo, tem cumprido a
les que resistem receberão condenação. lei. 9. Paulo mostra que os mandamentos
3,4. Paulo descreve os governantes sobre o adultério, homicídio, roubo,
no devido exercício de suas prerrogati- cobiça e todos os outros mandamentos,
vas. Uma vez que os governantes em que se poderiam mencionar estão con-
suas devidas funções amedrontam os que tidos na ãdmoestação de se amar o pró-
fazem o mal - não o bem, o homem ximo como a si mesmo. 10. De sorte
que não quer temer os governantes, que o cumprimento da lei é o amor. O
deve constantemente praticar o bem. mandamento de se amar o próximo
Paulo descreve o homem que age assim, como a si mesmo foi tirado de Lv. 19: 18.
recebendo louvor das autoridades. Sua Nesta passagem do V.T. encontra-se,
descrição da autoridade governante como quase no fim de uma série de injunções,
sendo um ajudante ou agente de Deus uma descrição de como o indivíduo
parece-nos muito forte. Aquele que deve agir em relação àqueles com os
faz o mal deve temer. A autoridade não quais convive. Enquanto o V.T. sugere
carrega a espada sem um propósito. que o amor é o cumprimento da Lei,
Aqui está claro que Deus autorizou Paulo o toma explicito. O amor de-
a força (a espada) para ser usada pelas monstra claramente a positiva sub-
autoridades humanas, a fim de evitar missão do crente e sua ativa obediên-
a anarquia e a tirania do mal na socie- cia a Deus.
dade humana. Pela segunda vez no ver-
Conduta honesta é essencial por
sículo (13: 4), o governante é chamado
causa da aproximação da salvação com-
de agente de Deus. Então Paulo acres-
pleta (Rm. 13: 11-14). O amor é uma
centa - um vingador que traz a ira (de
qualidade positiva e criativa da perso-
Deus) sobre aquele que faz o mal.
nalidade. Alguns pecados tomam esse
5,7. Duas razões se apresentam para amor impossível e devem ser evitados
a obediência às autoridades constituídas, a todo o custo. 11. A natureza do sé-
e certos resultados se seguemo As ra- culo presente é tal que os crentes de-
zões para a obediência são: 1) A ira de vem despertar do sono. Indiferença
Deus administrada pelo governante cai diante do pecado deve ser substituída
sobre aquele que desobedece; 2) a cons- pela vigilância. A salvação "que agora
ciência cristã declara que o cristão deve está mais perto do que quando os lei-
obedecer aos mandamentos divinos. Sub- tores creram" refere-se a tudo quanto
missão aos governantes é um desses Cristo fará pelos crentes no Seu segundo
mandamentos. Ele envolve o pagamento advento. Certamente Paulo esperava que
dos impostos, pagamento de tarifas al- Cristo voltasse durante a sua vida. 12. O
fandegárias, demonstração de respeito contraste entre a noite e o dia, luz e
para com aqueles que devem ser respei- trevas não é apenas um tema bíblico
tados, e honra aos que devem ser hon- familiar, mas também se encontra nos
rados. Essas são as obrigações dos crentes manuscritos do Mar Morto. O povo de
pára com os governantes. Deus sabe que há uma linha que separa
O amor, diz-se, é o cumprimento o mal da justiça. Mas os lembretes são
da Lei (13: 8-10). 8. A ninguém fiqueis sempre necessários. Deixemos, pois, as
devendo cousa alguma, exceto o amor obras das trevas, revistamo-nos das ar-
com que vos. ameis uns aos outros. O mas da luz. 13. Depois Paulo exorta os
amor é a única dívida que um crente leitores a se comportarem decente-
-57 -
ROMANOS 13: 13-14 - 14: 1-10
mente, como de dia, e faz uma lista certos alimentos, para o Cristão, não
de atividades específicas que devem constitui em si mesmo uma questão mo-
ser evitadas. São elas bebedeiras ou or- ral. É simplesmente uma questão de pre-
gias, atividades sexuais condenadas pela ferência. Presentemente, entretanto, Pau-
lei, indulgência sensual, contendas e lo mostra que pode se transformar em
ciúmes. 14. Finalmente, a vitória exi- uma questão moral. 4. O cristão mais
ge que o crente aja. Ele deve se revestir fraco não deve condenar o servo de ou-
do Senhor Jesus Cristo. Deve deixar de tro homem; essa é prerrogativa do Sen-
fazer provisões (providenciar) para a nhor. Aqui Paulo acrescenta que o Se-
carne, estimulando os desejos, proibidos nhor tem a capacidade de fazê-lo firmar-
por Deus. -se.
E. A Tolerância Necessária para com 5. Depois Paulo começa a discutir a
Aqueles que têm Consciências For- questão dos dias especiais. O cristão mais
tes e Fracas. 14: 1 - 15: 13. fraco faz diferença entre dia e dia. O cris-
Nesta seção Paulo discute as atitudes tão mais forte julga iguais todos os dias. O
que dois tipos de cristãos têm um para apóstolo aqui não toma partido, mas sim-
com o outro. Quanto às questões ceri- plesmente insiste que cada um tenha opi-
moniais - alimentos, guarda de dias - nião bem definida em sua própria mente.
os cristãos mais amadurecidos, no tempo Isto tacitamente dá a entender que cada
de Paulo, compreendiam que tais coisas um deve estabelecer a base de suas opi-
não eram importantes. Os cristãos mais niões.
6. Ambos os grupos, quer observem
fracos, que ainda não tinham um padrão
de consciência firme e "precisavam de um dia ou não, quer comam ou não,
um apoio", sentiam-se grandemente per- devem dar graças a Deus. Para que não
turbados com o modo de agir do irmão haja dúvidas quanto a sua devoção ao
mais forte. Diz-se que a consciência Senhor.
é forte quando tem um padrão de jul- 2) O Julgamento é Feito pelo Se-
nhor, Não pelos Irmãos. 14: 7-12.
gamento sadio, e fraca, se tem um pa-
7. Dando graças ao Senhor, somos
drão inferior.
lembrados que os crentes não podem
1) Diferenças de Opinião sobre Ali-
viver ou morrer para si mesmos. Para
mentos e Dias Especiais. 14: 1-6.
1. Em primeiro lugar, Paulo discute eles, tanto a vida como a morte, estão
se o grupo de cristãos deveria receber focalizadas no Senhor. Em cada expe-
em seu meio, para confraternizar, aque- riência eles são propriedade do Senhor.
le que é fraco no conhecimento quanto, 9. Cristo morreu e ressuscitou para
ao que significa ser cristão e viver uma que Ele tivesse o senhorio sobre os mor-
vida cristã. O apóstolo declara que esse tos e vivos. 10. Se Cristo é o Senhor,
tal deve ser recebido, mas não com o por que então o cristão mais fraco deve
propósito de alimentar contendas sobre condenar seu irmão? Se Cristo é o Se-
dúvidas (veja Amdt, diakrisis, 1, pág. nhor, porque o cristão mais forte deve
184). 2. O cristão mais fraco é aquele desprezar seu irmão? Ambos, o cristão
que acha que só deve comer vegetais. mais forte e o mais fraco - todos (nós)
O cristão mais forte é aquele que crê - compareceremos perante o tribunal
que pode comer tudo. 3. Aquele que de Deus. A (E.R.C.) diz, ante o tribunal
come não deve constantemente despre- de Cristo, mas todos os melhores manus-
zar aquele que não come. Aquele que não critos dizem aqui de Deus. Em 11 Co. 5:
come não deve constantemente condenar 10, Paulo fala do "tribunal de Cristo". A
aquele que come. O comer ou não comer modificação é de pouca importância,
-58 -
ROMANOS 14: 10-23
uma vez que o próprio Jesus nos disse 9) que dá energia ao crente para ser
que o Pai não julga ninguém, mas en- agradável a Deus e aprovado pelos ho-
tregou "ao Filho todo o juízo" (veja mens. Em lugar de entrarem em con-
re. 5: 22, 23, 27, 29). Deus julga os flito, Paulo insiste com os crentes a bus-
homens no sentido de que os julga carem aquilo que proporciona a paz
através do Seu Filho. 11,12. Paulo e a edificação dos outros crentes.
cita Is. 45: 23, da LXX, para mostrar
20,21. Não destruas a obra de Deus
que todos os homens devem compa-
por causa da comida. Embora todas
recer diante de Deus em juízo; depois as coisas sejam puras, mas é mau para
conclui: Todos nós daremos conta de
o homem o comer com escândalo. Com
nós mesmos (a Deus). A Deus não cons-
escândalo para o quê ou para quem?
ta do texto original.
Se for com escândalo para os escrúpulos
3) Remoção de Pedras de Tropeço. de outra pessoa, então a referência do
14: 13-23. comer foi feita ao cristão mais forte.
13. Paulo insiste com seus leitores Se for com referência ao prejuízo pró-
que deixem de se condenarem mutua- prio, então é o cristão mais fraco que
mente, e em vez disso, tornai o propó- está sendo mencionado. O contexto
sito de não pordes tropeço ou escândalo no versículo 21 favorece o primeiro
ao vosso irmão. No versículo 14 o após- caso. Ou se enfraquecer não consta
tolo mostra que ele se põe ao lado dos de muitos e bons manuscritos mais
cristãos mais fortes. Ele sabe que nada antigos.
é impuro em si mesmo. Mas para o 22,23. Fé. Antes, convicção. A fé
homem que acha que algo é impuro, que tens, tem-na para ti mesmo peran-
torna-se impuro. 15. Não obstante, o te Deus. Bem aventurado é aquele que
alimento não deve constituir a causa de não se condena naquilo que aprova.
se ferir os sentimentos de um irmão Mas aquele que tem dúvidas, é conde-
(entristecer). Tais sentimentos de amar- nado se comer, porque o que faz não
gura podem afastar um homem cada provém de fé; e tudo o que não provém
vez mais de Cristo. Por causa da tua de fé é pecado. Aqui está muito claro
comida não faças perecer aquele a fa- que cada um deve ter um padrão de
vor de quem Cristo morreu. Ao dis- conduta. Tendo uma conduta correta,
cutir a palavra "destruir" (apollumi), não haverá escrúpulos de consciência
Arndt coloca Rm. 14: 15 sob o título, quanto ao comer; mas na conduta errada,
"Com referência à destruição eterna" com um padrão que resultou de uma ma-
(apollumi, Arndt, La., alpha, pág. 94). neira de viver do passado, resulta a
Conclui-se que questões amorais podem condenação. Convicção é a certeza de
se tornar morais, caso destruam a co- que um padrão está certo. Sem uma
munhão de alguém com Cristo. 16. base adequada para julgamento o crente
A liberdade cristã está nas boas coisas pode estar convicto do pecado por
da fé cristã. Mas um cristão não deve causa de sua consciêncià, onde o pecado
agir de modo que esse bem seja blas- realmente não está envolvido. É alta-
femado. mente importante que o crente tenha
17-19. Observe que o reino de Deus um padrão correto para a sua consci-
é uma realidade presente. Está definido ência, e que ajude os seus companheiros
como vida cristã: honestidade na con- crentes a alcançarem também esse padrão.
duta, paz ou harmonia, e alegria. Esta Ele deve fugir de tudo que possa impedir
é a esfera do Espírito Santo (cons. 8: o seu companheiro crente de alcançar
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ROMANOS 14: 23 - 15: 1-13
-60 -
ROMANOS 15: 13-29
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ROMANOS 15:29-33 - 16: 1-5
-62-
ROMANOS 16: 5-23
Paulo saúda a igreja em casa deles. Isto em desacordo com a doutrina que apren-
prova que o zelo de ambos por Cristo, destes. A doutrina torna-se padrão.
em Roma, não diferia do que fora em Eis aí a autoridade da mensagem apos-
outros lugares. Igrejas se reunindo em tólica. Os leitores de Paulo deviam
casas de família provavelmente também desviar-se desses que produziam dis-
se encontram em 16: 10, 11,14,15. Se senções e tentações para o pecado.
for assim, então a menção de cinco i- 18. Tais pessoas, em lugar de serem
grejas domésticas, faz-nos entender que escravas de Cristo, eram escravas dos
os cristãos em Roma, eram membros de seus próprios estômagos. Mas suas ma-
pequenos grupos e não de uma só e neiras cativavam os ouvintes. Com sua-
grande assembléia. ves palavras e lisonjas enganam os co-
5b. Epêneto foi saudado como o pri- rações dos incautos. 19. Paulo queria
meiro convertido da Ásia Menor. 7. An- que seus leitores fossem sábios quanto
drônico e Júnias eram conterrâneos ao bem, mas inocentes no que se re-
de Paulo, que estiveram com ele na feria à participação no mal. Eis porque
cadeia em alguma ocasião. Paulo des- fez esta advertência. 20. Depois da
creve-os como pessoas notáveis entre advertência, a promessa: O Deus da paz
os apóstolos e cristãos antes dele pró- em breve esmagará debaixo dos vossos
prio. Isto pode significar que eles já pés a Satanás. Com a vitória final no
eram crentes há cerca de vinte e cinco horizonte, a oração é muito pertínen-
anos. te: A graça de nosso Senhor Jesus Cristo
13. Uma vez que, o que é escolhido seja convosco.
também pode ser considerado destacado H. Saudações dos Companheiros de
ou excelente, Rufo, eleito no Senhor, Paulo em Corinto. 16: 21-23.
também poderia ser traduzido para: "Ru- 21. Parentes. Antes, conterrâneos. Ti-
fo, cristão notável" (Arndt, eklektos, 2, móteo, cooperador de Paulo, é bem
pág.242). conhecido. Dos outros três não temos
identificação positiva. Lúcio pode ser
16. A ordem saudai-vos uns aos ou-
o Lúcio de Cirene (Atos 13: 1). J asom
tros com ósculo santo (cons. I Co. 16: 20;
parece que é o J asom mencionado em
II Co. 13: 12; I Ts. 5: 26) ou com ósculo
Atos 17: 5-9. Sosípatro parece o Sosí-
de amor (I Pe. 5: 14) mostra que uma
patro de Atos 20: 4. 22,23. Tércio, o
fervorosa comunhão cristã era carac-
escriba, a quem Paulo ditou a carta,
terística da igreja primitiva. Seja o que
envia suas próprias saudações. Gaio,
for que, na cultura moderna, seja ca-
que pode ser o Gaio mencionado em
racterística de profunda afeição cristã I Co. 1: 14, diz-se que era hospedeiro
- um beijo no rosto, um sincero aperto
não só de Paulo, mas de toda a igreja.
de mão, um segurar de ambas as mãos,
Isto parece indicar que a igreja se reunia
etc. - é o equivalente da ordem apos-
em sua casa. O fato de que Erasto era
tólica.
o tesoureiro da cidade, mostra que a
G. Caráter Perigoso Daqueles que En-
fé cristã alcançara algumas pessoas da
sinam Falsas Doutrinas. 16: 17-20.
classe mais elevada. Quarto, o irmão,
Paulo não está dizendo que falsos
é o último a enviar saudações.
mestres já estavam presentes entre os
crentes romanos. Mas ele sabia o que L Confirmação Oficial dos Crentes
acontecia em outros lugares. 17. E ro- pelo Deus Soberano da História. 16:
go-vos, irmãos, que noteis bem aqueles 25-27.
que provocam divisões e escândalos, Veja a Introdução do comentário
-63 -
ROMANOS 16: 25-27
às orações finais e à doxologia no que Deus. Bem no final do versículo (v. 27)
se refere a sua localização na epístola. há um pronome relativo, a quem, embora
25. A doxologia centraliza-se na capa- omitido por um bom manuscrito e al-
cidade ou poder de Deus de fortalecer guns outros, parece que faz parte da
os leitores. O fortalecimento divino é maneira original de Paulo escrever. Mas
segundo o evangelho de Paulo e a pre- é muito difícil de c 01 oc a-I o no texto,
gação de Jesus Cristo. Essa pregação simplesmente porque toda esta doxolo-
tem sido levada avante conforme a reve- gia centraliza-se em Deus. Glória seja
lação do mistério ou segredo. Três coi- dada ao único Deus sábio por Jesus
sas são :declaradas sobre o mistério ou Cristo. Esta glória é para todo sempre.
segredo: 1) guardado em silêncio nos
Talvez o sentido do texto possa ser
tempos eternos, ou há muito tempo
entendido melhor se o lêssemos assim:
atrás (v. 25). 2) agora se tomou mani-
Que a glória para todo o sempre (seja
festo, e foi dado a conhecer por meio
dada) ao único Deus sábio, por Jesus
das Escrituras proféticas (isto é, o V.T.),
Cristo, a quem (também) a glória para
segundo o mandamento do Deus eterno
todo o sempre (pertence). Amém. No
(v. 26). 3) para a obediência por fé, entre
texto original a frase a glória para todo
todas as nações (v. 26). Este mistério
o sempre só aparece uma única vez. O
se relaciona com a ação divina de procu-
pronome relativo a quem segue-se a
rar alcançar ambos, judeu e gentio, atra-
Jesus Cristo. À frase glória para todo
vés da redenção que é em Cristo Jesus
o sempre segue-se a quem. Uma vez
(veja Rm. 9; lI;Ef. 3: 1-7;C1.1:26,27;
que a doxologia centraliza-se em Deus
2: 2,3; 4: 3). Na linguagem de Ef. 3: 6,
e esta última cláusula centraliza-se em
o mistério consiste dos gentios serem
Cristo, parece melhor concluir que
co-herdeiros com os crentes judeus,
Paulo atribui a glória eterna a ambos,
pertencendo ao mesmo corpo, e de
Deus e Cristo.
serem participantes da promessa com
eles (cons. Rm. 11: 11·32). Quão bom, é que o livro de Romanos
Um resumo da capacidade e planos termina com o tema "Glória a Deus
divinos precede a atribuição da glória a para todo o sempre!"
-64 -
A PRIMEIRA EPÍSTOLA AOS CORÍNflOS
INTRODUÇÃO
A cidade de Corinto. Corinto era uma pressão externa - a porta aberta
um rico centro comercial, situado sobre na Corinto cosmopolita.
o estreito istmo que liga o território da E finalmente, o caráter moral de
Grécia propriamente dita com o Pelo- Corinto era solo fértil para as gloriosas
poneso. Sua história pode ser conveni- boas novas do Messias. A velha cidade
entemente dividida em duas partes. A possuía o famoso Templo de Afrodite,
cidade, que de acordo com a lenda, onde mil prostitutas sagradas estavam
era o lugar onde a Argo de J asom foi à disposição dos seus devotos. O mesmo
construída, sendo destruída por Lúcio espírito, se não o mesmo templo, pre-
Múmio Acaico, o cônsul romano, em valecia na nova cidade. O provérbio, de
146 a.C. Foi o fim do primeiro capítulo significado sexual, "nem todos podem
de sua história. Era inevitável, entretan- visitar Corinto", era voz corrente (cons.
to, que uma cidade tão favoravelmente MNT, pág. xviii). A palavra grega Korin-
localizada fosse ressuscitada. Por isso, thiazomai, que literalmente significa,
em 46 a.C., a nova cidade foi construí- agir como um corintio, passou a signi-
da por Júlio César, recebendo o "status" ficar "fornicar" (cons. LSJ, pág. 981).
de colônia romana. Rapidamente read- "Todo grego" escreveu Moffat, "sabia o
quiriu sua importância comercial e, que significava a expressão - moça corín-
em aditamento, tomou-se sob diver- tia" (MNT, loco cit.). O popular comenta-
sos aspectos a principal cidade da Gré- dor escocês, William Barc1ay disse: "Ae-
cia. lian, o falecido escritor grego, conta-nos
A importância da cidade deve ter que sempre que um coríntio aparecia no
influenciado o apóstolo Paulo em seus palco, em uma peça grega, aparecia
esforços missionários. Sendo o ponto bêbado" (William Barc1ay, The Letters
central do comércio norte-sul e leste- to the Corinthians, pág. 3). Não é ne-
-oeste e contendo uma população de cessário multiplicar referências e ilus-
caráter misto - romanos, gregos e ori- trações; Corinto era conhecida por tudo
entais - Corinto era um centro estra- o que fosse depravação, dissolução e
tégico. Na verdade, era chamada "o Im- devassidão. Foi providencial que Paulo
pério em miniatura"; - "o Império redu- se encontrasse em Corinto quando es-
zido a um só Estado" (ICC, pág. xiii). creveu a Epístola aos Romanos. De
Uma mensagem proclamada e ouvida nenhuma outra cidade ele teria rece-
em Corinto encontraria o seu caminho, bido tal incentivo, para escrever sobre o
às mais distantes regiões do mundo ha- pecado do homem, e em nenhuma
bitado. Não foi por menos, então, que outra cidade ele teria a oportunidade
Paulo fosse "constrangido pela Palavra" de ver melhor exemplo dele. Contem-
(Atos 18: 5) a testificar em Corinto. plando as pessoas enquanto esteve hos-
Com a pressão interna feita pelo Senhor pedado em casa de Gaio, ele teve ocasião
e pela Palavra, poderia também haver de catalogar os pecados humanos apre-
-65 -
sentados em Romanos 1: 18-32. Com ria naquelas circunstâncias? O lugar
tal cenário por fundo, surgiu a Primeira de reuniões da pequena assembléia fi-
Epístola de Paulo aos Coríntios, a epís- cava ao lado da sinagoga! O Senhor,
tola da santificação. É como se hoje em entretanto, apareceu a Paulo em uma
dia alguém enviasse uma carta sobre visão e o encorajou com a promessa
santidade para um grupo de crentes que Ele tinha "muito povo" em Co-
em Paris ou Singapura. rinto (cons. Atos 18: 9, 10). Esta pro-
Origem da Igreja. A história da orga- messa deve ter constituído um grande
nização da igreja em Corinto foi narrada conforto para o apóstolo nos anos sub-
por Lucas, em Atos 18: 1-17. Paulo che- seqüentes, quando a frouxidão moral
gou à cidade em sua segunda viagem dos crentes devia ter-lhe dado motivos
missionária, em 50 A.D., e logo foi o de duvidar da genuidade do trabalho
primeiro a pregar ali o evangelho. En- ali. Depois de concluir seu ministério
quanto morava e trabalhava com Aqüila em Corínto, Paulo retornou a Jerusalém
e Priscila, começou o seu ministério na e Antioquia.
sinagoga, um ministério que se estendeu Autoria da Carta. As evidências ex-
por dezoito meses. Um notável aspecto ternas e internas da autoria Paulina
do método de pregação do apóstolo da carta são tão fortes, que realmente
encontramos no texto ocidental de torna-se desnecessário dar ao assunto
Atos 18: 4, E entrando na sinagoga mais do que uma atenção superficial.
todos os sábados ele discursava, inter- Clemente de Roma, que escreveu em
calando o nome do Senhor Jesus, e ten- 95 A.D. mais ou menos, refere-se à
tava persuadir não apenas os judeus mas epístola dizendo-a do "bendito Paulo,
também os gregos. Intercalando o nome o apóstolo". Esta é a mais antiga citação
do Senhor Jesus deve se referir à apli- de um escritor do Novo Testamento,
cação das Escrituras do Velho Testamen- identificado pelo nome (ICC. pág. xvii).
to a Cristo. Em outras palavras, ele pre- Inácio, Policarpo e outros fornecem
gava Jesus de Nazaré como cumprimento abundantes evidências externas adicio-
da profecia messiânica. Ele, portanto, nais. As evidências internas - de estilo,
seguia a metodologia do próprio Senhor, vocabulário e conteúdo - harmoni-
o qual, na Estrada de Emaús, com os zam-se com o que sabemos de ambos,
dois discípulos, começou em Moisés e Paulo e Corinto. Este é um genuíno
todos os profetas e lhes expôs todas produto do apóstolo Paulo.
as Escrituras, que lhe diziam respeito Lugar onde foi escrita. Paulo escreveu
(cons. Lc. 24: 27). A reação diante da a carta em Éfeso (cons. I Co. 16: 8), não
pregação de Paulo foi diferente da reação de Filipos.
diante do ensino de Jesus. Na maioria Data quando foi escrita. A data não
das vezes, os corações dos ouvintes pode ser fixada com certeza absoluta,
de Paulo não queimavam com interesse mas parece provável que a epístola foi
pela verdade; queimavam com a oposi- escrita durante a última parte, da pro-
ção à verdade. E Paulo foi obrigado a longada permanência de Paulo em Éfeso
partir (Atos 18: 6). Mudando-se para a (cons. Atos 19: 1- 20: 1). Isto seria em
casa de Tito Justo (possivelmente o cerca de 55 A.D.
Gaio de I Co. 1: 14 e Rm. 16: 23;Wil- Ocasião quando foi escrita. Antes
liam Ramsay, Pictures of the Apostolic de dar uma idéia da ocasião em que
Church, pág. 205), Paulo continuou pre- foi escrita a carta, seria sábio fazer
gando "em fraqueza, temor, e grande um esboço da ordem dos contatos e
tremor" (I Co. 2: 3). E quem não teme- correspondência que Paulo manteve com
-66-
a assembléia de Corinto. Embora quase lugar, vindos da igreja de Corinto, che-
todos os pontos do esboço sejam discu- garam a Éfeso, Estéfanas, Fortunato e
tíveis, a defesa não está dentro do propó- Acaico (cons. 16: 17). O trio trouxe uma
sito desta breve introdução. carta dos crentes na qual havia uma série
1. O primeiro contato de Paulo com de perguntas para Paulo responder.
eles foi o acima mencionado, a visita na As perguntas podem ser encontradas
qual as boas novas foram pela primeira na frase-chave freqüente, "quanto às
vez pregadas aos coríntios. De acordo cousas" (peri de; veja 7: 1,25; 8: 1;
com 2: 1,3: 2 e 11: 2, parece que esta 12: 1; 16: 1, 12). Em terceiro lugar,
foi a única visita antes da composição certos assuntos parecem ser simples-
da canônica I Coríntios. mente "o resultado espontâneo dos
2. Depois dessa visita inicial, Paulo pensamentos preocupados do apóstolo
escreveu uma carta à igreja, a qual se por causa da Igreja de Corinto" (ICC.
perdeu (cons. 5: 9). pág. xxi).
3. Quando notícias perturbadoras che- Principais Características da Carta.
garam sobre os crentes e uma carta pe- Talvez o aspecto principal desta epís-
dia informações, Paulo escreveu 1 Co- tola seja a ênfase dada à vida da igreja lo-
ríntios. cal. A ordem e os problemas da igreja pri-
4. Ao que parece, os problemas na mitiva estão diante do leitor. Se Roma-
igreja não foram resolvidos pela epís- nos pode ser chamada de carta teoló-
tola, pois o apóstolo viu-se forçado a gica, I Coríntios é certamente uma obra
fazer à igreja uma visita apressada e prática. Se em Romanos Paulo parece um
difícil (cons. 11 Co. 2: 1; 12: 14; 13: 1, 2). professor moderno de Teologia Bíblica,
5. Seguindo essa visita penosa, o após- em I Coríntios ele parece um pastor-
tolo escreveu à igreja uma terceira carta -professor, enfrentando o cuidado com
de caráter muito severo, à qual ele se a igreja na linha de frente da guerra
refere em 11 Conn tios 2: 4. cristã.
6. A ansiedade do apóstolo por causa Por outro lado, a carta não é total-
da igreja era tão grande, que não quis mente prática na sua ênfase. O mais
ficar esperando por Tito em Trôade, o importante capítulo do Novo Testa-
portador da carta severa, mas dirigiu-se mento, que fala da ressurreição de Jesus
apressadamente à Macedônia. Ali encon- Cristo, é provavelmente I Coríntios 15,
trou-se com Tito e ficou sabendo que a e certamente a mais importante seção
carta produzira resultados; tudo ia bem do Novo Testamento, sobre os dons
em Corinto. Da Macedônia Paulo escre- espirituais, encontra-se em I Conntíos
veu a canônica 11 Coríntios (cons, 11 Co. 12, 13,14.
2: 13; 7: 6-16). E,· é claro, esta grande carta tem sido
7. Ele, então, seguiu sua última carta conhecida principalmente pelo seu grande
com sua última visita à igreja, da qual lirismo sobre o amor, no capítulo 13.
temos evidência, (cons. Atos 20: 14). Aí se vê até que altura pode um homem
A ocasião em que foi escrita I Corín- subir na obra espiritual, quando des-
tios pode ser descoberta por diversas pertado pelo Espírito Santo de Deus.
indicações. Em primeira lugar, o após- A genialidade do homem Paulo irrompe
tolo recebera de duas fontes notícias aqui com efeito indescritível.
de divisões dentro da igreja (cons. I Co. Finalmente, é interessante mencionar
1: 11; 16: 17). O mais sério dos elemen- que esta é a mais longa epístola de Paulo.
tos alienígenas pode ter sido os judai-
zantes (cons. 1: 12; 9: 1). Em segundo Plano da Carta. A argumentação
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paulina é simples e clara, assunto seguin- visoes claramente demarcadas. O esboço
do assunto, ordenadamente, com as di- abaixo é utilizado na exposição.
ESBOÇO
I.Introdução. 1: 1-9.
A. Saudação. 1: 1-3.
B. Ação de Graças. I: 4-9.
11. As divisões na igreja. 1: 10 - 4: 21.
A. O fato das divisões. 1: 10-17.
B. As causas das divisões. 1: 18 - 4: 5.
1. Causa 1: Má interpretação da mensagem. 1: 18 - 3: 4.
2. Causa 2: Má interpretação do ministério. 3: 5 - 4: 5.
C. Aplicação e conclusão. 4: 6-21.
-68 -
I coRiNTIOS 1 : 1-3
COMENTÁRIO
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I CORINflOS 1: 3-12
-70 -
I CORÍNTIOS 1: 12-20
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I CORÍNTIOS 1: 20-31 - 2: 1-2
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I CORINTIOS 2: 2-13
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I CORINTIOS 2: 13-16 - 3: 1-3
comum da palavra. Ela pode também ter tãos constituem verdadeiros enigmas para
o sentido de "interpretando", ou " expli- os que são do mundo, e às vezes enigmas
cando" (cons. Gn.4D:8; Dn.5:15-17, para os cristãos carnais. Muita contro-
LXX). A tradução seria então, explicando vérsia entre os cristãos pode remontar
coisas espirituais a homens espirituais. à origem deste princípio.
Ou teria o significado comum da pa- 3: 14. A aplicação passa a ser feita à
lavra, "combinando", e poderia então tra- condição dos coríntios, indicada pela
duzir para combinando coisas espiritu- mudança da primeira pessoa (2: 6-15)
ais com palavras espirituais (preservan- para a segunda (3: 14). Eu, porém,
do a referência que acabou de ser feita irmãos, não vos pude falar toma fácil
à palavras). Isto parece preferível, e a ligação.
Paulo, por isso, refere-se ao "aliar pa- 1. Por causa da imaturidade deles,
lavras e pensamentos relacionados" (Exp Paulo não pôde alimentá-los com carne
GI, n, 783). O apóstolo recebeu esta em sua primeira visita. A palavra grega
verdade de Deus e revestiu-a na lingua- usada para carnal (de sarkinos) significa
gem dada pelo Espírito Santo. Sua literalmente, feito de carne, sendo equi-
reivindicação é que seus pronuncia- valente da expressão, na carne (A-S, pág.
mentos eram dados por Deus e ori- 402). Por trás de sarkinos está o pensa-
entatos pelo Espírito. mento de fraqueza (cons. Mt. 26: 41),
14. A percepção subjetiva desta conforme a palavra crianças confirma.
verdade toma-se agora o tópico. Ora Na primeira visita de Paulo, os corín-
introduz o contraste com o homem tios eram fracos, pelo simples motivo
natural, o que não é cristão (cons. Judas de que eram recém-convertidos. O após-
19; RID. 8: 9). A palavra grega traduzida tolo não os acusa por causa dessa condi-
para natural significa "dominado pela ção.
alma", o princípio da vida física. Este 2,3. Uma séria acusação de incapaci-
homem dominado pela alma não aceita dade espiritual se encontra em nem
(lit. aceitar bem; cons. Atos 17: 11; I Ts. ainda agora podeis (uma expressão muito
1: 6) as verdades divinas, nem pode forte em grego). O motivo disso é que
entendê-las, pois se discernem espiri- ainda eram carnais. Uma importante
tualmente, (pelo Espírito) (cons. I Co. troca de palavras deve ser observada.
2: 10, 11). Ouvidos humanos não per- Carnais aqui não é sarkinos, mas sarkikos
cebem a alta freqüência das ondas do que significa, literalmente, caracterizado
rádio; homens surdos não são capazes pela carne, sendo equivalente a segundo
de servirem como juízes em concursos a carne (cons. RID. 8: 4). Por trás dela
de música; homens cegos não podem está a idéia de teimosia, e Paulo culpa os
desfrutar da beleza dos cenários, e os que que se encontram nessa condição. Fra-
não são salvos são incompetentes para queza prolongada se transforma em
julgarem as coisas espirituais, as ver- obstinação. A recusa em se aceitar o
dades práticas mais importantes. leite da Palavra, não dá lugar à recepção
15,16. O homem espiritual tem a da carne da Palavra. E dissensões. (E.R.
potencialidade de entender tudo. Ele C.) Divisões (AV) não é uma tradução
mesmo não é julgado por ninguém. genuína, embora o pensamento esteja
Por ninguém (que não seja espiritual), no contexto (I Co. 3: 4).
pois o que não é espiritual não tem o Paulo descreveu quatro tipos de ho-
relacionamento necessário com o Es- mens. O primeiro, o homem natural, é
pírito para julgar o espiritual. Isto ex- o homem sem o Espírito, que precisa
plica porque tão freqüentemente os cris- do novo nascimento (cons. Jo. 3: 1-8).
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I CORlNTIOS 3: 3-14
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I CORÍNTIOS 3: 14-23 - 4: 1-6
recompensa (cons. 11 Jo. 8). 15. Sofrerá dinação, a palavra originalmente se re-
prejuízo. Prejuízo ou recompensa, não ferindo a alguém que rema na fileira in-
perda de salvação. Não existem dife- ferior de um trireme (cons. Lc. 1: 2). Des-
renças entre as ovelhas do Senhor; podem penseiros são administradores respon-
haver diferenças entre seus servos (cons. sáveis por grandes propriedades; o pen-
Lc. 19: 17). Mas eu mesmo (enfático) samento é de privilégio orientado. 2. Fi-
contrasta a pessoa com a sua obra e cla- delidade é a virtude necessária a todos
ramente sustenta a segurança do crente. os servos e despenseiros, especialmente
Pelo fogo (E.R.C.). Melhor, através do nas coisas de Deus.
fogo. O pensamento é de alguém corren- 3. Paulo repudia o julgamento dos
do através de um incêndio, enquanto o outros, como também o próprio. Tri-
edifício se desmorona (a preposição é bunal humano (lit. dia do homem) pode
local; cons. ICC, pág. 65). estar retrocedendo a 3: 13. Não signi-
16,17. O terceiro tipo de construtor, fica nada a Paulo que o homem tenha o
que prejudica o edifício, é o professo seu dia de julgamento hoje. 4. Porque
que não é cristão, que não é o pro- explica suas razões. De nada me argúi
prietário (cons. Gl. 2: 4; IIPe. 2: 1-22). a consciência (lit. contra mim não há
Corromper ou destruir são as traduções nada) é urna declaração notável. Paulo
da mesma palavra grega, que é muito experimentou comunhão ininterrupta
mais forte do que sofrer dano (I Co. (cons. 1: 9); sua prática harmonizava-se
3: 15). O santuário é a igreja local, mas com a sua posição. Ele não falhara no
certamente a igreja local sendo a mani- cargo de despenseiro. 5. Portanto (a
festação local de um único e verdadeiro conclusão), já que só o Senhor pode
templo de Deus, a Igreja Invisível, com- julgar, é preciso esperar que Ele venha.
posto de todos os crentes verdadeiros No tempo apropriado Ele o fará cabal
em Cristo. e completamente, desmascarando as cou-
18-23. Segue-se uma advertência àque- sas ocultas das trevas. Esse tempo é a
les que pensam que são sábios (vs. 18-20), sua vinda (cons. 1: 7). E - maravilha
e uma exortação a se gloriarem na posse das maravilhas! - cada um (cada crente)
de todas as coisas, incluindo Paulo, receberá o seu louvor da parte de Deus.
Apolo e Cefas (vs. 21-23). Se tem por.
Ou, pensa. Todo crente pertence a C. A Aplicação e Conclusão. 4: 6 -21.
Cristo, não a algum servo humano (re- Agora Paulo apresenta um grupo de
preensão aos seguidores de Paulo, Apolo perguntas iradas para demonstrar o or-
e Cefas) e todos os crentes Lhe perten- gulho dos crentes coríntios (vs. 6-13), e
cem (repreensão ao partido de Cristo; depois conclui com uma nota de deli-
cons. 1: 12). Paulo é o mestre por exce- cadeza, fazendo-os lembrar o relacio-
lência! namento que há entre eles (vs. 14-21).
4: l-S. A análise das causas da divi- Ele era o pai deles, e por isso eles, os
são chega a um fmal aqui. Os ministros fílhos, deviam segui-lo. Caso contrário
de Deus são servos, cuja única respon- teria de usar a vara quando os visitasse
sabilidade é serem fiéis (vs. 1, 2). Seu (v. 21).
julgamento pertence somente ao Senhor 6. Apliquei-as figuradamente é a tra-
(ys. 3,4). Portanto, todo julgamento dução de um verbo que significa "mudar
deve aguardar a Sua vinda (v. 5). Não a aparência externa", a coisa permane-
haverá nenhum tribunal preliminar! cendo a mesma (cons. Frederick Field,
1. Ministros (em grego, diferente Notes on the Translation of the New
da palavra em 3: 5) dá a idéia de subor- Testament, pág. 169). Eu adaptei seria
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I cORÍNTIos 4: 6-21
boa tradução. As (estas coisas) refere-se 14. Filhos meus amados introduz a
a 3: 5 - 4: 5, não a 1: 10 - 4: 5. Paulo e tema solicitude de um pai pelos filhos
Apolo foram simples ilustrações da si- espirituais. 15. Porque. Paulo explica
tuação dos coríntios. O escritor omite por que ele pode exortá-los como um
os nomes dos verdadeiros acusados para pai. Preceptores (instrutores) eram os
evitar ressentimentos. Não ultrapasseis escravos guardiães dos romanos, res-
o que está escrito é uma boa tradução; ponsáveis pela supervisão geral das
ou, viver de acordo com as Escrituras. crianças, até que atingissem a maio-
O apóstolo desejava que andassem pela ridade e pudessem vestir a -toga virilis
Palavra (cons. R.A. Ward, "Salute to (cons. Gl. 3: 24). Era como se o após-
Translators", Interpretation, 8: 310, July, tolo dissesse que os corfn tios tinham
1954; C.F.D. Moule, An Idiom Book of muitos supervisores em sua vida espi-
New Testament Greek, pág. 64. Um glos- ritual, mas só um que lhes dera a vida.
sário marginal é a sua solução). Gerei introduz uma terceira figura em
7. Pois explica a inutilidade do orgu- seu relacionamento com eles (cons.
lho. Os pronomes estão no singular; I Co. 3: 6, "plantei", e 3: 10, "pus o
Paulo dirige-se ao indivíduo. Agostinho fundamento"). Ele não lhes transmi-
viu a verdade da graça de Deus através tira a vida com bons conselhos, mas
da segunda pergunta deste versículo. por meio das boas novas, pelo evangelho.
8. Já (MNT,pág. 48) volta-se para o antes 16. Paulo era o raro pregador que po-
de tempo (v. 5). A era messiânica, que dia dizer, sejais meus imitadores (lit.).
começará depois do tribunal de Cristo, A maioria dos homens deveria dizer:
já começara para os conntíos, escreveu "Façam o que eu digo, não o que eu
Paulo, reprovando-os. "Alcançaram um faço" (cons. Barelay, op. cito pág.46).
milênio particular só deles" (ICC, pág. 17-20. Timóteo devia lembrá-los. DI.
84). O versículo fornece algumas provas Johnson observou que mais gente precisa
para o conceito paulino do Reino. ser lembrada do que instruída (MNT,
9. Os apóstolos, em agudo contraste, pág. 51). Isto não é bem verdade, mas há
estavam longe de entrarem no Reino. uma grande carência do ministério da
Na verdade, estavam destinados a morrer, lembrança. O reino de Deus (cons. v. 8).
como criminosos condenados, ou pri- O reino dos coríntios era um reino em
sioneiros, que lutavam com feras e ra- palavra, não em poder. 21. Um desafio
ramente sobreviviam até o fim nos fes- conclui. Eles escolherão a vara da dis-
tivais e exibições dos pagãos. Ou, tal- ciplina, ou o amor e espírito de mansi-
vez Paulo tivesse em mente a entrada dão produzidos pela restauração da co-
triunfal de um general romano, ao final munhão? A resposta depende deles. A
da qual vinham os soldados capturados, vara introduz a nota da disciplina, pre-
que eram levados à arena para lutarem dominante na próxima seção da carta.
com feras (cons. 15: 32; 11 Co. 2: 14-17).
Na arena do mundo dos homens e anjos,
os apóstolos condenados eram um espe- Ill. As Desordens na Igreja. 5: 1 - 6: 20.
táculo (a palavra teatro em português A. A Ausência de Disciplina. 5: 1-13.
deriva da palavra grega, fazendo um
quadro vívido). 10-13. Uma série de Diz-se freqüentemente que a única
contrastes cáusticos entre os apóstolos Bfblia que o mundo lerá é a vida diária
e os coríntios, destinados a admoes- do cristão, e do que o mundo precisa
tar os crentes. A nova díspensação é uma versão revisada! Os próximos dois
ainda não chegara para os apóstolos! capítulos foram escritos por Paulo
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I cORÍNTIOS 5: 1-7
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, ,
I CORINnOS 5: 7-13 - 6: 1-4
conseqüente alimentação dos que parti- aos irmãos, quando falava da negação
cipavam, sendo os sete dias um círculo da verdade. Ele não se preocupava com
de tempo completo. A Páscoa, então, aqueles que estão de fora; estavam em
é típica e ilustrativa da obra de Cristo território divino (cons. A.R.Gausset, em
que morreu pelos seus. Isto aconteceu, JFB V, 297). Os coríntios, entretanto,
escreveu Paulo, foi imolado por nós tinham obrigação de julgar os que estão
(tempo aoristo, encarando o aconteci- dentro 13. O pois deveria ser omitido,
mento como uma coisa feita de uma o qual dá à sentença final da excomu-
vez por todas). A Festa dos Pães Asmos nhão, uma enfática força sumária (cons.
é uma ilustração da vida de santidade Dt. 24: 7).
do crente, uma coisa contínua, e as-
sim Paulo escreve, por isso celebremos B. Os Processos Diante dos Tribunais
a festa (v. 8; tempo presente, ação dura- Pagãos. 6: 1-11.
doura). E exatamente como uma miga- A discussão das desordens continua.
lha de fermento na casa do israelita sig- Embora não haja partícula conectiva
nifica julgamento (cons. Êx, 12: 15), as- em 6: 1, a idéia do juízo liga claramente
sim o pecado na vida do crente significa os dois capítulos. A competência judi-
julgamento. Eis aí a necessidade da dis- cial da igreja para resolver casos entre
ciplina. os seus membros está visível em ambos.
8. A conclusão (por isso) da exortação Godet o expôs muito bem: "Além de
de Paulo encontra-se aqui. A pureza e vocês não julgarem aqueles que vocês
a retidão devem caracterizar o crente, tem obrigação de julgar (os que estão
não a perversidade do homem e da igre- dentro); mas, pior ainda, vocês procu-
ja nesta questão do incesto. Essas virtu- ram ser julgados por aqueles que estão
des divinas deviam ser o alimento da em situação inferior (os que estão de
festa cristã. fora)!" (op. cit., I, 284). A questão
9. Agora o apóstolo esclarece instru- dos processos foi introduzida (v. 1) e
ções dadas em uma carta anterior (veja então solucionada (vs. 2-11). A solução
Introdução), uma carta atualmente per- apresenta a tripla ocorrência do não sa-
dida. 10,11. Um cristão deve ter um beis? ( Gr., ouk oidate, vs. 2, 3, 9).
certo contato com o mundo; caso con- 1. Aventura-se algum de vós (muito
trário teria de sair do mundo, uma im- enfático no texto grego). Que audácia
possibilidade manifesta (pelo menos até dos santos (justificados; embora os gregos
o advento da era espacial!). A chave fossem dados aos litígios) comparece-
para compreensão da ordem do ver- rem diante dos injustos para buscar
sículo 9 é o verbo associar-se (vs. 9, 11), justiça! (cons, v. 11). 2. O primeiro
que significa literalmente misturar-se com ponto da refutação é o fato conhecido
(cons. Arndt, pág. 792). A idéia é da co- que os santos hão de julgar o mundo,
munhão em família. O apóstolo sabia por causa de sua união com o Messias,
que uma certa comunhão com o mundo a quem todo o julgamento está entregue
devia existir nas atividades diárias da (cons. Jo.5:22; Mt.19:28). 3. O se-
vida. Entretanto, ao irmão sob disci- gundo ponto é o fato conhecido que
plina era preciso negar comunhão, e par- havemos de julgar os próprios anjos.
ticularmente os crentes não deviam Quanto mais as COUSlti desta vida. (cons.
com esse tal nem ainda comer, a mais Jo.5:22; Judas 6; I1Pe.2:4,9).
evidente demonstração de comunhão. 4. Entretanto introduz uma inferên-
12. Pois explica que Paulo, na carta cia, um tanto anuviada por um pro-
perdida, não se referia ao mundo, mas blema de tradução. Constituís um tribu-
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I CORINfIOS 6: 4-13
nal (estabelecer por juiz) pode ser enten- ficados e justificados refletem a nova
dido como imperativo ou como indicati- posição dos coríntios. A menção da san-
vo. Se for indicativo, também pode tificação antes da justificação não consti-
ser declarativo ou interrogativo. Pro- tui problema, uma vez que Paulo tem
vavelmente o indicativo, com força in- em mente a verdade posicional (veja
terrogativa, deve ser o preferido, ficando ICo.1:2,30). Os verbos referem-se
o sentido assim, constituís um tribunal à mesma coisa com ênfases diferentes,
(estabeleceis por juízes) daqueles que uma destacando a purificação do cren-
não têm nenhuma aceitação na igreja! te; a outra, a nova vocação; e a ter-
Uma sugestão muito irônica de que não ceira a nova posição do crente. Jus-
havia nenhum homem sábio entre os tificados vem em último lugar, como o
"sábios" coríntios! devido clímax para a argumentação sobre
7,8. Sugere-se uma atitude melhor. a busca da justiça diante dos injustos
Derrota, indica que recorrer à lei contra (vs.1-8).
um irmão, já constitui uma perda da
causa em si mesmo. C. A Frouxidão Moral na Igreja.
9. O terceiro ponto defendido por 6: 12-20.
Paulo é um apelo aos "princípios mais Paulo volta sua atenção para a frou-
amplos" (ICC, pág. 117). Os não justi- xidão moral que poluía a igreja, ao que
ficados, ou injustos, não estão qualifi- parece causada pela aplicação da verdade
cados para julgar; só os cren tes, os justos, da liberdade cristã ao reino sexual. A
podem julgar. A negativa foi apresentada pergun ta é: Se não há restrições quanto
primeiro (vs. 9, 10), seguida pela afir- à alimentação, um dos apetites do corpo,
mação positiva (v. 11). A ênfase colocada por que deveria haver nas questões se-
sobre reino de Deus repousa sobre a pa- xuais, outro desejo físico? A resposta
lavra Deus; os injustos não têm lugar no de Paulo, a qual ele começa com o
seu reino. A lista de pecados que se princípio da liberdade e o aplica especi-
segue prova que Paulo e Tiago concordam almente à fornicação, novamente apre-
basicamente. Ambos afirmam que a fé senta a tripla ocorrência do não sabeis
genuína produz boas obras (cons. Ef. quê? (vs. 15,16,19).
2: 8-10), e que a ausência das boas obras 12. O princípio da liberdade está
indica falta de fé (cons. Tg. 2: 14-26). declarado, com duas limitações: 1)
A prevalecente frouxidão moral dos prudência (cons. 10:23); 2) autocon-
gregos e romanos pode ter incentivado trole. Lícitas e dominar que têm a mes-
o apóstolo a enfatizar aqui o vício contra ma raiz, formam um jogo proposital
a natureza. Por exemplo, Sócrates, de palavras: "Todas as coisas estão em
além de quatorze dos quinze primeiros meu poder, mas eu não serei colocado
imperadores romanos, era homossexual sob o poder de nenhuma delas". A
(cons. Barclay, op. cito pág. 60). indulgência em um hábito que se apossa
11. O apelo positivo está aqui. Tais de alguém, não é liberdade, mas escra-
fostes alguns de vós aponta para as pro- vidão.
fundezas das quais a graça de Deus em 13. Enquanto os alimentos são para
Cristo os resgatou. Mas vós vos lavastes. o estômago, e o estômago para os ali-
Literalmente, vocês se deixaram lavar mentos (um necessário ao outro), este
(uma voz média permissiva), ou vocês relacionamento não é verdadeiro quanto
se lavaram (voz média direta, acentuando ao corpo e a fornicação. O corpo foi
o lado ativo da fé; cons. Atos 22: 16; criado com a intenção de glorificar o
Gl. 5: 24). Os termos lavastes, santi- Senhor, e o Senhor é necessário ao
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I CORINTIOS 6: 13-20
corpo para que isto aconteça. Paulo do corpo e contra o próprio corpo,
usa a palavra corpo aqui num sentido são difíceis de serem interpretadas.
mais amplo do que simplesmente o Talvez o significado seja que os outros
tabernáculo físico. É quase equiva- pecados, tais como o vício de beber,
lente à personalidade do homem, quase têm seus efeitos sobre o corpo, mas a
como a expressão, alguém, ou todos fornicação é um pecado que se realiza
(cons. MNT, pág. 68, 69, 71-73; Morris, dentro do corpo e envolve uma mons-
op. cit., pág. 100; Moule, op. cit., pág. truosa negação da união com Cristo
196,197). No versículo 19 parece que através da união com uma prostituta.
ele iguala corpo com vós. Isto, é claro, 19. A razão final está no fato de que
não é costume de Paulo (11 Co. 12: 3). o corpo é o santuário do Espírito Santo.
14. Mais outra diferença entre o corpo Vosso corpo. Uma expressão "distri-
e o ventre, e o corpo e a fornicação, butiva", isto é, o corpo de cada um de
está no fato de que o corpo se destina vocês (cons. Charles J. Ellicott, Paul's
à ressurreição, enquanto o ventre para First Epistle to the Corinthians, pág.
ser reduzido a nada (v. 13). A perma- 107). O corpo do crente, individual-
nência do corpo tem mais do que signi- mente, é o templo do Espírito (cons.
ficado teórico. Por exemplo, o que dizer 3: 16). Que coisa incongruente é ouvir
da prática da cremação? os crentes orarem, pela vinda do Espí-
15. Por causa da união do crente rito!
com Cristo (cons. 12: 12-27), a forni- 20. Porque introduz a razão pela
cação rouba do Senhor aquilo que é qual os crentes não pertencem a si mes-
dEle. Tomaria. Seria melhor, levaria. mos. O Espírito ocupa aquilo que Deus
16. A segunda razão está expressa aqui. obteve através da compra. Demons-
Ou não sabeis é a melhor tradução. tra-se o direito de posse, comprando-se
Além do Senhor ser roubado, uma e ocupando-se. Deus fez as duas coisas;
nova união se faz (cons. v.15; Gn. por isso os cristãos já não são de si
2: 24). A prova prática disso é que mesmos, mas pertencem a Deus (cons.
uma nova personalidade pode resul- Jo. 13: 1). Comprados (tempo aoristo)
tar da união. 17. Um espírito com ele. refere-se ao Gólgota, onde o preço foi
Uma das expressões mais fortes sobre a pago. A figura representa a sagrada
união e segurança da Palavra de Deus. manumissão, pela qual um escravo, pa-
Como um autor já o expôs, "As ove- gando o preço de sua liberdade no te-
lhas podem se afastar do pastor, o ramo souro do templo, passava a ser consi-
pode ser cortado da videira; o membro derado, daquele momento em diante,
pode ser separado do corpo ... mas como escravo do deus e não mais es-
quando dois espíritos se unem em um cravo de seu senhor terreno. Glori-
só, quem os separará?" (Arthur T. Pier- ficai a Deus, a conclusão lógica, é tanto
son, Knowing the Scriptures, pág. 146). negativa quanto positiva. Negativamente,
18. Fugi (tempo presente para ação um crente deveria eliminar as coisas que
habitual). Ordem positiva. Morris su- corrompem, tais como a fornicação e
gere: "Habitue-se a fugir" (op. cit., positivamente ele deveria exibir Aquele
pág.102). Alguém já disse: "Ainda que veio habitar nele. O preço terrível
que muitas vezes se declare que a se- do sangue sem preço (cons. I Pe. 1: 18,
gurança está em Números, às vezes há 19) exigia nada menos do que isso.
mais segurança no Êxodo!" A expe- E no vosso espírito, os quais pertencem
riência de José é um exemplo (cons. a Deus (E.R.C.) tem pouco apoio docu-
Gn. 39: 1-12). As frases finais, fora mentário.
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I CORÍNTIOS 7: 1-14
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I CORINrIOS 7: 14-31
simplesmente quer dizer que o princí- cer no estado em que se encontra, é sim-
pio do V.T. da comunicação da imun- plesmente parte de um princípio geral,
dícia não está em vigor (cons. Ageu 2: que atinge todas as esferas da vida. A
11-13). A união é legal e confere pri- regra para tudo é permanecer como está
vilégios aOS membros (cons. ICC, pág. quando chamado, a não ser que a pro-
142), privilégios tais como a proteção fissão seja imoral. Três vezes Paulo de-
de Deus e a oportunidade de estar em ín- clara o princípio (vs.17,20,24), entre-
timo contato com a família de Deus. meando as declarações de princípios
Isto facilita o caminho para a conver- com duas ilustrações, uma religiosa
são do incrédulo. (cons. Rm. 2: 28, 29) e a outra secular.
15. Uma segunda razão para a preser- A expressão diante de Deus, que conclui
vação da união encontra-se no fato de a seção, enfatiza o fato de que a presen-
que Deus chamou-nos para a paz. Uma ça de Deus toma qualquer trabalho se-
situação curiosamente ambígua, entre- cular, um trabalho com Deus. Num
tanto, existe. Alguns intérpretes acham certo sentido, então, cada cristão está
que Paulo aqui incentiva o crente a con- ocupado em "trabalho cristão de tempo
sentir na separação no interesse da pre- integral". À luz dos ensinamentos de
servação da paz, se o incrédulo deseja Paulo aqui, não seria também uma coisa
separar-se. De outro modo poderia ha- duvidosa forçar os jovens a entrarem para
ver guerra! Por outro lado, a idéia de o serviço de tempo integral na quali-
Paulo pode ser que a separação deve- dade de missionários, pastores, etc.?
ria ser evitada se possível, uma vez A coisa realmente importante para cada
que isso acabaria com a paz da união. crente é estar dentro da vontade de Deus.
O princípio geral do contexto (vs. 10, 11) 25. Ora, quanto (E.R.C.) (peri de)
favorece o segundo ponto de vista, como indica aos leitores que uma resposta, a
também o versículo seguinte. Nada outra parte da carta da igreja é o que
se diz sobre um segundo casamento para se segue. No restante do capítulo Paulo
o crente; de nada adianta colocar pala- trata de três grupos: 1) os jovens sol-
vras na boca de Paulo quando ele silen- teiros (vs. 25-35); 2) os pais (vs. 36-
cia. É verdade que o verbo "apartar-se" 38); 3) as viúvas (vs.39-40). A seção
na voz média (como neste versículo) está demarcada por duas declarações
era quase um termo técnico para o referentes à autoridade do autor (vs.
divórcio nos papiros (MM, pág.695, 25,40). O ponto comentado no pará-
696). Isto, entretanto, nada realmente grafo é o seguinte: O celibato é dese-
prova aqui. jável, mas não exigido.
16. Pois. O terceiro motivo para 26-28. Ser bom para o homem per-
não haver separação é que a salvação manecer assim como está. Antes, é bom
do outro membro pode ser alcançada que uma pessoa fique como está. O pri-
através da preservação da união. Ou- meiro motivo para alguém permanecer
tros entendem que a declaração signi- solteiro está por causa da instante neces-
fica que é melhor concordar com a sidade, uma frase que provavelmente se
separação, uma vez que ninguém sabe refere à pressão exercida sobre a vida
se o outro parceiro se converterá ou cristã pelo mundo hostil (cons. v. 28;
não. O contexto geral favorece o pri- 11 Tm. 3: 12). Se a vida cristã já é di-
meiro ponto de vista. Mas não é fácil fícil em si mesma, por que impor mais
determinar o que Paulo quis dizer. um encargo a alguém através do casa-
17·24. Agora o apóstolo resume, in- mento? 29-31. Uma segunda razão
dicando que este princípio de permane- foi sugerida pela declaração, o tempo
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I CORINHOS 7: 31-40 - 8: 1
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I CORINTIOS 8: 1-11
as sobras dos animais sacrificados aos tem ídolos no mundo. Um ídolo não
deuses pagãos. Quer um animal fosse pode realmente ser uma representação
oferecido como sacrifício particular ou de Deus. Corno poderia madeira ou
público, partes da carne sobravam para pedra representar a incorruptibilidade
o ofertante. Se fosse um sacrifício par- de Deus? 5. O apóstolo admite, en-
ticul ar, a carne podia ser usada para um tretanto, que existem aqueles que se
banquete, ao qual eram convidados chamam deuses. 6. Todavia para nós
amigos do ofertante. Se o sacrifício indica um forte contraste. De quem
fosse público, a carne que sobrava, são todas as cousas refere-se à primeira
depois que os magistrados retiravam criação; o Pai é a fonte de tudo (cons.
a sua parte, podia ser vendida aos mer- Gn. 1: 1). E nós também por ele (lit.)
cados para revenda ao povo da cidade. refere-se ao Pai como o alvo da nova
Os problemas, pois, eram estes: 1) Po- criação, li Igreja. A função da Igreja é
dia um cristão participar da carne que glorificá-lO. Pelo qual são todas as cou-
fora oferecido a um falso deus em uma sas aponta para o Senhor Jesus Cristo
festa pagã? 2) Podia um cristão comprar como agente de Deus na criação (cons.
e comer carne oferecida aos ídolos? J o. 1: 3). E nós também por ele apre-
3) Podia um cristão, quando convidado senta-O como o agente responsável pela
à casa de um amigo, comer carne que nova criação (cons. CI. 1: 15-18).
fora oferecida aos ídolos? 7. Daqui até o final do capítulo
1) Os Princípios. 8: 1-13. Primeiro Paulo explica as palavras, O amor edi-
Paulo apresenta princípios generalizados fica (v. 1). Isto é necessário, pois nem
para orientação do crente nesses proble- em todos existe o conhecimento do
mas delicados. único Deus e único Senhor que capa-
1. Reconhecemos que todos somos cita as pessoas a comerem a carne dos
senhores do saber pode ser uma cita- ídolos sem prejuízo. Por efeito da fa-
ção da carta deles. Os cristãos possuem miliaridade até agora com o ídolo.
conhecimento, mas é apenas super- Com consciência do ídolo tem fraca
ficial e incompleto (cons. vs. 2, 7). confirmação. A tradução preferível
Saber, além disso, não é suficiente para seria por estar há muito tempo acos-
a solução de todos os problemas, pois tumado aos ídolos. 8. Paulo faz ver
por si mesmo ensoberbece. 2. Não que a carne em si mesma não aproxima
aprendeu ainda refere-se ao verdadeiro os crentes de Deus. Recomendará. O
conhecimento de Deus. Enquanto sentido é aproxima. "É o coração puro
aqui nesta terra, o conhecimento que e não o alimento puro, que importa;
o homem tem de Deus está sempre in- e o irmão fraco confunde os dois" (ICC,
completo (cons. 13: 12). 3. Ama a Deus pág.170).
produz os dois, conhecimento de Deus 9. Nos poucos versículos seguintes
e um senso de que Deus conhece também Paulo adverte os fortes a tomar cuidado
o indivíduo. Por exemplo, em um pa- para que a sua liberdade (lit., autoridade,
lácio todos conhecem o rei, mas nem o exercício do seu direito) não constitua
todos são conhecidos pelo rei. O se- uma pedra de tropeço para os fracos.
gundo estágio indica intimidade pessoal Em outras palavras, conhecimento não
e conseqüentemente conhecimento de resolve o problema (cons. vs. 1-3). 10.
primeira mão (cons. Godet, op. cit., I, Induzida (lit. edificada) é ironia. Bela
410; G1.4:9). edificação; conduz ao pecado!
4. O ídolo de si mesmo nada é no 11. E (lit. porque) introduz o mo-
mundo provavelmente devia ser não exis- tivo porque o crente forte se torna uma
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I CORINTIOS 8: 11-13 - 9: 1-3
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I coaemos 9: 3-15
4-14). aos homens. Entretanto, o cuidado di-
4. Tendo resolvido a questão do vino pelos animais foi afirmado em
apostolado, o apóstolo prossegue discu- muitas passagens do V.T. (cons. SI.
tindo a autoridade ou direitos ao sus- 104: 14,21,27; Mt. 6: 26). O argu-
tento, os quais derivam do seu ofício. mento de Lutero foi mais ousado do
Compare 8: 9, onde a "liberdade" é a que o de Paulo. Ele disse que a pas-
mesma palavra usada aqui para direito sagem de Deuteronômio foi escrita
(poder). Comer e beber não se refere inteiramente para o nosso bem, uma
às carnes sacrificadas aos ídolos, mas ao vez que os bois não sabem ler! O sen-
alimento comum. tido da palavra certamente aqui, prova-
5,6. Cinco motivos para o direito velmente tem o significado de sem
de sustento podem ser distingüidas. O dúvida (ICC, pág. 184).
primeiro, mencionado aqui, pode ser 11-13. O direito do santo minis-
chamado de exemplo dos outros. Os tério, o quarto motivo, está exposto
irmãos do Senhor, que antes não criam aqui e o argumento torna-se mais va-
nEle,. eram agora missionários (cons. lioso por causa da preponderância do
Jo.7:5; Mt.13:55). A menção da espiritual sobre o material. Coisas car-
esposa de Cefas é interessante. Se Pe- nais (E.R.C.) são as coisas referentes
dro foi o primeiro papa (ele não foi, ao corpo, tendo a palavra carnal aqui
está claro), hão há dúvidas de que foi um sentido neutro. Desse direito é o
um papa casado! (cons. Mt. 8: 14). O privilégio do mestre de participar das
direito de Paulo incluía o sustento de coisas materiais dos crentes. Ao que
sua família. 7. O segundo, o princí- parece alguns mestres tinham exercido
pio do direito comum, foi apresentado este direito sobre os coríntios. Mas
através das bem conhecidas ilustrações Paulo triunfantemente se ufana de não
- o soldado, o agricultor e o pastor. ter usado desse poder. Se ele tivesse
8-10. O terceiro motivo, o ensino aceito a ajuda financeira teria imposto
das Escrituras, vai ser introduzido agora algum obstáculo ao evangelho de Cristo,
(cons. Dt. 25: 4). Paulo declara que o pois haveria aqueles que teriam pen-
V.T. ensina o direito do sustento para sado que ele pregava só por causa disso.
aqueles que pregam a Palavra. O uso Do próprio templo se alimentam faz
que ele faz das Escrituras aqui tem sido alusão aos direitos dos sacerdotes da
muitas vezes impugnado. Tem-se dito antiga aliança (cons. Nrn. 18: 8-24). 14.
que ele demonstrou desdém pelo senti- A ordem do Senhor, o quinto motivo,
do literal do V.T. (cons. MNT, pág. 116, conclui o argumento sobre o sustento
117). Não é verdade. Tudo o que Paulo que a igreja deve dar ao obreiro (cons.
declara é que a passagem em Deuteronô- Mt. 10: 10; Lc. 10: 7).
mio tem um significado mais profundo 15. O apóstolo mostra agora como
do que o sentido literal. Ambos os sen- o amor agiu neste caso, ainda que ele
tidos, o literal e o alegórico (ambos tivesse todo o direito de receber sus-
são sentidos espirituais), encontram-se tento dos coríntios. Assim ele contras-
neste passagem. Acaso é de bois que ta seu sacrifício pessoal com o egoísmo
Deus se preocupa? O sentido literal daqueles que estavam usando a sua li-
da pergunta não deve ser forçado. A berdade, na questão das carnes em de-
construção grega é tal que a resposta trimento dos outros. Porém chama a
"não" é a que se espera. Paulo quer atenção para o contraste, e a mudança
dizer que o cuidado de Deus não se para a primeira pessoa destaca a ilus-
destina primariamente aos animais, mas tração pessoal, a ilustração do conhe-
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I CORÍNTIOS 9: 15-24
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I CORINTIOS 10: 1-8
plinaram. Para provar a realidade dessa de obter água (cons. Godet, op. cit.,
possibilidade, ele usa a nação de Israel Il, 56). Na verdade, o apóstolo diz,
como ilustração de fracasso, e com e a pedra era Cristo, isto é, era o meio
essa ilustração ele admoesta os corín- visível de fornecer água, a qual em úl-
tios a "tomarem cuidado" para tam- tima análise vinha de Cristo. Uma vez
bém não fracassarem. Israel foi des- que o povo de Israel obteve água nos
qualificado (9.27). primeiros anos de sua peregrinação no
Mas, antes, Paulo tem de enumerar deserto (Êx. 17: 1-9) e nos últimos
as vantagens dos judeus. Todos, repe- (Nm. 20: 1-13), torna-se natural suben-
tido cinco vezes (E.R.C.), enfatiza a uni- tender que Ele, Cristo, o Supridor da
versalidade da bênção divina em Israel, água, esteve com eles durante todo o
e, quando examinada à luz do fato que caminho. O sentido literal de e a pedra
quase todos (exetuando-se Calebe e era Cristo não precisa ser mais forçado
J osué) pereceram, esta seção se liga do que o sentido literal de "Eu sou a
muito intimamente a 9: 24. Ali Paulo videira verdadeira" (10.15: 1). O era
disse: "Não sabeis vós que os que correm em lugar de é, pode, todavia, apontar
no estádio, todos, na verdade, correm, para a preexistência de Cristo (cons.
mas um só leva o prêmio?" Estiveram nCo.8:9; Gl.4:4). Sustento sobre-
todos sob a nuvem aponta para uma natural foi o quinto privilégio de Israel.
orientação sobrenatural e prolongada O paralelo com as duas ordenanças da
(cons. Êx. 13: 21, 22; 14: 19; Mt. 28: Igreja pode ser a intenção do escritor.
20). Passaram pelo mar aponta para um 5. Pode-se pensar que tais privilé-
livramento sobrenatural, o segundo pri- gios significam sucesso. Entretanto,
vilégio (cons. Êx. 14: 15-22; I Pe. 1: é a palavra que introduz o triste contras-
18-20). 2. Tendo sido todos batizados te. Pessoas privilegiadas podem expe-
... com respeito a Moisés, o terceiro rimentar o desagrado divino. Da maio-
privilégio, refere-se à sua união com o ria deles é uma atenuante da verdade;
seu líder, que abaixo de Deus forne- só Calebe e Josué sobreviveram ao de-
cia-lhes a liderança sobrenatural (cons. sagrado. Prostrados poderia ser tra-
bx.14:31; Rm.6:1-1O). 3.Comeram duzido para espalhados, um quadro
de um só manjar espiritual. O comer vivo de um deserto coberto de corpos
do maná, "alimento de anjos" (SI. 78: saciados com alimento e bebida de
25), foi o quarto privilégio da nação. anjos (cons. Nm. 14: 29).
O povo participou de alimento sobre- 6. Em figura (E.R.C.). Provavel-
natural (cons. Êx. 16: 1-36; I Pe. 2: mente a tradução mais correta da pala-
1-3). Espiritual provavelmen te tem o vra grega typoi fosse como exemplo;
sentido de sobrenatural (cons. ICC, pág. não como tipos no sentido técnico
200). (MNT, pág. 131). A primeira razão
4. Beberam da mesma fonte espi- do fracasso de Israel foi porque eles
ritual, um quinto privilégio, refere-se cobiçaram (cons. Nm. 11: 4), preferin-
aos acontecimentos mencionados em do o alimento do mundo, o Egito, em
bX. 17: 1-9 e Nm. 20: 1-13 (cons. Nm. lugar do Senhor, o maná. 7. Eles tam-
21: 16). As palavras de uma pedra bém se tornaram idólatras, a segunda
espiritual que os seguia não significa razão do fracasso (cons. Êx, 32: 1-14,
que Paulo cresse na lenda rabínica de que 30: 35; I Jo. 5: 21). 8. A terceira ra-
uma rocha material seguiu os israelitas zão, imoralidade, é uma referência ao
através de sua viagem e que Miriã, acima incidente envolvendo Israel e as mu-
de todos os outros, possuía o segredo lheres moabitas (cons. Nm.25:1-9).
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I conrsnos 10: 8-21
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I CORÍNTIOS 11: 16-24
era peculiar a Corinto, mas as palavras tidos. Existiam ao que parece por causa
de Paulo, nem as igrejas de Deus, argu- dos ricos que, contrariando o costume,
mentam contra esse ponto de vista. Há consumiam egoisticamente suas provisões
ainda aqueles que insistem que o costu- mais fartas, antes que chegassem todos
me não deve ser aplicado hoje em dia os pobres, para que não precisassem par-
(cons. Morris, op. cit., pág. 156; Barc1ay, tilhar seu alimento, em visível represen-
op. cit., pág.110). Deve-se notar, en- tação da unidade do corpo. 19.Heresias
tretanto, que cada uma das razões apre- (E.R.C.). Partidos, grupos com opiniões
sentadas para o uso do véu foram ex- próprias, é a ênfase e o significado da
traídas de fatos permanentes, que de- palavra. Eles existiam, Paulo observa
vem durar durante toda a presente eco- um tanto resignadamente, para que os
nomia terrena (cons. Gode, op. cit., aprovados (cons. 9: 27; 11: 28) pu-
lI, 133). Paulo impôs seu ponto de dessem ser reconhecidos.
vista, pois a história da igreja primitiva 20. Era uma ceia, mas não a ceia do
comprova que em Roma, Antioquia e Senhor (o adjetivo é enfático); isto é,
África, esse costume tornou-se a norma. não era verdadeiramente uma imitação
Palavra final: Na análise final, o chapéu, da Última Ceia. 21,22. A indignante
ou o véu, não é a coisa importante, mas pergunta, Não tendes, porventura, casas
a subordinação que eles respresentam. onde comer e beber? foi dirigida àqueles
A presença de ambos seria o ideal. que consideravam os ajuntamentos como
D. Conselho Referente à Ceia do simples banquetes sociais e não como
Senhor. 11: 17-34. refeições de comunhão espiritual.
A Ceia do Senhor, o único ato de 2) Revisão de Instruções Anteriores.
adoração para o qual Cristo deu orien- 11: 23-26. O apóstolo justifica sua re-
tação especial, recebe agora a atenção primenda recapitulando o significado real
de Paulo. Está relacionado com à seção e verdadeiro da ordenança, remontando
anterior pelo fato de que ambos os ao ensinamento do próprio Senhor.
assuntos se referem ao culto público. 23. Paulo não podia elogiá-los porque
Ajudará reconstruir a situação se sou- a conduta deles discordava daquela
bermos que na igreja primitiva a Ceia recebida do Senhor. Ele não esclarece
era geralmente precedida por uma re- se recebeu suas instruções diretamente
feição fraternal chamada Agape, ou do Senhor ou através de outra fonte.
Festa do Amor (cons. Judas 12). De- A última eventualidade é mais prová-
sordens ocorridas no Agape desperta- vel.
ram a indignação do apóstolo (vs.17- 24. As palavras tornai, comei (E.R.C.)
22), uma revisão de ensinamentos an- e a palavra partido (E.R.C.), não apa-
teriores (vs. 23-26), e uma severa aplica- recem nos melhores manuscritos. O
ção da verdade à assembléia coríntia (vs. pão é distribuído primeiro, uma vez que
27-34). represen ta a. encarnação. Depois se-
1) A Indignação de Paulo. 11: 17-22. gue-se o vinho, representando a morte
A refeição fraternal era primariamente e o final da velha aliança e o estabeleci-
religiosa, não social. mas abusos a trans- mento da nova. Uma coisa é certa:
formaram em uma farsa infeliz. nas palavras, isto é o meu corpo, Paulo
17. Nisto, refere-se às instruções que não está ensinando a transubstanciação.
se seguem. Suas reuniões eram para O pão certamente não era o corpo do
pior, porque estavam incorrendo a jul- Senhor no momento em que ele o disse,
gamento como resultado das desordens nem o cálice é o novo testamento lite-
(cons. v.29). 18. Divisões. Antes, par- ralmente (v. 25). A palavra é tem o
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, I
I CORíNTIOS 11: 24-34
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I CORINflOS 12: 1-9
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I CORINTIOS 12: 9-24
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I CORÍNTIOS 12: 25-31 - 13: 1-3
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I CORI~TIOS 13: 3-11
e jaz aqui" (Barclay, op. cit., pág.132). está evidente que Moffatt tinha razão
Tal exibicionismo não passa de egoís- ao dizer: "O poema lírico, assim, trans-
mo. O espírito do ego pode ser intro- formou-se em um bisturi". Paulo estava
duzido nos maiores atos humanos. Nada penetrando na ferida aberta do pecado
disso me aproveitará. da igreja de Corinto com esta linda des-
4-7. Uma descrição da natureza do crição da única coisa, o amor, que pode-
amor, com suas nobres propriedades, ria resolver todos os problemas dos cren-
é o que se segue. Pode-se quase dizer tes.
que aqui o amor foi personificado, uma 8-13. Nos versículos restantes expli-
vez que a descrição é praticamente uma ca-se a permanência do amor. O amor,
descrição da vida e caráter de Jesus Cris- diferindo dos dons de profecia, línguas
to. Entretanto, o quadro está direta- e ciência, nunca falha, nem cessa sua
mente relacionado com os coríntios. atividade. O ponto principal do versí-
A observância das verdades deste capí- culo 8 é que virá um tempo quando os
tulo, conforme será notado nos comen- dons mencionados deixarão de existir.
tários seguintes, resolveria seus pro- 9. Porque introduz a explicação do
blemas. O amor é paciente, é benigno por que os dons desaparecerão. Virá
pode ser uma declaração que resume um tempo de ciência e profecia perfei-
toda a seção, com as oito qualidades tas. 10. O que é perfeito não pode ser
seguintes relacionadas com a paciência uma referência à conclusão do cânon
e as quatro seguintes com a benignidade. das Escrituras; nesse caso, nós hoje em
Não arde em ciúmes (MNT, não conhece dia, vivendo na dispensação do cânon
o ciúme) relaciona-se com a atitude completo, entenderíamos com mais cla-
dos irmãos que achavam que seus dons reza do que Paulo (v. 9). Até mesmo o
eram inferiores (12: 14-17). O amor mais convencido e dogmático dos teó-
resolveria este problema. Não se ufana. logos dificilmente admitiria tal coisa.
Literalmente, não é gabola. Isto se rela- A vinda daquilo que é perfeito só pode
ciona com 12: 21-26. Não se ensober- ser uma referência à segunda vinda do
bece aponta claramente para a introdu- Senhor. Esse acontecimento marcará
ção deste livro (1: 10 - 4: 21). o fim do exercício da profecia, das
5. As palavras não se conduz incon- línguas e da ciência. Como se pode
venientemente claramente se relaciona então, falar desses dons como sendo
com diversas partes do livro (cons. temporários? O versículo seguinte res-
7:36; 11:2-16,17-34). Não procura ponderá a pergunta.
os seus interesses seria a resposta ao pro- 11. É extremamente importante para
blema das carnes sacrificadas aos ídolos se compreender o pensamento de Paulo
(cons. 8: 1 - 11: 1). Não se exaspera. que se observa na forma da ilustração
Esta qualidade do amor resolveria o pro- que ele introduz nesta altura. A ilustra-
blema dos processos legais (cons. 6: 1-11). ção tem a intenção de mostrar o caráter
Não se ressente do mal. Ou, não cons- do período entre as duas vindas de Cristo.
pira o mal. 6. Não se alegra com a in- Com referência a esses dons em parti-
justiça sugere o problema da imoralidade cular, ela pode ser comparada ao cres-
e falta de disciplina em 5: 1-13. cimento de uma pessoa, da infância à
7. Tudo crê não inclui credulidade. idade adulta. Os dons especiais e espe-
Quer dizer, antes, que o crente não deve taculares eram necessários nos primór-
ser desconfiado. Se, contudo, o pecado dios do crescimento da verdadeira igreja
está evidente, o crente deve julgá-lo e (cons. Ef. 4: 7-16), com propósitos de au-
discipliná-lo. Desta descrição do amor, tenticação (cons. Hb. 2: 3,4) e edifi-
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I CORÍNTIOS 13: 11-13
cação (I Co. 14: 3), quando não havia transforma em visao e a esperança em
N.T. para dar luz. Eles eram o "balbu- posse. Essas duas virtudes, portanto,
ciar" da igreja. Conforme a história permanecem para viver incessantemente"
tem comprovado com abundância, com (op. cito Il, 261). O amor é a maior
a vinda da Palavra e o amadurecimento das forças do universo, e a sua fonte
da igreja, deixou de haver necessidade verdadeira e expressão mais definida
desses dons. É duvidoso que hoje em dia é o Gólgota. Sob o impulso desse amor
haja, em algum lugar, o exercício bí- não se pode deixar de cantar, com ado-
blico desses três dons mencionados por ração:
Paulo nesta passagem. (Eu) falava (lit. O mundo inteiro não será
costumava falar) possivelmente se refere Presente digno do Senhor
às línguas especificamente, sentia à pro- Amor tão grande e sem igual,
fecia, e pensava à ciência. Entretanto, Em troca exige o meu amor.
ninguém pode ser dogmático quanto 5) A Superioridade da Profecia e o
a isso. Desisti das cousas próprias de Culto Público na Igreja. 14: 1-36. Ao
menino (lit. eu já acabei, o tempo per- que parece havia uma causa principal
feito enfatizando os resultados da ação) para as desordens na igreja, a qual en-
depende em última análise da vinda volvia o uso inadequado do dom de
daquele que é o perfeito (v. 10). línguas. O apóstolo resolve o assunto
12. Porque. Paulo explica que o neste capítulo. Ele afirma a superio-
tempo presente é o estágio infantil. ridade da profecia sobre as línguas (vs.
Agora pode ser traduzido para no mo- 1-25), depois acrescenta a orientação
mento presente (a palavra arti geralmen- para o exercício dos dons (vs. 26-33)
te se refere ao tempo presente em con- e para a regulamentação da participa-
traste com o passado ou tempo futuro). ção das mulheres nas reuniões das assem-
À luz do fato que os coríntios viam bléias (vs.34-36). Segue-se um resumo
em espelho, obscuramente e em parte e uma conclusão (vs. 37-40).
através do exercício dos dons, por que Ninguém que tenha investigado a na-
deveriam se gloriar tanto naquilo que tureza do dom de línguas poderia ser
era fragmentário? dogmático no assunto. A presente
13. Agora (nuni refere-se ao tempo exposição deste capítulo segue a opi-
generalizadamente sem referência a qual- nião que o dom de línguas era a capa-
quer outro tempo, mas aqui ele pode cidade de falar em línguas conhecidas,
bem ser lógico e não temporal, sendo não uma fala estática. (E.R.C. estranha,
traduzido para deste modo, pois). Perma- não aparece no texto grego, o qual diz
necem a fé, a esperança e o amor. Essas simplesmente lingua.i Muitos comentado-
virtudes sobrevivem aos dons, e con- res modernos adotam a opinião de que o
seqüentemente, devem ser cultivados com dom envolvia a fala estática (cons. MNT,
mais dedicação. Não é verdade que "a pág. 206-225; Morris, op. cit., pág. 172,
fé se desfaz à vista, e a esperança acaba 173,190-198). Há certos fatores, en-
com o deleite", pois ambas permanecem tretanto, que lançam alguma dúvida
eternamente. Como a fé e a esperança sobre a exatidão desta interpretação.
permanecerão? Godet acertou o seu sig- Em primeiro lugar, parece claro que
nificado: "A essência permanente da o falar em línguas registrado em Atos
criatura é que nada possui de próprio, foi em línguas conhecidas (cons. Atos 2:
sendo eternamente desamparada e po- 4,8,11). À vista de que Lucas foi um
bre ... Não é de uma vez, mas conti- companheiro íntimo de Paulo (ele pode
nuamente, na eternidade, que a fé se até mesmo ter estado em Corinto) e ter
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I CORINTIOS 13: 13 - 14: 1-15
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I CORÍNTIOS 14: 15·29
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I CORíNTIOS 14: 29-40 - 15: 1-2
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I CORÍNTIOS 15: 2-15
sias seria sem base, se a mensagem da tempo (lit.) não se refere às zombarias
ressurreição de Cristo não fosse verda- dos seus inimigos, nem ao fato dele
deira. A última interpretação é pro- ter vindo a Cristo antes de Sua nação,
vavelmente a correta. Se Cristo não Israel, a qual virá a Cristo no futuro
fosse crucificado e ressuscitado, a sal- (cons. Rm. 11: 1-36). O porque do ver-
vação seria impossível. sículo seguinte explica. Paulo se con-
3,4. Antes de tudo (lit. entre as pri- sidera, comparado com os outros após-
meiras coisas) refere-se à importância, tolos, como uma criança abortiva que se-
não ao tempo. A substância da mensa- ria olhada entre crianças perfeitamente
gem de Paulo está contida nos quatro formadas, porque ele foi elevado do seu
ques (E.R.C.) depois da palavra recebi, papel de perseguidor ao de apóstolo.
e eles incluem a morte de Cristo, Seu Os outros responderam ao chamado
sepul tamento, ressurreição e aparições. amoroso do Salvador, mas o chamado
Essas coisas formam o Evangelho. Pelos de Paulo na Estrada de Damasco quase
nossos pecados, segundo as Escrituras teve o elemento da força em si. Portan-
deve ser entendido à luz de passagens to, ele magnifica a graça de Deus que
tais como Isaías 53. A preposição pelos veio a ele (cons. Ef.3:8; ITm.l: 15).
(gr, hyper, que os modernos gramáticos 10. Trabalhei muito mais do que
atualmente reconhecem, pode indicar todos eles tem sentido ambíguo. Pode
substituição) sugere Sua morte em nosso se referir aos outros apóstolos indivi-
lugar. A palavra sepultado, a única dualmente ou coletivamente. O últi-
referência ao Seu sepultamento fora mo deve ser o certo, pois a história pa-
dos Evangelhos, com exceção das Pa- rece apoiá-lo mais neste caso. Sob ne-
lavras de Paulo em Atos 13: 29 (cons. nhuma circunstância o apóstolo enfa-
Atos 2: 29), destrói a fraca teoria da tiza que tenha crédito pessoal por causa
síncope de nosso Senhor. Ele realmen- disso. 11. Assim pregamos liga a Ressur-
te morreu. E naturalmente isso conduz reição com a mensagem apostólica.
à sepultura vazia, uma testemunha da E assim crestes liga os coríntios com a
Ressurreição que jamais foi eficiente- fé na ressurreição de Cristo. Tomando
mente refutada. Ressuscitou, um tempo a fé deles na ressurreição do Senhor co-
perfeito, implica em resultados perma- mo ponto de partida, Paulo prova agora
nentes. (Em relação ao problema de que isto logicamente envolve a fé na
tradução à vista da frase que define o ressurreição física de todos os outros,
tempo, terceiro dia, veja James Hope que estão nele (vs. 12-19).
Moulton's A Grammar of New Testa- 12,13. O fato da ressurreição de
ment Greek, I, 137). Cristo envolve a crença na ressurreição
S. E apareceu introduz uma evi- física. Não há nenhuma necessidade
dência fora das Escrituras do N.T. 6. A de discutir a ressurreição, uma vez que
referência à maioria que sobreviveu tem um já foi ressuscitado. Está óbvio que
um imenso valor apologético. A histó- o argumento de Paulo volta-se para a
ria da ressurreição era inconteste, até humanidade de Cristo (cons. I Tm.
onde sabemos, vinte e cinco anos de- 2: 5, "o homem Cristo Jesus"). 14. Vã.
pois! A aparição pode ser a de Mt. 28: Sem conteúdo (gr. kenos). Se não hou-
16-20. 7. Este Tiago era provavelmente vesse ressurreição, o Evangelho estaria
o irmão do Senhor e esta aparição pode vazio de qualquer conteúdo verdadeiro.
tê-lo feito crer em Cristo (cons. Jo. E a fé dos coríntios não estaria de posse
7: 5; Atos 1: 14). de um fato real; tudo não passaria de
8. Como por um nascimento fora do miragem. IS. Mais ainda, se não hou-
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I CORINTIOS 15: 15-28
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I CORfNTIOS 15: 28-36
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I CORÍNTIOS 15: 36-53
A simples resposta do apóstolo à pri- concordam com o que ele está dizendo,
meira pergunta, é que o corpo não pois assim está escrito. Os dois Adãos
nasce, (ressuscitado) se primeiro não estampam as características de suas
morrer. A morte, inimiga do corpo, raças. O termo, o último Adão, foi
é na realidade o meio da ressurreição. cunhada por Paulo (cons. MNI, pág.
37-41. Usando uma ilustração ex- 263) para indicar que não haverá um
traída do mundo natural, Paulo trata de terceiro homem representativo, sem pe-
dois erros comuns. Uma é considerar cado e sem pai humano, como foram
o corpo ressurreto igual ao original, ambos, Cristo e Adão. Se o último
apenas reformado; a outra é conside- Adão de Deus falhasse, não haveria ou-
rá-lo um novo corpo sem relação com tro. Vivificante (lit. doador de vida;
o original. O fato é que há continuida- cons. C1. 1: 17; Fp. 3: 20, 21). 47. O
de (v. 36), identidade (v. 38), ainda que Senhor, é do céu prevê Sua vinda. 48,
diversidade (vs.39-4l) entre os dois 49. E, assim como trouxemos é uma
corpos. Não ... o corpo que há de ser promessa retumbante. Muitos manus-
refuta a noção de que o corpo será o critos excelentes trazem vamos trazer,
mesmo corpo na sua aparência física. mas a tradução é provavelmente o re-
38. O seu corpo apropriado. Exata- sultado de uma primitiva corruptela do
mente como no caso da semente, cada texto. A imagem do celestial é a nota
uma preserva sua identidade pessoal. final sobre a natureza do corpo da res-
39,40. Nem toda carne é a mesma. surreição. Será glorioso como o próprio
À luz da teoria da evolução, esta é uma corpo de Cristo (cons. l.c. 24: 29-43;
declaração interessante. Está planejada Fp.3:21; SI. 17: 15).
a preservação do elemento da diver- 50. A próxima pergunta a respon-
sidade entre os corpos da ressurreição der é a que naturalmente se segue. É
dos crentes. Corpos celestiais são o sol, esta: Mas o que vai acontecer com aque-
a lua, as estrelas, etc. 41. A declaração, les que não morrerem? De que forma
porque até entre estrela e estrela há di- eles participarão da ressurreição do
ferenças de esplendor, pode apontar para corpo? O princípio é que deverá ha-
as diferentes recompensas entre os glo- ver uma transformação, pois a carne
rificados (cons. ICC, pág. 371-372). e sangue (ele não diz o corpo) não podem
42. Pois assim também introduz a herdar o reino de Deus.
aplicação paulina ao corpo da ressur- 51. Mistério (cons. 2: 7). Nem to-
reição. Quatro particulares são desta- dos (os crentes) dormiremos (morremos),
cados, conforme o apóstolo luta para mas seremos todos transformados, isto é,
descrever o indescritível e expressar o terão seus corpos transformados. O to-
inexprimível. Primeiro, o corpo ressus- dos na última cláusula nega a doutrina
cita na íncorrupção: não haverá possibi- do arrebatamento parcial da Igreja.
lidade de deterioração (cons. vs. 53,54). 52. Num momento. Do grego atmos,
43. Ressuscita também em glória e em "aquilo que não pode ser dividido",
poder. Não haverá mais nele o prin- do qual se deriva a palavra átomo. Num
cípio do pecado ou a fraqueza física. abrir e fechar de olhos. O pestanejar
44. Finalmente, ressuscita corpo espi- de uma pálpebra. Estas frases enfati-
ritual. Aparentemente uma referência zam a subitaneidade da mudança. O
ao uso do corpo, não à sua substância. soar da trombeta aponta para o tempo
Será formado para ser o órgão do Espí- (cons. I Ts. 4: 16). 53. Os mortos e os
rito. vivos se apresentam aqui ao autor, corrup-
45. Paulo destaca que as Escrituras tíveis referindo-se aos mortos e mortais
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I coaerrtos 15: 53-58 - 16: 1-4
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1 CORINTIOS 16: 5-24
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A SEGUNDA EPISTOLA AOS CORINTIOS
INTRODUÇÃO
-110 -
ainda, um estudo mais acurado desta e ela espalha bem longe a sua fragrân-
epístola revelará ao estudante diligente cia espiritual. Nosso esboço tenta mos-
uma unidade que é simplesmente espan- trar esta simetria.
tosa. E obviamente nosso conhecimento Influência. Talvez seja mesquinho
da situação total em Corinto é tão nebu- comparar qualquer uma das cartas de
losa, que nenhum mestre moderno pode Paulo com outra. Cada uma tem suas
afirmar seguramente que qualquer parte características especiais que a toma
desta epístola é discordante do resto grande em seu campo. Mas em 11 Corín-
ou irrelevante quanto à verdadeira situa- tios encontramos certos aspectos que não
ção em Corinto. são tão evidentes em outras cartas de
O Desenvolvimento do Pensamento. Paulo. Conforme o grande evangelista
O progresso do pensamento nesta epís- defende sua autoridade apostólica, contra
tola é como o movimento de um grande os sutis e insidiosos ataques dos "após-
exército avançando sobre terreno irre- tolos do exagero" que tentaram livrar
gular, ainda semeado de grupos de resis- os coríntios de sua influência, ele re-
tência teimosa. Paulo nunca abandona vela a sua própria alma e acrescenta mui-
a sua armadura enquanto tal resistência tos detalhes sobre a sua vida, que de
ao seu ministério ainda existe. Sua carta outra forma ficariam desconhecidos. Mas
é, de fato, um ultimato exigindo submis- esta epístola é um monumento ao fato
são total e incondicional à autoridade de que Paulo, vivaz e inspirado, foi uma
do apóstolo de Cristo. Apesar de sua parada dura para "toda altivez que se
rudeza, esta carta é linda em sua sime- levanta contra o conhecimento de Deus"
tria como uma flor das montanhas - (11 Co. 10: 5).
ESBOÇO
I. A conciliação. 1: 1 - 7: 16.
A. O sofrimento de Paulo é recíproco. 1: 1-7.
1. Saudação. 1: 1,2.
2. Adoração. 1: 3.
3. Tribulação agonizante. 1:4-7.
B. O desespero de Paulo é aliviado. 1: 8-14.
C. A digressão de Paulo é justificada. 1: 15 - 2: 17.
1. O plano é projetado. 1: 15, 16.
2. O plano é criticado. 1: 17.
3. O plano é compreendido. 1: 18-22.
4. O plano é mudado. 1: 23 - 2: 4.
5. O plano é atenuado. 2:5-11.
6. O plano é consumado. 2: 12-17.
D. A superior revelação de Paulo. 3: 1-18.
1. Na documentação. 3: 1-3.
2. No dinamismo. 3:4-6.
3. No grau. 3: 7-9.
4. No destino. 3: 10, 11.
5. Na diagnose. 3: 12-17.
6. No desenlace. 3: 18.
E. O dualismo de Paulo é explicado. 4: 1-18.
1. O escondido e o revelado. 4: 1,2.
-111 -
2. Os cegos e os iluminados. 4: 3, 4.
3. Os escravos e o Senhor. 4: 5.
4. Trevas e luz. 4: 6.
5. Os frágeis e o Poderoso. 4: 7.
6. Provações e vitórias. 4: 8-10.
7. Morte e vida. 4: 11, 12.
8. O escrito e o falado. 4: 13.
9. O passado e o futuro. 4: 14.
10. Graça e ação de graças. 4: 15.
11. O homem exterior e interior. 4: 16.
12. Aflição e glória. 4: 17.
13. O visto e o não visto. 4: 18a.
14. O temporal e o eterno. 4: 18b.
F. A motivação da dedicação de Paulo. 5: 1 - 6: 10.
1. Motivada pelo conhecimento. 5: 1-9.
2. Motivada pelo julgamento. 5: 1-9.
3. Motivada pelo temor. 5: 11.
4. Motivada pelo altruísmo. 5: 12, 13.
5. Motivada pelo amor. 5: 14,15.
6. Motivada pela regeneração. 5: 16, 17.
7. Motivada pela reconciliação. 5: 18-21.
8. Motivada pelo tempo. 6: 1,2.
9. Motivada pelo sofrimento. 6: 3-10.
G. Paulo insiste na dissuasão. 6: 11 - 7: 1.
1. A tese: Mudem de atitude para comigo. 6: 11-13.
2. A antítese: Mudem de atitude para com o mundo. 6: 14-16.
3. A síntese: Obedeçam e vivam. 6: 17 - 7: 1.
H. Exemplo do deleite de Paulo. 7: 2-16.
1. Paulo tem os coríntios em altaestlma. 7: 2-4.
2. Razões dessa alta estima. 7: 5-16.
11. A coleta. 8: 1 - 9: 15.
A. Primeiro motivo para sua conclusão: o exemplo dos macedônios. 8: 1-8.
B. Segundo motivo para sua conclusão: o exemplo de Cristo. 8: 9.
C. Terceiro motivo para sua conclusão: questão de honra. 8 : 10 - 9 : 5.
D. Quarto motivo para sua conclusão: questão de mordomia. 9: 6-15 .
1. Princípios extraídos da natureza. 9: 6.
2. Princípios extraídos da natureza divina. 9: 7-1O.
3. Princípios extraídos da natureza cristã. 9: 11-15.
Ill. As credenciais. 10: 1 - 13: 14.
A. Armadura espiritual. 10: 1-6.
B. Autoridade construtiva. 10: 7-18.
C. Apreensão justificável. 11: 1-6.
D. Razoável abatimento. 11:7-15.
E. Assiduidade bem conhecida. 11: 16-33.
F. Aflição compensatória. 12: 1-10.
G. Confirmação suficiente. 12: 11-13.
H. Associação benéfica. 12: 14-18.
I. Ansiedade justificada. 12: 19-21.
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11 CORiNfIOS 1: 1-6
COMENTÁRIO
I. A Conciliação. 1: 1 - 7: 16.
-113 -
n CORÍNTIOS 1: 6-13
implícito algum tipo de força misteriosa a Lá (IIPe.2:7,9), Paulo (lI Tm.4:
ou sobrenatural (cons. 4: 12; Rm.12: 17) e os crentes (I Ts. 1: 10). Paulo
6,11; Gl.5:6; Ef.3:20; C1.1:29; realmente atravessou e triunfantemente
ITs.2:13; IITs.2:7; Tg.5:16). Na "saiu da " provação aqui descrita (cons.
forma ativa Deus é sempre o sujeito Rm.8:35-39; também SI. 66: 12; 69:
(cons. I Co. 12: 6,11; G1. 2: 8; Ef.1: 14; 144: 7). A descrição tão grande
11,20; Fp. 2: 13). 7. A nossa esperan- (cons. o seu uso em Hb. 2: 3; Tg.3:
ça escatológica (cons. I Ts. 2: 19) baseia- 4; Ap. 16: 18) revela a magnitude ili-
-se diretamente sobre o fato de que a sal- mitada de sua provação. O livramento
vação é firme (bebaios, "digna de con- de Paulo foi 1) uma providência mara-
fiança, segura, certa" - Amdt). Em vilhosa - o qual nos livrou; 2) uma pro-
sabendo que (isto é, já que sabemos) fecia certa - e livrará; 3) uma promes-
Paulo declara a causa objetiva de sua sa feliz - em quem temos esperado que
certeza quanto aos coríntios (cons. ainda continuará a livrar-nos. O futuro
I Ts. 1:4). O como ... assim ... (como livramento foi cumprido em II Tm.
em II Co. 7: 14; Ef. 5: 24) difere só 4: 17.
um pouquinho da construção do ver- 11. Este versículo pode ser traduzido
sículo 5. A palavra por trás de parti- de diversas maneiras. Os pensamentos
cipantes (koinonos) usa-se em relação básicos são os seguintes: 1) a eficácia
ao companheirismo físico (cons. II Co. da oração no livramento de Paulo; 2)
8: 23), participação moral (cons. Mt. a mercê recebida pelo apóstolo; 3) a
23: 30; I Co. 10: 18,20; Hb. 10: 33) conseqüente ação de graças por mui-
e união espiritual (cons. I Pe. 5: 1; II Pe. tas pessoas. Paulo tinha fé na oração
1: 4 ). intercessória (cons. Rm. 15: 30, 31; Fp.
1: 19; C1. 4: 12). A palavra karisma
B. O Desespero de Paulo é Aliviado. significa "um dom (oferecido de graça
1: 8-14. e pela graça), um favor concedido"
8. A natureza da nossa tribulação (Arndt). Não se limita aos dotes minis-
(thlipsis; veja v.4) que sobreveio na teriais (cons. Rm. 1: 11; I Co. 1: 7;
Ásia (isto é, na província romana da IPe.4: 10).
Ásia) tem sido muito debatida. Alguns 12. A palavra glória (kauchesis) é
comentadores pensam na violência da encontrada 4 vezes nesta epístola (7:
turba em Éfeso (cons. Atos 19: 23-41; 4,14; 11: 10, 17), mas somente 5 ve-
ICo.15:32) como sendo esta tribu- zes no restante do Novo Testamento.
lação. Seja o que for - e a linguagem Por temos vivido, Paulo quer dizer,
que foi aqui usada coloca-se entre as que três árbitros determinaram a sua
experiências humanas mais cruciantes - conduta: 1) sua consciência; 2) sano
foi uma dessas provações que Paulo su- tidade e sinceridade de Deus; 3) o mun-
portou por causa do nome de Cristo do e os Coríntios. A espiritualidade irre-
(cons. Atos 9: 16; também SI. 69: 1 conciliável e incompatível é representada
esegs.; Is.43:2). pela sabedoria humana (cf. Tg. 3: 15)
9. Como Isaque (cons. Hb. 11: 17-19), e pela graça divina (cf. I Co. 3: 10; 15:
Paulo tinha uma sentença de morte 10; Ef. 3: 2, 7, 8).
sobre ele; e, como Abraão, ele podia 13. Paulo era um homem consis-
confiar novamente no Deus que ressus- tente, quer lidando com os judeus hostis
cita os mortos (cons. Gn. 22: 1-18). (cons, Atos 26: 22), quer com cristãos
10. O verbo (rhuomai) traduzido para recalcitrantes. O que ele escrevia em
livrou foi também usado em relação suas cartas podia ser lido e inteiramente
-114 -
11 CORíNTIOS 1: 13-22
-115 -
11 cORÍNTIOS 1: 23-24 - 2: 1-6
-116 -
11 CORINTIOS 2: 6-14
-117 -
11 CORINTIOS 2: 14-17 - 3: 1-6
-118 -
11 CORINflOS 3: 6-13
-119 -
ncoRÍNTIOS 3: 14-18 - 4: 1
14. Aqui Paulo dá uma aplicação que a alma crê, "então o véu se tirará"
espiritual para o véu físico sobre o rosto - a retirada do véu sincroniza-se com
de Moisés. Esse véu torna-se agora um o ato da fé salvadora (cons. Is.25:7;
véu que não permite aos judeus com- Zc. 12: 10).
preenderem a verdadeira importância 17. O Senhor é o Espírito. Esta
da antiga aliança quando o lêem. A pa- construção no grego, com o artigo de-
lavra noema, aqui traduzida para sen- finido antes de ambos, sujeito e predi-
tidos, foi quase que exclusivamente cado (cons. IJo.3:4), indica identida-
usada nesta epístola (2: 11; 4:4; 10: de de natureza. Por Senhor aqui devemos
5; 11:3; cons. Fp.4:7). O verbo cog- entender Jesus Cristo (quase universal-
nata (noeo) designa "reflexão racional mente nas cartas de Paulo; por exemplo,
ou percepção Última" (Amdt; cons. nCo.5:6,8,11; 8:5; 10:8; 12:1,
seu uso em Jo.12:40; I Tm.l:7; Hb. 8). Aqui Paulo está ensinando que Cris-
11: 3). A forma passiva se embotaram to e o Espírito têm a mesma essência
indica o endurecimento judicial que caiu (cons. Jo.1O:30); suas pessoas perma-
sobre Israel quando a nação rejeitou necem distintas. Conforme anunciado
Cristo (cons. Jo. 12:40; Rm. 11: 7, 25). profeticamente (Is. 61: 1, 2; J oe1 2: 28-
Tal endurecimento ou cegueira pode ser 32), a nova dispensação devia se carac-
devido à ação de Deus (cons, ~. 11: terizar pelo derramamento do Espí-
7,8), Satanás (cons. 11 Co.4:4), ou o rito. O Senhor Jesus enviou o Espí-
próprio homem (cons. Hb. 3: 8). O verbo rito (cons. Jo. 16: 7). Quando e "sem-
é removido (presente passivo de katar- pre que" (11 Co. 3: 16) o Espírito re-
geo; veja II Co. 3: 7b) significa que este genera o coração, há uma verdadeira
véu da cegueira espiritual está sendo re- liberdade (cons. Jo.8:32; G1.5:1,
movido dos corações dos crentes israe- 13).
litas a partir do momento em que eles 6) Superior no desenlace. 3: 18. Aqui
"vêem" Cristo como seu Salvador (cons. está o grande final. Usando Êx.34:
Jo. 9: 40, 41). 29-35 como cenário, Paulo faz um resu-
mo das vantagens possuídas pela nova
15. O Pentateuco era costumeira- dispensação: 1) liberdade - com rosto
mente lido - quando é lido Moisés - desvendado; 2) intimidade - contem-
nas sinagogas (cons. Atos 15: 21). Pau- pIando ... a glória do Senhor (cons.
lo não tinha dúvidas quanto à auto- Êx.33:17-23, IJo.3:1,2); 3) eficá-
ria (cons. Atos 26: 22; 28: 23; Rm. cia - somos transformados ... na sua
10:5,19; ICo.9:9). Foi até mes- própria imagem; 4) perfeição - de gló-
mo necessano que Cristo "abrisse" ria em glória (cons. Is. 66: 11, 12); 5)
as mentes de seus próprios discípu- origem sobrenatural - como pelo Senhor,
los quanto ao significado messiânico do o Espírito. A última declaração, iguala
V.T. (cons. Lc. 24, 25, 26, 32, 44, 45). Cristo e o Espírito na obra coopera-
16. O quando deve ser retido. É a mesma tiva da salvação (cons. 11 Co. 3: 17;
partícula indefinida usada no versículo Jo. 7: 39; 15: 26; 16: 6-14).
15 (mas em nenhum outro lugar do
N.T.). O sujeito de se converte tanto E. O dualismo de Paulo é explicado.
pode ser "o coração" quanto "ele" 4: 1-18.
(isto é, o israelita individualmente). O 1) O Escondido e o Revelado. 4: 1,2.
verbo é epistrepho e costuma indicar 1. Observe três coisas: 1) nossa riqueza
conversão (cons. Lc. 1: 16,17; Atos - tendo este ministério; 2) nosso lem-
3:19; 26:20; ITs.l:9). Sempre brete - segundo a misericórdia que nos
-120 -
fi CORINTIOS 4: 1-12
foi feita (cons. I Tm.1: 13, 16); 3) nos- Rm.1: 1; Gl. 1: 10; Fp.1: 1; n.1: 1).
so recurso - não desfalecemos (cons. Aqui ele usa o terrno para descrever o
o mesmo verbo em 11 Co. 4: 16; Le. seu relacionamento com os seus conver-
18:1; Gl.6:9; Ef.3:13; I1Ts.3: tidos em Corinto.
13). 2. O ato decisivo, rejeitamos, 4) As Trevas e a Luz. 4: 6. Paulo
explica-se por duas negativas concomi- volta-se para a criação (Gn. 1: 3) em
tantes: 1) não andando com astúcia; busca de um protótipo de sua própria
2) nem adulterando a palavra de Deus. conversão (cons. Atos 9: 3 e segs.). O
A vida resultante está descrita de acordo Deus que criou a luz física ilumina nos-
com os seus 1) recursos - pela manifes- sas mentes na nossa re-criação quando
tação da verdade; 2) método - nos nós olhamos na face de Cristo à procura
recomendamos à consciência de todo de salvação.
o homem; 3) medida - na presença de 5) Os Fracos e o Poderoso. 4: 7. Com
Deus. Os cristãos deveriam renunciar este tesouro Paulo nos faz lembrar que
(como aqui), repudiar (cons. 6: 14- o Evangelho é uma jóia de valor (cons.
17) e reprovar (cons. Ef. 5: 11) as cou- Mt.13:44,52) que lhe foi consignada
sas que por vergonhosas se ocultam (cons. Ef. 3: 1,2,7,8). A natureza
(cons. Rm. 6: 21; I Co. 4: 5). humana na sua fraqueza e fragilidade foi
2) Os Cegos e os Iluminados, 4: 3,4. descrita na frase vasos de barro (cons.
3. O se indica a realidade. Nosso evan- Atos 9: 15). A palavra excelência (hy-
gelho. O único evangelho (cons. GI. perbole) significa "excesso, qualidade
1: 6 e segs.). Está encoberto (pelo extraordinária ou caráter extraordinário"
véu). O tempo perfeito retrata o es- (Arndt). A palavra só foi usada por Paulo
tado fixo. O particípio perfeito foi no N.T. (11 Co. 1: 8; 4: 7,17; 12: 17;
corretamente traduzido por os que Rm. 7: 13; I Co.12:31; Gl. 1: 13).
se perdem (cons. 2: 15). O uso de en- 6) Provações e Vitórias. 4: 8-10. Es-
coberto (escondido) toma obscura a re- tes versículos podem ser assim resumi-
ferência implícita a 3: 13-18; o "véu" dos: 1) Todos os verbos em 8-10a são
que "cegou" a mente dos judeus tor- particípios presentes e estão gramatical-
nou-se agora o "véu" que Satanás usa mente relacionados a "nós" em 4: 7.
para "cegar" os que se perdem. 4. Sa- Eles explicam ou ilustram o segredo
do poder de Paulo nos "vasos de barro".
tanás, aqui, foi chamado de o deus deste
século (também no grego; cons. Jo. 2) Esses particípios parece que estão
12:31; 14:30; 16:11; Ef.2:2). A em ordem ascendente - aumentando de
palavra imagem (eikon) foi duas vezes intensidade. 3) São paradoxais e anti-
aplicada a Cristo em outras passagens téticos - contrastando natureza com
(CI. 1: 15; Hb. 1: 3). O verbo resplan- graça. 4) Além disso, embora com
deça (augazo) encontra-se apenas aqui base em 2: 14 e segs.; sobem mais alto
noN.T. na escada que nos leva através de 6:
4-10 até o clímax em 11: 16-23. Le-
3) Os Escravos e o Senhor. 4: 5. vando sempre no corpo o morrer de
Paulo pregava a Cristo Jesus como Se- Jesus (v. 10). Cons. Rm. 8: 36; I Co.
nhor. O Senhorio supremo de Cristo 15: 31; Gl. 6: 17; CI. 1: 24. O grande
era o centro da pregação apostólica desejo de Paulo era que também a sua
(cons. a mesma construção em Rm. vida se manifeste em nosso corpo (cons.
10: 9; Fp. 2: 11). O original de ser- Gl. 2: 20; Fp. 1: 20).
vos é escravos. Paulo se auto denomina 7) Morte e Vida. 4: 11, 12. O pensa-
"escravo" repetidas vezes (doulos; cons. mento do versículo 10 foi repetido,
-121-
11 CORINTIOS 4: 12-18 - 5: 1
-122 -
11 CORÍNTIOS 9: 2-13
desde o ano passado), e pelo zelo. O gens do N.T. apenas em 1 Tm. 6: 6 (mas
verbo (erethizo) por trás de estimulado Paulo aplica o adjetivo a si mesmo em
foi usado aqui no bom sentido. Em Fp. 4: 11). Esta palavra, usada pelos
apenas um único outro lugar do N.T. estóicos, descreve "um estado perfeito
(CI. 3: 21) tem um mau sentido - "irri- de vida no qual não há necessidade
tar, exasperar" (Amdt). de auxílio" (Thayer, Lexicon). A pa-
3. Paulo cria inteiramente que os lavra "suficiência" (hikanotes) em 11 Co.
meios eram necessários para se alcançar 3: 5 designa "capacidade ou competên-
o fim. Este versículo tem muitas apli- cia para fazer uma coisa" (Thayer).
cações espirituais (cons. Atos 27: 24, Os dois termos não são idênticos; uma
31). 4. Uma contingência indesejável pessoa pode ter um deles sem ter o ou-
está expressa em caso (me pos; cons. tro.
seu uso em 2:7; 11:3; 12:20). 5.0 9. O apóstolo usa a construção exata
uso triplo de pro, "antes", é significa- como está escrito doze vezes em Roma-
tivo: me precedessem ... preparassem de nos, duas vezes em I Coríntios, e duas
antemão ... já anunciada. Pleonexia vezes nesta epístola (8: 15 e aqui). Não
seria traduzida melhor para "avareza, a usa mais em nenhum outro lugar.
insaciabilidade, ganância, ambição" A citação é de SI. 112: 9 (LXX). A jus-
(Amdt). tiça que permanece refere-se mais à
recompensa do que à salvação (cons.
D. O Quarto Motivo para Sua Con- 11 Tm. 4: 8; Ap. 19: 8; 22: 11). 10.
clusão: Questão de Mordomia. A plenitude na natureza (aquele que
9: 6-15. dá) é uma garantia para a plenitude
1) Princípios Extraídos da Natureza. na graça (também suprirá ... e aumen-
9: 6. A proporção coextensiva entre o tará). Cons. Is. 55: 10; Os. 10: 12.
semear e o colher encontra sua expres- 3) Princípios Extraídos da Natureza
são no reino espiritual: "Aquele que Cristã. 9: 11-15. 11. O primeiro prin-
semeia sobre o princípio das bênçãos, cípio é o enriquecimento espiritual.
sobre o princípio das bênçãos colherá" Literalmente: em todas as coisas sendo
(Plummer; cons. Pv. 11: 24; Lc. 6: 38; enriquecidos para toda liberdade (como
GI. 6: 7,8). em 8: 2) a qual é tal que (relativo qua-
2) Princípios Extraídos da Natureza litativo como em 8: 10) produz (veja
de Deus. 9: 7-10. 7. Podemos resumi- 4: 17) por meio de graças dadas a Deus.
-lo assim: 1) a pessoa - cada um; 2) 12. O segundo princípio é a ação de
a proporção - segundo tiver proposto; graças. Este serviço (leitourgia; cons.
3) o lugar - no coração; 4) a perversão seu uso em Lc.l:23; Fp.2:17,30;
- não com tristeza, ou por necessidade; Hb. 8: 6; 9: 21) enfatiza o aspecto mi-
5) o princípio - porque Deus ama a nisterial da contribuição. O verbo supre
quem dá com alegria. traduz prosanapleroo, que significa "en-
8. Muito literalmente: Deus pode cher acrescentando" (A.T. Robertson).
fazer-nos abundar em toda graça, a Contribuir para as necessidades dos
fim de que, tendo sempre, em tudo, outros multiplica as muitas graças a
ampla suficiência, superabundeis em Deus.
toda boa obra. Observe a repetição de 13. O terceiro princípio é obediên-
tudo e toda. Sobre Deus pode, veja cia. A prova desta ministração produz
Mt.3:9; 10:28; Mc.2:7; Ef.3:20; dois benefícios: 1) Os cristãos em Jeru-
Judas 24. O substantivo suficiência salém glorificam a Deus pela obediên-
(autarkeia) foi usado em outras passa- cia da vossa confissão; 2) e, conseqüen-
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11 CORINTIOS 9: 13-14 - 10: 1-10
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I I II 'I I 'I
II CORÍNTIOS 10: 10-18 -11: 1·4
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11 coarsnos 11: 4-15
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II , 'I I "
I I
11 CORiNTIOS 11: 15-33 - 12: 1-4
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11 CORÍNTIOS 12:4-14
sei, etc.; 5) estática - foi arrebatado po perfeito em 10. 19: 28,30; 11 Tm.
até ao terceiro céu (cons. Enoque, Elias, 4: 17) significa está sendo (continua-
Ezequiel); 6) revelatória - ouviu pala- mente) aperfeiçoado (cons. Hb. 5: 9). O
vras inefáveis; 7) indelével - foi-me verbo repouse (episkenoo) aparece ape-
posto um espinho na carne (v. 7). nas aqui no grego b íblico. O verbo
simples skenoo se encontra em 10. 1:
6. As idéias aqui são duas principal-
14; Ap. 7: 15; 21:3. A tradução de
mente: 1) Se Paulo deseja gloriar-se
Plummer, "estenda uma tenda sobre
mais, não seria néscio; pois ele falava
mim", é uma reminiscência da fraseo-
a verdade (aletheia; cons. seu uso em
logia do V.T. (cons. ex. 33: 22; SI.
4: 2; 6: 7; 7: 14; 11: 10; 13: 8). 2)
90:17; 91:4; Is.49:2; 51:16).10.
Ele os poupou tfeidomai, como em 1: 23;
Ninguém pode sentir prazer (eudokeo;
13: 2) de uma exibição mais detalhada
veja 5: 8) nas cinco adversidades men-
de seus privilégios especiais temendo
cionadas aqui, a não ser por amor de
que alguém pudesse estimá-lo acima do
Cristo (cons. 5: 20; Fp. 1: 29; C1. 1:
que visse ou ouvisse dele. Paulo não
24; III 10. 7). Sobre quando (hotan),
tinha desejo de se tornar um "super-
veja 11 Co. 10: 6.
-homem" nem de encorajar uma ado-
ração de homens, ainda que heróis.
7. Uma passagem clássica. A mag- G. Confirmação Suficiente. 12: 11-13.
nitude das revelações de Paulo (sobre l l . Uma súbita compreensão (tenho-
grandeza, veja 4.7) levaram o Senhor a -me tomado insensato) justifica-se I)
lhe dar um estorvo divino (um espinho) pela natureza forçada da autovindica-
para reduzir qualquer tendência de exalo ção do apóstolo; 2) pela superioridade
tação orgulhosa. Paulo precisava de do seu apostolado; e 3) por sua humil-
um lembrete que lhe fizesse ver que, dade essencial (ainda que nada sou;
apesar do seu arrebatamento, ainda cons. 1 Co. 15: 9; Ef. 3: 8; 1 Tm. 1: 15).
era um homem entre os homens. Nos- 12. As credenciais do apostolado pode-
sas in formações são mui to imprecisas riam provavelmen te ser assim resumidos:
(cons. 1: 8) para justificar nossa dogma- 1) uma chamada divina (G1.1: 15, 16);
tização quanto à natureza exata desse 2) um encargo divino (Atos 9: 5, 6,15 e
espinho na carne. Sobre exalte veja segs.); 3) uma vida transformada (I Tm.
10: 5. 8. Paulo orou especificamente 1: 13-16); e 4) milagres comprova-
(por causa disto), encarecidamente (pe- dores (Atos 5: 12-16). Sobre foram
di ao Senhor), e com propósito (que o apresentados, veja 11 Co. 4: 17. Cons.
afastasse de mim). Sobre Senhor veja Atos 2: 22; IITs.2:9; Hb.2:4. 13.
10: 17, 18. Evidentemente os coríntios desenvolve-
ram um "complexo de inferioridade"
9. O tempo perfeito em me disse
pelo fato de Paulo não lhes ter sido
registra a completa aquiescência de
pesado financeiramente. Ele suplicou
Paulo na resposta definitiva de Cristo.
(ironicamente?) que esta injustiça (adi-
Só aqui no N.T. encontramos a minha
kia, significando "injustiça, maldade"
graça (cons. Fp. 1: 7). O verbo (arkeo),
- Arndt) lhe fosse perdoado!
no predicado te basta, indica que a gra-
ça de Cristo está "cheia de força infa- H. Associação Benéfica. 12: 14-18.
lível" (Thayer). Este verbo foi algumas 14. Aqui Paulo apresenta o seu pro-
vezes traduzido para estar satisfeito pósito - ir ter convosco, preparo -
(Lc.3:14; ITm.6:8; Hb.13:5). O pronto, precaução - pois não vou atrás
presente passivo de teleo (cons. o tem- dos vossos bens, mas procuro a vós ou-
-136 -
I I ll i
'I I II
11 coaemos 12: 14-21 -13: 1-S
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11 COR1NTIos 13: 5-13
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I I il I 'I I 11
A EPfflTOLA AOS GÁLATAS
INTRODUÇÃO
-139 -
o próprio Paulo considerasse esse re- gostasse de ser tão pessoal, tinha de en-
torno como uma segunda visita. Mui- frentar o desafio, o que ele fez mostran-
tos acham que quando Paulo narra uma do que tinha um apostolado independen-
reunião com certos apóstolos no capí- te, inteiramente no mesmo nível dos
tulo 2, pode não estar se referindo ao apóstolos originais. Ele recebera seu
concílio apostólico, uma vez que dei- evangelho não através de instrução hu-
xou de mencionar o decreto que ali mana mas através de revelação divina,
foi redigido, que teria sido altamente e ele comprovou-se concorde com o
vantajoso para a defesa do seu argumen- dos outros apóstolos.
to na epístola. Este argumento não é Depois Paulo passa a declarar o que
decisivo, uma vez que o propósito do é o Evangelho (caps. 3; 4). É uma men-
decreto não foi o de estabelecer termos sagem da graça que necessita da fé. A
sobre os quais os gentios pudessem lei não produz a fé, mas antes opera
ser admitidos à Igreja, mas antes, para maldição, da qual Cristo tinha de redi-
facilitar o relacionamento entre esses mir os homens.
convertidos gentios e aqueles que eram
Além do ato da aceitação do Evan-
de origem judia. Portanto o decreto
gelho, jaz a necessidade de vivê-lo (caps.
não se relacionava diretamente com a
5; 6). Aqui o poder da cruz e a ener-
argumentação da carta.
gia do Espírito Santo foram apresenta-
Lightfoot enfatizou as semelhanças
dos mais eficazes do que os esforços em
entre Gálatas, Coríntios e Romanos.
se guardar a Lei.
Todos tratam da controvérsia judai-
zante num certo grau. Com base nisto, Influência. Esta carta contém as mais
Gálatas pode ser atribuída ao período enfáticas declarações sobre a salvação
da terceira viagem missionária de Paulo, sem as obras que se encontram nas Es-
tendo Éfeso ou Macedônia como seu crituras. Ela revolucionou o pensamento
ponto de partida. Isto levaria a data de Lutero e teve parte estratégica na
da epístola para 56 A.D. De acordo Reforma. Lutero declarou que ele se
com a opinião alternativa, foi escrita sentia casado com este livro; foi a sua
em 48 ou 49, provavelmente de Antio- Catarina.
quia. Uma data intermediária em cerca No século dezenove F.C. Baur trans-
de 53, logo no começo do ministério formou este livro no pivô de sua teoria
em Éfeso, é a mais atraente. Um inter- que dizia que a controvérsia legalística
valo razoável entre a carta aos gálatas foi tão grave que chegou a abalar os fun-
e as cartas aos coríntios e romanos se damentos da igreja primitiva. De acordo
faz necessário por causa das diferenças com ele, afetou toda a literatura do
de tom e tratamento. Novo Testamento positiva ou negati-
Desenvolvimento das Idéias. Os dois vamente, conforme os homens escreviam
primeiro capítulos foram grandemente no interesse de um ou de outro ponto de
devotados ao estabelecimento da natu- vista, ou quando tentavam ocultar o fato
reza do apostolado de Paulo. Esta ex- da divergência entre a lei e a graça como
plicação era vital ao evangelho do após- meio de salvação. Uma vez que Gálatas
tolo, pois se os seus oponentes pudessem exibe esta controvérsia de maneira ine-
provar que ele não fora chamado e co- quívoca, sua autenticidade deve ser ad-
missionado a pregar a verdade, então mitida. Este veredito permaneceu vir-
seus ouvintes simplesmente duvidariam tualmente imutável desde os dias de
de sua mensagem. Embora Paulo não Baur.
-140 -
I I II
'I I 'I
GÁLATAS 1: 1
ESBOÇO
I. Introdução. 1: 1-9.
A. Saudação. 1: 1-5.
B. O tema da epístola. 1: 6-9.
Il. O apostolado de Paulo defendido. 1: 10 - 2: 21.
A. Um apostolado especial confirmado. 1: 10-17.
B. Falta de contato precoce com os apóstolos em Jerusalém. 1: 18-24.
C. Ausência de contato posterior para inquirir seu apostolado ou acrescentar
algo ao seu evangelho. 2: 1-10.
D. Sua autoridade independente vindicada no encontro com Pedro em Antio-
quia. 2: 11-21.
m. O evangelho de Paulo exposto. 3: 1 - 4: 31.
A. O argumento da experiência (dos gálatas). 3: 1-5.
B. O argumento das Escrituras (o caso de Abraão). 3: 6-9.
C. O argumento da Lei. 3: 10 - 4: 11.
1. A maldição da Lei, da qual Cristo deve libertar. 3: 10-14.
2. A inviolabilidade da aliança da promessa e sua prioridade sobre a Lei.
3: 15-18.
3. O propósito da Lei - temporário em sua permanência e negativo em sua
operação. 3: 19-22.
4. Filiação não é através da Lei mas através da fé. 3: 23 - 4: 7.
5. Um apelo a que não retomem à escravidão. 4: 8-11.
D. O argumento da recepção pessoal pelos gálatas. 4: 12-20.
E. O argumento da aliança da promessa. 4: 21-31.,
IV. O evangelho de Paulo praticado. 5: 1 - 6: 15.
A. O Evangelho praticado em liberdade. 5: 1-12.
B. O Evangelho praticado em amor. 5: 13-15.
C. O Evangelho praticado em Espírito. 5: 16-26.
D. O Evangelho praticado em serviço. 6: 1-10.
E. O Evangelho praticado em separação do mundo. 6: 11-15.
V. Conclusão. 6: 16-18.
A. Oração final. 6: 16.
B. Testemunho final. 6: 17.
C. Bênção. 6: 18.
COMENTÁRIO
I. Introdução. 1: 1-9. 1. Apóstolo. O significado de envia-
do não será suficiente aqui. Todos os
A. Saudação. 1: 1-5. A estrutura con- crentes têm tal encargo. Paulo prosse-
vencional da arte de escrever cartas foi gue defendendo sua autoridade especial
aqui utilizada, mas acima do vulgar, de mestre cristão, organizador de igre-
pois o autor era um apóstolo com au- jas, disciplinador e retificador de falsas
toridade recebida da Deidade, e ele doutrinas. Não da parte de homens,
se dirigia àqueles que pela graça foram nem por intermédio de homem algum.
libertos deste século presente. Eles, tam- O não negativo estabelece o tom da
bém, não eram homens comuns, pois epístola; é uma polêmica, uma denún-
eram cristãos. cia do erro a fim de colocar a verdade
-141 -
GÁLATAS 1: 1-7
-142 -
II ,
I I
'I I 'I
GÁLATAS 1: 7-14
-143 -
GÁLATAS 1: 14-19.
antes de sua conversão, e ele não po- discutindo a fonte do seu Evangelho.
deria ter recebido sua mensagem dos Ele menciona a Arábia em contraste
homens, conforme os judaizantes ale- com Jerusalém. Nenhum apóstolo se
gavam. encontrava ali. Ali não havia ninguém
15. A conversão de Paulo foi opera- que pudesse informá-lo sobre o Senhor
da em linha com o propósito de Deus. e Sua obra salvadora. É provável que o
a apóstolo, tal como Jeremias (Ir. 1: recém-convertido viajasse para a Arábia
5), fora separado desde o nascimento a fim de ficar a sós com Deus, a fim de
para a obra de sua vida. Sua conversão pensar bem sobre as implicações do
foi como se fosse uma revelação do Evangelho. Não há nenhuma necessi-
Filho de Deus dentro de sua alma. Esta dade de se supor que cada aspecto da
declaração não teve a intenção de des- verdade aparecesse como um raio em sua
pertar especulações quanto à psicolo- mente no momento de sua conversão.
gia da experiência de sua conversão, Da Arábia Paulo retomou a Damasco.
mas antes para estabelecer a realidade Esta referência acidental confirma a in-
e profundidade dessa transformação. formação obtida em Atos 9: 3, que a
Paulo fora cego à divindade do Filho conversão aconteceu perto dessa cida-
de Deus. Seu preconceito contra seus de.
próprios patrícios que consideravam
Jesus o seu Messias, fora devido a sua B. Falta de Contato Anterior com os
crença de que o Nazareno era um im- Apóstolos em Jerusalém. 1: 18-24. Pa-
postor, uma fraude. ra se dizer a verdade, não foi uma au-
16,17.a principal dos propósitos di- sência completa, como Paulo franca-
vinos desta revelação dentro da alma mente admite, mas os contatos foram
do apóstolo foi para que ele, por sua breves, pessoais e quase acidentais.
vez, proclamasse este conhecimento aos 18. Quanto desses três anos per-
outros, especialmente aos gentios. A rea- tencem à Arábia e quantos a Damasco
lidade e suficiência do seu encontro com não sabemos, mas o intervalo fortalece
o Senhor ressuscitado vê-se no fato de a alegação de Paulo. Se ele não tivesse
que ele não consultou a carne e o sangue recebido o Evangelho em sua conver-
(uma expressão indicando humanidade, são, não teria esperado tanto tempo
com ênfase especial sobre a fraqueza e para ser informado sobre ele. Para avis-
insuficiência) quer localmente, em Da- tar-me com Cefas. a verbo avistar (no
masco, quer em Jerusalém, o centro da grego) está em contraste deliberado
vida eclesiástica, onde os apóstolos ti- com consultei (1: 16), pois este último
nham o seu quartel-general. Se Paulo dá a entender uma consulta com a in-
não tivesse certeza quanto à sua mensa- tenção de ser esclarecido sobre algum
gem, uma viagem a um desses centros assunto, enquanto que aquele se refe-
teria sido natural e necessária. Mas ele re a travar conhecimento com uma
era um apóstolo tão verdadeiro quanto pessoa ou coisa. Às vezes tem sido
os Doze, inteiramente de posse da ver- usado em relação à uma excursão para
dade do Evangelho recebido do próprio ver os pontos turísticos de uma loca-
Senhor. lidade. A visita foi breve (quinze dias).
a apóstolo menciona a Arábia não 19. Paulo não se avistou com outro
como um lugar de pregação, porque, apóstolo além de Tiago, o irmão do
ainda que a pregação fosse o motivo da Senhor. Este é o Tiago que se tomou
chamada, não é o assunto que ele está o líder da igreja de Jerusalém (cons.
considerando a esta altura. Paulo está Atos 12: 17).
-144 -
I I II 'I I 11
GÁLATAS 1: 20-24 - 2: 1
-145 -
GÁLATAS 2: 1-5
conversão e não à primeira visita à Jeru- com a forte ênfase dada ao fator sobrena-
salém, a data da conversão ainda seria tural no capítulo anterior. Esta intima-
cedo demais; não deixa nenhum inter- ção poderia ter vindo, antes da decisão
valo entre a ressurreição de Cristo e a da igreja de Antioquia de enviar Paulo,
conversão de Paulo. ou poderia ter vindo depois, selando a
A identificação de Gálatas 2 com Atos decisão da igreja (Atos 15: 2). Ele e
15 tem a sua força no fato de que o as- Barnabé encontraram-se com os que
sunto da discussão é o mesmo em ambos pareciam de maior influência. Literal-
os casos e no fato de que Pedro e Tiago, mente, aqueles que apareciam, um ter-
como também Paulo e Barnabé, foram mo bastante curioso para designar os
destacados em ambas as passagens. Com apóstolos. A mesma expressão ocorre
certeza há dificuldade nessa identifica- duas vezes em Gl. 2: 6 e novamente
ção. Atos 15 dá a impressão de uma em 2: 9, onde foi acrescentada a pa-
grande reunião pública, enquanto Gála- lavra "colunas". Talvez Paulo sentisse que
tas focaliza uma sessão particular. A har- a igreja estava em perigo de idolatrar aque-
monização se toma possível aceitan- les líderes acatando-os demasiadamente.
do-se que a desavença citada em Atos Será que Paulo realmente tinha receio
15: 5, 6 poderia ter forçado os líderes de que tivesse corrido em vão (no curso
da igreja a dissolver o concílio tempora- do seu serviço cristão) e que tivesse cor-
riamente, passando a uma sessão confi- rido em vão desde a sua conversão, que
dencial tal como a que foi descrita em pudesse talvez estar errado quanto ao
Gálatas 2. Com base no entendimento Evangelho e agora precisasse ser corri-
alcançado, Pedro e Tiago teriam com gido? De modo nenhum. Mas as cir-
toda naturalidade desempenhado um pa- cunstâncias forçaram-no a submeter sua
pel de liderança e teriam um desempe- mensagem à apreciação dos apóstolos,
nho decisivo na fase pública final da pois só dessa maneira tinha esperanças
conferência registrada em Atos 15:7-21. de fechar a boca dos seus detratores,
É poss ível que a palavra lhes (Gl. 2: 2) os judaizantes, e as bocas daqueles que
seja uma referência à igreja como um foram levados pela propaganda deles.
todo contrastando com os apóstolos, 3-5. O motivo de Paulo ter levado
com os quais Paulo e Barnabé tiveram Tito junto (v. 1) toma-se evidente. Ele
uma entrevista particular. Uma outra seria o caso precedente na questão da
dificuldade a ser enfrentada é o fato de recepção dos gentios na Igreja. Se ele
Paulo não mencionar o assim chamado fosse constrangido a circuncidar-se, o rito
decreto apostólico em Gl. 2: 1-10, quan- não poderia ter sido logicamente afas-
do esse decreto recebeu destaque con- tado dos outros crentes gentios. Se
siderável na narrativa de Lucas (Atos ele saísse da conferência incircunciso,
15: 20, 28, 29; 16:4; 21: 25). Entre- todos os outros gentios que tinham co-
tanto, uma vez que Paulo estava preo- locado sua confiança em Cristo poderiam
cupado com o Evangelho em toda esta desfrutar de sua liberdade sem o temor
passagem, e uma vez que o decreto não de um desafio futuro. Parece que Paulo
tratava diretamente do Evangelho mas diz que alguma pressão foi exercida para
simplesmente regia o relacionamento har- que Tito fosse circuncidado na ocasião
monioso entre judeus e gentios crentes, (cons. Atos 15: 5). É altamente impro-
ele não se sentiu na obrigação de incluir vável que essa pressão viesse dos após-
o decreto em sua argumentação. tolos, pois eles se colocaram ao lado de
2. A segunda visita de Paulo a Jeru- Paulo (Atos 15: 19). Os criminosos
salém foi ditada por revelação, de acordo eram os falsos irmãos que tinham sor-
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I I II 'I I 11
GÁLATAS 2: 5-12
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GÁLATAS 2: 12-21
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I I II 'I I II
GÁLATAS 2: 21 - 3: 1-9
ciência do pecado que o preparara para riam eles se esquecido de sua primeira
aceitar Cristo. Ela também levara Cristo e viva impressão? 2,3. Depois de acei-
à cruz a fim de redimir aqueles que in- tar a Cristo viera o dom do Espírito
fringiram a Lei. Cristo era o represen- (cons. Gl. 4: 4-6; Ef, 1: 13), de modo
tante de Paulo nessa morte para a Lei. nenhum baseado na guarda da lei como
O resultado foi uma vida nova para Deus. um esforço da carne (cons. Gl. 5: 18,
Estou crucificado com Cristo. O tempo 19). 4. Sofrestes provavelmente não
perfeito enfatíza ambos, o acontecimento se refere à perseguição ou ao peso da
passado e seus efeitos contínuos. Essa guarda da lei, mas foi usado no bom
morte produziu vida, embora não a sentido - experimentado. Esta inter-
mesma vida velha na fragilidade do ho- pretação está favorecida pela subseqüen-
mem natural, mas uma vida totalmente te menção do Espírito no versículo se-
nova; não apenas vida divina impessoal- guinte. 5. A obra ativa do Espírito
mente garantida, mas antes o próprio que opera milagres, tal como a sua
Cristo vivo passando a habitar no redimi- vinda aos corações dos gálatas, não de-
do. Nesse arranjo, entretanto, não há pendia de obras mas da pregação da fé,
submersão da personalidade humana. isto é, da aceitação pela fé da mensa-
A nova vida é vivida sobre o princípio gem do Evangelho pregada entre eles.
da fé em Cristo (cons. 2: 16), em lugar
da obediência legal. Esta fé constrói 13. O Argumento das Escrituras (o
sobre o fato do amor pessoal do Salva- Caso de Abraão). 3: 6-9. A menção da
dor por aqueles em cujo benefício Ele fé convida a uma excursão pelo V.T.
morreu (cons. Ef. 5: 2). Não confiar para mostrar que Abraão, o reverencia-
em Cristo desse modo seria aniquilar do patriarca, dependia dela no que se
(pôr de lado) a graça de Deus. Se a jus- referia à justificação. Só aqueles que
tificação podia ser obtida pela lei, a morte tinham uma fé igual a essa eram ver-
de Cristo seria inexplicável; teria sido um dadeiramente abençoados por Deus. Ob-
gesto inútil. serve tratamento idêntico em Rm.4:
9-12.
m. O Evangelho de Paulo Explicado. 6,7. Abraão foi justificado pela fé
3: 1-4:31. (Gn. 15: 6; Rm. 4: 3; Tg. 2: 23). Os
verdadeiros filhos de Abraão não são
A. O Argumento da Experiência (dos seus descendentes naturais (Mt. 3: 9),
Gálatas). 3: l-S. Aqui o apóstolo declara mas aqueles que participam de sua fé.
que a experiência dos seus leitores, co- 8. Isso foi antecipado na própria lín-
meçando com a fé em Cristo crucificado guagem da aliança abraâmica, que ti-
e confirmado pelo dom do Espírito nha todos os povos em vista. As pala-
Santo, fica inteiramente fora da esfera vras em ti engrandecem Abraão como
da Lei. Iriam eles agora renunciar à um exemplo de fé. 9. Ele foi crente
perfeição da provisão divina, ele per- no sentido de ser cheio de fé. Sua jus-
gunta, pela loucura de seus próprios tificação está também à disposição das
esforços?
nações. Esta é a bênção que lhes foi
1. Eles deviam estar fascinados, ví- prometida.
timas de alguma feitiçaria (cons. 1: 7).
À vista de sua dramática pregação do C. O Argumento da Lei, 3: 10 - 4: 11.
Cristo crucificado quando estivera entre 1) A Maldição da Lei, da qual Cristo
eles (cons. I Co. 1: 23; 2: 2), sua mu- Tinha de Libertar. 3: 10-14. Paulo,
dança de atitude parecia estranha. Te- tendo resolvido o caso da confiança
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GÁLATAS 3: 10-16
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car a sua confiança em Cristo (cons. pertencendo-Lhe, faz-nos parte dos des-
Gl. 3: 19). cendentes de Abraão, uma vez que Cris-
4) Filiação não Mediante a Lei mas to é essa descendência, conforme já
Mediante a Fé. 3: 23 - 4: 7. ficou declarado em Gl. 3: 16, 19. Filia-
23. Antes que viesse a fé. A nova dis- ção faz do crente também um herdeiro
pensação da graça livre deu aos homens (cons. Rm. 8: 17).
a primeira oportunidade, historicamente 4: 1-7. A tensão aqui está entre as
falando, de colocarem a sua fé em Cristo. palavras escravo e filho, 1. Digo, isto é,
24. A dispensação da lei foi um período explico. O sujeito não mudou. O her-
de disciplina, a Lei servindo de aio deiro, até que atinja a maturidade, é
(não mestre; na verdade, apenas um tratado como um escravo. 2. Existem
ajudante do mestre, geralmente um aqueles que o dirigem e controlam -
escravo cuja tarefa era a de garantir a os tutores (guardiães) e os curadores
chegada da criança à escola com segu- (administradores) - até que esteja livre
rança). Cristo é o verdadeiro mestre, para possuir sua herança no tempo de-
que nos toma pela mão e nos mostra terminado pelo testamento de seu pai.
o caminho de Deus em termos de graça. 3. A aplicação começa aqui. Os dias
"Uma opinião mesquinha sobre a lei da infância foram o período do controle
leva ao legalismo na religião; uma opi- da Lei, quando estávamos servilmente
nião elevada leva o homem a buscar a sujeitos aos rudimentos do mundo. Ele
graça" (J. Gresham Machen, lhe Origin aqui não se refere aos elementos físicos,
ofPaul's Religion, pág. 179). como em 11 Pe. 3: 10, 12, nem aos
25. A função disciplinar da Lei, no corpos celestes, nem aos espíritos ele-
sentido histórico, cessou com a vinda de mentares que os antigos consideravam
Cristo. Mas a Lei ainda pode operar em associados a esses corpos (jamais Paulo
um indivíduo para despertar o senso do teria concordado que serviria tais espí-
pecado e da necessidade, preparando as- ritos quando vivera sob a Lei). São os
sim o coração para Cristo. elementos rudimentares, porque perten-
26-29. Todos. Tanto os gentios como cem à religião legalista do Judaísmo,
os judeus são bem recebidos na família e não ao Cristianismo, a fé mais adulta
de Deus mediante a fé. E assim eles e mais espiritual. Esta maneira de enca-
alcançam sua posição em Cristo Jesus. rar o assunto está confirmada pelo uso
Batizados em Cristo. O batismo nas da palavra rudimentos em Gl. 4: 9.
águas leva uma pessoa a desfrutar da co- 4,5. A plenitude do tempo corres-
munhão da Igreja, mas por trás desse ponde ao "tempo determinado pelo
rito jaz um aspecto mais significativo pai" (4: 2). Dá a entender que a obra
do batismo - ser separado pelo Espí- disciplinar e preparatória da Lei exigia
rito para viver em união com Cristo e um longo período. Seu Filho. A ma-
o Seu corpo (cons. ICo.12:13).De neira apropriada de trazer muitos filhos
Cristo vos revestistes. O Senhor Jesus à glória. Verdadeira filiação é impossível
se toma o segredo e a esfera da nova até que o Filho por excelência apareça.
vida que é participada com outros cren- Aqui se sugere a pré-existência. Nas-
tes. Sois um em Cristo Jesus. Filiação cido de mulher. Isto não é menção
com Deus envolve fraternidade em Cris- ao nascimento virginal (Mt. 11: 11). A
to. Surge um novo homem nele (cons. argumentação de Paulo exige um des-
Ef. 2: 15). As costumeiras distinções taque à semelhança de Cristo conosco,
e divisões da vida desaparecem neste re- não à dessemelhança. Através do Seu
lacionamento. Estar em Cristo Jesus, nascimento Ele penetrou em nossa hu-
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I '
II 'I I 'I
GÁLATAS 4: 5·16
manidade. Nascido sob a lei. Circun- ser menos difícil e menos ofensivo que
cidado, apresentado, criado nos termos a circuncisão, a qual os gálatas ainda
exigidos pela Lei, cumprindo toda a jus- não tinham aceito inteiramente (cons.
tiça. Foi necessário que Ele guardasse 5: 2). 11. Paulo temia que se esse apego
a Lei perfeitamente a fim de resgatar ao legalismo continuasse e aumentasse,
Seu povo da escravidão e maldição da resultaria em que o seu trabalho entre
Lei e para Lhe assegurar a adoção de eles fosse em vão.
filhos. O privilégio lhes veio como D. O Argumento da Aceitação pessoal
um dom da graça e não como um resul- dos Gálatas. 4: 12-20. A atitude dessas
tado de um longo período de tutela sob pessoas para com Paulo na ocasião em
a Lei. que escreveu, contrastava inteiramente da
6,7. Esta aceitação foi confirmada apreciação original que tiveram para
pelo testemunho do Espírito, chamado com ele como mensageiro de Deus.
aqui de Espírito de seu Filho, uma vez 12,13. Paulo roga que abandonem o
que sua missão é completar e aplicar a legalismo e sejam como ele, desfrutan-
obra do Filho. Ele gera no crente a do da sua liberdade em Cristo, pois ele
certeza da aceitação divina pelo Seu se lhes tomara semelhante. Isto é, aban-
testemunho no coração. Paulo usa donando suas características de judeu
Aba, a palavra aramaica para pai, se- ele se tomou um gentio (cons. 2: 15-18).
guida pelo equivalente grego (cons. Por mais que sofresse agora, ele se re-
Mt. 14: 36; Rm. 8: 15, 16). A filia- cordava que os gálatas não lhe causaram
ção exclui a servilidade e inclui a posi- nenhum dano no começo, quando pe-
ção de herdeiro. O Espírito Santo é la primeira vez os visitou, mas igno-
a garantia dessas bênçãos futuras (cons. raram sua enfermidade física a qual obri-
Ef. 1: 13, 14). gou-o a permanecer entre eles como
5) Um Apelo a que Não Retomem um homem doente. Ele não se afas-
à Escravidão. 4: 8-11. O apóstolo re- tou deles até que os familiarizou com
trocede novamente para mais uma vez as boas novas do Evangelho. 14. Sua
falar, de maneira direta, sobre os gála- doença constituiu uma tentação para que
tas e sua situação, no que se refere ao o considerassem levianamente e o rejei-
legalismo e à liberdade cristã. tassem. Mas eles não agiram assim;
8. Antes da conversão eles serviram pelo contrário, receberam-no como se
a deuses que por natureza não o são recebe um anjo, ou como se ele fosse
(sendo ídolos). Tal conduta era com- o próprio Cristo.
preensível, porque naquele tempo eles 15,16. Vossa exultação. Eles se con-
não conheciam a Deus. 9,10. Eles O co- gratularam em serem assim favorecidos
nheciam agora porque Ele os conhecera, por um emissário do Senhor. Sua gra-
conforme comprovado pela primeira ofer- tidão não teve limites; teriam até sa-
ta da graça que lhes foi oferecida. É in- crificado seus olhos em favor de Paulo.
crível que gente com tal história retor- Isto não prova necessariamente que o
nasse outra vez aos rudimentos fracos e apóstolo tivesse uma doença dos olhos
pobres (em contraste com o Evangelho), (cons. o grego em Atos 23: 1). Os olhos
dando grande importância a dias espe- foram especialmente mencionados por
ciais. Ao que parece os judaizantes causa de sua preciosidade. Talvez, Pau-
colocaram em destaque primeiramente o lo argumenta que, a frieza atual dos
aspecto mais agradável da obediência gálatas, fosse devido ao fato dele ter
à Lei (os gálatas estavam guardando falado a verdade. Afastados da verdade
esses dias quando Paulo escreveu), por pelo erro judaizante, eles se voltaram
-153 -
GÁLATAS 4: 16-27
contra Paulo como também contra a por Deus. Foi Ismael, nascido de Hagar.
sua mensagem. O outro, Isaque, o filho de Sara, foi
17,18. Em contraste ao hábitode Pau- dado mediante a promessa de Deus.
lo falar a verdade, os adeptos do erro 24,25. Estas cousas são alegóricas.
tinham recorrido à lisonja e à bajulação Isto é, são passíveis de expressarem al-
para ganhar os gálatas. Para que não go mais que ...a simples narrativa histó-
pensassem que o apóstolo escrevia de- rica. Paulo continua expondo os aspec-
vido ao rancor e interesse próprio, ele tos que se enquadram na situação dos
tornou bem claro que não se sentia gálatas. Estas (as duas mulheres) cor-
averso ao fato de outro homem servi- respondem às duas alianças: Agar, aque-
-los em seu lugar, uma vez que o minis- la que foi dada no monte Sinai, o có-
tro fosse do tipo adequado - adepto digo mosaico. Como ela abandonou
da causa da verdade. Como eram dife- o lugar da bênção em Canaã e foi para
rentes aos judaizentes, que excluíam to- essa região descampada (Gn. 21: 21),
dos aqueles que ministravam a Palavra, assim também os gálatas afastaram-se
tentando afastar seus protegidos da pre- da graça de Cristo. Triste é dizer, que ou-
sença do apóstolo e outros arautos tros além dos gálatas foram afetados.
da graça! A Jerusalém daquele tempo estava em
19,20. A dor e a preocupação de escravidão com seus filhos - não a igreja
Paulo eram como os de uma mãe em em Jerusalém, mas o Judaísmo centra-
trabalho de parto. Mas o que ele agoni- lizado nessa cidade.
zantemente buscava não era o novo nas- 26,27. Mas há uma outra Jerusalém,
cimento dos seus amigos Gá eram seus a de cima, que é a mãe de todos os fi-
filhos no Senhor), mas a plena formação lhos da graça. Esta não é uma referên-
da nova vida neles (Ef. 4: 13; cons. Fp. cia à futura Nova Jerusalém do Apoca-
3: 10). Outra visita, ele sentia, seria lipse, mas a uma realidade espiritual
altamente desejável. Resolveria mais atual, o lar dos crentes. Este lar cor-
que a pena. Poderia lhes falar mansa- responde aos "lugares celestiais" de
mente, como uma mãe fala a um filho Ef. 1: 3 e à "cidade do Deus vivo" de
que errou, mas que continua amado, Hb. 12: 22. A esta altura Paulo cita
e assim falar-vos em outro tom de voz, Isaías, prevendo a glória e o triunfo
que agora necessariamente parecia áspera. para Israel com base na obra expiató-
ria do Servo Sofredor, depois da esteri-
E. A Argumento da Aliança da Pro- lidade dos dias do cerco e cativeiro
messa. 4: 21-31. Tendo chamado seus (Is. 54: 1). Essa mudança da sorte foi
leitores de filhos, o apóstolo continua colocada em uma linguagem que re-
contando-lhes uma história, com uma flete a história de Sara, a qual, embora
aplicação moral, na esperança de que estéril no começo e aparentemente
percebam a sua loucura. abandonada a favor de outra, recebeu
21-23. Parecia que desejavam se colo- o que era dela, no tempo determinado
car sob a lei. Pois ia lhes falar da lei por Deus, com uma descendência maior
(a nárrativa do Gênesis era parte da Lei do que a de Agar. A igreja estava des-
no sentido mais amplo, a qual incluía frutando de um rápido desenvolvimento
todo o Pentateuco). Um dos filhos nos dias apostólicos, enquanto o Judaís-
de Abraão nasceu segundo a carne - mo estava em grande parte estático e
na ordem natural das coisas, possivel- até mesmo estava perdendo terreno por
mente sugerindo o expediente humano causa do testemunho dos crentes judeus
que tentou ajudar o plano anunciado da sua fé em Cristo.
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I I
II , 'I I 'I
GÁLATAS 4: 28·31 - 5: 1-10
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GÁLATAS 5: 10-15
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I I II i
'I 'I
GÁLATAS 5: 15-23
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GÁLATAS 5:23-26 - 6: 1
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I I II 'I I I
GÁLATAS 6: 2-11
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GÁLATAS 6: 11-18
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I I II 'I I !
A EPISTOLA AOS EFÉSIOS
INTRODUÇÃO
Autoria, Data, Lugar. Poucos críti- ponto difícil é o fato que uma epístola
cos têm seriamente negado a autoria de escrita em Laodicéia foi mencionada em
Paulo nesta epístola. Mais ataques têm si- C1. 4: 16, mas não se mencionou Éfeso.
do feitos à data e ao lugar da autoria tra- Alguns crêem que esta epístola poderia
dicionalmente aceitos, como também ter sido uma circular endereçada a um
aos destinatários tradicionais (veja abai- grupo de diferentes igrejas (Este é o pon-
xo). to de vista mais amplamente defendido
Efésios está no mesmo grupo crono- hoje em dia. - Ed.). Parece mais pro-
lógico das epístolas de Paulo aos Colos- vável, contudo, que uma congregação
senses, Filemom e Filipenses, chamadas particular estava em vista, e não temos
coletivamente de "As Epístolas da Pri- fortes motivos para rejeitarmos o des-
são" porque foram escritas durante o tino aceito tradicionalmente - Éfeso
primeiro aprisionamento romano de Pau- (veja John W. Burgon, The Last Twelve
lo. Evidentemente Paulo chegou a Ro- Verses of St. Mark, 1959, pág. 169-187).
ma na primavera de 61. Atos fala que Mesmo os manuscritos Aleph e B são
morou dois anos inteiros em casa alu- intitulados aos Efésios (Pros Ephesious).
gada por ele mesmo (Atos 28: 30), o que Paulo permaneceu um tempo compara-
o faz chegar à primavera de 63. Prova- tivamente longo em Éfeso quando fazia
velmente foi liberado antes do incên- a sua terceira viagem missionária (Atos
dio de Roma em 64. Em Filipenses 19: 1 - 20: 1; 20: 31). Sua associação
ele já aguardava esse liberamento (l: com os crentes dali foi muito íntima,
19-26), uma esperança à qual ele se conforme prova sua maneira de se diri-
refere também em Filemom 22. Efé- gir aos anciãos de Éfeso (Atos 20: 17-
sios, Colossenses e Filemom foram des- 38).
pachadas na mesma ocasião pelos mes-
mos mensageiros (Ef. 6: 21, 22; C1. 4: Conteúdo da Epístola. Esta epís-
7-9; Fm. 12,23,24). tola, junto com a de Colossenses, enfa-
Tentativas de colocar estas epísto- tiza a verdade de que a Igreja é o corpo
las em período anterior, como se fossem do qual Cristo é a Cabeça. Embora Pau-
escritas em alguma prisão, tal como Ce- lo tivesse mencionado esta mesma ver-
saréia ou mesmo Éfeso (George S. Dun- dade antes, em Romanos 12 e I Corín-
can, St, Paul's Ephesian Ministry) não tios 12, aqui ele a desenvolve melhor.
têm tido sucesso. Não há bons moti- Não há nenhum outro ponto mais alto
vos para rejeitarmos o lugar tradicional de revelação do que aquele que foi al-
- Roma. Esta epístola, junto com Co- cançado nesta epístola, a qual mostra
lossenses e Filemom, foi provavelmente o crente assentado com Cristo nos lu-
escrita no ano 62. gares celestiais e o exorta a viver de acor-
Destino da Epístola. Por causa das do com sua elevada vocação. Na reali-
palavras em Éfeso (en Epheso) que não dade a epístola pode ser dividida em
aparecem no manuscrito original do duas partes principais, cada uma con-
Códex Sinaiticus (Aleph) e no Códex tendo três capítulos. Em Ef. 1-3 o
Vaticanus (B), dois dos mais antigos apóstolo conta aos crentes o que eles
manuscritos existentes do Novo Testa- são em Cristo. Em Ef. 4-6 ele lhes diz
mento, há quem negue que esta epís- o que devem fazer por estarem em Cris-
tola foi endereçada aos efésios. Outro to. Já se sugeriu muitas vezes que o con-
-161 -
teúdo da epístola pode ser resumido foi feito (4: 1); e este andar é mais am-
em três palavras, assentado, andando plamente apresentado como uma guerra
e firme. Pela posição, o crente está as- na qual ele está empenhado contra Sa-
sentado com Cristo nos lugares celesti- tanás e todas as suas hastes e na qual
ais (2: 6); sua responsabilidade é andar ele é exortado a permanecer firme contra
condignamente ao chamado que lhe as ciladas do diabo (6: 11).
ESBOÇO
I. A posição do crente em Cristo. 1: 1 - 3: 21.
A. Saudações. 1: 1,2.
B. Todas as bênçãos espirituais. 1: 3-14.
1. Escolhidos pelo Pai. 1: 3-6.
2. Redimidos pelo Filho. 1: 7-12.
3. Selados pelo Espírito Santo. 1: 13, 14.
C. A primeira oração de Paulo. 1: 15-23.
D. Salvação pela graça. 2: 1-10.
1. O que fomos no passado. 2: 1-3.
2. O que somos no presente. 2: 4-6.
3. O que seremos no futuro. 2: 7-10.
E. Unidade dos judeus e gentios em Cristo. 2: 11-22.
1. O que os gentios eram sem Cristo. 2: 11 ,12.
2. Um só corpo. 2: 13-18.
3. Um só edifício. 2: 19-22.
F. A revelação do mistério. 3: 1-13.
1. A díspensação da graça de Deus. 3: 1-6.
2. A comunhão do mistério. 3: 7-13.
G. A segunda oração de Paulo. 3: 14-21.
11. A conduta do crente no mundo. 4: 1 - 6: 24.
A. A caminhada digna. 4: 1-16.
1. A unidade do Espírito. 4: 1-6.
2. O dom de Cristo. 4: 7-12.
3. A unidade da fé e do conhecimento. 4: 13-16.
B. A caminhada diferente. 4: 17-32.
1. Descrição da caminhada dos gentios. 4: 17-19.
2. O despojar do velho e o revestir do novo. 4: 20-24.
3. Aplicação prática. 4: 25-32.
C. A caminhada do amor. 5: 1-14.
1. Andando em amor. 5: 1-7.
2. Andando na luz. 5: 8-14.
D. A caminhada sábia. 5: 15 - 6: 9.
1. Sendo circunspectos. 5: 15-1 7 .
2. Sendo cheios do Espírito Santo. 5: 18 - 6: 9.
a. Regozijo e ação de graças. 5: 19, 20.
b. Submissão nos relacionamentos práticos. 5: 21 - 6: 9.
1) Esposas e maridos. 5: 21-23.
2) Filhos e pais. 6: 1-4.
3) Servos e senhores. 6: 5-9.
- 162-
I I II , 'I I I
EFÉSIOS 1: 1-3
COMENTÁRIO
-163 -
EFÉSIOS 1: 3-7
mento em Cristo. Ainda não nos en- contra em nós, mas apenas nEle (cons.
contramos no céu, mas nossa vocação Tt.3:5; Ef.2:8-10). A vontade de
é celeste; o poder de nosso viver diá- Deus é o fator determinante.
rio é celeste; a provisão de Deus é ce- 6. Para louvor da glória de sua gra-
leste. Observe a constante repetição da ça. Observe o uso triplo desta expres-
frase, em Cristo, na epístola. Somente são (cons. vs. 12,14). As três ocor-
nEle poderíamos ter recebido estas bên- rências desta frase assinalam a parte
çãos. que as três Pessoas da Deidade desem-
4 Como nos escolheu. Em grego penham na nossa salvação, dando-nos
está na voz média; isto é, Ele nos esco- bênçãos que já recebemos. A mais
lheu para Ele mesmo. As Escrituras importante motivação do universo é
muito têm a dizer sobre o amor ele- a glória de Deus. O "Westminster Short-
tivo de Deus. As Escrituras nunca apre- er Catechísm" expressa isto bem na
sentam a doutrina da eleição como algo resposta à sua primeira pergunta, "Qual
que devamos temer, mas sempre como é o principal objetivo do homem?"
algo pelo que os crentes devem se rego- "O principal objetivo do homem é
zijar. Observe que fomos escolhidos glorificar a Deus, e deleitar-se nEle
nEle, isto é, em Cristo, e que esta esco- eternamente". Sua graça. "A graça é
lha aconteceu antes da fundação do imerecida, sem jus e irrecompensável"
mundo. Os propósitos de Deus são (Chafer). É o favor autodependente
eternos. Para sermos santos e irre- de Deus concedido aos homens peca-
preensíveís perante ele. Esse é o pro- dores, que apenas merecem a Sua ira.
pósito para o qual Deus nos escolheu Que ele nos concedeu gratuitamente,
em Cristo (cons. Rm. 8: 29; Judas no Amado. Mais literalmente, a qual
24, 25). A frase em amor provavel- livremente outorgou-nos. Aqui está
mente pertence ao que vem a seguir um novo jogo de palavras no original
e não ao que o precede; isto é, em amor - "Sua graça, a qual Ele favoreceu".
nos predestinou (Nestle). É difícil expressá-lo em português. Es-
5. Nos predestinou. A escolha que ta concessão é no Amado; isto é, no
Deus fez de nós em Cristo foi para um Senhor Jesus Cristo (cons. CI. 1: 13;
propósito eterno. Para a adoção de Mt.3:17).
filhos. A palavra traduzida para adoção 2) Redimidos pelo Filho. 1: 7-12.
de filhos foi usada cinco vezes no N.T. 7. No qual - isto é, Cristo - temos
(Rm.8:15,23; 9:4; Gl.4:5;eaqui). a redenção. Esta é a nossa possessão
Refere-se, à nossa colocação em posi- presente. Pelo seu sangue. As Escri-
ção de filhos. Não é a idéia moderna turas apresentam o sangue de Cristo
de adoção, mas antes a colocação de como o infinito preço da transação que
uma criança na posição de filho adulto. envolveu a nossa redenção (cons. Atos
O propósito de Deus é que todos os 20: 28; I Co. 6: 20; I Pe. 1: 18-20).
crentes deviam ser filhos adultos em Colossenses 1 : 14 faz paralelo com este
sua farmlía, na qual Cristo é o "primo- versículo. A remissão dos pecados.
gênito" (Rm. 8: 29). Segundo o bene- Os fariseus fizeram a observação (pelo
plácito de sua vontade. Qualquer ten- menos uma vez) de que nenhum homem
tativa de fundamentar a eleição e pre- pode perdoar pecados a não ser Deus
destinação divinas em méritos huma- (Me. 2: 7). O fato do Senhor Jesus
nos, quer antevistos ou quaisquer ou- Cristo perdoar é evidência de que é Deus.
tros, é contrário às Escrituras e fútil. Segundo a riqueza da sua graça. Nova-
O motivo da escolha divina não se en- mente a ênfase sobre a completa au-
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I I II , 'I I I
EFÉSIOS 1: 7-13
- 165 ~
EFÉSIOS 1: 13-21
-166 -
I I 11 'I I I
EFÉSIOS 1: 21·23 - 2: 1·3
-- 167 -
EFÉSIOS 2:4-10
- 168-
I I II II I I
EFf:SIOS 2: 11-20
-169 -
EFÉSIOS 2: 20-22 - 3: 1-5
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I I 'I I I
EFÉSIOS 3: 5-15
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EFÉSIOS 3: 15-21
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I '
II ,
'I I !
EFÉSIOS 4: 1-6
- 173-
EFÉSIOS 4: 6-14
diversas passagens das Escrituras, ha- homens (cons. 2: 20). No sentido mais
bitam o crente. restrito do termo, este ofício foi tam-
2) O Dom de Cristo. 4: 7·12. O bém temporário na igreja, pois não
Senhor que subiu ao céu tem dado houve mais profetas no sentido técnico,
dons à Sua Igreja para edificá-la. depois de completado o N.T. Evange-
7. A cada um de nós. Isto se limita listas. Aqueles que proclamam as boas
aos crentes nEle. A graça foi conce- novas - aqueles que pregam o Evan-
dida. Não graça salvadora, mas graça gelho. Pastores e mestres. Esses dois
como um dom concedido aos crentes termos estão juntos. A primeira pa-
- favor de Deus, imerecido e irrecom- lavra significa aquele que cuida das
pensável. Segundo a proporção. Uma ovelhas. Aqueles que são pastores do
medida que é imensurável. rebanho também são doutores (profes-
8. Por isso diz. A citação é do SI. sores). O verdadeiro pastor deve pro-
68: 18. A conexão não está bastante ceder em um ministério de pregação
clara. Mas diz que o Senhor Jesus, na expositiva da Palavra.
Sua ascenção, levou cativo o cativeiro; 12. Ao aperfeiçoamento dos santos,
isto é, Ele capturou aquilo que nos para o desempenho do seu serviço.
tinha capturado, e anulou o seu poder. Esses dons foram dados por Deus à
E concedeu dons. Em algumas passagens Igreja para o aperfeiçoamento dos san-
das Escrituras menciona-se dons que tos, para o desempenho do seu serviço.
o Senhor deu a indivíduos; por exem- Isto é, é do interesse de todos os santos
pio, I Co. 12. Aqui os dons são aque- - não de alguns poucos líderes apenas -
las pessoas com diversas capacidades, executar a obra do ministério. Os lí-
as quais Ele deu à igreja. 9. O apósto- deres têm o propósito de aperfeiçoar
lo, comentando a citação, menciona ou equipar os crentes na execução desta
que o Senhor Jesus desceu primeiro, obra. Muitas igrejas locais, hoje em
antes de subir. Alguns aceitam isto dia, não seguem esta idéia do N.T. É
como uma referência feita à morte de prática comum deixar que o pastor
Cristo e à Sua assim chamada visita ao exerça o ministério. Às vezes o pastor
Hades. Parece mais provável, entre- acha que, temporariamente, é mais fá-
tanto, que é simplesmente uma refe- cil ele mesmo fazer a obra do que trei-
rência à Sua vinda do céu. Ele desceu nar outros para fazê-la. Mas sua tarefa
às regiões inferiores da terra - geni- é treinar obreiros, e a longo prazo seu
tivo de aposição (cons. Jo. 3: 13). 10. ministério será mais eficiente se o fi-
Acima de todos os céus. Cons. Hb. zer.
4: 14. 3) A Unidade da Fé e do Conheci-
11. E ele mesmo concedeu uns. mento. 4: 13-16. A unidade dos cren-
Os diversos tipos mencionados são tes em Cristo tende para uma unidade
dons de Cristo à igreja. Apóstolos. na fé e no conhecimento.
Foi um ofício especial nos primórdios 13. À unidade da fé. A fé em si
da igreja. Os apóstolos não tiveram mesma já é uma porção limitada da
sucessores. Executaram uma obra úni- verdade. Ao considerarmos isto, somos
ca para o Senhor Jesus (cons. 2: 20). conseqüentemente unidos uns aos ou-
Profetas. O profeta era um porta-voz tros. À perfeita varonilidade. Não uma
de Deus. Conforme geralmente usado referência ao crente individual, mas
nas Escrituras, este termo se refere a ao homem composto; isto é, ao corpo
alguém que recebeu uma revelação di- do qual Cristo é a Cabeça.
reta, a qual deve ser transmitida aos 14. Para que não mais sejamos como
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I I II
'I I I
EFÉSIOS 4: 14-21
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EFÉSIOS 4: 21-32
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I ; II 'I I ,
EFÉSIOS 4: 32 - 5: l-l l
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EFÊSIOS 5: 11-20
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II I 'I I I
EFÊSIOS 5: 20-30
mas parece-nos melhor aceitá-lo num As obrigações não são simplesmente uni-
sentido mais amplo (cons. Rm. 8: 28). laterais. A responsabilidade do marido
b) Submissão nos Relacionamentos é tão constrangedora quanto a da esposa.
Práticos. 5: 21 - 6: 9. Outro resultado Esta não é uma referência ao amor nor-
da plenitude do Espírito, além do lou- mal do marido, que não necessitaria
vor e da ação de graças, é a submissão. ser ordenado, mas ao amor volitivo
Esta é uma declaração sobre o que de- que brota de Deus e assemelha-se ao
vemos fazer em nossos relacionamentos Seu próprio amor. Em contraste com
terrenos. "Em contraste com o egoís- o desejo sexual normal, que por sua na-
mo e agressividade dos pagãos" (Sal- tureza é egoísta, este amor é altruísta.
mond; cons. I Pe. 5: 5). Como também Cristo amou a igreja.
Embora os maridos humanos jamais
1) Esposas e Maridos. 5: 21-33. O possam alcançar esse grau de amor
primeiro relacionamento humano men- que Cristo manifestou, são exortados
cionado, também o mais íntimo, no a demonstrarem o mesmo tipo de amor,
qual a plenitude do Espírito Santo de- que assim se prova, a si mesmo se entre-
ve ser manifesta, é o relacionamento gou por ela.
conjugal.
21. Uns aos outros. Observe a mu- 25. Para que a santificasse, tendo-a
tualidade desta submissão. No temor purificado. Esse foi o seu propósito
de Cristo. O N.T., como também o quando se entregou para morrer pela
V.T., falam do temor de Deus - isto Igreja. Por meio da lavagem de água,
é, uma reverência para com Ele que pela palavra. Provavelmente água e pa-
faz a pessoa temer desagradá-lO (cons. lavra foram usadas como sinônimos.
11 Co. 5: 11). Certamente não pode ser uma referên-
22. Agora o apóstolo mostra o resul- cia ao batismo ou à regeneração ba-
tado dessa submissão mútua nos três tismal. Assim como a água lava o corpo,
relacionamentos mais comuns da vida a Palavra de Deus lava o coração (cons.
- casamento, família e emprego. As Ez. 36: 27). 27. Para a apresentar. O
mulheres sejam submissas a seus pró- principal objetivo porque Cristo Se en-
prios maridos. Esta passagem é uma tregou. A palavra santificasse mostra
expressão do ideal divino para o casa- o objetivo imediato (cons. 11 Co. 11: 2).
mento. O relacionamento do casamento Igreja gloriosa. O adjetivo é predicativo
foi idealizado por Ele como símbolo e não atributivo; isto é, para que Ele
do relacionamento espiritual entre Cris- pudesse apresentar a igreja como glo-
to e a Igreja. O apóstolo destaca isso riosa. Sem mácula. Explicação mais
no versículo 32. ampla da palavra gloriosa na descrição
23. Porque o marido é o cabeça. da "noiva" de Cristo.
O motivo dessa sujeição da esposa en- 28. Assim também os maridos de-
contra-se nesse relacionamento que Deus vem amar as suas mulheres como a seus
ordenou. 24. Como, porém, a igreja próprios corpos. Isto é, como se fos-
está sujeita a Cristo. Mesmo havendo sem seus próprios corpos. Amor natu-
uma diferença entre a posição do mari- ral, não simplesmente senso de dever.
do para com a esposa e de Cristo para Deus disse. "Tomando-se os dois uma
com a Igreja, isto não vem afetar a só carne" (Gn. 2: 24). 29. Porque nin-
posição de cabeça que o marido tem para guém jamais. O motivo da declaração
com a esposa. anterior.
25. Maridos, amai vossas mulheres. 30. Porque somos membros do seu
-179-
EFÉSIOS 5: 30-33 - 6: 1-8
- 180-
II 'I I ,
EFÉSIOS 6: 8-13
pessoa neste mundo nada tem a ver vra para poder - na força do seu poder.
com a sua fidelidade e com a recompen- 11. Revesti-vos de toda a armadura
sa pela sua fidelidade. de Deus. Ainda que Deus a tenha provi-
9. E vós, senhores. Aqui se enfa- denciado, o indivíduo cristão tem a res-
tizam as obrigações dos empregadores. ponsabilidade de vesti-la; isto é, ele deve
De igual modo procedei para com eles. conscientemente se apropriar do poder
O lado positivo, mostrando a mutuali- que o Senhor Jesus Cristo põe â sua
dade da obrigação. Deixando as amea- disposição. Toda a armadura de Deus.
ças. O que os senhores não devem fazer. A armadura está descrita em detalhes,
Sabendo. Isto é, porque vocês sabem. como também os inimigos que o cren-
Que o Senhor tanto deles como vosso. te tem de enfrentar. Para poderdes
Esses senhores também têm um Senhor. ficar firmes. Sem esta armadura de
Este é o Senhor (Kurios). Ele não faz Deus, o cristão não tem capacidade de
acepção de pessoas (cons. Cl. 4: 1). permanecer firme. Aquele que está
Todos esses relacionamentos práticos assentado com Cristo nos lugares ce-
fluem da plenitude do Espírito Santo, lestiais e andando neste mundo tem
prescrita em Ef. 5: 18. também de tomar agora uma posição
contra as ciladas - os métodos ou es-
E. A Caminhada Cristã como uma tratagemas - do diabo.
Guerra. 6: 10-20. Em toda esta divisão 12. Porque a nossa luta não é. O mo-
da epístola muito se disse sobre a vida tivo porque precisamos de toda a arma-
cristã prática. Neste parágrafo o andar dura de Deus. Contra o sangue e a carne.
do cristão foi descrito como uma batalha, Os israelitas sob o comando de Josué
um conflito mortal no qual ele está alis- tiveram de lutar contra a carne e o
tado contra o poder de Satanás e suas sangue a fim de conquistar a terra de
hostes. Canaã. A nossa guerra é espiritual e
1) Sendo Fortes no Senhor - a Ar- não física. E, sim, contra os princi-
madura Completa de Deus. 6: 10-17. pados. Não uma comparação, mas uma
Sendo esta caminhada uma guerra, co- negação absoluta. Nas hostes de Sa-
mo foi aqui descrita, o cristão deve tanás encontramos diferentes catego-
estar preparado e equipado. Esta passa- rias. Não é possível fazer separações
gem que trata de toda a armadura de distintas entre os diversos tipos de ini-
Deus mostra que provisão maravilhosa migos aqui mencionados. Contra os
Deus fez para os seus guerreiros. dominadores deste mundo tenebroso.
10. Quanto ao mais. Aqui estão Literalmente, os principes do mundo
as exortações gerais que concluem a destas trevas. Contra as forças espi-
epístola. Irmãos meus (E.R.C.). Paulo rituais do mal, nas regiões celestes.
faz seus leitores se lembrarem do seu Esta é a última das cinco vezes em que
relacionamento com eles no Senhor. en tois epouraniois, "nas regiões ce-
Sede fortalecidos no Senhor. O Senhor lestiais", ocorre na epístola.
Jesus disse, "Sem mim, nada podeis 13. Portanto. Sendo os nossos uu-
fazer" (Jo. 15: 5; cons. também Fp. migos exatamente como foram descri-
4: 13). E na força do seu poder. Três tos. Tornai toda a armadura. Nova-
palavras foram usadas no versículo mente a responsabilidade humana enfa-
para o termo força. Primeiro, foi usa- tizada. Para que possais resistir. Obser-
do o verbo no imperativo, sede forta- ve que a passagem fala de ambos, resis-
lecidos ou capacitai-vos; depois a pa- tir e estar firme. O primeiro é a capa-
lavra para força e, finalmente, a pala- cidade de vencer a luta, manter a posi-
-181 -
EFÉSIOS 6: 13-24
-182 -
I I II 'I I I
é, a graça além da qual não existe ne- sinceramente a nosso Senhor Jesus
nhuma outra. Com todos os que amam Cristo. Isto é, os crentes.
-183 -
A EPfsTOLA AOS FILIPENSES
INTRODUÇÃO
-184 -
il I
'I I I
riado por seus planos de tomar a VISI- daizantes e (especialmente) a sombra
tar Filipos (1:25; 2:24) depois de re- da desunião que estava começando a
cuperar a liberdade. (para uma concisa assolar a igreja. Embora essas tendên-
apresentação desta posição, veja a in- cias ainda não fossem pronunciadas,
trodução a The Epistle of Paul to the se ficassem irreprimidas poderiam den-
Philippians, de J. H. Michael, no The tro em breve solapar a causa de Cristo
Moffatt New Testament Commentary. em Filipos.
Cons. também G. S. Duncan, St. Paul's
Capítulo 3 - Interrupção ou Inter-
Ephesian Ministry. Para uma impor-
polação? Por causa da inesperada e
tante discussão que fornece argumen-
abrupta mudança de tom e assunto
tos para a origem romana e que trata
principal em 3: 2, muitos têm sugeri-
a evidência da origem efésia como in-
do que Filipenses foi composta de duas
conclusiva, veja C. H. Dodd, New Tes-
ou mais cartas de Paulo. A fatal debi-
tament Studies, pág. 85-128).
lidade da teoria da divisão e a irremediá-
Felizmente a interpretação da epís-
vel diferença de opinião entre os crí-
tola não depende do seu lugar de origem. ticos quanto ao lugar onde a interpo-
Ainda que a hipótese efésía recomen-
lação termina (3: 19? 4: 9? 4: 20? etc.).
da-se a si mesma com maior força, pouca
Uma interpretação muitíssimo mais na-
diferença faz para nossa compreensão
tural é a de que Paulo fosse interrom-
desta notável carta escrita em prisão.
pido ao escrever a carta (talvez por
Presumindo uma origem efésia, a da-
alguma notícia deprimente da ativi-
ta da composição seria em cerca de
dade dos judaizantes), e ao retomar
54 A. D. (Uma origem romana ·daria
a pena, começou o novo assunto sem
uma data entre 61 e 62.)
transição.
Ocasião. O popular ponto de vista
de que Filipenses foi principalmente Características. Filipenses é a carta
uma carta de agradecimentos não é acei- mais pessoal de Paulo. Ela tem um ar
tável. Teria Paulo esperado até o úl- de confiança e fortes traços pessoais.
timo momento (4: 10-20) para expres- Há uma ausência marcada de doutrina
sar sua apreciação pelo presente rece- formal. Até mesmo o grande hino crís-
bido dos crentes em Filipos? O pro- tológico no capítulo 2 foi introduzido
pósito imediato foi o de enviar uma indiretamente para reforçar uma exor-
nota de recomendação e explicação tação à humildade. A nota dominante
com Epafrodito, a fim de evitar que da carta é a alegria. Ela revela o após-
alguma crítica fosse feita, insinuando tolo Paulo como "radiante no meio das
que ele voltava prematuramente de sua tempestades e tensões da vida".
incumbência. Isto, em troca, deu a Paulo Esboço. Uma vez que Filipenses
a oportunidade de assegurar à igreja a é uma carta extremamente pessoal,
sua grata apreciação pelo presente e cor- ela resiste a todas as tentativas de for-
rigir pequenas desordens na igreja, tais çá-la dentro de um esboço lógico. O
como o pessimismo pela continuada fluxo dos pensamentos é natural e es-
prisão de Paulo, timidez diante da hos- pontâneo. Uma análise descritiva po-
tilidade dos pagãos, a ameaça dos ju- deria ser a seguinte:
ESBOÇO
I. Saudações. 1: 1,2.
11. Ação de graças e oração. 1: 3-11.
-185 -
FILIPENSES 1: 1-3
COMENTÁRIO
-186 -
I I II
'I I !
FILIPENSES I: 3-9
uma corrente oculta que permeia todas muito mais profunda pela propagação
as cartas de Paulo. (Só em Gálatas do Evangelho. O desejo de partilhar
ela foi momentaneamente eclipsada pe- fora característica dos filipenses desde
la seriedade da ameaça judaizante.) o primeiro dia. Um presente alcançou
Em nenhum outro lugar ela explode Paulo quando ele mal chegou a Tessalô-
à superfície mais expressivamente do nica (4: 16). 6. A confiança de Paulo
que em Filipenses. Mesmo na prisão em que a participação deles no Evan-
os pensamentos de Paulo se dirigiam gelho continuaria dependendo da fide-
para os outros. Em sua contínua lem- lidade divina que, tendo começado
brança deles, ele dá graças a Deus. O uma boa obra, não deixaria de com-
singular meu Deus exibe um relaciona- pletá-la. Para o convertido que vinha
mento profundo e íntimo. do paganismo, os termos semi-técnicos
4. Este versículo é parentético. Sem- começou e completá-la trariam à lem-
pre ... em todas as minhas súplicas brança a iniciação e o alvo principal
combina melhor com o que vem a se- das religiões pagãs. Boa obra. Essa
guir do que com o versículo 3 (cons. ação total da graça divina em seu meio.
I. J. Muller, The Epistles of Paul to O dia de Cristo Jesus. O equivalente
the Philippians and to Philemon, pág. do N.T. para o "dia do Senhor" do
40, n.4). Para Paulo, lembrar-se era V.T.
orar. A natureza de sua intercessão
7. Paulo podia pensar deles desse
foi colocada em destaque pela esco-
modo porque os tinha no seu coração.
lha da deêsis (uma oração petitória)
Esse laço de afeição torna-se evidente
em lugar da mais comum proseuchê.
pela participação deles nas algemas de
A estudada repetição da palavra todas
Paulo como também na defesa diante
(1:4,7,8,25; 2:17,26; 4:4) é o
da corte. (Descobertas feitas em pa-
delicado lembrete de Paulo de que piros mostram que tanto apologia, de-
não há lugar para sectarismo na comu- fesa, como bebaiôsis, confirmação, são
nidade cristã. A intercessão não é um termos jurídicos.) Eram participantes
fardo a ser carregado mas um exercício
dele na graça, e não da sua graça. So-
da alma a ser praticado com alegria. frer por Cristo é um favor especial de
S. O motivo da ação de graças é a Deus. 8. Da saudade que tenho de to-
"simpática cooperação" dos fílípenses dos vós revela um profundo sentimento
"na propagação do evangelho". Koi- de afeição familiar cristã. Splagchnos
nonia foi pobremente traduzida pela (lit., coração, pulmões, fígado, etc.;
palavra cooperação. Vem de um verbo não intestinos) refere-se metaforicamente
que significa "ter em comum" e pode aos sentimentos de amor e ternura que
ser definido, no N.T., como "aquela se cria brotarem das entranhas. A afei-
vida cristã cooperativa e mútuo rela- ção de Paulo tinha origem divina; na
cionamento que brota da participação verdade, era o próprio Cristo que habi-
comum de Cristo e seus benefícios" tava nele, que amava por intermédio
(C. E. Símcox, They Met at Philippi, dele (cons. Gl. 2: 20).
pág.28). Embora a referência imediata 9. Paulo não amesquinhava o entu-
talvez fosse ao presente em dinheiro siasmo da afeição deles mas orava para
(koinonia tem sido assim empregado que o seu amor abundasse mais e mais
nos papiros), a expressão não fica exau- em pleno conhecimento (epignôsis) e
rida nesse ato único. O presente é ape- percepção moral (aisthêsis). O amor
nas um símbolo de uma preocupação tem de compreender com exatidão e
-187 -
FILIPENSES 1: 9-15
-188 -
I I II ,
'I I I
FILIPENSES 1: 15-20
Gl. 1: 6-9). Seria próprio de Paulo to- ainda era "o poder de Deus para sal-
lerar agora o que ele repudiara comple- vação". Michael subestima o apóstolo
tamente antes? Não era também a mi- quando diz que "o espírito de Paulo
noria implícita em Fp. 1: 14, porque estava agitado quando escreveu" e que
não eram de modo nenhum reticentes 1: 18 foi "uma tentativa deliberada ...
no que pregavam. Mais provavelmente de controlar seu espírito" (op. cit.,
os antagonistas eram um grupo dentro pág.45). Sim, sempre me regozijarei
da igreja que, invejando a influência não pertence ao versículo 18 como ex-
de Paulo (na prisão ou fora dela) e in- pressão de uma forte determinação de
citados por um espírito de rixa, aumen- não escorregar para a irritação diante
taram sua atividade missionária no de- da decepcionante conduta de seus ad-
sejo de aumentar as contrariedades do versários, mas introduz os próximos
apóstolo preso. A boa vontade dos motivos de regozijo dados nos versí-
outros refere-se aos motivos de sua culos 19,20.
pregação.
16. O Texto Recebido, seguindo do- V. Vida ou Morte? 1: 19-26.
cumentação inferior, inverteu os versí-
culos 16 e 17 para fugir à suposta irre- Enquanto o desejo pessoal do após-
gularidade no trato com os dois grupos tolo era de partir para estar com Cristo,
do versículo 15 em ordem oposta. Por a necessidade da igreja o convencia de
amor refere-se tanto à preocupação de- que ele cedo seria libertado e continua-
les pelo progresso do Evangelho quanto ria trabalhando para o progresso dela
ao seu apego pessoal à pessoa de Paulo. na fé.
Keimai, estou incumbido (aqui), é a fi- 19. Paulo cria que a presente opo-
gura de uma sentinela no seu posto sição resultaria no bem porque os cris-
cumprindo a obrigação. No presente tãos estavam orando. Como resultado,
contexto pode ter um significado mais o Espírito de Jesus Cristo (o Espírito
metafórico de estar destinado à defe- Santo, não um espírito cristão) con-
sa do evangelho. 17. A pregação do cederia um suprimento abundante da-
segundo grupo partiu de um espírito quilo que fosse necessário para a emer-
de discórdia (eritheia foi usado por gência existente. Sôtêria seria melhor
Aristóteles para indicar "uma busca se tomada como libertação da prisão,
egoísta de uma posição política por embora muitos comentadores entendem-
meios desonestos" , Arndt, pág. 309). -na num sentido mais amplo. Alguns
Seu verdadeiro interesse era ganhar de julgam perceber uma citação de Jó
Paulo e, no processo, aborrecê-lo na 13: 16 (LXX), e interpretam a espe-
prisão. Thlipsis, tribulação, significa rança de vindicação de Paulo como des-
literalmente fricção. "Despertar fricção cansando sobre a consciência que tinha
pelas cadeias" é um modo pitoresco de sua integridade (cons. Michael, in loc.)
de descrever a consternação de uma 20. Apokaradokia, ardente expectativa,
pessoa que não pode acertar uma si- é uma palavra extraordinária, talvez
tuação por causa de alguma limitação cunhada pelo próprio Paulo. Literal-
que lhe foi imposta. mente significa olhar intensamente à
18. Mas qual foi a reação de Paulo? distância com a cabeça estendida. A ex-
Quaisquer que fossem os motivos, se pectativa do apóstolo era dupla: para
Cristo era pregado, ele se regozijava. que ele não fosse envergonhado (isto é,
Ainda que o Evangelho fosse usado co- desapontado com o fracasso do auxí-
mo camuflagem para lucros pessoais, lio divino), e que Cristo fosse engrande-
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FILIPENSES 1: 20-27
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I I II I 'I I I
FILIPENSES 1: 27-30 - 2: 1-4
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FILIPENSES 2: 4-10
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I I II I
'I I I
FIUPENSES 2: 10-18
-193 -
FILIPENSES 2: 19-29
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I I II 'I I j
FILIPENSES 2: 29-30 - 3: 1-3
-195 -
FILIPENSES 3: 3-11
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I I II
'I I !
FILIPENSES 3: 11·16
já tivesse chegado, Paulo indica cuidado- que apela para todas as forças que ainda
samente que ele ainda estava muito en- lhe restam e inclina-se na direção do al-
volvido na corrida da vida. Essa adver- vo (assim, nossa reta de chegada). 14.
tência contra a má intrepretação foi O alvo (skopos, de skopeo, "olhar fi-
causada pela influência dos perfeicio- xamente para"). Aquilo em que os
nistas complacentes que se propagava olhos estiveram fixos. Distração seria
grandemente na igreja. fatal. (Alguns sugerem que a metáfora
se refere a uma corrida de carros.) Se
12. Aquilo que Paulo não tinha ainda
a perfeição final é o alvo do corredor
recebido era a experiência do conhe-
(aquilo que evita que se desvie do seu
cimento final e completo do seu Senhor
curso), é também o seu prêmio. O
(vs. 8-11). Perfeição define melhor o
prêmio pertence àqueles que corres-
seu alvo. A perfeição aqui seria o pleno
pondem de todo o coração à soberana
conhecimento e a conformidade per-
vocação de Deus (afastando-se do ego
feita. O versículo l2b pode ser assim
na direção de novas alturas de realiza-
parafraseado, "mas eu prossigo esforça-
ções espirituais) em Cristo Jesus.
damente para ver se de algum modo
15. Sermos perfeitos. Sermos ama-
poderei conquistar e tomar a posse (ka-
durecidos. Nas religiões pagãs indica-
talambano é usado nos papiros tratan-
va aqueles que estavam de posse dos mis-
do-se de colonizadores tomando posse
térios opondo-se aos noviços. Não há
de terras) daquilo para o que fui con-
aqui nenhuma indicação de "ironia
quistado (o mesmo verbo acima) por
reprovada" (de acordo com Lightfoot).
Cristo Jesus na estrada de Damasco".
Tenhamos este sentimento. Tenhamos
Deus tinha um propósito na conversão
esta atitude básica de disposição, isto é,
de Paulo, e Paulo desejava intensamente
os sucessos do passado não devem remo-
que esse propósito pudesse ser inteira-
ver a necessidade de lutas futuras. Se
mente realizado em sua experiência.
porventura pensais doutro modo, Paulo
Muitos comentadores consideram eph 'ho
acrescenta a título de encorajamento.
como significando "porque", o que
"Se vocês não se sentem suficiente-
acentuaria então o motivo (não o alvo)
mente convencidos que este ponto de
do esforço de Paulo (cons. C.F.D. Moule,
vista deve ser aplicado a todos os setores
Idiom Book, pág. 132).
da vida, Deus há de revelar isto tam-
13. Os versículos 13, 14 alargam o bém". 16. Embora o significado pre-
pensamento de 3: 12. O estado do "não ciso deste versículo resumido seja duvi-
ainda" da perfeição cristã destrói a com- doso, a idéia geral é bastante clara: "Não
placência e exige uma busca esforçada. nos desviemos destes princípios gerais
Quanto a mim pode implicar em um que nos conduziram em segurança até
contraste com a auto-apreciação dos o presente estágio da maturidade cris-
outros. A metáfora é sobre uma corri- tã" . A condição para iluminação fu-
da. A expressão concisa, mas uma" cou- tura é andar de acordo com a presente
sa, expressa "singeleza de propósito luz.
e concentração de esforços" (Michael,
pág. 160). Esquecendo-me das cousas XIII. Uma Comunidade Cristã. 3: 17-
que para trás ficam. As realizações do 21.
passado de sua carreira cristã, que po- A presença daqueles cujo modo sen-
deriam provocar a auto-satisfação e uma sual de vida estava solapando a eficácia
redução no ritmo da marcha. Avançan- do Evangelho levou Paulo a exortar os
do descreve pitorescamente o corredor filipenses a imitá-lo e a outros que tam-
-197 -
FILIPENSES 3: 16-21 - 4: 1-3
-198 -
I I il I
'I I I
FILIPENSES 4: 3-9
-199 -
FILIPENSES 4: 9-19
Deus da paz estaria com eles. estóicos está em que eles se conside-
ravam auto-suficientes, enquanto a su-
XV. Apreciação pelo Presente. 4: 10- ficiência de Paulo estava em Outro -
20. Aquele que o fortalecia.
Emprestando a expressão de Paulo, 14. Não obstante, quando os fili-
agora, uma vez mais, ele lhes agradece penses se uniram para ajudá-lo em suas
formalmente o presente. Embora não dificuldades, fizeram algo nobre (kalos;
dependesse da oferta, e nem mesmo a ho kalos é o renomado conceito grego
procurasse, ele se alegra com tal sacri- de "beleza").
fício que agrada a Deus e beneficia quem 15. No início do evangelho. Quando
recebeu. o Evangelho foi proclamado pela pri-
10. Se Filipenses fosse realmente uma meira vez na Macedônia. Quando parti
carta de agradecimentos, as palavras provavelmente se refere à oferta feita
de apreciação deveriam ter vindo mui- por ocasião da partida (cons. Atos 17:
to antes. O fato de aparecerem quase 14), e não posteriormente (cons. 11 Co.
como um pós-escrito, empresta plau- 11: 9). A dar e receber. A primeira
sibilidade à conjetura de Michael que das diversas alusões feitas a transações
diz que Paulo já tinha feito seus agra- financeiras. Talvez fosse um gentil lem-
decimentos e agora estava apenas escla- brete de que o pagamento em troca de
recendo algumas declarações, que eviden- bens espirituais não era de todo des-
temente causaram ressentimentos (pág. cabido (cons. I Co. 9: 11). 16. Quase
xxi f; pág. 209 e segs.). Anathalo, "tor- imediatamente após a partida dele (es-
nar a brotar novamente", descreve uma tando ainda em Tessalônica; cons. Atos
árvore cheia de brotos na primavera. 17), não somente uma vez, mas duas
Alguns, para fugir ao que parece ser o ajudaram.
uma branda reprimenda, entendem reno- 17. Novamente ele demonstra ansie-
vastes como indicando a recuperação dade em não deixar a impressão de que
de um período de terrível pobreza. cobiçava a ajuda financeira deles. O que
A falta de oportunidade poderia então realmente desejava era "os lucros que
ser uma falta de meios. Entretanto, se acumulariam desse modo ao seu
provavelmente significa que não havia (deles) crédito divino" (Moffatt). Ou,
ninguém disponível para a viagem. menos tecnicamente, o fruto pode ser
11. Paulo rapidamente corrige qual- essa "maior capacidade de simpatia hu-
quer falsa impressão de que ele esteja mana" (Scott em IB, XI, 126) que é o
se queixando de necessidade. Autar- resultado inevitável da vida sacrificial.
kes. Contente. Melhor, ter sustento 18. Apeko. Possivelmente, "plenamen-
próprio. Termo favorito dos estóicos te liquidado" (assim usado nos papiros,
que imaginavam o homem possuidor MM, pág. 57), ou "eu tenho tudo o que
de intrínseca capacidade de resistir a poderia desejar" - na realidade, ele con-
todas as pressões externas. 12. De tudo tinua, mais do que o necessário. Osme
e em todas as circunstâncias (não impor- euodias, aroma suave, foi freqüente-
ta quão desesperadoras as circunstân- mente usado na LXX com referência
cias poderiam ser, ou quão grande a so- às ofertas agradáveis a Deus (cons. Gn.
ma delas todas) Paulo já tinha experiên- 8: 21).
cia (um termo técnico nas religiões pa- 19. Assim como vocês atenderam às
gãs) no segredo de enfrentar a ambas, minhas necessidades, Deus ... há de su-
a falta de recursos e a abundância. 13. prir ... cada uma de vossas. Um arranjo
A profunda diferença entre Paulo e os "toma-lá-dá-cá" que oferece pouco con-
-200-
I I II I
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FILIPENSES4: 19-23
-201-
A EPISTOLA AOS COLOSSENSES
INTRODUÇÃO
- 202-
II i
'I I I
1: 7 e segs.) e o desprezo do corpo (que so (cerca de 55-56 A.D.) oferece uma
se refletia na negação da ressurreição, ocasião muito mais provável para as
no ascetismo e na licença sexual; cons. cartas. Cesaréia tem poucos defenso-
I Co. 15: 5, 7), representam uma atitude res hoje em dia, mas a teoria da prisão
gnóstica. em Éfeso tem atraído atenção consi-
A heresia colossense combinou ele- derável. Mais recentemente, G. S. Dun-
mentos judeus e helenistas. Observân- can (8t. Paul's Ephesian Ministry) tem
cias dietéticas e a guarda do sábado, o argumentado o seguinte: 1) Segunda
rito da circuncisão, e provavelmente Coríntios (6: 5; 11: 23), escrita no fím
a função mediatória dos anjos são re- do ministério efésio, indica que Paulo
miniscências da prática e crença judias esteve na prisão mais vezes do que o
(Cl.2:11,16,18); a ênfase dada à "sa- mencionado em Atos; se I Co. 15: 32 for
bedoria" e "conhecimento", o pleroma interpretado literalmente, o que parece
dos poderes cósmicos, e o aviltamento razoável, pelo menos uma dessas pri-
do corpo refletem a filosofia grega sões aconteceu em Éfeso. 2) A visita
(2: 3, 8: 23). Alguns convertidos ju- de Epafras (Cl. 1: 7; 4: 12) e a presen-
deus provavelmente trouxeram esta mis- ça de Onésimo, o escravo fugitivo, en-
tura de um Judaísmo heterodoxo e o caixa-se melhor no cenário efésio do
desenvolveram mais depois que se tor- que na distante Roma. 3) Paulo pla-
naram cristãos. neja uma visita ao Vale Licus depois
Com uma estratégia já usada, Paulo de sua libertação (Filemom 22), mas
usa a terminologia dos enganadores de acordo com a tradição, Paulo seguiu
para atacar seus ensinamentos e, no pro- na direção oeste, para a Espanha, depois
cesso, desenvolve a doutrina do "Cristo da prisão romana (cons. Rm.15: 24).
cósmico". Em Cristo, o único mediador, Os argumentos de Duncan têm sido mais
habita toda a sabedoria e conhecimento; persuasivos na questão de Filipenses, mas
na Sua morte e ressurreição todos os a questão permanece em aberto também
poderes do cosmos são derrotados e por para as outras Epístolas da Prisão. Aque-
Ele subjugados (2: 3, 9,10,15). Qual- les que continuam a favor da origem
quer ensinamento que se desvia da cen- romana consideram inconc1usivos os ar-
tralidade de Cristo sob a pretensão de gumentos a favor das outras cidades
levar os homens à maturidade e perfei- mencionadas acima, e apontam para o
ção é uma perversão que ameaça a pró- peso da antiga tradição e para uma teo-
pria essência da fé. Assim o apóstolo logia mais desenvolvida (especialmente)
identifica e denúncia a raiz do erro em em Colossenses e Efésios. Poderia ter
Colossos. sido apresentada em data tão precoce
Origem e Data. Colossenses, tal como como a do ministério efésio?
Efésios, Filipenses e Filemom, foi escri- Autoria. A autoria paulina continua
ta na prisão e foi entregue por Tíquico sendo negada em alguns grupos, mas a
e Onésimo (4: 3, 7·9; Filemom 12; opinião da maioria vai na outra direção.
Ef. 6: 12) junto com a epístola a Fi- Uns poucos estudiosos, influenciados
lemom e (possivelmente) Efésios, A tra- pelo fato de que um quarto de Colos-
dição fixa a sua origem em Roma du- senses se encontra em Efésios, têm con-
rante a prisão de Atos 28 (cerca de 61- siderado a primeira como uma versão
63 A.D.). Embora esse ponto de vista ampliada da genuína correspondência
permaneça predominante, um grupo paulina. A relação entre as duas cartas,
sugere que uma prisão anterior em Ce- entretanto, explica-se adequada e fa-
saréia (cerca de 58-60 A.D.) ou em Efé- cilmente pela - consciente ou iconscien-
-203 -
te - operação da mente do próprio Importante nesse sentido é o con-
apóstolo ao escrever sobre temas simi- ceito do "Corpo de Cristo", com o
lares. qual os colossenses sem dúvida esta-
As principais objeções à autoria pau- vam familiarizados (l: 18, 24; 2: 17;
lina têm sido estas: 1) O pensamento 3: 15). Esse relacionamento único e
e a ênfase da carta não se harmonizam misterioso, que exclui todos os outros,
com as de Romanos, Coríntios e Gá- torna anátema qualquer crença ou prá-
latas; 2) A heresia colossense não po- tica que descentraliza Jesus como Re-
deria ter-se desenvolvido tão rapida- dentor e Aperfeiçoador do Seu povo.
mente. É um erro, entretanto, acer- O "Corpo de Cristo" é um motivo pro-
car-se de Paulo como se a sua mente fundamente incrustado na subestrutura
estivesse em uma camisa de força; mu- da teologia do Novo Testamento. Al-
dança de circunstâncias oferecem uma guns têm buscado sua origem na filoso-
resposta satisfatória à mudança de tema fia de Paulo, mas provavelmente suas
e vocabulário. Investigações recentes raízes jazem nos ensinamentos do pró-
têm mostrado de maneira inteiramente prio Senhor (cons. Mc. 14: 58; Jo.2:
conclusiva que o Gnosticismo, pelo 19-22; E. E. Ellis, Paul's Use of the Old
menos na forma incipiente com que Testament, pág. 92). Membros de uma
apareceu em Colossenses, já era uma comunidade considerados como partes
poderosa força no primeiro século. A de um corpo era uma metáfora conhe-
voz unânime da tradição da igreja jun- cida pelo mundo grego. Entre os estói-
ta-se à maioria dos mestres modernos cos, por exemplo. O uso que Paulo faz
para afirmar a genuinidade da carta; da figura, entretanto, vai além da sim-
pode-se confiar consideravelmente neste ples metáfora e deve ser compreendida
veredito. na estrutura do conceito hebreu antigo
e realista da solidariedade comunitária
Temas e Desenvolvimento das Idéias. (veja R. P. Shedd, Man in Community).
A estrutura da epístola segue o padrão Em I Co. 12: 12-21 o "corpo" (de
familiar de Paulo, na qual uma seção Cristo) foi descrito incluindo a "cabeça".
doutrinária (o que crer) é seguida de Por isso um cristão pode ser descrito
uma exortação (como agir). Opondo-se como sendo um olho, ou um ouvido,
à falsa doutrina, Paulo enfatiza a natu- ou uma mão. Em Colossenses e Efé-
reza exaltada do senhorio de Jesus Cris- sios, onde Cristo foi descrito como a
to e sua significação para aqueles que "cabeça" do corpo, a imagem, a princí-
Lhe foram unidos. Como Senhor da pio, parece estar substancialmente alte-
criação, Jesus encorpora a plenitude da rada. Nesse caso, a imagem retórica
divindade; como cabeça da Igreja e multiforme é uma acomodação ao de-
reconciliado r do Seu povo, Ele é o sejo do apóstolo de enfatizar nessas
eficiente mediador que, na Sua pessoa, epístolas o relacionamento íntimo de
relaciona redentivamente o homem a Cristo com o Seu povo, e não simples-
Deus (C1. I: 15-22; 2: 9). Para esta- mente um desenvolvimento prolongado
belecer a suficiência exclusiva de Jesus de seu conceito primitivo. No complexo
como Senhor e Redentor (em oposição das imagens que Paulo usa, cada uma
à substituição dos gnósticos de disci- deve ser entendida dentro de sua pró-
plinas redentoras e um pleroma, ou ple- pria estrutura e "uma simples e global
nitude, de poderes mediadores), Paulo análise conceitual será tão útil para a
destaca ambos os aspectos do caráter interpretação das cartas do apóstolo
de Cristo. quanto um trator para a cultivação de
-204-
I I II ,
'I I I
um jardim de paisagem em miniatura" 14). O significado dessas duas diferen-
(A. Farrar, The Glass of Vision, pág. 45). tes perspectivas cronológicas, e sua
É provável, entretanto, que a Cabeça .conexão, é de importância central para
divina não seja de modo nenhum uma nossa compreensão do mundo dos pen-
imagem variante do "Corpo", mas antes samentos de Paulo (cons. E. E. Ellis,
uma imagem complementar. O con- Paul's and His Recent Interpreters, pág.
ceito de Cristo como a cabeça (kefale) 37-40). Voltanto atrás, podemos su-
da Igreja é análoga a de I Co. 11: 3: gerir que o conceito do "Corpo de
"Cristo é a cabeça de todo o varão". Cristo" fornece uma pista para o signi-
Mais especificamente: "Porque o marido ficado deles. Quando Paulo fala de
é a cabeça da mulher, como também cristãos que morreram e ressuscitaram
Cristo é a cabeça da igreja, sendo ele para a nova vida, ele fala de uma reali-
próprio o salvador do corpo" (Ef. 5: 23). dade comunitária experimentada por
A imagem retórica da "cabeça", no que Jesus Cristo individualmente no ano
se refere a Cristo e à Igreja, deve ser 30 D. C., mas transmitida ao cristão
entendida em termos de analogia mari- comunitariamente pelo Espírito Santo
do-esposa. Ela expressa a união de que habita nele. Tendo sido incorpo-
Cristo com a Igreja, pois o marido e a rado ao corpo de Cristo e estando des-
esposa são "uma só carne". Mas, o que tinado a ser conformado individual-
é mais importante, apresenta a superio- mente à imagem de Cristo, o cristão
ridade de Cristo, Sua autoridade sobre, deve agora efetivar em sua vida indivi-
e a redenção do Seu corpo, a Igreja (cons. dual a vida "em Cristo" na qual foi in-
C1. 2: 10). A definição de Igreja como troduzido. Embora sabendo que o ego
extensão da Encarnação não reflete em sua mortalidade será "revestido de
suficientemente este aspecto da figura imortalidade" só por ocasião da pa-
de retórica paulina. rousia, a volta do Senhor (I Co. 15:
Nas cartas de Paulo, o relaciona- 51-54), o ego em suas expressões ética
mento do cristão com a nova dispen- e psicológica começa a efetivar as rea-
sação é considerado um acontecimento lidades da nova geração na presente
passado e uma esperança futura. No vida: "Se morrestes com Cristo ... por
passado, os cristãos foram crucificados que ... vos sujeitais a ordenanças?" "Se
com Cristo, ressuscitados para uma fostes ressuscitados juntamente com
nova vida, transportados para o Seu Cristo, buscai as cousas lá do alto".
reino, glorificados, e feitos assentar "Uma vez que vos despistes do velho
com Ele nos céus (Ef. 2: 5-7; C1. 1: 13; homem ... e vos revestistes do novo .
2: 11-13; Rm.8:30). Paulo, entre- Revesti-vos, pois, ... de bondade "
tanto, ao se aproximar o fim de sua (C1.2:20; 3:1,9,10,12). O caráter
vida, expressou seu anseio "para o co- e a mente de Cristo e, na ressurreição,
nhecer e o poder da sua ressurreição, e na Sua vida imortal, devem ser compreen-
a comunhão dos seus sofrimentos; con- didos no Seu Corpo. Dentro desta
formando-me com ele na sua morte; estrutura a "exortação" de Paulo está
para de algum modo alcançar a ressur- intimamente relacionada com seus ensi-
reição dentre os mortos" (Fp. 3: 10- namentos teológicos.
ESBOÇO
I. Introdução. 1: 1,2.
- 205-
COWSSENSES 1: 1
COMENTÁRIO
-206 -
II 'I I I
COWSSENSES 1: 1-8
-207-
COLOSSENSES 1: 8-14
so", elas oferecem um índice quanto com alegria. Este é o distintivo do cris-
ao modo como a instrução de Cristo, tão! O gozo que não estiver enraizado
"vós orareis assim" (Mt. 6: 9), foi apli- no solo do sofrimento é superficial (C. F.
cada na igreja primitiva. Depois da ação D. Moule, The Epistle of Paul the Apostle
de graças introdutória, Paulo começa to the Colossians and to Philemon).
uma oração que se funde em outra 12-14. O poder de Deus nos fez idô-
ação de graças, conforme a oração toma neos, isto é, qualificados para partici-
a forma de uma peã de louvor ao Cristo par, isto é, deu-nos o poder (M.M.) e
exaltado. tornou-nos dignos. Luz e trevas são ter-
9,10. Orar. Veja 4: 2. C. Masson mos teológicos comuns usados em muitas
(L' Epftre de Saint Paul aux Colossiens) religiões, e encontrados recentemente nos
sugere que pleno conhecimento (epig- Manuscritos do Mar Morto. Aqui parece
nosis) deveria ser compreendido como que Paulo está pondo em contraste o
"amadurecido quanto ao conhecimento". reino ou a esfera da nova dispensação
Aqui há provavelmente uin contraste - luz, com o do presente século, a es-
sutil com o conhecimento (gnosis) dos fera do mal ou a autoridade iexousia)
advogados gnósticos: Paulo não enfa- das trevas. Em outro lugar esta esfera
tiza nem um intelectualismo abstrato do mal foi igualada com o poder de
nem uma experiência oculta dos "po- Satanás (cons. 2: 15; Lc. 22: 53; Atos
deres", mas um conhecimento comple- 26: 18; Ef. 2: 2).
to (epignosis) da vontade de Deus de
acordo com a sabedoria (sofia; cons. Estes versículos, que situam uma
I Co. 1: 24-30) e percepção. Embora, libertação passada e a transferem para
usando estes termos, o apóstolo possa o reino de Cristo e apresentam a reden-
ter-se influenciado pelo vocabulário dos ção que os cristãos têm como possessão
seus oponentes, ele volta o significado presente, são os sinetes da "escatologia
das palavras contra os falsos mestres. compreendida", isto é, que a nova dis-
Ele ora para que os colossenses possam pensação chegou com a ressurreição
passar pela terapia psiquiátrica de Deus, de Cristo e que os cristãos entram nela
a qual transformaria seu mundo e vi- no momento da conversão. A relação
são da vida (cons. Rm.12: 1,2). Uma entre o reino realizado e o reino futuro
transformação mental é o requisito tem sido muito debatida e diversamen-
prévio e a base de uma renovação ética; te compreendida. São eles conceitos
em troca, conforme fossem frutifican- mutuamente exclusivos representando
do em toda boa obra, seu conhecimento estágios de desenvolvimento doutriná-
de Deus seria depois aumentado. rio nas mentes dos escritores do N.T.?
11. Para intensificar um conceito, Uma vez que todo ostratum da litera-
o apóstolo reitera: Fortalecidos ... po- tura do N.T. contém ambos os concei-
der ... força. O que opera no cristão tos, esta solução parece ser forçada.
não é nada menos que o poder do pró- Seria o presente aspecto do reino uma
prio Deus Todo-Poderoso, não para compreensão parcial da consumação
exaltar no presente, mas para dar perse- futura? Parece que Paulo considera
verança, fortitude e resistência. Os fi- os cristãos inteiramente dentro da es-
lósofos estóicos também estimavam es- fera da nova dispensação no seu estado
sas virtudes, mas, como o tradicional cooperativo em Cristo, o qual é trans-
índio "cara-de-pau", eles aceitavam com ferido para os indivíduos pelo Espírito
uma atitude de completa indiferença. Santo; a esfera do ser da nova dispen-
Paulo quer dizer esperança e sofrimento sação, entretanto, será inteiramente efeti-
-208-
I , ., I I I
COLOSSENSES 1: 14-19
vada no indivíduo somente por ocasiao encarnar-se como homem e na Sua hu-
da parousia, isto é, a volta de Cristo. manidade exibir a glória do Deus invi-
(Veja Introdução.) sível" (Bruce em The Epistles to the
Mais tarde, o Gnosticismo fez uma Ephesians and the Colossians por E. K.
distinção entre o perdão, como está- Simpson e F. F. Bruce). Primogênito
gio inicial, e a redenção, como a fuga (prototokos) foi interpretado pelos aria-
da alma para os reinos da imortalidade. nos como significando "o primeiro de
Aqui Paulo fala de redenção que efetua uma raça", isto é, Cristo era a primeira
o perdão dos pecados. (Veja Leon Mor- criatura. A palavra pode ter este signi-
ris, The Apostolic Preachingof the Ooss, ficado (cons. Rm. 8: 29); mas tal tra-
pág.43.) dução não é consistente com o tema
de Paulo, que aqui destaca a prioridade
C. Cristo como Senhor. 1: 15-19. messiânica e primazia de Cristo (cons.
O aspecto surpreendente das atribu- SI. 89: 27): Cristo é o "chefe" porque
lações nesta passagem é a sua aplicação nele - a esfera do Seu domínio ou tal-
a um jovem judeu que foi executado vez através de Sua instrumentalidade -
como criminoso apenas trinta anos antes. a ordem criada veio â vida (cons. Jo.
Jesus Cristo foi descrito em frases que 1: 3; Hb, 1: 2), e por meio dele ela
fazem lembrar a divina Sabedoria no existe. Sejam quais forem os poderes
V.T. (cons. Pv. 8: 22-30; SI. 33: 6), na que existem, nada têm a oferecer ou
literatura inter-Testamentária, e em pas- negar ao cristão; em Cristo ele tem
sagens semelhantes do N.T. (cons. Jo. todas as coisas (cons. Rm. 8: 38; Ef.
1:1; I Co. 1:30; Hb.l:lesegs.). 1: 10).
Aqui Jesus não só é o mediador da cria-
18. Os termos cabeça, princípio, pri-
ção mas também é o alvo de toda a or-
mogênito, expressam a preeminência de
dem criada. A majestade desse contras-
Cristo na nova criação, a qual nasceu
te completo foi percebido por alguém
na Sua ressurreição (I Co. 15: 22; Ap. 1:
que escreveu:
5; 3: 14). Embora a cabeça na quali-
Quem é Ele, naquela árvore,
dade de locus de controle do corpo não
Morrendo em tristeza e agonia?
fosse conceito desconhecido aos escri-
É o Senhor! Oh maravilhosa história!
tores médicos do primeiro século, o
É o Senhor, o Rei da glória!
significado que o V.T. dá a "chefe"
Aos Seus pés humildemente caimos;
ou "origem" é o sentido da palavra aqui.
Coroai-O! Coroai o Senhor de todos!
Como corpo de Cristo (não o "corpo
15-17. Imagem do Deus reflete a ti-
dos cristãos") a igreja não é meramente
pologia Adão-Cristo (cons. Gn. 1: 27;
uma "sociedade" mas está definida em
SI. 8; Hb. 2: 5-18), na qual Cristo é con-
termos de sua comunhão orgânica com
siderado o primeiro homem verdadeiro
Cristo (veja Introdução).
que cumpre o desígnio de Deus na cria-
ção. Assim, ser a imagem de Cristo é o al- 19. Assim como o presente cosmos
vo de todos os cristãos (cons. Rm. 8: 28; foi criado em e através de Cristo, assim
ICo.ll:7; 15:49; IICo.3:18; 4:4; também e a nova criação. Ambos in-
C1. 3: 10). O Filho divino, entretanto, cluem, na mente de Paulo, muito mais
é o arquitipo, a efluência da glória de que a humanidade (cons. Rm, 8: 22,
Deus e não, como os outros homens, 23). Mas a plenitude (pleroma) de tudo
Seu reflexo (Hb. 1: 3). Foi porque o habita em Cristo. Já se sugeriu que
homem é a "imagem do seu criador pleroma aqui significa, como no antigo
que foi possível para o Filho de Deus glossário gnóstico, a totalidade dos po-
-209-
COWSSENSES 1: 19-24
deres cósmicos que servem de media- 22,23. No corpo da sua carne e apre-
neiros para a redenção dos homens; sentar-vos tem conotações sacrificiais
todos esses, diz Paulo, em oposição (cons. Rm. 12: 1, 2) e acentua a iden-
ao ensino gnóstico, pertencem e resi- tidade do crente com Cristo na sua mor-
dem em Cristo. Diante do uso da pa- te. Se ... permaneceis. Eis aí a prova.
lavra grega na LXX e em outras cartas Paulo se- dirige aos seus interlocutores
de Paulo, entretanto, este significado chamando-os de cristãos mas sempre
técnico é pouco prováve1. A interpre- reconhece os fatores "existenciais" que
tação mais própria é a indicada em C1. impede qualquer complacência até mes-
2: 9, onde p/eroma só pode significar mo para si (cons. I Co. 9: 27; 11 Co.
a plenitude dos poderes e atributos de 13: 5). Para o apóstolo, a certeza sem-
Deus. Neste livro Cristo é considerado pre tem de estar no tempo presente.
o receptáculo e representante de tudo E, embora a eleição de Deus não seja
o que Deus é. Além disso, plenitude, vacilante, pode-se afirmar só em termos
como "imagem" (cons. 1: 15), em outra de profissão (cons. Rm. 10: 9), conduta
passagem é predicado dos cristãos à (cons. I Co. 6: 9) e o testemunho do
vista de seu final estado glorificado em Espírito (cons. Rm. 8: 9). A toda cria-
Cristo (Ef. 3: 19; 4: 12, 13; cons. Jo. tura (ktisis) pode ser uma referência,
17: 22,23). como o contexto admitiria, ao escopo
cósmico da proclamação (cons. 11 Pe.
D. Cristo como o Reconciliador de 3: 9). Se Paulo está aqui falando de
Deus. 1: 20-23. cidadania romana, pode-se-lhe permitir
20. Em Ef. 2: 14-18 Paulo vê a paz uma hipérbole inevitável em um evange-
efetivada pelo sacrifício do sangue lista "nato".
de Cristo, encampando e unificando
judeus e gregos. Aqui está se conside- E. Paulo: Ministro da Reconcilia-
rando em primeiro lugar a humanidade ção de Cristo. 1: 24-29.
e todas as cousas no cosmos (cons. Is. 24. Antes Paulo orou que os colos-
11: 6-9; Rm. 8: 19-23). O fato de que senses pudessem sofrer com alegria (1:
Deus por meio de Cristo reconciliou o 11); agora ele afirma que essa é a sua
universo foi equiparado por Orígenes própria experiência. O notável concei-
(falando sobre Jo. 1: 35) com a reden- to de que os padecimentos (pathema) ,
ção universa1. Não temos certeza (cons. sofridos em benefício dos colossenses,
Arndt) se o significado aqui é "reconci- completam o que falta nas aflições de
liou com Deus" ou (mais provavelmente) Cristo (th/ipsis), não se limita a esta
"reconciliou com Cristo", isto é, criou passagem (cons. 11 Co. 1:5-7; 4: 12;
uma unidade que tem o seu alvo em 13:4; Fp. 3: 10; I Pe. 4: 13; 5:9;
Cristo. Mas o ensino de Orígenes não Ap. 1: 9). Esta idéia deve ser compreen-
faz muita justiça ao ensino paulino dida do ponto de vista do conceito
(e do N.T. em geral) no que se refere hebreu da personalidade comunitária
ao juízo de Deus. Os colossenses foram ilustrada na pitoresca declaração de
reconciliados através da redenção, mas Jesus em relação a Sua igreja, "Por
C1. 2: 15 sugere que outros seres maus que me persegues?" (Atos 9: 4). E
e poderes são "reconciliados" por meio alguns interpretam C1. 1: 24 como signi-
da derrota e destruição (cons. I Co. 15: ficando que no propósito de Deus o
24-28). Para alguns a cruz é "um sal- Cristo comunitário, a comunidade mes-
vador da morte para morte" (11 Co. siânica, está destinado a sofrer uma quota
2: 16). das "dores de parto" na introdução da
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I I i I I 'I I I
COWSSENSES 1: 24-29 - 2: 1-7
-211-
COWSSENSES 2: 7-12
Cristo, presente com eles em espírito, (por exemplo, Rm. 6: 17; I Co. 11: 2,
Paulo esclarece agora o propósito dos 23; 15:3; Fp.4:9) - a essência da
comentários precedentes. Ele teme que qual jaz em sua apostolicidade (veja
raciocínios falazes, isto é, raciocínio CI. 1: 1). Tradição apostólica tem o
persuasivo (pithanologia) , viessem alte- status da revelação, pois nela o próprio
rar a ordem e a firmeza deles. Essas Cristo exaltado fala através de seus re-
palavras emparelhadas são termos mili- presentantes autorizados (cons. Oscar
tares traduzindo o pensamento de um Cullmann, "Tradition", The Early Church,
inimigo abrindo uma brecha em uma pág. 59-99).
antes sólida formação de tropas. O ape- 9,10. A palavra grega para divinda-
lo dos enganadores para a filosofia e de ou deidade é o nome abstrato de Deus
sabedoria (cons. 2: 8, 23), é uma via (Arndt) e inclui, além dos atributos
de acesso não de todo desconhecida divinos, também a natureza divina (Beng).
atualmente. Paulo não respondia aos Opondo-se à idéia docética de que a ma-
falsos raciocínios com obscurantismo, téria é má, está a afirmação b íblica de
nem com uma ordem a que os crentes que a própria divindade manifestou-se
fechassem seus ouvidos, mas com um corporalmente (somatikos) ou em rea-
pedido razoável a que retomassem a lidade material (Lightfoot; cons. Jo. 1 :
sua positiva tradição cristocêntrica pela 14). Outros (Moule, por exemplo) in-
qual receberam o Evangelho (cons. 2: terpretam somatikos com o significado
8). Desse ponto de partida a vacuidade de: 1) um organismo de Cristo em con-
do raciocínio gnóstico tornar-se-Ihes-ía traste com o pleroma múltiplo de pode-
aparente. res cósmicos; ou, menos provavelmente,
2) o Corpo de Cristo, isto é, a Igreja.
III. O Senhorio de Cristo e a Falsa A plenitude (pleroma; cons. nota sobre
Doutrina em Colossos. 2: 8 - 3: 4. 1: 19) que é inerente a Cristo, impregna
aqueles que estão em união com Ele pa-
A. A Suficiência Exclusiva de Cris- ra aperfeiçoá-los (pepleromenoi) ou dar-
to. 2:8-15. lhes a plenitude (cons. Ef. 1: 23). União
O apóstolo começa seu argumento com Cristo somente é suficiente, pois
com uma reafirmação da raridade de Ele é o cabeça de todas as outras auto-
Cristo e do relacionamento do crente ridades; elas nada podem acrescentar à
com Ele. Como cabeça e dominador santidade ou à redenção.
de toda autoridade e como a própria 11,12. No N.T. não por intermé-
esfera da existência da nova dispensa- dio de mãos é um termo quase técnico
ção do cristão, o lugar de Cristo na vida usado em relação às realidades da nova
cristã é todo-inclusiva, e exclusiva de dispensação comunitária em contraste
todos os outros. às instituições e rituais da antiga aliança.
8. A heresia colossense era uma "fi- Refere-se com muita freqüência à Igreja
losofia" conforme a tradição (parodosis) na qualidade do verdadeiro templo de
dos homens e rudimentos do cosmos Deus dado à luz na morte e ressurreição
(cons. 2: 20). Paulo não condena a tra- de Cristo (Mc. 14: 58; Jo. 2: 19,22;
dição em si mesma mas antes estabelece Atos7:48; IICo.5:1; Hb.9:11,24).
um contraste com esta heresia e a tra- Aqui identifica a morte e ressurreição
dição segundo Cristo, que os colossen- de Cristo como sendo a verdadeira cir-
ses receberam (2: 7). Há então uma cuncisão (cons. Fp. 3: 3), na qual os
tradição própria - à qual o apóstolo cristãos, na qualidade de Corpo de
expressa gratidão em outras passagens Cristo, participaram. Ambos os con-
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I I I I
'I I I
COLOSSENSES 2: 12-15
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COLOSSENSES 2: 15-22
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I I , I ,
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COLOSSENSES 2: 22-23 - 3: 1-4
mentadores (Moule, por exemplo) tra- "aqui" (ou da terra) nas cartas de Pau-
duzem a frase para ensinamento ele- lo e João nem sempre indicam contras-
mentar, isto é, um ritualismo judeu ou tes espaciais, embora esse tipo de ex-
pagão que se coloca contra a liberdade pressão naturalmente esteja envolvendo
do espírito. No Calvário o cristão mor- uma referência a Cristo e aos céus. Os
reu com Cristo para a velha dispensa- termos expressam um contraste crucial
ção, e portanto ele não deve viver como no relacionamento temporal - a velha
se o mundo (kosmos) ou suas ordenan- dispensação e a nova. No ano 30 A.D.
ças ainda tivessem algum direito sobre a nova dispensação surgiu inesperada-
ele (cons. Rm.6). Submeter-se às coi- mente na história da ressurreição de
sas que se destroem é admitir que per- Cristo. Mas Cristo, em quem a nova dis-
tence à velha dispensação perecente, pensação atualmente inere, está em cima,
à mortal raça adâmica (cons. I Co. 15: enquanto o mundo continua nas pro-
45-50); e é uma negação da vida da nova fundezas da velha dispensação. Os cris-
dispensação à qual, no corpo ressusci- tãos atualmente existem "lá no alto",
tado de Cristo, o cristão foi incorporado. isto é, na nova dispensação, apenas "em
23. Aperfeiçoamento do caráter cris- Cristo" e através da habitação do Espí-
tão através de regras é a doutrina dos rito Santo neles. Mas sua existência co-
homens (cons. Cl. 2: 8). Embora a ob- munitária em Cristo não é menos real
servância de tabus dê ao homem a repu- que a sua existência individual. A cida-
tação de sabedoria espiritual e humil- dania de um cristão está na "Jerusalém
dade sacrificial, tais tabus na prática que é de cima" (Gl. 4: 26), e isto exige
"honram, não a Deus, mas ao orgulho do uma transformação contínua da sua
próprio homem" (tradução de Phillips). mente e vontade em relação a esta rea-
Phillips, provavelmente com razão, en- lidade. Conformar-se ao ritual, ao ce-
tende que sensualidade é "o velho ho- rimonial, aos "poderes" medianeiros da
mem", o homem em sua rebeldia do pe- velha dispensação é negar a vida comu-
cado, e não simplesmente um termo nitária ressurreta com Cristo.
sensual (cons. 2: 18). Em contraste, 4. No sentido de que Cristo ... é
disciplina do corpo (E.R.C.) deve ser lite- a nossa vida, um cristão "percebe" mes-
ralmente entendida como prática ascética. mo agora a consumação de sua união
3: 1-3. O cristão não só morreu com Cristo. Mas na parousia, isto é,
mas também ressuscitou com Cristo. quando Cristo vier novamente, o cristão
Em sua experiência real ele reside "nos estará com ele não meramente no sentido
lugares celestiais" (Ef. 2: 6). A velha comunitário, mas cheio de glória indivi-
dispensação ainda se manifesta no cris- dualmente (cons. Rm. 8: 18; 11 Co. 3:
tão individual - ele peca, fica doente, 18). Este é o aspecto "futurista" do en-
morre; a nova dispensação permanece sino escatológico de Paulo. Manifestar
oculta, apenas realizada no corpo do (faneroo), embora não seja tão comum
Salvador. Não obstante, no ano 30 D.C. quanto parousia, tem sido usado em di-
sua existência na velha dispensação mor- versas passagens para indicar o segundo
reu, crucificada com Cristo (cons. 11 Co. advento de Cristo (11 Ts. 2: 8; 11 Co.
5: 14; Gl. 2: 20). Isto exige que o cris- 5:10; ITm.6:14; IITm.4:1,8; cons.
tão busque (na inclinação de sua von- IPe.5:4; 110.2:28; 3:2).
tade) e dirija sua afeição (froneite, na
inclinação de sua mente) para a reali- IV. O Senhorio de Cristo na Vida do
dade da nova dispensação lá do alto Cristão. 3: 5 - 4: 6.
(cons. Rm.12: 1,2). "Lá do alto" e No padrão paulino (cons. Rm. 12: 1;
-215 -
COLOSSENSES 3: 4-10
Ef. 4: 1), uma transição do modo indi- mor de Deus (Hb. 10: 31; Tg. 4: 12;
cativo doutrinário para o imperativo Mt. 10: 28); e não deve ser compreendida
ético aparece agora. Não há, é claro, como uma emoção momentânea mas
uma absoluta dicotomia na seqüência como uma disposição assentada, um
doutrina-ética. Se Paulo diz alguma princípio de retribuição (Rm. 1: 18; 3: 5;
coisa nesta forma literária, é por que a 9: 22; cons. Jo. 3: 36; Hb. 3: 11), não
doutrina é a· base da ética: O que um diferente da de um governador terreno
homem crê determina substancialmente (Rm. 13: 4, 5; cons. Hb. 11: 27). Costu-
como ele age. ma ser associada ao dia do juízo (Rm.
2:5; ITs.1: 10). Longe de negar o
A. O Imperativo Cristão: Pôr em amor de Deus, Sua ira a confirma. Pois
Prática Individualmente a Realidade do sem justiça, a misericórdia perde seu
Viver "em Cristo". 3: 5-17. significado. (Cons. R. V. G. Tasker,
5. Membros ... sobre a terra (E.R.C.) The Biblical Doctrine of The Wrath of
provavelmente não se refere aos órgãos God.)
literalmente corporais usados para a imo- 7,8. Cons. 2: 6. Do vosso falar pode
ralidade (Moule; cons. I Co. 6: 15) mas se referir a todos os pecados relaciona-
às atitudes e ações corporais que expres- dos. O pecado expresso em palavras
sam "o velho homem" (Bruce ; cons. é contagioso, e o controle da expressão
Rm. 7: 23; 8: 13). Incluído nisto (como do pecado é um grande passo para a li-
também na fornicação) está o pecado da bertação.
avareza: desejo aquisitivo ou egoísmo. 9,10. Despistes (apekdysamenoi), refe-
Talvez, o moderno e materialista Cris- rindo-se ao momento da conversão,
tianismo, precise muito de um voto de transmite a idéia de desvestir, como
nada possuir e de uma oração para li- se fosse uma roupa, e de declarar uma
bertação das coisas e da ambição. (O sentença contra o velho homem, isto é,
pensamento é de A. W. Tozer.) Chamar a pela identificação com Cristo na Sua
avareza de idolatria não é forte demais morte (veja 2: 15). Neon (novo), ou, co-'
se percebermos que, quando nós dese- mo está em outra passagem, kainos (por
jamos fortemente possuir uma coisa, exemplo, Ef. 4: 24) interpreta-se pelo
ela passa na realidade a possuir parte que vem a seguir, que se refaz. Isto é,
de nós. a existência comunitária "em Cristo"
6. Ira. (orge; cons. TWNT, V, espe- está se desenvolvendo no cristão indi-
cialmente pág. 419-448) está freqüen- vidualmente (cons. 11 Co. 3: 18; veja In-
temente associada com indignação (thy- trodução). Assim, a imagem de Deus,
mos), quando ocasionalmente atribuídas que o primeiro Adão deixou de perce-
a Deus (Rm. 2: 8; cons. Ap. 16: 19; 19: ber, está para se cumprir nos filhos do
15). Para o homem, a ira não está proi- segundo Adão (cons, Gn. 1: 26; Hb.
bida de maneira absoluta, como na dou- 2:5 e segs.; Rm.8:29; ICo.15:45
trina dos estóicos da apatheia (veja Ef. e segs.). Isto significa que os crentes
4: 26; cons. I Co.14: 20; Jo. 2: 13- não vestem simplesmente os novos atri-
17; Tg. 1: 19,20). Não obstante, Paulo butos, mas passam por uma transforma-
não a descreve como característica do ção psicológica que, por ocasião da
"velho homem" (Ef. 4: 31 ; C1. 3: 8; .parousia de Cristo, isto é, Sua segunda
cons. Rm. 12: 19). vinda, serão vistos em seu caráter radi-
O conceito da ira de Deus não é res- cal e compreensivo (Rm. 12: 2; I Co.
quício de uma primitiva ideologia do 15: 53). Os cristãos, conforme expres-
V.T. A ira de Deus é a base para o te- sa a Epístola de Diogneto escrita no
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I I , I I 'I I I
COLOSSENSES 3: 10-17
segundo século, pertencem a uma "nova sinamentos, exerce uma influência trans-
raça". Conhecimento. Veja 1: 9. formadora na vida do crente.
11. Cita. O mais baixo tipo de es- Cristãos dos tempos passados tem
cravo bárbaro. Em Cristo todas as dis- dado o seu testemunho dizendo que
tinções são transcendentes; aos pés da "Cristo colocou uma canção em meu
cruz o chão é plano. Não é, entretanto, coração". E não é exagero dizer que
o nivelamento da moderna ética socia- cânticos têm ensinado mais teologia
lista, que apenas pode produzir a "nova aos novos convertidos do que os livros
classe" de Djilas. Não é uma uniformi- de texto. Na igreja paulina os pronun-
dade de status no presente mundo, mas ciamentos orais às vezes aconteciam na
uma mudança de atitude pela qual o forma de um hino (I Co. 14: 15), e al-
estigma de ser diferente desaparece por gumas passagens do N.T. refletem que
causa do amor. É "uma unidade na di- tiveram origem em um hino (cons. Fp. 2:
versidade, uma unidade que transcende 5-11; Ef. 5: 14; E. G. Selwyn, The First
as diferenças e as tarefas dentro delas, Epistle of Peter, pág.273 e segs.). Gra-
mas nunca uma unidade que ignora ou tidão. A graça de Deus (Lightfoot) ou
nega as diferenças ou que necessaria- a atitude grata do cristão (Moule).
mente as procure aniquilar" (E. E. Ellis, 17. Viver em nome do Senhor Jesus
"Segregation and the Kingdom of God", exclui a necessidade de regras; motiva-
Christianity Today, I, 12. Março 18, ção interior substitui normas externas.
1957, pág.8). Assim o apóstolo, que Assim o Senhorio de Cristo se expressa
declarou que em Cristo "não há macho no todo da vida. Seu Senhorio implica
nem fêmea" e "não há judeu nem gre- não apenas em um modo de conduta
go", ao mesmo tempo instruiu as mu- mas numa atitude para com a vida: re-
lheres a ficarem em silêncio nas igrejas fletindo conscientemente a vontade de
e observava ritos judeus que tinha proi- Cristo, as atitudes da pessoa se trans-
bido aos gentios (Gl. 3: 28; I Co. 11 : 3 formam em um ato de ação de graças
e segs.; 14: 34; Atos 16: 3; 18: 18; Rm. a Cristo. Regras externas, mesmo quan-
14; G1.5:2,3). Veja 3: 18 e segs. do boas, não são adequadas para todas
12-14. À Igreja, ao verdadeiro Israel, as situações: a "regra" do Cristo que ha-
pertencem os títulos dados ao Israel bita o crente é a única orientação su-
do VT: eleitos, santos, amados (cons. ficiente (cons. I Co. 10: 31; Gl. 5: 18).
Rm.2:29; 9:6; G1.3:29; 6:16; Fp.
3 : 3). As virtudes aqui relacionadas, B. Preceitos Especiais. 3: 18 - 4: 6.
que enfatizam o relacionamento dos A presente seção ilustra como os prin-
cristãos numa situação cheia de desin- cípios da "vida em Cristo" podem ser
teligência, refletem o caráter de Cristo, expressas nos negócios quotidianos. Além
cujo exemplo é citado (cons. 11 Co. 8: de ver aqui como funciona um lar cris-
9; Mt. 6: 12). A virtude que resume tu- tão, há quem veja também como era
do, dá significado e cimenta o resto é a primitiva sociedade cristã. A igreja
o amor (Rm. 13:9, 10). primitiva incluía pessoas ricas além
15,16. A paz de Cristo. Aquela paz do número muito maior de pobres, se-
que Cristo concede àqueles em união nhores e também escravos (3: 18 - 4:
com Ele (cons. Jo. 14: 27; Rm. 5: 1). 1). Além de destacar a natureza do lar
O domine é no sentido de arbitrar dife- cristão, Paulo dá atenção particular
renças que possam surgir no corpo (Bru- a importância central da oração (4:
ce). Semelhantemente, a palavra de Cris- 2-4) e ao relacionamento do cristão
to que habita no crente, isto é, seus en- com o não-cristão (4: 4 -6).
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COWSSENSES 3: 18-25
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I I I I
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COLOSSENSES 4: 1-16
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COWSSENSES 4: 17-18
17. A observação pessoal feita a Ar- não espirituais são sufocados, deforma-
quipo, que talvez fosse filho de Filemom dos e incumpridos.
(Fm.2), faz lembrar o desafio feito pe-
lo apóstolo a Timóteo (11 Tm. 1: 6). 18. Depois de ditar a carta, Paulo
No Senhor identifica o ministério de confirmou sua autenticidade, como era
Arquipo como um "dom espiritual" costume seu (cons. ICo.16:2l; Gl.
e não uma mera função de organização 6:11; IITs.3:17; Fm.19),comuma
(cons. Rm. 12: 6-8; I Co. 12: 5; Ef. saudação de próprio punho (cons. Deiss,
4: 12). A preocupação que Paulo enun- LAE, pág. 171, 172). Referindo-se às
cia está sempre presente na vida da suas algemas, Paulo lembra seus leitores
igreja: o perigo não está na falta de de que "aquele que sofre por amor de
dons espirituais mas por causa de dons Cristo tem o direito de falar em favor
espirituais que, devido a pecado pessoal, de Cristo" (Lightfoot). Com esta nota
pressões da organização ou influências comovente o apóstolo termina sua carta.
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I I I I I
'I I I
A PRIMEIRA EPÍSTOLA AOS TESSAWNICENSES
INTRODUÇÃO
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tas e com alguns conselhos práticos tornou-se audível. Ele se compara a
relativos às atitudes cristãs e dons es- uma meiga pajem (I Ts. 2: 7), a um pai
pirituais. severo (2: 11) e a um órfão sem lar (no
Importância. A data precoce destas grego de 2: 17). Ele se mostra dispos-
epístolas permite-nos dar uma olhada to a gastar e a ser gasto pela expansão
na estrutura não complicada da igreja do Evangelho. É Paulo, o homem,
primitiva. Não havia nenhuma organi- que se nos apresenta, meigo em sua for-
zação complexa; a cola que mantinha ça, amoroso em suas exortações, intré-
os crentes unidos era a fé comum, o pido em sua coragem, sincero em suas
amor e a esperança. Uma liderança não motivações - um homem (como Carl
oficial surgira dentro da igreja, mas Sandburg disse de Abraham Lincoln)
os cristãos sentiam-se desesperadamen- "de aço e veludo, duro como a rocha
te dependentes do círculo apostólico. e macio como o nevoeiro que se esvai".
Em poucos livros do Novo Testamento Os ensinamentos escatológicos des-
encontra-se mais forte testemunho desse tas cartas realçam sua importância. Em
poder do Evangelho que levou os pagãos nenhum outro lugar o apóstolo trata
a se aproximarem de Deus, afastando-os tão detalhadamente a seqüência dos
dos ídolos, manteve seu amor desperto acontecimentos da segunda vinda de
em meio às lutas, e os ancorou na espe- Cristo e o papel que os crentes vão de-
rança apesar dos incessantes assaltos sempenhar no advento. Mais ainda, só
da perseguição. em 11 Tessalonicenses 2 Paulo faz alu-
Nestas cartas Paulo revela a sua alma são à encarnação do mal que se apre-
mais do que o seu assunto. Aqui o pul- sentará como Deus no fim da história
sar do amoroso coração do apóstolo - o Anticristo.
ESBOÇO
I. Introdução. 1: 1.
A. Autor.
B. Destinatários.
C. Bênção.
11. Reflexões pessoais. 1: 2 - 3: 13.
A. Paulo elogia a igreja. 1: 2-10.
1. Pela recepção que deu ao Evangelho. 1: 2-5a.
2. Pelo testemunho que deu ao mundo. 1: 5b-IO.
B. Como Paulo organizou a igreja. 2:1-16.
1. Pureza dos motivos do apóstolo. 2: 1-6.
2. Extensão do sacrifício do apóstolo. 2: 7, 8.
3. Integridade da conduta do apóstolo. 2: 9-12.
4. Fidedignidade da mensagem do apóstolo. 2: 13.
5. Resultado da mensagem do apóstolo: perseguição. 2: 14-16.
C. Timóteo encoraja a igreja. 2: 17 - 3: 13.
1. A preocupação de Paulo. 2: 17 - 3: 5.
2. O bom relatório de Timóteo. 3: 6-10.
3. A oração de Paulo. 3: 11-13.
III. Exortações práticas. 4: 1 - 5: 22.
A. Abstenham-se da imoralidade. 4: 1-8.
B. Amem-se uns aos outros. 4: 9,10.
-222 -
I I , I I
'I I I
ITESSAWNICENSES 1: 1-3
COMENTÁRIO
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I TESSALONICENSES 1: 3-9
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I I I I 'I I I
I TESSALONICENSES 1: 9-10 - 2: 1-4
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I TESSALONICENSES 2: 5-12
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I I i I I
'I I I
I TESSALONICENSES 2: 12-17
epístola e a íntima ligação entre reino ordem das palavras em grego dão des-
e glória (ligados, em grego, por um taque aos dois nomes; cons. Atos 2:
artigo definido) indicam o aspecto 36); eles mataram ou perseguiram os
futuro (como em I Co. 6: 9; 15: 50; profetas (profetas pode ser aceito como
GI.5:21; IITs.I:5; IITm.4:1,18) o objeto de qualquer um dos verbos,
mais do que o presente (como em Rm. mas parece que de preferência ele se
14: 17; I Co. 4: 20; CI. 1: 13). Gló- liga mais com perseguido; cons. Mt.
ria e futuro (cons. Rrn. 5: 2; 8: 18), 5: 12); eles perseguiram ou expulsa-
referindo-se à plena revelação do cará- ram os apóstolos (nós). Talvez Paulo
ter majestoso de Deus. estivesse se lembrando da parábola de
4) A Integridade da Mensagem do Mc. 12: 1 e segs. Não agradam a Deus.
Apóstolo. 2: 13. Ação de graças se- Uma vigorosa declaração ~ignificando
melhante veja em I: 2. Duas palavras "desagradar". (Cons. I Ts. 3: 2). Ad-
foram traduzidas para recebido: a pri- versários de todos os homens. Opon-
meira (paralambano) significa aceitar do-se ao Evangelho os judeus trabalha-
formal e externamente; a última (de- vam contra o bem da humanidade, que
chamai), receber de boa vontade e in- precisa de salvação tão desesperadamen-
ternamente, dar boas vindas. A men- te. 16. Enchendo, etc., refere-se ao pro-
sagem do apóstolo era a palavra de pósito soberano de Deus que operou
Deus (repetida por causa da ênfase) nas vidas dos perseguidores judeus. Per-
não de homens. Compare com o des- severando em sua rejeição de Cristo e
taque dado a evangelho de Deus (2: 2, aumentando a sua oposição, eles amon-
8,9). A qual, com efeito está operando toaram pecado sobre pecado. As pa-
eficazmente em vós. O verbo provavel- lavras lembram Gn. 15: 16. Especial-
mente deveria ser entendido na voz mente pertinentes são as palavras de
passiva - posto a operar. Deus é a Cristo em Mt. 23:31,32. Ira. Veja no-
fonte do poder; a palavra é o seu ins- ta sobre I Ts. 1: 10. Sobreveio enfatiza
trumento (cons. Rm. 1: 16; Hb. 4: 12; a totalidade e certeza do juízo. A ira
Tg. 1: 21; I Pe. 1: 23). para eles era inescapável. (Cons. Rm.
5) O Resultado da Mensagem do 1: 24, 26, 28).
Apóstolo: Perseguição. 2: 14-16. 14. C. Timóteo Encoraja a Igreja. 2: 17
Imitadores, como em 1: 6. As igrejas - 3: 13. Paulo explica sua ausência
de Deus estavam geograficamente na involuntária e os motivos da missão
Judéia e espiritualmente em Jesus Cris- de Timóteo. Grato pelo relatório de
to. A imitação consistia em eles sofre- Timóteo, ele ora a Deus que faça a igre-
rem o mesmo (as mesmas cousas) de ja continuar florescendo.
seus vizinhos como os judeus cristãos
sofriam dos seus. vizinhos. Patrícios 1) A Preocupação de Paulo. 2: 17 -
(membros da mesma tribo) foi usado 3: 5. 17. Orfanados por breve tempo
aqui mais no sentido local do que no de vossa presença. Literalmente, órfão,
sentido étnico; provavelmente pagãos destituído, refletindo o laço amoroso
e judeus perseguiram a igreja em Tes- que existia entre Paulo e a igreja. Com-
salônica. pare com 11 Co. 11: 28, onde o escri-
15. Paulo culpa seus patrícios com tor enumera entre suas preocupações
um vigor incomum em suas cartas; eles a preocupação com todas as igrejas.
mataram Aquele que era o Senhor, Com tanto mais empenho diligencia-
soberano da criação e da história, e Je- mos e com grande desejo são fortes
sus, o Salvador humano, seu igual (a tentativas de Paulo de dar a entender
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I TESSALONICENSES 2: 17-20 - 3: 1-4
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I I , I I
'I I I
I TESSALONICENSES 3: 4-12
tor de Cristo (Atos 17: 3). A igreja nas- em Filipos, Tessalônica e Beréia fora
ceu do sofrimento (Atos 17: 6). Paulo seguida de solidão e indiferença em
trazia as marcas do vergonhoso trata- Atenas (3: 1; Atos 17: 32-34). Em
mento que lhe impuzeram em Filipos Corinto recebera uma oposição tão
quando evangelizou os tessalonicenses. obstinada que precisou ser divinamen-
Por isso, o sofrimento não devia apa- te confortado (Atos 18: 6-10). Não
nhá-los de surpresa. Predissemos. O foi por menos que fala de aflição (E.R.C.)
tempo imperfeito indica que Paulo os (pressões asfixiantes) e tribulação (so-
lembrava repetidamente. frimento sobre-humano. 8. Vivemos.
5. Compare 3: 1. Indagar. Desco- Nova vitalidade entrara no seu corpo
brir. Fé. Veja observação sobre 3: 2. descaído por causa das boas novas sobre
Tentador mostra o aspecto sedutor da a fé dos tessalonicenses e o sustentou
obra de Satanás. O diabo tentou usar enquanto escrevia (agora). Isto dimi-
as dificuldades físicas de Cristo para nuiria, entretanto, de intensidade se os
derrotá-lO espiritualmente (Mt. 4: 3), e crentes tessalonicenses não permaneces-
ele fazia o mesmo com os tessalonicen- sem firmados no seu relacionamento
ses. O verbo provasse está no indicativo com o Senhor. A forma verbal parece
aoristo e mostra que o tentador já está indicar que Paulo esperava confiante-
operando, enquanto o verbo ser está mente que permanecessem firmes.
no subjuntivo, jogando dúvidas sobre 9. Paulo não se atribuía o mérito
o sucesso de Satanás. pela ortodoxia ou crescimento da igreja.
2) O Bom Relatório de Timóteo. Fora Deus que dera o crescimento (I Co.
3: 6-10. Depois de recapitular a an- 3: 7). Ele não se sentia vaidoso mas
gústia que a igreja tinha passado, Paulo grato (cons. I Ts. 1: 2 e segs.; 2: 13 e
expressa seu completo alívio diante da segs.), regozijando-se (cons. 5: 18) dian-
chegada de Timóteo. te do nosso Deus, por ter Ele tomado
6. Agora, porém, com o regresso possível essa alegria. 10. As notícias
expõe o contraste entre a passada preo- que Timóteo trouxe aliviaram a preocu-
cupação de Paulo e sua atual confiança, pação de Paulo mas não diminuíram o
e indica que Timóteo acabou de chegar desejo de vê-los (cons. 2: 17, 18; 3: 6),
(cons. Atos 18: 5). Boas notícias. A um desejo provocado pelos fortes laços
raiz grega significa "evangelizar" e su- emocionais (vos ver pessoalmente) e pe-
gere que o relatório de Timóteo foi la necessidade de preencher as lacunas
virtualmente um "evangelho" para a na fé deles. Reparar as deficiências
alma ansiosa de Paulo. As boas novas (katartizo) significa preparar uma coisa
eram três: 1) a fé estava firme - fora a para o seu uso pleno e próprio.
principal preocupação de Paulo (I Ts. 3) A Oração de Paulo. 3: 11-13. 11.
3: 5, 7); 2) o amor era constante - ape- O mesmo. O destino de Paulo estava
sar das provações que poderiam ter controlado por Deus. O título comple-
desgastado a disposição deles; 3) a to de Cristo acentua a Sua majestade.
lembrança que tinham dos apóstolos Ele está intimamente associado a Deus
era sempre boa - apesar da reprovação como o recipiente da oração e como o
e perseguição que a visita dos evange- co-sujeito do verbo dirijam, a forma sin-
listas produzira. gular do qual (kateuthynai) junge os
7. Consolados, isto é, encorajados dois sujeitos Deus e Jesus intimamen-
(cons. 3: 2). O quinhão de Paulo não te.
fora fácil, mesmo enquanto aguardava 12. O Senhor, isto é, Cristo. Faça
notícias da Macedônia. A perseguição crescer ... no amor. Cons. Fp. 1: 9. O
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I TESSALONICENSES 3: 12-13 - 4: 1-3
amor tem a capacidade de crescer inde- toral nem à sua preocupação paternal
finidamente. Ele aumenta de intensi- se não aproveitasse cada oportunidade
dade para com um indivíduo e expande- para dar instrução espiritual. Para cum-
-se para abraçar os outros. O amor cris- prir a lei do amor ele tinha de dizer
tão é em primeiro lugar dirigido aos coisas indispensáveis. O relatório de
crentes (uns para com os outros) e de- Timóteo foi principalmente encoraja-
pois estende-se como o amor de Deus dor, mas sem dúvida incluía certas per-
para com todos. Este amor só pode guntas que Paulo apressou-se a esclare-
ser produzido pelo Espírito de Deus cer.
(CI. 1: 8; Gl. 5: 22). Mais do que sen-
timentalismo ou sentimentos afetuosos. A. Abstenha-se da Imoralidade. 4: 1-8.
O amor cristão é o desejo altruísta de Nenhuma tentação enfrentada pela igreja
proporcionar o bem-estar total dos primitiva era mais vexativa do que a da
outros. Como também o fazemos. O imoralidade. A proclamação do Con-
amor de Deus já se refletira nas palavras cilio de Jerusalém alistou a fornicação
e atos de bondade do apóstolo. entre as proibições cerimoniais feitas
13. Observe a conexão entre amor aos crentes gentios, tão amplamente
e santidade. Se o amor é a lei cristã aceita era esta prática entre os pagãos
(GI. 5: 14), então a santidade (separa- (Atos 15: 29). Paulo apresenta suas
ção para Deus) pode ser medida prin- razões da maneira mais vigorosa pos-
cipalmente pelo amor. O egoísmo cor- sível fundamentando a moralidade na
rompe esta santidade; por isso Paulo vontade e vocação de Deus e na nature-
ora no sentido dos tessalonicenses po- za do Espírito Santo que habita os cren-
derem viver em amor e serem imacu- tes.
lados (isentos de culpa) na santidade 1. Finalmente. A palavra marca uma
transição importante no assunto e suge-
diante da presença de nosso Deus, O
qual, sendo completamente santo, é o re que a conclusão da carta se aproxima.
único juiz adequado para a santidade. Vos rogamos. Pedimos. Exortamos é
Deus julga não como um crítico brutal, forte (cons. 2: 11 e 3: 2). Andar igua-
mas como Pai amoroso. O tempo do la-se a viver, como em 2: 12. A essência
acerto de contas é a vinda (parousia; da ordem de Paulo é que os tessaloni-
cons. I Ts. 2: 19) de Cristo. Santos, censes deviam continuar fazendo o que
literalmente. Provavelmente inclui os faziam, mas mais intensamente. Pro-
santos anjos e também os crentes mortos gredindo. Veja 3: 12 e 4: 10, "crescer",
revestidos de corpos "não feitos por com referência a outros usos de peris-
mãos" (11 Co. 5: 1), a espera da ressur- seuo. 2. O ministério de Paulo incluía
reição de seus corpos terrestres. Em re- instruções éticas como também evange-
lação a outras figuras pitorescas da vin- lismo. Instruções (ordens militares)
da de Cristo com todo o seu séquito que estavam selados com a autoridade
celestial veja (Mt. 24: 30, 31 e Ap. 19: de Jesus que é o Senhor, o exaltado so-
11-14). Os antecedentes no V.T. se en- berano de toda a vida.
contram em Zc. 14: 5. De acordo com 3. Depois de uma palavra geral de
Ap. 19-20 esta gloriosa vinda prepara estímulo, na qual ele também estabele-
o caminho para o reino milenial. ce sua autoridade, o apóstolo ataca o
problema que tem âfrente - prosti-
m. Exortações Práticas. 4: 1 - 5: 22. tuição. Ele começa positivamente: Deus
ordena e capacita a vossa santificação.
Paulo não seria fiel à sua vocação pas- Em contraste com 3: 13, onde a santi-
-230 -
I I I I 'I I I
I TESSALONICENSES 4: 3-8
dade (hagiosyne) foi considerada como guém se aproveite do seu irmão. Não
um estado, aqui a santificação (hagias- apenas seu irmão em Cristo mas seu pró-
mos) é considerada um processo - o ximo também. Esta matéria. No negó-
ato de ser santificado, separado para o cio ou neste negócio. O artigo definido
serviço de Deus. Que vos abstenhais. no grego liga esta declaração com o su-
Mantenham-se completamente separados jeito deste parágrafo - pureza sexual.
da. 4. Amplificação de abstenhais, etc. Neste versículo Paulo dá uma ilustração
O significado de vaso (E.R.C.) é difícil prática tanto da lei do amor quanto da
de entender. Muitos comentadores e conexão existente entre o amor e a san-
tradutores (Moffatt, por exemplo) inter- tidade que foi destacada em 3: 12, 13.
pretam vaso (E.R.C.) como "esposa", O dia do juízo lança sua extensa som-
apelando para certo costume judeu, bra sobre toda a vida. O Senhor ... é
de acordo com o qual uma esposa é o vingador, que providenciará que toda
comparada a um vaso. Milligan, Mor- a justiça seja feita.
ris, Phillips, e outros entendem que vaso 7. A ênfase está sobre chamou (cons.
(E.R.C.) é "corpo", segundo a analogia 2: 12). A salvação tem propósito, e a
de II Co. 4: 7. Esta tradução parece a impureza, poluição moral, não é o seu
preferível porque evita o baixo concei- propósito. Paulo aqui reitera o pensa-
to do papel da mulher no casamento, mento de 4: 3. A vontade de Deus es-
implícito na primeira interpretação. Se tabelece que o crente deveria viver em
vaso significa "corpo", ktasthai pode santificação (hagiasmos). Este é o pro-
significar possuir (como a E.R.A e cer- cesso (cons. 4: 3) mais do que o estado
tos papiros dão) mais do que o freqüen- de estar santificado (cons. 3: 13). 8. Re-
te adquirir. jeita (desprezar, tratar como indigno)
5. A santificação e a honra com a a ordem de buscar a pureza é infringir
qual o crente se controla contrasta di- uma lei divina; pois Deus colocou o Es-
retamente com a lascívia, etc. Em I Co. pírito Santo dentro do crente para fa-
7: 2, 3, 9 Paulo mostra que o casamento zê-lo santo. A ênfase está sobre santo:
dá oportunidade ao controle das paixões "Não foi por nada que o Espírito que
e não a sua vazão desenfreada. Desejo Deus nos deu é chamado de Espírito
de lascívia. Implica no desejo proposi- Santo" (Phillips). Aqueles a quem Ele
tado de se entregar aos baixos instin- habita são convocados a refletir a Sua
tos sexuais. A definição de gentios fei- santidade. Que nos deu (E.R.C.) de-
ta por Paulo é clássica - que não conhe- veria ser que ... vos dá (E.R.A.), de
cem a Deus. Não é um autocontrole acordo com os melhores manuscritos.
superior que separa o cristão do pagão, A declaração é claramente pessoal.
mas uma amizade íntima com Deus
B. Amem-se Uns aos Outros. 4: 9,
(cons. SI. 79: 6; Jr. 10: 25). Oséias e
Jeremias, ambos destacam a essenciali- 10. Uma segunda tentação acossava
dade do conhecimento de Deus (Os. a igreja primitiva - partidarismo e rixas
mesquinhas. A situação em Corinto
4': 6; 6: 6; Jr. 4: 22), envolvendo amor
exemplifica a luta dos crentes primiti-
e obediência. É a essência da salvação
(10.17:3). vos contra seu ambiente pagão (I Co.
3: 1 e segs.). O cristianismo brotou em
6. O significado social da castidade. uma terra e cultura onde os laços tri-
Ninguém ofenda nem defraude, isto é, bais eram fortes e a sociedade era mais
ninguém ultrapasse os limites de decên- comunitária que individualista. O mes-
cia humana e regulamentos sociais. Nin- mo não acontecia com a cultura gre-
- 231-
I TESSALONICENSES 4: 8-13
co-romana; por isso a constante ênfase o homem pode executar as mais servis
que Paulo dá ao amor. tarefas tendo consciência que está em
9. Amor fraternal (philadelphia) é o contato com o trabalho manual de
amor tribal, o amor entre os membros Deus; conseqüentemente, pode execu-
de uma família, Para os crentes primi- tá-las para a glória de Deus.
tivos, aceitar Cristo muitas vezes signifi- 12. O propósito duplo do trabalho
cava cortar laços familiares. Mas os diligente: viver apropriada e decorosa-
cristãos se ligavam a uma nova famflia, mente (dignidade) diante dos não-cris-
pois passavam a ser filhos de Deus, e tãos (para com os de fora, aqueles que
irmãos de todos os crentes. Por Deus estão fora dos limites da salvação); des-
instruídos. Pelo exemplo bondoso de frutar da liberdade que a independên-
Deus (10.3: 16) e pelo Espírito, que cia financeira pessoal concede. Sua di-
derrama o amor de Deus em nossos co- ligência realçaria seu testemunho junto
rações (Rm.5:5). 10. Os extensivos aos de fora; sua "honrada independên-
(todos os irmãos por toda Macedônia) cia" (Phillips) ajudá-los-ia a cumprir a
atos de amor (cons. 1: 3) dos tessalo- lei do amor, não vivendo às custas de
nicenses eram prova de que tinham a- outros crentes.
prendido bem a lição do amor de Deus.
Mas não havia lugar para a complacên- D. Confortem-se Mutuamente com a
cia. Paulo insiste com ternura (irmãos) Esperança da Segunda Vinda. 4: 13-18.
a que aumentem cada vez mais o seu Entre os problemas trazidos por Timóteo
amor (cons. 3: 12; 4: 9,10). que despertaram a atenção de Paulo
estava o papel dos crentes mortos no
C. Cuidem de Seus Próprios Negó- segundo advento de Cristo. Nos co-
cios. 4: 11, 12. Esta seção deveria ser mentários de Paulo, a ênfase parece
intimamente ligada com a anterior, ter sido sobre a iminência da volta. Mas
pois diligência altruísta é uma mani- a perseguição e as aflições ao que parece
festação do amor fratemal cristão. ceifaram algumas vidas. O que seria
11. Diligenciardes. Philotimeomai o- desses? Os mortos seriam privados de
riginalmente significa ser ambicioso. mas participar desse Grande Evento? Pelo
no N.T. (cons. Rm.15:20; IICo.5:9) contrário, diz Paulo, eles participarão
significa "lutar avidamente", "aspirar". plenamente das glórias daquele dia. A
A cláusula é pitoresca: lutai avidamente morte e ressurreição de Cristo são a ga-
para viverdes quietos. Deviam lutar rantia disso. Essas confortadoras pala-
por mais dois alvos: cuidar, etc. (cui- vras de Paulo não tinham a intenção de
dar de sua própria vida) e trabalhar, dar um quadro sistemático dos últimos
etc. Ao que parece alguns crentes eram acontecimentos, mas foram provocadas
intrometidos e preguiçosos. A esperan- pelo problema imediato.
ça da iminente Segunda Vinda trans- 13. Não queremos, etc. Compare
formara-se em desculpa para a ociosi- com Rm.l: 13; 11: 25; I Co. 10: 1; 12:
dade (cons. 11 Ts. 3: 11). Os gregos des- 1; 11 Co. 1: 8, onde, como aqui, a decla-
prezavam o trabalho manual, e Paulo ração introduz um novo e importante
ensinara aos tessalonicenses por pala- assunto. Em cada exemplo usou-se o
vra (o Senhor fora carpinteiro) e por vocativo irmãos para acrescentar uma
exemplo (o apóstolo era fazedor de nota de ternura. Dormem. Estar "mor-
tendas) que a doutrina cristã da criação to em Cristo" (4: 16) é estar dormindo,
implica na doutrina cristã da vocação: pois Cristo com a Sua morte e ressurrei-
Deus fez todas as coisas boas; portanto, ção (4: 14) arrancou o aguilhão da morte.
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I I I I ,
'I I I
I TESSAWNlCENSES 4: 13-17
Nenhuma alusão ao "sono das almas" essa possibilidade (cons. I Co. 15: 51 e
está envolvido. Paulo tinha em mente segs.). De modo algum precederemos.
os corpos dos crentes mortos. Os demais, De modo nenhum não iremos primeiro.
os que estão fora de Cristo (cons. 4: 12). 16. O fato muito importante é que
Não têm esperança. Este poderia muito o Segundo Advento centraliza-se na ati-
bem ser o epitáfio dos incrédulos. Espe- vidade do Senhor mesmo. As frases
rança refere-se à Segunda Vinda, com concisas desenvolvem o seguinte drama:
todas as bênçãos inerentes. Tristeza e 1) com alarido (E.R.C.), uma convoca-
solidão são os companheiros inescapá- ção como a de um oficial aos seus sol-
veis da morte, mas dor amarga e deses- dados, provavelmente dada pelo Senhor;
pero não tinham lugar nas emoções 2) ouvida a voz do arcanjo, pode ser
de um crente enlutado, porque ele sabe uma explicação do alarido; tanto voz
de antemão o capítulo final do enredo como arcanjo são indefinidos no grego,
da história. e a idéia é provavelmente de uma voz
14. Se cremos. "E nós realmente como a de um arcanjo, conforme sugere
cremos" é a idéia transmitida pela cons- Milligan; 3) ressoada a trombeta de
trução grega. Jesus morreu. "Dormiu" Deus, uma trombeta dedicada ao ser-
não vai bem aqui. Cristo tomou o cá- viço de Deus (Milligan); em I Co. 15:
lice da morte até o fim para que pudes- 52 Paulo menciona duas vezes uma trom-
se triunfar sobre ela (Hb. 2: 14, 15). beta em conexão com a Segunda Vinda
E ressuscitou. Seu triunfo assegura o (cons. Joel2: 1; Is. 27: 13; Zc. 9: 14
nosso (cons. I Ts. 1: 10). Deus aqui no V.T.). Estas três frases transmitem
é enfático. Ele que ressuscitou Jesus o esplendor da cena e a majestosa auto-
é o Avalista e Agente de nossa ressur- ridade do Senhor. Os mortos em Cris-
reição. Os que dormem são os que dor- to. Os corpos dos crentes mortos. Pri-
mem por causade Jesus, pois a idéia é que meiro. Os crentes mortos precederão
através dEle a morte transformou-se em os vivos.
sono. Em sua companhia. Paulo res- 17. Nós os vivos, os que ficarmos.
ponde a pergunta principal: Os crentes Veja 4: 15. Seremos arrebatados. Leva-
mortos não perderão a parousia; Deus dos para cima súbita e poderosamente.
providenciará que acompanhem Cristo Juntamente com eles. Os membros do
na Sua volta triunfal (3: 13). corpo de Cristo serão reunidos uns com
15. Por palavra, etc., dá autoridade os outros e à Sua magna Cabeça. Entre
às declarações de Paulo (cons. I Co. 7: nuvens aumenta o mistério e o drama
10). A fonte da palavra não é certa. do acontecimento (cons. Mt. 24: 30;Atos
Entre as possíveis: 1) Mt. 24: 30,31 e 1: 9; Ap. 1: 7). Nos ares. A preemi-
passagens paralelas; 2) algum pronun- nência absoluta de Cristo está subli-
ciamento de Cristo que não foi registra- nhada pelo uso que faz da habitação dos
do (cons. Atos 20: 35); 3) uma revela- espíritos do mal (Ef. 2: 2; 6: 12) para
ção especial do Senhor (cons. 11 Co. este encontro. Com o Senhor. O cen-
12:1; G1.1:12,16; 2:2). Nós os vi- tro da passagem - comunhão sem fim
vos. Paulo destaca freqüentemente a com Cristo. Onde? Todo o séquito su-
iminência da volta de Cristo (I Co. 7: birá ao céu ou voltará à terra? Qualquer
29; Fp. 4: 5). Como todos os crentes, resposta dada dependerá da total inter-
ele esperava viver para participar do pretação da escatologia do N.T. que for
acontecimento (I Co. 16: 22; Ap. 22: adotada. Os pré-tribulacionistas situam
20). Sem declarar que Cristo viria du- a ascensão com a subseqüente volta à
rante a sua vida, parece que ele aceitava terra. Os pós-tribu1acionistas defendem
-233 -
I TESSALONICENSES 4: 18 - 5: 1-5
que a descida à terra se seguirá a esta 14 e segs. O dia é o tempo da justa in-
reunião. tervenção de Deus na história, quando
18. Para uma igreja que lutava por Ele cobrará a justa dívida da humanida-
manter-se dentro de uma sociedade que, de. Em II Ts. 2: 2 e segs. esse dia está
na melhor das hipóteses, era incauta, relacionado com a grande apostasia e a
e na pior, hostil, estas palavras eram revelação do Anticristo, isto é, o perío-
realmente confortadoras. Devemos notar do da Tribulação. Ladrão, etc. faz lem-
que Paulo não discute aqui a relação do brar Mt.24:43 e Lc.12:39. A figura
Arrebatamento com a Tribulação. descreve a qualidade inesperada do acon-
tecimento.
E. Vivam como Filhos do Dia. 5: 1-11. 3. O fato de pois não se encontrar nos
A discussão dos participantes da parou- melhores manuscritos indica que este
sia leva a perguntas sobre o tempo e os versículo deve ser intimamente ligado
sinais da parousia. Em resposta Paulo ao precedente. (Eles) andarem dizendo,
alerta os crentes a estarem constante- isto é, os incrédulos. Paz e segurança
mente preparados. Vigilância e sobrie- faz vir à mente passagens do V.T. tais
dade são as atitudes próprias, enquanto como Amós 5: 18, 19; Mq. 3: 5-11; Ez.
a fé, o amor e a esperança são o arsenal 13: 10, as quais descrevem um falso
do cristão. sentimento de paz e segurança. Des-
1. Paulo sem dúvida transmitiu pes- truição. Ser objeto da justa ira de Deus
soahnente estas importantes palavras é ser completa e irremediavehnente des-
de Cristo aos tessalonicenses: "Mas aque- truído, talvez pela separação de Deus
le dia e hora ninguém sabe ... " (Me, (lI Ts. 1: 9). Como vem a dor do parto.
13: 32, 33). Nada necessita ou precisa Esta comparação é freqüente no V.T.
ser dito sobre o tempo da Segunda Vin- (Is. 13: 8; Os. 13: 13; Jr. 4: 31) e nos
da. Tempos (kronon, período de tempo) Evangelhos (Mt. 24: 8; Mc. 13: 8). Não
significa os períodos cronológicos que é dor, mas a subitaneidade e inexora-
vão se passar antes da Segunda Vinda; bilidade do dia que Paulo está desta-
enquanto épocas (kairon, tipo ou quali- cando. Uma vez começado o trabalho
dade de tempo) refere-se aos aconteci- de parto, não há meios de fazê-lo parar.
mentos significativos, as ricas oportu- 4. Mas, vós, irmãos, enfatiza o forte
nidades que transpiram durante essas contraste entre os crentes e os incré-
épocas (cons. Atos 1: 7). dulos. Trevas é mais do que ignorância;
2. Vós mesmos estais inteirados com é a separação moral e espiritual do in-
precisão. Paulo cuidadosamente infor- crédulo de Deus (cons. Jo. 3: 19,20;
mara os crentes que preparo constante lICo.6:l4; Ef.5:8; C1.1:l2,13).
era obrigação do cristão. O dia do Se- 5. Tendo declarado o que os crentes não
nhor deve ser visto em comparação com são, Paulo volta-se para o que eles são,
o seu antecedente do V.T. O termo era e acrescenta todos para tornar a decla-
corrente em Israel antes do período de ração mais inclusiva. Ser filho da luz
Amós, mas era aplicado apenas ao juízo é ser caracterizado pela luz. Lucas 16:
de Deus contra os gentios. Numa passa- 8 e Ef. 5: 8 contém exemplos desta ex-
gem pitoresca, não diferente de I Ts. pressão idiomática semita. Deus, a fonte
5: 2-4, Amós corrige esta interpretação da luz, é chamado de "o Pai das luzes"
errônea, fazendo ver que um Deus justo (Tg. 1: 17). Filhos do dia, além de tor-
julga o pecado onde quer que o encontre nar a enfatizar a frase precedente, faz
- até mesmo em Israel (Amós 5: 18-20). também lembrar o dia do Senhor. Os
Cons. J 0011: 15; 2: 1, 2, 31 , 32; Sf. 1: crentes são filhos desse dia porque par-
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fatizado ou desprezado. A tarefa do vras são usadas para indicar o ser com-
profeta é contar o que Deus lhe disse, pleto, "seja o lado imortal, pessoal
inclusive o que vai acontecer. Com re- ou físico" de uma pessoa (Milligan).
ferência ao ministério profético no N.T., Paulo ora para que sejam conservados
veja ICo.12:28 e Ef.2:20; 3:5; 4: 11. (guardados) do juízo à vinda de Cristo.
21. Julgai todas as cousas refere-se 24. Fiel é o que só pode se referir a
em primeiro lugar aos pronunciamen- Deus (cons. 1 Co.1:9;. 10: 13; 11 Co.
tos que pretendem ser profecias. Não 1: 18; 11 Ts. 3: 3; 11 Tm. 2: 13; Hb.
devem ser aceitas com credulidade mas 10: 23; 11: 11). A única garantia que
devem ser testadas por revelações mais qualquer crente terá de um relatório
objetivas e especialmente pelas pedras-de- digno no juízo fma1 é a fidelidade divi-
-toque do Senhorio de Cristo (I Co. 12: 3) na. Sua chamada carrega em si o com-
e da encarnação (I Jo. 4: 1-3). Que é bom, plemento bem sucedido dos seus pro-
isto é, coisa genuína, não falsificada. pósitos (Rm. 8: 30; Fp. 1: 6).
22. A ordem negativa de Paulo é
esta na realidade: Abstenham-se de toda B. Pedido de Oração. 5: 25.
espécie de mal. Eidos (forma) foi fre- Um meigo pedido revelando que
qüentemente usado nos papiros no pe- Paulo dependia dos seus irmãos em Cris-
ríodo greco-romano para indicar "clas- to (cons. Rm. 15: 30; Ef. 6: 19; C1.
se", "sorte", "tipo". Tem-se observado 4: 3 e segs.; 11 Ts. 3: 1 e segs.
muitas vezes que, enquanto "o bem" C. Saudação Final. 5: 26.
no versículo 21 está no singular, o mal, Uma conclusão adequada para uma
segundo o texto, tem muitas e diferentes carta cheia de expressões de afeição.
formas. O fraseado lembra Jó 1: 1,8; Paulo inclui todos os irmãos, até mes-
2:3. mo aqueles que causaram problemas.
Ósculo santo. Seu caráter era com-
IV. Conclusão. 5: 23-28. pletamente divorciado do aspecto sen-
sual. Uma pura prova de profunda
A. Oração Final. 5: 23,24. Paulo emoção de amor cristão, esse tipo de
envolve todas as suas exortações em beijo permaneceu um costume cris-
uma oração pela santificação, e asse- tão até que o abuso e a má interpre-
gura os crentes que um Deus fiel aten- tação dos pagãos levou a sua prática
dê-la-á. ao fim. Para outras referências do N.T.
23. O mesmo Deus da paz é o pró- ao ósculo santo, veja Rm. 16: 16; 1 Co.
prio Deus, único concessor da paz, um 16: 20; 11 Co.13: 12; também 1 Pe. 5:
título divino caracteristicamente pauli-
14 ("beijo de amor").
no (cons. Rm. 15: 33; 16: 20; 11 Co.
13: 11; Fp. 4: 9; 11 Ts. 3: 16). Embo- D. Ordem para Leitura da Carta. 5:
ra a submissão e obediência humanas 27.
sejám necessárias, a santificação é uma (Eu) Conjuro-vos. Eu lhes suplico,
operação essencialmente divina (cons. sob juramento. Paulo queria certifi-
Rm.15: 16; Ef. 5: 26). Tudo (holo- car-se de que a carta seria lida diante
teleis) implica que nenhuma parte está de todos os irmãos (santos não se en-
faltando; o todo da pessoa deve ser con- contra nos melhores manuscritos). A
servado irrepreensível. Espírito, alma, linguagem é firme, e muda do eu para
e corpo não deveria provavelmente ser nós, reforçando a ordem. Paulo talvez
interpretado como uma análise final antecipasse algum faccionismo que po-
da natureza do homem. As três pala- deria usar fraudulentamente a sua carta
-237 -
I TESSALONICENSES 5: 27-28
(cons. 11 rs. 2: 2). Mas parece mais contínuo favor de Cristo. Observe que
provável que a sua urgente necessida- o apóstolo enfatiza a majestade de Cris-
de de comunhão forçou-o a certificar-se to, mencionando seu título completo
de que ninguém ficaria de fora. - Senhor Jesus Cristo. O amém (E.R.C.)
e a subscrição mencionando Atenas
E. Bênção. 5: 28. como se fosse o local onde escreveu a
Paulo termina como começou - com carta, foram omitidos nos melhores
uma oração invocando a graça, isto é, o manuscritos.
-238-
I i i I I 'I I I
A SEGUNDA EPISTOLA AOS TESSAWNICENSES
INTRODUçAO
ESBOÇO
I. Introdução. I: 1,2.
A. Autores, 1: la.
B. Destinatários. 1: 1b.
C. Bênção. 1: 2.
11. Encorajamento na perseguição. 1: 3-12.
A. Elogio pela constância. 1: 3, 4.
B. Explicação dos propósitos da perseguição. 1: 5-10.
C. Intercessão por um contínuo crescimento espiritual. 1: 11, 12.
Ill. Instruções quanto ao Dia do Senhor. 2: 1-12.
A. Por vir no futuro. 2: 1,2.
B. Será precedido por sinais definidos. 2: 3-12.
IV. Ação de graças e exortações. 2: 13-17.
A. Louvor pela chamada deles. 2: 13-15.
B. Oração por conforto e estabilidade para eles. 2: 16, 17.
V. Declaração de confiança. 3: 1-5.
A. Pedido de oração. 3: 1,2.
B. Lembrete da fidelidade divina. 3: 3-5.
VI. Ordem para trabalhar. 3: 6-15.
A. Esquivem-se dos ociosos. 3: 6.
-239 -
11 TESSAWNICENSES 1: 1-5
B. Imitem-nos. 3: 7-9.
C. Trabalhem ou não comam. 3: 10.
D. Exortem os ociosos. 3: 11-13.
E. Advirtam e disciplinem os desobedientes. 3: 14, 1S.
VII. Conclusão. 3: 16-18.
A. Bênção. 3: 16.
B. Assinatura de Paulo. 3: 17.
C. Bênção Apostólica. 3: 18.
COMENTÁRIO
-240 -
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11 TESSAWNICENSES 1: 5-11
para que sejais considerados dignos. antes, ruína total, a perda de tudo o que
"Faz parte do reto juízo de Deus usar tem valor. Especificamente, é a sepa-
as tribulações para aperfeiçoamento do ração da presença (face) do Senhor, a
Seu próprio povo" (Morris). Reino. Ve- verdadeira fonte de todas as coisas
ja observação em I Ts. 2: 12. Pelo qual, boas. As descrições que o Novo Tes-
isto é, por causa do qual. Cons. As bea- tamento faz dos sofrimentos do infer-
titudes de Cristo em Mt. 5: 10-12. 6. O no são numerosas: "fornalha de fogo"
juízo final trará uma justa inversão das (Mt. 13: 42); "lago de fogo e enxofre"
atuais circunstâncias: os perseguidores (Ap. 20: 10); "trevas exteriores" (Mt.
serão os perseguidos, enquanto suas ví- 25: 30), etc. Mas nenhuma é mais des-
timas descansarão. Se de fato, isto é, critiva que esta figura de exclusão com-
uma vez que realmente. É justo. A jus- pleta e eterna da presença dAquele que
tiça de Deus seria prejudicada se esse é vida, luz e amor. Da glória do seu
tipo de oposição maligna tivesse per- poder. A "visível manifestação da gran-
missão de florescer permanentemente. deza de Deus" (Morris).
Atribulam, isto é, atormentam. 10. Quando (hotan) é indefinido.
7. Alívio. Um abrandamento das Nos seus santos. Os crentes são a es-
tensões. Conosco, os apóstolos que fera na qual Cristo será glorificado
não desconhecem a tribulação nem o quando vier. "Ele será glorificado neles,
desejo do alívio. Quando ... se mani- exatamente como o sol é refletido em
festar (cons. I Co. 1: 7 e especialmen- um espelho" (Alf). Este é o ponto cul-
te Lc. 17: 30). Anjos do seu poder é, minante de um processo já começado
literalmente, como está. Isto é, anjos (10. 17: 10; 11 Co. 3: 18). E ser admi-
que são símbolos e ministros do seu po- rado. Esta revelação da glória de Cristo
der. Veja observação sobre I Ts. 3: 13. nos crentes será espantosa e maravilho-
As parábolas do reino contadas por sa para todos os que participarem dela.
Cristo (cons. Mt.13:4l,49; 25:31, Naquele dia deve ser ligado com e ser
32) também relacionam os anjos com admirado. A cláusula final é parenté-
o Juízo. 8. Com chama de fogo. Para tica e de difícil relacionamento dentro
antecedentes no V.T. veja Is, 66: 15 do versículo. Talvez a melhor inter-
e Dn. 7: 10, 11. O sujeito de tomando pretação seja que é uma expressão con-
(proporcionando) vingança (castigo com- densada, devendo ser traduzida conforme
pleto) é o Senhor Jesus de 11 Ts. 1: 7. Phillips sugere: "em todos os que crêem
O Pai confiou-lhe todo o julgamento - inclusive vocês, pois vocês creram na
(Jo. 5: 22,27). Os objetos da ira de mensagem que lhes transmitimos".
Cristo são os que não conhecem a Deus
e não obedecem ao evangelho. Alguns C. Intercessão por um Contínuo Cres-
sugerem que são dois os grupos indica- cimento Espiritual. 1: 11,12. Tendo
dos - gentios (cons. I Ts. 4: 5) e judeus. esclarecido aos tessalonicenses os sobe-
É mais provável que seja uma referên- ranos propósitos divinos na perseguição
cia coletiva a todos aqueles que se re- que estavam experimentando e seus
cusam a agir com base naquilo que sa- gloriosos resultados, o apóstolo reafir-
bem a respeito de Deus e aqueles, que ma sua preocupação constante, em ora-
mais especificamente, rejeitam a reve- ção, de que a dedicação dos crentes
lação em Cristo. completa os desígnios de Deus.
9. A natureza da vingança: sofrerão 11. Por isso. Com este propósito,
penalidade de eterna destruição. Ani- relacionando-se a todo o trecho de 1: 5-
quilação não é o pensamento aqui, mas, 10. Vocação geralmente se refere à
-241-
fi TESSAWNICENSES 1: 11-12 - 2: 1-3
-242 -
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11 TESSALONICENSES 2: 3-6
por trás do pano, até que o tempo de lino (v. 7) sugere que o embargante po.
seu aparecimento público esteja ama- de ser tratado como uma coisa ou pes-
durecido. No N.T. só João usa o termo soa. 3) A influência restritora será re-
"anticristo" (I Jo. 2: 18,22; 4: 3; 11 Jo. movida em ocasião própria (de Deus),
7), mas não pode haver dúvidas quanto e o Anticristo será revelado. Os intér-
a quem Paulo tem em mente. O filho pretes dispensacionalistas (C.1. Scofield,
da perdição (cons. Jo. 17: 12) aponta L.S. Chafer e J. Walvoord, por exemplo)
para a natureza e para o destino desse interpretaram o embargante como o
homem. Suas ações serão o selo de seu Espírito Santo, um ponto de vista sus-
destino. Com referência a filho de, tentado pelo fato de que o Espírito po-
veja comento sobre I Ts. 5: 5. de ser descrito de ambos os modos, no
4. A Operação do Anticristo. O qual gênero neutro e masculino. A retirada
se opõe. Na qualidade de ministro de do Espírito terá lugar quando a Igreja,
Satanás, o Antricristo executará o tra- o Seu templo, será arrebatada (I Ts. 4:
balho do seu mestre (I Tm. 5: 14). Tu- 13-17). Entretanto, por que Paulo fa-
do que se chama Deus. O verdadeiro laria do Espírito em tais termos vela-
Deus vivo (I Ts. 1: 9) e os deuses falsos. dos? Mais ainda, como poderia a reve-
Ou objeto de culto, isto é, tudo o que lação do Anticristo ser um sinal de que
é considerado sagrado - templos, reli- a igreja já está pronta para o arrebata-
cários, etc. O Anticristo tomará lugar mento? Muitos comentadores bfblicos
no santuário de Deus, ... como se fosse desde Tertuliano (cerca de 200 D.C.)
o próprio Deus, provavelmente no tem- têm identificado o embargante como
plo em Jerusalém, como a íntima cone- sendo o Império Romano. O particí-
xão desta passagem com a descrição de pio neutro poderia se referir ao estado;
Antíoco Epifânio (Dn. 11: 36 e segs.) o masculino, ao imperador. Este pon-
sugere (cons. também Me. 13: 14, onde to de vista descansa sobre a atitude be-
o particípio masculino pode indicar nevolente de Paulo para com o governo
uma pessoa mais do que uma imagem). como o meio de manter a lei e dispor
Apocalipse 13: 4-15 descreve o culto das coisas para que a igreja pudesse con-
ao Anticristo. Ostentando-se; melhor tinuar fazendo a sua obra (cons. Rm.
proclamando-se, de acordo com o sig- 13:1-7; Tt.3:1; IPe.2: 13,14, 17).
nificado helenístico de apodeiknymi. Mas o Império Romano já se desvane-
5. Eu costumava dizer-vos estas cou- ceu há muito, e o homem do pecado
sas? O tempo imperfeito indica que ainda não foi revelado. Assim parece
Paulo discutiu esses acontecimentos mais provável que a influência restritora re-
de uma vez. fere-se ao princípio do governo huma-
6. O que o detém e o relacionado no manifesto no estado romano. As ins-
aquele que agora o detém (v.7; "im- tituições humanas são parte do pro-
pede") são especialmente difíceis de grama divino da graça comum, por
interpretar sem medo de errar, por cau- meio do qual Ele controla as forças do
sa das poucas palavras de Paulo. Saber mal para fornecer o ambiente devido
que os tessalonicenses sabiam o que ele para a revelação de Sua graça especial
queria dizer, pouco nos ajuda. Certas redentora. Extremamente totalitário
observações podem ser feitas: 1) O tem- (cons. Ap. 13: 15-17), o governo do
po presente de ambos os particípios Anticristo é tão diabólico em sua natu-
mostra que a força ou pessoa embar- reza e tão cruel em sua prática que des-
gante já está em operação. 2) A mu- qualifica-se completamente como insti-
dança do neutro (v.6) para o mascu- tuição ordenada por Deus. Em ocasião
-243 -
11 TESSALONICENSES 2: 6-13
própria mostra que Deus está, em úl- Deus lhes manda indica a soberania de
tima análise, no controle. Deus, controlando os destinos não ape-
7. Mistério indica que o princípio nas dos seus filhos mas também dos
espiritual maligno já estava operando seus inimigos. Luz rejeitada resulta em
e fora revelado aos crentes (cons. o uso trevas maiores, como Mt. 13: 10 e segs.
de mysterion em Mc.4: 11; Rm.16:25, e Rm. 1: 24-32 demonstram. Eficien-
etc.), Injustiça, iniqüidade. Mateus 24: temente enganados, eles confiam na
24 e I Jo. 2: 8 mencionam os precurso- mentira, não na verdade (2: 10, 12).
res do Anticristo, que são personifica- A mentira de Satanás consiste em con-
ções deste princípio de iniqüidade. Aque- seguir que os homens creiam nele em vez
le que agora o detém. Veja comento so- de Deus (cons. Gn.3:1 e segs.;Jo.8:
bre 2: 6. Que seja afastado. Provavel- 44). 12. Julgados. O veredito de cul-
mente por Deus, embora não esteja de- pa está implícito, não expresso. Delei-
clarado. 8. Iníquo. Literalmente, sem taram-se com a injustiça. Não vítimas
lei - a característica básica do Anti- desamparadas, ficaram deliberadamente
cristo, "homem da iniqüidade" e "mis- do lado de Satanás, contra Deus, e par-
tério da iniqüidade" (vs. 3,7, RSV). ticiparão do destino de seu capitão (Jo.
Tão logo se menciona a sua revelação 16: 11).
(revelado), o seu destino é descrito. Des-
fará (E.R.C.). Os melhores manuscri- N. Ação de Graças e Exortação. 2:
tos dão matará (E.R.A.). Sopro de sua 13-17.
boca. Veja em Is, 11: 4 os antecedentes
do V.T. Destruirá. Tornar inútil, sem A. Louvor pela Chamada deles. 2: B-
poder. Esplendor (E.R.C.) (epiphaneia) IS. Em contraste marcante com o negro
ou manifestação (E.R.A.) fala do bri- quadro do Anticristo e seus seguidores,
lhante aparecimento do poder de Cristo apresenta-se a auspiciosa perspectiva da-
à Sua vinda (cons. 11 Ts. 1: 7,8; Ap. 19: queles a quem Deus chamou.
11-21). 13. Devemos sempre dar graças. Veja
9. O Anticristo tem a sua vinda co- observação sobre 1: 3. Amados. Veja
mo Cristo tem a Sua. A eficácia de Sa- observação sobre I Ts. 1: 4. Desde o
tanás (poder em operação) é a dinâmica princípio parece refletir o ponto de
do Anticristo (cons. Ap. 13: 2). Sua vista paulino de uma eleição antes da
vinda se revela em todo poder (de operar criação (Ef. 1: 4). Alguns manuscritos
milagres) e sinais (milagres significativos) dão primtcias em vez de desde o prin-
e prodígios (para espanto de seus obser- cípio. Esta tradução, adotada por al-
vadores). No grego, da mentira parece guns editores (Nestle, Moffatt, por exem-
aplicar-se a todos os três: os milagres plo), seria adequada porque os tessalo-
estão embebidos de falsidade. Cons. nicenses contavam entre os primeiros
Atos 2: 22; Rm. 15: 19, etc., para exa- convertidos europeus de Paulo. Esco-
me das três palavras descrevendo mila- lheu (heilato; cons. LXX, Dt. 26: 18)
gres. 10. Engano de injustiça. O engano faz-nos lembrar que os crentes foram
brotando da injustiça. Aos que perecem. acrescentados à Israel na qualidade de
O particípio presente (apollymenois) su- povo eleito de Deus (cons. I Pe. 2: 9,
gere que o processo já está em opera- 10). Santificação (cons. I Ts. 4: 3, 7)
ção (cons. I Co. 1: 18). Acolheram. Dar do Espírito destaca o papel do Espí-
boas-vindas. Verdade, isto é, o Evange- rito na separação dos crentes tirando-os
lho. da esfera do controle de Satanás para
11. É por este motivo, pois, que o de Deus (I Pe. 1: 2). Fé na verdade
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I I i i I I 'I I I
11 TESSAWNICENSES 2: 13-17 - 3: 1·5
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11 TESSAWNICENSES 3: 5-15
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I I I I I ,
'I I I
11 TESSALONICENSES 3: 15-18
-247-
PRIMEIRA EPÍSTOLA A TIMÓTEO
INTRODUÇÃO
Autoria. A autoria paulina das Pasto- morte no final de sua umca prisão em
rais (I, 11 Timóteo e Tito) é controver- Roma, conforme registrado em Atos,
tida. Entretanto, as evidências prima concluindo-se daí que Paulo não pode
facie das cartas por si mesmas indicam ser o autor das Pastorais; 4) organiza-
que Paulo é o escritor, uma vez que seu ção eclesiástica adiantada, além do
nome aparece na saudação de cada uma, tempo de Paulo, refletida nas Pastorais.
e as observações autobiográficas se en- Estes argumentos não se sobrepõem
caixam na vida de Paulo conforme re- às evidências positivas: l) O argumento
gistradas em outros lugares. Como, ligüístico é inconclusivo porque é psico-
por exemplo, I Tm. 1: 12, 13; 11 Tm. logicamente absurdo, além de difícil,
3: 10, 11; 4: 10, 11, 19,20. se possível, de provar. Poderia um fal-
A regra básica da prova da autenti- sificador, procurando ter o seu livro
cidade de documentos foi há muito de- aceito como obra de Paulo, introdu-
clarada por Simon Greenleaf: "Cada do- zir um vocabulário que não fosse pau-
cumento, aparentemente antigo, vindo do lino numa base de dezessete palavras
devido repositório ou custódia, e não por página de texto grego, e referir-se
trazendo aparentemente nenhuma evi- a incidentes que não se encaixam na
dência de falsificação, a lei presume parte conhecida da vida de Paulo? A
ser genuíno, e devolve à parte oponen- resoluta e unânime recepção dos livros
te a responsabilidade de provar o con- pelas igrejas antigas, sob tais condições,
trário (An Examination of the Testimo- seria impossível de explicar. Na verda-
ny of the Four Evangelists, London, de, essa aceitação resoluta é uma evi-
1847, pág. 7). dência muito boa de que as epístolas
Os antigos livros pastorais procede- eram bem conhecidas como genuínas.
ram da custódia devida, a igreja. A igre- Os elementos lingüísticos podem con-
ja sempre os aceitou como paulinos; cebivelmente apontar para uma au-
não houve vozes discordantes até os toria conjunta de Lucas e Paulo (Moffatt,
tempos modernos. O que então a críti- Introduction to the Literature of the
ca oferece para se opor às evidências New Testament, 3~ ed., pág. 414), mas
prima facie e a voz unânime da tradição? é bom lembrar que, na melhor das hi-
Os alegados sinais de falta de autenti- póteses, aceitar a autoria conjunta, li-
cidade ou de falsificação são quatro: mitando a linguagem e o estilo de um
1) linguagem e estilo que não são de escritor, é apenas conjectura. Os leito-
Paulo; 2) a oposição das Pastorais ao res das Epístolas Pastorais de Paulo eram
Gnosticismo do segundo século; 3) dis- diferentes daqueles de quaisquer ou-
crepâncias entre as Pastorais e Atos - tras epístolas. Timóteo e Tito foram
presume-se que Paulo foi condenado à intimamente ligados à vida e idéias de
-248-
I I I I
'I I I
Paulo durante quinze a vinte anos. Não ser provado, isto é, que o livro não
deveríamos, portanto, ficar surpresos poderia ser inspirado e conhecido co-
se Paulo preferisse falar em linguagem mo inspirado no tempo em que foi es-
e estilo diferentes daqueles que usou crito e recebido.
dirigindo-se às igrejas. Paulo estava en- Respostas mais detalhadas a estes
corajando e exortando seus filhos na argumentos foram desenvolvidas nos co-
fé, não corrigindo igrejas briguentas e mentários conservadores padronizados e
instáveis. nas introduções. Veja especialmente
2) A adoção desta objeção defende Hendriksen,New Testament Commentary:
que se as Pastorais refutam o Gnosti- Exposition of the Pastoral Epistles, pág.
cismo do segundo século, devem ser 4-32.
documentos do segundo século. Apre- Data. A primeira carta a Timóteo e
sentadas as claras evidências prima fade a de Tito foram escritas durante o perío-
da autoria paulina, se há declarações do de viagem e trabalho missionário
que atacam o Gnosticismo posterior entre as duas prisões de Paulo em Roma.
às cartas, a inferência é que Paulo pre- Uma data entre 61 e 63 A.D. não pode
viu tal desenvolvimento, o que não é estar muito errada. A segunda epístola
impossível mesmo do ponto de vista a Timóteo contém as últimas palavras
da mera sagacidade humana. Entretan- encontradas escritas pelo apóstolo; fo-
to, Paulo declarou, em outras epístolas, ram escritas na prisão um pouco antes
por inspiração, possuir a capacidade do seu martírio (4: 6-8). Podemos con-
de ver e predizer o futuro. Negar que siderá-las, como Calvino o expressou,
ele podia fazê-lo é negar a existência "escritas não com tinta mas com o
da possibilidade da revelação sobrena- próprio sangue de Paulo". A data da
tural. Mais ainda, Paulo talvez não morte do apóstolo é geralmente colo-
atacasse nestas epístolas um Gnosti- cada em algum ponto entre 65 e 68 A.D.
cismo tão avançado como alguns têm Ocasião e Mensagem. Assim como
argumentado. Moisés passou a responsabilidade a Jo-
3) Que os homens, lugares e inci- sué, e o Senhor aos seus apóstolos, Pau-
dentes mencionados nas Pastorais não lo passou a responsabilidade a Timóteo
podem se encaixar no esboço de Atos, e Tito. Do mesmo modo, assim como
é uma razão muito boa para estender- Moisés terminou com uma exortação
mos a vida de Paulo além da narrativa a todo Israel, e Cristo a toda a Igreja,
de Atos. As Pastorais, então seriam o Paulo concluiu seu desafio com a bên-
produto da quarta viagem missionária ção, "A graça seja convosco"; (I Tm.
de Paulo e uma segunda prisão. 6: 21; 11 Tm. 4: 22) e "A graça seja
4) Os elementos da organização ecle- com todos vós" (Tt. 3: 15). A ocasião
siástica encontrados nas Pastorais en- para escrever as epístolas surgiu, nada
contram-se em outros lugares do Novo mais nada menos, pela necessidade de
Testamento. Há quem pense que citar manter a fé e garantir a continuidade
o Evangelho de Lucas como Escritura da Igreja de Jesus Cristo. O solene de-
(I Tm. 5: 18) é uma indicação de data safio - "Guarda o bom depósito pelo
tardia. "Quando o autor das pastorais Espírito Santo que habita em nós" (11
escrevia, o evangelho de Lucas e algu- Tm. 1: 14) - é o coração das Epístolas
mas coleções evangélicas contendo Lu- Pastorais. Aqui Timóteo e Tito, [untos
cas 10: 7 eram reconhecidas como gra- com toda a Igreja, são desafiados a guar-
phé" (Ibid., pág.401 e segs.). Este ar- dar "a fé", "o depósito", a palavra es-
gumento também presume o ponto a crita, pela obra do Espírito Santo. O
-249 -
resultado desse desafio não foi apenas versículo 16b. Novamente as mesmas
a manutenção da fé através das boas proporções foram preservadas: a pri-
obras e comportamento condizente na meira é uma seção mais longa (6: 3-16a)
casa de Deus, mas também na resis- com uma recapitulação dos temas prin-
tência ao que é falso. A necessidade cipais da epístola; a porção mais curta
mais urgente para as suas primeiras epís- (6: 17-21) conclui com um apelo pro-
tolas - I Timóteo e Tito - está, sem fundamente comovente, "6 Timóteo,
dúvida, no fato de que muitas coisas guarda o depósito".
em Éfeso e Creta precisavam de ajus- Da mesma maneira, a porção maior
tamentos. Paulo, entretanto, tendo a da epístola (2: 1 -- 6: 2) está sub-divi-
intenção de aconselhar seus filhos na dida por um parágrafo transícional (3:
fé, determinou aconselhar os outros 14 - 4: 5), no centro do qual estão as
na mesma ocasião. linhas do antigo hino cristão do qual
Estrutura e Tema. I Timóteo. Esta Paulo é provavelmente o autor (3: 16).
primeira das Epístolas Pastorais encai- A primeira parte desta porção maior
xa-se em um padrão literário que pro- trata dos aspectos oficiais ou públicos
vavelmente não é acidental. Resumindo, da Igreja, a Casa de Deus, culminando
poderia ser assim exposto: a) Desafio, com as memoráveis linhas do hino. Na
b) Louvor, a) Desafio. Em outras pa- segunda porção, estão destacados aspec-
lavras, seria: a) Prosa, b) Poesia, a) Pro- tos individuais e pessoais, em paralelo
sa. Este simples padrão de um solene notável com os temas apresentados na
desafio em duas partes, ligadas entre primeira seção. Por exemplo, a refe-
si por uma doxologia ou hino de lou- rência às mulheres na primeira parte
vor, repete-se três vezes - na introdu- apresenta o princípio da liderança mas-
ção, no corpo e na conclusão. A epís- culina na Igreja; enquanto que a refe-
tola resumida de acordo com este pa- rência às mulheres na segunda parte,
drão oferece uma unidade maior do que trata com o problema individual e pes-
geralmente se lhe atribui. Na introdu- soal das viúvas dependentes. Parece
ção, seguindo-se â saudação, encontra- que uma seção tem a intenção de contra-
mos o desafio feito a Timóteo, com balançar a outra. Mas o mais impor-
uma porção explanatória mais longa tante é que toda a estrutura da epís-
(1: 3-16) e uma palavra de conclusão tola tem a intenção de colocar em des-
mais resumida (1: 18-20). Estas duas taque o grande hino de louvor nn centro,
partes são ligadas entre si pela doxolo- o qual apresenta sucintamente e linda-
gia concisa mas grave do versículo 17. mente a pessoa e obra de Cristo.
A parte inicial que conduz à doxologia 11 Timóteo. Na segunda epístola de
inclui um esboço - apenas resumida- Paulo "ao seu amado filho", ele parece
mente sugerido - dos principais tópi- seguir essencialmente o mesmo padrão
cos da epístola. Tudo está tão jeitosa- literário da primeira. Desta vez apare-
mente entrelaçado que os muitos temas ce em sua forma mais simples possível,
apresentados só servem para focalizar isto é, um solene desafio em duas partes,
a atenção sobre o desafio que Paulo ligadas entre si por um hino. Tudo está
faz a Timóteo. Então se segue a doxo- prefaciado por uma saudação e ação de
logia, que dá um peso solene à parte graças, e foi concluído com observa-
final do desafio. ções pessoais e uma oração. Novamen-
Concluindo a epístola, surge um ou- te toda a estrutura tem a intenção de
tro desafio, novamente duplo, com suas realçar o grande hino de verdade dou-
partes entreligadas pela doxologia do trinária que aparece no centro (2: 11-13).
-250-
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'I I I
o ponto principal sobre o qual a estru- passagens de confronto, 2: 11-15 e 3:4-8.
tura se move é a apresentação que Paulo Numa das passagens a graça aparece,
faz do Evangelho como um depósito na outra, a benignidade e o amor. Am-
a ser preservado, guardado com carinho bas destacam a bendita esperança (2:
e confiado a homens fiéis. Suas pala- 13; 3: 7b); ambas terminam com a ên-
vras ganham solenidade e peso peculiar fase sobre as boas obras.
porque foram as últimas a saírem da sua
pena; ele escreveu sabendo que sua Observação sobre o Comentário. No
"partida" estava "próxima". comentário a seguir fez-se um esforço
Tito. O tema desta epístola é pare- de se apresentar, além de palavras mera-
cido com o de todas as Pastorais, enfa- mente explanatórias sobre determinado
tizando a conexão da doutrina, confia- texto, também, o que é muito mais
da aos homens fiéis, com a santidade importante, a citação de textos para-
de vida. Nesta carta, Paulo liga de ma- lelos, os quais, se pacientemente veri-
neira memorável a graça, como a grande ficados, darão o seu próprio comentá-
doutrina da salvação, às boas obras nas rio bíblico.
ESBOÇO
-251 -
I TIMÓTEO 1: 1-4
COMENTÃRIO
- 252-
I I i! I I 'I I I
I TIMÓTEO 1: 4-13
-253 -
I TIMÓTEO 1: 13-19
-254 -
I I I ,
'I I I
I TIMóTEO 1: 19-20 - 2: 1·3
-255 -
I TIMÓTEO 2: 3-12
-256-
I I I I I I
'I I I
I TIMÓTEO 2: 12-15 - 3: 1-3
devem ser tomados juntos; as mulheres Charles Hodge, Church Polity, Index,
não devem ocupar cargo de liderança "Ancião"; D.D. Bannerman, The Scrip-
ou de ensino na igreja. 13. Para ilustrar ture Doctrine of the Church, Parte VI,
o princípio da liderança masculina, Pau- capo ív; e também o ensaio de Lightfoot,
lo cita a ordem da criação, estabelecen- "The Christian Ministry", Commentary
do a chefia natural do homem (I Co. on Philippians, pág. 181-269).
11: 8, 9). 14. Adão não foi iludido. 1. Ao episcopado. Uma só palavra;
Isto deve ser aceito relativamente; Adão aparece também em Lc, 19: 44, Atos
foi enganado, mas não tão completa. 1:20 e IPe.2:12. O verbo cognato
mente quanto a mulher. A mesma pa- aparece em Hb. 12: 15, sugerindo que
lavra grega foi usada em relação à mulher, a função básica é a responsabilidade
mas em forma intensificada. Adão con- de cada crente. A palavra bispo apa-
cordou com ela deliberadamente em vez rece em Atos 20: 28; Fp. 1: 1; Tt.1:
de assumir a liderança repelindo as su- 7; I Pe. 2: 25. O cargo de ancião e
gestões do tentador. bispo é o mesmo; em Tt. 1: 5, 7 ambas
15. Será preservada através de sua as palavras são usadas referindo-se à
missão de mãe. A linguagem de Paulo mesma pessoa em versículos sucessivos.
aqui é um eco da tradução de Gênesis Em Atos 20: 28 é os anciãos que o Es-
2 e 3 da LXX; e aqui ele pode estar pírito Santo estabeleceu como bispos
fazendo um trocadilho com Gn. 3: 15, na Igreja. Se alguém aspira ao episcopa-
16, apontando para a encarnação de do ... almeja, etc. Duas palavras gre-
Cristo. Através disso (de sua missão gas foram usadas para aspirar aqui. A
de mãe) a mulher que crê e continua primeira só é usada aqui, em 6: 10 e em
na piedade será salva. Hb, 11: 16. O ardente desejo de um
3) Qualificações dos Oficiais da Igreja. homem pelo cargo seria como o dese-
3: 1·13. 1a. As palavras de abertura jo de Abraão pelo lar celestial. A outra
desta seção provavelmente pertencem ao palavra é usada com mais freqüência,
último pensamento do capítulo 2. Todas mas também expressa desejo intenso
as outras vezes em que esta frase aparece (Hb.6:11; IPe.l:12; Lc.22:15).
(ITm.l:15; 4:9; IITm.2:11; Tt. 2. Irrepreensível. Impecável; a mes-
3: 8) parece seguir ou preceder decla- ma palavra grega usada em 5: 7 e 6: 14.
rações importantes da doutrina do Vigilante (E.R.C.). Temperante. Origi-
Evangelho. Aqui acontece o mesmo nalmente significa "moderado no uso
se o de sua missão de mãe de 2: 15 for do vinho", mas aqui deve ser tomado
aceito como referência ao nascimento figurativamente, uma vez que o versí-
do Salvador. Esta parece a interpreta- culo seguinte proíbe a intemperança.
ção preferível. O verbo cognato significa ter autocon-
Então Paulo começa a considerar trole ou domínio próprio. Sóbrio. Equi-
as qualificações dos anciãos, as quais librado; veja também Tt. 1: 8; 2: 2, 5.
ele examina de um jeito ordenado: pes- Modesto. Ordeiro; usado em relação
soalmente (vs. 2,3), quanto à famtlía às roupas das mulheres em 2: 9. Hospi-
(vs. 4,5), quanto à igreja (vs. 5,6) e taleiro. Usado em Tt. 1: 8; I Pe. 4: 9.
quanto ao mundo pagão (v. 7). Na se- Uma palavra semelhante foi usada em
gunda metade desta seção o apóstolo Rm. 12: 13; Hb. 13: 2. Apto para en-
trata de diáconos e diaconizas (vs. 8-13), sinar. Usado apenas aqui e em 11 Tm.
cujas qualificações são paralelas às dos 2: 24; num lugar, tratando-se do ancião,
anciãos. (Para um comentário clássico em outro do ministro.
das funções e cargos dos anciãos, veja 3. Não dado ao vinho. Que não seja
-257 -
I TIMÓTEO 3: 3-10
- 258-
I i I i I I
'I I I
I TIMóTEO 3: 10-16
-259 -
I TIMÓTEO 3: 16 - 4: 1-6
-260 -
I i I ,I I
'I I I
I TIMÓTEO 4: 6·14
-261-
I TIMÓTEO 4: 14 -16 - 5: 1-11
nados junto (Rm.12: 7, 8); o dom de e ser cuidada por ela (cons. Lc. 2: 36,
ensinar está entre os dons do Espírito 37). 6. Se entrega aos prazeres. Este
à Igreja (I Co.12: 28); pastores e dou- é o contraste das viúvas inaceitáveis;
tores são mencionados como unidade mais detalhes são acrescentados mais
(Ef. 4: 11). Esta palavra que significa tarde. Esta expressão aparece só aqui
"dom da graça" pode ser aplicada a qual- e em Tg. 5: 5 e significa vida de volúpia
quer dom de Deus através do Espírito. e indulgência carnal, sinal de estado de
Aqui ele parece implicar em uma res- morte espiritual.
ponsabilidade concedida na ordenação. 7. Prescreve. Paulo está profunda-
Paulo a reitera e faz Timóteo se lembrar mente cônscio do efeito do testemunho
dela aqui e em 1: 18. Presbítero (usado falido dentro do lar. Por isso estas coi-
só em Lc. 22: 66, Atos 22: 5 e aqui) sas deviam ser ordenadas (mesmo verbo
refere-se a um grupo de líderes represen- de 4: 11), como o próprio Paulo solene-
tativos espirituais, escolhidos e aprova- mente responsabiliza Timóteo (6: 13).
dos. 8. Deixar de cuidar é negar a fé. Des-
15. Medita. Pratica, cultiva, ou es- crente. Incrédulo.
mera-te; só usado aqui e em Atos 4: 25. 9. Aqui e no versículo seguinte são
Aproveitamento (E.R.C.). Progresso. dados detalhes específicos sobre as qua-
(E.RA.). 16. De ti mesmo. O minis- lificações da viúva na igreja que deve
tro precisa que Ihe lembrem suas pró- ser sustentada. Ao menos sessenta anos.
prias necessidades em conexão com Calvino apresenta duas razões por que
a doutrina; ao alimentar os outros, ele Paulo não quer que se admita alguma
também precisa encontrar uma bên- abaixo dos sessenta anos de idade. Pri-
ção. Continua. Esta é uma das pala- meiro, "ao ser sustentada às expensas
vras básicas usadas para descrever a ca- públicas, seria próprio que já tivesse
minhada firme do cristão (G1. 3: 10; alcançado idade avançada". Segundo,
Hb.8:9; Tg.l: 25; Atos 14: 22; C1. havia uma obrigação mútua entre a igre-
1: 23). Basicamente é o mesmo que ja e essas viúvas: a igreja aliviaria sua po-
"habita" em João 15 e I João. Salva- breza e elas se consagrariam ao ministé-
rás foi usado no sentido de "desen- rio da igreja, "que se tornaria intolerá-
volver a sua própria salvação" de Fp. vel, se ainda houvesse probabilidade de
2: 12. se casarem". Tenha sido esposa de
2) Aos Homens. 5: 1. Não repreen- um só marido. ''Pode ser considerado
das. A repreensão violenta ou o ataque como uma espécie de prova de conti-
é proibido. nência ou castidade, se uma mulher
3) Às Mulheres, Especialmente Viú- chega a essa idade, satisfeita por ter
vas. 5: 2-16. tido apenas um marido. Não que (Pau-
2. Pureza. Propriedade. lo) desaprove um segundo casamento,
3. Verdadeiramente (cons. vs. 5, 16). ou que afixe um sinal de ignomínia so-
Aquelas que são viúvas e desamparadas bre aquelas que se casaram duas vezes;
- sem ninguém no mundo - devem ser (pois, pelo contrário, ele aconselha as
cuidadas pela igreja. Toda a discussão viúvas mais jovens a se casarem); mas
deve ser considerada à luz dos ensina- porque ele queria ter o cuidado de evi-
mentos do V.T., onde o cuidado às tar que qualquer mulher ficasse obri-
viúvas foi enfatizado (também cons. gada a não se casar novamente, sentindo
Tg. 1: 27). necessidade de ter marido" (Calvino).
5. Aqui está uma descrição da ver- 11. Levianas. Só aparece aqui e em
dadeira viúva, que pode servir à igreja Ap. 18: 7. Tal conduta é incompatível
-262 -
I i I I I I
'I I I
I TIMÓTEO 5: 11-17
-263 -
I TIMÓTEO 5: 18-25
18. Aqui há duas citações: Dt. 25: 4 ria, nem, por outro lado, de indevida
e Lc. 10: 7. Não amordaces o boi. O clemência, a ponto de participar dos
conteúdo em Deuteronômio 25 trata do seus pecados. Puro. Esta e palavras re-
relacionamento equitativo entre homens; lacionadas são aquelas que foram geral-
o versículo é um aforismo citado por mente traduzidas para "santo", "santi-
Moisés para provar um princípio, e as- ficado" . Às vezes tem o significado es-
sim foi entendido por Paulo, que discute pecífico de castidade, mas geralmente
o mesmo princípio em Rm. 13: 7 e I Co. parece referir-se à conduta honesta da
9: 7-11, e cita a mesma passagem de vida cristã. O paralelo mais achegado
Deuteronômio. Trabalhador. A forma a puro, de acordo com o uso aqui é "lim-
original exata da citação só se encontra po", conforme foi empregado em 11 Co.
em Lucas. A citação aqui, a Escritura 7: 11. Por isso aqui, talvez, deveria ser:
declara, mostra que o Evangelho de Lu- "Mantenha-se limpo (dos pecados dos
cas já existia e era considerado Escri- outros homens)". Esta discussão dos
tura. pecados dos outros foi resumida e con-
19. Duas ou três testemunhas. A re- cluída nos versículos 24, 25.
gra para o depoimento dada por Moisés 23. Não continues a beber somente
(Dt. 19: 15), e usada pelo Senhor (Mt. água. As proibições de Paulo são in-
18: 16). 20. Aos que vivem no pecado terpretadas no contexto e às vezes não
(o grego dá a entender "aqueles que são absolutas. Ser um "bebedor de água"
persistem em pecar") repreende-os na na linguagem comum parece implicar
presença de todos, como o próprio Pau- em excessiva severidade e auto-renún-
lo repreendeu Pedro (Gl. 2: 14). Um cia. O princípio antiascético foi exposto
homem piedoso quando assim adverti- em 4: 3-5. Àquela altura Paulo rapida-
do publicamente aceitará a corrigenda mente passou do princípio generalizado
de coração (Pv. 9: 8). para o conselho específico e prático
21. Aqui Paulo usa um desafio solene, dirigido a Timóteo (sobre exercício cor-
uma súplica, para reforçar a importân- poral, v. 8). Aqui também, ao falar do
cia da ordem contra a parcialidade. O princípio geral da abstinência, torna-se
mesmo verbo foi usado em 11 Tm. 4: 1 oportuno advertir contra a excessiva
e novamente em 11 Tm. 2: 14, quando o frugalidade e severidade. Vinho é usado
próprio Timóteo recebeu ordem de su- para uma larga variedade de produtos
plicar aos outros com a mesma veemên- da uva; qualidades medicinais estão
cia. implícitas (Lc. 10: 34). A receita de
22. Imponhas precipitadamente as Paulo para a doença de Timóteo não
mãos. Isto costuma ser entendido como é uma regra geral para o "uso modera-
proibição para ordenação apressada. En- do" para todo o mundo. Regras bfbli-
tretanto, qualificações e ordenação foram cas gerais continuam em vigor (Hc. 2:
discutidas antes. Locke sugere (ICC, 5,15; Pv.20: 1; 23:31).
pág.64) que se refere à precipitada re- 24. Este e o versículo seguinte devem
cepção de um ofensor de volta à comu- ser entendidos no contexto de não te
nhão. Mãos (plural) pode também signi- tomes cúmplice de pecados de outrem
ficar "medidas violentas", "força". Aqui (v. 22) e isto em relação ao cargo de
poderia ser outra advertência referindo-se ancião. O princípio é: "Pelos seus fru-
a Timóteo quando tratasse com homens tos os conhecereis". Ligue isto com a
que foram repreendidos. Ele não deveria advertência feita contra a atitude apres-
usar de parcialidade, nem de medidas sada (v. 22). Os pecados de alguns ho-
violentas ou de severidade desnecessá- mens são declarados e exigem uma de-
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I I I I 'I I I
I TIMÓTEO 5: 25 - 6: 1-10
- 265-
I TIMÓTEO 6: 11-16
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I i I I I I 'I I I
I TIMÓTEO 6: 16-21
ção de títulos e atribuições de majestade tro vezes em I Tm. das seis vezes que
e poder dignos de nota até mesmo em Paulo o usou, e enfatiza a verdade e a
Paulo e, na verdade, em toda a Escritu- existência real.
ra. As idéias são paralelas ai: 17 mas
melhor expressas. O pensamento de 2) Apelo Final: Um Resumo. 6: 20,
Paulo vai das manifestações de Deus 21. Com profunda emoção e apelo pes-
aos homens como Potentado e Rei, soal Paulo começa sua exortação final:
através de Suas prerrogativas soberanas Ó Timóteo (a interjeição é especialmen-
de imortalidade, recuando para o Seu te freqüente nas epístolas de Paulo; veja
ser misterioso e inescrutável, e conduz Rm. 2: 1,3; 9: 20; GI. 3: 1). Então
à final atribuição de honra, eterno e ele rapidamente reitera os temas princi-
onipotente domínio. pais de toda a epístola: a) Guarda o de-
pósito da verdade. Toda a frase é a tra-
C. Retorno ao Solene Desafio. 6: 17- dução das três palavras: guarda o depó-
21. sito (E.R.C.). Esta é a mensagem cen-
1) Uso Correto das Propriedades. 6: tral das Pastorais: Guarda a tradição do
17-21. Do presente século. O horizon- Evangelho com a vida e os sãos ensina-
te escatológico -de Paulo tem em vista mentos, b) evitando a falsa doutrina.
o século vindouro, os novos céus e a Aqui estão duas formas de ensinamen-
nova terra. Altivos (E.R.C.). Orgulho- tos que obscurecem o Evangelho: 1)
sos (E.R.A.). A expressão é um verbo falatórios inúteis e profanos (implica
simples no grego, combinando dois ele- em profanação blasfema de coisas san-
mentos encontrados em Rm. 11: 20 e 12: tas), consistindo de palavras vazias e
16. Depositem a sua esperança na. Apra- altissonantes e especulações usadas com
zimento. Deus deu tudo quanto criou o propósito da ostentação; e 2) contra-
para bênção e prazer, o qual se realiza dições do saber (lít., conhecimento).
só quando as propriedades são colocadas Paulo esclarece que ele sabe distinguir
no devido relacionamento com Ele; são o fato e o ensinamento sólido, e as es-
sujeitasã mordomia. Duas partes de peculações sem evidência, meros mitos
declarações se seguem (v. 18), indicando e fantasias, a qual professando-o (lít.,
como usar a riqueza. Que pratiquem o prometendo) se desviaram. "Alguns,
bem e sejam ricos de boas obras são prometendo estas ficções como verda-
paralelos; generosos em dar e prontos a de e realidade, abandonaram o sinal
repartir (liberais ou repartidores) tam- e a promessa de Deus, que é a fé" (cons.
bém são paralelos. Assim encarando e II Pe. 2: 19). A graça seja 'contigo (E.
usando a riqueza, a pessoa entesoura R.C.). Esta é a conclusão caracterís-
para si um bom fundamento e alcança tica de todas as epístolas de Paulo (II
a vida eterna. Que acumulem para si Ts. 3: 17, 18; a forma mais resumida se
mesmos tesouros, sólido fundamento pa- encontra aqui e em CI. 4: 18). O texto
ra o futuro é um comentário e paralelo melhor está no plural convosco, o que
a Mt, 6: 19-21. Vida eterna (E.R.C.). insinua que o conteúdo era destinado
"A vida que é realmente vida". O ad- a todas as igrejas em Éfeso, e não só
vérbio "verdadeiramente" foi usado qua- para Timóteo.
-267-
11 TIMÓTEO 1: 1
ESBOÇO
COMENTÁRIO
I. Saudação e Introdução. 1: 1-18. tes: 1) O apostolado de Paulo oriundo
em Cristo Jesus; 2) que isto aconteceu
A. Saudação de Autoridade e Afeição através da vontade de Deus; 3) que o
Especiais. 1: 1,2. seu apostolado foi de acordo com a pro-
l. Os assuntos especiais apresentados messa divina de vida em Cristo Jesus.
com brevidade e concisão são os seguin- Em I Tm. 1: 1 encontramos a expressão,
-268 -
I I I
I i i
'I I I
11 TIMÓTEO 1: 1-8
-269-
11 TIMÓTEO 1: 8-18 - 2: 1-5
Timóteo: Não se envergonhe (v. 8); Se- 2,4, na LXX. O Espírito guardará o
ja participante (v. 8); Mantém (v. 13); depósito. A conexão íntima da obra
Guarde o depósito (v. 14). A exposi- de Cristo e a do Espírito está evidente
ção do Evangelho nos versículos 9-12 aqui como em outros pontos das cartas
dá a base para estas exortações. O tes- de Paulo (Rm. 8: 9-11; 11 Co. 3: 17,18).
temunho de nosso Senhor é o Evangelho 4) Ilustrações Pessoais de Lealdade e
que Ele deu à Sua Igreja. Os sofrimentos Oposição. 1: 15-18. Aqui estão exem-
que a propagação do Evangelho acarre- plos daqueles que ajudaram e daqueles
ta devem ser suportadas no poder de que se opuzeram ao grande apóstolo.
Deus. 9. Salvar e chamar são atividades Servem de advertência e estímulo a
paralelas do Espírito Santo. Que nos Timóteo. O método de Paulo foi igual
foi dada. Aqui, como sempre, a refe- em I Tm.1: 19,20.
rência de Paulo à predestinação tem a
intenção de fortalecer e confortar. Os 11. O Evangelho: Um Depósito que
eternos propósitos de Deus não falharão. Requer Fidelidade. 2: 1 - 3: 17.
10. Manifestada. É a Sua graça (o dom
da vida) que é nossa no seu propósito A. A Ser Diligentemente Entregue aos
desde a eternidade, e a qual agora se Outros. 2: 1-7. Um detalhe muitíssimo
manifestou na obra salvadora de Cristo. importante na guarda do depósito é en-
A mesma palavra, que implica em "fi- sinar aplicadamente aos outros, que por
car inteiramente revelada", foi usada sua vez se capacitarão a ensinar.
em Rm. 3: 21 e 16: 26. 11. Para o qual 1. Para tanto, diz Paulo, o mestre
refere-se ao Evangelho, do qual Paulo cristão tem de ser forte. Fortifica-te.
era um apóstolo encarregado. 12. Por is- Em todos os outros exemplos do N.T.
so. Por causa da incumbência do Senhor. esta palavra está em conexão com Pau-
Estas cousas. Prisão e cadeias. Podemos, lo ou é usada por ele (Atos 9: 22; Rm.
sem nos envergonhar, suportar quaisquer 4:20; Ef.6:1O; Fp.4:13; ITm.1:
circunstâncias injustas e adversas se sou- 12; 11 Tm. 4: 17). Graça é uma palavra
bermos que em todas elas o Senhor está de significado amplo, abrangendo o po-
guardando o nosso depósito: isto é, o der e os dons do Espírito (veja Charles
Evangelho que Ele nos confiou. Estou Hodge, Systematic Theology, 11, 654,
certo. Esta passagem é um paralelo ín- 655).
timo com a exposição que Paulo faz da As três famosas metáforas sobre o
experiência de Abraão em Rm. 4: 21. relacionamento do ensino cristão com
3) Desafio a que se Apegue ao Modelo a fé foram apresentadas nesta passagem.
das Palavras Sãs. 1: 13, 14. Paulo reite- 1) O Mestre é um Soldado (vs. 3,4).
ra a necessidade de colocar o esboço bá- Participa dos meus sofrimentos. Satis-
sico da doutrina em uma forma concreta, fazer é uma palavra quase que inteira-
facilmente lembrável (cons. Rm. 6: 17). mente paulina no N.T.; veja a força da
Mantém o padrão das sãs palavras, ou o palavra cognata em C1. 1: 10. 2) O Mes-
esboço da doutrina. A confissão da fé tre é um Atleta (v. 5). Lutar segundo
era característica da Igreja desde os as normas. Isto implica em ambos, o
tempos mais remotos, e logo foi elabora- treinamento para a competição e as re-
da no Credo Apostólico. Em Cristo e gras que governam esta. Coroado só
no seu Espírito estão a fé (plenitude) e foi usado aqui e em Hb. 2: 7, 9 em todo
o amor que garantem a manutenção da o N.T.; o substantivo foi usado em 11
fé. 14. Bom depósito. A mesma pala- Tm. 4: 8. A coroa foi definida em ou-
vra usada no versículo 12 e em Lv. 6: tras passagens como "incorruptível"
-270 -
I I I I I I
'I I I
11 TIMÓTEO 2: 6-11
(I Co. 9: 25), "de justiça" (11 Tm. 4: 8), em ressuscitou de entre os mortos. Des-
"da vida" (Tg. 1: 12; Ap. 2: 10), "im- cendente de Davi. O apóstolo se refere
perecível" (I Pe. 5: 4). 3) O Mestre é a Cristo deste modo, aqui, em Rm. 1 :
um Lavrador (v. 6). Este princípio 3 e em Atos 13: 23. Este termo tem a
(mais detalhadamente discutido em I Co. vantagem tripla de destacar a verdadeira
9: 1-14 e ITm.5: 17, 18) pode ser apli- humanidade de Jesus, Sua linhagem mes-
cado incluindo a remuneração e o sus- siânica e Sua autoridade soberana. So-
tento, mas aqui destaca-se o benefício bre este último ponto, observe especial-
espiritual auferido pelo próprio Timóteo. mente Ap. 3: 7; 5: 5; 22: 16. A pala-
Ele deveria conhecer as bênçãos da men- vra que Paulo costuma usar para esta
sagem que ele está dando aos outros idéia é "Senhor". Pedro liga estas idéias
(cons. I Tm. 4: 15, 16). em Atos 2: 30, 36. Paulo usa meu evan-
7. Pondera o que acabo de dizer. Ou, gelho como usou meu depósito em 11
tome nota, pense nisso, porque o Senhor Tm. 1: 12. A força disso é que o depó-
te dará compreensão é o correto. sito confiado a Paulo é o Evangelho,
pelo qual ele era responsável e do qual
B. A Ser Firmemente Guardado e Aca- ele foi uma testemunha ocular compe-
lentado. 2: 8-26. tente. Paulo rejeita originalidade: esses
1) A Verdade Central do Evangelho. eram os fatos conhecidos dele e daque-
2: 8. Lembra-te destaca a continuidade les de quem ele os recebeu (cons. I Co.
da ação: Esteja continuamente lembran- 15:3,11; veja B.B. Warfield,ThePerson
do. Jesus Cristo. Nos Evangelhos esta and Work of Christ, pág. 535-546).
é uma rara, mas direta e solene designa- 2) O Exemplo da Fidelidade de Pau-
ção de Jesus, aparecendo em Mt. 1: 18; lo. 2: 9, 10. Pelo que sofro trabalhos.
Mc. 1: 1; Jo. 1: 17; 17: 3. Esta última (E.R.C.). Os aborrecimentos, a oposi-
passagem é especialmente significativa ção e a prisão que Paulo experimentou
porque o Senhor a usou pessoalmente. brotaram diretamente do seu testemunho
Esta é a base do uso em Atos e na igreja firme sobre a Ressurreição (veja J.O.
primitiva. Paulo está enfatizando a men- Buswell, Behold Him! pág. 42-49). As
sagem apostólica de Jesus Cristo ressus- duas cláusulas do versículo 10 são para-
citado (veja B.B. Warfield, Lord ofGlory, lelas às duas cláusulas correspondentes
pág. 184-186). Ressuscitado sublinha o do versículo 9: sofro trabalhos corres-
fato de que Ele ressuscitou e agora vive. ponde a tudo suporto, com o pensa-
A palavra foi usada com muita freqüên- mento acrescentado por causa dos elei-
cia nos ensinamentos do próprio Senhor tos. A palavra de Deus não está algema-
e nas narrativas de Sua ressurreição nos da corresponde a para que também eles
Evangelhos. O uso que Paulo faz da pa- obtenham a salvação.
lavra aqui, em ICo.15:4,12 e em ou- 3) A Verdade Personificada numa
tras passagens, devolve o testemunho "Palavra Fiel". 2: 11-13.
desta palavra, exatamente, à sua forma 11a. Paulo usou a palavra fiel para
mais primitiva. De entre os, devidamente introduzir assuntos de grande importân-
traduzido. Mortos não foi usado figura- cia (veja comento sobre I Tm. 3: 1). Aqui
damente, mas literalmente, significando ele a usa para introduzir palavras extraí-
pessoas mortas. Todos os mortos estão das, muito provavelmente, de um hino
subentendidos; Jesus ressuscitou como familiar (veja observação sobre I Tm.
as primícias, dentre eles. Paulo pregava 3: 16). Este é o âmago do que Paulo
que Cristo morreu e foi sepultado, eli- queria dizer, por isso ele o apresenta de
minando qualquer interpretação figurada maneira memorável. O poema tem uma
-271-
11 TIMÓTEO 2: 11-20
estrutura equilibrada. A primeira cláu- ser feito perante Deus, que então teste-
sula e a última recebem a ênfase atra- munharia da grave responsabilidade con-
vés da conjunção que aqui foi traduzida ferida. Evitem contendas de palavras
por verdadeiramente e pois: é uma só palavra no texto grego; o subs-
Se verdadeiramente morremos com tantivo correspondente foi usado em
Ele, também com Ele viveremos; I Tm. 6: 4. Ambas as formas parecem
Se perseveramos, também com Ele implicar em cavilações sobre palavras e
reinaremos; não na busca da verdade. 1S. Procura
Se O negarmos, também Ele nos ne- apresentar-te a Deus aprovado. Que ma-
gará; neja bem, como um mestre no seu ofício
Se formos infiéis, Ele permanece fiel, manejaria a sua ferramenta. 16. Falató-
Pois não pode negar-se a Si mesmo. rios inúteis e profanos. Esta é mais uma
11b. Se já morremos. Nossa justi- característica da discussão sobre pala-
ficação e perdão é a morte para o pecado vras. hnpiedade. Desviando a atenção
e a maldição da Lei. Viveremos com ele da verdade sólida dariam lugar ao erro
aponta para o alvo final - a vida eterna, de conduta. 17. A linguagem deles pa-
embora inclua a nossa presente caminha- rece referir-seâ doutrina daqueles que
da. 12. Se perseveramos significa se su- se ocupam em tais discussões. Câncer,
portamos; o pensamento é paralelo ao uma ferida que não sara. Himeneu está
de Rm. 8: 16, 17. Reinaremos amplia associado a Alexandre em I Tm. 1: 20,
o significado do que está envolvido no onde o motivo de seu afastamento da
viver com Cristo. Negamos é uma clara fé jazia no fracasso em manter uma cons-
referência a Mt. 10: 33. Há um incen- ciência pura. Fileto não é mencionado
tivo duplo para permanecermos fiéis: em qualquer outro lugar; nada mais se
a esperança de reinar com Ele, e a cer- sabe a respeito dele. 18. A ressurreição.
teza de que se O negarmos, Ele nos negará. Os gnósticos imaginavam a ressurreição
13. Se somos infiéis. Esta última sen- alegoricamente, como que se referindo
tença parece sugerir que se o cristão a um conhecimento da verdade, que
pecar, Sua (de Cristo) fidelidade é a úl- acontecia por ocasião do batismo.
tima esperança, pois Ele não pode negar 19. Fundamento parece implicar em
a Si mesmo; a ênfase não foi colocada ambos, no fundamento e no templo, a
sobre o Seu negar se nós o negarmos. O igreja, como em I Tm. 3: 15; Ef. 2: 20;
pensamento é semelhante ao de I Jo. Mt. 16: 18. Selo. Um sinal de posse e
2: 1, envolvendo a confissão e o perdão autenticação. Conhece. Esta citação
do pecado (veja todo o sermão "Comu- foi extraída da LXX, em Nm.16:5,
nhão com Cristo", de Warfield, Faith com alusões aos versículos 26, 27 da mes-
and Li/e, pág. 415-427). ma passagem (cons. Mt. 7: 23; Jo.lO:
4) A Verdade Bem Manejada. 2: 14- 14). Aquele que professa o nome signi-
19. Conversas vazias desorientariam os fica qualquer um que profere o nome
ouvintes; mas Timóteo devia proceder de Cristo como seu Senhor. Nenhuma
de acordo com a Palavra, fugindo âs fu- passagem especial foi citada aqui, mas
tilidades, lembrando-se dos sinais do o sentido de muitas passagens está nela
verdadeiro fundamento, e procurando, condensado.
através de uma conduta reta, ser útil 5) A Verdade Aplicada Vida. 2: 20·
ã
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11 TIMÓTEO 2: 20-26 - 3: 1-3
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11 TIMOTEO 3: 3-12
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11 TIMÓTEO 3: 12-17 - 4: 1
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11 TIMÓTEO 4: 1-5
15: 24, 25); eternidade nos novos céus te" (Os. 4: 9; Jr. 5: 30, 31). Cercar-se-ão
e nova terra (Ap. 22: 3). significa multiplicar, ter uma abundân-
2) Cinco Imperativos. 4: 2. Estes cia de falsos mestres. 4. Verdade. Muito
cinco concisos imperativos, que se empa- linda é a constante orientação da Bí-
relham a outros quatro no versículo 5, blia à verdade, uma palavra de amplo
resumem a tarefa do ministério: 1) Prega. significado para a revelação de Deus,
É a primeira e grande tarefa básica da centralizada em Jesus Cristo. Fábulas.
transmissão da mensagem fundamental, Abandonando a única base da vida, suas
como fazia o próprio Paulo (I Co. 15: esperanças e conduta serão edificadas
1-11) e Jesus (Lc. 5: 1; 8: 11,21). 2) sobre a areia e os mitos (veja coment.
Insta. Estar pronto, preparado, quando sobre I Tm. 4: 7). Em 11 Pe. 1: 16 os
for conveniente e quando não for. 3) mitos estão em contraste com a verdade
Corrige, intimamente relacionado com escrita de Deus. Portanto, mais urgen-
a idéia de "convencer" (3: 16; veja co- te se toma a necessidade de intensificar
ment.), é a mesma palavra que foi usada a sã doutrina.
em ri. 1: 9 ("exortar"), 13 ("repreen-
der"); 2: 15 ("exortar"); I Tm. 5: 20 4) Quatro Imperativos. 4: 5. Estes
("repreender"). 4) Repreende foi tra- concluem as ordens dadas por Paulo a
duzido para advertir em Mt.12: 16; Timóteo. 1) Sê sóbrio. Literalmente,
advertir em Me, 8: 30; repreender em abster-se de bebidas intoxicantes, mas
Mc. 10: 48; e advertir em Lc. 9: 21. Sig- em todo o N.T., onde aparece, traz a
nifica cobrar uma responsabilidade não idéia de vigilância e prontidão. As ex-
cumprida. A idéia essencial é, freqüen- pressões paralelas que lhe são ligadas
temente, a exigência implícita da res- são auto-explanatórias: "vigiemos, e se-
tituição quando apontado o erro. 5) jamos sóbrios" (I Ts. 5: 6); "sede, por-
Exorta costuma ser traduzido para con- tanto, criteriosos e sóbrios" (I Pe. 4: 7);
fortar ou suplicar. É uma ansiosa súpli- "Sede sóbrios e vigilantes" (I Pe. 5: 8).
ca em qualquer circunstância da vida, 2) Suporta as aflições. Todos os três
possível por causa da presença do Confor- usos paulinos desta palavra encontram-se
tador, cujo nome é uma forma diferente em 11 Tm.: "Participa ... sofrimentos"
da mesma palavra. A frase, com toda (2: 3); "sofrendo algemas" (2: 9). Ob-
a longanimidade e doutrina (ensinamen- serve também a mesma palavra com a
tos), não deve ser tomada só com o úl- preposição com em 1: 8, "participa dos
timo dos imperativos, mas deve acompa- sofrimentos". 3) Faze o trabalho de
nhar todos os cinco mandamentos. Pa- evangelista. Se isto significa um cargo
ciente transmissão de ensinamentos é a especial (Atos 21: 8), a lista em Ef. 4:
mais sólida das bases para um sucesso 11 é digna de nota, pois é mais comple-
final no ministério (cons. 2: 25). ta que a lista paralela em I Co. 12: 28 :
3) Afastando-se da Verdade; Apegan- profetas, evangelistas, pastores, douto-
do-se aos Mitos. 4: 3, 4. 3. A insistên- res são mencionados em comparação
cia na fidelidade e sã doutrina toma-se com os profetas, e doutores. Provavel-
mais necessária por causa do perigo da mente estas funções coincidiam; o evan-
apostasia nas igrejas. Coceira nos ouvi- gelista podia muito bem estar entre o
dos. As pessoas terão vontade de ouvir profeta e o pastor-doutor. A vida de Ti-
o que satisfaz a seus desejos pecaminosos. móteo incluía muito evangelismo iti-
Isaías caracteriza poderosamente a ati- nerante, além de atividades pastorais
tude em 30: 9-11. Mestres. O princí- e de doutrinamento. 4) Cumpre cabal-
pio é de Oséias: "tal povo, tal sacerdo- mente o teu ministério ou "cumpre
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11 TIMÓTEO 4: 5-8
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11 TIMÓTEO 4: 8-20
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11 TIMÓTEO4: 20·22
29). Paulo está se referindo a uma oca- Jesus Cristo (E.R.C.) poderia ser Senhor
sião posterior. Inverno explica o pedido (E.R.A.) apenas. Teu espírito é para
da capa de 11 Tm. 4: 13. As pessoas que Timóteo, em primeiro lugar, e o con-
enviam saudações são mencionadas ape- vosco (plural) é para todos os leitores
nas nesta passagem do N.T. 22. Senhor de Paulo, os cristãos em Éfeso.
- 279-·
TITO 1: 1-4
A EPfsTOLA A TITO
ESBOÇO
I. Saudação. 1: 1-4.
11. A missão de Tito: Pôr algumas coisas em ordem. 1: 5 - 3: 11.
A. A tarefa e a necessidade de anciãos que ensinam. 1:5-16.
1. Qualificações dos anciãos. 1: 5-9.
2. Necessidade de anciãos para combater o erro. 1: 10-16.
B. O trabalho pastoral dos anciãos que ensinam. 2: 1 - 3: 11.
1. Aplicação da sã doutrina a casos particulares. 2: 1-10.
2. Proclamação da sã doutrina: A graça de Deus. 2: 11-15.
3. Demonstração da sã doutrina: A raiz e o fruto. 3: 1-11.
Ill. Conclusão, enfatizando as boas obras. 3: 12-15.
COMENTÁRIO
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I I I I
'I I I
TITO 1:4-13
por Paulo, Tito e todos os cristãos. O pelo reto ensino, como para conven-
apóstolo pode estar usando a analogia cer (como em Jo. 16: 8) os que contra-
da herança: a fé é um patrimônio ou um dizem.
fideicomisso que pertence a todos; Tito 2) Necessidade de Anciãos para Com-
está sendo encarregado de administrá-lo. bater o Erro. 1: 10·16. Como sugere
Misericórdia só foi acrescentada nas o versículo 9, a doutrina tem aplicação
Epístolas Pastorais (veja I Tm. 1: 2, co- dupla: exortação e convicção - instruir
ment.). Da parte de rege ambos, Deus os crentes e convencer os contradizentes.
e Senhor: juntos constituem a única 10. Insubordinados. Usado aqui, em 1:
fonte divina de todas as bênçãos. A 6 e em I Tm. 1: 9. A idéia é de incredu-
E.R.A. omite corretamente Senhor: Cris- lidade deliberada e rejeição da verdade.
to Jesus nosso Salvador. Palradores e enganadores (cons. verbo
relacionado em Gl. 6: 3). Única ocor-
11. A Missão de Tito: Pôr Algumas rência no N.T. Circuncisão. O Judaís-
Coisas em Ordem. 1: 5 - 3: 11. mo incrédulo parecia aprofundar-se cada
vez mais na completa rejeição da verdade.
A. A Tarefa e a Necessidade de An- Um pouco depois João falou dos judeus
ciãos que Ensinam. 1:5-16. chamando-os de "sinagoga de Satanás"
1) Qualificações dos anciãos. 1: 5-9. (Ap.2:9; 3:9). 11.É preciso fazê-los
S. Para a possível ordem dos aconteci- calar. A razão principal de se argumen-
mentos mencionados, veja 3: 12. Paulo tar a favor da fé (apologética) é exortar
deixou Tito em Creta e talvez seguisse e convencer. As evidências devem ser
para Nícópolis, em Épiro, perto da Dal- tão claramente apresentadas que os re-
mácia (lI Tm. 4: 10), onde mais tarde jeitadores deverão pelo menos ser dei-
Tito o encontrou, e ambos foram para xados sem desculpa ou resposta. Em
a Dalmácia. As cousas restantes dá a Creta a situação foi agravada pelos ju-
entender as coisas que ficaram por fa- daizantes avarentos e outros falsos mes-
zer. Em cada cidade sugere uma evange- tres, que subverteram casas inteiras no
lização extensa mas rápida da ilha, dei- seu desejo de ganhar favor e ganho fi-
xando a questão da organização para nanceiro.
mais tarde. Presbíteros ou anciãos aqui 12. A observação é severa, mas vem
são os anciãos que ensinam ou os pas- das próprias fileiras dos cretenses. Paulo
tores, a julgar pelo contexto. Esta mis- não se opunha a usar fragmentos de
são em Creta não conferia a Tito poder verdade colhidos entre os autores pagãos
ditatorial para nomear ministros. Antes, (Atos 17:28; ICo.15:33). Ventres
como Paulo e Barnabé ordenaram an- preguiçosos é o mesmo que glutões ocio-
ciãos (Atos 14: 23) que foram escolhi- sos. 13. Tal testemunho é exato. Presu-
dos pelo povo, assim também Tito devia mivelmente Paulo estivera na ilha por
fazer, tendo em mente as devidas quali- algum tempo e podia confirmar a decla-
ficações. Paulo dá três qualificações ração. Uma vez que os cretenses eram
generalizadas (v. 6), uma lista de qua- mentirosos, e estavam rejeitando a ver-
lificações negativas (v. 7) e outra de po- dade, sua mensagem devia ser refutada.
sitivas (vs. 8. 9). Toda a seção está em Mas Tito também devia repreender seve-
íntimo paralelo com I Tm. 3: 2-4. 9. A ramente (a mesma palavra "convencer"
E.R.A. é a preferível pela escolha nas no v. 9) aqueles que se professavam
palavras e na ordem: apegado à palavra crentes e lhes davam ouvidos. Isto es-
fiel, que é segundo a doutrina, de modo clarece que Paulo aqui desvia sua aten-
que tenha poder, assim para exortar ção dos incrédulos para os crentes pro-
-281 -
TITO 1: 14-16 - 2: 1-12
fessos. 14. Fábulas. Mitos. Mandamen- de Pv. 31: 10-31. Honrar a Palavra de
tos de homens, reminiscência de Mt. Deus é a sanção suprema para a conduta
15: 9, e sua fonte está em Is. 29: 13. correta.
Falsa autoridade e. temor aos homens 4) Para os moços (vs.6-8) a virtude
estão envolvidos na rejeição à verdade fundamental destaca-se pela ênfase dada
de Deus. à sobriedade e à díscreção, como no
15. Aqui o ensinamento é paralelo caso das mulheres jovens (v. 5). A mes-
ao de I Tm. 4: 2-5. Todas as cousas ma ênfase se encontra nas exortações
deve ser tomado no contexto como aos jovens em Provérbios (I: 4; 2: 11 ;
equivalente a "cada criatura de Deus" 3: 21; 5: 2). Para Tito o apóstolo faz
(I Tm. 4: 3, 4). Para aqueles que rejei- uma admoestação apropriada para um
tam a soberania de Deus, e adoram a jovem e ministro (Tt. 2: 7, 8). A res-
criatura, todas as coisas são impuras, ponsabilidade constante de instruir de-
até mesmo suas mentes e consciências. vidamente os incrédulos está incluí-
16. Professam (cons. 11 Tm. 3: 5). As da. 5) Aos servos (vs. 9,10) duas fal-
obras são-a prova decisiva da condição tas comuns são destacadas: não sejam
do coração (Mt. 7: 20; 110.4: 20). respondões, responder ou discutir; e
Reprovados. Inaptos para qualquer não furtem, roubar (usado apenas em re-
boa obra. lação a Ananias e Safira em Atos 5 :
2,3). Fidelidade é a palavra freqüen-
B. O Trabalho Pastoral dos Anciãos temente usada para a fé no N.T.
que Ensinam. 2: 1 - 3: 11. Paulo epitomiza toda a seção, a bem
1) Aplicação da Sã Doutrina aos dizer toda a epístola, quando destaca
Casos Particulares. 2: 1-10. As instru- que as boas obras são a ruo de ornarem,
ções deste capítulo estão endereçadas em todas as cousas, a doutrina de Deus,
a Tito diretamente nos versículos 1, 7, nosso Salvador. Tiago disse que a fé
8,15; mas, por intermédio de Tito, (doutrina) sem as (boas) obras é morta,
Paulo estava instruindo toda a igreja de exatamente como o corpo sem o espí-
Creta. Seu tema central é a sã doutri- rito também está morto. É dignífí-
na aplicada, resultando em boas obras. cante esse pensamento de que as nossas
1) Para Tito (v. 1) a responsabilidade boas obras adornam o testemunho de
primária era pregar e ensinar a verdade, nosso Deus (Mt. 5 : 16).
aquela que estivesse de acordo com a 2) Proclamação da Sã Doutrina: A
sã doutrina (sadios; veja 1: 9, 13; 2: 1; Graça de Deus. 2: 11-15. Graça (Pas-
e o adjetivo em 2: 8). O uso desta pa- torais: I Tm. 1: 14; 11 Tm. 1: 9; 2: 1;
lavra nas Pastorais, sempre em conexão Tt. 3: 7) é sempre a grande palavra cha-
com a doutrina, mostra a ênfase que ve da salvação. Salvadora é uma palavra
Paulo dá ao ensino correto. 2) Para os só, que significa "salvando". A todos os
homens idosos (v. 2), que já eram mes- homens dá a nota universal e evangelís-
tres ou em potencial, a vida e a doutrina tica tão proeminente nas Pastorais. Ela
tinham de andar juntas. Esta é uma im- se manifestou em Jesus Cristo (11 Tm.
portante consideração em relação a cada 1: 10). Todas as promessas de Deus e Sua
uma destas categorias de pessoas. Con- obra salvadora desde o começo da raça
selhos adicionais encontram-se em I Tm. revelaram a Sua graça; todas as Suas
5: 1. 3) Para as mulheres idosas e as bênçãos e dons foram planejados para
jovens recém-casadas (vs. 3-5) enfatizou- levar os homens ao arrependimento (Rm.
-se consideravelmente o estabelecimento 2:4).
do lar. Os detalhes são reminiscências 12. Educando. A graça salva, mas
-282 -
I , I I 'I I I
TITO 2: 12-15 - 3: 1-5
também ensina e educa para uma vida de Deus. Que o nosso ministério não
sóbria e piedosa. Renegados. A mesma seja tal que dê aos homens motivos para
forte e decisiva rejeição que se opõe nos desprezarem.
à graça (I Tm. 5: 8; 11 Tm. 2: 12; 3: 5; 3) Demonstração da Sã Doutrina: A
Tt. 1: 16). Sensata, justa e piedosa- Raiz e o Fruto. 3: 1-11. Aqui Paulo in-
mente. Estas três palavras reiteram ha- troduz um novo parágrafo discutindo
bilmente o tema de todas as Pastorais. a vida piedosa, a qual, ele declara, de-
Presente século. Usada uma vez em cada veria ser inspirada no exemplo de nossa
Pastoral (veja 1 Tm. 6: 17; 11 Tm. 4: 10). própria indignidade que foi tratada por
Estas palavras indicam a orientação bá- Deus com bondade e amor. Ele escla-
sica do pensamento de Paulo - a vida rece (v.8) que a intenção da doutrina
consiste deste mundo, como também cristã é que os crentes demonstrem as
do mundo vindouro. boas obras. A graça de Deus é a raiz;
13. Paulo expressa o restante do pen- as boas obras são o fruto. Não causa
samento com o grande acontecimento admiração, portanto, que encontremos
do mundo por vir: a vinda de Cristo. aqui outro notável resumo doutrinário
Esperança ... manifestação é um só con- (fazendo paralelo com o do capítulo
ceito, como na E.R.A.: a bendita espe- anterior sobre a graça de Deus). Esta
rança e a manifestação. Deus ... Sal- gema, esta brilhante descrição da bon-
vador está corretamente traduzido: "nos- dade de Deus para conosco (vs.4-7),
so grande Deus e Salvador Cristo Jesus". está engastada na responsabilidade do
Novamente duas idéias formam um só crente de demonstrar as boas obras dian-
'conceito, como acontece com os no- te dos homens.
mes divinos compostos do V.T. 14. O Em primeiro lugar Paulo enfatiza as
qual a si mesmo se deu por nós. A ex- virtudes e obrigações públicas. Aqui está
piação inclui ambas, a referência parti- também uma pequena observação adi-
cular aos eleitos e a referência univer- cional sobre o governo da igreja (vs.9-
sal a todos (veja comento sobre 1 Tm. 11) que sup1ementa 1: 5-16. 1. Aos que
2: 6). Remir. Resgate ou livramento governam. Antes, principados (E.R.C.).
pelo pagamento de um preço (usado em Autoridades. Potestades (E.R.C.). Sejam
Lc. 24: 21; 1 Pe. 1: 18; e aqui). A com- obedientes. O mesmo verbo foi usado
pra está destacada na expiação (cons. em Atos 5: 29, 32. 2. As virtudes rela-
Gl. 3: 13; Ap. 5: 9). O livramento cionadas são iguais às que foram orde-
da culpa e da condenação não é o prin- nadas anteriormente, mas aqui estão
cipal aqui, mas antes o livramento da vida dirigidas ao mundo incrédulo. 3. Nós
iníqua. Assim o sinal peculiar do povo também. Paulo jamais se esqueceu do
de Deus aparece - seu zelo pelas boas que foi antes, e isto o levava a ter com-
obras. Exclusivamente foi usado na paixão dos perdidos. 4. Benignidade e
LXX em Êx, 19: 5. Esta é a palavra amor só foram usados aqui e em Atos
traduzida para "eleito" em 1 Pe. 2: 9, 28: 2. Piedade também está implícita
ambas implicam na posse ou na com- no contexto. Estas graças foram supre-
pra. As boas obras são o fruto do Es- mamente manifestadas em Cristo, embo-
pírito, o selo da propriedade de Deus. ra sejam manifestas em todas as naturais
15. Dize estas cousas. A graça de benevolências de Deus (Atos 14: 17).
Deus é a base das boas obras, mas é es- Toda esta passagem forma um equili-
sencial que o ministro proclame con- brado complemento de Tt. 2: 11-14. 5.
tinuamente esta graça, exortando e re- Obras de justiça. A E.R.C. traduz cor-
provando, com a autoridade da Palavra retamente: Não por obras de justiça
-283 -
TITO 3: 5-15
praticadas por nós. Isto elimina toda evitadas, como também os indivíduos
e qualquer obra; não só as que foram que, tendo sido advertidos pela igreja,
praticadas pela justiça própria dos ho- ainda perversamente se lhes apegam.
mens perdidos, como também as obras 10. Faccioso está sendo usado ou no
praticadas em verdadeira justiça. Con- sentido restrito ou com a idéia de cau-
trapondo-se a todas as obras está a mi- sar divisões. Admoestação é o aspecto
sericórdia livre de Deus, exibida na obra mais importante da disciplina da igreja.
do Espírito. Lavar ... renovador. O Es- O substantivo foi usado aqui, em I Co.
pírito Santo nos renova em regeneração. 10: 11 e em Ef. 6: 4; o verbo em Atos
Estas duas idéias estão intimamente li- 20:31; Rm.15:14; ICo.4:14; Cl.
gadas entre si como a expressão dupla 1:28; 3:16; ITs.5:12,14; IITs.3:
de uma só obra do Espírito. 6. Der- 15. 11. Pervertida tem o sentido do
ramou sobre nós. O simbolismo da água "permanentemente transtomado", "en-
tem sido freqüentemente usado em re- volvido num caminho errado". Pecan-
lação ao Espírito. O Espírito é dado do implica em pecado determinado, co-
através de Jesus (Jo.4: 10; 7:37). Abun- mo em Hb. 10: 26. Por si mesma está
dantemente (E.R.C.). Ricamente (E.R. condenada. Esse tal, que já recebeu o
A.). O Espírito é verdadeira riqueza, conhecimento da verdade e teimosa-
visto que é o penhor de nossa herança, mente a rejeita, é sua própria testemu-
a fonte e o criador de todas as bênçãos. nha de que duas vezes rejeitou uma sin-
7. A fim de que dá o resultado do dom cera explicação e um apelo.
do Espírito: "para que, sendo justifi-
cados pela sua graça, sejamos feitos m. Conclusão, Enfatizando as Boas
herdeiros segundo a esperança da vida Obras. 3: 12-15.
eterna".
8a. Fiel é a palavra. Esta é uma Depois de algumas poucas observa-
das observações dignas de nota das Pas- ções pessoais, Paulo apresenta a reite-
torais (I Tm. 1: 15; 3: 1; 4: 9; 11 Tm. ração final da responsabilidade princi-
2: 11, coment.), Além de enfatizar pal de sua carta - que os crentes deve-
bastante a declaração doutrinária que riam tomar o cuidado de perseverar
acabou de ser enunciada (vs.4-7), tam- nas boas obras. 12. Ártemas não é men-
bém chama a atenção para a declara- cionado em nenhum outro lugar; Ti-
ção sucinta e poderosa da mensagem de quico aparece em Atos 20: 4; Ef. 6: 21;
toda a epístola que se segue. Faças Cl. 4: 7; 11 Tm. 4: 12. Nicópolis fica
afirmações confiadamente é um verbo em Épiro. Tito recebeu a instrução de
enfático que apenas foi usado em I Tm. se juntar ao apóstolo lá (11 Tm. 4: 10,
1: 7 e aqui. A verdade persuasiva do coment.). 13. Zenas aparece só aqui.
Evangelho requer paciente repetição. Apolo era um alexandrino; é possível
Os que têm crido ... sejam solícitos que a viagem mencionada fosse à Ale-
na prática de boas obras. A graça de xandria via Creta. 14. Distíngüir-se
Deus, produzindo fé, vem em primeiro pode significar "estar preocupado com",
lugar; boas obras deveriam vir a seguir; mas de acordo com o seu uso nas Pas-
primeiro a raiz, depois o fruto. 8b,9. torais, significa "orientar". A suges-
Excelentes e proveitosas do versículo 8 tão é que os cristãos sejam os líderes
contrasta com não têm utilidade e são na prática das boas obras. 15. Graça.
fúteis do versículo 9, onde o apóstolo Esta é a conclusão característica de to-
faz uma lista das coisas que distraem das as epístolas de Paulo (veja comentá-
a atenção da verdade. Essas devem ser rio sobre I Tm. 6: 21).
-284-
I I 'I I I
FILEMOM 1: 1-5
EPfsTOLA A FILEMOM
INTRODUÇÃO
Ocasião e Tema. Paulo escreveu esta toda a igreja, não apenas para Filemom
carta em favor de Onésimo, escravo de pessoalmente. (Filemom não era o úni-
Filemom, que, depois de fugir do seu se- co senhor de escravos na igreja colossen-
nhor, converteu-se sob o ministério de se; cons. Kyrioi, Cl. 4: 1). Fazendo vol-
Paulo. Recentes conjeturas de John tar o escravo que, depois de fugir, to r-
Knox, o notável escritor contemporâ- nou-se cristão e servo de Paulo, o após-
neo (Philemom Among the Letters of tolo não só nos instruiu em relação aos
Paul) faz de Arquipo o proprietário do princípios que regem o relacionamento
escravo (e principal destinatário da car- entre os irmãos cristãos, como faz-nos
ta) e Filemom, um simples superinten- lembrar também que estes princípios
dente das igrejas do Vale de Lícus. O não devem ser "por força, mas volun-
ponto de vista tradicional, entretanto, tários" (Fm.14). Em Cristo há uma
que considera Arquipo o filho de File- estrutura de referência completamente
mom e Áfia, continua sendo o mais diferente que transforma todos os rela-
convincente. cionamentos terrestres; a fraternidade
Na providência divina, diversos fato- é o ponto central sobre o qual todos os
res são importantes para o reconheci- outros relacionamentos devem ser a'v'a-
mento desta carta pela igreja, não como liados. Paulo não faz polêmica contra
simples correspondência particular de a escravidão, mas no decorrer dos sé-
Paulo, mas como um ensino apostólico culos, a fé cristã chegou a compreender
a ser aceito nas Escrituras: 1) "A igreja" que a prática da escravidão é incompa-
está incluída entre os destinatários. 2) tível com os princípios aqui enuncia-
O relacionamento senhor-escravo apre- dos por Paulo. Para origem e data desta
sentou um importante problema para carta, veja Introdução aos Colossenses.
ESBOÇO
I. Introdução. Fm.1-3.
lI. Ação de Graças. Fm. 4-7.
UI. Paulo Intercede por Onésimo. Fm.8-21.
IV. Conclusão. Fm.22-25.
COMENTÁRIO
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FILEMOM 1: 14-25
a carta de Inácio aos efésios, 1). Knox mas parece que foi mais do que sim-
(in loc.) e Harrison (P.N. Harrison, "0- plesmente fugir. A oferta de Paulo de
nesimus and Philemon", AThR, XXXIII, pagar algum dano sugere que há algum
Oct., 1953) pensam assim. Ainda que dinheiro envolvido - roubo, desfalque,
uma resposta certa não possa ser dada ou talvez simplesmente um imprudente
a estas perguntas, a suposição por elas emprego de fundos. A ti mesmo. Ao
despertada é tentadora. que parece Filemom também era um con-
15,16. Temporariamente. Literalmen- vertido do apóstolo. Este delicado lem-
te, por uma hora. Uma perda insignifi- brete tinha a intenção de aquietar qual-
cante resultou em um ganho imensu- quer exigência de "justiça" e para reapro-
rável. Para sempre. Permanentemente. ximar os dois, Filemom e Onésimo; eles
O termo é reminiscência da provisão fei- tinham o mesmo pai espiritual.
ta para a escravidão voluntária em ih. 20,21. Demonstrando amor cristão a
21:6 (cons. SBK, IV, 746; Lv. 25:46). Onésimo, Filemom reanimaria e ale-
Mas o relacionamento não devia mais graria o próprio Paulo. Com base nisto
ser encarado em termos de senhor e ser- o apóstolo faz o seu apelo, certo de uma
vo. Ser cristão é ser innão dos outros boa reação. Mais do que estou pedindo.
.crentes. E este é o fator determinante Isto pode se referir a I) devolver a Oné-
em todos os outros relacionamentos símo a sua liberdade ou 2) devolvê-lo
humanos, quer sejam na carne, isto é, a Paulo (cons. VS. 13, 14).
no plano natural, quer no Senhor, isto
é, no plano espiritual, na esfera da "no- N. Conclusão. Fm.22-25.
va geração" (veja Introdução a Co10s-
senses). Entretanto, os relacionamentos 22. A confiança de Paulo de que se-
de ambos os planos devem ser desen- ria solto de sua prisão faz eco aos seus
volvidos simultaneamente. Filemom sentimentos em Fp.1: 25, 26 (veja In-
era irmão e senhor; Onésimo era irmão trodução a Colossenses). Por vossas
e escravo. Tal relacionamento duplo fa- orações. É digno de nota que o após-
zia surgir problemas difíceis na igreja tolo, sendo tão insistente sobre a sobe-
primitiva. E tais problemas ainda com- rania de Deus (cons. Gl. 1 : 15, 16; Rm.
plicam o relacionamento econômico e 8: 29), esteja igualmente convencido de
social dos cristãos hoje em dia (I Tm. que Deus realiza Seus propósitos atra-
6: 2; veja comento sobre Cl. 3: 11). vés de instrumentos humanos. O após-
17. Tendo narrado a história e tendo tolo não pede orações; ele tem por certo
gentilmente reformulado alguns princí- que o seu "companheiro" (Fm. 17)
pios cristãos, agora Paulo faz um apelo lembra-se dele em suas orações.
direto: "Recebe Onésimo como se rece- 23,24. Veja comento sobre C1. 4: 10-
besses a mim mesmo (cons. Mt.25:40; 14,15-17.
Atos 9: 4); por amor a ti eu o manteria 25. Vosso (hymon) espírito (cons.
comigo em teu lugar (Fm.13), mas em Gl. 6: 18; 11 Tm. 4: 22). O plural indica
vez disso eu o envio a ti em meu lugar". que a referência foi feita a todo o grupo
Companheiro (koinonon). Não apenas incluído na saudação (vs. 1,2). Espí-
um companheiro Cristão, mas alguém rito parece ser um termo empregado com
com quem muitas experiências foram referência ao todo do homem - no esta-
partilhadas. do ou na aparência de sua "nova gera-
18,19. Paulo não menciona a ver- ção" (cons. I Pe. 4: 6; 11 Co. 2: 13; 7: 5;
dadeira ofensa praticada por Onésimo, I Co. 2: 11-16, Phillips),
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EPÍSTOLA AOS HEBREUS
INTRODUÇÃO
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II I I I I
'I I I
de doutrinária (13: 9), a recusa em en- uma conjetura. Ele apresenta nove
sinar os outros, que é dever do crente razões contra a opinião tradicional e
maturo (5: 12), e a negligência das Es- então escreve, "Concluindo, Hebreus é
crituras (2: 1) eram outros sintomas de um argumento da finalidade do Cris-
fraqueza espiritual. O perigo estava em tianismo que repousa sobre a prefigu-
que aqueles que eram "santos irmãos, par- ração da instituição sacrificial no Velho
ticipantes da vocação celestial" (3: 1) Testamento, como necessidade funda-
pudessem "cair" (6: 6). mental do acesso a Deus, a qual foi re-
Para impedir tal desenvolvimento, velada a todos os homens, judeus e gre-
o autor de Hebreus destaca a superiori- gos igualmente, no sacrifício de Cristo".
dade de Cristo em uma série de contras- De acordo com Purdy, a notável marca
tes com os anjos, Moisés, Arão, Melqui- judia de Hebreus pertence mais à forma
sedeque, e o sistema levítico. O objetivo do que ao verdadeiro conteúdo de idéias.
de tais contrastes foi mostrar a inferio- Ele prossegue, então, argumentando que
ridade do Judaísmo e a superioridade o autor de Hebreus lutava contra uma
de Cristo. forma de Gnosticismo e helenismo ju-
Conforme o escritor desenvolve seus deu-cristão, mais do que contra o J udaís-
pensamentos, ele entretece três conceitos. mo propriamente dito, mas reconhece
O primeiro é a exortação (13: 22); o se- que a sua opinião continua sendo hipo-
gundo é uma série de advertências, cinco tética.
em número (2:1-4; 3:7-19; 6:4-12; Se concordarmos com Purdy que o
10: 26-31; 12: 15-17); e o terceiro é a autor de Hebreus escrevia contra o
consolação ou a garantia, reunidos à Gnosticismo judeu-cristão centralizado
volta do pensamento apresentado pela numa cultura helênica, permanece o fato
palavra "considerai" (3: 1), que chega de que os temas principais do livro têm
ao seu ponto culminante na frase "con- um caráter e argumentação judeus. Na
siderai, pois, atentamente aquele que realidade, Hebreus liga o Velho e o No-
suportou ... " (12: 3). Com base nes- vo Testamento na pessoa e obra de Jesus
tes conceitos, o escritor argumenta con- Cristo. Poderia se dizer que Hebreus
tra a tendência à apostasia. é a extensão lógica de João 17, visto
A linha do raciocínio desenvolvida que relaciona a oração sacerdotal de
pelos leitores-ouvintes era atraente. Se Cristo com o Seu ministério de Sumo-
seguir a Cristo produzia perseguição, e -Sacerdote. Assim como a oração de
o antigo caminho da prática judia não, João 17 registra a preocupação de nos-
por que não retornar ao Judaísmo, reter so Senhor em que os crentes sejam atuan-
uma religião e ao mesmo tempo ficar tes neste mundo, também registra o pe-
livre da perseguição? Opção atraente, dido, " ... que os livres do mal" (Jo. 17:
é verdade. A resposta a tudo isto foi 15). A Epístola aos Hebreus fala desse
apresentada na Epístola aos Hebreus, livramento, sob as tensões e pressões
conforme a superioridade de Cristo foi da perseguição e da tentação da apos-
comprovada, passo a passo, contra as tasia. Para demonstrar esse livramento,
reivindicações do Judaísmo. o autor de Hebreus equilibrou a dou-
Há pouco tempo, esta opinião clás- trina com a exortação, o pastoral com
sica sobre os Hebreus foi posta em dú- o prático, a palavra de consolação com
vida. Alexander C. Purdy, no seu co- a palavra de encorajamento.
mentário introdutório a Epistle to the O Judaísmo, um "berço de conve-
Hebrews (IB, XI, 591, 592), argumenta niência" para os cristãos de nacionali-
que esta opinião tradicional é apenas dade judia, que estavam sendo perse-
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guidos, foi assim exposto pelo contras- Nada foi mencionado sobre o conflito,
te. O escritor determinou ajudar esses o Templo, ou a destruição de Jerusalém.
cristãos primitivos a enfrentarem as Por causa desse silêncio, a carta pode ter
opções com conhecimento da diferença sido escrita antes de 68 ou depois de 80.
existente entre o Judaísmo e a obra de A primeira data é a preferível, mas deve
Cristo pelo crente e no crente. Tudo ser considerada em relação à menção
isto tinha a intenção de convencer da de Timóteo (13: 23) e da expressão "os
superioridade de Jesus Cristo os que es- da Itália" (13: 24). Além disso, o co-
tavam sendo provados. nhecimento de Hebreus demonstrado
Ao mesmo tempo, esta carta de en- pela Epístola de Clemente de Roma aos
corajamento aos crentes do primeiro Coríntios (95 AD.) tem alguma influên-
século contém auxílio para os dias de cia sobre a data de Hebreus e talvez
hoje. Nenhuma outra epístola do Novo sobre o seu destino.
Testamento responde tão claramente ao O argumento para datá-la tardiamente
"por que" do sacrifício de Cristo, e da foi melhor exposto no IH, Introduction,
redenção oferecida através deste sacri- XI, pág. 593, 594. Combinando argu-
fício. Nenhuma outra epístola do Novo mentos justificados pelo uso de I Cle-
Testamento liga tão claramente o duplo mente como ponto de referência, o IH
ministério de Cristo na qualidade de generaliza a data colocando-a em algum
Filho de Deus eterno e Filho do Homem lugar entre os últimos anos da década
sofredor. Pecado, culpa, expiação e per- de setenta e os primeiros da década de
dão são melhor compreendidos através noventa, mas conclui depois que a data
da Epístola aos Hebreus. Esta carta verdadeira é incerta.
também ajuda os leitores a alcançarem Em contraste, Canon Farrar, Cam-
uma compreensão melhor das verdades bridge Greek Testament (daqui em dian-
e incidentes do Velho Testamento. Tam- te indicado como CGT), representando
bém, a diferença entre o Judaísmo e o as opiniões do século dezenove, e Glea-
Cristianismo torna-se compreensível nos son L. Archer, em The Epistle to the
ensinamentos da Epístola aos Hebreus. Hebrews, A Study Manual, ambos ar-
Johannes Schneider escreveu: "He- gumentam em favor de uma data entre
breus é muito simples na estimativa que 64 AD. e 68 A.D. O último escritor
faz da vida real das igrejas. Ela conhece estreita então este período de tempo
os perigos que ameaçam o povo de Deus para a data real de 65 ou 66 como sendo
na terra. Por isso ela admoesta a que se a mais razoável, de acordo com as evi-
apeguem à fé e a que não sejam desleais dências internas e externas. Todas as
a Cristo" (The Letter to the Hebrews, opiniões quanto à data da epístola des-
pág.8). Com a ênfase que dá ao minis- tacam a importância do silêncio da carta
tério sacerdotal de Cristo, os privilégios no que se refere aos acontecimentos
do crente em relação a Cristo, e suas em Jerusalém na sexta década do pri-
fortes advertências a que se desenvolva meiro século.
uma fé viril, Hebreus continua falando Quanto ao destino, três teorias prin-
nos dias de hoje. cipais têm prevalecido, cada uma delas
Data e Destino - Para Quem Foi Es- apontando para uma cidade grande. do
crita. Um número de fatores regula a mundo romano e mediterrâneo. Alguns
data da Epístola aos Hebreus. O mais acrescentam uma quarta opinião, que
importante desses fatores parece ser o na realidade é uma modificação de uma
conflito judeu-romano depois de 68 A.D. das teorias principais.
e a destruição do Templo em 70 AD. 1) Os judeus cristãos em Jerusalém
-290-
I i I I I I li I I
e à volta dela, foram os destinatários ridículo e ódio declarado dos outros
da carta. judeus. Mas essas condições poderiam
2) Ela foi enviada aos cristãos judeus ter prevalecido em qualquer parte do
que moravam em Alexandria. Esta opi- mundo romano no primeiro século.
nião costuma ser defendida por aqueles O fato é que todos os argumentos
que apóiam o argumento de um forte sa- e teorias têm ingredientes de possibili-
bor alexandrino na carta aos hebreus. dade e impossibilidade em medidas qua-
3) Era destinada a uma congrega- se iguais. A discussão do problema do
ção de cristãos judeus que se reuniam destino pode ser examinado detalhada-
na cidade de Roma, os quais estavam mente em Farrar, CGT; A.B. Davidson,
enfrentando urna severa provação e The Epistle to the Hebrews; Archer,
perseguição. A teoria da "igreja em The Epistle to the Hebrews, A Study
Roma" tende também a defender a teo- Manual; William Manson, The Epistle
ria da "congregação única", onde os to the Hebrews, An Historical and Theo-
destinatários originais da carta seriam logical Reinterpretation; e IB, XI. Quan-
membros de uma "pequena congrega- to ao peso da opinião, a teoria de "Je-
ção" ou uma "igreja reunida na casa rusalém" é a que tem sido melhor
de alguém" em Roma. defendida por William Leonard, Au-
4) Uma modificação da terceira. A thorship of the Epistle to the Hebrews:
congregação destinatária de Hebreus era Criticai Problem and Use of the Old Tes-
pequena, mas poderia estar em qualquer tament. As teorias de "Roma" e "con-
parte do Império Romano, e não neces- gregação única" são melhor defendidas
sariamente em Roma. por William Manson (op. cit.), que suge-
Argumentação irrefutável tem sido re que os arquivos de correspondência
apresentada por todas as opiniões; todas de uma congregação romana foram os
elas estão cercadas de dificuldades sig- primeiros a guardarem esta carta de
nificativas. As evidências internas da exortação e advertência, Mas mesmo
carta por si mesmas pouco contribuem esta declaração é uma conjetura.
para a resolução dos problemas entre Autoria - Por Quem Foi Escrita.
as diversas teorias. Jerusalém foi men- Quem escreveu a Epístola aos Hebreus
cionada por implicação (13: 12) devido ainda continua sendo o grande e único
a um modo de escrever que seria com- problema do estudante deste livro. Os
preendido de todos os hebreus, A re- autores sugeridos são muitos, e as opi-
ferência à Itália (13: 24) é geral e dá niões que favorecem um possível autor
portanto pouca ajuda real na questão em detrimento de outro são muitas
do destino. também. O apóstolo Paulo, Apolo, Bar-
Uma coisa está clara. Aqueles a quem nabé, Lucas, Timóteo, Áqüila e Prisci-
a epístola foi escrita eram hebreus por la, Silas, Ariston e Filipe, o Diácono,
identidade nacional e cristãos por profis- todos têm sido propostos como autores,
são de fé. Como Downer sugeriu, os com argumentação comprovante. O
hebreus eram os destinatários, e o ponto exame da tradição da igreja primitiva
de vista hebreu prevalece (Arthur Cle- e dos pais da igreja, tanto do Oriente
veland Downer, The Principies of Inter- como do Ocidente, S0 têm comprova-
pretation of the Epistle of the Hebrews, do que as opiniões variam.
pág. 8). Esses cristãos hebreus tinham A epístola por si não dá o nome do
sofrido perdas, experimentaram muitas autor, nem mesmo veladamente. Duas
provações e dificuldades, sofreram opró- opiniões principais têm predominado no
brios, perd« ·-le privilégios, perseguição, estabelecimento da autoria. 1) Autoria
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paulina. o argumento que sustenta esta linas; 2) o uso de linguagem que é supe-
opinião também foi desenvolvido para rior às normas de construção, uso e es-
incluir um possível escritor desconhe- tilo de Paulo; e 3) desenvolvimento ló-
cido que foi instruído e influenciado pe- gico do argumento, que não é caracte-
lo apóstolo Paulo, dando assim a He- risticamente paulino. O ritmo de Hebreus
breus um cunho distintamente paulino. é retórico e helênico, e o estilo, de modo
2) A tradição e influência alexandrinas, geral, é mais calmo e razoável do que o
com base no uso do Velho Testamento, estilo do apóstolo costumeiramente.
principalmente na questão tipológica. Quanto às diferenças doutrinárias,
O raciocínio aqui traça a origem de cer- evidenciam-se em 1) o tratamento da
tas analogias de Hebreus em analogias fé, 2) a visão escatológica do capítulo
idênticas de Filo de Alexandria. Esta 12, 3) o uso aplicado do código mo-
é uma opinião defendida por poucos saico, e 4) o conceito do santuário. Leo-
atualmente. Conforme registrado em nardo até destaca que o hábito de con-
SHERK, 11, 877, a influência de Filo siderar as Escrituras do Velho Testamento
sobre o autor de Hebreus tem sido des- como um "arsenal de tipos" (op. cit., pág.
prezada pela maioria dos mestres, en- 19), não é característico da literatura
quanto que, 30 mesmo tempo, sua in- paulina.
fluência sobre os Pais de Alexandria Mas o que se sabe do autor? Ele era
tem sido reconhecida geralmente. um homem de consideráveis conheci-
O argumento da autoria paulina re- mentos das Escrituras, um teólogo bí-
blico que pensava em termos da história
pousa fortemente sobre o último capí-
tulo (l3) da epístola. A qualidade pes- da redenção, e uma pessoa familiariza-
da com o Velho Testamento grego
soal deste capítulo é típica do apóstolo
Paulo, como também o estilo epistolar. (LXX). Embora judeu, estava inteira-
As referências a Timóteo e à Itália (13: mente familiarizado com a cultura he-
23,24) também são laços que parecem lênica, como também com as tradições
ligar diretamente ao apóstolo. Além judias. Era um pensador independente
disso, há uma semelhança marcada en- que poderia ter sido influenciado pelo
apóstolo Paulo e pelos pensadores ale-
tre a linguagem deste livro e das cartas
xandrinos. Ele deu origem a uma forma
reconhecidamente paulinas (por exem-
literária única, inteiramente diferente das
pio, 1:4; 2:2; 7: 18; 12:22); e a ar-
outras do Novo Testamento.
gumentação cristológica é igual a de
Devotou-se completamente à sua ta-
Paulo em outros lugares. Grande parte
refa de explicar o relacionamento do
dessa argumentação é deduzível, e as
Judaísmo com o Cristianismo, argumen-
mesmas similaridades poderiam ser no-
tando constantemente pela absoluta supe-
tadas em qualquer mestre cristão dos
rioridade deste último. Talvez fosse um
primórdios do Cristianismo. No apoio
mestre-pregador, familiarizado com o re-
à autoria paulina talvez nenhuma outra
lacionamento orador-ouvinte e portanto
obra ultrapasse o trabalho definido de
empenhado no estilo exortação-explica-
William Leonard em seu Authorship of
ção-admoestação que usou com tanta
the Epistle to the Hebrews: Critical
eficácia. No uso que fez deste mét'odo
Problem and Use of the Old Testament.
ele exibe mais do que um conhecimento
Contra a autoria paulina apresentam-se passageiro das idéias do apóstolo Paulo.
estas considerações: 1) o livro não men- Apesar de tudo isto, a verdadeira
ciona o apóstolo Paulo especificamente, identidade do autor continua desconhe-
como as epístolas reconhecidamente pau- cida. Concluindo, Orígenes (terceiro
- 292-
I , I I 'I I I
século), conforme citado por Eusébio Orígenes comentaram a epístola e a dis-
(quarto século), talvez dificilmente po- cutiram detalhadamente. O título "Aos
deria ser superado quanto a sua decla- Hebreus" apareceu no fim do século
ração sobre o problema: segundo, e passou a ser usado desde
então.
O estilo da Epístola com o título Desde o início Hebreus tem sido acei-
"Aos Hebreus", não tem aquele popu- ta como fazendo parte do cãnon. Ne-
lar estilo que pertence ao apóstolo, o nhuma autoridade antiga, com exce-
qual admite que ele é comum no fa- ção de Tertuliano, deixou de incluir
lar, isto é, em sua fraseologia. Mas esta epístola no cânon do Novo Tes-
que esta epístola é de um grego mais tamento.
puro na composição das frases, qual- No fim do quarto século o Ocidente
quer um que for capaz de discernir começou a se interessar mais nesta epís-
a diferença de estilo terá de confes- tola, com Jerônimo em sua Epístola
sar. Repito, será óbvio que as idéias
129 declarando explicitamente que ele
da epístola são admiráveis, e não são
aceitava inquestionavelmente a carta aos
inferiores a qualquer dos livros reco-
Hebreus como parte do cãnon do Novo
nhecidamente apostólicos. Qualquer
Testamento. Esta opinião foi consis-
um terá de admiti-lo, se ler com aten-
tentemente defendida pelos medievistas
çãoas cartas doapóstolo.
e pela escola humanista. Erasmo, o mes-
Então Eusébio acrescenta, ou inclui: tre humanista, e Lutero, o Reformador,
Mas eu diria que os pensamentos são ambos aceitaram Hebreus como parte
do apóstolo, mas a enunciação e fra- do Novo Testamento, embora discor-
seologia pertencem a alguém que re- dassem quanto à identidade do autor.
gistrou o que o apóstolo disse, como Os mestres de após a Reforma não de-
alguém que tivesse anotado despreo- safiaram a canonicidade de Hebreus
cupadamente o que o mestre ditava. com sucesso, mas ocuparam-se mais
Se portanto, qualquer igreja conside- com a questão da autoria.
ra esta epístola como escrita por Pau- A Argumentação da Epístola - O
lo, que seja elogiada por isso, pois Tema do Escritor. A tese do escritor
não foi sem motivo que aqueles ho- de Hebreus parece estar contida em duas
mens da antigüidade a transmitiram. idéias principais, que são explicadas e
Mas quem realmente escreveu a epís- ilustradas na lógica da argumentação.
tola, só Deus sabe (Eusébio, Eccle- A primeira idéia está expressa na pa-
siastical History). lavra "considerai", usada em 3: 1 e 12:
Tradição e Igreja Primitiva - Aceita- 3. Em cada um dos exemplos a adver-
ção do que foi Escrito. A primeira tência é para se considerar a Cristo.
menção da Epístola aos Hebreus fora Em 3: 1, Ele deve ser considerado o
do Novo Testamento aparece na Epís- "Apóstolo e Sumo Sacerdote de nossa
tola aos Coríntios escrita por Clemente confissão", e em 12: 3 Ele deve ser con-
de Roma. Hebreus era conhecida de siderado como Aquele que sofreu, como
ambas as igrejas, a Oriental e a Ociden- o exemplo máximo da vida na fé. Com
tal, mas parece que era menos conhecida o termo "considerai" o escritor quer
no Ocidente até o quarto século. Os dizer refletir, estudar, examinar atenta-
Pais de Alexandria estavam ativamente mente, pensar com cuidado. Observe
interessados nos problemas dos hebreus, que os crentes são lembrados a consi-
e tanto Clemente de Alexandria como derar o próprio Cristo, e não as simples
-293 -
razões lógicas por que Ele deveria ser As Idéias e Conceitos do Autor: Fon-
considerado, conforme apresentadas na tes e Emprego. Forma e estilo distin-
carta aos Hebreus. tos (veja seção seguinte desta Introdu-
Através do raciocínio da epístola, ção) destacam a Carta aos Hebreus den-
os leitores são levados a "considerá-Lo" tre as outras epístolas do Novo Testa-
no Seu sacerdócio e sacrifício. O con- mento. O autor emprega método, orga-
traste traçado através de toda a carta nização e técnica diferentes de qualquer
estabelece conclusivamente a superiori- outro escritor do Novo Testamento.
dade de Cristo sobre os anjos, Moisés, Ele também expressa idéias e associa-
Arão, Melquisedeque e o sistema leví- ções de pensamentos e acontecimentos
tico, e finalmente até mesmo sobre os que lhe são peculiares. Uma vez que a
maiores exemplos de vida de fé do re- investida principal da epístola é prática,
gistro do Velho Testamento (cons. Hb. atingir coisas práticas, ele coloca todos
11). Como sacerdote de Deus e como os seus conceitos teológicos dentro des-
o sacrifício aceitável diante dEle, Cristo ta estrutura especial de referência de
fala agora de dentro do santuário, ga- exortação, advertência e conforto. Ele
rantindo a cada crente uma entrada na se concentra sobre aquelas idéias teoló-
presença do, próprio Deus, e uma au- gicas e conceitos que ele considera signi-
diência imediata para orações e pedidos ficativos. Seu raciocínio em prol dos
(4: 14-16). seus leitores é que isto, é o que esta co-
munidade de crentes precisa acima de
A segunda idéia se encontra na pala- tudo o mais, para fortalecê-los na fé.
vra exortação (paraklesis) , com seu ver-
bo companheiro, "eu exorto" (13: 22). Ele ataca essas idéias como um ora-
Este tem sido chamado de título infor- dor deveria fazê-lo, edificando uma ver-
mal da carta aos Hebreus. Farrar (CBSC) dade sobre a outra para apoio da argu-
sugere que todas as informações dadas mentação principal. Entremeadas encon-
na epístola são para o propósito de exor- tram-se as advertências, que parecem
tar os leitores. A perseguição, as pro- particularmente destinadas a impressio-
vações e dificuldades seriam ameniza- nar os ouvintes (leitores) com as conse-
das se esses cristãos, que também eram qüências da falta de compreensão da
judeus, "considerassem-no" (12: 3) e verdade relativa a Cristo.
suportassem "a palavra desta exortação" O autor demonstra considerável pe-
(13 : 22). O argumento que apóia este rícia literária. Evidentemente seus an-
tema duplo está então desenvolvido pelo tecedentes lhe deram um senso de pro-
argumento "o Cristianismo é superior porção na composição literária. Seu
ao Judaísmo", para o qual a exortação grego é talvez o melhor de todo o Novo
está sendo dirigida. Testamento, comparável ao de Lucas.
Todo o propósito desta carta era Profundidade cultural e familiaridade
informar cristãos desanimados e tam- também estão evidentes. O escritor
bém encorajá-los, e para apoiar as duas parece perceber e refletir a influência
vias de acesso através de inumeráveis do modo de vida grego (helenização)
exemplos, tanto de Cristo como daque- sobre o Judaísmo e sobre o mundo me-
les que viveram com sucesso pela fé. diterrâneo.
No meio de tudo, o escritor colocou Em idéias positivas emitidas, o es-
a eternidade (portanto a imutabilidade) critor baseia sua discussão teológica
do sacerdócio de Cristo "segundo a or- sobre as Escrituras e a desenvolve colo-
dem de Melquisedeque" (cap. 7). cando o tenebroso reino da terra contra
-294-
I I 'I I I
o reino da realidade, ou o céu. A fonte 18). Ele abriu o caminho à presença
do Velho Testamento ou das Escrituras de Deus (10: 19,20), e tomou o "Santo
que ele usou foi a versão grega ou LXX. dos Santos" e o "trono da graça" (4:
Em alguns exemplos a palavra usada na 14-16) acessíveis. Ele se tomou o sa-
LXX nem sequer aparece no texto he- crifício perfeito e definitivo (10: 18).
braico como nós o temos. Para provar Por causa do ministério sacerdotal de
que o reino celestial é o reino da reali- Cristo, o crente tem força na fé e o pri-
dade, o autor aplica todas as passagens vilégio da adoração. Talvez nenhum
possíveis a Cristo. Todo o Velho Testa- livro do Novo Testamento apresente
mento, como o escritor de Hebreus o melhor a comunhão com Deus através
usa, é uma exposição contínua revelante da adoração como o faz Hebreus.
da pessoa e obra do Senhor Jesus Cristo. A cristologia de Hebreus é rica, mas
O acesso ao reino celeste também está foi principalmente apresentada no mi-
em Cristo. nistério e função de Cristo como sacer-
O autor de Hebreus é o único escritor dote. Primeiro Cristo é apresentado co-
do Novo Testamento que discute alguns mo o revelador de Deus (1 : 1) e o agente
dos assuntos que apresenta. Nenhum da criação (1: 1-4). O significado da
outro escritor, por exemplo, discute palavra karakter, expressão exata, em
o significado de Melquisedeque (7: 1-14). 1: 3 não deve ser ignorado. Depois des-
Uma nova avaliação dos patriarcas tam- sa declaração preliminar ou prólogo, a
bem é fornecida pelo capítulo 11. Al- cristologia flue rapidamente para o ar-
guns aspectos da vida de Moisés são des- gumento principal do ministério sacer-
tacados em Hebreus, os quais não foram dotal de Cristo.
mencionados em nenhum outro lugar. Os ensinamentos éticos de Hebreus
A questão do arrependimento é enca- são do mais alto padrão e inteiramente
rada de maneira diferente (12: 17), co- cristãos, ainda que generalizados dentro
mo também a questão do pecado deli- do corpo principal da argumentação.
berado (10: 26). Muitos dos conceitos Só no capítulo 13 o ensino ético se tor-
individuais do autor criaram problemas na específico e evidente. Amor frater-
de interpretação para as gerações fu- nal (13: 1), bondade para com os es-
turas. trangeiros (13: 2), bondade para com
A idéia mais altamente desenvolvi- os menos afortunados (13: 3), relacio-
da entre todas na Epístola aos Hebreus namento conjugal honroso (13:4), uma
é a do sacerdócio de Cristo. Singular atitude correta para com as riquezas
dentro da epístola, é o mais importante materiais (13:5), respeito pelos supe-
conceito a ser assimilado. Ao apresen- rintendentes (13: 7, 17), a prática do
tar este conceito, três "fontes" são apa- bem (13: 16), estão ali positivamente
rentes: 1) A instituição do Velho Tes- ordenados. Nisso o cristão não tem
tamento do sacerdócio e sacrifício, ou escolha. Grande parte das injunções
o sistema levítico; 2) o Judaísmo; e 3) éticas anteriores na epístola encontram-
o Cristianismo primitivo ou apostólico. -se na analogia sacerdotal, e por isso
Quaisquer outras influências que pos- não são imediatamente aparentes como
sam ter havido, estas três são predomi- nos Sinóticos ou na literatura paulina.
nantes. Quanto ao valor prático, Hebreus
Como sacerdote, Cristo foi divina- repousa solidamente sobre a inquestio-
mente vocacionado, e possui humani- nável premissa de que Cristo supre as
dade (2: 14-18; 4: 15, 16; 5: 1-3). Ele necessidades de todos os homens a toda
supre as necessidades do povo (2: 17, hora (incluindo a do homem moderno).
-295 -
Os homens vêm a Deus por meio de lestiais e terreno, o "ilusório" e o real,
Cristo em todos os séculos. Neste con- ou o reino celestial e o verdadeiro, pen-
ceito está expressa a unidade da histó- sam alguns, que seja uma técnica "empres-
ria como linear e redentora, com Deus tada" de Filo de Alexandria. O IB cha-
através de Cristo operando no destino ma isto de uma visão da realidade em
do homem de acordo com o Seu plano "dupla argumentação" que controla todo
e vontade. Hebreus não apresenta uma o pensamento de Hebreus (XI, 583).
filosofia da história diferente daquela Outras opiniões expressas são as se-
dos outros livros do Novo Testamento. guintes: 1) que a influência de Filo é
insignificante, ou 2) que a teoria que
Forma e Estilo: A Organização e Mé- tenha influenciado o escritor é uma
todos do Autor. Só o trecho compreen- premissa inteiramente falsa. Manson
dido entre 13: 17 e 13: 25 classifica inclina-se a despresar a influência de
Hebreus como epístola. Mas o gênero Filo (William Manson, The Epistle to
literário do livro constitui um problema. the Hebrews, An Historical and Theo-
Começa como um tratado, continua logical Reinterpretation), A.H. Davidson,
como um sermão e termina como uma referindo-se ao autor de Hebreus (op.
carta. O atual começo é o começo que cit.), fala de traços de influência da
o livro sempre teve. Não há nele sauda- "cultura alexandrina ... na sua lingua-
ções ou quaisquer referências pessoais. gem", mas não apresenta nenhum argu-
Dentro da forma literária, alguns hábi- mento favorecendo esta técnica filônica.
tos são constantes. Usando o Velho Sob um certo aspecto, então, a origem
Testamento, o escritor pode empregar da forma de Hebreus permanece uma
uma referência literal, histórica ou ti- questão em aberto. 3) Spicq, entretanto
pologicamente. Sua consistência está (L 'épitre aux Hébreux) , percebe evi-
somente em que o uso que faz do texto dências consideráveis que ele considera
do Velho Testamento sustenta seu ar- indicativas de antecedentes filônicos.
gumento principal no ponto em que
é introduzido. O que está claro, entretanto, é que
J á se tem sugerido que as exortações o escritor sistematicamente estabeleceu
e advertências em Hebreus classificam um conjunto básico de idéias, sobre as
o livro como sendo de natureza po- quais ele começa apresentar as passagens
lêmica, com o final epistolar acrescen- e argumentos do Velho Testamento.
tado a fim de concluir a polêmica. Se Obter aceitação dessas idéias básicas
isto for verdade, então o autor é espan- não é o seu objetivo, mas antes levar
tosamente capaz em evitar qualquer os crentes a compreendê-las inteira-
referência pessoal na polêmica. Refe- mente e depois agir de acordo. William
rências autobiográficas não existem, e as Leonard (op. cit., pág. 221) identifica
metáforas empregadas fortalecem a po- sete dessas idéias: 1) a Filiação de Cris-
lêmica sem revelar uma única pista to; 2) o sacerdócio de Cristo, base da
quanto ao polemista. purificação do pecado; 3) o sacerdote
Já se expressou a opinião de que a ã direita de Deus, base da esperança
forma literária básica de Hebreus segue cristã; 4) a promessa feita a Abraão;
o padrão alexandrino indicado por Filo 5) a permanência do prometido "re-
(veja J. Herkless, 00., Hebrews and the pouso do sábado"; 6) as conseqüên-
Epistles General of Peter, James and cias da apostasia; e 7) as exortações
John; também IB). O modo pelo qual o para que se viva virtuosamente luz â
autor faz contraste entre os reinos ce- do futuro. O IB (loc. cit.) faz uma lista
-296 -
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'I I I
de treze dessas idéias básicas, que in- acrescentou o final atual quando encami-
cluem as sete acima, mas incluem adi- nhou-a para outro grupo; 4) Que o fi-
ções tais como a promessa da volta de nal foi acrescentado por outra pessoa
Cristo, a derrota de Satanás, a vitória para sustentar o conceito da origem
sobre a morte, e o prometido livramen- paulina de toda a carta. Dessas teorias,
to dos crentes da escravidão. Essas idéias a primeira e a quarta são as mais razoá-
são as constantes; e, tanto na forma veis e plausíveis.
como no estilo da apresentação, tudo se Certos hábitos de estilo também são
refere a uma ou mais delas. evidentes. O escritor transforma em prá-
tica introduzir citações do Velho Testa-
No meio dessas idéias básicas está mento dizendo "Deus disse" (veja 4: 3;
o conceito de Cristo como o sacerdote 5: 5,6; 8: 10) e "como diz o Espírito"
perfeito de Deus, estabelecendo a nova (3: 7). Ele também introduz partes de
aliança tanto pela Sua obra sacerdotal sua argumentação algum tempo antes
quanto por Sua morte sacrificial. Não de proceder ao desenvolvimento com-
há dúvidas quanto superior cristologia
ã pleto da mesma. E assim cada argumen-
da Epístola de Hebreus. Mas apesar de to mais extenso da epístola tem a sua
tanta informação extraída do Velho declaração preliminar. Em todos os pon-
Testamento para sustentar a Cristolo- tos ele faz referência ao ritual da lei mais
gia e outras idéias centrais epístola, o
à do que lei moral ou à força social ou
â
enigma da forma epistolar do final de visual da Lei, como no caso dos dias
13: 17 em diante permanece. Quatro de festa. Caracteristicamente ele em-
possíveis soluções para o enigma são prega o nome "Jesus" e não o título
apresentadas: 1) Que o autor escreveu completo usado pelo apóstolo Paulo.
para um grupo específico e desde o co- Mais ainda, ao apresentar "Jesus" como
meço tinha tal final em mente; 2) Que o "novo e vivo caminho", o escritor
a carta original foi enviada a uma se- não se afasta do pensamento nem deixa
gunda platéia, e que o novo final foi o argumento incompleto. Ele parece
acrescentado para acomodar-se a este ter completo domínio de si mesmo, e
grupo; 3) Que uma pessoa, não o autor, das técnicas que ele emprega.
ESBOÇO
I. Prólogo. 1: 1-4.
A. Cristo é superior aos profetas. 1: 1, 2.
B. Cristo, "imagem" de Deus. 1: 3,4.
11. Os argumentos principais são apresentados e explicados. 1: 5 - 10: 18.
A. Cristo "maior que"; o argumento da superioridade. 1: 5 - 7: 28.
1. Superior aos anjos. 1: 5-14.
2. A tão grande salvação, e uma advertência contra a negligência. 2: 1-4.
3. Cristo como o homem perfeito. 2: 5-18.
4. Cristo superior a Moisés. 3: 1-6.
5. A superioridade do repouso de Cristo contra o repouso de Israel sob a
liderança de Moisés e Josué. 3: 7 - 4: 13.
6. Cristo, como sumo sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque é supe-
riora Arão. 4: 14 - 5: 10.
7. Repreensão por falta de entendimento e imaturidade. 5: 11 - 6: 20.
8. O sacerdócio de Melquisedeque. 7: 1-28.
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HEBREUS 1: 1-3
COMENTÁRIO
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HEBREUS 1: 3-7
-299 -
HEBREUS 1: 8-14 - 2: 1-2
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I I 'I I I
HEBREUS 2: 2-11
-301-
HEBREUS 2: 12-18 - 3: 1-5
Uma ilustração mais perfeita da unida- Para com os homens Cristo é miseri-
de do Salvador e os salvos. Isto está cordioso e para com Deus Ele é fiel.
apresentado em passagens pertinentes Na verdade, a misericórdia e a verdade
do V.T., tais como SI. 22:22; Is.8:17, encontraram-se nEle. Sua fidelidade
18. Elas "provam" que o Senhor Jesus percebe-se em Sua firmeza na tentação,
Cristo e os cristãos são irmãos. Ele não a qual foi parte do Seu sofrimento.
se envergonha de lhes chamar irmãos Agora Ele é capaz de vir ajudar todos os
(v. 11). Ambas as passagens citadas em que são tentados porque Ele passou
Is. são tipologicamente aplicadas. pelos mesmos testes e emergiu vitorio-
14,15. A derrota de Satanás e da so, e como Homem Ele conhece nossas
morte testifica que a obra expiatória necessidades. Propiciação pelos nossos
de Cristo foi eficaz. Mas não houve só pecados. Veja 110.2: 2; 4: 10; Rm.
derrota; também houve libertação. Em- 3: 25; e CGT, pág. 55.
bora o medo possa escravizar, e o medo 4) Cristo é Superior a Moisés. 3: 1-6.
de morrer há muito que persegue a hu- Uma comparação de duas demons-
manidade, Cristo resolveu o problema trações de fidelidade está sendo agora
com a Sua própria morte e ressurreição. introduzida, e pela primeira vez os lei-
Ele morreu como homem. Ele parti- tores são diretamente aparteados na
cipou da carne e do sangue e assim frase santos irmãos. Os paralelos na
morreu, mas pela Sua morte veio o estrutura entre os capítulos 1, 2 e capí-
livramento. Portanto, o poder de Sa- tulos 3, 4 são evidentes (CGT, pág. 56).
tanás foi tornado inoperante (katar- 1,2. A chave para a compreensão de
geo), e Cristo fez uma expiação pelo Hebreus pode estar na idéia do consi-
pecado inteiramente satisfatória diante derai atentamente... Jesus. De kata-
de Deus (ls.53:11). Que grande vitó- noesate, "observar atentamente, fixar
ria é a dEle! E que grande vitória todos os pensamentos, prestar atenção". Este
os crentes têm nEle! Satanás e a morte mesmo pensamento aparece novamente
estão derrotados e o temor da morte de- em 12: 3. Em 3: 1,2 a ênfase está so-
sapareceu! O homem que é livre em bre Cristo sendo fiel; em 12: 3 é sobre
Cristo é na realidade o mais livre de Ele ter suportado. Aqui os irmãos são
todos os homens. encorajados a olhar para Jesus como
16-18. Aqui está a primeira men- Apóstolo ("mensageiro"; só aqui este
ção do assunto que ocupa o lugar cen- título foi usado referindo-se a Cristo
tral no argumento da epístola - o minis- no N.T.) e Sumo Sacerdote, uma fun-
tério de Cristo como sumo sacerdote. ção que é mais e mais detalhadamente
Nesse ofício a humanidade de Jesus explicada aos leitores. Confissão (ho-
está novamente à vista, mas aqui só se mologias) se relaciona com os crentes
deu uma pista quanto ao significado confessando que Cristo é o seu sumo
completo de Cristo como sumo sacer- sacerdote.
dote.
3-5. A metáfora da casa é simples.
Por enquanto Ele ministra e socorre Que diferença? Cristo edificou a casa;
os homens tomando-os pela mão. Isto Moisés serviu na casa. Como em Jo, I:
Ele pode fazer como o Irmão mais velho 17, a justaposição de Moisés e Cristo
e como o capitão de sua salvação. Duas foi apresentada claramente. Do mesmo
palavras indicam a qualidade auxiliadora modo a justaposição da velha aliança
da função do sumo sacerdócio. São e da nova aliança foi insinuada. A ên-
misericordioso (e/eemon) e fiel (pistos). fase está, entretanto, sobre a fidelida-
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I I 'I I I
HEBREUS 3: 5-19
-303 -
HEBREUS 3: 19 - 4: 1-13
dade era manifesta em atitudes que con- fé limita a entrada neste descanso. Esta
tinuam comuns. Eles murmuraram e é a aplicação direta das advertências
se queixaram; eles estabeleceram pla- contra a incredulidade nas declarações
nos alterados e buscaram outra lideran- anteriores. A nós foram anunciadas
ça; rebelaram-se declaradamente contra as boas-novas parece urna declaração
Deus; expressaram insatisfação com a pro- difícil por causa das traduções variantes,
visão divina; e, finalmente, aceitaram mas não é difícil de entender. A fé do
de má vontade o seu lugar nos planos crente exercitada em relação à promes-
de Deus. O registro detalhado em Nm. sa de Deus garante o descanso. (Para
14-21 e o comentário no Salmo 95 ser- urna discussão das traduções variantes
viram bem para o escritor de Hebreus de sugkekerasmenous te pistei tois akou-
em suas repetidas advertências contra sasin, veja Alf e AxpGT sobre Hb. 4. 2b).
a dureza e incredulidade que foram 3,4. Downer sugere um repouso du-
evidentes na geração que pereceu (3: plo (Principles of Interpretation). Aqui
12,13,18,19; 4: 6, 7,11). o escritor discute o descanso espiritual
4: l-lO. Não há nenhuma brecha en- para os crentes perseguidos e atormen-
tre os capítulos 3 e 4. O exemplo da tados aos quais a carta foi dirigida. Es-
experiência do deserto aplica-se imedia- ta é urna experiência pessoal presente
tamente às vidas dos crentes. A atitude - Nós, porém, que cremos, entramos
do coração dos leitores passa a ser dis- no descanso (eiserchometha, "entramos
cutida em relação ao "descanso da fé", no"). Esta é a palavra de encorajamento
uma frase geralmente usada em relação aos cristãos perturbados. A segunda, ou
a esta passagem das Escrituras. Duas o descanso sabático, introduz-se então
opiniões básicas prevalecem quanto ao com a cláusula, E descansou Deus no
prometido descanso. A primeira coloca sétimo dia, de todas as obras que fizera.
o descanso no futuro como sendo o des- Este é o sabbatismos do versículo 9, o
canso celestial, ou entrada no Reino de descanso sabático.
Deus (veja Gleason L. Archer, Jr., The
Epistle to the Hebrews: A Study Manual, S-10. Deus providenciou um descanso,
pág. 28, 29; Charles R. Erdrnan, The Epis- e este descanso deve ser ocupado ou
tle to the Hebrews, pág. 49, 50). A se- possuído. A incredulidade bloqueia
gunda opinião coloca mais ênfase sobre a entrada no descanso de Deus enquanto
o descanso presente do que sobre o pro- a fé abre largamente a porta; e assim
metido descanso do futuro, embora este descanso só está à disposição de
este último não seja desprezado. Este verdadeiros cristãos. J osué não deu
"descanso da fé" é chamado de "plena este descanso apenas a sua geração;
submissão", a qual é considerada como portanto o descanso prometido con-
uma experiência singular (Erdman, Ibid.). tinua à disposição. Portanto resta um
Esta segunda posição enfatiza a presen- repouso para o povo de Deus destinado
te realidade do "descanso da fé" como para os crentes de hoje. É um repouso
um cessar das nossas obras, o que colo- presente e também futuro que não de-
ca o crente em um relacionamento mais pende de "obras", mas da fé dos crentes.
íntimo com Cristo. 11. Aqui está a "palavra de exortação"
referente à entrada no repouso de Deus
1, 2. O prometido descanso conti- (veja 13: 22) mediante a busca (lit. "pro-
nua à disposição. A promessa de Deus curar diligentemente").
não foi esgotada pela geração do deserto. 12,13. A oferta do descanso foi re-
Só o fracasso em permanecer firme na forçada pela referência à palavra de Deus,
-304-
I , I I 'I I I
HEBREUS 4: 13-16 - 5: 1-2
isto é, referência a Cristo como a Palavra Ele assumiu o nosso pecado no Calvário.
viva e à revelação, ou a palavra escrita. Agora, estando na presença de Deus,
Cinco afirmações foram feitas em rela- podemos nos aproximar de Deus com
ção à palavra de Deus (lagos tou theou): ousadia. O trono da graça, foi transfor-
1) ela é viva; 2) ela é a palavra do poder, mado de tribunal, em trono de rniseri-
ou da energia criadora; 3) ela penetra, c6rdia, porque o sangue de Jesus foi
fazendo separação até entre os relacio- nele "aspergido". O simbolismo foi
namentos mais íntimos; 4) ela é o juiz extraído da arca da aliança no Taber-
dos pensamentos mais íntimos; e 5) ela náculo e do Dia da Expiação (Lv. 16).
é o agente pelo qual Deus trata direta- Este simbolismo e a substituição da
mente com a criatura. Desse modo a prática do V.T. passam a ser explicadas
palavra de Deus revela o homem todo, ponto por ponto na subseqüente argu-
particularmente em relação às atitudes mentação do escritor. Por um instante,
do coração, e sua fé, essa fé que o capa- o autor destaca a verdade do auxílio
citará a entrar no repouso. A palavra para o fraco, misericórdia para o des-
de Deus examina, julga e adverte o cris- graçado, e força (graça) a fim de sermos
tão a que viva santamente e creia. ajudados (E.R.C.), porque Cristo, nosso
6) Cristo é o Sumo Sacerdote Segun- sumo sacerdote, que se encontra junto
do a Ordem de Melquisedeque, Superior ao trono de Deus, supre todas as nossas
a Arão. 4: 14 - 5: 10. necessidades. Esta ajuda contínua está
Agora, o tema que já foi sugerido em à disposição imediata de cada cristão,
2: 17 e 3: 1 toma a ser introduzido para sem formalidades, exceto "invocar o
uma discussão mais extensa. Aqui se nome do Senhor". Talvez poucas pas-
faz a declaração preliminar referente a sagens no N.T. sejam tão ricas como
Cristo no seu santuário. O que vem a esta promessa de ajuda e conforto para
seguir será um contraste constante entre os cristãos. Se devidamente compreen-
o santuário terrestre ou tabernáculo dida, esta é uma das. verdades mais su-
e o "verdadeiro" santuário celeste, e blimes na Escritura em. relação a Cristo
entre o sacerdócio araônico ou levítico e aos crentes. Note-se aqui que tudo que
e o sacerdócio eterno de Cristo "segun- se relaciona com Cristo como sumo sa-
do a ordem de Melquisedeque". A esta cerdote está mais detalhadamente ex-
altura explica-se o lugar e o ministério plicado nas passagens seguintes, até Hb.
de Cristo. 10: 18; a esta altura conclui-se a com-
14-16. Ele está no santuário como paração com Moisés.
nosso sumo sacerdote. Sua morte (in- 5: 1-10. A seguir apresentam-se as
clusive o derramamento de sangue) e qualificações para o ofício de sumo sa-
ressurreição garantiram-Lhe o direito cerdote. Arão serve de modelo, uma
desta posição. Ele penetrou os céus vez que ele foi o primeiro a servir no ofí-
na presença de Deus. Ele está lá não cio de sumo sacerdote.
apenas como o Filho de Deus, mas 1, 2. Tomando dentre os homens pa-
também como o Filho do homem. Em ra representar o homem diante de Deus.
Sua humanidade perfeita Ele está familia- A humanidade do sumo sacerdote é
rizado com as nossas necessidades, cui- básica e essencial. Ele também é cons-
dados, tentações e problemas, porque tituído, ou separado, para ministrar
ele foi tentado sem sucumbir à ten- diante de Deus e para os homens. Sen-
tação. Ele sabe tudo sobre o pecado do homem, ele pode compreender a fra-
sem ter cometido pecado. Seu conhe- queza humana e ministrar ao transviado
cimento final com o pecado veio quando e ignorante. O sumo sacerdote deve
-305 -
HEBREUS 5: 2-14
lidar com os pecadores como também cer, o que de outro modo não apren-
representar os pecadores. Ele deve tam- deria. Literalmente, Ele aprendeu das
bém oferecer sacrifício pelos seus pró- coisas que sofreu (v. 8), que é um jogo
prios pecados como também pelos do de palavras extraído do provérbio grego
povo. O quadro é de alguém totalmente emathen - epathen.
envolvido como homem nas necessida- Agora perfeitamente qualificado como
des do homem. 3. As necessidades pes- sumo sacerdote, Cristo fornece a salva-
soais, entretanto, do sumo sacerdote ção eterna (soterias aioniou, v. 9), cujo
constituído não foram esquecidas. Ao aspecto eterno relaciona-se com o sa-
oferecer sacrifício pelo povo, ele tam- cerdócio de Melquisedeque. Contras-
bém oferecia por si mesmo, apresen- tando com Arão, Melquisedeque é um
tando suas próprias necessidades a Deus sacerdote de Deus para sempre, assunto
através do sangue do sacrifício. inteiramente desenvolvido no capítulo 7.
4. Arão, o primeiro sumo sacerdote, 7) Uma Repreensão pela Falta de
foi chamado por Deus para este ofício. Entendimento e pela Imaturidade. 5: 11
Ele não o procurou nem o mereceu. -6:20.
Foi constituído por Deus. O destino Antes de desenvolver sua argumen-
daqueles que procuraram servir neste tação extraída do sacerdócio de Mel-
ofício fora da constituição divina foi quisedeque, o escritor toma a fazer
devidamente ilustrado por Coré (Nm. uma pausa para introduzir uma exor-
16:40). 5,6. Assim Cristo foi cons- tação e advertência, incluindo a repreen-
tituído sumo sacerdote. O escritor cita são.
o SI. 2: 7 com este sentido, "Hoje eu 11-14. Esta é uma repreensão forte.
te constituí para o ofício de sacerdote". O escritor declara explicitamente que
Ele era plenamente qualificado a exer- seus leitores não têm condições de re-
cer o ofício e não o buscou para Si. Ele ceber o ensinamento que ele se sente
foi constituído a esta posição de glória obrigado a dar. Ele os chama de imatu-
(edoxasen) por Deus Pai. ros, retrógradas, indoutos e tardios em
7-10. A experiência humana de Cris- ouvir. Por causa desta condição, a ti-
to é a que está descrita aqui. Foi uma pologia relativa a Melquisedeque pode-
experiência de aprendizado e limita- ria ficar além da sua compreensão. J ona-
ções. Esta humilhação (Fp. 2: 7) foi than Edwards pregou certa vez um ser-
a Sua hora de aprender a obedecer dentro mão sobre Hb. 5: 12 intitulado: "A Im-
da esfera do homem. Com isto Ele tor- portância e Vantagem de um Conheci-
nou-se completo. Foi a Sua hora de es- mento Completo da Verdade Divina".
tar na carne. A referência específica Ele observou que a repreensão na passa-
em Hb. 5: 7,8 é às horas de agonia no gem parece incluir todos os leitores da
Getsêmane. A passagem descreve angús- epístola, que aqueles crentes não tinham
tia nas palavras forte clamor e lágrimas, feito nenhum progresso doutrinário ou
orações e súplicas. O inimigo que Ele experimental, que eles não compreen-
enfrentava era a morte - tanto a física diam Melquisedeque, e mais ainda, que
como a espiritual, porque Ele foi o subs- não sabiam o que deveriam saber (The
tituto que assumiu toda a ira de Deus Works of President Edwards, IV, 1-15).
reservada para os pecadores. Seu pedido A conclusão do escritor de que es-
de livramento foi plenamente garantido tavam desqualificados para ensinarem
na ressurreição, com Sua proclamação aos outros é auto-evidente. Prosseguin-
de vitória sobre a morte. Por meio des- do, eles na verdade só tinham qualifi-
ta experiência Cristo aprendeu a obede- cações para receber a elementar verdade
-306-
I I 'I I I
HEBREUS 5: 14 - 6: 1-12
ou leite. Como meninos (nepios, "lac- ou juntar-se aos Seus traidores e assas-
tentes"), não podiam receber alimento sinos. As palavras usadas são termos
mais forte; além disso, não só careciam fortes. Hapax photisthentas significa
do conhecimento da verdade, mas tam- de uma vez para sempre iluminados.
bém da experiência da verdade. Mas Provaram foi traduzido para conhece-
aqueles que são perfeitos (E.R.C.) ou ram nos léxicos mais recentes. Partici-
adultos (E.R.A.) ttetoi, "matures") eram pantes, do grego metochous, significa
como atletas exercitados (gegymnasme- participantes reais (Alf. IV, 109). Todos
na), prontos para a competição porque estes termos indicam uma grande porção
estavam espiritualmente disciplinados. de conhecimento e participação da par-
Aqueles que assim foram treinados eram te daqueles que foram iluminados. Até
espiritualmente sensíveis e capazes de os milagres eram familiares àqueles que
discernir entre a verdade e o erro quando agora se mostravam hostis a Cristo.
instruídos. (Através de toda a passagem Um ponto de vista um tanto diferen-
as figuras de linguagem se misturam; te é possível no que se refere à passagem.
veja Alf, IV, 103.) Pode ser traduzido assim: se recaíram.
6: 1-3. A exortação prossegue. Tendo Neste caso o escritor não está pensando
já aprendido os princípios básicos refe- de exemplos específicos de apostasia,
rentes a Cristo, não deviam parar com pelo menos não entre os leitores (v. 9),
eles mas prosseguir para alcançar a per- mas está advertindo que a recusa em
feição e maturidade, para exibir cresci- progredir na vida cristã leva logicamente
mento espiritual completo. Deviam con- ao retrocesso, cujo fim pode ser a apos-
tinuar discernindo entre verdades vivas tasia. Se alguém pode chegar ao extremo
e formas sem vida, como aquelas que de recair depois de experimentar o dom
haviam nas ablusões, batismos e rituais celestial, sua recaída não pode ser clas-
do Judaísmo. No versículo 3 o escritor sificada como pecado ordinário, pois
se identifica com os seus leitores e revela ela envolve o repúdio da provisão de
sua própria dependência de Deus. Deus em Cristo (torna a crucificar o Fi-
4-8. Alguns alcançaram a maturidade; lho de Deus). Portanto, para ele, a es-
outros caíram. Estes estão sendo men- perança da renovação desaparece, pois
cionados agora para reforçar a adver- Deus não tem nenhuma outra cura para
tência feita há pouco - prosseguir para o pecado quando o Calvário é rejeitado.
a maturidade. Esta passagem deveria Ao escolher a rejeição de Cristo, o
ser propriamente interpretada não se- apóstata parece-se mais com um campo
gundo um sistema teológico, mas dentro que só produz espinhos e abrolhos, em-
do seu próprio contexto. O assunto são bora a chuva que cai sobre ele e o lavra-
os princípios rudimentares aprendidos. dor que o lavra, têm a intenção de produ-
Agora o escritor fala daqueles que, ten- zir colheitas. Não pode haver nenhum
do recebido tal instrução de princípios engano quanto a advertência forte e dí-
preliminares, afastaram-se de Cristo. São reta dos leitores tentados a afastar-se
agora inimigos de Cristo e da Salvação de Cristo. Na verdade, o que era verda-
que está nEle. deiro para aqueles crentes do primeiro
Era propósito do escritor descrever século continua sendo verdadeiro para
o perigo extremo para que os tentados os crentes de hoje.
à apostasia pudessem ter o mais forte 9-12. Mas tudo isso não se aplica aos
exemplo possível. As questões eram destinatários, o escritor explica. Esta
simples: Cristo ou não, fé salvadora é a conclusão do assunto no que diz res-
ou incredulidade, sofrer Seu opróbrio peito aos seus leitores. Embora ele aca-
-307 -
HEBREUS 6: 12-20 - 7: 1
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I I 'I I I
HEBREUS 7: 1-28
deque, a função do sacerdócio nao Im- é abençoado pelo superior, isto é, Mel-
plica em discussão, mas sim as pessoas quisedeque. As implicações todas têm
envolvidas no sacerdócio. Para todos os a intenção de demonstrar a superiori-
sacerdotes o ministério é essencialmente dade e eternidade do sacerdócio deste
o mesmo, sendo apenas ampliado para último, que funcionou como sacerdote
o sumo sacerdote em relação ao Dia da quando abençoou Abraão e (figurada-
Expiação. Assim o escritor relaciona mente) Arão e os levitas.
Cristo com Melquisedeque a fim de en- Nesta seqüência discute-se a relação
fatizar que Cristo é um sacerdote eterno. do sacerdócio levítico com Cristo (vs.
1-3. O incidente histórico registrado 11-14). Jesus não era de Levi mas de
em Gn. 14: 17-20 volta à tona. O escri- Judá, Isto O exclui da ordem dos sacer-
tor indica que Melquisedeque era um rei dotes sob a Lei. Sua humanidade O
e por isso recebeu tributo de Abraão; relacionava com a tribo de J udá, e por-
mas, o que é mais importante, ele foi tanto (v. 13) Ele não era qualificado no
sacerdote do Deus Altíssimo, e portanto plano humano para servir no altar como
recebeu os dízimos de Abraão. Mais sacerdote, pois Moisés não pronunciou
adiante ele logra o seu intento com re- nenhuma palavra concedendo autoridade
ferência ao fato de Melquisedeque ser ou função sacerdotal aJudá.
um sacerdote de Deus antes do sacer- 15-28. A pergunta técnica se Cristo
dócio levítico ser estabelecido. (vs. 4-6). era / é um sacerdote responde-se por si
Na porção parentética dos versículos 2,
mesma porque Ele é de outra ordem sa-
3, nota-se o fato que Melquisedeque não cerdotal. Esta ordem adjudiciou-se supe-
tem registro de genealogia ou sucessão. rior em todos os pontos ao sacerdócio
Também não se menciona o seu nasci- levítico, e esta ordem é eterna. 16. O
mento nem a sua morte foi registrada. poder de vida indissolúvel (akatalytos)
Sua história é de alguém que não tinha não aparece em nenhum outro lugar do
princípio de dias nem fim de existência, N.T.
mas foi feito semelhante ao Filho de
Deus. Esta falta de informação a respeito 18-20. A Lei de Moisés menciona-
do nascimento fortalece a tipologia de da na frase se revoga a anterior orde-
Melquisedeque em relação a Cristo. Assim nança foi ab-rogada ou posta de lado
o SI. 11o: 4 enfatiza a etemidade do sa- porque Cristo é o sacerdote de Deus
cerdócio de Melquisedeque, eis to die- selado com um juramento (SI. 110: 4).
nekes, perpetuamente, continuamente, 22. Cristo é o fiador (engyos) de que
para sempre (Hb. 7: 3). o juramento divino será cumprido nas
4-14. O que significa toda esta dis- promessas e garantias da nova aliança.
cussão sobre Melquisedeque espiritual- 23-28. Cristo continua para sempre
mente? Considerai, ou contemplai ttheo- e não está sujeito à morte. A sepultura
reite) a grandeza daquele a quem Abraão foi derrotada. Ele pode portanto salvar
reconheceu ser superior dando-lhe dízi- totalmente, completamente e até o fim,
mos. A verdade importante é que o sa- isto é, eternamente, qualquer um que
cerdócio de Melquisedeque era maior invocá-Lo. Do mesmo modo Sua inter-
do que o sacerdócio de Arão e dos le- cessão pelos Seus não tem fim. Estes
vitas porque (figuradamente) este últi- ministérios são garantidos pelo Seu pró-
mo sacerdócio oferecia dízimos a Deus prio caráter (santo, inculpável, sem má-
através do primeiro sacerdócio ou de cula, separado dos pecadores), Suas
Melquisedeque na pessoa de Abraão. funções (como sacrifício expiador), e
Deste modo o menor, isto é, os levitas, Seu relacionamento.
-309 -
HEBREUS 8: 1-13 - 9: 1
-310 -
I " I I 'I I I
HEBREUS 9: 1-14
-311-
HEBREUS 9: 14-28 - 10: 1
-312 -
I, I I 'I I I
HEBREUS 10: 1-19
- 313-
HEBREUS 10: 19-25
soal com o qual a epístola finalmente entre Deus e os homens também foi
termina. O pensamento de uma vida rasgado, dando acesso imediato a Deus.
de fé ativa é um ponto importante, E Cristo é o grande sacerdote, ou grande
à volta do qual o escritor ajunta seus sumo sacerdote, como em 4: 14, reali-
argumentos e advertências finais. O zando o trabalho de um grande sacer-
pensamento introduzido com aproxi- dote no santuário.
memo-nos com sincero coração, em 22. Aproximemo-nos, implica na idéia
plena certeza de fé permeia tudo o que de aproximação de Deus freqüente,
vem a seguir. Por meio de descrições, franca, íntima, sem hesitação, mas sem-
advertências, exemplos e outros meios pre com um coração purificado, sincero
que lhe parecem vir à mente, o escri- coração; corações purificados e uma cer-
tor expõe o caso claramente em uma teza perfeita de que o caminho a Deus
frase, em plena certeza de fé. está aberto para nós. O coração puri-
ficado e a fé perfeita são as idéias pre-
A. Descrição da Vida da Fé. 10: 19· dominantes; uma ênfase secundária recai
25. sobre a tríade: coração, corpo e cons-
A vida da fé precisa em primeiro lu- ciência purificados. 23. Confissão da
gar ser compreendida. Se um mestre esperança. Uma confissão inabalável
descobre que a fé de um crente é fraca, de fé no Cristo vivo. Deus envolve nossa
então deve falar mais de uma fé ousada esperança com Suas próprias promessas,
que toma os crentes fortes e confiantes. pois quem fez a promessa é fiel. Isto fala,
Esta ousadia se encontra na garantia então, de mais uma afirmação baseada
eterna de que Cristo entrou no santuá- sobre fé na fidelidade de Deus.
rio e na presença de Deus, tomando tam- 24. Com a certeza vem a preocupa-
bém possível a cada crente entrar no ção com os outros. Isto se manifesta
santuário e na presença de Deus. Se na prontidão dos crentes em se reuni-
este é o privilégio dos crentes, e é, então rem (v. 25) e também em sua disposição
os crentes devem aproveitar-se desse de dar e receber exortação e instrução
privilégio. Devem exercitar a prerroga· úteis. Estimular. Estimular, provocando
tiva de se aproximarem, porque Cristo, e encorajando (paroxysmos, paroxysm).
o Filho que está sobre a casa de Deus Amor e boas obras devem ser desper-
e é o sumo sacerdote na geração eterna tadas para com os demais crentes. 25.
(de Melquisedeque) que tornou-a possível. Assembléia e comunhão são duas evi-
Nesta expansão de 4: 13-16, o escritor dências da fé vital. Quando o zelo des-
nos incentiva a sermos ousados. cai e a fé vacila, o desejo de manter co-
19. Intrepidez, ou confiança. Por munhão com outros crentes também
causa de tudo quanto o Senhor Jesus enfraquece. O estímulo do versículo
Cristo realizou, temos ousadia. Temos 24 se toma possível através da congre-
livre acesso pelo sangue de Jesus; o ca- gação. Quando os cristãos se reúnem,
minho já foi aberto. 20,21. Aqui estão eles se exortam mutuamente ao serviço
os meios de acesso, pelo novo (pros- frutífero e à comunhão ininterrupta.
phaton) e vivo caminho que ele nos con- O perigo da apostasia está emboscado
sagrou. O véu já não bloqueia mais o na falha dos crentes em se reunirem e
acesso a Deus, nem a natureza humana, se ajudarem mutuamente tparakalountes,
simbolizada pela referência à carne (sarx). "encorajamento mútuo").
O sofrimento de Cristo na carne remo- O dia. A mais curta das referências
veu esta barreira para sempre. Quando à vinda do Senhor Jesus Cristo. Uma
o Seu corpo foi rasgado na cruz, o véu referência direta à Segunda Vinda. A
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I , I I
'I I I
HEBREUS 10: 25-37
seguir. A prática sob a lei mosaica foi das coisas relembradas, não deve ser
citada para estabelecer o contraste. Es- agora esquecida, nem rejeitada; pois
te julgamento virá sobre os adversários esta é uma confiança baseada na certeza,
de Deus, e a rejeição do versículo 26 uma ousadia oriunda da fé vital, uma
coloca os rejeitadores aparentemente vitória assegurada. E esta paciência
sobre aqueles adversários. Será um jul- é a maior das necessidades. Em vez de
gamento horrível, terrível, porque o sa- retroceder a um caminho mais fácil,
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HEBREUS 10:37-39 -11: 1-7
-316 -
I , I I
'I I I
HEBREUS 11: 7-25
sendo livrado do Dilúvio. Assim ele 2) exigiu-se que ele oferecesse a Deus o
juntou-se a esse glorioso grupo dos jus- filho da promessa. O futuro de Abraão
tos que viveram pela fé através da justi- só estava assegurado mediante Isaque.
ça que vem da fé. Se lsaque tivesse de morrer, o que seria
8-13. Os outros patriarcas também da promessa de Deus a Abraão? Ao fa-
deram o mesmo testemunho. Abraão, zer a sua oferta, Abraão demonstrou
Sara, Isaque, Jacó, José e Moisés dão de modo prático sua confiança em
exemplos da vida da fé. Abraão e Moi- que a morte não era problema para
sés servem como exemplos melhores Deus. A morte não pode ser uma bar-
porque desempenharam um papel tão reira nem impedimento para Deus cum-
importante nos propósitos de Deus na prir a promessa da aliança - Deus era
terra. Abraão exemplifica a obediência poderoso até para ressuscitá-lo dentre
na vida da fé. Quando Deus o chamou os mortos. Figuradamente. Em pará-
de Ur dos Caldeus, ele passou a viver bola, semelhança, como se Isaque ti-
em tendas, como um turista, um pere- vesse realmente retornado dos mortos;
grino espiritual, com seus olhos fixos uma ressurreição.
sobre a cidade que ainda não estava â 20. Isaque abençoou Jacó e Esaú
vista. na promessa da aliança feita a Abraão,
Mais tarde prontamente ofereceu lsa- mas ainda futura para Isaque, relacio-
que a Deus, inteiramente persuadido nando-se assim acerca das cousas que
que a semente de Abraão, através de ainda estavam para vir (veja Gn. 27).
Isaque, predestinada a abençoar o mun- 21,22. Pela fé Jacó ... Pela fé José.
do, não ficaria sob nenhum perigo se Evidência da fé dos patriarcas na pro-
Isaque morresse. Fiel a Sua promessa messa feita a Abraão. Jacó, abençoan-
feita na aliança de que haveria uma se- do os filhos de José, perpetuou a pro-
mente, Deus poderia ressuscitá-lo. Até messa e deu provas de fé e submissão
o nascimento de lsaque, o filho da pro- quando adorava. José demonstrou sua
messa, foi uma evidência de fé da parte fé na promessa da aliança feita a Abraão
de Abraão e Sara. Pois seu filho nasceu quando pediu que o seu corpo (ossos)
quando eles estavam fisicamente velhos fosse sepultado na terra prometida (Gn.
demais para tal acontecimento. 48: 50).
13-16. Para os crentes verdadeiros, 23-29. De muitos modos Moisés exem-
viver pela fé é morrer na fé. A vida da plificou a vida da fé. Pela fé seus pais
fé é uma peregrinação. O céu é o único o esconderam desafiando uma ordem
lar dos crentes fiéis. É a pátria superior real específica (ex. 1: 16-22). Ele era
para a qual aqueles que vivem pela fé uma criança formosa, portanto pres-
estão plenamente destinados. E porque ságio de futuras bênçãos de Deus. Mais
se entregaram a Deus, Deus também tarde, o próprio Moisés, pela fé, fez
não se envergonha deles, e Ele o prova escolhas adequadas. Filho da filha de
providenciando-lhes uma cidade ou lu- Faraó. Uma frase simbólica indicando
gar para a habitação dos Seus (Jo. 14: que ele ocupava a posição de príncipe.
1,2). Moisés escolheu o povo de Deus e' as
17-19. De Gênesis 22 vemos a fé de promessas de Deus mesmo que isto síg-
Abraão quando ofereceu lsaque no Mon- nillcasse aflição e adversidade. Nisto,
te Moriá. A fé de Abraão foi posta à Moisés tornou-se o libertador de um
prova em pelo menos dois modos: 1) exi- povo sem esperanças (Ex. 2). Ele pre-
giu-se que ele oferecesse a Deus a melhor feriu também não desfrutar dos praze-
e a mais querida de suas possessões; e res transitórios do pecado. (Alf., pág.
- 317-
HEBREUS 11: 26-40
224). O opróbrio de Cristo. Ao que pa- os tipos de expenencia que aqueles que
rece Moisés compreendia a verdade mes- viveram pela fé são chamados a experi-
siânica; por isso sua escolha de fé no mentar. Toda a história de Israel foi
Messias. Este opróbrio foi sofrido por encarnpada nestas poucas e breves sen-
Cristo, e é do mesmo modo sofrido por tenças. Numa cuidadosa pesquisa do
aqueles que o servem fielmente. Esta V.T. pode-se descobrir muitos dos aconte-
passagem sugere que Moisés tinha Cris- Cimentos mencionados.
to em vista. 39,40. Mas apesar de todas essas
Moisés também escolheu deixar o evidências de homens e mulheres do
Egito. Novamente, com Cristo em vis- V.T. que viveram vidas de fé, permane-
ta, ele desprezou as riquezas da terra ce o fato de que eles não conheceram
do seu nascimento e o poder e o pres- as bênçãos completas do perdão dos
tígio do seu Faraó, ou rei. Esta decla- pecados e da comunhão com Deus atra-
ração se refere ao êxodo de Israel do vés das provisões do Calvário. Eles vi-
Egito com Moisés por líder. Moisés veram em antecipação da nova aliança,
deu ainda mais evidências de sua fé co- mas sem suas plenas provisões. Eles
memorando a Páscoa como prova de deram um testemunho positivo e eficaz,
que o livramento é pelo derramamento um testemunho por sua fé, ou como
de sangue (:tx.12). Observe a referên- está na CCT, foram feitos testemunhas
cia à fiel continuidade - permaneceu mediante sua fé, uma confirmação do
firme - um pensamento melhor desen- próprio Deus.
volvido em Hb. 12: 1-4. Mais adiante, Deus revelou um plano melhor, ou
Moisés e o povo juntos pela fé teste- pelo menos um plano mais completo,
munharam o milagre do Mar Vermelho nas gerações depois dos patriarcas e par-
- livramento para Israel, juízo para os ticularmente nas gerações desde o Cal-
egípcios. vário. A perfeição aguardou essas ge-
30,31. Jericó caiu vítima da fé de rações, para que eles sem nós, não fos-
Josué e dos filhos de Israel, e Raabe sem aperfeiçoados (teletohosin, teleioo,
participou das bênçãos de Israel por "tomar perfeito ou completo"). O to-
causa de sua fé. O memorial à fé de do da redenção realizada está sendo
Raabe lê-se em Mt. 1 : 5, onde ela foi considerado.
incluída na genealogia de Cristo. Cada uma das pessoas mencionadas
32-38. O escritor agora passa a acu- neste capítulo exemplifica alguma fase
mular os exemplos, por causa da impos- ou aspecto da vida da fé - obediência,
sibilidade de examinar cada caso sepa- ação com base nas promessas das coisas
radamente. A lista é impressionante, por acontecer, separação do sistema
incluindo alguns dos Juízes; Davi, o do mundo (Moisés), ou qualquer outra
maior dos reis de Israel; e um dos seus coisa. Mas o escritor ainda não com-
maiores profetas, Samuel. pletou seu argumento quanto à superio-
A lista dos feitos é igualmente im- ridade da vida da fé sobre a prática do
pressionante. Em alguns casos os in- legalismo mosaico. Um exemplo per-
cidentes mencionados são bem conhe- manece, o Senhor Jesus Cristo. A fase
cidos; em outros são mais obscuros. final do argumento apresentado pelos
Em cada exemplo, entretanto, alguma exemplos culmina em "considerai pois
coisa especial daqueles que viveram pela aquele" de Hb. 12: 3. Tendo conside-
fé foi apresentada. A vida da fé toma rado todas aquelas outras testemunhas,
possíveis tais fatos de valor, grandeza, os leitores deviam agora "considerar
coragem ou perseverança. E esses são aquele que suportou ... para que não
- 318-
I I 'I I I
HEBREUS 12: 1-9
-319 -
HEBREUS 12: 9-17
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I '. I I 'I I I
HEBREUS 12: 18-29 - 13: 1-3
tor a ilustração-advertência parecia óbvia. que advirá àqueles que recusam ou re-
18-24. A exortação continua com o jeitam o mensageiro de Deus, o seu
que Davidson chama de "um grande próprio Filho (1: 2). Esta recusa é pa-
final ao esforço ... de manter firme recida com aquela dos homens que fo-
sua confissão". O Sinai e o Monte Sião ram convidados para a "grande ceia"
foram colocados em contraste entre de Lucas 14: 16 onde "todos ... come-
si. O cenário para a concessão da Lei çaram a escusar-se" (paraiteomai). Veja
foi 1) um monte aceso em fogo (E. Lc. 14: 18, onde foi usada a mesma
R.C.), envolto em escuridão, trevas, palavra (Arndt).
tempestade, e 2) Ao clangor da trom- Passa-se então a descrever o juízo,
beta e ao som de palavras. Neste ce- talvez o último. A terra será sacudida,
nário Moisés foi tão tomado pela pre- e a vontade transitória se desvanecerá
sença de Deus que temeu e tremeu com ela; só permanecerá o que é eterno
grandemente (cons. Ex, 19: 12 e segs. e permanente - um reino inabalável.
e Dt. 9: 19). Este reino será dado por Deus, não
Mas (vós) tendes chegado introduz concebido pelo homem. Participação
todas as benditas realidades e persona- nele por meio da fé em Cristo deverá
gens da nova aliança. O céu foi colo- resultar em serviço prazenteiro e ado-
cado contra a terra, o fenômeno contra ração reverente da parte de todos.
o extra-terreno, a glória de Sinai contra A palavra final é novamente de ad-
a glória infinitamente maior do caminho vertência. Porque o nosso Deus é fogo
aspergido pelo sangue. Sião ... à cidade consumidor (cons. Dt. 4: 24). O fogo
do Deus vivo, a Jerusalém celestial ... é a forma final de julgamento (Ap. 20:
incontáveis hostes de anjos ... e igreja 10,14).
dos primogênitos Deus, o Juiz ... jus-
tos aperfeiçoados Jesus, o Mediador G. A Vida Cristã na Prática Diária.
de Nova Aliança - tudo isto constitui 13: 1·17.
uma lista propositadamente impressio- A vida cristã esboçada quanto ao
nante por causa dos contrastes pretendi- relacionamento do crente com outras
dos. Novamente, o pensamento está pessoas.
transparente. Certamente estas mara- 1-6. Em primeiro lugar foram men-
vilhas e bênçãos ultrapassam de longe o cionadas as situações normais. Como
alívio temporário a ser ganho mediante na epístola de I João, o amor fraternal,
o retomo ao Judaísmo para escapar ou seu afeto fraternal (CGT) deve per-
à perseguição. Homens de fé têm esta manecer. Uma das constantes evídên-
resplendente esperança sob a nova alian- cias de uma vida cristã sadia é a manei-
ça. Homens de fé já entraram na alegre ra pela qual os irmãos cristãos se dão
companhia dos primogênitos e dos jus- uns com os outros. Por causa da falta
tos aperfeiçoados (prototokon e tete- de lugares públicos de hospedagem,
leiomenon, "primogênitos e aperfeiçoa- a hospitalidade também é recomendada,
dos", segundo Alf e Arndt. Veja tam- particularmente com referência aos estra-
bém Davidson, Epistle to the Hebrews, nhos que conhecem Cristo. Mateus
pág.245-250). 25: 35-40 oferece o mais íntimo para-
25-29. Prestem atenção a Cristo. Não lelo de sem o saber acolheram anjos (ela-
recusem a voz de Cristo falando atra- thon, "inconscientemente").
vés do Evangelho. Se incorreram em Estas obrigações sociais ou relaciona-
perigo aqueles que recusaram a voz de mento humano passa a ser mais expan-
Deus no Sinai, quanto maior o perigo dido para incluir pessoas na cadeia -
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HEBREUS 13: 3-11
-322 -
I, 1 I II I I
HEBREUS 13: 11-25
los judeus do outro. Para esses cristãos àqueles que ouviriam ou leriam a carta.
hebreus, esse era o vitupério que tinham Fala de:
de levar. 1) Conforto para enfrentar, durante
Tendo Cristo morrido como oferta e sob as perseguições; para que tivessem
pelos pecados, os crentes deviam de- acesso e comunhão com o Deus da paz.
monstrar, por meio de Jesus, uma con- 2) Esperança no Cristo ressurreto;
duta adequada aos redimidos (vs. 14-17). literalmente, o que Deus tomou a tra-
1) Deviam fixar sua experança não nas zer dentre os mortos.
ordenanças do V.T., mas na cidade ce- 3) Cuidado pessoal e pastoral a Jesus
lestial e na perspectiva celestial; 2) de- nosso Senhor, o grande Pastor das ove-
viam louvar e agradecer a Deus, uma lhas.
vez que o fruto dos lábios devia ser 4) Doutrina e teologia. Todo o confor-
o transbordamento de um coração cheio; to, esperança e cuidado pastoral está
3) deviam mostrar benevolência de todo selado e garantido pelo sangue da eterna
o tipo, pois Deus não se esquece disto; aliança.
e 4) deviam ser obedientes e submissos.
Agradar a Deus poderia fmalmente ser Seguem-se certos pedidos e desejos
reduzido a três práticas ou atitudes fun- pessoais:
damentais, todas mencionadas nesta pas- 1) Que vos aperfeiçoe em todo bem
sagem - louvor, obediência e submissão. (v. 21), ou mais corretamente, que Deus
Isto, pouco comentário exige à luz da realize em vocês o que ainda está fal-
verdade neotestamentária. A benevo- tando. Este pedido transmite o desejo
lência é o que se segue naturalmente. do autor de que os crentes pudessem
No versículo 17 a submissão se relacio- se encaixar adequadamente em suas
na praticamente à atitude dos crentes tarefas, sem fraqueza, faltas ou falhas.
para com os seus próprios líderes. Com Os crentes precisam ser aperfeiçoados
estas palavras de responsabilidade colo- (katartizo).
cada sobre ambos, discípulos e líderes, 2) Conhecer e fazer toda a vontade
o escritor encerra a composição prá- de Deus. Já que Deus opera em nós,
tica e exortatória que começou com nós desejamos trabalhar para Ele em
10: 19. O restante é pessoal. submissão e obediência devotadas.
3) Agradar a Deus através de Jesus
IV. Epflogo Pessoal. 13: 18-25. Cristo. Só o Filho que habita em nós
e opera em nós através do Espírito
Com alguns poucos pedidos pessoais, Santo e da Palavra de Deus pode nos
uma subscrição e saudações, e uma breve levar a agradar a Deus. Que este pedido
bênção, o escritor conclui. seja o clamor dos nossos corações.
18,19. Orai por nós. Um pedido pes- 22-25. Talvez aqui tenhamos o ver-
soal. O escritor pede que seja lembrado sículo-chave da epístola (veja Introd.,
quanto 1) à sua vida, testemunho e ser- A Argumentação da Epístola) quando o
viço pessoais; e 2) seu desejo de logo se escritor implora a seus leitores que acei-
encontrar entre eles. Este é um pedido tem esta exortação. Ele expressa a es-
de oração específico. perança de que ele e Timóteo logo es-
20,21. Ele promete que, em troca, tariam aptos a visitá-los. Envia uma
vai orar por eles, especialmente no que saudação cristã generalizada a todos,
se refere à obediência à vontade de Deus. e acrescenta o indefinido os da Itália
Esta subscrição em forma de oração de- vos saúdam, ou aqueles que são da Itá-
veria constituir uma bênção particular lia vos saúdam, uma declaração genera-
-323 -
lizada indicando que os amigos da Itália As palavras finais são uma bênção
revelaram ao escritor que queriam ser em forma de breve oração, a graça seja
incluídos na saudação cristã. com todos vós.
-324-
I I li I I
A EPÍSTOLADE TIAGO
INTRODUÇÃO
-325 -
10) e a perseguiçao herodiana em 44. considerada como o Novo Israel (cons.
Quanto tempo se passou até que a má G1.3:7-9; 6:16; Fp.3:3), dispersa
interpretação e a aplicação errônea da por um mundo estranho e hostil (cons.
doutrina da justificação pela fé apresen- IPe.1:1,17; 2:11; Fp.3:2ü; Gl.
tada por Paulo chamasse a atenção de 4: 26; Hb. 12: 22; 13: 14). São entre-
Tiago, não sabemos. À vista do fato tanto, muitas as indicações na epístola
dos judeus, cristãos e não cristãos, de de que foi dirigida primeiramente aos
todo o mundo mediterrâneo, estarem judeus que eram cristãos. Isto pode
constantemente se movimentando para constituir mais uma indicação de sua
Jerusalém e fora dela, provavelmente data precoce, uma vez que a única oca-
não foi muito tempo depois. Uma data sião na história da igreja quando alguém
em cerca de 44 para a epístola, durante podia se dirigir a toda a igreja falando
ou imediatamente a perseguição hero- quase que exclusivamente a judeus, foi
diana, se encaixaria melhor em todos antes da primeira missão de Paulo aos
os fatores conhecidos. gentios - o que aconteceu em cerca de
Embora um número de sugestões 47.
opostas tenham sido apresentadas de
vez em quando, poucas são as dúvidas Conteúdo. A Epístola de Tiago é
de que Tiago a escreveu na Palestina. um pedido em prol do cristianismo vi-
Especialmente pelo colorido sugerido, tal. Herder captou o teor deste livro
o escritor indica que ele é um palesti- quando escreveu: "Que nobre é o ho-
niano (cons. 1:10,11; 3:11,12; 5: mem que fala nesta Epístola! Que in-
7). cansável paciência no sofrimento! Que
grandeza na pobreza! Que alegria na
Os Destinatários da Carta. A única
tristeza! Simplicidade, sinceridade, con-
indicação direta no livro que possivel-
fiança direta na oração! Como ele quer
mente sugere quem foram os leitores
ação! Ação, não palavras ... não uma
encontra-se no prefácio: Tiago, servo
fé morta!" (citado por F.W. Farrar em
de Deus, e do Senhor Jesus Cristo, às
The Early Days of Christianity, pág.
doze tribos que se encontram na dis-
324).
persão, saudações. Tradicionalmente
a frase, às doze tribos, era usada para No verdadeiro espírito dá literatura da
indicar toda a nação judia (cons. o Ecle- Sabedoria, Tiago maneja muitos e diferen-
siástico extra canônico 44: 23; A Assun- tes assuntos. Seus parágrafos curtos e
ção de Moisés 2: 4,5; Baruque 1: 2; abruptos já foram comparados a um colar
62:5; 63:3; 64:3; 77:2; 78:4; 84: de pérolas - cada um é uma entidade se-
3; também veja Atos 26: 7). Mas consi- parada em si mesmo. Há algumas tran-
derando que toda a nação judia, por sições lógicas, mas em grande parte as
mais espalhada que estivesse na Diáspo- transições são abruptas ou nem existem.
ra, não poderia ser considerada como Este fenômeno toma impossível um es-
existindo fora da Palestina, parece indicar boço no sentido usual. Aqui está, entre-
que o significado da frase é simbólico. tanto, uma lista dos assuntos tratados na
Tiago estava escrevendo a toda a igreja, ordem de sua ocorrência na epístola.
ESBOÇO
I. Saudação. 1: 1.
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I I
'I I I
TIAGO 1: 1-8
COMENTÁRIO
-327 -
TIAGO 1: 8-15
Ele antecipa que alguns dos seus leito- serto que sopra através da Palestina vin-
res dirão que não conseguem descobrir do do leste (cons. 1. Schneider, TWNT,
qualquer propósito divino em suas di- m,644).
ficuldades. Neste caso, diz ele, devem
pedir a Deus que lhes dê sabedoria, isto IV. Provação e Tentação. 1:12-18.
é, visão prática da vida (não conheci-
mento teórico), e Deus atenderá tal pe- 12. A recompensa para a fiel firmeza
dido liberalmente, (generosamente), e não nas provações foi declarada em termos
os censurará nem os reprovará. Há, en- do presente e do futuro. O homem que
tretanto, uma condição estabelecida. O se mantém firme é verdadeiramente
pedido deve ser feito com fé, em nada feliz agora; mas também receberá a co-
duvidando. O homem que vai a Deus roa da vida, a qual o Senhor prometeu
com o seu pedido deve estar certo de que aos que o amam. O genitivo (da vida)
quer o que pede. Tiago compara um está em aposição à coroa. A coroa con-
homem que duvida com a onda do mar, siste em vida, um dom para todos aque-
impelida e agitada pelo vento. Tal ho- les que amam a Deus. Tasker (op. cit.,
mem "não pode esperar nada de Deus" pág. 45) comenta incisivamente que em-
(Phillips). Ele é um homem de ânimo bora nem a nossa fé nem o nosso amor
dobre, isto é, um homem de fidelidade ganhe para nós a vida eterna, é entre-
dividida. Ele faz reservas mentais sobre tanto "um axioma bfblico que Deus
a oração em si mesma e sobre o que tenha abundantes bênçãos reservadas
pede de Deus. para aqueles que O amam, que guardam
os Seus mandamentos e que O servem
fielmente a qualquer custo (cons. Mt.
1lI. Pobreza e Riqueza. 1: 9-11.
19:28; ICo.2:9)".
9. Este parágrafo brota do comentá- 13. Agora Tiago faz a transição para
rio que Tiago faz sobre a provação. A as provações internas, isto é, as tenta-
pobreza é uma adversidade externa. O ções. A palavra tentação (E.R.C.) (v.
cristão pobre deve se regozijar em seu 12) carrega a idéia de seduzir ao pecado.
novo estado em Jesus Cristo. Este re- Tiago provavelmente tinha em mente
lacionamento deu-lhe verdadeira riqueza. a doutrina judia do Yetzer ha ra', "im-
Ele é um herdeiro de Deus e um co-her- pulso do mal". Alguns judeus arrazoa-
deiro com Jesus Cristo! vam que tendo Deus criado tudo, devia
10,11. Um cristão rico, por outro também ter criado o impulso do mal.
lado, deve se regozijar "porque em Cris- E considerando que é o impulso do mal
to foi rebaixado a um nível onde 'os que tenta o homem ao pecado, em úl-
enganos das riquezas' (Me. 4: 19) e a tima análise é Deus, que o criou, O res-
ansiedade de amontoá-las e retê-las já ponsável pelo mal. Tiago aqui refuta
não está mais em primeiro lugar e nem a idéia. Deus não pode ser tentado pe-
mesmo é alvo de considerações relevan- lo mal, e ele mesmo a ninguém tenta.
tes" (R.V.G. Tasker, The General Epis- 14. Em vez de acusar Deus pelo mal,
tle of James, pág.43). Mais ainda, as o homem deve assumir a responsabili-
riquezas são temporárias. São como a dade pessoal dos seus pecados. É a sua
relva verde e suas flores, que logo ama- própria cobiça que o atrai e seduz. Es-
relecem sob o calor do sol da Palestina. tas são, no seu sentido primário, pala-
Kauson (ardente calor) foi aqui usado vras usadas na caça e na pesca que foram
simplesmente falando do calor do sol empregadas aqui metaforicamente. 15.
e não do siroco, o quente vento do de- Quando o desejo do mal se levanta na
-328 -
I , I I 'I I I
TIAGO 1: 15-24
mente, não pára aí. A cobiça dá à luz tinham feito contra Deus. Ou talvez seja
o pecado, e o pecado produz a morte. simplesmente uma declaração generali-
"A morte é assim o produto amadure- zada sobre o ouvir e falar. 20. Quando
cido ou terminado do pecado" (Moffatt, um cristão dá evasão à ira, fica incapaz
op. cit., pág. 19). A morte aqui é a mor- de agir com justiça; e além disso, ele
te espiritual em contraste com a vida não deixa lugar, ou pelo menos atrapa-
que Deus dá àqueles que o amam (1: 12). lha, à vindicação da justiça divina no
16,17. O ponto que o escritor quer mundo.
explicar é que Deus, em vez de ser a fon- 21. Despojando-vos de toda impureza.
te da tentação, como alguns estavam de- Considerando que a Palavra é uma semen-
fendendo, é a fonte de todo o bem na te, deve ter um bom solo onde possa
experiência dos homens. Tiago estava se desenvolver. "Acabem, então", diz
especialmente desejoso de que seus lei- Tiago, "com a impureza e toda sorte
tores o percebessem, e por isso diri- de males" (Phillips). Acúmulo de mal-
giu-se-lhes com ternura, meus amados dade talvez seja uma sugestão de que
irmãos. Pai das luzes é uma referência apenas o excesso do mal deve ser aban-
à atividade criadora de Deus. Um tí- donado. Entretanto, Tasker considera
tulo desses concedido a Deus não era que acúmulo significa "resto". "Cada
desconhecido ao pensamento judeu (cons. cristão convertido traz consigo para
SBK, ur, 752). Embora haja conside- sua nova vida, muita coisa que é incon-
ráveis dúvidas quanto à tradução correta sistente com ela. Isto tem de ser aban-
da última parte do versículo 17, o signi- donado, para que possa entregar-se mais
ficado é bastante claro: Deus é inteira- completamente à obra positiva da recep-
mente consistente; Ele não muda. ção com mansidão a palavra em vós
Em Tiago 1: 18 o escritor chega ao enxertada, E.R.C. (Mais corretamente
clímax de sua refutação à idéia de que implantada, E.R.A.) (op. cit., pág.51).
Deus é o autor da tentação. Ele já de- Esta palavra é poderosa para salvar as
monstrou que tal acusação é contrária vossas almas. 22. O Cristianismo é uma
â natureza de Deus (1: 13) e à Sua con- religião de ação. Por mais importante
sistente bondade (1: 17). Agora ele apela que seja o ouvir (cons. 1: 19), não se
para a experiência que seus leitores tem deve parar por aí. O fazer deve seguir-se
no Evangelho. J. B. Mayor (The Epis- ao ouvir. Ser apenas ouvinte é uma for-
tle of St. James, pág. 62) expõe habil- ma de engano próprio.
mente o ponto alto deste versículo: 23,24. O homem que ouve mas não faz
"No que se refere a Deus nos tentando é como uma pessoa que vê o reflexo de
para o mal, Sua vontade é a causa de seu próprio rosto no espelho. "Ele se vê,
nossa regeneração". Esses cristãos pri- é verdade, mas continua fazendo o que
mitivos foram chamados de primícias fazia sem a menor lembrança do tipo
porque foram a garantia de muitos ou- de pessoa que viu no espelho" (Phíllíps),
tros que viriam. Os tempos deste versículo são inte-
ressantes: contempla (aoristo), se retira
V. Recepção da Palavra. 1: 19-25. (perfeito), esquece (aoristo). "Com o ao-
19. Há uma conexão possível entre risto ele (Tiago) mostra que a impressão
este parágrafo e o precedente. A forte foi momentânea, e o esquecimento ins-
admoestação para que todo o homem, tantâneo; o imperfeito implica em con-
pois, seja pronto para ouvir, tardio para dição contínua de ausência do espelho"
falar, tardio para se irar pode ser uma (H. Maynard Smith, The Epistle of St.
referência à acusação que os leitores James, pág. 85).
-329 -
TIAGO 1: 25-27 - 2: 1
25. O espelho, que revela as imper- pág. 182). Urna vez que os órfãos e viúvas
feições do homem exterior, foi colocado não tinham assistência na sociedade
agora em contraste com a lei perfeita, antiga, eram exemplos típicos daqueles
a lei da liberdade, que reflete o homem que precisavam de ajuda. Além da cari-
interior. Esta é a primeira referência à dade amplificada, a manutenção da pu-
lei na epístola (cons. 2: 8-12; 4: 11). reza pessoal é outro meio pelo qual a
Tiago usa o termo para indicar o lado verdadeira religião se expressa. O mun-
ético do Cristianismo, o didake, "ensi- do aqui e em 4: 4 refere-se à sociedade
namentos". Aqui ele chama a lei de pagã que se opunha, ou pelo menos
perfeita. Compare SI. 19: 7: "A lei do ignorava, a Deus.
Senhor é perfeita, e restaura a alma".
Tiago, na qualidade de judeu, escre- VII. Distinções Sociais e "A Lei
vendo a judeus, está deliberadamente Real". 2: 1-13.
atribuindo a didake os atributos da lei.
Para Tiago ela é perfeita porque Jesus 1. A ênfase colocada sobre a impor-
Cristo a tornou perfeita. Lei da liber- tância da conduta continua neste pará-
dade provavelmente significa que é uma grafo. Aqui se aplica à parcialidade.
lei que se aplica àqueles que têm o sta- Meus irmãos marca a transição para um
tus da liberdade, não da lei, mas do pe- novo assunto (cons. 1:2,19; 2: 14; 3:
cado e do ego, pela palavra da verdade. 1; 5: 1). A E.R.A. e E.R.C. traduz cor-
O homem que olha para esta lei e adquire retamente o verbo no imperativo (a
o hábito de fazer assim (parameinas) outra possibilidade é o indicativo) com-
transforma-se em operoso praticante e binando com a maneira direta de Tiago
encontra a verdadeira felicidade (será escrever. Não se sabe ao certo como o
bem-aventurado no que realizar). genitivo Senhor Jesus Cristo qualifica
fé. G. Rendall sugere a possibilidade
VI. Verdadeira Religião. 1: 26, 27. de considerarmos o genitivo como qua-
litativo, "como se definisse o caráter
26. O autor agora vai do "não ouvir particular da sua fé em Deus. 'A fé em
mas fazer" mais generalizado, para o Deus que tem por apoio e conteúdo
"não simplesmente adorar mas fazer" nosso Senhor Jesus Cristo' , que é o tipo
mais específico. A palavra religioso cristão da fé em Deus" (The Epistle of
(threskos) significa "dado às observân- St. James and Judaic Christianity, pág.
cias religiosas". Neste contexto ela se 46). Entretanto, provavelmente é mais
refere à freqüência aos cultos e a outras fácil considerar o genitivo como obje-
observâncias religiosas, tais como a ora- tivo - "sua fé em nosso Senhor Jesus
ção, esmolas e jejum. Um homem que é Cristo". Seja como for, a fé é fé dinâ-
escrupuloso nestas observâncias, mas fra- mica, confiança dirigida para o Senhor
cassa no controle de sua fala na vida diá- Jesus Cristo. Nada tem a ver com a
ria engana-se a si mesmo, e a sua religião idéia posterior de fé como um corpo de
é vã (Moffatt, fútil). doutrinas a serem cridas. A última
27. "Esta não é uma definição de reli- parte do versículo diz Senhor da, o que
gião, mas uma declaração . . . do que é não aparece no original. Jesus foi sim-
melhor do que os atos de adoração exteri- plesmente chamado de "a glória", uma
ores. Tiago não pretendia reduzir a reli- referência óbvia ao Shekinah (cons. Jo.
gião à uma pureza negativade conduta su- 1:14; I1Co.4:6; Hb.l:3). O ponto
plementada por visitas de caridade" (Ja- principal deste versículo é que toma-se
mes H. Ropes, The Eplstie of St. James, inconsistente apegar-se à fé cristã e ao
-330 -
I I 'I I I
TIAGO 2: I-lO
mesmo tempo demonstrar parcialidade. aos que o amam. 6. Outro motivo por-
2. Agora o escritor cita uma ilustra- que é inconsistência mostrar favor espe-
ção para reforçar a idéia. Um homem cial aos ricos é que foram justamente
rico com anéis de ouro e muito bem eles que perseguiram os cristãos. Tri-
vestido e um homem pobre andrajoso bunais é uma referência às cortes judias
(maltrapilho) entram na assembléia (sy- que eram autorizadas e reconhecidas
nagoge). O uso desta palavra para o lugar pela lei romana. 7. O ponto alto do
de reunião dos cristãos tem dado lugar argumento de Tiago contra o favoreci-
a muitas conjeturas sobre o autor e mento dos ricos é que blasfemam o
leitores da epístola; mas como diz Black- bom nome. Não é o nome de "cristão"
man, "deve-se lembrar que as duas pa- que eles blasfemam mas o nome de Je-
lavras synagoge e ekklesia são sinônimos sus Cristo, o bom nome que sobre vós
aproximados, e pode-se imaginar que foi invocado.
synagoge e não ekk/esia é que deve ter 8. A lei régia está ligada à declaração
se transformado no termo regular para de 2: 5, onde Tiago lembra seus leitores
a igreja propriamente dita. Assim é pos- de que Deus escolheu os pobres para
sível que a palavra fosse usada por Tiago serem os herdeiros do reino. A lei ré-
aqui como sobrevivência dos tempos gia, então, é para os que pertencem ao
quando o seu uso era normal" (The reino de Deus. Traduzindo o particí-
Epist/e of James, pág.77). O autor pio grego mentoi para "re almente ",
usa ekklesia em 5: 14. 3. O homem ri- destaca exatamente que Tiago acna que
co recebe tratamento preferencial. Re- os seus leitores, demonstrando parcia-
cebe o melhor lugar (ka/os). Há uma lidade para com os ricos, não estão
possibilidade de que ka/os possa ser cumprindo esta lei. 9. Pois o amor não
traduzido para "por favor". Em qual- faz acepção de pessoas. Na verdade,
quer um dos casos o rico recebe trata- a parcialidade é pecado. A lei aqui não
mento especial, enquanto o pobre recebe é a lei do V.T. (embora Lv. 19: 15 trate
ordem abrupta para ficar de pé, ou na da parcialidade), mas o didake, todo o
melhor das hipóteses, assentar-se no espírito daquilo que é contrário à par-
chão abaixo do estrado, isto é, em um cialidade.
lugar humilde. 10. A idéia da solidariedade da lei
4. O verbo traduzido, não fizestes encontra-se nos escritos rabínicos (cons.
distinção ... ? está na voz passiva e de- SBK, Ill, 755). Tiago adota esta idéia
veria ser traduzido, "vocês não estão imo mas a batiza em Cristo. A. Cadoux
pondo linhas divisórias?" A divisão es- escreve: ''Tiago olha para a lei, não
tá "entre a profissão e a prática, entre como se fosse um número de injunções,
a profissão da igualdade cristã e a defe- mas como um relacionamento pessoal...
rência prestada à posição e à riqueza" não como um exame, onde nove res-
(Richard Knowling, The Epist/e of St. postas certas garantem a aprovação, ape-
James, pág. 44). Por meio de tal atitu- sar da errada, mas como uma amizade,
de revelam-se juízes tomados (não de) onde cem atos de lealdade não podem
de perversos pensamentos, isto é, juí- ser colocados contra uma traição" (The
zes com falsos valores. Thought of St. James, pág.72). Esta
5. Aqueles que concedem tratamen- idéia está intimamente associada com
to especial ao rico deixam de considerar o conceito cristão da comunhão com
que escolheu Deus os que para o mundo Cristo. Transgressão de um preceito da
são pobres, para serem ricos em fé, e regra cristã de fé é uma brecha no todo,
herdeiros do reino que ele prometeu porque interrompe a comunhão com o
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TIAGO 2: 11-18
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I " I ! 'I I I
TIAGO 2: 18-26 - 3: 1
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TIAGO 3: 2-13
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I " I I 'I I I
TIAGO 3: 14-18 - 4: 1-4
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TIAGO 4:4·13
zade com o mundo é "ter boas relações camente comprovado pelos imperativos
com pessoas, poderes e coisas que são seguintes: Purificai as mãos, uma referên-
pelo menos indiferentes para com Deus, cia à conduta visível; limpai o coração,
caso não sejam abertamente hostis" uma referência às motivações do íntimo.
(Ropes, op. cit., pág.260), e assim Um homem de ânimo dobre se caracte-
é estar em inimizade contra Deus. riza pela lealdade dividida. E de acordo
5. Uma outra razão porque um cris- com esta passagem, o mundanismo é,
tão não pode ser amigo do mundo está basicamente, lealdade dividida. O fa-
nas Escrituras. Há um grupo de possí- moso ensaio de Kierkegaard, "Pureza
veis traduções para as palavras que se de Coração é Desejar uma Só Coisa",
seguem, mas acompanhando o contexto teve origem neste versículo.
de uma determinada tradução, Deus e 9. Aqui está um chamado ao arre-
não o Espírito é o sujeito do verbo: pendimento diante do pecado grave. Afli-
Ele se enternece com ciúmes pelo Es- gi-vos, isto é, "sintam-se miseráveis" (cons.
ptrito que colocou em nós para habi- Rm. 7: 24), lamentai e chorai. Estas
tar. Deus é um Deus zeloso (cons.Ex. atitudes são mais condizentes do que
20: 5 ; 34: 14; Dt. 32: 16; Zc. 8 : 2 ; o riso e a alegria (isto é, frivolidade e a
I Co. 10: 22), e portanto não há de to- leviandade do mundo) à vista das cir-
lerar uma fidelidade dividida. Nenhuma cunstâncias. Tristeza (melancolia) "é
passagem específica do V.T. contém a expressão abatida e mansa daqueles
as palavras deste versículo, mas muitas que estão envergonhados e arrepen-
passagens expressam sentimento seme- didos" (Moffatt, op. cit., pág.64). 10.
lhante. Tiago retoma à sua exortação inicial
6. As dificuldades em se viver para na série (4: 7) com as palavras, humi-
Deus dedicadamente num mundo mau lhai-vos. A promessa se emparelha
são muitas, mas Ele dá maior graça, a com elas, e ele vos exaltará.
qual aqui parece significar "ajuda gra-
tuita". E essa ajuda gratuita Deus põe XII. Julgando. 4: 11, 12.
à disposição, como diz Pv. 3: 34, não
para os soberbos, pessoas auto-suficien- 11. Novamente o autor volta ao as-
tes, mas para os humildes, homens de- sunto do abuso da linguagem. Nesta
pendentes. passagem parece que os interesses do
7. A chamada sujeitai-vos, portanto, irmão e da lei se identificam. Falar mal
a Deus (o primeiro dos oito imperativos do irmão ou julgá-lo é falar contra a lei
imediatos) segue-se logicamente à promes- e tornar-se juiz da lei. 12. Superiori-
sa da graça para os humildes. Calvino dade à lei pertence a Deus somente. Ele
observa inteligentemente: "Submissão é o Legislador e Juiz, e nas mãos dEle
é mais do que obediência; ela envolve estão as questões da vida e morte. À
humildade". O diabo, inimigo de Deus, vista disto, Tiago pergunta, quem és,
deve ser enfrentado com resistência e, que julgas ao próximo?
então, ele fugirá de vós (cons, Mt. 4: XIII. Autoconfiança pecaminosa. 4:
1-11). Estes são dois importantes passos 13·17.
na fuga ao pecado do mundanismo.
8. Os imperativos continuam com 13. A atitude dos negociantes aqui
chegai-vos a Deus. Comunhão íntima descritos é outra expressão do munda-
com Deus assegura Sua amizade (e ele ni~mo que produz o afastamento de
se chegará a vós) e aparta do mundo. Deus. Os mascates mencionados eram
Que o mundanismo é pecado está pitares- judeus que tinham um comércio lucra-
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I' 1 1 'I I I
TIAGO 4: 13-17 - 5: 1-6
tivo por todo o mundo mediterrâneo. e eterno" (op. cit., pág.284). A rique-
São descritos fazendo planos cuidado- za deve ser usada para bons propósitos,
sos para suas empreitadas comerciais não entesourada.
e declarando: Hoje, ou amanhã, ire- 3. A ferrugem da riqueza acumu-
mos para a cidade tal, etc. 14. Nada há lada será uma testemunha contra os
de mau em tal planejamento propria- ricos, porque Deus quer que a riqueza
mente dito. Entretanto, os planejadores seja usada para o bem da humanidade.
ignoravam dois pontos. O primeiro é Ela também destruirá os próprios ri-
a limitação dos seres humanos, o que cos - há de devorar, como fogo, as vos-
limita seu conhecimento - não sabeis sas carnes. A frase, para os últimos
o que sucederá amanhã. O segundo é dias (E.R.C.) provavelmente deveria ser
a incerteza da vida, a qual Tiago com- mudada para nos últimos dias (ERA.).
para à neblina, ou à fumaça. Ela aponta para o fato que, embora os
15. Um homem cristão, ao fazer ricos não o percebam, os últimos dias
os seus planos, deve reconhecer a sua já chegaram.
dependência de Deus e dizer, Deo valen- 4. Outro pecado dos homens ricos
te, se o Senhor quiser. 16. Mas o reco- era o defraudar cruel dos pobres lavra-
nhecimento da dependência de Deus dores. Esta atitude era particularmente
não era o caso entre os leitores de Tiago. séria porque era explicitamente contrá-
Antes, eles se gloriavam presunçosamente ria à lei de Moisés (cons. Dt. 24: 14, 15).
(vos jactais das vossas arrogantes preten- Deus, que aqui é chamado de Senhor
sões). Tiago denuncia a gabolice como dos exércitos, um título que sugere Sua
um mal. 17. Uma advertência final onipotência soberana, não ficava desa-
para os negociantes autoconfiantes. Eram tento diante desta injustiça. Seus ouvidos
cristãos. Portanto sabiam que a humil- estavam abertos aos gritos dos pobres
dade e dependência de Deus são essen- trabalhadores.
ciais na vida cristã. Saber e não fazer, é 5. O terceiro pecado dos ricos era
pecado. o Seu luxo e prazeres. Vida extravagan-
te não passava de uma engorda para o
XIV. Julgamento dos Ricos Inescru- dia de matança. Esta frase foi extraída
pulosos. 5: 1-6. de Jeremias (12: 3). No período inter-
1. Os ricos aqui mencionados não testamentário (cons, I Enoque 94:9) as-
são cristãos, mas, apesar disso, a adver- sumiu um significado escatológico, e nes-
tência se aplica a todos os homens, in- ta passagem foi usado com referência
clusive cristãos. Tiago é consistente ao dia do juízo.
com os ensinamentos do N.T. em geral 6. O homem justo não é Jesus mas o
em atacar os ricos não apenas porque pobre (generalizadamente), que foi tra-
são ricos, mas porque fracassaram em tado sem míserícórdía pelos ricos. Mof-
sua mordomia, O chorar e prantear fatt (op. cit., pág.70) indica que a pala-
não são sinais de arrependimento mas vra matado tinha um significado mais
expressões de remorso em face do juízo. amplo, na ética judia, do que tem agora.
2. Ambos os verbos deste versículo Particularmente relevantes são as decla-
e o primeiro verbo do versículo seguinte rações do Eclesiástico apócrifo 34: 21,
estão no tempo perfeito. Ropes os des- 22: "O pão do necessitado é a vida do
creve habilmente como "declarações pi- pobre; qualquer um que os priva dele
torescas e figurativas da verdadeira inu- é um homem de sangue. Privar o pró-
tilidade desta riqueza à vista daquele que ximo do seu ganha-pão é assassiná-lo;
conhece o valor do que é permanente deixar de pagar o salário a um empre-
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TlAGO 5: 6-15
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I I 'I I I
TIAGO 5: 15-20
cura, fica sujeita à vontade de Deus. por três anos e meio também não se
Às vezes, é claro que não é sempre, a encontra no V,']'.
doença é o resultado do pecado pessoal.
XVIII. Regenerando o Irmão Peca-
Talvez isto é o que se quis dizer com
dor. 5: 19,20.
se houver cometido pecados. De qual-
quer maneira, o doente tem a certeza A declaração, Meus irmãos, se algum
do perdão dos pecados. entre vós se desviar da verdade, e as duas
16. A oração, para ser mais eficaz, referências a sua regeneração, parecem
deve ser inteligente. Por isso encontra- indicar claramente que o homem em
mos a exortação, confessai, pois, os vos- questão é um cristão. Converte não é
sos pecados uns aos outros. Isto não o termo exato. Se um cristão vê que o
quer dizer que os cristãos devem entre- seu irmão abandonou as doutrinas da fé
gar-se a confissões públicas indiscrimi- cristã e as responsabilidades morais que
nadas ou mesmo particulares. E certa- delas brotam, e tem a possibilidade
mente a passagem nada tem a ver com de trazê-lo de volta para a comunhão
as confissões secretas feitas a um sacer- com Cristo e Sua Igreja, as conseqüên-
dote. Os crentes devem confessar suas cias são duplas: 1) salvará da morte a
faltas apenas para que possam orar uns alma dele (a do pecador), e 2) cobrirá
pelos outros. Não tem havido unani- multidão de pecados. Uma vez que o
midade quanto â tradução da última N.T. ensina a segurança do crente em
parte deste versículo, mas o significado Cristo, é melhor aceitar a referência
é claro: um homem bom tem grande feita â morte como sendo a morte fí-
poder em suas orações. sica. A igreja primitiva cria e ensinava
17. O exemplo é Elias, homem se- que a persistência no pecado pode cau-
melhante a nós, sujeito aos mesmos sar a morte física prematura (cons. I Co.
sentimentos. Suas orações provoca- 11: 30)0 Os pecados cobertos não são os
ram a seca e acabaram com ela. Tiago do reconciliador (isto sugere a doutrina
parece ter extraído o exemplo de alguma judia que as boas obras contrabalançam
outra fonte que não o V.T", uma vez as más) mas do desviado. Eles ficam
que as orações de Elias quanto à seca cobertos diante de Deus, que é apenas
e o seu fim não são mencionadas na outra maneira de dizer que foram per-
narrativa do V,']', A duração da seca doados.
-339 -
PRIMEIRA EPÍSTOLA DE PEDRO
INTRODUÇÃO
O Escritor. Esta carta pretende ser são dos seus autores humanos (I Pe. 1:
escrita pelo apóstolo Pedro (1: 1). O au- 10-12).
tor também se intitula um ancião e teste- I Pedro declara explicitamente que foi
munha dos sofrimentos de Cristo (5: 1). escrita pelo apóstolo Pedro, e parece que
Ele escreve com a ajuda de um Silvano não houve considerações sobre o conteú-
(5: 12) e fala de um Marcos que está do ou estilo que possam refutar tal reivin-
com ele (5: 13). dicação. Na verdade, ela contém decla-
Ao tratar com qualquer manuscrito rações aqui e acolá que fortemente fa-
antigo, presume-se de início que o es- zem lembrar expressões de Pedro confor-
critor é inteligente e honesto. Suas me registradas em Atos. A referência
declarações sobre assuntos aparentemen- que o escritor faz ao Pai como juiz que
te dentro do seu âmbito de conhecimen- julga "sem acepção de pessoas" (1: 17)
to, e particularmente qualquer afirma- faz lembrar as palavras de Pedro a Cor-
ção sobre si mesmo e suas atividades, nélio e ao grupo de gentios na casa dele
são consideradas dignas de crédito. A (Atos 10: 34). A alusão a Deus como
dita obra literária é estudada então em tendo ressuscitado Cristo dos mortos
busca de consistência interna, e as obras (I Pe. 1: 21, e outras) faz lembrar que
de autores contemporâneos e posterio- o apóstolo foi uma das testemunhas
res são esquadrinhadas em busca de características da ressurreição em Atos
referências diretas a este autor ou à sua (2: 32; 3: 15; 10:40). E a proclama-
obra e de possíveis alusões à mesma, ção de Cristo como a "principal pedra
citações dela, ou quaisquer outras evi- de esquina" profeticamente vista por
dências de conhecê-la. A pressuposição Isaías, em I Pe. 2: 7;8, assemelha-se mui-
original de autenticidade e exatidão não to às palavras de Pedro ao Sinédrio em
se altera até que estes estudos adicio- Atos 4: 11.
nais revelem qualquer evidência que force Mestres têm apontado para a seme-
o contrário. lhança com as obras paulinas (Harnack
Com referência às Escrituras Sagra- achava que I Pedro era demasiadamente
das, há para os mestres cristãos um imbuída do espírito do Cristianismo
outro fator importante que opera em paulino para ser obra de Pedro), a rela-
seus estudos. A igreja histórica sempre ção da epístola com Tiago e sua indu-
tem crido firmemente que as obras canô- bitável afinidade com Hebreus. Mas
nicas, além de serem o resultado do re- outros mestres, principalmente DI. Char-
gistro cuidadoso de homens honestos, les Bigg (St. Peter and St. Jude, no /n-
também personificam o elemento do ternational Criticai Commentary), argu-
milagre divino; elas são "inspiradas por mentam que tais semelhanças podem
Deus" (Il Tm. 3: 16), e algumas vezes ser interpretadas como reflexo de Pedro
até chegam a transcender a compreen- nesses outros escritos tanto quanto o
-340 -
I I 'I I I
inverso, que podem muito bem ser con- pelo Sinédrio judeu, mas que os roma-
sideradas como pontos de vista e modo nos logo perceberam que ali estava um
de falar comuns entre os cristãos dos tipo de vida incompatível com o paga-
tempos apostólicos, e que nada existe nismo, o qual, do seu ponto de vista,
no fato que lance dúvidas sobre a indi- tinha de ser impedido. A perseguição
vidualidade do escritor de I Pedro ou de Paulo e Sílas em Filipos parece que
que indique que este escritor não seja foi nesta base e sem instigação judia.
o apóstolo Pedro, conforme indica o Os missionários prejudicaram organha-
primeiro versículo da epístola. -pão dos adivinhos pagãos. E a lei romana
As referências perseguição e sofri-
â protegia o direito de cada homem de ga-
mento, tão destacadas em I Pedro, fo- nhar o seu pão sem interferência.
ram estudadas mais detalhadamente pelos Dr. Bigg sente que I Pedro pertence
mestres para verificar como correspon- a este estágio precoce da oposição pagã,
dem ao que se conhece da história das antedatando até mesmo a perseguição
perseguições dos cristãos primitivos. Dr. de Nero que se seguiu ao incêndio de
S. J. Case ("Peter, Epistles of", em Roma (64 A.D.), do qual Nero acusou
HDAC) destaca três ondas principais os cristãos. Certamente esta data pre-
nas perseguições primitivas: durante os coce não é impossível nem irracional,
reinados de Nero (54-68 A.D.), Domi- e .harmoniza-se melhor com a reivindi-
ciano (81-96 A.D.) e Trajano (98-117 cação da autoria de Pedro para a epís-
A.D.). Ele segue os mestres que consi- tola. Isto não significa, é claro, que as
deram I Pedro refletindo não apenas um cartas de Plínio a Trajano não conte-
estágio avançado e severo de persegui- nham ítens que nos ajudem grandemen-
ção, mas uma perseguição que se espa- te em nosso estudo da perseguição con-
lhou às províncias da Ásia Menor men- forme vista em I Pedro.
cionada em I Pe, 1: 1. Evidências externas apóiam fortemen-
Referindo-se ã correspondência de te a autenticidade desta epístola. Embo-
Plínio com o imperador Trajano, a qual ra Irineu (130-216 mais ou menos) fosse
versava sobre o castigo imposto aos o primeiro que conhecemos a citar Pe-
cristãos durante o domínio de Plínio dro pelo nome, os mestres do Novo Tes-
(que começou em 111 A.D.) sobre Pon- tamento encontraram alusões a I Pedro
to e Bitínia, duas das províncias às quais e seus paralelos na Epístola de Barnabé
I Pedro foi dirigida, Case a considera (cerca de 80 A.D.), na obra de Clemente
como o cenário que melhor correspon- de Roma (95-97 AD.), no Pastor de Her-
de às declarações de I Pedro sobre perse- mas (começo do segundo século) e nas
guição. Para seguir esta linha de racio- posteriores obras patrísticas. Policarpo,
cínio até a conclusão, colocando a ori- que sofreu o martírio em 155 AD.,
gem desta epístola durante o reinado cita I Pedro, embora sem mencionar o
de Trajano, seria tarde demais para nome do seu autor.
ser obra de S. Pedro. O próprio Dr. Ca- Eusébio (cerca de 324 A.D.) diz que
se, à vista das outras linhas de evidência, Papias (que escreveu em cerca de 130-
não adota esta conclusão. 140 A.D.) "usou o testemunho da pri-
Outros mestres interpretam I Pedro meira epístola de João e semelhante-
como uma advertência antecipada con- mente de Pedro" (Ecc1esiastical Bis-
tra a perseguição que se aproximava, para tory, 3.39.17). Ele coloca IPedro en-
a qual as coisas já estavam se movimen- tre os livros aceitos sem dúvidas por
tando. Bigg destaca que as perseguições toda a igreja. Mais ainda, I Pedro en-
primitivas foram grandemente inspiradas contra-se na versão siríaca da Bíblia
-341-
chamada Peshito, e nas versões cóptica, referência à Roma. Para os destinatá-
etíope, armênia e árabe. Suas confir- rios de I Pedro, que deveriam saber ime-
mações externas são realmente fortes diatamente, através do remetente, de
e corroboram a reivindicação desta epís- onde vinha a carta, não haveria proble-
tola ser da autoria do apóstolo Pedro. mas sobre esta discretamente velada
Época e Lugar. A época e o lugar referência à Roma.
quando e onde I Pedro foi escrita, admi- A chegada de Pedro a Roma foi cal-
tindo sua autoria petrina, estão intima- culada por Chase (op. cit.) em cerca do
mente relacionadas. 5: 13 dá a impres- fim do ano 63 A.D. Líghtfoot a coloca
são de que a epístola foi escrita na "Ba- no começo do ano 64 A.D. A chegada
bilônia". Havia uma colônia de refu- de Paulo Roma como prisioneiro ocor-
â
giados assírios com este nome no Egito, reu mais cedo, em 61 ou 62 A.D. A tra-
no lugar onde está hoje localizada a mo- dição diz que Paulo foi libertado depois
derna Cairo. Mas durante o primeiro de dois anos em Roma, e que 11 Timó-
século não passava de um posto militar, teo foi escrita um pouco antes de sua
e a tradição não apóia que Pedro tenha execução, mais tarde, fora de Roma, que
morado ali. assim fica datada de 67 ou 68 A.D. Esta
Sabe-se que a Babilônia sobre o Eu- segunda prisão é discutida, entretanto, e
frates abrigou uma congregação judia em aqueles que a contestam colocam 11 Ti-
36 A.D., e durante o Pentecostes havia móteo em cerca de dois anos depois da
judeus da Babilônia em Jerusalém. É chegada de Paulo a Roma e estipulam-lhe
bem possível que tenha havido ali uma a data de 63 ou 64 A.D. Isto seria um
igreja cristã subseqüentemente. Mas pouco antes do martírio de Paulo, e por
lá pelo fim do reinado de Calígula (41 ocasião da pretendida chegada de Pedro
A.D.) a colônia judia da Babilônia foi à Roma. É interessante notar que Mar-
dispersa por violenta perseguição e massa- cos, que foi chamado à Roma por Paulo
cre. Parece bastante improvável que esta (11 Tm.4: 11), estava com Pedro quando
epístola fosse escrita de lá. esta primeira epístola foi escrita, como
Há uma antiga e forte tradição que também Silas, o amigo de Paulo e seu
defende a residência de Pedro em Roma ex-companheiro de viagem (I Pe. 5: 12,
durante a última parte de sua vida. Esta 13).
idéia era generalizadamente defendida A epístola, então, poderia muito
por toda a igreja antes da Reforma. Não bem ter sido escrita de Roma em mais
é impossível, entretanto, que os refor- ou menos na ocasião do início da perse-
madores, quando insistiram na Babilô- guição de Nero em 64 A.D. Colocá-la
nia Assíria ao interpretar a referência logo após o começo desta perseguição
de Pedro em IPe.5:13, fossem motiva- parece receber o apoio da clara referên-
dos parcialmente pela sua oposição às cia da epístola ao ardente cadinho do so-
declarações de que o papado romano frimento
descendia de Pedro. Mas o uso simbó- A Mensagem da Epístola. Escrita aos
lico dos nomes do V.T. para cidades co- cristãos das cinco províncias da Ásia Me-
nhecidas era bem próprio dos tempos nor, a epístola foi endereçada aos leito-
apostólicos. Paulo comparava J erusa- res dirigindo-se a eles como se fossem
lém com Hagar e o Monte Sinai (Gl. viajantes dispersos e estrangeiros, uma
4: 25). Em Ap. 11: 8 Jerusalém é cha- figura muito familiar à Israel e tiraniza-
mada de "Sodoma e Egito", e em Ap. da, mas também inteiramente aplicável
17: 18 está claro que a senhora de escar- aos muitos leitores cristãos gentios de
late denominada "Babilônia" é uma Pedro. Que ele tinha estes cristãos gen-
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I I 'I I I
tios em mente está absolutamente visí- 22: 32), e novamente, "Amas-me? ..
vel na carta. Ele lhes lembra que, em- Apascenta os meus cordeiros" (10.21:
bora antigamente "não éreis povo", 15-17). "Quando te converteres", real-
eram agora o povo de Deus (2: 10). mente! Pois o Pedro anterior ao Pente-
Ele descreve sua vida passada vivida costes, longe de ser uma rocha espiritual,
na concupiscência dos gentios (4: 3,4). era um composto vacilante de lealdade
E por que este interesse da parte de humana a Cristo e interesses próprios
Pedro? Muitas daquelas províncias da traiçoeiros. "Não a cruz!" fora o seu con-
Ásia ouviram seu sermão no Pentecos- selho ao seu Senhor (Mt. 16: 22). E quan-
tes (Atos 2: 9), e muitos sem dúvida do Jesus caminhava na direção desse
voltaram para casa como colonizadores instrumento de dor, na vontade de Seu
espirituais. Mais tarde Paulo desenvol- Pai, Ele o fez sem a companhia de Pedro.
veu trabalho evangelístico na Ásia, mas Mas o Pentecostes, com a poderosa
de maneira limitada, tendo sido proibi- plenitude do Espírito, operou mudança
do pelo Espírito Santo de trabalhar in- radical. E agora Pedro, que já sofrera
tensivamente (Atos 16: 6-8) naquela re- espancamento e enfrentara a morte nas
gião. Talvez por causa do esplêndido mãos de Herodes, adianta-se para enco-
começo já feito pelo Evangelho nessas rajar e fortalecer seus queridos irmãos
localidades. da Ásia a enfrentarem o iminente Calvá-
Pedro podia bem se lembrar das in- rio que ele - talvez já envolvido nas
junções do seu Senhor, "Quando te con- cruéis perseguições de Nero - estaria
verteres, confirma teus irmãos" (Lc. vendo se aproximar deles.
ESBOÇO
-343 -
I PEDRO 1: 1-3
COMENTÁRIO
I. Conforto e Ânimo no Sofrimento. tiam cada vez mais sozinhos. Eles eram,
1: 1-25. na verdade, aqueles que foram escolhidos
e preferidos por Aquele cujo favor é
A. Saudação. 1: 1,2. todo-importante. Como em outras
1. Pedro, apóstolo de Jesus Cristo. passagens do N.T., a doutrina da elei-
Humanamente falando, esta é uma pro- ção foi colocada em compatibilidade
clamação direta da autoria da epístola. com a responsabilidade pessoal, con-
Só uma única pessoa poderia se identi- forme qualificada pela presciência de
ficar assim, o apóstolo Pedro. Negar Deus (veja Rm. 8: 29), e operando na
essa reivindicação é caracterizar a epís- vida real através de santidade concedida
tola como "fraude sagrada" e levantar (santificação do Espírito, 11 Ts. 2: 13).
sérias dúvidas sobre como uma carta O resultado é obediência a Deus e puri-
assim escrita poderia ser usada para ficação de corrupção incidental através
orientação ética e espiritual. Aos ...fo- da contínua aspersão do sangue de Jesus
rasteiros da Dispersão. O grego pode- Cristo (Hb. 12: 24). Aos seus queridos
ria ser assim traduzido, aos estrangei- irmãos assim saudados, Pedro deseja
ros residentes na dispersão. Eles não graça (a palavra grega sugere a saudação
eram pessoas estranhas a Pedro, mas gentia Kairei "Alegre-se!") e paz (remi-
temporariamente residentes nas provín- niscência da saudação oriental Shalom!
cias da Ásia Menor mencionada por Pe- "Paz!"). Observe, também, a inclusão
dro. Sua verdadeira cidadania estava no de referência a todas as três pessoas
céu (cons. Fp. 3: 20, gr.). O apóstolo, da Trindade nesta saudação.
escrevendo especialmente para conforto B. Conforto nos Fatos Compreendi-
desses peregrinos, alguns dos quais sem dos pelo Evangelho de Cristo. 1: 3-12.
dúvida convertidos em resultado do seu 3. Bendito o Deus e Pai de nosso
sermão no Pentecostes, tomou imedia- Senhor Jesus Cristo. Começando ade-
tamente conhecimento da separação e quadamente com esta atribuição de
até mesmo do ostracismo que os marcava louvor e crédito a Deus, a fonte de to-
entre seus vizinhos. A expressão "dis- do benefício, Pedro começa a esboçar
persão" estava cheia de significado puno um quadro de riqueza espiritual para
gente para os judeus dispersos. Pedro a- os seus leitores, uma riqueza que per-
dapta esta figura aos seus leitores gentios. manece firme â disposição deles apesar
2. Eleitos, segundo a presciência de de todas as provações e indignidades.
Deus Pai. O Espírito Santo ajudou Pedro, Primeiro vem o fato do novo nascimen-
até em suas palavras introdutórias, a ante- to, visto que Deus nos regenerou (gr.) ,
cipar um firme fundamento para o confor- segundo a sua muita misericórdia, com
to que ia dar a esses cristãos que se sen- a resultante posse de uma viva esperança,
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I I 'I I I
I PEDRO 1: 3-11
-345 -
I PEDRO 1: 11-21
rio para a totalidade dos judeus (C1. antiga ignorância" (cons. Ef. 2: 3). Os
1: 26, 27). A introdução de Pedro desejos da vida cristã foram mudados;
às profecias da glória mediante o sofrí- mas se o cristão não vigiar, ele pode
mento deviam ter grandemente enco- ainda ser "atraído e engodado pela sua
rajado seus leitores. Era o caminho própria concupíscêncía" (Tg. 1: 14). 15,
profetizado nas Escrituras, o caminho 16. Segundo é santo aquele que vos cha-
trilhado pelo seu Senhor, e o caminho mou. A iminente volta de Cristo, a pre-
que eles mesmos estavam sendo convo- ciosa esperança do crente, também é um
cados a percorrer. 12. Não para si mes- forte incentivo à santidade (I Jo. 3: 3).
mos, (os profetas) mas para vós outros Pois Cristo é santo. Lembre-se da emba-
ministravam. Um importante princí- raçosa conscientização de Pedro de seu
pio na inspiração. Deus tem, às vezes, próprio pecado e atrazo quando subita-
revelado através das Escrituras Sagra- mente fo i confrontado com o Cristo res-
das mistérios além da compreensão dos surreto quando estava pescando no Mar
escritores (cons. Dn. 12: 8, 9). Aqui, da Galiléia uma certa manhã (10.21:
então, está um evangelho que foi dado 7). Isto faz pensar em uma situação
pelos profetas, proclamado pelos pre- semelhante quando pela vez primeira
gadores investidos com o Espírito Santo, foi chamado pelo Senhor (Lc, 5: 8).
objeto da admiração dos anjos. Procedimento, comportamento. Sede sano
tos. Este era um mandamento muito
C. Conforto na Santidade de Vida bem conhecido de todos quantos conhe-
Divinamente Adquirida. 1: 13-25. ciam ol)entateuco (Lv. 11: 44; 19: 2;
13. Por isso, cingindo o vosso enten- 20: 7; cons. 5: 48).
dimento. Ele os exorta a se sentirem 17. SI:: invocais como Pai. Pedro está
encorajados na tomada de consciência falando com pessoas que oram e clamam
do amor de Deus (cons. Hb. 12: 12, 13). a Deus por livramento da injusta per-
Sede sóbrios. Uma injunção para consi- seguição, mas que deveriam perceber que
derar os fatos sensatamente, sem ex- o próprio Deus é um juiz. Com temor.
cesso de emoção e pânico (repetido em Esta percepção produzirá um cuidado
4: 7; 5: 8). Esperai inteiramente (per- santo. O sábio se conhece pelo que é
feitamente, com maturidade). A pa- e a quem ele teme (Mt. 10: 28).
ciência cristã tem uma qualidade espi- 18,19. Não foi mediante cousas cor-
ritual. É a "paciência da esperança em ruptíveis ' .. que fostes resgatados. Aque-
nosso Senhor Jesus Cristo, diante de las eram pessoas simples e pobres. Pela
nosso Deus e Pai" (I Ts. 1: 3) .. Na graça segunda vez (cons. v.7) Pedro se refere
que vos está sendo trazida (gr., que está desdenhosamente à riqueza temporal
sendo efetuada). Sem dúvida não po- quando comparada com a herança da
demos compreender isto inteiramente. salvação que não tem preço. Do vosso
Certamente inclui a redenção do corpo fútil procedimento que vossos pais vos
(Fp. 3: 21; Rm. 8: 23). Compare com a legaram. Pelo precioso sangue ... de
declaração do versículo 5 acima. Pode Cristo. A palavra precioso (gr., timios)
ser uma referência à graça ministrada é peculiaridade de Pedro. A ausência
divinamente aos mártires na hora da de pecado no Cordeiro, ou Seu sofri-
morte. mento vícãrío, forneceram a base para
14. Como filhos obedientes (E.R.C.). uma nova e celestial escala de valores.
Literalmente, filhos da obediência (E.R. 20, 21. Conhecido, com efeito, antes
A.). Não vos amoldeis (cons. Rm. 12: 2) da fundação do mundo ... manifestado.
"com os fortes desejos que tínheis na O sofrimento de Cristo não foi uma emer-
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I I 'I I I
I PEDRO 1: 20-25 - 2: 1-5
gencia. Foi o melhor dos planos de Deus lavras gregas sugerem a fome impaciente
à vista do pecado do homem. Isto seria e voraz da criancinha na hora da sua re-
um pensamento confortador para os feição. Pedro falou da palavra de Deus
santos que estavam, agora eles mesmos, operando na regeneração deles (1: 23-
sob grande pressão. De vós. Melhor, 25). Agora ele insiste que os recém-nas-
através de vós. Cristo realmente foi ma- cidos cultivem um apetite sadio por esta
nifesto através deles quando confiaram palavra, a qual, embora poderosa, é sim-
e esperaram no mesmo Deus que O res- ples ou autêntica (na tradução, genuí-
suscitou dos mortos. no) e elementar, como o leite. Deste
22. Tendo purificado as vossas almas. modo seus leitores crescerão "para a
Pedro apela para a autenticidade da con- salvação". Estas últimas palavras, encon-
versão deles, uma realidade bem perce- tradas em alguns dos melhores manus-
bida pelos seus leitores. Eles já tinham critos, referem-se ao livramento final
sido purificados. Essa mudança de co- do crente (cons. 1: 5, 13). 3. Se é que
ração produzira "o amor fraternal, não já tendes a experiência. Eis aqui outro
fingido" (gr., philadelphiai. Ele os exor- lembrete da graça que eles já experi-
ta a seguir e praticar o mesmo princípio: mentaram (cons. SI. 34: 8).
amai-vos de coração WIS aos outros ar-
dentemente. 23-25. Fostes regenerados B. A Participação dos Leitores em uma
... mediante a palavra de Deus. Como Santa Comunidade, a Igreja. 2: 4-10.
a regeneração parece frágil à mente hu- 4. Chegando-vos para ele, a pedra que
mana, quando repousa, como o faz, ape- vive. Agora Pedro está se ocupando da
nas na palavra de Deus. Mas Pedro cita grande e confortadora garantia de que
a grande afirmação de Isaías de que esta os seus leitores, que estão sendo despre-
aparentemente frágil e invisível enti- zados e ostracizados como gente sem
dade - a Palavra de Deus - sobrevi- origem e sem importância (cons. "es-
verá a todos os fenômenos naturais (Is. trangeiros", 1: 1) pelos seus vizinhos,
40: 6-8). E esta é a palavra que dá sig- são membros de uma comunidade santa
nificado à fé deles e a eles próprios. e gloriosa, a Igreja. Ele começa devida-
mente pela questão do relacionamento
11. A Réplica Disciplinada da Santi- pessoal com Cristo, Ele mesmo rejeitado
dade Prática. 2: 1 - 3: 22. como eles, mas como eles eleito (elei-
tos, cons. 1: 1) de Deus e precioso (pe-
A. As Bases Negativa e Positiva da
dra ... para com Deus eleita e preciosa).
Santidade. 2: 1-3.
Novamente esta palavra "precioso"; cons.
1. Despojando-vos, portanto, de toda 1: 19 e abaixo.
maldade. Há uma fase negativa e puri- 5. Também vós mesmos, como pedras
ficadora na santidade (Ef. 4: 22 e segs.; que vivem. Aqui está uma identificação
CI. 3: 9 e segs.). Eis aqui os desagradá- na natureza com Cristo. As mesmas pa-
veis defeitos centralizados no amor pró- lavras são usadas com referência aos
prio: maldade, ou, mais exatamente, crentes e ao Senhor. A passagem faz
espirito de maldade; dolo, que esconde claramente lembrar as palavras do Se-
o motivo indigno que procura alcançar; nhor a Pedro, "Tu serás chamado Cefas
hipocrisias, que aparenta uma honesti- (pedra)" (Jo. 1: 42); e novamente, "Tu
dade que não existe; maledicências, que és Pedro (uma pedra), e sobre esta pedra
prejudicam os outros para o seu próprio (formação rochosa) edificarei" (Mt. 16:
bem. 18). Observe que na presente passagem
2. Desejai ... como crianças. As pa- Pedro destaca o seu Senhor, não a si
-347 -
I PEDRO 2: 5-11
mesmo, no santo edifício que é a Igreja. que também foram postos (gr., condi-
Sois edificados casa espiritual. Compare cionados). O mesmo divino propósito
Ef. 2: 19-22. Considera-se que a Igreja que, com base na presciência de Deus,
transcende a glória do Templo judeu. escolheu os leitores de Pedro por Seus
O argumento nesta parte do capítulo, próprios filhos, tristemente ordenou os
até I Pe. 2: 10, pode dar a entender que desobedientes para sua única alterna-
as indignidades e pressões experimen- tiva.
tadas pelos crentes eram instigadas pe- 9,10. Vós, porém, sois raça eleita
los judeus, embora aceitas também pelos (gr. genos, "raça, classe"). Isto se asse-
gentios, e que só iriam ocorrer nos pri- melha muito aos ensinamentos do pró-
meiros dias da igreja. Sacerdócio santo, prio Cristo. Sua referência à pedra de
a fim de oferecerdes sacrifícios espiri- esquina rejeitada estava em conexão com
tuais, agradáveis a Deus por intermédio sua parábola sobre os lavradores rebeldes
de Jesus Cristo. Considera-se que a ofer- que mataram o Filho do proprietário
ta de Cristo abriu o Santo dos Santos da vinha. Ao mesmo tempo e junto com
a todos os crentes e suplantou os sacri- a sua referência à pedra rejeitada, ele
fícios judeus. Por meio de Cristo, o ho- disse aos líderes judeus, "O reino de
mem antes pecador pode agora fazer Deus vos será tirado, e será dado a uma
uma oferta aceitável a um Deus santo nação que dê os seus frutos" (Mt. 21:
(cons. Rm.12: 1,2). 43). Agora Pedro está escrevendo a esta
6. Pois isso está na Escritura. Agora "nação", cuja evidente realeza e valor
Pedro cita sua fonte, Is. 28: 16. É inte- imediatamente a distingue como os fi-
ressante observar que neste versículo lhos do Rei e reflete o crédito sobre
de Isaías a ênfase foi colocada sobre a Aquele que os chamou das trevas do
função da pedra como "o fundamento mundo para a Sua luz. As palavras tra-
infalível" (cons. I Co. 3: ll ). Sem dú- duzidas para povo de propriedade exclu-
vida o gosto de Pedro por esta figura siva é literalmente um povo para lucro
vem do uso que nosso Senhor fez dela (gr., peripoiesis). Às vezes a palavra
(Mt. 21 :42), segundo as palavras de SI. indica a garantia de uma propriedade
118: 22, 23. O próprio Pedro usou-a desejada ("adquirirão para si", I Tm.
diante do Sinédrio: "Ele é a pedra que 3: 13; "ele resgatou com seu próprio
foi rejeitada por vós, os edificadores" sangue", Atos 20: 28). Às vezes signifi-
(Atos 4: 11). ca uma preservação ou salvação. Em
7,8. Para vós outros, portanto, os que Hb. 10: 39 foi traduzido para "con-
credes (gr), é a preciosidade; mas para os servação" e contrasta com "perdição".
descrentes ... pedra de tropeço. Aqui É uma tremenda palavra de encoraja-
foi usada a forma nominal de "precio- mento. Este é um povo grandemente
so"; literalmente, uma honra, uma coisa estimado, um povo a ser salvo, um povo
estimada. Aqui está uma simples repre- a ser possuído. Pedro finaliza esta dou-
sentação de Cristo como o Salvador e trina com as palavras de Oséias (l: 6,
Juiz. Misericórdia rejeitada transforma- 9; 2: 23). Os que antigamente não
-se em condenação. Isto, novamente, (eram) povo - muito provavelmente
era doutrina de Cristo (Mt. 21: 44; Jo. uma referência aos seus antepassados
12: 48). Na presente passagem os cren- gentios - agora são povo de Deus.
tes são colocados em contraste com os
descrentes. A fé, então, aparece como C. Vida Irrepreensível, Resposta à Per-
obediência ou disposição básica (cons. seguição. 2: 11 - 3: 13.
"obedientes à fé", Atos 6: 7). Para o 11. Peregrinos e forasteiros . . . vos
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'I I I
I PEDRO 2: 11-20
absterdes, Pedro remove rapidamente o 15. Pela prática do bem, façais emude-
quadro da realeza deles, vira a página, e cer a ignorância dos insensatos. Plínio,
os chama novamente de peregrinos. no seu relatório a Trajano sobre os cris-
Apanha novamente o pensamento de tãos do Ponto e Bitínia, duas das pro-
2: 11 e os adverte a que se "mantenham víncias mencionadas em 1: 1, fala dos
afastados" dos seus desejos carnais que "crimes aliados ao nome" dos cristãos.
fazem guerra contra a alma. A figura Embora acontecesse em uma época con-
de linguagem "combatem contra" não sideravelmente posterior (112 AD. mais
é de uma luta corpo-a-corpo, mas de ou menos), é uma ilustração da maneira
uma expedição planejada contra um ignorante e injusta pela qual as pessoas
objetivo militar. Devemos compará-la de um grupo podem ser consideradas
com a fria atitude de exploração de criminosas. A resposta de uma vida
Dalila para com os apetites de Sansão digna seria a melhor das respostas.
a ruo de destruí-lo. 12. Mantendo exem- 16. Como livres. Auto-controle im-
plar o vosso procedimento (a mesma pelido pelo Espírito é a única base du-
palavra foi usada em "boas obras" mais radoura para a liberdade: "Se sois guia-
adiante no versículo). Embora uma ra- dos pelo Espírito, não estais debaixo da
ça escolhida, viviam entre os gentios, que lei" (Gl. 5: 18). Mas vivendo como
estavam inclinados a falar deles como de servos (escravos) de Deus. O homem in-
malfeitores. O Cristianismo pela sua teiramente controlado por Deus é ver-
própria essência opunha-se às vaidades dadeiramente livre. Nesse Deus opera o
do paganismo em tudo. Portanto era querer e o fazer da Sua boa vontade. É
em si mesmo um crime "que em toda este amor, pela Sua vontade, implantado
parte se fala contra" (Atos 28: 22). por Deus que torna leve o jugo de Cristo,
Como o justo Noé, "condenava o mun- e o Seu fardo suave.
do" (Hb. 11: 7). Esta foi a explicação
17. Honrai ... Amai ... Temei. Aqui
básica para a prontidão dos pagãos em
está o auto-sacrifício e o desejo de con-
perceber e perseguir este povo insigni-
ceder a cada um aquilo que merece. A
ficante. E Pedro sabia que a melhor
palavra honrai está ligada à palavra "pre-
resposta era a integridade de vida, doada
cioso" e sugere a alta estima do cristão
por Deus e capaz de arrancar louvor
pela personalidade humana. A palavra
ainda que relutante dos próprios inimi-
amai indica o agape divinamente conce-
gos da cruz (cons. ensinamentos de Je-
sus em Mt. 5: 16). No dia da visitação dido de I Co. 13. Este é o amor com o
ficaria melhor traduzido para o dia da qual Cristo duas vezes desafiou Pedro
observação (inspeção ou reconhecimen- em Jo. 21: 15, 16, um desafio do qual
to oficial). o honesto Pedro desviou-se com a respos-
13,14. Sujeitai-vos a toda institui- ta, "Eu te amo" (gr. philo, "amar hu-
ção ... ao rei ... como soberano. Um manamente") .
cristão é respeitador da lei, meticuloso 18-20. Servos, sede submissos ... tam-
e autodisciplinado. Esta doutrina com- bém aos perversos. O homem cheio do
para-se a de Paulo em Rm. 13: 1-7 e Tt. Espírito é capaz de cumprir ordens ir-
3: 1,2. Ela não deve ser entendida, na- racionais, sim, inteiramente impossíveis
turalmente, como aquiescência forçada em qualquer outra base. "Amai os vos-
com o mal. As palavras do próprio Pe- sos inimigos", "oferece a outra face"
dro ao Sinédrio foram estas: "Julgai vós - só podem ser obedecidas mediante
se é justo, diante de Deus, ouvir-vos a completa submissão Àquele que orou
antes a vós do que a Deus" (Atos 4: 19). pelos seus crucificadores, "Pai, perdoa-
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I PEDRO 2: 20-25 - 3: 1-7
-lhes". Isto é grato. A recompensa co- Ele ordenou (Lc. 14: 27, etc.), deviam
meça onde o racional termina. Aquele segui-lo, tomando a cruz. Mas eles já
que serve a Deus sem o trascendente tinham dado o primeiro passo na parti-
amor divino, edifíca com madeira, palha cipação da cruz; antes ovelhas desgar-
e restolho. Que glória há ... ? Compare radas, foram convertidos ao Pastor e
com as perguntas de Jesus em Lc. 6: 32- Bispo (administrador) de suas almas.
36. Grato a Deus. A palavra grato é 3: 1-6. Mulheres, sede vós, igualmen-
o grego karis, que tem uma linda força te. Deixando as implicações da santida-
dupla de "graça" e "favor". Pode ser de para os escravos, Pedro se dirige às
assim entendido, "Quando vocês fazem mulheres casadas. A estas ele aconselha,
o bem, e sofrem com paciência, isto al- sede ... submissas a vossos próprios ma-
cança a graça de Deus" ou "o favor de ridos (cons. Ef. 5: 22; Cl. 3: 18). A re-
Deus". gra do amor divino continua como pano
21-23. Também Cristo sofreu. Aqui, de fundo. O marido é reconhecido o
é claro, está a personificação do amor líder dentro do lar, e o honesto compor-
divino. Aqui está o nosso modelo. O tamento das mulheres, sua conduta pru-
qual não cometeu pecado. Portanto dente e controlada dentro do lar, levará
todo o castigo e indignidade para com alguns a Cristo. Ela não deve chamar a
Ele foram sem motivos. Pois ele ... não atenção pela artificialidade do penteado,
revidava com ultraje ... mas entregava-se. das jóias, ou roupas aparatosas, mas
Aqui está o cumprimento perfeito do deve se distinguir pelo espírito manso
princípio de Rm. 12: 19,20: "Minha é e tranqüilo tão raro no mundo e tão es-
a vingança ... diz o Senhor. Portanto, timado por Deus. As esposas dos pa-
se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de triarcas são apontadas como exemplo
comer". Eis aqui o amor perfeito para de comportamento (v. 5). Ao que pa-
com Deus e o homem. 24. Carregando rece os enfeites espalhafatosos e chama-
ele mesmo em seu corpo, sobre o ma- tívos são considerados contrários ao
deiro, os nossos pecados. Pedro faz espírito de' modéstia diante dos maridos.
seus leitores se lembrarem que isto foi A mesma implicação parece existir em
feito por eles. Para que nós, mortos aos I Tm. 2: 9-12. A modéstia nas roupas
pecados, vivamos para a justiça. Ele dá de uma mulher está associada com a
a entender que a morte de Cristo foi devida modéstia de comportamento. Ao
mais do que um exemplo. Participando que parece, a fé cristã implica em um
da Sua cruz eles participarão de Sua vida padrão diferente de roupas e enfeites
triunfante. Por suas chagas ... Selwyn que o mundo usa. Sara foi respeitadora
(The First Epistle of St. Peter, pág. 95) da liderança de Abraão, chamando-lhe
chama a atenção para três linhas no pen- senhor (Gn. 18: 12). O versículo 6 lem-
samento de S. Pedro no que se refere bra àquelas mulheres cristãs que são
à expiação: o cordeiro pascal "imacu- filhas adotivas de Sara: "Cujas filhas
lado e incontarninado" (1: 19), o servo vocês se tornaram, fazendo o bem e es-
sofredor de Is. 53, "pelas suas feridas tando sujeitas em absoluto temor".
fostes sarados", e o bode expiatório, 7. Maridos, vós, igualmente. Passan-
"levando ele mesmo em seu corpo os do agora às implicações da santidade no
nossos pecados sobre o madeiro". 25. marido, Pedro prescreve que o relacio-
Porque estáveis desgarrados como ove- namento conjugal deve existir em ter-
lhas ... porém. . . Pedro esteve insis- mos de consideração mútua com dis-
tindo com seus leitores a que partilhas- cernimento. Eis aí o oposto do egoís-
sem dos sofrimentos de Cristo. Tal como mo. Tendo consideração para com a
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I I
'I II
I PEDRO 3: 7-18
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I PEDRO 3: 19-22 - 4: 1
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I I 'I I I
I PEDRO 4: 1-11
lo. Cristo foi visto como o exemplo do tações. Nós achamos que a sugestão de
crente e canal de poder para enfrentar- Scott, modificada por John Owen, é
mos o sofrimento. 1b,2. Aquele que so- digna de mérito, com o seguinte senti-
freu na carne deixou o pecado. Agora do: "Tendo em vista este fim (isto é,
Pedro está enfrentando a morte tal como o juízo final há pouco mencionado) o
ela se depara ao homem (cons. Rm. 7: evangelho foi pregado também àqueles
1-4), libertando-o de todo o desejo e (mártires) agora mortos, para que eles
submissão ao pecado. Imediatamente pudessem ser (como foram) julgados
ele faz o paralelo espiritual. Aquele que na carne (e condenados ao martírio)
participou da cruz de Cristo já não está segundo o padrão dos homens, mas
mais vivo para a influência do pecado pudessem viver no Espírito de acordo
através dos comuns desejos humanos, com Deus". Aqui, então, está o ensi-
mas está vivo apenas para a influência namento que, à vista do juízo final, os
da vontade de Deus (Gl. 6: 14). mortos martirizados estão em situação
3,4. Porque basta o tempo decorri- muito melhor do que os gentios incré-
do. Literalmente, basta que no tempo dulos do versículo 3.
passado fizéssemos a vontade dos gen-
tios. Segue-se então um catálogo dos B. A "Vida Crucificada" Caracteriza-
feios pecados observáveis fora da graça da pelo Amor Divino. 4: 7·11.
de Deus. Faz-nos lembrar uma das lis- 7. Ora, o fim, de todas as cousas está
tas de Paulo das obras da carne em Gl. próximo. Ainda focalizando o Juízo,
5: 19-21. Por isso, difamando-vos, es- o apóstolo impõe uma atitude de auto-
tranham. As vidas transformadas dos controle (sede, portanto, criteriosos) e
crentes fazem deles pessoas estranhas, calma (melhor do que vigiai, E.R.C.),
quase "estrangeiros", dando lugar à con- recorrendo às orações. 8. Tende ardente,
denação dos gentios e uma difamação (E.R.C.) (intenso, E.R.A.) amor. Aqui
autodefensiva e insolente dos cristãos. está novamente o amor divino (gr., aga-
5. Os quais hão de prestar contas. Mas pe) como em I Coríntios 13, o amor que
é a Deus e não aos homens que terão perdoa os pecados e erros dos outros.
de responder. E o juízo de Deus se 9. Aqui está um amor que usa de hospi-
aplicará a ambos, aos que ainda estão talidade sem murmuração. Literalmen-
vivos e aos que já morreram. Dependen- te, amor aos hóspedes sem murmura-
do da interpretação que se dá ao versí- ções. É colocar-se a si e aos seus recur-
culo 6, este julgamento pode ser consi- sos alegremente à disposição dos outros.
derado tanto uma vindicação dos crentes 10. Servi ... cada um conforme ...
como uma condenação dos pecadores que recebeu. O "dom" recebido é um
não arrependidos. No V.T., particular- karisma, uma graça, que torna seus pos-
mente nos Salmos, o juízo costuma ser suidores despenseiros da multiforme
considerado uma vindicação pelos justos. graça de Deus. Esta graça deve ser ad-
6. Pois, para este fim foi o evangelho ministrada (gr., diakoneo; cons. "diá-
pregado também a mortos. Alguns re- cono") aos outros, o melhor método tam-
lacionam este versículo com 3: 19,20. bém para continuar sendo desfrutado
Lange acha que os dois versfculos se re- pelo possuidor original. Aqui está nova-
ferem a uma evangelização pós-cruci- mente a participação dedicada de bênçãos
ficação dos antidiluvianos incrédulos por espirituais. 11. Se alguém fala. O a-
Cristo, mais uma oferta de salvação que póstolo estende a idéia da mordomia
sem dúvida foi aceita por muitos deles. introduzida no versículo 10. Aquele
Há muitas outras gradações de interpre- que fala na igreja deve tomar o cuida-
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I PEDRO 4: 11-19 - 5: 1-4
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I I 'I I I
I PEDRO 5:4-14
(Jo. 10: 1·16), sem dúvida ouvido por tores (1: 2). Esta glória, novamente,
Pedro. Cristo concederá aos seus vice- deve ser depois de terdes sofrido por
-pastores a imarcescível coroa da glória. um pouco. Os verbos que vêm a seguir
5-7. Semelhantemente vós jovens, sede são futuros simples: ... nos há de aper-
sujeitos. O espírito dos anciãos deve feiçoar (ou fará que sejam aquilo que
ser carinhoso e respeitoso, um exemplo devem ser), firmar (a palavra que Cristo
fácil e natural para os mais jovens segui- usou dirigindo-se a Pedro, "Confirma
rem. Todos devem estar revestidos (en- teus irmãos", Lc. 22: 32), fortificar e fun-
volvidos em) de humildade, merecendo damentar.
assim a graça de Deus que é tanto a causa 11. A Ele seja o domínio, pelos sécu-
como o resultado da humildade. Pedro los dos séculos. Pedro termina sua men-
cita Pv. 3: 34 (LXX) para apoio de sua sagem com uma bênção.
doutrina (cons. Tg. 4: 6) e reforça sua
admoestação (cons. Tg. 4: 10). Aquele v. Saudações Finais e Bênção. 5: 12·
que é humilde pela graça, pode descan- 14.
sar, lançando sobre ele toda a vossa ansie-
12. Por meio de Silvano ... vos escre-
dade, porque ele tem cuidado de vós
vo. Há quem ache que Silvano foi ape-
(ele se preocupa convosco).
nas o mensageiro, mas esta declaração
B. O Diabo Deve Ser Enfrentado parece ser bastante ampla para encaixar
com Graça Divina. 5: 8-11. a probabilidade de que Silvano - geral-
8,9. Sede sóbrios (calmos) e vigilan- mente aceito como o Silas da segunda
tes . . . vosso adversário (oponente em viagem missionária de Paulo - serviu
uma ação judicial) ... anda em derre- realmente de secretário quando I Pedro
dor, como leão que ruge procurando foi escrita. Esta é a genuína graça de
alguém para devorar. Esta passagem Deus; nela estai firmes. Aqui Pedro
pode ser uma velada referência a Nero transmite saudações da eleita (gênero
ou ao seu anfiteatro com os leões. Re- feminino) em Babilônia. Há quem ache
sumindo, é um diabo pessoal. Resisti-lhe. que sejam saudações da esposa de Pedro,
Compare Tg. 4: 7. A determinação cris- uma pessoa nobre que acompanhou
tã provoca a ajuda divina. E o conhe- Pedro em suas viagens e que, segundo
cimento do que a irmandade espalhada a tradição, sofreu o martírio antes do seu
pelo mundo sofre as mesmas aflições marido. Ela devia conhecer bem os lei-
tende a tomar os cristãos em dificul- tores de Pedro. Meu Filho Marcos. Sem
dades mais firmes na fé. dúvida uma indicação de que João Mar-
10. Ora, o Deus de toda a graça. Pedro .cos estava com Pedro na ocasião.
insistiu com eles a que exibam as graças 14. Saudai-vos uns aos outros com
consistentes com a sua vocação. Agora ósculo de amor (gr., agape, "divino a-
ele os entrega ao Deus de toda a graça mor"). Paz a todos vós que vos achais
que em Cristo vos chamou à sua eterna em Cristo. A carta termina com a tôni-
glória. Esta menção final da vocação ca do amor divino e a paz em Cristo,
de Deus faz-nos lembrar seu pensamento superior a todas as forças oponentes
introdutório relativo à vocação dos lei- e considerações.
-355 -
A SEGUNDA EPÍSTOLA DEPEDRO
INTRODUÇÃO
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I I 'I I I
ter sido obra do apóstolo. pus (contada por Eusébio) de que dois
Tal linha de raciocínio parece real- netos de Judas foram levados diante
mente gratuito, pois se Pedro chegou a de Domiciano, que reinou entre 81 e
Roma exatamente dois ou três anos de- 96 A.D., sendo descritos como homens
pois da chegada de Paulo como pri- adultos, lavradores de mãos calejadas,
sioneiro, certamente teria uma opor- naquela ocasíão. Lembre-se de que
tunidade natural de ficar conhecendo Judas foi irmão de nosso Senhor. As
as epístolas de Paulo e poderia conce- semelhanças entre 11 Pedro e Judas não
bivelmente ter comungado com o pró- parecem exigir uma data pós-petrina pa-
prio Paulo. De qualquer maneira, pare- ra a primeira.
ce que as evidências de que as cartas de O que dizer, então, do testemunho
Paulo foram copiadas e circularam de externo? Esta epístola não foi direta-
igreja em igreja imediatamente após mente citada pelos Pais da Igreja antes
serem recebidas, são razoáveis (veja Cl. do começo do terceiro século, embora
4: 16). haja possíveis alusões em alguma das
Mais uma questão interna deveria ser obras mais antigas. Eusébio (Ecclesias-
considerada, isto é, a semelhança de cer- tical History 6.14.1), escrevendo em cer-
tas declarações de 11 Pedro com declara- ca de 324 AD. diz que Clemente de Ale-
ções de Judas. Três dos paralelos mais xandria (que morreu em cerca de 213
importantes são os que se seguem: 1) 11 AD.) em seu Hypotyposes compilou
Pedro 2: 4 e Judas 6 referem-se ao casti- sumários de todas as Escrituras inspi-
go dos anjos decaídos, uma alusão à uma radas, incluindo aquelas cuja autenti-
declaração feita no livro apócrifo de cidade era contestada, entre estas as
Enoque. 2) 11 Pedro 2: 11 e Judas 9 fa- epístolas "católicas" ou gerais.
lam da relutância dos anjos em fazer Orígenes, que morreu em 253 A.D.,
acusações contra Satanás, acrescentando embora reconhecesse o problema rela-
a declaração de Judas, ao que parece, cionado com 11 Pedro, aceitava o livro
uma alusão à obra apócrifa Assunção como genuíno. Firmiliano, o amigo e
de Moisés, onde Satanás é representado aluno de Orígenes, Bispo de Cesaréia
reclamando o corpo de Moisés. 3) 11 na Capadócia em 256 AD., corrobora
Pedro3:3,4 e Judas17,18 fala da fortemente a autoria petrina de 11 Pedro
vinda de escarnecedores nos últimos quando em uma carta a Cipriano ele
tempos. 11 Pedro se refere a eles no fala de um Estêvão que "contestava
futuro. Judas se lhes refere como uma os benditos apóstolos Pedro e Paulo ...
realidade presente, já profetizada pelos os quais em suas epístolas pronuncia-
apóstolos, de quem Pedro era um, é ram uma maldição contra os heréticos
claro. e advertiu que os evitássemos" (Cipria-
O Dr. Charles Bigg (St. Peter e St. no, Letters, n? 75). B em 11 Pedro, não
Jude, pág. 216, 217), que aceita a au- em I Pedro, que os heréticos são men-
toria petrina desta epístola, argumenta cionados.
convincentemente pela prioridade de O próprio Eusébio, comissionado pe-
11 Pedro. B bom ter em mente também lo imperador Constantino a fim de pre-
que há considerações plausíveis que parar cinqüenta cópias das Sagradas
apóiam uma data precoce da própria Escrituras, refere-se a Tiago, Judas e
epístola de Judas. Confere-se-lhe uma 11 Pedro como impugnadas embora mui-
data precoce tal como 65 AD., e aque- to bem conhecidas da maioria dos cris-
les que a colocam em 80 ou 90 A.D. de- tãos.
vem contar com a narrativa de Hegesíp- Jerônimo (cerca de 346-420 A.D.),
-357 -
comentando a questão da autenticidade cristãos da igreja sina, que eram parti-
das epístolas, diz que a dúvida surge cularmente alérgicos aos extremos da an-
por causa da diferença entre o seu esti- gelologia judia refletida em alguns dos
lo e o de 1 Pedro, e ele oferece a expli- livros apócrifos.
cação já citada. Ele mesmo aceitava 11 Talvez devamos mencionar os argu-
Pedro e a incluiu em sua versão da Vulga- mentos do mestre britânico Joseph B.
ta. Ela foi reconhecida pelo Concílio Mayor (The Epistle of St. Jude and the
de Laodicéia (cerca de 372), e foi for- Second Epistle of St. Peter), que consi-
malmente reconhecida como pertencen- dera 1Pedro como a obra do apóstolo
do ao cânon pelo Concílio de Cartago cujo nome leva, mas afirma que 11 Pedro
(397). é espúria.
Esta epístola não se encontra no Ele baseia sua opinião sobre evidên-
fragmento muratoriano, uma lista das cias internas e não externas. Depois
obras do N.T. que data de cerca do fim de fazer críticas às evidências externas,
do segundo século. Esta lista se encontra com suas referências admitindo os prós
mais ou menos mutilada. Conforme a te- e os contras à aceitação da epístola como
mos atualmente, não faz referência a He- genuína, Mayor resume dizendo, "Se
breus, 'I ou 11 Pedro, Tiago, ou III João. nada mais tivéssemos para decidirmos
Aceita-se que alguns ou todos esses pos- a questão da autenticidade de 11 Pedro,
sam estar incluídos nas partes que estão exceto as evidências externas, estaría-
faltando; mas, faltando estes, está claro mos inclinados a pensar que temos nes-
da história do desenvolvimento do câ- sas citações, terreno para considerarmos
non que a lista muratoriana não era que Eusébio estava justificado em sua
aceita pela igreja como final e decisiva. declaração de que a nossa epístola "ten-
11 Pedro também não se encontra do parecido útil a muitos, foi aceita ao
na Bíblia Siríaca chamada Peshito. O lado de outras escrituras" (op. cit., pág.
Velho Testamento da Peshito foi tradu- cxxiv; nossa tradução).
zido muito cedo. O Novo Testamento Mayor apresenta um minucioso estudo
é provavelmente o trabalho de Rábula, das diferenças de vocabulário e faz uma
bispo de Edessa na Síria, de 411 a 435. lista de 369 palavras usadas em 1Pedro
Esta versão omite 11 Pedro, 11 e III João, e não em 11 Pedro, e 230 palavras usadas
Judas e o Apocalipse. É inteiramente em 11 Pedro e não em 1Pedro. Ele en-
possível que o Novo Testamento an- contra palavras mais ou menos sólidas
terior da igreja siríaca omitisse todas (praticamente só substantivos e verbos)
as sete epístolas "católicas". usadas em ambas as epístolas. Então
Alguns consideram a possibilidade ele, surpreendentemente, parece estabe-
de que por causa da ênfase prática e dis- lecer um argumento contra a autoria
ciplinária dessas epístolas gerais, elas comum, dizendo que "o número de con-
tenham sido consideradas como "a-pau- cordâncias é de 100 se opondo a 599
linas" numa região onde o nome de discordâncias, isto é, seis vezes o pri-
Paulo era tido em alta estima por causa meiro" (op. cit., pág.lxxiv).
de sua participação pessoal na igreja de Como poderia alguém esperar a pos-
Antioquia, e por causa de sua luta para sibilidade de uma coincidência maior
libertar os crentes gentios das leis judias de vocabulário em duas curtas epísto-
no concílio de Jerusalém. Outros supõem las, escritas com intervalo de diversos
que a inclusão de referências ã obras anos, com temas diferentes, situações e
apócrifas em algumas das epístolas ge- circunstâncias distintos? É o raciocí-
rais pode ter causado sua rejeição pelos nio do silêncio em um grau muito pre-
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I ,
'I I I
cárie. Certamente duas curtas epístolas à qual ele diz, "falta esta intensa sim-
como estas não poderiam limitar o vo- patia, aquela chama de amor, que des-
cabulário de um homem inteligente. tacam I Pedro" .
O próprio fato de que um sexto das Mayor continua com esse mesmo
palavras são usadas em ambas as epís- tipo de crítica nas referências das duas
tolas certamente inclinarão muitas pes- epístolas à Segunda Vinda e ao dilúvio
soas a argumentar a favor, e não contra, de Noé. Mas não seria de esperar tudo
a autoria comum. isso à vista dos diferentes propósitos
Ele faz um exame muito erudito da das duas epístolas? I Pedro conforta
gramática e estilo das duas epístolas, aqueles que estão sofrendo; 11 Pedro
um setor no qual a divergência tem sido adverte os crentes sobre os perigos
um assunto digno de nota deste os tem- espirituais e exorta-os à santidade. Na-
pos antigos, e sobre o qual já comenta- turalmente o tom da primeira é terno;
mos. A conclusão de Mayor é medío- da última, pressionante. O que causa
cre: "Não existe entre elas o abismo que admiração é que tais diferentes objetivos
alguns tentam abrir" (op. cit.,pág. civ). prendem-se aos mesmos fatos básicos
Novamente, "A diferença de estilo é - a centralidade de Cristo e a certeza de
menos marcada do que a diferença no Sua segunda vinda. Deste grande acon-
vocabulário, e menos marcada do que tecimento futuro o crente sofredor re-
a diferença em substância, enquanto que cebe esperança, e o apóstata em poten-
acima de tudo paira a grande diferença cial, advertência.
em pensamento, gosto e caráter, resu- Quanto à menção do dilúvio de Noé
mindo, em personalidade". Poderia se em I Pedro (3: 20) com ênfase sobre a
apartear que diferenças na substância misericórdia de Deus e em 11 Pedro (2:
do assunto, pensamento e gosto nem 5; 3: 6) com ênfase sobre o juízo de
sempre refletem diferença de persona- Deus (embora 11 Pedro 2: 5 também diga
lidade. A mesma personalidade, com di- que Deus "guardou a Noé"), isto tam-
ferentes propósitos, pode escrever com bém se encaixa admiravelmente nos di-
grande variação de disposição e substân- ferentes propósitos acima mencionados.
cia. E o fato de que a mesma ilustração ser-
Mayor parece, então,colocar o peso viu em suas diferentes facetas tende a
decisivo do seu julgamento na diferença confirmar a identificação da autoria das
de sentimentos entre as duas epístolas duas epístolas, em vez do contrário.
-coísa muito precária, uma vez que os Mayor é muito honesto em apresen-
sentimentos de um homem podem va- tar o quadro inteiro. Ele prossegue ob-
riar grandemente de uma ocasião para servando, sem qualquer comentário des-
outra, tendo em vista um grande número prezivo, a concordância entre I e 11 Pe-
de motivos. Começando à página lxxví dro referente à palavra profética falada
da sua Introdução, ele trata da questão e escrita, fazendo ver que nisto elas
das reminiscências da vida de Cristo que concordam intimamente com as pala-
devem ser notadas em I e 11 Pedro. Ele vras de Pedro em Atos 3: 18-21 e de Pau-
observa que 11 Pedro as tem em número lo em Atos 26: 22, 23. Ele dá atenção
menor e que são "de uma natureza ín- também à íntima relação de I e 11 Pedro
tima muito menos intensa do que as na sua idéia sobre o crescimento cristão
encontradas em (I) Pedro" (op. cit., (I Pedro 2: 2; 11 Pedro 3: 18). Termina-
pág. lxxvii). Então ele prossegue discu- -se o comentário de Mayor sobre a auto-
tindo generalizadamente o espírito meigo ria de I e 11 Pedro com o sentimento de
de I Pedro que contrasta com 11 Pedro, que este mestre corroborou mais do que
- 359-
enfraqueceu a reivindicação de 11 Pedro parece razoável considerar que 11 Pedro
quanto a sua autoria apostólica. foi escrita em Roma lá pelo fim do rei-
Por que, então, Mayor rejeita esta rei- nado de Nero, digamos em 67 AD.
vindicação? Não se pode fugir à impres-
são de que a sua posição foi ditada em A Mensagem da Epístola. A preocu-
larga escala pelo consenso crítico dos pação específica do coração de Pedro
mestres do Novo Testamento e especial- nesta ocasião parece que era o desenvol-
mente pela conclusão do DI. F. H. Chase, vimento de um espírito de anarquia e
que ele conhecia pessoalmente e citava antinominianismo nas igrejas, e também
com freqüência, e cujos artigos sobre uma atitude de ceticismo quanto à se-
Pedro e Judas no HDB ele intitula de gunda vinda de Cristo. Há quem ache
"consideravelmente a melhor introdução que os falsos mestres descritos na epís-
que conheço sobre as duas epístolas tola eram representantes da heresia
aqui tratadas" (op. cit., pág. vii), gnóstica nos seus primeiros estágios.
Basta dizer que nestas considerações, Mas ainda que grandemente preocu-
parece não existir motivos fortes para pado com a ameaça desses falsos mes-
não aceitarmos a reivindicação de 11 tres, e embora dando certa ênfase a este
Pedro ser da autoria do apóstolo, cujo assunto, o apóstolo percebia que a ne-
nome leva. cessidade básica dos seus leitores era
a edificação espiritual e o poder que os
o Tempo e o Lugar em que Foi Es- tornaria superiores diante de tais peri-
crita. Muito possivelmente a epístola foi gos. Ele, portanto, começa e termina
escrita aos cristãos da Ásia Menor (3: 1) a sua carta estimulando a conquista es-
enquanto ainda tinham I Pedro em suas piritual, inserindo suas advertências con-
mentes. Se aceitarmos que I Pedro foi tra os falsos mestres no capítulo do meio
escrita em Roma em cerca de 64 A.D., entre os três.
ESBOÇO
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I I 'I 1\
11 PEDRO 1: 1-2
COMENTÁRIO
I. Pedro Insiste com Seus Leitores a te, é por meio desta fé, cada vez mais
que Avancem Pela Graça. 1: 1-21. exercitada, que a justiça de Deus se re-
vela (Rm. 1: 17).
A. Saudação e Oração Pelo Seu Avan-
ço Espiritual. 1: 1, 2. 2. Graça e paz vos sejam multipli-
cadas. A mesma saudação usada em
1. Simão (Symeon) Pedro, servo (es- I Pedro, uma saudação caracteristica-
cravo) e apóstolo de Jesus Cristo. Esta mente cristã (veja comentário sobre I
epístola apresenta claramente que foi Pedro I: 2). No pleno conhecimento
escrita pelo apóstolo Pedro. O título, de Deus e de Jesus nosso Senhor. O uso
servo e apóstolo, ilustra bem a regra aqui da palavra grega epignosis ("conhe-
de Cristo: "O maior de entre vós será cimento preciso e correto" - Thayer)
vosso servo" (Mt. 23: 11). Aos que co- é interessante. Esta epi.tola contém
nosco obtiveram fé igualmente preciosa. forte advertência contra os falsos mes-
A expressão igualmente preciosa (no tres. Alguns concluem que tenham sido
original uma só palavra significa exata- os gnósticos, e usam este argumento
mente isso) faz-nos imediatamente lem- para colocar 11 Pedro em uma data pós-
brar das palavras relacionadas que foram -apostólica, isto, durante o segundo sé-
usadas em I Pedro com o significado de culo, quando a controvérsia gnóstíca
"precioso", "em honra", "preciosidade estava no seu auge. Outros, tais como
ou honra" - exatamente uma das indi- Bigg, não encontram na epístola indica-
cações da continuidade entre as duas ção certa da apologética antignóstica.
epístolas. Hamack, embora negando a Talvez seja um razoável meio termo.
autoria petrina de ambas as epístolas, Certamente o gnosticismo constituiu um
I e 11 Pedro, defende que a pessoa que verdadeiro problema nos tempos apos-
escreveu 11 Pedro também escreveu o co- tólicos na Ásia Menor, conforme teste-
meço e o final de I Pedro. O apóstolo munha a carta de Paulo aos colossen-
aqui confere grande valor à fé, e por que ses, dirigida grandemente a esta insi-
não? Ela é "a moeda do reino" de Deus. piente heresia. A palavra chave de Co-
O escritor encontra a base da fé e a sua lossenses é o grego epignosis, "conhe-
obtenção pelos homens na justiça do cimento preciso e correto", geralmente
nosso Deus e Salvador Jesus Cristo. relacionado com Deus ou Cristo (C1.
É claro que isto constitui o fundamento 1: 9,10; 2: 2; 3: 10). Os gnósticos
de todo o universo ético. Não é uma jus- defendiam um sistema de doutrina al-
tiça teórica e jurídica apenas, mas uma tamente intricado e extra-escritural, dan-
justiça afável, amorosa e providencial do atenção aos anjos e práticas ascéti-
que encampa todo o plano redentor de cas, tendendo a aviltar a divindade de
Deus. É apenas "na justiça de Deus" Cristo, e também admitindo que seus ini-
que a fé se toma possível. E, novamen- ciados possuíam sabedoria superior. A
- 361-
11 PEDRO 1: 2-7
carta aos colossenses desde o começo "dar", mas uma palavra mais rica e mu-
exalta Cristo, o centro de "toda sabe- nificente, "dotar", "suprir com uma he-
doria e conhecimento", inteiramente iden- rança". Preciosas e mui grandes. Lite-
tificada com Deus. Esta apologética foi ralmente, as preciosas e maiores. Obser-
sem dúvida partilhada pelos outros após- ve novamente a palavra "precioso", tão
tolos, e pode bem refletir-se aqui (como proeminente em I Pedro. Promessas.
em 11 Pe. 1: 3, 8; 2: 20). Não o termo usual indicando uma sosse-
gada aquiescência particular, mas uma
B. Lembrete da Realidade Presente palavra heráldica implicando em uma
de Sua Herança Espiritual. 1: 3, 4. proclamação enfática e pública - uma
3. Visto como pelo seu divino poder palavra muito confortadora para aque-
nos tem sido doadas todas as cousas. les a quem se refere. Co-participantes
Exatamente como Pedro começou sua da natureza divina, livrando-vos da cor-
primeira carta, cujo alvo era encorajar rupção, das paixões que há no mundo.
os cristãos em seus sofrimentos, lem- Com base nestes publicamente decla-
brando-os de sua grande riqueza espi- rados compromissos divinos, o crente
ritual, seu interesse em permanecerem se torna um participante do mais rico
firmes, ele também começa a presente de todos os tesouros, a natureza e vida
epístola, pretendendo prepará-los con- de Deus. "Se alguém não tem o Espí-
tra plausível falsa doutrina. Aqueles rito de Cristo, esse tal não é dele" (Rm.
que são espiritualmente ricos têm mui- 8: 9). Esta nova vida do Espírito não
to a perder através da revolução ou é nada além de "Cristo em ti". Exige
deserção. Pelo conhecimento comple- submissão, obediência, vida (Gl. 5: 25).
to daquele. Para um cristão, conhecer Esta nova vida liberta-nos da morte-vida
Cristo é vida em si (cons. 10. 17: 3). da escravidão aos desejos carnais (Rm.
Que nos chamou. Novamente, como 8: 11-13).
em I Pedro (por exemplo, 1: 2) o após-
tolo lembra seus leitores de que são um C. Desafio a que Insistam nas Amplas
povo escolhido. Para a própria glória Implicações de Sua Herança. 1: 5-11.
e virtude (significando geralmente exce- 5-7. Por isso mesmo, vós ... associai.
lência). O original aqui parece exigir Pedro insiste com esses jovens crentes
o significado de por sua própria glória a que prossigam passo a passo na graça
e virtude. Ambas as traduções são pos- divina. Ele lhes diz que coloquem toda
síveis e significativas. É pela glória e diligência no seu andar na graça. Asso-
excelência de Cristo que somos atraídos, ciai com a vossa fé a virtude. "Em vossa
e são novamente o produto final da vi- fé adquiram um amplo suprimento de
da cristã. excelência (cristã) básica". Esta exce-
4. Pelas quais (através das quais, is- lência é a qualidade de alguém que dili-
to é, através da glória e virtude). A gló- gentemente pratica os rudimentos bá-
ria e excelência de Cristo, reproduzidas sicos e as implicações de sua chamada.
no caráter dos santos, e assim ofereci- Ele insiste com os cristãos a que acres-
das Àquele de quem são, constituem o centem conhecimento à virtude. Aqui
alvo todo inclusivo da vida cristã. Nos- está o crescimento em conhecimento
so alvo se refere ao caráter: "Seremos através do estudo e da experiência. A
semelhantes a ele" (I 10. 3: 2). E neste seguir vem o domínio próprio (auto-con-
alvo estão incluídas todas as coisas dig- trole). Esta é a disciplina do soldado
nas (cons. Mt. 6: 33). Nos têm sido cristão com a ajuda do Espírito. Então
doadas. Não a palavra costumeira para vem a perseverança, a capacidade de um
-362 -
I I 'I I \
11 PEDRO 1: 7-15
veterano de ver através das pressões duzíndo mais fruto (Jo. 15: 8). No pleno
atuais à vista dos recursos conhecidos. conhecimento de nosso Senhor. Antes
À perseverança o cristão acrescenta pie- para o conhecimento precioso e correto
dade (gr., eusebeia), um espírito de re- de nosso Senhor. Esta é uma declara-
verência e deferência para com Deus em ção da direção na qual a conquista do
todos os assuntos. À reverência ele cristão se dirige. Então menciona-se
acrescenta a fraternidade (gr., philadel- a alternativa. e. cegueira e miopia espi-
phia). Deferência para com Deus e re- ritual, e um senso enfraquecido de rea-
vestimento do Seu amor é a única base lidade e vida espirituais.
para a genuína bondade altruísta com 10. Procurai (ocupem-se em) com
referência ao próximo. Após a fraterni- diligência cada vez maior, confirmar
dade o amor (gr., agape, "amor divino", a vossa vocação e eleição. Eis aqui
como em I Co. 13) é a busca do cristão. uma responsabilidade pessoal com re-
Seria incorreto colocar essas lindas gra- ferência à vocação e escolha que Deus
ças em compartimentos que só pudessem fez deles. Procedendo assim (contí-
ser atingidos nesta ordem. Não, sua nuadamente), não tropeçareis em tempo
apresentação aqui parece observar uma algum. A obediência não é opcional
ordem do mais elementar para o mais sob qualquer aspecto ligado à segurança
avançado, mas todas elas são facetas do cristão. 11. Pois, desta maneira é
da operação do Espírito na vida de um que vos será amplamente (ricamente)
crente, aspectos da glória do Cristo que suprida a entrada. Aqui está uma insi-
habita no crente, Seu caráter exibido no nuação de que a sociedade celestial não
caráter do cristão. será desprovida de classes. A boa mordo-
8/J. Porque estas cousas existindo em mia das riquezas de Cristo produzirá
vós e em vós aumentando. A palavra juros eternos. O cristão, recebendo ri-
traduzida para existindo significa "fi- quezas através da provisão de Cristo,
car debaixo como fundamento ou ba- investe e acumula riquezas futuras (cons.
se". Isto está implícito na regeneração, I Tm. 6: 19).
na presença do Espírito no coração.
Mas a questão do "abundar" implica D. Pedro Sente a Responsabilidade de
em crescimento cristão e plenitude do Desafiá-los. 1: 12,21.
Espírito ou controle completo confor- 12. Sempre estarei pronto para tra-
me experimentado pelos crentes no Pen- zer-vos lembrados embora estejais cer-
tecostes e desde então. Inativos, nem tos da verdade e nela confirmados.
infrutíferos. O fruto do Espírito, se O sentido no grego é o seguinte, "Eu
compreendermos devidamente, é o cará- tenciono relembrá-los sempre". Mesmo
ter de Cristo realizado no cristão. Na onde existem o conhecimento e a deter-
descrição deste fruto em Gl. 5: 22, 23, minação, há necessidade de motivação
o amor divino (agape) foi mencionado e exortação. 13-15. Enquanto estou
em primeiro lugar; e as outras graças, neste tabernáculo. Cristo, na incum-
sete ao todo, ficaram: subordinadas a bência que deu a Pedro depois da res-
ele. Estão intimamente relacionadas surreição, deu a entender que o apósto-
em espírito e caráter à lista que Pedro lo morreria como mártir (Jo. 21: 18).
fez acima. Em C1. 3: 14 Paulo mencio- Provavelmente é a isto que Pedro se
na o amor divino em último lugar como refere no versículo 14. Um senso da
um resumo que abrange todas as graças, brevidade do seu mandato aumenta o
mais ou menos como fez Pedro. O Pai peso do seu senso de responsabilidade
é glorificado conforme o crente vai pro- diante de seus leitores. Depois da minha
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11 PEDRO 1: 15-21 - 2: 1-4
-364-
I I 'I I I
11 PEDRO 2: 4-16
- 365-
11 PEDRO 2: 16-22 - 3: 1-2
vado grande número de pessoas espiri- I Pedro. Procuro despertar com lem-
tualmente famintas a abandonarem igre- branças a vossa mente esclarecida. Lite-
jas friamente formais. Finalmente tam- ralmente, com um lembrete eu desper-
bém deu lugar à deserção do "liberalis- to vossas mentes puras. A palavra pura
mo" até pelos intelectuais e eruditos. (gr., eilicrines), embora de discutida ori-
Esta deserção, conhecida como a "neo- gem, provavelmente significa "[ulgada
-ortodoxia", é um movimento reacio- pelo sol", como um vaso que, quando
nário que, triste é dizer, continua ne- colocado contra o sol, não revela falhas
gando a plena autoridade das Escritu- escondidas. Como. tais falhas costu-
ras. Prometendo-lhes liberdade ... es- mavam ser escondidas por meio de há-
cravos da corrupção. Os teólogos de beis remendos com cera, a palavra foi em
meio século atrás bebiam sedentamen- outro lugar (Fp. 1: 10) traduzida para
te do intoxicante vinho da liberdade da "sincero" (1at., sine cera, "sem cera").
autoridade das Escrituras e até mesmo Alguns, pelo contrário, acham que a
de Deus. Dizia o Prof. Walter Raus- palavra se refere ao peneiramento, como
chenbusch, "A pior coisa que poderia o de grãos.
existir para Deus seria Ele permanecer 2. Santos profetas ... vossos apósto-
um autocrata quando o mundo se diri- los. Pedro declara uma continuidade
ge para a democracia. Ele seria destro- e congruência com o testemunho das
nado com os demais" (Theology of the Escrituras do V.T., a principal autenti-
Social Gospel, pág. 178). Dizia o Prof. cação para a genuína pregação cristã na
Hugh Hartshorne, "Nós já não seguimos era apostólica, e também com o teste-
os padrões éticos que emanam de autori- munho de seus companheiros, os após-
dades estabelecidas, quer da igreja, do tolos. Esta declaração natural e inci-
estado, da família, das convenções soci- dental - como se o escritor já soubes-
ais, ou sistema filosófico" (Jour. of Ed. se que é do conhecimento de todos os
Soc., Dec., 1930, pág. 202). Atualmente seus leitores - é uma forte confirma-
a nação enfrenta uma tremenda colheita ção da autoria petrina desta carta. A
-366-
I , I' 'I I
11 PEDRO 3: 2-10
Segunda Vinda era um assunto grande- da Sua vinda. Isto já foi insinuado quan-
mente apreciado pelo apóstolo. Ele su- do se referiu ao dilúvio do tempo de
blinha a exortação e o encorajamento Noé. O dilúvio também levou muito
de sua primeira carta (por exemplo, I tempo para chegar, e sua plausibilidade
Pe. 1:5,7, 10·13; 4:7,13; 5:1,4). foi subestimada pelo povo daquele tem-
Ele sabia que os seus leitores estavam fa- po; mas ele veio, exatamente como Deus
miliarizados com esta verdade. disse que viria. Esta é a terceira refe-
rência que Pedro faz a Noé (I Pe. 3: 20;
B. A Segunda Vinda, Objeto de Ce- 11 Pe. 2: 5), outra indicação excelente da
ticismo. 3: 3-9. unidade entre I e 11 Pedro. Os comentá-
3,4. Virão escarnecedores ... Onde es- rios de Pedro sobre a equivalência de um
tá a promessa da sua vinda? Pode-se de- dia e mil anos para Deus, é uma linda
bater sobre se esta é mais uma referên- declaração da eternidade de Deus, Sua
cia aos falsos mestres do capítulo 2, ou superioridade às limitações do tempo e
simplesmente uma declaração de que a espaço (cons. SI. 90: 4). E é excitante
demora da volta de Cristo levaria mui- pensar em como esse conceito reduz o
tos a se afastarem e até mesmo a zom- período da espera de Sua volta. Os anos
barem da gloriosa esperança da Igreja. de nossa peregrinação aqui passam rapi-
5,6. Deliberadamente esquecem. Lite- damente. Mas, então, quando "estamos
ralmente, isto deixou de ser percebido com o Senhor" e livres das limitações
deliberadamente. Um caso de cegueira de tempo e espaço, não passa de um ou
judicial. Eles não queriam que a coisa dois dias - mesmo calculados a partir
fosse verdade. Pela palavra de Deus. dos tempos apostólicos - até que o Seu
Pedro retoma à segurança e estabilida- reino venha com todas as suas alegrias.
de da palavra de Deus conforme com- Que todos cheguem ao arrependimento.
provada na criação. Literalmente, ela A delonga de Deus tem um propósito
consistia na (ou pela) palavra de Deus. redentor; Sua vontade básica é que to-
Pelas quais (gr., coisas através das quais, dos abandonem os seus pecados e se
isto é, através da palavra de Deus e do voltem para Ele.
dilúvio) veio a perecer o mundo daquele
tempo. A palavra do juízo divino, como C. A Segunda Vinda Será Catastró-
a Sua palavra criativa, foi final. 7. Ora, fica. 3: 10.
os céus que agora existem, e a terra, 10. Virá, entretanto, como ladrão, o
pela mesma palavra têm sido entesou- dia do Senhor. Apesar de toda a aparente
rados. A promessa do juízo abrasador delonga, a palavra de Deus será nova-
de Deus sobre os pecadores e sobre o mente comprovada válida. Aquele dia
mundo deve ser aceita com respeito. há de vir. A visita súbita, jamais espe-
As obras apócrifas anteriores à era cris- rada do arrombador noturno é o sími-
tã entraram em consideráveis detalhes le favorito de Cristo, adotado pelos seus
sobre este assunto. Nosso Senhor, quan- apóstolos. Os elementos se desfarão
do estava na terra, falou de um destino abrasados; também a terra, e as obras
terrível para o pecador (por ex. Lc. 16: que nela existem serão atingidas. Aqui
24). pode haver uma outra alusão ao Livro
8,9. Que, para o Senhor, um dia. Ago- de Enoque, com sua descrição das "mon-
ra Pedro chega ao ponto que tinha em tanhas dos sete metais" e sua destrui-
mente, isto é, que a demora da volta ção. Parece que os judeus religiosos
de Cristo, mencionada pelos céticos, de um modo geral aguardavam que
não é base adequada para se duvidar houvesse uma final e abrasadora puri-
-367 -
11 PEDRO 3: 10-18
ficação da terra. É claro que isto vai vação a longanimidade de nosso Senhor.
além das referências bíblicas ao Milê- Paulo insiste com seus leitores sobre a
nio. razoabilidade da delonga divina, um
tema já mencionado antes, no versí-
D. Um Incentivo à Vida Santa. 3: 11- culo 9. Deus aguarda poder conceder
18a. a Sua graça.
11,12. Deveis ser tais como. Exata- Como igualmente o nosso amado
mente como em sua primeira epístola irmão Paulo vos escreveu. Pedro conhe-
(1: 14-16), Pedro usa aqui o tema da cia as cartas paulinas, embora fossem
esperança apocalíptica do cristão como contemporâneas das suas. Não há ra-
poderoso incentivo à santidade. Espe- zão para se interpretar esta declara-
rando e apressando a vinda do dia de ção como indicação de que o cânon
Deus. Que quadro para "todos quantos do N.T. já estivesse começando a se for-
amam a sua vinda"! (cons. 11 Tm. 4: 8). malizar quando isto foi escrito. A frase
Não como aqueles que têm pavor desse nosso amado irmão parece naturalmente
dia, aqueles que, quando forem tomados se referir a um contemporâneo. 16. Que
de surpresa, pedirão às rochas e aos os ignorantes e instáveis deturpam, como
montes que os escondam (Ap. 6: 15-17), também deturpam as demais Escrituras.
o cristão o aguarda com ansiedade. As Pedro se refere àqueles que fazem cavi-
palavras apressando a vinda do dia de lações sobre a autoridade das obras pau-
Deus também são passíveis desta tradu- linas, considerando-as espiritualmente
ção, apressando a vinda . . . Aqueles que sem fundamento e indignas de crédito. O
ajudam a expandir a obra redentora de apóstolo concede às cartas deste homem
Deus podem com toda razão achar que que foi seu contemporâneo e que já o cri-
são cooperadores em seu desfecho. ticou, um lugar entre as demais obras sa-
13. Esperamos novos céus e nova gradas. Compare com as declarações
terra, nos quais habita justiça. Este tem do próprio Paulo de que suas injunções
sido o tema dos profetas (por ex., Is. quando foram escritas eram mandamen-
2:4; 11:6-9; Mq.4:1-5);istoésegun- tos divinos (ICo.14:37; ITm.6:3).
do a sua promessa. Foi uma esperança
e uma visão partilhada por Abraão e 17. Acautelai-vos; não suceda que ...
os patriarcas (Hb. 11: 10). É o que trans- descaiais da vossa própria firmeza. Uma
forma os cristãos de todos os tempos repetida e final advertência à fidelidade.
em "peregrinos e estrangeiros". Com- Seu conhecimento antecipado deu-lhes
pare com a menção que Paulo faz disto uma vantagem. Saber de antemão é
em Rm. 8: 19,25. Como Ló em Sodoma, prevenir-se (cons. I Ts. 5: 4). Mas havia
o cristão só pode gemer diante do pecado perigo real em serem envolvidos e arras-
que prevalece e os seus resultados. O no- tados pelo erro desses insubordinados.
me concedido a Jeová pelo Israel mile- 18a. Antes, crescei na graça. A vida não
nial era Jeová-Tsidkenu "O Senhor, Jus- é estática. Temos de avançar para não
tiça nossa". retroceder. Pedro termina com a mes-
14. Por essa razão ... esperando estas ma nota do começo desta epístola (1:
cousas, Uma insistência repetida da es- 5-11), isto é, um desafio à conquista
perança do cristão como motivação pa- espiritual através do conhecimento de
ra uma vida cuidadosa e santa. Empe- noSSO Senhor e Salvador, Jesus Cristo.
nhai-vos pode ser traduzido para ocu- Conhecê-lO é viver; crescer nessa amiza-
pem-se. Paz e santidade estão associa- de é crescer no Espírito (cons. Fp. 3:
dos em Hb , 12: 14. 15. E tende por sal- 10).
-368 -
I I 'I I I.
IV. A Bênção Apostólica. 3: 18b. como no dia eterno. Cristo, o começo,
o processo, e o cumprimento de nossa
18b. A ele seja a glória, tanto agora grande salvação, recebe eterno louvor.
-369 -
A PRIMEIRA EPISTOLA DE JOÃO
A Vida de João. A vida do apóstolo tir (Dialogue wtth Trypho, LXXXI), Iri-
divide-se em dois períodos. O primeiro neu (Euséb io, Ecclesiastical History V,
conclui com a sua partida de Jerusalém xx. 4,5), Polícrates (Ibid. V. xxiv. 3),
algum tempo depois da ascensão de Cris- e a forte inferência de que O Apocalipse
to, e o segundo prossegue desde então foi escrito por um líder eclesiástico na
até a sua morte. João era evidentemen- Ásia Menor, todos atestam este fato.
te muito mais jovem do que Jesus. Ele Li teratura extrabíblica está repleta de
deve ter nascido em Betsaida (10. 1: 44). histórias das atividades de João durante
Filho de Zebedeu e Salomé, vinha, ao este período, sendo a mais famosa sobre
que parece, de uma família abastada; Cerinto no banho e um jovem rapaz
pois tinha servos (Me. 1: 20), sua mãe (um dos convertidos do apóstolo) que
ajudou no sustento financeiro de Cristo se tomou um bandido e foi mais tarde
(Mc.15:40,4l), e João conhecia o su- reconciliado com a igreja (cons. A. Plum-
mo-sacerdote, que era escolhido entre mer, The Gospel According to S. John,
a elite (Jo. 18: 15). Seu irmão mais mo- Cambridge Greek Testament, pág. xvii,
ço era Tiago. Embora João não tenha xviii).
provavelmente freqüentado as escolas João é mais conhecido como "o após-
rabínicas (Atos 4: 13), sua educação tolo do amor", mas ele foi também um
religiosa em seu lar judeu deve ter sido homem severo que até os seus últimos
completa. anos de vida foi intolerante com a here-
Os galileus eram homens de ação, sia. Ambos estes aspectos do seu cará-
duros e trabalhadores, e João não era ter, a severidade e o amor, estão desta-
uma exceção. Embora os artistas o te- cadamente exibidos em sua Primeira
nham pintado como pessoa efeminada, Epístola. Intenso é a simples palavra
a Bíblia o descreve de maneira muito que melhor descreve este homem. Nos
diferente. Era conhecido como um dos atos, no amor aos irmãos, na condena-
"filhos do trovão" (Mc.3:17), que em ção da heresia, João foi um apóstolo
diversas ocasiões agira com intolerância intenso.
(Mc. 9: 38; Lc. 9: 49), caráter vingativo
(Lc. 9: 54), e espírito de intrigas (Mt. A Cidade de Éfeso. Éfeso, o lar de
20:20,21; cons. Mc.1O:35). Foi o po- João durante a última parte de sua vida,
der de Cristo que transformou este ga- está localizada em uma planície fértil
lileu típico em "o apóstolo do amor". perto da desembocadura do Rio Caister.
Quanto tempo João ficou em J em- No tempo de Paulo era um centro co-
salém depois do Pentecostes não é certo. mercial, da região oriental do Egeu e
Evidentemente não estava lá quando daqueles que passavam por Éfeso vin-
Paulo visitou a cidade pela primeira vez dos do Oriente. Sendo a cidade a capi-
(Gl. 1: 18,19), embora possa ter estado tal da província da Ásia Menor, o pro-
mais tarde como um dos membros do cônsul romano residia ali. Assembléias
concílío (Atos 15: 6). A evidência de democráticas eram permitidas aos habi-
que passou a última parte de sua vida tantes de Éfeso (Atos 19: 39). O Cris-
na Ásia Menor, e principalmente em tianismo entrou na cidade em cerca de
Éfeso, é forte demais para ser abalada 55 através do ministério de Paulo, e ele
com outras conjeturas. Justino Már- escreveu uma carta circular a Éfeso e
-370-
I I
'I I I
outras igrejas cerca de oito anos mais sé e Maria, sobre o qual Cristo veio no
tarde. Antes de João chegar cidade,
â momento do batismo. Ambas as for-
muitos trabalharam ali pela causa de mas da heresia foram atacadas por João
Cristo (Áqüila e Priscila, Atos 18: 19; na Primeira Epístola (2: 22; 4: 2, 3; 5:
Paulo, Atos 19: 3-10; Trófimo, Atos 21: 5,6). Alguns gnósticos praticavam o
29; a família de Onesíforo, 11 Tm. 1: 16- ascetismo porque criam que toda a ma-
18; 4: 19; e Timóteo, I Tm. 1: 3). téria era má. O antinominianismo, ou
A moralidade em Éfeso era baixa. O a anarquia religiosa, era a conduta dos
magnificente templo de Diana, com suas outros, uma vez que consideravam o
127 colunas de 19,80ms. de altura à vol- conhecimento superior â virtude (cons.
ta de uma área de 140 por 72ms., era 1: 8; 4: 20). A principal resposta de
como um ímã que atraía o povo à po- João a estes erros gnósticos foi enfati-
cilga de Éfeso. Era uma casa de prosti- zar a Encarnação e o poder ético do
'tuíção em nome da religião. E apesar exemplo da vida de Cristo.
da idolatria iníqua que havia nesse lu-
gar, era a Meca ou a Roma dos religio- A Autoria das Epístolas. A questão
sos, e o seu povo deliciava-se em intitu- levantada quanto â autoria de Primeira
lar-se de "guardadores do templo" da João é se o João que escreveu o Evan-
grande Diana (Atos 19: 35). gelho e a Epístola foi realmente João,
o filho de Zebedeu, ou João, o ancião.
Gnosticismo. O Gnosticismo, a filo- A literatura menciona um presbítero
sofia da essência, em sua forma primitiva João em Éfeso, e alguns têm sido le-
fez incursões na igreja da Ásia Menor vados a concluir que João, o filho de
nos dias de João. Ele envolvia especula- Zebedeu, foi uma outra pessoa, e não
ções relativas à origem da matéria e so- o João de Éfeso, e que foi este último
bre como os seres humanos podem fi- que escreveu estes livros (Irineu em Eu-
car livres da matéria. O nome é grego, sébio, op. cit., V. viu e xx; Papías em
mas seus elementos principais eram gre- Ibid., Ill, xxxix; Polícrates em Ibid.,
gos e orientais; aspectos judeus e cris- V. xxiv; O Cânon de Muratori).
tãos foram acrescentados à mistura. O O argumento padrão para a autoria
Gnosticismo defendia, particularmente, joanina do Evangelho baseia-se em evi-
que o conhecimento é superior virtude,
ã dências internas. Este argumento se
que o verdadeiro significado das Escritu- encontra na natureza de três círculos
ras está no sentido não literal e que só concêntricos. 1) O círculo maior pro-
podem ser compreendidas por alguns va que o autor era um judeu da Pales-
poucos seletos, que o mal no mundo tina. Isto está comprovado pelo uso
impossibilita que Deus seja o criador, que faz do Velho Testamento (cons.
que a Encarnação é coisa incrível por- 6: 45; 13: 18; 19: 37), e por seu co-
que a divindade não pode se ligar a nada nhecimento do pensamento judeu, tra-
que seja material - tal como o corpo, dições, expectativas (cons. Jo. 1: 19-49;
e que não existe a ressurreição da car- 2:6,13; 3:25; 4:25; 5:1; 6:14,15;
ne. Esta doutrina resultou no Doce- 7:26 e segs.; 10:22; 11:55; 12:13;
tismo, ascetismo e antinominianismo. 13: 1; 18:28; 19:31,42), e por seu
O Docetismo extremo defendia que Je- conhecimento da Palestina (Jo. 1: 44, 46;
sus não era humano sob qualquer aspec- 2: 1; 4:47; 5:2; 9:7; 10:23; 11:54).
to, mas uma teofania meramente esten- 2) O círculo médio prova que o autor
dida, enquanto o Docetismo moderado foi testemunha ocular. Isto está com-
considerava Jesus o filho natural de Jo- provado pela exatidão dos detalhes de
- 371-
tempo, espaço e incidentes dados no pre significa "ignorante"; 2) não se de-
Evangelho (cons. Jo.l:29,35,43; 2:6; ve julgar que todos os pescadores fossem
4:40,43; 5:5; 12:1,6,12; 13:26; de origem inferior; 3) o apóstolo Pedro
19: 14,20,23,34,39; 20: 7; 21: 6), também se intitulou ancião (I Pe. 5: 1),
e pelo esboço dos caráteres (por exem- então por que não poderia João usar o
plo, André, Filipe, Tomé, Natanael, mesmo título? 4) Mateus, um apósto-
a mulher de Samaria, Nicodemos) pecu- 10, usou Marcos como fonte, de acordo
liaridade deste Evangelho. 3) O terceiro com os críticos, mas isto não se usa
círculo conclui que o autor foi João. geralmente como argumento contra a
O método seguido é, em primeiro lu- autoria de Mateus no Primeiro Evange-
gar, eliminar todos os outros que per- lho. Além disso, se João, o presbítero,
tençam ao círculo íntimo dos discípu- é o autor do Quarto Evangelho e o mes-
los e então citar evidências confirmantes mo discípulo amado, torna-se muito
que provam que só João poderia ter difícil explicar por que uma pessoa tão
sido o autor. importante quanto João, filho de Zebe-
Os argumentos para a autoria comum deu, nunca foi mencionado nesse Evan-
do Evangelho e da Epístola são conclusi- gelho. As evidências apontam claramen-
vos. Esta evidência firma-se sobre passa- te para o escritor do Evangelho e das
gens paralelas (por exemplo, Jo. 1: 1 e Epístolas, João, o apóstolo, filho de
I Jo. 1: 1), frases comuns (por exemplo, Zebedeu, que é o mesmo João presbí-
"filho unigênito", "nascido de Deus"), tero que passou os últimos anos de sua
construções comuns (o uso de conjun- vida em Éfeso.
ções em lugar de cláusulas subordinadas) Datas e Lugar. As datas das epísto-
e temas comuns (agape, "amor"; phos, las relacionam-se com a data indicada
"luz"; zoe, "vida"; meno, "habitar"). para o Evangelho. Aqueles que indicam
Assim permanece a questão básica: O uma data entre os anos 110 e 165 para o
autor de ambas as obras foi João, o após- Evangelho e acham que João não foi
tolo, ou João, o presbítero? o autor, deparam-se com um dilema.
Alguns dos motivos para se fazer uma Se o Evangelho foi publicado tão tar-
distinção entre João, o apóstolo e João, de assim, alegadamente mas não real-
o presbítero, favorecendo assim a auto- mente escrito por João, por que as cen-
ria destes livros pelo último, são: 1) um tenas de cristãos vivos, que conheceram
homem inculto (Atos 4: 13) não pode- João durante seus últimos anos de vida,
ria ter escrito nada tão profundo quanto não denunciaram a fraude? Ou, pelo
o Quarto Evangelho; 2) o filho de um menos, por que alguém não mencionou
pescador certamente não poderia co- que não foi escrita pelo próprio? Se ele
nhecer o sumo sacerdote; 3) um após- não foi publicado antes de 140/165 co-
tolo não se intitularia presbítero; 4) uma mo poderia ser universalmente aceito
vez que o escritor do Evangelho usou em 170, como foi? O fato dos fragmen-
Marcos como fonte, esse escritor não tos de Rylands, referente a João, encon-
poderia ter sido João, uma vez que um trados no Egito datarem de 140 ou antes,
apóstolo não usaria a obra de alguém requer que a data da composição do livro
que não fosse apóstolo. Contra estes seja colocada no fim do primeiro século
argumentos, as respostas que defendem ou antes. O Evangelho evidencia que o au-
a autoria de João, o apóstolo, não são tor está voltando seus olhos para trás
difíceis de se dar. 1) Iletrado pode ser (Jo. 7: 39; 21: 19), o que significa que,
aquele que não teve uma educação for- sendo João o autor, o Evangelho deve
mal nas escolas dos rabinos e nem sem- ter sido publicado entre 85 e 90 (embo-
-372 -
I I
ra tenha sido escrito antes). Sem dü- há nenhuma menção de perseguição sob
vida foi produzido por insistência dos Domiciano em 95, a Primeira Epístola foi
anciãos das igrejas da Ásia Menor, que provavelmente escrita em cerca de 90 A.D.
queriam que ele anotasse, antes de mor- Segunda e Terceira João também podem
rer, as coisas que lhes ensinara oralmente. ser datadas do mesmo ano da Primeira E-
Uma vez que a mensagem de I João pa- pístola, isto é, cerca de 90. Todas as Epís-
rece indicar um conhecimento do con- tolas foram escritas de Éfeso, de acordo
teúdo do Evangelho, e uma vez que não com a tradição digna de confiança.
ESBOÇO
Introdução. 1: 1-4.
A. A pessoa. 1: I, 2.
B. O propósito. I: 3, 4.
I. Condições de comunhão. I: 5·10.
A. Conformidade com um padrão. 1: 5·7.
B. Confissão de pecado. I: 8-10.
1. Confissão do princípio do pecado. 1: 8.
2. Confissão de pecados particulares. 1: 9.
3. Confissão de pecados pessoais. 1: 10.
11. Conduta na comunhão. 2: 1·29.
A. O caráter de nossa conduta: imitação. 2: 1·11.
1. O princípio da imitação. 2: 1, 2.
2. O padrão da imitação. 2: 3-6.
3. Aprova de nossa imitação. 2:7-11.
B. O mandamento que rege nossa conduta: separação. 2:12·17.
1. A quem se dirige o mandamento. 2: 12-14.
2. O apelo do mandamento. 2: 15-17.
C. O credo para nossa conduta: afirmação. 2: 18·29.
1. A necessidade de um credo. 2: 18-21.
2. A natureza do credo. 2: 22-29.
III. Características da comunhão. 3: 1-24.
A. Em relação à nossa perspectiva - pureza. 3: 1-3.
1. Motivos de pureza. 3: 1·3a.
2. Significado da pureza. 3: 3b.
B. Em relação à nossa posição - justiça e amor. 3: 4 -18.
1. Justiça. 3: 4·9.
2. Amor. 3: 10-18.
C. Em relação às nossas orações - respostas. 3: 19·24.
1. Dependem de confiança. 3: 19·21.
2. Dependem de obediência. 3: 22-24.
-373 -
IJOÃO 1: 1-3
-374-
I I I' 'I I !
IJOÃO 1:3-8
lo. Ela é divina - com Deus, e humana 7. Se, porém, andarmos ... como ele
- conosco. Ela se comprova pela de- na luz está. Deus é luz; nós andamos
monstração da alegria (v. 4) e pela gene- nela. A exigência para a comunhão é
rosidade (Atos 2: 45; Rm. 15: 26; 11 Co. deixar a luz revelar o certo e o errado
8: 4; 9: 13; I Tm. 6: 18). A comunhão e então viver sob a sua orientação conti-
melhor se descreve com a Ceia do Senhor nuamente. O cristão jamais se transfor-
(I Co. 10: 16). Com o Pai, e com seu mará em luz até que o seu corpo seja
Filho Jesus Cristo. "Assim, duas ver- mudado, mas ele deve andar em respos-
dades fundamentais, as quais as here- ta à luz enquanto está aqui na terra.
sias filosóficas da época queriam obscu- Duas conseqüências seguem-&e - pri-
recer e negar, foram claramente estabe- meiro, comunhão; depois, purificação.
lecidas desde o começo: 1) a indepen- Comunhão uns com os outros. A re-
dência da personalidade e a igualdade de ferência é aos nossos irmãos e não a Deus,
dignidade entre o Pai e o Filho; 2) a iden- como em 3:11,23; 4:7,12; IIJo.5.
tidade do eterno Filho de Deus com a E. A purificação do cristão é uma conse-
pessoa histórica Jesus Cristo" (Plummer, qüência do andar na luz; a cláusula é
op. cit., pág. 20). coordenada e indica um segundo resul-
4. Para que a nossa alegria seja com- tado do andar na luz. Sangue de Jesus.
pleta. A comunhão é a base da alegria. Tanto no V.T. como no N.T. o sangue
A alegria dos leitores dependia dela e significa morte - geralmente violenta.
também o apóstolo. (É difícil estabe- Nos purifica. Andar na luz expõe nos-
lecer uma opinião positiva quanto a sos pecados e fraquezas; assim precisa-
tradução, entre nossa alegria e vossa mos de constante purificação e isto se
alegria.) obtém. com base na morte de Cristo. O
I. Condições de Comunhão. 1: 5-10. verbo está no tempo presente e se refere
à purificação em santificação. De todo
A. Conformidade com um Padrão. o pecado. Pecado está no singular, in-
1: 5-7. Esta seção contradiz díretamen- dicando o princípio do pecado, mas a
te a doutrina gnóstica de que a conduta adição de todo (ou cada) mostra que ele
moral é indiferente ao iluminado. tem muitas formas.
5. Dele. De Cristo. Deus é luz. Nin-
guém nos fala tanto de Deus quanto B. Confissão de Pecado. 1: 8-10. A
João. Ele é espírito (Jo.4:24); Ele é menção da purificação do pecado no
luz (I Jo. 1: 5); e Ele é amor (I Jo. 4: 8). versículo 7 leva ao pensamento desta
Estas declarações se referem ao que Deus seção.
é, não ao que Ele faz. Assim, a luz é
a Sua natureza. Santidade é a idéia prin- 1) Confissão do Princípio do Pecado.
cipal, e o seu uso aqui no começo da 1: 8.
epístola estabelece a base para a ética Se dissermos. A segunda das três
cristã da carta. profissões falsas neste capítulo (cons.
6. Se dissermos. Condicional grego de vs. 6, 10). Não temos pecado. A frase
terceira categoria, mas incluindo o es- ter pecado é peculiar a João no N.T.
critor - um modo muito delicado de (cons. Jo.9:41; 15:22,24; 19:11).
declarar a possibilidade. Andarmos nas Refere-se à natureza, princípio, ou raiz
trevas. Fora da vontade de Deus, que de pecado, e não ao ato. As conseqüên-
é luz. Não praticamos a verdade. A cias de não confessar que temos pe-
verdade não é apenas o que se diz mas cado são duas: 1) a nós mesmos nos
também o que se faz. enganamos, literalmente, desviamo-nos
-375 -
I JOÃO 1: 8-10 - 2: 1-2
-376-
I ,
'I I I
I JOÃO 2:2-9
-377 -
I JOÃO 2: 9·14
-378 -
I I 'I 11,
1 JOÃO 2: 14-17
-379 -
I JOÃO 2: 18-22
farce de Cristo. Esses tais recebem o po- verdade que os leitores conhecem.
der das forças satânicas sobrenaturais; 2) A Natureza do Credo. 2: 22-29.
aparentemente podem fazer parte da 22. Quem é o mentiroso? Abrupta-
assembléia dos cristãos; e ensinam dou- mente introduzido sem qualquer partí-
trinas falsas (2: 19; 11 Jo. 7). A presença cula conectiva. Aquele que nega que Je-
de anticristos no mundo são a prova de sus é o Cristo. Os antecedentes dessa
que a última hora já chegou. Embora negação vêm do Gnosticismo, não do
estivessem presentes no tempo de João Judaísmo. Se fosse do Judaísmo, seria
e durante toda a história da igreja, a "úl- semelhante àquela contra a qual os após-
tima hora" deve ser todo o período com- tolos pregaram no princípio (Atos 5: 42,
preendido entre o primeiro e segundo etc.) - isto é, que Jesus de Nazaré não
adventos de Cristo. era o Cristo do N.T. Mas a heresia gnós-
19. Saíram de nosso meio. Nunca tica contra a qual João escreve aqui, era
organicamente unidos ao corpo. Teriam de que Cristo veio sobre Jesus no mo-
permanecido conosco. A sua separação mento do Seu batismo e saiu dEle antes
do grupo cristão é a prova de sua falsa de Sua morte. Era a mentira de que Je-
profissão, e o seu afastamento denun- sus não foi verdadeiramente o Deus-ho-
ciou-os como anticristos. A apostasia mem. Este é o ensinamento do anticristo.
é possível para aqueles que nunca real- O que nega o Pai e o Filho. O Gnosti-
mente aceitaram Cristo como seu Sal- cismo considerava Cristo e Jesus como
vador. 20. Unção. Mesmo se esses anti- duas entidades distintas. Assim, negar
cristos não se tivessem separado, os que Jesus é o Cristo, é negar o Filho, o
crentes tinham em si o poder de desco- Deus-homem. E negar o Filho é negar
bri-los, isto é, discernir entre a verdade o Pai, porque o Filho é a revelação do
-380 -
I ,
'I I I,
I JOÃO 2: 22·29
Pai sem o qual o Pai não pode ser conhe- guardar Seus mandamentos (3: 24). Ouan-
cido (Mt. 11: 27). do. Os melhores textos dão se (ean).
23. Agora se enfatiza a declaração Esse se não lança dúvida sobre o fato
anterior. Não tem o Pai. No versículo da Sua vinda mas apenas levanta pergun-
22 João diz que negar o Filho é negar o tas quanto a certas circunstâncias envol-
Pai. Aqui ele diz que negar o Filho é vidas em Sua vinda; por exemplo, o tem-
não ter o Pai; negar o Filho é ficar priva- po. Resultados permanentes em 1) ter
do de se tomar filho de Deus (Jo. 1: 12) confiança e 2) em não serem envergonha-
e de ter no Pai um amigo vivo. Aqui es- dos. Confiança. Ousadia (parresiav; li-
tá em vista um relacionamento vivo, não terahnente, liberdade para falar ou pron-
simplesmente um consentimento de pro- tidão para dizer qualquer coisa. Na sua
fissão de fé. Aquele que confessa. A de- vinda. Devemos ser capazes de nos ex-
claração positiva da mesma verdade. pressar sem reservas quando prestarmos
24. Permaneça em vós o que. No contas de nossa mordomia. Dele nos
grego a sentença começa com ênfase no afastemos envergonhados. Literalmen-
vós - "Quanto a vós ... ", e contrasta te, não acovardar-se com vergonha dEle
os verdadeiros crentes com os falsos mes- como alguém que é culpado, quando
tres. O que ouvistes desde o princípio. da Sua vinda. Vinda. Parousia. A única
Isto é, as verdades fundamentais do Evan- ocorrência da palavra nas obras de João.
gelho. Permanecer nelas produz a per- Muitas vezes usada em conexão com o
manência no Filho e no Pai. 25. Esta juízo que acompanha a Sua volta (Mt.
refere-se vida eterna, que é a promessa.
â 24:3,27,37; ICo.15:23; ITs.2:19;
Mas é o mesmo que o permanecer nEle 3: 13; 5:23; Tg.5:7,8).
do versículo precedente. 29. Ele é justo. O versículo prece-
26. Isto refere-se aos falsos mestres. dente fala de Cristo; assim parece lógi-
Enganar. Desviam do caminho; parti- co relacionar o ele deste versículo com
cípio presente, indicando esforço habi- Cristo. Justo. Compare 2:1; 3:7. To-
tual. 27. Quanto a vós. Posição enfáti- do aquele que pratica a justiça. O verbo
ca do pronome, como no versículo 24. está no presente - pratica habitualmen-
Unção. O dom do Espírito Santo que os te. É nascido dele. Será que isto signi-
crentes receberam quando se converte- fica nascido de Cristo, como seria o caso,
ram (cons. v.20). Dele. Fonte do dom se as referências feitas nos versículos 28
do Espírito. Não tendes necessidade e 29 são a Cristo? Neste caso, esta é a
de que alguém vos ensine. Porque esta única referência â obra da geração de
é a obra do Espírito (Jo. 16: 13 e segs.). Cristo (embora gerado de Deus e do
Como a sua unção vos ensina a respeito Espírito são idéias bfblicas ; cons. Jo.
de todas as cousas, Uma repetição da 1: 13; 3: 6, 8). "A verdadeira solução
ênfase da declaração precedente. Ensi- da dificuldade parece ser que, quando
na. Presente, continuado ensinamento S. João pensa em Deus em relação aos
da verdade. Permanecei. O verbo pode- homens, nunca pensa nele separadamen-
ria ser indicativo ou imperativo (como te de Cristo (comp. v. 20). E ainda mais,
em Jo. 5: 39; 12: 19; 14: 1; 15: 18,27). ele nunca pensa de Cristo em Sua natu-
Se for indicativo, João está simplesmen- reza humana sem acrescentar a idéia de
te aceitando a verdade das declarações Sua natureza divina. Assim uma rápida
que ele fez referente aos seus leitores. transição é possível de um aspecto da
Se imperativo, está ordenando-lhe a que Pessoa divino-humana do Senhor para
experimentem estas coisas. o outro" (Westcott, pág. 83).
28. Permanecei. Uma ordem para m. Características da Comunhão. 3:
- 381-
(JOÃO 3: 1-3
1) Razões de Pureza. 3: 1-3a. João 2. Agora somos ... e. "Os dois pen-
declara dois motivos por que o cristão samentos da condição presente e futura
deve ser puro. Um se relaciona com uma dos filhos de Deus estão colocados lado
obra passada de Deus e o segundo a uma a lado com a simples conjunção e, como
obra futura. partes de um só pensamento". A condi-
I. Vede. A palavra está no plural - ção do cristão, agora e eternamente, cen-
"todos vós vede o que eu acabei de per- traliza-se no fato de ser filho de Deus.
ceber", (2: 28). Alguns acham que que "Neste fato jaz o germe de todas as pos-
grande implica em algo estranho; isto é, sibilidades da vida eterna" (M.R. Vin-
"que tipo de estranho ou extraterreno cent, Word Studies in the New Testament,
amor" (cons. Kenneth S. Wuest,In These 11, pág. 344). Semelhantes a ele. A se-
Last Days, pág. 142). Outros não vêem melhança de toda a reflexão da gló-
tal significado na palavras conforme usa- ria de Deus no crente. Isto inclui a mu-
da no N.T. (A. Plummer, The Epistles dança física para um corpo ressurreto
of S. John, Cambridge Greek Testament, como também a completa mudança es-
pág.71). A palavra implica em espan- piritual, a qual inclui pureza (v. 3), au-
to e admiração (cons. Mt.8:27; Mc. sência de pecado (v. 5) e justiça (v. 7).
13:1; Lc.I:29; IIPe.3:11, os úni- O motivo desta mudança é que o ve-
cos exemplos de outros usos no N.T.). remos no arrebatamento da igreja. "A
Tem concedido. Literalmente, tem dado. visão de Deus nos glorificará" (Plummer,
O tempo perfeito indica ainda mais, que Epistles of S. John, pág.74). 3. Nele
o dom é uma propriedade permanente tem esta esperança. Literalmente, sobre
do filho de Deus. Filhos. Literalmente, (epi) Ele, isto é, esperança que descansa
nascidos ou prole. Huios, filho adulto, sobre Ele. Nele refere-se a Cristo. Se pu-
apresenta o lado legal da filiação (e só rifica. Tempo presente, "purifica-se cons-
foi usado por Paulo em se tratando de tantemente". É necessário que haja um
crentes). Esta palavra (teknon) enfati- esforço pessoal, mas deve ser com base
za o lado natural, nascimento na famí- no descanso de nossa esperança (cons.
lia de Deus. No entanto ambos os ter- Jo. 15: 5).
1. Justiça. 3:4-9.
-382 -
I, 'I I I
I JOÃO 3:3-6
2. Amor. 3: 10-18.
Características Conseqüências
-383 -
IJOÃO 3: 6-17
cristão peca, ele confessa (I lo. 1: 9) e tas duas frases estão lado a lado (cons,
persevera em sua purificação (3: 3). O Atos 13: 10; Ef. 2: 3). Toda a humani-
pecador contínuo não conhece a Deus dade pertence, ao que parece, a uma des-
e portanto é uma pessoa não regenera- tas duas famílias; e até que alguém acei-
da. te Cristo, ele é filho do diabo (Ef. 2: 3 e
7. Filhinhos. "A ternura do chama- aqui). Não ama a seu irmão. "Esta cláu-
mento destaca-se pelo perigo da situação" sula não é uma simples explicação do que
(Westcott, pág.105). Enganar. Literal- a precede, mas a expressão dela na mais
mente, desvie do caminho. Pratica. Tem- alta forma cristã" (Westcott, pág. 109).
po presente; "pratica habitualmente". É 12. Amor pelo irmão sugere o ódio
justo. Atos de justiça brotam de um de um irmão e por isso o exemplo de
caráter justo e são a prova da regenera- Caim foi citado. Diz-se que ele perten-
ção. Assim como. Cristo, como sempre, cia à farmlia do maligno. Assassinou.
é o exemplo. 8. Pratica. Tempo pre- Originalmente a palavra grega (usada
sente; "aquele que está continuamente aqui e em Ap. 5: 6, 9,12; 6: 4, 9; 13: 3,
cometendo pecado". É o seu hábito 8; 18: 24 apenas) significava "cortar a
de vida, não simplesmente um ato. Pro- garganta" e depois, "matar violentamen-
cede do diabo. Satanás é a fonte desses te". 13. Não vos maravilheis. Literal-
desejos de pecado. "Ações habituais são mente, parem de se maravilhar. Os lei-
novamente o index do caráter, e aqui, tores de João evidentemente não podiam
da fonte" (Wuest, pág. 148, 149). Filho entender por que o mundo os odiaria.
de Deus. Esta é a primeira vez que João 14. Amor significa vida, e ódio significa
usa este título na epístola, e ele expres- morte. O teste de ter nascido de novo
sa particularmente dignidade e autorida- não é o ódio do mundo contra nós, mas
de. Destruir. Literalmente, desamarrar. porque amamos os irmãos. 15. Assassi-
Cristo na Sua morte desfez os laços com no. Isto não deve ser entendido figura-
os quais as obras do diabo se manti- tivamente, como se fosse um homicida
nham unidas. Satanás já não pode apre- da alma ou do caráter, mas literalmente,
sentar uma fronteira sólida em seus por causa do versículo 12. Deus olha
ataques contra os cristãos. para o coração, e o coração que está
9. É nascido. Particípio perfeito - cheio de ódio é potencialmente capaz
ação passada que resulta em continui- de homicídio. Compare com os ensina-
dade no presente - "foi nascido e con- mentos do Senhor em Mt. 5: 21, 22.
tinua nascido" (cons. 2: 29; 4: 7; 5: 1, "Aquele que cai em estado lamentável,
4,18). Não vive na prática de pecado cai sob os resultados normais desse es-
... não pode viver pecando. Tempos tado posto em prática até as conseqüên-
presentes, indicando novamente pecado cias" (Alford, The Greek Testament,
habitual. Semente. O princípio da vida IV, 474). Surgindo a ocasião, a pessoa
divina concedida ao que é nascido de que habitualmente odeia seu próximo
Deus (10.1: 13; 11 Pe.l :4). Isto im- agirá exatamente como Caim. Tal pessoa
possibilita o cristão de viver habitual- não está salva.
mente no pecado. 10. Nisto volta-se 16. Cons. 2: 6. Amor auto-sacrifi-
para os versículos precedentes, embora cante é uma exigência para o crente. 17.
o mesmo ensino seja reiterado na últi- Não são muitos os chamados para dar a
ma parte do versículo 10; isto é, "nesta sua vida pelos outros, mas todos podem
vida de vitória sobre o pecado ... " Os seguir as instruções deste versículo. João
filhos de Deus ... os filhos do diabo. sugere "que há um perigo na auto-indul-
Este é o único lugar no N.T. onde es- gência das opiniões sublimes que estão
-384-
I , I I I
,; 'I I I
I JOÃO 3: 17-24 - 4: 1
fora do âmbito da experiência comum. 89). Não nos acusar. Não perfeição
Podemos, portanto, experimentarmo-nos sem pecado, mas nenhum pecado não
através de um teste bem mais despre- confessado em nossa vida. Confiança.
tencioso. A questão geralmente não é Literahnente, ousadia ou liberdade para
morrer por alguém, mas partilhar com falar.
ele os meios de vida materiais" (Westcott,
pág. 114). Recursos. Posses materiais. 2) A Resposta Depende da Obediên-
Entranhas (E.R.C.). A sede dos afetos; cia. 3: 22-24.
melhor traduzir para coração (E.R.A.). 22. Oração respondida está agora con-
dicionada na habitual guarda dos manda-
mentos e na prática das coisas que lhe
C. Em Relação as Nossas Orações
agradam. Guardamos e fazemos estão
- Respostas. 3: 19-24. O ensinamento
ambos no tempo presente. 23. O man-
precedente poderia naturahnente causar
damento é crer e amar (creiamos ... ame-
apreensão em algumas mentes. Por isso
mos). A fé é uma obra, como em Jo.
João apressa-se em acrescentar que o
6: 29. Creiamos em o nome. Literal-
fruto do amor é confiança, e a confian-
mente, creiamos o nome. Signiftca crer
ça expressa-se na oração, e a oração con-
em tudo o que Cristo é, conforme re-
fíante recebe resposta.
presentado por Seu nome. Uma vez que
o escritor se dirige a cristãos, é uma
1) A Resposta Depende da Confian-
ça. 3: 19-21. exortação a que creiamos nEle com re-
19. E nisto, isto é, no amor aos ir- ferência a tudo quanto Ele nos dá na
mãos. Asseguraremos (E.R.C.). Lite- vida cristã. 24. A obediência também
rahnente, persuadiremos ou tranqüiliza- resulta em permanência. Permanece
remos (E.R.A.). Persuadir nossos cora- (habita). Esta palavra foi traduzida para
ções do quê? Que ele não precisa nos "permanece" em Jo. 15. Assim, a sen-
condenar. Assim o assegurar é uma tra- tença é uma definição de permanência.
dução interpretativa correta. Perante Permanecer é guardar os seus mandamen-
ele. É na presença de Deus que vem a tos. E o Espírito Santo dá o testemunho
segurança. 20. Se, isto é, "seja como do fato de que Cristo habita em nós.
for", equilibrando todas as cousas da úl- IV. Cuidados com a Comunhão. 4:
tima parte do versículo. Nas coisas em 1-21.
que nossos corações nos condenam,
Deus é maior... Ao examinarmos nos- A. Precaução Quanto aos Espíritos
sa vida de amor fraternal, nossos cora- Mentirosos: Falsos Profetas. 4: 1-6.
ções podem ser muito rigorosos ou de- 1) A Existência dos Espíritos Men-
masiado lenientes. Mas Deus é maior tirosos. 4: 1.
e conhece todas as coisas; portanto, A menção do Espírito Santo em 3: 24
apelamos a Ele quanto à verdade a nosso leva à definição dos espíritos mentiro-
respeito, e nos lembramos que Ele é to- sos. Este é um outro exemplo do méto-
do compaixão. Isto resulta emjulgamen- do de João de usar antíteses. Amados.
to correto e confiança para nossos cora- O vocativo cheio de ternura lembra no-
ções. 21. Um argumento a fortíori: "Se vamente ao leitor de que o assunto é
diante de Deus podemos persuadir a cons- importante. Não deis crédito. Lite-
ciência a nos absolver, quando ela nos rahnente, deixem de crer. Evidente-
censura, muito mais segurança temos mente alguns dos seus leitores estavam
diante dEle, quando isto não acontece" sendo levados pelos ensinamentos gnós-
(Plummer, The Epistles of S. John, pág. ticos. Provai. Dokimazo, que signifi-
-385 -
I JOÃO 4: 1-8
ca fazer passar por um teste com o pro- b) Seu Povo Deve Ser Examinado.
pósito de se aprovar. Esta palavra ge- 4:4-6.
ralmente implica em fazer o teste na 4. (Vós) sois. Em contraste aos fal-
esperança de que a coisa experimentada sos mestres. Os. Os próprios falsos pro-
seja aprovada, enquanto peirazo ("pro- fetas, não os espíritos que estão por trás
var" ou "tentar") geralmente significa deles. Aquele que está em vós. Inde-
fazer o teste com o propósito de que a finido quanto à qual pessoa da Deidade
coisa experimentada seja achada em falta. em particular João se referia, embora a
O motivo do teste é simples - muitos menção do Espírito em 3: 24 poderia
falsos profetas já se encontram no mun- indicar que o Espírito Santo que habita
do. Falsos profetas são falsos mestres o crente é o mencionado. Aquele que
(11 Pe. 2: 1) e operadores de milagres está no mundo. Satanás, o príncipe do
(Mt. 24: 24; Atos 13:6; Ap. 19:20). A mundo e a força que dá energia aos pro-
prova se refere à origem, se procedem fetas e espíritos falsos (10.12: 31). 5.
de Deus. Eles procedem. Os falsos profetas. Fa-
lam da parte do mundo. O mundo é a
2) O Exame dos Espíritos Mentíro- sua fonte de linguagem, não o seu assun-
sos.4:2-6. to. O sistema mundial encabeçado por
a) Seu Credo Deve Ser Examinado. Satanás é a fonte de toda heresia. 6. Nós.
4:2,3. Intensivo - "Quanto a nós ... " Conhe-
2.~e um mestre confessa que Jesus ce ... ouve. Os dois verbos estão no
Cristo veio em carne, é um profeta ver- presente, indicando progressividade. A-
dadeiro. Deve francamente reconhecer quele que está se desenvolvendo no co-
(o significado de confessa) a pessoa do nhecimento de Deus continua a nos ou-
Salvador encarnado. Isto envolve o mo- vir. Nisto. Isto é, os apóstolos falam a
do de Sua vinda (em carne) e a permanên- verdade porque o povo de Deus os ou-
cia da encarnação (tempo perfeito de ve, enquanto que os falsos profetas fá-
veio). Se ele não tomou um corpo hu- Iam o erro porque o mundo os ouve.
mano, jamais poderia ter morrido e ser
o Salvador. Deste versículo não deve- B. Precaução Quanto ao Espírito do
mos supor que este é o único teste da Amor: Falsa Profissão. 4: 7·21.
ortodoxia, mas é um dos principais e 1) O Fundamento do Amor. 4: 7-10.
foi o mais necessário contra os erros a) O amor é de Deus. 4: 7,8.
do tempo de João. 7. "A transição parece abrupta, como
3. Declaração negativa da verdade do se o apóstolo tivesse acabado sumaria-
versículo 2. Não. A posição do negati- mente com um assunto desagradável"
vo seguindo-se ao pronome relativo exi- (Plummer, The Epistles, pág.99). Esta
ge esta tradução: "Cada espírito que for é a terceira seção sobre o amor (cons.
do tipo que não confessa". Espírito 2:7·11; 3: 10-18). O amor procede
do anticristo. A E.R.A. acrescenta de- de Deus. A origem. Nascido. Tempo
vidamente a palavra espírito, embora perfeito - "nasceu e continua sendo seu
a omissão dela no grego indique uma lar- filho". 8. Não ama. Particípio presen-
gueza de pensamento. Tal falso profeta te - "não ama habitualmente". Deus
está influenciado por muitas forças e é amor. A terceira das três grandes de-
espíritos, incluindo as demoníacas e to- clarações de João quanto à natureza
das essas revelam a ação do anticristo, de Deus (10.4: 24; I Jo. 1: 5). A au-
Forças sobrenaturais estão por trás des- sência do artigo (Deus é o amor) indica
ses falsos mestres. que o amor não é simplesmente uma
-386 -
I , 'I I I
I JOÃO 4: 8-19
qualidade que Deus possui, mas o amor za que é aperfeiçoado (ou atinge o seu
é aquilo que Ele é por Sua própria natu- propósito) enquanto os crentes amam
reza. Mais ainda, sendo Deus amor, o uns aos outros.
amor que Ele demonstra brota dEle b) Leva-nos a conhecer o Deus que
mesmo e não externamente. A palavra habita em nós. 4: 13·16.
Deus está precedida por um artigo, que 13. Uma vez que não podemos ver
significa que a declaração não é reversí- a Deus, Ele nos deu evidências de Sua
vel; não se pode ler, "O amor é Deus". presença em nós por meio do Seu Espí-
b) O amor é de Cristo. 4: 9,10. rito, o qual habita em nós. Do seu Espí-
9. A manifestação do amor de Deus rito. Não que nós recebamos parte da
em nosso caso (em nós) está na oferta Terceira Pessoa da Trindade, mas que
do Seu Filho. Filho unigênito. Deus, recebemos alguns dos muitos dons do
além de enviar o Seu Filho, enviou o Seu Espírito. 15. Confessar. Dizer a mesma
Filho unigênito. Cristo é o único Filho coisa; isto é, concordar com alguma au-
nascido no sentido de que não tem ir- toridade fora de si mesmo. Filho de
mãos (cons. Hb. 11: 17). Para viver- Deus. "Esta confissão da divindade de
mos. O propósito da vinda de Cristo. Jesus Cristo implica em submissão e tam-
10. Nisto consiste o amor. Literalmen- bém obediência, não mero serviço de
te, o amor; isto é, o amor que é a natu- lábios" (A. T. Robertson, World Studies
reza de Deus. E tal amor não se rela- in the New Testament, VI, 234).
ciona a qualquer coisa que os seres huma- 16. O amor que Deus nos tem (lite-
nos possam fazer, mas expressa-se no ralmente, em nós). O amor se torna uma
dom de Cristo. Propiciação. Satisfação. força trabalhando em nós.
2) As Glórias do Amor. 4: 11-21. c) Dá-nos ousadia no dia do juízo.
a) Leva-nos a amar os outros. 4: 11, 4: 17.
12. O amor para conosco, literalmente.
11. De tal maneira. Se Deus nos a- É o amor que Deus, que é amor, produ-
mou até o ponto de dar o Seu único Fi- ziu em nós, gerando-nos e colocando o
lho, devemos (obrigação moral) amar WlS Seu Espírito em nós. No dia do juízo
aos outros. Os falsos mestres não esta- mantenhamos confiança. O crente que
vam preocupados em ensinar qualquer tem o perfeito amor de Deus em sua
obrigação moral. 12. Deus está em po- vida terrena pode enfrentar o tribunal
sição enfática. Tradução: Deus ninguém de Cristo sem vexame. Tal segurança
jamais viu. A conexão entre este pensa- não é presunção, porque, segundo ele é,
mento e o contexto parece ser este: Uma também nós somos neste mundo. A ba-
vez que nunca ninguém viu a Deus, a se para a ousadia é a nossa atual seme-
única maneira de se ver Aquele que é lhança com Cristo nesta vida, e particu-
amor, é através do amor de Seus filhos larmente, de acordo com este contexto,
entre si, comprovando assim a semelhan- nossa semelhança em amor.
ça familiar. Seu amor poderia se refe- d) Lança fora o medo. 4: 18.
rir ao Seu amor por nós ou ao nosso A idéia da ousadia traz à mente o seu
amor por Ele (PIummer, pág.l03) ou antônimo, o medo. Uma vez que o amor
à Sua natureza (Westcott, pág.152; busca o mais alto bem para o outro, o
Wuest, pág. 166). . Provavelmente não medo, que é esquivar-se do outro, não
é o Seu amor por nós. Se é o nosso pode ser uma parte do amor.
amor por Ele, este amor é aperfeiçoado e) Comprova a realidade de nossa pro-
(amadurecido) enquanto nós amamos os fissão. 4: 19-21.
irmãos. Se é o amor que é a Sua nature- 19. Nós o amamos (E.R.C.). A pala-
-387 -
IJoAo 4: 19-21 - 5: 1-7
vra o não se encontra nos melhores tex- contínua. Vitória que vence. Aqui o
tos, e o verbo está no subjuntivo. Portan- verbo está no aoristo, indicando a cer-
to, a tradução é: Vamos amar, porque teza da vitória. A vitória que venceu o
ele nos amou primeiro. 20,21. Nosso mundo é a nossa fé. S. Nossa fé está so-
amor aos irmãos, uma coisa visível, com- bre o fato de que Jesus é o Filho de Deus.
prova o nosso amor a Deus, uma entida- É a crença na divindade total (Filho de
de invisível. É fácil dizer piedosamente, Deus) e na verdadeira humanidade (Je-
"eu amo a Deus"; João diz que a ver- sus) do Deus-homem. "Nosso credo é
dadeira piedade se comprova no amor a nossa espada e escudo" (Plummer,
fraternal. Mais ainda, ele insiste na idéia The Epistles ofSt. John, pág. 112).
declarando no versículo 21 que este é
um mandamento de Cristo (10.13: B. Fé em Cristo Comprovada pelas
34). Nossas Credenciais. 5: 6-12.
1) A Evidência das Credenciais. 5:
V. Causa de Comunhão. 5: 1-21. 6-8.
Crer em Cristo é a base de nossa co- 6. Água e sangue. Têm sido interpre-
munhão. A palavra crê só apareceu três tados como significando 1) o batismo e
vezes até este ponto da epístola, mas a morte de Cristo; 2) a água e o sangue
aparece seis vezes em 5: 1-13. "Agora que escorreram do lado de Cristo na cruz;
S. João traça as bases para o parentesco 3) a purificação e a redenção; e 4) os sa-
espiritual" (Westcott, pág. 176). O fato cramentos do batismo e a Ceia do Senhor.
do cristão ter exercitado a fé em Cristo As duas últimas interpretações são sim-
comprova-se de três maneiras, de acordo bólicas; e não há lugar para tais interpre-
com o ensinamento deste capítulo. tações aqui porque veio está no aoristo,
referindo-se ao acontecimento real. As
A. Fé em Cristo Comprovada pela duas primeiras fazem a frase referir-se
Nossa Conduta. 5: 1-5. a acontecimentos reais na vida do Se-
1) Como nascidos de Deus, amamos nhor. A segunda não deve ser a prefe-
os irmãos. 5: 1-3. rida porque a ordem das palavras está
1. Os gnósticos negavam que Jesus inversa (cons. Jo. 19: 34). A primeira
de Nazaré fosse o Cristo. João torna é a que mais satisfaz. Cristo veio por
a fé nesta verdade em teste essencial (dia, "por intermédio de") meio de um
do nascido de Deus. Que o gerou é batismo que O destacou e associou O
Deus. Que dele é nascido é o crente. 2. Seu ministério com a justiça; e por meio
Aqui se declara o inverso de 4: 20, 21. do sangue, Sua morte, a qual pagou a
Também se pode dizer que aquele que penalidade devida pelos pecados do mun-
ama a Deus ama os Seus filhos, e que do. Seu ministério também foi exercido
aquele que ama os filhos de Deus ama na (o primeiro, segundo e terceiro com
a Deus. Quando. Literalmente, sempre do versículo) esfera daquilo para o que
quando. 3. Penosos, um fardo opressivo o Seu batismo e Sua morte representa-
e exaustivo. Amor transforma os manda- vam. O Espírito Santo continua dando
mentos de Deus em luz. testemunho desta verdade. O batismo
2) Na qualidade de crentes vivemos e a morte foram dois fins do ministé-
vitoriosamente. 5: 4, 5. rio de nosso Senhor.
4. Guardar o mandamento de amar 7. O texto deste versículo deveria
os irmãos é possível por causa da vitória ser, Pois há três que dão testemunho.
que o cristão tem sobre o mundo. Vence. O restante do versículo é espúrio. Ne-
Tempo presente, implica em batalha nhum manuscrito contém a adição trini-
-388-
I , 'I I I
I JOÃO 5: 7-16
.tária antes do século catorze, e o versícu- constitui o melhor para os Seus filhos.
lo jamais foi citado nas controvérsias so- A promessa é que Deus nos ouve e isto
bre a Trindade nos 450 primeiros anos da inclui a idéia de que Ele também garan-
existência da igreja. 8. As três testemu- te a resposta (cons. Jo.9:31; 11:41,
nhas são o Espírito, a água e o sangue; 42). 15. Quanto ao que lhe pedimos
e os três são unânimes num só propósi- é sinônimo de segundo a sua vontade
to. "A trindade das testemunhas forne- do versículo 14. O crente que está em
ce um só testemunho" (Plummer, The comunhão com Deus não pedirá nada
Epistles, pág. 116), isto é, que Jesus que seja contrário à vontade de Deus.
Cristo veio na carne para morrer pelo 16. A oração está limitada não so-
pecado para que os homens pudessem mente pela vontade de Deus mas também
viver. pelas ações dos outros. "A vontade do
2) O Efeito das Credenciais. 5: 9-12. homem foi dotada por Deus com tal e
9. Um testemunho triplo é tudo o tão régia liberdade, que nem mesmo a
que os homens precisam (cons. Dt. 19: Sua vontade a coage. Muito menos,
15; Mt. 18: 16; Jo. 8: 17). Deus nos portanto, pode a oração de um irmão
deu três testemunhos no Espírito, na coagi-la. Se a vontade humana delibe-
água e no sangue, os quais devemos re- rada e obstinadamente resistiu a Deus,
ceber. 10. Em si. O testemunho não e persiste em fazê-lo, somos privados
é só externo mas também interno. "A- de nOSSa garantia usual. Contra a vontade
quilo que para os outros é externo, para rebelde até mesmo a oração da fé de acor-
o crente é experimental" (Westcott, do com a vontade de Deus (pois é claro
pág. 186). O faz mentiroso. O incré- que Deus deseja a submissão do rebelde)
dulo faz de Deus um mentiroso no que será feita em vão" (Plummer, The Epis-
se refere a todo o Seu plano da redenção. tles of S. John, pág. 121). Cometer ...
11. Testemunho. O conteúdo do teste- pecado. Literalmente, pecando um pe-
munho externo e interno é que Deus cado. O suposto caso é aquele no qual
deu o Seu divino Filho para que os ho- o irmão é apanhado no ato do pecado.
mens pudessem ter vida eterna. 12. Uma Deus lhe dará vida, aos que não pecam
dedução do versículo 11. Se o Filho para morte. Os pronomes são ambíguos.
tem vida, então aquele que tem o Filho A sentença pode significar que Deus
também tem vida. Vida. Literalmente, dará vida ao intercessor, ou pode ser
a vida. considerado significando que o interces-
sor dará vida ao pecador através de suas
C. Fé em Cristo Comprovada pela orações (semelhante a Tg. 5: 20). É di-
Nossa Confiança. 5: 13-21. fícil decidir qual preferir, pois ambas
1) Confiança em Oração. 5: 13-17. as idéias são bíblicas.
13. Estas cousas, Toda a epístola. Pecado para morte. A tradução, um
A fim de saberdes. O conhecimento pecado é muito definida. Há pecado pa-
consciente da posse da vida eterna é a ra morte, o qual implica não em um
base para a alegria da comunhão, a qual simples ato, mas atos que têm o caráter
é o tema da epístola (1: 4). do pecado para a morte. Talvez nem
14. Confiança. Esta é a quarta vez sempre sejam exteriores para poderem
que é mencionada (cons, 2: 28; 4: 17 ser reconhecidos e sabidos, uma vez que
em conexão com o juízo; e 3: 21, 22 e João diz que não sabemos como orar.
aqui em conexão com a oração). Se- O pecado para morte também não é a
gundo a sua vontade. A limitação é be- rejeição de Cristo, pois o contexto está
névola porque a Sua vontade sempre lidando com cristãos. Deve ser semelhan-
-389 -
I JOÃO 5: 16-21
te aos casos citados em I Co. 5 e 11: 30. 17, e não significa um simples toque su-
Quanto à oração por tal irmão, João é perficial mas um agarramento. Satanás
muito reservado nas suas recomendações. não pode agarrar e manter preso aquele
Ele não proíbe a intercessão nem a de- que é nascido de Deus. 19. O segundo
sencoraja. Comunhão individual de- fato em nosso conhecimento. O mundo
terminará o devido curso de ação. 17. inteiro. A ordem das palavras indicam
Toda injustiça é pecado. João adverte que o mundo com os seus pensamentos,
contra o pensamento relaxado de que caminhos, métodos, etc., é o que o es-
alguns pecados são permissíveis e outros critor tinha em mente. 20. Terceiro fato.
(para morte) não são. É vindo. O verbo (hekei mais do que
2) Confiança no Conhecimento. 5: erkomai) inclui as idéias de Sua vinda
18-21. na encarnação e Sua presença agora nos
18. Sabemos. Com conhecimento cer- crentes. Para reconhecermos. Conhe-
to e positivo. Não vive em pecado. Tem- cer experimentalmente por intermédio
po presente; pecado habitual. "O poder da apropriação do conhecimento.
da intercessão para vencer as conseqüên- 21. Guardai-vos. Uma palavra dife-
cias do pecado poderiam parecer um rente (fylasso) da que foi usada em
encorajamento para uma certa indife- 5: 18 (temi). Significa guardar como
rença ao pecado" (Westcott, pág.193). o faz uma guarnição militar. Idolos,
"A condição da filiação divina é incom- "Um 'ídolo' é qualquer coisa que ocupa
patível, não simplesmente com o pe- o lugar que é de Deus" (Westcott, pág.
cado para morte, mas com o pecado de 197). Éfeso abundava com ídolos e prá-
qualquer aspecto" (Plummer, pág. 125). ticas idólatras; por isso a advertência
Toca. Aparece em João só em Jo. 20: era muito apropriada.
-390-
I I i I ,
'I I I
11 JOÃO 1
INTRODUÇÃO
Nem alI nem a III João contêm qual- quanto a ternura do seu tom caracteri-
quer indicação de tempo ou do lugar za-a como comunicação pessoal" (David
em que foram escritas. À vista deste si- Smith, ExpGT, IV, 162). Outros defen-
lêncio e na falta de qualquer evidência dem que a carta foi dirigida a uma senho-
ao contrário, parece provável que as ra individualmente e a sua família. Se
circunstâncias foram as mesmas da Pri- o seu nome era Kyria é uma questão em
meira Epístola. O destino da Segunda aberto (cons. construções alternadas em
Epístola é enigmático. Alguns acham Ill Jo. 1 e I Pe. 1: 1). Seja qual for o
que a frase senhora eleita (v. 1) é uma seu nome, evidentemente morava perto
maneira figurada de designar toda a de Éfeso e era bem conhecida na comu-
igreja, ou pelo menos algum grupo em nidade (talvez o seu lar fosse local de
particular. Tal uso metafórico encon- reunião para a igreja local). Uma irmã
tra o paralelo em Ef. 5: 22-23 e em Ap. sua, presumivelmente falecida, tinha fa-
21: 9. Aceitando tal ponto de vista, a mília residente em :efeso e estava ligada
irmã eleita (v. 13) se referiria a congre- ã congregação de João. Ao que parece
gação do próprio João. Entretanto, "a diversos filhos da "senhora eleita" visi-
simplicidade da pequena carta impossi- taram seus primos em :efeso. Tendo fei-
bilita uma alegoria tão elaborada, en- to amizade com eles, João escreveu uma
carta à mãe deles.
ESBOÇO
I. Introdução. 1-3.
A. Autor. 1.
B. Destinatários. 1.
C. Saudação. 2,3.
11. Advertência contra a heresia. 4-11.
A. Conteúdo da heresia. 4-6.
B. A Causa da heresia. 7.
I. A vinda dos enganadores. 7.
2. O credo dos enganadores. 7.
C. As conseqüências da heresia. 8-11.
1. Exame do ego. 8.
2. Exame dos outros. 9-11.
a. Critério para o exame. 9.
b. Conseqüências do exame. 10, 11.
m. Conclusão. 12, 13.
COMENTÁRIO
I. Introdução. 1-3. íntimo de ancião (E.R.C.) em lugar de
"apóstolo" ajude a defender o ponto de
A. Autor. 1. vista de que a carta foi dirigida a uma
O ancião (E.R.C.). Veja introdução pessoa em particular e não a uma igre-
â l João. Talvez o uso informal e mais ja. Sobre a palavra ancião (E.R.C.) usa-
-391-
11 JOÃO 1-6
-392 -
I' li I I
11 JOÃO 6-11
-393 -
11 JOÃO 11-13
tros assuntos para uma entrevista pessoal. Irmã eleita. Veja Introdução a 11 João.
12. Muitas. Talvez os mesmos assun- O adjetivo eleita foi usado por João ape-
tos discutidos na Primeira Epístola. 13. nas aqui, no versículo 1 e em Ap. 17: 14.
-394-
I , I' 'I I I
m JOÃO 1-2
A TERCEIRA EPISTOLA DE JOÃO
ESBOÇO
I. Introdução. 1-4.
A. Saudação Pessoal. 1.
B. Sentimentos Pessoais. 2-4.
n. O dever da hospitalidade. 5-8.
A. A recompensa da hospitalidade. 5.
B. Os comentários sobre a hospitalidade. 6.
C. Os motivos para a hospitalidade. 7,8.
m. O perigo da arrogância. 9-12.
A. A arrogância exemplificada. 9.
B. A arrogância condenada. 10.
C. A arrogância contrastada. 11,12.
IV. Conclusão. 13,14.
COMENTÁRIO
-395 -
III JOÃO 3-9
Amado destaca um novo trecho. Pro- pósito da carta não foi alcançado. Que
cedes fielmente tpiston poieis). Literal- gosta de exercer a primazia entre eles.
mente, fazes uma coisa fiel, ou não dei- A palavra não ocorre em nenhuma outra
xas de fazer. Isto é, qualquer benefício passagem do N.T. Implica não em aban-
feito aos irmãos será certamente recom- dono de doutrina (cons. 11 Jo. 9), mas
pensado (cons. Mt. 26: 10; Ap. 14: 13). antes em arrogante ambição e desejo
A hospitalidade tem a sua recompensa. de promover a autoridade pessoal. Plum-
Mesmo quando são estrangeiros. A adi- mer faz interessante sugestão: "Talvez
ção desta frase indicaria que este era o o significado seja que Diótrefes queria
ponto particular pelo qual Gaio fora tomar sua Igreja independente; até en-
reprovado. tão fora governada por S. João que se
encontrava em Efeso, mas Diótrefes que-
B. Os Comentários Sobre a Hospi- ria torná-la autônoma para sua própria
talidade. 6. glorificação" (Plummer, pág. 149). Não
Testemunho. Aqueles que experi- nos dá acolhida. Isto é, Diótrefes não par-
mentaram a hospitalidade de Gaio deram tilhava da opinião de João quanto a hos-
testemunho dela diante da igreja, prova- pitalidade. A improbabilidade de que
vehnente em Efeso, onde estava João. qualquer cristão se opuzesse autori-
â
Bem farás. João insiste com Gaio a dade do apóstolo é um dos argumentos
-396 -
I I I I I I
illJOÃO 9-15
- 397-
JUDAS
INTRODUÇÁO
-398 -
I I I , I I' 'I I I
JUDAS 1-9
COMENTÁRIO
-399 -
JUDAS 10-17
-400-
I i I I, 'I I I
JUDAS 17-25
a cristãos, nos versículos 5-16 Judas de- (19), mas aqueles que oram no Espírito
finiu os erros dos falsos mestres. Agora Santo.
volta sua atenção para seus leitores em 21. Amdt usa a seguinte paráfrase:
uma exortação direta. Eles evitarão o "guarde-se do perigo do mal, permitindo
erro lembrando-se das palavras profe- Deus demonstrar o Seu amor para você
ridas pelos apóstolos de que os falsos no futuro também". O meio ambiente
mestres apareceriam logo dentro da atual do crente é o amor de Deus e a
própria igreja. Com isso poderão de- expectativa futura é a garantia de vida
vidamente "batalhar pela fé" (v. 3). eterna com Cristo Jesus.
18. 11 Pedro 3: 3 usa linguagem qua- 22. O texto grego é de difícil inter-
se idêntica. Ambas as passagens pare- pretação em Judas 22, 23. No v.22 o
cem referir-se a uma tradição oral cor- verbo de maior evidência é eleeo, "so-
rente sobre os ensinamentos apostóli- correr", "mostrar compaixão". O obje-
cos. No último tempo estabelece a ato to da compaixão é aquele que duvida.
mosfera e destaca que no final da dis- Assim, nesta passagem, Judas insiste
pensação as pessoas se caracterizarão com os cristãos a atender às dúvidas in-
por uma desesperada falta de espiritua- telectuais e morais dos afetados pelos
lidade. Escarnecer é ter atitudes ímpias falsos mestres. O fim em vista não é
para com as coisas santas, e escamecedo- a expulsão e condenação dos duvidosos
res (zombadores) não obedecem à lei mas sua restauração à comunhão.
do Espírito, mas seguem à lei da paixão 23. Zacarias 3: 2-4 pode ter influen-
da carne. ciado os pensamentos de Judas aqui,
19. Judas continua sua acusação con- pois ele escreve sobre arrebatá-los do
tra os falsos mestres, enquadrando-os fogo. Fogo sugere paixão sensual, mas
em dois grupos: são divisivos e sem o é mais plausível que seja uma alusão ao
Espírito de Deus. O verbo grego, promo- juízo eterno. É difícil saber se o escri-
vem divisões, sugere um estabelecimen- tor pretendia traçar uma nítida distin-
to de linhas demarcatórias que dão lugar ção entre as duas classes de pessoas com
a um espírito faccioso. Além disso, o duplo uso de alguns, ou simplesmente
revela um senso de superioridade da usou a expressão no sentido enumerativo.
parte destes falsos mestres. Com sutil Seja como forem entendidas as palavras,
ironia Judas acusa os gnósticos, que se a atitude do cristão deve ser de mise-
consideravam espirituais, de não ter o ricórdia para com o pecado, acoplada
Espírito. Ele afirma que a espirituali- com ódio pelos pecados dele.
dade é uma qualidade de vida produzida
pelo Espírito de Deus, e não pelo exer- N. Bênção. Judas 24, 25.
cício religioso só conhecido pelos pou-
cos iniciados. 24,25. Uma das maiores e mais su-
20. Mais uma vez um desafio direto blimes bênçãos do N.T. é esta que se
é feito aos leitores. A pureza de vida co- encontra no final desta curta epístola.
meça com a sã doutrina, isto é, a "fé Duas outras bênçãos paulinas compará-
que uma vez por todas foi entregue aos veis são a de Rm. 16: 25 e I Tm. 6: 14.
santos" (3). A chave para o significado 16. Vital a todas as exortações feitas
de edificando-vos se acha na frase seguin- aos crentes é o lembrete dos recursos
te, orando no Espírito Santo. A forte infinitos do próprio Deus, único que
implicação é que os homens verdadeira- tem competência para nos guardar de
mente espirituais não são justos aos seus tropeçarmos nesta vida e atraí-los a Ele
próprios olhos nem desprezam os outros próprio no último dia. Ele aperfeiçoará
-401-
a obra da santificação para que os crentes chamado sete vezes de Salvador no N.T.
sejam irrepreensíveis, ou imaculados. Esta Aqui o Seu poder salvador está compro-
palavra faz lembrar a descrição dos ani- vado na Pessoa do Seu Filho, o qual a
mais sacrificados no V.T. Judas 25 en- Igreja reconhece como "Senhor", isto
sina as duas coisas, a singularidade de é, Deus. A última atribuição de glória,
Deus e a igualdade de Jesus Cristo com majestade, domínio e autoridade é o
Deus Pai. Assim ele milita contra a idéia testemunho de Judas do benevolente
de que a divindade de Cristo foi uma in- caráter de Deus, o qual operou a nossa
venção da igreja pós-apostólica. Deus é salvação por meio de Cristo.
-402-
I i I I, L I I' 'I I I
APOCALIPSE
INTRODUÇÃO
Observação. Ao iniciarmos este breve critos. Lutero fugiu aos seus ensinamen-
comentário sobre o inexaurívellivro final tos durante anos. Ao mesmo tempo, o
do Cânon do Novo Testamento, prova- livro tem compelido homens a prolon-
velmente devemos apresentar dois aspec- gados estudos de suas profecias, voltan-
tos do mesmo que serão observados na do muitas e muitas vezes para uma re-
leitura do mesmo. Em primeiro lugar, consideração dos seus temas e para uma
guardadas as proporções, foi dedicado nova compreensão de suas revelações.
mais espaço às questões introdutórias Um só testemunho será suficiente, de
do que normalmente se concede em um alguém que geralmente é reconhecido
comentário, quer seja longo quer breve, ter sido o mais talentoso expositor do
deste livro. Isto se fez porque o escritor primeiro quarto de nosso século, G.
crê que o estudo do livro do Apocalipse Campbell Morgan: "Não há nenhum li-
exige mais considerações preliminares vro na Bfblia que tenho lido com tanta
do que qualquer outro livro da Bíblia. freqüência, nenhum ao qual tenho ten-
Quanto mais o leitor fixar na mente tado dedicar atenção mais paciente e
certos princípios fundamentais de in- persistente ... Não há nenhum livro na
terpretação, mais rapidamente compreen- Bíblia ao qual eu me volte mais ansiosa-
derá estes francamente difíceis capítu- mente nas horas de depressão, do que
los. Em segundo lugar, incorporamos este, com todo o seu mistério, todos os
nestas páginas uma grande porção de seus detalhes que não compreendo"
material dos mais importantes comen- (Westminster Bible Record, VoI. 3 [1912]
tários sobre o Apocalipse escritos duran- 105,109).
te o último século, algumas das soberba- A Importância do Livro. 1) As Escri-
mente concisas e penetrantes declarações turas do Novo Testamento seriam incom-
dos grandes mestres da igreja cristã rela- pletas, deixariam os leitores em um esta-
cionadas com assuntos mencionados no do de ânimo mais ou menos depressivo,
livro. se este livro não fosse escrito e incluído
Há algo quase paradoxal a respeito no Cânon. Ele não é somente o último
do livro do Apocalipse. É um volume livro no arranjo canônico de nossa Bí-
de reconhecida dificuldade, e no entan- blia, mas é necessariamente a conclusão
to através dos séculos tem sido como das revelações divinas ao homem. Esta
um ímã, atraindo irresistivelmente para verdade foi brilhantemente apresentada
o seu estudo cristãos de todas as escolas por T. D. Bernard em suas famosas Bamp-
de pensamento, leigos, clérigos e profes- ton Lectures for 1864, The Progress
sores. R. H. Charles está certo quando of Doctrine in the New Testament. "Não
começou as suas Lectures on the Apoc- sei como algum homem, terminando as
alypse com esta declaração: "Desde a era Epístolas, poderia esperar descobrir a his-
mais remota da Igreja, tem se admitido tória subseqüente da Igreja essencialmen-
universalmente que o Apocalipse é o li- te diferente do que ela é. Naquelas obras
vro mais difícil de toda a Bíblia" (pág. 1). nos parece, como é na realidade, que
Calvino recusou-se a escrever um comen- não testemunhamos algumas tempesta-
tário sobre o Apocalipse, e deu-lhe muito des passageiras que desanuviam a atmos-
pouca importância em seus maciços es- fera, mas sentimos o todo da atmosfera
-403 -
carregado com os elementos da futura palavra tem representado uma era de sub-
tempestade e morte. Cada momento as levação, as condições do mundo cheias
forças do mal se mostram mais claramen- de terríveis conseqüências, o desenca-
te. Elas são enfrentadas, mas não dissi- deamento de grandes poderes que o ho-
padas ... As últimas palavras de S. Paulo mem sozinho parece incapaz de contro-
na segunda Epístola a Timóteo, e as de lar. Martin Kiddle, o autor do livro so-
S. Pedro em sua segunda Epístola, com bre o Apocalipse, no Comentário de
as Epístolas de S. João e S. Judas, têm Moffatt, refere-se à "notável relevân-
a linguagem de um tempo no qual as cia" da mensagem deste livro "para a
tendências daquela história expuseram-se igreja nestes nossos dias". É apenas mais
distintamente; e nesse sentido essas car- um exemplo da sanção divina, e do signi-
tas formam um prelúdio e uma passagem ficado eterno das visões de João. Sem-
para o Apocalipse. pre que há uma crise mundial, sempre
Assim, chegamos a este livro com que o Estado se exalta e exige uma sub-
lacunas que ele pretende preencher; missão que os cristãos sabem que não
aproximamo-nos dele como homens, que lhe podem dar sem renunciar as suas
além de estarmos pessoalmente em Cris- próprias almas, sempre que a Igreja fi-
to, sabemos o que temos nEle como indi- ca ameaçada de destruição, a fé bruxu-
víduos, também, na qualidade de mem- leia e os corações são frios, o Apocalipse
bros do Seu corpo, participamos de uma adverte e exorta, edifica e encoraja to-
vida incorporada, no aperfeiçoamento dos aqueles que dão atenção a sua men-
da qual somos aperfeiçoados, e em cuja sagem" (pãg. xlix).
glória o nosso Senhor está glorificado. Por 3) Este é supremamente o livro de
este aperfeiçoamento e glória esperamos um mundo, e certamente agora, no meio
em vão, entre as confusões do mundo, deste século vinte, estamos nos aproxi-
e as formas do mal sempre ativas e mu- mando dessa condição de um mundo só.
tantes. Qual é o significado deste cenário Freqüentemente no Apocalipse encon-
selvagem? Qual será o seu resultado? E tramos frases tais como estas, "muitos
qual a perspectiva que há na realização povos, nações, línguas e reis" (10: 11;
daquilo que desejamos? Para um estado 11: 9; 17: 15), que sugerem o escopo
mental como este, e para as lacunas que universal da visão. Quando os reis silo
envolve, é que esta última parte dos en- apresentados, são "reis do mundo in-
sinamentos de Deus foram dirigidos, de teiro" (16: 14; 17:2,18; 18:9; 19:19).
acordo com aquele sistema de doutrina De Satanás diz-se que ele é o enganador
progressiva que tenho me esforçado em de "todo o mundo" (12:9). Todas as
ilustrar, em que cada estágio de progres- nações fornicaram com a meretriz (18:
so resulta numa seqüência natural do 3, 23). O boicote econômico imposto
efeito daquele que o precede". pela besta cobre toda a humanidade
2) De todos os livros da Bíblia, este (13: 16, 17). Na verdade, a besta do mar
é aquele que certamente deve ser consi- recebeu "autoridade sobre cada tribo,
derado como o livro do fim dos séculos. povo, língua e nação" (13: 7); e diz-se
E poderia parecer que nestes últimos dela, "adorá-le-ão todos os que habitam
trinta anos, o mundo Ocidental, incluin- sobre a terra" (13: 8). Há um grande
do seus estadistas, cientistas, economis- significado no fato de que quando chega
tas e ensaístas, o têm, consciente ou o momento de Cristo assumir o Seu lu-
inconscientemente, reconhecido. Isto é gar de direito como Rei dos reis e Se-
especialmente verdadeiro no que se re- nhor dos senhores, a palavra usada para
fere ao uso da palavra apocalipse. Esta o governo deste mundo está no singu-
- 404·-
I , I I' 'I I I
lar, "o reino do mundo" (11: 15). mas dúvidas têm sido lançadas sobre a
4) Este livro é notavelmente um li- autenticidade deste livro. Neste co-
vro para uma era de perturbação, para mentário não há espaço para a exposi-
um século no qual as trevas se espessa- ção dos argumentos levantados contra
rão, o medo se espalhará por toda a hu- a autoria joanina, mas temos de consi-
manidade, e poderes monstruosos, ím- derar os fatos que atestam que o Após-
pios e maus, aparecerão no palco da his- tolo João é o autor: 1) Quatro vezes nes-
tória (como aparecem neste livro). Mas te livro o nome do autor foi inserido
encontramos nele conforto e estímulo: (l: 1,4,9; 22: 8). 2) Até a primeira
Deus sabe todas as coisas desde o co- metade do século 11, era convicção da
meço, até mesmo as tribulações do Igreja de que João era o autor. Justíno
Seu próprio povo. Contudo, o final Mártir declara francamente: "E conos-
deste conflito, a perseguição, a tribula- co um homem chamado João, um dos
ção, o martírio, será determinado por apóstolos de Cristo, que na revelação
Cristo, quando Ele, finalmente for vi- que lhe foi dada ... " (Dialogue with
torioso. O pecado e Satanás e toda a Trypho the Jew, cap.81). O grande
corte de Satanás serão derrotados para historiador Eusébio repetidamente atri-
sempre; e os crentes estarão com o Fi- buiu o livro a João (Ecclesiastical History
lho de Deus na glória para sempre. Ill, xxiv, xxxix); do mesmo modo Tertu-
liano (Contra Marcion 3: 14,24).
5) Mesmo se todas essas coisas não
fossem verdadeiras, e especialmente ver- 3) Sejam quais forem as peculiari-
dadeiras para o nosso século, não deve- dades gramaticaisdeste livro, existem inu-
ríamos nos esquecer de que é o único meráveis semelhanças entre o vocabu-
livro da Bíblia que enuncia uma bem- lário do Evangelho de João e o do Apo-
-aventurança para o que ouve, lê e obe- calipse. "Um elo importante que une
dece as suas palavras: "Bem-aventurados estas obras", destaca Gloag, "é a apli-
aqueles que lêem, e aqueles que ouvem cação do termo Logos a Jesus Cristo.
as palavras da profecia e guardam as cou- Este termo é sem dúvida joanino; não
sasnela escritas" (l: 3; 22: 7). foi empregado em nenhum outro lugar
6) Finalmente, é neste livro que al- das Escrituras, e contudo aparece no
guns dos maiores temas da revelação Apocalipse: 'Está vestido com um manto
divina são concluídos dramaticamente. tinto de sangue; e o seu nome se chama
Aqui as profecias referentes a Cristo, o o verbo de Deus' (Ap. 19: 13). Da mes-
Rei dos reis, são desdobradas em sua ple- ma forma a palavra 'o Cordeiro', não
nitude, e se cumprem. Aqui, palavras simplesmente como emblema ou sím-
tais como tabernáculo, templo, paraíso, bolo de Cristo, mas o próprio Cristo,
Babilônia, etc., assumem sua conotação é peculiar a João; como quando no E-
espiritual suprema. Aqui todas as pro- vangelho se diz 'Eis o Cordeiro de Deus',
messas de uma vida em glória concen- e no Apocalipse, 'Então vi, no meio do
tram-se no quadro maravilhoso da Cidade trono e dos seres viventes e entre os an-
Santa. Temos aqui o destino final de ciãos, de pé, um Cordeiro como tinha
Satanás, do Anticristo, os falsos profe- sido morto' (5: 6). É verdade que a pa-
tas e todos os inimigos de Deus. Aqui lavra grega é diferente, ho amnos usado
os reis rebeldes do Salmo 2 encontram- no Evangelho e to amion no Apocalipse,
-se finalmente sob os pés do Cordeiro mas a idéia de que Jesus Cristo é o Cor-
de Deus. deiro é comum a ambos. A palavra ale-
O Autor. Através dos séculos algu- thinos, 'aquilo que é verdadeiro', foi
-405 -
usada dez vezes no Apocalipse, nove cilmente existiria em data tão precoce
vezes no Quarto Evangelho, quatro ve- com 65 A.D. Além disso, não temos
zes na Epístola, e apenas uma vez nas evidência nenhuma de que o apóstolo
Epístolas paulinas. Da mesma forma, exercesse qualquer autoridade sobre as
'aquele que vence' (nikos) , uma expres- igrejas da Ásia antes da destruição de Je-
são favorita na Epístola, aparece mui- rusalém. Com tal ponto de vista concor-
tas vezes no Apocalipse, como por exem- dam escritores tais como Lange, Alford,
plo na conclusão das cartas às sete igrejas Elliott, Godet, Lee, Milligan e outros.
e em outras passagens da obra: 'O vence- Título do Livro. A palavra Revela-
dor herdará estas causas' (21: 7). O verbo ção deriva do latim revelatio (de reve-
skênoõ, 'tabernacular', que só se encontra lare, "revelar ou tirar o véu daquilo que
nas obras joaninas, foi usado no Evange- estivera previamente escondido"). Este
lho, com evidente referência ao Shequiná, era o título conferido ao livro na Vul-
do Lagos tabernaculando entre os ho- gata Latina. O título grego é Apocalipse,
mens (1: 14), e foi quatro vezes empre- extraído diretamente da primeira pala-
gado no Apocalipse com referência a vra do texto grego, apocalypsis. Nesta
Deus. 'Eis o tabernáculo de Deus com forma substantiva a palavra não se encon-
os ,homens, Deus habitará com eles (ta- tra em nenhuma outra obra da literatura
bernaculará)' (21: 3)" (P.J. Gloag: In- grega, mas como verbo foi continuamen-
troduction to the Johannine Writings, te usada nos Evangelhos e nas Epístolas,
pág. 306, 307). de maneiras variadas, especialmente com
referência a algumas formas da revelação
A Data da Composição. São duas divina ao homem (como o Filho do Ho-
as grandes opiniões relativas à ocasião mem, em Lc. 17: 30). Foi usada por
em que este livro foi escrito. Alguns a Paulo referindo-se ao mesmo evento fu-
colocaram no reinado de Nero, na sétima turo(Rrn.8:18; ICo.l:7; IITs.1:7),
década do primeiro século. Mas devido e freqüentemente em I Pedro (1: 7, 13;
a muitas razões, parece-nos que é dema- 4: 13; 5: 1). No texto grego de Daniel
siado cedo. O veredito unânime da igreja esta palavra encontra-se muitas vezes
primitiva era que o apóstolo João foi com referência à revelação de segredos,
banido para a Ilha de Patmos pelo impe- ou interpretação de sonhos, ou revelação
rador Domiciano (81 a 96 A.D.), colo- de Deus (v~a Dn.2:l9,22,28,29,30,
cando alguns escritores o exilio no ano 47; 10:1; 11:35).
décimo quarto do seu reinado, 95 A.D. O Tema. O Apocalipse é um livro
(Uma evidência antiga para isto encon- profético. Na sua revelação do futuro,
tra-se em Revere F. Weidner, Annota- enfatiza particularmente as repetidas e
tions on the Revelation 01 St. John the crescentes tentativas violentas e mun-
Divine, pág. xiv-xvii). diais de personalidades e pessoas terrenas,
O Apocalipse revela claramente que ativadas e dirigidas por poderes demonía-
foi escrito em uma ocasião de grande cos e lideradas por Satanás, de se opo-
perseguição. A perseguição sob Nero rem e evitarem a execução da declarada
foi mais ou menos limitada a Roma, intenção de Cristo de estabelecer o Seu
mas sob Domiciano alcançou outras reino sobre a terra. Está claro que este
partes do império romano. Domicia- conflito certamente acabará com a der-
no baniu homens a diversos locais de rocada dessas forças do mal e o estabele-
exílio, mas Nero não o fez. Mais ainda, cimento do reino eterno de Cristo. Es-
as sete igrejas da Ásia aqui demonstram te conflito secular, envolvendo na guerra
um desenvolvimento maturo, que difi- até os céus, compõe-se de uma série
-406-
I; q II
de ardis da parte dos inimigos de Cristo plenitude dispensacional. Todos os
para derrotar o Rei dos reis. Cada ten- leitores sabem que são quatro os gru-
tativa resulta em fracasso, seguido por pos de sete que cobrem uma considerá-
terrível juízo divino. E o longo con- vel seção do livro. Há as sete mensagens
flito terminará no juízo diante do Gran- às sete igrejas (caps. 2,3). A visão dos
de Trono Branco, com o aparecimento sete selos, que abrange 6-8: 1 (com um
da Nova Jerusalém, e o começo da eter- episódio entre o sexto e o sétimo da
nidade. série, a saber vii). A visão das sete trom-
Um Livro de Visões. O livro do Apo- betas, 8: 2-11, 16 (com um episódio
calipse, acima de todos os outros livros entre a sexta e a sétima, 10-11: 13). A
da Bíblia, é um registro do que foi re- visão das sete taças, 15: 5-16. Assim
velado em visões ao autor. Todos nós quase metade do livro pertence a esta
sabemos como às vezes se torna difícil série quádrupla ... Penetra em passagens
registrar o que vimos, especialmente onde não é mencionada diretamente.
quando a visão é espetacular. Como po- Assim, em 5: 12, os sete atributos de
deria alguém descrever adequadamente louvor são conferidos ao Cordeiro que
um pôr-de-sol glorioso, ou a majestade foi morto; o grupo vestido de branco em
dos Alpes? Os muitos e diferentes ver- 7: 12 adora a Deus com o mesmo núme-
bos gregos significando "ver", "obser- ro de atribuições. O capítulo 14: 1-20
var", ou "perceber", aparecem 140 vezes consiste de sete partes, isto é, o Cordeiro
neste livro, começando com "o que com o seu glorioso grupo no monte Sião;
vês, escreve em livro" (1: 11). Imedia- o evangelho eterno; a queda de Babilô-
tamente após João diz: "Voltei-me para nia; a solene ameaça contra qualquer
ver quem falava comigo, e voltado, vi", comunhão com a Besta; porção feliz
etc. (v. 12). No começo do capítulo 4, daqueles que morrem no Senhor dora-
ouve-se uma voz do céu dizendo a João, vante; a colheita; a vindima. Além disso,
"Sobe para aqui, e te mostrarei o que o capítulo menciona seis anjos, e Um
deve acontecer depois destas cousas" como o Filho do Homem - três anjos
(4: 1). Deste ponto para frente, há inú- de cada um de seus lados, e Ele está no
meros parágrafos, até o final do livro, meio, presidindo sobre os grandes acon-
que começam com "e vi". tecimentos. O clímax da série está no
número quatro, onde Ele está assentado
Não somente temos aqui uma sene sobre a Nuvem branca. Os 'sete Espí-
de visões, mas o livro está saturado de ritos que se acham diante do seu trono'
linguagem simbólica, e estes símbolos (1: 4) expressam a perfeição infinita do
devem receber consideração especial. Espírito Santo. As 'sete estrelas' na mão
Especialmente isto acontece em rela- direita de Cristo (1: 16) indicam a autori-
ção aos números. Em primeiro lugar, dade completa que Ele tem sobre as igre-
há uma constante repetição do número jas. O Cordeiro tem 'sete chifres e sete
sete. Quanto ao simbolismo dos nú- olhos' (5: 6), que indicam todo o poder,
meros no livro, inserimos aqui os con- a inteligência suprema e a onisciência
cisos e compreensíveis resumos de Moore- perfeita com a qual Ele está dotado"
head e Weidner: "Este número (sete) (Wm. G. Moorehead, Studies in the Book
não foi empregado apenas para indicar ofRevelation, pág. 30-32).
muitos objetivos individuais", explica "A metade de sete, no Velho Testa-
Moorehead, "mas penetra grandemente mento", diz Weidner, "indica tempo de
em todo o plano do livro. Sete é o nú- tribulação. Aparece de várias maneiras,
mero da inteireza, da perfeição, e da tanto no Velho como no Novo Testa-
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mento. A fome no tempo de Elias du- ções da Aliança. Doze são as tribos de
rou três anos e meio (I Reis 17: 1; Lc, 4: Israel: havia duas vezes doze grupos de
25; Tg. 5: 17); o mesmo período é o sacerdotes; quatro vezes doze cidades
'um tempo, dois tempos e metade dum dos levitas; doze é o número dos após-
tempo' de Dn. 7: 25 e Dn. 12: 7; 'a me- tolos; duas vezes doze é o número dos
tade da semana' mencionada em Dn. anciãos que representaram a Igreja Re-
9: 27. Este mesmo período de tempo dimida; a mulher de Ap. 21: 1 tinha uma
aparece no Apocalipse sob a forma de coroa de doze estrelas em sua cabeça;
quarenta e dois meses (Ap. 11: 2; 13: 5) a Nova Jerusalém tem doze portões
ou 1.260 dias (Ap. 11:3; 12:6), ou (Ap. 21: 12), o muro da cidade tem do-
'um tempo, e tempos, e metade de um ze fundamentos (21: 14) e a árvore da
tempo' (Ap. 12: 14). As duas testemu- vida produz doze nomes de frutos (22:
nhas também permaneceram mortas 'por 2)" (Weidner, op. cit., pág. xxxix, xl).
três dias e meio' (Ap. 11: 9,11). Este No simbolismo das cores, branco é
número imperfeito é, portanto, um sím- destacadamente a cor da inocência, pu-
bolo de grande significado, e tem sido reza e justiça, como também da idade
aceito como a 'assinatura' da aliança espiritual, maturidade e perfeição; o pre-
violada ou do sofrimento e desastre ... to indica fome, desespero, sofrimento;
Dez é a representação simbólica da per- o vermelho, cor de sangue, pode indicar,
feição absoluta e desenvolvimento com- como o próprio sangue, a guerra, o ho-
pleto, tanto referindo-se a Deus quanto micídio ou a morte sacrificial; o roxo
ao mundo. É a 'assinatura' de um todo é a cor da realeza ou do ócio voluptuo-
completo e perfeito. Dez é o número so; e o amarelo é a cor da vida que se
dos Mandamentos; o Santo dos Santos esvai e do reino da morte (6:8). (Veja
era um cubo de 10 cúbitos de cada lado; o excelente exame do simbolismo das
dez vezes dez, ou 100, é o número do cores em John Peter Lange, The Rev-
Rebanho de Deus (Le. 15: 4, 7); e o cubo elation of St. John, pág. 16-18).
de dez, ou 1.000, é a duração do reinado
dos santos (Ap. 20: 4). A décima geração Vocabulário. Há 916 diferentes pa-
significa 'para sempre' (Compare Dt. lavras no texto grego do Apocalipse;
23: 3 comNe. 13: 1). Dez é também o dessas, 416 são também encontradas no
número da perfeição do mundo, simbo- Quarto Evangelho; 98 aparecem só uma
lizando o poder perfeito. As dez pragas vez em outras passagens do Novo Tes-
do Egito simbolizavam o derramamento tamento; enquanto há 108 palavras que
completo da ira divina; a quarta besta não se encontram em nenhuma outra
de Daniel tinha dez chifres (Dn. 7: 7, passagem do Novo Testamento. Aqui
24); o Dragão Vermelho do Apocalipse há muitas palavras que falam de autori-
tem dez chifres (Ap. 12:3), como tam- dade. Por exemplo, a palavra para trono
bém a Primeira Besta ou o Anticristo ocorre 44 vezes; rei, reino e governo, 37
(Ap. 13: 1). vezes; autoridade e poder, 40 vezes. As
Doze é, enfaticamente, o número muitas palavras traduzidas para ver, per-
que se refere ao reino de Deus, a 'assina- ceber, etc., aparecem perto de 150 vezes.
tura' de Deus (três) multiplicada pela As palavras que significam escrever, e
'assinatura' do mundo (quatro). Lee o resultado da escrita, isto é, um livro,
acha que enquanto sete é o número sa- são encontradas 60 vezes.
grado das Escrituras, doze é o número
do Povo da Aliança em cujo meio Deus o Uso do Velho Testamento no Apo-
habita, e com quem Ele travou as rela- calipse. Este último livro da Bíblia forma
-408 -
I, ,I I, ,I II
um mosaico espantoso, como se vê, de tram seus originais no Velho Testamento:
temas do Velho e Novo Testamento. "o Todo-Poderoso" de 1: 8, etc. em Gn.
No apêndice ao Greek New Testament, 17: 1; "o Alfa e o Õmega", ídem. (Um
de Westcott e Hort (pág. 184-188), es- bom capítulo sobre este assunto encon-
tima-se que dos 404 versículos deste tra-se em Merrill C. Tenney, Interpreting
livro, 265 contenham linhas que abran- Revelation, pág. 101-116).
gem aproximadamente 550 referências
de passagens do Velho Testamento; há A Relação do Apocalipse com o Dis-
13 referências 8 Gênesis, 27 a Êxodo, 79 curso no Jardim das Oliveiras. Todos
a Isaías, 53 a Daníel, etc. Muitos concor- concordariam que são muitas as linhas
dariam com o falecido Professor Briggs de pensamento no Apocalipse que têm
que "o discurso escatológico de Jesus forte semelhança com os assuntos men-
(Mt.24:25; Mc.13; Lc.21)é,segun- cionados no Discurso que Nosso Senhor
do o nosso pensar, a chave do Apocalipse. fez no Jardim das Oliveiras. Alguns o
Este livro é a obra de um judeu saturado têm levado longe demais, é o que me
das profecias do Velho Testamento, parece, e têm forçado o Apocalipse den-
sob a orientação da palavra de Jesus e tro de um molde construído com a di-
a inspiração de Deus. É o clímax da pro- visão tripla do Discurso das Oliveiras.
fecia do Velho e Novo Testamentos". Os acontecimentos do Discurso podem
Esta extensa incorporação do material ser divididos cronologicamente em três
do Velho Testamento vê-se em grandes períodos - pré-Tribulação, Tribulação e
seções, versículos separados e frases in- pós-Tribulação. Seria difícil formar um
dividuais. Assim, a descrição da Babilô- esboço semelhante para o livro do Apo-
nia, no capítulo 18, tem paralelos incon- calipse. Entretanto, há muitas passa-
táveis com Jeremias 51. As duas bestas gens paralelas, particularmente aquelas
do capítulo 13, com seus dez chifres que descrevem as perturbações físicas
que são dez reis, derivamdiretamente das e econômicas que terão lugar ao se apro-
visões da besta de Dn. 7, 8. A visão das ximar o fim dos tempos, como por exem-
duas oliveiras e dos dois castiçais (cap. plo Lc. 21: 9-11. Guerra, fome, pestes
11) é uma reconstrução da visão de Za- e terremotos aparecerão nos quatro pri-
carias (Zc. 4). Os períodos de tempo meiros juízos dos selos; guerras, freqüen-
no livro do Apocalipse derivam de Da- temente, de Ap. 16: 12 até o fim do
niel, como o tempo, dois tempos e a capítulo 19, e terremotos em 16: 18 e
metade de um tempo (12: 14, de Dn, 18: 8. A questão do martírio, confor-
12: 7). Muitos dos juízos das trombe- me Lc, 21: 12-16, aparece freqüentemen-
tas são espantosamente paralelos às pra- te no livro, como em Ap. 6: 9-11; l l : 7-
gas do Egito, as quais vamos considerar 10; 13:7,15; 16:6; 17:6; 18:24. A
em alguns detalhes na exposição da pas- Grande Tribulação é mencionada em 7:
sagem. Até mesmo no primeiro capí- 14. Os falsos cristos e falsos profetas apa-
tulo, o versículo 6 refere-se a Êx, 19: 6; recem em sua forma fmal no capítulo 13.
versículo 7 a Dn. 7: 13 e Zc. 12: 10, 12; Os distúrbios celestesde Lc. 21: 25-28 es-
o versículo 14 consiste de duas passagens tão em Ap. 6: 12-14 e segs. A vinda do Fi-
extraídas de Dn. 7:9,13; 10:5. O ver- lho do Homem é anunciada em Ap. 1: 7
sículo 15 deriva de Dn.1O:6; Ez.1:24; e é consumada quando a Palavra de Deus
o versículo 16 de Is.11:4; 49:2; o ver- desce do céu por ocasião da batalha do
sículo 17 de Is. 44: 6; 48: 12; e o versí- Arrnagedon. (Para exame deste assunto,
culo 18 de Is. 38: 10. Muitos dos títulos veja meu livro, A Treasury of Books for
da divindade usados neste livro encon- Bible Study, pág.235-242. Há alguns
-409 -
anos atrás Henry W. Fost escreveu todo (2: 27); e isto é exatamente o que se diz
um livro sobre este assunto, Matthew da batalha do Armagedon (19: 15). A
Twenty-Four and the Revelation, Nova promessa da "estrela da manhã" àqueles
Yorque, 1924.) que são fiéis (2: 28) reaparece em 22:
16. A idéia de andar com Cristo "de
o Princípio da Antecipação. Atra- branco" não apresentada apenas aos
vés de todo este livro, muitas e muitas fiéis de Sardes e Laodicéia, mas tam-
vezes, o autor usa aquilo que é conhe- bém aos crentes no fim dos tempos
cido por prolepse; isto é, logo no co- (3:4,5,18; 19: 14). O "livro da vida"
meço do livro ele usa uma frase que rea- (3: 5) reaparece quatro vezes, come-
parece mais tarde, e geralmente mais çando com o período da tribulação (13:
desenvolvida. Assim, por exemplo, 8; 17:8; 20:12,15; 21:27). À cidade
Cristo é chamado de "a fiel testemunha" de Filadélfia foi feita uma promessa
no começo (1: 5), mas reaparece como quádrupla (3: 12), cada frase da qual
a Testemunha Fiel em 3: 14; 17: 6; 20: reaparece no final do livro: "Ao ven-
4. Inicialmente recebe o título de "so- cedor, fá-lo-eí coluna no santuário do
berano dos reis da terra" (1: 5). Mas meu Deus ... gravarei também sobre ele
quando nos aproximamos" do final dos o nome do meu Deus (22: 4), o nome
séculos, quando as prerrogativas deste da cidade do meu Deus (21: 2, 10), a
título vão ser realmente exercidas, en- nova Jerusalém ... (21: 2, 10), e o meu
contramo-Lo novamente assim designado novo nome". Finalmente, a promessa
(17: 14; 19: 16). No começo anuncia-se aos vencedores de Laodicéia, que se
(1: 6) que Cristo nos fez reis e sacerdotes; assentarão com Cristo no Seu trono,
mas isto volta a aparecer no final do li- reaparece no começo da descrição da
vro (20: 6). Do mesmo modo o título, Nova Jerusalém (20: 4).
"o Alfa e o Õmega", que se encontra
no começo (1: 8) e no final (21: 6; 22: Alternando Cenas do Céu e Cenas da
13), como também o título, "o Todo-Po- Terra. Um fator fundamental deste li·
deroso" (1:8; 19:6,15; 21:22). A or- vro, muitas vezes ignorado pelos comen-
dem de guardar as palavras desta profecia tadores, é de grande ajuda na compreen-
foi dada na introdução, mas essa é exa- são destes capítulos quando reconhecido.
tamente a ordem que encontramos re- Isto é, muitas cenas deste livro estão lo-
petidamente no final do livro (22: 7,10, calizadas no céu, enquanto os juízos
18). propriamente ditos têm lugar na terra;
As promessas feitas aos crentes nas e as cenas no céu sempre precedem os
sete epístolas dos capítulos 2 e 3 reapa- acontecimentos terrenos aos quais estão
recem com espantosa reiteração quando relacionados. Assim, as mensagens às
as grandes lutas sobre a terra terminam, sete igrejas são precedidas por uma visão
e os filhos de Deus estão na glória da do Senhor que ascendeu ao céu. A aber-
ressurreição da Nova Jerusalém. Assim, tura dos seis selos no capítulo 6 é pre-
a promessa da "árvore da vida" (2: 7) cedida pela visão do Cordeiro no céu,
encontra-se novamente bem no final do digno de abrir o livro (caps. 4, 5). Os juí-
livro (22: 2, 14). Livramento da segunda zos que acompanham o tocar das sete
morte está prometido aos fiéis de Es- trombetas são precedidos por uma cena
mima (2: 11) e torna a ser citado no celeste que se extende de 7: 1 a 8: 5. Os
Último Juízo (20: 6, 14). "O Espírito" terríveis acontecimentos dos capítulos
declara, na quarta epístola, que Cristo 11; 12; 13 são novamente precedidos
governará as nações "com vara de ferro" por uma cena celestial de instruções
-410 -
I, I j
para João. As devastações que acompa- lhantes a latão reluzente", de cuja boca
nham as sete pragas (caps. 15; 16) são "saía uma aguda espada de dois fios".
precedidas por avisos dos anjos e a exi- As passagens seguintes tratam especial-
bição do "templo ... no céu". E, de- mente deste tema do juízo: 6: 16, 17;
pois do juízo final do capítulo 20, o li- 11:17,18; 14:7,10; 16:5,7; 18:8,
vro conclui com um quadro do lar celes- 10,20; 19: 2 e 20: 11-15.
tial dos redimidos.
Sempre senti que existem duas gran- Canonicidade. A Igreja Ocidental
des verdades a serem extraídas deste desde logo creu que o livro do Apoca-
fenômeno. Primeiro, o que vai aconte- lipse devia ser incluído entre os livros
cer na terra, embora desconhecido pelo canônicos do Novo Testamento, e ele
homem e inesperado para ele, é inteira- era publicamente lido nas igrejas. Mas
mente conhecido àqueles que estão no a Igreja Oriental parecia relutante em
céu - o Senhor que ascendeu ao céu, adotar a mesma posição, e não concor-
os anjos, os vinte e quatro anciãos, as dou com a canonicidade do Apocalipse
criaturas viventes e os outros. Em se- até o século IV. O Cânon Muratoriano,
gundo lugar, o que vai acontecer na compilado em cerca de 200, inclui o
terra está sob completo controle e dire- livro em sua lista. Pelos meados do sé-
ção do céu, de modo que podemos dizer culo I1I, o Bispo de Alexandria aceitou
com segurança, a julgar deste livro, como o livro como canônico. Foi omitido
também de outros livros proféticos das na Versão da Vulgata Sírfaca, O Ter-
Escrituras, que tudo que acontece na ceiro Concílio de Cartago (397) aceitou
terra apenas cumpre a Palavra de Deus. o livro como canônico, e todo o volume
Este princípio é notavelmente apresen- aparece nos manuscritos primitivos, no
tado nos avisos preliminares referentes Códex Sinaitico, no Códex do Vaticano
aos reis da terra que fazem guerra contra e no Códex Alexandrino. Lutero errou
o Cordeiro. Embora leiamos a respeito grandemente em colocar o livro do Apo-
de dez reis satanicamente inspirados, calipse junto às epístolas de Tíago, Judas
tendo uma só mente e concedendo seu e Hebreus, em um apêndice. Há séculos
poder e autoridade à besta (17: 12, 13), a Igreja Protestante universal e as Igrejas
não obstante, é Deus que "tem posto Oriental e Ocidental concordaram que é
em seus corações, que cumpram o seu uma obra canônica. (Todo este assunto
intento, e tenham uma mesma idéia, foi examinado com grande minuciosi-
e que dêem à besta o seu reino, até que dade no volume de Ned B. Stonehouse,
se cumpram as palavras de Deus" (17: The Apocalypse in the Ancient Church,
17). Goes, Holland, 1929.)
-411 -
sempre existiram alguns mestres da Bí- pecialmente aproximando-se do fim do
blia que têm insistido que o propósito primeiro século. Este é um ponto de
deste livro não é instruir a igreja quanto vista principalmente desenvolvido no sé-
ao futuro, não é predizer acontecimen- culo XVII, por Alcazar, um mestre je-
tos específicos, mas simplesmente en- suíta, numa tentativa de replicar aos ar-
sinar princípios espirituais fundamentais. gumentos da Reforma, que insistiam
Este é o ponto de vista repetidas vezes que o livro predizia a corrupção e declí-
expresso por Milligan (W. Milligan, Lec- nio da Igreja Católica Romana, especial-
tures on the Apocalypse) , embora às mente nos dois capítulos dedicados à
vezes ele se contradiga. Ele diz em um Babilônia. A opinião de Alcazar foi
lugar: "O Apocalipse trata de maneira adotada por um bom número de escri-
distinta e enfática da Segunda Vinda do tores modernos - Moses Stuart, A. S.
Senhor". Gloag insiste sobre o mesmo Peake, Moffatt, Sir William Ramsay,
ponto de vista: "O livro tem a intenção Simcox e outros. Estes homens defen-
de nos ensinar a história espiritual da dem que o governante cuja ferida mortal
Igreja de Cristo, advertir-nos dos peri- foi curada é Nero, e que Domiciano foi
gos espirituais aos quais estamos expos- a besta do capítulo 13. É verdade que
tos, informar-nos das tentações espiri- a opinião preterista deve ser aplicada
tuais às quais estamos sujeitos, descre- em nossa interpretação das sete igrejas.
ver a controvérsia com o mal, e confor- Mas dizer que o restante do livro refe-
tar-nos com a certeza da vitória final re-se apenas a acontecimentos do pri-
de Cristo sobre os poderes das trevas". meiro século é na verdade negar o seu
Bem, tudo isto é verdade. O livro en- caráter profético, forçando muitas de
sina princípios e princípios espirituais; suas declarações dentro de um molde
ele transmite uma mensagem de con- pequeno demais para contê-las. Con-
forto na sua certeza da vitória final de forme Mílligan disse: "Toda a atmosfera
Cristo. Mas tudo no livro contradiz o do livro leva à conclusão oposta. Trata
ponto de vista de que não apresenta o de muita coisa que vai acontecer até
futuro profético. O próprio livro pro- o fim dos tempos, até a hora do clímax
clama-se profecia genuína. "O mal", da luta da Igreja, da consecução total
conforme diz Moorehead, "sempre pro- de sua vitória e do total alcance do seu
cura se concentrar em uma pessoa ou repouso. O Apocalipse revela distinta-
sistema; assim também o bem. O Apo- mente que está preocupado com a histó-
calipse nos mostra o mal centralizado ria da Igreja até que ela entre na posse
na besta e no falso profeta". Certamen- de sua herança celestial" (op. cit., pág.
te a volta de Cristo está neste livro, e 41).
esta é uma profecia de um acontecimento 3) O Esquema Historicista de Inter-
futuro; do mesmo modo, a ressurreição pretação. Na história da interpretação
dos crentes e o julgamento diante do do Apocalipse, provavelmente maior é
Grande Trono Branco. (Este é o ponto o número de nomes ligados a este esque-
de vista mantido pela maioria dos comen- ma do que a qualquer outro ponto de
tadores da fé reformada, Peters e outros.) vista, com exceção do futurista. De
2) O Esquema Preterista de Interpre- acordo com este conceito, o livro do
tação. Este sistema de interpretação do Apocalipse, especialmente na profecia
Apocalipse insiste em que o autor só dos selos, das trombetas e das taças,
descreve acontecimentos que acontece- apresenta eventos particulares da his-
ram na terra, dentro do Império Ro- tória do mundo que se relacionam com
mano, durante os seus dias de vida, es- o bem-estar da Igreja desde o primeiro
- 412 --
, I
I· I I I'
século até os tempos modernos. A maior teis ao grande corpo da Igreja Cristã,
das obras baseadas nesta teoria é o es- mesmo depois de cumpridas, e seu cum-
tudo em quatro volumes feito por Elliott primento reconhecido por alguns poucos
(E. B. E1liott, Horae Apocalypticae) , pesquizadores competentes. Os pobres
que pode ser considerada como uma e os iletrados sempre souberam, e pro-
ilustração deste esquema. Ele diz que vavelmente sempre saberão, pouca coisa
os juízos das trombetas cobrem o perío- dos acontecimentos históricos suposta-
do de 395 a 1453, que a primeira trom- mente aludidos no livro. Faria parte
beta se refere à invasão dos godos, a ter- do plano divino tornar a compreensão
ceira dos hunos sob o comando de Áti- de uma revelação tão insistentemente
la, a quinta das hordas maometanas que recomendada dependente de um conhe-
se derramaram pelo Ocidente no sexto cimento da história eclesiástica e política
e sétimo século, etc. Temos outra ilus- do mundo nas centenas de anos passa-
tração na famosa obra de Mede que diz dos? A própria suposição é absurda.
que o sexto selo prediz a derrocada do É inconsistente com a primeira promes-
paganismo sob Constantino, que a se- sa do livro, "Bem-aventurados aqueles
gunda taça se refere a Lutero, que a ter- que lêem e aqueles que ouvem as pala-
ceira se relaciona com os acontecimentos vras da profecia!"... A seleção dos
do reinado da Rainha Elizabeth I, etc. acontecimentos históricos feita pelo sis-
Muitos daqueles que pertencem a esta tema é altamente arbitrária, e não se
escola insistem que o terremoto mencio- pode dizer que corresponda ao grau
nado em 11: 19 refere-se à Revolução de importância que os tais aconteci-
Francesa; outros encontram Napoleão mentos tenham vindicado para si mes-
Bonaparte no livro do Apocalipse, etc., mos no decorrer da história" (op. cit.,
etc. pág.131).
Agora, deixando de lado todas as 4) O Esquema Futurista de Interpre-
outras objeções a este esquema, temos tação. Dificilmente poderia se duvidar
de admitir que ele não oferece nenhum de que o Apocalipse é um livro de pro-
princípio ou critério fundamental pelo fecias preditivas. Negá-lo seria ignorar
qual sejamos capazes de determinar o estilo, o tema e os acontecimentos
quais são exatamente os acontecimentos futuros do Apocalipse. Certamente o
históricos mencionados em determinada Segundo Advento, o conflito final de
passagem. E isto tem levado a um vasto Cristo com as forças do mal, o Milênio,
pântano de confusão e contradição en- o juízo final, são ainda acontecimentos
tre os que defendem este ponto de vista. futuros. O esquema futurista de inter-
Milligan, numa forte crítica a todo pretação insiste que, na grande maioria,
esse esquema, diz: ''Podemos realmente as visões deste livro se realizarão no final
admitir que os acontecimentos nele en- desta dispensação. A escola futurista
contrados pelo intérprete histórico te- foi há muito, excelentemente definida,
riam sido instrutivos ou consoladores como o esquema que "aguarda o cumpri-
para o cristão primitivo, se ele fosse mento dessas predições, não nos primei-
capaz de compreendê-los inteiramente. ros acontecimentos e heresias da igreja,
Mas a verdadeira dificuldade está nisto, nem na longa série dos séculos desde as
que tal compreensão era impossível na- primeiras pregações do Evangelho até
quele tempo... Enquanto inúteis aos agora, mas nos acontecimentos que pre-
homens que as receberam de primeira cederão de perto, acompanharão e se
mão, as visões do Apocalipse teriam sido, seguirão ao Segundo Advento de nosso
dentro deste sistema, igualmente inú- Senhor e Salvador" (Lectures on the
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Apocalypse, pág. 68). que desde os tempos primitivos elas
É estranho encontrar Gloag (em 1891) apontam para o seu cumprimento no
dizendo que "este sistema não tem mui- final dos tempos. Não é o que acontece
tos adeptos" (op. cit., pág.372). O fato com a primeira profecia da Bíblia - "Po-
é que tem muitos adeptos entre os quais rei inimizade entre ti e a mulher, entre a
se encontram destacados expositores bí- tua descendência e o seu descendente.
blicos dos tempos modernos e alguns dos Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás
mais notáveis estudantes das profecias. o calcanhar" (Gn. 3: 15)? Não é esta
Entre eles estão Todd, Benjamin Wills uma profecia da vitória messiânica que
Newton, Seiss, William Kelly, Peters, pra- ainda aguarda seu cumprimento final?
ticamente todos aqueles que escreveram A extensa profecia de Jacó em Gênesis
dentro da atmosfera dos Irmãos de Ply- 49 refere-se aos "últimos dias" conforme
mouth, como, por exemplo, S. P. Tre- diz. Repetidas vezes no Livro de Daniel,
gelles, Nathaniel West, A. C. Gaebelein, somos informados de que suas profecias
Scofield, Moorehead, Walter Scott, Al- se referem ao "fim" (7:26; 9:26,27;
ford e outros. Theodor Zahn, no seu 11: 13,27; 12: 8,13). O discurso que
notável comentário sobre o Apocalipse nosso Senhor fez nas Oliveiras não apon-
(ainda não traduzido para o inglês), ta diretamente para o fim dos tempos
assume a posição futurista, e Zahn é e a futura Segunda Vinda de Cristo?
reconhecido como o maior dos mes- (Mt. 24: 3,14; também suas parábolas
tres conservadores do Novo Testamento proféticas, como, por exemplo, Mt. 13:
da Europa no final do século XIX. Sim- 39,40). O mesmo acontece com Paulo
cox, que não é futurista, admite franca- falando aos tessalonicenses com refe-
mente que "desde o tempo de Tertuliano rência ao homem do pecado; a narrati-
e Hipólito - sem falar de Justino e Iri- va de Pedro sobre a apostasia dos últi-
neu - temos uma consistente expecta- mos dias; a grande profecia escatológica
tiva no curso dos acontecimentos que de Paulo em 11 Timóteo 3, e todo o cor-
precederão o juízo final" (G. A. Simcox, po das profecias no conhecido capítulo
The Revelation oi St. John the Divine, da ressurreição, I Coríntios 15. Todas
em CBSC, pág. xliv). estas passagens requerem interpretação
futurista. Não seria nada irracional que
Existe, é claro, um futurismo ex- a Bíblía concluísse com um livro de pro-
tremo que deve ser enfaticamente rejei- fecias, as quais, na sua maioria, fossem
tado. Alguns futuristas vão ao ponto de cumpridas na grande e final consumação
dizer que as sete igrejas da Ásia se reor- desta dispensação - o fim da revolta
ganizarão e se reestabelecerão no final contra Deus, e o começo de uma era de
dos tempos, quando então as predições justiça pela qual todos os homens justos
que lhe dizem respeito serão cumpri- anseiam.
das - um modo totalmente desneces- É claro que em cada um destes siste-
sário e irracional de ver as coisas. mas de interpretação existe um pouco
A objeção tantas vezes ouvida, que de verdade. Os três primeiros capítulos
é estranho termos em nosso Novo Tes- devem ser interpretados historicamente.
tamento um livro que, na maior parte, Há grandes princípios espirituais apresen-
contém assuntos relacionados ao final tados nos juízos, nas promessas, nas pro-
dos tempos, não se mantém de pé quan- fecias e nas vitórias messiânicas deste
do se recorda o fator fundamental re- livro. Na maioria, entretanto, o Apoca-
lacionado com as profecias básicas de lipse será mais corretamente interpretado
longo alcance das Escrituras, a saber, se for adotado o esquema futurista.
-414 -
I I I ~i I j I' 'I II
o Apocalipse e a Literatura Apocalíp- ferido mas algo que será dado àqueles
tica. Quando o dom da verdadeira pro- que trazem sobre si os sinais dos verda-
fecia cessou com Malaquias no Velho deiros filhos de Deus (G. E. Ladd: "Apo-
Testamento, cerca de 400 A.C., desen- calyptic, Apocalypse", no Baker's Dic-
volveu-se dentro da comunidade judia tionary of Theology, 1960, pág. 50-54).
uma literatura da qual uma parte é cha-
mada de apocalíptica. Esta literatura É Necessário um Estudo Prolongado
foi escrita em linguagem simbólica e para se Entender este livro. Por causa
descritiva. Foi composta, na maioria, do seu simbolismo, sua saturação com
em tempos de perseguição, especialmen- as passagens e temas do Velho Testamen-
te nos dias de Antíoco Epifânio, no to, os vários esquemas de interpretação
segundo século, antes de Cristo, como que se desenvolveram em relação a este
também no primeiro século desta era, livro através dos séculos, e a profundi-
quando o povo hebreu viu a destruição dade e vastidão dos assuntos que nela
de sua santa cidade. A literatura apo- são revelados, eu creio que o Apocalipse,
calíptica é, principalmente, escatológica. mais do que qualquer outro livro da Bí-
Ela se concentra naqueles acontecimen- blia, revelará seu significado só àqueles
tos futuros quando os inimigos de Is· que lhe dedicarem estudo prolongado
rael e do Senhor serão destruídos, e Is- e cuidadoso. O Professor William Milli-
rael mesma será restaurada à sua glória gan desafia-nos com estas palavras: "O
antiga. livro está aqui e, ou nós o excluímos
O Apocalipse do Novo Testamento do N.T., ou a Igreja deve continuar lu-
é inteiramente diferente, em seu todo, tando por compreendê-lo até que tenha
da literatura apocalíptica precedente. sucesso. Observação: 1. Em primeiro
Como George Ladd destacou bem: 1) lugar, partamos da suposição - uma su-
O autor designou o seu livro como uma posição que não é negada por nenhum
profecia (1:3; 22: 7; etc.), e o livro é daqueles aos quais estas palestras são
portanto o produto do espírito profé- dirigidas - que a Revelação de S. João é
tico. 2) João não toma o nome de al- parte da Palavra de Deus. Esta conside-
gum grande profeta do passado de Israel, ração resolve todo o problema. O simples
mas usa o seu próprio nome. 3) João fato de um livro ter sido dado pelo Todo-
não narra a história passada sob o dis- -Poderoso ao homem constitui em obriga-
farce de profecia, mas olha profetica- ção para o homem esforçar-se em com-
mente dentro do próprio futuro. 4) O preendê-lo. Pode ser difícil fazê-lo. Po-
livro de João, embora cheio de passa- demos ser derrotados por muito tempo.
gens negras e agourentas, não transmite Nem por isso vamos nos esforçar menos;
um espírito de pessimismo, como mui- usando de todos os instrumentos que
tos dos livros apocalípticos fazem, mas estão a nossa disposição, e vigiando, se
de otimismo, pois o vidente constante- ainda nos sentimos nas trevas, pelos
mente reitera a grande verdade de que primeiros sintomas de luz. Nada é mais
Cristo conquistará todos os inimigos, certo do que isso, se não fosse obrigação
e que os reinos deste mundo se trans- nossa que usássemos este livro, o exal-
formarão no reino de nosso Senhor e tado Redentor não o teria dado por
Salvador Jesus Cristo. 5) Finalmente, revelação ao Seu servo João" (Lectures
o Apocalipse insiste com seus leitores On the Apoca/ypse, pág. 4).
sobre as grandes exigências éticas. Aqui Muitos estudantes, antes e a partir
há uma grande urgência moral. A salva- de Lange, expressaram a mesma esperan-
ção não é algo automaticamente con- ça pronunciada em 1870: "Sem dúvida,
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APOCALIPSE 1: 1-4
COMENTÁRIO
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APOCALIPSE 1: 19-20
dEle ter as chaves da morte e do inferno redor dessas cidades não teria um raio
certamente implica em que o destino superior a sessenta milhas. Que essas
das almas humanas está sob a jurisdição cartas do Senhor ressuscitado deveriam
de Jesus Cristo. se dirigir às igrejas na Ásia não é difícil
O versículo 19 foi interpretado por de entender, uma vez que foi lá que. João
muitos como indicando uma divisão morou durante muitos anos, e sem dú-
tripla. do livro do Apocalipse, na qual vida era bem conhecido pelas igrejas
as cousas que viste referem-se ao capí- desta área. Por que estas igrejas em par-
tulo 1, e as que são, às sete igrejas nos ticular foram escolhidas, não temos
capítulos 2 e 3 e as que hão de acontecer certeza. Paulo passou um longo perío-
depois destas, ao restante do livro. Na do em Éfeso na sua terceira viagem mis-
verdade, esta classificação não ajuda mui- sionária (Atos 19; 20: 16, 17); Lídia
to na interpretação. Deve-se lembrar, era de Tiatira (Atos 16: 14); e Epafras
entretanto, que as palavras aqui tradu- trabalhava em Laodicéia (CI. 2: 1; 4:
zidas para depois destas, meta tauta, 12-16). Contudo, nada sabemos do tra-
aparecem nove vezes no livro do Apo- balho de Paulo em seis dessas sete ci-
calipse (4: 1; 7: 1; 7: 9; 9: 12; 15: 5 ; dades, e quatro delas não aparecem em
18: 1; 19: 1; 20: 3). nenhuma outra passagem do N.T. Mais
20. Não estamos absolutamente se- ainda, sabemos que existiam igrejas, no
guros do que João quis dizer com a de- fim do primeiro século, em algumas
claração as sete estrelas são os anjos das cidades da Ásia que nunca foram men-
sete igrejas. Esta palavra traduzida para cionadas no N.T. Antes que Paulo com-
anjo aparece setenta e seis vezes no Apo- pletasse sua terceira viagem missionária,
calipse. Fundamentalmente, a palavra ''todos os que habitavam na Ásia ouvi-
significa mensageiro. Alguns crêem que ram a palavra do Senhor Jesus, assim
simplesmente se refere a alguma pessoa judeus como gregos" (Atos 19: 10, 26).
de liderança em cada igreja; outros dizem Todas estas cartas seguem a mesma
que implica em que cada igreja tem o seqüência. Cada uma começa com uma
seu anjo representante no céu. Estes frase descritiva do Cristo exaltado, que
"anjos" são pelo menos aqueles através se dirige às igrejas; e cada frase descri-
dos quais estas mensagens deveriam ser tiva se encontra no capítulo precedente
enviadas às sete igrejas. na narrativa que João faz de sua visão
O termo Ásia, E.R.C., (v. 11) tem do Cristo ressuscitado. Em cada carta,
tido diversos significados através dos com exceção das que se dirigem a Lao-
séculos. No N.T., Ásia, E.R.C., era o dicéia e Sardes, as primeiras palavras
nome da província romana localizada de Cristo são de recomendação. Esta
no extremo oriente do que hoje se chama recomendação sempre se segue de alguns
de Ásia Menor. Era a maior e a mais im- detalhes relacionados com a condição
portante de todas as províncias romanas da igreja, resultando em alguma repri-
desta área, abrangendo os distritos da menda ou advertência - com exceção
Cãria, Lídia e Mísia. As sete igrejas men- de Filadélfia e Esmirna, que não rece-
cionadas nas cartas estavam todas loca- bem reprimendas. Cada carta conclui
lizadas no centro-oeste desta província. com uma promessa àqueles crentes que
Começando por Éfeso no sudoeste e vencem.
dirigindo-se para o noroeste, chegamos Observe as muitas referências às coi-
a Esmima e Pérgamo; voltando-se para sas de Satanás: duas vezes lemos "a sina-
o leste e sul, chegamos a Tiatira, Sardes, goga de Satanás" (2:9; 3:9); em Pér-
Filadélfia e Laodicéia. Um círculo ao gamo estava "o trono de Satanás" (2;
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I, ,I I I'
APOCALIPSE 1: 20 - 2: 1-17
13); na carta a Tiatira menciona-se "as não aconteça, que tal como a serpente
profundezas de Satanás" (2: 24); em envolveu Eva em sua malícia, suas men-
relação a Esmima, adverte-se que o dia- tes se corrompam afastando-se da sim-
bo lançaria alguns deles na prisão. Além plicidade e pureza que há em Cristo ...
disso, encontramos referências à maldi- Os elementos do primeiro amor são,
ção dos nicolaítas, a presença dos perni- então, a simplicidade e a pureza ... O
ciosos ensinamentos de Balaão (2: 14), amor da Igreja por Cristo está exempli-
e a repreensão feita a Tiatira por supor- ficado pelo amor da esposa ao marido.
tar a presença de alguém chamada Jeza- Qual é então o amor de Cristo pela Igre-
bel (2: 20). ja? Amor altruísta, amor no qual não há
Por três motivos abstenho-me, neste o menor lugar para o ego. Qual é então
rápido exame do Apocalipse, de um es- o amor da Igreja por Cristo? A resposta
tudo detalhado de cada uma dessas car- do amor ao mistério do amor, a submis-
tas: Em primeiro lugar, estes dois capí- são do amor ao amor perfeito. Primeiro
tulos não apresentam maiores proble- amor é o amor do casamento. Suas carac-
mas escatológicos, enquanto que o sig- terísticas são a simplicidade, pureza,
nificado exato de algumas das promes- amor conjugal, reação do amor ao amor,
sas que aqui se encontram, Se fossem a sujeição de um grande amor ao grande
examinadas, exigiram comentários ex- amor, a submissão de um amor auto-re-
tensos. Em segundo lugar, estas cartas nunciante a um amor que nega o próprio
são muito mais usadas em mensagens ego. O primeiro amor é o abandono de
expositórias do que qualquer outra tudo por um amor que também abando-
parte deste livro, e são mais ou menos nou tudo" (A First Century Message
conhecidas da maioria dos estudantes to Twentieth Century Christians pág.
da Bfblia, Em terceiro lugar, para dis- 40-42).
cutir os elementos históricos relevantes 8-11. A palavra Esmima relaciona-se
de cada uma destas cidades, eu me obri- com a palavra mirra, que por sua vez
garia a abreviar a exposição posterior é símbolo de morte. A história de Es-
dos problemas básicos da interpretação mima tem sido uma sucessão de saques,
profética. incêndios, destruições. Policarpo, um
2: 1-7. Éfeso era a maior cidade da dos mais famosos mártires da antigüi-
Ásia. É a única destas sete que ocupa dade, foi Bispo de Esmima. Esta cidade
um lugar triplo na literatura do N.T.: é a única das sete que ainda está em con-
recebe bastante destaque em Atos (18: dições de desenvolvimento.
18 - 19:41); a esta igreja Paulo escre- 12-17. De Pérgamo um antigo escri-
veu uma de suas epístolas; e a ela o Se- tor disse que "entregou-se à idolatria mais
nhor que ascendeu ao céu enviou uma do que toda a Ásia". A elevada monta-
carta. Depois de elogiar a igreja pelo nha que ficava por trás dela era adornada
seu trabalho, paciência e intolerância com numerosos templos, entre os quais
para com os pseudo-apóstolos, o Senhor se encontrava o grande templo de Zeus,
refere-se a uma trágica deficiência - ela que era chamado Soter Theos, o Deus
perdera o seu primeiro amor (v. 4). Salvador. Pérgamo foi a primeira cidade
G. Campbell Morgan relaciona esta na Ásia a erigir um templo em honra
passagem com as palavras de advertên- de Augusto. Ficou famosa por suas
cia de Paulo â igreja de Corinto: "Pois escolas de medicina; e Asclépio, deus
eu a dei por esposa a um marido, para da saúde, simbolizado por uma serpen-
que a pudesse apresentar como virgem te, era ali adorado. Ramsay diz: "Além de
pura a Cristo. Mas temo, e espero que todas as cidades da Ásia Menor, ela dá
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APOCALIPSE 2: 17-29 - 3: 1-22 - 4: 1
-420 -
I· ,I I , I I'
APOCALIPSE 4: 1-7
ditivos nas cartas às sete igrejas, mas tado: vinte e quatro anciãos assentados
não se estendendo ao fim dos tempos, sobre vinte e quatro tronos situados à
a porção verdadeiramente profética do volta do trono de Deus (veja também
Apocalipse começa com a seção que 11: 16), vestidos de vestes brancas e usan-
vamos agora examinar. Conforme obser- do coroas (stefanoi) de ouro. Stefa-
vamos na Introdução, a parte maior desta noi eram coroas concedidas aos vence-
seção é de natureza introdutória, pois a dores. Tem-se identificado estes anciãos
cena registrada nos capítulos 4 e 5 é celes- de muitas maneiras, mas a maioria con-
te. Na verdade, predições sobre aconteci- corda com Govett de que são "conselhei-
mentos futuros distantes não começam ros reais, conhecedores dos propósitos
até o capítulo 6. João vê agora uma do rei, e capazes de transmitir inteligên-
porta abrindo-se no céu, e ouve uma voz cia a João, o servo de Deus" (Robert
dizendo: "Sobe aqui, e mostrar-te-ei as Govett, Lectures on the Apocalypse,
coisas que depois destas devem aconte- in loco). Vinte e quatro como número
cer" . (Para outras ocasiões em que o simbólico só se encontra no Apocalipse,
céu se abriu, veja Ez. 1: 1; Me, 1: 10; e só em relação a estes anciãos (5:8; 11:
Jo. 1: 51). Muitos comentadores colo- 16; 19: 4). (para uma discussão deta-
cam o "arrebatamento" da Igreja entre lhada da identidade dos anciãos, veja
os capítulos 3 e 4 deste livro, mas visto G.H. Lang, The Revelation of Jesus
que o texto propriamente dito silencia Christ, pág. 124-136). Do trono par-
sobre o assunto, pergunta-se se seria tiam relâmpagos, vozes e trovões, e,
sábio discutir o assunto a esta altura. além disso, João viu sete lâmpadas de
4: 1-3. Exatamente como o livro do fogo, que ele identifica como símbo-
Apocalipse começa com uma referência los dos sete espíritos de Deus. O concei-
ao trono de Deus, e a carta a última das to dos sete espíritos de Deus certamente
sete igrejas termina com uma referência se refere à perfeição e plenitude das
ao trono de Cristo, aqui, a primeira gran- atividades da Terceira Pessoa da Deidade.
de visão profética começa com a decla- 6,7. Diante do trono havia um mar
ração, e eis armado no céu um trono de vidro (cons. Êx, 24: 10), indicando,
(Dn. 7: 9). Um trono é o símbolo do go- ao que parece, de que tudo o que o mar
verno e poder. João tenta registrar uma antes representava - tempestades e on-
visão de Deus semelhante aque foi vista das traiçoeiras, simbólicas da agitação
por Moisés (Êx. 19: 9, 19), por Isaías entre os povos da terra - estava agora
(6: 5), e por Ezequiel (1: 26-28). O vi- subjugado. Outro grupo, quatro seres
dente compara o que viu a três pedras: viventes, é apresentado - um semelhante
jaspe, uma pedra transparente como vi- a um leão, um semelhante a um bezerro,
dro ou cristal de rocha; a sardônica, um com o rosto de homem, e um seme-
vermelha; e a esmeralda, verde. No pei- lhante a uma águia voando (parecidos
toral do sumo sacerdote a primeira e com os de Ez.1:5-14,15-22; 10:20-
a última pedras eram a sardônica e jaspe 22). Swete, com característica concisão,
(Êx. 28: 17,20). Sugeriu-se que estas diz acertadamente, "As quatro formas
pedras representam santidade, ira e mi- sugerem o que há de mais nobre, mais
sericórdia. À volta do trono havia um forte, mais sábio e mais rápido na natu-
arco-íris, o qual fala de graça, ou, como reza animada. A natureza, incluindo o
diz Hengstenberg, "da graça que retoma homem, está representada diante do
depois da ira". trono tomando parte no cumprimento da
4,5. O primeiro grande grupo celes- vontade divina e na adoração da majesta-
tial deste livro está sendo agora apresen- de divina" (H.B. Swete, The Apocalypse
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APOCALIPSE 4: 7-11 - 5: 1-14
-422 -
I, ,I I I I I' 'i I I
APOCALIPSE 5: 14 - 6: 1-11
las trombetas (8: 1). Destes seis selos, a todo o mal que se baseia no bem e
os quatro primeiros formam um grupo; a tudo o que a maldade espiritual con-
o quinto e o sexto ficam à parte. Cada quista emprestando da Fé Cristã" (Tho-
um dos quatro primeiros é apresentado mas F. Torrance, The Apocalypse Today,
por um cavaleiro, donde surgiu a famosa pág.44).
frase, "os quatro cavaleiros do Apoca- Observe que nestas quatro primeiras ce-
lipse". nas não há nomes de indivíduos, humanos
6: 1-8. A identidade do primeiro cava- ou sobre-humanos, nem termos geográ-
lo será em grande parte determinado ficos, nem acontecimentos específicos.
pela identificação dos três seguintes. O Os juízos são, como se vê, de natureza
segundo cavalo com o seu cavaleiro, geral: guerras têm acontecido com fre-
foi-lhe dado tirar a paz da terra, e isto, qüência sobre a terra, e são freqüente-
com as palavras matar e espada, indica mente acompanhadas de pestes e falta
guerra. O terceiro cavalo com o seu ca- de alimentos, se não de fomes. Parece,
valeiro certamente representa falta de então, que é apenas uma fase preliminar
alimento, embora não propriamente uma de juízos mais terríveis que vêm a seguir.
fome. (A moeda romana denarius, era 9-11. A abertura dos quatro primeiros
equivalente ao salário de um dia de ser- selos forma uma unidade. Na abertura do
viço. Uma medida de trigo ou cevada quinto selo temos o que eu chamaria
era a média da porção diária dos traba- de primeiro, verdadeiramente difícil pro-
lhadores.) O quarto cavalo com o seu ca- blema no livro do Apocalipse. Aqui es-
valeiro, mais terrível do que qualquer um tão as almas dos homens que foram mor-
dos outros, leva o nome de Morte. A eles tos por causa da palavra de Deus, e por
foi dada autoridade sobre um quarto causa do testemunho que sustentavam.
da terra, para matar à espada, pela fome, Em outras palavras, os mártires, que
com a mortandade e por meio das feras perguntavam ao Senhor ressuscitado,
da terra. Até quando ... não julgas nem vingas
À luz do significado do segundo, ter- o nosso sangue dos que habitam sobre
ceiro e quarto cavaleiros, parece-nos a terra? A resposta é dupla. Primeiro,
que seria irracional identificar o primeiro cada um recebe uma longa veste branca
cavaleiro com o Senhor Jesus Cristo, (v. 11), símbolo dos atos de justiça dos
que é o cavaleiro sobre o cavalo branco santos (cons. 19: 8), de modo que, mes-
em Apocalipse 19. Quando Cristo vier, mo antes do fim, estes mártires recebem
"conquistando e para conquistar", não de algum modo uma antecipação da
haverá juízos subseqüentes, tais como glória por vir. São informados que de-
o segundo, terceiro e quarto cavalos re- vem permanecer como estão até que
presentam. Swete está certo em dizer também se completasse o número de
do primeiro cavalo que "uma visão do seus conservos e seus irmãos, que ti-
Cristo vitorioso seria inadequada no co- nham de ser mortos. Embora não se diga
meço de nma série que simboliza derra- especificamente em que período de
mamento de sangue, fome, pestilência". tempo estes mártires devem ser colo-
Até mesmo Torrance o disceme, embora cados, o sexto selo certamente fala de
adote um esquema de interpretação es- tremendas aberrações celestiais que ja-
tritamente espiritual: "Pode haver alguma mais tiveram lugar, mas que acontecerão
dúvida de que isto é uma visão do anti- no fim desta dispensação. Conseqüente-
cristo? Parece-se tanto com o Cristo ver- mente, eu acho que são os que sofreram
dadeiro que engana as pessoas, até muitos o martírio nos dias imediatamente pre-
leitores desta passagem! ... Ele se aplica cedentes à Tribulação. Moorehead pode
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APOCALIPSE 6: 11-17 - 7: 1-8
estar certo ao dizer, "Tanto faz o que senta na passagem que está diante de nós,
as pessoas dizem em oposição a este. ar- por ocasião da abertura do sexto selo.
gumento, na verdade eles foram mortos Mas esse tipo de fenômeno ocorre qua-
por ordem destes cavaleiros". O cornen- tro vezes durante o juízo das trombe-
tário de Torrance aqui é excelente: "De- tas, no primeiro, terceiro, quarto e quin-
pois das terríveis calamidades que os po- to (8: 8 - 9: 2). Durante o derrama-
deres do mundo desencadearam sobre mento da quarta taça, parece que o sol
si mesmos, eles tentam negar o fato de será afetado (16: 8), e durante o derra-
que são a causa de todo o mal e comoção, mamento da sétima, grandes pedras
e por isso voltam-se contra o povo de cairão do céu sobre os homens (16:
Deus e descarregam sua raiva contra ele, 17-21).
o bode expiatório" (op. cit., pág.46). Um estudo cuidadoso destas passa-
12-17. Acontecimentos que se re- gens parece revelar que não devemos
velam na abertura do sexto selo devem pensar, com significado profético, em
ser colocados no final desta dispensação. nenhuma aberração celeste fora do co-
Este é talvez o lugar certo para os fenô- mum, antes do período da Tribulação.
menos celestes, tão freqüentemente men- Isto se aplica especialmente aos inventos
cionados nas Escrituras do V.T. e N.T. dos homens, importantes como são; pois
em passagens relacionadas com o fim as manifestações celestiais mencionadas
dos tempos. Com o advento do Sputnik, nas passagens proféticas serão resultantes
um certo número de artigos foi publi- da interferência direta do próprio Deus.
cado sobre este assunto, alguns dos quais Em duas ocasiões no passado, os homens
contêm declarações bastante tolas. O experimentaram juízo divino na forma
assunto dos distúrbios celestes foi apre- de grandes trevas: por ocasião da nona
sentado pela primeira vez por Joel, em praga no Egito (Êx.Tü: 21·23); e duran-
textos que claramente apontam para "o te as últimas três horas de nosso Senhor
dia do Senhor" (1: 15; 2: 1-11,30,31). sobre a cruz (Mt. 27: 45 e paralelos).
Uma passagem de Joel (2: 28-32a) foi
citada por Pedro em seu grande sermão m. Os Juízos das Sete Trombetas.
no dia de Pentecostes (Atos 2: 16-21). 7: 1 - 9: 21.
Até aquele tempo não houve nenhum 7: 1-8. A segunda série de juízos é
distúrbio celeste, o quanto sabemos. muitíssimo mais severa e extensa do que
Essas predições foram reiteradas por aquela que foi apresentada pela abertura
Isaías, também, em relação ao "dia do dos selos. Antes que os sete anjos façam
Senhor" (13: 6-10; 24: 21-23). Nosso soar as sete trombetas, duas grandes mul-
Senhor colocou muita ênfase sobre tidões são apresentadas, uma na terra
este aspecto da escatologia, em parti- (7: 1-8) e outra certamente no céu, em
cular, no Seu Discurso nas Oliveiras (Mt. pé diante do trono e diante do Cordeiro
24:29,31; Mc.13:24-26; Lc.21:11, (7: 9-17). O primeiro grupo está identi-
25). Todas estas declarações referem-se ficado como os 144.000 selados ... de
ao período "depois da tribulação" (Mt. todas as tribos dos filhos de Israel (v. 4).
24: 29), com exceção de Lc. 21 : 11, Não se diz que são mártires. O sinal dá
que dão a entender que haverão alguns a entender que este grupo particular
distúrbios celestes antes mesmo que a será divinamente protegido nas tribula-
Tribulação se estabeleça. Entretanto, ções que estão para se desencadear sobre
é principalmente no Apocalipse que es- a terra.
ses distúrbios foram registrados como Tem havido muita discordância quanto
acontecendo. O primeiro se nos apre- â identidade dessas pessoas, resultando
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1;;1 i i I I' ,I I I
APOCAUPSE 7: 8-17 - 8: 1-6
em quatro interpretações principais da dade no Apocalipse.
passagem. Uma diz que deveriam ser 9-17. A outra multidão é de natu-
consideradas de modo geral como "re- reza universal - certamente não confi-
presentantes de um processo contínuo nada a Israel, mas de todas as tribos e
de preservação sob as provações e afli- povos agora na glória - cantando o gran-
ções de todos os tempos através dos sé- de hino a Deus e ao Cordeiro, junto com
culos até o fim". Nada há no texto que os anjos, os anciãos, e os quatro seres
pareça justificar tal designação indefi- viventes. Estes, João foi informado,
nida desses grupos tribais. Outra opi- são aqueles que vêm da grande tribula-
nião, mais ou menos parecida, identifi- ção, lavaram suas vestiduras, e as al-
ca-as como os cristãos, a Igreja - e são vejaram no sangue do Cordeiro (v. 14).
pessoas de autoridade que o declaram, A grande tribulação não pode ser nenhu-
tais como Bengel, Alford, Lenski, David ma outra a não ser aquela mencionada no
Brown, Milligan, etc. Entre as interpre- Discurso das Oliveiras (Mt. 24: 9, 21, 29).
tações de menos importância encon- Toda a cena é celestial: O Cordeiro é
tra-se a opinião ridícula de Albert Bames apresentado como seu pastor e guia;
de que se refere às dez divisões da Igreja faz-se a promessa de que Ele os guiará
Cristã. Algumas seitas têm procurado até as fontes das águas da vida; e, ante-
se identificar com estes grupos, tais co- cipando à posterior descrição detalhada
mo os jezreelitas de gerações passadas. da Cidade Santa, eles são informados
Finalmente, há a interpretação lite- de que Deus enxugará toda lágrima de
ral, de que é uma profecia relativa aos seus olhos (Ap. 21: 4).
filhos de Israel no final dos tempos. O 8: 1-6. Os juízos das trombetas são
grande mestre profético do século de- revelados nos capítulos 8 e 9, e tal como
zenove, J.H. Todd, resume a sua opinião, aconteceu com os sete selos, os quatro
dizendo: "Restringindo-se estritamente primeiros vão juntos. Antes que uma
ao fato revelado em muitas profecias, trombeta seja tocada por um dos anjos,
isto nos revela que no período mencio- temos declarações referentes às orações
nado na visão, o povo judeu estará exis- dos santos (vs. 3,4). Talvez Todd este-
tindo como nação, e a maioria se encon- ja certo em pensar que podemos deduzir
trará ainda em incredulidade". Este pon- disto "que os juízos preditos nesta pro-
to de vista é defendido por Godet, Faus- fecia serão a conseqüência, de algum mo-
set, Nathaniel West e Weidner. do notável, das orações dos santos cla-
Fausset acrescenta: "Dessas tribos mando a Deus a que complete rapida-
um remanescente crente será preservado mente o número dos Seus eleitos e que
do juízo que destruirá a Confederação apresse a vinda do Seu reino" (op. cit.,
anticristã (JFB). É significativo que a pág.131). Não há nenhuma referência
tribo de Dã seja omitida - para o que aqui à doutrina católico-romana da in-
muitos motivos têm sido apresentados tercessão pelos anjos ou santos. O tro-
- e que Levi seja incluída. "Uma vez vão, as vozes, os relâmpagos e os terremo-
que as cerimônias levíticas foram aban- tos são os precursores simbólicos dos juí-
donadas, Levi encontra-se novamente zos divinos que estão por vir sobre a
em situação de igualdade com seus ir- terra.
mãos" (Albert Bengel, Introduction to Antes de examinarmos os juízos pro-
the Exposition of the Apocalypse, in priamente ditos, fazemos bem em recor-
loco). Em lugar de Efraim, foi usado a dar o significado das trombetas nas Sa-
de José. Esta, na minha opinião, é a gradas Escrituras. Todos estes fenômenos
segunda passagem de especial dificul- (com exceção do terremoto) encontram-
-425 -
APOCALIPSE 8: 6-13 - 9: 1-10
-se na narrativa de Deus descendo ao uma águia voando e gritando pelo meio
Monte Sinai para se encontrar com Moi- do céu, Ai, ai, ai, dos que moram na ter-
s~oií;ie- temos a primeira referência ra. Esta é a primeira vez que a palavra
feita à trombetas na Bíblía (~x.i9: 16). traduzida para ai! aparece no Apocalipse.
O tocar das trombetas convoca os israe- 9: 1,2. Ao juízo da ~!1ta trombeta,
litas a receberem instruções (Nm. 10: 3, que é chamado de o priII1eiro ai! (v. 12),
4) ou dando sinal de partida (Nm. 10: João dedica mais espaço do que a todos
3-7); também os reunia para a guerra os juízos precedentes juntos. Talvez
(Jr. 4: 19; 42: 14, etc.), e também para seja porque, além da identificação exata
o retorno da dispersão (Is. 27: 13); anun- da Babilônia nos capítulos 17 e 18, o sig-
ciava a libertação no ano do jubileu (Lv. nificado dos dois juízos neste capítulo
25: 8-10), e ~~.an\!ncia o juízo. Os apresente o mais difícil de todos os pro-
juízos das tromb.e1as são bastante seI!!e- blemas do Apocalipse. Provavelmente
1!!l!!!!~~_ .~s. pragas que Deus enVÍQ]1ao. a estrela caindo do céu, à qual foi en-
Egito por ocasião da libertação de Israel, tregue a chave do poço do abismo, é,
embora não aconteçam na mesma ordem. como diz Weidner, "um anjo mau, o
7-13. O resultado do tocar da primei- instrumento da execução do propósito
li' ra tromb~a é a consumação pelo fogo divino com referência ao mundo ímpio"
da terça parte da flora da terra. Ao to- (pág. 114; também Alford e outros). O
car a segunda tromh.eJª.' uma terça parte ,3bismo..nªºé o inJemo, mas a habitação
do mar se transformou em sangue, um atual do diabo e seus anjos, incluindo o
terço das criaturas do mar morreram, Hades, onde estão as almas dos mortos
e uma terça parte dos navios foi des- ímpios a espera do último juízo. Tão
truída (cons. a primeira praga, Ex. 7: densa é a fumaça que sobe do abismo
20-24). Com o tocar da terceiratrom- que obscurece o sol e o ar (veja 6: 12;
beta, uma grande estrela, ardendo como 8: 12).
uma tocha, cai sobre os rios e fontes 3-10. Também ~~_a-º.!sI}:!o saem cria-
da terra, transformando-os em absinto turas chamadas gafanhotos (v. 3), com
e causando morte em larga escala. Os grande poder, que recebem permissão
dois primeiros juízos afetaram a nature- de atormentar os homens (embora não
za, e o homem apenas indiretamente, matá-los) por um período de cinco me-
mas a terceira provocou a morte de mui- ses (v. 5). Tão intenso será o sofrimento
j, tos. O tocar da q!m!.tª!~mb~.a provoca dos homens que buscarão a morte em
distúrbios celestes, de modo que a terça vão (v. 6). Os gafanhotos são usados na
parte do sol, lua e estrelas foi ferida, e famosa profecia do livro de Joel como
sua luz diminuída (cons. com a nona símbolo dos exércitos invasores. Em
praga, ~x. 10: 21-23). Este milagroso Jz. 6: 5; J r. 46: 23; etc. os homens fo-
eclipse do sol, da lua e das estrelas foi ram comparados a gafanhotos e nas
predito por Amós como um sinal da.vín- passagens proféticas são símbolo do
da do dia do juízo (Arn~.2; veja tam- juízo divino (Dt. 28: 38,42; Naum 3: 15,
bém Joe12: 2,10). Observe que todos 17; Amós 7: 1-3, etc.). Não é possível
estes quatro juízos relacionam-se com que examinemos aqui cada frase descri-
algum desastre incidindo sobre a natu- tiva, mas podemos chegar a alguma con-
reza. (Weidner, op. cit., tem um exce- clusão sobre o que essas criaturas repre-
lente resumo das diversas interpretações sentam. Eu pessoalmente acho que não
fantásticas desses quatro juízos das trom- poderia ser mais específico do que Milli-
betas, pág. 343-345). Antes dos juízos gan, que disse - e certamente todos
das duas trombetas seguintes, ouve-se concordarão com isto - que o juízo se
-426-
, I
1i·1 i I'
APOCALIPSE 9: 10-21-10: 1-11-11: 1
sobreviere~
refere a "um grande derramamento de retomo a Deus, durante este período, en::)
.:L perversidade espiritual que agravará o so- quanto estes terríveis juízos
frimento do mundo, fazendo-o perceber aos homens.
como a escravatura de Satanás é amarga, IV. A Hora Mais Negra da História
: e ensinando-o que mesmo no meio do pra- Universal. 10: 1-13, 18.
L zer seria melhor morrer do que viver". O Anjo com o Uvrinh9. 10: 1-11.
11. A descrição conclui com a pa- O capítulo dez apresenta um agra-
lavra de que sobre essas criaturas governa dável interlúdio. Outro anjo forte desce
o anjo do abismo, chamado de Abadom do céu tendo um livrinho na mão, e
em hebraico, e em grego de Apoliom, quando João pretende registrar o que
este último com o significado de "des- viu, ouve uma voz dos céus dizendo, guar-
truidor". Na Septuaginta a palavra tem da em segredo as cousas que os sete tro-
este mesmo sentido em J6 26: 2; 28: 22; vões falaram, e não as escrevas (v. 4;
Pv. 15: 11, etc.; outra forma é a palavra cons. Dn. 12: 9). Ao que parece ele ja-
traduzida para "perdição" em Mt. 7: 13 mais chegou a registrá-lo, e portanto
e "destruirá" em 11 Ts. 2: 8. não sabemos o que os trovões disseram.
13-21. O tocar da sexta trombeta es- OJUio enuncia uma declaração famosa
tá identificado com 0- se~;~-;i!--(11: e mais ou menos enigmática - dizendo
14). Somos agora transportados aO uma que já não haverá demora. ou, como diz
área geográfica conhecida nesta terra, o comentário à margem, n.i:o haverá mais
ao rio Eufrates (v. 14), que aqui prova- ~mPQ:.. Swete traduz assim, Não hav-eid
velmente deve ser entendido literalmente. mais nenhum intervalo, nenhuma delon-
Quatro anj()~presos em algum lugar aO ga. Esta declaração, ao lado da que se
longo deste rio são agora soltos, para lhe segue imediatamente, que cump_rir-
que matassem a terça parte dos homens ~-!-_~tão!...2-mis~ºº.~~~eus (v. 7),
(v. 15). Esta terrível destruição será convence-nos de que o propósito des-
realizada através de exércitos de cavala- ta visão, e especialmente destas declara-
ria. Certamente chegamos aqui aos dias ções, é preparar-nos para o derramamento
do começo do Anticristo. Todd disse, final dos juízos divinos, ao aproximar-se
e Weidner e outros concordam, que "de- o final dos tempos, e a destruição dos ini-
vemos provavelmente encarar esta região migos do Cordeiro. O livrinho (v. 8)
como o cenário deste grande juízo, o que João devia comer (cons. Ez. 3: 1-3;
que está em exata conformidade com as SI. 19: 10, 11; Jr.15: 16) nunca foi aber-
inferências às quais somos levados pe- to e por isso sua natureza exata tem de
las profecias de Daniel, onde estes paí- ser assunto controvertido. Mas Düster-
ses na região do Eufrates, uma vez palco dieck está bastante certo, eu acho, quan-
de poderosos impérios, estão destinados do diz que "parece ser uma instrução e
a se tomarem o cenário da última grande interpretação pessoais dadas ao vidente
luta entre os príncipes do mundo e o po- em relação às visões ainda pendentes, que
vo de Deus". deveriam continuar até o final. Quanto
O resultado de tudo isto não será mais crescem em importância os assuntos
uma volta a Deus, ou arrependimento, das profecias que vêm a seguir, mais na-
mas uma insistência teimosa nos pecados tural parece a nova e especial preparação
. que provocaram este juízo, a adoração do profeta" (pág. 308).
de demônios, idolatria, homicídio, feiti- As Duas Testemunhas em Jerusalém.
çarias, fornicação, e roubos. Na verdade, 11: 1-12. O décimo primeiro capítulo
não posso descobrir nenhuma evidência do Apocalipse sempre tem sido para
no Apocalipse de que haverá um grande mim de enorme interesse. A cena cer-
-427 -
APOCALIPSE 11: 1-12
tamente acontece ~I!!..l~D!S..a.1Wl., a qual inimigos, pass,a4os.t!§s dias e meio, Deus
embora chamada espiritualmente Sodoma os levant~' e os chanlã'p~~=ig1ória, e
e Egito (v. 8; cons. Is, 1: 9, 10) é espe- eles sobem para os céus em uma nuvem
cificamente chamada de lugar onde tam- (vs. 11, 12).
bém o seu Senhor foi crucificado. Os A pergunta é, q~.Jã.Q...ç.~s~,duas
acontecimentos aqui registrados ainda testemunhas? As respostas têm sido'
não aconteceram, mas acontecerão lite- muitas-:--U-texto !.1~0 permite de modo
ralmente na "cidade santa" no final dos nenhum, creio eu categoricamente, uma
tempos. interpretação referindo-se a um movi-
1,2. João recebe a ordem de pegar mento, ou, como Langeinsiste, ao estado
uma cana para medir o santuário de cristão e à Igreja Cristã (pois onde en-
Deus, o seu altar, e os que naquele ado- contrar um estado cristão atualmente"),
ram (v. 1), o que certamente imp.~.f!!..~e ou ao V.T. e ao N.T., ou à Palavra e ao
qu~ .!!l!Y.l?~A_~llIIla. espécitl.~e. teglp!o Espírito, ou aos cristãos fiéis, como
em Jerusalém nessa ocasião. Faz-se a crêem Milligan ê Swete. Eu acho que
declãraçãõdê'que--ã'-cid~cie santa será estas testemunhas ~. se!__~0!lside
pisada por quarenta e dois meses (v. 2), radas como indivíduos. Muitos afir-
um período de tempo também encon- mâiri-'queSã()Moisés e Elias (Simcox,
trado em 13; 5, idêntico aos 1.260 dias etc.), outros que são Enoque e Elias
de 11; 3 e 12: 6. Eu o entendo como (Seiss, Lang, Govett). Mas com referên-
sendo a primeira metade do .período. de cia a tais opiniões eu concordo com a
sete anos da nossa dispensação, ocorren- posição de Moorehead: "~extrema
do a Grande tribulação na segunda me- mente improvável que aqueles santos,
tade, quando o Anticristo exercerá poder depois de séculos de bem-aventurança
universal.. no céu, sejam enviados para a terra para
3-12.I)l@!...j:~~m.unhas aparecem a- dar testemunho aos judeus e gentíos",
gora, !l.nYiad~,_pºr '" D~Y$ a profet!z..ªr (op. cit., pág.86). Francamente, acho
nesta cidade, embora não sejamos infor- que nada ganhamos em prolongarmos
mados da natureza de sua, mensagem. debates em relação à identidade delas.
Elas são comparadas às duas oliveiras São duas testemunhas enviadas por Deus
e castiçais (v. 4) descritas em Zacarias e revestidas por Ele de grande poder.
4. Recebem poder sobrenatural, tal Embora o comentário de Govett
como Elias e Moisés (I Reis 17; 1), pa- sobre esses povos, tribos e nações que
ra matar seus inimigos, provocar seca, olham para aqueles corpos mortos (vs.
transformar água em sangue, e ferir a 9,10) fosse escrito em 1864, continua
terra com pragas a seu bel-prazer (vs. 5, digno da nossa atenção: "A palavra
6). Quando elas terminarem a obra de blepo, isto é, olhar para, não indica que
que Deus as encarregou, a besta que sur- as nações simplesmente os verão, mas
ge ~o pelejará contE!.- elas, eas dirigirão seus olhos para esta grande vi-
vencerá, e matará (v. 7). Os ~r'p?s são e arregalarão seus olhos diante dela.
desses dois profetas são colo.cil~nà 'Mas ~o', pergunta-se, 'os h0!I!ens
prasª desta cidade, e hOIIl~~.. ~e toda de toda a terra poderão se regozijar com
à terra yi!~o.._ olhá-los durante três dias a notícia quando apenas um intervalo
e meio, e participarão de um regozijo de três dias e meio se colocará entre a
quase que universal por causa da morte morte e a ressurreição deles? .. ' Não
desses homens que os atormentaram e é perfeitamente concebível se o telé-
que agora, pensam eles, estão destruí- grafo elétrico tiver se expandido com a
dos (vs.8-1O). Para espanto dos seus rapidez dos últimos anos?" (op. cit.)
-428 -
I ,
i, ,j ;
I'
APOCALIPSE 11: 12-19 - 12: 1-5
pág. 243, 246, 247). Atualmente, com ~eino de Deus através de _ç!!§!º-~~!!
a televisão à disposição de todos, pode- .P~~, recebemos um resumo pito-
mos entender melhor esta passagem. resco (v. 18) dos acontecimentos qu~
As palavras de Lenski em relação a vão se suceder: 1) as nações estão ira-
esses inimigos de Deus alegrando-se com das; isto é, haverá uma tentativa de agres-
a morte dos dois profetas (v. 10) pro- são contra Cristo e os Seus; 2) a ira de
vocam especiais cogitações: "O mundo Deus está para se desencadear; 3) os
perverso não pode esquecê-los e simples- mortos serão julgados; 4) os crentes,
mente continua em sua obstinação. Mes- aqui se dividem em três grupos - os
mo quando estão final e completamente profetas, os santos, e os que temem o
silenciados, o mundo obstinado não con- Seu nome, serão recompensados; e 5)
segue deixar de lado seu testemunho di- os destruidores estão para serem des- I
vino. Precisam falar nele, levar toda gen- truídos. A partir disto pode-se concluir"
te a olhar para aqueles lábios que já não com certeza que conforme se aproxima,
falam mais. Aqueles que desprezam a o tempo de Cristo assumir Sua autoridade \
Palavra não conseguem nunca livrar-se real sobre esta terra, o ódio das nações '
dela. Até mesmo o seu regozijo com o da terra contra o povo de Deus vai se
silêncio dela faz com que se ocupem da intensificar, e a oposição ao Evangelho
Palavra" (op. cit., pág. 346). vai aumentar.
~14. Com a !!sce!!.~~ojas duas tes- 11: 19. A maioria dos estudantes con-
t~rnun}1as, Jerusalém experimenta um cordará que 11: 19 deve ser considerado
grande terremoto, resultando na morte, como a introdução ao que está para ser
de sete lllJl pessoas, ao passo que as ou- revelado no capítulo 12. Aqui nova-
tras ficaram sobremodo aterrorizadas, mente, como no começo das passagens
e deram glória ao Deus do céu (v. 13). dos sete selos (4: 5) e das sete trombe-
P~ãO encontramos convicção de pecado tas (8: 5), relâmpagos, vozes, trovões
i neste temor, apenas um sentimento de e um terremoto. O que João vê agora
\ medo que logo passa. no céu - um templo de Deus e a arca
L.. A Sétima Trombeta e a Cena no Céu. da aliança - apresenta um problema
11: 15-18. Tal como na abertura do sé- de interpretação. Esta não poderia ser
timo selo, quando o sétimo anjo faz soar realmente a arca do concerto que este-
a sétima trombeta, nenhum aconteci- ve no meio de Israel durante sua viagem
mento imediato se segue e nenhum juí- pelo deserto (como alguns insistem);
zo imediato é anunciado. Antes, com pois ela já não existia mais no tempo
o soar desta trombeta, temos uma cena de Cristo. A palavra aqui traduzida para
no céu, e faz-se uma das maiores decla- templo (E.R.C.), naos, significa "san-
rações de toda a Bíblia referentes a Cris- tuário" (E.R.A.), a parte interior do
to: "O reino do mundo se tomou de templo. Quando a Cidade Santa des-
nosso Senhor e do seu Cristo, e ele rei- cer do céu, diz-se explicitamente que
nará pelos séculos dos séculos" (v. 15). não haverá templo nela (21: 22).
O mundo inteiro aparece agora sob um A Mulher com o Menino. 12: 1-17.
só poderoso governo universal. l-S. O capítulo 12 apresenta QI.Ú1Q.,
Esta declaração é seguida por um hino p.!2Wema dejdentíâcação - a ~er i
de louvor oferecido pelos vinte e quatro vista no céu ... com dores de parto que
anciãos a Deus Todo-Poderoso. Esta deu à luz, (vs. 1,2). Uma coisa parece
é a única ocasião em que os anciãos certa - que esta ~tia.uça "que há de re-
são descritos prostrando-se diante de ger todas as nações com vara de ferro"
Deus. Com o anunciamento de que o (v. 5) d_eve~.!_º_.~enhor Jesus Cristo
-429 -
APOCALIPSE 12: 5-17 - 13: 1-10
(veja SI. 2: 9; Is. 66: 7; Ap. 19: 15). Mui- 10: 13,21; Judas 9), que parece ser o
tas !~~I!tificações têm sido sugeridas líder da hierarquia angélica. ~ª!ªº-ªs.
para a mulher. No período dos Pais da é }!1!lçado fora dos céus. Talvez seja
, Igreja, Victorino dizia que era "a antiga uma referência a algumas palavras de
igreja dos pais, e profetas, e santos, e nosso Senhor relativamente ã queda de
apóstolos" (Ante-Nicene Fathers, VII, Satanás (Jo.12:31), embora eu esteja
355). Muitos escritores dizem que é convencido de que a cena se desenrola
Israel, de quem Cristo veio; enquanto no final desta dispensação. Observe
'óutro, como Auberlen, Lenski, etc.,
interpretam-na mais compreensivelmente
como o Israel de ambos os Testamentos.
Eu penso que podemos afirmar que seja
Israel. A Igreja Católica Romana, é cla-
_ __
que Satanás não é lançado no abismo,
m~s foi atirado para a terra (Ap. 12: 9),
exatamente
•.. antes
..- ..- .que
-.-o Anticristo as-
suma seu reino t~rriveLe temporário.
10-12. Nenhum detalhe se tôma ne-
ro, insiste que é a Virgem..Maria, mas cessário aqui sobre o subseqüente hino
a Igreja Romana também diz que Maria de regozijo. A ênfase está sobre o poder
deu
â luz sem dores, entrando em con- de Deus e a autoridade de Cristo. Os
'. tradição com este versículo (veja Is. 66: irmãos venceram Satanás por causa do
-7). Diante da mulher está o grande ini- sangue do Cordeiro e por causa da pala-
migo de Deus, o dragão (Ap. 12:4), vra do testemunho que deram (v. 11).
que espera destruir Cristo. Mas fracas- São vitoriosos porque deram um teste-
sará no seu intento. munho fiel até mesmo enfrentando a
6. Eu, pessoalmente, creio como Weid- morte.
ner, Walter Scott e muitos outros, que 13-17. O que foi mencionado em
este versículo é antecipatório e aponta antecipação no versículo 6 está decla-
para o tempo da tribulação de Israel no rado aqui com mais detalhes. O perío-
final dos tempos. Foi colocado aqui do de tempo designado um tempo, tem-
para enfatizar o fato de que Satanás, pos, e metade de um tempo (v. 14), se-
que odeia Cristo, e portanto o Seu po- melhante aos 1.260 dias no versículo
vo, vai perseguir Israel de maneira espe- 6, é o período da mais negra tribulação.
cial conforme o tempo do fim estiver A terra ajudando a mulher (v. 16) pode
se aproximando. representar, como diz Walter Scott, os
7-9. Agora somos introduzidos ao governos da terra tendo amizade com
que Swete designa corretamente de "a os judeus "e providencialmente (como,
suprema tentativa da parte do dragão não sabemos) frustando os esforços da
-<re-desi!Q!iiit.'O'Filho da Mulher, res- serpente" (Exposition oi the Revela-
tabelecendo-se ele próprio na presença tion oi Jesus Christ, in loco). A refe-
de Deus", São vários os termos desig- rência à mulher e sua descendência (v.
nativos de Satanás neste parágrafo (v. 9), 17) faz lembrar a primeira profecia mes-
mais do que em qualquer outra simples siânica (Gn. 3: 15).
passagem da Palavra de Deus: o grande O Aparecimento das Duas Bestas. 13:
dragão, a antiga serpente ... diabo, e 1-18.
Satanás, e - uma das mais terríveis fra- 1-10. Dois governantes terríveis en-
ses nas Escrituras - não algo de que Sa- tram em cena no capítulo 13, um a emer-
tanás se glorie, mas algo que o céu reco- gir do mar, e o outro a emergir da terra.
nhece - sedutor de todo o mundo (ve- O mar aqui indubitavelmente é ''um sím-
ja 11 Tm. 3: 13; IIJo.7). Aqui ele não bolo da superfície agitada da humanidade
é enfrentado por Cristo, mas por Mi- não regenerada, e especialmente da cal-
guel e seus anjos (Ap. 12: 7; veja Dn. deira fervente da vida nacional e social
-430-
li ,I I ,
i
I'
APOCALIPSE 13: 10-18
não tiverem a marca ... da besta, mas dade, ao orgulho e ao egoísmo huma-
não poderão negociar sem esse sinal. nos ... O tempo todo o mal latente no
18. O versículo que conclui este ca- mundo está estabelecendo sua imagem
-431 -
APOCALIPSE 13: 18 - 14: 1-7
e deixando suas impressões sobre as representa o céu uruca referência a
pessoas e mentes e atos dos homens" Sião no Apocalipse. Somos apresenta-
(op. cit., pág. 86-89). dos a um grande grupo de 144.000,
Observe que estes dois governantes com características que os destaca de
mundiais são designados bestas. Nicho- maneira fora do comum: 1) nas suas
las Berdyaev, o filósofo russo, escrevendo testas trazem os nomes do Cordeiro
sobre a bestialidade do homem moderno, e do Pai - o que acontecerá com to-
diz: "O movimento em prol da super-hu- dos os redimidos por toda a eternida-
manidade, do super-homem, e dos po- de (22: 4); 2) só eles são capazes de
deres sobre-humanos, com muita fre- compreender o novo cântico cantado
qüência nada mais são que a bestiali- diante do trono pelos harpistas; 3) não
zação do homem. O moderno anti-hu- se contaminaram com mulheres, pois
manismo toma a forma do bestialismo. são virgens - uma declaração mais tar-
Usa o trágico e infeliz Nietzsche como de examinada neste estudo; 4) seguem
uma espécie superior de justificação o Cordeiro por toda parte; 5) são as
para a desumanização e bestíalízaçao . . . primícias de Deus; 6) são irrepreensí-
Uma crueldade bestial para com o homem veis. Sem dúvida é um grupo selecio-
é a característica de nosso século, e tor- nado de santos de Deus, dos quais nada
na-se mais estarrecedor por se exibir mais sabemos.
no cume do refinamento humano, onde O único verdadeiro problema aqui
os conceitos modernos de simpatia, ao encontra-se no versículo 4. Muitos têm
que parece, tornaram impossíveis as insistido que deve ser entendido literal-
antigas formas bárbaras da crueldade. mente, como afirma Govett, o qual de-
O bestialismo é algo inteiramente dife- dica cinco páginas ao versículo. Em
rente do barbarismo antigo, natural e nenhum lugar das Escrituras a virgin-
sadio; é o barbarismo dentro de uma dade, ou o celibato, é mencionado como
civilização refinada. Aqui os instintos sinônimo de santidade, ou como se tor-
atávicos e bárbaros são filtrados através nasse alguém particularmente apto para
do prisma da civilização e portanto têm o serviço divino. A família é uma ins-
um caráter patológico. O bestialismo tituição divina desde o começo das Es-
é um fenômeno do mundo humano, mas crituras. Portanto, isto deve ter signifi-
já civilizado" (The Fate of Man in the cado simbólico, semelhante ao uso que
Modem World, pág.26-29. Para uma Paulo faz desses termos em 11 Co. 11: 2,
discussão completa deste capítulo, veja 3. O casamento não é desonroso (Hb.
meu livro, This Atomic Age and the 13:4).
Word of God, pág. 193-221). 6,7. Temos agora uma descrição de
três mensagens sucessivas por três dife-
V. Os Juízos das Sete Taças. 14: 1 rentes anjos. O primeiro tem um evan-
-16: 21. gelho eterno, proclamado a todos os
Assim como há os capítulos introdu- habitantes da terra, consistindo da se-
tórios que precedem os juízos apresen- guinte advertência: Temei a Deus e
tados pela abertura dos sete selos e pelo dai-lhe glória; porque é chegada a hora
tocar das sete trombetas, aqui tam- do seu juízo; e adorai aquele que fez o
bém, precedendo a última série dos céu, etc. Concordo plenamente com
juízos, temos um capítulo introdutó- Swete que esta proclamação "não con-
rio. tém referência à esperança cristã; a base
14: 1-5. O capítulo começa com uma do apelo é teísmo puro. É um apelo
cena no monte Sião, o qual sem dúvida à consciência do paganismo inculto,
-432 -
I •
I' ·1 I I
APOCALIPSE 14: 7-20 - 15: 1-8
incapaz ainda de compreender qualquer grafos antecipatórios. Govett resume
outra coisa". Não há aqui nenhuma in- esta passagem corretamente ao dizer,
dicação de que esta mensagem fosse "A semente da Mulher fornece a Co-
aceita ou de que, através dela, alguém lheita, enquanto a semente do Dragão
fosse redimido. fornece a Vindima". Veja também Joe1
8-13. O segundo anjo anuncia a que- 3: 13.
da da Babilônia, a qual é detalhadamente 15: 1-4. O capítulo 15 continua cheio
descrita nos capítulos 17 e 18. O ter- de material introdutório e uma cena
ceiro anjo pronuncia um juízo sobre do céu. Apresenta um dos grandes hi-
todos aqueles que adoraram a besta e nos do livro, cantado desta vez, ao que
a sua imagem, com uma declaração an- parece, por aqueles que triunfaram so-
tecipatória sobre o castigo eterno daque- bre as forças do mal nos últimos dias,
les que usam o sinal da besta. Um sécu- que foram os vencedores da besta, da
lo atrás os Adventistas do Sétimo Dia sua imagem e do número do seu nome
apegaram-se a estes versículos como (v. 2). Este é chamado de cântico de
cumprimento de suas convicções parti- Moisés, servo de Deus, e ... do Cor-
culares em relação à igreja. Eles con- deiro (v. 3; sobre os antecedentes veja
sideraram o primitivo movimento Mille- ~x.14:31; 15; Nm.12:7; Dt.32). "O
rita como uma advertência à igreja de cântico pelo qual Moisés celebrou o li-
que ela era a Babilônia. Por isso, os vramento do Egito está sendo agora
crentes deviam sair da cristandade orga- renovado e recebe o seu final perfeito
nizada - e a mensagem do terceiro anjo quando o povo de Deus está finalmente
se lhe seguiria imediatamente. Os adven- libertado pelo Cordeiro" (Lee). O cân-
tistas insistem que esta é uma promessa tico é um mosaico de material extraí-
de que nos útlimos dias só serão aceitos do de Êxodo, Salmos (86: 9; 111: 2;
por Deus aqueles que guardam os man- 145: 17), e de Isaías (2:2-4; 66:23,
damentos de Deus e a fé em Jesus (v. 12), etc.),
e que isto é "um chamado a que os ho- 5-8. João diz que viu no céu o san-
mens honrem o verdadeiro sábado de tuário do tabernáculo do testemunho
Deus, o sétimo dia do Decálogo" (Fran- ... no céu (v. 5). Esta é a última vez
cis D. Nichol: The Midnight Oy, pág. que a palavra aparece traduzida para
462). Por que eles particularizam o man- santuário neste livro (cons. 11: 19).
damento referente ao sétimo dia, nem Desse santíssimo lugar saíram cinco an-
sequer levemente aludido aqui, e não jos, com as sete pragas que estão para
incorporam neste esquema os outros serem derramadas sobre a terra, taças ...
nove do Decálogo, eu não sei. cheias da cólera de Deus (v. 7). Exa-
14-20. O capítulo conclui com duas tamente antes desta série ter início, so-
cenas que só podem acontecer no fim mos informados de que o santuário es-
dos tempos. A primeira (vs. 14-16) re- tá cheio de fumaça, procedente da gló-
presenta uma colheita de almas e ao que ria de Deus e do seu poder (v. 8), o que
parece um ajuntamento dos redimidos, !lOS faz lembrar a inacessibilidade di-
ao qual nosso Senhor se refere em Mt. vina no Sinai (~x. 19: 21), e a visão de
13:30,39; 24:30,31. Tem havido Isaías (6: 4,5). John Albert Bengel, o
alguma discordância sobre estas duas grande exegeta do século passado, co-
cenas, mas parece-me que a segunda, mentou esta passagem: "Quando Deus
que é uma vindima e não uma colhei- derrama Sua fúria seria bom que até
ta, deve descrever o ajuntamento dos mesmo aqueles que estão em paz com
incrédulos e ímpios da terra. São pará- Ele se afastem um pouco, em atitude
-433 -
APOCALIPSE 15: 8 - 16: 1-16
de profunda reverência até que pouco gedom (v. 16), para a peleja do grande
a pouco o céu se desanuvie novamente" dia do Deus Todo-poderoso (v. 14).
(Introduction to the Exposttton o[ the Este é o único lugar em que o Armage-
Apocalypse, in loco). dom é nominalmente mencionado no
livro do Apocalipse. A batalha propria-
16: 1,2. Estamos agora prontos a
mente dita é descrita na última parte
examinar as sete taças da ira de Deus.
do capítulo 19. Moorehead escreveu,
A primeira, comparável à sexta praga
antes mesmo da Primeira Grande Guerra
do Egito, resultou no tormento dos ho-
e o despertamento atual da Ásia, que
mens que tinham o sinal da besta com
"as grandes hordas da Ásia serão en-
úlceras malignas e perniciosas, não es-
volvidas na batalha decisiva e esmaga-
pecificamente identificada. Quando a
dora do grande dia de Deus". O Extre-
segunda taça foi derramada (cons. com
mo Oriente tem tido profundo signifi-
a primeira praga do Egito), o mar toma
cado para a civilização Ocidental apenas
a aparência de sangue como de um mor-
neste último século, e o mesmo aconte-
to, e toda a vida que há nele morre (v.
ce com o Oriente Próximo desde o tér-
3). Weidner dirige a atenção para a se-
mino das Cruzadas. Que enorme dife-
melhança e diferença entre esta praga
rença entre a poderosa China de hoje,
e a da segunda trombeta (8: 8,9): "Os
em seu regime comunista e ateu, e o
juízos de Deus vão se tomando cada
império comparavelmente fraco que co-
vez mais terríveis conforme a maldade
nhecemos no começo deste século! O
aumenta e o fim se aproxima".
secamento do rio Eufrates (v. 12), pre-
4-11. A terceira taça da ira tam- parando caminho para a chegada des-
bém afeta os rios e as fontes das águas, tes exércitos do Oriente, pode ser tomado
levando o anjo das águas a reconhecer simbolicamente ou não; mas certamente
a justiça e a santidade de Deus, e a não pode se referir ao enfraquecimento
justificação de tais terríveis manifes- do Império Otomano, nem ao rio Missis-
tações da justiça divina (vs.5,6). A sipe, como pretendem alguns. Hengsten-
quarta taça, envolvendo o sol, aumen- berg comentou acertadamente: "O Eu-
ta de algum modo a intensidade do ca- frates foi mencionado aqui, apenas no que
lor que a terra recebe do sol; e os homens se refere ao impedimento que represen-
foram queimados com ele, o que resul- ta para a marcha do poder ímpio do
tou em blasfêmias contra Deus (vs.8, mundo na direção da Terra Santa". Es-
9). A quinta taça da ira é semelhante ses reis não são judeus vindo à Palestina
ao juízo da quarta trombeta e à nona em busca de bênçãos mas reis pagãos
praga do Egito, em sua manifestação de vindo a Megido para a batalha. Esta
trevas, exceto que nesta ocasião é o reino passagem abrange uma das mais terrí-
da besta que é coberto pelas trevas (vs. veis declarações da Bíblia, isto é, que
10, 11). Deus está agora começando a espíritos imundos (v. 13), espíritos de
atingir o trono do Seu grande inimigo, demônios operando milagres, irão ao
que tem sido a causa vital do engano encontro dos reis do mundo inteiro,
dos homens, seus crimes horríveis e o com o fim de ajuntá-los para a peleja
seu ódio contra Deus. (v. 14). Isto pode significar nada mais
12-16. No derramamento da sexta que no final dos tempos os governantes
taça sobre o rio Eufrates, João vê os reis da terra serão endemoninhados. E so-
que vêm do lado do nascimento do sol mos quase compelidos a crer, pelos acon-
impelidos, como foram, pelo poder sa- tecimentos dos últimos quarenta anos,
tânico a que marchassem para o Arma- que alguns governantes já têm sido pos-
-434-
h ,I I I I
I' " -I I I
APOCALIPSE 16: 17-21
suídos por demônios. citadas aqui, Babilônia e a grande cida-
17-21. Embora o sétimo selo não de, sendo esta última, de acordo com
venha logo após a abertura do sexto, Milligan, Simcox, Weidner e muitos
e o tocar da sétima trombeta ficasse outros, a própria Jerusalém.
adiada por algum tempo, neste capí- Alguns comentadores têm defendido
tulo o derramamento da sétima taça que estas três sucessivas séries setená-
segue-se imediatamente ao derramamen- rias de três juízos são a recapitulação
to da sexta. Aqui a ira de Deus está dos mesmos eventos. Isto é, as trom-
dirigida contra o ar, e a declaração do betas recapitulam o que os selos ante-
juízo se segue, como os outros, por riormente apresentaram, mas com maior
relâmpagos, e vozes, e trovões, e ocor- intensidade; e as taças recapitulam os
reu grande terremoto (vs. 18, 19). Não mesmos acontecimentos, caracterizando-
posso deixar de pensar que o ar aqui -os com ainda maior severidade. Eu
tem o mesmo significado que na frase não tenho conseguido aceitar esta opi-
de Paulo referindo-se ao "príncipe das nião. O motivo é que a seqüência de
potestades do ar" (Ef. 2: 2). (Para dis- cada série é completamente diferente,
cussão mais detalhada do assunto, ve- e só isto, ao que parece, toma o con-
ja meu livro, This Atomic Age and the ceito da recapitulação impossível. No
Word of God, pág. 222-248). Os dis- quadro abaixo apresento a seqüência
túrbios nos ares culminam com a queda das séries dos juízos, usando o juízo das
de grandes pedras de gelo (Ap. 16: 21), taças por guia. Abaixo da linha, sob
pesando cerca de um talento cada (vin- as trombetas e os selos, encontram-se
te e seis ou quarenta e quatro quilos); os fenômenos que não aparecem nos
e outra vez os homens blasfemaram con- juízos das taças. Nenhum esforço foi
tra Deus. A declaração de que nesta feito para colocar os ítens abaixo da
ocasião caíram as cidades das nações linha em alguma ordem cronológica,
(v. 19), ou, como alguns traduzem, as nem mesmo o de fazer um paralelo
cidades dos gentios, pode ser, como entre os selos e as trombetas; antes,
Weidner sugere, uma referência a Mq. foram colocados em posições opostas
5: 10-15. Duas outras cidades foram para economizar espaço.
Pragas do
Taças Trombetas Selos Egito, Êx.
Número do Juízo capo 16 cap.8/9 cap.6 7-10, 12: 29-33.
-435 -
APOCALIPSE 17: 1-12
-436 -
1';1 , I , I' ~. I
APOCALIPSE 17: 12-18 -18: 1-24 -19: 1·2
falsa, e assim exerce uma influência muito mais a Londres do que a Roma,
maligna em nome da religião. em qualquer período de sua história"
13-18. Agora, os reis da terra, tendo (pág.7l8). Uma coisa não se pode ne-
uma só mente, confederados, conceden- gar: o barrento rio Tigre, que corre atra-
do sua autoridade a este grande inimigo vés da cidade de Roma, não poderia
de Deus, a besta, saem para fazer guer- transportar o enorme tráfego maríti-
ra contra o Cordeiro (vs. 13, 14). Quan- mo descrito no capítulo 18; mais ainda,
do esta hora chegar, a besta, com o po- Roma pagã jamais foi famosa como cen-
der dos reis da terra, vira-se contra a tro de câmbio ou venda de mercadorias.
prostituta, sua força pseudo-espiritual, Alguns têm defendido que esta profecia
e a destrói (v. 16). A declaração do ver- só poderá ser cumprida quando a cidade
sículo 17 é muito confortadora - "Deus de Babilônia for restaurada. A "Scofield
tem posto em seus corações, que cum- Bible" repudia isto especificamente, mas
pram o seu intento, e tenham uma mes- muitos dos seus editores crêem pessoal-
ma idéia ... até que se cumpram as mente que isto é verdade, tais como
palavras de Deus". Gray e Moorehead; também Seiss, Go-
O capítulo 18 parece ter uma defi- vett, Pember, G.R. Lang e muitos outros.
nição geográfica, a qual não encontra- Aqueles que adotam a interpretação
mos no capítulo 17. Aqui nós temos eclesiástica, como já observamos, acham
a declaração que a Babilônia se tomou que Babilônia representa o papado, e
morada de demônios, covil de toda espé- grande é o apoio que tem sua opinião.
cie de espírito imundo (v. 2). A maior Entretanto, eu acho que aqui tem mais
parte do capítulo está ocupada com a coisas implicadas do que o papado so-
descrição da riqueza da cidade, a mer- mente. Esta é a Cristandade apóstata,
cadoria trazida para ser vendida, a tris- uma religião mundana que traiu o Cris-
teza dos mercadores que enriqueceram tianismo e está entrelaçada com os go-
com o seu comércio, quando olham pa- vernos pagãos e ímpios do mundo. Mui-
ra a cidade agora desolada pelo fogo. tos crêem - e eu concordo - que há
Nos versículos 4-8 anuncia-se o juízo; de vir o dia quando a própria Igreja Ro-
nos versículos 9-20 temos a lamentação mana, de alguma maneira misteriosa,
dos reis da terra; e em 21-24 conta-se vai assumir um compromisso com o Co-
o destino final da Babilônia. munismo ateu. (Uma pesquisa sobre
Agora temos de retomar ao proble- este assunto encontra-se em The Anti-
ma da interpretação. Alguns insistem christ, Babylon, and the Coming of the
aqui em uma identificação geográfica. Kingdom, de G.R. Pember, 1886).
Aqueles que adotaram o esquema histó- A Batalha do Armagedom. 19: 1-21.
rico de interpretação fazem Babilônia 19: 1-8. Enquanto o capítulo 19 des-
se referir geralmente â Roma pagã. te livro recebe generalizadamente o tí-
Alguns, tais como Weidner, Kiddle, etc., tulo, "A Batalha do Armagedom", na
têm afirmado que Babilônia aqui deve verdade a primeira metade do capítulo
significar Jerusalém, mas isto parece se ocupa com uma cena no céu, onde
ser inteiramente impossível. Tenho temos os três últimos hinos do Apoca-
lido livros que defendem que esta cida- lipse. Primeiro, uma grande multidão
de é Londres ou Paris. Até Alford dis- se ouve cantando, Aleluia! A salvação,
se uma vez, embora admitisse que sentia e a glória, e o poder, por causa do juí-
que a dificuldade continuava "sem so- zo sobre a grande prostituta que foi
lução", que "certamente os detalhes fmalmente executado (vs. 1,2). Aleluia
desta lamentação comercial aplicam-se foi extraído diretamente do hebraico
-437 -
APOCALIPSE 19: 2·16
te de Deus, também gritando Amém, disse: "O meu juízo é justo, porque
Aleluia (v. 4). não busco a minha vontade, mas a von-
Finalmente, João ouve vozes, as quais tade do Pai que me enviou" (Jo. 5: 30).
ele não identifica especificamente (v. 6), A descrição de Cristo aqui (Ap. 19:
cantando o último dos cânticos, come- 12,13), com olhos de chama de fogo
çando com Aleluia, desta vez não por e um manto tinto de sangue, leva-nos
causa do julgamento da Babilônia, mas de volta ao começo do livro (1: 14; 2:
por causa das bodas do Cordeiro, cuja 18). A frase, tinto de sangue, foi ex-
esposa a si mesma já se ataviou (vs. 6-8). traída de Is. 63: 3.
Com isto, João recebe ordem de anotar Agora Cristo recebe um grande tí-
a última bem-aventurança deste livro, tulo, o Verbo de Deus (Ap. 19: 13).
na qual anuncia-se que a ceia das bodas Como a Palavra de Deus, Ele fez os
do Cordeiro está para se realizar (v. 7). mundos. Foi pela rejeição da Palavra
O relacionamento de Deus e Cristo com que o pecado entrou no mundo. Pela
os redimidos conforme expresso em ter- Palavra de Deus, a salvação foi ofere-
mos de casamento é freqüentemente cida aos homens. O pecado e a anar-
encontrado em ambos os Testamentos quia, impiedade e rebelião, são de uma
(Os. 2: 19-21; Ez. 16: 1 e segs.; SI. 45; forma ou de outra o repúdio da Palavra
Mc.2:19; lCo.6:15-17; Ef.5:25-27). de Deus. Essa Palavra, Eterna e Onipo-
As vestes da noiva são notavelmente tente, desce agora do céu para cumprir
diferentes das vestes da grande pros- a profecia, para destruir os inimigos de
tituta, pois a santa noiva só usa linho Deus, para revelar ao universo, de uma
puro e resplandescente (Ap. 19: 8), sím- vez para sempre, a tolice de se resistir
bolo dos atos de justiça dos santos. Tu- a Cristo e a indiscutível preeminência
do o que o N.T. fala em se tratando de do Rei dos Reis, e Senhor dos Senhores
Cristo como o esposo e a Igreja como (v. 16). Somos agora introduzidos em
a esposa, agora está consumado. uma cena terrena na qual os reis da
11·16. Este parágrafo sempre me pa- terra desempenham papel proeminente.
receu esmagadoramente glorioso demais Como é estranha e trágica esta situa-
para uma exposição. Vê-se agora Cristo ção que descortinamos agora, na qual
cavalgando um cavalo branco, descendo parece que os governantes do mundo
dos céus para "julgar e pelejar". Aqui inteiro se unem em um terrível esfor-
Ele recebe o título de Fiel e Verdadeiro, ço de destruir o ungido de Deus. Como
o qual Lhe foi conferido no começo des- isto contraria os sonhos da humanidade,
te livro (1: 5; 3: 7,14). A frase, com as tolas declarações dos seus falsos pro-
justiça, é importante. Juízo, em toda fetas, e de sua injustificada crença de que
a Bíblia, está sempre identificado com a sociedade humana está sempre progre-
justiça. Esta foi exatamente a frase dindo nos setores da paz, da bondade,
usada pelo Apóstolo Paulo em Atos 17: da camaradagem e bem-estar social.
31. Na verdade, esta é a palavra usada Veremos o cumprimento do Salmo 2.
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17-21. Não posso deixar de crer que rotas - sobre ela o pânico desceu mis-
esta batalha se realizará literalmente, teriosamente sobre os exércitos mais
e por isso exige atenção cuidadosa, ainda bem equipados e mais capazes, mas
que rápida. A planície de Megido, em os humildes obtiveram a vitória na hora
outro lugar chamada de planície de Jez- de sua fraqueza - sobre ela falsas re-
reel, ou Esdrelom, ficou famosa na his- ligiões, como também os falsos defen-
tória de Israel, por suas derrotas e vitó- sores da verdadeira fé, têm sido des-
rias. Aqui se deu a vitória de Baraque mascarados e dispersos - sobre ela,
sobre os cananeus, quando os próprios desde o tempo de Saul, a obstinação e
astros lutaram contra Sísera (Jz. 4: 5); a superstição, embora amparadas por
a vitória de Gideão contra os midianitas todas as qualidades humanas, foram re-
(Jz.7); e do mesmo modo a derrota e duzidas a nada, e desde o tempo de Josias
morte do Rei Saul e seus três filhos sob a mais pura piedade não tem sido subs-
as mãos dos filisteus (I Sm. 4). Aqui tituída por zelo impetuoso e equívoco"
aconteceu a grande tragédia da derrota (Historieal Geography of the Holy Land,
e morte do Rei Josias sob as mãos dos pág.409).
egípcios (11 Reis 23: 29, 30). Mais tarde Profecias que provavelmente se refe-
na história, as cruzadas foram aqui der- rem a esta batalha futura são encontra-
rotadas, na batalha de Horns de Hattin, das desde 800 A.C. (JoeI3:9-15; veja
em 1187 A.D. Aqui o General Allem- também Jr. 51: 27-36; Sf. 3: 8; e Ap.
by, em 1917, obteve a grande vitória 14: 14-20; 16: 13-16; 17: 14).
sobre os turcos, pelo que foi honrado A batalha termina quase que ime-
mais tarde com o título de Lord Allem- diatamente após ter começado. Dois
by de Megido. Esta grande planície, grandes inimigos de Deus são presos,
com cerca de doze milhas de largura, a besta e o falso profeta (cuja obra foi
situada no meio da Palestina, vai das destacada no capítulo 13), e são lan-
praias do Mediterrâneo até o Vale do çados vivos dentro do lago do fogo que
Jordão. Nesta planície, diz uma grande arde com enxofre (v. 20). (para um
autoridade, tivemos "a primeira batalha exame mais detalhado sobre este as-
da história na qual podemos estudar, sunto consulte: George Adam Smith,
sob todos os ângulos, a disposição das op. cit., págs. 379-410; William Miller,
tropas, e assim, ela forma o ponto de The Least of All Lands, 1888, págs. 152-
partida para a história da ciência mili- 212; e artigos em várias enciclopédias;
tar". Esta batalha se deu em maio de como também minha obra, World Cri-
1479 A.C., entre as forças sírias e egíp- ses in the Light of Prophetie Scriptures,
cias sob o comando de Tutmoses 111 págs.96-119).
(veja Harold H. Nelson, The Battle of A palavra Annagedom faz parte hoje
Megido, págs. 1,63). da língua inglesa, e está corretamente
Sobre este campo de batalha, Geor- definida no Oxford English Dietionary
ge Adam Smith escreveu certa vez: "Que como "o lugar da última batalha de-
planície! Sobre ela, não só os maiores cisiva". Swete, escrevendo antes da
impérios, raças e religiões do Oriente e do Primeira Grande Guerra, disse acerta-
Ocidente, têm contendido uns contra os damente, "aqueles que observam as
outros, mas cada qual tem sido julgado têndências da civilização moderna não
- sobre ela, desde o princípio, com todo acharão impossível imaginar que virá
o seu esplendor de batalha humana, os um tempo quando através de toda a Cris-
homens sentiram que lutavam contra tandade, o espírito do Anticristo irá,
o céu e, que as estrelas lutavam em suas com o apoio do Estado, tomar firme
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APOCALIPSE 20: 1-6
posição contra o Cristianismo leal à nas uma condição espiritual dos redi-
pessoa e ensinamentos de Cristo". midos e que não deve receber nenhuma
interpretação cronológica, sendo a idéia
vn. O Milênio; o Juízo Final; a No- do mil simbólica de plenitude e intei-
va Jerusalém e a Eternidade. 20: 1 - 22: reza. 2) Alguns defendem a estranha
50. opinião de que o Milênio já aconteceu,
O Milênio. 20: 1-6. Aproximamo-nos muitos assinalando o seu começo na
agora de uma das passagens mais discu- conversão de Constantino. Mas se o
tidas da Palavra de Deus. Através dos período chamado Idade das Trevas po-
séculos esta passagem tem sido geral- de ser chamado de Milênio, então as
mente aceita como determinando um profecias bíblicas referentes a tal perío-
período milenial durante o qual Cristo do jamais se cumprirão. 3) Alguns di-
reinará nesta terra. Todos nós concor- zem que já nos encontramos no Milê-
daríamos com C.l. Vaughan quando ele nio, mas insistimos novamente que se
diz: "Jamais precisamos mais da ajuda este século acossado pela guerra, de
de Deus do que ao penetrarmos na in- anarquia e Comunismo ateu, é o Milê-
terpretação deste capítulo que ora se nio, então as esperanças criadas pela
nos apresenta". Só nesta passagem das Palavra de Deus para esta terra devem
Escrituras temos a frase, "os mil anos", ser abandonadas. 4) Finalmente, mui-
fator cronológico mencionado seis ve- tos crêem que é uma profecia real de
zes em seis versículos. A palavra milê- um período de mil anos, seguindo-se
nio (millennium) é uma palavra latina ao Armagedom, quando Cristo reinará
composta de mil/e, "mil", e annum, sobre a terra como o Rei dos reis. A
"ano"; assim, mil anos, seja o que for igreja primitiva era unânime na defesa
que esta passagem particular das Es- deste ponto de vista. Charles (op. cit.,)
crituras quer dizer. A passagem começa que não aceita o Milênio sob nenhum
informando-nos que durante este tempo aspecto, admite contudo que "a profe-
Satanás será lançado no abismo, onde cia do milênio no capítulo 20 deve ser
permanecerá amarrado por mil anos. aceita literalmente".
Este abismo não é o inferno. Parece Encontramos uma declaração famosa
que Satanás não tem poder de resistir sobre esta passagem no New Testament
a este ato do anjo que o amarra. João for English Readers de Alford que tem
vê agora uma multidão dos que não sido citada em muitas obras posteriores,
adoraram a besta, assentados sobre tro- mas sinto-me compelido a citá-la no-
nos, e reinando com Cristo por mil anos. vamente: "Há muito que já foi perce-
Este hão é o lugar apropriado para dis- bido pelos leitores deste Comentário,
cutirmos o Milênio. O que nos parece que eu não posso consentir na distorção
claro, no entanto, é que o V.T., muitas de palavras do seu sentido simples e da
e muitas vezes, refere-se a um tempo sua colocação cronológica na profecia,
grande e glorioso no futuro quando a por causa de qualquer dificuldade ou
paz prevalecerá sobre a terra, quando risco de abuso que a doutrina do milê-
o Messias reinará com justiça, e quando nio possa provocar. Aqueles que vive-
a natureza será restaurada à sua beleza ram perto da época dos apóstolos, e toda
original (veja, por exemplo, Is. 9: 6, 7; a Igreja durante 300 anos, aceitaram-nas
11: 1; 30: 15-33; também capo 35; 44; em seu sentido simples e natural; e é
e 49; 65: 17- 66: 14, Jr. 23: 5, 6, etc.). coisa estranha ver, atualmente, exposi-
Há quatro opiniões com referência tores que estão entre os primeiros no
ao Milênio. 1) Alguns dizem que é ape- respeito à antigüidade, deixando de lado
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I; ,I , I ,
I' " 'I II
APOCALIPSE 20: 6·14
complacentemente o mais irrefutável a destruição dos inimigos de Deus, Sa-
exemplo de consenso que a antigüidade tanás é amarrado e lançado no inferno,
primitiva apresenta. No que se refere onde permanecera para sempre. A bes-
ao texto propriamente dito, nenhum ta e o falso profeta já foram confinados
tratamento legítimo extorquirá o que a este lugar de horrível destino.
é conhecido como a interpretação espi- Muitas vezes se faz a pergunta, "Por
ritual atualmente em moda". que esta última rebelião depois do be-
Muita discussão tem surgido por néfico reino milenial de Cristo?" Por
causa da curta frase, Esta é a primeira um só motivo, revelar que mil anos de
ressurreição (Ap. 20: 5). A teoria de que prisão não altera o caráter mau do mal.
a primeira ressurreição se refere conver-
â Mais ainda, os homens não regenerados
são, uma passagem da morte para a vida, não mudam, e embora toda a terra es-
isto é, uma ressurreição espiritual, parece teja sob o governo de Cristo, grandes
completamente fora de propósito em multidões Lhe obedecem por medo e não
uma passagem como esta. A segunda por amor.
ressurreição, embora não seja assim O Juízo Final. 20: 11·14. Mais um
chamaáa, certamente é aquela que se
â grande acontecimento universal deve
referem os versículos 11-15 deste mes- ter lugar antes que haja paz e justiça
mo capítulo. Não é necessário limitar eternas, a saber, o juízo dos mortos im-
aqueles que participaram da primeira penitentes. Isto está apresentado no
ressurreição aos grupos enumerados no último parágrafo deste capítulo crono-
versículo 4. A primeira ressurreição po- logicamente tão apinhado. Um dia de
de facilmente ser aceita em estágios - julgamento, por vezes chamado de "O
os mortos em Cristo, depois nós os que Último Dia", foi mais mencionado por
estamos vivos, e então, após um breve nosso Senhor do que por todos os após-
intervalo, os mártires e fiéis do período tolos e suas obras juntas (veja Mt. 10:
da Tribulação. 15; 11:22,24; 12:36; Jo.5:28,29;
7-10. No final do Milênio, temos a 6:39·54; 11:24; Hb.9:27; 10:27).
inserção de um episódio estranho, cuja Em todas as passagens Cristo é iden-
fonte só pode ser de inspiração divina, tificado como o juiz (veja Atos 17: 31;
isto é, que Satanás será solto de sua Jo. 5: 22·27; 11 Tm. 4: 1; especialmente).
prisão, e sairá novamente a enganar O Bispo Gore falou em nome de toda a
as nações, reunindo-as para a guerra Igreja quando disse: "Parece-me que ca-
(vs. 7, 8) e um ataque contra o acam- da crente no Deus dos profetas, e de
pamento dos santos e a cidade querida nosso Senhor, deve crer com eles em
(v. 9). Isto provavelmente se refere â um Dia de Deus, que provocará o clí-
cidade terrestre de Jerusalém, embora max da presente dispensação da história
alguns a tenham feito se referir â Ci- humana" (Belief in Christ, pág. 149).
dade Santa, o que nos parece ser mais Da justiça feita ao crime, exercida
irracional. Scott tem uma opinião in- pelo Estado, milhares escapam todos
teressante a respeito: "Nenhuma men- os anos; na verdade, muitos crimes
ção se faz de como Cristo e o Seu povo nem chegam a ser conhecidos pelas
enfrentará esta última tentativa louca autoridades. Mas ninguém poderá es-
de Satanás. Tudo é silêncio no arraial capar a este julgamento. Os mortos
e na cidade. As nações apóstatas mar- serão chamados de suas sepulturas, e
charão para os braços da morte. Seu do mar, e do próprio Hades (v. 13);
julgamento é súbito, rápido, esmaga- e aqueles cujos nomes não foram en-
dor e final (op. cit., pág.388). Com contrados no Livro da Vida serão lan-
-441-
APOCALIPSE 20: 14-15 - 21: 1-2
çados no lago de fogo, que é a segunda bolos pode ser o simples fato de que não
morte (v. 14). O registro de cada vida há outro meio de criar em nossas mentes
humana nesta imensa assembléia será qualquer justo conceito de realidade"
então exibido. A própria morte, ao que (op. cit., pág. 369).
parece, não será abolida até que o Gran-
de Trono Branco seja estabelecido, e o A Origem e Natureza da Cidade. 21:
destino humano seja resolvido. Se cre- 1-8.
mos e aceitamos com alegria as promes- 1. Esta famosa descrição, igual à qual
sas da glória eterna que se encontram não se encontra em nenhuma outra li-
neste livro, temos também de crer com teratura do mundo antigo, começa com
igual convicção que este destino terrf- a declaração de João de que ele viu um
vel dos mortos não arrependidos é igual- novo céu, e uma nova terra. São duas
mente verdadeiro. (para um comentá- as palavras gregas traduzidas para novo
rio sobre toda a questão do juízo, veja no N.T., neos e a que foi usada aqui,
meu livro, Therefore Stand, na seção kainos, sugerindo "vida nova brotando
intitulada, "Um Justo Juízo por Vir", do velho mundo corrupto e destroça-
págs. 438-466). do" (Swete). Portanto, esta passagem
não ensina que os céus e a terra estão
A Santa Cidade. 21: 1 - 22: 5. sendo agora criados como da primeira
Chegamos agora à revelação final vez, mas que possuem um novo caráter.
que nos é dada nas Sagradas Escritu- (para outros usos da palavra veja Mt.
ras, um clímax glorioso para tudo quan- 27: 60; 11 Co. 5: 17, etc., e algumas
to Deus inspirou os homens a escreve- excelentes observações sobre estas duas
rem para a edificação do Seu povo palavras gregas em Synonyms of the
através dos séculos. Nesta passagem pas- New Testament, de R.C. Trench, págs,
samos do tempo para a eternidade. O 219-225).
pecado, a morte e todas as forças an- Quanto à declaração de que não exis-
tagônicas a Deus foram para sempre ani- tirá mais o mar, ninguém interpretou
quiladas. Muitos estudantes da Palavra esta afirmação de maneira mais sensa-
estão convencidos de que aquilo que ta do que o próprio Swete: "O mar
temos nesta última seção (não me re- pertencia à ordem do que já passou.
firo aqui ao epílogo) é uma descrição Desapareceu porque, na mente do es-
do lar eterno dos redimidos em Cristo. critor, está associado com idéias que
É provável que não se identifique com discordam com o caráter da Nova Cria-
o céu, mas certamente deve ser o que ção. Pois esse elemento de inquietação,
as Escrituras apontaram antecipadamen- esta causa frutífera de destruição e mor-
te - a Cidade de Deus, a Nova Jerusalém, te, este divisor de nações e igrejas, não
a Sião que é de cima. Ninguém deve teria mais lugar em um mundo de vida
ser dogmático aqui quanto ao que deve sem morte e paz ininterrupta".
ser interpretado simbolicamente e o que 2. Agora João descortina a cidade
deve ser aceito literalmente. Diferentes santa ... que descia do céu, da parte
mestres, com igual devoção à divina au- de Deus. Tal como a Jerusalém de anti-
toridade das Escrituras, têm diferentes gamente era chamada "a cidade santa",
opiniões quanto a hermenêutica desta a nova Jerusalém também foi assim de-
grande passagem. Até mesmo Lang, signada; só que desta vez a palavra des-
normalmente um literalista, insiste sobre creve realmente o verdadeiro caráter
o forte simbolismo da passagem e decla- da habitação dos redimidos. A santi-
ra que "o motivo do emprego dos sfrn- dade, grande atributo divino, tem sido
-442-
li ,I i I , I' .; ·1 I I
APOCALIPSE 21: 2-4
-443 -
APOCALIPSE 21 : 4-21
Verbo se fez came, e habitou entre nós, cias. Lang chama a atenção para a frase,
e vimos a sua glória, como a glória do "sua parte", comentando que "o cora-
unigênito do Pai, cheio de graça e de ção pode desejar que a visão termine
verdade" (Jo. 1: 14). Desta vez o ta- nas radiosas alturas, mas, em vez disso,
bernáculo permanece; desta vez não ela mergulha nas profundezas".
haverá separação entre Deus e o Seu
povo, um fato que parece que vai ser Uma Descrição da Cidade Santa. 21:
imediatamente introduzido (Ap. 21 : 3). 9·23.
Aqui, também, está a certeza da elimi- 12-21. A Cidade tem doze portas,
nação dos cinco aspectos trágicos da com o nome de uma das doze tribos
vida humana: lágrimas, morte, pranto, de Israel em cada uma delas, sendo ca-
clamor e dor (v. 4). A Bfblia não nega da porta guardada por um anjo. A pa-
a realidade da dor e da morte, mas rede repousa sobre doze fundamentos,
nos dá a certeza de que virá o dia, pela o que parece indicar doze seções nos
graça de Deus, quando, para o crente, alicerces, e sobre cada uma delas o no-
essas coisas não existirão mais. me de um dos doze apóstolos. O com-
5. Alguns têm sugerido que neste primento, largura e altura da cidade é
versículo, pela primeira vez no Apoca- de doze mil estádios ou seja, cerca de
lipse, quem fala é o próprio Deus. Há 2.400 quilômetros. Isto pareceria, à
certamente grande significado no fato primeira vista, o formato de um cubo,
de que neste livro, mais do que em mas eu prefiro seguir a Simcox e muitos
todos os outros do N.I., a verdade do outros, crendo que a estrutura era pira-
que foi revelado aqui está sendo enfa- midal. A palavra traduzida para rua, pla-
tizada. "Deus autentica Sua própria téia, significa literalmente um lugar es-
declaração magnífica. Ele exige nossa paçoso; dessa palavra deriva a nossa pra-
atenção, e requer nossos corações e nos- ça. Os muros são feitos de jaspe, a cidade
sa aquiescência incondicional" (Walter é de ouro, as portas são pérolas, e os ali-
Scott, op. cit., pág.404). Fiel e Ver- cerces são doze pedras preciosas. (Para
dadeiro, além de caracterizar a Palavra um estudo da possível população de uma
escrita (e falada), também caracteriza cidade deste tamanho, veja o notável
a Palavra Encarnada (19:9; 21:5). ensaio de F.W. Boreham, Wisps os wild-
6,7. Novamente temos o título de fire, págs. 202·212).
Cristo, o Alfa e o Õmega, que são a pri- J.N. Darby raramente dizia que não
meira e a última letra do alfabeto grego, sabia o significado de uma passagem das
indicando que Cristo já era antes do Escrituras, mas em relação a estas pedras,
universo que foi criado por Ele, e será ele escreveu uma vez: "A diferença das
até o fim dos séculos, pois todas as coi- pedras contém detalhes que estão acima
sas se consumarão nEle. do meu conhecimento" (Collected Writ·
8. Chegamos agora a algo que real- ings, Volume V, pág. 154). "Se com-
mente não esperávamos encontrar na pararmos as cores das pedras dos alicer-
descrição da Cidade Santa, isto é, uma ces com as do arco-íris", diz Govett (op.
indicação das categorias de pecadores cit., in loco), "descobriremos, creio eu,
que não estarão ali, mas antes se encon- uma semelhança esquematizada, embora,
trarão no lago que arde com fogo e en- por causa da nossa ignorância em relação
xofre. São palavras terríveis. Se acei- às pedras preciosas, não possamos chegar
tamos com entusiasmo e ação de graças a nenhuma conclusão aproximada ou sa-
as promessas deste livro, temos tam- tisfatória. As pedras, então, com as suas
bém de crer em suas solenes advertên- cores, e os matizes do arco-íris, são os
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li ,I I I ,
APOCALIPSE 21: 21-27
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APOCALIPSE 21: 27 - 22: 1-10
estão inscritos no livro da vida do Cor- Seu nome estará em nossas testas (v. 4);
deiro. Dois fatores terríveis, inescapá- reinaremos com Ele para todo o sempre
veis, não permitem que homem algum (v. 5). Aqui estas promessas, como as
entre na Cidade Santa - o pecado e a que se encontram em Mt. 5: 8; I Jo. 3:
morte. É o Cordeiro de Deus que tira 2; I Co. 15:49, etc., tornar-se-ão a ex-
o pecado do mundo e é o Filho de Deus periência eterna dos crentes. Em outras
que nos dá a vida em vez da morte. Es- palavras teremos o caráter do Senhor,
tar inscrito no Livro da Vida do Cordei- serviremos o Senhor, reinaremos com
ro é estar redimido pelo Cordeiro de o Senhor, e nos regozijaremos satisfa-
Deus. zendo-nos eternamente com a visão de
O Estado de Bem-aventurança Predo- Sua gloriosa face. (Um dos exames
minante na Cidade Santa. 22: 1-5. É mais profundos e satisfatórios da Ci-
estranho que no capítulo 21 não haja dade Santa se encontra na obra de Go-
nenhum detalhe descritivo de fenôme- vett, págs. 549-610).
nos naturais, árvores, rios, etc., tais como Todos os gloriosos propósitos de
encontramos na descrição do paraíso Deus, ordenados desde a fundação do
original no Gênesis 2. Esses detalhes mundo, agora são atingidos. A rebe-
nos são apresentados agora, fazendo-nos lião dos anjos e da humanidade está
lembrar não só daquele capítulo, mas fmalmente subjugada, e o Rei dos reis
também de Ez. 47: 1-12. "O pecado assume a soberania a que tem direito.
expulsou o homem de um jardim. A Santidade absoluta e imutável carac-
graça leva o homem ao Paraíso eterno". teriza todo o universal Reino de Deus.
Aqui temos a beleza, vida em plena Os redimidos, assim transformados pelo
abundância, a soberania de Deus, saúde sangue do Cordeiro, estão na ressur-
para as nações da terra, ausência de to- reição e glória eterna. A vida está por
da maldição; nunca mais ... maldição toda a parte - e a morte não se intro-
(v. 3), sobre o homem ou sobre a terra meterá nunca mais. A terra e os céus,
onde ele vive ou na cidade de sua habi- ambos foram renovados. Luz, beleza,
tação, nem sobre qualquer relaciona- santidade, alegria, a presença de Deus,
mento que prevalece entre os homens a adoração a Deus, o serviço prestado
- Cristo removeu a maldição e todas a Cristo, a semelhança com Cristo -
as suas conseqüências. Aqui está tam- tudo agora são realidades permanen-
bém um quadro do culto prestado, a tes. O vocabulário do homem, adequa-
visão perfeita, que é ver a face de nosso do para esta vida, é incapaz de descrever
Senhor, e Seu nome gravado em nossas verdadeira e corretamente o que Deus
testas. Aqui estão mais dois cancela- preparou para aqueles que O amam.
mentos ou eliminações finais das coi- O Epílogo. 22: 6-20. Para os versí-
sas que perturbavam ou preocupavam culos finais do Apocalipse, não é ne-
o homem: a remoção de toda maldição, cessário dar uma interpretação extensa.
e a eliminação da noite para sempre. A maior parte destas declarações, co-
Não são, porém, os aspectos negativos mo o final de quase todas as epístolas
desta passagem que mais deleitam nossos do N.T., são exortativas.
corações, mas suas afirmações positivas. 6-10. A primeira declaração é quase
Aqui as bênçãos que Deus nos tem de- idêntica à declaração da abertura do
sejado através dos séculos e das quais Apocalipse (1: 1,2), exceto que lá foi
tem feito provisão, atingem um clímax mencionado um "servo", João, e aqui
da perfeição: no céu estaremos servindo são servos. "Os 'espíritos dos profetas'
o Senhor (v.3b); veremos o Seu rosto; são as faculdades naturais dos profetas,
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I I I I' • I II
APOCALIPSE 22: 10-21
despertadas e avivadas pelo Espírito que a palavra igreja (ekklesia) apareceu
Santo" (Swete). Do mesmo modo no desde as cartas às sete igrejas. Então
versículo 7 somos levados de volta ai: 3. Ele atribui a Si mesmo um título duplo:
Esta ordem de guardar as palavras da pro- Ele é a raiz e a geração de Davi, confor-
fecia deste livro (veja 3: 8,16; 14: 12, me foi há muito profetizado pelos pro-
12: 17) enfatiza uma verdade que esta- fetas (ls.4:3; 11:1,2; 55:1-5; Amós
mos prontos demais a esquecer, isto é, 9: 11, 12); e Ele é a brilhante estrela
que as Escrituras proféticas têm impli- da manhã (cons. Ap. 2: 28). A estrela
cações éticas. Profecias e mandamentos da manhã precede o perfeito brilho da
estão aqui interligados. luz do sol.
11-15. No versículo 11 temos uma
verdade solene, às vezes chamada de 17. O convite triplo, tão cheio de
"permanência de caráter". Devo mais graça, é enunciado 1) pelo Espírito, 2)
uma vez, a esta altura, apresentar aos pela Esposa, e 3) pelos que ouviram.
meus leitores as concisas e solenes li- Segue-se uma designação dual especí-
nhas de Swete: "Além de ser verdade", fica daqueles a quem o convite foi par-
diz ele, "que as perturbações dos últi- ticularmente enviado - aqueles que
mos dias terão a tendência de fixar o têm sede (Jo. 7: 37) e aqueles que que-
caráter de cada indivíduo segundo os rem.
hábitos que ele já tenha formado, ha- 18,19. O livro, com exceção da sau-
verá um tempo em que uma mudança dação, termina com mais uma solene
será impossível - quando não haverá advertência contra o acrescentar ou ti-
mais oportunidade de arrependimento rar alguma coisa às palavras da profe-
de um lado ou de apostasia do outro". cia deste livro. Não conheço ninguém
A vinda de Cristo é o tema preemi- que tenha comentado isto de maneira
nente de ambos, o Prólogo e o Epílogo mais aceitável do que Lang: "A revela-
(1: 7; 22: 7,12,20). Com sem demora ção da verdade está completa, pois nada
(v. 12) não está se dizendo que o Segun- pode estar além do estado eterno. En-
do Advento ocorreria logo após João quanto na letra estrita, a ameaça desta
completasse a escrita deste livro. Antes, terrível advertência se aplica ao Apo-
significa que os acontecimentos da Se- calipse, visto no entanto, que esta por-
gunda Vinda acontecerão tão depressa, ção do Livro de Deus está enraizada
numa rápida sucessão, que alguns serão em, interligada com e é o final de toda
tomados de surpresa. O versículo 13 a Palavra de Deus, torna-se impossível
repete o título de Cristo (1: 11; 21: 6), falsificar este livro final, sem maltratar
que também é concedido a Deus (1: 8). o que Deus concedeu antes" (op. cit.,
As categorias relacionadas aqui, daqueles págs. 384, 385).
que terão barrada a entrada na Cidade 20,21. As três últimas palavras são
Santa, cada um apresentado com o ar- as 1) de Cristo: Certamente venho sem
tigo os são substancialmente as mesmas demora; 2) da Igreja: Amém. Vem,
de 21: 8. Estes versículos certamente Senhor Jesus; e 3)de João: A graça
não querem dizer que naquela ocasião do Senhor Jesus seja com todos. Em-
ainda haverá grupos de homens na terra bora esta fórmula de despedida seja se-
cometendo tais pecados. melhante ao que freqüentemente en-
16. Agora o próprio Cristo fala, pri- contramos na conclusão das epístolas
meiro simplesmente declarando que foi do N.T. (Rm. 16: 20, 24; I Co. 16: 23;
Ele quem deu origem às revelações que Ef.6:24; I1Tm.4:22; Hb.13:25; I
João registrou. Esta é a primeira vez Pe.5:12; etc.), nesta forma exata só
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se encontra aqui. Conforme esta dís- ríveis consequencias da rejeição da Pa-
pensação vai chegando ao fim, e nós lavra de Deus, estas três palavras finais
vemos que vai tomando posição, de tornam-se cada vez mais preciosas e ví-
maneira preliminar, algumas das ter- tais.
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